humanização, reciprocidade e solidariedade na

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HUMANIZAÇÃO, RECIPROCIDADE E SOLIDARIEDADE NA
INTERNACIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Profa. Dra. Enza Sidoti
Profa. Dra. Annalisa Arcoleo
Prof. Dr.Giuseppe Tringali
Universidade de Palermo, Cátedra de Higiene, Faculdade de Ciências da Formação.
Departamento de Higiene e Microbiologia “G.D’Alessandro”, Policlínico Universitário.
Via del Vespro 133, Palermo 90127
Apresentação: Enza Sidoti [email protected]
Os processos de internacionalização
A necessidade de se confrontar com ambientes diferentes por origens, crenças e culturas e, hoje,
em comunidades multiétnicas, é um percurso imprescindível para assegurar uma formação
completa e competitiva em nível internacional. Este aspecto é mais perceptível ainda na educação
de nível superior (Lei nº 53/2003, Ministra Moratti, Casa delle Libertá) que dedicam, de fato,
grande atenção ao tema da Internacionalização do Sistema Universitário.
O nosso país (Itália) está na vanguarda da Europa na questão da internacionalização (do ponto de
vista da proposição do quadro normativo e do acolhimento da União Européia), mas
paradoxalmente está ainda entre aqueles que têm menores contingentes (não há um vasto número
de estudantes participando dos intercâmbios). Uma rápida averiguação, feita em outra sede,
revelou, de fato, carências no processo de informação / comunicação. A reforma de 2003, que tem
as suas origens na “Declaração de Sorbonne” e está alinhada com o “Processo de Bolonha”, e a
“Estratégia de Lisboa”, tem como seu mérito a tentativa de integrar percursos de estudo com
percursos de trabalho / formação nos quais o aspecto da internacionalização está fortemente
proposto; mas têm, na sua implantação em todo o território nacional, produzido desequilíbrios na
oferta formativa, ou melhor, numerosas iniciativas, mas nem todas imediatamente viabilizáveis.
Outros países estão introduzindo gradualmente processos análogos de reforma apresentando
sistemas mistos (por ex., a França, que é também o país com maior número de estudantes de
intercâmbio). A reforma italiana prevê toda uma série de instrumentos, do sistema de créditos ao
diploma suplementar, que permitem estruturar a nova oferta formativa segundo critérios de
flexibilidade adequados para valorizar a dimensão internacional do sistema, tanto em nível de
programas de formação, como em programas de pesquisa (por exemplo, as redes). O sistema de
créditos e a modularização dos ensinamentos representam, assim, os instrumentos mais ágeis e
mais convenientes para uma adequada programação didática que permita desenvolver partes do
percurso formativo no exterior e ativar um sistema adequado de avaliação dos resultados obtidos.
A União Européia, por seu lado, está demonstrando atualmente um grande empenho em fazer a
convergência dos sistemas nacionais de instrução superior rumo a um sistema comum que pretende
facilitar a construção do “Espaço Comum Europeu da Instrução Superior” caracterizado por:
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Estruturação dos sistemas nacionais de educação superior em três ciclos, que forneçam
títulos de simples legibilidade e comparabilidade.
Uma dimensão européia dos percursos formativos e dos créditos
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A promoção da mobilidade e potencialização da dimensão social da instrução superior.
A União Européia considera a América Latina e Caribe parceiros estratégicos, fato confirmado por
uma parceria comercial intensa com muitos países da região latino-americana. As relações vieram se
consolidando em vários encontros: Rio, 1999; Madrid, 2002; Guadalajara, 2004; e por último, o
Summit EU-LAC de Maio de 2006. A destacar a atenção da Conferência dos Reitores das
Universidades Italiana, que promoveu uma Declaração Conjunta e um Acordo Quádruplo em
Madrid em 2004, entre a European University Association (EUA) e o Consejo Universitario
Iberoamericano, e de iniciativas como:
• Tuning America Latina, extensão do projeto acadêmico europeu a parceiro em L.A.
• Universia, projeto para a construção de um portal da Instrução Superior em L.A.
Dentro deste espírito, a Universidade de Palermo (UNIPA) desenvolveu relações transnacionais
próprias. A dimensão internacional da UNIPA é testemunhada não só pelas atividades espontâneas
como as inumeráveis colaborações de pesquisa promovidas individualmente pelos docentes. O
ensino desenvolvido entre quase 2000 estudantes estrangeiros regularmente matriculados; a vasta
participação nos programas europeus que dizem respeito à formação e à pesquisa, pelos muitos
acordos bilaterais do tipo tradicional, pelas atividades de cooperação com o PVS e, enfim, por uma
decidida participação no projeto de algumas redes européias de qualidade, como o Health Promoting
Hospitals (HPH) ou Health Promoting Schools (HPS). A Academia oferece uma ampla gama de
programas e de possibilidades para favorecer os contatos, as colaborações e os intercâmbios com
grandes e pequenas Universidades da Europa e do mundo, ocasiões únicas para enriquecer o ensino
universitário com experiências profícuas não só do ponto de vista profissional e didático, mas
também humano, cultural e social. Junto à Academia funciona o Escritório de Relações
Internacionais – dotado de pessoal próprio que busca uma estratégia adequada de desenvolvimento
dos conhecimentos e das competências em termos de assistência à mobilidade acadêmica, de
coordenação e de promoção de novos contatos em condições de atrair processos de efetiva
internacionalização.
Mencionaremos agora brevemente algumas das nossas experiências de internacionalização e de
intercâmbio. São duas em particular, e as escolhemos porque entre as várias, e sobre algumas que já
foram mencionadas ontem nesta instituição, nos parece mais significativas ao assunto que é o nosso
objeto: humanização, reciprocidade e solidariedade.
Colaboração com a Université du Centre, Sousse, Tunísia, 2002
Título: “A intercultura como instrumento de desenvolvimento social e promoção da saúde”.
Curso de aperfeiçoamento para estudantes universitários tunisinos e sicilianos.
Sob a direção do prof. Tringali, foi firmado um Convênio entre os Reitores das duas Universidades:
a Faculdades de Ciências da Formação, Palermo, e da Faculdade de Ciências Humanas, Sousse
aprovaram o plano e os percursos didáticos. Fomos o primeiro grupo europeu a realizar um
intercâmbio com Sousse, que compreende também os Campi de Monastir, Kairouan, Mahdia,
Nabeuil.
Os motivos históricos desse percurso:
• O canal da Sicília outrora era ocupado por terras imersas com os primeiros (prehistóricos)
intercâmbios.
• A Sicília foi submetida a uma dominação árabe (800) e aos Normanos (1100). Um dos
períodos de maior esplendor cultural da Sicília, com enorme influência sobre a cultura
européia (medicina, astronomia, matemática). Frederico II, o nosso grande imperador,
sobrinho do alemão Frederico I, o Barbaruiva, fez da Sicília o centro do Sacro Império
Romano, tinha uma escolta sarracena e falava corretamente o árabe; na corte, os árabes dos
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quais se cercava iluminavam de cultura o Sacro Império Romano da Alemanha. Frederico II
foi excomungado pelo Papa Gregório IX, porque ao invés de combater, tendo partido em
cruzada para reconquistar Jerusalém, a obteve dos seus amigos árabes “politicamente” em
uma mesa de negociações.
A filosofia árabe foi profundamente influenciada pelo pensamento de Aristóteles.
Averroé, grande comentarista de Aristóteles, difundiu a filosofia da natureza; Avicena
influencia a medicina européia por séculos. As Universidades árabes, incluída a Universidade
de Nápoles, com Frederico II e a Escola Salernitana de Medicina difundem as obras dos
cientistas gregos, em quem se inspiram para testes de astronomia, matemática com as cifras
árabes, álgebra, cartografia, ótica, acústica.
Maomé, no século VII recebe a revelação do arcanjo Gabriel, e o Corão tem as suas origens
em raízes comuns com a Bíblia. As similaridades da “sharia” são maiores do que as
discrepâncias.
A Tunísia é marcada pela presença dos romanos, e os magrebinos eram cidadãos romanos
para todos os efeitos. O Museu de Túnis contém a maior coleção de mosaicos romanos.
Tunis e a Tunísia estão marcados pelas obras de arquitetos italianos, que formavam uma
colônia numerosíssima após a II Guerra Mundial. A comunidade italiana é a mais
representada, assim como as comunidades e sua fixação tunisiana na Sicília.
O sul do Mediterrâneo é profundamente norte africano, assim como o Norte da África é
profundamente Mediterrâneo. A unidade cultural do Mediterrâneo é inegável. Uma
Comunidade Européia que divida em dois o Mediterrâneo está destinada a perder identidade
e cultura.
A identidade mediterrânea encontra a sua celebração na validade da Dieta Mediterrânea na
manutenção e promoção da Saúde. Diferentes modos de preparo, mas identidade dos
constituintes e seus valores alimentares.
Na última noite do segundo período, quando o ônibus que a Universidade tinha colocado a nossa
disposição se afastou lentamente da grande tenda que os rapazes haviam montado no centro do
campus de Kairouan, onde tínhamos nos reunido para as despedidas de fim de curso entre cantos,
danças e abundância de cuscuz, somente os soluços rompiam o silêncio dentro e fora do ônibus. Não
creio que alguém possa esquecer jamais aquela exuberante felicidade que nos fazia chorar em
desespero. Com alguns, mantivemos os contatos. Freqüentemente quando ouvimos falar do Islã e de
terrorismo, quando ouvimos que a solidariedade e a reciprocidade se transformaram em ódio,
recomeçamos a chorar como daquela vez.
Colaboração com a Universidade de Saragossa, Espanha, 2005
Título: Educar para a Saúde. Hospitais que promovem a saúde. Modelos e estratégias de intervenção
para a Educação Terapêutica em oncologia. Curso de aperfeiçoamento para estudantes universitários
(medicina ou pedagogia) espanhóis e sicilianos.
Foi firmado um Convênio entre os Reitores das duas Universidades, e a Faculdade de Ciências da
Formação - Palermo, e a Faculdade de Letras - Saragossa (Espanha) aprovaram o plano e os
percursos didáticos.
Humanização, saúde e relação médico-paciente: a Educação Terapêutica
A Organização mundial da Saúde (OMS, 1998), define a Educação Terapêutica do paciente como
“uma atividade que se destina a ajudar o paciente e sua família a compreender a natureza da doença
e dos tratamentos, a colaborar ativamente durante a realização de todo o percurso terapêutico e a
cuidar do próprio estado de saúde para manter e melhorar a própria qualidade de vida”. A educação
terapêutica do paciente é, portanto, uma prática articulada e complexa. Em resumo, a educação
terapêutica visa:
• Melhorar a qualidade de vida dos doentes e de suas famílias;
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Melhorar a qualidade do serviço de saúde, promovendo um uso mais racional dos serviços
por parte dos usuários, restringindo a despesa pública e otimizando os tempos de gestão da
assistência à saúde;
Incrementar o controle das condições clínicas dos doentes, obtendo uma maior adesão ao
tratamento terapêutico e de reabilitação;
Desenvolver um modelo de organização assistencial centrado no paciente;
Favorecer relações humanas harmônicas entre todos os sujeitos envolvidos no problema.
Profundas modificações ocorreram no campo da saúde: na patologia dos nossos dias prevalecem as
afecções crônicas e as patologias não passíveis de cura, a despeito dos progressos da medicina. As
patologias crônicas, por outro lado, evidenciaram a impotência do médico, mesmo com um relevante
progresso científico, para “curar” o paciente e confrontar-se com o desafio da terapia e a perda das
esperanças.
A relação médico-paciente, longe de exaurir-se ou gerar conflitos, adquiriu uma dimensão profunda
e humana no “cuidar”. Tudo isso implica na necessidade de uma relação diferente entre o médico e o
paciente. Não uma relação desequilibrada onde o paciente seja passivo e obediente e o médico ativo
e impositivo, mas uma relação de participação recíproca, de humanização no relacionamento, na
qual o médico deve educar o paciente para que ele conheça sua própria doença, para que este faça a
gestão do seu tratamento. Educar o paciente para que este previna as complicações, para que
controle o seu estado emocional e os momentos de crise; educar o paciente para que adapte a
doença aos seus próprios estilos de vida, para melhorar a qualidade da vida. Este modelo é não mais
biomédico, mas psicopedagógico. Integra e melhora os efeitos das prescrições médicas normais
através da gestão da doença, e determina aquela “cura” que, mais do que os aspectos físicobiológicos, é uma conquista da pessoa.
A intervenção de Educação Terapêutica ao Paciente em oncologia
No campo oncológico a educação terapêutica se apresenta como um desafio: o impacto devastador
do diagnóstico de câncer, com freqüentes sentimentos de perda de significado e de projeção para o
futuro, favorecem um papel passivo e de dependência do paciente. Aos sofrimentos próprios da
patologia, somam-se os sofrimentos da perda de relação com o corpo doente.
Foi conduzida uma intervenção trimestral de duas horas, duas vezes por semana, nos respectivos
setores de oncologia em grupos de mulheres (20/20) hospitalizadas por processos neoplásicos
internos. A intervenção visou aumentar a auto-estima, a aceitação do corpo e de todas as outras
possibilidades de expressão corporal.
Escolheu-se propor oportunidades dialógico-corporais, através dos métodos a seguir, emprestados da
Pedagogia Clínica:
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Touch ball: estimulação tátil com uma bola vibrocromática
Discover project: contração e descontração muscular
Body work: reconhecimentos da topografia do corpo
No início do tratamento procurou-se identificar a linha de base das condições psicofísicas através da
aplicação de questionários de Wallston (health locus of control, escala C, percepção do porque), do
questionário sobre o “self-concept” (percepção de si) e do questionário sobre o estado de ansiedade.
Os questionários foram propostos novamente ao fim do tratamento. Tentamos dar uma referência
objetiva (escore) antes e depois.
Um percurso bastante articulado, portanto, o proposto às mulheres, na conclusão do qual o nível de
satisfação resultou elevado. A análise estatística dos resultados obtidos, ainda que reforçando as
limitações da metodologia e as dificuldades em obter medidas objetivas ligadas à qualidade de vida,
permite afirmar que a intervenção pedagógico-clínica ajudou as mulheres a:
• Redescobrir as potencialidades comunicativas e expressivas do próprio corpo, atingindo um
novo equilíbrio psicofísico;
• Reduzir os incômodos do corpo tocado e doente levando-o rumo ao prazer do corpo vivido;
• Construir uma “self-image” positiva, melhorando a qualidade da relação consigo e com os
outros;
• Diminuir as tensões favorecendo uma retomada do repouso noturno;
• Conter e reduzir as dificuldades emotivas ligadas à doença (ansiedade, prostração, depressão,
etc.) através de modalidades comportamentais mais funcionais e positivas;
• Atingir um relaxamento psicofísico durante todo o percurso terapêutico (averiguações
diagnósticas; quimioterapia; radioterapia; controles ambulatoriais, etc.);
• Originar um sentido de otimismo que permite melhorar a qualidade da vida.
O curso, ainda que breve, evidenciou as possibilidades de uma aproximação diferente à pessoa, e a
necessidade de desenvolver estratégias e modelos de intervenção específicos para patologias
diversas, segundo os princípios da Educação Terapêutica. A aplicação dos métodos da Psicologia
Clínica revelou-se oportuna e passível de melhora. Os participantes concluíram a experiência
afirmando a sua percepção positiva da atuação e a necessidade de revisitar as próprias capacidades
de comunicação / relação com o contexto profissional e não apenas este. A experiência foi objeto de
um breve relato apresentado no II Congresso da Sociedade Européia de Educação Terapêutica, que
aconteceu em Selva di Fasano (Br-Brindisi) em junho deste ano.
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