Adam Ana Maria Daniel Elaine Felipe Flávia Gustavo Jean Karl Leandro Gabiru Lili Ludmila Malu Márcio Maria Max Renata Ricardo Sunshine Veronika Dadão 2 Jansen Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Fernando Juruna Ari Junior Josimar Antônio Paulo Pepé Zé Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 3 Índice 1Inflorescências maiores são mais atrativas? Relação entre tamanho da inflorescência e freqüência de visitação em Isertia hyp.............. 6 2 Avaliação do efeito de borda em um fragmento de mata de terra firme da Amazônia Central utilizando índices de mortalidade de plan............. 8 3 Seleção de habitats por larvas de Progomphus sp. (Odonata: Gomphidae) no igarapé da Dimona, Manaus, AM................................................. 10 4 Controle da estrutura de colônias de formigas Azteca alfari (Hymenoptera, Formicidae) pela mirmecófita Cecropia purpurascens ................... 12 5 Existe um “efeito tronco” para a comunidade de aranhas?...................................................................................................................................... 14 6 Um estudo da distribuição espacial, deslocamento individual e atividade diária da borboleta Heliconius erato (Nymphalidae, Heliconiinae).... 16 7 Biomassa de madeira morta em áreas de floresta preservada e com extração seletiva Amazônia Central............................................................. 18 8 Danos e mortalidade em árvores em floresta manejada e não-manejadas na Amazônia Central............................................................................ 19 9 Influência do corte seletivo de madeira na abundância de folhiço aéreo e artrópodes associados.......................................................................... 21 10 Os efeitos da extração seletiva de madeira sobre a densidade e a altura de plântulas de espécies lenhosas na Amazônia Central...................... 23 11 Salticídeos (Araneae, Salticidae) são mais frequentes em ambientes abertos?..................................................................................................... 24 12Espécies de Odonata como indicadores de efeitos da extração madeireira seletiva: comparação entre dois igarapés na área................ 25 13 Comparación de la abundancia y diversidad de arañas habitamtes del suelo en una area de extracción selectiva de madera y una are............. 26 14 A extração de madeira pode determinar a ocorrência de Cecropia sciadophylla e Vismia cf. cayennensis em bordas de mata na F.................. 29 15 Homenagem à Marchantaria: As comunidades são organizadas ao acaso?.......................................................................................................... 30 16 Ocorrência de hemi-parasitismo por Psittacanthus falcifrons (Loranthaceae) em espécies arbóreas de várzea na Amazônia Central ............. 31 17 Avaliação da Estrutura de Guildas Alimentares de Arthropoda em Folhas Secas de Cecropia membranacea (Cecropiaceae) ..................... 33 18 Relações entre o número de folhas e o número de flores de Pistia stratiotes (Araceae) numa área de várzea na Amazônia Central................... 34 19 Efeito do período de inundação sobre a Riqueza de Espécies Arbóreas de uma Área de Várzea na Amazônia Central..................................... 36 20 Abundância e riqueza de espécies de aranhas em dois microhabitats em área inundada de mata de várzea........................................................ 38 21 Relação entre artrópodos e folhas secas de Cecropia sp. na várzea do rio Solimões.................................................................................. 39 22 Estratégias reprodutivas em dois morfotipos de Pistia stratiotes........................................................................................................................... 41 23 Considerações sobre a arquitetura dos frutos do Macucu, Aldina latifolia (Leguminosae; Papilionoideae)........................................................ 42 24 Influência das inundações sobre a reprodução da seringueira Hevea spruceana (Euphorbiaceae) em uma área de igapó do rio Negro............. 43 25 Testando a hipótese de Coley e Aide : Folhas vermelhas sofrem menos herbivoria do que as folhas verdes?..................................................... 45 26 Levantamento florístico em uma área de igapó em Anavilhanas: borda versus interior...................................................................................... 46 27 Herbivoria em folhas de várias espécies de plantas de um igapó da Amazônia Central: existe vantagem em ser vermelha?.............................. 48 28 Riqueza e variação de tamanho de propágulos na margem e interior de Igapó na Amazônia Central.................................................................. 49 29 Intensidade de herbivoria em diferentes estratos de plantas alagadas: uma comparação entre dois tipos de amostragem................................... 50 30 Um teste da hipótese da disponibilidade de recursos (HDR) nas interações herbívoro-planta............................................................................. 52 31 Larvas de formigas-leão (Myrmeleontidae, Neuroptera) famintas aumentam o esforço de captura?................................................................... 53 32 Seleção de habitat por invertebrados aquáticos fragmentadores em um igarapé da Amazônia Central............................................................... 55 33 Morfologia foliar e herbivoria: mecanismo de engano para herbívoros?.............................................................................................................. 56 34 Defesas estruturais e taxa de herbívoria em espécies de Melastomatáceas........................................................................................................... 58 35 Efeito do tamanho de domácea e número de formigas como proteção contra herbivoria em plantas de Maieta guianensis - Melastomat........ 59 36 Liteiras suspensas na palmeira Oenocarpus bacaba (Palmae): um teste da teoria de biogeografia de ilhas......................................................... 61 37 Taxa de herbivoria em Miconia phanerostila (Melastomataceae) em diferentes ambientes lumínicos na Reserva do Km 41, Manaus (AM).... 63 38 O tamanho de clareiras naturais determina a abundância de espécies pioneiras na Amazônia Central?.............................................................. 64 39 Efeito de borda na relação entre Miconia phanerostila (Melastomataceae) e formigas ....................................................................................... 66 40 Mortalidade de formigas por fungos Ascomycetes em um gradiente campinarana-platô, em uma área de terra firme da Amazônia Central.... 67 41 Estudio comparativo de la herbivoría en pteridofitas y angiospermas.................................................................................................................. 69 42 Composição, riqueza e abundância de palmeiras em áreas de platô e baixio em uma floresta de terra firme da Amazônia Central.................. 70 43 Comparação da riqueza de lianas entre uma área de platô e uma campinarana na Amazônia Central............................................................... 72 44 Invertebrados predam larvas de anuros seletivamente?......................................................................................................................................... 74 45 Padrão de trilhas do tatu Dasypus novemcinctus (Mammalia: Xenarthra: Dasypodidae) na Amazônica Central................................................ 75 46 Abundância de anuros de folhiço em áreas de baixio e platô na Amazônia Central............................................................................................. 77 47 Influência do arranjo espacial da planta hospedeira na diversidade de insetos herbívoros................................................................................... 79 48 Danos foliares induzem recrutamento de formigas habitantes de domáceas em Hirtella myrmecophylla (Chrysobalanac.................................. 81 49 Impacto predatório de formigas sobre herbívoros não mutualistas em Mimosa guilandinae var. spruceana (Leguminosae: .............................. 84 50 Distribuição espacial de algumas plantas de igarapé: há partição de recursos?.................................................................................................... 87 51 Induzindo formigas cortadeiras (Atta cephalotes) a rejeitar plantas hospedeiras palatáveis: modificação do comportamen.............................. 89 52 A influência das clareiras sobre a abundância e riqueza da comunidade de plântulas de palmeiras (Arecaceae) na Amazônia Central............. 92 53 Abundância e riqueza da ictiofauna em trechos de um igarapé na Reserva do km 41,Manaus, AM.................................................................... 94 54 Gremios alimenticios en una comunidad de murciélagos de sotobosque de la Amazonía Central....................................................................... 96 55 Remoção diferencial de sementes de Astrocaryum acaule (Arecaceae) por pequenos mamíferos em clareiras e sub-bosque ............................ 98 56 Quão longe devemos ir? Influência da escala de amostragem na riqueza e composição de espécies de formigas epigéicas............................ 100 57 Avaliação do comportamento de escolha de cores por borboletas ..................................................................................................................... 102 58Padrões de remoção de sementes enterradas de tucumã (Astrocarium aculeatum, Arecaceae) em uma floresta de terra firme da...................... 104 59 Distribución espacial y abundancia de Aequidens pallidus (Cichlidae) en un sistema de igarapés de una floresta en la Amazonía Central..... 107 60 O papel do ambiente físico na distribuição espacial de plantas mirmecófitas em uma floresta na Amazônia Central....................................... 109 61 Diversidade e similaridade de protistas do solo no platô e campinarana da Reserva do KM 41, Amazonia Central........................................ 113 62 Categorias funcionais de alimentação de macroinvertebrados em igarapés da Reserva do km 41, Amazônia Central...................................... 115 63 Área específica da folha como indicador de estratégias ecofisiológicas em espécies pioneiras em áreas abertas na Amazônia Central........... 117 64 Mecánismos de defensa utilizados por las plantas de tres compartimentos geomorfológicos de la Amazônia Central ..................................... 119 4 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 5 Inflorescências maiores são mais atrativas? Relação entre tamanho da inflorescência e freqüência de visitação em Isertia hypoleuca Benth. (Rubiaceae) Flávia Monteiro Coelho, Maria Cecilia Vega, Max Hidalgo, Renata Durães e Ricardo Machado Darigo A polinização é um dos principais processos de reprodução das angiospermas e pode ocorrer de forma abiótica ou biótica. A polinização abiótica pode ocorrer através do vento e da gravidade, e a biótica através de insetos, aves, morcegos e outros animais, na qual a planta oferece algum tipo de recompensa aos visitantes, em geral pólen e/ou néctar (Morato 1993). Processos coevolutivos podem resultar em relações estreitas entre algumas espécies de plantas e seus polinizadores, por exemplo, entre abelhas e orquídeas ou vespas e figueiras (Morato 1993). As diferentes flores, em razão dos seus conjuntos de características, como coloração, presença de cheiro, tamanho, formato da corola e outras são agrupadas em síndromes de polinização, que indicam o tipo de polinizador para cada planta. Muitos desses caracteres florais agem simultaneamente na atração dos polinizadores (Proctor & Yeo 1973 apud Scogin 1983). Algumas delas funcionam como atrativos a longa distância, e outras apenas são evidentes a pequenas distâncias, dependendo da capacidade sensorial dos polinizadores. De modo geral, os caracteres ligados à visão atuam a maiores distâncias que aqueles ligados ao olfato o quimiorrecepção (Scogin 1983). Flores ocorrendo isoladas ou agrupadas podem atrair de maneira diferente os polinizadores, sendo as flores agrupadas consideradas mais atrativas (Faegri & Pijl 1966 apud Lima et. al. 2000), o que pode estar relacionado ao aspecto atrativo ou também à disponibilidade de recurso em um mesmo local (Zimmerman1988). Outro fator relevante na atratividade de polinizadores seria o número de flores presentes na planta capazes de disponibilizar recursos para os polinizadores. Isertia hypoleuca Benth.é uma espécie arbórea da família Rubiaceae que apresenta inflorescências cimosas com flores hermafroditas, tubulares, de cor vermelha, sem cheiro evidente, com néctar adocicado e antese diurna, (Ribeiro et al. 1999; Nee 1995), características associadas à síndrome de ornitofilia (Stiles 1976). O objetivo deste trabalho foi testar a hipótese de que inflorescências mais vistosas, isto é aquelas que apresentam maior quantidade de flores, são capazes de atrair um maior número de visitantes florais. Material e Métodos O estudo foi desenvolvido em julho de 2002, em uma região de floresta de terra firme na Amazônia Central, localizada na Fazenda Dimona (2º20’S-60º06’W), 90 km ao norte de Manaus (AM). Um indivíduo adulto de Isertia hypoleuca Benth. em período de floração e localizado em uma área de capoeira foi utilizado como árvore focal. A copa da árvore foi dividida em três zonas, e cada uma destas foi observada por uma dupla de pesquisadores entre 6:00 e 10:00h. Deste modo, todas as inflorescências puderam ser observadas simultaneamente. Para cada uma das inflorescências presentes na árvore, foram determinados o número total de flores, número de flores maduras (flores completamente desenvolvidas, abertas ou não) e flores recém-abertas. Flores recém-abertas podem ser facilmente identificadas devido à sua coloração viva e o aspecto firme das pétalas. Cada visitante floral observado foi identificado, e foram 6 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 registrados o horário e o número de visitas efetivas por inflorescência. Visitas efetivas foram consideradas aquelas em que o visitante pousou na corola da flor. Ao final do período de observação, inflorescências foram coletadas para medição e exame em laboratório. Regressões lineares simples foram utilizadas para investigar a relação entre o número de visitas e o número total de flores, flores maduras e recém-abertas. Resultados Observamos 64 inflorescências, que apresentaram em média 32 flores. O comprimento da corola nas flores estudadas variou entre 72 e 73,95 mm, o que indica uma polinização por beijaflores. Os principais visitantes florais observados foram himenópteros (abelhas e vespas, 73,3%), seguidos por beijaflores (Phaetornis sp., Florisuga mellifera e uma espécie não identificada, 20,6%) e pequena proporção de lepidópteros (borboletas, 6,1%) (Fig. 1). Observamos 131 visitas efetivas. Ocorreram dois períodos de maior freqüência de visitas, compreendidos entre 6:00-7:30h e 8:30-9:00h, o segundo pico coincidindo com um período de aumento da luminosidade e temperatura (Fig. 2). Os Hymenoptera, representados principalmente por vespas, visitaram uma maior quantidade de flores em diferentes inflorescências permanecendo por mais tempo na planta. Os beija-flores, apresentaram visitas mais rápidas e na maioria das vezes exploraram poucas inflorescências. Já os Lepidoptera, apresentaram uma menor freqüência de visitas, o que nos impossibilita de comentar sobre seu comportamento frente às inflorescências. Não foi observado um maior número de visitas em inflorescências com maior número total de flores (R2 = 0,020; p = 0,267; n = 64) ou maior número de flores abertas (R2 = 0,009; p = 0,457; n = 64). A relação entre o número de flores maduras e o número de visitas foi significativa (R2 = 0,099; p = 0,011; n = 64), mas esta relação foi altamente dirigida por apenas um ponto e desaparece quando este é retirado (R2 = 0,010; p = 0,426) (Fig. 4). Inflorescências com mais flores recém-abertas atraíram mais visitantes (R2 = 0,351; p = 0,001; n = 64) (Fig. 5). Outros artrópodes foram observados dentro de flores examinadas em laboratório: um díptero adulto, uma larva não identificada de inseto, e vários coleópteros adultos de uma 3), o que foi observado nos resultados do teste t que avaliaram os 100 Proporção de v isitas (%) Introdução n = 96 80 60 40 20 n = 27 n=8 0 L e p id o p te ra T ro c hilid ae Hym e no p te ra Vis ita n te s Fig. 1 – Frequência de visitas efetivas em inflorescências de Isertia hypoleuca Benth. em diferentes intervalos de tempo de observação. % v isitas efetiv as 30 estados das plantas em relação às classes de abundância de ácaros (c2 =67,8,gl= 6, p<0,001). 33 25 25 20 Discussão 19 12 9 10 6 2 0 6:006:30 6:307:00 7:007:30 7:308:00 8:008:30 8:309:00 9:009:30 9:3010:00 Ho rá rio Fig. 2 – Frequência de visitantes observados em inflorescências de Isertia hypoleuca Benth. (tamanhos amostrais mostrados acima das barras). 100 Flores (%) 80 Classes de abundância: 60 0 40 1 -5 0 20 >5 0 0 1 2 3 4 (n = 13) (n = 15) (n = 22) (n = 18) E s tá g io flo ra l Fig. 3 – Abundância de ácaros em flores de Isertia hypoleuca Benth. em progressivos estágios de maturação. 1 – flores maduras fechadas, 2 – flores recém-abertas, 3 – flores abertas velhas com estames ainda firmes, 4 – flores abertas velhas com estames ressequidos (c2 =67,8,gl= 6, p<0,001). Total de visitas efetivas 25 20 15 10 5 53 4 34 3 3 4 34 2 0 5 0 2 2 10 20 30 Número de flores maduras 40 Fig. 4 – Relação entre número de flores maduras e total de visitas efetivas em inflorescências de Isertia hypoleuca.Benth. Total de visitantes efetivos 25 20 15 10 5 4 4 7 21 7 0 0 2 2 3 2 3 2 3 2 3 2 3 2 3 2 1 2 3 4 5 6 7 Número de flores recém-abertas Fig. 5 – Relação entre número de flores recém-abertas e total de visitas efetivas em inflorescências de Isertia hypoleuca. Padrões florais têm influência sobre a atração de visitantes relacionada a exploração de recursos. Forças seletivas favorecerão aquelas características que maximizam a eficiência de transferência de pólen (Dobkiin 1984). Os resultados deste estudo indicam que visitantes florais em Isertia hypoleuca Benth.são atraídos primariamente por flores recém- abertas enquanto flores não disponíveis para visitas (flores fechadas) ou que oferecem baixa recompensa (flores velhas) não influenciam as taxas de visitação. É possível que a pilosidade amarela na corola de flores recém-abertas atuem como sinalizadores para visitantes florais, indicando a disponibilidade do recurso. A estratégia da planta em abrir apenas um pequeno número de flores diariamente pode assegurar um período mais longo de exposição a polinizadores, minimizando a perda de pólen e a autopolinização. Espécies de árvores tropicais têm em geral sistemas reprodutivos que favorecem a reprodução cruzada, como floração maciça na população mas seqüencial em cada indivíduo (Bawa 1974; Opler & Bawa 1978). Apesar de suas características ornitófilas, os principais visitantes de flores de Isertia. hypoleuca Benth. foram himenópteros. É importante levarmos em consideração o fato de que uma de nossas amostras foi extremamente visitada por indivíduos da ordem Hymenoptera, o que fez com que a média do número de visitantes por inflorescência fosse aumentada o que , consequentemente, provocou um desvio na reta representativa dos dados; por isso essa inflorescência não foi levada em consideração. Um grande número de beija-flores foi observado em um indivíduo de ingá (Inga sp.) florido ao lado da árvore focal. É possível que a grande disponibilidade de flores de ingá faça com que estas sejam um recurso mais recompensador que as inflorescências de I. hypoleuca Benth., que apresentavam apenas algumas flores abertas. É possível também, que o comprimento da corola de I. hypoleuca Benth. limite as espécies de beijaflores capazes de alcançar os depósitos de néctar em sua base. Outras espécies de rubiáceas, com flores brancas, amarelas ou azuis e odor agradável são polinizadas principalmente por mariposas, borboletas e abelhas (Ribeiro et al. 1999). Ácaros vivem em flores de Heliconia, onde se alimentam de néctar, copulam e se reproduzem, movem-se livremente pelas inflorescências e são também transportados em cavidades nasais de beija-flores (Colwell 1973, 1979 apud Dobkin 1984), podendo potencialmente servir como polinizadores (Dobkin 1984). Em Isertia hypoleuca Benth., foram observados indivíduos em amplexo e com variados padrões de tamanho e coloração, indicando que os ácaros se reproduzem nas flores. Flores fechadas não apresentaram ácaros, mas todas as flores recém-abertas examinadas continham grande quantidade, indicando que a colonização das flores se dá logo após a antese. Finalmente, flores demasiadamente velhas não apresentaram ácaros, sugerindo que estes migram para flores novas quando os recursos florais começam a se exaurir. Concluímos que o número de flores recém-abertas na inflorescência de Isertia hypoleuca Benth. é um fator relevante para a atração de visitantes florais, independente do número total de flores presentes nas inflorescências. Referências Bibliográficas Bawa, K. S. 1974. Breeding systems of tree species of a lowland tropical community. Evolution 28:85-92. Opler, P. A., & K. S. Bawa.1978. Sex ratios in tropical forest tree. Evolution 32:812-821. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 7 Dobkin, D. S. 1984. Flowering pattern of long lived Heliconia inflorescences: implications for visiting and resident nectarivores. Oecologia 64: 245-254. Feisinger, P. & Colwell, R. K. 1978. Community organization among neotropical nectar-feeding birds. American Zoologist 18:779-795. Lima, A. C., Jaimes A. A., Guilherme F. A. & Lima, R. C., 2000. Polinização de Dioclea sp (LeguminosaePapilionoideae) em igapó do rio Negro: Disponibilidade de recursos e frequências de vizitas. Relatório apresentado no curso Ecologia da floresta Amazônica. Morato, E. 1993. Efeitos da fragmentação florestal sobre vespas e abelhas solitárias em uma área da Amazônia Central. Tese apresentada à Universidade Federal de Viçosa. Nee, M. 1995. Flora preliminar do projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF). New York Botanical Garden e INPA/ Smithsonian (PDBFF). Ribeiro, J. L et al. 1999. Flora da reserva Ducke. Página 625 in INPA- DFID. Scogin, R.,1983. Visible floral pigments and pollinators. Pp: 160-172. In: Jones E. C. and J. R. Little. Handbook of Experimental Pollination Biology. Van Nostrand Reinhold Inc. New York. Stiles, F. G. 1976. Taste preferences, color preferences, and flower choice in hummingbirds. Condor 78:10-26. Zimmerman M. 1988. Nectar Production, flowering phenology, and strategies for pollination. Pp: 157-178. In: Doust J. L.& L. L. Doust. Plant Reproductive Ecology. Oxford University Press, New York. Orientador Michael J. G. Hopkins Avaliação do efeito de borda em um fragmento de mata de terra firme da Amazônia Central utilizando índices de mortalidade de plantas lenhosas >10 centímetros de diâmetro Ludmila Pugliese de Siqueira, Maria Luisa Jorge, Verónica Cepeda, Adam Kaveh Bahrami, Marcio Uehara-Prado A demanda de área e recursos para o desenvolvimento de atividades econômicas gera a conversão de florestas tropicais contínuas em fragmentadas. Essa conversão resulta na perda de habitats e isolamento dos remanescentes. Todo esse processo causa a extinção de espécies nas áreas afetadas (Laurance & Bierregaard 1997). Uma das principais conseqüências da fragmentação é a formação de bordas, com características físicas e biológicas distintas daquelas encontradas no interior do fragmento. Vários estudos mostram, por exemplo, que fluxo de vento, incidência de luz, temperatura, umidade, taxa de decomposição, riqueza de espécies e interações bióticas variam de acordo com o gradiente borda-interior (e,g. Murcia 1995; Laurance et al. 2002). Em função das árvores serem os prinicipais produtores primários e por oferecem estrutura física e habitat para todos os outros organismos, processos envolvendo o nascimento e mortalidade de árvores condicionam a dinâmica da floresta. Um índice para quantificar essa dinâmica é a massa de madeira morta grossa (Coarse Woody Debris) (Franklin et al. 1987; Van Der Meer & Bongers 1996; Mesquita et al. 1999). Desta forma, pretendemos utilizar o índice de madeira morta para caracterizar o efeito de borda em um fragamento de 100 hectares numa mata de terra firme na Amazônia Central. Nosso estudo está baseado nas seguintes hipóteses: 1. O número de árvores mortas reduz conforme o gradiente borda-interior, porque a borda é um ambiente com condições mais extremas; 2. A massa de árvores mortas (a) aumenta ou (b) permanece constante no gradiente borda-interior (Fig. 1). 8 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Massa de Madeira Morta Grossa Introdução A B Distância da Borda Fig. 1: Curva esperada para massa total de madeira morta grossa. A = situação em que há efeito de borda. B = situação em que a área basal é compensada pelo número de indivíduos. A segunda hipótese se baseia na relação entre o número de indivíduos e a área basal: Σ Nb * Mb = Σ Ni * Mi N = Número de Indivíduos; M = Massa / indivíduos i = Interior do Fragmento; b = Borda do Fragmento, sendo massa = área basal de árvores mortas em pé ou intersecção do transecto, para pedaços caídos) Se houver um grande número de indivíduos com área basal reduzida na borda, este número pode igualar a área basal total obtida no interior do fragmento. Esta área, é resultante de um menor número de indivíduos, porém com maior área basal. No outro caso, a área basal no interior ultrapassa os valores do somatório obtido na borda (Fig. 1). Estudamos em um fragmento de 100 hectares da Fazenda Dimona, do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (INPA/Smithsonian), a 70 Km a norte de Manaus, AM (02o30’ S, 60o W) (Gentry 1990). A temperatura média em Manaus é de 26,7o C e médias mensais flutuam na faixa de 2o C (Gentry 1990). Os meses mais chuvosos são março e abril (~ 300 mm cada). A estação seca se distribui entre os meses de julho a setembro sendo que cada um recebe menos de 100 mm de precipitação. As florestas desta região possuem altura média do dossel de 30 a 37m, com árvores emergentes de 45 a 50m, podendo atingir 55m. As quatro famílias vegetais mais abundantes são Burseraceae, Leguminosae, Lecythidaceae e Sapotaceae. A precipitação média anual em Manaus é de 2186 mm, com variação de 1900 a 2400 mm (N = 30) (Gentry 1990). O fragmento selecionado já apresentava um sistema de trilhas em grade (Fig. 2), perpendiculares às suas bordas. Selecionamos duas trilhas a 400 m da borda. Em cada uma delas caminhamos 500 m desde a borda até o interior do fragmento. Realizamos dois tipos de medidas: 1) Recenceamos todas as árvores mortas em pé com altura igual ou maior que 130 cm e diâmetro igual ou maior que 5 cm numa faixa de cinco metros dos dois lados da trilha; 2) Estabelecemos transectos de 30 m perpendiculares às trilhas. Em cada transecto contamos pedaços de madeira morta com diâmetro igual ou maior que 10 cm que o cruzavam. Para pedaços pertencentes a um mesmo indivíduo, os diâmetros eram somados. mais forte para as madeiras no solo (Correlação de Spearman: madeiras em pé: N=10, R = -0,150; madeiras caídas: N=12, R = -0,436). No entanto, as correlações não foram significativas em nenhum dos dois casos (madeiras em pé: p>0,25; madeiras caídas: 0,05<p<0,1). Em relação aos diâmetros, as madeiras mortas em pé apresentaram tendência a um pequeno aumento em função da distância da borda (Fig. 4). Já as árvores grandes caídas no solo não aumentam em diâmetro quanto mais próximo do interior. Não há tendência entre número de madeira morta caída e a distância da borda (Fig. 4) (Regressão linear: madeiras em pé: N=73, R2 = 0,026, p=0,169; madeiras caídas: N=42, R2 = 0,001, p=0,835). Como a área basal é uma função quadrática do diâmetro, as tendências foram muito semelhantes, mas um pouco mais acentuadas. No entanto, mais uma vez, não houve significância nos resultados (Correlação de Spearman: madeiras em pé: N=10, R = 0,271, p>0,1; madeiras caídas: N=12, R = -0,452, 0,05<p<0,1). 12 No. de madeiras mortas grossas em pé Material e Métodos 10 8 6 4 2 0 0-100 100-200 200-300 300-400 400-500 Classe de Distância (m) Fig. 3 . Número de madeiras mortas grossas em pé em função da distância da borda, no fragmento de 100 hectares da Fazenda Dimona, Manaus, AM (losangos sólidos: trilha dos 400 m; quadrados abertos: trilha dos 600 m). 0 200 400 400 200 0 Fig. 2. Diagrama esquemático da área de estudo, indicando os transectos de levantamento de madeira morta grossa em pé (·-·-·-) e caída (·····) em duas trilhas a 400 metros da borda do fragmento. Distância entre trilhas em metros. Diâmetro das madeiras mortas grossas em pé (m) 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Distância (m) As variáveis dependentes foram número de indivíduos, diâmetro e área basal em função da distância da borda. Para os indivíduos em pé agrupamos os dados de número de indivíduos e área basal em classes de 100 m. Realizamos análises de regressão linear para o diâmetro e correlação de Spearman para o número de indivíduos e área basal por causa do tamanho amostral reduzido. Resultados Recenseamos 73 indivíduos mortos em pé e 42 pedaços de madeira mortas caídas. Com relação à variação no número de indivíduos, os resultados apresentaram uma tendência a diminuição no número de madeiras mortas grossas em pé e caídas em função da distância da borda (Fig. 3), sendo essa um pouco Fig. 4. Diâmetro das madeiras mortas grossas caídas em função da distância da borda, no fragmento de 100 hectares da Fazenda Dimona, Manaus, AM. Discussão Estudos sobre o efeito de borda demonstram que a mortalidade de árvores adultas aumento conforme o gradiente borda interior, com efeitos profundos na estrutura, dinâmica e função do ecossistema (Murcia 1995; Laurance et al. 2002). Com relação à estrutura, pode-se afirmar que a mortalidade de árvores na comunidade gera heterogeneidade de habitats, e conseqüente aumento na diversidade de recursos. Espera-se ainda que a mortalidade de ávores adultas resulte em um processo de sucessão, no qual espécies pioneiras iniciam a colonização, sendo posteriormente substituídas por espécies de crescimento Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 9 mais lento. O aumento na taxa de mortalidade de árvores é um componente importante dos ciclos de nutrientes e de carbono, uma vez que o organismo deixa de retirar nutrientes do solo e acumular carbono e passa a liberá-los para o solo e para a atmosfera. É possível que o constraste entre borda e interior tenha sido amenizado nos anos subseqüentes à fragmentação, dado que, árvores mortas caídas no solo representam eventos mais antigos do que árvores mortas em pé. Entretanto, é dificil determinar se tal efeito resulta de uma maior penetração do efeito da borda para o interior ou, se a própria heterogenidade do fragmento esteja suavizando as diferenças esperadas. Nossos dados de madeira morta, em concordância com a literatura, indicam que a borda é uma unidade verdadeira com uma estrutura e dinâmica diferente do que a do interior e da floresta contínua, como por exemplo com relação a composição de espécies e taxas de recrutamento. Esse efeito traz conseqüências para o funcionamento do fragmento, com provável perda dos serviços do ecossistema, além da extinção local de espécies. Nossos resultados, ainda que não significativos, indicam que mesmo depois de 18 anos de fragmentação ainda é possível observar o efeito de borda sobre o número de árvores que morrem. Encontramos mais árvores mortas próximas à borda, o que poderia criar ambientes mais perturbados, favorecendo o estabelecimento de espécies pioneiras. Finalmente, poderíamos esperar que indivíduos caídos representam eventos de mortalidade mais antigos. Nossos resultados sugerem que o contraste entre borda e interior sobre o número de árvores mortas diminuiu desde o início da fragmentação. Isto pode decorrer de uma atenuação ou expansão do efeito de borda. Nossos dados não permitem este tipo de avaliação, porém Laurance et al. (2002) afirmaram que o efeito de borda sobre a mortalidade de árvores adultas pode chegar a 300 metro da borda, corroborando a idéia de expansão da borda no fragmento por nós estudado. Este estudo indica, portanto, a importância de não somente determinar o efeito de borda para diferentes processos e organismos, como também avaliar a expansão ou atenuação desse efeito ao longo do tempo. Agradecimentos Agradecemos ao Sr. Ocírio (Juruna) pela ajuda no campo e ao Sr. Lô Borges e o seu girassol pela inspiração. Referências Bibliográficas Franklin, J.F; Shugart, H.H. & Harmon M.E. (1987) Tree death as an ecological process. Bioscience, 37, 550-556. Gentry, A.H. (1990) Four Neotropical Rainforests. Yale Universisty Press, New Haven e Londres. 627p. Laurance, W.F. & Bierregaard, R.O. (1997) Tropical Forest Remnants: ecology, management and conservation of fragmented communities, The University of Chicago Press, Chicago. 616p. Laurance, W.F.; Lovejoy, T.E.; Vasconcelos, H.L.; Bruna,E.M.; Didham, R.K.; Stouffer, P.C.; Gascon, C.; Bierregaard, R.O.; Laurance, S.G.& Sampaio, E. (2002) Ecosystem decay of Amazonian forest fragments: a 22year investigation. Consevation Biology, 16, 605-618. Mesquita, R.C.G.; Delamonica, P. & Laurance, W.F. (1999) Effect of surrounding vegetation on edge-related tree mortality in Amazonian forest fragments, Biological Conservation, 91, 129-134. Murcia,C. (1995) Edge effects in fragmented forests: implications for conservation, Trends in Ecology and Evolution, 10, 58-62. Van Der Meer, P.J. & Bongers, F. (1996) Patterns of tree-fall and branch-fall in a tropical rain forest in French Guiana, Journal of Ecology, 84 19-29. Orientador David Clark Seleção de habitats por larvas de Progomphus sp. (Odonata: Gomphidae) no igarapé da Dimona, Manaus, AM. Ana Maria Pes, Daniel R. Scheibler, Jean C. Santos, Leandro M. Sousa & Lily Arias Introdução Insetos aquáticos devem selecionar microhabitats em função da disponibilidade de algum recurso, como locais de maior oxigenação da água, disponibilidade de alimento, abrigo contra predadores ou locais mais adequados para captura de presas (Allan 1995). Outros fatores ambientais também podem afetar a distribuição destes organismos, como a velocidade e a profundidade da água e o tipo de substrato. Além disso, a disponibilidade de alimento pode, também, controlar a própria ocorrência e abundância das espécies (Hynes 1970 apud Kikuchi & Uieda 1998). Gomphidae é um grupo de Odonata amplamente distribuído, encontrado ao longo das margens de rios, lagos e lagoas. Os adultos têm freqüentemente entre 5 e 8 cm de comprimento, coloração escura e manchas amareladas ou esverdeadas no tórax e abdômen (Borror & DeLong 1988). As larvas são fossoriais e predadoras, apresentando comportamento de espreita para capturar presas (Merrit & Cummins 1984). Esta família apresenta adaptações morfológicas para se enterrar, principalmente para capturar presas, sendo que o uso de microhabitats por esses organismos pode ser um fator determinante para o uso de recursos entre as espécies (De Marco Jr & Latine 1998). Dentro dessa 10 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 família encontra-se o gênero Progomphus, cujas larvas são quase que exclusivamente de águas correntes (Carvalho & Nessimian 1998) e possivelmente encontram-se distribuídos localmente de acordo com algumas características bióticas e abióticas. O escopo do presente estudo foi determinar se existe seleção de habitat em larvas de Progomphus sp. no igarapé da Dimona, Manaus, AM. Para tal, testamos os efeitos da correnteza, da profundidade e do tipo de substrato na distribuição das larvas desta espécie, pois estas poderiam ser mais abundantes quanto menor a correnteza e a profundidade, fatores estes que influenciam o tipo de substrato. Material e Métodos O estudo foi realizado num igarapé de segunda ordem da Fazenda Dimona (02o20’19’’S e 60o06’09’’W), localizado no município de Manaus, Amazonas, em julho de 2002. O curso d’água em questão faz parte da bacia de drenagem do rio Cuieiras, e situa-se em um corredor entre fragmentos florestais. As coletas foram realizadas em 41 pontos ao longo de um trecho de 200 m no igarapé. Amostramos três tipos de substratos (areia, areia com folhiço e areia com sedimentos) com o auxílio de uma peneira plástica (18 cm de diâmetro e malha de 1 mm). Resultados A profundidade do igarapé estudado variou entre 4,7 e 60 cm e a correnteza superficial entre 0 a 0,5 m/s. Foram coletadas 41 larvas de Progomphus sp. nos três tipos de ambiente: oito na areia, 15 na areia com folhiço e 18 na areia com sedimento. A abundância de larvas foi diferente para os três microhabitats (F = 4,719; gl = 2; p = 0,015) (Fig. 1). As larvas foram menos abundantes na areia em relação aos outros ambientes (F = 7,615; gl = 1; p = 0,009), sendo que a probabilidade de ocorrência de larvas de Progomphus sp. foi três vezes maior nos locais onde ocorre o sedimento ou folhiço do que na areia. No entanto, não houve diferença na abundância de larvas entre os locais com sedimento e com folhiço (F = 2,307; gl = 1; p = 0,137). 2,8 N=18 Indivíduos/Amostras 2,4 2,0 N=14 1,6 1,2 0,8 N=9 0,4 0,0 Areia Areia+folhiço Areia+sedimento Tipo de Substrato Fig. 1. Abundância de larvas de Progomphus sp. em função do tipo de substrato em um trecho de igarapé da fazenda Dimona, Manaus, AM. Os pontos representam as médias e as barras o erro padrão da média. Foi ainda observado que a presença de larvas diminuiu consideravelmente com o aumento da velocidade da corrente (x2 = 4,295; gl = 1; p = 0,028) (Fig. 2), assim como em relação à profundidade da água (x2 = 11,78; gl = 1; p < 0,001) (Fig. 3). N=2 Proporção de amostras com Progomphus sp. 1,0 N=16 0,8 0,6 N=12 N=10 0,2 N=1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,8 N=8 0,6 N=19 0,4 0,2 N=2 N=1 0,0 00 1 10 2 20 3 30 4 40 5 50 6 60 Profundidade(cm) (cm) Profundidade Fig. 3. Proporção de amostras com presença de Progomphus sp. de acordo com a profundidade em um trecho de igarapé da fazenda Dimona, Manaus, AM. Os pontos representam as médias e as barras o erro padrão da média. Discussão Em ambientes lóticos, diversos fatores atuam na morfologia e composição do substrato, entre eles, a correnteza e a profundidade. Segundo Whitton (1975 apud Kikuchi & Uieda 1998), a velocidade da corrente pode agir sobre a natureza do substrato e, deste modo, atuar indiretamente sobre a composição das comunidades de macroinvertebrados. Além disso, a disponibilidade de alimento pode controlar a ocorrência e abundância de espécies, as quais estão presentes em locais com maior disponibilidade de alimento (Hynes 1970 apud Kikuchi & Uieda 1998). Em sistemas lóticos, a dinâmica da corrente determina a deposição do substrato, como areias mais grossas nas áreas de maior correnteza e deposição de folhas e sedimento fino em áreas de baixa velocidade. O acúmulo de matéria orgânica nesses locais permite que outros invertebrados, de hábitos fragmentadores e detritívoros, se estabeleçam nestes locais. Walker (1987 apud Cleto Filho & Walker 2000) estudou a colonização de serrapilheira submersa em cursos d’água de terra firme na Amazônia e observou que os substratos de folhas foram colonizadas rapidamente por macroinvertebrados bentônicos. Em outro trabalho, a mesma autora (Walker 1998) cita que larvas de Anisoptera são importantes predadores de Chironomidae na Amazônia central. Sabendo-se que larvas de Chironomidae são presas potenciais para as larvas de Progomphus sp. e estão presentes em áreas com acúmulo de matéria orgânica no substrato (folhiço, sedimento, etc.), podemos concluir que tal fator pode ser fundamental para seleção de um determinado microhabitat nesta espécie. Agradecimentos Ao Dr. Paulo De Marco Jr. pela orientação e apoio no desenvolvimento do trabalho, ao Dr. Jansen Zuanon pelas sugestões nas amostragens, ao Fernando Mendonça pelo auxílio na separação do material de coleta e aos colegas de curso pelos momentos de discussão e descontração. Referências Bibliográficas 0,4 0 N=11 1,0 Proporção de amostras com Progomphus sp. O mesmo coletor buscou padronizar cada amostragem controlando a mesma quantidade de material retirado pela peneira. Estimamos a profundidade com o auxílio de uma trena e a correnteza foi mensurada soltando-se uma laranja e cronometrando o intervalo de tempo necessário para que esta percorresse um espaço de um metro. Para ambas, obtiveram-se as médias de 3 medidas para cada ponto de amostragem. Após a coleta, as larvas foram identificadas e posteriormente devolvidas ao igarapé de origem. A relação entre a abundância relativa de Progomphus sp. e o tipo de substrato foi testada por meio de uma ANOVA de um fator e a ocorrência de larvas em função da profundidade e da correnteza por meio de regressão logística. 0,4 0,5 Correnteza (m/s) Fig. 2. Proporção de amostras com presença de Progomphus sp. de acordo com a correnteza em um trecho de igarapé da fazenda Dimona, Manaus, AM. Os pontos representam as médias e as barras o erro padrão da média. Allan, J.D. 1995. Streams ecology. Structure and function of running waters. Chapman & Hall, London, 388p. Borror, D.J. & DeLong, D.M. 1988. Introdução ao estudos dos insetos. Edgard Blücher, São Paulo, 653p. Cleto Filho, S.E.N. & Walker, I. 2000. Efeitos da ocupação urbana sobre a macrofauna de invertebrados aquáticos em um igarapé da cidade de Manaus/AM, Amazônia Central. Acta Amazonica, 31(1)69-89. De Marco Jr. P. & Latini, A.O. 1998. Estrutura de guildas e riqueza de espécies em uma comunidade de larvas de Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 11 Anisoptera (Odonata). (p.113-128). In: Nessimian, J.L. & Carvalho. E. A.L. (eds). Ecologia de insetos aquáticos. Série Oecologia Brasiliensis, vol. V. PPGE-UFRJ. Rio Janeiro. Carvalho, A.L. E. & Nessimian, J.L. 1998. Odonatas do Estado do Rio de Janeiro, Brasil: hábitats e hábitos de larvas. (p.113-128). In: Nessimian, J.L. & Carvalho. E. A.L. (eds). Ecologia de insetos aquáticos. Série Oecologia Brasiliensis, vol. V. PPGE-UFRJ. Rio Janeiro. Kikuchi, R.M. & Uieda, V. 1998. Composição da comunidade de invertebrados de um ambiente lótico e sua variação espacial e temporal.(p. 157-173). In: Nessimian, J.L. & Carvalho. E. A.L. (eds). Ecologia de insetos aquáticos. Série Oecologia Brasiliensis, vol. V. PPGE-UFRJ. Rio Janeiro. Merritt, R.W. & Cummins, K.W. 1984. An introdution to the aquatic insects of North America. 2 ed., Kendall/Hunt, Dubuque, 722p. Walker, I. 1998. Population dynamics of Chironomidae (Diptera) in the central amazonian blackwater river Tarumã-Mirim (Amazonas, Brasil).(p. 225-252). In: Nessimian, J.L. & Carvalho. E. A.L. (eds). Ecologia de insetos aquáticos. Série Oecologia Brasiliensis, vol. V. PPGE-UFRJ. Rio Janeiro. Orientador Paulo De Marco Jr Controle da estrutura de colônias de formigas Azteca alfari (Hymenoptera, Formicidae) pela mirmecófita Cecropia purpurascens (Cecropiacea) Elaine Maria Lucas Gonsales, Felipe Pimentel Lopes de Melo, Gustavo Quevedo Romero, Karl Mokross e Sunshine Menezes Introdução Os herbívoros podem afetar diretamente a aptidão das plantas por meio do consumo de folhas e sementes e indiretamente através de interações com polinizadores e dispersores de sementes. Como contra adaptação, as plantas desenvolveram uma variedade de defesas químicas e físicas contra herbívoros (Begon et al. 1990). Várias plantas tropicais evoluíram mutualismos com formigas, onde formigas especializadas produzem abrigo e/ou alimento para formigas que, por sua vez, combatem herbívoros (Hölldobler & Wilson 1990). Nas florestas neotropicais, espécies de plantas do gênero Cecropia freqüentemente abrigam formigas especializadas do gênero Azteca. Estas plantas fornecem abrigo (domáceas) e alimento (corpúsculos de Müller) para as formigas (Janzen 1973). Em troca, estes predadores ajudam a manter suas plantas hospedeiras livres de trepadeiras e a reduzir o ataque de insetos herbívoros (Janzen 1967 apud Janzen 1973). Segundo Fonseca (1999), o crescimento da colônia de formigas que vivem em domáceas é freqüentemente limitado pelo espaço disponível para nidificação. Este trabalho teve como objetivo avaliar usando correlação 1) quais características da planta Cecropia purpurascens afetam o tamanho das colônias de Azteca alfari, 2) se a taxa de herbivoria diminui em função do número de formigas e 3) como estas formigas estão organizadas das plantas. Material e Métodos O presente trabalho foi desenvolvido na capoeira margeando a estrada de acesso ao acampamento do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais da Fazenda Dimona (2º 20’ S; 60º 6’ W), Manaus (AM) em julho de 2002. Foram coletadas e medidas oito plantas sub-adultas de Cecropia purpurascens variando de 0,3 a 7 m de altura, sem ramificações laterais. Cada árvore foi cortada próximo ao chão e colocada sobre um lençol branco, onde foi aberta e as formigas operárias foram contadas e mortas para evitar recontagens. Altura total, número de entrenós (que são ocos), biomassa total de folhas, diâmetro a 10 cm do chão e percentual médio de área foliar removida (herbivoria) foram estimados para cada planta. A biomassa (peso fresco) de folhas foi medida logo após a coleta da planta usando um dinamômetro Pesola com capacidade de 600 g. A biomassa foi usada como um índice de atividade fotossintética possivelmente relacionada à quantidade de recurso 12 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 (corpúsculos müllerianos) disponíveis às formigas. Estas variáveis foram correlacionadas com o número de formigas por meio de regressão múltipla. Os caules de cada planta foram inspecionados para investigar como as formigas estão organizadas dentro da planta. Resultados As plantas amostradas variaram em altura de 0,33 a 6,82 m, o número de entrenós de 4 a 83 e a biomassa das folhas de 43 a 3510 g. De acordo com as análises de regressão múltipla, plantas maiores e com maior número de entrenós tiveram maior número de formigas (Fig. 1A, Tab. 1). Em contraste, não houve relação significativa entre biomassa das folhas das plantas e número de formigas (Fig. 1B, Tab. 1). Também, nenhuma relação positiva existiu entre diâmetro da base do tronco e número de formigas numa planta (Tab. 1). A porcentagem média da área foliar removida não correlacionou com o número de formigas (Fig. 2, t = 0,32; P = 0,760). Ovos e pupas da formiga A. alfari se localizaram no interior dos troncos, principalmente na parte superior dos entrenós, próximos aos nós. Acúmulos de material escuro em torno de 1 centímetro de diâmetro e 1 milímetro de espessura existiam nas paredes internas dos caules. Este material consistia de partes de formigas mortas (pernas, cápsulas cefálicas) e misturado em material amorfo que talvez represente fezes e outros dejetos em decomposição. Estes depósitos foram considerados como lixeiras onde as operárias depositam dejetos gerados pela colônia. Discussão Os resultados mostraram claramente que o tamanho de Cecropia purpurascens está estatisticamente relacionado ao tamanho da colônia de Azteca alfari, e que outras características da planta, como diâmetro do tronco e biomassa das folhas pareceram não afetar o tamanho destas colônias. Fonseca (1999) verificou que o espaço oferecido por várias espécies de plantas mirmecófitas correlacionou positivamente com o tamanho das colônias das formigas ocupantes. Além disso, assim como no presente estudo, Fonseca (1999) verificou que a maior parte das plantas desocupadas foram árvores jovens. A ausência de uma relação entre biomassa de folhas e número de formigas pode ser devido ao tamanho amostral reduzido. A falta de uma relação entre tamanho da colônia e dano foliar pode ter a mesma causa. Em Cecropia pachystachya na Bahia a taxa 2500 A) 2500 B) R2 = 0,5559 2000 No. de formigas 2000 No. de formigas R2 = 0,1216 1500 1000 1500 1000 500 500 0 0 0 200 400 600 800 0 1000 2000 3000 4000 Biomassa foliar (g) Altura da planta (cm) Fig. 1. Relação entre número de formigas e altura da planta (A), e biomassa foliar (B) Tab. 1. Analises de regressão múltipla entre variáveis independentes e o número de formigas A. alfari. Erro Padrão Teste t P Constante 176,17 0,14 0,897 Altura (m) 2,37 6,69 0,007 Biomassa (g) 0,29 0,65 0,508 Diâmetro da Base (mm) 238,34 -2,20 0,113 Segmentos (no.) 18,83 -3,82 0,032 % média da biomassa removida Efeito 30 2 R = 0,0168 25 20 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 2500 No. de formigas Fig. 2. Relação entre número de formigas A. alfari e dano foliar atribuída à hervbivoria em C. purpurascens Fig. 3. Vista transversal do tronco superior de Cecropia purpurascens mostrando os triquílios contendo corpúsculos müllerianos nas bases dos pecíolos, uma entrada ao entrenó oco usado como domácea pelas formigas e a sua localização dentro de um ninho de Azteca alfari. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 13 de herbivoria correlaciona negativamente com o tamanho das colônias de Azteca muelleri. (Rocha & Bergallo 1992). Na amostra do presente trabalho, a planta mais alta apresentava danos por pica-paus. Estas aves predam formigas e podem ter afetado o tamanho da colônia, interferido na análise de regressão. Junto às colônias de cada planta foram observadas várias lixeiras. Em geral, formigas tiram carcaças das presas e formigas mortas do espaço físico do ninho (Hölldobler & Wilson 1990). Parece que A. alfari está acumulando matéria orgânica no interior da planta. Estas lixeiras podem ser digestores que produzem e liberam amônia e CO2 e podem estar sendo absorvidos pela planta. Se isto for confirmado, será mais uma característica mutualística desta interação simbiótica entre plantas e formigas. Literatura Citada Begon, M., J. L. Harper e C. R. Touwsend. 1990. Ecology. Blackwell Scientific Publications, Boston. Hölldobler, B. e E. O. Wilson 1990. The ants. Belknap Press, Cambridge, Massachusetts. Janzen, D. H. 1967. Interaction of the bull’s-horn acacia (Acacia cornigera L.) with an ant inhabitant (Pseudomyrmex ferruginea F. Smith) in eastern Mexico. Univ. Kans. Sci. Bull. 47:315-558. Janzen, D. H. 1973. Dissolution of mutualism between Cecropia and its Azteca ants. Biotropica 5:15-28. Laurence, W. 2001. The hiper-diverse flora of the Central Amazon: an overview. Pages Pp. 47-53 In R. O. Bierregaard Jr., C. Gascon, T. E. Lovejoy e R. Mesquita. Lessons from Amazonia. The ecology and conservation of a fragmented forest. Yale Univ. Press, New Haven, Conn. Fonseca, C. R. 1999. Amazonian ant-plant interactions and the nesting space limitation hypotesis. J. Trop. Ecol. 15:807825. Rocha, C. F. D. and H. G. Bergallo. 1992. Bigger ant colonies reduce herbivory and herbivore residence time on leaves of an ant-plant: Azteca muelleri vs. Coelomera ruficornis on Cecropia pachystachya. Oecologia 91:249-252. Grupo 4 – Projeto de equipe 1 Elaine Maria Lucas Gonsales, Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, CP 05508900, São Paulo-SP, Brasil. Felipe Pimentel Lopes de Melo, Universidad Federal de Pernambuco Gustavo Quevedo Romero. Depto. de Zoologia, IB, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), CP 6109, CEP 13083-970 Karl Mokross, Departamento de Ecologia, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, CP: 478, 67899-000, Manaus-AM, Brasil. Sunshine Menezes, Departamento de Oceanografia, Universidade de Rhode Island, Narragansett, RI 02882 EUA Orientador Woody Benson Existe um “efeito tronco” para a comunidade de aranhas? Flávia Monteiro Coelho, Maria Cecilia Vega, Max Hidalgo, Renata Durães e Ricardo Machado Darigo Introdução Modificações nas condições ambientais influenciam os padrões de ocorrência e abundância de muitos organismos de vida curta nos trópicos (Vollrath 1986 apud Venticinque 1995). Muitos estudos têm demonstrado que a estrutura física do ambiente influencia a distribuição e diversidade de aranhas em diferentes habitats. Dentre outros fatores que influenciam a ocorrência e distruibuição dos grupos de aranhas estão a disponibilidade de presas, densidade de predadores e condições microclimáticas. Muitas aranhas constróem teias para a captura de presas que dependem freqüentemente de características estruturais do habitat (Riechert & Gillespie 1986, apud Uetz 1991). O tipo de substrato e a densidade de plantas suporte são de grande importância para o estabelecimento das teias, e podem ter influência marcante nas taxas de crescimento e mortalidade (Uetz 1991). Estas teias podem apresentar diferentes padrões estruturais, que geralmente não são alterados durante o desenvolvimento do indivíduo, podendo ser utilizados na identificação taxonômica de várias famílias ou gêneros (Eberhard 1990). A presença de troncos de árvores em habitats florestais pode favorecer o estabelecimento de teias disponibilizando diferentes microhabitats. Ao se comparar abundância de teias localizadas perto de troncos de árvores em pé (vivas), troncos caídos e solo sem troncos, uma primeira hipótese é de que troncos são importantes superfícies de fixação para as teias de vários grupos de aranhas tecedoras (Hipótese do suporte). Neste caso, esperase que haja mais teias perto de troncos (em pé ou caídos) do que no solo. Uma segunda hipótese é de que troncos de árvores caídas forneceriam um microhabitat mais úmido devido à 14 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 retenção da água e redução de ervapotranspiração (Hipótese da umidade). Neste caso, espera-se uma maior abundância de teias perto de troncos caídos em relação a troncos em pé ou chão. Uma terceira hipótese é de que a copa de árvores vivas fornecem proteção contra danos físicos como chuva e queda de galhos de outras árvores para as teias (Hipótese da proteção), esperandose que mais teias ocorram associadas com troncos em pé em relação a troncos caídos ou solo. Os objetivos do nosso estudo foram: (a) testar a existência de um “efeito tronco” para aranhas; (b) caso o “efeito tronco” seja detectado, avaliar qual(ais) dentre as três hipóteses (suporte, umidade e proteção) apresentadas poderiam ser responsáveis por este. A eliminação das três hipóteses indicaria que outros fatores (p. ex., predação, disponibilidade de presas), não avaliados, poderiam ser responsáveis por tal efeito. Material e Métodos Realizamos o presente trabalho na área da empresa Mil Madeireira Itacoatiara Ltda., no município de Itacoatiara (AM, 02o43’-03o04’ S e 58o31’-58o57’ W). O estudo foi conduzido em uma área de mata de terra firme onde foi empregado corte seletivo de madeira há seis anos. Utilizamos parcelas de 0,5 X 0,5 metros com altura de 30 cm estabelecidas em áreas de solo sem troncos, adjacentes a troncos caídos e troncos em pé observados a partir da estrada,. conforme percorríamos a área de manejo. Apenas troncos com no mínimo 30 cm de diâmetro foram incluídos no estudo. Para possibilitar a visualização das teias, polvilhamos amido de milho sobre as parcelas. Identificamos então as teias ao menor nível taxonômico possível e as contamos. Posteriormente, dividimos as parcelas contendo troncos em duas subparcelas de 0,5 X 0,25 e altura 30 cm, uma localizada mais perto do tronco (PT) e outra mais distante (DT). As teias foram contadas separadamente em cada uma destas subparcelas. Este procedimento foi tomado para se avaliar mais detalhadamente a hipótese suporte, uma vez que, se esta hipótese for correta, espera-se maior abundância de teias nas parcelas mais próximas do tronco. Também observamos as teias encostadas nos troncos nas parcelas perto do tronco (PT) para determinarmos em quais dos grupos taxonômicos o fator suporte determina ou não a existência do “efeito tronco”. Testamos as diferenças em abundância de teias em cada um dos três habitats para os grupos taxonômicos identificados, e também para cada um dos grupos mais abundantes, separadamente. Posteriormente, testamos diferenças na abundância de teias nas subparcelas próximas e distantes de troncos, e ainda para aquelas encostadas nos troncos. Para tanto, utilizamos testes de Qui-quadrado, pois como as variáveis são de contagem, avaliamos que refletem melhor a ocorrência do que propriamente uma quantificação. Além disso, este é um teste adequado e poderoso para comparação de freqüências observadas e esperadas (Zar 1984; Williams 1993). Tab. 1. Abundância de teias de aranhas e ocorrência (em parênteses) registradas em parcelas de solo sem troncos, com troncos em pé ou troncos caídos em uma área de mata de terra firme próxima a Manaus, em julho/2002. Grupo Parcelas Taxonômico Solo Total Troncos em pé Troncos caídos Anapidae 37 (20) 88 (29) 74 (34) 199 Linyphidae 22 (15) 52 (27) 40 (15) 114 097 Mysmena sp. 23 (10) 35 (18) 39 (15) Theridiosomatidae 17 (10) 32 (12) 40 (18) 089 Pholcidae 09 (06) 44 (16) 31 (10) 084 Olgunius sp. 24 (16) 24 (16) 35 (18) 083 Theridiidae 21 (10) 30 (10) 09 (05) 060 Micrathena sp. 04 (04) 07 (05) 06 (04) 017 Chrysometa sp. 04 (02) 06 (04) 04 (03) 014 Sp 2 00 (00) 02 (01) 06 (03) 008 Dipluridae 00 (00) 04 (02) 02 (02) 006 Spilasma sp. 04 (04) 02 (01) 00 (00) 006 Uloborus sp. 03 (03) 01 (01) 01 (01) 005 Sp 1 00 (00) 01 (01) 03 (00) 004 Eustala sp. 00 (00) 01 (01) 00 (00) 001 Cyclosa sp. 00 (00) 04 (04) 00 (00) 001 Ctenydae 00 (00) 01 (01) 00 (00) 001 168 334 290 792 Total Resultados Amostramos 50 parcelas de solo, 51 de troncos em pé e 47 de troncos caídos, onde encontramos um total de 792 teias pertencentes a 18 grupos taxonômicos diferentes (Tab. 1). Os grupos mais abundantes foram Anapidae, Linyphiidae, Mysmena sp., Theridiosomatidae, Pholcidae e Olgunius sp. Considerando a abundância total de teias, encontramos que as parcelas com troncos em pé (N=334) e caídos (N=290) apresentaram mais teias que parcelas de solo (N=168) (Ç2 = 56.6, gl = 2, p < 0.001, N = 792), indicando a existência de um “efeito tronco”. Entretanto, não verificamos diferença entre os habitats de tronco caído e em pé (Ç2 = 0.552, gl = 1, p > 0.05, N = 624). Ao testarmos o “efeito tronco” para os grupos mais abundantes separadamente, observamos um maior número de teias em parcelas com troncos para Anapidae, Linyphiidae, Theridiosomatidae e Pholcidae, mas não para Mysmena sp. e Olgunius sp. (Tab. 2). Para nenhum dos quatro grupos que mostraram “efeito tronco” houve diferença em abundância entre parcelas com troncos em pé e troncos deitados (Tab. 3). A abundância de teias não diferiu entre subparcelas mais próximas ou mais distantes dos troncos quando todos os grupos taxonômicos foram considerados (÷2 = 3.45, gl = 1, p > 0.05). Dentre os seis grupos mais abundantes, apenas para Lyniphidae e Pholcidae esta diferença foi significativa (Tab. 4). Ocorreram mais teias de Lyniphidae na parcela mais distante do tronco (PT: N = 22; DT: N = 39), enquanto mais teias de Pholcidae foram registradas na parcela adjacente ao tronco (PT: N = 33; DT: N = 9). Quando analisamos a abundância de teias encostadas nos troncos, verificamos que para determinados grupos existe um número diferente de indivíduos nesse espaço que o esperado. Isso foi significativo tanto para os grupos Mysmena sp e Pholcidae, que apresentaram um maior número de indivíduos que o esperado, como para Dipluridae e Chrysometa sp., que apresentaram um menor. Entretanto o número de amostras para os dois últimos grupos foi muito baixo, o que não nos permite considerá-las separadamente. Tab. 2. Comparação entre abundância de teias para os grupos taxonômicos mais abundantes de aranhas entre parcelas sem tronco, com troncos em pé ou troncos caídos. N χ21 P Anapidae 199 20.9 <0.001 Linyphiidae <0.01 Grupo Taxonômico 114 11.6 Mysmena sp. 97 5.2 >0.05 Theridiosomatidae 89 10.6 <0.01 Pholcidae 84 21.8 <0.001 Olgunius sp. 83 4.2 >0.05 Tab. 3. Comparação entre abundância de teias para quatro grupos taxonômicos de aranhas apresentando “efeito tronco”, entre parcelas com troncos em pé ou troncos caídos. Grupo Taxonômico Anapidae N χ21 P 162 1.5 >0.05 Lyniphiidae 92 1.8 >0.05 Theridiosomatidae 72 1.7 >0.05 Pholcidae 75 1.3 >0.05 Tab. 4. Comparação entre abundância de teias entre subparcelas mais próximas ou mais distantes de troncos para os grupos taxonômicos de aranhas mais abundantes. Grupo Taxonômico N χ2 P Anapidae 72 3,5 >0.05 Linyphiidae 61 4,7 <0.05 Mysmena sp. 36 0,0 >0.05 Theridiosomatidae 36 1,0 >0.05 Pholcidae 42 13,7 <0.05 Olgunius sp. 32 1,1 >0.05 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 15 Tab. 5. Comparação entre abundância de teias encostadas nos troncos para os grupos taxonômicos de aranhas em parcelas com troncos em pé ou troncos caídos. Grupo Taxonômico N χ2 p Mysmena sp. 19 12,8 < 0,01 Pholcidae 19 12,8 < 0,01 Anapidae 14 3,5 > 0,05 Theridiosomatidae 11 0,7 > 0,05 Linyphidae 10 1,1 > 0,05 Olgunius sp. 10 1,1 > 0,05 Theridiidae 08 0,0 > 0,05 Dipluridae 02 5,0 < 0,05 Chrysometa sp. 01 6,7 < 0,01 Total dos grupos 94 23,8 < 0,01 Discussão Nossos resultados mostraram a presença de um “efeito tronco” no estabelecimento de teias por aranhas, sobretudo para os grupos Anapidae, Linyphidae, Theridiosomatidae e Pholcidae. Toppa et al. (1998) encontraram mais teias de Mysmena sp. e Chrysometa sp. perto de troncos deitados, suportando também a idéia de que existe um “efeito tronco” no estabelecimento de teias de aranhas tecedoras. Por outro lado, nesse estudo, esses grupos não apresentaram um “efeito tronco”. As observações feitas indicam que aranhas selecionam sítios com troncos para a construção de teias, e os resultados corroboram a hipótese de que o fator suporte seja importante para a ocorrência dos grupos taxonômicos. Como não encontramos diferenças entre troncos caídos e em pé podemos considerar que também não deve existir um efeito da umidade e da proteção contra danos. Caso a umidade fosse importante esperaríamos que troncos caídos apresentassem um maior número de teias por grupo taxonômico. E se a proteção contra danos fosse importante os troncos em pé apresentariamm um maior número de teias por grupo taxonômico, devido ao fato de que a copa dessas árvores reduziriam o impacto da chuva e queda de galhos, por exemplo. De acordo com os resultados das subparcelas pudemos verificar que para Pholcidae o suporte é um fator importante, visto que a maioria das teias desse grupo localizaram-se nos 25cm próximos do tronco. Teias de Lyniphidae foram registradas nas subparcelas mais distantes do tronco, o que deve estar relacionado com a estrutura plana horizontal. Para as demais espécies, outros fatores devem estar influenciando a distribuição. Neste estudo, as três hipóteses levantadas foram avaliadas indiretamente. Deste modo, é importante considerar que a preferência de aranhas por sítios com troncos possa se dever a outros fatores não avaliados, como disponibilidade de presas, susceptibilidade à predação e/ou, outros fatores relacionados com o microhabitat. É possível, por exemplo, que troncos forneçam um ambiente sombreado que dificultaria a visualização das teias por presas ou predadores. De acordo com a análise sobre os grupos que têm maior tendência a fixarem suas teias aos troncos das árvores podemos verificar que os indivíduos de Pholcidae devem apresentar um forte “efeito tronco,” uma vez que a necessidade de suportes adequados é suprida junto aos troncos. Já Mysmena sp., apesar de não mostrar o mesmo efeito, quando ocorrem próximos aos troncos, têm grande tendência a encostarem suas teias, por outros motivos que não suporte. Concluímos que o “efeito tronco” é variável entre grupos taxonômicos de aranhas. Enquanto uma grande parte deles parece apresentar preferência por sítios perto de troncos, este não é um padrão geral. Mais importante, as causas pelas quais aranhas podem selecionar sítios perto de troncos para o estabelecimento de teias também parecem variar entre grupos. Assim, diferentes espécies podem responder diferentemente à presença e natureza de troncos, dependendo, por exemplo, da forma e arranjo de suas teias, tipo de presas consumidas e estratégias de forrageamento e fuga de predadores. Referências Bibliográficas Eberhard W. G. 1990. Function and Phylogeny of Spider Webs. Annual Review of Ecology and Systematics, 21: 341-372. Toppa, R. H.; Pacheco, S; Castilho, C. V.; Sá, F. N. e Sawaya, R. J. 1998. Os troncos caídos afetam a presença de aranhas tecedoras de teias do sub-bosque? Pp 33-34. In: Scariot, A. e E. Venticinque. Ecologia da Floresta Amazônica. Uetz,G.W. 1991. Habitat structure and spider foraging Pp.325-348. In: Bell, S.S., E.D. McCoy and H.R. Muchinsky (eds.) Habitat structure: The physical arrangement of objects in space. Champman and Hall. London. Venticinque, E. M. 1995. Dinâmica populacional de Anelosimus eximius (Simom, 1891) (Aranae: Theridiidae) em mozáicos ambientais na Amazônia central. Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista do campus de Botucatu. Um estudo da distribuição espacial, deslocamento individual e atividade diária da borboleta Heliconius erato (Nymphalidae, Heliconiinae) Ludmila Pugliese de Siqueira, Maria Luisa Jorge, Verónica Cepeda, Adam Kaveh Bahrami, Marcio Uehara-Prado Introdução O gênero Heliconius (Heliconiinae, Nymphalidae), com cerca de 45 espécies, se distribui do México à Argentina. As lagartas se alimentam de folhas de Passifloraceae e as borboletas adultas, de néctar e pólen. As fêmeas utilizam aminoácidos obtidos de pólen na produção de ovos. Os adultos ocorrem em habitats florestais e voam ao longo de suas bordas, trilhas e clareiras. Estes podem sobreviver durante vários meses utilizando em uma área de vida com algumas 16 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 centenas de metros de diâmetro. Indivíduos de Heliconius erato espécie possuem área de vida inferior a 500 m de diâmetro e formam agregações permanentes de oito a dez indivíduos para dormir, denominadas dormitórios. O vôo é lento e conspícuo, tornando altamente visível sua vistosa coloração (DeVries 1983). A coloração conspícua e distintiva está relacionada com sua impalatabilidade, que aparentemente resulta da acumulação de glicosídeos cianogênicos presentes nas plantas das quais se alimentam. Em vários casos, espécies não palatáveis convergem para un mesmo padrão de coloração (mimetismo Mülleriano), tornando-o mais facilmente reconhecível pelo predador (Futuyma 1986, Begon et al. 1990). Heliconius erato é uma das espécies mais comum do gênero. Apresenta diversas sub-espécies geográficas que variam fortemente em padrão de coloração. As asas apresentam manchas ou bandas que podem ser vermelhas, amarelas ou ambas, em um fundo preto. Nos locais onde diferentes sub-espécies se encontram formam-se zonas de hibridização. A região de Itacoatiara (AM) é uma zona de hibridização entre as subespécies H. erato hydara (que se estende a leste, nas regiões de várzea do Baixo Amazonas e que apresenta uma banda transversal pós-medial vermelha em cada asa anterior) e H. erato amalfreda (grupo típico das florestas de interior da região ao norte de Manaus e que possui manchas amarelas pequenas na região pós-medial da asa anterior e uma faixa longitudinal vermelha na parte basal da asa). Em nosso estudo, investigamos padrões de atividade diária e distribuição espacial de uma população dessa espécie, com o intuito de inferir fatores que podem afetar orçamento de atividades e padrão de distribuição espacial ao longo de um transecto de aproximadamente 1,7 Km. entre 33 e 45 mm e não diferiu significativamente entre machos e fêmeas (t = 0.597, P > 0.5, gl = 18 n=20). Estimamos o deslocamento dos indivíduos a partir da distância linear na estrada. Calculamos a área de atividade de todos os indivíduos observados pelo menos duas vezes nos dois dias de estudo. A distância máxima de deslocamento observada por indivíduo variou entre três e 177 m para as fêmeas e seis a 145 m para os machos (Tab. 2). A distribuição temporal de atividades (orçamento de tempo) apresentou um padrão evidente. No início da manhã, antes de iniciarmos as observações padronizadas, borboletas foram vistas pousadas em folhas ensolaradas, com asas abertas, aparentemente termoregulando. Entre oito e dez da manhã, os animais estavam principalmente voando e buscando alimentos (Fig. 1). Nesse período, observamos borboletas se alimentando de flores de Spermacoce acimifolia (Rubiaceae) e Gurania bignoniaceae (Cucurbitaceae). Entre dez e 12 horas, houve uma diminuição do tempo dispendido alimentando-se. Só observamos fêmeas em busca de plantas hospedeira entre dez e doze horas. Depois das doze horas os indivíduos observados permaneceram a maior parte do tempo pousados na face adaxial das folhas, escondidas na vegetação, a menos de dois metros de altura. Material e Métodos Tab. 1. Dados gerais sobre indivíduos de Heliconius erato capturados durante os dias 12 e 13 de julho de 2002 na área da Madereira Mil, Itaquatiara, AM. Resultados Nos dois dias de estudo capturamos 22 indivíduos de H. erato, sendo 14 machos e 8 fêmeas (Tab. 1). Apesar do excesso de machos na amostra a razão sexual não foi significativamente de 1:1 (c2 = 1,64, P < 0.5, gl = 1). A maioria dos indivíduos foram das classes de desgaste B e C (nova e intermediária, respectivamente) e não encontramos nenhum indivíduo nas categorias recém-emergida (A) e muito velha (E). Das 22 borboletas, cinco possuiam fenótipos com maior expressão de genes característicos da sub-espécie hydara e 17 com mais genes da sub-espécies amalfreda. Nenhuma borboleta apresentava um fenótipo hydara “puro”. O comprimento da asa anterior variou No. de indivíduos Tamanho médio da asa (X ± DP) Recém-emergida Nova Idade Intermediária Velha muito velha amalfreda Fenótipo hydara Macho 14 Fêmea 8 Total 22 38,4 ± 3,04 0 9 6 0 0 11 3 39,2 ± 2,80 0 4 1 2 0 6 2 38,7 ± 2,91 0 13 7 2 0 17 5 Tab. 2. Deslocamento de indivíduos marcados de Heliconius erato capturados durante os dias 12 e 13 de julho de 2002 na área da Madereira Mil, Itaquatiara, AM. Código de indivíduo Sex o1 Fenótip o2 No de observações 2 3 4 Rosinha 5 MA Q GPS 6 Glória 1 Xis 2L Normal 3L Paralela F M M M F F F M M F A A H A A A H H A H 4 2 5 3 2 3 4 4 3 3 Amplitudo de deslocamento3 2o Máximo 1o Dia Dia 3 • 3 6 • 6 10 • 10 • 66 66 • • 122 • 50 177 * 54 54 120 50 145 86 • 86 • 165 165 1 – F = Fêmea, M = Macho 2 – A = amalfreda, H = hydara 3 – Deslocamento máximo dentro de um dia, ou entre os dois dias (* = indivíduo observado mais de uma vez no mesmo local; · = apenas uma observação). n=7 T=20,10 n=13 T=72,55 8:00-10:00 10:00-12:00 n=2 T=15,05 n=4 T=133,20 12:00-14:00 14:00-16:00 100% 90% Orçamento de Atividade Realizamos nosso estudo na região de extração de madeira da Empresa Madeireira Mil Ltda, que se localiza no município da Itacoatiara, AM, na altura do Km 227 da rodovia AM-010 (Manaus-Itacoatiara). Nosso transecto se localizava na borda de uma estrada permanente do compartimento B, onde houve extração seletiva de madeira há seis anos. O transecto estudado apresento 1,66 Km de extensão. Capturamos quase todos os indivíduos avistados na borda da estrada, com a ajuda de uma rede entomológica, durante os dias 12 (0830 - 1600) e 13 (0900 - 1200) de julho de 2002. Para cada indivíduo capturado, identificamos sexo (pela observação da parte distal do abdômen) medimos o comprimento da asa (medindo com uma régua a distância entre a inserção da asa anterior e sua parte mais distal), registramos o padrão de cor da asa (para identificar as duas sub-espécies), o local e a hora. Como estimativa da idade dos indivíduos, usamos um índice subjetivo de desgaste alar, com a condição da asa expressa em cinco categorias, variando de A (recém-emergida) a E (muito velha) (modificado de Brown 1981). Finalmente, marcamos a borboleta com tinta acrílica ou caneta de retro-projetor (para ser visível a alguns metros de distância, visando evitar recapturas desnecessárias que poderiam interferir no comportamento) e soltamos no local da captura. Pontos de captura e recaptura foram mapeados com ajuda de GPS (sistema de posicionamento global) e fitas coloridas coloridas de posição conhecida. Percorremos a borda da mata diversas vezes ao longo dos períodos de observação a fim de localizar indivíduos marcados. Para cada indivíduo marcado que era localizado, registramos dados de comportamento e atividade até que esse entrasse novamente na mata. 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Horário Fig. 1. Proporção de tempo dispendido por tipo de atividade das atividades de Heliconius erato ao longo do dia (branco: parada; cinza: voando; preto: procurando alimento ou se alimentando; hachurado: voando próximo a planta hospedeira; T=tempo total em minutos). Indivíduos capturados durante os dias 12 e 13 de julho de 2002 na área da Madereira Mil, Itaquatiara, AM. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 17 Discussão Estudos de campo com populações de borboleta apresentam razão sexual desviada para machos. No entanto, populações criadas em laboratório não apresentam tal desvio (W. Benson com. pess.). Especula-se que isto se deva a uma série de razões, como mortalidade diferencial de fêmeas ou diferença de capturabilidade. Em nosso estudo, não encontramos um excesso significativo de machos. Isso pode significar que os efeitos acima citados não ocorrem nesta população. No entanto devemos interpretar os resultados com cautela uma vez que temos um pequeno tamanho amostral (n=22). Quanto ao deslocamento, também não encontramos diferenças entre os sexos. Machos e fêmeas mostraram deslocamentos máximos entre 150 e 200m. Esses valores concordam com resultados encontrados em outros estudos (W. Benson com. pess.), a despeito do pequeno número de recapturas e do fato de que as borboletas passaram a maior parte do tempo no interior da mata, onde não foi possível seguí-las. A presença de borboletas depende da ocorrência de locais adequados para oviposição e disponibilidade de alimento. Embora os indivíduos de H. erato tenham se distribuído em locais contendo ambos os recursos, nossa amostragem teve apenas uma dimensão (a estrada) e os recursos de H. erato podem ocorrer em diferentes proporções no interior da mata, fator que não quantificamos e que poderia modificar o padrão que encontramos. O aumento de temperatura a partir das doze horas, o esgotamento de recursos florais e possibilidade de fêmeas receptivas já terem acasalado podem ter contribuído para que as borboletas diminuíssem sua atividade no período da tarde. No entanto, indivíduos de H. erato se mantêm ativos durante a tarde no sudeste brasileiro (Uehara-Prado com. pess.). Por conseguinte, acreditamos que este padrão seja restrito a subespécies amazônicas, que enfrentam um estresse térmico mais acentuado. O registro de maior número de indivíduos no período da manhã pode ter sido decorrente da nossa metodologia de amostragem, que consistiu em observar a borboleta até que esta não estivesse mais à vista. Assim, pela manhã, os animais estavam mais ativos e entravam na mata mais rapidamente, quando reiniciávamos as buscas por outros indivíduos. À tarde, as poucas borboletas observadas permaneceram por muito tempo paradas, e acabamos por amostrar menos indivíduos. Acreditamos que neste caso, teria sido mais apropriado delimitar um tempo fixo para a coleta de dados das atividades. Nossos resultados demonstraram que machos e fêmeas se deslocam a distâncias semelhantes ao longo das margens da estrada na área de estudo. Ainda, capturamos borboletas quase exclusivamente em três áreas distintas, separadas por distâncias de no mínimo 400m. Estes resultados sugerem que H. erato pode apresentar populações semi-isoladas, que manifestam sinais de deriva genética. Agradecimentos Agradecemos ao Dr. W. W. Benson pela orientação e ao Paulo de Marco pelo empréstimo do computador. Referências Bibliográficas Begon, M., J. L. Harper e C.L. Townsend. 1990. Ecology: Individuals, Populations and Communities. 2a. ed. Blackwell Scientific Publications. Massachusetts, 945p. Brown, K. S. 1981. The biology of Heliconius and related genera. Annual Review of Entomology. 26:427-456. Futuyma, D. 1986. Evolutionary Biology. Sinauer Associates. Massachusetts, 600p. DeVries, P.J. 1983. Heliconius hecale (Hecale) Pp. 730-731 in Janzen, D.H. Costa Rican Natural History. University of Chicago Press, Chicago. 816 p. Orientação Woody Benson Biomassa de madeira morta em áreas de floresta preservada e com extração seletiva Amazônia Central Ana Maria Pes, Daniel R. Scheibler, Jean C. Santos, Leandro M. Sousa & Lily Arias Introdução A floresta amazônica tem passado por um crescente processo de alteração em função da ação antrópica. Estudos recentes do INPE indicam que 15% da floresta amazônica já foi desmatada (www.inpe.gov.br). Uma das alternativas para diminuir o impacto sobre este ecossistema é o manejo sustentável, como a extração seletiva de madeira; porém, ainda há muita controvérsia sobre os reais impactos deste tipo de exploração (Chambers et al. 2001). Fatores abióticos e processos biológicos e ecológicos da floresta, como entrada de luz, temperatura, vento, composição florística e faunística, biomassa e taxas de mortalidade poderiam ser alteradas pela extração seletiva (David Clark comunicação pessoal). As alterações decorrentes da retirada de madeira da floresta permanente representa uma alteração ambiental brusca para muitas espécies, impossibilitando e dificultando os processos de adaptação às novas condições e resultando eventualmente em maiores taxas de mortalidade para certas espécies. O objetivo deste estudo foi comparar uma parcela de floresta com extração seletiva de madeira com uma área não alterada quanto à biomassa de madeira morta, segundo a hipótese de 18 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 que na área de extração seletiva, devido à maior mortalidade de plantas, ocorresse uma maior biomassa de madeira morta, tanto em pé quanto no chão. Material e Métodos A área de estudo localiza-se na Mil Madereira, Itacoatiara, AM, uma área cujo plano de manejo prevê a extração seletiva de madeira, que ocorre em parcelas fixas. Inicialmente foi estabelecido três transectos em cada uma das seguintes áreas: floresta com extração seletiva de madeira ocorrida há 6 anos e floresta em área de preservação permanente. Foram estabelecidos transectos de 100 m, dispostos perpendicularmente em relação às estradas usadas para o transporte de madeira. Os transectos foram distanciados em 100 m entre si, e para minimizar o efeito de borda, os mesmos iniciavam-se sempre a uma distância de 50 m a partir da estrada. Para avaliar a biomassa de madeira morta, calculou-se a área basal de troncos mortos para duas situações. Na primeira, mediuse apenas o diâmetro da madeira morta no chão com diâmetro igual ou superior a 10 cm e que atravessava os primeiros e os últimos 30 m da linha do transecto. Na segunda, mediu-se todos os troncos mortos em pé e com DAP igual ou superior a 10 cm que estavam localizados até 5 m de cada lado da linha do transecto de 100 m. Para as análises dos dados obtidos, utilizou-se teste “t” para comparar as médias de madeira morta caída e em pé entre as áreas. Resultados Na área de preservação permanente, encontrou-se uma área basal de madeira morta caída maior do que na reserva com extração de madeira (teste t = 2,405; gl = 28; p = 0,023; Fig. 1). Com relação à madeira morta em pé, não houve diferença da área basal entre área manejada e de preservação. (teste t = 1,035; gl = 8; p = 0,331; Fig. 1). Além disso, observamos que na área preservada ocorreu um número maior de troncos caídos nas classes superiores de DAP (Fig. 1). 440 A) 6 60 B) 550 AREABASAL2 área basal (m 2) AREABASAL 330 220 40 4 3 30 Agradecimentos 2 20 Ao Dr. David Clark e Dr. Mike Hopkins pela orientação; ao Dr. Jansen Zuanon pela discussão e ajuda na elaboração do texto. Agradecemos também ao famoso Juruna, pela ajuda no campo. 1 10 1 10 0 0 preservada manejado preservado manejada Fearnside (1989) comenta que, devido à lenta recuperação do equilíbrio natural, as perturbações leves ou medianas podem fazer com que estudos posteriores não demonstrem resultados válidos sobre os efeitos de manejo; então não é surpresa que não tenhamos conseguido resultados muito claros, pois alguns fatores podem ter interferido em nossos resultados, produzindo o padrão inverso ao esperado. O método utilizado para a quantificação da madeira morta na floresta não distinguiu troncos de galhos, o que pode ter interferido nos nossos resultados. Outra possibilidade a ser considerada é que os efeitos do corte seletivo de madeira sejam bastantes localizados; neste caso, a não coincidência de nossos transectos com os locais específicos de extração poderiam ter produzido o padrão dos resultados. Para melhor avaliar o impacto de extração seletiva de madeira deveriase ampliar o número de amostras em diferentes áreas de preservação e manejo. Deste modo, concluímos que a extração seletiva de madeira parece interferir pouco na mortalidade das árvores remanescentes na área de manejo, pois não foram observadas diferenças entre as duas áreas. Por outro lado, talvez as alterações sejam muito sutis, afetando algumas espécies a longo prazo. manejado preservada manejada preservado Fig. 1. Área basal de madeira morta caída (A) e em pé (B) em área de extração seletiva (manejada) e reserva permanente (preservada) na Madeireira Mil, Itacoatiara, AM, em julho de 2002. Discussão Os resultados obtidos no presente estudo indicam um padrão inverso ao esperado para madeira morta caída, com maior acúmulo de troncos e galhos na área preservada. Tal fato pode ser em parte explicado pela retirada das árvores mais velhas e maiores pela extração seletiva, resultando em uma menor ocorrência de troncos grandes caídos. A ocorrência de troncos caídos de maior diâmetro na área de preservação parece ser um indicativo a favor desta hipótese. Referências Bibliograficas Chambers, J.Q.; Eldik, T.V.; Southon, J. & Higuchi, N. 2001. Tree age Structure in Tropical Forest of Central Amazônia. p.68-78. In: Bierregaard, R. O. Jr.; Gascon, C.; Lovejoy, T. E. & Mesquita R. (Eds.). Leassons from Amazônia: The ecology and conservation of a fragmented forest. Yale University Press. London. 478 p. Fearnside, F.M. 1989. Manejo Florestal na Amazônia necessidade de novos critérios na avaliação de opções de desenvolvimento. p. 49-59. Pará Desenvolvimento, 25. jan/dez. 1989. Orientadores Dr. David Clark & Dr. Mike Hopkins Danos e mortalidade em árvores em floresta manejada e nãomanejadas na Amazônia Central Sunshine Menezes, Felipe Pimentel, Karl Mokross, Gustavo Quevedo Romero, Elaine Maria Lucas Gonsales Introdução Discussões sobre biodiversidade, conservação ou desmatamento nas florestas tropicais, invariavelmente envolvem a Amazônia. A extração de madeira é uma atividade que vem crescendo nos últimos anos em larga escala nessa região (Higuchi 2002), e tem causado diversos impactos na estrutura física da floresta, como maior abertura do dossel, compactação do solo e danos em árvores remanescentes (Guilherme 1999), assim como alterações na composição florística do recrutamento (Laurance et al. 1998). Alterações causadas na estrutura física da floresta pela extração de madeira resultam numa maior abertura do dossel, decorrente não só da extração em si mas também pelos danos às copas de árvores vizinhas às que foram derrubadas. A disponibilidade de habitats para espécies vegetais pioneiras recebe um considerado incremento devido ao maior número de clareiras resultantes da queda das árvores (Guilherme 1999). Este trabalho teve como propósito comparar a quantidade de danos em copas e mortalidade de árvores entre uma área submetida a extração seletiva de madeira e uma área intacta na Amazônia Central Material e Métodos O presente trabalho foi desenvolvido na propriedade da Madeireira Itacoatira Ltda município de Itacotiara – AM, localizada entre os paralelos de 02°42‘ e 03°04‘S e os meridianos 58°31‘ e 58°57‘O (Mmil 1994), em julho de 2002. A vegetação é de Floresta tropical úmida de terra firme e a temperatura média anual é de 26º C com precipitação média anual de 2206 mm (Mmil 1994). A madeireira Mil executa um plano de extração de madeiras certificado visando minimizar os impactos sobre a Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 19 floresta. O estudo foi realizado em uma área de preservação absoluta (controle) e uma área que foi submetida à extração de madeira em 1996. Nas áreas de estudo, foram amostradas 8 parcelas, quatro na área de preservação e quatro na área explorada. Cada parcela medindo 50m de comprimento por 10m de largura foi estabelecida perpendicularmente à estrada usada para extração de madeira a uma distância de aproximadamente 40 m da mesma. Cerca de 200m separavam cada parcela. Todas as árvores acima de 10cm de diâmetro tiveram seu diâmetro a 1,30m de altura medidos e os danos às suas copas classificados em 5 categorias subjetivas: sem copa (1), com dano (2), sem dano (3), mortas em pé (4) e mortas no chão (5). As árvores mortas no chão foram amostradas tomando-se o diâmetro no ponto onde o troco cruzava a linha longitudinal que separava as parcelas em duas metades medindo 5 m x 50 m. A porcentagem média de abertura do dossel foi estimado com auxílio de densiômetro esférico em 6 posições eqüidistantes 10m em cada transecto, a partir de 0m.. A área basal média foi estimada para cada transecto, assim como a porcentagem média de abertura de dossel Os dados médios para os dois tratamentos foram individualizados por parcela e comparados com teste T de Student no programa estatístico SYSTAT 8.0. Resultados Devido a baixa freqüência de árvores na maioria das classes de danos (Fig. 1), as árvores foram agrupadas em apenas duas categorias nas análises estatísticas: com dano às copas (1) e sem dano às copas (2). Não houve diferença significativa entre os dois tratamentos, para danos às copas, árvores mortas em pé, árvores mortas caídas e área basal (Tab. 1), porém a abertura do dossel na floresta manejada foi cerca de duas vezes maior que na área não perturbada (Tab. 1). E xtra cao R ese rva 1 00 No. de Arvores Não encontramos diferença significativa em nenhuma das variáveis exceto abertura de dossel. A grande variância nas medidas de área basal de árvores na área de reserva florestal pode ter sido resultado de algumas árvores com DAP muito alto ou então do baixo “n” devido a pequena área inventariada, portanto a nossa análise não detectou nenhuma diferença significativa. Porém, Lieberman et al. (1995) encontrou que a área basal das árvores > 10cm de DAP em floresta madura não perturbada é maior que em áreas perturbadas, a despeito do maior número de indivíduos nessas últimas. O número médio de árvores mortas (em pé ou caídas) foi semelhante nos dois tratamentos, sugerindo que a mortalidade de árvores pode não ser um dos principais efeitos da extração seletiva de madeira e que a capacidade de rebrota em árvores que sofrem danos à copa pode compensar eventuais danos resultantes da queda natural de árvores ou de árvores extraídas (Putz & Brokaw 1989). Porém, mesmo após 6 anos de regeneração, o dossel na área de exploração ainda apresenta o dobro de abertura se comparado com a área preservada. Essa maior disponibilidade de luz pode ser um dos principais efeitos da extração de madeira em florestas e pode ter implicações sobre o recrutamento e mortalidade de plântulas (Benitez-Malvido 2002) além de resultar em alterações microclimáticas (por ex. temperatura e umidade relativa) que favorecem espécies pioneiras em detrimento das tolerantes à sombra que são características de floresta clímax. Estes efeitos podem alterar substancialmente a estrutura de florestas que sofreram extração seletiva (Uhl et al. 1996). A abertura de estradas e trilhas de arrasto nas florestas aumentam ainda mais a mortalidade de árvores < 10 cm de DAP em áreas de exploração madeireira (com. pess.). Entretanto estudos mais detalhados e de longo prazo são necessários para fornecer dados mais consistentes sobre alterações na estrutura e mortalidade de florestas manejadas. Agradecimentos. 1 20 80 Agradecemos ao prof. Carlos Rittl (Jedi) pela ajuda na concepção do trabalho e na coleta de dados, inclusive sacrificando seu bem estar por todos nós, sujeitando-se a picadas de caba nas áreas de estudo durante a abertura de trilhas. 60 Referências Bibliográficas 40 BENITEZ-MALVIDO, J. 2002. Regeneration in tropical rain forest fragments. In : Lessons From Amazônia. Yale University Press. 478pp. GUILERME, A. G. 1999. Efeitos da cobertura de dossel da densidade e estatura de gramíneas e da regeneração natural de plantas lenhosas em mata de galeria, Brasília Brasil. Trabalho realizado durante o VIII Curso de métodos de campo em ecologia – UNB. HIGUCHI, N. 2002. Selective logging in the Brazilian Amazon. Its relationship to deforestation and the international tropical hardwood market. In: Lessons from Amazônia: the ecology and conservation of a fragmented forest. University of Yale Press. London. LAURENCE, W. FERREUIRA L.V.; RANKIN-DE=MERONA, J. M.; LAURENCE S. G. W. HUTCHINGS, W. R.& LOVEJOY, T. E. 1998. Efects of forerst fragmentation on recruitment patterns in Amazonian tree communities. Conservation Biology 12: 460-464. LIEBERMAN, M., D. LIEBERMAN, R. PERALTA, G. S. HARTSHORN. 1995. Canopy closutland the distribution of tropical forest tree species at La Selva, Costa Rica. Jornal of Tropical Ecology 11: 161-178. MIL MADEIREIRA ITACOTIARA LTDA (MMIL). 1994. Plano de manejo florestal para uso sustentável de florestas da Mil Madeireira Itacotiara Ltda. Itacotiara, Brasil. 20 0 1 2 3 4 C ate g o ria d e D a n o s 5 Fig. 1. Número de árvores em cada classe de dano às copas: sem copa (1); com dano (2); sem dano (3); sem dano algum; mortas em pé (4); mortas no chão (5). Tab. 1. Danos e mortalidade de árvores, área basal e cobertura do dossel (%) em áreas conservadas e de extração de árvores Variáveis Danos nas copas Mortas em pé Mortas caídas Área basal (m²) Abertura do dossel (%) 20 Discussão Extração (média±DP) 0,12±0,06 0,07±0,05 0,07±0,05 189,4±16,2 6,45±1,50 Reserva (média±DP) 0,02±0,02 0,07±0,07 0,03±0,03 232,10±101,0 3,32±0,70 Teste t gl P 2,67 -0,04 1,28 0,83 3,67 3 3 3 3 3 0,077 0,969 0,290 0,426 0,018 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 PUTZ, F. E., AND N. V. L. BROKAW. 1989. Sprouting of broken trees on Barro Colorado Island, Panama. Ecology, 70(2), pp. 508-512. UHL, C.; BARRETO P.; JENNIFER, S. 1996. Logging damage during planned and unplanned logging operations in eastern Amazon. Forest Ecology and Management (89): 59 – 77. Orientador Carlos Rittl Influência do corte seletivo de madeira na abundância de folhiço aéreo e artrópodes associados Flávia Monteiro Coelho, Jean Carlos Santos, Maria Luisa Jorge e Renata Durães Introdução Uma das razões sugeridas para explicar a grande diversidade de espécies nos trópicos é o aumento da especialização com relação à utilização de recursos (Marra & Remsen 1997), sendo esta especialização dependente da previsibilidade dos recursos explorados a longo prazo (Servat 1995). Em ambientes florestais, folhas que caem do dossel e se acumulam na vegetação acima do solo constituem um tipo de substrato bem definido e abundante ao longo de todo o ano. Este folhiço aéreo é utilizado por uma variedade de espécies de artrópodes; algumas destas são oportunistas, enquanto uma grande parte é especializada na ocupação destes substratos (Rosenberg 1990; Servat 1995). Por sua vez, a alta abundância e a postulada previsibilidade de artrópodes associados ao folhiço aéreo permitiu que diversas espécies de aves se especializassem em forragear nestes substratos (Remsen & Parker 1984). Além destes especialistas, outras espécies de aves (Remsen & Rosenberg 1984) e outros vertebrados, como primatas e morcegos (Carlos Ritll com. pess.), podem forragear oportunisticamente em folhas secas. Assim, mudanças na disponibilidade e previsibilidade destes recursos podem ter conseqüências em vários níveis tróficos. Nosso objetivo foi testar a influência da exploração seletiva de madeira em uma área de floresta de terra firme na abundância do folhiço aéreo e artrópodes associados. Nossa hipótese é de que a abertura do dossel provocada pela extração madereira resulte em estresse fisiológico nas plantas (devido, p.ex., em maior incidência de vento, aumento de temperatura, diminuição da umidade), e por isso haja maior queda de folhas na área de extração. Neste caso, a maior disponibilidade de substratos causaria o aumento absoluto da abundância de artrópodes associados na área explorada. Material e Métodos Realizamos o estudo em julho de 2002, na área de extração de madeira da Empresa Madeireira Mil Ltda, que se localiza no município da Itacoatiara (AM), na altura do Km 227 da rodovia AM-010 (Manaus-Itacoatiara). As áreas de estudo incluíam uma floresta de terra firme preservada e outra que sofreu corte seletivo de madeira há três anos, desde quando está sendo permitida sua regeneração. As duas áreas são imediatamente adjacentes e separadas por uma estrada de terra de aproximadamente 10 m de largura. Em cada área, definimos cinco parcelas de 10x1m, separadas entre si por 50m e localizadas a uma distância de 20m da borda da estrada. Percorremos as parcelas cuidadosamente, e coletamos todas as folhas secas suspensas na vegetação entre 0,5 e 2m de altura. As folhas foram contadas e todas as folhas de cada parcela foram pesadas juntas. É possível que o tamanho das folhas, mais do que sua abundância, pode estar variando entre áreas, e que folhas maiores abriguem uma biomassa maior de artrópodes. Por isso, estimamos o peso médio das folhas em cada uma das parcelas através da razão entre o peso do total de folhas e o número de folhas contidas na amostra. Estimamos o número de folhas por m3 em cada área. Triamos as folhas e fixamos os artrópodes encontrados em álcool 70%, separados por Ordem e medidos da extremidade da cabeça até a extremidade do abdômen, sem considerar apêndices como antenas ou cercos. Estimamos a biomassa de artrópodes em cada tratamento através da fórmula W = 0,0305 L2,62, onde W = peso seco, em mg, e L = comprimento corporal, em mm (Rogers et al. 1976 apud Takiya 2000). Estimamos a biomassa média de artrópodes por m3 em cada área. A diversidade de artrópodes em cada área foi estimada pelo índice de ShannonWiener (Magurran 1988). Resultados Coletamos um total de 492 folhas na área preservada e 583 folhas na área manejada. Ocorreram em média seis folhas por m3 na área preservada e oito na área manejada (Tab. 1), valores estes estatisticamente similares. As duas áreas também não variaram quanto ao peso médio das folhas (0,67g na área preservada contra 0,63 na área manejada – Tab. 1), fato que indica que tanto a quantidade quanto o tamanho médio das folhas nas duas áreas foram semelhantes. As formigas foram o grupo mais abundante nas duas áreas. Se consideramos cada colônia como uma réplica, houve um equilíbrio maior entre formigas e ortópteros, e estes dois grupos foram os mais abundantes, correspondendo a 80% dos indivíduos coletados na área preservada e 45% na manejada (Fig. 1). Considerando cada formiga como uma réplica, o número de artrópodes na área manejada foi cinco vezes maior do que na preservada (no de formigas na área preservada = 28, tendo sido coletada uma colônia com 21 indivíduos; no de formigas na área preservada = 235, sendo uma colônia com 225 indivíduos). Mesmo assim, a diferença não foi estatisticamente significativa, provavelmente por causa do desvio padrão elevado, influenciado pelas duas colônias (Tab. 1). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 21 A área preservada apresentou um peso médio de artrópodes aproximadamente duas vezes maior do que a área manejada (Tab. 1). No entanto, a diferença não foi significativa, o que provavelmente decorre da grande variação no tamanho dos insetos entre transectos de cada área, pois a presença de colônias de formigas ou de um grilo grande (como ocorreu em um transecto da área preservada) influenciou fortemente no peso médio para a área. O índice de Shannon-Wiener indicou que a área preservada é mais diversa que a área explorada são diferentes quando todas as formigas são consideradas (H’ manejada = 0,17, H’ preservada = 0,42; t = 3,65; p < 0,001), o que não ocorre quando cada colônia é considerada como uma réplica (H’ manejada = 0,67, H’ preservada = 0,57; t = 1,25; p = 0,21). Discussão Neste estudo, não detectamos diferenças na abundância ou peso médio das folhas secas no folhiço aéreo entre a área preservada e a que sofreu extração seletiva de madeira. Deste modo, a hipótese inicial de que o suposto estresse fisiológico provocado pela abertura do dossel na área explorada provocaria uma maior queda de folhas não foi verificada. Independentemente da disponibilidade de folhas, é possível que os artrópodes associados sofressem alterações (na abundância, diversidade ou tamanho corporal) como Tab. 1. Valores médios (± desvio padrão) de folhas e artrópodes por folha amostrados em áreas de mata na região Área Área Valor de P Preservada Manejada (teste T) Total de folhas 492 583 6,6 ± 6,0 7,8 ± 5,5 0,749 0,67 ± 0,31 0,63 ± 0,12 0,778 formigas como réplicas 8,0 ± 8,2 51,2 ± 99,5 0,387 colônias como réplicas 4,0 ± 2,7 6,4 ± 4,4 0,336 com formigas 12,4 ± 10,6 6,6 ± 9,2 0,382 sem formigas 10,3 ± 11,3 3,6 ± 2,7 0,259 Folhas/m3 Peso médio das folhas (g) No de artrópodes Peso médio dos artrópodes (mg) conseqüência das modificações impostas pelo ambiente. Entretanto, não foram observadas diferenças em termos de abundância e de biomassa de artrópodes entre as duas áreas. A princípio, a área preservada apresentou-se significativamente mais diversa, mas este efeito desapareceu quando as colônias de formigas foram consideradas indivíduos. A composição da comunidade de artrópodes observados em associação com o folhiço aéreo na área de estudo foi muito semelhante àquela observada em outras florestas tropicais, como no Panamá (Gradwohl & Greenberg 1982) e no Peru (Rosenberg 1990; Servat 1995), em que blatídeos, aranhas, ortópteros, formigas, coleópteros e homópteros foram registrados em abundância em folhas secas suspensas. No nosso estudo, encontramos uma abundância de artrópodes muito menor que aquela reportada nos estudos supra citados. A grande maioria das folhas coletadas por nós estavam individualizadas, eram de tamanho relativamente reduzido e de textura coriácea, freqüentemente não apresentando dobramentos onde os artrópodes pudessem se abrigar. Os estudos de Gradwohl e Greenberg (1982), Rosenberg (1990) e Servat (1995) concentraram-se em folhas enroladas ou aglomerados de folhas, onde as oportunidades de abrigo são muito maiores. Assim, é provável que a baixa abundância de artrópodes associados ao folhiço aéreo nas áreas de estudo se deva a características estruturais da vegetação local e das folhas analisadas. Em conclusão, dentro da pequena escala espacial e do reduzido período de amostragem, não encontramos indícios de que na área onde foi realizado o corte seletivo de madeira estejam sendo alterados os padrões de acúmulo de folhiço aéreo e a estruturação da comunidade de artrópodes associados. Estas observações poderiam indicar que as possíveis mudanças associadas à atividade madereira não atinjam este sistema em particular. Agradecimentos A Eduardo Venticinque pelo apoio no desenho experimental, a William Eberhard pelas críticas e sugestões, a Fernando Mendonça pela disposição e apoio logístico, a Ocírio “Juruna” pelo auxílio nas coletas de campo, a Jansen Zoanon e Leandro Valle Ferreira pelas críticas e sugestões feitas a uma primeira versão do manuscrito. Referências Bibliográficas 12 No. de indivíduos 10 8 6 4 2 B la tto de a D er m ap te ra H om op C te ol ra eo pt er a (L ar va ) A ra na e H ym en op te ra O rt ho pt er a C ol eo pt er a 0 Grupos de Artrópodes Fig. 1. Abundância de artrópodes amostrados em folhiço aéreo em áreas de mata na região de extração de madeira da Madeireira Mil, Itacoatiara, AM (barras brancas = área preservada, n = 492 folhas; barras cinza = área de extração, n = 583 folhas). Colônias de fomiga foram consideradas indivíduos. 22 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Gradwohl, J. & Greenberg, R. 1982. The effect of a single species of avian predator on the arthropods of aerial leaf litter. Ecology 63:581-583. Magurran, A. E. 1988. Ecological diversity and its measurement. Princeton University Press, Princeton. Marra, P. P. & Remsen, J. V., Jr. 1997. Insights into the maintenance of high species diversity in the Neotropics: habitat selection and foraging behavior in understory birds of tropical and temperate forests. Ornithological Monographs 48:445-483. Remsen, J. V., Jr. & Parker, T. A., III. 1984. Arboreal deadleaf-searching birds of the Neotropics. Condor 86:36-41. Rosenberg, K. V. 1990. Dead-leaf foraging specialization in tropical forest birds: measuring resource availability and use. Studies in Avian Biology 13:360-368. Servat, G. P. 1995. Availability and use of food resources by two species of Automolus (Aves, Furnariidae). Dissertação de mestrado. University of Missouri-St. Louis, Saint Louis, Missouri. 90 p. Takiya, D. M. 2000. Efeito de borda sobre a riqueza de aves insetívoras e abundância de artrópodes: existe alguma relação? In: M. Hopkins e E. Venticinque, orgs. Ecologia da Floresta Amazônica – Relatório de curso de campo. Pp. 105-109. Os efeitos da extração seletiva de madeira sobre a densidade e a altura de plântulas de espécies lenhosas na Amazônia Central Felipe Pimentel, Daniel Scheibler, Karl Makross, Ricardo Darigo Introdução As plântulas são o principal arsenal de regeneração das espécies vegetais associadas à floresta madura (Benitez-Malvido 2002). A extração seletiva de madeira concentra em poucas espécies vegetais nobres que estão entre as que formam banco de plântulas (Uhl et al. 1996). Alterações microclimáticas no sub-bosque causadas pela remoção de espécies do dossel com consequente abertura de grandes clareiras podem ter graves conseqüências sobre o recrutamento e mortalidade de muitas espécies vegetais sensíveis a esse tipo de alteração (Gascon et al. 1999). Nesse estudo testamos a hipótese de que a densidade de plântulas em áreas de exploração madeireira é menor se comparada com áreas de floresta preservada. Verificamos também se a altura média das plântulas nas áreas de exploração é maior que na área de reserva. Metodologia Esse estudo foi desenvolvido na propriedade da Madeireira Itacoatira Ltda município de Manaus – AM, localizada entre os paralelos de 02°42‘ e 03°04‘S e os meridianos 58°31‘ e 58°57‘O (Belger et al. 2000), em julho de 2002. A madeireira Mil executa um plano de extração certificado visando causar o mínimo impacto sobre a floresta. A vegetação é de Floresta tropical úmida de terra firme e a temperatura média anual é de 26º C com precipitação média anual de 2413 mm (Laurance 2001). O estudo foi realizado numa área da propriedade da MIL cortada por uma estrada no sentido Leste Oeste, no lado Norte há uma área manejada quer sofreu corte há 3 anos e do lado Sul da mesma estrada uma área de preservação absoluta. Com o objetivo de acessar a densidade e altura das plântulas com até 130cm nas duas áreas, foram traçados 12 transectos perpendiculares à estrada distantes cerca de 40 m da mesma ( 6 em cada área) medindo 20 m de comprimento e distantes cerca de 100m entre si. As medidas foram tomadas para cada transecto usando 5 plots de 1 m2 dispostos nas distâncias de 0, 5, 10, 15 e 20m do transecto. As distâncias e a posição dos plots em relação às linhas dos transectos foram estabelecidas por sorteio à esquerda ou à direita do mesmo em distâncias que variavam entre 0 e 10 m da linha para ambos os lados. Resultados A área explorada há 3 anos, apresentou uma maior densidade média de plântulas se comparada com a área preservada. A altura média das plântulas também não foram diferentes entre as duas áreas, sendo ligeiramente maior na área explorada (Tab. 1), contudo os resultados não foram significativos. Os desvios padrões das densidades e alturas das plântulas foram relativamente altos sugerindo uma alta heterogeneidade na composição florística e nas idades das plântulas. densidade de plântulas significativamente menor (com pess). Um outro fator de interferência sobre a densidade de plântulas é o estágio de sucessão da floresta. Uma área com apenas 3 anos de sofrido o corte, pode agrupar ainda um grande aporte de plântulas de espécies pioneiras que declinariam à medida que a sucessão avançasse. Marques (2000) encontrou num estudo realizado na ilha do Mel – Paraná, um gradiente crescente de abundância de plântulas em função do gradiente de vegetação que ia de praia à restinga arbórea, sugerindo portanto, um efeito da composição florística e possivelmente da cobertura do dossel sobre a comunidade de plântulas. Plântulas originártias de grandes sementes geralmente são associadas à floresta madura ou ambientes de baixa luminosidade (Harper et al. 1970), essas mesmas espécies são as mais exploradas pela atividade madeireira. As alturas médias das plântulas variaram muito sugerindo uma complexidade muito grande na comunidade e a presença de vários estágios de regeneração. Estudos mais detalhados utilizando uma metodologia mais adequada são necessários para esclarecer algum possível efeito do corte seletivo de madeira sobre a comunidade de plântulas de espécies lenhosas. Tab. 1. Valores de densidade e altura médias de plântulas, incluindo valores de teste T para área de extração e reserva. extração reserva teste T gl p Densidade 1,9±2,1 1,7±2,5 0,576 5 0,579 Altura 19,9±15,9 18,6±16,6 0,507 5 0,625 Referências Bibliográficas BENITEZ-MALVIDO, J. 2002. Regeneration in tropical forest fragments. in: Lessons from Amazonia. Yale University Press. GASCON, C., LOVEJOY, T. E., BIERREGAARD, R.O., MALCOM, J. R., STOUFFER, P.C., VASCONCELOS, H. L., LAURENCE, W. F., ZIMMERMEN, B., TOCHER, M. & BORGES, S. 1999. Matrix habitat and species richness in tropical forest remnants. Biological Conservation 91: 223-229. HARPER, J. L. ; LOVELL, P. H.; MOORE, K. G. 1970. The shape and size of seeds. Annual Review of Ecology and Sistematics 1: 327-356. MARQUES, M. C. 2000. Relação entre características reprodutivas dsa espécies vegetais e os tipos de vegetação na planície litorânea da Ilha do Mel, Sul do Brasil. Dissertação de Mestrado. UNICAMP. UHL, C.; BARRETO P.; JENNIFER, S. 1996. Logging damage during planned and unplanned logging operations in eastern Amazon. Forest Ecology and Management (89): 59 – 77. Discussão A área total amostrada para cada tratamento foi de apenas 30 m2 ( 30 parcelas de 1m x1m) portanto, muito reduzida para retratar padrões de densidade de plântulas em ambientes tão heterogêneos como florestas tropicais. Num outro estudo, uma área que sofreu corte seletivo há 6 anos foi amostrada numa área total de 96 m2 e apresentou uma abertura de dossel duas vezes maior que uma área preservada, apresenta também uma Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 23 Salticídeos (Araneae, Salticidae) são mais frequentes em ambientes abertos? Gustavo Q. Romero Introdução Este trabalho foi desenvolvido em uma área preservada de floresta tropical de terra firme pertencente à Madeireira Mil, Manaus, AM. Para verificar se aranhas da família Salticidae ocorrem em maior proporção nas áreas de borda em relação às áreas de interior da floresta, 9 amostras de aranhas na vegetação foram obtidas utilizando-se um batedor de 1 x 1 m (guardachuva entomológico modificado) na margem da floresta e no interior da floresta. Para cada amostra na margem, outra amostra foi obtida a 50 m para o interior da floresta. As distâncias entre as réplicas foi de pelo menos 100 m. Cada amostra (ponto) consistiu de 10 batidas aleatórias na vegetação. Todas as aranhas que caíram no batedor foram coletadas, fixadas em Etanol a 70% e levadas ao laboratório para identificação. O número total de aranhas e a proporção de aranhas Salticidae em relação ao total de aranhas em borda e interior da floresta foi comparado com teste t. Os dados de proporção foram transformados em log (n + 1) para normalização dos dados e para equalização das variâncias. Representações gráficas foram feitas com os valores não transformados. Resultados No total, 85 aranhas foram coletadas na borda e 92 no interior da floresta. O número médio de aranhas capturadas por amostras não diferiu entre borda e interior da floresta (Fig. 1A; t = -0,38; gl = 16; P = 0,711). Em contraste, a proporção de aranhas Salticidae em relação ao total de aranhas foi 5 vezes maior na borda da floresta do que no interior da floresta (Fig. 1B; t = 3,2; gl = 16; P = 0,011). Discussão Estes resultados indicam que aranhas desta família podem estar escolhendo habitats onde a claridade do ambiente é alta porque capturam presas perseguindo-as, após localizarem-nas visualmente. Se ocorrem em ambientes abertos, enxergam melhor suas presas e têm maior sucesso no forrageamento. Outras aranhas capturam suas presas por meio de teias ou utilizam táticas senta-e-espera e podem capturar presas em ambientes menos claros. Como uma hipótese alternativa, aranhas de diferentes guildas podem estar escolhendo arquiteturas diferentes da vegetação e estes resultados poderiam representar uma escolha por aspectos estruturais do ambiente e não por locais com diferentes intencidades luminosas. As áreas de borda estavam frequentemente dominadas por Vismia sp., enquanto que áreas do interior da floresta estavam sendo habitadas por várias espécies de subbosque e plântulas de árvores 24 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 12 Nœmero total de aranhas Material e Métodos A) 10 8 6 4 2 0 B orda F lore sta B orda F lore s ta B ) 0.3 P ropor ª o de S altic idae As aranhas da família Salticidae (Araneae) são as mais diversificadas dentre os aracnídeos, com mais de 5000 espécies descritas. Em contraste com outros grupos de aranhas, possuem grande acuidade visual e capturam suas presas perseguindo-as ativamente (Wise 1993). Devido a isso, é esperado que estas aranhas necessitem de ambientes com grande intensidade luminosa e, conseqüentemente, que ocorram mais frequentemente em ambientes abertos, onde a facilidade em encontrar uma presa é maior. O objetivo deste trabalho foi determinar se a frequência de aranhas Salticidae é maior em ambientes abertos em relação ao interior da floresta. 0.25 0.2 0.1 5 0.1 0.05 0 Fig. 1. Número médio (± 1 EP) de aranhas coletadas (A) e proporção média (± 1 EP) de aranhas da família Salticidae em relação ao total de aranhas coletadas (B) em uma área preservada da Madeireira Mil, Manaus, AM Neste trabalho foi demonstrado que as assembléias de aranhas se distribuem de maneira não casual nos ambientes. É provável que alterações ambientais possam afetar a composição de aranhas de uma região. Referências Bibliográficas Wise, D. H. 1993. Spiders in ecological webs. Cambridge University Press, Cambridge. Espécies de Odonata como indicadores de efeitos da extração madeireira seletiva: comparação entre dois igarapés na área da Madeireira Mil, Itacoatiara, AM Ana Maria O. Pes, Adam K. Bahrami, Leandro Sousa & Marcio Uehara-Prado Introdução A extração de madeira é atualmente uma das maiores ameaças para florestas tropicais, muitas vezes gerando desmatamento total numa área (Gascon et al. 2001). Nas últimas décadas têm sido implantado projetos de corte seletivo de madeira, como alternativa para amenizar o impacto da extração. No entanto, há poucos estudos que permitam avaliar a real sustentabilidade ecológica da extração seletiva (Carlos Rittl com. pess.). Uma das prováveis conseqüências do manejo florestal de uma determinada área (que podem estar direta ou indiretamente associadas com a exploração madeireira) é a alteração de condições ambientais. Entre essas, podemos citar a maior abertura de dossel, decorrente de clareiras deixadas pelas árvores retiradas e das trilhas usadas pelas máquinas de corte e transporte de madeira observadas na área de amostragem. Outra conseqüência provável seria o aumento do aporte de sedimento carreado para os cursos d’água, resultante principalmente dos distúrbios provocados pela abertura de estradas e trilhas de arraste das árvores cortadas, o que poderia influenciar negativamente as populações de organismos associados a esse ambiente. Uma maneira comum para se avaliar o efeito de degradação ambiental é a utilização de espécies indicadoras. Devido ao seu tamanho pequeno, diversidade e sensibilidade à variação ambiental, insetos são considerados indicadores adequados de heterogeneidade de habitat e perturbação ambiental (Kremen 1992). Deste modo, escolhemos libélulas (Odonata) como indicadores de perturbação baseados nos seguintes critérios: a) conspicuidade b) taxonomia clara e disponibilidade de um especialista na área de estudo c) larvas e adultos vivem no mesmo ambiente, porém em nichos diferentes, gerando indicação em pelo menos dois níveis d) larvas e adultos são predadores, portanto podem representar efeitos em outros níveis tróficos da cadeia alimentar. O objetivo do presente trabalho foi comparar a riqueza de espécies, abundância e composição da fauna de Odonata em uma área de preservação permanente e outro em uma área de extração seletiva de madeira, e também avaliar os efeitos da extração sobre parâmetros do ambiente abiótico em dois igarapés. Assim, H0 = Não há diferenças na riqueza, composição de espécies e abundância de libélulas e nos parâmetros abióticos dos dois igarapés; H1 = Existem diferenças, e elas podem ser tanto positivas quanto negativas. a cada 20 cm, medimos a profundidade e qualificamos o substrato do fundo do igarapé (areia, sedimento, folhiço ou madeira) (Fig. 1). Com um densiômetro de espelho convexo, avaliamos a abertura do dossel no meio de cada plote, coletando medidas em quatro direções perpendiculares entre si e calculamos a média entre eles. Para avaliar a riqueza de espécies em ambos igarapés, fizemos um censo das libélulas dentro dos limites do transecto, independentemente dos plotes. Para avaliar a abundância de libélulas, contamos o número de indivíduos presentes dentro de cada plote durante dois minutos. Empregamos o teste t de student para comparar os resultados referentes ao ambiente abiótico e nenhuma análise quantitativa para os dados de abundância, devido ao baixo número de indivíduos encontrados. Resultados A largura dos igarapés variou entre 77 e 168 cm na área preservada e de 111 a 205 cm na área de extração, sendo em média significativamente maior na segunda (t = 2,576; p = 0,018; gl = 20); A profundidade média foi de 7,86 cm no igarapé da área preservada e 19,48 cm na área manejada (t = 4,357; p = 0,001; gl = 20). Com relação ao tipo de substrato, observou-se que no igarapé da área com extração havia maior deposição de sedimento com conseqüente redução na proporção de areia encontrada (Tab. 1). Encontramos também maior abertura de dossel na área de extração (t = 3,267; p = 0,004; gl = 20). Ao todo observamos cinco espécies de Odonata dentro ou próximo dos transectos nos dois igarapés. Duas delas ocorreram em ambas as áreas (Psaironeura sp. e Heteragrion sp.), duas ocorreram em apenas uma área (Neoneura sp. e Argia sp.) e uma foi observada apenas fora do levantamento (Macrothemis sp.) (Tab. 2). Durante as contagens de indivíduos dentro dos plotes, somente duas libélulas foram observadas, ambas na área de extração de madeira, impossibilitando quaisquer análises quantitativas em relação a abundância de Odonata. Tab. 1. Proporção de tipos de substrato presentes em dois igarapés na área da Madeireira Mil, Itacoatiara, AM, em julho de 2002. Preservação permanente Extração de madeira Substrato t média ± dp Média ± dp p Areia 0,352 0,188 0,091 0,156 -3,543 0,002 Folhiço 0,457 0,196 0,475 0,203 0,207 0,838 Sedimento 0,191 0,202 0,418 0,255 2,315 0,032 - - 0,167 - - - Madeira Material e Métodos Estudamos duas áreas de floresta adjacentes, uma onde a extração seletiva ocorreu há três anos e outra de preservação permanente, dentro da propriedade da Mil Madeireira, Itacoatiara, AM. As amostragens foram realizadas no mês de julho de 2002, no início do período de estiagem. Em ambas as áreas, escolhemos igarapés de primeira ordem, fisionomicamente semelhantes, e que estavam mais próximos da estrada em ambos os lados. Em cada igarapé, estabelecemos um transecto de 50 m, dividido em plotes de dois m de comprimento sobre o curso d’água, separados três metros uns dos outros (Fig. 1). No meio de cada plote, medimos a largura do igarapé. A partir da margem, Tab. 2. Ocorrência de espécies de Odonata em dois igarapés na área da Madeireira Mil, Itacoatiara, AM, em julho de 2002. Espécie de Odonata Reserva Manejo Psaironeura sp. + + Neoneura sp. - + Heteragrion sp. + + Argia sp. + - Macrothemis sp. -* - Total 3 3 + = presença da espécie no ponto de coleta; - = ausência da espécie no ponto de coleta; * espécie encontrada fora do transecto. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 25 20 cm profundidade correnteza substrato 50 m 45 m 35 m 40 m 30 m 2m 25 m 3m 15 m 20 m 5m 0m Fig. 1. Esquema de uma das áreas de estudo, mostrando a disposição dos plotes transecto de 50 m. Este procedimento foi efetuado em ambas as áreas. Discussão Em nossas análises do ambiente abiótico, encontramos proporcionalmente mais sedimento na área de extração e mais areia na área preservada. Sabe-se que em áreas onde ocorreu remoção de cobertura vegetal (e.g. abertura de estradas) há um maior carreamento de sedimentos para os cursos d’água, muitas vezes implicando no assoreamento dos mesmos e conseqüente diminuição da correnteza, com implicações sobre a granulometria dos sedimentos depositados. Essa alteração do ambiente abiótico pode trazer conseqüências negativas para a fauna associada a cursos d’água (Allan 1995). No caso de aumento de abertura de dossel, espécies adaptadas a locais com mais sombra poderiam ser localmente extintas. Por outro lado, o aumento de luminosidade poderia acrescentar espécies mais adaptadas a áreas abertas, e com isto aumentar a riqueza de libélulas (Paulo De Marco Jr. com. pess.). O fato de termos encontrado diferenças significativas entre as características abióticas nos igarapés das áreas de extração e de preservação permanente (Tab. 1), indica que podem haver efeitos negativos da extração seletiva de madeira sobre esses ambientes. Como esperado para áreas perturbadas, observamos que o igarapé na área de extração de madeira teve uma maior largura e uma maior proporção de sedimento no substrato. Entretanto, observamos que esse igarapé teve a profundidade maior que o não impactado, um resultado não esperado a priori para áreas perturbadas. A maior profundidade do igarapé está possivelmente relacionada com a reduzida capacidade de absorção hídrica do solo, que aumenta a velocidade do fluxo d’água, e causa o aprofundamento do leito. A riqueza de espécies de Odonata que encontramos nos dois igarapés foi abaixo da esperada para esse tipo de ambiente (Paulo De Marco Jr. com. pess.). De Marco (2002) separou Odonata em três categorias, de acordo com sua capacidade de termorregulação (endotermos, heliotermos e “conformadores”). Uma possibilidade é que a escolha de um igarapé de primeira ordem possa ter influenciado na quantidade máxima de luz incidindo sobre o corpo d’água, restringindo a ocorrência principalmente a espécies “conformadoras”, mais aptas a termorregular nesse ambiente. Sendo um projeto curto num curso de campo com uma amostragem só, não foi possível atribuir as diferenças das duas áreas ao efeito de extração. As diferenças na composição de espécies entre as duas áreas (Tab. 2) podem ser creditadas tanto à heterogeneidade natural dos ambientes, que não pôde ser avaliada neste estudo, quanto a efeitos de extração de madeira. Seria necessário comparar vários igarapés em cada uma das áreas, para diminuir a variância intrínseca dos ambientes. A variância não explicada depois das comparações das duas áreas poderia ser atribuída ao efeito de extração. Outra alternativa seria acompanhar o processo de extração, fazendo amostragens antes e depois da retirada da madeira. Agradecimentos Agradecemos ao Paulo de Marco pela orientação do projeto e ao Jansen Zuanon pela “orientação” na mata. Agradecemos ao Sonic Youth pela companhia e inspiração durante a elaboração do projeto. Referências Bibliográficas Allan, J.D. 1995. Stream Ecology. Structure and function of running waters. Chapman & Hall, London. 388 p. De Marco Jr., P. & Resende, D.C. 2002. Activity and thermoregulation in a tropical dragonfly assemblage. Odonatologica, 3: 129-138. Gascon, C.; R.O. Bierregaard, Jr.; W.F. Laurance & J. Rankinde Mérona. 2001. Deforestation and forest fragmentation in the Amazon. pp. 22-30 In: R.O. Bierregaard, Jr; C Gascon,; T.E. Lovejoy & R. Mesquita (eds.). Lessons from Amazônia. Yale University Press, London. 478 p. Kremen, C. 1992. Assessing the indicator properties of species assemblages for natural areas monitoring. Ecological Applications, 2: 203-217. Comparación de la abundancia y diversidad de arañas habitamtes del suelo en una area de extracción selectiva de madera y una area de floresta preservada en la Amazonia Central Maria Cecilia Vega, Lily Arias, Veronica Cepeda, Max Hidalgo Introducción El manejo forestal es una actividad mediante la cual se busca um aprovechamiento de recursos madereros a partir de algunos critérios de sustentabilidad para minimizar el impacto sobre los ecosistemas (Forest Stewardship Council 1999). Asi, aunque la extracción selectiva de madera sea realizada de acuerdo con los parámetros de manejo forestal, los distúrbios causados son diversos, como la apertura de caminos de arraste para extracción de árboles, compactación de suelo y alteraciones en las condiciones microclimáticas. El grado de distúrbio puede ser determinante sobre la riqueza de espécies, de manera que esta 26 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 puede variar dependiendo los níveles en que este fenómeno ocurre (Connel 1978). Las arañas tejedoras son habitantes comunes en los suelos del bosque amazónico, éstas poseen requerimentos microclimáticos específicos que determinan su distribución (Foelix 1982). Las alteraciones de estas condiciones en los suelos de ambientes manejados, puede afectar la presencia de diversos artrópodos en áreas que han sufrido extracción de madera (Costa et al. 2000). El objetivo de este trabajo fue determinar si existen diferencias en la diversidad y abundancia de arañas que habitan el suelo de un bosque de extracción selectiva y un bosque preservado. Material y Métodos Colectamos los datos en un bosque en el cual se realizó extracción selectiva de madera hace tres años y un bosque preservado adyacente, localizados dentro de la Empresa Mil Madeireira Itacoatiara Ltda. (02 043’- 03 004’S y 58 0 31’58057’O). En las dos áreas de colecta, establecimos una distancia aproximada de 20 m del borde, y cada cinco metros en linea recta, paralela a la carretera, elegimos al azar un punto en el suelo, donde se marco una parcela de. 50 X 50 cm y 30 cm. de altura. Esparcimos almidon de maíz para visualizar las telarañas, las cuales fueron identificadas por grupos taxonómicos, y posteriormente contadas. Utilizamos el test de t para establecer si existía diferencia en la abundancia total de telarañas entre las dos áreas. Mediante la prueba de Chi Cuadrado evaluamos si había diferencia en la abundancia de los grupos con mayor número de telas y en la ocurrencia de los mismos en las dos areas evaluadas. Finalmente, con el objetivo de comparar la diversidad de grupos en las dos áreas estudiadas, calculamos el Indice de diversidad ShannonWiener (Krebs 1986), que combina la riqueza (número de especies) y la abundancia relativa (proporcion de individuos para cada especie del total registrado). Este indice se calcula mediante la siguiente fórmula: H’ = - Σ pi * log 2 pi pi= proporción de individuos/grupo i = Total individuos/muestra. Resultados Realizamos muestreos en 153 parcelas, 73 localizadas en el bosque preservado y 80 en el bosque de extracción. Contamos 349 telarañas, 189 en el primer caso y 160 en el segundo. En total registramos 14 grupos taxonómicos (familias y géneros), 12 grupos en el bosque preservado y 13 en el bosque de extracción. En la Tab. 1 y Fig. 1 se muestran las abundancias totales por grupos y su presencia en las dos zonas. Tab. 1. Abundancia total de telaranas y su ocurrencia ( ) en parcelas de area de bosque preservado y de extracción. Grupo taxonómico Total Bosque preservado Bosque de extracción Al aplicar la prueba de Chi Cuadrado para las seis espécies más abundantes encontramos que solo hubo diferencia significativa para Mysmena y Linyphiidae (Tab. 2). Tab. 2. Prueba de Chi Cuadrado para abundancia de telaranas por grupos taxonómicos entre el bosque de extracción y bosque preservado (N=349) Grupo X2 P Mysmena 5.86 <0.05 Linyphiidae 5.25 <0.05 Araneidae 0.35 >0.05 Theridiosomatidae 0.50 >0.05 Anapide 0.06 >0.05 Pholcidae 2.80 >0.05 De igual forma, la prueba de Chi Cuadrado para comparar la ocurrencia de los grupos en las dos áreas, arrojo datos no significativos para las seis especies más abundantes. (Tabla 3). Tab. 3. Prueba de chi Cuadrado para ocurrencia de especies en bosque de extracción y bosque preservado (N= 153). Grupo X2 P Mysmena 2.63 >0.05 Linyphiidae 2.49 >0.05 Araneidae 0.52 >0.05 Theridiosomatidae 0.17 >0.05 Anapide 0.8 >0.05 Pholcidae 1.29 >0.05 Los resultados observados al aplicar el índice de Shannos Wiener, para comparar la diversidad de grupos taxonómicos en las dos áreas, arrojaron valores semejantes para cada local estudiado (Tab. 4). Araneidae 68 (46) 30 (24) 38 (22) Mysmena 60 (41) 38 (24) 22 (17) Theridiosomatidae 47 (38) 20 (17) 27 (21) Anapidae 32 (27) 16 (15) 16 (12) Pholcidae 32 (26) 20 (15) 12 (11) Linyphiidae 29 (24) 20 (15) 9 (9) Dipluridae 23 (21) 19 (17) 4 (4) Micrathena 18 (15) 7 (6) 11 (9) Uloborus 18 (16) 8 (8) 10 (8) Theridiidae 7 (7) 6 (6) 1 (1) Olgunius 6 (6) 0 (0) 6 (6) 40 Chrysometa 4 (3) 4 (3) 0 (0) 35 Eustala 3 (3) 0 (0) 3 (3) Spilesma 2 (2) 1 (1) 1 (1) Total 349 189 160 Tab. 4. Ïndice de diversidad de Shannon Wiener. Tratamento No. total de grupos Indice Bosque preservado 12 4.91 Bosque de extraccion 13 4.74 Número de telas B. Preservado B. Extraccion 30 25 20 15 10 5 Eustala Spilesma Olgunius Chrysometa Uloborus Therididae Micrathena Dipluridae Linyphiidae Anapidae Pholcidae Mysmena Theridiosomatidae 0 Araneidae El test de t para comparar la abundancia total de telarañas dio como resultado un valor de P = 0,055, lo que consideramos como no significativo. Los valores de la media resultaron muy similares (Bosque preservado = 2,5 ; bosque de extraccion = 2,0).La distribución de frecuencias del número de telas se presenta en la Fig. 2. Fig. 1. Abundancia de telaranas en dos areas comparadas: Bosque preservado y bosque de extraccion selectiva Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 27 NUMTELAS 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 50 40 30 20 10 0 Count resultados, y solo para Mysmena y Lyniphiidae hubo una mayor abundancia significativa, segun la prueba de Chi Cuadrado, en el bosque preservado. Agradecimientos AMBIENTE 10 20 30 40 50 Count Extrac Preserv Fig. 2. Comparacion de la abundancia total de telaranas entre las dos areas de estudio. Grafico resultante de la prueba T-test Discusión Los resultados de los test estadísticos y el índice de Shannon-Wiener muestran que no existentes diferencias significativas en la abundancia total y la diversidad de los grupos taxonómicos de aranas que habitan en el suelo de las dos áreas evaluadas. Observando las características actuales del bosque en donde se realizó la extracción selectiva, notamos similaridad entre las comunidades de aranas de ambos bosques. La ligera diferencia encontrada en la abundancia total de los grupos de arañas en las dos áreas (preservada = 189 telas, extraccion = 160 telas), podría ser explicada por el hecho de haber analizado grandes grupos, cuando en realidad cada especie de estos grupos se comporta de manera diferente en respuesta a diversos factores (Didham et al. 1998; Takiya et al. 2000). Las mayores abundancias en el área preservada registradas para los grupos Mysmena y Lyniphiidae posiblemente se encuentren relacionadas con caracteristicas biológicas propias de ambas y no contamos con informacion especifica sobre la biologia de los mismos. Diversos factores podrian estar influenciando esta preferencia. Según Vollrath (apud Venticinque 1995) arañas solitarias tienden a no estar presentes hacia el final de la época seca, exhibiendo una sorprendente variacion numérica durante este período, o tambien pueden haber variaciones poblacionales sorprendentes (Venticinque 1995). Se requieren de mas estudios que evaluen estadisticamente estos factores tanto intraespecificos (Eberhard 1990), como con el ambiente (Venticinque 1995), para determinar si tienen influencia. En conclusión, la diversidad en ambas áreas de estudio es similar. La abundancia total de arañas es ligeramente mayor en el área preservada pero estadísticamente no hay diferencia significativa. La ocurrencia de los grupos en el área preservada o en el área de extracción selectiva es indistinta para la mayoria de los grupos taxonomicos registrados como lo muestran nuestros 28 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Queremos agradecer la gran colaboración ofrecida por el Dr. William Eberhard, en el diseno y desarrollo de este estudio y al Dr. Paulo de Marco por la orientación para el análisis estadístico de los datos. Referencias Bibliográficas Connel, J.H. 1978. Diversity in tropical rain forest and coral reefs. Science 199: 1302 –1310. Costa, L.C., Vasconcelos, A., Takiya, D.M., Becerra, M.T. & Izzo, T.J. 2000. Efeito de trilhas de arraste sobre guildas de artrópodos em uma área de manejo forestal. Relatôrios Curso de campo 2000 Ecologia da Floresta Amazônica. pp: 16-18. Didham, R.K., P.M. Hammond, J.H. Lawton, P. Eggleton & N.E. Stork. 1998. Beetle especies responses to tropical forest fragmentation. Ecological Monographs 68: 295-323. Eberhard, W. 1990. Function and Phylogeny of spider webs. Annu. Rev. Ecol. Syst. 21: 341-371. Foelix, R.F. 1982. Biology of spiders. Harvard University Press, Cambridge. Forest Stwardship Council. 1999. Principios y criterios para el manejo forestal. Doc 1,2. Oaxaca Mexico. On line. htpp:/ www.fscax.org. Krebs, C. 1986. Ecologia: Estudio de la distribucion y abundancia. Edit. Harla. 2da. ed. Mexico. 38? pp. Moutinho, P.R.S. 1998. Impactos da formacão de pastagens sobre a fauna de formigas: consequencias para a recuperacão florestal na Amazônia oriental. pp: 155-170. Em C. Gascon & P. Moutinho. Floresta Amazônica: dinâmica, regeneracão e manejo. Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, Manaus. Takiya, M.D., M.E. Pérez, F.Campon, M.U.Georgeoglou & T. Pequeno. 2000. Comparacion de los parámetros fisicos y fauna de invertebrados asociada de la hojarasca en un área preservada y otra manejada. Pp30-32. Relatôrios Curso de Campo 2000 Ecología da Floresta Amazônica – INPA/ PDBFF. Venticinque, E.M. 1995. Dinamica populacional de Anelosimus eximius (Simon, 1891) (Araneae: Theridiidae) em mosaicos ambientais na amazônia central. Tesse do dissertacão para obtencão do título de Mestre em Ciências Biológicas. Instituto de Biociências do “Campus” de Botucatu, Universidade Estadual Paulista. São Paulo. 87 pp. A extração de madeira pode determinar a ocorrência de Cecropia sciadophylla e Vismia cf. cayennensis em bordas de mata na Floresta Amazônica? Elaine M. Lucas Gonsales, Ludmila P. Siqueira, Sunshine Menezes Introdução Resultados Áreas exploradas em florestas tropicais freqüentemente apresentam um ambiente mais aberto e perturbado do que aquelas preservadas, em função do impacto causado por esta atividade (Murcia 1995). O aumento da passagem de luz para o interior da floresta, proporciona uma maior freqüência de clareiras e uma possível alteração da biota local. Um dos aspectos importantes da extração seletiva é o fato de que espécies pioneiras, que colonizam áreas perturbadas, terão um aumento na taxa de recrutamento, determinando a estrutura e dinâmica da área (Albuquerque 1980; Williamson et al. 1998). Cecropia (Cecropiaceae) e Vismia (Clusiaceae) são gêneros comuns de plantas pioneiras no Brasil (Albuquerque 1980). Ambas são dependentes da luz para seu crescimento, embora possuam estratégias diferentes como pioneiras. Cecropia sp. crescem rapidamente em altura e possuem copas menos densas, evitando assim a competição por luz com outras plantas, porém, morrem à medida que a vegetação abaixo delas atinge o dossel (Williamson et al. 1998). Em Vismia sp., entretanto, o crescimento é lento, apresenta copas mais densas que causam sombreamento e dificultam o crescimento de seus competidores; são classificadas como posseiras e possivelmente se espalham clonalmente (Williamson et al. 1998). Os efeitos do corte nas florestas incluem a criação de estradas e trilhas, que, além de aumentar o efeito de bordas, compactam e facilitam a erosão do solo (Laurance 1998). Podem ainda causar a abertura de clareiras que provavelmente facilitam o estabelecimento de espécies pioneiras, tais como Vismia spp e Cecropia sciadophylla. Dado que quase 33% da floresta Amazônica do Brasil sofre estes efeitos (Laurance 1998), é importante saber como encontra-se o estabelecimento destas plantas nas bordas das florestas uma vez que seus efeitos podem alterar a estrutura e dinâmica das florestas. Com base no que foi exposto acima, o objetivo deste projeto foi investigar o efeito de extração seletiva através da abundância de Cecropia sciadophylla e Vismia cf. cayennensis comparando um área preservada e outra com extração seletiva em uma região da Amazônia Central. Foram encontrados oito indivíduos das espécies selecionadas na borda da área alterada (C. sciadophylla = 7, V. cf. cayennensis. = 1) e cinco (C. sciadophylla = 2; V. cf. cayennensis = 3) na borda da área não-alterada. Os diâmetros variaram de 0,9 a 2,2cm para Vismia sp. e de 0,9 a 6,8 cm para C. sciadophylla. Todos os espécimes de Vismia cf. cayennensis foram registrados nos primeiros plots dos transectos, ou seja, na margem da estrada. O mesmo foi observado para os indivíduos de C. sciadophylla, sendo que apenas um indivíduo foi registrado no segundo plot, ou seja, a entre 12 e 16 metros da margem. Portanto, a medida que as amostras avançavam para o interior dos ambientes, nenhum indivíduo foi registrado. Entretanto, em alguns casos, essas eram observadas fora dos plots, porém, encontrando-se agregados à poucos metros da margem da estrada (<20m). A medida que o transecto avançava para o interior da mata, o solo encontrava-se menos compactado (esta compactação foi proporcionada pela ação das máquinas, que empurraram o solo até certa distância a partir da margem), o sub-bosque mais esparso e a cobertura do dossel mais fechada. Além disso, um grande número de árvores caídas eram observadas próximo às margens diminuindo para o interior das duas áreas. Não foram observadas diferenças significativas entre os dois ambientes no que se refere a presença/ausência destas espécies pioneiras (Tab. 1). Tab. 1. Regressões logísticas. (1) = área manejada e (2) = área preservada. Parâmetro Estimado SE IC Área Constante 0,509 0,891 -- 1 Distancia -0,221 0,116 ±0,326 1 Constante -0,405 0,913 -- 2 Distancia -1,289 20,952 ±58,812 2 Material e Métodos O presente estudo foi realizado na propriedade da Mil Madeireira Itacotiara Ltda, no município de Itacotiara – AM, localizada entre os paralelos 02 42’ e 03 04’S e os meridianos 58 31’e 58 57’O (MMil 1994) em julho de 2002. Na área de estudos, foram traçados dez transectos de 46m de comprimento, sendo cinco na área de extração seletiva e cinco em área preservada. A distância entre os transectos foi estabelecida aleatoriamente, sorteando-se valores entre 30 e 100 metros. Em cada linha, plots de 2x2m foram marcados a cada 12m, e todas as plantas de C. sciadophylla e Vismia cf. cayennensis acima de 1m de altura foram quantificadas e medidas quanto ao valor do diâmetro a 1m de altura. Caraterísticas complementares como abertura do dossel, densidade do sub-bosque e compactação do solo foram observadas e anotadas. A comparação entre a presença e ausência de indivíduos e distância a partir da borda foram analisadas para ambiente através de regressão logística. Discussão Não foram encontradas diferenças significativas no número de indivíduos observados entre as duas áreas estudadas. Entretanto, a distância entre os pontos de interseção indicam que a área manejada apresenta um maior número de indivíduos de espécies pioneiras na borda. O grande número de árvores caídas na borda, em virtude da construção da estrada que divide as duas áreas, pode estar influenciando a penetração da luz em ambos os ambientes (área manejada e área alterada). O desmatamento propicia um aumento na abertura do dossel que leva a alterações microclimáticas que podem atingir grandes extensões no interor das áreas (Murcia 1995). Tendo os transectos um comprimento máximo de 46 m é possível que estes ainda estejam sob influência do efeito da borda. Um fator importante a ser considerado nesta análise é o tamanho das parcelas e a distância entre elas. Observamos que o efeito da borda foi bastante acentuado nos primeiros metros diminuindo na direção borda-interior; porém, nosso desenho Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 29 experimental, provavelmente, não foi suficientemente sutil para capturar estas diferenças, e o efeito da borda pode não ter sido localizado, ou perdido entre os transectos estabelecidos. Da mesma forma, observamos que, mesmo fora das parcelas, existe um número maior de indivíduos de C. sciadophylla do que V. cf cayannensis, diferente do observado por Mesquita et al. (1999), onde o número de Vismias foi maior do que de Cecropias. A predominância de C. sciadophylla em relação à V. cf cayannensis na área estudada, pode estar relacionada com a intensidade de luz, pois o sombreamento causado pela mata em ambos os lados da estrada, em pelo menos algumas horas do dia, pode estar retardando o crescimento de Vismia, uma vez que, além de depender da luz, esta planta possui um crescimento mais lento. Desta forma, outras espécies com crescimento mais rápido podem estar estabelecendo-se de uma maneira mais eficiente. Agradecimentos Carlos Rittl por sua indispensável ajuda no trabalho de campo. David Clark por suas sugestões e críticas e a Paulo De Marco, pela paciência conosco, estatisticamente analfabetas. Referências Bibliográficas Albuquerque, J.M. 1980. Identificação de plantas invasoras de cultura da região de Manaus. Acta Amazonica. 10: 47-95. Laurance, W.F. 1998. A crisis in the making: responses of Amazonian forests to land use and climate change. TREE 13(10): 411-415. Mesquita, R.C.G., P. Delamonica, & W.F. Laurance. 1999. Effect of surrounding vegetation on edge-related tree mortality in Amazonian forest fragments. Biol. Cons. 91: 129-134. Murcia, C. 1995. Edge effects in fragmented forests: implications for conservation. TREE 10(2): 58-62. Williamson, G.B., R. de C.G. Mesquita, K. Ickes, & G. Ganade. 1998. Estratégias de árvores pioneiras nos Neotrópicos. In: C. Gascon e P. Moutinho (eds.), Floresta Amazonica: Dinamica, Regeneração e Manejo. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazonia (INPA), Manaus, Amazonas, Brasil, pp. 131-144. Homenagem à Marchantaria: As comunidades são organizadas ao acaso? Leandro M. Sousa, Maria Cecília Vega, Renata Durães, Elaine M. Lucas Gonsales e Gustavo Q. Romero Introdução Na década de 60, uma forte ênfase começou a ser dada em ecologia de comunidades às interações competitivas entre os organismos, principalmente a partir dos trabalhos de MacArthur, Diamond e Hutchinson (p. ex., Hutchinson 1959). Difundiu-se então a idéia de que as comunidades seriam estruturadas segundo determinadas regras de associação e exclusão competitiva (Strong et al. 1984). Em resposta a estas idéias, autores como Simberloff e Connor postularam que tais análises devem começar com a construção de uma hipótese nula gerada por um modelo de aleatorização (Gilpin & Diamond 1984). A discussão sobre se as espécies são distribuídas ao acaso ou não em relação às outras ainda incita muitas polêmicas, mas o uso de modelos nulos tem se difundido e se mostrado extremamente útil na detecção de padrões não aleatórios na organização das comunidades (Gotelli & Graves 1996). Gerrídeos (Heteroptera, Gerridae) são hemípteros aquáticos predadores generalistas que ocupam a superfície da água. Nosso objetivo foi testar a hipótese de que as comunidades de gerrídeos na várzea da Amazônia Central são organizadas acaso, comparando comunidades observadas com outras aleatórias construídas a partir de um modelo nulo. A hipótese nula de organização de comunidades ao acaso deve ser rejeitada se determinadas espécies se excluem mutuamente ou estão mais associadas do que o previsto pelo modelo nulo. Por exemplo, se a competição é um fator suficientemente forte para causar a exclusão competitiva entre pares de espécies, esperaríamos que espécies de tamanho corporal similar se excluam mutuamente nas comunidades. Por outro lado, as espécies podem se associar mais do que o esperado ao acaso devido, por exemplo, a associações mutualísticas ou seleção de recursos em comum. Foram coletadas 20 amostras do neuston em bancos de macrófitas, considerando uma distância mínima de 30 m entre cada uma das amostras. Os indivíduos foram coletados com puçás e rapichés, triados e acondicionados em álcool 70% para análise e identificação. Comprimentos totais corpóreos também foram medidos, em mm. Para comparar a distribuição de espécies observada com a esperada ao acaso, construímos um modelo nulo onde as observações de presença ou ausência foram redistribuídas na matriz; portanto, o número de linhas (20 amostras) e de colunas (quatro espécies) da matriz foi conservado, assim como os totais de espécies observados em cada amostra. Foram feitas 29 reamostragens sem reposição. Ao final deste processo, as distribuições de frequências esperadas ao acaso de co-ocorrência de cada um dos pares de morfoespécies foi comparada com os valores observados no campo. Resultados Foram observadas quatro morfoespécies, com tamanhos corporais variando entre 1,5 e 4,2 mm. As morfoespécies 1 e 4 apresentaram os tamanhos corporais mais semelhantes (Tab. 1). Seis amostras apresentaram as quatro morfoespécies, cinco amostras apresentaram três, cinco apresentaram duas, e quatro amostras apresentaram apenas uma das morfoespécies (média: 3,15 espécies/amostra). A morfoespécie 1 foi a mais frequente, e a morfoespécie 4 foi a mais rara nas amostras (Tab. 1). As frequências de co-ocorrências de todos os pares de morfoespécies (com exceção do par 1 e 4) foram maiores do que as esperadas ao acaso. As morfoespécies 1 e 4 ocorreram em frequência não distinguível daquela esperada ao acaso (Tab. 2). Material e Métodos Discussão O estudo foi desenvolvido em uma área de várzea, localizada na ilha da Marchantaria (02o 55’S; 59o 59’ W) no rio Solimões, a 15 km da confluência com o rio Negro, Amazonas, Brasil. De acordo com o modelo de aleatorização utilizado, a hipótese nula de que as espécies estejam distribuídas ao acaso entre diferentes comunidades foi rejeitada. A direção do efeito foi 30 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Tab. 1. Tamanho corporal e freqüência de ocorrência (em 20 amostras) das morfoespécies de gerrídeos observados. Morfotipo Freqüência de Média ± 1 D.P. (mm) 1 2 3 4 ocorrência 2,0 95% 4,2 ± 1,5 75% 1,5 ± 0,2 60% 2,3 ± 0,2 30% Tab. 2. Freqüências observadas de co-ocorrências de quatro morfoespécies de Gerridae (acima da diagonal principal) e amplitude dos valores esperados e valores de probabilidade (P) gerados pelo modelo nulo (abaixo da diagonal principal) 1 2 3 4 1 - 14 11 6 2 4-10 (0,03) - 11 7 3 2-8 (0,03) 2-7 (0,03) - 7 4 2-6 (0,07) 1-6 (0,03) 0-4 (0,03) - como efeito de grupo como uma defesa contra predação ou efeito de facilitação (maximização de forrageio). Usamos apenas dados de presença ou ausência, mas não de abundância. Assim, assumimos que a intensidade das relações interespecíficas entre gerrídeos são independentes da abundância ou densidade. Esta premissa, no entanto, mereceria maior contemplação. É possível, por exemplo, que espécies raras não exerçam pressão competitiva suficiente para excluírem outras espécies, ou não explorem recursos tão intensamente que precisem ser deslocados por competidores. Nesse sentido, é interessante notar que o par de morfoespécies mais similares em termos de tamanho corporal é formado pela espécie mais freqüente e a mais rara entre as amostradas. Em conclusão, observamos indícios de que comunidades de gerrídeos são estruturadas de modo não aleatório. É muito importante, no entanto, ressaltar que as conclusões do uso de modelos nulos dependem primariamente de como estes modelos são construídos e das premissas consideradas. Agradecimentos A Bill Eberhard pela maravilhosa palestra que estimulou a realização deste projeto. Ao barqueiro Enoch pela ajuda nos trabalhos de campo e ao pessoal da cozinha do Dona Selly II pela comida maravilhosa. Orientadores oposto do esperado se a exclusão competitiva fosse a principal força estruturando as comunidades. Não observamos espécies que se excluem mutuamente, mas observamos pares de espécies que estão associadas em frequência maior àquelas esperadas pelo acaso. Adicionalmente, nossa hipótese de que as morfoespécies similares se excluiriam não foi suportada, uma vez que as duas morfoespécies mais similares na área de estudo em termos de tamanho corporal (morfoespécies 1 e 4) co-ocorreram em freqüência semelhante àquelas esperadas pelo acaso. Vários fatores poderiam fazer com que espécies estejam associadas mais do que o esperado. O primeiro deles é a seleção de habitat. É possível que diferentes espécies estejam selecionando o mesmo tipo de habitat, se este habitat, p.ex., fornece grande proteção contra predadores ou grande disponibilidade de recursos alimentares. As espécies podem também estar selecionando habitats com uma determinada estrutura (correnteza, luminosidade, temperatura etc.). Outra possibilidade é que diferentes espécies co-ocorrem porque selecionam os mesmos tipos de presas. Finalmente, espécies podem associar-se mutualisticamente, tais Jorge Nessimian e Paulo De Marco Jr. Referências Bibliográficas Gilpin, M. E. & J. U. Diamond. 1984. Are species coocurrences on islands non-randon, and are null hypotesis useful in community ecology? Pp 297-315 in D. R. Strong, Jr., D. Simberloff, L. G. Abele e A. B. Thistle. Ecological communities: conceptual issues and the evidence. Princeton University Press, Princeton, New Jersey. Gotelli, N. J. & G. R. Graves. 1996. Null models in ecology. Smithsonian Institution Press, Washington and London. 368 p. Hutchinson, G. E. 1959. Homage to Santa Rosalia, or Why are there so many kinds of animals? American Naturalist 93:145-159. Strong Jr., D. R., D. Simberloff, L. G. Abele e A. B. Thistle. Ecological communities: conceptual issues and the evidence. Princeton University Press, Princeton, New Jersey. 613 p. Ocorrência de hemi-parasitismo por Psittacanthus falcifrons (Loranthaceae) em espécies arbóreas de várzea na Amazônia Central Elaine Lucas Gonsales, Gustavo Romero, Leandro Melo de Sousa, Maria Cecília Vega e Renata Durães Introdução Loranthaceae é a mais importante família de plantas hemiparasitas neotropicais, na qual está incluída as ervas-depassarinho, composta pelos gêneros Psittacanthus e Phoradendron, com flores grandes polinizadasprincipalmente por beija-flores (Gentry 1993). Os frutos possuem uma substância viscosa envolvendo as sementes, e são consumidos por uma grande variedade de espécies de aves. Estas aves agem também como dispersores quando, empoleirados em uma planta, regurgitam sementes e limpam o bico nos ramos; as sementes ficam então presas à planta devido ao visco, e germinam rapidamente. Quando adultas, Psittacanthus pode atingir grandes dimensões, chegando em algumas ocasiões a provocar a morte da planta hospedeira. Na várzea do rio Solimões, na Amazônia Central, várias espécies arbóreas são parasitadas por P. falcifrons. Entretanto, aparentemente algumas espécies são mais atacadas do que outras, o que parece estar relacionado à produção de compostos secundários que inibiriam a germinação das sementes em algumas espécies de plantas (Leandro Valle Ferreira com. pess.). O objetivo deste trabalho foi testar a freqüência de parasitismo por P. falcifrons em espécies arbóreas numa área de várzea da Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 31 Amazônia Central. Nossa hipótese nula é a de que todas as plantas hospedeiras são parasitadas proporcionalmente à sua abundância. A rejeição desta hipótese poderia sugerir a existência de fatores que determinam um padrão assimétrico de hemiparasitismo entre as plantas hospedeiras. Material e Métodos O estudo foi realizado em julho de 2002, na ilha da Marchantaria (03o15’S; 59o58’W), a 15 km da cidade de Manaus (AM). Percorremos por barco um transecto sem extensão prédefinida ao longo do qual identificamos todos os indivíduos de espécies arbóreas nas duas margens da “enseada”, observando se a planta estava ou não parasitada por P. falcifrons. Para testar se a freqüência de plantas parasitadas era constante ou variável entre as espécies hospedeiras, utilizamos teste de Qui-quadrado. Resultados Foram registradas 18 espécies arbóreas no transecto percorrido, das quais apenas quatro foram parasitadas: Alchornea castanaefolia (Euphorbiaceae), Cecropia membranacea (Cecropiaceae), Vitex cymosa (Verbenaceae) e Ocotea amazonica (Lauraceae) (Tab. 1). Das 7 espécies mais abundantes no transecto percorrido, somente Pseudobombax munsuba (Bombacaceae), a terceira mais abundante, não apresentou nenhum indivíduo parasitado (Tab. 1) Alchornea castanaefolia e V. cymosa apresentaram mais indivíduos parasitados que o esperado. Cecropia membranaceae foi menos parasitada que o esperado e Ocotea foi parasitada proporcionalmente à sua distribuição (Tab. 2). Tab. 1. Espécies de plantas parasitadas ou não parasitadas por Psittacanthus falcifrons em uma várzea da Amazônia Central. Parasitada Não parasitada Total Alchornea castanaefolia Espécies 31 32 63 Cecropia membranacea 8 89 97 Pseudobombax munguba 0 56 56 Vitex cymosa 9 5 14 Luehea sp. 0 1 1 Exollodendron coriaceum 0 1 1 Licaria armeniana 0 8 8 Ocotea amazonica 2 7 9 Astrocaryum jauari 0 3 3 Licania apetala 0 1 1 Senna reticulata 0 2 2 Crescentia amazonica 0 1 1 Laetia corimbulosa 0 12 12 Cordia tetrandra 0 1 1 Cynometra spruceana 0 1 1 Nectandra amazonum 0 1 1 Tabebuia barbata 0 1 1 Salix humboldtiana 0 17 17 Tab. 2. Freqüências observadas e esperadas (em negrito) de indivíduos parasitados e não parasitados de quatro espécies arbóreas em uma várzea da Amazônia Central Cecropia Alchornea membranacea castanaefolia Parasitado 8 (26) 31 (17) 9 (3,8) 2 (2,4) Não parasitado 89 (71) 32 (46) 5 (10,2) 7 (6,6) 97 63 14 9 Total 32 Vitex cymosa Ocotea amazonica Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Discussão A frequência diferencial de parasitismo entre espécies de plantas arbóreas observada no transecto observado pode ter sido influenciada por diversos fatores. Um destes fatores que pode reduzir as frequências de parasitismo em algumas espécies pode ser a produção compostos secundários, que inibiria a germinação e/ou crescimento das hemi-parasitas. Ferreira (com. pessoal) relatou este efeito em Hevea spruceana (Euphorbiaceae) em uma floresta de igapó na Amazônia Central. A associação com formigas também deve contribuir para a redução das taxas de parasitismo em plantas mirmecófilas como C. membranaceae e P. munsuba, que são ocupadas por formigas Azteca e Pseudomirmex respectivamente (Lima et al. 2000). Formigas removem lianas e protegem as plantas, provavelmente removendo sementes e brotos de plantas parasitas. Este fato foi observado por Aguirre et al. (2000) em Cecropia latiloba e outras espécies mirmecófilas nas florestas de várzea. Outras espécies podem ser mais parasitadas do que o esperado se aves selecionam essas árvores como poleiro. Seleção de poleiros para alimentação, vigilância de predadores, proteção, abrigo ou exibição é um aspecto comum em aves. Se algumas espécies de árvores são mais visitadas que outras, esperaria-se uma maior chegada de sementes de Psittacanthus a essas espécies. Por outro lado, se não existir seleção de poleiro, ainda é possível que plantas mais abundantes tenham uma maior taxa de parasitismo simplesmente devido à maior probabilidade de serem visitadas por aves. Em conclusão, o parasitismo por Psittacanthus é assimétrico entre as espécies arbóreasno transecto percorrido na área de estudo e seria de grande interesse que os diferentes fatores que podem estar causando este padrão, como sugeridos acima, fossem investigados. Agradecimentos A Leandro Valle Ferreira pela orientação, ao barqueiro Enoch pela ajuda nas saídas de campo e a Paulo De Marco Jr. pelo auxílio estatístico. Referências Bibliográficas Aguirre, A.; A. Vasconcellos; T. Pequeño; J. Brito & V.M. Layme. 2000. Ocorrência e impacto de “erva passarinho” (Psittacanthus sp.: Loranthaceae) sobre Cecropia spp. na várzea da Amazônia Central. In: Hopkins, M. & E. Venticinque (orgs.). Ecologia da floresta amazônica – Relatório de curso de campo. p. 41-42. Gentry, A.H. 1993. A field guide to the families and genera of woody plants of northwest South America. Conservation International, Washington D.C. 895 pp. Lima, R.C.; D.M. Takiya; J. Alves; L. Belger; M.U. Georgeoglou-Laxalde & V. Bonato. 2000. Mirmecofilia em Pseudobombax munguba (Bombacaceae) e Cecropia sp.(Cecropiaceae) na ilha da Marchantaria: riqueza de espécies de formigas e eficiência contra herbívoros. In: Hopkins, M. & E. Venticinque (orgs.). Ecologia da floresta amazônica – Relatório de curso de campo. p. 46. Orientador Leandro Valle Ferreira Avaliação da Estrutura de Guildas Alimentares de Arthropoda em Folhas Secas de Cecropia membranacea (Cecropiaceae) Adam Kaveh Bahrami, Felipe Pimentel, Flávia Monteiro Coelho, Jean Carlos Santos e Lily Arias Materiais e Métodos Realizamos o presente trabalho na Ilha da Marchantaria, localizada no Rio Solimões a 03o 15’ de latitude Sul e 60o 00’ de longitude Oeste, próximo à cidade de Manaus –AM. Utilizamos duas áreas de cecropiais, aparentemente semelhantes, para a coleta de folhas de C. membranacea. Coletamos três folhas por planta suporte (planta retendo folhas secas) em 20 árvores igualmente distribuídas em duas áreas. Pesamos cada folha antes da retirada dos Arthropoda e estes classificamos nas seguintes guildas alimentares: herbívoros, predadores, onívoros, fungívoros, necrófagos, hematófagos e detritívoros. Montamos uma matriz de presença e ausência para as guildas e fizemos uma média do peso das folhas coletadas na mesma planta suporte. Comparamos a matriz dos dados observados com 30 simulações realizadas que são representativas do acaso. Fizemos essas simulações a partir de sorteios em que foram mantidas as freqüências das guildas dos dados observados sem reposição de guildas anteriormente sorteadas, ou seja, as simulações apenas reorganizaram os dados, não havendo reamostragem como seria no caso de reposição das guildas anteriormente amostradas. Utilizamos a média e a variância dos dados amostrados e das simulações para compararmos o observado e o esperado e discutirmos o fenômeno. Para testar uma possível relação entre o número de guildas e o peso foliar utilizamos uma regressão linear. Resultados A média do número de guildas para os valores observados foi maior (média do observado = 3,45; p=0,03) quando comparada aos valores das simulações (Fig. 1). A variância do número de guildas para os valores observados esteve dentro dos valores esperados resultantes das simulações (variância do observado = 1,10; p=0,90) (Fig. 2). 8 7 6 5 4 3 2 1 0 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 Média observada = 3,45 Média do número de guildas Média do número de guildas Fig. 1 – Média do número de guildas esperado resultante das 30 simulações. 15 10 Count Freqüência Comunidade pode ser definido como um conjunto de populações que estão associadas através da interações entre seus indivíduos (Ricklefs 1976). A manutenção da estrutura e funcionamento das comunidades depende de uma grande variedade de interações complexas que envolvem direta ou indiretamente todos os membros da comunidades. Entretanto, um grande problema atualmente é como definir estrutura de comunidades na natureza e dizer se elas estão estruturadas ou representam o acaso. Sem o conhecimento da história natural de todos as espécies presentes numa comunidade, é difícil entender como são a interações entre elas. Desde a década de setenta, modelos nulos têm sido usados para avaliar a estrutura de interações em comunidades (Gotelli & Graves 1996). Esses são modelos de geração de padrões baseados na randomização de dados ecológicos ou amostragens ao acaso a partir de distribuições imaginadas ou conhecidas. São utilizados para produzir padrões que seriam esperados na ausência de mecanismos ecológicos particulares, possibilitando compará-los a dados reais. Tem sido usados para identificar interações entre pares de espécies e definir cadeias alimentares (Gotelli & Graves 1996). Outra ferramenta para caracterizar estrutura potencial de comunidades é o conceito de guilda, o grupo de espécies que explora a mesma classe de recursos ambientais de forma similar (Simberloff & Dayan 1991). Supondo que comunidades estruturadas apresentam um balanço de guildas (quantidade e qualidade), cada uma utilizando um recurso diferente, a presença ou ausência de guildas entre amostras pode ser utilizada para caraterizar a estrutura da comunidade. Sendo um recurso comum, complexo e relativamente estável, foliço acumulado na vegetação de sub-bosque de florestas tropicais pode suportar uma diversa comunidade de Arthropoda (Servat 1995). Dentro do foliço, essas espécies se protejem contra fatores físicos (e.g.- mudanças de temperatura) e biológicos (e.g.predação). Entretanto, existem algumas espécies de aves especializadas em forragear nesses locais (Servat 1995). Utilizando um modelo nulo, o nosso objetivo foi determinar se as guildas dos Arthropodas encontrados em foliço de C. membranacea numa área de várzea da Amazônia Central se distribuem ao acaso ou se existe algum padrão de distribuição que nos permita inferir que os organismos aí presentes estão interagindo e possam representar uma comunidade estruturada. A nossa hipótese é que essa comunidade apresenta uma estrutura (um maior número de guildas e uma menor variância do que previsto pelo modelo nulo). Freqüência Introdução Variância observada = 1,1 5 0 0.0 0.5 1.0 1.5 Variância dodenúmero de guildas Variância do número guildas Fig. 2 – Variância do número de guildas esperado resultante das 30 simulações. A regressão linear realizada entre o número de guildas e o peso médio das folhas foi significativa (R2 = 0,1863; p=0,057), e embora explique pouco este evento evidencia que o número de guildas aumenta com o aumento do peso foliar. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 33 Número de guildas 6 5 4 3 2 y = 0.3259x - 2.2677 R 2 = 0.1863 1 O modelo nulo, neste estudo, apresentou-se como uma eficiente ferramenta para determinarmos a estruturação e organização da comunidade de Arthropoda nas folhas. Embora o conceito de guildas seja útil na descrição de estrutura de comunidades em grande escala, não é sempre fácil identificar que espécies pertencem a mesma guilda e em muitos casos essa é uma decisão subjetiva. É necessário considerar a historia natural de todas as espécies presentes no próprio sistema para confirmar a existência de um mecanismo proposto pelos modelos. Agradecimentos 0 12 14 16 18 20 22 Peso médio de folhas (g) Fig. 3 – Relação entre o número de guildas alimentares de Arthropoda e o peso médio das folhas de C. membranacea. Discussão Os resultados deste estudo apontam para uma estruturação da comunidade de Arthropoda nas folhas de C. membranacea, o que pode ser observado pela maior média do número de guildas do observado comparado ao esperado. Possivelmente, exista uma pressão seletiva causando a ocorrência de interações entre estas guildas. No entanto, estas interações não são fortemente consistentes, pois o número de guildas pode variar entre as folhas e esta variância se encontra dentro do esperado. Uma possível explicação deste fenômeno seria as relações multitróficas neste sistemas. O número de guildas tende a ser maior em folhas mais pesadas, embora esta relação seja pouco significativa. Possivelmente, o aumento do tamanho foliar esteja aumentando também o espaço a ser ocupado pelos Arthropoda. São necessários estudos mais apurados para responder como estas guildas estão relacionadas nas folhas de C. menbranacea. Agradecemos a Grace Servat pela orientação no período de trabalho e sugestões com respeito à elaboração da parte escrito. A Paulo De Marco pelo apoia nas questões de modelagem matemática. E também ao cantor Zé ramalho por contribuir, através de suas músicas, para a manutenção da tranqüilidade e inspiração durante todo o trabalho. Referências Bibliográficas Gotelli, N. J & Graves, G. R. (1996). Null models in ecology. Smithsonian Institution Press, London. 368 pp. Ricklefs, R. E., (1976).The economy of nature. Chiron Press Incorporate, United State of America. Servat, G. (1995). Availability and use of food resources by two species of Automolus (Aves, Furnariidae).A thesis submitted to the graduate school at the University of Missouri – St. Louis. Simberloff, D. & Dayan, T. (1991). The guild concept and the structure of ecological communities. Annu. Rev. Ecol. Syst. 22: 115-143. Orientadora Grace Servat Relações entre o número de folhas e o número de flores de Pistia stratiotes (Araceae) numa área de várzea na Amazônia Central Adam Kaveh Bahrami, Felipe Pimentel, Flávia Monteiro Coelho, Jean Carlos Santos e Lily Arias Introdução Devido a uma considerável flutuação anual do nível das águas nos rios amazônicos as terras que os margeiam sofrem alagamentos periódicos (Klung et al. 1990). A maior parte dessas terras inundáveis é coberta por uma vegetação nativa (Kubitzki 1987). Parte dessa vegetação é formada por plantas herbáceas e gramíneas fixas ou não ao solo e que possuem ciclos biológicos curtos e alta produção primaria (Junk & Piedade 1993). Pistia stratiotes é uma espécie herbácea e flutuante, de ciclo de vida curto, geralmente restrito a fase alagada que ocorre juntamente com outras herbáceas e gramíneas compondo uma fisionomia caraterística das várzeas do Solimões e Amazonas formada por vegetação flutuante. Dois morfotipos, um de folha larga outro de folha estreita ocorrem em simpatria (com pess). O presente trabalho teve como objetivos relacionar o número 34 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 de folhas e o número de flores entre indivíduos de diferentes tamanhos do morfotipo de folha larga de P. stratiotes, assim como também entre os dois morfotipos distintos. Material e Métodos Esse estudo foi realizado na ilha da Marchantaria, AM, (03o 15’S 59o 58’W), uma ilha fluvial localizada a 15 Km de Manaus no Rio Solimões. O local de estudo foi caracterizado pela presença de grandes áreas de macrófitas intercaladas por áreas de vegetação arbórea. Coletamos cerca de 100 indivíduos de P. stratiotes de diferentes tamanhos pertencentes a dois morfotipos distintos. O primeiro, de folha larga, muito abundante, e o segundo, com folha estreita, foi mais raro. O esforço de coleta foi dividido em cerca de 10 locais diferentes, tomando-se sempre o cuidado de não coletar estolões. Contamos as folhas e flores de cada indivíduo dos dois morfotipos, e medimos o maior comprimento da maior folha para agrupar as plantas em categorias de tamanho, que foram: 0-5 cm; 6-10 cm; 11-15 cm; 16-20cm e maiores que 20 cm. Os morfotipos de folha larga e o segundo de folha estreita, foram comparados quanto ao numero médio de flores e quanto a superfície foliar media usando um teste t de Student As classes de tamanho da variedade folha larga foram comparadas quanto aos mesmos parâmetros através de uma análise de variância, ANOVA. Utilizamos uma comparação planejada entre as classes de tamanho de 0 a 5 cm e as demais quanto ao número de flores. Foi usada uma regressão linear para identificar uma possível relação entre o número de folhas e flores para o morfotipo de folha estreita. Resultados Observamos uma diferença no número de flores entre as cinco diferentes classes de tamanho do morfotipo folha larga (F=23,58;GL=4; p<0,001). A comparação planejada entre os indivíduos de 0 a 5 cm e as demais classes de tamanho mostrou que as plantas naquela classe de tamanho produzem mais flores que o esperado (F=33,26; GL=1; p<0,001) (Fig. 1). O número de flores também foi diferente entre os dois morfotipos (t=-13,472 ,GL=35, p<0,001; Tab. 1), o mesmo ocorrendo para o número médio de folhas e superfície foliar média (Tab. 1). Discussão O numero médio de flores por classe de tamanho mostrou que plantas de P. stratiotes que possuem folhas com menos de 5 cm de comprimento investem mais em reprodução sexuada do que em biomassa, ou mesmo reprodução vegetativa. Esse fenômeno pode estar associado ao final do período de alagamento na várzea do Solimões. Junk & Howard-Williams (1984) encontraram dois picos de crescimento em P. stratiotes, sendo o segundo pico no final do período de alagamento (Fig. 2). Uma possível explosão de reprodução sexuada pode estar acompanhando o pico de crescimento. Como no final da enchente toda a população de P. stratiotes tende a morrer, a alocação de recursos para a produção de flores, mesmo nos indivíduos jovens, pode garantir um aporte considerável de sementes para o próximo pulso de enchente. O morfotipo de folha estreita aparentemente se mostrou mais eficiente quanto a produção de flores por superfície foliar. Os dois morfotipos porém, habitam o mesmo ambiente e essas diferenças morfológicas e provavelmente fisiológicas precisam ser esclarecidas em estudos posteriores. Taxa de crescime nto relativo (g/g/dia) Nível da água (m) Nov Nov Nov Fig. 2. Modelo esquemático do crescimento de Pistia stratiotes comparado ao ciclo de inundação. Fonte: Junk & HowardWillimas (1984) Agradecimentos Agradecemos a Maria Tereza Fernandes Piedade pela orientação no período de trabalho e sugestões com respeito à elaboração da parte escrita e Paulo De Marco pelo apoio nas questões de modelagem matemática. Referencias Bibliográficas Fig. 1 – Número médio de flores nas cinco diferentes classes de comprimento das folhas de indivíduos de folhas largas em Pistia stratiotes. Tab. 1: Valores médios e desvio padrão do número de flores, número de folhas e área da maior folha para os dois morfotipos estudados (folha larga, n=15 e folha estreita, n=15). Número de flores Número de folhas Área da maior folha (X ± DP) (X ± DP) (X ± DP) Folha Larga 0,9±1,3 8,3 ±2,1 61,7±8,4 Folha Estreita 7,5±1,6 14,6±3,4 23,0±4,1 Klinge, H.; Junk, J.W., Revilla, C. J. 1990. Status and distribution of forested wetlands in tropical South America. Forest Ecoloy and Management 33/34: 81-101 Junk, J.W e Piedade, M.T.F. 1993. Herbaceous plants of the Amazon floodplain near Manaus: Species diversity and adaptations to the flood pulse. Amazoniana 12: 467-484. Junk, W. J. & Howard-Williams, C. 1984. Ecology of aquatic macrophites in Amazônia. In: Monographical Biologicae, Vol 56. Harold Sioli Press. 269-293. Kubitzki, K. 1987. The ecogeoraphical differentiation of Amazonian inundation forests. Plant sistematics and evolution. 162: 285-304. Orientadora Maria Tereza Fernandes Piedade Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 35 Efeito do período de inundação sobre a Riqueza de Espécies Arbóreas de uma Área de Várzea na Amazônia Central Daniel Scheibler, Maria Luisa Jorge, Karl Mokross, Verónica Cepeda, Ricardo Darigo Introdução Resultados De um modo geral, os rios da bacia amazônica sofrem grandes flutuações anuais do nível fluviométrico em razão do degelo de neve na região dos Andes e às chuvas nas cabeceiras dos rios. Essas flutuações sazonais podem chegar até cerca de 14 metros de amplitude, e ocorrem durante o verão, entre os meses de dezembro até junho ou julho (Keel & Prance 1979; Ayres 1993). Nas planícies alagáveis dos grandes rios amazônicos, grande parte da cobertura vegetal é composta por matas de várzea ou de igapó. Essas formações ripárias são profundamente influenciadas pelo regime de cheias do rio determinando as características abióticas e os processos bióticos do ecossistema. Segundo Junk et al. (1989), o ambiente físico-químico resultante das planícies de inundação gera respostas morfológicas, fisiológicas e fenológicas dos organismos formando comunidades características que suportam a tensão abiótica. Junk e Piedade (1993, 1997) atribuíram ao pulso de inundação o retorno a estágios iniciais de sucessão, pela repetição do distúrbio, ou clímax edáfico (Odum 1971). A tolerância ao estresse hídrico varia entre as espécies arbóreas, logo existem diferenças na composição de espécies em áreas alagáveis ao longo de um gradiente topográfico (Ferreira e Stohlgren 1999). A riqueza e diversidade florística do estrato arbóreo de formações florestais de áreas inundáveis aumenta quanto menor o nível médio da água durante o período de inundação (Ayres 1993; Ferreira 1997, 1998). Isso pode ser observado pelo aumento do número de espécies arbóreas conforme se vai do lago em direção à borda do igapó com a terra firme, onde a inundação é muito breve. Ferreira (1991) em igapó do Rio Tarumã-Mirim, afluente do Rio Negro encontrou uma relação negativa entre a profundidade e a riqueza de espécies. Esse trabalho visa testar a hipótese de que existe um aumento na riqueza de espécies no sentido do gradiente topográfico em uma área de várzea na Amazônia Central. Houve um aumento significativo da riqueza de espécies em relação à distância da calha do rio (F = 24, g.l. = 2, p < 0,001; Fig. 1). O número total de espécies variou de 1 a 2 nas parcelas próximas ao rio. Já as parcelas da área intermediária (área 2) apresentaram uma média de riqueza de duas a quatro espécies, com um total de oito espécies. A riqueza da área mais distante (área 3) variou entre três e sete, com um total de 16 espécies (Fig. 1). O índice de similaridade de Morisita indicou que as áreas 1 e 2 eram mais similares do que as áreas 2 e 3 (1 e 2=0,61; 1 e 3=0,01; 2 e 3=0,18). Apesar de ter havido uma diferença significativa de profundidades entre as áreas (F = 6,101, g.l. = 2, p = 0,015; Fig. 1). Vale ressaltar que as variações entre as áreas amostradas não foram muito elevadas (amplitude máxima de 1,65m) e que houve muita sobreposição de valores. De fato, após utilizarmos o Teste de Tukey para saber quais áreas diferiram em profundidade, encontramos uma diferença significativa somente entre as áreas 1 e 3 (Teste a posteriori de Tukey: 1 e 2: p = 0,203; 1 e 3: p = 0,011; 2 e 3: p = 0,258). Tab. 1. Lista das espécies e número de indivíduos nas parcelas amostradas na região de Várzea do rio Solimões, na Ilha da Marchantaria, próxima de Manaus. Espécie Família Área 1 Área 2 Área 3 11 1 Acalypha macrostachya Euphorbiaceae Alchornea castaenifolia Euphorbiaceae Astrocaryum jauari Arecaceae 5 Casearia aculeata Flacourtiaceae 1 Cecropia membranacea Cecropiaceae Clitoria racemosa Caesalpiniaceae Cordia tetrandra Boraginaceae Eschweilera ovalifolia Lecythidaceae 2 Ilex inundata Aquiifoliaceae 1 Laetia corymbulosa Flacourtiaceae 7 Lauraceae sp1 Lauraceae 3 Lauraceae sp2 Lauraceae Materiais e Métodos Licaria armeniana Lauraceae O estudo foi conduzido em uma área de várzea no lado norte da ilha da Marchantaria (02o55’S 59o59’W), no rio Solimões, município de Iranduba, próximo a Manaus (AM). A temperatura média anual é de 26,7o C e a pluviosidade média na região é em torno de 2186 mm por ano (RADAMBRASIL 1978). Amostramos três áreas a diferentes distâncias da calha principal do Rio Solimões: (i) próxima à calha do rio (cerca de 70 metros); (ii) distância intermediária (aproximadamente 200 metros) ; (iii) e uma terceira, distante a 700 metros. Em cada uma das áreas marcamos cinco parcelas de 10 x 10 m, distantes cerca de 30 metros, com o auxílio de uma trena. Além disso, medimos as profundidades aproximadas em cada parcela com o auxílio de uma trena e um peso de ferro. Todos os indivíduos arbóreos com mais de 10 cm de diâmetro na altura da lâmina de água foram contados e identificados. Para testar se havia diferença de riqueza de espécies entre as três áreas, realizamos uma análise de variância (ANOVA). Utilizamos a mesma análise para testar se haviam diferenças de profundidade entre as três áreas. Para calcular a semelhança das três áreas em relação à riqueza e abundância relativa, utilizamos o índice de similaridade de Morisita (Krebs 1999). Luehea cf. cymulosa Tiliaceae Pseudobombax munguba Bombacaceae Psidium acutangulum Myrtaceae 1 Tabebuia barbata Bignoniaceae 1 Triplaris surinamensis Polygonaceae Vitex cymosa Verbenaceae 36 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 1 73 13 1 2 1 1 1 4 1 3 9 1 2 Indeterminada sp.1 1 2 8 Rique za de e spé cie s 7 6 5 4 3 2 1 0 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 P ro fu nd i d a d e (m ) Fig. 1: Riqueza de espécies em relação às profundidades nas parcelas da áreas amostradas em um gradiente de distância da margem do rio Solimões, na Ilha da Marchantaria (área 1: círculos; área 2: quadrados; área 3: triângulos). Discussão Como esperado, e como mostrado por Ferreira & Stohlgren (1999) para áreas de Igapó na Amazônia Central, nossos resultados mostram um aumento na riqueza de árvores quanto maior a distância da calha do rio Solimões na Amazônia Central. Junk (1989) caracteriza este sistema como uma sucessão ecológica espacial. As espécies mais resistentes a períodos de inundação muito prolongados são pioneiras, com crescimento rápido e com adaptações morfológicas e fisiológicas para resistir à inundação, como por exemplo (raízes adventícias, lenticelas fotossintetizantes, capacidade de utilizar vias metabólicas anaeróbicas). Neste estudo, tivemos como exemplo Cecropia membranacea (Cecropiaceae) e Pseudobombax munguba (Bombacaceae), Alchornea castaenifolia (Euphorbiaceae) e Salix humboldtiana (Salicaceae). As espécies das áreas mais distantes da margem do rio são espécies de estágios avançados de sucessão que toleram menos a inundação e por isso ocupam locais onde os períodos de inundação são mais curtos. Isto não significa que as espécies típicas das áreas que permanecem alagadas por mais tempo não possam ocorrer nas áreas que apresentam período de inundação mais curtos. De fato, em nosso estudo, encontramos indivíduos de C. membranacea também nas parcelas da área intermediária e P. munguba presente nas três áreas. O gradiente de profundidade encontrado mostrou um padrão inverso ao esperado, ou seja, maior profundidade perto à calha principal do rio e maior quanto mais afastado. Uma explicação plausível para este resultado é que neste caso, e provavelmente para outras regiões de várzea, os processos de sedimentação do rio sejam mais importantes do que os processos de erosão e ocorram mais intensamente nos locais mais próximos à calha do rio. Neste caso, o gradiente de riqueza não é uma resposta somente a um gradiente de tolerância ao período de inundação, mas também à intensa sedimentação. No entanto, um fator histórico também deve ser levado em consideração. M. Piedade (com. pess.) relatou que nos últimos dez anos, a entrada de água no lago onde foram amostradas as duas áreas mais distantes da calha do rio, está sofrendo um processo de sedimentação intenso que o está isolando do rio Solimões. Isto pode estar modificando o processo sedimentação dentro do lago em relação ao que ocorre nas margens do rio e poderia estar refletindo no padrão encontrado em nosso estudo. Entretanto, como o processo é recente, não houve tempo suficiente para que a comunidade de árvores tenha modificado a sua estrutura e composição em resposta às mudanças no processo de inundação e sedimentação do lago. Neste caso, nossos resultados de riqueza e profundidade estariam refletindo dois momentos distintos da história do local. De qualquer maneira, nosso estudo mostrou que a dinâmica de inundação nas áreas de Várzea é mais complexa do que nas áreas de igapó, por conta não somente do período de inundação, mas também devido a dinâmica de sedimentação. Agradecimentos A Leandro V. Ferreira, pela orientação e identificação das plantas; a Maria Tereza Piedade pelo auxílio nas discussões e a Paulo Marcos, pelo auxílio nas análises estatísticas. Referências Bibliográficas Ayres, J.M. 1993. As Matas de Várzea do Mamirauá. Pp: 3-4. MCT – CNPq – Programa Civil Mamirauá, Brasília, DF. Ferreira, L.V. 1991. O efeito do período de inundação na zonação de comunidades, fenologia e regeneração em uma floresta de igapó na Amazônia Central. (Dissertação de mestrado). Manaus, PPG-INPA. 207 p. Ferreira, L.V. 1997. Effects of the duration of flooding on species richness and floristic composition in three hectares in the Jaú National Park in floodplain forests in central Amazonia. Biodiversity and Conservation, 6 (10): 13531363. Ferreira, L.V. 1998. Intraspecific variation in phenology in relation to flooding duration in Eschweilera parvifolia (Lecythidaceae) in Central Amazonian Floodplain Forest. Anais da Academia Brasileira de Ciências 70 (3): 677680. Ferreira, L.V. and J. T. Stohlgren. 1999. Effects of river level fluctuation on plant species richness, diverity, and distributionin the amazon floodplain. Oecologia 120 (4): 582-587. Junk, W.J.; P. B. Bailey & R. E. Sparks.1989. The flood-pulse concept in river floodplain systems. Canadian Special Publications on Fishery and Aquatic Sciences, 106: 110127 (Special issue: Dodge, D.P. (ed.), Procedings of the International Large River Symposium). Junk, W. J. & M. T. F. Piedade 1993. Herbaceous plants of the Amazon floodplain near Manaus: Species diversity and adaptations to the flood pulse. Amazoniana, XII (3/4): 467-484. Junk, W. J. & M. T. F. Piedade 1997. Plant life in the floodplain with special reference to herbaceous plants. Pp. 147-186. In: JUNK, W. (ed.) The Central Amazon Floodplain: Ecology of a pulsing system. Springer-Verlag. Berlin. Keel, S. H. K. & G. T. Prance. 1979. Studies of the Vegetation of a white-sand black-water Igapó (Rio Negro, Brazil). Acta Amazonica, 9 (4): 645-655. Krebs, C. J. 1999. Ecological Methodology. Benjamin Cummings, 2a edição, 620 pp. Odum, E. P. 1971. Fundamentals of Ecology. W. B. Saunders Company. Philadelphia, 574 p. Orientador Leandro Valle Ferreira Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 37 Abundância e riqueza de espécies de aranhas em dois microhabitats em área inundada de mata de várzea Daniel Ricardo Scheibler, Maria Luisa Jorge, Karl Mokross, Verónica Cepeda e Ricardo Darigo Introdução Comunidades de seres vivos que vivem em locais sujeitos à alterações bruscas do ambiente, como variações extremas de temperatura, salinidade ou acidez, freqüentemente apresentam mecanismos morfológicos, fisiológicos ou comportamentais para viverem nestes locais. Na Amazônia, a várzea é um ecossistema sujeito à inundações anuais dos rios da região (Junk 1989). O ajuste das comunidades que vivem nestes locais pode ocorrer de várias formas (Junk et al. 1989). Artrópodes capazes de voar podem se deslocar horizontalmente e ocupar regiões não inundadas temporariamente. Para os que não têm essa capacidade, ainda é possível apresentar adaptações para sobreviver debaixo água, seja em alguma forma dormente, seja ativamente. Finalmente, aos que não voam e nem têm a capacidade de sobreviver tanto dentro como fora d’água, resta deslocar-se horizontalmente no solo ou verticalmente nas árvores em que vivem (Adis 1997). Dentre artrópodes arborícolas que vivem nas várzeas do rio Solimões, estão duas famílias de pseudo-escorpiões (Miratemnidae e Olpiidae) e duas de aranhas (Pholcidae e Pisauridae). Os pseudo-escorpiões dessas duas famílias ocupam também o estrato terrestre da mata quando está seco. Já indivíduos dessas duas famílias de aranhas vivem somente nas árvores e se deslocam verticalmente conforme mudanças no nível d’água (Adis 1997). Assim, espera-se que no caso dessas duas famílias de aranhas, os estratos mais baixos sejam gradativamente ocupados, acompanhando a diminuição do nível do rio. Se, de fato, a ocupação for gradativa, é possível que a riqueza e abundância sejam mais baixas nestes locais pouco tempo após a água baixar. O objetivo do nosso trabalho foi determinar se há diferenças na riqueza e abundância da comunidade de aranhas da família Pholcidae entre o estrato logo acima do nível d’água (que provavelmente está fora d’água há pouco tempo) e outro mais acima (que já está fora d’água há mais tempo), em uma mata de várzea da Amazônia central, no início da época de vazante (quando as águas começam a baixar). Materiais e Métodos O estudo foi conduzido em 18 de julho de 2002 em uma mata de várzea, no baixo rio Solimões, na ilha da Marchantaria (02o55’S, 59o59’W), no município de Iranduba, próximo a Manaus, AM. A temperatura média anual é de 26,7o C e a pluviosidade média na região é em torno de 2186 mm por ano (RADAMBRASIL 1978). Nesta época do ano, o nível d’água estava baixando. Estabelecemos oito transectos de seis metros de comprimento por um de largura e dois estratos foram amostrados. Todas aranhas da família Pholcidae encontradas entre o nível d’água e 50 cm de altura e entre 1,5 e 2 metros de altura foram coletadas e posteriormente classificadas e agrupadas em morfotipos. Testamos diferenças de riqueza e abundância de morfotipos entre os dois estratos por meio do teste t pareado. Também testamos diferenças de abundância entre estratos para cada um morfotipos utilizando o mesmo teste. Finalmente, determinamos o grau de similaridade de riqueza entre os dois estratos, utilizando o índice quantitativo de Morisita. Resultados Encontramos oito morfotipos de Pholcidae nos dois estratos estudados (Tab. 1). Não houve diferença para a abundância de 38 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 morfotipos entre os dois estratos (t = - 0,724; g.l. = 7; p = 0,493), ocorrendo o mesmo para a riqueza (t = - 0,882; g.l. = 7; p = 0,407). Apesar de alguns morfotipos parecerem ser mais abundantes em um estrato do que no outro, o teste t pareado só foi significativo para uma espécie (Tab. 2) e o índice de similaridade de Morisita (0,74) indicou alta semelhança entre os estratos. Discussão De uma forma geral, os resultados indicam que a comunidade de aranhas parece ocupar rapidamente os estratos mais baixos da mata de varzéa na medida em que o nível da água diminui. Mesmo para os morfotipos que, no geral, pareceram apresentar certa separação entre estratos, a variação entre amostras foi muito elevada, indicando que a variação horizontal na distribuição espacial dos indivíduos foi um fator mais relevante neste estudo. Isto é, alguns locais apresentaram densidades elevadas desses animais, ao passo que outros locais não. Vale ressaltar que nossa coleta se restringiu a dois metros de altura e que portanto, nada podemos inferir a respeito de diferenças entre a nível próximo à água e estratos mais altos. Mesmo assim, é possível que o padrão que estávamos procurando não tenha sido encontrado por questões ecológicas e comportamentais dessas aranhas. Aranhas da família Pholcidae constróem teias irregulares e usualmente ficam de cabeça para baixo, na parte inferior da teia (Borror & DeLong 1988). E. Vintecinque (com. pess.) esclareceu que é possível que estas aranhas ocupem suas teias de forma efêmera e mudem de lugar freqüentemente. Nossos dados indicam que, de fato, a ocupação do estrato que surge gradativamente com a redução do nível d’água parece ser ocupado rapidamente e de forma desorganizada pelas diferentes espécies. Um estudo de acompanhamento do deslocamento de indivíduos durante a época de diminuição do nível do rio deve determinar os padrões de ocupação dos ambientes que surgem com a diminuição do nível d’água por este grupo de aranhas. Tab. 1: Abundância de cada morfotipo de Pholcidae por transecto, em uma área de Várzea, na Ilha da Marchantaria, Iranduba, AM. (A = 1,5 a 2 metros acima do nível d’água; B = 0 a 0,5 metros acima do nível d’água). Morfotipos Transecto s 1 2 3 4 5 6 7 8 Total A B A B A B A B A B A B A B A B A B 1 2 3 4 5 6 7 8 Total 1 0 0 2 3 0 6 3 0 5 2 4 3 12 8 32 23 58 3 0 0 0 4 0 1 6 0 1 1 0 0 5 8 7 17 19 0 0 4 3 1 0 0 2 0 12 3 14 3 9 4 7 15 47 0 1 3 5 10 0 0 0 0 5 0 0 2 10 3 2 18 23 1 0 4 0 9 0 6 0 0 4 7 0 4 0 4 3 35 7 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 2 6 3 2 6 3 12 12 0 0 0 0 0 0 0 0 2 1 1 0 0 6 1 0 4 7 4 0 0 0 0 0 6 0 0 0 0 1 0 0 0 0 10 1 10 1 11 11 27 0 19 11 2 28 16 25 15 44 34 54 308 Tab. 2: Resultado do teste t pareado para cada morfotipo de Pholcidae encontrado, no estudo realizado em uma área de Várzea, na Ilha da Marchantaria, Iranduba, AM. (A = 1,5 a 2 metros acima do nível d’água; B = 0 a 0,5 metros acima do nível d’água). Estrato Morfotipo A 23 17 15 18 35 12 4 10 1 2 3 4 5 6 7 8 B 58 19 47 23 7 12 7 1 t p 1.389 0.213 2.183 0.338 2.411 0.000 0.456 1.286 0.208 0.838 0.065 0.746 0.047 1.000 0.662 0.239 Agradecimentos A Jorge Luiz Nessimian, pelo incentivo e pelo traquejo em pensar em novos projetos quando descobrimos que nossos psocópteros tinham sumido. A Eduardo Venticinque, por nos dar alguns esclarecimentos sobre o comportamento das aranhas. A Izaque, nosso barqueiro. Referências Bibliográficas Adis J. 1997. Terrestrial Invertebrates: Survival Strategies, Group Spectrum, Dominance and Activity Patterns. Ecological Studies v. 126: 299-317. Borror D. J. & D. M. DeLong 1988. Introdução ao Estudo dos Insetos. Editora Edgard Blücher, São Paulo, Brasil. 653 pp. Junk, W. J. 1989. Flood tolerance and tree distribuition in central Amazônia. In: Holm-Nielsen, L. B., I. C. Nielsen, H. Balsev (eds.) Tropical forests botanical dynamics. Speciation and diversity. Pp: 47-64. Academic Press, London. Junk, W. J., P. B. Bayley & R. E. Sparks 1989. The flood pulse concept in river-floodplain systems In Dodge, D. P. (ed.): Proceedings of International Large River Symposium (LARS), Canadian Special Publication of Fishery and Aquatic Science 106: 110-127. Orientador Jorge Luiz Nessimian Relação entre artrópodos e folhas secas de Cecropia sp. na várzea do rio Solimões Ana Maria O. Pes, Ludmila P. Siqueira, Marcio Uehara-Prado, Max Hidalgo & Sunshine Menezes Introdução A disponibilidade dos recursos pelos organismos é muito importante para alguns animais como aves. Muitas destas são insetívoras e as folhas secas que servem como refugio para artrópodos oferecem para elas uma fonte de alimento (Rosenberg 1990). Artropodos são ativos durante a noite e em sua maioria durante o dia procuram esconderijos em folhas secas. As folhas secas de Cecropia spp, que são espécies comuns na várzea, poderiam ser mais visitadas pelas aves que buscam insetos. Servat (1995), observou que acumolo de folhas mortas suspensas sobre a vegetação são locais de forrageio para aves, o que favoreceria a especialização destas, sendo isto um importante processo que pode explicar em parte a seleção de microhabitats para forrageio das aves. Por isso nosso projeto teve como objetivo de verificar relação entre o número e o tamanho dos artrapodos com com o tamanho das folhas de Cecropia spp. Acreditavamos que haveria uma maior abundância, e artropodos maiores em folhas maiores do que em folhas pequenas, visto que as câmaras de folhas grandes poderiam abrigar tanto artropodos grandes como os pequenos e médios, ao passo que as folhas pequenas seriam limitante para os artropodos maiores. H1: Folhas secas maiores de Cecropia spp. apresentam maior abundância de artropodos e artropodos de tamanho maiores. Material e Métodos Foram coletadas aleatoriamente 37 folhas secas de Cecropia spp. na mata de várzea do Lago Camaleão, rio Solimões. As folhas foram recolhidas ao laboratório, onde foi realizada a pesagem e medidos o pecíolo, após os artropodos foram contados e classificados em três categorias (1 = d” 5 mm; 2 = > 5 e 3 = e”10 mm). Formigas foram consideradas como um único indivíduo. Foram realizadas regressões logística e linear para comparar o nº e tamnaho de artropodos relacionando com o tamanho das folhas e correlação para verificar se existia relação com o tamnaho da folha e o comprimento do peciolo. Resultados Encontramos um número total de 176 indivíduos entre 37 folhas de Cecropia.spp. A maior freqüência dos artrópodos encontrados apresentou tamanho corporal maior do 10 milímetros. Com relação as folhas encontradas, o tamanho mais freqüente de folhas foi de 20 mg sendo os limites inferiores e superiores entre 13,5 e 40 mg, respectivamente.. Não foi verificado um aumento do número indivíduos conforme aumento do tamanho da folha, diferentemente do esperado. Por outro lado, um maior tamanho corporal dos artrópodes foi encontrados em folhas de maior peso. A Tab. 1, apresenta todos os resultados obtidos nas análise realizadas entre as variáveis selecionadas e os testes realizados. Discussão Fig. 1 Predições para o nº e o tamanho de artropodos com relação ao tamanho das folhas secas de Cecropia spp. Nossos resultados sugerem que folhas com tamanho foliar maior apresentam um maior número de artropodos maiores que estariam utilizando estas como refugio, para os artropodos menores de 10 mm não apresentaram preferência por nem um tipo de folha. Isto pode explicar como pensavamos, que folhas grandes de Cecropia spp. formam câmaras grandes onde os artropodos poderiam encontrar refugio. Além disso, nós não encontramos relação entre o número de individuos e o peso das folhas, então que uma folha grande não é um fator limitante para insetos pequenos, mas pode ser para os artropodos maiores. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 39 Tab. 1. Testes de regreessão logistica e linear entre o peso de folhas e comprimento do pecíolo de Cecropia spp. versus nº de indivíduos e e classes de tamaho dos artropododos e formigas. Teste Variáveis P 2 R Rlin Peso x No. de indivíduos 0,383 0,022 Rlin Comprimento pecíolo X No. de indivíduos 0,375 0,023 Rlin Peso x Tamanho do pecíolo < 0,000 0,38 Rlog Peso x Classe 1 0,628 Rlog Peso x Classe 2 0,778 Rlog Peso x Classe 3 0,02 Rlog Tamanho pecíolo x Classe 1 0,173 Rlog Tamanho pecíolo x Classe 2 0,382 Rlog Tamanho pecíolo x Classe 3 0,088 Rlog Tamanho pecíolo x Formigas 0,869 Rlog Peso X Formigas 0,527 Correlação Peso x tamanho de folha Rlog = Regressão Logistica 40 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Tal fator, pode ser muito importante para algumas espécies de aves que podem se especializarem-se em forragear nestes microhabitats, em funçào de uma maior disponibilidade de biomassa (Remsem & Parker III 1984). A biomassa de folhas secas com insetos é maior nas zonas tropicais, o dossel é maior e o regimento de caída das folhas não é estacional, por isso havweriam mais especialistas (Remsem & Parker III 1984, Rosenberg 1990). Referências Bibliográficas 0,679 Remsem, J.V. Jr. & Parker III. T.A. 1984. Arboreal dead-leafsearching birds of the neotropics. The Condor, 86:36-41. Rosenberg. K.V. 1990. Dead-leaf foraging specialization in tropical forest birds: measuring resource avaibility and use. Studies in Avian Biology, 13: 360-368. Servat, G. P. 1995. Availability and use of food recurses by two species of Automolus (Aves, Furmariidae). Thesis. Graduate School at the University of Missouri St. Louis. 90 p. Estratégias reprodutivas em dois morfotipos de Pistia stratiotes Sunshine Menezes, Max Hidalgo, Ludmila Siqueira, Ana Maria Pes, Marcio Uehara-Prado Introdução O padrão de inundação e as respostas de muitas espécies de plantas em águas brancas do rio Solimões são reconhecidos por muitos autores (Ayres 1993; Junk 1984). O período de seca é freqüentemente desfavorável ou fatal para macrófitas aquáticas. Desta forma, existe a necessidade de compensar durante o período favorável as perdas que ocorrem durante o período desfavorável, de modo que a sobrevivência das populações através da próxima fase crítica seja assegurada. O padrão de crescimento e reprodução de Pistia stratiotes está relacionado com estes pulsos de inundação (Junk & Howard-Williams 1984). Assim, a taxa relativa de crescimento de P. stratiotes tem dois picos por ano, que correspondem à oscilação sazonal no nível da água (Fig. 1). Em estudos realizados na Ilha da Marchantaria, foram observadas duas formas, ou morfotipos, das espécies P. stratiotes. Uma das formas (aqui referida como morfotipo 1) tem folhas maiores, arredondadas e com maior número de nervuras (entre 9 e 13). A outra forma (morfotipo 2) tem folhas menores e alongadas, e possuem entre 4 e 6 nervuras. Formulou-se a hipótese de que os dois picos de crescimento de Pistia stratiotes poderiam corresponder aos morfotipos observados. Formulamos a hipótese de que o morfotipo 1 tem mais tempo para crescer, podendo desenvolver estruturas reprodutivas de dois tipos: vegetativas e sexuadas, na forma de estolões e flores, respectivamente. Por outro lado, o morfotipo 2, que teria menos tempo para crescer, investiria proporcionalmente mais em produção de flores e frutos, o que aumentaria as chances de reestabelecimento da população no ciclo sazonal subseqüente. Com base na hipótese apresentada, o objetivo deste estudo foi verificar a existência de estratégias reprodutivas distintas nos dois morfotipos de Pistia stratiotes. apenas para o número de flores, indicando que o número de flores produzidos pelo morfotipo 2 é superior ao produzido pelo morfotipo 1. Também, o número de flores produzidos no morfotipo 1 varia pouco conforme o aumento do peso das folhas (Fig. 2E). Tab. 1. Relação entre o peso das folhas e o número de folhas, flores e estolões, para os morfotipos 1 e 2 de Pistia stratiotes. Morfotipo Inclinação Intercepto R2 P 1 0,116 ± 0,057* 7,460 ± 0,965 0,404 < 0,001 2 0,737 ± 0,349* 7,372 ± 1,78 0,401 < 0,001 1 0,008 ± 0,031* 0,476 ± 0,528* 0,010 0,613 2 0,417 ± 0,389* 4,829 ± 1,99* 0,417 0,036 No. De 1 0,067 ± 0,077* 2,317 ± 1,307 0,109 0,086 estolões 2 0,419 ± 0,263* 0,276 0,003 Estrutura No. de folhas No. De flores 3,124 ± 1,34 * = diferenças significativas entre os intervalos de confiança. Material e Métodos Coletamos 30 indivíduos de cada morfotipo de P. stratiotes no Lago do Camaleão, Manaus, AM. Em laboratório contamos o número de folhas, flores, frutos e estolões de cada indivíduo. Após lavadas e secas, por no mínimo uma hora, pesamos as folhas utilizando pesolas com capacidade de 10, 100 e 600 g. Os pesos foram utilizados como uma medida de tamanho da planta. Regressões lineares foram usadas para analisar a relação entre o tamanho das plantas e o número de folhas e de estruturas reprodutivas. As diferenças entre os morfotipos foram analisadas por comparação dos intervalos de confiança obtidos para os diferentes parâmetros estudados. Fig. 2. Relação entre o peso das folhas e o número de folhas, flores e estolões, para os morfotipos 1 (A, C e E) e 2 (B, D e F) de Pistia stratiotes. Resultados Discussão Encontramos diferenças significativas para todas as variáveis comparadas entre os morfotipos (Tab. 1, Fig. 2), exceto pelo ponto de interseção obtido na relação entre o número de folhas e peso das folhas. Verificamos que o morfotipo 2 apresentou um maior aumento do número de folhas, flores e estolões em relação ao tamanho das plantas. A relação tamanho x número de flores e tamanho x número de estolões não foi significativa para o morfotipo 1 (Tab. 1). Todas as variáveis estudadas apresentaram uma maior taxa de incremento no morfotipo 2 em relação ao morfotipo 1, como indicado pelos intervalos de confiança que não incluem as médias das inclinações em nenhum dos casos (Tab. 1). O ponto de intercepto para os dois morfotipos foi estatisticamente diferente Os padrões encontrados neste trabalho demonstram diferenças marcantes nas estratégias de crescimento e reprodução entre os dois morfotipos de Pistia stratiotes. Surpreendentemente, o morfotipo 2 produziu, proporcionalmente, maior número de estolões. Tal estratégia não era esperada, uma vez que o período de secas iminente provavelmente resulta na mortalidade da maior parte dos indivíduos de P. stratiotes (Piedade com. pess.). Por outro lado, o maior número de flores e frutos observados indicam que os indivíduos do morfotipo 2 produzirão uma grande quantidade de sementes, provavelmente capazes de permanecer viáveis durante a estação seca e germinar na estação favorável, mantendo a população nesse sistema. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 41 O fato de que espécies palustres possuem grande plasticidade morfológica e fisiológica (Junk & Piedade 1994), oferece subsídios à hipótese de que trabalhamos com os dois morfotipos. No entanto, dado que em trinta anos de estudos na ilha da Marchantaria o morfotipo 2 nunca havia sido observado (Piedade com pess.), indicando que talvez sejam duas espécies. Para verificar essa possibilidade, seria necessário, por exemplo, realizar experimentos de cruzamento entre os dois morfotipos, comparações com amostras em herbários e literatura, acompanhamentos de estudos detalhados de dinâmica populacionais dos dois morfotipos no sistema de várzea da Ilha da Marchantaria. Agradecimentos Agradecemos a Cristiane pela ajuda, ao James Brown pela inspiração, e aos dois revisores não anônimos pelas correções e sugestões. Referências Bibliográficas Ayres, J.M. 1993. As Matas de Várzea do Mamirauá. Programa do Trópico Úmido. Sociedade Civil Mamirauá. Brasilia. Junk, W.J. 1984. Ecology of the varzea, floodplain fo Amazonian whitewater rivers. Pp. 215-244 In: H. Sioli, ed. The Amazon: Limnology and landscape ecology of a mighty tropical river and its basin. Dr. W. Junk Publishers, Dordrecht, The Netherlands. Junk, W.J., and C. Howard-Williams. 1984. Ecology of aquatic macrophytes in Amazonia. Pp. 269-293. In: H. Sioli, ed. The Amazon: Limnology and landscape ecology of a mighty tropical river and its basin. Dr. W. Junk Publishers, Dordrecht, The Netherlands. Junk, W.J. & Piedade, M.T.F. 1997. Species diversity and distribution of herbaceous plants in the floodplain of the middle Amazon. Verh. Internat. Verein. Limnol. 25: 18621865. Junk, W.J. & Piedade, M.T.F. 1997. Plant life in floodplain with special reference to herbaceous plants. Pp. 147-184 In: Junk, W.J. The Central Amazon floodplain. Ecology of a pulsing system. Ecological Studies 126, Springer-Verlag, New York. 525 p. Orientadores Maria Teresa Piedade e Paulo De Marco Considerações sobre a arquitetura dos frutos do Macucu, Aldina latifolia (Leguminosae; Papilionoideae) Elaine Lucas Gonsales, GustavoRomero, María Cecília Vega, Leandro M. Sousa, Renata Durães. Aldina latifolia (Leguminosae) é uma espécie caracterizada por árvores grandes, típica de solos de areia branca e abundantes na área da Guiana. O fruto é grande, mais ou menos macio e globoso, geralmente com apenas uma semente (Gentry 1993). Esta espécie possui frutos adaptados para flutuar durante longos períodos, devido a alguns fatores como constituição química, existência de cavidades cheias de ar (como uma cortiça) entre o córtex e o endocarpo, e leveza do albúmen ou cotilédones (Pijl 1982). A planta somente frutifica a cada 2 ou 3 anos, o que aparentemente implica em um investimento muito grande na produção de frutos e provavelmente, constitui um fator importante para que a planta produza frutos com variabilidade de tamanhos, possibilitando um maior sucesso na dispersão (L. Ferreira com. pess.). O objetivo deste estudo foi verificar se existe relação entre o tamanho da semente e a espessura do córtex em frutos de Aldina latifolia, e suas possíveis implicações na dinâmica da dispersão desta espécie. espessura do córtex (r = 0,235; P = 0,026, n = 90), porém, com grande variação (Fig. 1). A média e o coeficiente de variação da espessura do córtex foram de 19,09 mm e 0,21 mm respectivamente; para a largura da semente, os valores foram de 44,03 mm e 0,19 mm. 70 Largura da semente (mm) Introdução 60 50 40 30 20 Material e Métodos Este trabalho foi desenvolvido na Estação Ecológica de Anavilhanas, no rio Negro, numa floresta de igapó localizada a cerca de 100 km a noroeste da cidade de Manaus, Amazonas, em julho de 2002. Coletamos 90 frutos de A. latifolia, os quais encontravam-se flutuando nas margens do igapó. Posteriormente, os frutos foram abertos longitudinalmente e medidas individuais da maior espessura do córtex e da largura da semente foram tomadas. A relação entre a espessura do córtex e a largura da semente foi testada com análise de correlação de Pearson (Zar 1984). Resultados Houve relação positiva entre a largura da semente e a 42 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 10 15 20 25 30 Largura do córtex (mm) Fig. 1. Relação entre largura da semente e espessura do córtex em frutos de Aldina latifolia Discussão A variabilidade observada dos tamanhos de semente e córtex em A. latifolia indica que a espécie deve estar investindo em várias estratégias para a dispersão dos seus frutos. Frutos com córtex maiores podem proteger melhor as sementes contra predadores, funcionando como uma barreira contra predação. Porém, frutos menores representariam um investimento também menor, ou seja, seria possível produzir mais frutos e aumentar as chances de sucesso na dispersão. Becerra et al. (2000) verificaram que larvas de Curculionidae (Coleoptera) infestaram mais os córtex do que as sementes de A. latifolia. Além disso, sugerimos que córtex grandes podem manter as sementes flutuando por um período maior de tempo, até alcançarem um local favorável para germinação. Agradecimentos Agradecemos a Profa. Grace pela orientação. Referências Bibliográficas Becerra, M.T., T. Pequeño, F. Campón, L. C. Procópio, J. A. Siqueira, J. M. Brito, M. E. Pérez & T. Izzo. 2000. Insetos nas sementes de Macucu (Aldina latifolia) antes e depois da dispersão. Relatório do curso “Ecologia da Floresta Amazônica”. Gentry, A. 1993. A field guide to the Families and Genera of woody plants of Nothwest South America (Colombia, Ecuador, Perú). Pp. 284-286. Conservation International, Washington D. C. USA. Van der Pijl, L. D. 1982. Principals of dispersal in higher plants. Springer Verlag, Berlin, Germany. Zar, J. H. 1984. Biostatistical analysis. Second Edition. Prentice Hall, New Jersey. Orientadora Grace Servat Influência das inundações sobre a reprodução da seringueira Hevea spruceana (Euphorbiaceae) em uma área de igapó do rio Negro Adam Kaveh Bahrami, Felipe Pimentel, Flávia Monteiro Coelho, Jean Carlos Santos e Lily Arias Introdução Florestas de igapó são aquelas inundadas durante um período do ano por rios de águas pretas e águas claras caracterizados pela baixa concentração de nutrientes. Os rios de águas pretas além de apresentarem baixas concentrações de nutrientes, são pobres em sedimentos e apresentam altas concentrações de ácidos húmicos. O rio Negro, bem como outros rios da Amazônia Central, é um rio de água preta que pode sofrer flutuações anuais de até 14 metros no seu nível de água, sendo que o período de inundação das matas alagáveis às suas margens pode durar de 50 a 270 dias (Goulding et al. 1988). A complexidade estrutural da vegetação de uma floresta de igapó está diretamente relacionada ao tempo que essa permanece inundada, o que é determinado pelas variações topográficas locais (Ferreira 1997). O impacto do prolongado alagamento no crescimento das árvores de florestas inundáveis é mostrado por câmbios fenológicos e a redução no incremento da madeira (Worbes 1997). Hevea spruceana é uma espécie de seringueira comumente encontrada nos ambientes de igapó do rio Negro, onde pode ocorrer sob a influência de diferentes profundidades de alagamento (Nee 1995). É possível ainda que o ciclo reprodutivo desta espécie esteja sendo influenciado pelo tempo de inundação. O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do tempo de inundação sobre o ciclo reprodutivo dos indivíduos de H. spruciana. Material e Métodos Este estudo foi realizado em julho de 2002 na região do lago do Prato, Arquipélago de Anavilhanas, no baixo do rio Negro. Coletamos informações sobre 41 indivíduos de H. spruceana, para cada um dos quais, determinamos o estágio reprodutivo relacionando presença ou ausência de flores e/ou frutos. Medimos também a profundidade de alagamento, estimamos a altura total somando a profundidade e altura emersa das plantas, e classificamos cada indivíduo com relação à intensidade de exposição luminosa em 5 categorias (D. Clark, comunicação pessoal): plantas que apresentam a copa completamente exposta à luz (5), que recebem luz vertical na totalidade da copa (4), que recebem luz vertical parcial (3), apenas luz lateral (2) e as que não recebem luz diretamente (1). A frequência de estágios reprodutivos foi relacionada com a luminosidade através de um teste de Qui- quadrado, as demais variáveis por meio de regressões logísticas. Resultados Dos 41 indivíduos amostrados, encontramos 26 em estágio reprodutivo e 15 em estágio não reprodutivo. O período de reprodução foi diretamente relacionado ao grau de luminosidade ao qual a planta estava exposta (Qui-quadrado = 23,07; gl = 4; p = 0,01; Tab. 1). A freqüência de plantas em fase reprodutiva foi maior que o esperado nas classes 4 e 5 de exposição a luz quando comparadas àquelas que se encontravam nas categorias 1, 2 e 3 (Tab. 2). Tab. 1 - Número de indivíduos observados e esperados em fase reprodutiva e não reprodutiva nas diferentes categorias de luminosidade. Luminosidade Não reprodutivas Reprodutivas Total Obs Esp Obs Esp Obs Esp 1 5.0 (1.5) 0.0 (3.4) 5.0 (4.9) 2 6.0 (3.0) 4.0 (6.9) 10.0 (9.9) 3 1.0 (0.6) 1.0 (1.3) 2.0 (1.9) 4 1.0 (1.2) 3.0 (2.7) 4.0 (3.9) 5 2.0 (8.5) 26.0 (19.4) 28.0 (27.9) Total 15.0 34.0 49.0 Tab. 2 - Desvios padrão dos indivíduos de H. spruceana observados em fase reprodutiva e não reprodutiva nas diferentes categorias de luminosidade. Luminosidade Não reprodutivas Reprodutivas 1 2.8 -1.8 2 1.6 -1.1 3 0.4 -0.3 4 -0.2 0.1 5 -2.2 1.4 Observamos uma relação positiva entre a probabilidade de presença de flores ou frutos na planta e a profundidade de alagamento (G = 7,62, gl = 1, p < 0,005; Fig. 1). A mesma relação foi observada quanto à altura da planta fora da água (G = 4,34, gl = 1, p < 0,04; Fig. 2) e a altura total da planta (G = 18, gl = 1, p < 0,001; Fig. 3). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 43 Probabillidade 1.0 1.0 ao alagamento do igapó produzindo flores e dispersando sementes. A presença de flores e frutos nessa espécie parece estar associada ao tamanho da planta e à quantidade de copa emersa. A quantidade de luz que recebe a copa da planta, assim como a altura total da mesma, parecem induzir atividade reprodutiva, uma vez que a probabilidade de presença de flores ou frutos foi maior naquelas árvores mais altas e que recebem maior quantidade de luz direta nas copas. Ferreira (1998) encontrou para uma Lecythidaceae do gênero Eschweilera que ocorre no igapó, um ciclo reprodutivo de duração proporcional ao período de alagamento. A sincronização entre a fenologia da H.spruceana e o pulso de inundação contribui para uma dispersão de sementes mais eficiente uma vez que, além das síndromes zoocóricas e autocóricas, as espécies vegetais do igapó são evolutivamente adaptadas a hidrocoria (Ferreira 1997). A presença de flores nas plantas durante o período de alagamento pode estar favorecendo aqueles polinizadores voadores em detrimento dos que não conseguem ultrapassar a barreira física imposta pela floresta alagada. Portanto H. spruceana pode ser considerada um bom exemplo de uma espécie bem adaptada ao pulso de inundação das florestas de igapó. 0.8 Agradecimentos 0.6 A Leandro Ferreira pela orientação neste estudo. À Eduardo Venticinque pelo auxílio nas análises estatísticas e à tripulação do barco Dona Selly II. 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 0 3 6 Profundidade (m) 9 probabillidade Fig. 1 - Relação entre a probabilidade de ocorrência de período reprodutivo em Hevea spruceana e a profundidade de alagamento no igapó deAnavilhanas em julho de 2002. 0.4 Referências Bibliográficas 0.2 0.0 0 3 6 Altura Fora da Água (m) 9 Fig. 2 - Relação entre aprobabilidade de período reprodutivo em Hevea spruceana e a altura da copa fora da água no igapó deAnavilhanas em julho de 2002. probabillidade 1.0 0.8 0.6 0.4 0.2 0.0 0 5 10 15 Altura Total (m) 20 Fig. 3 – Relação entre a probabilidade de período reprodutivo em Hevea spruceana e a altura total da planta no igapó deAnavilhanas em julho de 2002. Discussão Algumas espécies de plantas sincronizam sua fenologia com o período de inundação, enquanto em outras, a floração e frutificação são induzidas pela precipitação (Ferreira 1991). Os resultados sugerem que H. spruceana responde positivamente 44 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 FERREIRA, L. V. 1991. O efeito do período de inundação, na distribuição, fenoologia e regeneração de plantas em uma floresta de Igapó na Amazônia Central. Dissertação de Mestrado, Instituto Nacional de pesquisas da Amazônia, Manaus. FERREIRA, L. V. 1997. Effects of flooding duration of species richness and floristic composition in three hestares in tha Jaú National Park in floodplain forest in Central Amazonia. Biodiversity conservation. 6: 1353- 1363. FERREIRA, L. V. 1998. Intraspecific variation in phenology in relation to flooding duration in Eschweilera paviflora (Lecythidaceae) in Central Amazonian floodplain forest. Anais da Academia Brasileira de Ciência 70: 1-4. GOULDING, M. CARVALHO, M. L. & FERREIRA, E. G. 1988. The Rio Negro, rich life in poor water. Amazonian diversity an foodchain ecology as seen through fish commmunities. SPB Academic Publishing, Hague, Netherlands. 200 pp. KREBS, C. J. 1999. Ecological Methodology 2nd ED. Benjamim Cummings Press. Menlo Park, CA.USA. NEE, M. 1995. Flora preliminar do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais. NY Botanical Garden e INPA/Smithsonian Institute. WORBES, M. 1997. The forest ecosystem of the foodplains. pp. 223-260. In W. J. Junk (ed.). The central amazon foodplain: ecology of a pulsing system. Sringer-Verlag, Berlim, Germany. Orientador Leandro Ferreira Testando a hipótese de Coley e Aide : Folhas vermelhas sofrem menos herbivoria do que as folhas verdes? Verónica Cepeda, Ricardo Darigo, Maria Luisa Jorge, Karl Mokross e Daniel Scheibler As interações entre herbívoros e plantas representam uma enorme proporção das relações ecológicas entre espécies, com significante impacto no crescimento e reprodução de plantas (Marquis 1984, 1992a, b; Marquis & Braker 1993). A herbivoria representa uma relação extremamente importante para a estruturação e organização de comunidades aquáticas e terrestres. Em florestas tropicais chuvosas cerca de 11% da área foliar total existente é consumida por herbivoros e patógenos (Coley & Aide 1991). Assim, herbívoros atuam como importantes elos de ciclagem de energia entre o primeiro nível trófico (produtores) e os demais (consumidores). Dentre os herbívoros, os insetos são os mais abundantes e são capazes de atacar praticamente todos os taxa vegetais. Insetos herbívoros podem causar grande impacto sobre a performance das plantas hospedeiras, gerando pressões seltetivas diferenciais dentro de populações e influenciando na seleção de estratégias que conferem maior sucesso adaptativo (Marquis 1984, 1992, Clark & Clark 1991). Dentre as estratégias de defesa das plantas, existem as defesas físicas (e.g. tricomas e espinhos) e químicas (e.g. compostos secundários tóxicos e redutores da digestibilidade - taninos). As plantas supostamente podem também minimizar a herbivoria simplesmente pela produção sazonal de folhas ou distribuição espacial muito dispersa. Finalmente, existem estratégias que utilizam defesa por associação biótica, como as interações com formigas e até inimigos naturais dos herbívoros. Folhas jovens em expansão encontram-se em seu estágio mais vulnerável no tempo de vida foliar. Estas podem sofrer entre 5 a 100 vezes mais danos por patógenos e herbívoros do que folhas maduras (Coley & Aide 1991). Coley & Aide (1989) propuseram que plantas de florestas tropicais chuvosas apresentariam folhas novas avermelhadas como mecanismo de defesa contra herbivoria. Aide observou em florestas no Panamá uma taxa de herbivoria maior em folhas verdes do que vermelhas, corroborando sua hipótese. A explicação para esta diferença seria que a cor avermelhada sinalizaria a presença de antocianinas em grandes quantidades. Antocianinas são compostos particularmente comuns em folhas jovens e segundo Coley & Aide (1989) possuem ação fungicida que protegem esses tipos de folha. Além disso, W. W. Benson (com. pess.) propõe que além da presença de antocianinas, a cor vermelha tornaria alguns herbívoros comuns sobre as folhas mais conspícuos. Isso ocorreria porque muitos desses herbívoros apresentarem coloração esverdeada, tornando-os assim mais suscetíveis à predação. Em razão da grande freqüência de plantas com ramos de folhas avermelhadas e verdes, em nosso estudo nos propusemos a testar a hipótese de Coley e Aide (1989)em plantas de uma mata inundada de Igapó, na Amazônia Central. Segundo a nossa hipótese, a herbivoria em folhas de cor vermelha deveria ser menor que aquela encontrada para as folhas verdes. Métodos O estudo foi realizado em julho de 2002, durante a vazante, no Arquipélago de Anavilhanas (03o05’S 59o59’W), no Rio Negro, município de Novo Airão (AM). Coletamos em média dez ramos com folhas novas avermelhadas e verdes de plantas na margem da mata de Igapó. Os ramos foram cortados com auxílio de uma tesoura de poda e o material foi colocado em sacos plástico para sua posterior identificação e classificação dos níveis de herbivoria. Comparamos as taxas de herbivoria entre folhas adjacentes, de cores diferentes, da mesma planta para eliminar efeitos de herbivoria acumulada por diferenças de idade. O grau de herbivoria foi definido pela metodologia de Dirzo & Dominguez (1995), que determina seis categorias de herbivoria: 1 = 0%; 2 = de 1 a 6%; 3 = de 6 a 12%; 4 = de 12 a 25%; 5 = 25 a 50% e 6 = mais de 50%. Utilizamos o teste não-paramétrico de Wilcoxon para comparar o grau de herbivoria entre as folhas avermelhadas e verdes para todas as espécies, pois os dados não tinham distribuição normal. Além disso, para as espécies que coletamos mais de três indivíduos, realizamos um teste de Wilcoxon independente, com o auxílio da técnica de “bootstrap” com 50 repetições, por causa do pequeno número de réplicas. Os testes foram realizados no programa SYSTAT 8.0. Resultados Coletamos folhas novas vermelhas e verdes de nove espécies diferentes: Licania apetala (Chrysobalanaceae), Heteropteris nervosa (Malpighiaceae), Clathlotropis nitida e Inga punctata e Dioclea sp. (Leguminosae), mais quatro morfotipos que não foram determinados. No entanto, só obtivemos réplicas para duas delas (Licania apétala, n = 5, Endichleria anomala, n = 4), devido à raridade que ocorriam as demais espécies. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas nas taxas de herbivoria entre folhas vermelhas e verdes para o conjunto das espécies (Wilcoxon: Z = 0,508; p = 0,611). O grau de herbivoria foi baixo tanto nas folhas novas avermelhadas quanto nas verdes (mediana = 1 nos dois casos, isto é, de 1 a 6% da área foliar consumida). Em Endichleria anomala (Leguminosae) a taxa de herbivoria foi menor nas folhas vermelhas (50 repetições do teste de Wilcoxon, utilizando quatro pares de valores em cada uma: p<0,001, Fig. 1). Já em Licania apetala (Chrysobalanaceae) não houve diferença significativa no grau de herbivoria entre as duas cores de folha (50 repetições do teste de Wilcoxon, utilizando cinco pares de valores em cada uma: p = 0,38, Fig. 2). 6 ÍNDICE DE HERBIVORIA Introdução 5 4 3 2 1 0 verde verm COR DA FOLHA Fig.1: Índice de herbivoria nas folhas novas verdes e vermelhas de Endichleria anomala Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 45 Agradecimentos ÍNDICE DE HERBIVORIA 6 Agradecemos ao Professor Geraldo Fernandes, pela idéia inicial e orientação, ao Senhor Flávio, por conduzir o nosso barco e a Luís Melodia, pelo chicote. 5 4 3 Referências Bibliográficas 2 Aide, T.M. 1988. Herbivory as a selective agent on the timing of leaf production in a tropical understorey community. Nature 336: 574-575. Baker, N.R. & K. Hardwick 1973. Biochemical and physiological aspects of leaf development in cacao (Theobroma cacao) I. Development of chlorophyll and photosynthetic activity. New Phytologist 72: 1315-1324. Barone J.A. & P.D. Coley, 2002. Herbivorismo e las defensas de las plantas, Pp. 465-492. In: Guariguata M.R. & Kattan G.H. (eds.) Ecología y Conservación de Bosques Neotropicais, 1a Edição. Libro Universitario Regional, Cartago, Costa Rica. 692pp. Clark D.B. & D.A. Clark 1991. The impact of physical damage on canopy tree regeneration in tropical rain forest. Journal of Ecology 79: 447-457. Coley, P.D. & T.M. Aide 1989. Red coloration of tropical young leaves: a possible anti-fungal defense? Journal of Tropical Ecology 5: 293-300. Coley, P.D. & T.M. Aide. 1991. A comparison of herbivory and plant defenses in temperate and tropical broad-leaved forests. Pp. 25-49 In: P.W. Price, T.M.. Lewisohn, G.W Fernandes, & W. W. Benson (eds.) Ecology of PlantAnimal Interactions: Tropical and Temperate Perspectives. John Wiley and Sons, USA. Dirzo R.& C. Dominguez 1995. Plant animal interactions in Mesoamerican tropical dry forest. In: Bullock M. & H. Mooney (eds.) 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Em apenas uma planta, Endichleria anomala, os resultados indicam que a estratégia de coloração foliar pode ser efetiva em alguns taxa. De fato, estratégias evolutivas muitas vezes surgem como resultado da seleção de outras características, e então passam a ser adaptativas para a função para a qual são conhecidas. Por exemplo, acredita-se que compostos secundários, utilizados na defesa contra herbívoros, teriam sido, inicialmente, apenas subprodutos das vias metabólicas principais (Barone & Coley 2002). Tricomas, que também estão associados com a redução da transpiração e a insolação (UV), acabam por inibir ataques herbívoros (Woodson & Fernandes 1991). No presente caso, a produção diferencial de antocianinas nas folhas jovens poderia ter surgido com uma função distinta, e posteriormente, se tornado uma sinalização contra herbívoros ou mesmo uma forma de destacá-los para predadores somente em algumas espécies. Todavia, nossos resultados não corroboram a ocorrência generalizada dessa função associada à coloração das folhas, ao menos para plantas que ocorrem no igapó. Outra explicação para a presença de folhas novas avermelhadas é que, na realidade, todas as folhas possuem antocianinas. No entanto, as folhas muito novas têm uma proporção maior de antocianinas em relação à clorofila, e por isso são avermelhadas (Baker & Hardwick 1973). De fato, nós não encontramos diferenças no grau de herbivoria entre folhas de cores diferentes, pois eram baixos para todas elas, o que pode corroborar a idéia de que todas as folhas estão protegidas, mas só é possível enxergar isso nas folhas mais novas. Orientador Geraldo W. Fernandes Levantamento florístico em uma área de igapó em Anavilhanas: borda versus interior Ana Maria Pes, Ludmila Pugliese de Siqueira, Sunshine Menezes, Marcio Uehara-Prado, Max Hidalgo Introdução A teoria de distúrbio intermediário prediz que comunidades que sofrem um nível de distúrbio intermediário, terão uma maior diversidade de espécies do que aquelas com baixos ou mesmo altos índices ou freqüências de distúrbio (Connell 1979; Grime 1979). Este modelo de diversidade foi aplicado as áreas inundáveis dos rios de Amazônia central por Worbes (1997), por estas áreas apresentarem um nível alto de estresse e distúrbio. Ainda que a química da água, o tipo de solo, e o período de inundação sejam fatores determinantes na estrutura das 46 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 comunidades do Igapó, a principal explicação para a variação em diversidade é o nível da água nos rios (Ferreira & Stohlgren 1999; Worbes 1997). Ferreira (1991) demonstrou em seu estudo que variações na distribuição de espécies de árvores no igapó Tarumã Mirím, foram dependentes do grau de inundação nos locais. Este mesmo autor também demostrou que as comunidades apresentaram algumas espécies generalistas para o gradiente de inundação, e outras especialistas, com uma distribuição limitada a um nível de inundação específico. Ainda que o tempo de inundação diminua a diversidade local, este mesmo processo pode aumentar a heterogeneidade em escala de paisagem mantendo a diversidade regional. Dado que os pulsos de inundação funcionam como um importante fator na determinação da diversidade destas comunidades, o objetivo do nosso trabalho foi realizar um levantamento florístico na borda e no interior de uma área de igapó, no arquipélago de Anavilhanas, afim de avaliar a diversidade e a similaridade na composição de espécies. Nossa hipótese admite que a borda apresenta uma menor diversidade, por ser um ambiente mais sujeito a estresse por fatores abióticos (nível de inundação, intensidades de luz, vento entre outros). Material e Métodos Foram alocadas quatro parcelas de 10 x10 m, sendo duas na borda e duas no interior. Todos os indivíduos das espécies arbustivas-arbóreas presentes foram identificados até pelo menos o nível de família. Em cada uma das parcelas foram tomados cinco pontos de profundidade, com o auxílio de uma trena, adaptada com um peso em uma das extremidades. Foi realizado o teste t (Zar 1984) para comparação das médias das duas áreas. Foram calculados os índices de similaridade de Sorensen e de diversidade de Shannon-Wiener para ambas as áreas (Krebs 1999). Resultados Foram identificados um total de 103 indivíduos pertencentes a 34 morfoespécies nas quatro parcelas. A densidade obtida para a área de borda foi de 2450 ind/ha e para área de interior foi de 2700 ind/ha. O índice de similaridade de Sorensen obtido entre as duas áreas foi de 48%. Aparentemente não houve diferença entre os índices de diversidade calculados para as duas áreas (borda = 4,057; interior = 4,156). O valor obtido pelo teste t para comparação das médias de profundidade foi igual a 4,069 (p=0,001, gl=1). As médias obtidas para profundidade e os principais resultados estão apresentados na Tab. 1. Na Tab. 2 estão relacionadas as famílias com maior número de indivíduos pra as parcelas de borda e interior. Tab. 1. Comparação dos principais aspectos observados na área de borda e interior de 2 parcelas na área de iguapó, em Anavilhanas. Borda Interior No. Espécies 23 23 No. Indivíduos 49 54 Espécies mais freqüentes Virola sp. (10) (Myristicaceae) Virola sp. (7) Talisia sp (7) Índice de diversidade de Profundidade 4,057 4,156 5,15 ?????? 2,74 ????? Tab. 2. Relação das famílias com maior número de indivíduos nas duas áreas estudadas. Área Família No. de indivíduos Borda Myristicaceae 11 Euphorbiaceae 8 Leguminosae 7 Interior Leguminosae 9 Myristicaceae 9 Sapindaceae 8 Discussão A riqueza da espécies em ambas as áreas comparadas do igapó foi igual (23 espécies). A em abundância foi também similar, ainda que os valores tenham sido um pouco maior no interior que na borda (54 indivíduos vs. 49 indivíduos). Verificou-se uma correlação significativa na composição da espécies da borda e do interior com relação a profundidade nestes ambientes (p = 0,001). Junk & Piedade (1997) afirmam que nos sistemas dinâmicos como a floresta inundável da Amazônia, os processos sucessionais influem muito nas comunidades de plantas. Encontramos uma mudança na composição de espécies, com um índice de similaridade próximo a 50%, e as famílias com maior número de indivíduos em ambas áreas são comuns (Myristicaceae e Leguminosae). Estes resultados não estariam de acordo com nossa hipótese de que a diversidade na borda seria menor que do interior. Worbes (1997) afirma que a composição e estrutura das comunidades do igapó estão influenciadas pelo tempo de inundação a que elas estão submetidas, sendo a transição gradual. Apesar de termos encontrado diferenças com relação à profundidade de ambas as zonas, provavelmente é necessário amostrar um maior número de parcelas, para uma maior separação entre a zona de borda e do interior. Existem ainda outros fatores que seriam muito importantes na distinção florística, e que não foram consideradas neste estudo, como as características químicas da água e a variação regional (Kubitzki 1989, apud Ferreira 2000). Nosso estudo encontrou valores de diversidade semelhantes, e uma similaridade de 50% na composição de espécies. Houve uma correlação entre a profundidade e a composição de espécies, o que poderia estar relacionado a características específicas e, portanto, sua resposta às condições do ambiente. Uma vez que as ilhas nesse sistema estão em constante movimento, com material sendo erodido na porção à montante e depositado na porção à jusante, o ambiente que hoje é a borda pode ter sido interior do igapó em outro momento, e esse fato pode se encontrar refletido nos resultados obtidos. Referências Bibliográficas Connell, J.H. 1979. Diversity in tropical rain forest and coral reefs. Science 199: 1302-1310. Ferreira, L.V. 1991. O efeito do periodo de inundação, fenelogia e regeneração de clareiras em uma floresta de igapó na Amazonia Central. MSc Teses. INPA, Manaus. Ferreira, L.V. 2000. Effects of flooding duration on especies richness, floristic composition and forest structure in river margin habitat in Amazonian blackwater floodplain forests: implications for future design of protected areas. Biodiversity and Conservation 9: 1-14. Grime, J.P. 1979. Plant strategies and vegetation processes. Wiley, Chichester. Junk, W.J., & Piedade, M.T.F. 1997. Plant life in the floodplain with special reference to herbaceous plants. Em: The Central Amazon Floodplain. Ecology of a Pulsing System. Ed. W. Junk. pp: 147-185. Krebs, C.J. 1999. Ecological methodology. 2nd Ed. Benjamin Cummings, Menlo Park, CA. 620 p. Worbes, M. 1997. The forest ecosystem of the floodplains. Pp. 223-265 In: Junk, W.J. (ed.) The Central Amazon Floodplain: Ecology of a Pulsing System. Springer Verlag. Berlin. Zar, J.H. 1984. Biostatistical analysis. Simon & Schuster, London. 718 p. Orientador Charles Zartmann Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 47 Herbivoria em folhas de várias espécies de plantas de um igapó da Amazônia Central: existe vantagem em ser vermelha? Ricardo Darigo, Adam Kaveh Bahrami, Marcio Uehara-Prado, Ana Maria O. Pes, Leandro M. Sousa, Gustavo Quevedo Romero Introdução A herbivoria é uma interação animal-planta que pode diminuir em muito a performance das plantas atacadas pela remoção de área fotossintetizante. Essa perda de área fotossintética pode ter graves conseqüências para o balanço energético da planta afetando processos como a produção de flores e frutos. Como conseqüência desta pressão, as plantas desenvolveram vários mecanismos de defesa contra os herbívoros. Entre elas estão defesas químicas pela presença de metabólitos secundários (e.g. taninos, alcalóides, terpenóides, cianogênicos), defesas físicas (e.g. tricomas, espinhos, esclerofilia), estratégias fenológicas (e.g. expansão rápida, sincronismo na produção das folhas, raridade) (Barone & Coley 2002) e/ou defesas associativas (presença de outras plantas que inibiriam o ataque) (Price 1997). Antocianinas são compostos químicos que podem proteger plantas contra ataque de herbívoros e, também, conferem coloração vermelha (Coley & Aide 1989 apud Barone & Coley 2002). Inúmeras espécies de plantas produzem folhas de coloração avermelhada, algumas sendo um produto de antocianinas. Dado que observamos diversas espécies de plantas com folhas de coloração avermelhada em Anavilhanas, e como herbívoros são comuns no período da vazante, decidimos testar a hipótese de Aide (Coley & Aide 1989 apud Barone & Coley 2002). O presente trabalho, portanto, teve o objetivo de verificar se folhas vermelhas são mais ou menos atacadas que folhas verdes em diferentes espécies de plantas numa área de igapó na Amazônia Central. Material e Métodos Este trabalho foi desenvolvido nas margens de um igapó no arquipélago de Anavilhanas no Rio Negro na Amazônia Central (03o05’S 59o59’W). Coletamos 3 ou 4 ramos de indivíduos que apresentavam folhas vermelhas e verdes. Marcamos e identificamos os ramos de cada espécie e levamos para o laboratório para avaliar a extensão do dano causado pelos herbívoros nas folhas. No laboratório, comparamos visualmente a proporção da área consumida da primeira folha vermelha (proximal) e da folha verde imediatamente abaixo, de cada ramo, de todos os indivíduos de cada espécie. Atribuímos “+” e “-” para a folha com maior e com menor proporção de consumo, respectivamente. Quando não era possível distinguir diferença, atribuímos “0”. As amostras foram, deste modo, pareadas para minimizar a variação de idade entre as folhas, que deve ser nesse caso da ordem de dias. Para verificar diferenças nas freqüências de herbivoria em cada tipo de folha usamos o teste G, por ser recomendado para esse tipo de dados, mesmo fornecendo resultados semelhantes ao Qui-quandrado (Zar 1984). Resultados Coletamos as folhas avermelhadas e verdes de 25 morfoespécies, pertencentes a pelo menos 10 famílias de plantas (Tab. 1). Houve diferenças entre as taxas de herbivoria nos dois grupos (G = 4,96; gl = 1; P = 0,026). Setenta e seis por cento das morfoespécies tiveram a taxa de herbivoria maior nas folhas verdes e somente 23% das plantas tiveram taxa de herbivoria maior em folhas vermelhas (Fig. 1). Em quatro morfoespécies não houve diferença na proporção de herbivoria entre folhas vermelhas e verdes (Tab. 1). 48 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Tab. 1. Proporção de herbivoria em folhas verdes e vermelhas das morfoespécies estudadas em igapós no arquipélago de Anavilhanas, AM. 1 Proporção de herbivoria em folhas Morfoespécies Verdes Vermelhas Malpighiaceae morfoespécie 1 0 0 morfoespécie 2 + + morfoespécie 3 Connaraceae + morfoespécie 1 Sapindaceae + morfoespécie 1 + morfoespécie 2 + morfoespécie 3 Dilleniaceae + morfoespécie 1 morfoespécie 2 + Myrtaceae + morfoespécie 1 + morfoespécie 2 Gutifera + morfoespécie 1 Annonaceae + morfoespécie 1 Lauraceae + morfoespécie 1 Ebenaceae morfoespécie 1 0 0 Leguminosae + morfoespécie 1 + morfoespécie 2 Indeterminadas morfoespécie 1 0 0 + morfoespécie 2 + morfoespécie 3 + morfoespécie 4 0 0 morfoespécie 5 + morfoespécie 6 Morfoespécie 7 + + Morfoespécie 8 1 + = proporcão maior; - = proporção menor; 0 = mesma proporção Discussão Várias espécies de plantas podem ter desenvolvido estratégias diretas ou indiretas de defesa contra herbivoria por meio da presença de antocianinas. Várias hipóteses podem ser propostas para explicar a função da coloração vermelha destas folhas. Primeiro, é possível que a cor vermelha em si não tenha função nenhuma, sendo causada apenas em função de um subproduto de uma via metabólica principal (Barone & Coley 2002). Segundo, plantas que produzem algum tipo de composto secundário e alocam para as folhas mais novas teriam vantagem se tivessem um meio para sinalizar aos herbívoros que a folha é tóxica. Embora não esteja descrito para folhas, esse tipo de mecanismo de defesa é chamado de aposematismo (W.W. Benson com. pess.). Por outro lado, é possível que herbívoros não reconheçam folhas vermelhas em busca de sítios de oviposição, orientando através de folhas verdes. Finalmente, herbívoros em folhas vermelhas seriam mais facilmente encontrados por predadores visualmente orientados, como pássaros (W.W. Benson com. pess.). No presente trabalho, encontramos menor herbivoria nas folhas vermelhas do que nas verdes. Casso não esteja refletindo apenas uma diferença de idade entre as folhas, esse resultado indica que as folhas vermelhas são melhor protegidas, o que poderia ser atribuído a ação das antocianinas. Um experimento posterior seria isolar folhas vermelhas com uma tela até elas se tornarem verdes e aguardar o surgimento das novas folhas vermelhas. Nesse tempo, a tela seria removida e herbivoria acompanhada. Agradecimentos Agradecemos ao Charles Zartman, ao excelentíssimo Deputado Ocírio Juruna, ao Dr. Leandro Ferreira pela identificação das plantas e a Femi Kuti e sua Shoki Shoki pela inspiração e companhia durante as madrugadas do projeto. Referências Barone, J.A & P.D. Coley 2002. Herbivorismo y las defensas de las plantas. Pp. 465-492 In Guariguata, M.R & G.H. Kattan (Eds.). Ecología y conservación de bosques neotropicales. Libro Universitario Regional, Costa Rica. 691 p. Coley, P.D. & T.M. Aide 1989. Red coloration of tropical young leaves: a possible anti-fungal defense? Journal of Tropical Ecology 5: 293-300. Price, P.W. 1997. Insect Ecology. 3rd Ed. Wiley, New York. Zar, J. H. 1984. Biostatistical analysis. Second edition, Prentice Hall, New Jersey. Riqueza e variação de tamanho de propágulos na margem e interior de Igapó na Amazônia Central Elaine Gonsales, Felipe Pimentel, Karl Mokross, Lily Arias, Ludmila Siqueira, Maria Luisa Jorge, Renata Durães Introdução Florestas inundáveis compõem aproximadamente 6% da área total da Amazônia (Junk 1993). Nestes locais, o nível da água pode oscilar em torno de 10 metros e pode até mesmo inundar as copas de árvores de médio porte. As espécies vegetais nestes locais possuem um conjunto de adaptações para sobrevivência, entre elas a hidrocoria ou dispersão de sementes pela água (Kubistki e Ziburski 1994). Muitas árvores possuem fenologia ajustada aos períodos de inundação, envolvendo diversas estratégias reprodutivas para o sucesso no estabelecimento destas sementes. Freqüentemente, no entanto, a dispersão dos propágulos não é exclusivamente hidrocórica, mas mista com anemocoria ou zoocoria. O posicionamento final das sementes em florestas alagáveis pode ter maior influência na composição de espécies nestes locais que a tolerância à inundação (Junk 1989), e características da história de vida da planta tais como tamanho de propágulos podem influenciar o destino final destes (Harvey & Pagel 1991). Em rios de água preta como o Negro, uma importante porção da cadeia alimentar é sustentada por material orgânico de origem alóctone (Goulding et al. 1988). Assim, frutos e sementes que caem nestes corpos d’água podem ser dispersados pela correnteza, e ao mesmo tempo possuem grande importância na estrutura trófica destes ambientes. Neste trabalho, observamos o padrão de distribuição de propágulos (sementes e frutos) no interior e na margem de uma floresta de igapó. A correnteza traz grande quantidade destes propágulos, mas provavelmente muitos deles, especialmente os de grande tamanho, não são capazes de ultrapassar a barreira de troncos e ramos alagados e penetrar no igapó. Assim, nossa hipótese é de que haja maior riqueza de propágulos nas margens do igapó do que no interior, e que propágulos maiores predominem nas margens. Material e Métodos O estudo foi realizado no período de uma manhã durante o mês de julho de 2002, na Estação Ecológica de Anavilhanas (03º05’S-59º59’W), localizada a 100 km de Manaus, no Rio Negro, Amazônia Central. As margens e o interior dos igapós foram percorridas de barco para localização de áreas de acúmulo de kinon, a biocenose que ocupa o espelho de um corpo d’água. Foram coletadas amostras de material com puçás e rapixés em cinco locais nas margens e cinco locais no interior dos igapós. O esforço amostral não foi padronizado entre locais, procurandose apenas coletar volumes aproximadamente iguais de material em todos eles. Este material foi triado visualmente para procura de propágulos, os quais foram morfotipados. Os ambientes de margem e interior foram caracterizados quanto à presença e ausência dos morfotipos de propágulos. Os propágulos foram medidos no seu maior comprimento, medida esta que utilizamos como um parâmetro de tamanho. Foi utilizado o índice de Sorensen (Ss = 2/(2a + b + c, onde a = espécies ocorrendo nos dois locais, b e c = espécies ocorrendo no primeiro e segundo locais, respectivamente; Krebs 1999) para estimar a similaridade entre espécies de frutos e sementes presentes no kinon das margens e do interior dos igapós. Resultados Foram identificados 87 morfotipos de propágulos que apresentaram freqüências diferentes nos ambientes de margem e interior (Fig. 1A e B). As áreas de margem apresentaram riqueza ligeiramente superior que as áreas de interior (66 vs. 59 morfotipos, respectivamente). No entanto, quando o número de morfotipos de propágulos por amostra em cada ambiente foi comparado, a diferença não foi significativa (U = 7,5; g.l. = 1; p = 0,29). Vinte e oito morfotipos ocorreram exclusivamente nas margens e 21 exclusivamente no interior dos igapós, enquanto 38 morfotipos ocorreram em ambas as áreas. As amostras de margem apresentaram entre 9 e 38 morfotipos (média ± D.P. = 22,2 ± 12,2; n = 5), enquanto as amostras de interior apresentaram entre 3 e 38 morfotipos (16,2 ± 14,5; n = 5). O índice de similaridade de Sorensen entre margens e interior de igapós foi de 61%. A distribuição de freqüência dos propágulos em classes de comprimento foi significativamente diferente entre os dois ambientes (Kolmogorov-Smirnov: Nmargem = 65, Ninterior = 50, Dmáx = 0,60, p = 0,03). As amostras coletadas na margem continham maior freqüência de propágulos entre 21 e 40 mm de comprimento, ao passo que o intervalo de tamanho mais freqüente no interior foi de 1 a 20 mm (Fig. 2). É possível que os morfotipos encontrados exclusivamente em apenas um dos ambientes revele aspectos relevantes sobre a dispersão diferencial dos propágulos. Considerando os frutos encontrados exclusivamente em cada ambiente, o tamanho mediano foi significativamente maior na margem (U = 126,5; Nmargem = 31, Ninterior = 16; p = 0,006). Discussão Nossos resultados mostraram que existe similaridade moderadamente alta entre os propágulos encontrados no interior e na margem do igapó. A presença de vários propágulos exclusivos de um dos ambientes, no entanto, poderia indicar que a margem esteja agindo como uma barreira física para alguns deles. No entanto, encontramos grande heterogeneidade entre as amostras de um mesmo ambiente. Deste modo, não está claro se as diferenças entre os ambientes de margem e interior se devem à dispersão diferencial através da borda da mata ou apenas à grande heterogeneidade existente entre quaisquer amostras que Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 49 A) 30 25 20 Freqüência são comparadas. Outro aspecto relevante para se discutir a importância da margem como barreira seletiva de propágulos é o tamanho destes. No nosso estudo, a distribuição de tamanho foi distinta entre ambientes, tanto se considerarmos todas as espécies amostradas ou apenas as espécies exclusivas. Este resultado indica que, apesar da maioria das espécies estar sendo depositada tanto na margem quanto no interior, existe uma tendência dos propágulos maiores ficarem acumulados nas bordas. Este padrão pode ter conseqüências importantes para as dinâmicas populacionais destas espécies; por exemplo, esperaríamos que espécies com propágulos grandes se concentrassem nas margens dos igapós e fossem mais raros no seu interior. Para testar esta hipótese, seria necessário o estudo da distribuição e fenologia das espécies de igapó ao longo do ano, com observações sobre a dinâmica hídrica e dispersão dos propágulos. Margem Interior 15 10 5 0 1 a 20 21 a 40 41 a 60 61 a 81 a 101 a 121 a 141 a 161 a > 180 80 100 120 140 160 180 Classes de Comprimento (mm) Fig. 2. Relação entre a freqüência de ocorrência e comprimento total de propágulos encontrados na margem (barras pretas) e interior (barras hachuradas) de matas de igapó na Estação Ecológica de Anavilhanas, na Amazônia Central. 5 4 3 2 Freqüência 1 Agradecimentos 0 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 B) Agradecemos ao Sr. Flávio pelo auxílio com o barco durante as coletas, ao Jorge Nessimian pelas sugestões sobre o projeto e ao Leandro Valle Pereira pela ajuda na separação dos morfotipos. 5 Referências Bibliográficas 4 3 2 1 0 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 Morfotipos Fig. 1. Freqüência de ocorrência de morfotipos de propágulos na (A) margem (n = 5 amostras) e (B) interior (n = 5 amostras) de igapós na Estação Ecológica de Anavilhanas, Amazônia Central. Goulding, M., M. Leal Carvalho and E. G. Pereira. 1988. Rio Negro: rich life in poor water. SPB Academic Publishing bv, The Hague, 200 p. Junk , W. J. 1993. Wetlands of tropical South America. Pp. 679-739. In: Whigham, D. F., Dykyjová, D. e Hejný, S. (eds.). Wetlands of the world I: inventory, ecology and management. Kluwer Academic Publishers, Netherlands. Harvey, P. H. and M. D. Pagel. 1991. The comparative method in evolutionary biology. Oxford university Press, Oxford, England, UK. Kubitski, K. and Ziburski, A. 1994. Seed dispersal in flood plain forests of Amazonia. Biotropica 26(1):30-43. Intensidade de herbivoria em diferentes estratos de plantas alagadas: uma comparação entre dois tipos de amostragem Daniel Ricardo Scheibler, Flávia Monteiro Coelho, Jean Carlos Santos, María Cecilia Vega, Max Hidalgo, Sunshine Menezes, Verónica Cepeda Cornejo Introdução As florestas de igapó, que ocorrem às margens do rio Negro, constituem um tipo de vegetação que apresenta grande diversidade de espécies adaptadas a um sistema de inundação periódica por águas pobres em nutrientes e ricas em ácidos húmicos (Goulding et al. 1988). Nesses ambientes a herbivoria foliar é causada por insetos, peixes, além de outros grupos de organismos (Goulding et al. 1988). No período de inundação, o nível de água pode subir até quatorze metros em comparação ao período da seca e cobrir grande parte da copa de muitas árvores. Portanto, é possível que peixes (herbívoros aquáticos) e insetos (herbívoros terrestres) 50 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 juntos causem danos consideravéis sobre as folhas destas árvores. Pelo menos 12 espécies de peixes podem se alimentar de folhas de plantas arbóreas no Rio Negro (Goulding et al. 1988), no entanto, as informações sobre a freqüência e importância relativa da herbivoria por peixes neste sistema ainda são escassas. Além da carência de informações sobre a intensidade da herbivoria em plantas, principalmente submersas no igapó, sabese que a utilização de certos procedimentos e metodologias de avaliação da área foliar consumida por herbívoros está sujeita à subjetividade do observador. Embora a escala proposta por Dirzo & Domínguez (1995) pareça ser suficientemente robusta, resta ainda a possibilidade de que a seleção das amostras para a análise possa representar um viés importante na quantificação da herbivoria, podendo conduzir a conclusões errôneas. Neste sentido, os objetivos desse estudo foram: a) avaliar os índices de herbivoria em folhas de diferentes estratos de plantas de porte arbóreo no período de inundação e b) verificar a influencia do método de coleta amostras de folhas na avaliação de índices de herbivoria. Material e Métodos O estudo foi realizado na região do lago do Prato, arquipélago de Anavilhanas, rio Negro, próximo à cidade de Manaus, AM. Coletamos ramos de 30 indivíduos de diferentes espécies de árvores, em três estratos: submerso até 50 cm de profundidade, emerso até 50 cm acima do nível d’água, e no limite ar/ superficie de água. A primeira metodologia utilizada baseou-se na coleta aleatória de um ramo de cada estrato na copa de 15 árvores (amostragem aleatória), e a segunda, na coleta aleatória de dez ramos por estrato de outras 15 árvores, sendo que posteriormente sorteamos um para ser utilizado como amostra (amostragem de sorteio). Mediu-se a intensidade de herbivoria com uso de um índice baseado em categorias de porcentagem da área foliar consumida (0 = 0% 1 = 1-6%, 2 = 6-12%, 3 = 12-25%, 4 = 25-50% e 5 = 50-100%), proposto por Dirzo & Domínguez (1995) e calculado pela fórmula: IH = £ (ni * i)/N, onde ni = número de folhas por categoria, i = categoria de herbivoria (0-5, correspondente às porcentagens de herbivoria por folha) e N = número de folhas. O teste “U”de Mann-Whitney foi utilizado para a comparação entre as metodologias de amostragem e o de Kruskal-Wallis para a comparação da intensidade de herbivoria entre os estratos (Zar 1984). Resultados O índice médio de herbivoria foi de 0,8 para o estrato submerso, 1 para a superfície e 1,1 para o estrato emerso. Não houve diferenças significativa entre as metodologias de amostragem aleatória e de sorteio (Tab. 1), o que possibilitou agrupar os dados das duas metodologias de coleta na análise da taxas de herbivoria entre estratos. A intensidade de herbivoria também não diferiu entre os estratos arbóreos estudados (Kruskal-Wallis = 4.89, gl = 2, p = 0.08; Fig. 1). Tab. 1 – Comparação entre os métodos de amostragem, aleatória e de sorteio, para os três estratos da copa de árvores inundadas no igapó de Anavilhanas, rio Negro. Estratos “U” gl p Emerso 103,5 1 0,94 Superfície 69,5 1 0,11 Submerso 104,0 1 0,96 4 IH 3 2 1 0 E Discussão Nossos resultados indicam que a coleta aleatória de uma única amostra não é tendenciosa, ou seja, o índice de herbivoria aparentemente não foi afetado pelo método de amostragem. Sendo assim, podemos julgar que não é necessário coletar ramos a mais para um posterior sorteio, o que reduz o impacto provocado pela técnica de amostragem sobre as plantas estudadas, além de representar uma economia importante de tempo e, eventualmente, recursos materiais. Embora o índice de herbivoria não tenha sido significativamente diferente entre os estratos neste estudo, é interessante ressaltar que a variação no índice diminuiu no sentido do estrato emerso para o submerso. Entretanto, devemos dizer que não observamos se as folhas haviam sido predadas anteriormente ao alagamento ou não. Isso é muito importante do ponto de vista de que podemos estar trabalhando com fenômenos que ocorreram em tempos diferentes. Ainda, podemos considerar o fato de que utilizamos plantas de várias espécies diferentes, o que pode ter gerado uma alta variação nos dados. É provável que esta variação no IH para as folhas emersas e na superfície seja devido à herbivoria preferencial de insetos sobre algumas espécies das árvores. Também, é interessante elucidar por quê os valores do IH foram tão baixos. As baixas intensidades de herbivoria podem estar relacionadas à presença de compostos químicos tóxicos (secundários) nas folhas, ou a uma baixa qualidade nutricional das folhas (Goulding et al. 1988). No entanto, alguns estudos demonstraram que folhas podem ser uma parte importante da alimentação de peixes (Lowe-McConnell 1987; Sabino e Castro 1990). Segundo Goulding et al. (1988) existem na região cerca de 12 espécies de peixes que consomem esse tipo de recurso, distribuídas nas seguintes famílias: Ageneiosidae, Characidae e Serrasalmidae (pacus) Para essas espécies a folivoria é uma complementação alimentar, uma vez que a dieta destes peixes inclui também outros recursos alimentares, como por exemplo, sementes e frutos. Agradecimentos Obrigado a Charles Zartman e Ocírio de Souza pelo auxílio no trabalho de campo, e Luiz Melodia, pela inspiração. Referências Bibliográficas Dirzo, R. & Domínguez, C. 1995. Plant-animal interactions in Mesoamerican tropical dry forests. In: E. Bullock Medina & H. Mooney (eds.). Seasonally dry tropical forest. Cambridge University Press, Cambridge, U.S.A. Goulding, M. Carvalho, M. L. & Ferreira, E. G. 1988. The Rio Negro, rich life in poor water. Amazonian diversity an foodchain ecology as seen through fish commmunities. SPB Academic Publishing, Hague, Netherlands. 200 pp. Lowe-McConnell, R.H. 1987. Ecolgical Studies in Tropical Fish Communities. Cambridge University Press, Cambridge. 382 pp. Sabino, J. & R.M. C. Castro. 1990. Alimentação, período de atividade e distribuição espacial dos peixes de um riacho da floresta Atlântica (Sudeste do Brasil). Rev. Brasil Biol. 50(1): 23-36. Zar, H. 1984. Biostatistical analysis. Second edition. Prentice Hall, Englewood Cliffs, CA U.S.A. L S ESTRATO Fig. 1 – Valores do índice de herbivoria registrado nos estratos emerso (E), limite ar/água (L) e submerso (S) de árvores do igapó de Anavilhanas, rio Negro. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 51 Um teste da hipótese da disponibilidade de recursos (HDR) nas interações herbívoro-planta Ana Maria Pes, Felipe Pimentel, Maria Luisa Jorge, Maria Cecilia Vega, Max Hidalgo Introdução Nas florestas tropicais, muito tem sido pesquisado sobre as interações herbívoro planta (Barone & Coley 2002). O grau de dano que os herbívoros podem provocar à biomassa vegetal, levou as plantas dos trópicos a desenvolver defesas muito mais eficazes, do que as espécies de áreas temperadas (Coley & Aide 1991). Uma das defesas mais importantes que as plantas apresentam contra os herbívoros é a produção de metabólitos secundários (Rosenthal & Berenbaum 1991). Uma das questões centrais na discussão sobre herbivoria é por que há diferenças no grau de ataque por herbívoros nas diversas espécies de uma mesma floresta. Algumas hipóteses foram sugeridas e dentre elas, Coley & colaboradores (1985) propuseram que populações que evoluem em ambientes com maior disponibilidade de recursos deveriam selecionar indivíduos que invistam mais no crescimento vegetativo e menos em defesa. Já aquelas que evoluem em ambientes onde recursos são escassos deveriam selecionar indivíduos que investem fortemente na defesa contra herbívoros. Isto porque o custo da perda de uma folha é muito mais alto em um ambiente onde há escassez de recursos e por isso, proteger as folhas ao invés de repô-las se torna mais adaptativo (Tab. 1). As predições da hipótese de Coley e colaboradores (1985) são de que plantas de crescimento lento deveriam apresentar grandes quantidades de defesas químicas e físicas em suas folhas, menor palatabilidade e menor grau de herbivoria, se comparadas com plantas de crescimento rápido, da mesma região. Devido a uma limitação de tempo, em nosso estudo, nos propusemos a testar somente uma das predições dessa hipótese. Testamos se o grau de herbivoria era menor em espécies de crescimento lento, quando comparadas com espécies de crescimento rápido, em um mesmo ambiente de uma mata de terra firme da Amazônia Central. Tab. 1. Respostas evolutivas das espécies de plantas a diferentes condições de disponibilidade de recursos. Disponibilidade de recursos Ambientes pobres em Ambientes ricos em recursos recursos Baixa Alta Taxa de crescimento Taxa fotossintética Baixa Alta Taxa de reposição foliar Baixa Alta Reparação de danos Baixa Alta Alta Baixa Impacto dos danos Material e Métodos Este estudo foi desenvolvido na reserva biológica do Km 41 do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais INPA/ Smithsonian (02° 24’S; 59° 52’W). Foram coletadas folhas de 3 indivíduos diferentes (até que se completasse um total de aproximadamente 100) de sete espécies de crescimento lento (Mabea sp., Prothium sp., Myrcia sp., Micropuolis sp., Duggetia sp., Minquartia sp. e Neea sp.) e sete espécies de crescimento rápido (Vismia sp., Miconia sp., Piper sp., Rinorea sp., Palicourea sp., Virola sp., Theobroma sp.). A escolha de espécies de crescimento lento e rápido foi feita com o auxílio do assistente Ocírio Pereira, que tem grande conhecimento da ecologia das plantas dessa floresta. Cada uma das 14 espécies vegetais estudadas foram coletadas em quatro clareiras naturais diferentes. Escolhemos coletá-las em clareiras naturais dentro da mata para 52 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 maximizar a probabilidade de encontrar os dois tipos de plantas. As amostras de folhas de cada espécie foram numeradas e 50 folhas foram tomadas ao acaso com a ajuda de uma Tab. de números aleatórios (Zar 1984). A área foliar consumida foi inferida pelo método qualitativo proposto por (Dirzo & Dominguez 1995). Classificamos cada folha em seis categorias de área foliar consumida (AFC): Área Foliar Consumida Categoria 0% 0 1-6% 1 6-12% 2 12-25% 3 25-50% 4 Mais que 50% 5 Calculamos um Índice Herbivoria (IH) para cada espécie utilizando a fórmula: IH= Σ (ni * i) / N onde: i = índice de herbivoria de cada folha, n= freqüência de i, e N= número de total de folhas medidas (Dirzo & Dominguez 1995). Verificamos a diferença entre os IH de cada grupo (lentas e rápidas) por meio de um teste de Mann-Withney. Além disso, comparamos as frequências observadas para cada categoria de herbivoria com o esperado se não houvesse diferenças entre grupos de plantas de estratégia diferente, utilizando o teste QuiQuadrado (Zar 1984). Resultados As espécies de crescimento rápido apresentaram índices de herbivoria três vezes maior do que as espécies de crescimento lento (Tab. 2). A distribuição de freqüência de categorias de danos mostrou claramente que as espécies de crescimento lento recebem certo grau de herbivoria, mas este foi muito baixo, ao passo que os grau de dano das folhas das espécies de crecimento rápido foi muito mais variado e freqüentemente chegou a mais de 50% da área foliar (Fig. 1). Tab. 2: Índices de herbívora em especies de crescimento lento e rapido numa clareira da Amazônia central. Espécies de crescimento rápido IH Espécies de crescimento lento IH Rinorea 3.76 Mabea 1.19 Vismia 3.18 Protium 0.71 Virola 1.69 Myrcia 1.14 Miconia 3.92 Micropholys 0.79 Palicourea 3.22 Duggetia 1.36 Piperacea 2.21 Minguartia 1.59 Theobroma 2.72 Neea 1.02 180 160 Plantas de Crescimento Lento 140 Plantas de Crescimento Rápido Freqüência 120 100 serão utilizadas. No entanto, esta pode ser uma estratégia perigosa, se o ataque for muito rápido e a resposta da planta não for suficientemente rápida. Finalmente, G. W. Fernandes (com. pess.) afirmou que existem casos descritos na literatura de insetos que se alimentam de pequenas quantidades de plantas tóxicas afim de acumular toxinas contra predadores. 80 Agradecimentos 60 Agradecemos a Rodolfo Dirzo, pela idéia e orientação. E ao Juruna, sem o qual não teríamos conseguido identificar nenhuma planta. 40 20 0 0 1 2 3 4 5 Categorias de Dano Fig. 1: Frequência de cada categoria de dano em plantas de crescimento lento e de crescimento rápido (Nlento = 350; Nrápido = 350; c2 = 354, 9; p < 0,0001). Discussão Nossos dados corroboraram fortemente a hipótese de Coley et al. (1985), uma vez que as espécies adaptadas a crescer em ambientes sombreados e, conseqüentemente, de crescimento mais lento apresentaram grau de herbivoria menor do que as espécies de crescimento rápido. A possibilidade de isso ser resultado de repostas ambientais e não evolutivas pode ser descartada, pois todas as plantas foram coletadas próximas umas das outras. Além do padrão geral observado, uma outra questão deve ser levantada. A categoria de IH mais freqüente nas folhas das plantas de crescimento lento foi a 1 (1-6%) e não a zero (0%), como poderia ser esperado. Algumas explicações podem ser levantadas. Uma delas é que as folhas estão defendidas por toxinas, mas alguns herbívoros não têm capacidade de aprender quais as espécies que produzem toxinas, por isso só descobrem que uma folha é tóxica quando a experimentam. Uma segunda explicação, já observada em algumas plantas é de que existe um mecanismo de indução de produção de toxinas quando a folha é atacada por algum herbívoro. Isto poderia ser evolutivamente vantagoso pois a planta não gasta energia em defesas que não Referências Bibliográficas Barone J.A. & P.D. Coley, 2002. Herbivorismo e las defensas de las plantas, Pp. 465-492. In: Guariguata M.R. & Kattan G.H. (eds.) Ecología y Conservación de Bosques Neotropicais, 1a Edição. Libro Universitario Regional, Cartago, Costa Rica. 692pp. Coley, P.D. & T.M. Aide 1991. A comparison of herbivory and plant defenses in temperate and tropical broad-leaved forests. Pp. 25-49 In: P.W. Price, T.M.. Lewisohn, G.W Fernandes, & W. W. Benson (eds.) Ecology of PlantAnimal Interactions: Tropical and Temperate Perspectives. John Wiley and Sons, USA. Coley P.D., J.P. Bryan & F.S. Chapin III 1985. Resource Availability and Plant Anti-Herbivore Defense. Science 230: 895-899. Dirzo R.& C. Dominguez 1995. Plant animal interactions in Mesoamerican tropical dry forest. In: Bullock M. & H. Mooney (eds.) Seasonally Dry Forest. Cambridge University Press, EUA. Rosenthal G.A. & M.R. Berenbaum 1991. Herbivores: Their Interactions with Secondary Metabolites. Vol 1. Academic Press, USA. ZAR, J. 1984. Biostatistical Analisys. 2nd Edition. Prentice Hall Press. New Jersey, USA. Orientador Rodolfo Dirzo Larvas de formigas-leão (Myrmeleontidae, Neuroptera) famintas aumentam o esforço de captura? Ana Maria O. Pes, Felipe Pimentel, Maria Luisa Jorge, Maria Cecilia Vega, Max Hidalgo. Introdução As formigas-leão são insetos myrmeleontídeos pertencetes a ordem Neuroptera. Esta família se caracteriza por seus integrantes serem predadores, tanto os adultos como as larvas. Durante a fase larval, os indivíduos constróem funis cônicos com um diâmetro que pode variar entre dois e cinco centímetros, em solos arenosos e secos, normalmente abrigados da chuva. Os funis servem para capturar presas como formigas e outros artrópodos que escorregam pelas suas paredes (Borror & DeLong 1968). Segundo Penny & Arias (1982), existem 34 gêneros e aproximadamente 122 espécies conhecidas, para a América do Sul, três das quais foram encontradas na reserva Adolpho Ducke, na região de Manaus, AM.. Segundo McClure (1983), diversos fatores afetam a distribuição espacial dos funis. Uma alta disponibilidade de presas pode diminuir a competição intraespecifica, e a densidade de larvas pode determinar o arranjo espacial uniforme. Além desses fatores o canibalismo pode ser um fator a ser considerado na abundância e distribuição espacial tanto dos funis quanto dos individuos. Partindo da idéia de que quanto maior o diâmetro do funil, maior a chance de captura de presas e que, conseqüentemente, essa medida poderia estar relacionada à necessidade de obtenção de maior ou menor quantidade de alimento, testamos a hipótese de que larvas com maior carência alimentar aumentariam a área do funil e, portanto, o esforço de captura de presas. Material e Métodos O estudo foi desenvolvido na floresta de terra firme da Reserva do km 41 (02º 24”S; 59º52”W) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (INPA/Smithsonian), situada na BR 174, a 80 km ao norte da cidade de Manaus, AM. Coletamos um total de 86 larvas de formiga-leão de diversos tamanhos, as quais foram inicialmente classificadas em pequenas e grandes. Os indivíduos grandes foram divididos em 4 grupos de 15 larvas e colocados em bandejas de plástico (60x40x10 cm) com uma camada de 6,0 cm de areia peneirada e seca, obtida do mesmo sítio de coleta. Em duas das quatro bandejas, Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 53 30 20 10 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 TAMANHO DA CABEÇA (mm) 50 40 TAMANHO FUNIL (mm) Todas as larvas utilizadas no experimento sobreviveram ao período de experimentação. Apenas 16 dos 30 indivíduos maiores que receberam comida construíram funis de alimentação. Dentre os que não receberam nenhum alimento, encontramos 19 funis de alimentação. As 26 larvas pequenas tiveram um número menor de funis construídos, apenas um na bandeja com alimento e três na bandeja sem alimento. A razão entre tamanho do funil e largura da cabeça não foram diferentes entre as larvas com e sem alimento (t = -1,091 gl = 1; p = 0,282; Fig. 1). Uma regressão linear mostrou que houve uma relação direta entre o tamanho dos funis e a largura da cabeça (R2 = 0,23; p = 0,002; Fig. 2). Uma relação direta também foi encontrada entre a razão comprimento do abdômen e largura da cabeça e o tamanho dos funis ( R2 = 0,12 ; p = 0,03; Fig. 3). 30 20 10 2 40 TAMANHO FUNIL/TAMANHO CABEÇA (mm) 5 6 7 8 ABD CAB TAMANHO ABDOMEN/TAMANHO CABEÇA (mm) 3 4 Fig. 3: Relação do tamanho do funil e tamanho relativo do abdômen B 30 U R _ 20 CA SA TRAT TRATAMENTO Fig. 1. Comparação entre tamanho do funil nos dois tratamentos (CA = com alimento; SA = sem alimento) Discussão Os resultados indicaram que não houve relação entre a presença ou ausência de alimento e o tamanho dos funis. É possível que o tempo de jejum a que foram submetidos os indivíduos tenha sido muito curto para produzir um efeito mensurável no diâmetro dos funis. Por outro lado, também pode se considerar que a distribuição espacial das presas não tenha sido uniforme nas bandejas e que, conseqüentemente nem todas as larvas teriam se alimentado. 54 40 Fig. 2. Relação entre o tamanho do funil e largura da cabeça Resultados 10 50 TAMANHO FUNIL (mm) colocamos também formigas (Hymenoptera) e cupins (Isóptera) como fonte alimentar. Nas outras duas bandejas, não foi colocado alimento algum. As larvas pequenas foram divididas em dois grupos de 13 indivíduos, e colocadas em bandejas de igual dimensão e com a mesma quantidade de areia. Foram submetidas aos mesmos tratamentos das larvas grandes. O experimento durou cerca de 16 horas (22:00 – 13:00h), ao final do qual, foram medidos os diâmetros de todos os funis de captura construídos pelas larvas nas seis bandejas. Depois disso, cada larva foi retirada do funil e foram tomadas as medidas de largura da cabeça e o comprimento do abdômen. Com o intuito de evitar o efeito do tamanho das larvas sobre o tamanho do funil de captura, calculamos uma razão entre as duas medidas e comparamos os dois tratamentos (com alimento e sem alimento) usando um teste t, a relação entre as medidas corporais e o tamanho dos funis foi tetada por meio de regressão linear. Os dados foram plotados no programa estatístico SYSTAT 8.0. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Observamos ainda que não houve diferença entre o número de funis construídos pelas larvas maiores nos dois tratamentos. Possivelmente isto reflete que o tratamento também não influencia na probabilidade de construção de funis a uma dada densidade populacional. Além disso, as larvas menores quase não construiram funis. É provável que estas tenham se estressado mais durante a manipulação e mudança de ambiente, levandoas a diminuir sua atividade habitual de forrageamento. A existência de uma relação positiva entre o tamanho do funil e o tamanho da larva indica que os indivíduos de tamanho maior podem ter condições físicas que possibilitam a construção de funis maiores, independente da disponibilidade de alimento. Apesar de não termos observado uma relação entre o tamanho do funil e a presença ou ausência de alimento, consideramos que alguns fatores que não foram previstos ou medidos em nosso experimento podem estar influenciando os resultados. Por exemplo, o tamanho da presa, ou a competição intraespecífica podem ter feito com que alguns indivíduos não construíssem funis e isto diminuiu nosso tamanho amostral pela metade (no caso das larvas grandes) ou em até 90% (no caso das pequenas). É possível também que realmente o tamanho do indivíduo seja uma variável muito mais importante nesta relação (resultado por nós encontrado), porque pode existir um limite máximo de tamanho de presa que um indivíduo consegue capturar, dependendo de seu tamanho e, conseqüentemente, do tamanho de sua mandíbula. Neste caso, o tamanho de cada indivíduo influenciaria muito mais no diâmetro do funil do que a taxa de captura. Finalmente, encontramos uma relação inversa à esperada na relação diâmetro do funil e razão entre comprimento do abdômen e largura da cabeça, resultado que reforça a idéia de que não existe relação positiva entre o esforço de captura (diâmetro do funil) e disponibilidade de presas. Agradecimentos Referências Bibliográficas Borror, D. J. & DeLong, D.M. 1988. Introdução ao estudo dos insetos. Editora Edgard Blücher Ltda. São Paulo. 653 p. McClure, M.S. 1983. Myrmeleon (Hormiga León, Ant lions) Pp:742-743. In Janzen D.H. (Ed.) Costa Rican Natural History. The University of Chicago Press, London 816 p. Penny, N. D. & Arias, J. R. 1982. Insects of an amazon forest. Columbia University Press, New York. 269 p. Orientador Jorge L. Nessimian Ao Fernando Mendonça, por coletar as larvas e pela ajuda ao longo do estudo. Seleção de habitat por invertebrados aquáticos fragmentadores em um igarapé da Amazônia Central Elaine Lucas Gonsales, Flávia Monteiro Coelho, Gustavo Quevedo Romero, Jean Carlos Santos, Marcio Uehara-Prado Introdução O padrão de distribuição de organismos aquáticos é resultado da interação entre condições físicas do habitat (substrato, fluxo, turbulência) e disponibilidade de alimento (Resh & Rosenberg 1984). Os fatores de maior importância ecológica e que exibem mudanças ao longo dos rios são: velocidade de correnteza, tipo de substrato, temperatura, oxigênio dissolvido, alimento e presença de outros organismos (Hynes 1970). Segundo Hynes (1970), a correnteza é a característica mais significativa de riachos, e muitos invertebrados aquáticos são dependentes diretamente dela, para alimentação ou por exigências respiratórias. A correnteza pode atuar sobre o substrato agindo indiretamente sobre a composição das comunidades de macroinvertebrados. O substrato de águas correntes é importante para muitos organismos, servindo como abrigo da correnteza e de predadores, e também como alimento, no caso de substratos orgânicos. Merritt & Cummins (1996) propuseram um sistema de classificação trófica para invertebrados aquáticos, baseado em diferentes adaptações morfológicas e comportamentais utilizadas pelos organismos para aquisição de alimento, classificando-os como: a) cortadores, b) coletores, c) raspadores e d) predadores. Comunidades de animais aquáticos de igarapés de baixa ordem dependem principalmente de material alóctone, vindo da floresta ciliar (Junk et al. 1989). Bancos de folhiço são formados por esse material alóctone. Esperamos que a assembléia de artrópodes aquáticos fragmentadores nesses bancos prefiram folhas mais íntegras, com nível de fragmentação menor. Assim, este trabalho teve o objetivo de relacionar o grau de fragmentação do folhiço em trechos de corredeiras e remansos de igarapé com a composição e abundância de artrópodes fragmentadores. m, totalizando cinco amostras. Para retirar as amostras de folhiço, usamos um Surber, que consiste de uma haste de metal com um quadrado de 25 x 25 cm e uma tela de náilon de 200 mm acoplada na extremidade (Merritt & Cummins 1984). Para a coleta do folhiço, o equipamento foi colocado sobre o substrato, e o material empurrado para dentro da tela. Acondicionamos cada amostra em saco plástico, as quais foram triadas e separandos todos os artrópodes fragmentadores encontrados (sensu Merritt & Cummins 1996). Para determinar o grau de fragmentação, despejamos cada amostra de folhas em uma bandeja e contamos o número de interseções dos fragmentos em um espaço de 15 cm, com auxílio de uma régua. A densidade de artrópodes fragmentadores foi relacionada ao grau de fragmentação do folhiço por meio de análises de regressão linear. A densidade de artrópodes foi comparada entre remanso e corredeiras por meio de Teste t (Zar 1984). Resultados Coletamos três grupos de artrópodes fragmentadores: Triplectides spp., Phylloicus spp. (Insecta, Trichoptera) e camarões da família Palaemonidae (Crustacea). Não houve diferença no grau de fragmentação das folhas entre remanso e corredeira (Tab. 1). Também não encontramos diferença na densidade dos três grupos de fragmentadores nas amostras de corredeira e remanso (Tab. 1). Não houve relação entre a densidade destes artrópodes e o grau de fragmentação do folhiço submerso (Tab. 2). Tab. 1. Efeito do microhabitat (correnteza vs. remanso) sobre a fragmentação do folhiço (número de interseções por centímetro) e abundância de indivíduos dos grupos de artrópodes fragmentadores no igarapé da Reserva do Km 41. Material e Métodos Este trabalho foi desenvolvido em um igarapé próximo ao acampamento do PDBFF, na Reserva do Km 41 (trilha L-4), Manaus, AM. Para verificar se a frequência de artrópodes fragmentadores está relacionada com a fragmentação das folhas submersas, coletamos quatro amostras de folhas submersas (duas em remanso e duas em corredeiras) em cinco pontos ao longo de 50 Correnteza Remanso (Média ± (Média ± DP) DP) t gl P 0,84 Fragmentação 2,6 ± 1,3 2,7 ± 1,2 -0,20 18 Triplectides spp. 3,5 ± 5,0 3,1 ± 1,9 0,25 18 0,81 Phylloicus spp. 2,6 ± 1,3 2,8 ± 1,8 -0,17 18 0,66 Palaemonidae spp. 1,0 ± 1,7 1,7 ± 1,7 -0,92 18 0,37 Artrópodes (total) 7,1 ± 7,2 7,6 ± 4,1 -0,19 18 0,65 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 55 Tab. 2. Relação entre o nível de fragmentação de folhiço e abundância de artrópodos aquáticos. R Triplectides spp. 2 0,02 F gl p 0,33 1 0,57 que organismos podem se agregar no mesmo lugar que os detritos das plantas para se alimentar e se abrigar (Kikuchi & Uieda 1998). A mobilidade dos bancos de folhiço pode ser a causa da ausência de um padrão definido de ocupação desses habitats. Phylloicus spp. 0,02 1,39 1 0,25 Palaemonidae spp. 0,00 0,01 1 0,91 Referências Bibliográficas Artrópodos (total) 0,04 0,85 1 0,37 Hynes, H. B. N. 1970. The ecology of running waters. 3rd. ed., Toronto Press, Toronto. Junk, W.J., Bayley, P.B & Sparks, R.E. 1989. The flood pulse concept in river-floodplain systems. Pp. 110-127 In D.P. Dodge (ed.). Proceedings of International Large River Symposium. Can. Spec. Publ. Fish. Aquat. Sci. 106. Kikuchi, R. M. and V. S. Uieda. 1998. Composição da comunidade de invertebrados de um ambiente lótico tropical e sua variação espacial e temporal. Pp. 157-173 In J. L. Nessimian e E. Carvalho (eds.). Ecologia de insetos aquáticos. Series Oecologia Brasiliensis, vol., V. PPGEUFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. Merritt R. W. and K. W. Cummins. 1984. An introduction to the aquatic insects of North America. 2nd Ed. Kendall Hunt, Dubuque, IA. 360 p. Merritt R. W. and K. W. Cummins. 1996. Trophic relations of macroinvertebrates. Pp. 453-474 In R. W. Merritt and K. W. Cummins (eds.). An introduction to the aquatic insects of North America, 3rd ed. Kendall Hunt, Dubuque, IA. Resh, V. H. and D. M. Rosemberg. 1984. The ecology of aquatic insects. Praegor Publishers, New York. Discussão Os resultados indicam que a turbulência da água não afeta a ocorrência e abundância dos grupos de artrópodes fragmentadores de folhas estudados. Não pudemos concluir que exista diferença na densidade destes artrópodes em diferentes níveis de fragmentação porque esta não variou entre os ambientes. Uma vez que, em nosso estudo os fragmentadores ocorreram em diferentes habitats independentemente da turbulência da água, sugerimos que esses animais tenham ampla distribuição no igarapé desempenhem um papel importante na cadeia de decomposição em ambos os ambientes. Informações de literatura indicam que a distribuição dos artrópodes aquáticos em diferentes microhabitats não apresenta um padrão bem definido (revisão em Kikuchi & Uieda 1998). Alguns trabalhos encontraram maior biomassa e riqueza em corredeiras em relação aos remansos, enquanto outros verificaram que a similaridade nos padrões de distribuição de organismos e de detritos de plantas em corredeiras não se deva unicamente a fatores abióticos (p. ex. turbulência da água) e Morfologia foliar e herbivoria: mecanismo de engano para herbívoros? Elaine Lucas Gonsales, Flávia Monteiro Coelho, Gustavo Quevedo Romero, Jean Carlos Santos, Marcio Uehara-Prado Introdução Insetos herbívoros, podem utilizar potencialente todos os tipos de tecidos vegetal, provocando danos nos vários estágios do ciclo de vida de uma planta (Crawley 1983). Algumas vezes a herbivoria pode levar à morte da planta hospedeira e sua extinção local. Assim sendo, surgiram diferentes características nas plantas em resposta à pressão seletiva exercida pelos herbívoros. Essas características podem ser estruturais, fisiológicas, químicas, fenológicas e relacionadas à história natural das plantas (Marquis 1992). Iriartella settigera (Arecaceae) é uma espécie de palmeira que ocorre na Amazônia Central, cujas folhas possuem aparência de que sofreram herbivoria nas bordas. É possível que este mecanismo morfológico confira proteção contra herbívoros, já que estudos têm demonstrado que herbívoros evitam plantas consumidas, pois estas podem ativar compostos secundários após terem sido danificadas (mecanismos de indução) (Barone & Coley 2002). Neste sentido, este estudo teve como objetivo verificar se a morfologia foliar de I. settigera confere menores níveis de herbivoria quando comparados aos de plantas próximas. Material e Métodos Realizamos este estudo em uma floresta de terra firme localizada na reserva do km 41, na área da fazenda Esteio, Manaus, AM. Utilizamos 15 réplicas de um conjunto de três plantas: I. 56 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 settigera, uma outra palmeira e uma dicotiledônea de tamanhos semelhantes. Selecionamos indivíduos de I. settigera com altura de 0,5 a 2,0 m, e distância mínima de 5 m entre si. Utilizamos comocontrole as palmeiras e dicotiledôneas localizadas o mais próximo possível de I. settigera, partindo-se do pressuposto que estas plantas estariam sofrendo a mesma pressão de herbivoria. Medimos a intensidade de herbivoria em cada planta por meio de um índice (Índice de Herbivoria – IH) baseado na porcentagem da área foliar danificada (0 = 0%; 1 = 1-6%; 2 = 612%; 3 = 12-25%; 4 = 25-50% e 5 = >50%), proposto por Dirzo e Domínguez (1995) e calculado pela fórmula: IH = ∑(ni * i)/N onde N= número de folhas, ni = número de amostras na categoria i, e i = categoria. Medimos o IH em I. settigera a partir da observação de todas as suas folhas; nas outras palmeiras (controle), utilizamos 10 folíolos de duas folhas amostradas aleatoriamente e nas dicotiledôneas, amostramos 10 folhas escolhidas ao acaso. Analisamos os dados com uso do teste não paramétrico de Wilcoxon (Zar 1984). Resultados A intensidade de herbivoria foi menor em I. settigera em praticamente todos os casos amostrados, com exceção da amostra de número 4, onde o menor índice de herbivoria ocorreu na dicotiledônea (Fig. 1). Em média, I. settigera apresentou índice de herbivoria menor quando comparado com as palmeiras (Z = 3,352; gl = 1; P = 0,001) e com dicotiledôneas (Z = 0,351; gl = 1; P = 0,001) (Fig. 2). Iriartella settigera Palmeiras Dicotiledôneas Índice de Herbivoria (IH) 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Trios de plantas Fig. 1. Índices de herbivoria (IH) em plantas de Iriartella settigera, outras palmeiras e dicotiledôneas em uma floresta de terra firme na reserva do km 41, Manaus. 5 IH 4 3 Discussão A herbivoria dos sub-bosques de terra firme pode ser um importante fator de pressão seletiva para as espécies de plantas, que podem apresentar defesas constitutivas e indutivas (Barone & Coley 2002). Em Iriartella settigera, os índices de herbivoria podem ser discutidos a partir do esquema apresentado na Fig. 3. Uma vez que a forma foliar parece de fato ser um fator de engano para os herbívoros, pode ser que estes associem a forma da folha a uma defesa induzida, em que após consumida parte da planta, a folha inicia um processo de defesa química. Outra possibilidade pode estar relacionada à colonização prévia, ou seja, alguns herbívoros deixariam de consumir as folhas por estas aparentemente já estarem sendo exploradas por algum herbívoro. Como exemplo, podemos citar algumas borboletas que evitam depositar seus ovos em folhas previamente danificadas porque suas larvas teriam que competir com as larvas de fêmeas que chegaram previamente (W.W. Benson comunicação pessoal). Por outro lado, desconsiderando a possibilidade de engano dos herbívoros, pode ser que aves, por exemplo, sejam atraídas por plantas danificadas, as quais evidenciaria a presença de herbívoros (imagem de procura), levando a predação dos mesmos e consequente redução da herbivoria. Os três fatores acima citados podem estar contribuindo isoladamente ou em sinergismo para os baixos níveis de herbivoria em I. settigera. Outra possibilidade é que a forma não exerça influência sobre os herbívoros e que a pouca atividade destes na planta esteja ligada à presença de compostos secundários ou simplesmente a uma reduzida palatabilidade. Isso poderia ser testado oferecendose folhas destas plantas a insetos herbívoros e verificando as taxas efetivas de herbivoria. Agradecimentos 2 1 Somos muito gratos ao Rodolfo Dirzo pela orientação e pelas discussões durante o trabalho. 0 Referências Bibliográficas Iriartella Palmeiras Dicotiledôneas Fig. 2- Relação entre o índice de herbivoria (IH) e os três tipos de planta Morfologia foliar Engano Barone, J. A. and Coley, P. D. 2002. Herbivorismo y las defensas de las plantas. pp. 465-492. In M. R. Guariguata and G. H. Kattan (eds.), Ecología y conservación de bosques neotropicales. Libro Universitario Regional, Cartago, Costa Rica. Dirzo, R. and C. Domínguez. 1995. Plant-animal interactions in mesoamerican tropical dry forest. In B. Medina and H. Mooney (eds.), Seasonally dry tropical forest. Cambridge University Press, Cambridge, USA. Zar, H. 1984. Biostatistical analysis. 2nd Ed. Prentice Hall, Englewood Cliffs, CA. USA. Orientador Rodolfo Dirzo Sim Não - Defesa induzida 3o Nível trófico - Colonização prévia (Imagem de busca) Redução da herbivoria Fig. 3 - Fluxograma das hipóteses prováveis para explicação da redução da herbivoria em função da morfologia foliar em Iriartella settigera. A linha tracejada representa a abordagem empregada neste estudo. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 57 Defesas estruturais e taxa de herbívoria em espécies de Melastomatáceas Daniel R. Scheibler, LiLy C. Arias, Ludmila Siqueira, Ricardo Darigo, Sunshine Menezes Durante sua história evolutiva, as plantas desenvolveram vários mecanismos de defesa contra os herbívoros. Exemplos comuns são as defesas químicas como a produção de metabólitos secundários que podem, por exemplo, diminuir a digestibilidade das folhas para os herbívoros; ou ainda, as defesas físicas ou mecânicas como dureza ou pilosidade das folhas (Barone & Coley 2002). São importantes, também, as interações simbióticas com outros organismos, principalmente com formigas, que podem receber recompensas das plantas como néctar e/ou sítios de nidificação em troca da proteção contra herbívoros (Vasconcelos 1991; Oliveira et al. 1987). O efeito da herbivoria é uma aspecto importante na vida de uma planta e depende da área foliar removida pelos herbívoros e do estágio de desenvolvimento em que a planta se encontra (Begon et al. 1990). A área atacada pode ser uma estrutura reprodutiva e o efeito da herbivoria neste caso pode influenciar nas taxas de reprodução dos indivíduos. O objetivo deste estudo foi avaliar se o acúmulo de estruturas ou mecanismos de defesas contra a herbivoria pode reduzir a área foliar removida por herbívoros em espécies de Melastomataceae. Assim, testamos as seguintes hipóteses: 1. A área foliar consumida por herbívoros diminui em função do grau de proteção da planta. 2. Espécies de plantas com maior acúmulo de estruturas ou mecanismos de defesas seriam mais freqüentes na natureza do que outras menos protegidas. Tab. 1. “Rankings” para cada morfotipo de Melastomataceae de acordo com o grau de presença de estruturas relacionadas à defesa. Morfotipo 6 2 8 3 4 9 12 11 Herbivoria (%) Introdução 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Rugosidade Sem Com Sem Sem Com Com Com Com Pilosidade Sem Sem Com Sem Com Sem Com Com Dureza Delgada Delgada Delgada Esclerófila Delgada Esclerófila Delgada Delgada Formigas Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Presente Presente Ranking I II III IV V VI VII VIII 4 6 2 3 11 8 9 12 I II III IV V VI VII VIII Ranking Fig. 1. Freqüência de hebivoria e categorias (números romanos) de acordo com o acúmulo de estruturas ou mecanismos de defesa, apresentados em ordem crescente no eixo das abscissas. Os números arábicos representam os morfotipos. Material e Métodos Foram coletados doze morfotipos de Melastomataceae com amostras de sete exemplares para cada morfotipo. Estes foram categorizados por tipos de defesa, usando-se as seguintes variáveis: rugosidade, pilosidade, dureza e associação com formigas. De acordo com estas variáveis, nós obtivemos um “ranking” para os morfotipos, que de forma crescente de importância de proteção contra a herbivoria é o seguinte: rugosidade, pilosidade, dureza e presença de formigas. O critério utilizado para esta classificação de importância teve por base observações preliminares feitas em campo. Barone & Coley (2002) afirmam que a defesa física mais eficaz é a dureza. A porcentagem de área foliar consumida foi estimada utilizando-se uma grade de centímetros quadrados para as três primeiras folhas do ápice do ramo terminal de cada planta amostrada. Para avaliar a densidade de plantas na mata, em uma parcela de 1200 m por 2 m, observamos a freqüência de ocorrência dos morfotipos de Melastomataceae. Resultados A Tab. 1 apresenta os nove morfotipos categorizados em função do aumento do número de tipos de defesas. A porcentagem da área foliar consumida variou entre estes grupos, mas não conforme esperado, ou seja, de acordo com o aumento do número de tipos de defesas contra a herbivoria (Fig. 1). Da mesma forma, a freqüência de ocorrência dos morfotipos amostrados não variou conforme o aumento do número ou estruturas de defesas. Esta freqüência variou muito entre os morfotipos. O morfotipo 11, por exemplo, que apresenta mais mecanismos de defesa não foi a mais freqüente (Fig. 1). 58 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Discussão Parece não haver relação entre a quantidade de defesas físicas e a taxa de herbivoria, assim como para a frequência de ocorrência dos morfotipos na mata. Acreditamos que tal resultado pode estar sendo influenciado por diferentes fatores. O primeiro destes pode estar relacionado a nossa classificação dos tipos de defesas físicas. É possível que as caraterísticas que consideramos como defesas não sejam tão efetivas para os herbívoros. Alguns outros aspectos da folha como espessura e idade podem limitar o grau de herbivoria (Coley 1982). As defesas químicas, por outro lado, também exercem importante papel na defesa contra herbivoria. A presença de compostos secundários como taninos, terpenos e alcalóides tornam as folhas impalatáveis (Barone & Coley 2002; Grime 1979). Isto pode restringir ou mesmo impedir seu consumo. Por fim, devemos considerarr as defesas biológicas. Em algumas plantas podem ocorrer associações com formigas que protegem a planta contra os herbívoros, recebendo em troca alimento como néctar ou então locais seguros para instalação de ninhos (Loyola & Fernandes 1993). Neste estudo, as plantas com domáceas apresentaram menor ocorrência de herbivoria, e este deve ser o fator mais importante para evitar o consumo das folhas. Referências Bibliográficas Barone, J.A. e P.D. Coley. 2002. Herbivorismo y las defensas de las plantas. Pp. 465-492. In Guariguata, M.R. & G.H. Kattan (eds.). Ecología y Conservación de Bosques Neotropicales 691 pp. Begon, M. Harper, J. L. Townsend, C. R. 1990. Ecology: individuals, populations and communities. 2a ed. Blackwell Scientific Publications, Massachusetts, USA. Coley, P.D. 1982. Rates of herbivory on different tropical trees. Pp. 123-132 In Leigh, E.G. Jr., A.S. Rand, & D.M. Windsor (eds.). The Ecology of a Tropical Forest: Seasonal Rhythms and Long-term Changes. Smithsonian Inst. Washington, D.C. 468 pp. Grime, J.P. 1979. Plant Strategies and Vegetation Processes. John Wiley & Sons. Chichester, UK. 222 pp. Loyola, R. Fernandes, G.W. 1993. Herbivoria em Kielmeyra coriacea (Guttiferae): Efeitos da idade da planta, desenvolvimento e aspectos qualitativos de folhas. Revista Brasileira de Biologia 53(2): 295-304. Oliveira, P.S., A.R. Oliveira-Filho, & R. Cintra. 1987. Ant foraging on ant-inhabited Triplaris (Polygonaceae) in western Brazil: a field experiment using live termite-baits. Journal of Tropical Ecology. 3: 193-200. Vasconcelos, H.L. 1991. Mutualism betweem Maieta guianensis Aubl., a myrmecophyhtic melastome, and one of its inhabitants: ant protection against insect herbivores. Oecologia 95: 439-443. Orientador Geraldo W. Fernandes Efeito do tamanho de domácea e número de formigas como proteção contra herbivoria em plantas de Maieta guianensis Melastomataceae Daniel Ricardo Scheibler, Lily Carola Arias, Ludmila Pugliese de Siqueira, Ricardo Darigo, Sunshine Menezes Introdução Mimercofilia é um tipo de interação entre formigas e plantas.Como exemplo, podemos citar o caso das plantas que apresentam domáceas, como ocorre no gênero Maieta (Melastomataceae) com cerca de 10 espécies (Holldobler & Wilson 1990; Vasconcelos 1991). Essas estruturas, na forma de “bolsas”, alojam colônias de formigas, que protegem as plantas contra o ataque de herbívoros (Fonseca 1995). Domáceas ocorrem em muitos gêneros de plantas mas não são todas domáceas verdadeiras (Hölldobler & Willson 1990). Porém, existem evidências que as domáceas são estruturas especializadas que evoluíram da relação simbiótica com formigas (Benson 1985). A ocorrência de mirmecofilia é bem conhecida nos trópicos (Wilson 1971), existindo também alguns estudos sobre este assunto para a Amazônia Central. Fonseca e Ganade (1996) encontraram 16 espécies de mimercófitas e 25 espécies de formigas associadas a estas plantas na Reserva Km 41, na Amazônia Central. Alguns estudos na reserva Duke e reserva Km 41 têm investigado a relação entre Maieta spp. e suas formigas associadas (Boege et al. 1998; Del Val et al. 1998; Gonzaga et al. 1998; Vasconcelos 1991). O objetivo desse estudo foi avaliar a resposta das formigas Pheidole minutula à indução do ataque de herbívoros em plantas de Maieta guianensis, e a relação que existe entre o grau de proteção, ou seja, do número de formigas presentes na planta com a intensidade de ataque de herbívoros. Segundo Holldobler & Wilson (1990) e Fonseca (1995), ocorre uma relação positiva entre o tamanho da domácea e o número de formigas. Assim, a nossa hipótese de trabalho é de que o tempo de ataque ao herbívoro e o número de formigas envolvidas nesse ataque está relacionado à quantidade de formigas presentes na domácea de M. guianensis, e o número de formigas, por sua vez, relacionase como volume da domácea. Em outras palavras, quanto maiores as domáceas mais formigas há nas folhas e, consequentemente, mais rápido e intenso é o ataque ao herbívoro. Material e Métodos O estudo foi desenvolvido na Reserva Km 41 do PDBFF, (02o24’S, 59o43’W), localizada a cerca de 70 Km de Manaus, na Amazônia Central. Realizamos parte do experimento e a coleta de 18 indivíduos de M. guianensis ao longo das trilhas da reserva, em áreas de platô e em algumas áreas de vertente e baixio. Para avaliar o tempo e a intensidade de resposta das formigas ao ataque de herbívoros, colocamos uma ninfa de cupim sobre a primeira folha completamente desenvolvida de M. guianensis e cronometramos o tempo transcorrido até que a primeira formiga ataca-se a ninfa. Utilizamos a primeira folha devido a facilidade de observação e para evitar tocar na planta e perturbar o sistema. Contamos, também, o número de formigas atacando a ninfa após 5 minutos. Observamos, através de um experimento prévio, que este tempo era suficiente para que várias formigas atacassem o herbívoro. Feito isto, a folha foi coletada e mergulhada em álcool 70 para posterior contagem do número de formigas presentes (dentro e fora da domácea). A planta toda também foi coletada para os seguintes procedimentos: a) contagem do número de domáceas; b) medida da proporção de folha removida por herbívoros, seguindo a metodologia descrita por Dirzo & Domingues (1995) e c) medida da superfície foliar e do volume das domáceas da folha mais apical (aquela coletada para a contagem do número de formigas), da folha mais basal e de uma folha intermediária na planta. Para avaliar o volume das domáceas, foram medidos o comprimento a altura e largura das mesmas com auxílio de paquímetro, sendo seu volume calculado através da fórmula ½ cilindro de base elipsóide dado por: p h c l/4. A área da folha foi calculada através da fórmula da elipse: l c p/4, onde l = largura; h= altura e c= comprimento. Testamos a correlação entre: a) número de formigas presentes nas domáceas, e o volume destas; b) tempo de resposta, ou seja, o tempo necessário para o primeiro ataque à ninfa ocorrer e o número de formigas presentes na domácea; c) o número de formigas recrutadas para o ataque após 5 min e o número de formigas na domácea; d) taxa de herbivoria (área foliar consumida por herbívoros) e o tamanho médio da domácea dividido pela superfície da folha; e) taxa de herbivoria e a quantidade de domáceas na planta; f) taxa de herbivoria e um valor calculado para a planta toda (volume médio da domácea multiplicado pelo número de domáceas) g) taxa herbivoria em Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 59 função do tempo de ataque das formigas. Resultados O tempo médio do primeiro ataque à ninfa foi de 49,1 ± 42,7 s. Encontramos uma média de 20,6 ± 15,2 formigas por domácea. A quantidade de formigas recrutadas para atacar a ninfa após os cinco minutos foi de 9,15 ± 4,58 s. O número de formigas por domáceas não variou em função do volume da mesma (p=0,59; N=18; Fig.1A). O tempo decorrido até o primeiro ataque a ninfa não mostrou relação com o número de formigas presente na domácea (p=0,24; N=14; Fig. 1B). No entanto, o número de formigas recrutadas após a colocação da isca teve forte relação com o número de formigas existentes na domácea (R2=0,41; N=18; p<0,01; Fig 1C). As taxas de herbivoria nos indivíduos de M. guianenses não tiveram relação com o tamanho médio da domácea dividido pela superfície da folha (p=0,75; N=18; Fig. 2A), nem com a quantidade de domáceas da planta (p=0,92; N=18; 2B). Também não houve relação entre a taxa de herbivoria em função do volume médio da domácea multiplicado pelo número de domáceas na planta (p=0,90; N=18; 2C). A herbivoria média das folhas nas plantas variou negativamente em função do tempo de ataque ao herbívoro potencial (ninfa de cupim) (R2=0.33; N=14; p<0.05; 2D). Discussão O tempo decorrido até o ataque das formigas ao “herbívoro” pode ser considerado baixo e, certamente, não deve ser suficiente para que um herbívoro, como uma ninfa, cause grande dano à folha. De acordo com algumas observaçõesas casuais feitas no campo, de fato as taxas de herbivoria são pequenas em M. guainensis em comparação com outras plantas. Nossas hipóteses iniciais não foram corroboradas pelos resultados encontrados. A falta de relação entre o tamanho da domácea e o número de formigas existentes nessa estrutura contraria a idéia de que o investimento feito pela planta é proporcionalmente recompensado pela presença de um maior número de formigas. Segundo Fonseca (1995) o tamanho das domáceas é um fator limitante para a abundância de formigas existentes nas folhas de M. guianensis e, assim, deveríamos esperar uma forte relação entre o volume da domácea e o número de formigas que ela abriga. É provável que a estimativa do volume da domácea seja uma importante fonte de erro em nosso estudo, visto que nos baseamos em medidas externas das domáceas. Devemos considerar ainda que a domácea de M. guianensis está dividida em dois compartimentos. Outra hipótese não confirmada foi a relação entre o tempo de encontro e o número de formigas na domácea. Se pensarmos que a tarefa de encontro de uma presa é desempenhada por uma formiga que fica patrulhando a folha, podemos imaginar que não existe razão para que tal relação exista. Seria muito sensato, no entanto, que houvesse relação com o número de formigas recrutadas após o encontro, como foi confirmado pelos nossos resultados. Vasconcelos e Davidson (2000) também não encontraram 60 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 relação entre as taxas de herbivoria e o número de domáceas em M. guianensis. Esses autores usaram o número de domáceas como uma medida do tamanho da planta e chegaram à conclusão de que a herbivoria observada foi independente do tamanho da planta. Apesar da maioria dos resultados encontrados não corroborarem nossa hipótese inicial, algumas características, como número de formigas presentes na domácea e o tempo de ataque após colocação do herbívoro, são importantes no processo de defesa da planta, resultando em uma baixa taxa de herbivoria. Referências Bibliográficas Benson, W. W. 1985. Amazon ant-plants. Pages 239-266 In G. Prance and T. Lovejoy, editors. Amazonia Pergamon Press, Elmsford, NY, U.S.A. Boege, K., C.A. Costa, M. Silveira, M.A. da Fonseca, e S.B. de Fáveri. 1998. Beneficios en interacciones mirmecófitas: un relación linear o no linear? In A. Scariot e E. Venticinque, organizadores. Ecologia da Floresta Amazônica Curso de Campo 1998. PDBFF, INPA. Manaus, AM. Del Val, E., M. O. Gozaga, N. Pérez, P. G. C. Ruggiero e M. Smith. 1998. Compromisa entre defensas cuantitativas y biológicas em plantas mirmecófitas de Amazonia. In A. Scariot e E. Venticinque, organizadores. Ecologia da Floresta Amazônica Curso de Campo 1998. PDBFF, INPA. Manaus, AM Dirzo, R & Dominguez, C. 1995. Plant-animal interactions in Mesoamerican tropical dry forests. In: E. Bullock Medina and H. Mooney, editors Seasonally dry tropical forest. Cambridge University Press, Cambridge, MA, USA. Fonseca, C.R. 1994. Herbivory and the long-lived leaves of an Amazonian ant-tree. Journal of Ecology. 82: 833-842. Fonseca, C.R. and G. Ganade. 1996. Asymmetries, compartments and null interactions in an Amazonian ant-plant community. Journal of Animal Ecology 65: 339-347. Gonzaga, M. O., E. Del Val, M. Smith, N. Pérez e G. C. Ruggiero. 1998. Efeitos da presença de formigas na proporção de danos folhares em plantas jovens de Sclerolobium setiferum. In A. Scariot e E. Venticinque, organizadores. Ecologia da Floresta Amazonica Curso de Campo 1998. PDBFF, INPA. Manaus, AM Hölldobler, B. and E. O. Wilson. 1990. The Ants. SpringerVerlag. Berlin. 732 pp. Risch, S. J. and F. R. Rickson. 1981. Mutualism in which ants must be present before plants produce food bodies. Nature 291: 149-150. Vasconcelos, H.L. and D. W. Davidson. 2000. Relationship between plant size and ant associates in two Amazonian ant-plants. Biotropica. 32(1): 100-111. Wilson, E.O. 1971. The Insect Societies. Harvard College, Cambridge, MA, U.S.A. 548 pp. Orientador Erich Fischer Liteiras suspensas na palmeira Oenocarpus bacaba (Palmae): um teste da teoria de biogeografia de ilhas Adam Kaveh Bahrami, Karl Mokross, Leandro M. Sousa, Renata Durães e Verónica Cepeda Introdução Todos os dias uma grande quantidade de matéria orgânica é depositada sobre o solo na floresta amazônica, incorporando-se a uma densa liteira que se decompõe rapidamente. A rapidez deste processo se deve à ação de microorganismos e insetos que consomem este material, aumentando consideravelmente a ciclagem de nutrientes neste sistema. No entanto, nem sempre o destino deste material é o solo propriamente dito. No sub-bosque há uma grande densidade de palmeiras de pequeno porte, dominados por espécies de Atalea, Astrocaryum e Oenocarpus. As folhas dessas espécies são grandes e dispostas de maneira a criar um funil. O funil pode acumular grande quantidade de folhas e galhos, podendo formar um ambiente parcial ou totalmente isolado do solo pelo caule. A teoria de biogeografia de ilhas de MacArthur e Wilson (1969) prevê relação positiva entre a área de ilhas oceânicas e sua riqueza de espécies, e relação negativa entre riqueza e o grau de isolamento em relação a uma fonte colonizadora (o continente). Esta teoria tem sido testada em sistemas variados, em escalas espaciais que variam do nível continental ao dos microcosmos. Segundo Ebert & Balko (1987), existem habitats que possuem características particulares e podem ser comparados ecologicamente a ilhas oceânicas. Exemplos seriam crustáceos em recifes de coral, mamíferos em topos de montanha, insetos em parques urbanos, ectoparasitas em roedores e organismos em corpos d’agua temporários. O objetivo do presente estudo foi testar a teoria de biogeografia de ilhas em comunidades de artrópodes em liteira de palmeiras e solo adjacente. Esperávamos que (1) a liteira das palmeiras seria um habitat distinto do solo, (2) o volume de cone de liteira (o tamanho da ‘ilha’) teria uma relação positiva com a riqueza de artrópodes e (3) a altura do cone em relação ao solo (o grau de isolamento da ‘ilha’) teria uma relação negativa com a riqueza de artrópodes. na número de morfoespécies encontradas. Fizemos regressão múltipla para avaliar o efeito do volume e da altura que as liteiras se encontram em relação ao solo sobre a riqueza de artrópodes. Para avaliar a similaridade entre os habitats de liteira da palmeira e do solo, fizemos, numa matriz, comparações pareadas entre todas as amostras onde ocorreram uma morfoespécies em comum. Utilizamos o teste de quiquadrado de proporções para quantificar a diferença entre os dois habitats. Resultados Encontramos 80 morfoespécies de artrópodes, sendo 39 nas amostras de palmeiras e 44 nas amostras de solo (Tab. 1). As amostras de palmeira apresentaram entre 0 e 13 morfoespécies, enquanto as amostras de solo apresentaram entre 1 e 9 morfoespécies. A média de morfoespécies por amostra foi similar para liteiras de palmeira (4,5±3,6, N=10) e solo (4,6±2,9, N=10). O número de morfoespécies por unidade de peso foi estatisticamente semelhante entre solo (2,79±1,62 morfoespécies/100g, N=10) e palmeiras (4,20±4,15 morfoespécies/100g, N=10) (Mann Whitney: U=60,5; p=0,43; g.l.=1). A similaridade de espécies entre as amostras foi baixa, tanto entre amostras de palmeira, entre amostras de solo, ou entre amostras de solo e palmeira (Fig. 1). A maioria das amostras apresentou apenas morfoespécies que ocorreram exclusivamente naquela amostra. Apesar disso, encontramos 13 pares de amostras (palmeira-palmeira [P-P], solo-solo [S-S] ou palmeirasolo [P-S]) onde ocorreram uma ou duas morfoespécies em comum. A distribuição desses pares não foi ao acaso, sendo maior entre palmeiras (P P-P=7/45, P S-S=2/45, P P-S=4/100, X20,05.2=7,075, p<0,05, Fig. 1). P1 Material e Métodos P2 O presente estudo foi realizado na reserva florestal do Km 41 (2o 25’S, 59o 59’W) na área do Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, a cerca de 80 km ao norte de Manaus. O estudo foi realizado no final do mês de julho de 2002. Percorremos o sistema de trilhas entre os quadrantes L5 e M5 da reserva, coletando a liteira contida entre as folhas de dez indivíduos de palmeiras Oenocarpus bacaba. Indivíduos foram escolhidos a uma distância mínima de cinco metros, apenas no platô e com um folhiço com a maior diversidade de tamanhos e alturas do solo possíveis. Estimamos o volume considerando que a forma geométrica que melhor se enquadraria neste caso era a de um cone. Assim, tomamos a medida da altura deste cone (A, medida do vértice do cone até a faixa final de acúmulo de material) e o diâmetro da sua base (2r), calculando o volume através da formula V= (r*A/2)ðr2. Após essas medidas, o folhiço foi rápida porém cuidadosamente retirado das palmeiras e colocado em sacos plásticos. Coletamos uma amostra de liteira do solo próximo a 0,5 m de cada palmeira, sempre na direção norte, coletando um volume visualmente similar ao contido entre as folhas da planta. Este material foi triado e os artrópodes com 3 mm ou mais foram morfotipados e identificados até o menor nível taxonômico possível. Subseqüentemente, separamos a liteira entre a parte de humus e a parte de folhiço e as pesamos para determinar se uma parte teve um maior efeito P4 P3 1 P5 2 P6 1 1 1 1 P7 P8 P9 P10 A S1 S2 S3 S4 1 S5 S6 1 1 P5 P6 2 S7 S8 S9 S10 B P1 P2 P3 P4 P7 P8 P9 1 C P10 S1 S2 S3 S4 S5 S6 S7 S8 S9 S10 Fig. 1. Matriz de co-ocorrência de morfoespécies de artrópodes entre amostras de liteira em palmeiras O. bacaba (P) e liteira de solo (S). Os números indicam o número de morfoespécies comuns entre amostras. A = comparação entre amostras de palmeira; B = entre amostras de solo e palmeira; C = entre amostras de solo. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 61 A) M orfoe spé cie s (N) O peso da liteira, o volume do cone e a altura do cone explicaram, em conjunto, 87% da variação do número de morfoespécies de artrópodes em amostras de palmeira (y = 3,53 + 0,13Peso – 0,072Altura; N = 10; p = 0,005). No entanto, apenas a variável peso explicou uma porção significativa desta variação (Ppeso = 0,002; Pvolume = 0,799; Paltura = 0,174; Fig. 2). A riqueza aumentou significativamente com o peso das amostras, tanto nas liteiras de solo (F1,8=34,195; r2=0,81; p<0,001) quanto nas de palmeira (F1,8=7,076; r2=0,47; p=0,03). Quando consideramos separadamente o peso do húmus e o peso do folhiço contidos nas amostras, apenas o peso do húmus influenciou o número de morfoespécies encontradas nas liteiras de palmeira (húmus: t2,7=5,939; p=0,001; folhiço: t2,7=2,053; p=0,079). 14 y = 3E -05x + 1.9529 12 R 2 = 0.3152 10 8 6 4 2 0 0 50000 100000 150000 200000 V o lum e d o co ne (cm 3) B) Ordem Família Arachnida Acarina Araneida Opilionida Recinleia Scorpionida Chilopoda Geophilomorpha Scolopendromorpha Indefinido Número de morfoespécies Solo Palmeira Total 9 7 16 2 4 1 1 1 1 5 1 0 0 3 9 2 1 1 2 4 4 1 0 1 1 2 1 1 2 1 Diplopoda 4 0 4 Insecta 24 23 46 3 5 1 1 1 2 4 0 4 1 0 7 0 2 3 2 5 1 0 2 2 2 1 1 1 1 9 1 1 1 5 10 2 1 3 4 6 1 5 2 1 14 1 3 4 1 2 0 1 1 3 Isopoda 4 4 8 Indefinido 1 1 2 44 39 80 Blattodea Coleoptera Carabidae Lathriniidae Staphylinidae Indefinido Diptera Ceratopogonidae Indefinido Embioptera Hemiptera Hymenoptera Isoptera Orthoptera Zygentoma (Thysanura) Reduvidae Formicidae Japygidae Indefinido TOTAL Discussão Se o solo é a principal fonte colonizadora de artrópodes para as liteiras em palmeiras, esperaríamos que as amostras de palmeira e as amostras de solo tomadas imediatamente abaixo delas seriam mais similares entre si do que amostras de palmeiras separadas no espaço. No entanto, quase todas as amostras foram extremamente heterogêneas, tanto quando amostras de solo ou palmeira são comparadas entre si, quanto quando amostras de palmeira são comparadas com as do solo. Mesmo assim, a correlação encontrada entre a altura da liteira ao solo e o número de morfoespécies não foi significativa, e a similaridade entre morfoespécies da literia da palmeira e do solo foi pequena, não evidenciando que o solo seja realmente a principal fonte colonizadora para liteiras em palmeiras. Por outro lado, observamos maior freqüência de espécies comuns entre pares de palmeiras do que entre pares de solo ou sole e palmeiras, mostrando que a liteira de palmeiras é um habi62 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 12 10 8 6 4 2 0 0 10 20 30 40 50 60 Altu ra d o so lo (cm ) C) 14 M orfoe spé cie s (N) Classe M orfoe spé cie s (N) 14 Tab. 1. Artrópodes encontrados em liteira de palmeiras e solo em uma área de mata de platô na Amazônia Central. 12 10 8 6 y = 0.0128x + 2.0714 4 R 2 = 0.8104 2 0 0 200 400 600 800 1000 P e so d o fo lh iço (g ) Fig. 2. Relação entre o número de morfoespécies de artrópodes em liteira de O. bacaba e A) volume do cone, B) altura do cone em relação ao solo e C) peso total do folhiço. tat distinto. Vasconcelos (1990) encontrou uma maior diversidade de espécies na liteira de palmeiras do que no solo adjacente. No presente estudo, não encontramos essa diferença. Talvez, seja um produto dessa mesma alta diversidade e raridade de morfoespécies encontradas. Nossa predição de que a riqueza de artrópodes seria negativamente relacionada com o grau de isolamento entre os cones das palmeiras e o solo não foi confirmada. No entanto, pudemos observar uma relação positiva entre riqueza e uma estimativa do tamanho das ilhas; neste caso, este parâmetro não foi o volume do cone, como inicialmente previsto por nós, mas o peso da liteira. De fato, este deve ser um parâmetro biologicamente mais significativo, uma vez que está relacionado com a quantidade e densidade do material depositado, e, consequentemente, com a disponibilidade de microsítios para os invertebrados. Liteiras em palmeiras representam um microhábitat complexo e verticalmente estratificado. O material na superfície do cone apresenta-se mais intacto, enquanto no vértice do cone o material já encontra-se em estado de húmus. Esta complexidade estrutural, provavelmente aliada a condições microclimáticas mais moderadas do que as encontradas no solo, contribui para o aumento da diversidade de artrópodes associados (Vasconcelos 1990). Observamos que a teoria de biogeografia de ilhas, tal como aplicada por nós a este sistema, é parcialmente aplicável. A riqueza aumenta com o tamanho das ilhas, mas não com o isolamento destas ao solo. É possível que nossa suposição de que o solo seja a principal fonte colonizadora esteja errada. Alternativamente, é possível que a altura dos cones em relação ao solo não seja um bom parâmetro do grau de isolamento destas ilhas. Talvez um parâmetro biologicamente mais significativo seja a distância entre palmeiras, como sugere a idéia de ilhas como “stepping-stones”, servindo de fontes mútuas de colonização. É importante ressaltar a grande diversidade e heterogeneidade encontrada entre as liteiras de palmeiras estudadas numa área de platô e próximas entre si. Isto sugere que as liteiras de palmeiras estas sejam microhábitats importantes para a manutenção da biodiversidade de artrópodes na floresta amazônica. Agradecimentos Agradecemos ao Erick Fischer pela orientação, ao Jorge Nessimian pela identificação dos artrópodes, ao Ocírio “Juruna” Pereira pela identificação das palmeiras, ao Eduardo Dadão Venticinque pela iluminação estatística, e aos Punk Covers pela música hardcore durante a elaboração do projeto. Referências Bibliográficas Barry, C.C., e Moore, P.D. 1985. Biogeography. 4a. ed. Blackwell Scientific publications. Massachusetts, 243 Pp. Borror, D.J., e DeLong, D.M. 1988. Estudo Dos Insectos. Editora Edgard Blucher Ltda. Brasil, 653 Pp. MacArthur, R.H. & Wilson, E.O. 1967. The Theory of Island Biogeography. Princeton University Press, Princeton, New Jersey. Vasconcelos, H.L. 1990. Effects of litter collection by understory palms on the associated macroinvertebrate fauna in Central Amazonia. Pedobiologia, 34: 157-160. Taxa de herbivoria em Miconia phanerostila (Melastomataceae) em diferentes ambientes lumínicos na Reserva do Km 41, Manaus (AM) Adam Kaveh Bahrami, Karl Mokross, Leandro M. Sousa, Renata Durães & Verônica Cepeda Introdução Herbívoros são responsáveis por grandes impactos sobre plantas, tanto na escala ecológica quanto evolutiva (Coley et al. 1985). A distribuição, abundância e comportamento dos insetos herbívoros podem ser influenciados por várias características das plantas hospedeiras, tais como caracteres estruturais e fitoquímicos (Basset 1991 apud Barone & Coley, 2002). Além disso, o ataque dos herbívoros pode induzir respostas físicas ou químicas que reduzem a digestibilidade da planta, assim como a taxa de crescimento e fecundidade dos herbívoros (Basset 1991; Corneliessen & Fernandes 2001). A produção de estruturas e compostos de defesa representa um custo energético para a planta que pode comprometer o investimento em crescimento; por outro lado, a herbivoria pode provocar perdas energéticas significativas em área foliar removida. Assim, esperase que plantas com maior disponibilidade de recursos invistam menos em defesa do que aquelas em ambientes com menor disposibilidade de recursos, para as quais o custo de produção de novas folhas pode ser limitante (Barone & Coley 2002). Deste modo, plantas que investiriam proporcionalmente mais em defesa garantiriam uma maior longevidade das estruturas vegetais. Nosso objetivo foi avaliar taxas de herbivoria em indivíduos de Miconia phanerostila (Melastomataceae) presentes em dois ambientes lumínicos (ensolarado e sombreado). Nossa predição é de que plantas expostas a um maior regime de luz possuem taxas mais rápidas de crescimento e devem investir menos em defesas químicas. Além disso, as folhas devem ser de grande qualidade nutricional para herbívoros, e, em conseqüência, apresentariam grandes níveis de herbivoria. Por outro lado, indivíduos expostos a um regime de pouca luz teriam taxas fotossintéticas mais reduzidas e investiriam mais em defesas físicas e químicas, com conseqüente redução nas taxas de crescimento e de herbivoria. Material e Métodos Este trabalho foi realizado na Reserva do Km 41 (2o 25’S, 59 59’W), Manaus (AM) em meados de julho de 2002. Selecionamos dez indivíduos de M. phanerostila ao longo de uma estrada (ambiente ensolarado) e dez indivíduos presentes o no interior da mata (ambiente sombreado). No ramo apical de cada planta, dispensamos o primeiro par de folhas, geralmente não totalmente desenvolvido, e coletamos os três pares de folhas subseqüentes. Estimamos a taxa de crescimento das plantas a partir do médio do comprimento do segundo, terceiro e quarto entrenós de cada um delas. Calculamos a intensidade de herbivoria sobrepondo um “grid” de quadrados de 1 cm2 desenhado sobre uma folha de acetato sobre cada folha coletada. Contamos todos os quadrados com mais de 50% de área foliar intata (valor 1) ou com menos de 50% da área foliar intata (valor 0). A área foliar total e a área foliar removida por herbívoros foram, assim, estimadas para cada folha como a soma dos valores atribuídos a cada um dos quadrados. Utilizamos teste t para amostras independentes para avaliar a existência de diferença nas taxas de crescimento vegetal nos dois ambientes. Assumindo que as linhas de tendências eram paralelas, fizemos uma análise de covariância (ANCOVA) para avaliar o efeito do ambiente (sol e sombra) e da área foliar total (média das seis folhas de cada planta) sobre a área foliar removida. Resultados Não houve diferença no tamanho médio dos entrenós de indivíduos coletados no ambiente ensolarado (6,00 ± 5,67 cm, n =10 ) e no ambiente sombreado (5,64 ± 4,61 cm, n = 10) (t = 0,156, gl = 18, p = 0,878). Plantas em ambientes de sombra apresentaram maior porcentagem média de área foliar removida (14,26±1,86, n = 10) do que plantas em ambiente de sol (4,22±1.90, n = 10) (t = -3,407, gl = 18, p = 0,003). A área foliar removida foi afetada positivamente pela área foliar total (F = 7,197, gl = 1, p = 0,016). Esta relação variou conforme o tipo de ambiente (F = 5,021, gl = 1, p = 0,039), apresentando um maior aumento de área foliar removida nas plantas que ocorreram na sombra (Fig. 1). Discussão Em geral, espécies pioneiras, que crescem em ambientes ensolarados, apresentam uma maior herbivoria do que espécies não pioneiras que crescem em ambientes sombreados. Além Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 63 herbívoros (Loyola & Fernandes 1993). No presente trabalho, não foi possível caracterizar o estado fisiológico de M. phanerostila no campo. Essa caraterização seria importante para a determinação do balanço entre defesa e crescimento, dado que não houve diferença na taxa de crescimento da planta entre os dois ambientes. Além disso, seria recomendável ter uma base de dados mais segura sobre a comunidade de herbívoros presente nos dois ambientes. Área fo liar remo vid a (cm 2) 160 120 2 R = 0.244 80 2 R = 0.4188 40 Agradecimentos 0 0 400 800 1200 Áre a fo lia r to ta l (c m 2 ) Fig. 1. Relação entre área foliar removida, tamanho total da folha e ambiente em M. phanerostila em uma mata de platô na Amazônia Central (círculos brancos e linha pontilhada [y =47,89 + 0,15x] = ambiente ensolarado; círculos pretos e linha contínua [y = 30,64 + 0,061x] = ambiente sombreado). disso, suas folhas apresentam um maior conteúdo de água e baixas concentrações de metabólitos secundários. Isto torna o tecido mais palatável para os herbívoros e a taxa de troca foliar pode ser grande neste ambiente (Del Amo 1985; Barone & Coley 2002). Miconia phanerostila é um a espécie pioneira e esperávamos que houvesse um crescimento maior no ambiente ensolarado do que no ambiente sombreado. Contrariamente ao esperado, não detectamos uma diferença no tamanho dos entrenós entre as plantas dos dois ambientes. É possível que outros fatores (e.g.tipo de solo, competição e pategos) estejam limitando o crescimento no ambiente ensolarado tais como não tenha uma plasticidade na taxa de crescimento entre os dois ambientes. Também, é possível que a medida do cumprimento de entrenós não seja informativa para esta espécies. Observamos que a taxa de herbivoria de M. phanerostila foi menor no ambiente ensolarado do que no ambiente sombreado, contrariando nossas expectativas. É possível que a quantidade de herbívoros em locais ensolarados seja menor devido à maior visibilidade destes pelos predadores. Barone & Coley (2002) apontam que um dos fatores mais relevantes na regulação de interações herbívoro-planta é a presença de predadores. A dinâmica do crescimento foliar e variações químicas e morfológicas devem ser entendidas concomitantemente para que se possa compreender as estratégias de defesa de plantas contra Agradecemos ao Geraldo Wilson Fernandes pela orientação e Luiz Melodia e seus dedos cheios no violão ao vivo durante a elaboração do projeto. Referências Bibliográficas Barone, J.A. & P.D. Coley. 2002. Herbivorismo y las defensas de las plantas. Pp. 465-492 In: Guanigata, M.R. & G.H. Kattan (eds.). Ecología y Conservación de Bosques Neotropicales. Cartago, Costa Rica. Coley, P.D., J.P. Bryant, & F.S., Chapin III 1985. Resource availability and anti herbivore defense. Science 230: 895899. Corneliessen, T.G & Fernandes G.W. 2001 Induced defences in the neotropical tree Bauhinia brevipes (Vog.) to herbivory : effects of damage-induced changes on leaf quality and insect attack. TREE 15:236-241. Del Amo R., S. 1985. Algunos aspectos de la influencia de la luz sobre el crescimento de estados juveniles de especies primarias. Pp. 79-91 In: Gomes-Pompa, A. & Del Amo R., S. (eds.). Investigaciones Sobre la Regeneracion de Selvas Altas en Veracruz, Mexico. Instituto Nacional de Investigaciones Sobre Recursos Bioticos: Xalapa, Veracruz, Mexico, 421p. Klein B.C. 1989. Effects of forest fragmentation on dung and carrion beetle communities in Central Amazonia. Ecology 70(6): 1715-1725. Loyola, R. & Fernandes, G.W. 1993. Herbivoria em Kielmeyra coriacea (Guttiferae): efeitos da idade da planta, desenvolvimento e aspectos qualitativos de folhas. Revista Brasilileira Biolôgica 53(2): 295-304. O tamanho de clareiras naturais determina a abundância de espécies pioneiras na Amazônia Central? Felipe Pimentel Lopes de Melo Introdução Clareiras são consideradas pequenas perturbações no ambiente de floresta e são de fundamental importância para manutenção da biodiversidade nas florestas tropicais (Van der Meer 1994) portanto compreender a dinâmica de regeneração vegetal nesses ambientes é de fundamental importância para o estudo de ecologia de florestas tropicais. A formação de clareiras naturais e a subsequente regeneração têm um papel de extrema importância na dinâmica de florestas tropicais (Hartshorn 1978). A maior disponibilidade de luz nesses ambientes favorece a colonização de muitas espécies vegetais que dependem desse recurso para crescer. Nos neotrópicos, a vegetação que se estabelece nesses ambientes é composta principalmente por espécies dos gêneros Cecropia (Cecropiaceae), Vismia (Clusiaceae) e Miconia (Melastomataceae) entre outras espécies de outros gêneros e 64 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 famílias (Rankin-de-Merona & Hutchings 2002). A área das clareiras pode variar, entre outras coisas de acordo com o tamanho da árvore que tomba na floresta. O efeito microclimático causado principalmente pela luz que atinge o chão da floresta também pode variar com o tamanho da clareira formada, alterando portanto a composição e abundância de espécies que colonizam esse microambiente (Condit et al. 1996). Esse estudo teve o objetivo de investigar se a abundância de espécies de três gêneros de plantas reconhecidamente colonizadoras de clareiras em florestas neotropicais variam em função da área e da porcentagem de abertura do dossel das clareiras. Espécies dispersas por animais que freqüentam clareiras (principalmente aves), teriam uma maior abundância que outras espécies dispersas por mamíferos ou abióticamente. Além disso, clareiras maiores favoreceríam espécies mais tolerantes às condições de estresse causadas pela formação das clareiras. Materiais e Métodos Este estudo foi desenvolvido na reserva biológica do Km 41 pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais INPA/Smithsonian (02° 24’S; 59° 52’W). Foram escolhidas 10 clareiras naturais de tamanhos diferentes e distantes pelo menos 50 m uma da outra.. A área total cada uma das clareiras foi calculada como uma elipse, por meio dos dois maiores diâmetros perpendiculares. A porcentagem de abertura do dossel foi medida com um densiômetro esférico no ponto central de cada clareira. As densidades de espécies de três gêneros: Miconia, Cecropia, e Vismia foram estimadas mediante um transecto correspondente ao maior diâmetro da clareira medindo 4m de largura. Foram consideradas todas as plantas com até 3 m de altura pertencentes aos gêneros estudados. A abundância de cada um dos três gêneros foi relacionada com a área total da clareira e com a porcentagem de abertura de dossel por meio de uma regressão multipla. Os dados foram analisados utilizando o programa estatístico SYSTAT 8.0. Resultados Das 10 clareiras estudadas, apenas duas continham indivíduos de Vismia e quatro continham Cecropia, impossibilitando relacionar a abundância de indivíduos dos dois gêneros com alguma característica das clareiras.. Foram encontrados ao todo 77 plantas do gênero Miconia. As análises de regressão múltipla só foram feitas portanto, com a abundância de Miconia em função do tamanho da clareira e cobertura do dossel, e não foram significativas (R 2=0,290; gl=2; p=0,301). O tamanho e a porcentagem de abertura do dossel de cada clareira assim como a abundância do gênero Miconia estão sumariadas na Tab. 1. Tab. 1. Área das clareiras, porcentagem de abertura de dossel e abundância de espécies de Miconia estudadas nas clareiras naturais da reserva do Km 41 do PDBFF. Clareiras Área 2 (m ) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total 47,1 75 28 32,5 36 26 82,5 40,5 22,7 Abertura de dossel (%) 18,98 27,82 9,88 12,22 11,96 24,7 11,7 22,1 28,6 23,66 Miconia spp. 6 7 12 1 1 17 9 5 12 7 77 Discussão A baixa ocorrência Cecropia spp. e Vismia spp. nas clareiras estudadas impossibilitou correlacionar a abundância das mesmas com a área total das clareiras e com a porcentagem de abertura do dossel. Esses dois gêneros são comuns em áreas de regeneração natural e bordas florestais (Rankin-de Merona & Hutchings, 2002), porém no interior da floresta sua ocorrência pode estar associada a clareiras de tamanho superior ao das clareiras estudadas, outra possibilidade, é que a ocorrência natural desses dois gêneros em clareiras é baixa e dependente de outros fatores como banco de sementes e não da área da clareira ou porcentagem de abertura do dossel . As melastomatáceas em geral, como o gênero Miconia, têm síndrome de dispersão zoocórica. Principalmente pequenas aves consomem os frutos pequenos de espécies de Miconia (Restrepo, 2002), isso pode facilitar a colonização de clareiras naturais na floresta, uma vez que algumas aves freqüentam as clareiras para executar comportamento de corte e acabam dispersando as sementes diretamente no sítio mais adequado para a germinação (Levey, 2001). O gênero Miconia portanto, parece ser o principal colonizador de clareiras naturais no local onde foi realizado esse estudo, porém sua abundância não está relacionada com a área das clareiras nem com a porcentagem de abertura do dossel nas mesmas, mas sim por outros fatores não acessados no decorrer do estudo. A dinâmica de regeneração de clareiras naturais, apesar de todo esforço que vem sendo feito nos últimos anos, ainda continua merecendo mais estudos, pricipalmente de longo prazo acopanhando a regeneração desde a formação da clareira até a recoposição e fechamento do dossel Referências Bibliográficas Restepo, c. 2002. Frugivoria. In: Guariguata, M. R. & Kattan G. H. 2002. Ecología e conservación de bosques neotropicais 1 ed. Libro Universitário Regional. Cartago, Costa Rica. Levey, D. 2001. Directional seed dispersal in a tropical forest. Journal of Tropical Ecology 87:76-87. Van der meer, P. J. 1994. Definig canopy gaps in a tropical rain forest: effects on gap size and turnover time. Acta Oecologica 15(6):701-714. Hartshorn, G. S. Treefalls and tropical forest dynamics. In: P.B. Tommilson & Zimmerman, M. H. (Eds). Tropical Trees as Living Sistems. Pp.617-638. Cambridge University Press. Cambridge. Condit, R.; Hubbell, S. P. & Foster, R. B. 1996. Changes in tree species abundances in a Neotropical forest: impact of climatic change. Journal of Tropical Ecology 12:231-256. Rankin-de Merona, J. M. & Hutchings, R, W. 2002. Deforestation effects at the edge of an amazonian forest fragment: tree mortality, damage, and recruitment. In: Bierregaard, R. O., Gascon, C., Lovejoy, T. E. & Mesquita, R (Eds). Lessons from Amazonia. The ecology and conservation of a fragmented forest. 478 pp. Yale University Press. Yale, USA. Agradecimentos Às Miconias, Vismias e Cecropias da vida por serem as protagonistas da regeneração de um floresta como a Amazônica. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 65 Efeito de borda na relação entre Miconia phanerostila (Melastomataceae) e formigas Karl Mokross Introdução Resultados Associações entre plantas e formigas são muito importantes nos trópicos, consituíndo um importante grupo de mutualistas com as plantas devido sua ampla distribuição geográfica e abundância ( Ribeiro et al. 1999). Estas podem variar em graus de especialização e estrutura e é encontrada em 29 gêneros e cinco subfamílias (Fereira 1995). Miconia phanerostila é uma planta comum de ser encontrada em beiras de estrada na Amazônia Central. Normalmente são plantas comuns em clareiras, e que são favorecidas pela abertura da mata causada pelo homem. Além disso, essa espécie apresenta certa associação com formigas. Existem outras espécies desta família que apresentam diferentes graus de associação, desde nervuras modificadas para abrigar formigas individuais até elaboradas estruturas chamadas domáceas, que abrigam grande número de indivíduos. Nesta espécie existe um tipo de associação indireta com insetos fitófagos. Essa interação se dá pela presença de homópteros produzindo exudatos atrativos para formigas, as quais atendem aos homópteros e fornecem proteção à planta hospedeira. A explicação de por que mirmecofitismo é um fenômeno relativamente raro pode ser pela tendência de formigas manterem estas hordas de insetos fitófagos. Logo, a proteção propiciada pelas formigas implica um custo energetico para a planta, que deve sustentar aos homópteros sugadores (Wilson & Hölldobler 1990). Durante estudos preliminares com M. phanerostila notamos que há aparentemente uma maior tendência da ocorrência de estruturas denominadas “casas de papel cartão” em plantas localizadas em beira de estrada do que no interior da mata. Estas estruturas são feitas por formigas para abrigarem insetos fitófagos e podem ocorrer em outras espécies de plantas como Ocotea cujumari (Lauraceae) e Cordia nodosa (Boraginaceae) (Ribeiro et al. 1990). O objetivo deste estudo é verificar se indivíduos de M. phanerostila localizadas na beira de estradas de terra possuem maior probabilidade de ocorrência de “casas de papel cartão” do que plantas localizadas dentro da floresta, e discutir quais seriam os fatores responsáveis pela eventual ocorrência diferencial desta associação. Foi encontrada uma maior proporção de indivíduos habitados por formigas nas margens de estrada, seguido por indivíduos na trilha abandonada adjacente à estrada, enquanto que na mata as proporções foram significativamente menores (Pearson Chi square 18,237, p=0.01, df-4) como mostrado na Tab. 1. O material encontrado nestes ninhos era diferente em aparência assim como em sua composição. Cartões encontrados na beira de estrada tendendo a ser mais quebradiços e menos coesos, feitos aparentemente de partículas minerais do solo, enquanto que os cartões encontrados longe da estrada eram mais coesos e flexíveis, derivados provavelmene de material vegetal.oram encontradas duas diferentes espécies de formigas nas plantas colonizadas sendo estas Crematogaster e outro gênero que nao foi possível identificar com segurança pertencendo a subfamília Mirmecinae (Formicidae). Material e Métodos O estudo foi realizado na Reserva Florestal do km 41 (02o 25’S;59o 44’W) cerca de 90 km ao norte da Manaus, AM. Selecionei três faixas de 50m ao longo da borda da estrada ZF3, onde amostrei os indivíduos de M. phanerostila presentes em uma faixa de 5 metros de largura. Realizei esta contagem em cinco pontos distintos na estrada, sendo dois na margem leste, um na margem oeste, um na continuação da estrada que está fora de uso com vegetaçao parcialmente recuperada, e um quinto levantamento feito dentro da mata da reserva. Neste último local o método de faixa não pôde ser aplicado devido à menor densidade de indivíduos de M. phanerostila neste ambiente, os indivíduos amostrados neste local estavam entre os pontos L4 , L5 e M4, M5 do sistema de trilhas da reserva. Plantas que apresentassem qualquer estrutura habitada por formigas foram consideradas como colonizadas, e parte das “casas de papel cartão” coletadas com formigas para análise posterior no laboratório. O material foi triado e as formigas foram identificadas com auxílio de lupa ao nível de gênero, quando possível. 66 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 16 14 12 10 8 6 4 2 0 EL1 EO1 EL2 ESAB FL Fig. 1. Número de ninhos ocupados e desocupados em cada área coletada.1. Estrada face leste próxima ao estacionamento; 2. Estrada face oeste; 3. Estrada face leste distante ao estacionamento;4.Estrada abandonada, 5. Floresta. Barras escuras são plantas ocupadas por formigas , barras claras indicam plantas desocupadas. Tab. 1. Indivíduos amostrados nas cinco áreas com seus respectivos valores de qui quadrado. Local Ocupadas Qi quadrado 5 Não ocupadas 14 Total Estrada face leste 1 19 4.26 Estrada face oeste 9 3 12 3.0 Estrada face leste 2 8 3 11 2.26 Estrada abandonada Floresta 2 10 12 5.33 1 10 11 7.36 Discussão O fato de formigas ocorrerem em maior freqüência nas plantas na estrada pode ser resulatado de uma gama de fatores atuando direta ou indiretamente sobre estas espécies individualmente, ou sobre a relação entre estes organismos. Miconia phanerostila apresenta material pulvinoso que se deposita sobre o caule. Formigas aparentemente fazem uso deste material para proteger homopteros que ocorrem sobre as plantas que fornecem exudatos açucarados como alimento. A presença de chão descoberto nas áreas adjacentes às plantas pode propiciar um grande aporte de material particulado sobre estas plantas, e a maior disponibilidade deste material pode favorecer a construção dos abrigos pelas formigas. Estas casas de “papel cartão” podem se localizar em quase todas as partes da planta, embora ocorram com maior freqüência em pontos contato do caule da planta com troncos de outras plantas encostados nestas plantas, provavelmente onde pode haver maior deposição de poeira. Examinando este material sob lupa verifiquei que existe uma diferença na composição do material que cobria as plantas provenientes de locais diferentes. No caso de casas encontradas na mata, os grânulos são maiores e mais coesos, com menor dissolução do material em álcool do que o encontrado na beira de estrada; entretanto isso pode variar de acordo com a espécie de formiga que ocorre em cada planta A maior luminosidade nos ambientes de estrada poderia propiciar o aparecimento de formigas que sejam especializadas em ambientes de borda, entretanto a beira de estrada abandonada apresentou menor número relativo de habitações por área, como pode ser verificado na Fig. 1. A baixa freqüência destas habitações na primeira área de estrada face leste também pode ser devido ao local. uma vez que a estrada termina a cerca de 25 metros deste local , e não ocorre mais trânsito de carros, que estariam contribuíndo para a suspensão de material mineral que estaria sendo depositado nas plantas. Acredito que a existência de um grande número de indivíduos de M. phanerostila com grandes quantidades de material particulado sobre elas favoreça a colonização por formigas. Um fato curioso foi encontrar estas estruturas em plantas de Vismia (Clusiaceae), o que pode ser um indicador de um fenômeno generalizado nestes locais. Não podemos ignorar a possibilidade de haver uma maior quantidade de formigas nestes locais por existir uma fauna especializada de borda nestes locais Perda de habitat e fragmentação são as mais importantes ameaças a ecossistemas florestais atualmente (Gascon et al. 2001) e efeito de borda é um dos importantes processos ocorrentes neste tipo de evento. Mudanças microclimáticas exercem mudanças substanciais na fisiologia e reprodução de plantas e animais ao longo de bordas de florestas (Gascon 2001), desta forma afetando estrutura e a dinâmica destas (Ferreira & Laurance 1997; Laurance et al. 1997) assim como desencadeando efeitos de cascata em insetos e animais que dependem de plantas em seus ciclos de vida (Didham 1997). Existem muitos estudos feitos sobre a influência do homem na composição física do meio ambiente , ou diretamente sobre os organismos, mas poucos estudos têm sido feitos sobre a influência indireta do homem nas relações entre diferentet espécies nestes sistemas. Acredito que este estudo sirva como base para estudos posteriores para refinar as causas e conseqüências deste tipo de associação. Agradecimentos Sou muito grato aos coordenadores do Curso de Campo sobre a Floresta Amazônica, Eduardo Venticinque e Jansen pelo direcionamento deste trabalho e auxílio na parte estatística, que apesar de simples sempre acaba ficando enrolado para mim. Valeu. Referências Bibliograficas Bieregaard, R.O. & Stouffer P.C. 1997. Understory birds and dynamic habitat mosaics in Amazonian rainforests. , pp. 138-55 in W.F. Laurance and R.O. Beirregaard, Jr. (eds.), Tropical Forest Remnants: Ecology, Management , and Conservation of fragmented comunities. University of Chicago Press, Chicago. Carvalho, K.S. 1998 Efeitos de borda sobre a comunidade de formigas de serrapilheira florestal na Amazônia Central. Dissertação de mestrado, INPA, Manaus, AM. Didham, R.K. 1997a. An overview of invertebrate responses to forest fragmentation. , Pp.303-20 in A. Watt, N.E. Stork, and M. Hunter Hall (eds.), Forests and Insects Chapman and Hall, London. Ferreira, L.V. & W.F. Laurance 1997. Effects of forest fragmentation on mortality and damage of selected trees in central Amazonia. Conserv. Biol. 11:797-801. Fonseca, C.R. & Ganade, G. 1996 Assymetries, compartments and null interactions in an Amazonian ant-plant community. Journal of Animal Ecology 65: 339-347 Gascon, C., Bierregaard, R., Laurance, W.F., Rankin- De Merona, J. 2001. Deforestation and Forest Fragmentation in the Amazon.Pp.21-25 in. Bierregard, R.O., Gascon, C, Lovejoy, T.E., Mesquita, R. Lessons from Amazonia: Ecology an Conservation of a Fragmented Forest, Yale University Press, New Haven & London. Janzen, D. Dissolution of mutualism between Cecropia and its Azteca ants. Biotropica 5(1): 15-28 1973 Ribeiro, J.L. da S., M.J.G. Hopkins, A Vicentini,. C.A, Sothers , M.A.daS.Costa, J.M.de Brito, M.A.D de Souza, L.H.P. Martins, L.G. Lohman, P.A.C.L. Assunção, E da C Pereira, .C.F da Silva., M.R. Mesquita, L.C Procópio,. Flora da Reserva Ducke. Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra firme na Amazônia Central. INPA/DFID Manaus, Brasil Hölldobler, B.& Wilson, E.O. 1990 The ants. Belknap, Harvard University Press, USA. Mortalidade de formigas por fungos Ascomycetes em um gradiente campinarana-platô, em uma área de terra firme da Amazônia Central Adam Kaveh Bahrami, Ana Maria O. Pes, Gustavo Romero & Marcio Uehara-Prado Introdução Vários tipos de fungos são parasitas comuns de formigas e têm sido estudados por entomólogos e micólogos (Hölldobler & Wilson 1990). Alguns desses fungos, como Desmidiospora myrmecophila possuem hifas esbranquiçadas e emergem principalmente entre os segmentos do abdômen, encobrindo praticamente todo o inseto. Outros fungos ascomicetos da família Clavicipitaceae produzem micélios e emergem a partir da região posterior da cabeça do inseto após tê-lo levado à morte. Existem registros de fungos Cordyceps subdiscoidea (Clavicipitaceae) atacando formigas Camponotus abdominales na Guiana (Hölldobler & Wilson 1990). Campinaranas são áreas entre baixios e vertentes, caracterizadas por formação vegetal com árvores entre 15 e 25 m de altura e poucas árvores de grande porte. Acumulam grande quantidade de serrapilheira e são áreas com alta penetração de luz. Já, platôs são áreas mais altas, com solos argilosos bem drenados e com árvores de dossel entre 35 e 40 m de altura (Ribeiro et al. 1999). Encontramos grande número de formigas mortas por fungos Ascomicetes, provavelmente do gênero Cordyceps (Clavicipitaceae) em uma campinarana na Amazônia Central. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 67 Este trabalho foi desenvolvido em uma área de campinarana rodeada por platôs, entre as trilhas N 11 e P 11, na Reserva do Km 41, (02025`S, 59059`W), Manaus (AM), em julho de 2002. Para verificar se a taxa de mortalidade de formigas por fungos diferia entre áreas de campinarana e platô, traçamos dois transectos de 80 m, um a partir de um ponto próximo ao centro da campinarana no sentido leste-oeste e outro no sentido oesteleste. A cada 20 m no transecto, instalamos dez parcelas de 50 x 50 cm dispostas em linha no sentido norte. Em cada parcela contamos o número de plantas de 5 a 50 cm de altura e o número de formigas mortas por fungos. O número de plantas entre os pontos foi comparado por ANOVA, assim como o número de formigas mortas entre os pontos. A área de campinarana estava dominada por Selaginella sp. e as áreas de platô não tinham esta planta. O fator presença de Selaginella sp. poderia afetar a interpretação dos nossos dados se as formigas estivessem associadas a esta planta. Portanto, a frequência de formigas mortas sobre Selaginella e outras plantas foi comparada com teste de X2 (Zar 1984). Resultados Encontramos um total de 1013 formigas mortas por fungos em 983 plantas. A maioria estava morta ente 10 e 40 cm do solo, mas observamos formigas mortas sobre plantas até a 260 cm do solo. Não houve diferença na freqüência de formigas mortas sobre Selaginella outras plantas (X2 = 3,54; gl = 1; P = 0,060). O número de Selaginella variou entre os pontos e foi maior na área de campinarana (ANOVA: F3, 76 = 10,02; P < 0,001) (Fig.1A), enquanto as outras plantas ocorreram com maior freqüência no platô (ANOVA: F3, 76. = 5,13; P = 0,003) (Fig.1-A). A proporção de formigas mortas por fungos foi maior nos pontos da campinarana em relação aos dos platôs (ANOVA: F3, 76 = 2,75; P = 0,048) (Fig.1-B). Discussão A mortalidade de formigas por fungos é um evento pouco estudado (Hölldobler & Wilson 1990). Em um evento pontual, encontramos uma freqüência alta de formigas mortas por fungos Ascomycetes em campinarana. Essa formação vegetal possui um dossel mais baixo e aberto, que permite maior entrada de luz (Ribeiro et al. 1999), o que deve levar a uma maior variação de temperatura e umidade, condição que favoreceria o crescimento, desenvolvimento no período úmido e dispersão de esporos no período seco. 68 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 20 Selaginella Outras plantas Número de plantas Material e Métodos A) 15 10 5 0 20 m 40 m 60 m 80 m Distância no transecto B) 3 No. de formigas / planta Este trabalho teve o objetivo de verificar se a mortalidade de formigas por fungos em campinarana é maior em relação aos platôs adjacentes. 2,5 2 1,5 1 0,5 0 1 2 3 4 Pontos Fig. 1. Número médio (± 1 EP = erro padrão) de Selaginella e outras plantas (A) e número médio de formigas por planta (B) em um gradiente de platôs para campinarana (pontos 1-4). Referências Bibliográficos Hölldobler, B. & E.O. Wilson (1990). The ants. SpringerVerlag, Berlin. Ribeiro J.E.L.S. et al. (1999). Flora da Reserva Ducke: guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra firme na Amazônia Central. INPA ? DFID, Manaus. Estudio comparativo de la herbivoría en pteridofitas y angiospermas Verónica Cepeda, Lily Arias y Jean Carlos Santos Introducción El área de estudio fue un ambiente de campinarana (trocha N 14), dentro de la Reserva Km 41 (59o 43’40” W y 2o 24’26”S), que pertenece al Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), 70 km al norte de Manaus. Ubicamos un parche dominado por Selaginella conduplicata, y otro sitio donde la abundancia fué menor. Tanto en el sitio con agregación como para los sitios de baja densidad, colectamos 20 parejas de individuos de S. conduplicata y la angiosperma mas cercana a ella. Además, ambos individuos presentaron alturas similares lo que significa que su potencial disponibilidad para los herbívoros fué la misma. Así mismo, en un área de vertiente, colectamos 9 parejas de otras especiés de helechos asociados a fanerógamas para evaluar si el daño por herbívoros varía en otras especies del grupo, es decir, quisimos explorar la posibilidad de que el porcentaje de daño observado para S. conduplicata, fuera similar al que se presenta en las otras especies. Evaluamos los porcentajes de área foliar consumida en todas las hojas de las angiospermas y pteridofitas utlilizando el método descrito en Dirzo &Domínguez (1995). Dada la distribución de los datos y el diseño pareado comparamos ambas especies usando el test no parametrico de Wilcoxon (Zar 1984) Resultados En sitios con agregación de S. conduplicata los índices de herbivoría fueron mas altos para las especies de fanerógamas con respecto a pteridofitas (Z = -3.63, P<0,001, Fig. 1). Cuando analizamos la herbivoría en las parejas con ubicación dispersa no detectamos preferencia en el consumo de algúno de los grupos (Z = -1.14, P= 0,253; Fig., 2). Cuando comparamos la herbivoría de especies de helechos, Índice de herbivoría 4 3 2 1 0 Angiospermas Pteridofitas Grupos aislados Fíg. 1 – Comparación de herbivoría entre plantas aisladas de fanerógamas y pteridofitas (Selaginella concuplicata). 3 Índice de herbivoría Material y Métodos 5 2 1 0 Angiospermas Pteridofitas Grupos agregados Fíg. 2 – Comparación de herbivoría entre plantas agregadas de angiospermas y pteridofitas (Selaginella concuplicata). 6 Índice de herbivoría Las pteridofitas (helechos), aparecieron en la tierra hace millones de años, son mucho mas antiguas que las angiospermas. Lawton et al. (1993) postulan la teoría que considera que las plantas más antiguas, como los helechos, han tenido un tiempo de coevolución mas amplio. Ciertamente los mecánismos defensivos de algunas especies son afectados por su interacción con sus principales depredadores, ya que constituyen una presión de selección. Es probable que durante millones de años estas plantas evolucionaran un mecánismo de defensa efectivo contra el ataque de los herbívoros. Por otra parte, existe la teória del forrajeo óptimo propuesta por Macarthur & Pianka (1966), en la que predicen una estrategia de forrajeo esperado bajo condiciones específicas. Argumentan que para obtener alimento, el depredador invierte tiempo y energía, de tal forma que el depredador intenta máximizar su eficiencia de alimentación. Por lo tanto inferimos que lugares con altas densidades de plantas, son preferidos por los herbívoros como sitios de forrajeo, pues hay una alta disponibilidad de alimento en un espacio reducido. Bajo el esquema de una posible coevolución entre pteridofitas y sus herbívoros, el objetivo de este trabajo fue evaluar si las pteridofitas son menos afectadas por la herbivoría, en relación a las angiospermas. Basandonos en la la teoria del forrajeo óptimo, evaluamos si el estado de agregación (agregados o dispersos), que estas plantas presentan puede traducirse como diferencias en el grado de herbivoría entre individuos. 5 4 3 2 1 0 Fanerógamas Pteridofitas Grupos aislados Fíg. 3 – Comparación de herbivoría entre varias especies aisladas de fanerógamas y pteridofitas. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 69 distintas a S. conduplicata, con la angiosperma mas proxima (distribuidos aisladamente), encontramos que los herbívoros no tienen preferencia entre ellas. (Z= 1.362, P= 0.173, Fíg. 3). Agradecimentos A J. Zuanon por las críticas y sugerencias a este estudio. Referencias Bibliográficas Discusión Los resultados de este estudio indican que el tipo de distribución espacial de S. conduplicata, tiene influencia en el impacto generado por los herbívoros. De acuerdo con la teóría del forrajeo óptimo, esperabamos que la herbivoria en las poblaciones de S. conduplicata estudiadas fuese mayor. Posiblemente el consumo foliar no es tan evidente en estas agregaciones debido a la disponibilidad de un mayor número de plantas para los herbívoros presentes. Sabemos que existen algunos constituyentes críticos para la dieta de los herbívoros que deben ser considerados, como la cantidad de nitrógeno disponible en las hojas. Es posible que a las características nutritivas y químicas de S. conduplicata influyan en su digestibilidad. Jones & Firn (1979), afirman que la pteridofita Pteridium aquilinum contiene una amplia variedad de compuestos secundarios, asi como también defensas fisicas y hormigas guardianes, atraídas por néctarios extraflorales. Otro mecánismo que puede explicar este resultado es la defensa inducida por compuestos volátiles, que inducirián la defensa generalizada de los individuos en agregación cuando son atacados por herbívoros (Barone & Coley 2002). Fowler y Lawton, (1985), revisarón los efectos de las defensas rápidamente inducidas en plantas y su efectividad en contra de los herbivoros, debido a su actividad como inhibidores de proteasa. Por otra parte West (1985), demostró que los cambios por respuesta inducida, afectan la dinámica de poblaciones de los herbívoros (revisado por Begon et al. 1990). Es posible que los individuos con distribuición asilada de S. conduplicada o bien el resto de las especies colectadas en vertiente con la misma distribución, presenten una respuesta inducida diferente a los individuos con distribuición agregada. Barone, J. A. y P. D. Coley, 2002. Herbivoros y las defensas de las plantas. pp. 465-492. En: Guariguata, M. R., y G. H., Kattan. Ecología y conservación de bosques neotropicales. Libro universitario regional.Cartago, Costa Rica. Begon, M. y J. H. Lawton 1985. Rapdly induced defenses and talking trees: the devils advocate position. Amm. Nat. 126: 181-195. Dirzo, R. & C. Domínguez. 1995. Plant-animal interactions in Mesoamerican tropical dry forests. In E. Bullock Medina & H. Mooney eds. Seasonally dry tropical forests Cambridge University Press, Cambridge, U.S.A. Jones, C. G. y R. D. Firn 1979. Some allelochemicals of Pteridium aquilinum and thir involvement in resistance to Pieris brasicacea (Lep., pieridae). Biochem. Syst. Ecol. 7: 197-92. (16). Lawton, J. H. Lewinsohn, T. M. y Compton, S. G. 1993. Patterns of diversitty for the insects herbivores on bracken. Pp. 178-174. In: Ricklefs, R. .E., y Schluter, D. Species diversity in ecological communities. Historical and geographical perspectives. The university of Chicago press. Chicago, U.S.A. MacArthur , R. H. & E. R. Pianka 1966. 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Resultados de estudos de larga escala podem não detectar alguns padrões que ocorrem em uma escala mais fina, como por exemplo efeitos de ações antrópicas sobre populações que não possuem uma distribuição uniforme (Robinson et al. 1992; Holt et al. 1995). Na Amazônia Central, em uma escala maior, encontram-se três ambientes distintos: as florestas de terra firme e as florestas alagáveis de várzea e igapó. Em uma escala um pouco menor, as florestas de terra firme, que estão localizadas em terrenos acidentados, podem ser caracterizadas em áreas de platô, baixio e vertente. Em geral, as diferenças entre essas áreas são determinadas por variações topográficas que incluem principalmente drenagem e tipo de solo (Garcia, 2000). Platôs são locais mais elevados, com solos melhor drenados. Os baixios, por outro lado, são as partes baixas, onde se 70 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 acumulam as águas drenadas dos platôs e vertentes, apresentando solos encharcados e pouco compactos. Já as vertentes representam as áreas inclinadas entre os baixios e platôs, que são drenadas vertical e lateralmente (Garcia 2000). A partir dessas diferenças estruturais, esperamos encontrar variações na distribuição e diversidade de organismos dentro de uma mesma floresta de terra firme. A família Arecaceae possui aproximadamente 2800 espécies, distribuídas por todas as regiões tropicais (Moore 1973). Nos neotrópicos, este grupo de plantas forma uma das onze famílias que mais contribuem com a riqueza de espécies (Gentry 1988). Henderson (1994) identificou 34 gêneros e 189 espécies de palmeiras na região amazônica. Destas, 140 espécies (75%) e oito gêneros (24%) são endêmicos. Os gêneros mais diversos são Bactris, Geonoma e Astrocaryum, que compreendem 95% das espécies locais. Outras palmeiras são importantes pela sua abundância, como, por exemplo, Mauritia flexuosa, que é comumente encontrada em áreas alagadas de toda a região amazônica (Henderson et al. 1995). O objetivo deste estudo foi comparar a composição, riqueza e abundância de palmeiras entre dois ambientes com características topográficas distintas, baixios e platôs, em uma escala local (mesma floresta, sob influência das mesmas características macro-ambientais). Esperávamos encontrar uma composição específica diferente entre platôs e baixios. Além disso, partindo do princípio que os solos de baixio são menos propícios para serem ocupados, tanto pela sua instabilidade física, quanto pela saturação em água, esperávamos encontrar uma riqueza menor e a dominância de algumas poucas espécies, ao contrário dos platôs, para os quais esperávamos maior riqueza e abundância mais eqüitativa de espécies. Material e Métodos O presente estudo foi realizado em uma floresta de terra firme localizada na Reserva Florestal do km 41, a cerca de 80 km de Manaus (AM). Comparamos ambientes de baixio e platô, amostrando três parcelas de 100 m2 (10 x 10 m) em cada tipo de ambiente. Todas as palmeiras com altura superior a 40 cm localizadas nas parcelas foram identificadas e quantificadas. A análise dos dados baseou-se na comparação entre as parcelas pelo cálculo do índice de similaridade de Morisita. A partir dos valores de similaridade, realizamos uma análise de agrupamento pelo método de UPGMA utilizando distância euclideana simples (Krebs 1999). Resultados Encontramos 55 indivíduos de palmeiras distribuídos em nove espécies nos platôs e 52 indivíduos distribuídos em quatro espécies nos baixios, com uma média de ocorrência de 6,3 ± 1,5 espécies por parcela no platô e 4,0 ± 1,0 espécies no baixio (Tab. 1). A espécie mais abundante no platô foi Astrocaryum sciophilum, seguida de Oenocarpus bacaba, ao passo que no baixio, encontramos mais indivíduos de Oenocarpus bacaba seguida de Socratea exorrhiza. A análise de similaridade pelo índice de Morisita resultou na matriz apresentada na Tab. 2. A análise de agrupamento a partir desta matriz reuniu as parcelas de platô em um grupo separado do grupo formado pelas parcelas de baixio (Fig. 1). Houve maior semelhança na composição e abundância de espécies entre as parcelas do platô, quando comparadas aos baixios. Tab. 1: Número de indivíduos de cada espécie por área amostrada Espécie Platô Baixio Astrocaryum sciophilum 26 0 Attalea attaleoides 4 0 Bactris humilis 1 0 Bactris maraja 5 0 Euterpe precatoria 1 6 Geonoma stricta 2 0 Oenocarpus bacaba 5 18 Oenocarpus bataua 0 11 Oenocarpus minor 9 0 Socratea exorrhiza 0 17 Espécie indefinida 2 0 Total 55 52 Tab. 2: Coeficientes de similaridade entre parcelas, obtidos a partir do índice de Morisita. Platô 1 Platô 2 Platô 3 Baixio 1 Baixio 2 Platô 1 Platô 2 1,12 Platô 3 1,00 1,02 Baixio 1 0,01 0,04 0,03 Baixio 2 0,04 0,11 0,10 0,71 Baixio 3 0,08 0,22 0,21 0,51 0,53 Platô 2 Case Platô 1 Case Platô 3 Case Baixio 6 Case Baixio 5 Case Baixio 4 Case Fig. 1: Análise de agrupamento das áreas de platô e baixio estudadas na Reserva do KM 41, fazenda Esteio, com base na matriz de similaridade da composição de espécies de palmeiras (UPGMA, distância euclidiana). Discussão Os resultados mostraram que baixio e platô diferem quanto à riqueza e abundância de palmeiras. Das onze espécies identificadas, somente Oenocarpus bacaba e Euterpe precatoria puderam ser encontrados nos dois ambientes . De fato, este padrão é relatado na literatura e está associado a variações nos habitats ocupados por cada espécie (Clark & Clark 1987). Scariot (1996), estudando fragmentos florestais na Amazônia Central, encontrou preferência de espécies como Bactris acanthocarpa var. acanthocarpa, B. constanciae, B. gastoniana, B. hirta var. pulchra, B. simplicifrons, Geonoma aspidiifolia, G. deversa, G. maxima var. maxima, Iratella setigera e Oenocarpus minor por locais mais secos. Por outro lado, Attalea attaleoides, Geonoma stricta var. stricta, e Oenocarpus bacaba foram encontradas em maior densidade em áreas de maior altitude. Acreditamos que isso seja resultado de diferenças nas características pedológicas dos dois locais, no entanto isso não foi medido no nosso estudo e por isso não podemos afirmar que esta correlação é verdadeira. A menor distância euclidiana entre as parcelas do platô comparada àquelas do baixio representa maior similaridade de riqueza e abundância de espécies, ou seja, as áreas de baixio são mais heterogêneas em relação às espécies de palmeiras do que as de platô na escala de análise do presente estudo . Isto pode significar que algumas espécies de palmeiras que ocorrem no baixio são dominantes em determinados locais e não em outros, ao passo que no platô, a comunidade de palmeiras é mais eqüitativa entre as diferentes espécies. Uma continuidade interessante para o presente estudo seria determinar os limites de distribuição das diversas espécies (tanto as de baixio quanto as de platô), para saber se há sobreposição de distribuições ou se as substituições são mais bruscas, ou ainda, se isso varia de espécie para espécie. Agradecimentos Agradecemos ao Pira, ao Gordo, ao Dadão e ao Juruna, pela ajuda na identificação das espécies de palmeiras, mesmo daquelas que só tinham meia folha nova para ser identificada. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 71 Referências Bibliográficas Bierregaard Jr, R. O.; Gascon, C.; Lovejoy, T. E. e Mesquita R. C. G. 2001. Lessons from Amazonia, The ecology and conservation of fragmented forest,. Yale University, pp 121-125. Clark D. 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Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra firme na Amazônia Central. INPA/DFID Manaus, Brasil. Robinson. G.R., Holt, R.D., Gaines, M.S., Hamburgo, S.P., Johnson, M.L., Fitch, H.S. & Martinko, E.A. 1992. Diverse and constrating effects of habitat fragmentation. Science 257: 524-526. Scariot, A. O. 1996. The effects of rain forest fragmentation on Palm Community in Central Amazonia. Tese de Doutorado, University of California, U.S.A. Comparação da riqueza de lianas entre uma área de platô e uma campinarana na Amazônia Central María Cecilia Vega & Max H. Hidalgo Introdução Nas florestas de terra firme diferentes habitats podem ser reconhecidos. A estrutura e a florística dessas formações são definidas principalmente pelo tipo de solo e relevo: platô, vertente, campinarana e baixio. Nos platôs os solos são argilosos, nos baixios arenosos, nas vertentes os solos são semelhante ao platô nas partes mais altas, e a campinarana nas partes mais baixas, onde o solo e areio argiloso (Ribeiro et al. 1999). Nas florestas do platô, o dossel atinge alturas entre 35-40 metros, possuem alta densidade de árvores emergentes e a maior biomassa dos habitats da terra firme. Ambientes de campinarana caracterizam-se por possuir uma alta penetração de luz, dossel entre 15-25 metros altura, poucas arvores de grande porte, menor biomassa e menor diversidade do que as florestas do platô (Ribeiro et al. 1999). Lianas (cipós ou trepadeiras) formam uma parte muito importante da vegetação da floresta de terra firme (Ribeiro et al. 1999). Constituem um grupo muito diverso na região neotropical, com pelo menos 80 famílias, podendo representar até 20% das espécies de plantas que ocorrem nas florestas (Gentry 1991, apud Rundel & Gibson 1996). São plantas lenhosas, que germinam no chão, e dependem do suporte de outras plantas para seu crescimento (Stevens 1987). Uma vez suportadas por uma árvore, em procura de luz, crescem até o dossel, onde se espalham e florescem. É comum encontrar na floresta uma grande quantidade de lianas que competem pela luz com as espécies do dossel (Putz 1980, 1982, apud Vázquez & Guevara 1985). O objetivo deste trabalho foi comparar a riqueza de espécies de lianas de uma campinarana com um ambiente de platô, numa floresta de terra firme e investigar se as características que 72 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 possuem as campinaranas, propiciam melhores condições para o estabelecimento de lianas do que os platôs. Material e Métodos O presente trabalho foi desenvolvido na área do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), especificamente na reserva Km 41, situada 70 Km ao norte da cidade de Manaus, entre 20 24’26”- 2025’31”S, e 59043’40-590 45’50”W (Oliveira 1997). Para a coleta dos dados delimitamos quatro parcelas, cada uma com 5 metros de largura por 20 metros de comprimento: duas no platô e duas na campinarana. Em cada parcela, determinamos visualmente cada liana e suas ramificações. Medidas da circunferência do caule principal foram tomadas, com o objetivo de comparar a relação das circunferências entre habitats utilizando o teste t. A classificação das espécies foi feita com ajuda do guia de identificação das plantas vasculares da Reserva Ducke (Ribeiro et al. 1999). Utilizamos os programas EXCEL e SYSTAT 8.0 para análise dos dados. Resultados Registramos um total de 18 famílias de lianas, representadas por 48 espécies e morfoespécies, das quais 35 estiveram presentes na campinarana e 17 no platô (Tab. 1 e 2). Nas parcelas da campinarana foram contados 63 indivíduos e nas de platô, 20. Quatro espécies de diferentes famílias foram comuns para os dois ambientes, (Tab. 2). Proporcionalmente a diversidade no platô foi maior do que na campinarana (0,9 espécies/indivíduo no platô e 0,5 espécies/indivíduo na campinarana). Tab. 1. Resultados comparativos da riqueza de espécies, número de indivíduos totais e os cálculos de densidade. Campinarana Platô N 63 20 Número de espécies 35 17 Número de espécies / N 0,6 espécie / indivíduo 0,9 espécie / indivíduo Densidade 0,3 indivíduos / m2 0,1 indivíduos / m2 Discussão Tab. 2. Composição e número de indivíduos das espécies de lianas registradas na área de estudo. AMILIA APOCYNACEAE ESPÉCIE Apocynaceae sp. 1 Odontadenia verrucosa Aristolochia silvatica ARISTOLOCHIACEAE Aristolochia sp. BIGNONACEAE Arrabidae chica Cydista aequinoctialis Memera flavida Pyrostegia cinerea Bignonaceae sp. 5 Bignonaceae sp. 6 Bignonaceae sp. 7 Bignonaceae sp. 8 CUCURBITACEAE Cucurbitaceae sp. 1 Doliocarpus brevipedecelatus DILLENIACEAE Dilleniaceae sp. 2 ERICACEAE Psammisia guianensis Salacia impresifolia HIPPOCRATEACEAE CACINACEAE Pleurisanthes sp. EGUMINOSAE Bauhinia sp. 3 Machaerium sp. 3 Leguminosae sp. 3 Leguminosae sp. 4 MARCGRAVIACEAE Marcgraviaceae sp. 1 MELASTOMATACEAE Melastomataceae sp. 1 MENISPERMACEAE Abuta imene Abuta sp. Menispermaceae sp. 3 MIGNONACEAE Mignoniaceae sp. 1 Passiflora acuminata PASSIFLORACEAE Passiflora coccinea POLYGALACEAE Polygalaceae sp. 1 Polygalaceae sp. 2 RHAMNACEAE Rhamnaceae sp. 1 Malanea sp. 2 RUBIACEAE Paullinia cf. grandifolia SAPINDACEAE Sapindaceae sp. 2 NDETERMINADA(S) Indeterminado sp. 1 Indeterminado sp. 2 Indeterminado sp. 3 Indeterminado sp. 4 Indeterminado sp. 5 Indeterminado sp. 6 Indeterminado sp. 7 Indeterminado sp. 8 Indeterminado sp. 9 Indeterminado sp. 10 Indeterminado sp. 11 Indeterminado sp. 12 Número de indivíduos Número de espécies CAMPINARANA 3 1 0 8 1 1 3 1 1 1 1 1 0 3 1 7 1 2 2 1 1 1 6 1 1 0 1 0 2 0 1 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 2 1 1 1 1 1 1 63 35 O valor da media da circunferencia das lianas por parcela para campinarana foi 11 cm ± 2,83 e para platô 7,5± 0,7. Não houve diferencia significativa entre os valores encontrados (t = 1,7; N=4; g.l.=2; p=0,23). PLATO 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 3 1 0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 1 0 2 0 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 20 17 Bignoniaceae com 10 espécies foi a família mais diversa e somente foi registrada na campinarana. Leguminosae apresento quatro espécies, e o resto de famílias entre três e uma espécie. O número de indivíduos variou entre 10 (Bignoniaceae) e um (Rhamnaceae, Mignoniaceae, Cucurbitaceae, Hippocrateaceae). As diferenças no número de espécies entre os ambientes comparados neste trabalho, apresentam proporcionalmente uma maior diversidade de espécies no platô, e uma baixa similaridade de espécies entre os dois ambientes, mas isto poderia ser de fato, um evento local. Para saber se este padrão se mantém em outras áreas, deveriam ter sido amostradas mais parcelas em diferentes lugares de campinarana e platô. Variados fatores podem estar afetando nossos resultados. A identificação dos indivíduos foi baseada na forma e estrutura do caule e em alguns casos na presença de gavinhas, mas conseguir observar os tipos de folhas das lianas (um dos fatores mais importantes para identificação) não foi possível, por causa da localização destas a nível do dossel. Isto pode estar refletido no número de espécies não identificadas e possivelmente em indivíduos que foram identificados de forma errada. Também alem de sermos inexperientes na identificação deste tipo de plantas, é pouco o material bibliográfico que existe para este tipo de trabalho. É importante que para o desenvolvimento de futuros projetos, se levem em consideração estas limitações. Segundo Ribeiro et al. (1999), lianas são muito pouco coletadas na Amazônia e menos conhecidas que as outras formas de vida. Consideramos que realmente são poucos os estudos feitos com este grupo de plantas, e recomendamos incentivar estudos posteriores que permitam conhecer mais sobre a biologia e ecologia destas espécies. Referências Bibliográficas Oliveira, A.A. 1997. Diversidade, estrutura e dinâmica do componente arbóreo de uma floresta de terra firme de Manaus, amazonas. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, Brasil. Ribeiro, J.L. da S., M.J.G. Hopkins, A. Vincentine, C. A. Sothers, M.A. da S. Costa, J.M. de Brito, M.A.D. Souza, L.H.P. Martins, L.G. Lohmanm, P.A.C.L. Assunção, E. da C. Pereira, C.F. da Silva, M.R. Mesquita & L.C. Procópio. 1999. Flora da Reserva Ducke. Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra – firme na Amazonia Central. Manaus, INPA/DFID, Manaus, Brasil. Stevens, G.C. 1987. Lianas as structural parasites: The Bursera simaruba example. Ecology 68:77-81. Vázquez-Yanez, C. & Guevara S. 1985. Caracterización de los grupos ecológicos de árboles de la selva húmeda. Pp.67-77. In Gomez-Pompa, S.del A. Editorial Alhambra Mexicana. Investigaciones sobre las regeneraciones de selvas de altas en Veracruz, Mexico. II. Instituto Nacional de Investigaciones Sobre Recursos Bióticos. México, D.F. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 73 Invertebrados predam larvas de anuros seletivamente? Daniel Scheibler, Elaine L. Gonsales, Renata Durães, Ricardo Darigo e Sunshine Menezes Introdução Animais têm em geral o potencial de consumir uma gama maior de recursos alimentares do que eles realmente o fazem (Andrewartha & Birch 1984). Na tentativa de explicar o que determina a dieta de organismos, a teoria do forrageamento ótimo prediz qual estratégia alimentar deve ser utilizada dentro de certas condições especificadas, sempre no sentido de maximizar o ganho energético do animal (Begon et al. 1990 e referências incluídas). A teoria prediz que o nicho trófico observado de um predador é influenciado por variáveis tais como disponibilidade de presas, energia gasta caçando, capturando, subjugando e consumindo a presa, e o ganho energético associado (Begon et al. 1990). Por outro lado, predadores que selecionam presas por tamanho podem influenciar as dinâmicas populacionais e a evolução de estratégias de defesa das presas (Andrewartha e Birch 1984). Experimentos controlados de seletividade alimentar têm sido essenciais para se avaliar como o balanço entre estes fatores pode determinar o comportamento alimentar de um predador (Azevedo-Ramos 1995). Neste estudo, procuramos avaliar se girinos são seletivamente predados de acordo com seu tamanho por dois tipos diferentes de predadores, e, no caso de haver seleção de presas, qual tamanho é selecionado por cada tipo de predador. Material e Métodos O estudo foi realizado na reserva florestal do Km 41 (2º25’S, 59º59’W), na área do Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, a cerca de 80 km ao norte de Manaus (Siqueira Filho et al., 2000). O estudo foi realizado ao longo de um dia, em julho de 2002. Coletamos girinos de Phyllomedusa tarsius, P. bicolor, Hyla sp. e Hyla cf. marmorata em uma poça temporária ao lado de uma estrada de terra. Os girinos das duas espécies de Phyllomedusa foram separados em duas classes de tamanho, uma entre 1 e 1,5 cm (girinos pequenos), e acima de 2 cm (girinos grandes). Girinos das duas espécies de Hyla apresentavam 2 ou mais cm (girinos grandes). Na mesma poça, coletamos indivíduos de dois tipos de predadores de girinos: adultos de baratas-d’água (Hemiptera: Belastomatidae) e larvas de Odonata. As baratas d’água utilizadas apresentavam entre 2,5 e 4 cm, enquanto as larvas de Odonata apresentavam entre 3 e 4 cm. Conduzimos experimentos em que colocávamos um par de girinos pequenos e um par de girinos grandes dentro de um balde (24 cm de altura, 26,5 cm de diâmetro superior, 14 cm de diâmetro da base) com aproximadamente 4 cm de água e sem nenhum substrato. Após permitir aclimatação por cinco minutos, acrescentávamos em cada balde um indivíduo de Odonata ou Belastomatidae, e observávamos (1) se o predador capturava uma presa, e (2) se a presa era um girino pequeno ou grande. Nos experimentos com as baratas d’água, permitimos um tempo máximo de 30 minutos de contato entre o predador e a presa, e marcamos o tempo inicial (introdução do predador) e final do experimento (captura da presa). As sessões foram observadas ininterruptamente. No caso dos experimentos com as larvas de Odonata, ao final de 30 minutos não havia acontecido nenhum evento de predação, por isso foi permitido um tempo total de duas horas; neste caso, não foi anotado o tempo de captura da presa. Observações destas larvas foram feitas periodicamente (aproximadamente a cada 20 minutos), ao invés de ininterruptamente. Foram conduzidas 19 sessões experimentais com baratas d’água, e dez com as larvas de libélula. Utilizamos teste G para testar se os predadores estavam capturando girinos 74 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 pequenos ou grandes em freqüência maior do que a esperada ao acaso. Neste teste, foram considerados os três tipos de resposta possíveis: predação de girino grande, predação de girino pequeno e sem predação. Eventos em que não ocorreu predação foram incluídos nos testes estatísticos por considerarmos que estes podem representar uma resposta biológica relevante às questões abordadas neste estudo. Resultados Das 19 sessões conduzidas com baratas d’água, em 9 um girino grande foi predado, em 4 um girino pequeno foi predado e em 6 ocasiões não houve predação. As freqüências de predação de girinos grandes, pequenos ou em ausência de predação não diferiram (G = 0,980, g.l. = 2, N = 19, P = 0,613). Das dez sessões conduzidas com larvas de libélulas, em sete um girino pequeno foi predado e em três não houve predação; girinos grandes não foram predados. Estas freqüências não permitiram tratamento estatístico. Durante os experimentos, observamos que os dois tipos de predadores permaneciam imóveis, às vezes por longos períodos de tempo, e em muitas ocasiões não se mexiam mesmo quando girinos se aproximavam ou tocavam. No caso das baratas d’água, o ataque se dava repentinamente, durante o qual os hemípteros perseguiam os girinos por aproximadamente 10 a 20 segundos e os agarravam. Em algumas ocasiões, o ataque não tinha êxito, e os hemípteros voltavam à sua posição imóvel para um tempo corto antes de sua tentação próxima. Não foi presenciado nenhum dos eventos de predação pelas larvas de Odonata, mas, devido ao tempo relativamente curto entre observações, supomos que o ataque e a ingestão das vítimas se dê de modo bastante rápido. Após um evento de predação, a larva era encontrada novamente imóvel, e a única indicação de que a predação havia ocorrido era a ausência de um dos girinos ou, em um dos casos, a presença de pedaços do tegumento do girino predado. Em algumas ocasiões, a larva de Odonata foi observada defecando após a predação. Discussão Girinos possuem vários inimigos naturais, entre eles larvas e adultos de invertebrados, e podem sofrer elevada pressão de predação em poças temporárias (Azevedo-Ramos 1995, Borror and DeLong 1988). Estes predadores, no entanto, possuem diferentes estratégias de procura e captura de presas e, consequentemente, diferentes níveis de especialização e seletividade. Em conseqüência, a pressão de predação sobre girinos em poças temporárias pode diferir em decorrência da composição de predadores (Azevedo-Ramos 1995). Baratas d’água e larvas de libélula representam dois importantes predadores de girinos (Borror & DeLong 1988). Estes dois predadores, no entanto, apresentam diferentes táticas de forrageamento. Larvas de libélula são predadores generalistas que possuem aparelho bucal mastigador, detectam suas presas por meio da visão e receptores tácteis e possuem estratégia de captura do tipo “espera e emboscada”, capturando as presas com seus labios (Borror & DeLong 1988, Silva 1993; De Marco 1998). Baratas d’água também são predadores generalistas, mas ao invés de mastigarem a presa, introduzem o aparelho bucal, inoculam uma enzima digestiva que digere internamente a vítima, permitindo que o hemíptero sugue seu conteúdo (Borror & DeLong 1988). Baratas d’água não apresentaram seletividade por tamanhos de girinos, enquanto larvas de Odonata predaram apenas girinos pequenos (apesar do pequeno tamanho amostral não permitir tratamento estatístico). É possível que o custo que as larvas de Odonata têm em subjugar e manipular girinos grandes exceda os ganhos energéticos obtidos com seu consumo, e por isso as larvas prefeririam predar girinos menores. Alternativamente, é possível que, por serem mastigadores e capturarem as presas com os lábios, as larvas de libélula sejam limitadas morfologicamente tanto pela capacidade de subjugar a presa quanto pelo tamanho de presa que podem ingerir. As baratas d’água, por outro lado, são sugadoras, e por isso seriam provavelmente limitadas mais por sua capacidade de subjugação, e menos pelo tamanho da presa. Respeitada a pequena escala do nosso experimento, ele sugere que realmente baratas d’águas sejam menos seletivas quanto ao tamanho das presas consumidas do que as larvas de Odonata. Baseado também em experimentos em laboratório, AzevedoRamos (1995) observou que algumas espécies de Odonata selecionam girinos por tamanho. Neste caso, porém, ela observou seleção por girinos (várias espécies) maiores, atribuindo a rejeição relativa a girinos menores à maior possível menor palatabilidade apresentada por estes. Oliveira da Silva (1993), analisando conteúdos estomacais de larvas e adultos de Odonata coletados também na Amazônia Central, observou que estes conteúdos continham basicamente insetos e praticamente nenhum girino. Assim, é provável que a seletividade e pressão de predação por larvas de Odonata sobre girinos varie de acordo com a espécie dos predadores e das presas, e deve também variar de acordo com o ambiente (p.ex., com a disponibilidade de presas). A ocorrência de eventos em que não ocorreu predação pode se dever às condições experimentais, que podem ter interferido com o comportamento natural dos predadores. Isto parece ter sido especialmente verdadeiro para as larvas de Odonata, que levaram até duas horas para efetuar predação. O estágio larval em anuros é provavelmente o período de vida onde a seleção ocorre de maneira mais forte (Heyer 1973; Heyer 1979 apud Tejedo 1993). O crescimento da larva é um importante parâmetro na determinação do sucesso ao término deste estágio. Segundo Wilbur (1984), o risco de predação das larvas de anuros certamente está relacionado em função do tamanho do seu corpo, e o crescimento rápido poderia servir como estratégia de escape contra predadores limitados pelo aparelho bucal pequeno, como muitos insetos (Wilbur 1984). Esta estratégia, no entanto, não seria efetiva contra predadores menos limitados pelo tamanho do aparelho bucal, como baratas d’água. Agradecimentos A Jansen “Zoa Não!” pela força e apoio no nosso projeto, principalmente na hora do “tá dando tudo errado!!!”. Ao Marcelo Gordo pela identificação das espécies de anuros. Ao querido Ocírio “Juruna” Pereira que descobriu a fonte de todos os “bitchos” usados neste experimento. Ao Dadão pela (des)orientação estatística e discussões filosóficas. Referências Bibliográficas Andrewartha, H. G., e L. C. Birch. 1984. The ecological web. The University of Chicago Press, Chicago, USA. Azevedo-Ramos, C. 1995. Ecologia da comunidade de girinos as margens do rio Tapajós em uma região de savana Amazônica. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. Tese de doutorado, 142 p. Begon, M., J. L. Harper, e C. R. Townsend. 1990. Ecology: individuals, populations and communities. Blackwell Scientific Publications, Boston, MA, USA. Borror, D. J. e D. M. DeLong. 1998. Introdução ao estudo dos insetos. Editora Edgard Blücher Ltda., São Paulo, SP, Brasil. De Marco, P. 1998. The Amazonian campina dragonfly assemblage: Patterns in microhabitat use and behavior in a foraging habitat (Anisoptera). Odonatologica. 27(2): 239-248. Heyer, W. R. 1973. Ecological interactions of frog larvae at a seasonal tropical location in Thailand. Journal of Herpetology, 7 (4):337-361. Silva, R. O. 1993. Observações sobre a ecologia de Odonata (Insecta – hemimetabolico) no igapó e em riachos da terra firme, na região de Manaus (AM - Brasil). INPA : Manaus, Tese de mestrado, 85p. Siqueira Filho, J. A.; L. C. Procópio; T.P. Saco; N. Hanazaki e G. Schwartz 2000. Composição de espécies de drosófilas num gradiente de estratificaçãovertical no sub-bosque em floresta de terra firme na Amazônia Central. Pages 70-71 in M. Hopkins and E. Venticinque, organizadores. Ecologia da floresta amazônica – Curso de campo. INPA/ Smithsonian/OTS. Tejedo, M. 1993. Size-dependent vulnerability and behavioral responses of tadpoles of two anuran species to Beetle larvae predators. Herpetologica, 49 (3):287-294. Wilbur, H. M. 1984. Complex life cycles and community organization in Amphibians in A new ecology – novel aproaches to interactive systems. P. W. Price, C. N. Slobadchikoff and W. S. Gaud editors. John Wiley & Sons, New York, New York, USA. Padrão de trilhas do tatu Dasypus novemcinctus (Mammalia: Xenarthra: Dasypodidae) na Amazônica Central Daniel Ricardo Scheibler Introdução Tatus são mamíferos de tamanho pequeno ou médio que originaram-se na América do Sul e irradiaram-se extensivamente até a América Central e do Norte (Eisenberg 1989). Atualmente a família distribui-se desde o sul dos Estados Unidos até o sul da Argentina e Chile (Nowak 1991). Habitam tanto o interior de selvas quanto zonas abertas, construindo buracos que usam como refúgio (Tiriras 1999). De acordo com Emmons (1997), quatro espécies de tatus ocorrem na região central da Amazônia: Cabassous unicinctus, Priodontes maximus, Dasypus kappleri e D. novemcinctus. Dentre estes, D. novemcinctus é o mais bem estudado, sendo primariamente noturno e solitário. A espécie é abundante nas florestas úmidas dos neotrópicos, nas quais é bastante comum encontrar um sistema de trilhas e buracos construídos por indivíduos tanto adultos quanto juvenis em algumas áreas da Amazônia Central (observação pessoal). O objetivo deste estudo foi fazer uma descrição do padrão espacial das trilhas de D. novemcinctus numa área florestal na Amazônia Central. Material e Métodos A área de estudo localiza-se na Reserva Km 41 do PDBFF Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 75 (02o24’S, 59o43’W), 70 Km ao norte de Manaus, na Amazônia Central. Num platô de mata de terra firme desta reserva, fiz um mapeamento de dois sistemas de trilhas de tatus. As tocas ligadas a estes sistemas eram provavelmente de D. novemcinctus, pois apresentavam tamanho (aproximadamente 20 cm de diâmetro) e forma (aproximadamente circular, entrando diagonalmente no solo em relação à superfície) típicos para esta espécie. A identificação das trilhas como sendo de tatus é bastante segura, uma vez que estão sempre ligadas às tocas e apresentam aspecto bem típico, uma linha estreita (aproximadamente 25 cm de largura) de afundamento do terreno devido ao pisoteio constante dos animais. Às vezes era possível ver também pegadas de tatus nas trilhas. Todo o sistema das trilhas foi medido com o uso de trena de 100 m de comprimento. Sempre que havia mudança na direção ou bifurcações de trilhas, o ângulo era medido utilizando-se bússola. Registrei também as tocas conectadas aos sistemas e as trilhas de outros sistemas que cruzavam as trilhas estudadas. Dasypus novemcinctus tende a forragear sozinho, porém, ocorre uma considerável sobreposição de áreas de vida (Eisenberg 1989). Uma trilha era considerada de outro sistema quando esta atravessava a trilha estudada formando quatro ângulos, o que é diferente de uma bifurcação, que forma sempre três ângulos. Resultados No primeiro sistema de trilhas estudado (sistema 1), foi possível identificar uma trilha principal bastante longa que mediu 930 m de comprimento e todo o restante, representado por várias bifurcações de trilhas, mediu 231 m (Fig. 1). O comprimento total do sistema de trilhas foi de 1161 m. Treze tocas estavam associadas a este sistema de trilhas e sete trilhas de outros sistemas cruzaram-no. No segundo sistema de trilhas (sistema 2), não foi possível distinguir uma trilha mais longa ou principal (Fig. 2). As trilhas deste sistema totalizaram 336 m. Sete tocas estavam associadas ao sistema e nenhum cruzamento de trilhas de outros sistemas foi observado. norte oeste leste sul Fi 1 D h ái d i d ilh Fig. 1 – Desenho esquemático do sistema de trilhas 1 de Dasypus novemcinctus na floresta de terra firme da Reserva Km 41, Manaus, AM. Ò = tocas. 76 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 1 norte ? ? oeste leste sul Fig. 2 – Desenho esquemático do sistema de trilhas 2 de Dasypus novemcinctus na floresta de terra firme da Reserva Km 41, Manaus, AM. ? = locais onde perdi a continuidade correta da trilha. Ò = tocas. Discussão Apesar de D. novemcinctus ser mais estudado do que outros tatus, a maioria dos estudos restringem-se a questões relacionadas à transmissão de lepra ou então aos aspectos genéticos e fisiológicos associados ao nascimento de quatro gêmeos idênticos (clones), típico para a espécie (Eisenberg 1989). Por outro lado, aspectos sobre comportamento ou ecologia são pouco conhecidos. Assim, os resultados obtidos neste estudo acrescentam informação básica para a compreensão da biologia de D. novemcinctus na Amazônia Central. O padrão básico das trilhas de D. novemcinctus mostra que ele utiliza uma trilha principal de onde bifurcam outras trilhas bem mais curtas (a grosso modo, não mais do que 30 ou 40 metros, geralmente menos), que às vezes comunicam-se novamente com a trilha principal ou então levam às tocas. Isto sugere um deslocamento lateral relativamente curto em relação a uma trilha mais central e mais usada pelos tatus, que sempre era mais pisoteada. O sistema de trilhas 1, apesar de longo, apresentou indícios de que apenas parte dele estava sendo efetivamente usado. Aproximadamente 80% deste sistema era uma trilha contínua longa típica de tatus e com grande quantidade de folhas não mexidas ou pisoteadas, um indicativo de que não estava mais sendo usada. Por outro lado, uma das extremidades norte deste sistema (veja Fig. 1), apresentou indícios de presença recente de utilização das trilhas pelos animais. Assim, neste local encontrei maior número de bifurcações, tocas bem visíveis e com aparência de uso recente (sinais de pisoteio), trilhas também bem pisoteadas e sinais de forrageamento, como pequenos revolvimentos de solo, o que é típico para uma espécie como D. novemcinctus que forrageia na superfície, revolvendo o solo (Eisenberg 1989). O sistema de trilhas 2 apresentou as mesmas características de presença recente de tatus, porém, era bem mais curto do que o outro. Acredito que o sistema 2 também tenha uma trilha bem mais longa, porém, perdi a continuidade de duas trilhas neste sistema (veja Fig. 2). Um longo sistema de trilhas aparentemente abandonadas com uma extremidade com sinais de atividade recente dos animais, sugere que D. novemcinctus apresenta um comportamento de certa forma nômade, utilizando áreas de forrageamento ou de vida que vão sendo deslocadas com o tempo, deixando para trás indícios, como trilhas velhas e sem uso. Para testar esta hipótese adequadamente, seria necessário um estudo de acompanhamento de trilhas e de animais marcados por um longo período de tempo. Referências Bibliográficas Eisenberg, J.F. 1989. Mammals of the Neotropics. The University of Chicago Press. Chicago. Volume 1. 449 pp. Emmons, L.H. 1997. Neotropical Rainforest Mammals. The University of Chicago Press. Chicago. 307 pp. Nowak, R.M. 1991. Walker‘s Mammals of the World. The Johns Hopkins University Press. Baltimore. 1629 pp. Tiriras, S.D. 1999. Mamíferos del Ecuador. GM Laser Industria Gráfica. Quito, Equador. 392 pp. Abundância de anuros de folhiço em áreas de baixio e platô na Amazônia Central Elaine M. Lucas Gonsales Introdução No folhiço das florestas de terra firme ocorrem comunidades complexas de anuros, que distribuem-se diferentemente no tempo e no espaço (Zimmerman & Rodrigues 1990). Entretanto, os fatores que determinam essa distribuição ainda não são bem compreendidos, nem mesmo qual a capacidade dos indivíduos em reconhecer e escolher os microambientes disponíveis (Gordo 1998). Condições ambientais, tais como altura e umidade do folhiço (Scott 1976), predação, competição e disponibilidade de recursos são alguns dos fatores que podem determinar a distribuição destas espécies (Gordo 1998). Na floresta amazônica, o padrão sazonal com alternância de períodos chuvosos e secos parece representar uma forte influência na reprodução e demografia de anuros (Galatti 1992). Em ambientes de folhiço ocorrem espécies de hábitos especializados, como diversos leptodactilídeos e dendrobatídeos (Souza 1996). Para amostrar a riqueza, abundância relativa e densidade de espécies neste ambiente, diferentes metodologias, tais como parcelas (Jaeger 1994) e transectos (Jaeger & Inger 1994), vêm sendo amplamente utilizadas. Entretanto, existe uma grande variação no tamanho e o número de amostragens em diferentes estudos. Metodologias padronizadas permitem comparações espaciais e temporais mais refinadas e são importantes para compreendermos como as comunidades variam no tempo e no espaço. Na Amazônia Central, estudos sobre abundância e riqueza de anuros de folhiço utilizando metodologias de parcelas de diferentes tamanhos foram realizados por Scott (1976) com parcelas de 8 x 8m e Allmon (1991), com parcelas de 5 x 5m. O objetivo deste trabalho foi (1) comparar a abundância de espécies de anfíbios anuros que utilizam o folhiço da mata em áreas de baixio e platô em uma reserva de floresta de terra firme na Amazônia Central, e (2) investigar qual metodologia (parcelas ou transectos) é mais eficiente para amostrar anuros de folhiço na estação seca. Material e Métodos O estudo foi realizado em floresta de terra firme na Amazônia Central, na Reserva 150l (Km 41) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), Manaus, AM, em julho de 2002. Foram utilizadas duas metodologias usualmente empregadas para amostragem de anuros de folhiço: amostragem em pares de transectos (Jaeger 1994) e amostragem por parcelas (Jaeger & Inger 1994). A metodologia de parcelas foi utilizada apenas para a comparação de métodos, análises de diferenças entre baixios e platôs foram efetuadas com os resultados obtidos nos transectos. Foram traçados 5 transectos de 100m de comprimento e 1m de largura em ambientes de baixio e platô com uma distância mínima de 100m entre eles. Para determinar a sequência de amostragem dos transectos (em baixio ou platô) foi realizado um sorteio e os demais seguiram alternadamente. Os transectos foram traçados paralelamente aos igarapés e percorridos durante dois dias e meio, divididos em quatro períodos amostrais (8h, 10h, 14h e 16h). As seguintes informações foram tomadas localmente para a caracterização dos transectos: local, temperatura do ar e do folhiço (medidas com termômetro), altura do folhiço (utilizando régua milimetrada) e umidade do ar e folhiço (medidas com termohigrômetro) (Tab. 1). Nenhuma análise de correlação foi efetuada entre a abundância de indivíduos nos ambientes e as variáveis ambientais, devido às pequenas variações observadas. Cada transecto foi percorrido por cerca de 1 h e 30 min., em velocidade constante. Para todos os indivíduos encontrados foi anotado a espécie e idade (adulto ou juvenil). Além de transectos, áreas de baixio e platô foram amostradas com o método de procura ativa, em parcelas de 2 x 1m, cercadas por tela plástica com altura de 50cm. Um total de 18 parcelas (9 para cada ambiente) foram efetuadas, com esforço de três pessoas por parcela que permaneciam por 6 minutos removendo o folhiço. As mesmas variáveis ambientais tomadas para os transectos foram medidas nas parcelas. Todos os indivíduos foram coletados durante as amostragens e retidos até o término destas, impedindo, desta forma, que o mesmo animal fosse amostrado mais de uma vez. Para comparar a abundância de indivíduos entre as duas áreas foi utilizado o teste não-paramétrico de Wilcoxon. Resultados No método de transectos, foram encontradas um total de 30 indivíduos de sete espécies de anuros no folhiço. Seis destas espécies (26 indivíduos) foram registradas nas áreas de baixios e duas nas áreas de platô (Tab. 2). Houve uma diferença na abundância entre os indivíduos encontrados nos transectos de baixio e os encontrados no platô (Z = -2,032; P = 0,0042), sendo a maior abundância foi registrada no baixio. Com o método de transectos, a área total amostrada foi de 1000 m2, sendo 500 m2 para cada um dos ambientes (baixio e platô). A densidade média dos indivíduos amostrados nos transectos foi de 0,06 indivíduos/ m2 com um esforço amostral de 15 horas. Com o método de parcelas, foram encontrados um total de 9 indivíduos, seis em ambientes de baixio e três em ambientes de platô. No baixio foram registradas três espécies de anuros e no platô apenas uma espécie. Com 10 parcelas foi amostrada uma área total de 36 m2 (18 m2 em baixio e 18 m2 em platô), totalizando um esforço amostral de três horas e uma densidade média de 0,49 indivíduos/m2. Não foi encontrada diferença significativa entre a abundância dos indivíduos entre os dois ambientes com este método (Wilcoxon, Z = -1,089, P = 0,276). Das oito espécies registradas, apenas para Adenomera andreae não foram registrados indivíduos jovens. Porém, para todas as espécies, o número de indivíduos jovens (20% do total) não foi maior do que dos adultos. Do total de espécies registradas, apenas uma Scinax cruentoma possui hábitos Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 77 arborícola, as demais são espécies que passam a maior parte de suas vidas no folhiço. Tab. 1. Variáveis ambientais (máxima e mínima) registradas nas áreas de baixio e platô nas amostragens dos transectos e parcelas. Variáveis ambientais Baixio Platô Mín. Máx. Mín máx. 77 83 74 82 Umidade relativa ar (ºC) Umidade relativa folhiço (ºC) 79 84 79 82 Temperatura ar (ºC) 22 28 24 29 22,5 27 22 29 1 5 2 7 Temperatura folhiço (ºC) Altura folhiço (cm) Tab. 2 - Número total de indivíduos por espécie de anuros registrados nos transectos em cada um dos ambientes na área de estudo. Espécie Baixio Platô Colostethus stepheni 15 0 Colostethus marquesianus 2 0 Adenomera andreae 4 2 Leptodactylus mystaceus 1 0 Atelopus spumarium 3 0 Dendrophyniscus minutus 1 0 Scinax crunctata 0 2 TOTAL 26 4 Dendrobatidae Leptodactylidae Bufonidae Hylidae anuros, as populações de adultos representam a geração proveniente da última temporada reprodutiva (Juncá 1994). Desta forma, os ciclos de vida da maioria das espécies parecem ser anuais e o deslocamento destes animais (principalmente os menores) do platô para o baixio poderia não compensar o esforço dispendido. Em relação à eficiência de amostragem dos métodos utilizados, a maior densidade de indivíduos por m2 foi obtida pela metodologia de parcelas. Parcelas parecem exigir um menor esforço amostral do que os transectos, entretanto, os transectos possibilitam que apenas uma pessoa realize a amostragem, embora exija um esforço amostral muito maior. Ao contrário do presente estudo, Allmon (1991) utilizando parcelas de 5x5 m para amostrar a herpetofauna de serapilheira, considerou este método pouco eficiente, uma vez que apenas a metade da riqueza de espécies de folhiço conhecida para aquela área foi amostrada. Giaretta et al. (1997) amostraram 45% da fauna de folhiço conhecida para a Serra do Japi utilizando parcelas de 8 x 8m. Neste estudo, foram amostradas 8 (34,8%) das 23 espécies de folhiço conhecidas para as reservas do PDBFF (Zimmerman & Rodrigues 1990), considerando as duas metodologias empregadas. Os transectos, entretanto, amostraram uma riqueza maior de espécies. Segundo Lima (1996) pelo menos a metade das espécies que foram amostradas neste estudo (C. stepheni, C. marquesianus, A. andreae, D. minutus) normalmente encontram-se ativas durante o dia, forrageando sobre o folhiço. Isso pode ter contribuído para aumentar a eficiência na amostragem com transectos. Os transectos podem ser mais eficientes também para espécies que possuem menor mobilidade (Jaeger 1994), enquanto que parcelas cercadas com tela impedem a fuga dos animais e permitem que o folhiço seja removido, o que no transecto causaria uma perturbação local e poderia espantar os animais que estejam próximos. A baixa abundância de indivíduos encontrada neste estudo pode ter sido fortemente influenciada pelo padrão sazonal chuvoso versus seco, que parece atuar fortemente sobre espécies de terra úmida (Allmon 1991). O maior número de indivíduos por m2 foi amostrado por parcelas, o que nos permite dizer que parcelas parecem ser mais eficientes para amostragem de espécies de folhiço, especialmente durante a estação seca, onde muitos indivíduos diminuem significativamente suas atividades. Agradecimentos Discussão A maior abundância de anuros (86,6%) encontrada nas áreas de baixio pela amostragem de transectos pode ser explicada de várias formas. Primeiro, este ambiente pode apresentar melhores condições para a sobrevivência e reprodução de anuros. Segundo, durante a estação seca, as espécies que encontram-se no platô podem apresentar uma maior taxa de mortalidade do que as do baixio. Para anuros de folhiço, a abundância de alimento pode afetar a mortalidade dos adultos durante as estações desfavoráveis (Allmon 1991). Entretanto, para verificar se isso ocorre com a anurofauna de folhiço, informações quantitativas para artrópodes de liteira deveriam ser disponibilizadas. Terceiro, algumas espécies podem permanecer enterradas ou escondidas em tocas ou buracos no platô, em busca de microhabitats mais favoráveis na estação seca e, por isso, não foram amostradas. Finalmente, os indivíduos poderiam estar deslocando-se dos platôs (menos úmido na seca) para os áreas de baixio, em busca de locais mais adequados para sua sobrevivência na estação desfavorável. Segundo Begon et al. (1990), muitos animais realizam movimentos sazonais entre os habitats, em busca de ambientes que podem disponibilizar condições que garantam sua sobrevivência. Deve-se considerar entretanto que, em muitas espécies de 78 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Agradeço sinceramente ao Jansen pelas idéias, discussões e incentivo durante todas as etapas do projeto, inclusive no campo. Ao querido Ocírio (Juruna) por ter sempre me acompanhado e auxiliado nos trabalhos de campo e na identificação das espécies. Ao Glauco pelo auxílio nas parcelas (mais alguns metros!!!) e paciência na análise dos dados, discussão e correção do relatório. A Ana, por auxiliar nas correções. Ao Fernando, Dadão e todos que ajudaram na “construção” da parcela, obrigada. Referências Bibliográficas Allmon, W.D. 199l. A plot study of forest floor litter frogs, Central Amazon, Brazil. J. Trop. Ecol. 7:503-522. Begon, M.; J.L. Harper & C.R. Townsend. 1990. 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Washington, Smithsonian Institution Press, 364p. Juncá, F.A. 1994. Ecologia e biologia reprodutiva de duas espécies de Colostethus (Anura: Dendrobatidae) da região de Manaus, Amazônia Central. Universidade de São Paulo, São Paulo, Dissertação de Mestrado, 84p. Lima, A.P. 1996. Sobreposição na dieta de anuros de liteira da Amazônia Central: efeitos da época de recrutamento, e das mudanças ontogenéticas no modo de forragear e na eletividade para presas. INPA/UA, Tese de Doutorado, 102p. Souza, M.B. 1995. Anfíbios anuros da Reserva Florestal Humaitá, Estado do Acre, Brasil. UFPR, Dissertação de Mestrado, 156p. Scott, N.J. 1976. The abundance and diversity of the herpetofauna of tropical forest litter. Biotropica 8(1):4158. Zimmerman, E. & Rodrigues, M.T. 1990. Frogs, snakes and lizards of the INPA-WWF reserves near Manaus, Brazil. In: Gentry, A., (ed) Four Neotropical Rainforests. Yale Univ. Press, New Haven. P. 426-454. Influência do arranjo espacial da planta hospedeira na diversidade de insetos herbívoros Flávia Monteiro Coelho Introdução Um dos pontos centrais da ecologia é entender a causa de padrões observados na natureza. A existência de padrões sugere que forças seletivas similares podem estar agindo em diferentes habitats (Tilman 1988). O padrão espacial é definido como a descrição quantitativa da distribuição horizontal de indivíduos de uma espécie dentro de uma comunidade (Ludwig 1979 apud Gascon & Moutinho 1998). Os indivíduos podem estar distribuídos ao acaso, em intervalos regulares ou agregados. Podem ser vários os fatores causais do padrão espacial, como os intrínsecos à espécie (fatores reprodutivos e sociais) ou extrínsecos, como as condições do habitat e a história de perturbação. A distribuição espacial de uma planta, bem como o grau de heterogeneidade do ambiente no qual ela se insere, descrevem muito da diversidade de insetos herbívoros nela presentes (Brown & Allen 1989). Podemos esperar que plantas com distribuição geográfica ampla apresentem maior número de espécies de insetos associados do que plantas com distribuição restrita. Uma explicação para este efeito espécie-área pode surgir a partir da teoria de biogeografia de ilhas, em que a dinâmica do número de espécies de uma ilha depende do balanço entre imigração e extinção (MacArthur & Wilson 1967). Entretanto, se consideramos a escala regional do efeito espécie- área nos deparamos com dificuldades em testá-la experimentalmente. Uma sugestão seria entender a relação espécie-área em processos de pequena escala, similares àqueles apresentados em modelos de estudos populacionais. Espera-se ainda, que plantas em ambientes muito heterogêneos sejam mais dificilmente localizadas por insetos herbívoros e por isso sofram menor dano. Outro padrão relevante seria a complexidade dos habitats, ou seja, espécies de plantas com arquitetura mais complexa possivelmente apresentam maior diversidade de nichos, o que deve sustentar um maior número de espécies (Lawton 1983). Piperaceae é uma família de plantas tropicais, com 8 gêneros ausentes em regiões secas. O gênero Piper, com 30 espécies, é principalmente arbustivo, encontrado com frequência em áreas alteradas. Piper mastersianum é uma espécie que apresenta altura média de 2m, com folhas cartáceas, de pubescência discreta e inflorescência em espiga pedunculada, com flores pequenas, comumente encontrada em áreas de platô nas florestas de terra firme da Amazônia Central (Ribeiro et al. 1999). O estudo em pequena escala das relações entre diversidade de insetos e distribuição espacial da planta hospedeira pode ser testado matematicamente e proporcionar o esclarecimento de processos populacionais e de estrutura de comunidades. O objetivo desse estudo é investigar se o padrão de distribuição espacial e o grau de heterogeneidade do ambiente em que indivíduos de Piper mastersianum estão inseridos podem influenciar a riqueza e abundância das espécies de insetos herbívoros nessa planta. Além disso pretendo investigar se diferentes metodologias de coleta de dados podem ser igualmente eficientes na estimativa de riqueza e abundância de herbívoros nessa planta. Material e Métodos O estudo foi realizado na Reserva do Km 41 na fazenda Esteio, uma área de terra firme na Amazônia Central, pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (INPA/ Smithsonian), localizada a 2o 25’ S e 59o 48’ W A precipitação média anual nessa região é de 2127mm e a temperatura média anual é de 27,2o C (Salcedo 1998) Foram selecionados 30 indivíduos de Piper mastersianum a partir dos quais foram demarcadas 30 parcelas de 2,5 m x 2,5 m em que o indivíduo marcado foi considerado o centro da parcela. As dimensões utilizadas da parcela basearam-se na altura média das plantas e nos objetivos estabelecidos para esse trabalho. As plantas foram selecionadas em ambientes caracterizados como borda de mata em áreas de platô. Em cada parcela foi quantificado o número de indivíduos da espécie Piper mastersianum (distribuição espacial) e o número de indivíduos de outras espécies (heterogeneidade do hábitat), ambos com altura superior a 40 cm. Em cada indivíduo de Piper mastersianum selecionado nas parcelas, foi feita a contagem do número total de folhas e 10 folhas foram coletadas aleatoriamente. A intensidade de herbivoria em cada planta foi medida utilizando as dez folhas recolhidas, através de um índice (Índice de Herbivoria – IH) Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 79 baseado na porcentagem da área foliar danificada (0 = 0%; 1 = 1-6%; 2 = 6-12%; 3 = 12-25%; 4 = 25-50% e 5 = >50%) proposta por Dirzo & Domínguez (1995) que pode ser representado pela fórmula: IH = ∑(ni * i)/N onde, N= número de folhas, ni = número de amostras na categoria i e i = categoria. Também foi observado em cada folha coletada quantos tipos diferentes de herbivoria ocorriam. Os tipos de herbivoria foram classificados quanto à área, a forma e o local do dano nas folhas. Duas coletas por planta (uma no período da manhã e outra da noite) foram feitas para identificação dos grupos de insetos visitantes. Dentre os grupos identificados, foram quantificados apenas os indivíduos herbívoros. Foram utilizadas regressões lineares simples (Krebs 1999) para a análise dos dados coletados. Resultados Não existem relações significativas entre o número de indivíduos de Piper mastersianum e o índice de herbivoria (F=0,437; gl=1; R2=0,015; p=0,514), bem como entre o número de indivíduos de outras espécies e o índice de herbivoria (F=0,116; gl=1; R2=0,004; p=0,736). Também não existem relações significativas entre o número de indivíduos de Piper mastersianum e o número de diferentes tipos de herbivoria observados na planta (F=0,632; gl=1; R2=0,022; p=0,433), bem como entre o número de indivíduos de outras espécies e o número de diferentes tipos de herbivoria observados (F=0,177; gl=1; R2=0,006; p=0,677). Houve uma relação entre número de folhas presente na planta e o índice de herbivoria, entretanto apenas 12% dos dados é explicado por essa relação (F=3,943; gl=1; R2=0,123; p=0,057) (Fig. 1). Não houve relação entre o número de folhas e o número de diferentes tipos de herbivoria na planta (F=0,359; gl=1; R2=0,013; p=0,554). Foram coletados insetos herbívoros das ordens Hemiptera, Blattodea, Orthoptera, Coleoptera, Lepidoptera e Homoptera, sendo os Coleoptera aqueles que apresentaram maior riqueza e abundância seguidos dos Orthoptera (Tab. 1). Entretanto, nenhum dos indivíduos estava se alimentando no momento da coleta. O índice de herbivoria não variou em função do número de herbívoros presentes na planta (F=2,784; gl=1; R2=0,090; p=0,106). Os principais tipos de herbivoria identificados nas folhas de P. mastersianum foram: danos causados por insetos minadores, remoção do limbo de forma circular, remoção do limbo e nervuras de forma circular, remoção apenas do ápice foliar, remoção apenas do tecido parenquimático, remoção do limbo e nervuras 3.5 3.0 IH 2.5 2.0 1.5 1.0 0 50 100 NFOLHAS 150 Fig. 1 – Relação entre o número o de folhas (NFOLHAS) presente na planta e o índice de herbivoria (IH). 80 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Tab. 1 – Riqueza e abundância de insetos herbívoros de diferentes ordens encontrados em Piper mastersianum. Ordem Riqueza Abundância Coleoptera 8 29 Orthoptera 6 12 Hemiptera 3 3 Blattodea 3 6 Homoptera 3 4 Lepidoptera 3 4 Discussão Aparentemente nem a distribuição espacial dos indivíduos de Piper mastersianum, nem o grau de heterogeneidade das parcelas (número de indivíduos de outras espécies) são fatores limitantes para a ocorrência de insetos herbívoros em Piper mastersianum. Tais fatos podem servir como indicativo de que os herbívoros dessa planta são capazes de localizá-la quando esta se encontra próxima ou distante de indivíduos da mesma espécie e quando está inserida em uma matriz com maior ou menor grau de heterogeneidade. Devemos lembrar ainda que podem estar ocorrendo nessa planta herbívoros generalistas e especialistas e que portanto, os especialistas apresentam maior eficiência em localizá-la e explorá-la. Outro aspecto interessante é que o número de tipos de herbivoria detectados nas folhas de P. mastersianum é semelhante entre as parcelas independendo do número de indivíduos da mesma espécie (distribuição espacial) e do número de indivíduos de espécies diferentes (grau de heterogeneidade). A utilização do método de identificação de tipos de herbivoria na folha é uma tentativa de incluir na amostragem herbívoros que podem não ter sido coletados no campo devido ao curto período de tempo. Entretanto, apresenta problemas, pois a identificação dos diferentes tipos de herbivoria é difícil e muitas vezes subjetiva. Além disso, o número de insetos de diferentes espécies encontrados nas plantas e os tipos de herbivoria identificados na folha não se relacionam, o que pode indicar que o método de observação de tipos de herbivoria não é interessante para estimar a riqueza de herbívoros. Devemos lembrar, entretanto, que a coleta dos possíveis herbívoros da planta foi realizada apenas em um dia, o que limita a amostragem, pois herbívoros importantes dessa planta podem não ter sido coletados por um fator temporal ou até mesmo devido ao acaso. Além disso, podem estar sendo levados em consideração herbívoros que não consomem essa planta e por algum motivo foram coletados nela. Já o fato de o índice de herbivoria não ter se relacionado ao número de possíveis herbívoros coletados é muito interessante sobre dois aspectos. O primeiro, porque o método elaborado por Dirzo & Domínguez (1995) apresenta um caráter comparativo e não tem o intúito de quantificar a herbivoria nas plantas. O segundo, porque para um local como a Amazônia, extremamente rico em espécies, espera-se que entre os herbívoros que utilizam uma planta como recurso alimentar haja uma grande variação nos padrões de tamanho e necessidade alimentar entre as espécies. Podem ocorrer na mesma planta herbívoros grandes que comam muito causando um grande dano e herbívoros pequenos que causem danos menores. É necessário um número maior de indivíduos pequenos para atingir um mesmo dano causado por um único indivíduo grande. Vários são os métodos utilizados para determinar o tipo de distribuição espacial apresentado por uma planta e a escala de trabalho, nesse caso o tamanho da parcela, é extremamente relevante, possibilitando a identificação de fenômenos muitas vezes diferentes do esperado. Agradecimentos Aos novos amigos do curso de campo “Ecologia da Floresta Amazônica” pela alegria de todos os momentos fazendo do ambiente de trabalho um local extremamente agradável, aos coordenadores Jansen e Dadão pela dedicação e preocupação em fazer desse curso uma grande experiência, ao monitor Fernando e ao mateiro, professor e amigo Juruna pelo seu amor pelo trabalho e ao Glauco e a Ana pelas cuidadosas correções e sugestões nos trabalhos. Enfim, a todos aqueles que, com dedicação, trabalharam para que nós alunos crescêssemos como profissionais e pessoas. Referências Bibliográficas Brown, B.J. & Allen, T.F.H. 1989. The importance of scale in evaluating herbivory impacts. Oikos 54 (2). Cornell, H.V. & Lawton, J.H. 1992. species interactions, local and reginal processes, and limits to the richness of ecological communities: A Theoretical Perspective. Ecology 61: 1-12. Dirzo, R. & C. Domínguez. 1995. Plant-animal interactions in mesoamerican tropical dry forest. In B. Medina and H. Mooney (eds.). Seasonally Dry Tropical Forest. Cambridge University Press, Cambridge, USA. Gascon, C. & Moutinho, P. 1998. Floresta Amazônica: Dinâmica, Regeneração e Manejo. Ministério da Ciência e Tecnologia/ Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – Manaus, AM. Krebs, C.J. 1999. Ecological Methodology. 2a edição. Addison Wesley Longman, CA, EUA. Lawton, J.H. 1983. Plant architecture and the diversity of phytophagous insects. Ann. Rev. Entomol. 28: 23-39. Lawton, J.H. & Strong JR, D.R. 1981. Community patterns and competition in folivorous insects. Am. Nat. 118 (3). Macarthur, R. & Levins, R. 1964. Competion, habitat selection, and character displacement in a patchy environment. Zoology 51. Macarthur, R. & Wilson, E. O. 1967. The theory of island biogeography. Princeton University Press, N.J. 203pp. Penny, N.D. & Arias, J.R. 1982. Insects of an Amazon Forest. Columbia University Press, New York. Ribeiro, J.L. da S.; Hopkins, M.J.G.; Vicentini, A;. Sothers, C.A; Costa, M.A.da S; Brito, J.M, Souza, M.A.D; Martins, L.H.P.; Lohman, L.G.; Assunção, P.A.C.L.; Pereira, E da C; Silva, .C.F; Mesquita, M.R.; Procópio, L.C. 1999. Flora da Reserva Ducke. Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra firme na Amazônia Central. INPA/DFID Manaus, Brasil. Salcedo, N.J. 1998. Composición de la comunidad de macroinvertebrados acuáticos asociados a dos tipos de sustratos en un igarapé de segundo orden de la reserva KM 41, Manaus, Amazonía Central. Ecologia da Floresta Amazônica, Curso de campo. Scariot, A. e Venticinque E. (coordenadores). Straw, N.A. & Ludlow, A.R. 1994. Small-scale dynamics and insect diversity on plants. Oikos 71 (1). Tilman, D. 1988. Plant strategies and the dynamics and structure of plant communits. Monographs in Population Biology 26, Princeton University Press, N. J.. Walde, S.J. 1991. Patch dynamics of a phytophagous mite population: effect of number of subpopulations. Ecology 72: 1591-1598. Danos foliares induzem recrutamento de formigas habitantes de domáceas em Hirtella myrmecophylla (Chrysobalanaceae) na Amazônia central Gustavo Q. Romero Introdução Associações entre formigas e plantas mirmecófitas representam um dos melhores exemplos de interações mutualísticas entre artrópodes e plantas. As plantas oferecem alimento em forma de néctar por meio dos nectários extra-florais (Oliveira 1997), abrigos em domáceas (Benson 1985, Vasconcelos 1991, 1993, Fowler 1993, Fonseca 1994) ou ambos (Janzen 1966, Rocha & Bergallo 1992) para formigas que, por sua vez, combatem herbívoros (Vasconcelos 1991, Fonseca 1994) e, algumas vezes, aumentam a aptidão (produção de sementes) da planta (Del-Claro et al. 1996). Os abrigos que as plantas mirmecófitas oferecem às formigas são denominadas de domáceas, que podem estar localizadas em diversos locais em uma planta, como ocos de caules, base das folhas e outras estruturas (Benson 1985). São conhecidas aproximadamente 250 associações entre plantas mirmecófitas e formigas na região neotropical. A maioria destas mirmecófitas ocorrem em florestas primárias e não oferecem recursos alimentares para as formigas associadas (Benson 1985). A hipótese mais aceita para a origem e evolução destas estruturas é que pressões seletivas impostas pela herbivoria produziram abrigos para as formigas (Beattie 1985). Alguns autores consideram que os efeitos benéficos das formigas para as plantas são análogos às defesas químicas induzidas das plantas (veja Agrawal & Rutter 1998). Quando um herbívoro provoca danos nas folhas, a planta induz respostas defensivas pela produção de compostos do metabolismo secundário (Karban & Baldwin 1997). Da mesma forma, plantas mirmecófitas (p. ex. Cecropia obtusifolia e Leonardoxa africana), durante o ataque de um herbívoro ou em manipulações experimentais, emitem voláteis que induzem o recrutamento das formigas (Agrawal 1998, Agrawal et al. 1999, Brouat et al. 2000). O recrutamento em formigas foi definido por Hölldobler & Wilson (1990) como sendo uma forma especial de assembléia em que os membros da sociedade são direcionados para algum ponto no espaço onde o alimento está disponível. Segundo estes autores, geralmente, compostos químicos estão envolvidos neste comportamento. O presente trabalho relata resultados de experimentos desenvolvidos na Amazônia Central para testar a hipótese de que formigas recrutam após estímulos de danos foliares em um sistema mutualístico planta mirmecófita (Hirtella myrmecophylla) – formigas (Allomerus octoarticulata). As principais questões foram: 1) Danos foliares induzem o recrutamento das formigas? 2) Este recrutamento é dependente da idade foliar? 3) O estímulo deste recrutamento é químico? 4) Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 81 Formigas recrutam com a mesma intensidade aos estímulos de voláteis de folhas novas e velhas de H. myrmecophylla? O comportamento de recrutamento das formigas também foi descrito. Material e Métodos Área de estudo e espécies Este trabalho foi realizado em julho e agosto de 2002 e uma floresta de terra firme na reserva do Km 41 (10.000 ha) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (INPA/ Smithsonian), situada a 70 km ao norte de Manaus, AM (02o 24’ S, 59o 52’W). O clima é considerado como Am, segundo a classificação de Köeppen, que corresponde a um clima tropical úmido de monções, com estação chuvosa entre novembro e maio e estação seca entre junho e outubro (Lovejoy & Bierregaard 1990) Hirtella myrmecophylla (Chrysobalanaceae) é uma planta arbustivo-arbórea e suas folhas possuem um par de domáceas na base, que dá abrigo às formigas Allomerus octoarticulata (Myrmicinae) (Fonseca 1999). Experimento 1. Danos foliares e recrutamento das formigas Formigas podem recrutar ao estímulo de um dano foliar e este comportamento pode variar conforme a idade da folha. Estas hipóteses foram testadas em 17 plantas de 0,5-2,5 m de altura, contendo pelo menos dois ramos com folhas novas e velhas foram usadas. Por meio de um sorteio, um dos ramos foi classificado como experimental e o outro, como controle. As duas primeiras folhas expandidas destes ramos foram consideradas como “novas” e as duas subsequentes, como “velhas”. Por meio de outro sorteio, uma das folhas novas e uma das folhas velhas foram cortadas pela metade para simular herbivoria. No ramo controle, com um sorteio, uma das folhas novas e uma das folhas velhas foram agitadas e receberam batidas leves para simular o corte foliar (do tratamento experimental). O número de formigas foi contado na primeira metade das folhas, antes do corte foliar ou da agitação (tempo 0) e 1, 3, 5, 10 e 15 min após a aplicação dos tratamentos. Experimento 2. Estímulos químicos e recrutamento das formigas O recrutamento após um dano foliar pode ocorrer por estímulos físicos, em que as formigas chegam casualmente até o dano ou são recrutadas devido a vibrações nas folhas, ou as formigas reconhecem informações químicas provindas de voláteis emitidos pelas plantas. Para testar esta última hipótese, 10 plantas com as mesmas condições do experimento anterior foram selecionadas aleatoriamente e por meio de um sorteio, um dos ramos foi classificado com experimental e o outro como controle. A folha expandida mais nova do ramo experimental recebeu 3 gotas de solução de macerado (água + folhas novas) de H. myrmecophylla e a folha mais nova do ramo controle recebeu 3 gotas de água apenas. A solução com extratos da planta foi obtido por meio de um macerado de 5 g de folhas inteiras (peso fresco) por 80 ml de água. Ambas as substâncias foram aplicadas diretamente nas folhas dos ramos através de seringas. Christianini & Machado (dados não publicados) verificaram que formigas Pheidole minutula Mayr que habitam domáceas de Maieta poeppigii Cogn. (Melastomataceae) recrutaram após a aplicação de solução desta planta preparada com água. O número de formigas foi contado conforme os métodos do experimento 1. Um bioensaio foi desenvolvido anteriormente a este experimento, utilizando-se Dicloro-Metano como solvente (58 ml para 8 g de biomassa foliar fresca). Durante este ensaio, esta solução foi aplicada em papel absorvente sobre as folhas da planta, entretanto, além de as formigas não terem respondido 82 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 numericamente, as que estavam próximo ao papel morreram. Experimento 3. Idade das folhas Para testar se formigas recrutam mais na presença de voláteis obtidos de folhas novas em relação aos de folhas velhas, um experimento semelhante ao anterior foi desenvolvido, com a diferença que folhas novas dos ramos experimentais receberam 3 gotas de solução de folhas novas (primeira e segunda folhas expandidas) e as folhas novas do ramo controle receberam 3 gotas de solução de folhas velhas (3 últimas folhas dos ramos). O número de formigas foi contado conforme os métodos do experimento 1 Análises estatísticas Todos os experimentos foram conduzidos com um desenho experimental em blocos randomizados, em que cada planta (unidade amostral) recebeu os dois tratamentos. A variação numérica na quantidade de formigas entre os tratamentos e ao longo do tempo foi analisada com ANOVA em blocos randomizados, em medidas repetidas, em que plantas foram consideradas como blocos e o tempo como o fator de repetição. Greenhouse-Geissel (G-G) foi calculado para as probabilidades para correção da esfericidade (Zar 1984). Não houve sobreposição de réplicas (plantas) entre um experimento e outro. Resutados Indutores de recrutamento em formigas As formigas recrutaram nas folhas novas do tratamento experimental (corte foliar) mas não recrutaram no tratamento controle (Tab. 1). Ocorreu interação entre tempo e tratamento (Tab. 1), indicando o aumento de formigas nas folhas somente do tratamento experimental (Fig. 1). Este recrutamento ocorreu também nas folhas velhas que foram cortadas em relação às folhas velhas do tratamento controle (Fig. 1, Tab. 1). Entretanto, o número de formigas que responderam ao estímulo da herbivoria foi maior nas folhas novas em relação às folhas velhas do tratamento experimental (ANOVA em blocos randomizados, em medidas repetidas; F1, 16 = 10,48; P = 0,005; Fig. 1). As formigas recrutaram nas folhas que receberam solução da planta, mas não recrutaram quando água foi aplicada nas folhas do tratamento controle (Fig. 2A, Tab. 1). Esta diferença de recrutamento entre os tratamentos ao longo do tempo foi significativa, como indicado pela interação “Tempo x Tratamento” (Tab. 1). Solução de folhas novas induziram muito mais o recrutamento das formigas em relação à solução das folhas velhas (Fig. 2B, Tab. 1). Comportamentos de recrutamento Durante os experimentos, alguns comportamentos de recrutamento das formigas foram registrados. Foi observado que, após o corte foliar, algumas formigas (n = 1 a 3) que estavam próximas se deslocaram até o dano, antenaram e parece terem tocado o local danificado com a mandíbula. Após poucos segundos, se deslocaram rapidamente até o interior das domáceas. Após 3-4 s, muitas formigas saíram das domácease se deslocaram rapidamente para o local do corte. Antes do início dos experimentos, as poucas formigas sobre o limbo foliar estavam quase estáticas, se deslocando muito pouco e bem lentamente. Após o dano, as formigas tornaram-se muito ativas e se deslocaram bastante. Após algum tempo (aprox. 15-25 min), muitas formigas entraram novamente nas domáceas e as que ficaram, permaneceram estáticas, como antes da perturbação. Nos experimentos envolvendo as soluções, quando a água foi aplicada, as formigas não recrutaram e nem se aproximaram. Quando solução de folhas velhas foi aplicada, algumas poucas formigas recrutaram, chegaram até as gotas, antenaram mas não permaneceram neste local por muito tempo. Em contraste, as formigas das folhas que receberam solução de folhas novas recrutaram como se houvesse um dano foliar (veja acima), várias chegaram até as gotas, antenaram e parece terem tocado estas com as mandíbulas e permaneceram lá por vários segundos. 20 cortada-nova 18 controle (1) cortada-velha 16 controle (2) 14 12 10 8 6 4 2 0 0 1 3 5 10 15 Tempo (min) Fig. 1. Variação no número médio de formigas por folha (± 1 Erro Padrão) entre os tratamentos 1) folhas novas cortadas (ramo experimental) e folhas novas agitadas (controle 1) e 2) folhas velhas cortadas (ramo experimental) e folhas velhas agitadas (controle 2), ao longo do tempo. A) Solução Controle 25 20 15 10 5 0 0 B) 1 3 5 10 15 5 10 15 Folhas novas Folhas velhas 35 30 25 20 15 10 5 0 0 1 3 Fig. 2. Variação no número médio de formigas por folha (± 1 Erro Padrão) entre os tratamentos 1) solução de folhas novas (experimental) e 2) água (controle) (A), e 1) solução de folhas novas e de folhas velhas (B) ao longo do tempo. Tab. 1. ANOVA em blocos randomizados, em medidas repetidas examinando o recrutamento de formigas (número/folha) 1) após o corte das folhas novas entre os tratamentos controle e experimental, 2) após o corte das folhas velhas entre os tratamentos controle e experimental, 3) após aplicação de solução da planta e água e 4) após aplicação de solução de folhas novas e velhas da planta. Plantas foram consideradas como blocos e tempo como um fator de repetição. Fonte Corte foliar (folhas novas) Planta Tratamento Erro Tempo Tempo x Planta Tempo x Tratamento Erro gl MQ F P 16 1 16 5 80 5 80 306,75 2590,83 158,06 116,29 20,00 142,20 20,11 1,94 16,39 0,098 0,001 5,78 0,99 7,07 0,000 0,509 0,000 Corte foliar (folhas velhas) Planta Tratamento Erro Tempo Tempo x Planta Tempo x Tratamento Erro 16 1 16 5 80 5 80 40,83 224,49 18,96 15,25 3,54 12,09 3,30 2,15 11,84 0,068 0,003 4,63 1,07 3,67 0,001 0,370 0,005 Água vs. solução da planta Planta Tratamento Erro Tempo Tempo x Planta Tempo x Tratamento Erro 9 1 9 5 45 5 45 726,31 2288,13 169,13 90,84 13,64 83,93 10,31 4,29 13,53 0,020 0,005 8,81 1,32 8,14 0,000 0,176 0,000 Solução de folhas velhas vs. novas Planta Tratamento Erro Tempo Tempo x Planta Tempo x Tratamento Erro 9 1 9 5 45 5 45 788,44 2803,33 120,54 469,28 57,96 202,77 23,87 6,54 23,25 0,005 0,001 19,66 2,43 8,49 0,000 0,002 0,000 G-G 0,006 0,506 0,002 0,018 0,422 0,039 0,001 0,264 0,002 0,000 0,019 0,001 Discussão Os experimentos que simularam herbívoros (corte foliar) demonstraram que as formigas podem recrutar em resposta induzida a um ataque. Isto indica que as formigas devem ter um papel defensivo muito importante para as plantas na remoção de herbívoros. Vários trabalhos vêm demonstrando que quando as formigas estão ausentes nas domáceas das plantas hospedeiras, a taxa de herbívoros removidos (Oliveira et al. 1987) e a taxa de herbivoria foliar (Vasconcelos 1991, Rocha & Bergallo 1992, Fowler 1993, Fonseca 1994) aumentam em relação às plantas com presença destes insetos. Tanto folhas novas quanto velhas, quando cortadas, recrutaram mais formigas do que as respectivas folhas controle. Entretanto, as formigas responderam numericamente mais nas folhas novas do que nas velhas. Duas hipóteses podem ser aventadas para o fato. Primeiro, apenas folhas novas seriam portadoras de voláteis e quando estas sofrem danos, dissipariam no ar e poderiam estimular as formigas. Por outro lado, o número de formigas nas domáceas das folhas velhas e novas pode ser diferente e, desta forma, o recrutamento pode ser dependente do número de indivíduos nas folhas e proporcionalmente haver menor número de formigas que foram recrutadas. Em outros sistemas foi demonstrado que o número de formigas é maior nas domáceas das folhas mais novas (Vasconcelos 1993) As análises mostraram que as formigas respondem após a exposição de solução de folhas da planta hospedeira, indicando que são induzidas a recrutar sob estímulos de voláteis químicos. No sistema Azteca – Cecropia, danos foliares e extratos de folhas obtidos com metanol induziram as formigas ao recrutamento (Agrawal et al. 1999). Neste mesmo sistema, Agrawal (1998) demonstrou que as formigas que vivem em plantas cujas folhas foram previamente danificadas recrutaram mais rapidamente do que aquelas que vivem em plantas que não sofreram danos, sugerindo a existência de uma memória das formigas em relação aos voláteis da planta. Extratos de folhas novas induziram com maior intensidade o recrutamento das formigas em relação ao extrato de folhas velhas. Estes resultados refutam em parte a hipótese aventada de que folhas velhas têm menor número de formigas e corroboram a hipótese de que compostos químicos podem estar envolvidos no recrutamento. Folhas novas são mais Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 83 susceptíveis ao ataque de um herbívoro e, por isso, devem ser melhor defendidas (Coley & Barone 1996). Hirtella myrmecophylla poderia estar alocando e induzindo voláteis após o ataque de um herbívoro e estimulando as formigas a recrutar, ou pode ser apenas uma resposta passiva, em que as formigas estariam usando o odor e líquidos extravasados da planta com pistas químicas. Brouat et al. (2000) demonstrou que a formiga Petalomyrmex phylax que se abriga na planta mirmecófita Leonardoxa africana (Fabaceae) respondeu aos estímulos de extratos de folhas novas e não das folhas velhas. Os autores explicam que abundância e/ ou composição de folhas velhas e novas são diferentes e que insetos poderiam ser capazes de responder a tais diferenças. Encontraram grande concentração de metil salicilato nas folhas novas e não nas velhas, mas comentam que a origem destes mecanismos de indução ainda não estão muito compreendidos. Comportamentos como os de antenação observados durante os experimentos do presente trabalho também foram observados por Brouat et al. (2000), mas o significado destes comportamentos ainda são desconhecidos. Agradecimentos Estou muito grato ao Eduardo Venticinque (Dadão) pelas discussões filosofico-estatísticas, pelo auxílio das suas aplicações e pela leitura crítica do manuscrito. Agradeço também Glauco Machado e Fernando Mendonça pelas críticas e sugestões do manuscrito, ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (INPA/Smithsonian) pelo suporte logístico, novamente ao Fernando Mendonça pela atenção e prontidão durante todo o período no campo. Também agradeço Jansen Zuanon pelas discussões biológicas durante o curso, “Juruna” (Ocírio) pela ajuda no campo e pelas risadas que me provocou e aos meus colegas do curso que tornaram amigos, pela boa convivência e diversão até nos momentos ruins. Referências Bibliográficas Agrawal, A. A. 1998. Leaf damage and associated cues induce aggressive ant recruitment in a neotropical ant-plant. Ecology 79: 2100-2112. Agrawal, A. A. & M. T. Rutter. 1998. 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Prentice Hall, Upper Saddle River, New Jersey. Impacto predatório de formigas sobre herbívoros não mutualistas em Mimosa guilandinae var. spruceana (Leguminosae: Mimosoideae) na Amazônica Central Jean Carlos Santos Introdução Formigas podem estabelecer mutualismos facultativos ou obrigatórios, tanto com organismos animais quanto com vegetais (Hölldobler & Wilson 1990). Na maioria dos casos estas interações envolvem plantas com nectários extraflorais (NEFs) (Oliveira & Pie 1998; Del-Claro & Santos 2000), homópteros (Buckley 1987; Cushman & Addicott 1991; Del-Claro & Oliveira 1999) e lagartas de borboletas (Fieldler & Maschwitz 84 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 1989). Nestas relações ambos os membros da interação são beneficiados (Bronstein 1998): as formigas recebem alimento (néctar ou exudado) e os demais organismos recebem proteção contra inimigos naturais, que podem ser predadores, parasitas e/ou competidores. A proteção contra inimigos naturais se deve ao comportamento predatório e à agressividade de muitas espécies de formigas nas proximidades destas fontes alimentares (Oliveira & Pie 1998). No entanto, as conseqüências destas interações mutualísticas para as plantas hospedeiras, principalmente nas relações com homópteros e lagartas de borboletas, ainda não estão bem esclarecidas. Vários estudos têm constatado o potencial antiherbívoro das formigas em plantas com NEFs (Horvitz & Schemske 1984; Oliveira et al. 1987; Del-Claro et al. 1996). Messina (1981) e Buckley (1983) demonstraram que plantas com homópteros associados com formigas apresentaram menores taxas de herbivoria do que plantas da mesma espécie desprovidas da interação. Nestas interações entre formigas e organismos associados, poucos estudos reconhecem que a qualidade do benefício recebido pelas plantas depende das espécies de formigas e dos herbívoros associados (Del-Claro 1998; DelClaro & Oliveira 2000). Herbívoros podem afetar tanto diretamente quanto indiretamente a planta hospedeira, influenciando na fenologia e caracteres florais, produzindo assim uma variação negativa na aptidão das espécies vegetais (Brody 1997; Strauss 1997). O objeto de estudo foi Mimosa guilandinae var. spruceana, uma espécie de liana lenhosa que apresenta NEFs na base de cada folíolo (Ribeiro et al. 1999). Esta planta possui interações com formigas e suas folhas são constantemente atacadas por uma lagarta de uma espécie de Lycaenidae (Lepidoptera), que também interage com as formigas. Independentemente da presença da lagarta, é provável que as formigas confiram proteção à planta. No entanto, espera-se que nas que envolvem a presença dessa lagartas, as formigas tenham respostas mais tardias contra herbívoros, por dedicarem um tempo maior no cuidado às lagartas. Este estudo teve como objetivos: a). avaliar o impacto predatório de formigas sobre potenciais herbívoros não mutualistas em M. guilandinae; b) avaliar se a presença das formigas interfere na predação das lagartas. Material e Métodos Este estudo foi realizado na Reserva do Km 41, localizada cerca de 70 Km de Manaus no Distrito Agropecuário de Suframa (54°50’W; 02°25’S), pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF – INPA), entre os dias 30 de julho e 02 de agosto de 2002. As coletas de campo foram realizadas na borda da estrada ZF3, entre Km 40 e 41, em área coberta por floresta de terra firme. O comportamento de forrageamento de formigas frente a potenciais herbívoros não mutualistas foi avaliado usando operárias de cupins (Isoptera) vivas como iscas, simulando herbívoros. Iscas de cupins têm sido usadas em experimentos de campo para avaliar padrões de predação de formigas em plantas com NEFs (veja metodologia em Oliveira et al. 1987; Oliveira 1997). Os indivíduos de M. guilandinae foram divididos em dois grupos de tratamentos: um grupo de NEFs e lagartas (N = 10 plantas com uma lagarta e 10 com duas) e um grupo com apenas NEFs (N = 20 plantas). Utilizou-se como grupo controle espécies de angiospermas sem NEFs, lagartas e homópteros (N = 20 plantas). Uma isca de cupim era colada viva pelo dorso na face adaxial de folhas novas ou velhas, escolhidas aleatoriamente. Para as plantas com lagartas estipulava-se uma distância de 20cm das lagartas para colocação das iscas. Pequenas quantidades de cola (Cascolarâ Alba Química) eram utilizadas nos cupins para minimizar um possível interferência no comportamento das formigas. A isca foi monitorada no período de 10 minutos e o tempo do primeiro contato registrado. Esta manipulação foi realizada uma única vez para cada planta. Para testar o efeito da predação sobre as lagartas, dez pares de plantas entre 0,5 e 1,5 m de altura foram escolhidas aleatoriamente. Estas plantas foram divididas em dois grupos: tratamento e controle. As plantas do grupo controle foram mantidas em seu estado natural e receberam graxa na metade do perímetro do caule, cerca de 10 cm do solo, de forma que as formigas tivessem livre acesso à planta. No grupo tratamento excluiu-se manualmente as formigas e aplicou-se a graxa em todo perímetro do caule, impedindo o acesso das formigas à folhagem. Em cada planta foi colocada uma lagarta junto ao meristema apical. Dois dias após a montagem do experimento, cada planta foi verificada quanto à presença e a ausência das lagartas. Para verificar a taxa de parasitismo nas lagartas foram coletadas aleatoriamente 68 indivíduos de diferentes tamanhos. Estes foram diferenciadas em parasitadas e não parasitadas através da variação da coloração. As lagartas de coloração amarelada apresentavam parasitismo constatado por observações preliminares. Dados sobre a história natural dos licenídeos e suas relações com a M. guilandinae foram coletados durante todo o experimento, totalizando 24 horas de observações. Estas observações foram diretas à vista desarmada “ad libitum” segundo Altmann (1974). O teste Qui-quadrado foi utilizado para se analisar a taxa de predação de lagartas entre os grupos experimentais. Como não havia normalidade na distribuição dos dados, uma ANOVA ranqueada foi utilizada para comparação do tempo do primeiro ataque das formigas (Conover & Iman 1981; Zar 1984). Resultados História natural: interações entre Lycaenidae, formigas e Mimosa guilandinae As lagartas de Lycaenidae encontravam-se, normalmente, em folhas jovens e meristemas, mas ocorriam em folhas velhas e caules. Na maioria dos casos, as lagartas construíam abrigos naturais juntando duas folhas ligadas por seda, eventualmente, elas eram cobertas por detritos que as formigas colocavam. As lagartas ocorriam isoladamente ou em grupamentos que variavam em número e tamanho de indivíduos. O tamanho dos indivíduos variava entre 0,1 e 2,05 cm (X = 1,10 ± 0,55 cm; N = 20). Comumente, achava-se apenas um único grupamento ou uma única lagarta por planta. Os principais inimigos naturais foram: aranhas (Salticedae) abundantes sobre a planta, vespas predadoras e dípteros parasitóides. Das lagartas amostradas cerca de 23,53% (N = 16) estavam parasitadas. O díptero eclode das lagartas de ultímos instares e logo em seguida empupa. As espécies de formigas encontradas visitando os NEFs de M. guilandinae e atendendo as lagartas foram: Azteca sp. (Dolychoderinae), Ectatomma sp. (Ponerinae), Camponotus sp. (Formicinae) e Crematogaster sp (Myrmicinae), sendo que Azteca sp. foi a espécie dominante sobre a planta. Manipulações experimentais As iscas de cupins foram atacadas duas vezes mais nas plantas com NEFs (20 cupins atacados) e nas com NEFs e lagartas (20 cupins atacados) do que nas sem NEFs (09 cupins atacados). O tempo de primeiro contato das formigas diferiu significativamente entre os três grupos amostrados (F = 45,48; gl = 2; p < 0,001; Fig. 1). Comparando os grupos “a posteri” por meio do Teste de Turkey, verificou-se que as formigas atacam os cupins 1,5 vezes mais rapidamente nas plantas com NEFs em relação às plantas com NEFs e lagartas (F = 45,48; gl = 2; p < 0,001; Fig. 1), e são 2,5 vezes mais rápidas em relação às plantas sem NEFs e lagartas (F = 45,48; gl = 2; p < 0,001; Fig. 1). A quantidade de lagartas na planta não interferiu no tempo de ataque das formigas sobre os cupins, por isso os grupos com uma e duas lagartas foram agrupados (F = 29,80; gl = 3; p < 0,001). Não houve diferenças significativas na taxa de predação de lagartas em plantas com e sem formigas (X2 = 1,071; gl = 1; p = 0,301). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 85 possivelmente o fizeram. Uma outra explicação, seria que as formigas não atendem em tempo integral às lagartas. É possível que a predação tenha ocorrido no período noturno, na ausência de atividades de algumas espécies de formigas que possuem hábitos diurnos. Estudos realizados com homópteros e NEFs mostraram que as formigas conferem proteção diferencial ao organismo associado, dependendo da espécie e do comportamento da formiga (Del-Claro 1998; Del-Claro & Oliveira 1999). Assim, as espécies que atenderam as lagartas neste estudo, podem não ter conferido uma proteção integral contra os inimigos naturais das lagartas. 55.0 Tempo (s) 45.8 36.6 Agradecimentos 27.4 18.2 9.0 A B C Grupos Fig. 1 – Diferenças entre os tempos de primeiro contato com as iscas de cupins por formigas em plantas com NEFs e lagartas de Lycaenidae (A), apenas com NEFs (B) e sem NEFs ou lagartas (C). As barras indicam a o erro padrão (F = 45,48; gl = 2; p < 0,001). Discussão Muitos estudos têm demostrado que formigas são eficientes agentes anti-herbívoros em plantas com NEFs (veja revisão em Oliveira & Pie 1998 e Del-Claro & Santos, 2000), o que coincide com os resultados encontrados no presente estudo. De fato, as formigas como as do gênero Azteca, além de coletarem néctar extrafloral e secreções da lagarta, forrageiam ativamente sobre as folhas de M. guilandinae. Este comportamento de forrageamento, envolve o ataque a muitos herbívoros, acarretando em injúrias e mesmo na predação destes herbívoros (Oliveira & Pie 1998). As secreções de lagartas licenídeos são um importante recurso energético para várias espécies de formigas (Hölldobler & Wilson 1990). Em interações mutualísticas deste tipo, as formigas dedicam um tempo considerável no atendimento as lagartas. Consequentemente, menos indivíduos forrageiam sobre as folhas da planta o que diminui a probabilidade de encontro a herbívoros não mutualistas. Isto poderia explicar o maior intervalo de tempo do primeiro contato nas plantas com NEFs e lagartas, em relação às plantas apenas com NEFs. A distribuição espacial das lagartas pode ter sido responsável pela não significância entre o número de lagartas e o tempo de primeiro contato das formigas. As formigas parecem reservar o mesmo esforço numérico para atender tanto uma quanto duas lagartas. Talvez esse efeito apareça para grupamentos maiores de lagartas, já que é possível que o número de formigas que atenda as lagartas esteja relacionado com o número de lagartas. Conseqüentemente, quanto maior o número de lagartas, maior será o número de formigas nos grupamentos e maior probabilidade da formiga encontrar o herbívoro. A maior vantagem para lagartas que interagem com formigas é a proteção contra predadores e parasitóides (Hölldobler & Wilson 1990). As lagartas, neste estudo, foram predadas independentemente da presença de formigas, contrariando a hipótese acima, o que poderia ser explicado por fatores não controlados no experimento. Algumas lagartas apresentavam parasitismo por dípteros, o que significa que estes parasitóides transpuseram a predação das formigas, como predadores 86 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Aos coodernadores do curso de campo, Dr. Janzen Zuanon e Eduardo Venticinque pela orientação, dedicação e amizade. À Ocírio (Juruna) e Fernando P. Mendonça pelo auxílio técnico e amizade. À toda equipe de professores e funcionários deste curso. Ao Dr. Glauco Machado pelas sugestões, conselhos e orientação neste estudo (indispensável). À Ricado Darigo pela identificação das espécies vegetais. À Flávia Coelho e Gustavo Romero pelas análises estatísticas. Aos colegas de curso pelo companheirismo. Referências Bibliográficas Altmann, J. 1974. Observational study of behavior: sampling methods. Behaviour 49: 227-265. Brody, A.K. 1997. Effects of pollinators, herbivores, and seed predators on flowering phenology. Ecology 78(6): 1624– 1631. Bronstein, J.L. 1994. Conditional outcomes in mutualistic interactions. Trends Ecol. Evol. 9: 214–217. Bronstein, J.L. 1998. The contribution of ant-plant protection studies to our understanding of mutualism. Biotropica 30(2): 150–161. Buckley, R.C. 1983. 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Oliveira. 1999 Ant-homoptera interactions in a Neotropical Savanna: the honeydew-producing treehopper Guayaquila xiphias (Membracidae) and its ant fauna on Didymopanax vinosum (Araliaceae). Biotropica 31(1): 135-144. Del-Claro, K. & P.S. Oliveira. 2000. Conditional outcomes in a neotropical treehopper-ant association: temporal and species-specific variation in ant protection and homopteran fecundity. Oecologia 124: 156–165. Del-Claro, K.; V. Berto & W. Réu. 1996. Effect of herbivore deterrence by ants increase fruit set in an extrafloral nectary plant, Qualea multiflora (Vochysiaceae). J. Trop. Ecol. 12: 887-892. Fiedler, K. & U. Maschwitz. 1989. The symbiosis between the weaver ant, Oecophylla smaragdina, and Anthene emolus an obligate myrmecophilous lycaenid butterfly. J. Nat. Hist., 23: 833-846. Hölldolbler, B. & E. O. Wilson. 1990. The ants. The Belknap Press of Harvard University Press. Cambridge, MA. Horvitz, C.C. & D.W. Schemske. 1984. 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Martins; L.G. Lohmann; P.A.C.L. Assunção; E. da C. Pereira; C.F. da Silva; M.R. Mesquita; L.C. Procópio. 1999. Flora da Reserva Ducke. Guia de identificação de plantas vasculares de uma floresta de terra-firme na Amazônia Central. Inpa-DFID. Manaus, Brasil. 816 p. Strauss, S. Y. 1997. Floral characters link herbivores, pollinators, and plant fitness. Ecology 78(6): 1640–1645. Zar, J.H. 1984. Biostatitical analysis. Englewood Cliffs, N. J.: Prentice-Hall. 718p. Distribuição espacial de algumas plantas de igarapé: há partição de recursos? Karl S. Mokross Introdução Hutchinson em 1959 propôs a teoria da partição de recursos analisando os limites que a competição interespecífica pode impor ao número de espécies que podem coexistir em um dado local (Schoener 1974). Ou seja, as espécies que ocorrem naturalmente em um sistema estariam adaptadas à coexistência sem competição, como reflexo de eventos no passado que determinaram os nichos para cada espécie, partindo do princípio postulado por Gause (1934) que muitas espécies não podem coexistir usando o mesmo recurso limitante (Schoener 1974). Assim, caso as espécies apresentem partição de recurso, existem grandes chances de encontrarmos espécies em sítios com características muito definidas. Florestas de baixio ocupam planícies aluviais ao longo de igarapés e são importante componente da floresta de terra firme da Amazônia (Puhakka et al. 1992). Estes locais têm predominância de solo arenoso encharcado com acúmulo de sedimentos. Os solos possuem muitas raízes superficiais, árvores com raízes escora e adventícias. São florestas com árvores relativamente baixas, chegando a cerca de 20-25m de altura e ervas de áreas encharcadas como Rapateaceae, Marantaceae e Cyclanthaceae (Ribeiro et al. 2000). Existem três zonas ecológicas em igarapés: a zona de inundação, ou curso inferior, a zona intermediária, ou curso médio, e a zona não inundável ou curso superior (Fittkau 1967). Igarapés são ambientes espacialmente limitados com um número relativamente baixo de espécies de plantas que ocupam o estrato inferior da vegetação(Bürnheim 1998). Neste estudo pretendi analisar se existe um preferência na localização das espécies Urospatha saggitifolia (Araceae), Rapatea ulei (Rapateaceae), Calathea mansoni e Ischnosipon obliquus (Marantaceae), Pepenia sprucei (Bromeliaceae)e Oenocarpus bataua (Arecaceae) em relação a três fatores físicos: cobertura de matéria orgânica, inundação e cobertura do dossel, desta forma determinando se ocorre uma divisão de recursos entre estas espécies. Material e Métodos O estudo foi conduzido no igarapé do 41 que atravessa a reserva de mata contínua do km 41 (2o28’S, 59o46’W) dentro Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais a cerca de 70 km de Manaus, AM. O igarapé do 41 faz parte da cabeceira de drenagem da bacia do Rio Urubu, afluente da margem esquerda do curso médio do Rio Amazonas (Bürnheim 1998). A vegetação aquática é esparsa com poucas espécies freqüentes, como Ischnosiphon spp. (Marantaceae), Thurnia spp. (Thurneraceae), Pepenia sprucei (Bromeliaceae), Schenia spp., Philodendron spp. e Urospatha spp. (Araceae) e Cyclanthaceae (Bürnheim 1998). Foram colocadas 78 parcelas de 2x2m, distanciadas pelo menos em 5m entre si, dentro da zona de inundação do igarapé. Áreas onde havia árvores caídas com muitos galhos não foram amostradas por não haver vegetação presente devido à falta de substrato exposto, que impossibilita o estabelecimento das espécies estudadas. Locais na calha principal do igarapé também foram ignorados por não ser possível o crescimento de vegetação em locais muito profundos e com correnteza. A partir do calha principal foi escolhido o local de amostragem na margem esquerda ou direita, a partir de uma Tab. de números aleatórios. Após a tomada de dados, avançava-se aproximadamente 5m ao longo do igarapé e repetia-se o procedimento. Foram usadas cinco espécies que se encontravam com alta freqüência neste sistema, Urospatha saggitifolia (Araceae), Rapatea ulei (Rapateaceae), Ischnosipon obliquus (Marantaceae), Pepenia sprucei (Bromeliaceae), Oenocarpus bataua (Arecaceae) e Calathea mansoni (Marantaceae). Espécies hemiepífitas como Philodendron spp. ou qualquer uma das espécies que estivessem crescendo sobre troncos foram ignoradas neste estudo pois não estariam dividindo o mesmo ambiente que as demais espécies estudadas e portanto não compartilhando os mesmos recursos. As espécies apresentam o mesmo porte e poderiam estar competindo pelos mesmos recursos, como luz e substrato. A palmeira O. bataua, que pode atingir 10m de altura, só foi contabilizada quando medindo menos de 1 m de altura. Indivíduos com menos de 30 cm também não foram incluídos por ainda possuírem dependência de reservas cotiledonares, e logo, com certa independência do meio físico. O mesmo procedimento foi feito para P. sprucei, já que a planta adulta pode alcançar mais de um metro, e quando atinge este porte as condições sob as quais esta planta se estabeleceu possivelmente já não são as mesmas, interferindo na análise dos dados. A cobertura de dossel foi anotada por meio um densiômetro esférico no centro de cada parcela, enquanto que as variáveis inundação e matéria orgânica, neste caso considerada a Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 87 porcentagem de área nas parcelas que não estava coberta por areia, foram expressas em porcentagem por meio de estimativa visual direta no sítio. Foi feita uma regressão logística múltipla para os valores de cobertura área inundada, porcentagem de matéria orgânica, cobertura de dossel e registro de presença ou ausência de cada espécie. Resultados Foram contabilizadas 189 plantas em 79 parcelas ao longo de uma extensão de cerca de 800m ao longo do igarapé do 41. Os valores de G,p e erro padrão estão na Tab. 1. A freqüência de ocorrência de cada espécie é apresentada na Tab. 2. Não foi encontrada nenhuma influência significativa a para cobertura de área inundada e a presença das espécies estudadas. Encontrei apenas uma relação entre a cobertura de matéria orgânica para Pepenia sprucei, e luminosidade para Urospatha saggitifolia e Oenocarpus bataua. Pude observar maior freqüência de U. saggitifolia em ambientes mais iluminados, independentemente do tipo de substrato, enquanto que P. sprucei, a espécie mais freqüentemente encontrada, parece ocorrer em locais com alta porcentagem de cobertura de matéria orgânica que, em média, foi de 76% por parcela amostrada. Tab. 1. Valores obtidos para a regressão logística feita para cada espécie com as variáveis porcentagem de área inundada (ag), porcentagem de matéria orgânica no solo (mo) e cobertura de dossel (cob). espécie Calathea mansoni ag mo cob G P coef. 0.608 -0.064 -0.034 1.7145 0.634 1.724 0.632 9.949 0.019 4.850 0.183 2.431 0.488 6.295 0.098 t-ratio 0.641 -0.061 -1.069 p-value 0.522 0.952 0.285 coef. 0.258 1.029 -0.012 t-ratio 0.358 1.113 -0.542 p-value 0.720 0.265 0.588 Ischnosipon obliquus Oenocarpus bataua Pepenia sprucei Rapatea ulei coef. -0.955 0.584 -0.055 t-ratio -1.315 0.662 -2.311 p-value 0.189 0.508 0.021 coef. 0.324 1.511 -0.009 t-ratio 0.513 2.017 -0.515 p-value 0.608 0.044 -0.606 coef. 1.058 0.041 0.006 t-ratio 1.448 0.052 0.281 p-value 0.148 0.959 0.779 coef. 0.547 -0.736 0.050 t-ratio 0.649 -.0868 2.124 p-value 0.516 0.385 0.034 Urospatha sagitifolia Discussão As espécies amostradas nas áreas inundáveis de igarapé aparentemente não apresentam divisões de habitat muito restritas, apesar de ser possível estimar alguns padrões na distribuição espacial para as espécies Pepenia sprucei, Urospatha saggitifolia e Oenocarpus bataua. Os indivíduos desta última espécie devem se estabelecer e crescer em locais onde possam atingir maiores taxas de crescimento, já que atingem porte arbóreo. Nenhuma das espécies apresentou relação com a porcentagem de área inundada, talvez porque todas estas desenvolveram 88 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Tab. 2. Número de indivíduos de plantas herbáceas de baixios de igarapés e suas respectivas freqüências relativas. número total de Espécie freqüência relativa ocorrências Calathea mansoni 12 6.3% Ischnosiphon obliquus 33 17.4% Pepenia sprucei 59 31.2% Oenucarpus bataua 38 20% Rapatea ulei 28 14.8% Urospatha saggitifolia 19 10% mecanismos para poderem sobreviver neste ambiente que pode estar constantemente alagado em alguns locais. Este que pode ser um dos fatores responsáveis pelo número relativamente baixo de espécies herbáceas nos ambientes de baixio. Assim, todas as espécies estudadas apresentaram-se igualmente distribuídas em relação a esta variável. Talvez luz seja o recurso limitante neste sistema, que apesar da baixa altura do estrato arbóreo, abriga uma grande proporção de palmeiras emergindo nestes locais, que provocam uma menor entrada de luz no estrato próximo ao chão. A taxa de mortalidade de árvores parece ser alta nestes locais, com a ativa e constante erosão das margens e queda destas abrindo clareiras, e possibilitando o estabelecimento de algumas espécies. Apesar deste fator ter sido descrito por Walker (1995) para igarapés maiores, como o Tarumã-mirim, no qual ela realizou seus estudos (Walker 1987) uma alta quantidade de árvores caídas também pôde ser observada neste local devido a este fator. Como foi também observado por Bürnheim (1998), espécies de pequeno porte ocorrem com maior freqüência próximas a árvores caídas, que proporcionam maior entrada de luz solar, possibilitando o estabelecimento de espécies com menos tolerância a ambientes pouco iluminados, como U. saggitifolia. Os ambientes com muita matéria orgânica depositada na verdade podem se apresentar como ambientes extremos, com baixa quantidade de oxigênio no solo (Kenneth Young com. pessoal) onde na verdade poucas espécies possuem adaptações para se estabelecerem, como P. sprucei. Logo, pode-se explicar em parte a alta ocorrência desta espécie, que consegue se estabelecer em um substrato pouco favorável para outras espécies e que cobre grande porcentagem da área disponível na zona inferior dos baixios. Um último fator que deve ser considerado é que a vegetação de baixio encontra-se em um sistema muito dinâmico, com a composição física alterando-se anualmente. Na época de chuvas a descarga de água aumenta nos igarapés, ocasionando o arraste do substrato arenoso em habitats rasos e aumentando a profundidade; em habitats fundos o folhiço é deslocado, aumentando o percentual de areia no substrato (Bürnheim 1998). O mosaico de substratos que cobre estas áreas, pode ser varrido durante as estação chuvosa todos os anos, logo, as características físicas nas quais as plantas se localizam podem estar alterando em pouco tempo, dificultando estimar com segurança as suas condições de estabelecimento. Existe a possibilidade de que as características dos locais onde alguns indivíduos foram amostrados sejam diferentes de quando estes se estabeleceram, o que pode influenciar os dados obtidos. Logo o que podemos na verdade estar observando talvez não seja um produto da competição por recursos, mais sim a presença de poucas espécies que se adaptaram a certas condições extremas como alagamento constante, baixas taxas de oxigênio dissolvido no substrato e mudanças freqüentes e imprevisíveis na composição do substrato. Agradecimentos Devo muito a todos, aos colegas que me ajudaram durante discussões, conselhos ou imensa ajuda com a estatística do SYSTAT. Agradeço ao Dadão, Jansen, Fernando, Gustavo, Glauco, e a Adam, Gabiru e Felipe pelo jogo de bola que me ajudou a me distrair um pouco. E Paula, por simplesmente ser. Referências bibliográficas Bürnehim, C.M. 1998. Estrutura de Comunidades de Peixes em Igarapés de Floresta de Terra Firme na Amazônia Central. Dissertação de Mestrado. INPA, Manaus Clark, D.B., Clark, D.A., Read, J.M. 1998. Edaphic variation and the mesoscale distribution of tree species in a neotropical rain forest. J. Ecol. 86: 101-112. Fittkau, E.J. 1964. Remarks on lymnology of central-Amazon rainforest streams. Verh. Intern. Verein. Limnol. 15:10921096. Schoener, T.W. 1974. Resource partitioning in ecological communities. Science 185: 27-38. Puhakka, M., Kaliolla, R., Rajasilta, M., Sallo, J. 1992. River types, site evolution and successional vegetation patterns in Peruvian Amazonia. J. Biogeog. 19: 651-665. 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Induzindo formigas cortadeiras (Atta cephalotes) a rejeitar plantas hospedeiras palatáveis: modificação do comportamento de forrageamento por manipulação da comunicação formiga-fungo Adam Kaveh Bahrami Introdução As formigas cortadeiras (Atta spp.) são simbiontes que cultivam um fungo dentro do seu ninho (Hölldobler & Wilson 1990). Essa simbiose representa uma grande inovação na evolução e, apesar da sua origem recente (50-23 milhões de anos ap), já se espalhou por quase todo o Novo Mundo (Chapela et al. 1994). As formigas cortam fragmentos de folhas e os levam para alimentar seu fungo (Basidiomycota: Agricales). Em troca, o fungo fornece alimento importante para as formigas, especialmente as larvas (Quinlan & Cherett 1979). Embora as formigas sejam especialistas, pois comem somente filamentos de fungo e seiva de plantas (Quinlan & Cherett 1979), elas são funcionalmente generalistas, consumindo indiretamente 10-50% das espécies de plantas numa área (Cherett 1968, Rockwood & Hubbell 1987) e, muitas vezes, representam grandes pragas na agricultura (Cherett 1968, Hölldobler & Wilson 1990). Esse generalismo é devido ao metabolismo do fungo que pode metabolizar uma maior diversidade de compostos secundários de plantas do que as formigas (Martin 1987). Apesar da grande diversidade de plantas coletadas, as cortadeiras são seletivas nessa decisão, evitando constantemente certas espécies de plantas (Cherett 1968, Hubbell et al. 1984, Howard 1987, Rockwood & Hubbell 1987). Os trabalhos de Hubbell et al. (1984), Howard (1987) e Howard et al. (1988) mostraram que essa escolha é principalmente determinada pela composição química de compostos secundários, embora as defesas físicas e a qualidade de nutrientes também possam ser importantes. Compostos secundários da classe dos terpenóides, venenosos para o fungo, têm sido identificados em algumas espécies de plantas não coletadas (Hubbell et al. 1983, Howard et al. 1988). Recentemente, Ridley et al. (1996) descobriram que as cortadeiras podem aprender e lembrar quais itens alimentares são impalatáveis ao fungo através de um mecanismo que se chama “rejeição demorada” (RD). Em colônias de laboratório, iscas feitas de casca de laranja são coletadas continuamente pelas formigas e oferecidas ao fungo. A mesma isca com adição do fungicida cycloheximide é coletada no início, porém é rejeitada depois de dois dias. Após esse período, as formigas rejeitam não somente a isca de laranja com cycloheximide, mas também iscas de laranja sem tal composto químico e iscas feitas de casca de outra planta cítrica (“grapefruit”) (Ridley et al. 1996). Por outro lado, iscas feitas de amora não são rejeitadas, mostrando que as cortadeiras (a) reconhecem o tipo de planta e não o fungicida especificamente e (b) podem discernir plantas pouco aparentadas, mas não são capazes de diferenciar plantas filogeneticamente próximas (Ridley et al. 1996). Um trabalho seguinte mostrou que o estado bioquímico do fungo media a capacidade das formigas de aprender a rejeitar iscas de plantas tóxicas. Quando duas colônias, ambas com formigas e fungos, são criadas ao mesmo tempo e uma delas apresenta RD, por ter sido exposta à isca com cycloheximide, a troca do fungo entre as colônias resulta em comportamento de rejeição imediata nas formigas não expostas a iscas com fungicida anterioramente (North et al. 1999). Inversamente, formigas que apresentavam RD devido à exposição a cycloheximide antes da troca, mudam seu comportamento instantaneamente e aceitam essa isca tóxica depois da troca do fungo “ingênuo” (North et al. 1999). Esses resultados indicam que as formigas recebem, diretamente do fungo, a informação sobre a qualidade da planta, e são capazes de modificar seu comportamento com base nessa informação. Além disso, o fato do comportamento de coleta ser reversível sugere comunicação constante do fungo com as formigas. Devido à capacidade de aprendizagem das formigas, seu comportamento de forrageamento pode ser rapidamente alterado quando um alimento tóxico para o fungo é coletado, minimizando o risco de explorar novas plantas hospedeiras. Em teoria, essa capacidade permite que as cortadeiras ampliem o espectro de itens alimentares no caso de exposição de novas plantas hospedeiras, devido à introdução ou diversificação de plantas, ou até mesmo à expansão dos limites de forrageamento. É Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 89 O estudo foi realizado na reserva Km 41 (2o 25’S, 59o 59’W), Manaus (AM) entre 31 de julho e 03 de agosto de 2002. Localizei oito formigueiros de Atta cephalotes (Formicidae: Attini), quatro em áreas de platô dentro da mata contínua, três numa estrada de terra abandonada e um na área do alojamento da reserva. Separei os formigueiros em dois grupos experimentais: (1) isca de laranja (seis formigueiros) e (2) isca feita com folhas da planta que estava sendo coletada pelas formigas de cada formigueiro (ou seja, dois formigueiros, cada um com sua planta hospedeira). Sorteei os seis formigueiros do primeiro experimento entre controle (isca de laranja) e tratamento (isca de laranja com adição do fungicida cycloheximide), utilizando somente uma entrada de cada formigueiro. No experimento com iscas de plantas hospedeiras nativas, utilizei duas entradas de cada formigueiro, uma recebendo isca da planta correspondente com o fungicida (tratamento) e outra isca da planta correspondente sem o fungicida (controle). Durante três dias, coloquei 10 pedaços de isca (~1g) por dia num pote de filme fotográfico na entrada do formigueiro e, depois de 24 horas, contei o número de: (a) pedaços removidos para o formigueiro, (b) pedaços descartados pelo formigueiro, num raio de 15 cm da entrada e (c) número de formigas entrando no formigueiro com pedaços de planta (folhas, flores e frutos) durante três intervalos de cinco minutos (experimento 1) ou três intervalos de 10 minutos (experimento 2). Daqui em diante, chamarei o comportamento descrito em (c) apenas de “atividade”. Para preparar as iscas, ralei casca de laranja (experimento 1), folhas de planta 1 (Sapotaceae) (experimento 2, formigueiro 1) ou folhas de planta 2 (família indefinida) (experimento 2, formigueiro 2) Combinei esse pó com 12 g de gelatina sem sabor e 20 ml de água. Aqueci essa solução e, na isca do tratamento, adicionei 0,005 g de cycloheximide em 2 ml de água (concentração final = 0,002 g/ml). Dividi essa solução em aproximadamente 150 pedaços de 0,1 g cada um. Utilizei o teste de ANOVA para medidas repetidas para analisar o número de iscas removidas ao longo dos três dias do experimento e atividade de formigas no experimento 1 (Underwood 1997). Utilizei o teste de Qui - quadrado para analisar o número de iscas removidas em cada dia no experimento 2, dado que havia apenas duas réplicas (Zar 1984). Utilizei o teste exato de Fisher para analisar o número de iscas descartadas pelos formigueiros (Zar 1984). Resultados Experimento 1: isca de laranja Ao contrário do esperado, não houve efeito do tempo (F =1.35; gl = 2; p = 0,329), nem na interação do tempo-tratamento (F = 0,04; gl = 2; p = 0,964), no número de iscas de laranja removidas pelas formigas (Fig. 1). Como esperado, não houve efeito da interação do tempo-tratamento na atividade das formigas (F = 0,74; gl = 2; p = 0,518); ou seja, elas continuaram a coletar planta na mesma taxa (Fig. 2). Por outro lado, houve variação no tempo de atividade das formigas (F = 40,05; gl = 2; p = 0,0001), sendo que em cinco formigueiros a atividade foi 90 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 14 Iscas removidas (n) Material e métodos maior no primeiro dia do experimento (Fig. 2). 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 Dia Fig. 1. Número de iscas de laranja removidas pelas formigas durante os três dias do experimento (n = 6 formigueiros, controle = branco, tratamento = hachurado). 30 Número de formigas (n) possível que essa capacidade de aprendizagem e flexibilidade alimentar explique por que as cortadeiras têm sido um problema tão grande na agricultura. O presente estudo teve como objetivo (1) testar a hipótese de RD com as formigas cortadeiras (Ridley et al. 1996) no campo e (2) induzi-las a considerar que uma planta hospedeira palatável, com adição do fungicida cycloheximide, não é palatável. Foi esperado que a adição de fungicida a plantas palatáveis simularia no campo o que aconteceria se a simbiose formiga-fungo encontrasse uma planta não palatável desconhecida. 25 20 15 10 5 0 T(1) T(2) T(3) Dia Fig. 2. Média do número de formigas com material planta entrando formigueiros que receberam isca de laranja durante os 3 dias do experimento (n = 6 formigueiros, linha tracejada = controle, linha sólida = tratamento). Experimento 2: isca de plantas hospedeiras nativas Houve um efeito tanto do tempo quanto do tratamento no número de iscas de plantas nativas removidas pelas formigas (Tab. 3, Fig. 3). De modo interessante, o efeito do tratamento mudou duas vezes ao longo dos três dias do experimento. No primeiro dia, não houve diferença no número de iscas removidas entre o tratamento e o controle (X2 =0,40, gl = 1, p = 0,525, Tab. 3). No segundo dia, e ao contrário do esperado, as formigas removeram mais iscas do tratamento do que do controle (X2 =7,06, gl = 1, p = 0,008, Tab. 3). No terceiro dia, e como esperado, as formigas removeram mais isca do controle do que do tratamento (X2 =8,28 gl = 1, p = 0,004, Tab. 3). A atividade das formigas dos dois formigueiros foi muito variável. Apesar disso, pares de entradas de cada formigueiro se comportaram de maneira semelhante, mostrando que não houve efeito do tratamento na “proteção” potencial da planta correspondente, ou seja, as formigas não associaram a toxicidade da isca com a planta hospedeira de mesma composição (Fig. 4). Dia 2 Dia 1 Trat Dia 3 Cont Trat Cont Trat Cont Aceita 8 10 14 20 16 7 Rejeitada 12 10 6 0 4 13 Tab. 3. Freqüências de iscas de planta nativa aceitas ou rejeitadas no tratamento e no controle (n = 2 formigueiros, t = 3 dias). 16 Iscas removidas (n) 14 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 Dia Fig. 3. Número de iscas de plantas nativas removidas pelas formigas durante os 3 dias do experimento (n = 2 formigueiros, controle = branco, tratamento = hachurado) Número de formigas (n) 40 35 30 25 20 15 10 5 0 T(0) T(1) T(2) T(3) seria esperado que a atividade possivelmente demoraria mais do que os três dias deste estudo. Além disso, as formigas removeram poucos pedaços das iscas em geral. Por falta de acesso aos compostos químicos, utilizei uma receita da isca diferente daquela usada por Ridley et al. (1996). Se a isca tivesse uma maior aceitação pelas formigas e/ ou pelo fungo, a taxa da incorporação (e a eventual rejeição) provavelmente seria mais rápida. No experimento com isca feita de folhas da planta que estava sendo coletada pelas formigas, houve um efeito do tempo e do tratamento na remoção, embora o efeito não fosse consistente ao longo do experimento. Apesar da isca do tratamento ter sido menos removida a cada dia de experimento (Figs. 1 e 3), a variação entre o número de iscas removidas nos controles, e a variação da atividade dos formigueiros tornam difícil interpretar desses dados. Aumentar o número de formigueiros do experimento, além do tempo, ajudaria a diminuir a variação nessa análise. O número de iscas descartadas pelos formigueiros fornece a única evidência do presente estudo que mostra que, talvez, o fungo influencie na decisão das formigas em não coletar iscas com cycloheximide. O fato dos formigueiros terem descartado as iscas tóxicas faz sentido biologicamente. Quando uma formiga ingênua pega um alimento novo e o leva para o fungo dentro do formigueiro, com tempo o fungo vai mandar um sinal para não coletá-lo. A próxima vez que uma formiga levar esse alimento para o formigueiro, o alimento vai ser rejeitado na hora e descartado. Esse comportamento pode ser uma condição intermediária entre coleta total (ingenuidade) e rejeição total (aprendizagem) (e.g. Albernaz et al. 2002). Na pequena escala temporal do presente estudo, talvez tenha sido possível observar apenas essa condição intermediária. Finalmente, esperei que a adição de cycloheximide na isca feita de folhas da planta que estava sendo coletada pelas formigas cortadeiras fosse suficiente para inibi-las de coletar tanto a isca quanto as folhas de árvore correspondentes. Devido à complexidade do sistema e ao tempo curto do presente estudo, a pergunta sobre o potencial de usar a manipulação da comunicação formiga-fungo para proteger plantas contra herbivoria das formigas cortadeiras ainda fica aberta. Dias Fig. 4. Média do número de formigas com planta entrando formigueiros que receberam isca de plantas durante os 3 dias do experimento (n = 2 formigueiros, quadro = formigueiro 1, triangulo = formigueiro 2 , linha tracejada = controle, linha sólida = tratamento). Experimentos 1 & 2: isca descartada pelo formigueiro Combinando os dados do segundo e do terceiro dia dos dois experimentos, as formigas descartaram pelo formigueiro mais iscas do tratamento (7 de 19) do que o controle (2 de 25) (teste exato de Fisher, p = 0,05). Discussão Eu esperava que no início dos experimentos as formigas que não reconhecem o fungicida cycloheximide coletassem a isca do tratamento tanto quanto do controle. Ao longo do tempo, esperava que as formigas aprendessem que a isca do tratamento era venenosa, através de comunicação com o seu fungo e parassem de coletar. No experimento com isca de laranja, não houve efeito do tratamento nem do tempo na remoção de iscas. Pode ser que a duração do experimento tenha sido muito curta, e as formigas não tiveram tempo suficiente para aprender a rejeitar o alimento venenoso. Em comparação, Ridley et al. (1996) mostraram que essa atividade demorou aproximadamente dois dias para começar em colônias laboratoriais. Sendo que a natureza é mais complicada do que as condições no laboratório, Agradecimentos Agradeço à Elaine “Sapo” Gonsales e ao Ricardo “Sinixxxtro” Darigo pela ajuda na preparação das iscas; à Elaine “Sapo” Gonsales, ao Glauco “Daddy Long Legs” Machado e ao Fernando “Sorriso” Mendonça pela ajuda no campo; ao Eduardo “Somente por Amor” Verticinique pela orientação na análise dos dados; ao Marcio “Djavan” Uehara-Prado, ao Eduardo “Somente por Amor” Verticinique e à Ana “da Floresta” Albernaz pelos comentários críticos do manuscrito, e ao Rasta pé pelo forró “bubblegum” durante a duração (sem fim) do projeto. Referências bibliográficas Albernaz, A.; Machado, G.; Mendonça Souza, F.P.; Verticinique, E. & Zuanon, J. 2002. Reasoning velocity and sexual behavior: myth or reality? Nature 24: 131133. Chapela, I.H.; Rehner, S.A.; Schultz, T.R. & Müeller, U.G. 1994. Evolutionary history of the sysmbiosis between fungus-growing ants and their fungus. Science 266: 1691-1694. Cherrett, J.M. 1968. The foraging behavior of Atta cephalotes (L.) (Hymenoptera, Formicidae). I. Foraging patternand plant species attacked in tropical rain forest. J. Anim. Ecol. 37: 387-403. Hölldobler, B & Wilson, E.O. 1990. The Ants. Belknap Press, Cambridge, MA, EUA. Pp. 732. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 91 Howard, J.J. 1987. Leafcutting ant diet selection: the role of nutrients, water and secondary chemistry. Ecology 68(3): 503-515. Howard, J.J.; Cazin, J.Jr. & Weimar, D.F. 1988. Toxicity of terpenoid deterrents to the leafcutting ant Atta cephalotes and its mutualistic fungus. J. Chem. Ecol., 14(1): 59-70. Hubbell, S.P.; Weimar, D.F. & Adejare, A. 1983. An antifungal terpenoid defends a neotropical tree (Hymenaea) against attack by fungus-growing ants. Oecologia 60: 321-327. Hubbell, S.J.; Howard, J.J. & Weimar, D.F. 1984. Chemical leaf repellency to an attine ant: seasonal distribution among potential host plant species. Ecology 65(4): 10671076. Martin, M.M. 1987. The symbiosis between the attine ants and the fungus they culture in their nests. In Martin, M.M. (ed.), Invertebrate-Microbial Interactions: Ingested Fungal Enzymes in Arthopod Biology. Cornell University Press: Ithaca, NY. Pp. 91-125. North, R.D.; Jackson, C.W. & Howse, P.E. 1999. Communication between the fungus garden and workers of the leafcutting and, Atta sexdens rubripilosa, regarding choice of substrate for the fungus. Physiol. Entomol. 24: 127-133. Quinlan, R.J. & Cherrett 1979. The role of fungus in the diet of the leaf-cutting ant Atta cephalotes (L.). Ecol. Entomol. 4: 151-160. Ridley, P.; Howse, P.E. & Jackson, C.W. 1996. Control of the behavior of the leaf-cutting ants by their ‘symbiotic’ fungus. Experientia 52(6): 631-635. Rockwood, L.L. & Hubbell, S.P. 1987. Host-plant selection, diet diversity and optimal foraging in a tropical leafcutting ant. Oecologia 74: 55-61. Underwood, A.J. 1997. Experiments in Ecology. Cambridge University Press, Cambridge, RU. Zar, J.H. 1984. Biostatistical Analysis. Prentice Hall, Englewood Cliffs, NJ, EUA. Pp. 718. A influência das clareiras sobre a abundância e riqueza da comunidade de plântulas de palmeiras (Arecaceae) na Amazônia Central. Felipe Pimentel Lopes de Melo Introdução Material e métodos Perturbações em pequena escala como a criação de clareiras naturais resultantes da queda de árvores ou galhos, são consideradas de fundamental importância para a manutenção da biodiversidade em florestas tropicais (Van der Meer, 1994). A maior disponibilidade de luz nesses ambientes, possibilita a colonização de espécies que dependem desse recurso em alguma fase do seu ciclo de vida e pode limitar a colonização por outras espécies às alterações microclimáticas decorrentes da abertura de uma clareira (Condit et al, 1996). Existem aproximadamente 200 gêneros e 1500 espécies de palmeiras em todo o mundo e cerca de 550 delas ocorrem naturalmente nas américas (Henderson et al, 1995). O subbosque da Amazônia central é dominado por uma variedade de espécies de palmeiras (Scariot, 1996), muitas das quais têm seu ciclo de vida associado exclusivamente ao sub-bosque. Outras são mais abundantes em ambientes que recebem maior luminosidade e outras, ainda, preferem ambientes alagados (Henderson et al, 1995). A composição de espécies que atua na regeneração de uma clareira pode ser afetada pelo tamanho da mesma. Brokaw (1985) observou que a densidade de espécies pioneiras aumenta diretamente com o tamanho da clareira e Riéra (1985) constatou que as raízes que são arrancadas do solo em decorrência da queda de árvores disponibilizam um sítio importante para a regeneração. Por outro lado, outros estudos concluíram que o tamanho da clareira parece ter pouco ou nenhum efeito sobre a abundância e riqueza de espécies vegetais colonizadoras desses ambientes (Kennedy & Swaine 1992, Raich & Gong, 1990). O tamanho da clareira, assim como a quantidade de luz que atinge o solo podem, devido a um aumento na heterogeneidade, incrementar tanto a riqueza quanto a abundância da comunidade de plântulas de palmeiras. Porém, considerando que a maioria das espécies de palmeira da Amazônia central está associada ao sub-bosque, é razoável supor que clareiras naturais comportem uma menor riqueza e abundância de plântulas de palmeiras se comparadas ao sub-bosque. Esse trabalho foi realizado na reserva # 1501, uma área de floresta contínua pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, distante cerca de 70 Km de Manaus, AM (02°24‘S ; 58°52‘O). Para uma melhor descrição da reserva ver Laurance (2001). O desenho experimental consistiu em amostrar 12 clareiras de diferentes tamanhos e 12 áreas de sub-bosque adjascentes às clareiras por meio de duas parcelas medindo 3x2 m em cada área. Com intenção de abranger uma maior heterogeneidade, uma das parcelas foi disposta na borda e outra no centro da clareira. As áreas amostradas abrangiam platôs e baixios. Usei a definição de clareira de Runkle (1981) para delimitar o limite das clareiras. As áreas das clareiras foram medidas como uma elipse por meio dos dois maiores diâmetros perpendiculares, e a porcentagem de abertura do dossel foi estimada com um densiômetro esférico. Com o objetivo de excluir as plântulas existentes antes da formação da clareira, foram coletados para posterior identificação, somente os indivíduos menores que 50 cm de altura. As plântulas foram identificadas por meio de guias de campo (Henderson et al, 1985) e por meio do conhecimento de um técnico de campo com vários anos de experiência em palmeiras (Sr. Ocírio Pereira). Os valores de riqueza e abundância de plântulas são apresentados no texto na forma de média ±desvio padrão As diferenças na abundância e riqueza de plântulas de palmeiras entre os dois tratamentos (clareira e sub-bosque) foram testadas por meio de um teste t pareado (Krebs, 1999). O efeito do tamanho da clareira e da porcentagem de abertura no dossel sobre os dados de riqueza e abundância de plântulas foi averiguado mediante regressão linear simples. A similaridade florística entre os tratamentos foi medida pelo coeficiente de Morisita (Krebs, 1999). No decorrer do experimento foi percebida uma diferença na abundância e na riqueza de plântulas de palmeiras entre a borda e o centro da clareira; assim, foi feito a posteriori um teste t pareado entre esses dois microambientes aplicando-se correção 92 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 de Bonferroni (Krebs, 1999), sendo estabelecido os valores críticos de p<0,025 para aceitar as hipóteses a 5%. Resultados A riqueza média de espécies de plântulas de palmeira foi maior no sub-bosque (4,5 ± 1,1) se comparada com os valores das clareiras (2,7 ± 1,4) (t = -2,095; gl=11; p=0,008). O mesmo não se repetiu para os valores de abundância das plântulas de palmeira em clareiras (4,4±3,1) e sub-bosque (6,6±1,9), que não foram diferentes (t = -2,095; gl=11; p=0,06). A borda das clareiras diferiu da porção central quanto a riqueza de plântulas (t = -3,191; gl=11; p=0,009) mas não quanto à abundância das mesmas (t = -1,603; gl=11; p=0,137). As bordas das clareiras não são diferentes dos sub-bosques quanto à riqueza ( t = 0,938; gl=11; p = 0,938) e a abundância de plântulas (t = -1,711; gl=11; p=0,115). Não houve relação significativa entre riqueza (R2=0,248; p = 0,278) ou a abundância (R2=0,259; p = 0,260) de plântulas de palmeiras com o tamanho das clareiras e a porcentagem de abertura no dossel das mesmas. Os valores de similaridade na composição de espécies de plântulas de palmeiras entre o centro das clareiras, borda e sub-bosque são mostrados na tabela 1. A abundância das plântulas de cada espécie de palmeira está sumariada na tabela 2. Tabela 1. Matriz de similaridade mostrando valores do coeficiente de Morisita comparando centro, borda de clareira e sub-bosque. Clareira Borda Sub-bosque Clareira 0,94 0,94 Borda 1,03 Sub-bosque - Tabela 1. Abundância total de cada espécie de plântula de palmeira nos dois tratamentos na reserva # 1501. Espécies Abundância Clareira Sub-bosque Centro Borda Astrocaryum gynacanthum Astrocaryum sciophilum Attalea attaleoides Bactris acanthocarpa Bactris arandinacea Bactris gastoniana Bactris hirta Bactris simplicifrons Bactris sp1 Bactris sp2 Desmoncus polyacanthus Euterpe precatoria Geonoma deversa Geonoma maxima Geonoma stricta Oenocarpus bacaba Oenocarpus bataua Oenocarpus minor Socratea exorrhiza Total 0 0 0 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 12 2 0 18 Sub 1 2 2 0 1 0 0 1 1 0 0 0 6 3 1 1 0 17 0 0 35 0 2 5 2 0 0 1 2 1 1 1 5 2 3 0 4 17 1 3 48 Sub 2 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 5 0 0 0 0 17 0 0 24 Discussão Duas espécies de plântulas de palmeira foram muito abundantes (O. bacaba e E. precatoria), constituindo as principais espécies colonizadoras da floresta no local de estudo. A alta similaridade na composição de espécies entre o centro da clareira, a borda e o sub-bosque pode ser explicada pela alta abundância de algumas espécies (O. bacaba e E. precatoria) em ambos os ambientes e pela baixa abundância das demais espécies. O coeficiente de Morisita funciona com a probabilidade de, ao acaso, encontrarmos a mesma espécie nos dois ambientes portanto, as altas abundâncias de algumas espécies podem esatr elevando a similaridade na composição de espécies da clareiras e do sub-bosque. De acordo com o esperado, a maior riqueza de plântulas de palmeira no sub-bosque sugere que a comunidade de palmeiras está adaptada a esse ambiente e que uma clareira parece ser um habitat pouco adequado para a maioria das espécies de palmeira. Apesar de não haver diferença na abundância de plântulas entre clareiras e sub-bosque quando comparamos o centro da clareira com o sub-bosque adjascente temos uma diferença bastante significativa. Os testes a posteriori mostraram que as bordas das clareiras são realmente diferentes do centro das mesmas quanto à riqueza mas não quanto à abundância. A borda das clareiras não diferem do sub-bosque adjacente quanto à riqueza nem quanto à abundância de plântulas de palmeira, mas são similares em composição de espécies. De acordo com Kennedy & Swaine (1992) e Raich & Gong (1990), com a exceção de algumas espécies pioneiras, o tamanho da clareira parece ter pouco efeito sobre a abundância ou riqueza das espécies presentes numa clareira. No presente estudo não encontrei relação entre tamanho da clareira, porcentagem de abertura do dossel e a abundância e riqueza de espécies de plântulas de palmeiras. Aparentemente, as clareiras naturais são um fator limitante para a colonização da comunidade de plântulas de espécies de palmeira; contudo, estudos mais detalhados levando em consideração a presença de adultos de palmeira nos arredores das clareiras, e o acompanhamento das taxas de crescimento e mortalidade das plântulas, são necessários para conclusões mais robustas sobre a dinâmica da comunidade de plântulas de palmeira em clareiras naturais. Agradecimentos Novamente mui grato às palmeiras e peço desculpas, por ter coletado alguns dos seus filhotes. Agradecimentos à grande “alma sebosa” Ocírio Pereira o deputado, por ter pacientemente identificado as palmeiras comigo. Obrigado Dadão por ter me chamado de ladrão e picareta e ter me alertado para testes a posteriori, aprendi muito. Obrigado ao grande Tom Zé quem escuto nesse momento. Obrigado à todos os companheiros de curso e de profissão. Referências bibliográicas Brokaw, N.V.L. 1985. Gap-phase regeneration in a tropical forest. Ecology 66:682-687. Condit, R., Hubbell, S.T., Foster, R. B. 1996. Mortality rates of 205 neotropical tree and achrub species and the impact of a severe drought. Ecological monographs 65(4): 419439. Henderson, A., Galeano, G., Bernal R. 1995. Field guide to the palms of the Americas. Princeton University Press. New Jersey. USA. 352pp. Kennedy, D. N. & Swaine, M.D. 1992. Germination and growth of colonizing species in artificial gaps of diferent sizes in dipterocarp forest. Biotropica 13: 436-445. Krebs, C. 1999. Ecological Methodology 2nd Ed. BenjamimCummings Press. 620 pp. Menlo Park, CA, USA. Laurence, W. 2001. The hyper diverse flora of the Central Amazonia: an overview. In: Bierregaard, O. J., Gascon, C., Lovejoy, T. E. & Mesquita, R. Eds. Lessons from Amazonia, the ecology and conservation of a fragmented forest. Yale University Press. Yale, USA. 467pp. Raich, J. W. & Gong, W. K. 1990. Effects of cannopy opening on the tree seed germination in a Malasian Dipterocarp forest. Journal of Tropical Ecology 6: 203-217. Riéra, B.1985. Importance of regeneration of a tropical forest in French Guiana. Terre e Vie 40:321-329. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 93 Runkle, J.R. 1981. Gap regeneration in some old growth forest of the eastern United States. Ecology 62(4):10411051. Scariot, A.O. 1996. Effects of forest fragmentation on the palm community in Central Amazonia. Tese de Doutorado. University of California, Santa Barbara, USA. Van der Meer, P.J., Bongers, F., Chatrou, L. & Riéra, B. 1994. Defining gaps in a tropical rain forest: effects on gap size and turnover time. Acta Oecológica 15(6): 701-714. 53 Abundância e riqueza da ictiofauna em trechos de um igarapé na Reserva do km 41,Manaus, AM Leandro M. Sousa Introdução A Amazônia possui a maior ictiofauna do mundo. Muitos autores consideram que esse fenômeno seja resultado do tamanho da bacia hidrográfica, que proporciona uma alta heterogeneidade ambiental e possibilitou uma elevada taxa de especiação (Lowe McConnell 1999). Além da cladogênese propriamente dita, a heterogeneidade ambiental é fundamental para a manutenção da riqueza de espécies de um determinado local, estando diretamente relacionada com os recursos disponíveis aos indivíduos (Begon et al. 1990), sendo plausível supor que o número de espécies de um determinado local seja proporcional ao seu tamanho e à conseqüente complexidade estrutural do ambiente. As informações disponíveis sobre a composição da fauna de peixes da Amazônia parecem indicar um número de espécies desproporcionalmente maior nos grandes rios. Entretanto, é necessário salientar que o conhecimento da ictiofauna ainda é incipiente, estando, na maioria das vezes, centrado em espécies de interesse comercial (Ferreira et al. 1998), de grande e médio porte, que ocorrem em ambientes de maior tamanho. Assim sendo, a tendência de acharmos que esses rios mais caudalosos são mais ricos em espécies pode estar enviesada pela falta de mais estudos nos riachos de menor porte. Estudos realizados em riachos têm mostrado que existe uma riqueza considerável de pequenos peixes ocupando esses ambientes (Sabino & Castro 1990; Castro & Casatti 1997; Uieda et al. 1997; Sabino & Zuanon 1998), o que pode estar relacionado com a heterogeneidade de microhabitats decorrente da maior interface com o ambiente terrestre. O presente estudo foi realizado com o objetivo de averiguar a influência que o tamanho do ambiente exerce sobre o número de espécies de um determinado trecho de igarapé. Material e métodos Este estudo foi realizado na Reserva # 1501 (Reserva do km 41), a cerca de 70 km de Manaus (AM). No período entre 31 de julho e 03 de agosto de 2002, fiz uma série de observações diurnas da ictiofauna presente num trecho de aproximadamente 100 metros de um igarapé de segunda ordem, localizado entre as trilhas J e L, 4 e 5 (igarapé do acampamento). Escolhi nove pontos de observação, levando em conta a presença de peixes e a possibilidade de uma observação adequada. Entre esses pontos incluí um ambiente alterado antropicamente, onde ocorre um represamento da água, formando uma piscina. Apesar dessa condição atípica, este trecho apresenta um alto número de peixes e, por isso, foi incluído nas observações e análises. É interessante ainda ressaltar que a única alteração neste trecho do igarapé estudado foi o aumento de volume, e a matriz circundante foi mantida praticamente intacta. Após escolher o local da observação, esperei cinco minutos com o intuito de que os peixes voltassem ao seu comportameto normal antes de começar a tomar os dados comportamentais. 94 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Esse procedimento foi feito tanto para as obsevações feitas à partir da margem quanto para as sub-aquáticas. Os dados foram anotados em uma placa de PVC branca e posteriormente transcritos em uma planilha. Em cada local registrei as espécies encontradas e o número de indivíduos de cada uma; após o término das sessões de observação, medi a profundidade máxima e a largura do local analisado. Utilizei uma regressão linear para analisar a relação entre o tamanho do ambiente e o número de espécies, bem como a abundância das mesmas. Resultados Observei aproximadamente 309 espécimes de peixes, pertencentes a 12 espécies, dez gêneros e quatro famílias. As características físicas e o número total de indivíduos de cada espécie observados nos trechos do igarapé são apresentados na Tabela 1. A ictiofauna apresentou uma predominância de espécies pertencentes à superordem Ostariophysi (75%). A família Characidae foi representada por cinco espécies, Lebiasinidae e Cichlidae por três espécies cada e Acestrorhynchidae por uma espécie. Também observei uma espécie da família Erythrinidae (Hoplias malabaricus) e uma espécie de Characidae (Bryconops inpai) fora do período de amostragem. Max Hidalgo (com. pes.) relatou ainda a ocorrência de duas espécies de Siluriformes, Rhamdia sp. (Pimelodidae) e Helogenes marmoratus (Cetopsidae). Aparentemente, o aumento no tamanho do ambiente disponível resulta em um aumento proporcional no número de espécies (Tabela 2). Quando o trecho represado é incluído nas análises, encontrei uma relação significativa entre o volume do trecho de igarapé e o número de peixes (R2 = 0,983 e p < 0,001), bem como em relação ao número de espécies (R2 = 0,514 e p = 0,03). Por outro lado, a exclusão do referido ponto resultou em relações não significativas para as duas regressões (número de indivíduos: R2 = 0,399 e p = 0,093; número de espécies: R2 = 0,261 e p = 0,196). Discussão Sabino & Zuanon (1998), trabalhando em um igarapé próximo a Manaus, também observaram a predominância de Characiformes na composição da ictiofauna, encontrando ainda uma representação razoável de Siluriformes, Perciformes e Gymnotiformes. No presente estudo, a ausência de peixes das ordens Siluriformes e Gymnotiformes nas observações deve-se estritamente ao período de observação (diurno), pois os indivíduos dessas ordens possuem hábitos quase exclusivamente noturnos. Cada espécie possui um conjunto de características morfológicas e comportamentais que a capacita a ocupar determinados tipos de ambientes. Em geral, os ciclídeos (A. pallidus, Apistogramma sp. e Crenicichla sp.) ocupam o estrato mais próximo do substrato, forrageando e utilizando alimentos Tabela 1. Características abióticas e abundância de espécies de peixes encontradas em nove trechos do igarapé do acampamento da Reserva do km 41, Manaus, AM. *trecho represado (piscina) Local 1 2 3 4 5 6 7 8 9* Largura (m) 4 2.5 2 1.8 1.8 1.2 1.6 1.6 5.5 0.27 0.09 0.32 0.35 0.34 0.31 0.4 0.4 0.72 1 1 1.5 2 2 0.8 3 1.5 4 1507.9 1979.2 1922.6 467.5 3015.9 1507.9 15840 Profundidade máxima (cm) Comprimento (m) Volume (Litros) 1696.4 353.4 Espécies: ACESTRORHYNCHIDAE 0 0 0 0 0 0 0 1 0 Aequidens pallidus 0 0 1 1 3 0 3 5 17 Apistogramma sp. 0 0 0 1 3 0 1 1 15 Crenicichla sp. 0 0 0 0 1 0 0 1 2 Acestrorhynchus falcatus CICHLIDAE CHARACIDAE Hemigrammus gr. ocellifer 0 0 0 2 4 0 3 0 30 Hyphessobrycon sp.1 12 8 0 7 1 0 0 0 50 Hyphessobrycon sp.2 0 0 0 4 1 0 0 0 30 Hyphessobrycon sp.3 0 0 0 0 0 1 0 0 20 Iguanodectes variatus 0 0 4 1 9 9 14 3 5 Copella nigrofasciata 2 0 0 0 0 0 0 0 2 Nannostomus marginatus 1 0 0 3 4 1 0 0 15 2 0 0 0 2 0 0 0 3 18 8 5 18 28 11 21 11 189 LEBIASINIDAE Pyrrhulina brevis Total Tabela 2. Resultados das regressões lineares entre os valores de abundância das espécies e o volume estimado (litros) dos trechos de igarapé estudados, incluindo (“com piscina”) e excluindo (“sem piscina”) o trecho represado. n = total de trechos de igarapé onde a espécie foi observada. Espécies Com piscina 2 Sem piscina 2 n R p R p Acestrorhynchus falcatus 1 0,016 0,745 0,001 0,957 Aequidens pallidus 6 0,924 0,000 0,258 0,198 Apistogramma sp. 5 0,964 0,000 0,225 0,235 Crenicichla sp. 3 0,645 0,009 0,013 0,786 Copella nigrofasciata 2 0,436 0,053 0,004 0,876 Hemigrammus gr. ocellifer 4 0,983 0,000 0,465 0,063 Hyphessobrycon sp.1 5 0,884 0,000 0,026 0,702 Hyphessobrycon sp.2 3 0,966 0,000 0,060 0,559 Hyphessobrycon sp.3 2 0,962 0,000 0,266 0,191 Iguanodectes variatus 7 0,006 0,847 0,209 0,254 Nannostomus marginatus 5 0,903 0,000 0,037 0,648 Pyrrhulina brevis 3 0,498 0,034 0,034 0,664 0,983 0,000 0,399 0,093 Total de origem autóctone, como invertebrados aquáticos. Os caracídeos (H. ocellifer, Hyphesobrycon sp.1, Hyphessobrycon sp.2 e Hyphessobrycon sp.2), de corpo mais fusiforme, utilizam principalmente a coluna d’água e a superfície, coletando alimentos à deriva e que caem na superfície, em sua maioria de origem alóctone. Iguanodectes variatus se mostrou mais freqüente em locais com uma maior correnteza, ficando estacionário próximo ao fundo e coletando ítens alimentares à deriva e ocasionalmente na superfície. No entanto, os poucos indivíduos que foram encontrados na piscina (ambiente de reduzida correnteza) estavam forrageando e coletando alimento depositado no fundo. Vale ainda salientar o elevado número de peixes da família Characidae ocorrendo na região da piscina (Tabela 1), onde a superfície (espelho d’água) e a coluna d’água são muito expandidas, favorecendo os peixes que exploram esse tipo de habitat. O fato de aparentemente não ter havido um aumento semelhante na abundância de ciclídeos provavelmente se deve a uma limitação pelo número de abrigos, pois o substrato na piscina é muito simples e pouco estruturado fisicamente. Existe ainda um terceiro grupo de peixes com relação ao uso do microhabitat, aqueles que ocupam quase que exclusivamente a lâmina superficial da água, sendo representados pelos lebiasinídeos. As espécies dessa família são freqüentemente encontrados próximos à margem, onde há uma redução considerável da correnteza e ocorre o acúmulo de folhiço e gravetos no substrato, onde esses peixes utilizam tanto alimentos de origem autóctone quanto alóctone. Com relação ao número de espécies encontrado nos diferentes trechos do igarapé amostrado, acredito que os resultados estejam sendo influenciados pela disponibilidade de microhabitats e pela complexidade estrutural do trecho em questão, não necessariamente relacionados com o volume do curso d’água. A maioria dos grupos parece ter sido favorecida pelo moderado represamento na região da piscina, o que acarretou uma expansão de alguns habitats e conseqüente ocupação pelas espécies de peixes. Por outro lado, não parece ter havido criação de novos ambientes, resultando na manutenção da riqueza local de espécies. Apesar da alteração feita nesse igarapé não acarretar perda de diversidade, não podemos generalizar as conclusões deste estudo para alterações de maior porte. Sabe-se, por exemplo, que em represamentos de maiores dimensões, com objetivos de piscicultura e aproveitamento hidroelétrico há uma homogeneização dos habitats, aumentando demasiadamente a coluna e o espelho d’água (Lowe McConnell 1999). Essas alterações possuem uma influência negativa na qualidade da água causando freqüentemente uma redução no número de espécies e eventualmente favorecendo as espécies pelágicas. As alterações na estrutura das comunidades de peixe geralmente resulta em um aumento desproporcional na abundância de espécies pelágias e predadores piscívoros, ao menos nas fases subseqüentes ao represamento (Lowe McConnell 1999). Entretanto, tais alterações resultam principalmente do aumento súbito na quantidade de nutrientes disponíveis no sistema o que parece não ter ocorrido no caso do represamento do igarapé estudado. Agradecimentos Agradeço a todos por tudo, ao Red Hot Chili Peppers pela companhia durante a elaboração do estudo e, principamente, ao Jansen Zuanon pelas dicas e ao Fernando Mendonça pela ajuda de campo. Referências bibliográficas Begon, M.; J.L. Harper & C.R. Townsend. 1990. Ecology: Individuals, Populations and Communities. Oxford University Press, Ontario. 945 p. Castro, R.M.C. & L. Casatti. 1997. The fish fauna from a sall forest stream of the upper Paraná River basin, southeastern Brazil. Ichthyol. Explor. Freshwaters 7 (4):337-352. Ferreira, E.J.G.; J. Zuanon & G.M. Santos. 1998. Catálogo dos peixes comerciais do Médio Amazonas – região de Santarém, PA. IBAMA; série documentos: Pesca. Brasília, DF. Lowe-McConnell, R.H. 1999. Estudos Ecológicos de Comunidades de Peixes Tropicais. Edusp, 535 p. Sabino, J. & R.M.C. Castro. 1990. Alimentação, período de atividade e distribuição espacial dos peixes de um riacho da floresta atlântica (sudeste do Brasil). Rev. Brasil. Biol. 50 (1):23-36. Sabino, J. & J. Zuanon. 1998. A stream fish assemblage in central amazonia: distribution, activity patterns and feeding behavior. Ichthyol. Explor. Freshwaters, 8 (3):201210. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 95 Uieda, V.S.; P. Buzzato & R.M. Kikuchi. 1997. Partilha de recursos alimentares em peixes em um riachode serra do sudeste do Brasil. An. Acad. Bras. Ci., 69 (2):243-252 Gremios alimenticios en una comunidad de murciélagos de sotobosque de la Amazonía Central Lily Arias Chauca Introducción En los bosques neotropicales el Orden Chiróptera constituye el grupo con mayor número de especies entre los mamíferos (Voss & Emmons 1996). Ellos cumplen un rol ecológico de suma importancia como dispersores de semilla, polinizadores y agentes controladores de la poblaciones de insectos (Gardner 1977, Heithauss et al. 1975). Por lo tanto caracterizar la estructura de una comunidad de murciélagos brinda valiosa información sobre el impacto ecológico de estos organismos en el ecosistema ya que su variación podría ser indicadora de cambios en el medio ambiente (Lim et al. 2001). Algunos autores han intentado determinar cuales son los principales factores que actuan en la estructuración de las comunidades de murciélagos neotropicales (McNab 1971, Kalko et al. 1996). La separación de las especies en gremios que tienen en común el uso de un recurso es una de las formas mas consistentes para lograr una mejor estructuración de tales comunidades (Kalko et al. 1997). Pero el uso del concepto de gremios alimenticios es algo complejo que depende de los parámetros tomados para definirlos. Kalko et al. (1997) sugieren que estos parámetros deben ser dieta, modo de forrajeo y habitat. Por ejemplo, Lim et al. (2001) relacionaron el concepto de gremios con los parámetros de riqueza, abundancia y biomasa para caracterizar la estructura de una comunidad de murciélagos en Iwokrama, Guyana. El objetivo de este trabajo fue caracterizar la estructura de una comunidad de murciélagos de sotobosque en un ambiente de baixio, usando el concepto de gremios alimenticios y relacionándolo con valores de riqueza de especies, abundancia y biomasa de las especies. Material y métodos El trabajo fue desarrollado en la Reserva 1501 (Km 41, 59o 43’40” W y 2o 24’26”S), perteneciente al Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), 70 km al norte de Manaus. El clima en el lugar es tropical húmedo con alta precipitación pluviométrica (Bernard 1997). El proyecto se desarrolló en un ambiente de baixio, las noches del 29 de julio al 01 de agosto. Cada noche se evaluó un punto diferente (1,2,3,4), en el que se dispusieron 10 redes de neblina a nivel del sotobosque (menos de 3 metros de altura). Las redes fueron cambiadas de lugar cada noche para evaluar un área mayor y evitar las recapturas. Las redes eran abiertas desde las 7:00 hasta las 12:00 p.m. y revisadas cada 30 minutos. Los murciélagos capturados eran colocados en una bolsa de papel para colectar las heces y determinar, de forma general, de que se estaban alimentando. Además se registraba el número de red, bolsa, fecha, hora y estado del tiempo. Luego fueron identificados con ayuda de claves taxonómicas (Eisemberg 1989, Pollard 1990, Emmons 1997), se les tomó las medidas de antebrazo, peso y sexo y finalmente fueron liberados. Posteriormente se determinó a que gremio pertenecia cada especie segun la clasificación dada por Kalko (1997). Entonces 96 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 cada gremio alimenticio tenia asignado un cierto número de especies,y la abundancia y biomasa de éstas. Resultados La vegetación dominante en el área de baixio estudiado, estaba conformada principalmente por las palmeras Oenocarpus batahua, Socratea exhorriza, Euterpe precatoria, arboles de los géneros Teobroma, Purouma, Inga y las familias Melastomatacea, Lecythidacea y Amarantacea. El esfuerzo total de captura durante las 4 noches fue de 20 horas red . Fueron registrados 26 individuos pertenecientes a 11 especies de la familia Phyllostomidae. Estas especies fueron asignadas a 4 gremios (Kalko 1997): insectívoros no aéreos de áreas cerradas (IV), carnívoros no aéreos de áreas cerradas (V), frugívoros no aéreos de áreas cerradas (VIII) y omnívoros no aéreos de áreas cerradas (X, Tab. 1). El gremio dominante en la comunidad del sotobosque de bajial resultó ser el de frugívoros (VIII), tanto si se toma en cuenta la riqueza de especies (66,67%), la biomasa (74,93%) y mas aun la abundancia (80,77%) (Fig. 1). Este grupo estuvo conformado por la subfamilias Stenodermatinae y Carollinae. El gremio V, estuvo representado por la especie Vampyrum spectrum, de la subfamilia Phyllostominae, ampliamente distribuída pero con baja densidad (Timm et al. 1989), considerada en riesgo ya que necesita de grandes área naturales para desplazarse (Vehrencarp et al. 1977) y la que es poco frecuente en colecciones mastozoológicas (J. Zuanon com. pers.) Los gremios IV y X, estuvieron conformados por especies de la subfamilia Phyllostominae. El punto que en el que se obtuvo un mayor número de registros, en cuanto a especies e individuos fue el número 4 (Tab. 1). En cuanto al horario de actividad, el mayor número de registros se obtuvo en el horario de 7:00 a 8:00 p.m. Con respecto a los análisis de heces, se encontraron semillas y restos de insectos, lo particular es el hecho de que se hallaron restos de insectos en las heces de algunas especies típicamente frugívoras como Carollia perspicillata. Tabla 1: Especies de murcielagos capturados, lugar de colecta (puntos 1,2,3,4), individuos y gremios a los que pertenecen Lugar de colecta No individuos Gremio Stenodermatinae Subfamilia Uroderma bilobatum Especie 1,4 3 VIII Carollinae Rhinophylla pumilio 1,2 3 VIII Phyllostominae Phyllostomus cf. elongatus 1,4 2 X Carollinae Carollia perspicillata 2,3,4 8 VIII Stenodermatinae Artibeus obscurus 2,3,4 4 VIII Phyllostominae Tonatia silvicola 2 1 IV Stenodermatinae Vampyressa bidens 3 1 VIII VIII Carollinae Carollia brevicauda 3 1 Phyllostominae Mimon crenulatum 3 1 IV Stenodermatinae Mesophylla macconnelli 4 1 VIII Phyllostominae Vampyrum spectrum 4 1 V 90 80,77 74,93 80 66,67 Porcentaje 70 60 50 40 30 20 10 16,67 8,33 7,69 2,77 11,92 8,33 7,6910,38 3,85 IV V VIII X Gremios Figura 1. Gremios alimenticios expresados en porcentaje de numero de especies(negro), número de individuos (blanco) y biomasa (gris). Gremios IV, V, VIII y X según Kalko(1997). Discusión Con respecto a la dominancia del gremio de frugívoros, podría argumentarse que dificilmente esto suceda en un bosque donde se observó poca presencia de frutos. Sin embargo, segun Oliveira (1997) en este bosque hay disponibilidad de flores y frutos durante todo el año. Esta predominancia de frugívoros también ha sido reportada en los bosques de Perú (Wilson et al. 1996) y Guyana (Lim et al. 2001). La ausencia de gremios conformados por nectarívoros no aéreos de áreas cerradas (gremio IX, subfamilia Glossophaginae) o insectívoros aéreos de áreas abiertas y los de dosel (gremio I y II, familias Molossidae y Vespertilionidae) puede explicarse por la preferencia de estos grupos por el dosel del bosque, por lo que dificilmente pueden ser capturados con redes en el sotobosque. Además en el caso de los insectívoros, muchos de estos son altamente especializados y tienen sistema de ecolocalización muy eficiente, por lo que se les haría relativamente fácil localizar las redes y evitarlas (Bernard 1997). Seis de las 11 especies solo fueron registradas una vez y solo la especie (C. perspicillata) tuvo un alto número de indivuduos (8). Esto sugiere que a pesar de lo pequeño de la muestra, se cumple la distribución log-normal de la abundancia, típica de las comunidades de mamíferos (Lim et al. 2001), es decir pocas especies son muy abundantes y muchas especies tienen una abundancia muy baja, resultado encontrado en seis bosques amazónicos de Perú (Wilson et al. 1996), en La Selva, Costa Rica (La Val & Fitch 1977, Wilson 1990) y en Iwokrama, Guyana (Lim et al. 2001). La predominancia del gremio de frugívoros, tanto en términos de riqueza de especies, abundancia y biomasa evidencia que, en este caso, si tomamos cualquiera de estos tres parámetros para medir la dominancia del bosque el grupo de mayor importancia es el mismo. Este resultado en parte conincide con lo obtenido por Lim et al. (2001), quienes encontraron que teniendo en cuenta número de individuos y la biomasa, los frugívoros son el grupo mas importante, sin embargo si se prioriza los valores de número de especies, son los insectívoros aéreos el grupo dominante. También en la isla Barro Colorado (Handley et al. 1991, Bonaccorso 1979 y Kalko et al. 1996) y Paracou, French Guiana (Simmons & Voss 1998), son los frugivoros el grupo mas abundante y con mayor biomasa. Los resultados en cuanto a la presencia de las subfamilias Carollinae y Phyllostominae en el nivel del sotobosque, coinciden claramente con los encontrados por Bernard (1997) en su estudio de estratificacion vertical de una comunidad de murciélagos en bosques de la Amazonía central. Al parecer esto se puede explicar por la mayor abundancia de frutos a este nivel favorable para los murciélagos frugívoros. Con respecto al lugar donde se obtuvo mayor numero de registros (punto 4), en cuanto a especies (6) e individuos (10), esto podria explicarse por la estructura de la vegetación de dosel abierto y escasa vegetación arbustiva, ya que esto diferenciaba este punto de los demás. En cuanto al horario de actividad, los resultados muestran coincidencia con los resultados de Bernard (1997), quien menciona que para las subfamilias Carollinae y Stenodermatinae, el horario pico de actividad es dos horas después de la puesta del sol. El hecho de que en heces de C. perspicillata se hayan encontrado restos de insectos solo demuestra que la dieta de muchas de las especies no es exclusiva y varía de forma temporal de acuerdo a la disponibilidad de recursos (Kalko 1997) y ya habia sido mostrado por Gardner (1977). Se concluye que los murcielagos frugívoros, constituyen el gremio dominante del sotobosque de baixio de la Reserva del km 41, tanto en riqueza, abundancia y biomasa de las especies, lo cual concuerda con lo encontrado en otros bosques neotropicales. Agradecimientos Al señor Ocírio Pereira, Juruna, por su valiosa y amable colaboracion en este trabajo y a todas las personas que con sus comentarios y sugerencias hicieron posible finalizar este proyecto. Referencias bibliográficas Bernard, E. 1997. Estratificação vertical de comunidades de morcegos em clareiras em matas de terra-firme da amazonia Central. Tese de Mestre. INPA, Manaus, Amazonas. Bonaccorso, F. J. 1979. 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Embora poucos ecólogos hoje em dia neguem o papel das interações positivas nas comunidades naturais, ainda assim estas interações não são incluídas nos modelos de dinâmica de comunidades (Begon et al., 1997). A grande maioria das espécies vegetais nos trópicos, entretanto, depende de associações com animais para a realização de processos como a dispersão e a polinização, fundamentais para a viabilidade e manutenção das espécies. Alguns autores indicam que a dispersão das sementes tem um papel fundamental na sobrevivência e no modelo de distribuição espacial das espécies (Cintra & Horna, 1997). Para explicar estes padrões são levantadas algumas hipóteses. A primeira destas é a Hipótese de Escape (Janzen 1970 & Connell, 1971) que se refere ao aumento da probabilidade da prole escapar da mortalidade dependente de densidade e/ou distância de indivíduos coespecíficos, que pode ser alta próxima à planta mãe. A Hipótese da Colonização (Howe & Smallwood, 1982) postula que a dispersão de sementes no tempo e no espaço, bem como as mudanças ambientais, aumentam a probabilidade da prole dispersar a um sítio favorável. Animais estão na base do processo de dispersão de sementes e sua atividade pode determinar a estrutura, composição e a sucessão da comunidade de vegetal (Augspurguer, 1983). Nos trópicos, a dispersão de sementes é realizada, principalmente, por animais, sendo a maioria vertebrados (De Steven e Putz, 1984). No entanto, esta associação só será verdadeiramente mutualística se houver algum benefício também para o dispersor. De fato, os frutos constituem uma importante fonte de recursos para insetos, aves e principalmente de mamíferos pequeno porte. Acredita-se inclusive que a sazonalidade no padrão de produção de sementes possa limitar a densidade populacional de pequenos mamíferos, tal a sua dependência destes recursos (Alder, 2002). Hartshorn (1978) indica que a sobrevivência das sementes localizadas em clareiras, deve ser superior à daquelas localizadas sob dossel contínuo, devido ao isolamento de indivíduos 98 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 coespecíficos. Entretanto, a atividade de roedores parece ser maior em áreas perturbadas, como clareiras, por possibilitar uma maior quantidade de refúgios dada a maior complexidade estrutural da vegetação na clareira, em função da grande quantidade de galhos caídos (Schupp, 1988). Desta forma, espera-se que a predação de sementes possa ser maior em clareiras do que em áreas de dossel fechado. Por outro lado, em um estudo realizado com sementes de Bertholletia excelsa em uma floresta de terra firme na Amazonia, Tabarelli e Mantovani (1996) encontraram um padrão estocástico de predação de sementes em clareiras e no sub-bosque, não confirmando nenhum dos padrões anteriormente citados. Dentro deste contexto, o objetivo deste estudo foi verificar a predação diferencial de sementes de Astrocaryum acaule (Arecaceae) por pequenos mamíferos em áreas de clareira e subbosque está baseado na hipótese de que existe uma maior predação de sementes em clareiras do que em áreas de dossel fechado. Biologia de Astrocaryum acaule Esta espécie foi escolhida por estar em fase de frutificação no período de estudo e também ser uma fonte de alimento em uma época em que poucas espécies estão produzindo frutos. A descrição desta espécie foi retirada de Henderson et al. (1995) e Ribeiro (1999). Conhecida no Brasil como Tucumã-í, esta espécie de palmeira possui distribuição restrita à Amazonia Colombiana, Venezuela, Guianas e Brasil (Amazonas, Pará e Rondônia). Em alguns locais é muito abundante, mas em geral é rara em florestas não perturbadas. Seus frutos são comestíveis e de suas folhas são retiradas fibras utilizadas para diversos fins. Como características, apresentam estipes solitários, curtos e subterrâneos. Suas folhas em número de 5 a 9 apresentam em média de 55 a 103 pinas agrupadas irregularmente de cada lado e dispostas em diferentes planos. Inflorescências eretas, brácteas pendentes de cor “café com leite”, ráquis das folhas com manchas pálidas cobertas por espinhos; Frutos amarelos passando a alaranjados quando maduros e de formato ovóide. Material e Métodos Área de Estudo O estudo foi desenvolvido na reserva 1501 (“Km 41”) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF) (20 24’26” – 20 25’331” S; 590 43’40” - 590 45’50”W). A reserva abrange cerca de 10.000 ha de floresta de terra firme contínua. Nesta área, foi realizado um gradeamento de trilhas a cada 100m, totalizando 11000 ha utilizados para orientação e locomoção por dentro da mata (Freitas, 1998). Gascon e Bierregaard (2001) descrevem esta área como um domínio de floresta tropical úmida bastante diversa, com dossel da mata entre 30 e 37m e emergentes com mais de 55m de altura; a média anual pluviométrica na região é de 2.200mm, com amplitude entre 1.900 e 2.500 mm. Apresenta forte sazonalidade, com estação seca marcada entre os meses de junho a outubro, com menos de 100mm de chuva por mês. A temperatura média anual é de 26 0C, com máximas de 35-390C e mínimas de 19-21 0 C (Gascon & Bierregarard, 2001). A região está localizada em terraços pleistocênicos de origem interglacial, com desníveis médios de 40-50 m e com 35 – 50% da área constituída por terrenos em declive, recortados pelo sistema aluvial; a altitude varia entre 80 e 100 m acima do nível do mar (Freitas, 1998). Segundo esta mesma autora os solos são pobres em nutrientes, sendo formados principalmente por latossolos amarelos, álicos, arenosos ou argilosos, sendo a camada orgânica do solo composta de uma abundante quantidade de serapilheira, que se acumula principalmente entre os meses de maio a novembro, e é rapidamente decomposta. Dasenho Experimental Aproveitando o sistema de trilhas traçado, foram instalados 10 blocos experimentais. Estes blocos eram compostos por pares de tratamentos, sendo o primeiro destes em área de clareira (tratamento 1) e o outro sob dossel fechado (tratamento 2). As clareiras escolhidas apresentavam tamanho e idade não muito diferentes e distavam pelo menos 100m entre si. Em cada tratamento foi instalada uma gaiola de exclusão contendo em seu interior 8 sementes de A. acaule. O experimento permaneceu no campo durante 48 horas, ou duas noites. As gaiolas foram confeccionadas com telas de arame com malha de 2,5 por 3,5 cm, em formato cilíndrico, de perímetro igual a 1,5m. As gaiolas tiveram sua parte superior fechada e “costurada” com arame. Em quatro pontos foram feitas aberturas de aproximadamente 5 por 10 cm para permitir a entrada dos pequenos mamíferos, mas excluir aqueles de grande tamanho. Resultados Houve remoção de sementes em cinco das 20 gaiolas de exclusão instaladas, sendo quatro na área de sub-bosque e uma na clareira. Em cinco gaiolas foram observadas sementes com parte da polpa removida, sendo três destas no sub-bosque e dois na área de clareira. Em uma gaiola localizada sob dossel fechado foi observada a remoção da polpa de todo os frutos. No entanto é impossível determinar o agente causador desta predação, podendo ter sido causado por diversos animais como pequenos mamíferos, formigas ou coleópteros. Tabela 1. Número de sementes removidas e não removidas em cada tratamento. Clareira Sub-bosque (Tratamento 1) (Tratamento 2) Removido 1 4 Não - Removido 9 6 Discussão Os resultados indicam que o efeito da abertura de clareira, está influenciando o padrão de remoção de sementes de A. acaule, como anteriormente observado por outros autores. Cintra e Horna (1997), analisando a sobrevivência de sementes e plântulas de Astrocaryum murumuru em áreas de clareira e subbosque da reserva do Km 41, verificaram uma menor taxa de predação em áreas abertas. Por outro lado Freitas (1998), estudando o padrão de remoção de Oenocarpus bacaba, Dinizia excelsa, Dipteryx odorata e Cariniana micrantha em áreas de clareira e sub-bosque na mesma área não encontrou diferenças. Hammond el al. (1999), estudando o modelo espacial e temporal de predação e germinação de grandes sementes em uma floresta tropical nas Guianas tamém não encontraram um efeito da abertura do dossel. Uma vez que o tamanho das sementes está relacionado ao tamanho do predador que a consome (Howe, 1989), tal padrão pode estar sendo determinado pela resposta dos predadores às áreas de clareira. Ao contrário do esperado, pequenos mamíferos não devem estar utilizando áreas abertas, possivelmente em função de um maior risco de predação, que pode estar ocorrendo com maior frequência nestas áreas (Janzen, 1989 apud Schupp & Frost, 1989). A menor predação de sementes em áreas de clareira pode estar favorecendo o estabelecimento de espécies com pequeno tamanho de sementes nestas áreas e limitando o recrutamento daquelas de grande tamanho. Este fato pode ser determinante no padrão de distribuição e regeneração das espécies, bem como na dinâmica de clareiras. Os resultados obtidos neste estudo devem ser avaliados com bastante cautela. O tamanho da semente de A. acaule podem apresentar um tamaho superior ao frequentemente consumido pelos animais permitidos nas gaiolas. A abertura das gaiolas pode ter sido muito pequena, limitando o número e o tamanho dos predadores. Além disso, sabe-se que a densidade de pequenos mamíferos na Amazônia é bastante reduzida (Lima, 1998). Portanto, um estudo com maior tempo e número de amostragens poderia revelar um padrão mais claro de remoção. Entretanto, é importante ressaltar que os processos de germinação e estabelecimento das plântulas são um dos mais limitantes e a fase mais crítica onde ocorre uma diminuição marcante na densidade de indivíduos (Janzen, 1970). Portanto, a estrutura florística futura apresentada nestas clareiras vai ser função não apenas da disponibilidade de propágulos, mas também da sobrevivência do indivíduos jovens que forem recrutados neste ambiente. Agradecimentos Ao novos amigos do curso de campo 2002, por tantas discussões acerca dos mais diversos assuntos durante os almoços e jantares; por tantos apelidos (...), pelas boas risadas e por testarem, à cada dia, meu poder de ser paciente. Um agradecimento muito especial a todo o pessoal que coordenou e organizou o curso: Jansen, Dadão, Fernando e é claro o Juruna (Ocírio). Referências bibliográficas Adler, G.H. 2002. La regulación de las poplaciones de mamíferos. Pp.329-375. In: Ecología y Conservación de Bosques Neotropicales. Guariguata, M.R.; Kattan, G.H. (editores). Libero Universitario Regional, Cartago, Costa Rica. Augspurguer, C.K. 1984. Seedling survival of tropical tree species: interactions of dispersal distance, light-gaps, and pathogens. Ecology, 65: 1705-1712. Begon, M.; Harper, J.L.; Twonsend, C.D. 1997. Ecology: individuals, populations and communities. Blackwell Scientific Publications, London. Cintra, R.; Horna, V. 1997. Seed and Seedling survival of the palm Astrocaryum murumuru and the legume tree Dypteryx micrantha in gaps in Amazonia Forest. Journal of Tropical Ecology 13: 257-277. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 99 Connell, J.H. 1971. On the role of natural enimies in preventing competitive exclusion in some marine animals and rain forest tree. Pp. 298-312. In: Dynamics of populations. Den Boer, P.J.; Gradwell, P.R. (editores).PUDOC, Wageningen, EUA. De Esteven, D.; Putz, F.E. 1984. Impact of mammals on early recruitment of a tropical canopy tree, Dipteryx panamensis, in Panama. Oikos, 43: 207-216. Freitas, M.A. 1998. O efeito de fatores bióticos e abióticos na sobrevivência pós-dispersão de sementes e plântulas de cinco espécies arbóreas na Amazônia Central. Dissertação de Mestrado. Inpa/UA- Manaus. Gascon, C.; Bierregaard, JR., R.O. 2001. The Biological Dynamics of Forest Fragments Project. The study site, Experimental Design, and Research Activity, 31-46. In: Lessons from Amazonia- The ecology and Conservation of a Fragmented Forest. Bierregaard, JR., R.O; Gascon, C.; Lovejoy, T.E.; Mesquita, R. Yale University, Michigan. EUA. Pp.478. Hammond, D.S.; Brown, V.K; Zogt,R. 1999. Spatial and temporal patterns of seed attack and germiantion in largeseded neotropical tree species. Oecologia 119: 208-218. Hartshorn, G.S. 1978. Treefalls and tropical forest dynamics. In: Tropical trees as living systems, 617-638. Tolmlinson, P.B.; Zimmermann (editores). Cambridge University Press, Cambridge, EUA. Henderson, A.; Galeano, G. Bernal. 1995. Field guide to the palms of the americas. Princenton University Press, Princeton, New Jersey, EUA. Pp.322 Howe, H.F. 1989. Scatter and clump-dispersal and seedling demography: hipotesis and implications. Oecologia 79: 417-426. Howe, H.F.; Smallwood, J. 1982. Ecology of seed dispersal. Annual Review Ecology and Systematics 13: 201-228. Janzen, D.H. 1970. Herbivores and the numder of tree species in tropical forest. The American Naturalist 23: 1-27. Laurance, W. F. 1997. Plants and plant-animal interactions. Introdution. In: Tropical Forest Remnants: Ecology, Management, and Conservation of Fragmented Communities. Laurence, W.F.; Bierregaard, R.O. (editores). University of Chicago Press, Chicago, EUA. Lima, M.G. 1998. Composição da comunidade de pequenos mamíferos e sapos de litera em remanescentes lineares no projeto dinâmica biológica de frgmentos florestais (PDBFF). Dissertação de Mestrado. Manaus-AM. Pp.62 Ribeiro, J.E.L. da S.; Hopkins, M.J.G.; Vicentini, A.; et al. Flora da Reserva Ducke: Guia de identificação das palntas vasculares de uma floresta de terra-firme na Amazônia Central. Inpa-DFID, Manaus. Pp.792. Schupp, E.W. 1988. Seed and early seedling predation in the forest understory and treefall gaps. Oikos 51: 71-78. Schupp, E.W.; Frost, E.J.. Differential Predation of Welfia georgii seeds in treefall gaps and the forest understory. Biotropica 21(3) 200-203. Tabarelli, M.; Mantovani, W. 1996. Remoção de sementes de Bertholletia excelsa (Lecythidaceae) por animais em florestais de terra firme na Aamzônia Central, Brasil. Revista Brasileira de Biologia 65: 755-760. Quão longe devemos ir? Influência da escala de amostragem na riqueza e composição de espécies de formigas epigéicas. Marcio Uehara-Prado Introdução A riqueza de espécies presentes em uma área é um componente fundamental da diversidade biológica (Meffe & Carrol, 1994). Nosso conhecimento quanto à identificação, relações taxonômicas e distribuição da maioria dos organismos ainda é muito incompleto, de modo que o trabalho de catalogar a riqueza de espécies na maioria dos sítios neotropicais ainda é incipiente (Cody, 1996). O modo como esse inventário deve ser conduzido, extensiva (“global survey”) ou intensivamente (“rapid acessment program - RAP”), é objeto de muito debate na literatura (veja Meffe & Carrol, 1994). No entanto, um aspecto comum entre as abordagens, e inerente a qualquer processo de inventário de espécies é a eficiência com que essas informações são obtidas. Segundo Huston (1994), a avaliação estatística da diversidade de espécies é um problema relativamente simples, comparado às questões sobre o que amostrar, e como amostrar. De acordo com esse autor, o modo como o problema é abordado determina quais insights ecológicos podem ser obtidos a partir do estudo. Formigas são insetos sociais filopátricos, que respondem rapidamente a mudanças ocorrendo em escalas espaciais pequenas. São um grupo muito representativo em termos de biomassa e número de espécie, tendo um papel fundamental na estrutura e função de ecossistemas diversos e complexos, como a Amazônia (Vasconcelos et al., 2001). Uma vez que muitos padrões e processos variam com a escala espacial, e que estes podem influenciar a riqueza de espécies 100 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 nas diferentes escalas, o objetivo deste estudo foi verificar o efeito da escala de amostragem na avaliação da riqueza e composição de espécies de formigas epigéicas em uma mata de terra firme na Amazônia Central. Material e métodos O estudo foi realizado na reserva 1501 (Reserva do Km 41), Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF – INPA), situada em uma vicinal (ZF - 3) da rodovia BR 174, 70 Km ao norte de Manaus, AM (020 24’ S, 590 52’ W). Realizei a coleta de dados durante os dias 30 e 31 de julho de 2002, entre 16 e 17h 30min. Para verificar o efeito da escala na avaliação da riqueza de espécies, usei um esquema hierárquico de amostragem, com as escalas menores incluídas nas maiores. Assim, usei dois conjuntos de quadrantes aninhados de 400, 1600 e 6400 m2, e dentro destes instalei 33 pontos de coleta, de modo que cada escala continha 15 pontos (Fig. 1). As amostragens foram realizadas nos limites de duas áreas de 10000 m2 (trilhas G e H, entre 6 e 7, e entre 10 e 11), separadas entre si por 300 m. Em cada ponto de coleta, usei pequenas porções de sardinha em lata amassada como isca, colocadas no chão sobre quadrados de papel toalha (12 x 12 cm). Após 60 minutos, recolhi os quadrados com as formigas em sacos plásticos individualizados e etiquetados. Identifiquei as formigas em morfoespécies, até o menor nível taxonômico possível. 0 5 10 15 20 30 40 60 80 0 Tabela 1 – Espécies de formigas capturadas com iscas de sardinha nos dois quadrantes da Reserva do Km 41, PDBFF – INPA. X = presença, 0 = ausência Quadrante 1 10 20 40 80 Figura 1 – Esquema hierárquico de amostragem, com quadrantes aninhados de 20, 40 e 80 m2, cada qual com quinze pontos. Distâncias em metros. Analisei os dados de riqueza de espécies por meio de inspeção gráfica, e comparei a composição de espécies entre as escalas e entre quadrantes com uso do método de Jaccard (Krebs, 1999): Sj = A/A + B + C, onde A = número de espécies comuns entre as amostras, B = número de espécies presentes exclusivamente no ambiente i, e C = número de espécies presentes exclusivamente no ambiente j. Freqüência Quadrante 2 Freqüência Crematogaster sp1 X 3 X Crematogaster sp2 X 3 X 4 Crematogaster sp3 X 11 X 3 Crematogaster sp4 0 X 1 Crematogaster sp5 0 x 1 Ectatomma sp X 1 X 1 Formicinae sp X 1 Myrmicinae sp1 0 Myrmicinae sp10 X 2 0 Myrmicinae sp11 X 1 X Myrmicinae sp12 X 1 0 Myrmicinae sp13 0 X 1 Myrmicinae sp14 0 X 1 Myrmicinae sp15 0 X 1 Myrmicinae sp2 0 X 2 Myrmicinae sp3 X Myrmicinae sp4 10 0 X 1 1 1 x 1 0 X 1 Myrmicinae sp5 0 X 1 Myrmicinae sp6 0 X 1 Myrmicinae sp7 X 1 Myrmicinae sp8 X 1 Myrmicinae sp9 0 Odontomachus sp1 X 1 Odontomachus sp2 X 1 Odontomachus sp3 0 Pachycondyla sp X 1 0 Pheidole sp1 X 1 X Pheidole sp2 X 1 0 0 0 X 1 0 0 X Ponerinae sp1 0 X Ponerinae sp2 X 0 1 2 1 Resultados Capturei ao todo 30 espécies de formigas epigéicas, sendo 17 no quadrante 1 e 20 no quadrante 2, com apenas 7 espécies em comum entre eles (Tab. 1). A grande maioria das espécies ocorreu somente uma vez (Tab. 1), e em apenas 7 iscas não foi encontrada nenhuma formiga. Uma vez que as tendências observadas na correlação espacial em cada réplica foram opostas, a riqueza de espécies de formigas não apresentou nenhum padrão estruturado no espaço. A similaridade na composição de espécies dentro de cada quadrante variou pouco entre as escalas, ficando entre 27 e 31% no quadrante 1 e entre 31 e 43% no quadrante 2 (Tab. 2). A similaridade entre quadrantes foi de 23 %. A inclinação da curva cumulativa de espécies entre escalas (Fig. 2) indica que muitas espécies ainda devem ser acrescentadas até que a assíntota seja atingida, ou seja, as espécies amostradas em uma escala não estão se repetindo na escala seguinte. No. acumulado de espécies 25 quadrante 1 quadrante 2 20 15 10 5 0 20 x 20 40 x 40 80 x 80 Tamanho do quadrante (m) Figura 2 – Curvas cumulativas de espécies de formigas epigéicas nas diferentes escalas, nos dois quadrantes estudados Tabela 2 - Similaridade (Jaccard) na composição de espécies entre as escalas nos quadrantes 1 e 2. Valores em porcentagem. Escalas (m) quadrante 1 Quadrante 2 20 x 20 versus 40 x 40 27 35 20 x 20 versus 80 x 80 31 31 40 x 40 versus 80 x 80 29 43 Discussão Como a riqueza de espécies não mostrou estrutura espacial, e a similaridade na composição foi baixa entre as escalas e entre os quadrantes, é possível que a escala máxima usada (80 x 80 m) não tenha contemplado uma área suficiente para amostrar toda a diversidade da comunidade de formigas epigéicas. Dado o alto número de espécies com baixa ocorrência, pode-se esperar que a riqueza de espécies seja muitas vezes maior do que a encontrada neste estudo, hipótese corroborada pelas curvas cumulativas entre as escalas (Fig. 2). Uma hipótese complementar é que a densidade de ninhos no local de estudo seja baixa, e que o conjunto total de espécies epigéicas não tenha sido contemplado, dada a raridade da maioria das espécies. Outros estudos com insetos em locais semelhantes encontraram baixa densidade de indivíduos (e.g. Brown & Hutchings, 1997, com borboletas). Deve-se esperar também que, em um sistema com tão alta riqueza de espécies, estas se diferenciem não apenas no espaço, mas também no tempo. De fato, diferentes espécies de formigas epigéicas possuem atividade diurna, noturna ou mesmo diuturna, podendo a mesma colônia variar entre períodos em questão de dias (Hölldobler & Wilson, 1990). Como as amostras foram realizadas apenas em um período muito curto do dia, é provável que várias espécies tenham sido excluídas da amostra. Outra possibilidade é que a eficiência de recrutamento de Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 101 algumas espécies seja muito maior (como Crematogaster spp.), seja porque possuem maior densidade de ninhos ou porque são mais atraídas pela isca, de modo que elas “deslocariam” os indivíduos das outras espécies. Por outro lado, o tempo de revisão das iscas (60 min) pode ter sido longo o suficiente para que espécies com indivíduos grandes e eficientes na remoção da isca (como as Ponerinae) tenham sido sub amostradas. Assim, para fins práticos, em estudos pontuais como o realizado na Reserva do Km 41, é vantajoso em termos de economia de tempo e deslocamento realizar amostragens da riqueza de espécies de formigas epigéicas em quadrantes de 20 x 20, com maior número de repetições, em diferentes horários e com remoção das iscas em tempo mais curto. Agradecimentos Sou muito grato ao Glauco Machado pela ajuda no campo, na morfotipagem e pelas sugestões e conselhos em relação ao trabalho. Aos coordenadores Eduardo Venticinque (Dadão), pela ajuda com o delineamento da amostragem, nas análises, e revisões no texto e Janzen Zuanon, pelas idéias para a discussão e pelas revisões no texto. Aproveito para mandar saudações tricolores para ambos. Agradeço a Renata Durães pela ajuda na triagem das incidiosas Crematogaster, regada a boa música e mau cheiro (das iscas). A todos os participantes do curso, pelos 30 dias muito especiais de convívio, em particular aos companheiros das madrugadas: Adam, Renata e Ricardo. Referências Brown, K.S. & R.W. Hutchings. 1997. Disturbance, fragmentation, and the dinamics of diversity in Amazonian butterflies. Pp. 91-119 In Laurance, W.F. & R.O. Bierregaard (ed.). Tropical forest remnants. Ecology, management, and conservation of fragmented communities. University of Chicago Press, Chicago & London, 616 p. Cody, M.L. 1996. Introduction to Neotropical diversity. Pp 1-20 In A.C. Gibson (ed.). Neotropical biodiversity and conservation. MEMBG, Los Angeles, CA. 202 p. Hölldobler, B. & E.O. Wilson. 1990. The ants. Belknap Harvard. 732 p. Huston, M.A. 1994. Biological diversity. The coexistence of species on changing landscapes. Cambridge University Press, New York. 681 p. Krebs, C.J. 1999. Ecological methodology 2nd Ed. Benjamin Cummings, Menlo Park, CA. 620 p. Meffe, G.K. & C.R. Carroll 1994. Principles of conservation biology. Sinauer, Sunderland, MA. 600 p. Vasconcelos, H.L., K.S. Carvalho & J.H.C. Delabie 2001. Landscape modifications and ant communities. Pp. 199207 In Bierregaard, R.O., C. Gascon, T.E. Lovejoy & R. Mesquita (ed.). Lessons from Amazonia. The ecology and conservation of a fragmented forest. Yale University Press, New Haven & London. 478 p. Projeto Individual Marcio Uehara-Prado Museu de História Natural, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas. CP 6109, 13083-970 Campinas, SP, Brasil. Endereço eletrônico: [email protected] Avaliação do comportamento de escolha de cores por borboletas Maria Cecilia Vega Corredor Introdução O fenômeno da percepção das cores têm mantido cativa a imaginação do homem por muito tempo (Kevan 1983). Um dos mais amplos esquemas utilizados para medir a percepção das cores foi desenvolvido com a teoria da percepção tricromática (cores primárias) em humanos, baseado nos trabalhos de Newton (1704),Young (1807) e Helmhooltz (1852, 1924 e 1925 apud Silberglied 1989). Medidas com respeito a visão de cores dos insetos têm sido feitas, testando a percepção das cores de flores ou outros estímulos tais como predadores, alimento, parceiros, locais de oviposição, entre outros. No entanto ainda não foi possível esquematizar as atitudes ou comportamentos (que dependem da fisiologia dos organismos), sobre essas percepções (Kevan 1983). Modelos usados em abelhas para determinação de códigos de cores de flores têm demonstrado que elas possuem uma visão tricromática aguçada que compreende receptores UV, azuis e verdes (Cittka 1997). A maneira como as cores são percebidas pelos insetos é muito importante na biologia da polinização. Flores atraem insetos provendo estímulos visuais e olfativos, para que procurem alimento alocado nelas. Em contrapartida, o inseto visitante transporta pólen até outra flor visitada, permitindo assim a polinização (Kevan 1983) Desde os tempos de Darwin (1859) foi estabelecida a hipótese de que borboletas conseguem ver cores. Uma primeira proposta 102 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 foi levantada com respeito á percepção de cores relacionada à seleção sexual, pois fêmeas conseguem ver padrões de cores em machos e selecionar um parceiro (Darwin 1874, Higston 1933 apud Silberglied 1989). A amplitude espectral de visão das borboletas se estende desde o ultravioleta (Lutz 1924 apud Silberglied 1989) até o vermelho (Eltringham 1919, Schlieper 1928 apud Silberglied 1989). Ilse (1928) e Kuhn & Ilse (1925) apud Silberglied 1989) demostraram que existe visão verdadeira de cores nas borboletas. Estudos comportamentais revelaram a existência de preferências por cores que podem mudar com a idade, estado reprodutivo ou aprendizajem (Ilse 1937, Tingergen, 1958 Swarhart 1970 apud Silberglied 1989). Por outro lado, estímulos olfativos também atraem borboletas. Muitas das espécies da família Nymphalidae, conseguem localizar alimento sendo atraídas pelo cheiro de sucos de frutos e sementes em decomposição (DeVries 1987). O objetivo deste trabalho foi investigar se as borboletas da família Nymphalidae têm algum tipo de preferência frente a estímulos visuais (cores) ou olfativos (frutos fermentados). Materiais e métodos Este trabalho foi desenvolvido na área do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), na reserva # 1501 (reserva do Km 41), situada 70 Km ao norte da cidade de Manaus, entre 20 24’26”- 2025’31”S e 59043’40-590 45’50”W. Resultados Foram registrados 24 indivíduos pertencentes a 5 subfamilas (Nymphalidae) (Ttabela 1). A espécie mais abundante foi Morpho achilles com um total de10 indivíduos. Alem das borboletas, 743 dípteros da família Tachinidae e 61 indivíduos pertencentes a outros grupos (coleópteros, vespas e micropezídeos) foram encontrados dentro das armadilhas. Tabela 1. Espécies de Lepidoptera encontradas durante cinco dias de amostragem numa área de estrada, na reserva do Km 41 (PDBFF) (Ind= Indeterminado, Idades: 1 = jovem, 2 = Adulto jovem, 3 = Adulto). FAMILIA ESPECIE phinae SEXO Ind. Ind. Ind. ? Ind. Ind. Ind. Ind. Ind. ? Ind. Ind. Ind. 2 3 Ind. Ind. Ind. Ind. Ind. 3 LARGURA ASA (cm) Ind. Ind. Ind. 4,5 5,4 Ind. Ind. Ind. Ind. Ind. 2,6 ? 1 3,3 ? 3 2,8 ? 2 2,8 ? ? ? ? ? ? ? 1 1 1 2 2 1 1 1,8 3,3 2,3 2,35 3,3 3,35 4,0 ? 3 3,7 Ind. Ind. Ind. Ind. 3 2 Ind. Ind. Ind. Morpho achilles Ind. Morpho achilles Morpho achilles Morpho achilles Morpho achilles Morpho achilles Morpho achilles Morpho achilles Morpho achilles Morpho achilles Catonephele mexicana Catonephele mexicana Catonephele mexicana Catonephele mexicana Catonephele orites Catonephele orites Tigridia acesta Tigridia acesta Zaretis itys Zaretis ellops phalinae raxinae Catoblepia xanthicles solinae Catoblepia xanthicles Bia sp. Ind. Ind. IDADE Vinte armadilhas foram visitadas por borboletas no mínimo uma vez ao longo do período. Isto representa uma porcentagem de ocupação de 40% do total de cinqüenta armadilhas/cinco dias. A freqüência de distribuição das cores nas armadilhas/ tratamento, durante os cinco dias de amostragem foram as seguintes : Amarelo=17, Vermelho=15, Trasparente=18. Não houve diferença significativa entre os tratamentos (gl=2; p=0,74) (Figura1). 3.5 NUMERO DE INDIVIDUOS As coletas foram feitas durante os dias 30 de julho até 4 de agosto de 2002. Como local de coleta foi escolhida uma antiga estrada situada nas bordas da reserva. Segundo DeVries (1985) em habitats perturbados (clareiras ou bordas) as borboletas do dossel se misturam com as do sub-bosque o que, consequentemente, aumenta a chance de obter uma melhor amostragem. Ao longo de dois transectos de 250 m de comprimento, foram colocadas 10 armadilhas para captura de borboletas com as seguintes medidas: tábua de suporte 30 x 30 cm e cilindro de filó com 50 cm de largura x 30 cm de diâmetro. As armadilhas foram colocadas a 50 m de distância uma da outra e foram deixadas a uma altura de 50 cm do chão. As armadilhas foram dividas em dois grupos, cinco delas foram colocadas de um lado e cinco do outro lado da estrada. No total foram usadas 50 armadilhas durante os cinco dias de amostragem. Como isca para atrair as borboletas foi usada uma mistura fermentada, feita de banana e caldo de cana. Diariamente, no horário das seis horas da manhã a isca era trocada e o que era retirado das armadilhas, era misturado com o resto da isca para continuar com o processo de fermentação. Para testar o tipo de estímulo (visual ou olfativo) que levaria as borboletas até a armadilha, as iscas foram divididas em três tratamentos, os quais consistiam em pratos plásticos de cores vermelha, amarela e transparente (controle). A cada dia foi sorteada entre as armadilhas a disposição das cores dos pratos e cada armadilha foi deslocada um metro, em relação a posição anterior, seguindo a direção sul – norte da estrada. Cada borboleta capturada foi identificada com ajuda do guia de campo “The Butterflies of Costa Rica” (De Vries 1987). Os individuos capturados foram medidos (largura da asa) e sexados (isto foi feito somente para registrar a informação). Nos casos que não foi possível a identificação in loco o indivíduo foi registrado e levado para o laboratório. Indivíduos identificados no campo foram marcados na parte ventral da asa direita, com o objetivo de estabelecer se ocurreria recaptura posteriormente eram liberados. Alem das borboletas, também foram contados outros indivíduos de diferentes espécies e ordens que entraram nas armadilhas. Durante os dos primeiros dias as armadilhas foram revisadas as 06:00 e 09:00h manhã, e as 14:00 até 17:30h com o objetivo de observar como era o padrão temporal de forrageamento das borboletas. Depois do segundo dia, as armadilhas foram acompanhadas durante os horários de 10:00 até 12:00h da manha e de 15:00 até 17:30h. Cada borboleta capturada representava uma visita. Também ocorreram situações onde a borboleta conseguia sair da armadilha (por causa disso, foi necessário acompanhar as armadilhas por períodos mais prolongados com o objetivo de verificar quias armadilhas eram visitados temporariamente) curiosamente, Morpho achilles, foi a espécie que quase sempre conseguiu sair da armadilha. 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 A T V TRATAMENTOS Figura 1. Comparação de frequência de visitas da borboletas da Família Nymphalidae aos tratamentos (A= Amarelo, T= Transparente, V= Vermelho). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 103 Discussão O fato das borboletas não terem demostrado preferência por cores, indica que foi o estímulo olfativo que levou os indivíduos até as armadilhas. Por outro lado, para explicar o acontecido com os tratamentos das cores, posso concluir que, apesar de observar registros da literatura sobre a provável existência de que mais de três receptores de cores presentes em algumas borboletas e mariposas (Langor et al. 1979 apud Silberglied 1989), talvez o material escolhido para os tratamentos com cores não tenha sido adequado. Talvez experimentos feitos com materiais que permitam refletir UV os resultados poderiam ser diferentes. Electroretinogramas feitos em borboletas e alguns gafanhotos revelaram ampla sensibilidade para UV menor de 30nm e até 70nm para vermelho, e tem sido encontrados mais de um tipo de receptor de cores para ambos (Swihart 1963,1964, Schumperli 1975, Bernard 1979 apud Silberglied 1989). Uma outra hipótese que pode levantar-se para tentar entender o comportamento observado neste trabalho, pode ser que as borboletas que são atraídas por frutos em decomposição, realmente não usam as cores como pista ou guia para encontrar alimentos, já que frutos em decomposição que se encontram no chão, talvez sejam uniformemente de cor marrom e, portanto, difíceis de distinguir visualmente no chão da floresta (pouco contrastantes, pouco conspícuos). Além do comportamento natural e a capacidade dos indivíduos de perceber ou responder a estímulos visuais ou olfativos, outros fatores podem ter influenciado os resultados do trabalho, por exemplo o tamanho das armadilhas. Segundo DeVries (1989), armadilhas com as medidas usadas neste trabalho são as mais adequadas para capturar borboletas, já que redes muito altas dificultam a retirada das borboletas. Por outro lado, telas muito curtas permitem o escape das borboletas. No presente estudo pude observar que muitos indivíduos de tamanho maior (e.g. Morpho achilles ) não conseguiam entrar na armadilha, mas uma vez dentro passava a entrara e sair rápidamente, tendo aparentemente “aprendido” a forma de acceso às iscas. Possivelmente a falta de um funil dentro da armadilha causa uma taxa elevada de fugas das borboletas. Além disso, é possível que a qualidade da isca tenha se modificado com o passar dos dias, alterando a palatabilidade e atratividade, afetando o número de visitas. Finalmente considero importante mencionar a abundância de dípteros da família Tachinidae encontrados nas armadilhas. Segundo Borror & DeLong (1963) a maioria dos taquinídeos parasitam larvas de lepidoptera e geralmente ocasionam a morte dos organismos parasitados. Pode ser que este tipo de inseto acompanhe as borboletas durante o forrageio, com a intenção de predar ou parasitar as larvas, ou simplesmente sejam atraídas até as armadilha pela isca como, as borboletas. Agradecimentos Quiero agradecer principalmente a MDA (como siempre), a Roger W. Hutchings por la paciencia y gran ayuda com el préstamo de los materiales para el trabajo de campo, a Jansen por el apoyo y consejos durante el desarrollo de este trabajo, a Márcio por la colaboración en la identificación de las lindas mariposas y a Ana por la identificación de los diípteros, a Max por soportar mis constantes preguntas y finalmente agradecimientos muy especiales para Super Juruna por estar siempre tan dispuesto a ayudar a todos!! Referencias bibliográficas Borror, D.J. & D.M. DeLong. 1963. Introdução ao Estudo dos Insetos. Ed. Edgard Bluncher Ltda. São Paulo. SP. Brasil Chittka, L. 1997. Bee color vision is optimal for coding flower color, but flower colors are not optimal for being coded-Why? Israel Journal Of Plant Sciences. 45(23):115-127. DeVries, P.J. 1987. The Buterflies of Costa Rica and their Natural History. Princeton University Press. Princeton, New Jersey. Kevan, P.G. 1983. Floral color through the insect eye: what they are and what they mean. Pp.3-30. In Jones, C. E. R.J. Little. 1983. Handbook of Experimental Pollination Biology. Scientific and Academic Editions. New York. Silberglied, R.E. 1989. Visual Communication and sexual selection among butterflies. Pp. 207-223. In Vane, W. & P.R. Ackery. The Biology of Buterflies. Princeton University Press. New Jersey, USA. Padrões de remoção de sementes enterradas de tucumã (Astrocarium aculeatum, Arecaceae) em uma floresta de terra firme da Amazônia Central Maria Luisa S. P. Jorge Introdução Diversos mecanismos já foram propostos para explicar a alta diversidade das florestas tropicais (Wright, 2002). Dentre esses inclui-se a hipótese de escape (Janzen, 1970; Connell, 1971), que foi sugerida a partir da observação de que populações de árvores nesses ambientes são, em geral, raras, e têm distribuição dispersa. O mecanismo proposto para explicar tal situação é que a predação de sementes e de plântulas é maior onde estas estão em maior densidade, ou próxima a indivíduos adultos da mesma espécie. Isto impede que se formem agregações monoespecíficas e permite que sementes e plântulas se desenvolvam preferencialmente próximas a indivíduos de outras espécies. Neste contexto, a dispersão de sementes é fundamental, pois aumenta a probabilidade de recrutamento. Nas florestas neotropicais, a maioria das espécies arbóreas têm suas sementes dispersadas por animais (zoocoria), sendo a 104 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 endozoocoria (animais que se alimentam dos frutos e defecam as sementes) a mais comum (Howe & Smallwood, 1982). No entanto, existe uma parcela dessas que produz sementes grandes demais para serem dispersadas via endozoocoria. Sementes de grande porte são dispersadas por um outro mecanismo, denominado estocagem espalhada (scatterhoarding – Morris, 1962) e os agentes desse tipo de dispersão são roedores da família Dasyproctidae. Cutias (Dasyprocta sp.) e cutiaras (Myoprocta sp.) são roedores de porte médio (0,6 a 5 kg) e vivem preferencialmente em ambientes florestais. São diurnos, terrestres e se alimentam principalmente de sementes e frutos que encontram no chão da mata (Henry, 1999). Além disso, enterram parte das sementes para futuro consumo (Morris, 1962; Smythe, 1978). Dessas, algumas são esquecidas e podem germinar, aumentando, assim, sua probabilidade de recrutamento. De fato, inúmeros estudos comprovaram a importância desses roedores na dispersão de sementes de grande porte de várias espécies arbóreas neotropicais (Huber, 1910; Hallawchs, 1986; Smythe, 1989; Forget, 1990, 1992, 1996; Peres & Baider, 1997; entre outros). Todavia, para compreender a relação entre a dispersão desse tipo de semente e o padrão de distribuição espacial dos adultos ainda é preciso considerar outros fatores. Um deles é a predação das sementes já enterradas. Espera-se que os animais que as enterraram sejam seus principais predadores. No entanto, sabese que outros animais também têm a capacidade de encontrar sementes enterradas para predá-las (Murie,1977; C. Baider, dados não publicados). Seguindo a mesma linha de raciocínio da hipótese de escape, as sementes enterradas próximas a adultos da mesma espécie deveriam apresentar maior probabilidade de predação do que aquelas enterradas em outros locais. Mais ainda, o esforço de busca e, conseqüentemente, a probabilidade de predação, deveria ser maior debaixo de adultos que frutificaram mais recentemente, pois mais sementes devem ser enterradas próximas a esses. O objetivo deste estudo foi determinar se sementes enterradas debaixo de adultos que frutificaram este ano apresentam uma taxa de remoção mais alta do que aquelas enterradas debaixo de adultos que não frutificaram. Métodos O presente estudo foi realizado na Reserva de Mata Contínua (1501) do Projeto de Dinâmica Biológica e Fragmentos Florestais (PDBFF) – Convênio Smithsonian Institution – SI e Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, que se situa no km 41 da estrada vicinal ZF-3 da rodovia BR-176 (Manaus – Boa Vista), 70 km a norte de Manaus, AM, Brasil. O clima da região é quente e úmido, com temperatura média de 26°C (máxima entre 35 e 39°C e mínima entre 19 e 21°C) e precipitação anual média de 2.200 mm, com amplitude de 1.900 a 2.500 mm. A estação seca vai de junho a dezembro, com médias de precipitação de 100 a 150 mm mensais (Gascon & Bierregaard, 2001). A região está situada entre 50 e 100 metros acima do nível do mar e a topografia é acidentada, com variações de 40 a 50 metros entre platôs e os vales formados pelos igarapés (RADAMBRASIL, 1978). Os solos são pobres em nutrientes, do tipo latossolo, argilosos até arenosos (Fearneside & Leal Filho, 2001). A vegetação é típica da Amazônia Central e apresenta predominância das famílias Chrysobalanaceae, Lecythidaceae, Myristicaceae e Burseraceae em riqueza e Lecythidaceae, Leguminosae, Sapotaceae e Burseraceae em abundância (Laurance, 2001). Segundo O. Pereira (com. pess.) cutias e cutiaras se alimentam dos frutos de Attalea attaleoides (Arecaceae), uma palmeira acaule de sub-bosque, muito abundante na floresta e que produz um fruto grande e carnoso, com uma semente rica em lipídios e protegida por uma casca muito dura. Espera-se, portanto, que suas sementes sejam enterradas por esses animais. De fato, R. Salm (com. pess.) relatou que 100% das plântulas de Attalea maripa por ele estudadas provinham de sementes enterradas, provavelmente por roedores dasiproctídeos. Apesar de A. attaleoides e A. maripa terem hábitos diferentes (uma é acaule e a outra é arbórea), suas sementes são muito semelhantes, reforçando a possibilidade de que as duas espécies apresentem mecanismos de dispersão parecidos. Como o estudo foi realizado na estação seca, não foi possível encontrar frutos em número suficiente de A. attaleoides (nem de qualquer outra espécie), para serem utilizados nos experimentos. Tucumã (Astrocarium aculeatum, Arecaceae) é uma palmeira muito rar na área de estudo. No entanto, é muito abundante em locais de floresta secundária e seus frutos são facilmente adquiridos em qualquer comércio local. Além disso, suas sementes também são muito predadas por roedores em geral e dispersas por cutias, nos locais onde essa palmeira é comum. Por isso, nesse estudo adaptei a idéia original e enterrei sementes de tucumã debaixo de palmeiras adultas de A. attaleoides. Foram montadas 20 estações de nove sementes cada uma, dispostas um gradeado de 1x1 metro logo abaixo da roseta de onde saem as folhas. Dez estações foram colocadas debaixo de palmeiras que frutificaram no último ano e as outras dez debaixo de palmeiras que não frutificaram. Para determinar se a palmeira tinha frutificado ou não, eu procurava pela bráctea reprodutiva na base das folhas. A ocorrência de sementes removidas por estação foi comparada entre os dois tratamentos (palmeiras com e sem brácteas) com o auxílio do teste de c2 com a correção de Fisher, que é sugerida para tabelas de 2x2 (Zahr, 1984). A comparação entre ocorrências foi escolhida ao invés do número de sementes por estação, uma vez que a remoção de uma única semente já determina que houve procura e localização direcionadas. Resultados Sete das vinte estações tiveram entre uma e nove sementes removidas após 48 horas (Tabela 1). No entanto, a média de remoção por estação foi baixa (1,3 frutos por estação) e o desvio padrão alto (± 2,7) porque na maioria das estações (13) não houve remoção, em cinco um ou dois frutos foram removidos, mas em duas todos os nove frutos foram removidos. Não houve diferença na ocorrência de frutos removidos por estação entre as palmeiras que tinham bráctea reprodutiva (e que supostamente tinham frutificado no início deste ano) e aquelas que não tinham bráctea (c2 = 1,97; g.l. = 1; p = 0,35). Discussão Apesar do pouco tempo de exposição (48 horas), os resultados mostraram que predadores de sementes presentes nesta mata são capazes de localizar sementes enterradas por outros animais. A vasta maioria dos estudos realizados com remoção e predação de sementes de grande porte das florestas neotropicais foram feitos com sementes expostas sobre o chão da mata. Somente Murie (1977), C. Baider (dados não publicados) realizaram o mesmo tipo de experimento com outras espécies, em outros locais. Nos dois casos, parte das sementes foi removida. Em termos ecológicos, isto implica que a idéia de que sementes enterradas estão completamente protegidas de predadores não é válida e as chances de uma semente de grande porte escapar da Tabela 1: Quantidade de sementes de tucumã (Astrocarium aculeatum) removidas por estação experimental, após 48 horas (tamanho amostral incial por estação = 9 sementes). Reserva de mata de terra firme da Amazônia Central, no km 41 da estrada vicinal ZF-3 da estrada Manaus-Boa Vista (BR-174), 70 km ao norte de Manaus, AM. Attalea attaleoides (Arecaceae) Estação sem bráctea reprodutiva com bráctea reprodutiva 1 0 0 2 1 0 3 9 2 4 0 0 5 0 9 6 1 0 7 0 0 8 0 0 9 2 0 10 2 0 Total 15 11 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 105 predação, mesmo depois de dispersada e enterrada são ainda pequenas. É importante ressaltar que em nenhum dos três estudos realizados com remoção de sementes enterradas, o destino das sementes foi determinado e existe uma possibilidade dessas terem sido enterradas novamente, pois este comportamento é comum em roedores (Vander Wall, 1990). O segundo ponto a ser discutido é se há uma remoção diferencial determinada pelo local onde a semente foi enterrada. Os resultados desse estudo mostraram que não houve diferença de remoção entre sementes enterradas debaixo de palmeiras que frutificaram e não frutificaram neste ano, o que indica que o esforço de procura não foi direcionado, pelo menos no sentido proposto pelo tratamento utilizado. Estudos realizados com predação de sementes não enterradas, em geral, tem testado se existe um efeito espacial que determina maior probabilidade de predação, seguindo a hipótese de Janzen (1970) e Connell (1971), e muitos deles encontraram resposta afirmativa (e.g. Wright 1983; Howe et al. 1985; Schupp, 1988). Em seu estudo na Ilha de Barro Colorado, Murie (1977) testou somente se o olfato era um fator determinante na localização das sementes e também encontrou resposta afirmativa à sua pergunta. Até o presente estudo, C. Baider (dados não publicados) tinha sido a única a testar o efeito espacial na remoção de sementes enterradas. Em seu trabalho com sementes de castanha-do-Pará (Bertholletia excelsa, Lecythidaceae), ela encontrou um efeito espacial em maior escala, isto é, todas as sementes enterradas dentro de um castanhal foram rapidamente desenterradas, independentemente da distância de uma castanheira adulta, frutificando ou não. Já aquelas enterradas fora do castanhal não foram removidas. Portanto é de se esperar que, além da capacidade de farejar a semente, exista algum tipo de procura direcionada. Todavia, este não pôde ser determinado neste estudo. Um problema principal pode ser levantado: é possível que o tratamento escolhido não tenha sido adequado e brácteas reprodutivas permaneçam por mais de um ano. Neste caso, as palmeiras utilizadas com bráctea não frutificaram necessariamente neste ano. Mesmo assim, isto não explica porque algumas sementes foram removidas em estações de palmeiras sem brácteas reprodutivas. Neste caso, seria possível que algumas destas de fato frutificaram este ano, mas perderam suas brácteas por algum fator mecânico (como um galho que tenha caído no meio da palmeira), mas esta situação parece bem menos provável e as palmeiras escolhidas não pareciam ter sofrido tal tipo de injúria. Eu poderia ter utilizado um desenho mais comum neste tipo de estudo que seria escolher locais próximos e distantes de indivíduos adultos, porém a alta densidade de Attalea attaleoides no sub-bosque desta mata dificultou tal tipo de delineamento. Agradecimentos Agradeço ao Dadão, ao Jansen e ao Glauco e aos nove colegas que participaram da reunião pré-execução do projeto, pelas dicas sobre o desenho experimental. Ao Juruna, que me ajudou a escolher a espécie de palmeira, me ensinou a identificá-la e, principalmente, porque me ensinou muito sobretudo da mata durante este curso. E ao Dadão e à Ana, pelas dicas para a correção do manuscrito. Além disso, agradeço a todos os meus companheiros de curso (alunos e professores), por sempre criarem um ambiente agradável, onde conseguimos combinar momentos de discussão e momentos de muita descontração. Valeu grupo 2, grupo 7, grupo 9 e grupos livres! E nunca esqueçam: eu sou a MALU, não a Ludmila! (Num tô entendenndo!). Referências Bibliográficas Connell, J.H. 1971. On the role of natural enemies in 106 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 preventing competitive exclusion in some marine animals and in rain forest trees. Pp. 298-313. In der Boer, P.J. & Gradwell, G.R. 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Distribución espacial y abundancia de Aequidens pallidus (Cichlidae) en un sistema de igarapés de una floresta en la Amazonía Central Max H. Hidalgo Introducción Los ambientes acuáticos de tierra firme (igarapés principalmente) son hábitats muy comunes y diversos en la amazonía central, su superficie total puede significar importantes volumenes en sus redes hidrográficas (Knöppel 1970, apud Kramer et al. 1978). La diversidad de peces que viven en estos hábitats puede ser alta, a pesar de su baja productividad primaria y dependencia del material alóctono. En estos ambientes es importante la relación especies-área, que implica una estrecha relación positiva entre la riqueza específica y el tamaño del hábitat (Angermeier & Schlosser 1989). Algunos investigadores mencionan que el conocimiento de la amplia diversidad de peces amazónicos depende de mayores esfuerzos de colecta en sistemas poco estudiados, especialmente las cabeceras, y que importantes aspectos ecológicos (estructura, endemismos, patrones de distribución) son poco conocidos (Menezes 1996, Lowe-McConnell 1987, Gilliam et al. 1993). Diversas investigaciones en peces amazónicos estudian aspectos de las comunidades, como su estructura en base a riqueza y abundancia (Bührheim 1998), o análisis de la dieta (Knöppel 1970, apud Kramer et al. 1978). Un patrón frecuente en las comunidades de peces de cursos pequeños (como los igarapés) es que la riqueza de especies se incrementa a lo largo de un gradiente desde las cabeceras hasta los grandes ríos, tanto en las zonas temperadas como en las tropicales (Gilliam et al. 1993), pero ¿este patrón implica también que la abundancia relativa de las especies aumente?. El presente estudio tiene como objetivo testar esta pregunta, para lo cuál decidí trabajar com Aequidens pallidus (Cichlidae), pez de distribución amplia y común en la Amazónia Central, en especial en los sistemas de igarapés de la zona de estudio. Material y métodos El estudio lo realicé en el sistema de igarapés de la Reserva do Km 41 del Projeto Dinâmica de Fragmentos Florestais (INPA/ PDBFF/Smithsonian) ubicada a 70 km al norte de la ciudad de Manaus, en las coordenadas 2o25’S y 59o48W. Hice las evaluaciones en 14 puntos distintos, 13 correspondieron a un mismo sistema de drenaje, y uno fuera de este sistema. De los 13 puntos evaluados en el sistema principal, cinco correspondieron al igarapé principal (o colector), con aproximadamente 700 m de separación entre ellos. Los otros ocho puntos correspondieron a distintos igarapés afluentes de ambas margenes. Esta distribución espacial de los puntos de muestreo cubre un área aproximada de 6 Km2. Utilizé una metodología similar a la utilizada por Bührnheim (1998) con observación supracuática dada la transparencia de las aguas de los igarapés. En cada punto de muestreo realicé conteos de los individuos de Aequidens pallidus presentes en un tramo de 50 m, categorizando por clases de tamaño para la longitud total según el siguiente patrón: (1) individuos menores de 4 cm; (2) individuos entre 4 y 7 cm; (3) individuos mayores de 7 cm. Esta categorización se basó en la observación previa de los tamaños de los peces en los ambientes cercanos antes de realizar el estudio. En cada punto de muestreo tomé de 2 a 3 medidas del ancho del curso de agua, de 3 a 5 medidas de profundidad (por cada medida del ancho), y la velocidad fue calculada por el tiempo en que un pedazo de hoja pequeña (aprox. 2 cm2) recorría una distancia de 1 m sobre la superficie del agua (por cada medida del ancho). Para cada valor saqué una media por lo que obtuve de 2 a 3 medidas del caudal. El caudal final resultó de la media de estos valores. Identifiqué los siguientes hábitats: arena, hojas, troncos, raíces y detritus. Para estimar la dominancia de los hábitats calculé visualmente la proporción de estos en secciones de tamaño variable dentro del tramo de 50 m de la evaluación. Cada sección varió en longitud entre 10 m a 20 m aproximadamente dependiendo de la morfología (y sobretodo accesibilidad para desplazarse por las orillas) de cada igarapé. Para el análisis de los datos apliqué regresiones lineales para evaluar si existía relación entre el caudal con la frecuencia de clases de tamaño y número total de individuos (variables dependientes). Teste t fue aplicado para relacionar si existian preferencias de habitat para las mismas variables dependientes. Para esta prueba tuve que reducir las cinco categorías de hábitats a dos categorías, dado que el número de casos (que era igual al número de puntos evaluados, N=14) era muy poco para realizar este test (E.M. Venticinque com. pers.). Las categorías de hábitats evaluadas entonces correspondieron a arena y material de origen vegetal (en esta categoría junté hojas, troncos, raíces y detritus). Probablemente esta reducción haya influenciado en los resultados del teste t. Para estas pruebas utilicé el software SYSTAT 8.0. Resultados Contabilizé en total 44 individuos de A. pallidus, presentes en 10 igarapés. En el resto no pude observar ninguno, mas registré otras especies, por lo que no descarto la posibilidad de que A. pallidus también estuviera presente aunque com muy poca abundancia y/o tal vez en tamaños pequeños (Clase 1). De este conteo puedo afirmar que esta especie estuvo presente tanto en igarapés de caudal mayor como en dos de los de menor caudal, (Tabla 2). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 107 Los indivíduos de la Clase 2 fueron ligeramente más abundantes en el total de registros com 22 individuos (observaciones de los resultados totales, no testados estadísticamente) que los de la Clase 3 con 19, y los más pequeños con solo 3 individuos observados. El caudal de los igarapés varió entre 0,3 y 0,004 m3/seg. (Tabla 2). Hay una relación significativa entre el número de individuos de las clases 2 y 3, así como el total de individuos con el caudal, ya que conforme aumenta este aumenta la abundancia de individuos. Para la clase 1 no se encontró relación estadísticamente significativa, (Tabla 1). Tabla 1. Resultados de las regresiones lineales para cada clase de tamaño y el total de individuos com respecto al caudal de los igarapés, (N = 14 para cada caso). R2 t p Clase 1 0,05 1,544 0,45 Clase 2 0,38 1,81 0,02 Clase3 0,67 -0,957 0,001 Total de individuos 0,74 0,806 0,001 No hay relación entre el tipo de hábitat dominante (fondo arenoso o fondo de material vegetal) y la abundancia de A. pallidus para todas las clases de tamaño y para el total de individuos. SYSTAT 8.0 no pudo procesar los datos de la clase 1 debido a que consideró que eran insuficientes. (Clase 2: N = 14, t = 1,183, p = 0,26; Clase 3: N = 14, t = 1,77, p = 0,102; Total de individuos: N = 14, t = 1,712, p = 0,113; teste t). Discusión La abundancia de Aequidens pallidus aumenta siguiendo el gradiente de aumento de volúmen de agua, concordando con la premisa de que en gradientes de cabecera a grandes ríos hay un aumento en la abundancia relativa de las especies (Gilliam et al. 1993). Los resultados dicen que la abundancia de los individuos de tamaños intermediarios y mayores, y el total de individuos aumenta a medida que aumenta la cantidad de agua (volúmen medido en forma de caudal). Por otro lado, la no relación entre la abundancia y el tipo de hábitat según este estudio podría deberse más a la agrupación de las cinco categorías de hábitats identificadas en solo dos tipos (o sea, un error en la evaluación de las variables), que a un patrón de comportamiento de este cíclido. Hanazaki et al. (2000) encontró que las especies de peces de este mismo igarapé se agregaban más en sustrato conformado por hojas (folhiço) que con sustrato de arena, y que esto estaría relacionado con una seleción de microambientes para alimentación y abrigo. Asi mismo, Bührnheim (1998) encuentra preferencia por parte de Aequidens pallidus a los hábitats “fondos”. La mayoría de estudios hechos en este sistema de igarapés han enfocado el aspecto de riqueza de especies, pero muy pocos presentan datos sobre la abundancia relativa de Aequidens pallidus, con excepción de Bührnheim (1998). Si hay una relación de aumento de la abundancia de esta especie con respecto al aumento del volúmen de agua, y dado que la hipotesis de este estudio era que la abundancia debería seguir un patrón similar al del aumento de la riqueza de especies de cabeceras a grandes ríos (Angermeier & Schlosser 1989), podría suponer que los factores que afectan el gradiente de riqueza especies son los mismos que afectarían a la abundancia. Entonces, los resultados podrían estar relacionados a un aumento en el número de hábitats y tamaños de los mismos. (Bührnheim 1998, Angermeier & Schlosser 1989). Otros estudios sobre la distribución de A. pallidus (Jiménez 108 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 et al. 1997), mencionan que esta especie estuvo presente en los igarapés de segundo y tercer orden de la Reserva Km 41, pero no en los de primero, y sin comentarios sobre de su abundancia relativa. Siguiendo la misma clasificación por ordenes, en 5 de los igarapés de “primer orden” del presente estudio registré la presencia de esta especie, por lo que podría afirmar que el volúmen de agua (caudal) es un importante factor ecológico que influye en esta especie, y también probablemente en otras especies por lo observado en campo. Otros estudios con A. pallidus muestran que, a pesar de ser común, no es muy abundante en cuanto a densidad poblacional. Bührnheim (1998) registra a esta especie en tres igarapés distintos de segundo orden, encontrando que esta especie preferiría los hábitats de fondo que aquellos rasos. Esto podría explicar por que en algunos igarapés durante este estudio no pudo ser observado, ya que la relación positiva encontrada para los individuos de tamaños mayores con respecto a mayor caudal implicaría que no estuvieran, o fueran muy raros, en igarapés de muy poco caudal. Además, por lo observado en campo, esta especie presenta un comportamiento más temeroso que otras especies más abundantes (especialmente los carácidos Tetragonopterinae), lo que lo haría que busquen refugios en troncos, en huecos, o entre raíces, afectando el número total de individuos observados. Para Bührnheim (1998) la heterogeneidad de hábitats es un factor más importante en la dinámica poblacional de esta especie que la estacionalidad, y esta heterogeneidad tiene implicancias sobre el nicho ecológico que ocupa A. pallidus: esta especie marca su territorio en el fondo, donde se alimenta y reproduce a lo largo del año. La metodología de observación supracuática unida a colectas sería la manera más eficiente para monitorear la (o las) poblaciones de A. pallidus. Dado que hubo puntos de evaluación en los que no se pudo observar ningún individuo, probablemente el comportamiento de esconderse, aunado a la dificultad de detección de ejemplares de menores tamaños, provoque esos vacíos (ceros) en algunos de los puntos. Las colectas permitirían tener una mejor caracterización de la estructura de edades de la población de esta especie. Recomiendo que se realizen estudios más detallados tanto para A. pallidus como para otras especies presentes en estos sistemas de igarapés, que junten tanto metodologías de observación (para conocer su historia natural), como colectas para evaluar estructura trofica de la poblaciones (cambios ontogénicos en las dietas) entre otros estudios de autoecología. Tabla 2. Datos del caudal, número de individuos obtenidos por clases, totales y hábitat dominante de cada punto de evaluación, (a = arena, mv = material vegetal). Pto Ubicación Caudal Clase1 Clase2 Clase3 Total Hábitat dominante a m3/seg Pto6 Igarapé P N-Q 23-24 0,300 0 5 4 9 Pto2 Igarapé P P-Q 29 0,272 0 2 10 12 a Pto7 Igarapé P P-Q 20 0,268 0 2 3 5 mv Pto11 Igarapé P M-13 0,100 0 4 1 5 a Pto10 Igarapé Q 13 0,080 0 1 0 1 mv Pto12 Igarapé P N-M 9 0,069 0 1 1 2 mv Pto4 Igarapé I 20 0,056 0 0 0 0 mv Pto1 Igarapé Q-R 28 mv 0,039 1 2 0 3 Pto14 Igarapé N 3 - N 2 0,027 2 1 0 3 mv Pto5 0,016 0 0 0 0 mv mv Igarapé M 24-25 Pto8 Igarapé Q 19-20 0,013 0 2 0 2 Pto3 Igarapé BB-CC 11 0,012 0 0 0 0 a Pto9 Igarapé Q 16-17 0,007 0 2 0 2 mv 0,004 0 0 0 0 a Pto13 Igarapé N 9 Agradecimientos: Quiero agradecer a todos las personas que participaron de todas las formas en el curso, a los instructores por haber compartido con nosotros su experiencia, conocimiento, y amistad (y mucho de su paciencia también), a todos los chicos y chicas por la camaradería y los nuevos amigos, y a la naturaleza que sin ella no estaríamos en este lugar privilegiado de la historia. Referencias bibliográficas Angermeier, P.L. & I.S. Schlosser. 1989. Species-area relationships for stream fishes. Ecology 70(5): 1450-1462. Bührnheim, C.M. 1998. Estrutura de comunidades de peixes em igarapés de floresta de terra firme na Amazônia Central / Cristina Motta Bührnheim. Manaus: INPA, 1998. Dissertação de Mestrado. 166p. Gilliam, J.F.; D.F. Fraser & M. Alkins-Koo. 1993. Structure of a tropical stream fish community: a role for biotic interactions. Ecology 74(6): 1856-1870. Hanazaki, N.; F.A.G. Guilherme; M.R. Mesquita; J.A. de Siquiera Filho; J.M. De Brito; M.U. Georgoglou-Laxalde e A.C. De Lima. 2000. Efeito de diferentes substratos no comportamento de agregação em peixes de um igarapé na Reserva do Km 41, Amazônia Central. pp: 97-98 In Hopkins, M. & E. Venticinque. Ecologia da Floresta Amazônica - Curso de Campo 2000. PDBFF - INPA Smithsonian - USAID - OET. Jiménez, L.F.; U. Mendoza; R.S. Oliveira; A. Jerozolimski & P. Eterovick. 1997. Comparación entre la riqueza de especies de peces en sistemas de aguas claras (igarapés) de primero y segundo orden presentes en la Reserva Km 41 (PDBFF-inpa-Smithsonian). Pp: 64-68 In Araujo-Lima, C. V Curso de Ecología da Floresta Amazônica. 1997. INPASmithsonian-OTS-UNICAMP. Kramer, D.L.; C.C. Lindsey, G.E.E. Moodie & E.D. Stevens. 1978. The fishes and the aquatic environment of the Central Amazon basin, with particular reference to respiratory patterns. Can. J. Zool. 56: 712-729. Lowe-McConnell, R.H. 1987. Ecological Studies in Tropical Fish Communities. Cambridge University Press, Cambridge, 382 p. Menezes, N.A. 1996. Methods for assessing freshwater diversity. In: N.A. Menezes & C.E.M. Bicudo (eds). Biodiversity in Brazil: a First Approach. CNPq, São Paulo, pp: 289-295. O papel do ambiente físico na distribuição espacial de plantas mirmecófitas em uma floresta na Amazônia Central Renata Durães Introdução Interações mutualísticas entre plantas e formigas são comuns na biota tropical (Hölldobler & Wilson 1991). Este tipo de interação atinge seu nível máximo de sofisticação em plantas mirmecófitas, que oferecem abrigo na forma de domáceas e, em muitos casos, alimento para formigas especialistas. Herbivoria é considerada a principal força seletiva promovendo a evolução destas relações mutualísticas (Fonseca 1999). Experimentos demonstraram que as formigas podem reduzir substancialmente a pressão de herbivoria sobre as plantas hospedeiras ao predar insetos fitófagos (Vasconcelos 1991; mas veja Fowler 1993). Outros possíveis benefícios recebidos pelas plantas incluem a absorção de nutrientes provenientes dos detritos gerados pelas colônias e remoção de parasitas e lianas (referências em Fonseca 1995). Nos trópicos, ocorrem pelo menos 141 gêneros de plantas mirmecófitas distribuídos em 47 famílias (McKey 1993 apud Fonseca 1999). Na Amazônia Central, um hectare de mata pode apresentar aproximadamente 380 indivíduos de plantas mirmecófitas e pelo menos 16 diferentes espécies podem ocorrer localmente (Fonseca 1995). A alta densidade de mirmecófitas em algumas florestas resulta em várias espécies ocorrendo em sintopia, cada uma associada com sua espécie característica de formiga. Esta especificidade se mantém mesmo quando as plantas ocorrem fora de seus ambientes preferidos (Fonseca 1995). Existem evidências de que as populações de formigas são limitadas pela disponibilidade de plantas hospedeiras, mas o oposto não é verdadeiro (Fonseca & Ganade 1996). Assim, competição interespecífica por parceiros mutualísticos parece não exercer uma forte pressão na estruturação das comunidades de mirmecófitas. É possível que as características físicas do ambiente sejam mais determinantes sobre a distribuição espacial de plantas mirmecófitas do que as relações interespecíficas. Para a Amazônia Central, são conhecidos alguns padrões gerais de ocorrência de mirmecófitas associando-se preferencialmente a diferentes tipos de ambiente (Fonseca 1995). Entretanto, ainda não foi estabelecido quais são os fatores que determinam tais padrões de distribuição. Este trabalho investiga a relação entre os padrões de distribuição espacial de espécies mirmecófitas em uma área não perturbada de floresta na Amazônia Central com vários aspectos geomorfológicos do ambiente. Uma relação estreita entre os padrões distribuição das espécies e variáveis abióticas poderia sugerir que estas comunidades são estruturadas, ao menos proximalmente, mais pelo ambiente físico e menos por interações bióticas dentro do mesmo nicho trófico. Material e Métodos O estudo foi realizado entre 31/julho e 03/agosto de 2002 na Área de Relevante Interesse Ecológico do Km 41, pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, localizada a 70 km ao norte de Manaus (AM), na Amazônia Central. O clima da região é do tipo Tropical Úmido na classificação de Holdridge, com temperatura média de 26oC (máxima: 35-39oC, mínima: 19-21oC) e precipitação anual de 1900-2300 mm (Lovejoy & Bierregaard 1990). Os solos são latossolos vermelho-amarelo a podzólicos, arenosos a argilosos, e o relevo é constituído de áreas de platôs recortadas por pequenos riachos e igarapés que formam, em certos casos, áreas de inundação (Garcia, 2000). A cobertura vegetal ombrófila tem dossel bastante uniforme com altura média entre 30 e 35 m, com ocasionais emergentes de até 55 m (Lovejoy & Bierregaard 1990). A coleta de dados foi realizada em uma área de 100 ha localizada em mata contínua, que possui trilhas demarcadas a cada 20 m nos sentidos norte-sul e leste-oeste, conhecida como “Plot das Lecythidaceae”. Esta área teve sua topografia anteriormente mapeada e o terreno foi dividido em seis tipos de Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 109 compartimentos de relevo, com cotas altimétricas crescentes: igarapés, baixios, patamares rebaixados, vertentes, morrotes residuais e platôs (Tabela 1). Adicionalmente, as características geomorfológicas do terreno foram descritas através de sondagens de solo realizadas em vários pontos distribuídos pela área (Garcia, 2000). Três transectos de 100x2m (200 m2) foram estabelecidos em compartimentos de igarapé, baixio, patamar rebaixado e morrotes residuais, e quatro transectos foram estabelecidos em áreas de platô. Os transectos foram distribuídos por toda a área e estabelecidos de modo a estar concentrados em uma mesma cota altimétrica ou, quando isto não foi possível, minimizando a variação em altitudes dentro do transecto (Tabela 2). Cada transecto foi percorrido uma vez e todos os indivíduos de espécies vegetais mirmecófitas com até aproximadamente 3 m de altura foram registrados. As características geomorfológicas encontradas nos transectos foram definidas pela associação com os pontos de sondagem descritos em Garcia (2000) (Tabela 2). A relação entre a riqueza de mirmecófitas e as características geomorfológicas (altitude, porcentagem de argila, areia e silte, e pH) encontradas nos transectos foi avaliada através de inspeção gráfica. O índice de Morisita foi utilizado para estimar a similaridade entre a flora mirmecófita dos diferentes compartimentos de relevo estudados. Tabela 1. Compartimentos de relevo presentes na área de estudo e suas características geomorfológicas. Compartimento Características de relevo Igarapés Corpos d’água. Altitude entre 48 e 54 m. Baixios Vertentes associadas a corpos d’água, com declividade de até 60%. Alagável em alguns casos. Altitude entre 56 e 66 m. Patamar rebaixadBaixa declividade (<10%) e delimitadas pela ruptura de declive do sopé das vertentes que isolam os platôs e morretes residuais. Alagável. Altitude entre 66 e 78 m. Morretes residua Pequenas elevações produzidas pelo desmonte incompleto dos morros testemunho. Não alagável. Altitude entre 78 e 86 m. Topo de platô Superfícies planas contínuas com declividade menor que 2% e altitudes maiores que 120 m. Não alagável. (Rubiaceae). Todas são espécies arbustivas, com exceção da espécie arbórea D. saccifera. Todas apresentam domáceas formadas por modificações na base das folhas, com exceção de C. nodosa, cuja domácea é constituída por dilatações ocas no ápice do caule. O número de espécies mirmecófitas por compartimento de relevo variou entre dois (morros residuais) e cinco (platôs) (Tabela 3). A riqueza média por transecto variou entre 1,3 (morrotes residuais) e 3,3 (platôs). A abundância relativa variou entre 1 (morrotes residuais) e 38,1 (igarapés) indivíduos por 100 m2 (Tabela 3). Tabela 3. Riqueza total (número total de espécies registradas por compartimento) e média (por transecto) e abundâncias total e relativa (por 100 m2) de plantas mirmecófitas por compartimento de relevo em uma área de mata contínua na Amazônia Central. Compartimento n Riqueza total Riqueza média Abundância total Abundância relativa (por 100 m2) Igarapé Baixio Patamar rebaixado Morrote residual Platô 3 3 3 4 3 3 2,30 2 2,30 229 30 21 38,1 5,0 3,5 3 4 2 5 1,30 3,30 6 17 1,0 2,8 Hirtella physophora e M. guianensis foram as espécies que ocorreram em um maior número de tipos compartimentos de relevo (quatro compartimentos cada), enquanto H. myrmecophila, M. poeppigii e D. saccifera estiveram restritas a um tipo de compartimento cada (Tabela 4). A abundância média das espécies foi baixa (0 a 3,8 indivíduos/100 m2). A exceção foi M. guianensis, que ocorreu em grande abundância nas áreas de igarapé (36,1 indivíduos/100 m2, em média) (Tabela 4). Tabela 4. Número de indivíduos de plantas mirmecófitas e (entre parênteses) freqüência relativa ao número total de indivíduos por compartimento de relevo. Na linha abaixo, o número de transectos em que a espécie ocorreu e (entre parênteses) freqüência de ocorrência das espécies em relação ao número de transectos amostrados em cada compartimento de relevo. Espécies Tabela 2. Características geomorfológicas dos transectos estabelecidos para amostragem de plantas mirmecófitas. Os valores de porcentagem de argila, areia total, silte e pH representam médias aritméticas para estimativas tomadas entre 0-10, 10-20 e 20-30 cm (Fonte: Garcia, 2000). C. nodosa Código do transecto Compartimento de relevo Altitude (m) Argila (%) Areia total (%) Silte (%) pH 1 11 20 5 22 23 10 Igarapé Igarapé Igarapé Baixio Baixio Baixio Patamar rebaixado Patamar rebaixado Patamar rebaixado Morrote residual Morrote residual Morrote residual Platô Platô Platô Platô 46 52-56 54 60-66 60-68 58-60 74 41,5 41,5 67,0 41,5 41,5 41,5 21,5 36,8 36,8 11,0 36,8 36,8 36,8 63,9 21,7 21,7 22,0 21,7 21,7 21,7 14,6 4,5 4,5 4,6 4,5 4,5 4,5 4,45 72 42,9 34,2 22,9 4,14 12 19 14 15 21 4 8 17 18 68 32,8 47,8 19,4 4,9 76-84 80-82 76 98 102 102 102 36,9 55,9 55,9 68,9 68,6 68,6 68,6 30,1 21,9 21,9 6,6 6,9 6,9 6,9 32,9 22,2 22,2 24,6 24,4 24,4 24,4 4,36 4,0 4,0 4,86 4,8 4,8 4,8 Resultados Sete espécies de plantas mirmecófitas foram registradas nos transectos: Cordia nodosa (Boraginaceae), Hirtella physophora, H. myrmecophila (Chrysobalanaceae), Tococa bullifera, Maieta guianensis, M. poeppigii (Melastomataceae) e Duroia saccifera 110 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 H. physophora Compartimento Igarapé Baixio Patamar rebaixado Morrete residual Platô n=3 n=3 n=3 n=3 n=4 1 (0,004) 1 (0,33) 0 0 0 2 (0,07) 2 (0,67) 4 (0,19) 3 (1,00) Total 3(0,20) 3 (0,75) 4 4 (0,67) 3 (1,00) 6 (0,40) 2 (0,50) 16 H. myrmecophita 0 0 0 2 (0,33) 1 (0,33) 0 2 T. bullifera 0 5 (0,17) 1 (0,33) 1 (0,05) 1(0,33) 0 6 (0,40) 3 (0,75) 12 23 (0,67) 16 (0,76) 3 (1,00) 3 (1,00) 0 1 (0,07) 1 (0,25) 257 M. guianensis 217 (0,94) 3 (1,00) M. poeppigii 12 (0,05) 2 (0,67) 0 0 0 0 12 D. saccifera 0 0 0 0 1 (0,07) 1 (0,25) 1 230 30 21 6 15 302 Total Com relação à composição de plantas mirmecófitas, os compartimentos de relevo puderam ser divididos em dois grupos de similaridade (Tabela 5). Igarapés, baixios e patamares rebaixados apresentaram grande similaridade (valores do índice de Morisita entre 0,96 e 1), enquanto morrotes residuais e platôs Tabela 6. Matriz de correlação de Pearson entre variáveis geomorfológicas em uma área de floresta na Amazônica Central. foram bastante similares entre si (índice de Morisita = 0,66). Estes dois grandes grupos foram bastante dissimilares entre si (valores do índice de Morisita entre 0 e 0,31). As características físicas (altitude, porcentagem de argila, areia e silte, e pH) variaram entre compartimentos (Tabela 2). Existe um gradiente crescente de altitude no sentido igarapésbaixios-patamares rebaixados-morrotes residuais-platôs (Tabela 2). Com o aumento da altitude, há um aumento na porcentagem de argila e silte no solo, concomitantemente com uma redução na porcentagem de areia e uma aumento no nível de pH (Tabela 6). Assim, nos dois extremos do gradiente de altitude, igarapés apresentam solos mais arenosos e ácidos, enquanto platôs possuem solos mais arenosos e básicos. Os compartimentos de altitude intermediária apresentam variações nem sempre monotônicas entre estes dois extremos (Tabela 2). Altitude Igarapé Baixio --- 0,96 --- --- Baixio Pat. Rebaixado Patamar rebaixado Morrote residual Platô 0,96 0 0,10 1,00 0,08 0,30 0,24 0,31 --- 0,66 Morrote residual Platô Silte PH 0,595 -0,614 0,362 0,299 -0,979 0,372 0,288 -0,552 -0,263 Areia Silte 0,015 Discussão Fonseca (1995) realizou um estudo detalhado das comunidades de plantas mirmecófitas na mesma parcela de 100 ha onde este estudo foi conduzido. Este autor registrou 16 espécies de plantas mirmecófitas (das quais sete foram observadas neste estudo), e descreve também os hábitats de ocorrência preferencial destas espécies (Fonseca 1999). No presente estudo, as densidades das espécies foram, em geral, baixas e as diferenças detectadas em abundância entre compartimentos foram sutis. No entanto, este estudo concorda com as observações de Fonseca (1999) no sentido de que C. nodosa, H. physophora, T. bullifera e D. saccifera foram mais abundantes em áreas de platô. Maieta guianensis, cujo hábitat preferencial é descrito como “ravinas”, foi extremamente abundante em áreas de igarapé. Hirtella myrmecophila apenas foi registrada em morretes residuais, enquanto M. poeppigii apenas foi registrada em igarapés. Fonseca (1999), no entanto, não apresenta os hábitats preferenciais destas espécies. Florestas tropicais são caracterizadas por uma alta diversidade florística local, onde a maioria das espécies vegetais é rara (Junk & Piedade 1994; Clark et al. 1999) Uma possível rota de manutenção dessa alta diversidade poderia ser a distribuição não-aleatória de espécies com relação a fatores edáficos. De fato, --- A riqueza total decresceu monotonicamente com a altitude entre os igarapés e os morrotes residuais, aumentando novamente nos platôs (Figura 1A). A riqueza aumentou linearmente com o pH do solo (Figura 1D). Parece haver uma tendência de aumento da riqueza com a porcentagem de argila (e consequente diminuição da porcentagem de areia, Figura 1B) e silte no solo (Figura 1C), na qual o compartimento de morrotes residuais apresenta comportamento distinto dos demais compartimentos. A) 5 B) 5 4 4 3 3 2 2 1 1 50 No. espécies Areia Argila Tabela 5. Matriz de similaridade (índice de Morisita) entre compartimentos de relevo em uma área de floresta não perturbada na Amazônia Central, com relação à composição das comunidades de plantas mirmecófitas. Igarapé Argila 70 90 110 30 40 Altitude (m) 50 60 Argila (%) 70 80 4.8 5 D) C) 5 5 4 4 3 3 2 2 1 1 18 20 22 24 Silte (%) 26 28 4 4.2 4.4 4.6 pH Figura 1. Relação entre número total de espécies registradas em diferentes compartimentos de solo em uma área de floresta não perturbada da Amazônia Central e características geomorfológicas do terreno (valores médios entre transectos amostrados): A) altitude; B) porcentagem de argila; C) porcentagem de silte; D) pH. Porcentagens de argila e areia são negativamente correlacionadas de forma bastante forte (R = -0,979), por isso apenas a relação da riqueza com argila é demonstrada. Símbolos: Igarapé = cruz; Baixio = quadrado vazado; Patamar Rebaixado = quadrado preto; Morrote Residual = círculo vazado; Platô = círculo preto. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 111 tais tendências têm sido detectadas em diferentes escalas espaciais (Clark et al. 1999 e referências incluídas). Clark et al. (1999) afirmam que espécies vegetais em florestas úmidas têm comumente distribuições correlacionadas com fatores edáficos tais como tipo de solo e topografia. No entanto, estes autores sugerem que variáveis físicas podem ter baixo poder explicativo em relação à distribuição de espécies devido às variações estocásticas na composição florística causadas pela raridade das espécies. Assim, as diferenças entre compartimentos de relevo e solo se devem, principalmente, à abundância das espécies com relação à disponibilidade de espaço (uma estimativa de preferência pelo hábitat) do que em relação à riqueza e ocorrência das espécies nestes compartimentos (Clark et al. 1999). Além disso, florestas tropicais podem apresentar alta heterogeneidade edáfica em uma escala de microhábitats (Clark et al. 1999, Garcia 2000). Assim, há que se verificar se o grau de refinamento utilizado neste estudo na associação entre os transectos amostrados e os pontos de sondagem geomorfológica é suficiente para uma avaliação de padrões florísticos em escala tão local. Adicionalmente, a raridade das espécies exigiria um maior esforço amostral em cada um dos compartimentos de relevo. Entre as variáveis físicas analisadas, as que aparentemente influenciam mais claramente a riqueza de plantas mirmecófitas na área de estudo são a altitude e o pH do solo. Compartimentos em diferentes altitudes apresentam solos com diferentes características, idades e histórias geológicas, e consequentemente as comunidades vegetais nestes compartimentos estão sujeitas a diferentes fatores ecológicos e históricos. Por outro lado, o pH pode influenciar a disponibilidade de nutrientes disponíveis para as plantas. Adicionalmente, a tendência observada de aumento da riqueza com a porcentagem de argila e silte no solo devem do mesmo modo estar relacionadas à fertilidade do solo. Assim, existem evidências de que as características geomorfológicas estejam relacionadas com a riqueza de espécies mirmecófitas, e que estas variáveis ambientais sejam meros indicadores de outros parâmetros que afetam mais diretamente a composição florística. Ainda não é claro, no entanto, quais são os mecanismos relacionando as características do solo com a riqueza de espécies mirmecófitas. Mais clara é a relação entre as características geomorfológicas e a composição e abundância relativa das espécies. Neste sentido, compartimentos associados a corpos d’água, com altitudes mais baixas, são distintos de compartimentos mais altos. Igarapés, baixios e patamares rebaixados são dominados por M. guianensis, enquanto nos morretes residuais e platôs predominam H. physophora, T. bullifera e C. nodosa. No sentido igarapé-platô, existe um gradiente entre solos mais arenosos, oxigenados, ácidos e pobres para solos mais argilosos, básicos e férteis. Este gradiente pode promover uma segregação entre estes dois tipos de compartimento com relação à composição florística e estrutura vegetacional (Garcia 2000, Clark et al. 1999). As condições mais extremas dos igarapés e terrenos associados deve favorecer a evolução de estratégias especializadas por parte das plantas. Espécies que são bem sucedidas em tolerar nichos extremos como este seriam competitivamente beneficiadas nestes ambientes. Neste sentido, é interessante notar como M. guianensis, que ocorreu em todos menos um dos compartimentos amostrados, alcança abundância extremamente alta nos igarapés. Em conclusão, foi detectado um padrão de distribuição florístico que parece estar relacionado com o ambiente físico, 112 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 principalmente com a altitude. Aparentemente, os diferentes compartimentos de relevo comportam comunidades diferentes, o que se reflete principalmente em mudanças na abundância relativa das espécies e menos em seus padrões de ocorrência. Esta hipótese, no entanto, não pôde ser testada estatisticamente. Agradecimentos Agradeço a Eduardo “Dadão” Venticinque, que me propôs a idéia deste projeto e cuja assessoria foi imprescindível em todas suas etapas. A Verônica Cepeda, pelo auxílio na coleta de dados em campo. A Glauco Machado e Ana Albernaz pelas sugestões e críticas a este trabalho. Ao querido Ocírio “Juruna” Pereira, pelas dicas sempre certeiras de campo, mas principalmente pelas caipirinhas inspiradoras e aulas de brega; valeu, Deputado! A Jansen Zuanon, ouvido sempre a postos e bom humor inesgotável; vou sentir falta das carinhosas paneladas de manhã (“Vamo acordar, bando de vagabundos!”). A Fernando Mendonça, monitor infatigável, campeão do Prêmio Sorriso 2002 e o pior contador de piadas que eu já conheci! Ao seu Jorge e D. Eduarda, pelo rango de primeiríssima (“Vamos brocá, rapaziada!”). A todo pessoal do curso de campo, e em especial à tchurma da fuleragem (Felipe, Márcio, Ricardo, Malu, Ludmila, Adam, Caribu, Elaine, Maria e “Kao”), valentes sobreviventes das noitadas de festa ou ralação. E, finalmente, a Jorge Ben, Luiz Melodia, Chico, Caetano, Gil, Chico Science, Gonzagão e Mano Chao, parceiros imprescindíveis nas madrugas relatorísticas! Valeu, galera! Referências bibliográficas Clark, D.B.; M.W. Palmer & D.A. Clark. 1999. Edaphic factors and the landscape-scale distributions of tropical rain forest trees. Ecology 80(8):2662-2675. Fonseca, C.R. 1999. Amazonian ant-plant interactions and the nesting space limitation hypothesis. J. Trop. Ecol. 15:807825. Fonseca, C.R. & G. Ganade. 1996. Asymmetries, compartments and null interactions in an Amazonian ant-plant community. J. Anim. Ecology 65:339-347. Fonseca, C.R.S.D. 1995. 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Mutualism between Maieta guianensis Aubl., a myrmecophytic melastome, and one of its ant inhabitants: ant protection against insect hervivores. Oecologia 87:295-298. Diversidade e similaridade de protistas do solo no platô e campinarana da Reserva do KM 41, Amazonia Central Sunshine Menezes Introdução A diversidade biológica tem sido considerada uma das áreas de pesquisa mais importantes para o futuro (Ehrlich 1994). O meio ambiente tropical precisa ser prioritamente investigado, em função da grande diversidade de espécies e a relativa falta de estudos (Dodd 1994). A maioria dos estudos de biodiversidade enfoca a macrofauna ou flora do ecossistema, por serem de mais fácil identificação. A diversidade dos protistas de solo é uma área pouco estudada (Brussaard et al. 1997, Durrell 1974). Porém, nos últimos anos tem se tornado uma área muito popular, por causa da preocupação da comunidade científica em entender a importância desse grupo. Estima-se que apenas 10% dos protistas do solo foram identificados (Brussaard et al. 1997). As algas do solo são muitos importantes como reservas da nutrientes, por sua função na fixação de carbono e nitrogênio, e também por sua influência na estrutura do solo (Metting 1981). Há um grau considerável de interligação entre as comunidades acima e abaixo do solo (Adams & Wall 2000). Além disso, há evidência que este tipo de interligação acontece em todos tipos de habitats: terra firme, água doce e água salgada (Wall Freckman et al. 1997). Em uma reunião recente do Comitê de Biodiversidade e Funcionamento de Ecossistemas de Solo e Sedimento (SSBEF), formado pelo Comitê Científico de Problemas do Ambiente (SCOPE), foi definido como objetivo o estudo das relações da biodiversidade entre as comunidades acima e abaixo da superfície (Adams & Wall 2000). O objetivo deste estudo foi medir a diversidade de protistas do solo. Eu investiguei a diferença entre a diversidade dos protistas de solo em dois tipos de vegetação da floresta de terra firme: campinarana e floresta de terra firme. Lavelle et al. (1995) propuseram que os exsudatos das raízes de uma flora de superfície diversa levaria a uma microflora mutualista de solo correspondentemente mais diversa. Também foram encontradas associações seletivas entre tipos de folhiço peculiares da floresta e espécies de fungos (Widden 1986). É muito provável que este padrão seja comum aos protistas, uma vez que muitas espécies são conhecidas por terem demandas muito específicas por micronutrientes (Valiela 1995). Também é provável que a diversidade das algas nos dois locais seja influenciada pela quantidade de luz, pelo pH ou pela temperatura. Protozoários são encontrados dentro dos 15-20 cm superficiais do solo (Killham 1994). Pretendi responder uma outra pergunta que foi como varia a abundância de protistas nos 10 cm superficiais ao solo? Material e Métodos Este estudo foi realizado na reserva #1501 (Reserva Km 41) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (02o24’S; 59o52’W), que é classificada como floresta de terra firme (Mori et al. 2001). Para comparar a diversidade entre os diferentes tipos de vegetação, três amostras foram coletadas ao longo de dois transectos de 50 m, um no platô (entre N7 e O7 na rede de trilhas da reserva), e um na área de campinarana (entre N11 e O11). Cada amostra foi coletada em uma parcela de 1 x 1 m, a uma profundidade de 4 cm. As amostras usadas para comparar abundância de protistas entre os níveis do solo foram coletadas na posição de 8,13 no plot permanénte do Projeto “Lecythidaceae” da reserva (García 2000). Estas amostras da área de 8,13 foram coletedas a profundidades de 0-2, 2-5 e 5-10 cm. Todas amostras tiveram um volume de aproxidamente 80 cm3. Anotei o tipo de solo (argila ou arreia), a temperatura, a densidade do sub-bosque (por uma contagem do número de plantas na parcela) e a quantidade de luz. A luz foi avaliada qualitativamente apenas como direta ou indireta. Três termômetros do solo foram colocadas aleatoriamente na parcela e a média destas medidas é apresentada nos resultados. Pretendi medir o pH das amostras com papel de pH, mas este papel é usado para medir pH em meio líquido. Portanto, não tive certeza dos valores. Para medir o pH, misturei 20 cm3 do solo com 50 ml de água destilada e coloquei o papel de pH dentro da mistura por 10 segundos. No laboratório, a caracterização das amostras de solo começou como sua secagem numa estufa. Depois que elas secaram, o solo foi homogeneizado com pilão e pesado. O solo homogeneizado foi peneirado em cinco frações, de acordo com o tamanho das partículas. Para cultivar os protistas, coloquei 20 cm3 do solo numa placa de petri e acrescentei água destilada suficiente para umedecer o solo, de acordo com métodos comuns (Round 1965). Coloquei três lamínulas de 22 mm2 diretamente sobre o solo das amostras de cada placa. As placas permaneceram por três dias, de modo a permitir crescimento dos protistas (Lund 1945). Analisei três lamínulas completas de cada local (uma de cada parcela por transecto) a 160X e 640X em um microscópio Lambda. Registrei o número de células de cada morfotipo para calcular abundância, diversidade e similaridade. Dado que o número de amostras foi baixo, a abundância bruta das três réplicas de cada local foi somada e a abundância (células/cm3) foi estimada como segue: # células 66 mm3 X 1000 mm3 = células cm3 cm3 baseado na área da lamínula (22 mm2) e na profundidade do solo na placa de petri (~3 mm). A diversidade foi medida com o índice de Shannon-Wiener (H’) e a diferença entre as áreas foi calculada usando o teste t para a comparação de valores de diversidade (Zar 1984). A similaridade foi medida pelo método de porcentagem similaridade, que é muito simples, mas conhecido como uma boa medida de similaridade (Krebs 1999). Resultados Os solos variam significativamente entre as áreas (Figura 1, Tabela 1). O solo da campinarana é composto por mais areia, enquanto o solo de floresta da terra firme contém mais argila, como esperado (García 2000, Fearnside & Filho 2001). Os solos arenosos da campinarana consistiram principalmente na fração de 0,5 – 1,0 mm (média = 86%), com pequena fração menor que 0,5 mm (7%). Por outro lado, solo da floresta de terra firme tinha menor representação da fração 0,5 – 1,0 mm (53%) e a fração de partículas menores foi mais importante (43%). O solo usado para medir as diferenças de abundância entre os níveis do solo (de 8,13) teve uma composição intermediária a outros locais, com areia consistindo na maior fração, mas as partículas menores contribuiriam com aproximadamente 20% (Figura 1). A temperatura média do solo não variou entre os locais (24oC). A luminosidade entre os ambientes foi muito similar também, com todas as parcelas recebendo muita luz indireta. Os valores de pH não variaram entre os locais (pH de todas as amostras = 6,5). Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 113 Quarenta morfotipos de protistas foram identificados, mas as limitações do microscópio impediram a identificação ao nível de espécie. A maioria dos indivíduos foram heterótrofos, com apenas três morfotipos sendo autótrofos. A média de abundância dos protistas de solo (das três réplicas em cada local) variou entre a floresta de terra firme (495 células/cm3) e a campinarana (2737 células/cm3). Há uma diferença muito significativa entre os valores do índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) para as duas áreas (P« 0,000, t = 8,96, GL = 2299, EP= 3,455 ), tendo a diversidade sido mais alta no ambiente da floresta de terra firme (H’= 1,17) do que na campinarana (H’ = 1,06). A porcentagem de similaridade entre as áreas foi 36%, indicando uma similaridade baixa. Não foi possível contar mais de uma réplica de cada nível do solo na segunda parte do estudo. Portanto, não pude comparar a abundância estatisticamente. Todavia, a abundância variou entre os níveis: 0-2 cm = 379 células/cm3, 2-5 cm = 727 celulas/cm3, 5-10 cm = 212 células/ cm3. Tabela 1. Comparação das frações do solo entre as áreas de campinara e floresta de terra firme estudadas na reserva do Km 41. Fração do Solo 0,5 – 1,0 mm <0,5 mm P 0,000 0,000 G.L. 4 4 T 11,510 -18,350 Discussão Os resultados indicaram que existe uma diferença significativa na composição de partículas dos solos nas duas áreas (Figura 1) e esta diferença permite caracterizá-los como um solo arenoso (campinarana) e um solo argiloso (floresta de terra firme). A similaridade de temperatura e luz nas duas áreas exclui estes fatores como explicações das diferenças de diversidade de protistas. Algumas caraterísticas do ambiente são importantes no crescimento de protistas do solo, principalmente textura do solo, substrato, pH, disponibilidade de água e profundidade no solo (Shields & Durrell 1964, Metting 1981). Embora tenha sido possível confirmar que os solos nessas duas áreas são diferentes com respeito ao tamanho das partículas, não pude fazer comparações mais detalhadas, como pH e composição química. Alguns estudos de solos tropicais revelaram a ocorrência de elevadas quantidades de algas em solos com pH mais alcalino (Starkes et al. 1981), embora muitos protistas tenham uma tolerância alta para variações de pH (Shields & Durrell 1964). % de cada fração 100% 80% <0,25mm Agradecimentos A Jansen Zuanon, Eduardo Venticinque, Fernando Mendonça, Ocírio “Juruna” Pereira e Glauco Machado, por toda sua ajuda e também todos os estudantes do Curso de Campo. Não posso dizer bastante como eu agradeço todos pela paciência e ajuda, incluindo a lista extensa de palavras importantes. >0,25mm 60% >0,5mm 40% >1mm 20% >2mm 8,13:5-10 8,13:2-5 PL3 8,13:0-2 PL2 PL1 CA3 CA2 CA1 0% Local Figura 1. Porcentagem das frações do solo nos locais de campinarana (CA1, CA2, CA3) e o platô (PL1, PL2, PL3). As amostras rotuladas 8,13 representam os níveis diferentes do solo no local de 8,13. Esse estudo apenas pode discutir os efeitos de textura/ substrato e profundidade. Dado que há diferenças significativas entre os solos das áreas estudadas e também entre a diversidade dos protistas, é possível que o substrato e textura sejam fatores importantes na explicação das diferenças. Interessante que a 114 diversidade foi maior na floresta de terra firme, onde o solo é composto de mais argila. Os solos de areia são pior para o crescimento de plantas fanerogamas porque não têm a estrutura para a retenção de íones positivos, ao contrário de solos de argila (Fearnside & Filho 2001). Esta grande disponibilidade de cátions em argila, além de sua capacidade maior de retensão de água (Fearnside & Filho 2001), parecem uma explicação para a diversidade maior na floresta de terra firme. É preciso mencionar que os resultados poderiam ser complementados com informações sobre a composição química dos solos. Um outro resultado interessante desse estudo é que o crescimento de algas (autótrofas) foi quase ausente. Esperava o crescimento de Bacillariophyceae, Cyanophyceae, Chlorophyceae e Euglenophyceae nas placas de petri (Starks et al. 1981, Shields & Durrell 1964, Killham 1994), mas elas não conseguiram crescer. Em vez das algas, muitos protistas heterótrofos cresceram, incluindo ciliados, flagelados e amebas. A expectativa para solos tropicais é de dominância por Cyanophyceae (Killham 1994), com Chlorophyceae sendo um grupo de importância secundária (Starks et al. 1981). A ausência de autótrofos nas culturas pode ter tido vários explicações. Não usei um meio típico (Starr 1973, Bold 1970) para cultivar as algas. Por isso, é provável que não havia nutrientes suficientes no solo para suportar o crescimento dos autótrofos. Parece que a capacidade de usar matéria orgânica num ambiente com pouca luz é uma vantagem e os heterótrofos puderam crescer também por causa da presença ubíqua de bactérias no solo. Também, é possível que não tenha havido bastante tempo para o crescimento das algas e que os autótrofos pudessem crescer nas culturas após um tempo suficiente para reciclar a matéria orgânica a uma forma inorgânica. Por fim, apesar de não poder dizer muito sobre a abundância de protistas nos níveis diferentes por causa da falta de replicação, eu achei os resultados muito interessantes, do ponto de vista qualitativo. Aparentemente, o nível de 2-5 cm teve uma abundância maior, seguindo pelo nível de 0-2 cm e o nível de 510 cm. Outros estudos têm achado que as algas são mais abundantes no três centímetros mais próximos à superfície do solo (Brown Elliot & Bamforth 1975, Lukesová 1993), mas protistas podem existir até ~20 cm (Killham 1994, Shields & Durrell 1964). Seria interessante fazer um estudo mais abrangente para investigar esta questão nos solos tropicais. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Referências Bibliográficas Adams, G.A. & D.H. Wall. 2000. Biodiversity above and below the surface of soils and sediments: Linkages and implications for global change. BioScience 50(12): 1043-1048. Bold, H.C. 1970. Some aspects of the taxonomy of soil algae. Ann. New York Acad. Sci. 175: 601-16. Brussaard, L.; V.M. Behan-Pelletier; D.E. Bignell; V.K. Brown; W. Didden; P. Folgarait; C. Fragoso; D. Wall Freckman; V.V.S.R. Gupta; T. Hattori; D.L. Hawksworth; C. Klopatek; P. Lavelle; D.W. Malloch; J. Rusek; B. Soderstrom; J.M. Tiedje & R.A. Virginia. 1997. Biodiversity and ecosystem functioning in soil. Ambio 26: 563-570. Dodd, C.K., Jr. 1994. Monitoring and protecting biotic diversity. Pages 1-11In S. K. Majumdar, F. J. Brenner, J. E. Lovich, J. Schalles and E. W. Miller, editors. Biological Diversity: Problems and Challenges. Pennsylvania Academy of Science. Easton, PA, USA. 461 pp. Durrell, L.W. 1963. Algae in tropical soils. Trans. Amer. Microscop. Soc. 83: 79-85. Erlich, P.R. 1994. Biodiversity and ecosystem function: Need we know more? 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Esta classificação organiza os macroinvertebrados em grupos de fragmentadores (“shreder”) que alimentam-se de MOPG (matéria orgânica particulada grossa, partículas iguais ou maiores que 1 mm); coletores (filtradores), que alimentam-se de MOPF (matéria orgânica particulada fina, partículas menores que 1 mm e maiores que 5 öm); raspadores, que alimentam-se de perifíton (principalmente algas diatomáceas na superfície de folhas) e predadores, que alimentam-se de organismos menores ou larvas de estágios iniciais. O conceito de Rio Contínuo, proposto por Vannote et al. (1980), prevê que as comunidades aquáticas não sejam estáticas e bem estruturadas como se acreditava anteriormente, mas que estejam organizadas de forma a utilizar eficientemente os recursos disponíveis, transformando-os e transferindo energia para as áreas a jusante em direção a foz, como um processo dinâmico e contínuo. Vannote et al.(1980), prevêem que nos cursos d’água de primeira a terceira ordem ocorre uma predominância de processos heterotróficos, com a dominância de organismos fragmentadores, raspadores e coletores (filtradores), mas com poucos predadores. Em rios de quarta a sexta ordem seriam dominados por condições autotróficas, com grande produção de perifiton. Em rios de ordens maiores, ocorre um aumento de partículas em suspensão e da produção de fito e zooplancton, que organismos filtradores estariam utilizando. Estes ambientes seriam caracterizados por uma grande abundância e baixa riqueza de organismos. Este conceito tem sido testado utilizando as categoria tróficas propostas por Cummins (1974 apud Merritt & Cummins 1996). A grande quantidade de matéria orgânica muito fina em suspensão nos igarapés da Amazônia Central favoreceu a ocorrência de adaptações morfológicas em insetos filtradores, como cerdas nos palpos e canais alimentares do aparelho bucal de larvas de Leptophlebiidae (Ephemeroptera) e Macrostemum (Trichoptera). Este último desenvolveu um sistema único de construção de abrigo que aproveita a correnteza de pequenos igarapés, onde utilizam redes de captura de partículas com malha muito fina (Satler, 1968). Os igarapés da bacia Amazônica são sustentados troficamente por uma grande carga de matéria orgânica, principalmente folhas e galhos da floresta vizinha, carreados pelas chuvas (Nessimian et al., 1998). Os depósitos de folhiço sustentam uma comunidade de fungos, bactérias e microartrópodos, que compõem o recurso alimentar utilizado pelos macroinvertebrados (Merritt & Cummins, 1996). O objetivo deste trabalho foi avaliar a estrutura trófica da comunidade de macroinvertebrados em igarapés de primeira a terceira ordem. A minha hipótese é que os organismos fragmentadores seriam mais freqüentes em igarapés de primeira ordem, os filtradores aumentariam em freqüência gradativamente em igarapés de segunda e terceira ordem, enquanto os raspadores estariam mais representados em igarapés de segunda ordens; os predadores estariam distribuídos igualmente nos três gradientes. Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 115 Resultados Foram coletados 1366 macroinvertebrados, somente dois não pertenciam a classe Insecta (Dugesia sp.: Platyhelmintes e Macrobrachium sp.: Crustacea), sendo que 20% do total foram predadores, 30% filtradores, 28% raspadores e 22% fragmentadores. Os 76 morfótipos de macroinvertebrados e sua categorização trófica funcional estão representados na Tabela 1. Em média, a freqüência de filtradores aumentou dos igarapés de primeira ordem para os de segunda e terceira ordem (Fig. 1 A). Os fragmentadores aumentaram de freqüência nos igarapés de terceira ordem (Fig. 1 B) e os predadores apresentaram uma maior freqüência em igarapés de segunda ordem, com um pequeno declínio nos de terceira ordem (Fig. 1 C). Já os raspadores aumentaram de freqüência em igarapés de segunda ordem, com alguns grupos aumentando muito sua freqüência em igarapés de terceira ordem (Fig. 1 D). Discussão A maior freqüência de filtradores nos igarapés de segunda e terceira ordem confirma a teoria do Rio Contínuo, ao contrário de resultados encontrados por Cargnin-Ferreira (1998), que não encontrou muitos filtradores em tributários do rio Jaú, argumentando a pouca quantidade de matéria orgânica em suspensão; Calisto e Esteves (1998) também encontraram baixa densidade de filtradores no rio Trombetas. Porém em estudos realizados em igarapés das proximidades de Manaus e em Orixininá no Pará, foram encontrados organismos filtradores adaptados a capturar matéria orgânica 116 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Nº de indivíduos coletados 60 A) Filtradores 50 50 40 30 20 10 0 B) Fragmentadores 40 30 20 10 0 1 2 3 Ordem de drenagem 1 2 3 Ordem de drenagem C) Predadores 60 Nº de indivíduos coletados 25 Nº de indivíduosColetados Foram realizadas coletas em 15 igarapés na reserva do km 41 do Projeto Dinâmica Biologica de Fragmentos Florestais (INPA/Smithisoniam), Manaus, AM (02º26’S, 59º46’W) no período de 31 de julho a3 de agosto 3 de 2002. As coletas foram feitas em cinco igarapés de terceira ordem (três pontos no mesmo igarapé, a uma distância de 200 m entre os pontos); seis de segunda e quatro de primeira ordem. Os igarapés estão localizados em uma área de mata primária, considerado um sistema estável, com dossel fechado. Apresentavam raras clareiras, todos tinham fundo arenoso e o substrato composto por folhas, raízes e sedimento, mudando apenas a proporção em cada um. Os igarapés de primeira ordem apresentaram locais de muita deposição de folhiço e pouca corrente, porém alguns, por se encontrarem em terrenos mais inclinado, formavam pequenas correntezas. Os de segunda ordem apresentavam alguns depósitos de folhiço e águas mais correntes. Já os de terceira apresentaram maiores profundidades, correnteza mais elevada, com muita areia exposta, e em alguns locais de remanso, formavam grandes depósitos de folhiço e sedimento, além da ocorrência de vegetação ripária pendente na água. As coletas foram realizadas com auxílio de rapiché (malha da rede de 200 micras), e um esforço de captura de uma hora de coleta para cada ponto. Procurou-se amostrar todos os substratos, tanto em áreas de remanso como áreas de correnteza. O substrato foi revolvido com o rapiché e o material colocado em bandejas brancas, onde os organismos foram separados e fixados em frascos contendo álcool 90%. Os macroinvertebrados foram triados e identificados em laboratório com auxílio de esteromicroscópio até o menor nível possível e foram agrupados em categorias tróficas conforme a metodologia de Merritt & Cummins (1996). Os dados foram analisados por meio de inspeção gráfica dos resultados. A tendência média do número de indivíduos de cada grupo funcional por igarapé foi determinado utilizando o alogaritmo LOESS do programa SYSTAT 8.0 (SPSS, 1998). Nº de indivíduos coletados Material e métodos 20 15 10 5 0 D) Raspadores 50 40 30 20 10 0 1 2 3 Ordem de drenagem 1 2 3 Ordem de drenagem Figura 1. Relação do número de indivíduos de cada categoria funcional em relação à ordem de drenagem dos igarapés: filtradores; fragmentadores; predadores e raspadores coletados em igarapés da reserva do km 41. Tabela 1. Composição da fauna de macroinvertebrados coletados em julho-agosto de 2002, em igarapés de Reserva do km 41, Manaus, Amazonas, divididos em categorias funcionais de alimentação. Coleoptera Diptera Ephemeroptera Heteroptera Trichoptera CRUSTACEA Coleoptera Diptera Lepidoptera Trichoptera FILTRADORES Hydrophilidae Simulium sp. Ceratopogonidae Baetidae sp. 1 Baetidae sp. 2 Baetidae sp. 3 Leptophlebiidae Leptohiphidae Campsurus sp. Corixidae Chimarra sp. Leptonema sp. 1 Leptonema sp. 2 Macronema sp. 1 Macronema sp. 2 Macrostemum sp. Smicridea (Rhyacophilax) sp. Smicridea sp. FRAGMENTADORES Macrobrachium sp. Syrtidae Chironomidae Noctuidae Heteroptera Regovelia sp. Lepidoptera Megaloptera Odonata Plecoptera Atanatolica sp. Nectopsyche sp. 1 Nectopsyche sp. 2 Oecetis sp. 1 Oecetis sp. 2 Coleoptera Triplectides egleri Phylloicus sp. 1 Phylloicus sp. 2 PREDADORES PLATYHELMINTHES Dugesia sp. Coleoptera Gyrinidae sp. 1 Gyrinidae sp. 2 Diptera Tipulidae sp. 1 Tipulidae sp. 2 Tipulidae sp. 3 Tanypodinae Tabanidae PREDADORES Mesoveliidae sp. 1 Mesoveliidae sp. 2 Naucoridae Gerridae Trichoptera Petrophila sp. Cloronia sp. Corydalus sp. Libellulidae sp. 1 Libellulidae sp. 2 Libellulidae sp. 3 Libellulidae sp. 4 Progomphus sp. 1 Progomphus sp. 2 Gomphidae sp. 1 Gomphidae sp. 2 Gomphidae sp. 3 Gomphidae sp. 4 Gomphidae sp. 5 Calopterigidade Calcopteryx cintilans Megapodagrionidae Anacroneuria sp. RASPADORES Elmidae sp. 1 Elmidae sp. 2 Elmidae sp. 3 Elmidae sp. 4 Elmidae sp. 5 Elmidae sp. 6 Elmidae sp. 7 Marilia sp. Helicopsyche sp. 1 Helicopsyche sp. 2 Glossosomatidae sp. 1 Glossosomatidae sp. 2 Mortoniella sp. Neotrichia sp. Polyplectropus sp. particulada muito fina (Satler, 1968). A freqüência de fragmentadores aumentou nos igarapés de terceira ordem, ao contrário do predito pela teoria, este fato pode ser explicado pela presença de áreas com grande acúmulo de folhiço nos igarapés maiores, simulando a situação de um igarapé de primeira ordem. Os predadores apresentaram uma freqüência mais ou menos constante nas três ordens de igarapés, assim como de certa forma acompanha a flutuação dos raspadores e filtradores, que provavelmente consistem sua principal fonte de recursos alimentares. Os raspadores aumentaram de freqüência da primeira para segunda ordem, o que vem confirmar minha hipótese, alguns grupos apresentaram alta abundância em igarapés de terceira ordem pode ser explicado pela maior disponibilidade de microhabitats criados neste gradiente, assim como a disponibilidade de folhas e vegetação pendente que fornecem substrato para o desenvolvimento do perifíton. Porém, um fator que deve ser levado em consideração e que pode não ter refletido a verdadeira distribuição dos organismos, é o fato do esforço amostral não ter sido bem calibrado, pois ao amostrar o mesmo tempo todos os substratos, não levando em consideração a variação a proporção de ocorrência dos mesmos em cada igarapé, não foi avaliado a verdadeira composição dos macroinvertebrados presentes. Para minimizar este efeito, a maneira mais correta seria medir a composição do substrato e sua proporção em cada igarapé de modo que o esforço amostral seja proporcional a disponibilidade do substrato. Talvez o Conceito de Rio Contínuo não seja completamente adequado para a estrutura e funcionamento dos cursos d’água da Amazônia Central, pois foi elaborado para a região Neártica, mas mesmo não amostrando sistemas de ordem de drenagem maior e com problemas de padronização amostral, foi possível observar uma tendência geral que poderá confirmar esta teoria. Agradecimentos Ao Eduardo Venticinque (Dadão), ao Jansen Zuanon e o Fernando Mendonça pelo apoio e dicas no desenvolvimento do projeto, à D. Eduarda e Sr. Jorge pelo carinho, ao “Juruna” pelas dicas nas trilhas e aos colegas de curso pelos momentos de descontração e paciência. Referências bibliográficas Calisto, M. & F. A. Esteves. 1998. Categorização funcional de macroinvertebrados bentônicos em quatro ecossistemas lóticos sob influência das atividades de extração de bauxita na Amazônia Central (Brasil). Oecologia. 5: 223-234 Cargnin-Ferreira, E. 1998. Fatores influindo na distribuição de grupos funcionais de macroinvertebrados aquáticos em pequenos tributários do rio Jaú, Amazônia Central. Dissertação de Mestrado. INPA-UA, Manaus 52 p. Merritt, R.W & K. W. Cummins, 1996. Trophic relations of macroinvertebrates. p 453-474. In: Methods in stram ecology. Academic Press, Inc. Nessimian, J.L., L.F.M. Dorvilé; A. M. Sanseverino & D. F. Baptista. 1998. Relation between flood pulse and functional composition of macroinvertebrate benthic fauna in the lower Rio Negro, Amazonas, Brasil. Amazoniana, 15: 35-50. Satler, W. 1968. Weitere Mittilungen über die Ökethologie einer neotropischen Macronema-larvae (Hydropsychidae). Amazoniana, 1: 211-229. Vannote, R.L; G. W. Minshall; K.W. Cummins; J.R. Sedell & C. E. Cushing. 1980. The river continun concept. Can. J. Fish. Aquat. Sci., 37: 130-137. Área específica da folha como indicador de estratégias ecofisiológicas em espécies pioneiras em áreas abertas na Amazônia Central Ricardo Machado Darigo Introdução De acordo com a hipótese da proporção dos recursos (Tilman 1985), existe um gradiente na disponibilidade de um recurso (e.g. luz, nutrientes) ao longo do processo sucessional. Assim, espécies pertencentes a diferentes estágios sucessionais (ou de diferentes grupos ecológicos) mostram diferenças nas características ecofisiológicas que refletem estratégias diversas para lidar com essa variação na disponibilidade de recursos, como luz e nutrientes (Bazzaz 1979; Huston & Smith 1987). A intensidade luminosa pode ser considerada o principal recurso limitante para o estabelecimento das espécies em florestas tropicais (Medina 1998). As espécies de estágios sucessionais distintos devem apresentar diferentes requerimentos de luz e, portanto, estratégias diversas para maximizar sua atividade fotossintética, como têm sido demonstrado em vários trabalhos (Kitajima 1994; Medina 1988). Ellsworth & Reich (1996) notam, entretanto, que existe a necessidade de mais estudos em ambientes naturais. As características foliares como tamanho, forma e espessura estão intimamente relacionadas com diversas adaptações e outros aspectos importantes como a alocação de recursos (Givnish 1988). Entre essas características que expressam sua maior capacidade fotossintética sob uma dada condição de luminosidade e disponibilidade nutricional estão a quantidade de nitrogênio no tecido foliar (Nfoliar), atividade fotossintética relativa à massa (Amassa), área específica foliar (SLA) ou massa específica foliar (LMA), longevidade foliar, respiração no escuro (Rd), entre outras (Reich et al. 1994, 1998). Vários autores mostraram relações entre estas características foliares em diferentes ecossistemas para várias formas de vida e espécies diferentes. Reich et al. (1994) estudando espécies arbóreas amazônicas mostraram que Amassa, Nmassa eram positivamente relacionadas com a área específica da folha (SLA). Em outro trabalho, para espécies de diferentes formas de vida em vários biomas no continente americano, Reich et al. (1998) encontraram que a Rd era inversamente relacionada com a longevidade foliar, mas positivamente relacionada com Nmassa e a SLA. Muitos estudos mostram que espécies tolerantes à sombra têm menores taxas fotossintéticas e maiores valores de LMA, (ou menores valores de SLA) que espécies pioneiras (Kitajima 1994). O objetivo deste trabalho é testar a hipótese de que deve haver diferenças nas características fotossintéticas, expressas, nesse caso, pela área específica foliar (SLA), entre espécies de diferentes grupos sucessionais que ocorram sob condições ambientais semelhantes. Assim, decidi investigar se havia diferenças nas estratégias fotossintéticas, expressas nas caracterísicas foliares, de espécies pioneiras segundo a classificação proposta por Williamson et al. (1998). Esses autores propõem a existência de dois tipos de estratégias entre as espécies comumente classificadas como pioneiras. As pioneiras “fugitivas” teriam crescimento rápido em altura, uma alta razão altura / diâmetro, baixa espessura da copa e baixa densidade específica da madeira, tais como espécies dos gêneros Cecropia (Cecropiaceae), Ceiba, Pseudobombax (Bombacaceae), Trema (Ulmaceae), Luehea (Tiliaceae), Schyzolobium e Stryphnodendron (Fabaceae). Por outro lado, as chamadas Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 117 pioneiras “posseiras”, que apesar de serem também heliófilas, diferem das primeiras pela menor altura do tronco, maior densidade específica da madeira e crescimento um pouco mais lento. Entre estas estão algumas espécies dos gêneros Vismia (Clusiaceae), Bellucia, Miconia (Melastomataceae) e Inga (Fabaceae) (Williamson et al. 1988). Portanto, a hipótese a ser testada é de que as espécies consideradas pioneiras do grupo das “fugitivas” tenham folhas com maior SLA do que as “posseiras” em uma aberta, com alta luminosidade, refletindo suas maiores taxas fotossintéticas. As espécies mostraram uma forte diferença nos seus valores de SLA (Kruskal-Wallis; N = 27; H = 14,861; p = 0,005; gl = 4). As espécies dos dois grupos de pioneiras não diferiram, em geral, exceto no caso de M. phanerostyla que apresentou menores valores de área específica foliar (SLA) que as duas espécies de Cecropia. (Tabela 2). Tabela 1. Valores medianos de área específica foliar (SLA) e número de indivíduos (N) das espécies pertencentes aos dois grupos ecológicos coletados na margem da estrada (ZF-3), no trecho do Km 39 a 41. Grupo ecológico N SLA (cm2.g-1) Cecropia purpurascens fugitivas 2 135,85 Cecropia sciadophylla fugitivas 5 103,52 Material e Métodos Este estudo foi realizado na reserva do Km 41 (02o 24’ S; 59o 52’ W) do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF - INPA/Smithsonian) na estrada ZF-3 durante os dias 1o a 4 de agosto de 2002. As espécies estudadas foram Cecropia purpurascens e Cecropia sciadophylla (Cecropiaceae), Miconia phanerostyla e Bellucia dichotoma (Melastomataceae) e Vismia japurensis (Clusiaceae). As duas primeiras são classificadas como pioneiras “fugitivas” enquanto as demais espécies são consideradas pertencentes ao grupo das “posseiras” (Williamson et al. 1998). Estas espécies foram escolhidas devido à sua alta freqüência e abundância ao longo da estrada (ZF-3) no trecho entre os kilômetros 39 e 41. Os indivíduos coletados ocupavam áreas abertas, sob forte insolação e tinham, na maioria, entre 0,5 e 2,0 m de altura. Coletei três folhas totalmente expandidas dos nós mais distais dos ramos de dois a 10 indivíduos de cada espécie, à margem da estrada, sob condição de alta luminosidade. As folhas foram identificadas e colocadas em sacos plásticos para evitar a dessecação das mesmas. Após trazidas para o laboratório, as folhas tiveram suas dimensões marcadas em uma folha de papel alcalino 90 g . m-3 (CHAMEX Ink Jet Paper) com giz de cera colorido. Depois de recortados, os moldes, assim como as folhas verdadeiras foram colocadas em prensas com chapas de alumínio corrugado e secas em estufa de campo aquecidas com fogareiro com chama baixa durante cerca de 24 h. Após a secagem, determinei a massa tanto das folhas como dos moldes com balanças portáteis de cinco, 10 e 60 g (PESOLA®). Utilizei as medidas de massa e área foliares para o cálculo da área específica da folha (SLA) obtido pela seguinte fórmula: SLA = massa do molde (g) – 0.2487 0.0081 . massa da folha seca (g) Os parâmetros foram obtidos a partir de uma curva de calibração feita com moldes de áreas conhecidas (de 25, 100, 400, 623,7 e 1247,4 cm2) pintados com giz de cera, semelhante aos moldes das folhas. Devido à utilização de pesolas para a determinação das massas das folhas e dos moldes em papel, a precisão destas medidas foi restringida ao décimo do grama. Assim, quando transformadas para valores de SLA, essa imprecisão gerou variações muito grandes entre as folhas de um mesmo indivíduo e entre indivíduos, que desaconselhavam a utilização de estatística paramétrica. Deste modo, optei pela utilização de testes nãoparamétricos para a comparação dos valores encontrados. Os valores de SLA medianos das três folhas para cada indivíduo das espécies foram analisadas através de teste de Kruskal-Wallis e posteriormente comparadas com um teste a posteriori de Dunn. Resultados As duas espécies de Cecropia tiveram as folhas com maior SLA, enquanto os indivíduos de Miconia phanerostyla apresentaram menor SLA. Os indivíduos de Vismia japurensis e Bellucia dichotoma mostraram valores intermediários (Tabela 1). 118 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Espécie Bellucia dichotoma posseiras 6 94,26 Vismia japurensis posseiras 10 88,65 Miconia phanerostyla posseiras 4 65,65 Tabela 2. Valores da estatística do teste de Dunn (Q) (N = 27; k = 5; Qcrit.= 2.807) da comparação dos valores de área específica foliar (SLA) entre as espécies pertencentes aos dois grupos ecológicos coletados. 1 = V. japurensis; 2 = B. dichotoma; 3 = C. purpurascens; 4 = M. phanerostyla; 5 = C. sciadophylla. Os valores marcados com astrerisco são significativos (p<0,05). 1 2 3 4 2 0.57 - - - 3 2.20 1.72 - - 4 2.18 2.46 3.46* - 5 1.24 0.64 1.22 2.94* Discussão Os resultados obtidos estão de acordo com o esperado inicialmente pela hipótese de que as espécies pioneiras “fugitivas” possuem maiores valores de área especifíca foliar (SLA) do que as espécies “posseiras”. As diferenças entre as espécies nas comparações par-a-par, no entanto, não foi observada como seria esperado. Um fato que deve estar contribuindo para esse mascaramento das diferenças entre as espécies foi de que a metodologia empregada não permitiu uma análise mais criteriosa dos dados com a utilização de testes paramétricos. As comparações a posteriori (Teste de Dunn) utilizadas ficaram prejudicadas pelo pequeno número de indivíduos estudados. Como esperado, os valores de SLA foram maiores para as espécies de Cecropia que, de fato, são consideradas espécies pioneiras do grupo da fugitivas, com crescimento muito rápido em altura, longevidade reduzida, com recrutamento restrito a áreas abertas e desaparecendo à medida que outras espécies vizinhas atingem o dossel (Williamson et al. 1988). Por outro lado, os menores valores de SLA pertencem à Miconia phanerostyla, espécie que ocorre com freqüência em áreas abertas, mas também ocorrem em clareiras fechadas e no sub-bosque das áreas de platô da reserva (obs. pess.). Segundo Williamson et al. (1998) algumas espécies desse gênero são pioneiras do grupo das “posseiras”. No entanto, as características dessa espécie de ocorrência no subosque da mata indicam um padrão típico de espécies oportunista ou secundária e, portanto, seria esperado, como foi observado, que tivesse valores mais baixos de SLA do que as espécies pioneiras. Por fim, Bellucia dichotoma e Vismia japurensis mostraram valores intermediários de SLA, o que é consistente, com a classificação de espécies pioneiras “fugitivas” e “posseiras”. Reich et al. (1998) encontraram, em uma amostragem feita em uma floresta tropical na Venezuela, a seguinte ordem de valores de área específica foliar: Cecropia > Vismia > Miconia > Bellucia. Os resultados obtidos nesse estudo são semelhantes aos encontrados por estes autores, confirmando o esperado segundo a minha hipótese, baseada na classificação de Williamson et al. (1988). Devido à imprecisão dos valores obtidos neste estudo fica difícil uma comparação adequada dos valores de SLA encontrados. Este trabalho, apesar das restrições metodológicas mencionadas, apresenta resultados que corroboram as hipóteses citadas na literatura (Ellsworth & Reich 1996; Kitajima 1988; Reich et al. 1998). Concluo, portanto, que as espécies pioneiras têm suas diferentes estratégias refletidas em características como a área específica foliar, no sentido de maximizar sua superfície para atividade fotossintética (aumento de SLA). Agradecimento Gostaria de agradecer ao Deputado Ocírio “Juruna” Pereira pela ajuda indispensável na (des)montagem da estufa de campo e pelas dúvidas esclarecidas com sua extensa experiência de campo e observações. Agradeço também ao Dr. Jansen, ao Dadão e demais professores (Ana e Glauco) pelas dicas e esclarecimentos metodológico-estatísticos. Um obrigado especial à Elaine e ao Jean Carlos, pela amizade e ajuda na tarefa massante de recorte dos moldes em papel das folhas. Por fim, a todo o pessoal que teve enorme paciência e companheirismo na divisão dos computadores (pela cessão de horários extras), e por manter o bom astral. Agradecimentos especiais ao Jimi Hendrix, Luiz Gonzaga e Chico Science pela boa música, onde quer que estejam – descansem em paz. Referências Bibliográficas Bazzaz, F.A. 1979. The physiological ecology of plant sucession. Annual Review of Ecology and Systematics 10:351-371. Ellsworth, D.S. & P.B. Reich. 1996. Photosynthesis and leaf nitrogen in five amazonian tree species during early secondary sucession. Ecology 77(2):581-594. Givnish, T. 1998. Adaptation to sun and shade: a whole-plant perspective. Australian Journal of Plant Physiology 15:6392. Huston, M., & T. Smith. 1987. Plant sucession: life history and competition. American Naturalist 130:168-198. Kitajima, K. 1994. Relative importance of photosynthetic traits and allocation patterns as correlates of seedling shade tolerance of 13 tropical trees. Oecologia 98:419428. Medina, E. 1988. Seedling establishment and endurance in tropical forests: ecophysiology of stress during early stages of growth. Pp. 23-43. In Scarano, F.R. & A.C. Franco (eds.), Ecophysiological strategies of xerophytic and amphibious plants in the neotropics. Series Oecologia Brasiliensis, vol. IV. PPGE-UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. Reich, P.B.; M.B. Walters; D.S. Ellsworth, & C. Uhl. 1994. Photosynthesis-nitrogen relations in Amazonian tree species I. Patterns among species and communities. Oecologia 97:62-72. Reich, P.B.; M.B. Walters; D.S. Ellsworth; J.M. Vose; J.C. Volin; C. Gresham & W.D. Bowman. 1998. Relationships of leaf dark respiration to leaf nitrogen, specific leaf area and leaf life-span: a test across biomes and functional groups. Oecologia 114:471-482. Tilman, D. 1985. The resource-ratio hypothesis of plant sucession. American Naturalist 125(6):827-852. Williamson, G.B.; R.C. G. Mesquita; K. Ickes & G. Ganade. 1998. Estratégias de colonização de árvores pioneiras nos Neotrópicos. Pp. 131-144. In Gascon C. & P. Moutinho (eds.), Floresta Amazônica: dinâmica, regeneração e manejo. MCT-INPA. Manaus, Brasil. 373 Pp. Mecánismos de defensa utilizados por las plantas de tres compartimentos geomorfológicos de la Amazônia Central Verónica Cepeda Cornejo Introducción Los suelos de las selvas tropicales pueden ser tan variados en su estructura física y química, como los suelos de otros bosques (Clark 2002). Estas características determinan de alguna forma, cuales son las comunidades vegetales que pueden establecerse. Por una parte los porcentajes de arena-arcilla, definen la capacidad de los suelos para retener agua y nutrientes (Sánchez & Logan 1992), así como su grado se compactación y aereación. En consecuencia, la distribución de las especies se ve afectada por la disponibilidad y cantidad de nutrientes, es decir la estructura física de los suelos puede explicar la variación ecológica que exhibe el paisaje (Clark 2002). La cantidad de nutrientes disponibles (fertilidad del suelo), no solo afecta la distribución de las plantas, algunos autores señalan que también puede determinar la diversidad. Huston (1994), señala que la diversidad es baja en suelos pobres y aumenta conforme se incrementa la cantidad de nutrientes. No obstante, cuando el nivel de nutrientes es muy alto las especies más competitivas desplazan a la otras. Uno de los fenómenos ecológicos de gran importancia es la herbivoría. Sus efectos tienen consecuencias sobre el éxito reproductivo, la mortalidad y crecimiento de las plantas (Márquis 1984). En los bosques tropicales el daño promedio por herbívoros es relativamente alto, 11,1 % con respecto al 7,1 % que se ha estimado para bosques templados (Coley & Barone 1996). No obstante que las plantas de estos sitios, son generalmente defendidas por compuestos químicos como alcaloides, taninos y fenoles (defensa química), (Coley & Barone 1996). Los altos porcentajes de herbivoría constituyen una fuerte presión de selección en la evolución de las defensas por las plantas. La elaboración de compuestos secundarios, requiere una gran inversión de fotosintatos, que en general implican una reducción del crecimiento, es por ello que su elaboración es costosa (Barone & Coley 2002). Además de la defensa química, las plantas emplean otros mecánismos de defensa, como son, la dureza del follaje (defensa estructural), la cual resulta ser de las más efectivas y menos costosas (Barone & Coley 2002); ó bien, la defensa biótica, en el caso de epecies que cuentan con estructuras especializadas para el albergue y mantenimiento de colonias de hormigas (Schupp 1986). Basados en las diferencias en relieve y composión del suelo que existen dentro de una misma área, evaluamos los distintos mecánismos de defensa empleados por las especies. Las propiedades del suelo en cada uno de estos ambientes fueron Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 119 previamente caracterizadas (Garcia 2000). Consideramos que en los suelos pobres, donde los porcentajes de arena son altos, predominan especies con mecánismos de defensa más efectivos y/ó costosos contra los herbivoros, como la dureza ó los compuestos metabólicos. Contrariamente a lo que sucede en los suelos ricos con altos porcentajes de arcilla, donde se espera predominancia de mecánismos defensivos menos costosos, como tricomas, pelos, espinas, borde aserrado. individuos de hoja dura, el índice de herbivoría tampoco difirió entre los ditios (H= 0,291, P= 0,864). Dentro de las parcelas de estudio no se encontró alguna planta con mirmecofilia, sin embargo (Durães 2002), registró la presencia de diferentes especies en cada uno de estos ambientes. Baja vertiente 80 Alta vertiente Plató 60 50 40 30 20 10 0 Dureza No existe dominancia de alguno de los mecánismos defensivos entre sitios, es decir, las pruebas para tricomas, que incluye tricomas y pelos, espinas, borde aserrado, látex, e incluso dureza, no mostrarón diferencias entre los compartimentos geomorfológicos (Fígura 1). Sin embargo el número de individuos que presentan hojas duras es significativamente mayor al número total de individuos que presentan las restantes cuatro estrategias de defensa (Fígura 2). Por outra parte, es mayor la frecuencia de plantas que presentan hojas duras com respecto a plantas con hojas blandas (Fígura 3). El índice de herbivoría en promedio para todos los individuos contenidos en la parcela, no difiere entre sitios (Fígura 4). Al comparar la efectividad de las defensas, entre unicamente 120 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 Borde aserrado Látex 90 80 70 60 50 40 30 20 10 Dureza Otros Mecánismos de defensa Fígura 2. Comparación del porcentaje total de individuos que presentan hojas duras versus los otros mecánismos defensivos (U= 67,5, P=0,002). 90 80 Porcentaje de individuos Resultados Espinas Fígura 1. Mecánismos de defensa más comúnmente utilizados por las especies, en tres distintos compartimentos geomorfológicos. Se muestra el porcentaje total a partir del número de individuos en cada parcela. No existen diferencias en las frecuencia de individuos que presentan hojas duras (H= 1.422, P= 0.491), tricomas y pelos (H= 1,846; P= 0,397), espinas (H= 1,219, P= 0,544); borde aserrado (H= 3,780, P= 0,151), látex (H= 0,997, P= 0,607), no mostrarón diferencias entre los compartimentos geomorfológicos. Análisis de los datos Se registraron un total de 320 individuos en todas las parcelas. Al realizar el conteo del número de individuos que presentaron alguno de los cinco mecánismos de defensa, encontramos que 84 no presentan ningun forma de defensa. Comparamos cada una de estas estrategias mediante un ANOVA no paramétrico (Kruskal-Wallis), considerando para cada compartimento las tres parcelas. Comparamos el índice de herbivoría de especies con hojas duras y suaves, así como la frecuencia de dureza vs. los otros mecánismos de defensa, mediante una prueba de MannWhitney. Tricomas Me cánismos de de fensa Porcentaje de individuos Nuestro estudio se realizó en la reserva Km 41 que pertenece al Instituto Nacional de Pesquisas da Amazonia (INPA), Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), a 70 Km de Manaus. El área tiene una extensión de 10.000 hectáreas. Se conoce la geomorfología del sitio, así como las propiedades físicas del suelo como porcentajes de limo, arcilla y arena (Garcia 2000). Se seleccionaron tres compartimentos geomorfológicos de los cinco que se presentan en al área: 1) baja vertiente, con declives de hasta 60%, altitud entre 48-66 m, con un porcentaje de limo-arcilla-arena de 15-45-40%, respectivamente; 2) alta vertiente, con declive de 30%, y altitud de 90 a 98 m, y cuyo porcentaje de limo-arcilla-arena es 20-70-10%, respectivamente ; 3) topo de plató,donde la superficie es un plano continúo, con declives menores que 2% y altitudes mayores a 120 m, el porcentaje de limo-arcilla-arena es 25-65-10%, respectivamente (Garcia 2000). Dados los porcentajes de limo-arcilla-arena, los suelos de baja vertiente, alta vertiente y plato, presentan un gradiente que va de menos a más nutrientes, respectivamente. Se delimitaron tres parcelas de 5 x 3 m por compartimento geológico. Se consideraron cinco mecánismos de defensa en hojas: 1. dureza, 2. tricomas y pelos, 3. espinas, 4. borde aserrado y 5. látex. Se evaluaron estas cualidades en individuos con altura entre 50 y 150 cm. Asimismo dentro de cada parcela, se delimitó un área de 5 x 1 m para la estimación del índice de herbivoría (utilizando las categorías de daño publicadas en Dirzo y Domínguez, 1995). Para esta estimación, se seleccionaron tres hojas o pinas de cada individuo con hojas suaves y duras (las hojas se clasificaron en duras ó blandas, de acuerdo a su consistencia y facilidad para ser rasgadas) . Porcentaje de individuos 70 Material y Métodos 70 60 50 40 30 20 10 Duras Suaves Consistencia de las hojas Fígura 3. La consistencia promedio para las hojas de los tres compartimentos geomorfológicos. es mayor en las plantas que presentan hojas duras con respecto a plantas con hojas blandas (U= 68, P= 0.015). 2.4 1.9 Aún cuando desconocemos el nivel de compuestos metabolicos que estas plantas contienen, es común que las hojas más duras contengan metabolitos estructurales de defensa, tales como fenoles o taninos, que involucran el endurecimeinto de la hoja (Coley & Barone 1996). Posiblemente, las especies estudiadas, al igual que la mayoría de especies tropicales, contienen altos niveles de compuestos químicos de defensa (Revisado por Coley & Barone 1996), más con los datos obtenidos no fué posible detectar variación entre los sitios, como se esperaría encontrar. 1.8 Referencias Bibliográficas Índice de herbivoría 2.3 2.2 2.1 2.0 1.7 1.6 1.5 Baja vertiente Plató Vertiente Compartimientos geomorfológicos Fígura 4. Comparación del índice de herbivoría en tres diferentes compartimentos geomorfológicos, para todos los individuos contenidos en cada parcela (H= 0,622, P= 0,733). Discusión Existen preferencias por algún tipo de defensa en partícular, dependiendo de las condiciones ambientales donde una plata crece y de los depredadores que la consumen (Barone & Coley 2002). Así las espinas son una forma de defensa común en los bosques secos, pues son una defensa efectiva contra grandes herbívoros como los mamíferos (Grubb 1992). En los bosques tropicales húmedos, algunas especies cuentan con estucturas de defensa de tipo mecánico, como pelos o tricomas, que obstaculizan el tránsito de los herbívoros por la hoja, y dependiendo de la forma o resistencia, pueden destrozar los tejidos de una oruga (Barone & Coley 2002). Sin embargo, la dureza es una de las formas de defensa más utilizada, además de ser altamente efectiva y de uso generalizado en los trópicos (Coley y Aide 1991). Esta comprobado que existe una correlación negativa entre la dureza de las hojas y el índice de herbivoría (Coley 1983). Los resultados de este estudio no comprobarón esta correlación, ya que los índices de hojas duras versus blandas no mostrarón diferencias. Sin embargo es evidente que la estregia más utilizada por las especies muestreadas es la dureza. Es posible que algunas estrategias como la presencia de tricomas, espinas, borde aserrado e incluso látex, no sean las estrategias más utilizadas para zonas tropicales, ya que la presión que ejercen los herbivoros es muy alta, dado los altos porcentajes de herbivoría (Coley y Barone 1996). Coley et al. (1985) propusieron la “hipótesis de la disponibilidad de recursos”, según la cuál el crecimiento de las plantas se ve afectado por los recursos disponibles, de tal forma que en ambientes con baja disponibilidad de recursos (luz, nutrientes, agua) la tasa de crecimiento es baja y los compuestos metabólicos son abundantes. No obstante que la producción de compuestos secundarios involucra la disminución del crecimeinto, el beneficio es relativamente alto (Barone y Coley 2002). De acuerdo con esta hipótesis se esperaba obtener plantas mejor defendidas para ambientes pobres en recursos, tales como suelos con altos porcentajes de arena y poca arcilla, como es el caso de los suelos de baja vertiente. Desconocemos si las plantas que habitan en cada uno de los compartimientos presentan diferencias en los niveles de defensa química. Barone, J.A. & P.D. Coley. 2002. Herbivorismo y las defensas de las plantas. In: Guariguata, M.R. & G.H. Kattan (Eds.) Ecología y Conservación de Bosques Neotropicales. Pp. 465-492. Clark, D.B. 2002. Los factores edáficos y la distribución de las plantas. En: Guariguata, M.R.. & G.H. Kattan (Eds.) Ecología y Conservación de Bosques Neotropicales. Pp. 193-221. Coley, P.D. 1983. Herbivory and defensive characteristics of tree species in lowland tropical forest. 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Al Dr. Eduardo Veinticinque por la orientación de este trabajo, así como la asesoría en estadística. A Ocirio Juruna, por su amable, eficiente y experta ayuda en campo. Al Dr. Janzen Zuanon por su paciencia Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002 121 para resolver mis dudas. Al INPA por darme la oportunidad de aprender nuevos conocimientos y experiencias. A mi orientador el Dr. Rodolfo Dirzo por la valiosa ayuda que siempre nos brinda. A todos los compañeros del curso, por los gratos moméntos que compatimos. En especial a mis padres , hermanas y enamorado por el impulso que me da la idea de no defraudarlos. A todos ellos gracias. 122 Curso de Campo Ecologia da Floresta Amazônica - 2002