CORRELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS MORFOLÓGICAS EM ARROZ SEQUEIRO (Oryza sativa L.) Rafael Bellé (Apresentador) Velci Queiroz de Souza (Orientador) Elvis Felipe Elli, Guilherme Pelissari, Alan Júnior de Pelegrin, Maurício Ferrari (Co-autores) INTRODUÇÃO O arroz (Oryza sativa L.), desde os últimos milênios, vem exercendo papel fundamental na alimentação humana, fornecendo energia, proteínas, lipídios, vitaminas e minerais. É caracterizado como principal alimento para mais da metade da população mundial, destacando-se, principalmente, em países em desenvolvimento, nos quais, desempenha função estratégica nos níveis econômico e social (WALTER et al., 2008). O arroz é o segundo cereal mais cultivado no mundo e o terceiro no Brasil, atrás somente da soja e do milho (IBGE, 2009; FAO, 2009; FERREIRA et al., 2006). Na América Latina, o Brasil é o maior produtor deste grão e no mundo ocupa a nona posição. Teve como área plantada, em 2009, 2.888.315 ha e produção de 12.609.060 toneladas (IBGE, 2009; FAO, 2009). A caracterização morfológica é uma ação de pré-melhoramento, onde dados obtidos juntamente com a produtividade e outras características de interesse agronômico são reunidos, podendo auxiliar na escolha de genitores com as características favoráveis para o desenvolvimento de linhagens (MORAIS et al., 2006). Cultivares que apresentam alto investimento em folhas, ou seja, elevada razão de área foliar (RAF), possuem maior potencial de cobertura do solo. A RAF correlacionase positivamente com a taxa de crescimento relativa (TCR) e também com a taxa de assimilação líquida (TAL) (SEIBERT & PEARCE, 1993). Por sua vez, Horak & Loughin (2000) também observaram associação entre TCR e TAL. A RAF é uma variável morfológica que expressa quanto da massa total é alocada para as folhas da planta. A TCR refere-se ao acúmulo de massa em um determinado intervalo de tempo, por unidade de massa preexistente. As principais características morfológicas avaliadas nas plantas de arroz são o comprimento da parte aérea, o comprimento de raiz, a área foliar, a massa seca da parte aérea e massa seca radicular. OBJETIVOS O presente trabalho teve como objetivo avaliar as correlações entre: MFR: massa fresca radicular (g); MFPA: massa fresca da parte aérea (g); MSR: massa seca radicular (g); MSPA: massa fresca da parte aérea (g); CPA: comprimento da parte aérea (cm); CR: comprimento de raiz (cm); CLOR: teor de clorofila (mg m-2); AF: área foliar (cm²) na cultura do arroz sequeiro. METODOLOGIA O experimento foi desenvolvido na área pertencente ao Laboratório de Agroclimatologia (LAGRO) vinculado à Universidade Federal de Santa Maria Campus de Frederico Westphalen – RS, sob as coordenadas geográficas de 27º23’48’’S, 53º25’45’’O, a 490 m de altitude. O solo da área experimental é um Latossolo Vermelho alumínico férrico típico. Segundo a classificação climática de Köppen, o clima da região é Cfa. O município de Frederico Westphalen está distante de Iraí aproximadamente 30km, sendo o município tomado como referência para os dados de classificação climática. Conforme proposta de Maluf (2000), Iraí apresenta clima de tipo subtemperado subúmido, sendo a temperatura média anual de 18,8°C e temperatura média do mês mais frio de 13,3°C. A implantação do experimento foi em 28/09/2011, no momento da mesma foi aplicado 200 Kg de adubo N-P-K, da fórmula 10-20-20, e aos 30 dias após emergência da cultura (DAE) foi aplicado 150 Kg ha-1 de N- (NH2)2CO. A cultivar utilizada foi à variedade Maravilha, com classe de grão agulhinha (longo fino). O controle de plantas invasoras foi realizado semanalmente por capina manual, aos 21 dias após a semeadura realizou-se o desbaste objetivando uma população final de 166 plantas m-2. O tratamento de semente utilizado configurou a seguinte combinação: Fipronil+ piraclostrobina + tiofanato-metílico (1ml kg-1). O intervalo de coleta das amostras para avaliação foi sete dias, onde a primeira avaliação feita aos 28 dias após a semeadura (DAE), a mesma considerada uma espécie de planta de ciclo curto (130 dias), o intervalo de amostragem foi recomendado de acordo com Benicasa et al., (2004) As seguintes variáveis foram avaliadas: teor de clorofila; área foliar, matéria seca, fresca e comprimento da parte aérea e raiz. A área foliar foi obtida através do Portable Area Meter LI-3000C (LI-COR) e o comprimento da parte aérea e raiz foram determinados com auxílio de uma régua graduada (cm), foram avaliadas 10 plantas por parcela. A matéria seca e fresca da parte aérea e das raízes foi determinada com a coleta de 50 cm linear. Após a determinação das variáveis morfológicas, as mesmas foram secas em estufa de circulação de ar com uma temperatura de 55°C até atingirem peso constante. O teor de clorofila (mg m-2) foi obtido pelo clorofilômetro SPAD-502, avaliando-se a última folha completamente aberta de cada planta de avaliação, onde foi coletado em três pontos da folha: zona basal, mediana e axial, todas as determinações foram realizadas pela parte da manhã, em três plantas por parcela. Os dados foram submetidos a análise estatística através do software SAS Learning Edition (SAS, 2003) onde determinou-se a correlação de Pearson. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com a análise de correlação de Pearson (Tabela 1), pode-se observar que todas as variáveis analisadas apresentaram graus significativos de associações. Dentre estas, as que apresentarão as maiores correlações foram MFPA com MFR (r = 0,95), MSPA com MSR (r = 0,94), AF com a MSPA (r = 0,90). Em contra partida, de uma maneira geral, a variável CLOR apresentou os menores valores de correlação com as demais, podendo-se destacar entre estas CR (r = 0,35), CPA (r = 0,35) e MSR (r = 0,55). As raízes possuem importante papel na absorção de nutrientes que se deslocam por mecanismo de difusão até a parte aérea (VILELA & ANGHINONI, 1984), onde esta realiza a função de transformar a seiva bruta advinda dessa absorção da raiz e posteriormente deslocada até a raiz em forma de seiva elaborada. Isso pode explicar a alta correlação entre as mesmas, pois o desenvolvimento de uma das partes depende de um bom funcionamento da outra, e vice-versa. Como pode ser visto na tabela 1, a massa fresca e a massa seca possui uma alta correlação. Semelhante aos resultados da massa fresca da planta, os valores de correlação da massa seca da planta também são altos. Advindo de uma variável com alta correlação, a massa seca também se torna uma variável com alta correlação, como visto na tabela 1, onde se observa uma correlação de 0,94 para as variáveis MSR e MSPA. Uma correlação baixa foi encontrada entre as variáveis CLOR e CR/CPA. Mostrando que a concentração de clorofila em uma planta independe do comprimento da mesma. A clorofila é influenciada principalmente pela intensidade luminosa (ENGEL & POGGIANI, 1991). O comprimento da planta não apresenta controle sobre essa luminosidade incidente na planta, portanto não terá influência na concentração de clorofila. As variáveis que envolvem massa de planta possuem alta correlação entre si, possivelmente devido à dependência entre elas e por que algumas dessas variáveis advêm de outras. Também possuem alta correlação com o comprimento da planta, pois se uma planta possuir valores maiores em seu tamanho, consequentemente aumentaram seus valores de massa. Tabela 1 - Coeficiente de correlação de Pearson existente entre as variáveis morfológicas na cultura de arroz sequeiro, onde MFR: massa fresca radicular (g); MFPA: massa fresca da parte aérea (g); MSR: massa seca radicular (g); MSPA: massa fresca da parte aérea (g); CPA: comprimento da parte aérea (cm); CR: comprimento de raiz (cm); CLOR: teor de clorofila (mg m-2); AF: área foliar (cm²). Atributo MFR MFPA 0,95* Coeficiente de correlação MSR MSPA CPA CR 0,86* 0,88* 0,80* 0,67* 0,84* 0,88* 0,84* 0,64* 0,94* 0,87* 0,76* 0,87* 0,67* 0,67* CLOR 0,56* 0,59* 0,55* 0,68* 0,35* 0,35* AF MFR 0,75* MFPA 0,76* MSR 0,88* MSPA 0,90* CPA 0,69* CR 0,68* CLOR 0,49* ns = Não significativo em nível de 5% de probabilidade de erro pelo teste t de Student.*= *Significativo em nível de 5% de probabilidade de erro pelo teste t de Student. Resultados semelhantes foram encontrados por (FAGERIA, N. K.) que observou correlações significativas para as variáveis CR e MSPA (r = 0,67) da mesma forma para altura da parte aérea com a massa seca da parte aérea (r = 0,81) e comprimento das raízes com a massa seca da parte aérea (r = 0,67). CONCLUSÕES As correlações são importantes indicadores do grau de dependência entre duas variáveis. Os resultados obtidos mostram que a maior correlação foi entre a MFR e MFPA e a que apresentou menor correlação foi entre CR e CLOR e para CPA e CLOR. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ENGEL, V. L.& POGGIANI, F. Estudo da concentração de clorofila nas folhas e seu espectro de absorção de luz em função do sombreamento em mudas de quatro espécies florestais nativas. Rev. Bras. Fisiol. Vegetal 3(1): 39-45, 1991. MALUF, J. R. T. Nova classificação climática do Estado do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Agrometeorologia. Santa Maria, v. 8, n. 1, p. 141-150, 2000. SAS LEARNING EDITION.Getting started with the SAS Learning Edition.Cary, 2003. 200p. STEEL, R. G. R.; TORRIE, J. H. Principles and procedures of statistics: A Biometrical Approach. 2. ed.London: McGraw-Hill, 1980. 666p. VILELA, L.; ANGHINONI, I. Morfologia do sistema radicular e cinética da absorção de fósforo em cultivares de soja afetados pela interação alumínio–fósforo. Revista Brasileira da Ciência do Solo, n.8, p. 91-96, 1984.