PROTOCOLOS ASSISTENCIAIS ÚLCERA POR PRESSÃO: CAMINHO É A PREVENÇÃO Lesão da pele contribui para o prolongamento das internações hospitalares e aumento de custos Por Felipe César A Úlcera Por Pressão (UPP) é uma lesão localizada na pele que, em estágio avançado, pode causar perda da espessura dos tecidos com exposição dos ossos, tendões ou músculos. Geralmente, é causada por pressão isolada ou combinada com cisalhamento. Qualquer paciente restrito ao leito pode estar sujeito ao desenvolvimento de UPP. Outros fatores de risco são: idade avançada, desnutrição e dificuldades de mobilidade. A ocorrência de UPP como um evento adverso ou em pacientes que já foram admitidos com a lesão pode levar a um aumento dos dias de internação, elevando os custos hospitalares. Além disso, o paciente sente muita dor e fica mais suscetível ao aparecimento de infecções. Em casos graves, as complicações podem levar o paciente a óbito. Para Mara Blanck, presidente da SOBENFeE (Sociedade Brasileira de Enfermagem em Feridas e Estética), “as alterações da integridade da pele, que comumente resultam em lesões denominadas úlceras por pressão ou úlceras de decúbito, têm sido objeto de preocupação da enfermagem há muitos anos e, atualmente, uma preocupação de toda a equipe multiprofissional”. Segundo dados da NPUAP (National Pressure Ulcer Advisory Panel), a prevalência de UPP em hospitais norte-americanos é de 15%, e a incidência é de 7%. PAPEL DA ENFERMAGEM Estima-se que o número de casos de UPP no Brasil é preocupante e não para de crescer. De acordo com Walter Mendes, professor e pesquisador da ENSP-Fiocruz (Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz) e membro do Comitê Nacional de Implantação do PNSP (Programa Nacional de Segurança do Paciente), a gestão é a chave para diminuir a ocorrência dos casos no país. “O profissional que tem a incumbência de prevenir a UPP é o enfermeiro. Mas, no Brasil, as funções administrativas afastam o enfermeiro da beira do leito, onde deveria estar cuidando da saúde e segurança do paciente. O enfermeiro trabalha em funções que não são as dele. Os hospitais deveriam contratar um profissional administrativo para cuidar dessas questões.” Mendes destaca o papel da enfermagem na mudança de decúbito do paciente no leito, indispensável à prevenção da UPP, principalmente em pacientes que não têm capacidade de se movimentar. De acordo com Mara, além dos cuidados de enfermagem, deveria existir uma ação de política pública para obtenção de dados sobre a UPP, e vai além: “Creio que seria necessária uma política pública que se faça valer por meio de notificação e dados epidemiológicos, com impacto na qualidade da assistência das instituições públicas e privadas, com medidas educativas e preventivas”. Alguns hospitais possuem comissões para prevenção de lesões de pele. Segundo a enfermeira, é importante que as comissões sejam formadas e qualificadas em suas instituições: “Acredito que melhoraria muito e poderia haver mais prevenção do que tratamento, diminuindo custos financeiros e melhorando o indicador de saúde por UPP”. O PROFISSIONAL QUE TEM A INCUMBÊNCIA DE PREVENIR A UPP É O ENFERMEIRO. MAS, NO BRASIL, AS FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS AFASTAM O ENFERMEIRO DA BEIRA DO LEITO PREVENÇÃO Para pacientes que apresentarem algum tipo de risco de desenvolver a UPP, recomenda-se o tratamento preventivo imediato com um plano diário de cuidados. Independente do grau de risco classificado, a equipe de enfermagem deve ter um plano de cuidados que envolve: inspeção diária da pele; manejo da umidade e hidratação e higiene da pele; plano de nutrição e hidratação do paciente; e minimizar ao máximo a pressão. |Parte Integrante da Revista Melh res Práticas | PROTOCOLOS ASSISTENCIAIS CLASSIFICAÇÃO DE RISCO Para diminuir o risco de adquirir a UPP, os hospitais devem ter equipes de enfermagem treinadas para atuar na prevenção da lesão. Um checklist deve ser feito na admissão de todos os pacientes. A Escala Braden é a mais indicada para a realização da avaliação. Para crianças de 1 a 5 anos, utiliza-se a Escala Braden Q. A Escala Braden possui cinco classificações: sem risco, baixo risco, moderado risco, alto risco e risco muito alto. A classificação se dá pela pontuação da tabela de forma inversa: quanto maior a pontuação, menor é o risco para o surgimento da UPP. A classificação da tabela só indicará o tratamento preventivo mais adequado com a avaliação clínica do enfermeiro. É ele o responsável por interpretar os fatores de risco de uma úlcera por pressão e elaborar um plano de cuidados específicos para o paciente de acordo com o seu critério de avaliação. PARA DIMINUIR O RISCO DE ADQUIRIR A UPP, OS HOSPITAIS DEVEM TER EQUIPES DE ENFERMAGEM TREINADAS Classificação de Risco Risco baixo (15 a 18 pontos na Escala Braden) Cronograma de mudança de decúbito. Otimização da mobilização. Proteção do calcanhar. Manejo da umidade, nutrição, fricção e cisalhamento, bem como uso de superfícies de redistribuição de pressão. Risco moderado (13 a 14 pontos na Escala Braden) Continuar as intervenções do risco baixo. Mudança de decúbito com posicionamento a 30°. Risco alto (10 a 12 pontos na Escala Braden) Continuar as intervenções do risco moderado. Mudança de decúbito frequente. Utilização de coxins de espuma para facilitar a lateralização a 30º. Risco muito alto (≤ 9 pontos na Escala Braden) Continuar as intervenções do risco alto. Utilização de superfícies de apoio dinâmico com pequena perda de ar, se possível. Manejo da dor. Fonte: Protocolo para Prevenção de Úlcera por Pressão – Ministério da Saúde, Anvisa e Fiocruz. ACOMPANHANTES A relação entre acompanhante/paciente e equipe de enfermagem é fundamental para a prevenção da UPP, principalmente em relação à mudança de decúbito. A orientação que o acompanhante recebe da equipe contribui para a prevenção durante a internação hospitalar, bem como nos cuidados domiciliares. “A responsabilidade de realizar a mudança de decúbito é da equipe de enfermagem, porém a presença do acompanhante aumenta a segurança e o conforto nessa ação”, explica Fernanda Mota Rocha, gestora de Apoio Educacional da Enfermagem do Hospital Santa Marcelina. A gestora conta ainda que, no Hospital Santa Marcelina, há algumas ferramentas específicas para a prevenção da UPP, com o objetivo de apoiar o trabalho da equipe de enfermagem. Fixado próximo ao leito e visível para todos que circulam pela unidade, há um relógio sinalizador para avisar o momento da mudança de decúbito. E quando o paciente é identificado com o risco de desenvolver a UPP, uma filipeta indicativa é colocada próxima ao leito a fim de sinalizar a necessidade de cuidados específicos a toda a equipe de enfermagem. De acordo com Fernanda, todo colaborador é orientado a registrar em anotação de enfermagem as medidas preventivas adotadas para UPP. Essa prática consta na descrição da rotina da equipe, e também em um fôlder de orientações. A efetivação dessa ação pode ser validada nas auditorias constantes de prontuários. Importância da nutrição: “Um dos fatores de risco para o surgimento de uma úlcera por pressão é a desnutrição. Por isso, é preciso uma nutrição adequada para a manutenção dos processos vitais e a reposição de elementos necessários, inclusive no processo de cicatrização”, destaca Fernanda. Ela explica que o nutricionista exerce um importante papel na prevenção da lesão de pele, definindo uma dieta adequada. “Atualmente, investimos em discussões multidisciplinares para que todo paciente com UPP seja submetido à avaliação nutricional no início do tratamento e reavaliado quando não se observar melhora na lesão, ou quando o fechamento da úlcera não for obtido”. Parte Integrante da Revista Melh res Práticas | PROTOCOLOS ASSISTENCIAIS Mudanças preventivas para pacientes impedidos de mudança de decúbito Condições clínicas que impeçam a mudança de decúbito • Recrutamento pulmonar em 6 horas; • Grandes cirurgias abdominais, cardíacas e neurológica; • Instabilidade hemodinâmica; • Instabilidade respiratória (PEEP acima de 20 cmH2O); • Drogas vasoativas em altas doses (DVA acima de 1mcg/Kg/min); • Paciente em HD convencional com redução do fluxo sanguíneo à movimentação. Avaliar as medidas preventivas para UP e se necessário discutir com o GAEFE Discutir com equipe médica sobre o risco de UP e medidas preventivas Mudança de decúbito? SIM SIM Houve mudança clínica do Paciente? Reavaliar, no máximo, a cada 6 horas e fazer nova tentativa de mudança de decúbito NÃO Evidenciar a prescrição do decúbito a ser mantido, seja em prescrição médica ou em prescrição de enfermagem NÃO Manter medidas preventivas Reavaliação dos riscos para UP e condições clínicas e posicionamento máximo, a cada 24 horas. O enfermeiro responsável pelo paciente e/ou GAEFE deverá avaliar criticamente as medidas preventivas: • Tipo e adequação da superfície de redistribuição de pressão; • Manutenção de calcâneo livre de pressão; • Mudança de decúbito x descompressão de proeminências ósseas; • Hidratação da pele; • Angulação do decúbito até 30º; • Manejo de umidade, nutrição, fricção e cisalhamento. Após discussão e decisão da melhor prática, o enfermeiro deverá realizar registro em evolução de enfermagem das condições clínicas do paciente que impedem à mudança de decúbito e adequar à prescrição de enfermagem os cuidados definidos. Comunicar e documentar ao paciente e aos familiares os riscos para o desenvolvimento de UP, os cuidados adotados e registrar em plano educacional. Fonte: Sociedade Beneficiente Israelita Albert Einstein - Integridade da Pele: avaliação, manutenção e manejo das complicações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E PESQUISAS Protocolo para Prevenção de Úlcera por Pressão – Ministério da Saúde, Anvisa e Fiocruz. Integridade da pele: avaliação, manutenção e manejo das complicações – Albert Einstein (Sociedade Beneficente Israelita). Documentos úteis: Portal PROQUALIS - http://proqualis.net/preven%C3%A7%C3%A3o-de-%C3%BAlcera-porpress%C3%A3o Vídeo: www.youtube.com/watch?v=4ZA37WcCNSQ; PROQUALIS, Ministério da Saúde, Anvisa e Fiocruz, em parceria com Albert Einstein (Sociedade Beneficente Israelita) e Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia. Protocolos: file:///C:/Users/Owner/Downloads/protoc_ulceraPressao.pdf www.guideline.gov/content.aspx?id=12381 |Parte Integrante da Revista Melh res Práticas |