Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos RELIGIÃO AFRO-BRASILEIRA NO PALCO DA DITADURA: UMA ANÁLISE DA PEÇA SORTILÉGIO, DE ABDIAS NASCIMENTO (1979)* Ivone Cirino de Jesus1 Resumo: Este artigo tem como objetivo relatar as atividades realizadas durante o processo de Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, momento de suma importância dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, onde o professor articula a teoria com a prática. Tendo como público alvo, alunos do 1º Ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Vale do Saber, no município de Apucarana – PR, no ano de 2014. Tomamos como estudo de caso a peça teatral Sortilégio, Abdias Nascimento (1979), promovendo a inserção da temática religião de matriz africana no âmbito escolar, dentro da disciplina de História. Objetivando analisar a diversidade religiosa afro-brasileira sem apologias preconceituosas, contextualizando-a no período da ditadura militar brasileira, com a prática pedagógica. A participação por parte dos alunos foi relevante para o desenvolvimento e sucesso do projeto. Palavras-chave: Sortilégio. Matriz africana. Diversidade religiosa. Ditadura militar. Abdias Nascimento “A arte e consequentemente o teatro, fazem parte da linguagem e da cultura próprias de um povo e são peças essenciais para a compreensão de sua história” (GRANERO, 2011, P. 13) INTRODUÇÃO O trabalho em questão é resultado da reflexão, sistematização e análise de uma das atividades de maior relevância dentro do programa de desenvolvimento educacional - PDE, a Implementação do Projeto Pedagógico na Escola, pois é momento no qual ocorre a articulação entre a teoria e a prática, onde são desenvolvidas as ações que foram projetadas ao longo do programa. Neste período ocorre a socialização do projeto com o Grupo de Trabalho em Rede (GTR) ocorrendo uma troca de experiências, contribuindo significamente para o desenvolvimento e aplicabilidade do mesmo. O trabalho foi desenvolvido no Colégio Estadual Vale do Saber, localizado na Avenida Aviação, Jardim Monções, bairro periférico do município de Apucarana – * Este artigo foi orientado pela professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL), com dourado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestrado em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e autora do livro Do teatro militante à canção engajada: a experiência do CPC da UNE (1958-1964) (fundação Perseu Abramo, 2007). 1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná, graduada e especialista em História com a monografia Globalização e Transformações no Mundo Atual, ambos pela Fundação de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari (FAFIMAM) em 1990 e 1999, respectivamente e também aluna do PDE (2013) PR, fundado no ano de 1996, atendendo atualmente um total de 411 alunos, distribuídos em dois turnos: manhã e tarde, Ensino Fundamental e Médio. Grande parte dos alunos são oriundos de famílias de baixa renda, em alguns casos desestruturados por separação dos pais. Fatos estes que influenciam no comportamento dos alunos que vivenciam este cotidiano familiar. Apesar dos problemas que os envolvem, são adolescentes de fácil comunicação e sociabilidade, inclusive com os professores. Tendo como público alvo alunos do primeiro ano do Ensino Médio, turma única do período matutino, uma turma com 30 alunos, faixa etária entre 14 e 17 anos. A escolha da série, foi justamente por apresentarem pré-requisitos referente ao conteúdo básico “ordem política brasileira - ditadura militar” (1964-1985) e conteúdos estruturantes relação de “poder” e “cultura”, conteúdos trabalhados no nono ano do Ensino Fundamental, sendo de suma importância para a articulação da proposta do projeto: “Religião afro-brasileira no palco da ditadura: uma análise da peça Sortilégio, de Abdias Nascimento (1979)”. A escolha do tema deste projeto foi justamente por perceber a exclusão dos conteúdos relacionados às religiões de matriz africana no cotidiano escolar e discriminação das mesmas por parte dos alunos, discriminação que está presente na nossa sociedade. Inspirado na implantação da lei 10.639/03, o presente trabalho tem como propósito analisar a diversidade religiosa afro-brasileira sem apologias preconceituosas, contextualizando-a no período da ditadura militar brasileira, com a prática pedagógica. Promovendo a revisão de um processo de legitimação de injustiças e discriminações referentes às religiões de matriz africana, que foram colocadas à margem da sociedade brasileira em vários períodos da nossa história. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA A questão cultural dos negros e afrodescendentes sempre estiveram ligados a uma mentalidade folclórica no Brasil. Historicamente as religiões de matriz africana foram colocadas à margem da sociedade, desde o Brasil colonial foram associadas a religiões de ritos demoníacos, de atraso material e espiritual, justamente por terem surgido de segmentos marginalizados pela sociedade como índios, caboclos e negros. Os povos africanos não foram responsáveis somente pelo povoamento do território brasileiro e pela mão-de-obra escrava, eles marcaram e marcam, decisivamente, a nossa formação social e cultural, que, ao longo desses séculos, foi preservada, recriada, mesmo com as políticas contrárias ao sistema. É relevante frisar que essa bagagem cultural africana, matriz mais importante da formação do povo brasileiro, tem sido frequentemente associada, pela ideologia dominante ao folclore, como estratégia básica para minimizar a força da presença do negro brasileiro na cultura e formação do país. (apud ANJOS, 2007, p. 17) Durante muito tempo os governos brasileiros não se preocuparam em criar políticas de valorização das religiões afro-brasileiras, fortalecendo, desta maneira e cada vez mais, a discriminação e preconceitos entre os setores da sociedade brasileira. O período do Estado Novo (1937-45) foi particularmente contra o desenvolvimento dos cultos afro-brasileiros, o que pode ser afirmado pela forte repressão policial. Por outro lado, em decorrência do enaltecimento da cultura popular e dos valores negros, patrocinados pelas elites intelectuais e artísticas (comprometidas com a definição de nossa identidade nacional), muitas brechas se abriram para a continuidade das práticas religiosas afro-brasileiras. (GONÇALVES, 2005, p. 113-114) Durante o período da ditadura militar (1964-1985), pais e mães de santo criaram mecanismos de negociação com os poderes públicos e político-partidários para garantir a sobrevivência e a proteção de suas casas de axé. Ao mesmo tempo que o governo militar fazia uma política de “boa vizinhança” com as religiões de matriz africana, operava um forte controle de organização dos terreiros. Militares faziam parte das federações de culto, líderes religiosos dos centros de matriz africana faziam parte do cenário político, muitos eram deputados, senadores e outros. Para os tambores tocarem nos centros religiosos, taxas eram cobradas pelos policiais. É sabido que essa política de “boa vizinhança”, caracterizou-se pela manipulação, legitimando o poder dos militares. Como afirma Diana Brown: Foi sob a ditadura militar que o registro dos centros de umbanda passou da jurisdição policial para a civil [em cartório], que a umbanda foi reconhecida como religião no censo oficial, e que muitos dos seus feriados religiosos foram incorporados aos calendários públicos locais e nacionais, de caráter oficial. (BROWN, 2005, p. 117). Com o processo de abertura política a partir da década de 1980 e o fim do regime militar, religiosos e políticos sociais passaram a questionar a aliança entre a política e as religiões de matriz africana. Hoje no nosso país existem leis, contidas no Código Penal Brasileiro que punem pessoas que cometem crimes de intolerância religiosa. O Estado brasileiro é laico, significa que ele não deve ter e não tem religião oficial, mas tem o dever de garantir a liberdade religiosa. Segundo artigo 5º, inciso VI, da Constituição: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. (BRASIL, 1988, p. 10) A liberdade religiosa é um dos direitos fundamentais da humanidade, como estabelece o artigo 18º, Declaração Universal dos Direitos Humanos, “toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião”; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. (DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS, 2013) Compete ao professor, trazer para o espaço escolar questionamentos acerca da diversidade religiosa existente em nosso território nacional e também regional. Trazer a um público cada vez mais amplo os conhecimentos, as leis e as práticas que regulamentam a liberdade de culto, construir uma educação pautada no respeito, para que esta aprendizagem possa ser colocada em prática na vida cotidiana. A partir da promulgação da lei 10.639/03, uma produção historiográfica sobre a história da África e cultura afro-brasileira, começou a ser apresentada para fins didáticos, possibilitando maior acesso a essas produções e contribuindo no processo ensino-aprendizagem. Hoje podemos encontrar artigos, dissertações e livros referentes às religiões de matriz africana, muitas produções que abrangem esta temática, possibilitando maior conhecimento e embasamento teórico para serem estudadas em sala de aula. O entendimento sobre a religiosidade afro-brasileira esteve ao longo do tempo diretamente relacionada às explicações sobre a cultura, a identidade e as relações étnico-raciais no Brasil. Para analisarmos a questão da religião de matriz africana a partir do estudo de caso da peça teatral Sortilégio, Abdias Nascimento (1979), é necessário aprofundar-se no contexto no qual esta foi produzida, surgimento do teatro negro no Brasil, e também nas especificidades da linguagem teatral. Para Nascimento, no Brasil, a bandeira da negritude foi empunhada pelo Teatro Experimental do Negro (TEN) que, desde a sua fundação em 1944, vem procurando restaurar, valorizar e exaltar a contribuição dos africanos na formação da sociedade brasileira, desmascarando a ideologia predominante do branco. (NASCIMENTO, 1961, p. 19) Engajados nestes propósitos, surgiu em 1944, no Rio de Janeiro, o TEN que se propunha a resgatar no Brasil, os valores da pessoa humana e da cultura negroafricana, degradados e negados por seguimentos dominantes, predominantemente brancos, que, desde os tempos da colônia, portava a bagagem mental de sua formação metropolitana europeia, imbuída de conceitos pseudocientíficos sobre a inferioridade da raça negra. (NASCIMENTO, 2004, p. 209-224) O TEN nasceu no contexto histórico da 2ª Guerra Mundial, consequentemente pelo processo de queda dos regimes totalitários, incluindo também regimes autoritários como o Estado Novo junto à agitação política que ansiava pela construção de um regime democrático, constituindo-se num divisor de águas, pois surgiu no cerne da elite brasileira, propondo um discurso de valorização e reformulação da cultura brasileira, oriunda da classe dos que estavam à margem da sociedade. Buscando agir em duas frentes: de um lado promover a denúncia dos equívocos e alienação dos estudos afro-brasileiros e de outro fazer com que o próprio negro se conscientizasse como sujeito histórico e participativo desse processo. A um só tempo, o TEN alfabetizava seus primeiros elementos – recrutados entre operários, empregados, domésticos, minorias sem profissão definida, funcionários públicos e oferecia-lhes uma nova atitude, um critério próprio que o habilitava também a ver, enxergar o espaço que ocupava, inclusive o grupo afrobrasileiro, no contexto nacional. (NASCIMENTO, 1968, p. 199) Uma das preocupações do TEN era alfabetizar os seus integrantes, a maioria eram analfabetos. As aulas eram ministradas no prédio da União Nacional de Estudantes (UNE) e a alfabetização estava a cargo de Ironides Rodrigues, Aguinaldo Camargo ministrava aulas de conhecimentos gerais e Abdias Nascimento ensinava a arte da dramaturgia. Mulheres e homens negros procuravam se inscrever nos cursos ofertados pelo TEN, estima-se um total de seiscentas pessoas, buscavam com as aulas de alfabetização sair da condição de excluídos, numa sociedade que marginaliza o negro, a cultura e religião dos povos africanos e descendentes no Brasil. A primeira peça encenada foi o Imperador Jones, de Eugene O'Neill, dramaturgo norte americano, que permitiu após uma carta enviada ao TEN, a encenação, Ricardo Werneck fez uma excelente tradução, o pintor Enrico Bianco foi o responsável pelo cenário, colaborando para o sucesso absoluto da peça, de público e de crítica (NASCIMENTO, 1968, p. 199-201) Como parte de uma atitude militante, o TEN buscou valorizar as religiões de matriz africana, sobre o tema da religiosidade afro-brasileira, apresentou com sucesso em 1948, Aruanda, de Joaquim Ribeiro. Em 1949 encenou, Filhas de Santo, de José de Moraes Pinho, onde retratava questões dos seguidores do orixá Xangô (Senhor da Justiça), apresentando problemas dos trabalhadores grevistas que eram perseguidos pela polícia em Pernambuco. Neste contexto está inserido o texto Sortilégio, peça escrita e encenada por Abdias Nascimento (1951), constrói em cena uma identidade afro-brasileira, onde o protagonista e sua cultura são colocados no centro do universo simbólico. No ano de 1951, a peça Sortilégio teve problemas com a censura e não pode ser levada ao palco, fora proibida pela censura por sete anos, sendo liberada apenas no ano de 1957. O TEN apresentou Sortilégio no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, no dia 21 de agosto de 1957 com direção de Léo Jusi, cenário de Enrico Bianco e música de Abigail Moura, regente da Orquestra Afro-brasileira, tendo no elenco, Abdias no papel principal, juntamente com Léa Garcia e Helba Nogueira. A saga do protagonista de Sortilégio teve suas origens na infância, o menino Emanuel era perseguido pelos coleguinhas brancos que o apedrejavam, chamavamno de “tição”, que literalmente é sinônimo de carvão, mas no Brasil transformou-se numa designação pejorativa dos descendentes de africanos. Sortilégio denuncia a hipocrisia do mundo branco e a opressão que o negro sofre numa sociedade que o coloca à margem. Percebe-se que o nome do herói de Sortilégio, não tem suas raízes africana, como muitos escravos, que foram obrigados no Brasil a se batizarem na religião católica e receber um nome bíblico. Esta observação pode ser notada num dos relatos contidos na peça Sortilégio: “- Não blasfema, meu filho, tirei seu nome da Bíblia. Emanuel quer dizer Deus conosco. Deus está ouvindo? Com Deus não se brinca. Nunca se esqueça... (baixinho) nunca se esqueça... nunca se esqueça..." (NASCIMENTO, 1961, p. 184186) Sortilégio tem duas versões, a primeira versão escrita em 1951 e a segunda em 1979. As duas versões foram traduzidas para o inglês, a primeira tradução foi realizada por Peter Lowdes (em 1976) e a segunda por Elisa Larkin Nascimento (em 1993). Elisa Larkin Nascimento, foi a última esposa de Abdias Nascimento, tiveram um filho que recebeu a nome de Osíris. Atualmente, coordena o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros (IPEAFRO) localizado no Rio de Janeiro. No ano de 1979, Abdias Nascimento escreve a segunda versão de Sortilégio, quase trinta anos após ter escrito a primeira versão. A inspiração para reescrevê-la ocorreu após a estada de Abdias na cidade sagrada de Ile-Ifé, na Nigéria (1976-1977). Em contato com a cultura e religião africana, traz a luz uma nova personagem para a versão de Sortilégio, a ialorixá (mãe de santo) como chamamos popularmente no Brasil, personagem central de um terreiro de Candomblé ou Umbanda. A religião de matriz africana é destacada, aparecem elementos como as filhas de santo, orixás, comidas votivas e outros. Este teatro pode ser compreendido como fábula moral. Não em sentido pejorativo ou pequeno, mas como um texto que recria uma metáfora da situação do negro no Brasil. Emanuel, luta, trabalha, estuda, é o ícone do positivismo cartesiano. Emanuel é o homem ordem e o progresso. Ele rejeita seu lado Exu: Exu é um boa-vida. Não pode ouvir doze badaladas... sem sair atrás de charuto e cachaça... (pensativo) Imaginem... eu falando como se também acreditasse nessas bobagens... Eu, o doutor Emanuel, negro formado... que aprendeu o catecismo... e em criança fez até a primeira comunhão! (NASCIMENTO, 1979, p. 61). O desejo dele é ascender socialmente, para tanto, precisa ser aceito. Torna-se advogado, rejeita própria cultura e religião de origem (NASCIMENTO; FERNANDES, 2010) Se fizermos uma análise histórica com relação ao teatro brasileiro, notaremos que o mesmo não passou ileso pela censura em vários períodos de nossa história. Muitas peças foram proibidas, teatros fechados, teatrólogos, dramaturgos, cenógrafos, artistas, sofreram as agruras de uma censura que iniciou no território brasileiro, no século XIX (entre 1833 e 1843). Na Era Vargas, período do Estado Novo, foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) em 1939, órgão responsável pelo controle de toda imprensa escrita, falada. Somente a última Constituição elaborada em nosso país (1988) acabou com todos os tipos de censura, reafirmando a importância da liberdade de expressão como um dos direitos fundamentais de todo cidadão. Podemos destacar uma passagem de intolerância com relação ao TEN, no período da ditadura militar. A peça de teatro: Além do Rio de Agostinho Olavo participaria de um festival em Dacar. A dinâmica visual do espetáculo baseia-se nos cantos e danças folclóricas maracatu, candomblé - pelos pregões dos vendedores de flores, frutos e pássaros. A fusão dos elementos trágicos plásticos e poéticos resultaria numa experiência de negritude em termos de espetáculo dramático que o TEN, propunha-se apresentar no Primeiro Festival Mundial das Artes Negras, realizado em Dacar em 1966. Historiando o episódio da intolerância racial do nosso Ministério do Exterior, omitindo o TEN de nossa delegação, escrevemos uma Carta-Aberta dirigida aos membros do Festival, a UNESCO e ao Governo da República do Senegal. Sob as mais falsas alegações o TEN foi excluído e além do Rio aguarda oportunidade da sua revelação ao palco. (NASCIMENTO, 1968, p. 207) Em 1968, período da ditadura militar no Brasil, conhecido como início dos “anos de chumbo”, governo do presidente Arthur Costa e Silva (considerado como sendo de “linha dura”), tomou uma medida drástica, fechou o Congresso Nacional e editou o Ato Institucional 5 (AI5). Instrumento jurídico que suspendeu qualquer direito democrático, permitindo abusos por parte da polícia, onde cidadãos foram perseguidos e presos sem poderem se defender. Os direitos humanos não foram respeitados, muitos presos políticos sofreram torturas e outros exilados, expulsos de sua pátria mãe. Neste momento, Abdias Nascimento, encontrava-se em Nova York, alvo de vários inquéritos policiais, sofreu repressão e foi obrigado a exilar-se no exterior. Tendo formação acadêmica lecionou em várias universidades, divulgando a cultura brasileira e escritores renomados como Machado de Assis. Após 12 anos de exílio, retornou ao Brasil e militou na política, sendo deputado federal de 1983 a 1987 e senador de 1997 a 1999, onde lutou por políticas públicas afirmativas, buscando consolidar a proposta do TEN (Disponível em: http://www.ipeafro.org.br/home/br/personalidades). O PLANO DE TRABALHO O PDE oferta um plano de formação continuada dividida em quatro períodos, com um cronograma de atividades que devem ser cumpridas no prazo de dois anos. Programa este que está vinculado às Instituições de Ensino Superior (IES) do Estado do Paraná. Durante o ano de 2013 participamos de vários cursos como seminário integrador, formação tecnológica (informática básica e SACIR) e treinamento tecnológico para o Grupo de Trabalho em Rede (GTR) nos ambientes Moodle e SACIR. Neste período começamos a frequentar a Universidade Estadual de Londrina (UEL). Foram ofertados encontros de área (por disciplina), seminário temático, simpósios e atividades de inserção acadêmica. No primeiro ano, articulado aos cursos, realizou-se a pesquisa bibliográfica para a elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola e também a Elaboração da Produção Didático-Pedagógica, trabalhos realizados sob a orientação da professora Miliandre Garcia, que foi fundamental para o desenvolvimento de toda a base teórica dos mesmos. No ano de 2014, segundo ano do programa voltamos para a escola, momento da Implementação do Projeto e também participamos como tutores do GTR, socializamos o nosso projeto e trocamos experiências com professores de vários municípios do nosso estado. Contamos com um grupo formado por dezessete professores, altamente qualificados e preocupados em ofertar uma educação de qualidade. Parabenizaram pela iniciativa de propor uma temática diferenciada, significativa para a educação, apresentaram sugestões práticas e teóricas, contribuindo para ampliar o desenvolvimento, aplicabilidade e sucesso do projeto. Apenas um professor não concluiu o curso, o mesmo não justificou a desistência, após ter realizado dois módulos. Podemos concluir pelas discussões do GTR que a proposta apresentada foi significativa para ampliar o conhecimento de todos, e pode ser levada para o ambiente escolar, sem maiores problemas, contribuindo para rompermos os preconceitos existentes em relação às religiões de matriz africana. IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO A apresentação do projeto para a equipe pedagógica e funcionários, foi o primeiro momento da implementação do projeto de intervenção pedagógica, destacando a importância do mesmo para a comunidade escolar. A proposta de trabalho foi elogiada por todos, principalmente por ser uma temática inovadora e diferenciada. Num segundo momento o projeto foi apresentado aos alunos do primeiro ano do Ensino Médio, público alvo, onde relatamos os objetivos propostos e a metodologia a ser trabalhada. Destacamos a importância da lei 10639/03 para a educação e a sua contribuição na construção de uma sociedade pautada no respeito, igualdade e justiça. Cada aluno recebeu uma cópia da lei. Após a leitura, análise e reflexão, lançamos o seguinte questionamento: a) Você acha importante a abordagem da temática história e cultura afrobrasileira, africana e indígena na prática pedagógica do cotidiano escolar? Trinta alunos participaram desta reflexão, chegando a conclusão de que todas as disciplinas devem contemplar temáticas relativas à lei e não apenas a disciplina de História, como tem ocorrido normalmente. Fizemos um levantamento de dados, para conhecermos a religião de cada aluno. No total de trinta alunos, dezenove pertencem à religião cristã, sendo 8 evangélicos e 11 católicos. ATIVIDADES PEDAGÓGICAS A PARTIR DA PEÇA SORTILÉGIO 1. ANALISANDO A OBRA Escrita por Abdias Nascimento no ano de 1979, sendo a mesma classificada como rara, comprada via internet, em um sebo do Rio de Janeiro. Foram analisados elementos contidos no texto como: tempo, espaço, enredo e outros. Destacamos os personagens, sendo apenas um da cor branca. Todos os alunos receberam um roteiro sobre a cronologia da peça Sortilégio, onde foram analisados os períodos históricos a qual a mesma esteve inserida um aluno foi selecionado para fazer a leitura oral do roteiro. Peça escrita e encenada por Abdias Nascimento, constrói em cena uma identidade afro-brasileira, onde o protagonista e a cultura são colocados no centro do universo simbólico. No ano de 1951, a peça Sortilégio teve problemas com a censura e não pode ser levada ao palco. Proibida durante sete anos, sendo liberada no ano de 1957. No ano de 1961, Abdias Nascimento publicou, Antologia: Dramas para Negros e Prólogo para Brancos, onde narra a peça Sortilégio. Em 1979, após a estadia dele na Nigéria, escreveu a segunda versão de Sortilégio. Durante a atividade uma aluna fez a seguinte pergunta: Qual a diferença entre as duas versões? A única diferença é que a versão escrita em 1979, ganhou um novo personagem que não existia na obra de 1951. A Yyalorixá, Babalorixá ou (mãe de santo, personagem central em um terreiro de Umbanda ou Candomblé). Outra aluna questionou o porquê da proibição da peça de 1951. Sortilégio fora proibida justamente porque Abdias participou no ano de 1948, de uma comissão que lutava contra a instituição da censura no teatro, poder exercido pela polícia, fato que levou ao exílio em 1968 (NASCIMENTO, 2013). 2. ABDIAS E O TEN Atividade proposta: pesquisa no laboratório de informática. Após formarmos duplas de alunos, solicitamos a pesquisa no site do IPEAFRO sobre a vida e obra de Abdias Nascimento e a fundação do TEN. Para realizar esta atividades, utilizamos duas aulas. Levar ao conhecimento do aluno a importância deste grande teatrólogo, ativista e intelectual brasileiro, foi gratificante, os mesmos adoraram conhecer a vida deste. Na sala de aula, os alunos relataram o que mais gostaram, entre elas destacaram a fundação do TEN, a valorização das religiões de matriz africana, bem como a luta de Abdias Nascimento pela inserção do negro. 3. DITADURA MILITAR E CENSURA CONTRA O TEN Esta atividade foi realizada individualmente, cada aluno respondeu as questões propostas: Questões objetivas. a) Qual a relação de Abdias Nascimento com o período da ditadura militar? b) O que você entende pelo termo ditadura militar? c) Ano de início e término deste período? d) Quais as informações que você tem sobre este período? e) Na sua opinião qual palavra define o termo ditadura militar? f) Qual a relação do TEN com este período? g) Para você o que é censura? A respeito da pergunta “Qual a relação de Abdias com o período da ditadura militar”, as respostas foram unânimes, isto é no ano de 1968, Abdias foi exilado, voltando ao Brasil em 1980”. Podemos relacionar este fato à pesquisa a qual realizamos no laboratório de informática. Sobre a questão “O que você entende pelo termo “ditadura militar”, vinte e um alunos responderam que era “período a qual os militares governaram o Brasil”, seis alunos optaram pela resposta: “governo dos militares” e três “militares no poder”. Com relação ao item ano de início e término deste período, vinte alunos citaram 1964 a 1985, seis alunos 1964 a 1980, três 1964 a 1979 e um deixou em branco. Percebe-se que a maioria acertou o início, é sabido que os mesmos estudaram o tema no nono ano, por isso apresentam pré-requisitos referente a proposta. No entanto, o término da ditadura variou de 1979, ano da abertura, a 1985, ano de término efetivo. Da pergunta “Quais as informações que você tem sobre este período?”, treze alunos responderam “período de repressão, onde as pessoas perderam a sua liberdade”, oito “período a qual políticos e jornalistas foram presos”, cinco lembraram como “período de violência”. Quatro alunos como “época de violência e prisões”. Por intermédio das respostas percebe-se que os alunos possuem uma noção geral do período em questão. Quando definiram-no com as palavras: violência, autoritarismo, tortura, repressão, censura, perseguição, terror, medo e perda de liberdade. Para a questão “Qual a relação do TEN com este período?”, a maioria respondeu sobre o exílio de Abdias e a perseguição dos militares, censurando peças que retratavam a dinâmica das religiões de matriz africana. Finalizamos com a pergunta: “Para você o que é censura? Os termos mais citados foram: “proibição”, “perda de liberdade”. Vinte e sete alunos utilizaram-se destes termos, três não souberam responder. Chegamos à conclusão que tais alunos sabem relacionar os conteúdos básicos com os conteúdos estruturantes (relação de poder e cultura), principalmente a questão da intolerância com relação ao TEN, durante a ditadura militar. 4. EXPRESSÕES PRECONCEITUOSAS CONTIDAS NA OBRA SORTILÉGIO COM RELAÇÃO AOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS A religiosidade afro-brasileira é destaque na peça Sortilégio e objeto de nosso estudo. O texto teatral Sortilégio, apresenta algumas passagens preconceituosas com relação aos rituais e orixás da mitologia afro-brasileira, recurso que o autor utilizou para discutir esta questão de forma crítica. Os alunos leram passagens do texto que contém expressões preconceituosas com relação aos cultos afro-brasileiros. Cada dupla deveria relatar passagens da obra, onde constam relatos preconceituosos referente às religiões afro-brasileira. Destacamos duas passagens relevantes ao estudo: 4.1. Elementos Votivos Jesus! O que será isto? Assombração? (aproxima-se cautelosamente do tronco; vê o despacho; toca-o medrosamente com a ponta do pé) Ah!... é um despacho. Até galo preto! Então é despacho para Exu. Quanta porcaria... (observa o pegi) Isso deve ser o pegi... (volta-se para a grande árvore)... a gameleira sagrada deles... Neste caso o terreiro é aqui mesmo! (preocupado) Que azar! Como é que vim parar num lugar como este? Isto aqui é perigoso... Que imprudência! A polícia costuma dar batidas nos terreiros... Prendem tambores sagrados... os crentes... até as mães de santo... (NASCIMENTO, 1979, p. 57) 4.2. Atraso Cultural É por isso que essa negrada não vai para a frente... Tantos séculos no meio da civilização e o que adiantou? Ainda acreditando em feitiçaria... praticando macumba... culto animista! Evocando deuses selvagens... Deuses! Por acaso serão deuses essa coisa que baixa nesses negros boçais? ... Deuses! A ciência já estudou esse fenômeno: tudo não passa de histeria coletiva; de qualquer forma é um estado patológico durante a qual esses fanáticos comem... bebem... dançam... Dizem que até amor eles fazem no ritual! Quanta ignorância! (sorrindo) Engraçado: eles são devotos igualmente dos santos e do demônio... Exu é o anjo caído... o anjo rebelado dos macumbeiros... (NASCIMENTO, 1979, p. 58-59) Concluímos que os relatos apresentados, são ideias que estão presente no nosso cotidiano escolar e na sociedade a qual estamos inseridos. 5. ADAPTAÇÃO DO TEXTO TEATRAL PARA UMA NARRATIVA FICCIONAL Para esta atividade, realizamos um trabalho interdisciplinar, juntamente com a professora de português, cuja contribuição foi significativa, onde fizemos a leitura do texto e a produção de uma narrativa ficcional a partir dos diálogos da peça teatral. A turma foi dividida em seis grupos, cada qual composto por cinco alunos. Demos preferência para as páginas 41-68, os trechos destacados apresentam elementos referente às religiões de matiz africana. Através desta adaptação podemos refletir sobre a história, cultura e principalmente a religiosidade dos afro-descendentes, desmistificando conceitos e preconceitos introjetadas no povo de ascendência africana. Levando os alunos a repensarem sobre os seus conceitos. No final da atividade, cada grupo apresentou o seu texto. 5.1 Parte de Um Texto (Produzido Por Cinco Alunos) A peça acontece em um terreiro de macumba, em um morro próximo a cidade do Rio de Janeiro. Encontramos objetos sagrados como a lança de Ogum embaixo de uma gameleira, que é uma árvore sagrada para os africanos. Diante do pegi (altar) de Exu, as filhas de santo fazem oferendas. Exu pede que Emanuel esteja presente até a meia noite, onde o seu destino será traçado. No despacho oferecem: azeite de dendê, farofa, marafo, charuto, galo preto... Exu conhece os segredos da cidade sagrada de Ilé-Ifé (na Nigéria) e conhece tudo sobre o ser humano. Enquanto esperam o Doutor Emanuel, fazem comentários sobre as mulheres a qual o mesmo amou: Ifigênia (negra) e Margarida (branca). Uma filha de santo comenta: - Dizem que Ifigênia amou Emanuel, antes de se entregar a vários homens e virar prostituta. Tinha horror de ser negra. - Acreditem o nome dela é de santa; Santa Ifigênia. Margarida, esposa de Emanuel, desde pequena tinha fixação pelo sexo negro, foi amamentada por uma negra e até fez oferendas para Yemanjá. No final humilhou o seu marido negro e abandonou sua ama de leite. As filhas de santo comentam: - Preto quando renega a Exu... esquece os orixás... desonra a Obatalá. - Merece morrer, desaparecer para sempre. O trabalho interdisciplinar foi muito importante. Os textos foram corrigidos pela professora de português, que juntamente com os alunos fizeram a reestruturação dos mesmos. 6. MÚSICA E DANÇA A música e a dança são expressões cultural presente no nosso cotidiano. Através desta atividade podemos trazer ao conhecimento, a música e a arte de matriz africana (samba, pagode, axé-music e outras), bem como a valorização da mesma. Trazermos ao conhecimento cantores que frequentam as religiões de matriz africana, como Martinho da Vila, Maria Bethania, e também destacarmos a importância de Clara Nunes (uma das maiores expressões da Umbanda brasileira) conhecida internacionalmente. Foi entregue para cada aluno uma cópia das músicas que falam sobre os orixás e as divindades das religiões africanas Yemanjá, Ogun, Exu e outros. Cantamos várias vezes as músicas propostas e analisamos as letras. Ensaiamos duas danças relacionadas aos orixás e ao sincretismo religioso no Brasil. Esta atividade foi muito prazerosa, os alunos gostaram muito e se divertiram. Uma aluna ajudou a fazer as coreografias das danças. 6.1 Culminância (Apresentação de dança) Para encerrarmos o nosso projeto apresentamos para todos os alunos do período matutino as danças que ensaiamos. Fizemos uma linda homenagem a Yemanjá, que é um dos orixás mais cultuadas no Brasil, a rainha do mar, também para Ogun que no sincretismo religioso é (São Jorge), orixá que apresenta uma força expressiva junto ao povo brasileiro. Mostramos que os orixás, divindades das religiões de matriz africana estão presentes no cotidiano de muitos brasileiros e que merecem ser respeitados. Recebemos parabéns pelo trabalho realizado e muitos professores elogiaram pela coragem de trazer para o espaço escolar uma temática diferenciada e que não estão familiarizados. Esta atividade oportunizou vivenciarmos a cultura de maneira prática. Trazermos para o espaço escolar o trabalho a qual desenvolvemos em sala de aula, destacando a religiosidade afro-brasileira que é tão estigmatizada na nossa sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Uma das funções da educação é libertar o ser humano da sua completa ignorância, construindo um caminho de libertação e consequentemente o respeito ao próximo e às diferenças. A escola deve e pode contribuir para a construção de uma sociedade mais fraterna, justa e igualitária, desvinculando-se de conceitos que foram estabelecidos por uma ideologia de dominação. O presente artigo pretende ratificar a proposta da Lei 10639/03 para o ensino médio, que é a inclusão da História da África no sistema escolar. Para efetivar esta proposta, abordamos a questão da religião de matriz africana, tão estigmatizada no contexto escolar, através da análise da peça de teatro Sortilégio, de Abdias do Nascimento (1979), fundador do TEN, sugerindo uma metodologia com os alunos e também recorrendo às emoções em um ato artístico, tal como o teatro. “O teatro pode ser um excelente instrumento na educação, incorporado por diferentes áreas para a realização de uma educação plena. Com exercícios e perguntas apropriadas, o professor tem condições de verificar os tópicos pedagógicos em comum entre diferentes matérias e através do teatro, encontrar boas motivações educacionais em projetos integradas de criação”. (GRANERO, 2011, p. 75) REFERÊNCIAS ANJOS, Maria Luísa Araújo dos. A escolarização da peça Sortilégio II: Mistério negro de zumbi redivivo de Abdias do Nascimento. Brasília, 2007. BRASIL. Ministério da Educação. Constituição Federativa do Brasil, 1988. BROWN, Diana. Uma história da umbanda no Rio. Umbanda e Política. Rio de Janeiro: Forense – Universitária, 1985. In: SILVA, Gonçalves da Vagner. Candomblé e umbanda: caminhos da devoção brasileira. 2. ed. São Paulo: Selo Negro, 2005. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. www.brasil.gov.br. Portal Brasil. Acesso em: 20 mar. 2013. Disponível em: Disponível em: http://www.ipeafro.org.br/home/br/personalidades. Acesso em: 20 mar. 2013. GRANERO, Vic Vieira. Como usar o teatro na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2011. NASCIMENTO, Abdias do. Dramas para negros e prólogo para brancos. Rio de Janeiro: Edição do Teatro Experimental do Negro, 1961. NASCIMENTO, Abdias do. Sortilégio II: mistério negro de zumbi redivivo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. NASCIMENTO, Abdias do. Teatro Negro do Brasil: uma experiência sócio-racial. Revista Civilização Brasileira. 1968. NASCIMENTO, Abdias do. Teatro experimental do negro: trajetória e reflexões. Estudos Avançados. v. 18, n. 50. São Paulo, 2004, p. 209-224. NASCIMENTO, Eliza Larkin. A questão de gênero na peça Sortilégio (Mistério Negro) de Abdias Nascimento. Disponível em: www.ueangola.com/indez.php/criticas-e-ensaios/item/225. Acesso em: 20 abr. 2013. NASCIMENTO, Rosangela Fonseca do; FERNANDES, Alexandre de Oliveira. Representações da cultura negra em Sortilégio II: Abdias revive. Revista África e Africanidades. Ano 3, n. 10, agosto 2010 – ISSN 1983- 2354. Disponível em: www.africaeafricanidades.com.br. Acesso em: 12 abr. 2013. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. História e cultura afro-brasileira e africana: educando para as relações étnicos raciais. Curitiba: SEED-PR., 2008.