O SÉCULO XXI O longo prazo na história da economia mundial sempre foi percebido a partir de grandes revoluções tecnológicas. Com elas, abriam-se períodos chamados de “longa duração” em que alguns países tomavam uma posição proeminente. Assim foi com a Inglaterra, maior herdeira do mercantilismo, e depois com os Estados Unidos, maior herdeiro da Revolução Industrial. Essa condição de liderança só vingou por força de características sociais internas a esses países que se plasmaram a seu tempo. Neste século XXI será difícil algum país subtrair à China esse papel de liderança. Ela se apresenta como maior herdeira de todas as revoluções tecnológicas da segunda metade do século passado. Se essa estimativa se verificar, terá sido a fórmula do misto de capitalismo e socialismo a responsável por integrar socialmente 1 bilhão e trezentos milhões de pessoas, e o conjunto, na cena internacional. A China vem demonstrando grande desinibição para operações internacionais em todos os setores da vida econômica, com destaque agora para a produção fora de seu território. Nessa erupção, o socialismo chinês contribuiu com integração ao consumo de massa de sua população a um custo muito baixo, que lembrou a Inglaterra dos primeiros anos da Revolução Industrial, e com a rapidez da tomada de decisões, prontamente executadas. Enquanto nos países ocidentais as decisões, que devem obedecer a um específico marco jurídico, são naturalmente lentas - e o Brasil como se sabe infelizmente não foge à regra- e implementação ou execução mais lentas ainda (recorde-se a construção do porto de Suape em Pernambuco ou os debates atuais suscitados pela usina de Belo Monte ou trem bala) , na China a mobilização para obras de infraestrutura é incrivelmente rápida. As Olimpíadas de Pequim serão sempre uma vitrine dessa rapidez, e não deve ser visto com estranheza que o Brasil tenha que alterar seus marcos jurídicos para se preparar para esses mesmos jogos... Já a China atua com essa velocidade em todos os setores onde investimentos são decididos dentro e fora do país. A organização piramidal responde pela tomada de decisões, mobilização, implementação, adequação da base e controle dos resultados. O sincretismo político, que conta com o beneplácito do Ocidente, transformou a China numa grande multinacional do comércio, dos investimentos e das finanças. Quando se indaga se as altas taxas de crescimento da China permanecerão no futuro, a resposta não pode ignorar que o mercado interno do país ainda não se desenvolveu na escala compatível com a população, como está sendo o caso do Brasil atual. Isso quer dizer que há para a economia chinesa uma grande fronteira para o seu desenvolvimento, além das atualmente exploradas externamente. O que pode dar essa garantia de futuro – entre alguns fatores - é a prioridade dada pelo governo à educação, com destaque para aquela que aporta em novas tecnologias. Justamente por não apresentar nesse quesito o mesmo desempenho, é que o Brasil não tem assegurada ainda sua presença na linha de frente do século XXI, em que pese suas vantagens comparativas. Como empecilho nessa caminhada, tanto China quanto Brasil, tem o custo da energia pela frente. Para a China , no entanto, a decisão de internacionalizar suas empresas- que já está em larga execução- terá não só o efeito de driblar possíveis protecionismos, mas também o custo da energia doméstica. Com o desenvolvimento chinês deve-se esperar que toda a Asia seja atrelada à expansão, como sugere as feições atuais de países como o Vietnã. O continente que teve frustrado o elan a partir da economia japonesa terá certamente acentuada sua vez na cena mundial, onde a regressão da Europa parece inelutável. A incógnita estará nas Américas. Os Estados Unidos que desde sempre deram lições de pragmatismo no domínio econômico ficaram, paradoxalmente, envolvidos por posições rígidas e por radicalismo político, que tende a se acentuar, criando obstáculos possivelmente intransponíveis para um rearranjo em direção ao futuro. Um enorme leque de gastos tão volumosos quanto rígidos – sem retorno econômico visível- obscurece o médio prazo da economia norte-americana. Resta ainda, como bom augúrio, a emancipação e integração da África, que já conta com alguns polos de firme desenvolvimento, impulsionados inclusive pelos investimentos chineses, mas ainda limitados para sua extensão geográfica e populacional. Não há dúvida. Os principais polos de irradiação do crescimento econômico do século presente estarão atuando na Ásia, a partir da China. O recente crescimento chinês não tem origem em bolhas de preços de commodities, nem está propulsado por capital financeiro, que cedo ou tarde sempre apresenta a conta, esvaziando o crescimento, como ocorreu no Brasil nos aos 80 e Grécia atual, entre muitos outros exemplos. Ressalte-se que a China não aspira apenas ao crescimento econômico, mas ao salto para o outro lado, o dos países avançados. Seu nacionalismo aliado ao pragmatismo apontam nessa direção, e se o “tempo é dinheiro” a China aprendeu essa lição: a rapidez das decisões, em meio à busca da abundância, será a sua bandeira no campo econômico. São cenários que nos esperam no século XXI.