UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS, NATURAIS E TECNOLOGIAS MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TECNOLOGIA AMBIENTAL IVANILDA MENDES AVALIAÇÃO DO PROCESSO OXIDATIVO AVANÇADO COM H2O2/UV PARA A DEGRADAÇÃO DO ANTIBIÓTICO AMOXICILINA RIBEIRÃO PRETO – SP Novembro/2013 IVANILDA MENDES AVALIAÇÃO DO PROCESSO OXIDATIVO AVANÇADO COM H2O2/UV PARA A DEGRADAÇÃO DO ANTIBIÓTICO AMOXICILINA Dissertação apresentada como requisito para o titulo de mestre pelo programa de Mestrado Profissionalizante em Tecnologia Ambiental do Centro de Ciências Exatas, Naturais e Tecnologias da Universidade de Ribeirão Preto. Orientadora: Professora Dra. Maristela Silva Martinez RIBEIRÃO PRETO – SP Novembro / 2013 Ficha catalográfica preparada pelo Centro de Processamento Técnico da Biblioteca Central da UNAERP - Universidade de Ribeirão Preto - Mendes, Ivanilda, 1966M538a Avaliação do processo oxidativo avançado com H2O2/UV para a degradação do antibiótico amoxilina / Ivanilda Mendes. - - Ribeirão Preto, 2014. 93 f.: il. color. Orientadora: Profª. Drª. Maristela Silva Martinez. Dissertação (mestrado) - universidade de ribeirão preto, UNAERP, Tecnologia ambiental. Ribeirão Preto, 2014. 1. Amoxilina. 2. Carbono orgânico. I. Título. Á Deus, Pai extremamente bom e generoso que me permite aprender para crescer cada dia mais. AGRADECIMENTOS À Professora Dra. Maristela Silva Martinez, pela excelente orientação e amizade; Aos professores Sarazete Izidia Vaz Pereira e Paulo Sérgio Pereira da equipe do Laboratório de Biofarmacotoxicologia, da faculdade de Biotecnologia da UNAERP; Às alunas do curso de Graduação em Engenharia de Química da UNAERP, Franciele e Hellen, pela participação na realização dos experimentos; A todos os docentes do Curso de Mestrado Profissionalizante em Tecnologia Ambiental e a todos os companheiros de turma, em especial ao Aldo Arouca, Mario Corbucci e Gabriela Marcomini; À minha família, base de minha existência, formada por pessoas que buscam e valorizam as conquistas acadêmicas; À minha mãe Júlia que me deu oportunidade de nascer, crescer e buscar sempre um novo conhecimento; Aos meus irmãos Eunice, Neide, Silvana e Clóvis que acompanharam toda a minha trajetória do mestrado; À minha amiga Eloisa que me incentivou a fazer o mestrado e me orientou nos conceitos da farmacologia; A minha equipe de trabalho na Vigilância em Saúde Ambiental de Campinas, em especial a Dinah e Carlos que me apoiaram quando estive ausente para cumprir a jornada do mestrado; À UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto, pelo fornecimento dos recursos, estrutura e pelo ensino de qualidade prestado. “Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo”. Martin Luther King RESUMO Empregado na medicina humana e animal, os fármacos são compostos biologicamente ativos, produzidos para manterem suas propriedades mesmo após passarem pelas rotas metabólicas nos tratamentos em que são utilizados. Estudos mostram que a presença de fármacos tem sido detectada em águas superficiais, subterrâneas e água tratada para consumo humano. Dentre os fármacos que merecem atenção especial estão os antibióticos, que pertencem a uma importante classe que geram impactos ambientais devido à sua atividade biológica específica. A alta demanda dessas substâncias na produção e consumo, assim como a falta de conhecimento do comportamento desses compostos no meio ambiente, apresenta sérias preocupações, uma vez que afetam a qualidade das águas utilizadas para consumo humano. Diante da preocupação ambiental pela preservação, existe a necessidade do desenvolvimento de tecnologias inovadoras e seguras para a degradação destes poluentes. O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito do Processo Oxidativo Avançado (POA) por H2O2/UV para a degradação de 0,0273 mmol/L de amoxicilina, com dosagem de H2O2 que variaram entre 0,245 mmol/L; 0,745 mmol/L; 1,240 mmol/L; 2,491 mmol/L e 2,978 mmol/L, irradiados com lâmpada UV (95 W) por 60 minutos. Os parâmetros de controle foram carbono orgânico total (COT), residual de amoxicilina, peróxido de hidrogênio e pH. Avaliou-se a cinética de velocidade envolvida na degradação. O estudo mostrou que o POA H2O2/UV é eficiente para a degradação da amoxicilina e a dosagem mais apropriada de H2O2 é de 0,745 mmol/L com redução de 100% da amoxicilina em 20 minutos, obtendo 62,20% de mineralização de COT. A reação ocorreu com molaridade cinética de pseudoprimeira ordem com uma constante cinética de velocidade de 0,0156 min -1. Palavras-chave: amoxicilina, H2O2/UV e carbono orgânico total. ABSTRACT Animal and human medicine employs pharmaceuticals biologically active compounds that retain their properties even after undergoing metabolic routes during therapy. Studies have shown that such compounds exist in surface, underground, and treated water. In particular, antibiotics are a class of drugs that has raised much concern: their specific biological activity impacts the environment significantly. The high demand for antibiotics and the lack of knowledge about how they behave in the environment is worrisome, because they can affect the quality of the water available for human consumption. In this context, it is necessary to develop innovative and safe technologies to degrade these pollutants. This work aimed to evaluate how Advanced Oxidative Processes (AOP) using H2O2/UV affected degradation of 0,0273 mmol L-1 amoxicillin at H2O2 concentrations of 0,245, 0,745, 1,240, 2,491, and 2,978 mmol L-1, irradiated with UV light (95 W) for sixty minutes. The control parameters were total organic carbon (TOC), residual amoxicillin, hydrogen peroxide, and pH. The degradation kinetics was also assessed. The optimal H2O2 concentration was 0,745 mmol L-1: it eliminated 100% amoxicillin and afforded 62,20% TOC mineralization. The reaction followed a pseudo first-order kinetics; the rate constant was 0,0156 min-1. Keywords: amoxicillin, H2O2/UV and total organic carbon. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Rota dos fármacos no ambiente adaptado de Billa & Dezotti (2003). ................... 17 Figura 2. Fórmula da amoxicilina tri-hidratada. .................................................................... 25 Figura 3. Esquema simplificado do sistema H2O2. ............................................................... 46 Figura 4. Fotografia do sistema de degradação ................................................................... 46 Figura 5. Fluxograma das etapas de trabalho utilizado para os ensaios de degradação com POA H2O2/UV. ..................................................................................................................... 48 Figura 6. Curva analítica com área de pico versus concentração de amoxicilina. ................ 50 Figura 7. Curva analítica de H2O2. ....................................................................................... 51 Figura 8. Cromatograma obtido para o padrão de amoxicilina. ............................................ 54 Figura 9. Cromatograma obtido no ensaio com radiação UV, sem adição de H2O2 após 2 minutos de tratamento. ........................................................................................................ 54 Figura 10. Cromatograma obtido no ensaio sem adição de H2O2, após 60 minutos de tratamento. .......................................................................................................................... 55 Figura 11. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 2 minutos de ensaio................................................................................................................ 56 Figura 12. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 60 minutos de tratamento .................................................................................................... 57 Figura 13. Gráfico dos resultados obtido após 60 minutos de irradiação da amoxicilina sem adição de peróxido de hidrogênio. ....................................................................................... 58 Figura 14. Gráfico dos resultados da diminuição do COT, irradiado com UV para a concentração de 0,248 mmol/L de H2O2, com 60 minutos de tratamento. ............................ 59 Figura 15. Gráfico dos resultados da diminuição do COT para a concentração de 0,745 mmol/L de H2O2, com 60 minutos de tratamento. ................................................................ 59 Figura 16. Gráfico dos resultados da diminuição do COT para a concentração de 1,240 mmol/L de H2O2 com 60 minutos de tratamento. ................................................................. 60 Figura 17. Gráfico dos resultados da diminuição do COT para a concentração de 2,491 mmol/L de H2O2 com 60 minutos de tratamento. ................................................................. 60 Figura 18. Gráfico dos resultados da diminuição do COT para a concentração 2,978 mmol/L de H2O2, com 60 minutos de tratamento. ............................................................................. 61 Figura 19 Gráfico comparativo dos resultados obtidos na remoção de COT entre as dosagens de H2O2 utilizada. ............................................................................................... 61 Figura 20 Gráfico de lnC0/C em função do tempo para a dosagem de 0,248 mmol/L de H2O2. ............................................................................................................................................ 64 Figura 21 Gráfico de lnCo/C em função do tempo para a dosagem de 0,745 mmol/L de H2O2. ............................................................................................................................................ 64 Figura 22 Gráfico de lnC0/C em função do tempo para a dosagem de 1,240 mmol/L de H2O2. ............................................................................................................................................ 65 Figura 23 Gráfico de lnC0/C em função do tempo para a dosagem de 2,491 mmo/L de H2O2. ............................................................................................................................................ 65 Figura 24 Gráfico de lnC0/C em função do tempo para a dosagem de 2,978 mmol de H2O2. ............................................................................................................................................ 66 Figura 25 Gráfico comparativo de lnC0/C de todas as concentrações utilizadas nos ensaios. ............................................................................................................................................ 66 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Concentrações máximas encontradas para antibiótico em efluentes de ETE e águas superficiais. ............................................................................................................... 24 Tabela 2 Resultados obtidos a partir da degradação de efluente industrial da produção de amoxicilina por diferentes processos oxidativos................................................................... 28 Tabela 3 Sistemas típicos de Processos Oxidativos Avançados. ......................................... 30 Tabela 4 Estudo de degradação da amoxicilina por diferentes processos oxidativos........... 32 Tabela 5 Potencial de oxidação de diferentes espécies oxidativas. ..................................... 33 Tabela 6 Relação entre degradação molar do H2O2 e o comprimento de onda. ................... 36 Tabela 7 Distribuição de concentração molar e volume de H2O2. ......................................... 37 Tabela 8 Condições operacionais do sistema cromatográfico. ............................................. 43 Tabela 9 Quantidade de peróxido utilizada e sua molaridade. ............................................. 44 Tabela 10 Percentual de degradação de Carbono Orgânico Total. ...................................... 62 Tabela 11 Percentual de H2O2 remanescente após 60 minutos de ensaio, para as concentrações utilizada. ...................................................................................................... 63 Tabela 12 Velocidade de degradação da amoxicilina com utilização da lâmpada UV com intensidade de 95 W. ........................................................................................................... 67 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AMX - Amoxicilina CLAE - Cromatografia Líquida de Alta Eficiência COT - Carbono Orgânico Total HPLC - High Performance Liquido Chromatography H2O2 - Peróxido de Hidrogênio •OH - Radical Hidroxila pH - Potencial Hidrogeniônico POA - Processo Oxidativo Avançado RENAME - Relação Nacional de Medicamentos Essenciais UNAERP - Universidade de Ribeirão Preto UV - Ultravioleta SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 13 2. OBJETIVOS............................................................................................................ 15 2.1 Objetivo geral........................................................................................................ 15 2.2 Objetivos específicos ............................................................................................ 15 3. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 16 3.1 Fármacos .............................................................................................................. 16 3.2 Presença de compostos de fármacos no ambiente ............................................... 16 3.3 Potencial ecotoxicológico dos fármacos................................................................ 20 3.4 Antibióticos no ambiente ....................................................................................... 23 3.5 Estudos sobre a degradação do antibiótico amoxicilina ........................................ 24 3.6 Processo Oxidativo Avançado .............................................................................. 29 3.7 Fotólise de peróxido de hidrogênio ....................................................................... 32 3.8 Luz UV .................................................................................................................. 33 3.9 Peróxido de hidrogênio ......................................................................................... 35 3.10 Estudos de fotodegradação utilizando peróxido de hidrogênio assistido por UV . 37 4. MATERIAL E MÉTODOS........................................................................................ 40 4.1 Validações da metodologia para determinação de amoxicilina por CLAE-Cromatografia Liquida de Alta Eficiência ............................................................................................ 40 4.1.1 Reagentes e padrões de referência ................................................................... 41 4.1.2 Solução- estoque ............................................................................................... 41 4.1.3 Solução- padrão................................................................................................. 41 4.1.4 Fase móvel ........................................................................................................ 41 4.1.5 Preparo da amostra da solução de amoxicilina a partir da matéria-prima .......... 42 4.2 Equipamentos e acessórios .................................................................................. 42 4.3 Condições operacionais do sistema cromatográfico ............................................. 42 4.4 Procedimento cromatográfico ............................................................................... 43 4.5 Determinação da pureza da matéria-prima ........................................................... 43 4.6 Preparo da solução com amoxicilina para os ensaios de POA.............................. 43 4.7 Peróxido de hidrogênio ......................................................................................... 44 4.8 Equipamentos ....................................................................................................... 44 4.8.1 Cromatógrafo ..................................................................................................... 44 4.8.2 pH - metro .......................................................................................................... 45 4.8.3 Analisador de Carbono Orgânico Total .............................................................. 45 4.8.4 Espectrofotômetro .............................................................................................. 45 4.9 Reator Batelada com reciclo em reator UV ........................................................... 45 4.9.2 Ensaios de degradação ..................................................................................... 48 5.1 Parâmetros avaliados na validação da metodologia ............................................. 50 5.2 Determinação da pureza da amoxicilina .............................................................. 51 5.3 Curva analítica do H2O2 ........................................................................................ 51 5.4 Dose de radiação UV ........................................................................................... 52 5.5 Resultados dos ensaios oxidativos da amoxicilina por H2O2/UV ........................... 53 5.6 Degradação da amoxicilina ................................................................................... 53 5.7 Determinações do COT para diferentes concentrações de oxidante ..................... 58 5.8 Residual de Peróxido de Hidrogênio ..................................................................... 62 5.9 Cinética de degradação ........................................................................................ 63 6. CONCLUSÕES ....................................................................................................... 68 7. RECOMENDAÇÕES .............................................................................................. 69 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 70 ANEXO 1. Cromatograma obtido na leitura do padrão de amoxicilina. ....................... 83 ANEXO 2. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 2 minutos de tratamento. ............................................................................................... 84 ANEXO 3. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 5 minutos de tratamento. ............................................................................................... 85 ANEXO 4. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 10 minutos de tratamento. .......................................................................................... 86 ANEXO 5. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 15 minutos de tratamento. .......................................................................................... 87 ANEXO 6. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 20 minutos de tratamento. .......................................................................................... 88 ANEXO 7. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 30 minutos de tratamento. .......................................................................................... 89 ANEXO 8. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 40 minutos de tratamento. .......................................................................................... 90 ANEXO 9. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 50 minutos de tratamento. .......................................................................................... 91 ANEXO 10. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 60 minutos de tratamento. .......................................................................................... 92 1. INTRODUÇÃO Empregados na medicina humana e animal, os fármacos são compostos biologicamente ativos, produzidos para manterem suas propriedades mesmo após passarem pelas rotas metabólicas em tratamentos nos quais são utilizados. Atualmente são considerados contaminantes ambientais emergentes de grande importância, devido, além da quantidade consumida, da sua toxicidade e persistência no ambiente. Estudos mostram que a presença de fármacos tem sido detectada em águas superficiais, subterrâneas e na água tratada para consumo humano. Os efeitos toxicológicos dos fármacos ainda não são totalmente conhecidos, embora algumas pesquisas demonstrem que eles estão interferindo no metabolismo e no comportamento de organismos aquáticos. Dentre as classes de fármacos estudadas, os hormônios vêm recebendo atenção por serem compostos extremamente ativos biologicamente e por estarem relacionados à etiologia de vários tipos de interferência do funcionamento do sistema endócrino, afetando funções reprodutivas dos seres vivos (JOBLING et al., 1998). Os resíduos de fármacos podem entrar no ambiente através de diferentes fontes e mecanismos, sendo o meio principal a excreção humana e animal dos seus metabólitos após a sua ingestão e através do descarte inadequado de medicamentos vencidos. Na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) uma parte é removida pelo tratamento dependendo do tipo de medicamento e da tecnologia utilizada e, depois de tratado o efluente é lançado em corpo d’ água. Sua presença no meio hídrico e água para abastecimento permite concluir que os processos de tratamento convencionais não eliminam os compostos das águas residuais e para abastecimento (TERNES, 1998). O efluente da ETE ao ser enviado ao manancial confere uma entrada constante destas substâncias no ambiente caracterizando-as como pseudopersistente pelo fato de muitas destas substâncias serem frequentemente encontradas em águas naturais. Dentre os fármacos que merecem atenção especial estão os antibióticos, que geram impactos ambientais devido a sua atividade biológica especifica. A amoxicilina, por exemplo, possui baixa taxa de metabolismo tanto para seres humanos como para os animais. De acordo com Longhin (2008), os antibióticos 13 possuem baixa biodegradabilidade, resistem ao tratamento em ETE convencional, persistem no meio ambiente e potencializam seu efeito no ecossistema. A alta demanda dessas substâncias na produção e consumo, assim como a falta de conhecimento do comportamento desses compostos no meio ambiente, apresentam sérias preocupações para a comunidade científica, uma vez que afetam a qualidade das águas utilizadas para o abastecimento humano. Diante da preocupação ambiental pela preservação, existe a necessidade do desenvolvimento de tecnologias inovadoras e seguras para a destruição destes poluentes. Essas tecnologias devem ser de fácil aplicação, necessitar de pouca manutenção, apresentar baixo custo e atingir alto grau de tratabilidade. Neste contexto, os Processos Oxidativos Avançados (POA) vêm sendo apontados como uma possibilidade no tratamento de efluentes contendo fármacos. As reações de oxidação química envolvendo radicais hidroxilas têm sido uma solução bastante eficiente na destruição de compostos orgânicos. O mecanismo de destruição das moléculas orgânicas pelos POA é baseado na formação de um poderoso e não seletivo oxidante, o radical hidroxila (•OH)., que pode oxidar uma grande variedade de compostos orgânicos. Esses sistemas de tratamento geralmente combinam vários agentes oxidantes (H2O2, O3), radiação ultravioleta (UV) e catalisadores para a geração de radicais hidroxilas (•OH). O uso dos agentes oxidantes (H2O2, O3, Fenton), combinados com o uso de radiação ultravioleta, tem apresentado resultados satisfatórios na degradação de substâncias recalcitrantes (MELO, 2009). Desta forma este trabalho apresenta o estudo do potencial de degradação do antibiótico amoxicilina através de um POA, utilizando o oxidante peróxido de hidrogênio na presença de luz ultravioleta. 14 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral O objetivo geral deste trabalho é estudar a degradação da amoxicilina mediante a aplicação de Processo Oxidativo Avançado (POA) por H2O2/UV. 2.2 Objetivos específicos Avaliar o potencial de aplicação do processo oxidativo com H 2O2/UV para degradação da solução aquosa de amoxicilina. Avaliar o efeito das concentrações de 0,248 mmol/L; 0,745 mmol/L; 1,240 mmol/L; 2,491 mmol/L e 2,798 mmol/L de H2O2 para a degradação da amoxicilina. Avaliar o grau de mineralização obtido com o POA em cada uma das concentrações de oxidante aplicadas através da determinação do Carbono orgânico Total (COT). Determinar os parâmetros cinéticos envolvidos na degradação do COT. 15 3. REVISÃO DA LITERATURA A seguir é apresentado um referencial teórico sobre fármacos, sua presença no ambiente, potencial ecotoxicológico e alguns estudos sobre a degradação do antibiótico amoxicilina e outros contaminantes por POA. 3.1 Fármacos Fármaco deriva do termo grego phárn, que tanto pode significar veneno como remédio. De acordo com Zanini & Oga (1989), fármaco é toda substância química bem definida utilizada para modificar ou explorar sistemas fisiológicos ou estados patológicos, para benefício do organismo receptor. Em termos correntes, a palavra fármaco designa todas as substâncias utilizadas em farmácia e com ação farmacológica, ou pelo menos com interesse médico. Por convenção, substâncias inertes como excipientes não são consideradas fármacos. Os fármacos são empregados com um propósito terapêutico e após atuarem no organismo, podem ser excretados como metabólitos, hidrolisados ou na forma original. Podem ainda estar conjugados com moléculas polares, no entanto, esses conjugados são facilmente clivados disponibilizando substâncias ativas nos esgotos domésticos. A taxa de excreção da forma inalterada depende do fármaco, da dose e do indivíduo. De modo geral, de 40 a 90% da dose administrada são excretadas em sua forma original. (Nogueira, 2003). 3.2 Presença de compostos de fármacos no ambiente Considerando o metabolismo dos fármacos no organismo, uma quantidade significativa dessas substâncias originais e seus metabólitos são excretados na urina, fezes ou esterco animal. De acordo com Richardson & Bowron (1985), há três destinos possíveis para qualquer fármaco individual: Pode ser biodegradável, ou seja, mineralizado a gás carbônico e água, como por exemplo, o ácido acetil salicílico; Pode passar por algum processo parcialmente, como as penicilinas; 16 metabólico ou ser degradado Pode ser persistente como clofibrato, que é um antilipêmico. A Figura 1 apresenta um esquema que sugere possíveis caminhos para os fármacos, quando descartados no ambiente, podendo oferecer riscos ao meio aquático e ao consumo humano. Medicina humana e animal Excreção Esgoto Esterco Estação de tratamento de esgoto Solo Manancial superficial Água subterrânea Estação de tratamento de água Figura 1. Rota dos fármacos no ambiente adaptado de Billa & Dezotti (2003). A principal rota de entrada deste tipo de contaminante em águas superficiais é o lançamento de esgoto in natura, visto que em muitas localidades há grande déficit de infraestrutura em saneamento. Uma rota importante é o lançamento de efluentes de ETE, uma vez que os fármacos são resistentes aos processos de tratamento utilizados. Outro caminho dos fármacos residuais a ser considerado no ambiente aquático é o esterco utilizado como fertilizantes que pode levar à contaminação das águas de subsolo. Deve-se considerar também a contaminação devido ao uso do lodo digestivo proveniente de ETE na agricultura. 17 Estudos demonstram que várias dessas substâncias parecem ser persistentes no meio ambiente e não são completamente removidas nas ETE. Sendo assim, muitos fármacos residuais resistem a vários processos de tratamento convencional de água. A contaminação encontrada para efluentes de ETE levam à conclusão de que há necessidade do desenvolvimento de tecnologias para remoção destes poluentes com eficiência para que os mesmos não atinjam as Estações de Tratamento de Água (ETA), (HEBERER, 2002). Kolpin et al. (2002), detectaram antibióticos, como tetraciclinas (oxitetraciclina, tetraciclina e clorotetraciclina), sulfonamida (sulfadimetoxina, sulfametazina, e sulfametoxazol), macrolídeos (roxitromicina, claritromicina), fluoroquinolonas (ciprofloxacina, norfloxacina), lincomicina, trimetoprim e tilosina, em amostras de águas superficiais nos Estados Unidos. Em estudo conduzido por Alonso et al. (2010), avaliou-se a presença de psicoativos em rios da região metropolitana de Madri e os resultados obtidos indicaram que as tecnologias de tratamento de esgoto empregados não removem de forma efetiva compostos como fluoxetina, citalopram, vanlafaxina, nordazepam, oxazepram e carbamazepina. Normalmente os fármacos presentes no meio ambiente estão em concentrações na ordem de μg/L ou ng/L (HILTON & THOMAS, 2003). O estrogênio sintético e o antibiótico tetraciclina tendem a ser adsorvidos ao lodo das ETEs ou sedimentos, devido à alta lipofilicidade e formação de precipitado com cálcio e íons similares, respectivamente. Em seus estudos Asthon et al. (2004), investigaram o transporte de compostos farmacêuticos em efluentes no Reino Unido e foram encontrados dez compostos farmacêuticos no efluente final de estação de tratamento esgoto: ibuprofeno, ácido mefenâmico, diclofenaco, propranolol, dextroproxifeno, eritromicina, trimetropina, tamoxifeno, sulfametoxazol e acetil-sulfametaxazol. Os resultados mostraram que mesmo em concentrações pequenas, estes compostos atingem os mananciais do Reino Unido. A ausência de métodos eficazes para a remoção de muitos desses compostos nas Estações de Tratamento de Água (ETA) podem acarretar a sua presença nas águas de consumo humano (ROBERTS & BERSUDER, 2006). 18 Alguns antilipêmicos foram detectados em esgoto, em efluente de ETE e em águas de rios do Rio de Janeiro por Stumpf et al. (1999). A concentração média nos efluentes de ETE da maioria dos fármacos investigados esteve na faixa de 0,1 a 1,0 µg/L. Nos rios as concentrações médias ficaram entre 0,02 e 0,04 µg/L, indicando a remoção incompleta dos fármacos em ETE. A taxa de remoção de fármacos individuais durante a passagem pela ETE variou de 12 a 90%. Em estudo conduzido no Brasil por Oliveira et al. (2011), avaliou-se a presença de fármacos em Presidente Prudente, Região Noroeste do Estado de São Paulo. A pesquisa foi realizada em três córregos da região, afluentes de dois sistemas importantes de captação de água pelo sistema público de abastecimento. Os resultados monstraram a presença de fármacos nos três mananciais. No córrego do Cedro: paracetamol (0,564 µg/L) e iboprufeno (0,740 µg/L), Córrego do Veado: diclofenaco (0,062 µg/L) e iboprufeno (1,013 µg/L) e Córrego do Limoeiro: paracetamol (0,189 µg/L), naproxeno (0,625 µg/L), diclofenaco (0,658 µg/L) e iboprufeno (0,114 µg/L), mostrando a recorrência do iboprufeno nos três córregos pesquisados. Os autores correlacionam a presença destes fármacos com a disposição de esgoto doméstico sem tratamento, além de descarte de efluentes de ETE. A presença de fármacos em efluentes de ETE demonstra um reflexo da baixa eficiência de remoção destes pelo processo convencional de tratamento, o que leva à contaminação de águas superficiais. Tal situação tem incentivado a busca de métodos mais eficientes, capazes de promover a mineralização desses contaminantes ou pelo menos, sua transformação em produtos que não apresentem efeitos adversos ao ambiente. Alguns pesquisadores vêm avaliando os possíveis riscos ambientais causados por medicamentos veterinários, por exemplo, aqueles usados na criação de gado, no solo, nas águas superficiais e de subsolo. Petersen et al. (2002), analisaram amostras de água em uma fazenda de criação de peixes que recebiam como fonte de alimentos esterco de aves para as quais foram administrados antibióticos e em 100% das amostras analisadas foi encontrada resistência ao antibiótico sulfametaxazol. 19 3.3 Potencial ecotoxicológico dos fármacos Segundo Melo et al. (2009), os primeiros estudos sobre a presença de fármacos no ambiente datam da década de 70 e foram realizados por Garrison e colaboradores e Hignite & Azarnoff. Foi detectada a presença de ácido clofíbrico, metabólito de antilipêmico na faixa de concentração em ppb, em efluentes de ETE nos Estados Unidos. A contaminação de corpos hídricos por fármacos apresenta-se como um problema ambiental mundial. Tais compostos biologicamente ativos, quando presentes no ambiente, interagem com a biota do meio interferindo na fisiologia, no metabolismo e no comportamento das espécies, podendo ocasionar severos danos ao organismo humano e aos demais seres vivos. Avaliar o destino destes produtos no meio é uma tarefa complexa, pois vários fatores podem interferir na elaboração de um modelo de rota, tais como, estrutura química, temperatura e sazonalidade. No momento, um ponto crítico é saber se existe um nível elevado dessas substâncias no meio ambiente, suficientes para exercer efeitos adversos em seres vivos. Esta questão estimula o desenvolvimento de estudos de impacto ambiental causado por diferentes fármacos presentes no meio ambiente. Porém, os dados disponíveis na literatura são insuficientes. A ocorrência desses fármacos residuais em águas superficiais e de subsolo demonstra uma necessidade de mais estudos que determinem os efeitos tóxicos desses fármacos frente ao meio ambiente. A exposição crônica a fármacos em doses subtóxicas pode ocasionar efeitos inesperados ao organismo humano e aos demais seres vivos. Apesar de os fármacos serem detectados no ambiente em baixas concentrações (entre ng e μg L-1), este quadro gera grande preocupação, uma vez que são substâncias biologicamente ativas que podem desencadear efeitos farmacodinâmicos em organismos aquáticos que possuam receptores enzimáticos compatíveis. Assim, a presença de fármacos pode comprometer a qualidade dos recursos hídricos, alterando a biodiversidade e o equilíbrio de ecossistemas aquáticos (FENT et al., 2006). Zhou et al. (2009), destacam que dados sobre concentrações máximas para fármacos em meio aquático são limitados e, frequentemente, relacionados a ensaios 20 de toxicidade de um único composto em um único organismo teste, e ainda são limitados a avaliação dos efeitos agudos. Outro ponto destacado pelos autores é o impacto da mistura de diferentes fármacos no ambiente, que pode resultar em efeitos de toxicidade mais pronunciados do que aqueles causados por um determinado composto sozinho. Um estudo conduzido por Flaherty & Dodson (2005) mostra que misturas de diferentes compostos se comportam de forma imprevisível em meio aquático causando sérios efeitos em Daphnia magna, como deformidade e aumento da mortalidade. A presença desses fármacos residuais pode causar efeitos adversos a organismos presentes nas águas, como os peixes. O efeito causado no sistema reprodutivo de organismos aquáticos tem sido mostrado em alguns estudos. Gimeno et al. (1998), examinaram o efeito do estrogênio natural 17 β estradiol no sistema reprodutor dos peixes machos expostos a estrogênios lançados nos rios através dos efluentes de ETE e concluíram que peixes machos jovens quando expostos foram capazes de sintetizar a vitelogenina (fosfolipoglicoproteina sintetizada pelas fêmeas no ciclo reprodutivo). Em estudos conduzidos por Rodger - Gray et al. (2001), peixes jovens da espécie Rutilus rutilus foram expostos a concentrações gradativas de efluente de ETE por 150 dias contendo além de outros perturbadores endócrinos, estrogênios sintéticos. Os resultados mostraram que a exposição induziu à feminização de peixes machos. Subsequentemente, os peixes foram gradativamente expostos a águas naturais por mais 150 dias, resultando na redução de vitelogenina no plasma. Porém não se observou alteração no sistema sexual feminizado dos peixes, indicando que o desenvolvimento da anomalia no sistema reprodutivo não foi revertido. Legler et al. (2002), demonstraram que as substâncias estrogênicas não só são importantes na fase aquosa, mas também podem se acumular em sedimentos marinhos e assim afetar os organismos presentes no meio. Todavia, pouco se conhece sobre a exposição de organismos em ambientes aquáticos a substâncias estrogênicas presentes em sedimentos marinhos. Os efeitos tóxicos de fármacos residuais têm sido avaliados utilizando biota aquática. No entanto, poucos dados experimentais têm sido obtidos para comunidades terrestres. Como exemplo, o estudo desenvolvido por Migliore et al. 21 (1995), avaliou os efeitos do antibiótico sulfonamida na contaminação de um sistema terrestre com três desenvolvimento espécies de plantas, fornecendo informações da alteração no normal, crescimento e a bioacumulação em diferentes compartimentos da planta. Outros problemas observados foram a modificação da comunidade microbiana do solo, incluindo o desenvolvimento de resistência bacteriana e a inibição do mecanismo natural de descontaminação para pesticidas e outros xenobióticos. Sodré et al. (2010), analisaram a presença de estigmasterol, colesterol, bisfenol A, cafeína, estrona e 17 β-estradiol em amostras de água de abastecimento na cidade de Campinas, SP. Enquanto a estrona e o 17 β-estradiol foram detectados apenas em períodos de estiagem e abaixo dos limites de quantificação, o estigmasterol apresentou a concentração mais elevada (0,13 μg/L), seguido pelo colesterol (0,07 μg/L), cafeína (0,06 μg/L) e bisfenol (0,03 μg/L). Estes níveis são mais elevados do que aqueles encontrados em matrizes ambientais similares em outras partes do mundo. Os autores destacam que até o presente não foram definidos limites de concentração para estes compostos em água para consumo humano e, desta forma, não foram analisados os riscos associados ao consumo desta água, alertando-se também para os efeitos sinergéticos ou antagônicos da mistura destes compostos, mesmo em baixas concentrações. Daughton & Ternes (1999), sugerem possíveis efeitos sobre a saúde como resultado da exposição prolongada a compostos farmacêuticos através da água de abastecimento. Estes efeitos podem resultar em desregulação endócrina, reações de resistência a antibióticos, genotoxicidade, carcinogenicidade, bem como os efeitos na reprodução ou desenvolvimento de fetos. Em seus estudos Cunningham et al. (2009), avaliaram os riscos à saúde humana associados à presença de fármacos no ambiente aquático, devido ao consumo de água e peixe contendo traço de diferentes ingredientes ativos. O estudo conclui que pequenas concentrações de ingredientes ativos de fármacos em ambiente aquático e a subsequente transferência destes para a água de abastecimento e para peixes, não representam risco à saúde humana. No entanto, os autores alertam que por se tratar de água, necessidade básica do ser humano, uma série de incertezas precisam ser elucidadas, tais como a avaliação de riscos crônicos à exposição de misturas de micropoluentes, a susceptibilidade de grupos de indivíduos e a 22 efetividade das tecnologias empregadas para o tratamento de água na remoção de compostos emergentes. De acordo com Kummerer (2001), alguns grupos de fármacos residuais merecem atenção especial, dentre eles estão os antibióticos e os estrógenos. Atualmente, dois tópicos sobre o efeito de fármacos no meio ambiente são os mais discutidos: desenvolvimento de resistência bacteriana aos antibióticos e avaliação de perturbações no sistema endócrino por substâncias como estrógenos. Outros efeitos ainda foram poucos discutidos. 3.4 Antibióticos no ambiente Os antibióticos são usados como promotores de crescimento na produção de gado, na produção avícola e também como aditivos de alimento de peixe na aquicultura e criação de porcos. Compõem uma classe importante de fármacos com grande possibilidade de gerar impacto ambiental por possuírem atividade biológica específica. A ocorrência desses compostos no ambiente pode impactar negativamente organismos aquáticos e terrestres, além de exercer possível influência no aumento da resistência de micro-organismos aos agentes antibióticos (Kemper, 2008). Sendo assim, podem contaminar o solo, águas de subsolo e superficiais. Devido ao uso na cultura de peixes, alguns antibióticos como o cloranfenicol e o oxitetraciclina são detectados em sedimentos de origem marinha. Os antibióticos têm sido amplamente discutidos na literatura, devido ao seu potencial de seleção artificial de bactérias resistentes e por serem usados em grandes quantidades, tanto na medicina humana quanto na veterinária. A ansiedade pela cura da doença, a dificuldade de acesso de parte da sociedade aos serviços públicos de saúde e a falta de informação a respeito de medicamentos podem ser descritos como fatores que colaboram para o uso indiscriminado de antibióticos (SCARCELA et al., 2011). O uso abusivo de antibióticos acarreta dois problemas ambientais: a contaminação dos recursos hídricos e o desenvolvimento de resistências de alguns micro-organismos a esses fármacos. 23 De acordo com Carvalho (2009), uma preocupação dos cientistas com o grupo dos antibióticos é devido ao seu potencial de promover o desenvolvimento de resistência bacteriana, além do fato de serem usados em grandes quantidades. Miranda et al. (1998), avaliaram o desenvolvimento de resistência microbiana em uma espécie de Aeromonas isolada de ambientes aquáticos, constatando que a resistência ocorreu com vários antibióticos testados, dentre estes, cloranfenicol, trimetropim, sulfametoxazol e tetraciclina. As bactérias podem fazer, e frequentemente o fazem, mudanças no seu material genético, adquirindo resistência a esses fármacos (BILA & DEZOTTI, 2003). Alguns desses compostos presentes no meio ambiente como os antibióticos podem ocasionar o aparecimento de bactérias patogênicas resistentes, acarretando graves problemas de saúde pública. A Tabela 1 apresenta os resultados de concentrações máximas já observadas em efluente de ETE e águas superficiais. Tabela 1. Concentrações máximas encontradas para antibiótico em efluentes de ETE e águas superficiais. Substância Efluente de ETE Águas superficiais (ug/L) (ug/L) Claritromicina 0,24 0,26 Eritromicina - H2O 6,00 1,70 Roxitromicina 1,00 0,56 Cloranfenicol 0,56 0.06 Sulfametaxazol 2,0 0,48 Trimetropina 0,66 0,20 Fonte: HIRSCH et al. (1999). Para FENT et al. (2006), os efeitos de toxicidade dos antibióticos costumam ser observados somente em concentrações acima de 1 μg L -1, expondo os organismos aquáticos a baixas concentrações de forma contínua, onde os efeitos crônicos podem ser mais prováveis. 3.5 Estudos sobre a degradação do antibiótico amoxicilina 24 A amoxicilina é uma penicilina semissintética, divergindo da ampicilina apenas por apresentar a hidroxila em vez do hidrogênio. Como apresenta o grupo amino, seu espectro de ação é amplo, tendo, em relação à ampicilina, maior biodisponibilidade e contando que a presença de alimentos não interfere em sua absorção. É ácidoresistente, mas como sofre inativação das beta-lactamases produzidas por várias bactérias, é ingerida apenas por via oral, na forma triidratada (KOROLKOVAS & FRANÇA, 2008). É um antibiótico beta lactâmico de largo espectro amplamente utilizado na medicina humana e veterinária. Seu aporte no ambiente ocorre via lançamento de efluentes municipais e industriais e pode levar a contaminação dos corpos d’água e ao desenvolvimento de micro-organismos resistentes devido à capacidade limitada de remoção ou destruição desta substância por processos tradicionais de tratamento (FIGUEIREDO et al., 2011). A Figura 2 expressa a fórmula estrutural da amoxicilina tri-hidratada. Figura 2. Fórmula da amoxicilina tri-hidratada. Fonte: USP. United States Farmacopéia 31o Edição. (2008). Em pesquisa realizada no Brasil, os resultados mostraram que a amoxicilina é amplamente conhecida e utilizada, sendo que 96% das pessoas entrevistadas conhecem o antibiótico que também é vendido em grande quantidade pelas drogarias, com ou sem prescrição médica (SCARCELA et al., 2011). De acordo com Goodman & Gilman (2006), as concentrações plasmáticas máximas da amoxicilina são alcançadas em cerca de duas horas, sendo em média de 4 μg/mL, mediante a ingestão de uma dose de 250 mg. A maior parte da dose é excretada em forma ativa na urina. A amoxicilina possui baixa taxa metabólica, tanto 25 para seres humanos, como para animais. Este panorama demostra que o uso deste antibiótico é significativo e que considerada a excreção de seus metabólitos. Existe um aporte contínuo deste contaminante no ambiente, o que pode atribuir-lhe uma pseudopersistência. O uso irracional de antibióticos acarreta dois problemas ambientais: a contaminação dos recursos hídricos e a resistência de alguns microorganismos a esta classe fármaco. Elmolla & Chaudhuri (2009), estudaram o efeito das condições operacionais do processo Fenton na melhoria da biodegradabilidade e mineralização de amoxicilina, ampicilina e cloxacilina, em solução aquosa. O estudo indicou que processo de Fenton pode ser usado antes do tratamento biológico dos antibióticos em águas residuais. A degradação dos fármacos amoxicilina, bezafibrato, paracetamol e tetraciclina foram estudadas em efluente de ETE empregando o processo Foto-Fenton sob radiação solar, onde os resultados mostraram uma degradação superior a 95% para todos os fármacos em intervalos de tempo de no máximo 5 minutos, evidenciando a aplicabilidade do processo à degradação de fármacos nesta matriz, na qual são frequentemente encontrados (TROVÓ et al., 2008; BAUTITZ et al., 2007). Santos (2010) estudou a mutagenicidade promovida na degradação de uma solução de amoxicilina sintética pelo processo Fenton (H2O2/Fe 2+ ), sendo utilizado como organismo-teste o Allium cepa. Os resultados mostraram que foi encontrado número significativo de metáfases anormais quando comparada ao controle negativo, mostrando um significativo poder genotóxico. Andreozzi et al. (2004), estudou o antibiótico amoxicilina e a sua toxicidade em algas, que se mostrou altamente tóxico (EC 50 de 0,002 mgL-1), para Synechococcus leopolensis, mas não apresentou toxicidade para clorofiláceas Pseudokirkneriella subcapitata e Closteriu ehrenbergii (EC50> 100 mg L-1). Estudos realizados por Longhin (2008) avaliaram a eficiência de POA homogêneo na degradação de amostras sintéticas de amoxicilina e ampicilina, onde o Processo Fenton (H2O2/Fe 2+ ) apresentou os melhores resultados, com uma redução de 99,62% para a amoxicilina e 97,42% para a ampicilina após 60 minutos de reação. Em seus estudos, Ay & Kargi (2010), utilizaram processo Fenton como tratamento para oxidação de amoxicilina e verificaram que a otimização do processo ocorreu quando utilizada proporção de 255/25/105 mg L-1 de peróxido/Fe/amoxicilina, 26 ocorrendo completa degradação do antibiótico em tempo de 2,5 minutos, com mineralização de 37% em 15 minutos. Rizzo et al. (2009), investigaram o processo de degradação e a mineralização de antibióticos presentes em água residuárias e efluentes tratados contendo concentração de amoxicilina (10 mg/L-1), carbamazepina (5 mg/L-1) e diclofenaco (2,5 mg/L-1), utilizando fotocatálise e TiO2, obtendo um modelo de cinética de pseudo primeira ordem. O processo de fotodegradação por Foto Fenton com radiação solar foi estudado por Trovó et al. (2008), nos fármacos amoxicilina, benzafibrato e paracetamol em soluções aquosas, que concluiram que o Fenton pode se utilizado com sucesso para a degradação dos três farmacos em plantas de tratamento de esgoto. Arslan et al. (2004), analisaram a mineralização de efluente oriundo da lavagem de reatores de formulação do antibiótico amoxicilina, em escala de bancada, utilizando o POA H2O2/UV (254nm) em pH 7. O efluente coletado foi mantido à temperatura entre 2 e 4oC e, antes de ser utilizado nos experimentos, foi filtrado em papel de porosidade de 1,2 μm para a obtenção de uma solução mais limpa. Na composição do efluente, além da amoxicilina tri-hidratada, havia clavulanato de potássio, goma xantana e demais aditivos e flavorizantes. O efluente apresentou as seguintes características: DQO = 1555 mg/L; alcalinidade (CaCO3) = 85 mg; pH = 6,95; COT = 920 mg/L. Os experimentos com H2O2/UV foram realizados em um reator anular com capacidade de 2L, equipado com uma lâmpada de mercúrio de baixa pressão (21W) com emissão a 253,7 nm envolta por uma cápsula de quartzo. As reações fotoquímicas foram realizadas durante 60 minutos e amostras de 10 - 15 mL foram retiradas em intervalos de tempo constantes para terem suas concentrações de DQO analisadas. A intensidade da lâmpada foi determinada através de actinometria. As soluções eram vigorosamente agitadas durante os experimentos. A análise dos resultados mostrou que não houve redução de DQO quando não foi adicionado o oxidante H2O2, mostrando que não houve fotodegradação dos compostos. A adição do H2O2 (30 mM) aumentou a taxa de remoção de DQO para mais de 22% em 60 minutos. Por outro lado, o aumento da dose de H2O2 para 40 mM resultou na inibição da queda da concentração de DQO mostrando a redução de apenas 11% em 60 minutos. Dessa forma, o excesso de H2O2, agiu como sequestrador do radical 27 hidroxila formado, pois se observou alta concentração do oxidante no meio reacional após o término da reação. Os resultados obtidos mostraram baixa taxa de biodegradabilidade dos resíduos gerados pela oxidação do efluente de amoxicilina. Outro estudo foi realizado por Arslan-Alaton et al. (2004), na degradação de efluente da produção industrial de amoxicilina com utilização dos seguintes POAs: fotólise, ozonização, fotoozonização, fotoperoxidação, reagente Fenton, Foto-Fenton, Fenton /Fe 3+ , Foto - Fenton /Fe 3+ Fenton /Fe 3+ , em diferentes pH. Foram avaliados também os parâmetros DQO e os níveis de biodegradabilidade DBO 5/DQO para verificar o potencial de degradação do efluente com as seguintes características iniciais: pH de 6,95 e DQO de 1.555 mg O2/L. Os resultados obtidos encontram-se na Tabela 2. Tabela 2. Resultados obtidos a partir da degradação de efluente industrial da produção de amoxicilina por diferentes processos oxidativos. Processo de oxidação DBO5/DQO Remoção de DQO (%) O3/pH 3 0,080 15 O3/pH 7 0,080 28 O3/pH 11 0,078 49 H2O2 (40 mM) /pH 7 0,009 11 H2O2 (30 mM)/pH 7 0,007 22 Foto Fenton /pH 3 0,007 56 0,045 66 Fenton/pH 3 0,010 61 Fenton /Fe 3+ /pH 3 0,008 46 Foto-Fenton /Fe 3+ /pH 3 Fonte: ARSLAN-ALATON et al. (2004). Li et al. (2012), investigaram três processos de oxidação simultaneamente para a degradação da amoxicilina: UV-Fe3+ (EDTA)/H2O2; UV-Fe 3+ / H2O2 e Fe3+/ H2O2. Os resultados indicaram que ocorreram 100% de degradação da amoxicilina com redução da DBO em 81,9% para o processo UV Fe3+/ H2O2, 39,6% e 31,3% no processo Fe3+/ H2O2. Além disso, os resultados de biodegradabilidade revelaram que o processo UV-Fe3+(EDTA)/H2O2, apresentou-se promissor para degradar a amoxicilina, melhorando em 45% a biodegradabilidade do esgoto, quando comparado com UV Fe3+/ H2O2 (25%) e Fe3+/ H2O2 (10%). 28 Jung et al. (2012), analisaram a degradação do antibiótico amoxicilina mediante processo UV e H2O2/UV, comparando a atividade antibacteriana da solução tratada com peróxido de hidrogênio com uma a solução tratada por ozonização. O processo mostrou-se eficaz para a degradação do antibiótico, eliminando toda a atividade antibacteriana após 20 minutos de irradiação com 10 mM de peróxido de hidrogênio. Houve mineralização de 50% após 80 minutos de tratamento. 3.6 Processo Oxidativo Avançado O POA é caracterizado por reações de oxidação química intermediada pelo radical hidroxila (•OH) espécie extremamente reativa e pouco seletiva. O radical hidroxila (•OH) é altamente oxidante, suficiente para poder degradar compostos orgânicos até dióxido de carbono, água e íons inorgânicos. Eles podem ser obtidos a partir de oxidantes fortes, como H2O2 e O3, combinados ou não com irradiação. Para a formação dos radicais hidroxila, pode-se contar com duas metodologias, as quais consistem em processos homogêneos, que têm catalisador e substrato formando uma única fase e os processos heterogêneos, nos quais o substrato e o catalisador formam um sistema de mais de uma fase, sendo os catalisadores geralmente na forma sólida (POLEZI, 2003) Os POA têm sido estudados pelo seu potencial de serem uma das alternativas ou complementos aos processos convencionais de tratamento de efluentes, uma vez que o radical hidroxila gerado é altamente reativo e pouco seletivo, podendo atuar na oxidação química de uma vasta gama de substâncias (MELO et al., 2009). Uma das grandes vantagens na utilização dos POA está no fato de que a mineralização dos poluentes pode ocorrer, transformando os compostos refratários em biodegradáveis. Podem ser usados como pré ou pós - tratamento biológico ou físico, pois possuem uma cinética relativa elevada e com custo, em alguns casos reduzidos. São considerados processos limpos e não seletivos e possibilitam degradar inúmeros compostos, não sofrendo influência de outros compostos eventualmente presentes. Podem ser utilizados para degradar compostos orgânicos tanto em fase aquosa como em fase gasosa, ou adsorvidos numa matriz sólida (TEIXEIRA & JARDIM, 2004). A tabela 3 mostra os diferentes tipos de processos avançados. 29 Tabela 3. Sistemas típicos de Processos Oxidativos Avançados. TIPO DE SISTEMA HOMOGÊNEOS COM RADIAÇÃO 02/uv H202/UV Feixe de elétrons US H2O2/US UV/US SEM RADIAÇÃO H202/UV O3/OH 2+ H2O2/Fe (FENTON) HETEROGÊNEOS COM RADIAÇÃO Tio2/O2/UV Tio2/H2O2 /UV SEM RADIAÇÃO ELETRON-FENTON Fonte: HUANG et al. (1993). Independente dos tipos de processos oxidativos avançados utilizados, todos eles são caracterizados da mesma forma: a produção de radicais •OH, (AZBAR et al., 2004). No entanto, é de grande relevância a necessidade de adquirir maior conhecimento desses processos para que se possa determinar corretamente sua eficiência para remoção de inúmeros contaminantes. De acordo com HUANG et al. (1993) e DOMÈNECH et al. (2001), algumas vantagens dos POA são: Não proporcionam somente a troca de fase do contaminante, como ocorre em processos de adsorção ou no tratamento com carvão ativo, mas promovem, também, sua transformação química; Oxidam grande variedade de compostos orgânicos; Geralmente se consegue a mineralização completa (destruição) dos contaminantes, em comparação com as tecnologias convencionais, que utilizam espécies fortemente oxidantes e não alcançam a total oxidação; 30 Não há usualmente a geração de lodo que requer outro processo adicional de tratamento local ou local de deposição; São ideais para diminuir a concentração de compostos formados por prétratamento alternativo, como a desinfecção; Geralmente melhoram as propriedades organolépticas da água tratada; Os processos de destruição térmica (incineração) de compostos específicos a altas temperaturas têm sido aplicados com sucesso no tratamento de resíduos sólidos. No entanto, para líquidos eles apresentam muitas limitações, tanto de custo quanto de quantidade. Assim, em muitos casos, os POA consomem menos energia do que esses sistemas; Permitem transformar contaminantes refratários em produtos degradáveis por métodos mais econômicos como o processo biológico; Eliminam efeitos de desinfetantes e oxidantes residuais sobre a saúde, como o cloro. Os processos oxidativos possuem alta velocidade de reação, principalmente pela participação dos radicais hidroxilas. Essa espécie tem característica não seletiva, ataca todos os compostos orgânicos e reage de 10 6 a 1012 vezes mais rápido que oxidantes alternativos como o O3 (DÒMENECH et al., 2001). Nos sistemas homogêneos geralmente utilizam-se processos de oxidação aliados a fotólise direta com ultravioleta (UV), visto que as reações de geração de radical hidroxila em alguns casos são lentas, podendo ser auxiliadas pela fotólise e, por outro lado, a fotólise direta atuando sozinha, em comparação com processos envolvendo geração de radical hidroxila, tem, geralmente, eficiência mais baixa, ou mesmo não tem nenhum efeito. Desta forma, geralmente, obtém-se melhor eficiência com os dois processos atuando de forma conjunta, como por exemplo: H2O2/UV, O3/UV e H2O2/O3/UV (POLEZI, 2003). Diversos estudos têm sido realizados para avaliar a degradação destes contaminantes e a sua toxicidade no ambiente. A Tabela 4 mostra diversos estudos de degradação da amoxicilina por diferentes processos oxidativos 31 Tabela 4. Estudo de degradação da amoxicilina por diferentes processos oxidativos. Processo utilizado Referência H2O2/UV Arslan et al. (2004) Fotólise, Ozonização, Fotoozonização, Fotoperoxidação, Arslan–Alaton reagente Fenton, Foto-Fenton, Fenton /Fe Fenton /Fe 3+ Fenton /Fe 3+ et al. , Foto - (2004) 3+ , H2O2/UV Ozonização Andreozzi et al. (2005), Foto Fenton Bautitz et al. (2007) Foto Fenton Trovó et al., (2008) Fenton (H2O2/Fe 2+), Longhin (2008) Fotocatálise e TiO2, Rizzo et al, (2009) Fenton (H2O2/Fe 2+), Elmolla & Malay (2009) Fenton (H2O2/Fe 2+), Ay & Kargi (2010) Fenton (H2O2/Fe 2+), Santos (2010) UV-Fe3+ (EDTA)/H2O2 ; UV-Fe 3+/ H2O2 e Fe3+/ H2O2. Li et al. (2012) UV; H2O2/UV Jung at al. (2012) Fonte: Mendes, I. Ribeirão Preto (2013). Nos últimos anos, os POA têm recebido especial atenção, em virtude dos processos de tratamento convencionais não serem capazes de remover os fármacos de forma satisfatória (KLAVARIOTI et al., 2009). 3.7 Fotólise de peróxido de hidrogênio Sob a irradiação UV ocorre a quebra hemolítica da molécula de H 2O2, produzindo radical hidroxila, com rendimento quântico quase unitário (FHO• = 0,98 a 254 nm). Geralmente são utilizadas lâmpadas de vapor de mercúrio de média ou baixa pressão, que emitem em comprimento de onda de 254 nm. No entanto, a absortividade do peróxido de hidrogênio é baixa nesta região do espectro (ε 254 = 18,6 L mol -1 cm-1), sendo necessárias altas concentrações do oxidante para atingir oxidação satisfatória dos contaminantes. Alternativamente, 32 podem ser usadas lâmpadas de mercúrio dopadas com xenônio que emitem na faixa entre 210 e 240 nm, implicando diretamente no aumento dos custos do processo (DOMÉNECH et al., 2001). A Tabela 5 apresenta o potencial de redução de algumas espécies utilizadas em processos de oxidação. Tabela 5. Potencial de oxidação de diferentes espécies oxidativas. Espécies Potencial Redox (V) Flúor (F2) Radical hidroxila (•OH) Ozônio (03) Peróxido de hidrogênio (H2O2) Permanganato (MnO4-) Dióxido de cloro (ClO2) Cloro (Cl2) Iodo (I2) 3,03 2,80 2,07 1,78 1,68 1,57 1,36 0,54 Fonte: TEIXEIRA & JARDIM. (2004). A eficiência do POA no tratamento de águas residuárias depende das variáveis e dos parâmetros adotados para a realização dos processos. Os processos ainda podem sofrer a influência de diversos fatores, como a concentração do contaminante orgânico e a presença e concentração dos oxidantes utilizados, assim como a combinação dos processos de oxidação. As diferenças de eficiência de processos oxidativos e suas variações podem ser observadas em diversos estudos (ROSENFELDT et al., 2006; GHALY, 2001; SAIEN & KHEZRIANJOO, 2008; PRESTES et al., 2008; MAZELLIER et al., 2003; FALLMANN et al., 1999). 3.8 Luz UV A luz, bem como outras radiações eletromagnéticas, compreende um fluxo de fótons, cuja quantidade de energia é definida pela equação 1. E1 = hc / λ = hv , J (1) Sendo E inversamente proporcional ao comprimento de onda (λ), onde h é a constante de Plank, c é a velocidade da luz e v é a frequência e J é a unidade Joule (POLEZI, 2003). A luz ultravioleta (UV) por meio da interação com as moléculas causa, na maioria dos casos, uma ruptura nas ligações químicas podendo produzir a degradação de matérias orgânicas (DOMÈNECH et al., 2001). 33 A molécula que absorve a luz UV aumenta sua energia eletrônica, vibracional ou rotacional. Para retornar ao nível de energia original, a molécula pode fornecer o excesso de energia em forma de calor ou radiação fluorescente. A perda de energia de interesse ocorre quando a molécula sofre dissociação homolítica ou ionização para liberar essa energia. Então, o fornecimento de energia de forma correta, ou seja, energia excedente à energia da ligação irá causar quebra de ligações moleculares favorecendo a formação de moléculas em estados mais estáveis (SAPACH et al.,1997). De acordo com Bolton et al. (1999), a faixa do espectro utilizada em fotoquímica vai de 100 a 1000 nm, com os fótons de comprimento de onda muito altos possuindo baixa quantidade de energia e os fótons com comprimento de onda baixos possuindo alta energia. Segundo o autor o espectro do UV é dividido em quatro bandas: UV-A: 315 a 400 nm UV-B: 280 a 315 nm UV-C: 200 a 280 nm UV-V: 15 a 200 nm E apesar da luz solar ser emitida em uma ampla faixa de comprimento de onda, 99% da radiação recebida na superfície terrestre é do tipo UV-A. A radiação UV- B provoca queimaduras e a radiação UV-C é absorvida pelas proteínas e pode levar a mutações celulares. A radiação UV-vácuo é absorvida por quase todas as substâncias inclusive a água, causando até a sua fotólise. As lâmpadas de baixa pressão emitem a maior parte de sua energia em 253.7 nm, resultando em eficiência de rendimento do agrupamento elétrico nominal de entrada de 15 a 30%. As principais desvantagens dessas lâmpadas são suas baixas energias de emissão entre 15 e 150 watts e sua temperatura ótima, para 254 nm, de 40°C. A vantagem da lâmpada de média pressão é possuir rendimento elétrico de 0.1 a 20 kw. No entanto, lâmpadas de média pressão têm eficiência de rendimento raramente excedendo 5% e apenas parte da luz está na região de 200 a 280 nm 34 Uma lâmpada de alta pressão oferece várias vantagens. A capacidade elétrica varia de 0.5 a 5 kw e emitem luz 200 a 400 nm, maximizando a 260 nm. Adicionalmente, a avaliação elétrica relativa e dos rendimentos da radiação são 12% para 200 a 280 nm, 4% para 280 a 315 nm, 7% para 315 nm a 400 nm, e 3% para 400 a 600 nm (CLARKE et al.,1982). As lâmpadas de alta pressão são superiores devido a sua melhor penetração na água e seu largo espectro de emissão (CLARKE et al.,1982; FROELICH,1990). Lâmpadas de mercúrio (Hg) e de Xenônio-Mercúrio (Xe-Hg) têm sido muito utilizadas em processos de degradação. Essas lâmpadas emitem na faixa 210 – 230 nm. Já as lâmpadas que emitem na faixa do UV-B e UV-A não se mostram tão eficientes nos processos de degradação (LEGRINI et al.,1993). A oxidação realizada com UV/H2O2 baseia-se na formação dos radicais hidroxilas através da fotólise do peróxido de hidrogênio e nas subsequentes reações de propagação. Há necessidade de uma dose relativamente elevada de H 2O2 e/ou um tempo de exposição à UV muito maior, conforme equação 2 (SARITHA et al.,2007), H2O2 + UV → 2 •OH ( 2 ) Duas maneiras de aumentar a dose são: aumentar o tempo de exposição e aumentar a intensidade da luz UV. Pode-se controlar a intensidade da luz UV e o espectro de emissão UV, através da seleção da lâmpada (SAPACH, et al., 1997). 3.9 Peróxido de hidrogênio As soluções de peróxido de hidrogênio são claras, incolores e podem ser misturadas com água em qualquer proporção. Em concentrações altas, têm odor ligeiramente pungente ou ácido. Apresenta uma massa molar de 34,02, e não são inflamáveis em qualquer concentração. Podem-se observar os diferentes valores de concentração de H2O2 na Tabela 6. Segundo CLARKE et al. (1982), a formação do radical hidroxila pode ser realizada através do peróxido de hidrogênio e da luz UV, de acordo com a equação 3. H2O2 + hv → 2 •OH (3) Existem reações adicionais que aumentam a degradação do peróxido de hidrogênio. A decomposição total do peróxido de hidrogênio inclui a decomposição 35 pela luz UV, radicais hidroxila e a formação de peróxido de hidrogênio pelos radicais hidroxilas, oxigênio e água (SAPACH et al., 1997). As reações de decomposição são representadas pelas equações: •OH + H2O2 •O2H + H2O (4) • O2H+ H2O2 → •OH + H2O + O2 (5) 2 • O2H → H2O2 + O2 (6) • O2H + •OH → H2O2 + O2 (7) A Tabela 6 apresenta a relação entre degradação molar do H2O2 e o comprimento de onda. Tabela 6. Relação entre degradação molar do H2O2 e o comprimento de onda. Comprimento de onda Coeficiente de degradação molar nm (L/M.cm) 250 23,0 254 20,0 300 0,94 315 0,36 Fonte: SAPASH et al. (1997). O coeficiente de degradação molar do H2O2 é dependente do comprimento de onda da luz UV. Tabela 6 apresenta que o coeficiente de degradação molar decai com o aumento do comprimento de onda da luz UV (SAPACH et al., 1997). 36 A Tabela 7. expressa a distribuição de concentração molar e volume de H2O2. Tabela 7. Distribuição de concentração molar e volume de H2O2. Massa (%) Fração Molar Concentração Molar Volume (%) O 0,0000 0,000 0,00 10 0,0556 3,034 34,03 20 0,1169 6,286 71,19 30 0,1850 9,770 110,96 40 0,2610 13,505 153,98 50 0,3462 17,551 199,49 60 0,4427 21,809 248,66 70 0,5527 26,421 301,46 80 0,6793 31,373 358,17 90 0,8266 36,692 419,16 100 1,0000 42,404 484,62 Fonte: US (Peróxide, 2007 – 2009) 3.10 Estudos de fotodegradação utilizando peróxido de hidrogênio assistido por UV No tratamento de soluções aquosas contendo compostos fenólicos, foi observado que a combinação UV/H2O2 aumentou a taxa de degradação em cinco vezes, se comparado à utilização do UV sozinho, enquanto que aplicando o processo Fenton a taxa de degradação do contaminante foi mais rápida e 40 vezes maior do que quando utilizado o processo UV e foto catálise, e ainda cinco vezes mais eficiente na degradação do que quando utilizada a ozonização (ESPLUGAS et al., 2002). A degradação de 4-nitrofenol (4-NP), foi estudada por processo UV/H2O2 por Daneshvar et al. (2007), com a degradação completa em 13 minutos. Os resultados indicam que a eficiência de remoção ocorreu em função da intensidade da luz, da concentração de H2O2 e das concentrações de 4-NP. A oxidação do metol (N-metil-p-aminofenol) em solução aquosa, por meio de sitema UV/H2O2 foi estudado por Andreozzi et al.(1999). Os resultados da investigação demonstraram que o pH, a dosagem H2O2, a concentração de substrato e a presença de oxigênio influenciam significativamente no comportamento do sistema. 37 Muruganandham et al. (2004), citam que o processo de tratamento por H2O2, quando comparado com outros métodos de tratamento de água, tem uma vantagem adicional da não formação de lodo durante o tratamento e remoção de altas taxas de DQO. Alhamedi.et al (2009), estudaram a degradação do corante Rodamina B por processo H2O2/UV, com variação de pH, dosagem de H2O2, do corante e tempo de irradiação. O resultado obtido foi de 73% de remoção nas seguintes condições: corante = 10 µg/L; H2O2 = 1,67 mg/L e pH = 7. Andreozzi et al. (2003), avaliaram a degradação do ácido clofíbrico a partir de água destilada contaminada com o composto, usando o POA H2O2/UV (254nm). As análises foram feitas com cromatografia líquida de alta eficiência com detector de diodos. Um detector específico foi também utilizado para detectar o cloreto livre produzido durante o processo de oxidação. Observou-se que o ácido à concentração inicial de 1,0 x 10-3 M, foi degradado à concentração abaixo de 0,1 x 10 -3 em 60 minutos. A formação de cloreto foi acima de 0,8 x 10 -3 M e a mineralização avaliada através de COT foi de pouco mais de 10% durante o mesmo período de oxidação. Andreozzi et al. (2003), avaliaram a degradação do paracetamol, a partir de água destilada contaminada com o fármaco, na concentração de 10 −5 M, em escala de bancada, usando o POA H2O2/UV (254nm) em pH 5. Foi monitorada a redução do composto bem como a redução de COT. Os experimentos foram realizados com e sem a presença de peróxido de hidrogênio. A degradação do paracetamol, quando foi utilizada somente a irradiação, foi moderada atingindo 25% em 3,5 minutos e a taxa de mineralização da amostra foi baixa não atingindo 5% em 4 minutos. Porém, quando foi adicionado o peróxido de hidrogênio uma concentração de 5,0 x 10-3 houve rápida remoção do substrato (mais de 90% em pouco mais de 1 minuto) e a mineralização de 21% após 4 minutos de reação. Além disso, o aumento da concentração de peróxido de hidrogênio de 5,0 x 10 -3 para 2,0 x 10-2 mol dm-3, aumentou a taxa de mineralização de 21 para 40%, apresentando, porém, aumento pequeno na degradação do paracetamol. Vogna et al. (2004), utilizaram POA H2O2/UV e Ozônio para estudar a degradação do diclofenaco e verificaram que o sistema foi eficiente na indução da degradação do fármaco alcançando 32% de mineralização para ozonização e 90% para H2O2/UV. 38 Em outra pesquisa realizada por Vogna et al. (2004), os autores estudaram a degradação da carbamazepina em água destilada, em escala de bancada, utilizando o POA H2O2/UV (254nm). Foi monitorada a redução do composto e a mineralização da amostra. As soluções de carbamazepina em água foram irradiadas com uma lâmpada de mercúrio monocromática (254 nm) de baixa pressão (17 W) em um fotorreator de 0,42 L. Alíquotas de 5,0 mL foram periodicamente retiradas da mistura de oxidação e imediatamente analisadas em CLAE. A concentração inicial de carbamazepina foi de 2,0 x 10-2 mM com uma concentração de H2O2 de 5,0 mM com o pH da solução mantido em 5. A degradação do substrato foi completa em 4 minutos de reação e a concentração de COT diminuiu de 35% no mesmo período, quando houve a associação do peróxido de hidrogênio com a luz UV. Martinez et al. (2012), avaliaram o potencial de aplicação do sistema H 2O2/UV para degradação do fungicida tiofanato metil. O resultado mostrou-se satisfatório em termos de degradação do composto ativo, sofrendo influência da dosagem de oxidante, enquanto que a incidência de radiação ultravioleta sozinha não conseguiu reduzir valores significativos das concentrações do contaminante. A dosagem mais apropriada de peróxido de hidrogênio foi 10 mg/L-1com redução de 41% do tiofanato metil em 100 minutos de exposição. 39 4. MATERIAL E MÉTODOS A definição do antibiótico amoxicilina como fármaco a ser estudado foi decorrente de sua ampla utilização nos Brasil, considerando que este é um medicamento que faz parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENAME de 2010 (Ministério da Saúde, 2013), portanto disponibilizado gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Por ser utilizado em larga escala infere-se que é um antibiótico que possui seus metabólitos dispostos no meio ambiente de forma contínua. O processo H2O2/UV foi definido por ser o POA que contém a menor adição de substâncias químicas e tem sido utilizado para degradar poluentes orgânicos refratários ou tóxicos presentes em efluentes industriais. Estudos têm mostrado a eficiência deste processo na oxidação e mineralização de compostos orgânicos e tem sido amplamente utilizado em pesquisas, avaliando a sua aplicação na degradação de fármacos. Para os ensaios realizados neste trabalho foi utilizada a concentração de 10 mg/L (0,0273 mmol/L) de amoxicilina. Esta concentração foi definida baseada em estudos conduzidos por Rizzo et al. (2009), que investigaram a cinética de degradação e mineralização de efluentes domésticos contaminados com uma mistura de 10 mg/L de amoxicilina, 5 mg/L de carbamazepina e 2,5 mg/L de diclofenaco, além do fato de ser possível avaliar com precisão, confiabilidade e sensibilidade cromatográfica a quantificação do composto. Os parâmetros monitorados durante os ensaios foram Carbono Orgânico Total (COT), potencial de hidrogênio iônico (pH), residual de peróxido de hidrogênio e concentração de amoxicilina. 4.1 Validações da metodologia para determinação de amoxicilina por CLAECromatografia Liquida de Alta Eficiência As etapas de validação e adaptação do método analítico para determinação da concentração de amoxicilina por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) foram realizadas no Laboratório de Biofarmacotoxicologia, da Faculdade de Biotecnologia da UNAERP descritas nos itens 4.1.1 a 4.1.5. . 40 4.1.1 Reagentes e padrões de referência Os reagentes utilizados na validação da metodologia foram todos de graus analíticos, incluindo a Acetonitrila (Merck), Fosfato de Potássio monobásico (Merck), Amoxicilina (padrão sigma - Aldrich cat.no. A-8523, 98,4% e 13,3% de água). Todas as soluções foram preparadas com água ultrapura obtida a partir de um sistema MilliQ (resistividade 18,2 m cm). A solução diluente foi tampão de fosfato de potássio 0,05 M (pH 5,0). 4.1.2 Solução- estoque A solução-estoque de amoxicilina com concentração de 0,85 mg/mL foi preparada pesando-se 0,01 g do padrão, que foi foi dissolvida na solução diluente. Em seguida, o material dissolvido foi transferido para um balão de 10 mL e o volume completado com a solução diluente. Essa solução deve ser utilizada em um intervalo de tempo de 6 horas. 4.1.3 Solução- padrão As soluções-padrão de amoxicilina empregadas durante o procedimento de validação foram obtidas a partir de diluições adequadas da solução estoque e foram preparadas em solução diluente nas seguintes concentrações: 0,85; 1,71; 4,27; 8,53 e 17,06 µg/mL. 4.1.4 Fase móvel A fase móvel foi preparada a partir da mistura da solução tampão de fosfato de potássio 0,05 M e acetonitrila. O pH da solução tampão foi ajustado em 5,0 com o auxílio de uma solução de hidróxido de potássio. A fase móvel foi filtrada à vácuo empregando-se membranas de Nylon e degaseificada utilizando-se o ultrassom. 41 4.1.5 Preparo da amostra da solução de amoxicilina a partir da matéria-prima Foi pesado 0,01 g de amoxicilina sigma, o qual foi dissolvido em solução diluente, transferido para um balão de 10 mL e o volume completado com a solução diluente. Por meio de diluições adequadas dessa solução em meio diluente, foi obtida uma solução com concentração teórica de 10 g mL-1. Foram descontados 13,1% de água presente na matéria–prima resultando numa solução com concentração de 8,69 g mL-1 de amoxicilina. 4.2 Equipamentos e acessórios O HPLC utilizado consiste dos seguintes componentes: unidade de propulsão da fase móvel Varian (modelo 9012), injetor Rheodyne (modelo 7125), unidade de detecção UV-VIS Varian (modelo 9050) interfaceada com um integrador Varian (modelo 4400) para aquisição de dados. 4.3 Condições operacionais do sistema cromatográfico A fase móvel consistiu de uma mistura de uma solução tampão de fosfato de potássio 0,05 mol L-1 (pH 5) e acetonitrila, cuja composição era de 96:4 (solução tampão/acetonitrila, v/v). Empregou-se uma coluna cromatográfica C18 Microsorb de 125 mm de comprimento com 4,6 mm de diâmetro interno. As soluções-padrão e as soluções da amostra foram preparadas conforme descrito nos itens 4.1.3 e 4.1.4, respectivamente, e injetadas no sistema cromatográfico utilizando-se uma alça de amostragem de 50 µL. O fluxo da fase móvel era de 1,0 mL/min e os analitos eram monitorados em 230 nm. 42 Os dados relativos às condições cromatográficas são apresentados na Tabela 8. Tabela 8. Condições operacionais do sistema cromatográfico. Parâmetro Valores de referência Coluna C18 Microsorb (125 x 4,6 mm) Fase móvel com gradiente Solução tampão de fosfato de potássio 0,05 M, pH 5,0 : acetonitrila (96:4 v/v) Fluxo 1,0 mL/min Alça de amostragem 50 µL Comprimento de onda 230 nm Fonte: Laboratório de Biofarmacotoxicologia. UNAERP – Ribeirão Preto (2013). 4.4 Procedimento cromatográfico Inicialmente, a coluna cromatográfica era condicionada com a fase móvel até que fosse alcançado o equilíbrio. Em seguida, foram injetadas as soluções-padrão e, por último, as soluções das amostras. Ao final das análises das amostras, as soluções-padrão de níveis de concentração distintos eram novamente analisadas para verificar se a resposta do equipamento manteve-se inalterada. A amoxicilina apresentou um tempo de retenção de 2,8 minutos. 4.5 Determinação da pureza da matéria-prima O teor de pureza obtido para a amoxicilina foi de 98,7% 2,79. De acordo com a Farmacopéia 310 Edição, o intervalo de pureza pode variar de 90,0 a 105,0%, o resultado obtido é, portanto, satisfatório. O coeficiente de variação calculado para essas medidas foi de 2,8% (n=10). 4.6 Preparo da solução com amoxicilina para os ensaios de POA A solução foi preparada utilizando-se o padrão analítico de amoxicilina com pureza acima de 98,7% 2,79, de acordo com a determinação de pureza, marca SIGMA. Para o ensaio de degradação foi preparada uma solução utilizando 0,0273 43 mmol de amoxicilina para um litro de água Milli-Q. A solução diluída foi utilizada imediatamente, não requerendo armazenamento. 4.7 Peróxido de hidrogênio O peróxido de hidrogênio utilizado foi da marca VETEC. Para determinação da concentração do peróxido de hidrogênio realizou-se titulação por iodometria conforme método determinado por Voguel (1981). Para titulação foram utilizados 10 mL de Na2S2O3, 1,5 g de idodeto de potássio, 5 mL de H2SO4 e 1 ml de amido. Os resultados dos ensaios demonstraram uma concentração de 13,5% de peróxido de hidrogênio. A Tabela 9 expressa a quantidade de peróxido utilizada e sua molaridade. Tabela 9. Quantidade de peróxido utilizada e sua molaridade. Concentração de H2O2 ( mg/L) Molaridade H2O2 (mmol/L) 8,44 25,3 42,2 84,7 101,25 0,248 0,745 1,240 2,491 2.978 Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). 4.8 Equipamentos Os equipamentos utilizados nos ensaios foram: cromatógrafo, pH-metro, analisador de carbono, espectofotômetro e reator de batelada com reciclo em reator UV, conforme descritos nos itens 4.8.1 a 4.9. 4.8.1 Cromatógrafo Para as análises cromatográficas foi utilizado equipamento que consiste dos seguintes componentes: unidade de propulsão da fase móvel Varian (modelo 9012), injetor Rheodyne (modelo 7125), unidade de detecção UV-VIS Varian (modelo 9050) interfaceada com um integrador Varian (modelo 4400) para aquisição de dados. 44 4.8.2 pH - metro Para as medidas de pH foi utilizado um peagâmetro analion com eletrodo de vidro combinado calibrado com solução tampão pH 7 e 4. 4.8.3 Analisador de Carbono Orgânico Total Para a avaliação da concentração de COT foi utilizado o analisador de Modelo TOC - L - CPH Shimadzu. As análises de TOC foram determinadas pelo método NPOC – Carbono Orgânico Não Purgado. 4.8.4 Espectrofotômetro Os ensaios de varredura da absorbância da solução aquosa foram realizadas no equipamento Varian modelo Carry, utilizando cubeta de quartzo de 1 cm de caminho óptico. 4.9 Reator Batelada com reciclo em reator UV O sistema de oxidação foi composto por: 01 reator cilíndrico de 9,5 L com quatro chicanas; 01 agitador mecânico marca Tecnal, modelo TE-139. 01 bomba peristáltica marca ADB, modelo Compacta com vazão máxima de 50L/h; 01 fotorreator anular de radiação marca Sibrape, volume interno de 0,65 L Lâmpada da marca Philips modelo TUV 95 W, potência de saída do UV de 32 W de UVC. 45 As Figuras 3 e 4 apresentam um esquema simplificado do sistema H2O2. Saída da solução Adição de H2O2 Lâmpada Ponto de coleta das uvUVUV amostras /análise do pH Aço inoxidável Solução de estudo Bomba Reator Figura 3. Esquema simplificado do sistema H2O2. Fonte MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). Agitador Radiômetro Lâmpada UV Bomba Solução de AMX Figura 4. Fotografia do sistema de degradação Fonte MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). 46 4.9.1 Cálculo da exposição à luz UV O cálculo da exposição da luz UV foi realizado conforme as equações 8 e 9. Tr = Trec.Vreator/Vtotal (8) Onde Tr (s) é o tempo de contato com a luz UV, Trec (s) é o tempo de recirculação, V reator é o volume do reator e V total é o volume do efluente usado. Dt = I.Tr (9) Onde Dt (mWs/cm2) é a dosagem total, I (mW/cm2) é a intensidade média do reator e Tr (s) é o tempo de contato com a luz UV. 47 4.9.2 Ensaios de degradação O fluxograma da Figura 5 apresenta as etapas de trabalho utilizado para os ensaios de degradação da amoxicilina utilizando o POA H2O2/UV. Preparação da solução de estudo Ensaios oxidativos com H2O2/UV (95 W) Parâmetros fixado – pH = natural da solução e concentração de amoxicilina (0,0273 mmol/L) Parâmetro variado – dosagem de H2O2 = 0,248 mmol/L; 0,745 mmol/L; 1,240 mmo/L; 2,491 mmol/L; e 2,978 mmol/L Parâmetros de controle: pH,COT,residual de amoxicilina e de H2O2 Ensaios com UV isolado (sem adição de H2O2) Parâmetro fixado – pH = natural da solução (≈5,0) Tempo de coleta: 2, 5, 10, 15, 20, 30, 40,50 e 60 minutos. Avaliação das constantes de velocidade considerando cinética de pseudoprimeira ordem para degradação de solução aquosa do antibiótico. Figura 5. Fluxograma das etapas de trabalho utilizado para os ensaios de degradação com POA H2O2/UV. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). Para os ensaios oxidativos foi preparada uma solução diluindo 0,0273 mmol de amoxicilina padrão em 8 litros de água Milli-Q®. A mistura foi mantida sob agitação durante dez minutos em reator com agitador mecânico. Após o tempo de agitação, 48 foram coletadas amostras para análise do residual de amoxicilina, COT e medido pH sem adição de peróxido de hidrogênio. O processo oxidativo avançado foi conduzido com diferentes dosagens de peróxido de hidrogênio e com uma concentração fixa de amoxicilina de 10 mg/L (0,0273 mmol). A lâmpada UV utilizada foi de 95 W. Foram realizados dois ensaios com as seguintes dosagens de H2O2: 0,248 mmol/L, 0,745 mmol/L, 1,240 mmol/L, 2,491 mmol/L e 2,798 mmol/L. Durante todo o tempo de coleta das amostras a solução foi mantida sob agitação. As amostras para as análises foram coletadas em um tempo que variou em intervalos pré-fixados de 2, 5, 10,15, 20, 30, 40, 50 e 60 minutos. Foram retiradas amostras de 25 mL para análise de carbono orgânico total; 25 mL para análise da amoxicilina e 10 mL para análise do residual de peróxido de hidrogênio. A análise do pH foi realizada em todos os intervalos de coleta. Com os resultados obtidos na aplicação do tratamento foi verificada eficiência do POA H2O2/UV para degradação do COT da solução de amoxicilina por meio de avaliação das constantes de velocidade considerando a cinética de pseudoprimeira ordem. 49 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES 5.1 Parâmetros avaliados na validação da metodologia O estudo da linearidade foi feito utilizando-se um conjunto de soluções-padrão com intervalo de concentração de 0,85 a 17,06 g mL-1. Como pode ser observada na Figura 6, a curva analítica obtida apresentou boa linearidade, considerando-se que o coeficiente de correlação obtido foi de 0,999. A curva analítica foi construída considerando-se área do pico versus concentração como mostra a figura 6. 1400000 Amoxicilina 1200000 1000000 área 800000 y = - 8921,12 + 72671,70 x r = 0,99979 600000 400000 200000 0 0 5 10 15 20 ug/mL Figura 6. Curva analítica com área de pico versus concentração de amoxicilina. Fonte: Laboratório de Biofarmacotoxicologia. UNAERP – Ribeirão Preto (2013). A precisão (repetibilidade) foi avaliada por meio de 10 determinações consecutivas de uma solução de amostra de amoxicilina. O método apresentou uma boa repetibilidade considerando-se que o desvio padrão relativo da metodologia apresentou um valor inferior a 3%. A exatidão foi obtida a partir de 9 (nove) determinações contemplando o intervalo linear do método. As determinações foram feitas em triplicata, para os três níveis de concentração, baixo, médio e alto. 50 5.2 Determinação da pureza da amoxicilina O teor de pureza obtido para a amoxicilina foi de 98,7% 2,79. De acordo com a Farmacopéia 310, o intervalo de pureza pode variar de 90,0 a 105,0%, o resultado obtido é, portanto, satisfatório. O coeficiente de variação calculado para essas medidas foi de 2,8% (n=10). Os resultados dos parâmetros analíticos estudados, confirmam que a metodologia aqui descrita é apropriada para a determinação quantitativa da amoxicilina utilizada, uma vez que os valores obtidos se situam nos intervalos permitidos e/ou estabelecidos. A metodologia está, portanto, devidamente validada. 5.3 Curva analítica do H2O2 Como pode ser observada na Figura 7, a curva analítica obtida apresentou linearidade, considerando-se que o coeficiente de correlação obtido foi de 0,9981. 1,80 1,60 Absorbância 1,40 y = 0,0905x R² = 0,9981 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 0 2 4 6 8 10 12 14 [H2O2], mg/L Figura 7. Curva analítica de H2O2. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto, (2013). 51 16 18 20 5.4 Dose de radiação UV A dose total de radiação UV utilizada foi de 1.709,7 mWs/cm 2, com um tempo de 292,55 segundos, conforme demonstrados nos cálculos 10 e 11. TR = Trc. VReator / V total amostra (10) TR= 60 min. 0,65 L/8 L TR= 4.875 min ou 292,55 segundos DT = I.Tr (11) DT = 6,122 mWs/cm2 X 292,55 min DT= 1.709,7 mWs/cm2 52 5.5 Resultados dos ensaios oxidativos da amoxicilina por H2O2/UV Os ensaios realizados sem adição de peróxido apresentaram baixa redução de COT, sendo que a mineralização alcançada foi de 11,70 % na amostra tratada apenas por irradiação UV. Este resultado era esperado, uma vez que alguns autores já reportam a baixa eficiência desses processos isoladamente (UV e H2O2) na oxidação de compostos orgânicos, mesmo para tempos elevados de reação (XU et al., 2007; WANG et al., 2005). Nas séries de ensaios com adição de H2O2, para cada concentração foram realizadas coleta das amostras para análise da amoxicilina, residual de peróxido de hidrogênio e carbono orgânico total. Em todos os ensaios o pH iniciou-se com valor médio de 5,0 para a solução de água com amoxicilina, sem adição H2O2, Após a adição do oxidante a solução sofreu uma variação dos valores de pH entre 5 e 4, mantendo-se com pH final de 4,0 durante o período de 60 minutos. Os dados mostraram que o pH não sofreu influência do peróxido de hidrogênio. De acordo com Andreozzi et a. (1999) em uma faixa de pH entre 3 e 4, ocorre a melhor eficiência dos processos oxidativos avançados. Os dados aqui demonstrados apresentam os resultados obtidos na série de ensaios com concentrações de 0,248 mmol/L; 0,745 mmol/L; 1,240 mmol/L; 2,491 mmol/L e 2,978 mmol/L de peróxido de hidrogênio, que correspondem a uma proporção de H2O2 : AMX de 9, 27, 45, 91 e 109 vezes respectivamente. 5.6 Degradação da amoxicilina Os resultados mostraram que no ensaio realizado com 0,0273 mmol de amoxilina sem adição de peróxido de hidrogênio e com aplicação da radiação UV, a amoxicilina foi degradada no periodo de 50 minutos. 53 A Figura 8 expressa o resultado do cromatograma obtido para o padrão de amoxicilina. Padrão de amoxicilina aplicação de radiação UV . Figura 8. Cromatograma obtido para o padrão de amoxicilina. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). . A Figura 9 expressa o resultado do cromatograma obtido no período de 2 minutos quando aplicado tratamento com radiação UV, sem adição de H2O2. Pico observado no ensaio com radiação UV, sem adição de H2O2. após 2 minutos de tratamento Presença do pico amoxicilina Figura 9. Cromatograma obtido no ensaio com radiação UV, sem adição de H2O2 após 2 minutos de tratamento. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). 54 Verificou-se que ocorre a formação de um pico no tempo inicial do tratamento mesmo sem adição do H2O2 e a amoxicilina também não havia sido completamente degradada. Na Figura 10 verifica-se o resultado do cromatograma obtido após tratamento com radiação UV e sem adição de H2O2 após 60 minutos de tratamento, onde o pico correspondente à amoxicilina desapareceu totalmente e o composto formado no início ainda se mantém presente. Prevalência do pico observado no ensaio sem adição de H2O2 após 60 minutos de tratamento Figura 10. Cromatograma obtido no ensaio sem adição de H2O2, após 60 minutos de tratamento. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). Em todos os ensaios com adição de H2O2 o antibiótico foi degradado completamente no periodo de 20 minutos, mostrando que o POA é eficiente na degradação da amoxicilina. Estes resultados são similares a estudos conduzidos por Jung et al. (2012), que analisaram a degradação do antibiótico amoxicilina mediante processo UV e H2O2/UV, onde processo mostrou-se eficaz para a degradação do antibiótico, eliminando toda a atividade antibacteriana após 20 minutos de irradiação com 10 mM de peróxido de hidrogênio. Outros trabalhos já realizados confirmam a eficiência dos POAs na degradação do antibiótico amoxicilina, como o estudo conduzidos por Li et al. (2012) em esgoto contendo amoxicilina, onde os resultados mostraram a degradação de 100% da amoxicilina com redução de 81% da DBO; Longhin (2008) que avaliou a eficiência do Processo Fenton (H2O2/Fe2+) em amostras sintéticas de amoxicilina e ampicilina e os apresentando uma redução de 99,62% para a amoxicilina e 97,42% para a ampicilina 55 após 60 minutos de reação e Elmolla & Chaudhuri (2009), que estudaram a mineralização de amoxicilina, ampicilina e cloxacilina, em solução aquosa por processo H2O2/Fe2+ e obtiveram uma degradação dos antibióticos em um tempo de 2 minutos. Os cromatogramas obtidos expressam os resultados da degradação da amoxicilina A Figura 11 mostra o cromatograma obtido no tratamento com adição de 0,745 mmol H2O2, onde foi observado o melhor resultado de mineralização, com degradação de 100% da amoxicilina no periodo de 20 minutos. Pico observado no ensaio com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 Presença do pico da amoxicilina Figura 11. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 2 minutos de ensaio. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). 56 Na Figura 12 verifica-se o resultado do cromatograma obtido no ensaio com adição de 0,745 mmol/L H2O2, após 60 minutos de tratamento onde o pico correspondente a amoxicilina desapareceu totalmente e o composto formado no inicio ainda se mantém presente. Prevalência de picos após 60 minutos de tratamento. Figura 12. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 60 minutos de tratamento Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). Comparando os cromatogramas obtidos para amoxicilina padrão, e para o tratamento com aplicação do POA com uma concentração de 0,745 mmol/L de H2O2, verifica-se que ocorre a formação de um pico já no inicio do tratamento, sugerindo que pode haver formação de outro composto. O pico foi verificado também no cromatograma da amostra tratada sem adição H2O2, onde a amoxicilina foi totalmente degradada no período de 50 minutos (desaparecimento do pico correspondente). O aparecimento de picos em outras regiões dos cromatogramas indica a formação de outros compostos orgânicos (subprodutos). Estudos já realizados com POAS mostraram que quando a amoxilina foi degradada houve a formação de subprodutos, como no trabalho conduzido por Jung at al. (2012), utilizando o POA UV e H2O2 /UV para degradação da amoxicilina, os autores observaram a presença de subprodutos gerados, entretanto, eles não identificaram os compostos formados. Outro trabalho conduzido por Andreozzi et al. (2005), em uma solução aquosa contendo amoxicilina que foi tratada por ozonização, os autores descrevem que o 57 ozônio quebra o anel fenólico da molécula, levando à formação de compostos intermediários. Os estudos mostram que os compostos intermediários formados devem ser avaliados para conhecer as características e toxicidade ao ambiente. A série de cromatogramas apresentada nos anexos mostra que, mesmo quando ocorre à degradação total da amoxicilina, este composto permanece até o tempo final de 60 minutos. 5.7 Determinações do COT para diferentes concentrações de oxidante As análises de Carbono Orgânico Total (COT) foram realizadas com a finalidade de avaliar o grau de mineralização alcançado pelo processo oxidativo. É importante salientar que a degradação de um composto não implica necessariamente em sua mineralização, isso porque a reação de oxidação pode produzir substâncias recalcitrantes ou mais tóxicas que o composto inicial. As Figuras de 13 a 19 mostram os resultados de remoção de COT de acordo concentração de CO ( mg/L) com a dosagem de H2O2 utilizada. 7 6 5 4 3 2 1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 tempo (minutos) Figura 13. Gráfico dos resultados obtido após 60 minutos de irradiação da amoxicilina sem adição de peróxido de hidrogênio. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013) 58 concentração de CO (mg/L) 7 6 5 4 3 2 1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 tempo (minutos) Figura 14. Gráfico dos resultados da diminuição do COT, irradiado com UV para a concentração de 0,248 mmol/L de H2O2, com 60 minutos de tratamento. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). concentração de COT (mg/L) 7 6 5 4 3 2 1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 tempo (minutos) Figura 15. Gráfico dos resultados da diminuição do COT para a concentração de 0,745 mmol/L de H2O2, com 60 minutos de tratamento. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). 59 concentração de COT ( mg/L) 7 6 5 4 3 2 1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 tempo (minutos) Figura 16. Gráfico dos resultados da diminuição do COT para a concentração de 1,240 mmol/L de H2O2 com 60 minutos de tratamento. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). . 7 concentração de COT ( mg/L) 6 5 4 3 2 1 0 0 2 4 6 8 10 12 tempo (minutos) Figura 17. Gráfico dos resultados da diminuição do COT para a concentração de 2,491 mmol/L de H2O2 com 60 minutos de tratamento. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). 60 concentração de COT (mg/L) 7 6 5 4 3 2 1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 tempo ( minutos) Figura 18. Gráfico dos resultados da diminuição do COT para a concentração 2,978 mmol/L de H2O2, com 60 minutos de tratamento. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). A figura 19 mostra o gráfico comparativo da remoção de COT entre as dosagens de H2O2 utilizadas. Verifica-se que a melhor remoção de COT foi obtida quando utilizada uma dosagem de 0,745 mol de H2O2. 2,978 mmol/L concentração de COT ( mg/L) 7 2,491 mmol/L 6 1,240 mmol/L 5 0,745 mmol/L 4 0,248 mmol/L 3 2 1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 tempo (minutos) Figura 19. Gráfico comparativo dos resultados obtidos na remoção de COT entre as dosagens de H2O2 utilizada. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). 61 A tabela 10 apresenta o percentual de mineralização alcançado de acordo com a dosagem de peróxido utilizada nos ensaios em um tempo de tratamento de 60 minutos. Tabela 10. Percentual de degradação de Carbono Orgânico Total. Concentração de H2O2 (mmol/L) % de degradação de COT Tempo: 60 minutos 0,000 0,248 0,745 1,240 2,491 2.978 11,70 50,60 62,20 59,50 54,60 53,09 Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). Comparando o percentual de degradação de COT obtido no ensaio, verifica-se que o maior percentual de mineralização foi obtido quando utilizou-se uma concentração de 0,745 mmol/L de peróxido de hidrogênio com 62,20% degradação de do COT em 60 minutos de tratamento. Os resultados mostram que no ensaio conduzido sem adição de H 2O2, a mineralização foi menor, com remoção de 11,70% do COT. Em estudo conduzido por Jung at al. (2012), utilizando também processo UV e H2O2 /UV para degradação da amoxicilina, o resultado de mineralização máxima alcançada foi de 50 % em 80 minutos de tratamento, utilizando uma concentração de 10 mM de peróxido de hidrogênio. Portanto os resultados obtidos foram mais favoráveis com consumo menor de H2O2. 5.8 Residual de Peróxido de Hidrogênio De acordo Domenech et al. (2001), deve-se evitar altas concentrações do oxidante para que este fator não implique em excesso que provoque reações competitivas e o retardamento da oxidação. Também de acordo com Cisneros et al. (2002), a determinação da quantidade de H2O2 requerida pelos processos oxidativos deve ser feita corretamente, pois caso 62 esteja em excesso, esse composto pode retardar a degradação. Doses maiores do que a ótima não utilizam o peróxido de hidrogênio excedente que pode agir como um sequestrador de radicais hidroxilas, resultando na diminuição da eficiência da oxidação (BELTRAN et al.,1993). Os resultados da Tabela 11 apresentam as concentrações e o residual de peróxido de hidrogênio, verificado em função dos tempos de tratamento aplicado no estudo de degradação da amoxicilina. Tabela 11. Percentual de H2O2 remanescente após 60 minutos de ensaio, para as concentrações utilizadas. Concentração inicial Concentração final % de H2O2 remanescente H2O2 (mmol/L) H2O2 (mmol/L) após 60 minutos 0,248 0,745 1,240 2,491 2.978 0,059 0,235 0,360 0,691 0,963 25,80 33,68 31,90 29,33 37,21 Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). Em todas as concentrações utilizadas, verificou-se o excesso de H202, descartando a sua interferência na cinética de degradação. Houve percentual residual de 25,80% quando utilizado 0,248 mmol de H2O2, mostrando que a dosagem do oxidante pode ter sido insuficiente para a formação de radicais hidroxilas. 5.9 Cinética de degradação Nesta etapa do trabalho buscou-se avaliar a eficiência do POA H2O2 /UV para degradação do COT da solução de amoxicilina por meio de parâmetros cinéticos. Para prever o tratamento de um efluente por POA simulou-se uma degradação obedecendo à cinética de pseudoprimeira ordem com as dosagens de 0,248 mmol/L, 0,745 mmol/L, 1,240 mmol/L, 2,491 mm/L e 2,978 mmol/L de peróxido de hidrogênio, conforme apresentado nas Figuras de 20 a 24. A Figura 20 mostra o gráfico de lnC0/C em função do tempo para simular cinética de pseudoprimeira ordem para degradação do COT com aplicação de POA 63 H2O2/UV na degradação da amoxicilina com uma concentração inicial de 0,248 -lnCOT/COT0 mmol/L de H2O2 e radiação com lâmpada de 95 W. 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 y = 0,0117x R² = 0,9759 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (minutos) Figura 20. Gráfico de lnC0/C em função do tempo para a dosagem de 0,248 mmol/L de H2O2. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). A Figura 21 mostra o gráfico de lnC0/C em função do tempo para simular cinética de pseudo primeira ordem para degradação do COT com aplicação de POA H2O2/UV na degradação da amoxicilina com uma concentração inicial de 0,745 -lnC0T/C0T0 mmol/L de H2O2 e radiação com lâmpada de 95 W. 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 y = 0,0156x R² = 0,9902 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (minutos) Figura 21. Gráfico de lnCo/C em função do tempo para a dosagem de 0,745 mmol/L de H2O2. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). 64 A Figura 22 mostra o gráfico de lnC0/C em função do tempo para simular cinética de pseudoprimeira ordem para degradação de COT com aplicação de POA H2O2/UV na degradação da amoxicilina com uma concentração inicial de 1,240 mmol/L de H2O2 e radiação com lâmpada de 95 W. -lnCOT/COT0 1 y = 0,016x R² = 0,9835 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (minutos) Figura 22. Gráfico de lnC0/C em função do tempo para a dosagem de 1,240 mmol/L de H2O2. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). A Figura 23 mostra o gráfico de lnC0/C em função do tempo para simular cinética de pseudo primeira ordem para degradação de COT com aplicação de POA H2O2/UV na degradação da amoxicilina com uma concentração inicial de 2,491 -lnCOT/C0T0 mmo/L de H2O2 e radiação com lâmpada de 95 W. 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 y = 0,0148x R² = 0,9599 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (minutos) Figura 23. Gráfico de lnC0/C em função do tempo para a dosagem de 2,491 mmo/L de H2O2. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013) 65 .A Figura 24 mostra o gráfico de lnC0/C em função do tempo para simular cinética de pseudo primeira ordem para degradação do COT com aplicação de POA H2O2/UV na degradação da amoxicilina com uma concentração inicial de 2,978 mmol --lnCOT/COT0 de H2O2 e radiação com lâmpada de 95 W. 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 y = 0,0136x R² = 0,9733 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (minutos) Figura 24. Gráfico de lnC0/C em função do tempo para a dosagem de 2,978 mmol de H2O2. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). A Figura 25 apresenta o gráfico comparativo lnC0/C em função do tempo para simular cinética de pseudoprimeira ordem para degradação do COT com aplicação de -LnCOT/COT0 POA, considerando as dosagens de peróxido utilizadas. 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0,248 mmol/L 0,745 mmol/L 1,240 mmol/L 2,491 mmol/L 2,978 mmol/L UV 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (minutos) Figura 25. Gráfico comparativo de lnC0/C de todas as concentrações utilizadas nos ensaios. Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). 66 A Tabela 12 apresenta os dados comparativos de velocidade de degradação do COT pelo POA H2O2/UV com as concentrações de oxidantes utilizadas. Tabela 12. Velocidade de degradação da amoxicilina com utilização da lâmpada UV com intensidade de 95 W. Concentração de H2O2 (mmol/L) 0,248 0,745 1,240 2,491 2,978 0,0117 0,0156 0,0160 0,0148 0,0136 Constante de velocidade (min -1) Fonte: MENDES, I. Ribeirão Preto (2013). Através da constante de velocidade (K) observa-se que o POA com aplicação de 1,240 mmol/L de H2O2 foi o que apresentou a melhor cinética de degradação. No entanto, considera-se que o melhor resultado do tratamento foi quando obtida uma cinética de 0,0156 min -1 , quando utilizado uma concentração de 0,745 mmol/L. Esta dosagem corresponde a um excesso de 27 vezes de H2O2:AMX. Já a dosagem de 1.240 mmol/L corresponde a um excesso de 45 vezes, o que significa 1,7 vezes mais consumo de H2O2 com ganho de apenas 2,5% na velocidade de degradação. 67 6. CONCLUSÕES De acordo com os resultados obtidos pode se concluir que: Nos ensaios com radiação ultravioleta sem adição de peróxido de hidrogênio foi possível observar a degradação total do fármaco no período de cinquenta minutos com uma mineralização de 11,70%. O POA H2O2/UV foi eficiente na degradação da amoxicilina, apresentando uma degradação de 100% do antibiótico no periodo máximo de 20 minutos, em pH de 4,0 e dose total de UV irradiado de 1.709,7 mWs/cm2. No entanto, a mineralização foi parcial e o melhor percentual de degradação de COT verificado foi de 62,20% quando utilizada uma concentração de 0,745 mmol/L de peróxido de hidrogênio. Os percentuais de mineralização e os cromatogramas obtidos mostraram que, apesar da amoxilina ter sido degradada completamente, deve haver formação de compostos intermediários em todos os ensaios realizados, incluindo o tratamento realizado apenas com radiação UV. Em todas as concentrações de peróxido utilizadas, verificou-se o excesso de H2O2, descartando a sua interferência na cinética de degradação. A reação ocorreu com modelo cinético de pseudoprimeira ordem com constante de velocidade de 0,0156 min -1 para o melhor resultado de COT. Portanto, os resultados demonstraram que o POA é eficiente para degradação do antibiótico amoxicilina, degradando 100% do fármaco, com remoção de 62,20% de COT em 60 minutos. 68 7. RECOMENDAÇÕES Tendo em vista os resultados e conclusões obtidos neste estudo, novos trabalhos poderão ser desenvolvidos como: Identificar os compostos intermediários formados ao longo da biodegradação da amoxicilina. Avaliar a atividade antimicrobiana do antibiótico após os ensaios de degradação. Realizar ensaios ecotoxicológicos crônicos e agudos. Elaborar estudos para avaliar individualmente outros fármacos, com objetivo de subsidiar criação de normas legais, uma vez que legislação brasileira ainda não estabelece limites de lançamento para princípios ativos de fármacos. Realizar estudos de degradação da amoxicilina com outros POA para comparar eficiência entre processos oxidativos. 69 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AY,F.; KARGI,F. Advanced oxidation of amoxicillin by fenton’s reagent treatment. 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Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 40 minutos de tratamento. 90 ANEXO 9. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 50 minutos de tratamento. 91 ANEXO 10. Cromatograma obtido no ensaio UV com adição de 0,745 mmol/L de H2O2 após 60 minutos de tratamento. 92