Linhares 109 114 CULTIVO DE COENTRO SOB O EFEITO

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REVISTA VERDE DE AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
GRUPO VERDE DE AGRICULTURA ALTERNATIVA (GVAA) ISSN 1981-8203
Artigo Científico
CULTIVO DE COENTRO SOB O EFEITO RESIDUAL DE DIFERENTES
DOSES DE JITIRANA
Paulo César Ferreira Linhares
D. Sc. do Departamento de Ciências Vegetais, UFERSA, Caixa postal 137, 59625-900, Mossoró-RN;
Email: [email protected]
Joana Darc Jales de Mendonça
Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, Caixa postal 137, 59625-900, Mossoró-RN;
Patrício Borges Maracajá
Prof. D. Sc. da UFCG/CCTA – Pombal – PB E-mail: [email protected]
Maria Francisca Soares Pereira
Mestranda em Fitotecnia do Departamento de Ciências vegetais, UFERSA, Caixa postal 137,
59625-900, Mossoró-RN; Email: [email protected]
Antonia Edivanilde Soares da Paz
Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, Caixa postal 137, 59618-705, Mossoró-RN;
Email: [email protected]
RESUMO - Buscar alternativas que viabilizem a produção orgânica de hortaliças torna-se necessário em áreas onde
prevalece a agricultura familiar, nesse contexto, a jitirana adquire importância como adubo verde. Um experimento foi
conduzido na Fazenda Experimental Rafael Fernandes da Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, no
período de junho a agosto de 2010, com o objetivo de avaliar o rendimento de coentro sob o efeito residual de diferentes
doses de jitirana incorporada ao solo. O delineamento experimental usado foi o de blocos completos casualizados com
sete tratamentos e três repetições. Os tratamentos consistiram da incorporação de sete quantidades de jitirana (3,0; 6,0;
9,0; 12,0; 15,0; 18,0 e 21,0 t ha-1 de matéria seca de jitirana). As características avaliadas foram: altura de planta,
número de hastes por planta, produtividade e massa da matéria seca da parte aérea. As doses entre 18 e 21,0 t ha-1 foram
as que promoveram o maior efeito residual entre as características avaliadas.
Palavras-chave: Adubação verde, Merremia aegyptia L., Coriandrum sativum L.
GROWING OF CORIANDER IN UNDER THE RESIDUAL EFFECT OF
DIFFERENT RATES OF SCARLET STARGLORY
ABSTRACT - To look for alternatives to make possible the organic production of vegetables becomes necessary in
areas where the family agriculture prevails, in that context, the scarlet starglory acquires importance as green fertilizer.
An experiment was conducted at the Experimental Farm Rafael Fernandes of the Universidade Federal Rural do SemiÁrido - UFERSA in the period from july to august 2010, with the objective of evaluating the coriander yield in under
the residual effect of different rates of scarlet starglory incorporated into the soil. The experimental design was
randomized complete blocks with seven treatments and three replicates. The treatments were combinations of seven
amounts of scarlet starglory (3.0; 6.0; 9.0; 12.0; 15.0; 18.0 and 21.0 t ha-1 dry matter). The coriander cultivar planted
was Verdão. The characteristics evaluated in the coriander were: plant height and number of stalks per plant, yield and
dry matter mass. Doses between 18 and 21.0 t ha-1 were those that promoted the greatest residual effect of the
characteristics evaluated.
Keywords: Green manuring, Merremia aegyptia L., Coriandrum sativum L.
INTRODUÇÃO
uma cultura de ciclo precoce, de 45 a 60 dias, garante
retorno rápido do capital investido, aumentando a renda
das famílias envolvidas na exploração, possibilitando a
utilização da mão-de-obra familiar ociosa, tornando-se
uma espécie de notável alcance social (NASCIMENTO;
PEREIRA, 2003).
Nesse contexto, os insumos mais utilizados são os
estercos (bovino, caprino e de aves), o que onera o custo
O coentro (Coriandrum sativum L.) é uma Apiácea
herbácea folhosa, cultivada e consumida em quase todo o
mundo. Constitui-se numa boa fonte de vitamina C, próvitamina A, cálcio e ferro. Seu cultivo é predominante nas
zonas periféricas das cidades (hortas comunitárias)
exclusivamente para produção de massa verde. Por ser
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de produção. Atualmente, existem outras práticas
ecologicamente corretas no que tange a fertilização dos
solos, como a adição de composto orgânico e a adubação
verde. Esta prática consiste na utilização da parte aérea
das plantas, sejam elas produzidas no local ou trazidas de
outros locais, incorporadas ou adicionadas em cobertura
para promover a fertilidade do solo (SILVA et al., 1999).
A adubação verde se destaca pelo aumento da
disponibilidade de nutrientes para as culturas de interesse
comercial, a proteção do solo contra erosão, o
favorecimento de organismos benéficos para agricultura e
o controle de plantas espontâneas. As leguminosas têm
sido as espécies preferidas para adubação verde, pelo fato
das mesmas fixarem nitrogênio atmosférico, através da
simbiose das bactérias existentes em seus sistemas
radiculares e pelo aporte de fitomassa verde que essas
espécies produzem e que são utilizados para a adubação
dos solos (ESPINDOLA et al., 2006).
No entanto, Favero et al. (2000), afirmam que as
espécies espontâneas podem produzir os mesmos
benefícios que as espécies cultivadas em promover maior
aporte de nutrientes, com melhor ciclagem, beneficiando
as culturas que serão implantadas. Nesse contexto, a
jitirana tem se destacado não só pela produção de
fitomassa e teores de macronutrientes, mas pela utilização
da mesma na produção de hortaliças (LINHARES et al.,
2008; 2009a).
Ressalta-se a carência de estudos avaliando o efeito
residual, neste sentido o objetivo do nosso trabalho foi
produzir de forma orgânica o coentro com o efeito
residual da jitirana.
MATERIAL E MÉTODO
O experimento foi conduzido na Fazenda
Experimental Rafael Fernandes, localizada no distrito de
Alagoinha, zona rural de Mossoró-RN, no período de
junho a agosto de 2010, em solo classificado como
Latossolo Vermelho Amarelo Argissólico franco arenoso
(EMBRAPA, 2006). Antes da instalação do experimento
foram retiradas amostras de solo na profundidade de 0-20
cm, as quais foram secas ao ar e peneiradas em malha de 2
mm, em seguida foram analisadas no Laboratório de
Química e Fertilidade de Solos da UFERSA, cujos
resultados foram os seguintes: pH (água 1:2,5) = 6,0; Ca =
2,0 cmolc dm-3; Mg = 0,5 cmolc dm-3; K = 0,12 cmolc dm3
; Na= 0,20 cmolc. Inicialmente foi plantado um
experimento com coentro. Logo após a retirada do
primeiro cultivo de coentro (10 dias), procedeu-se a
limpeza dos canteiros e plantio de um segundo cultivo.
O delineamento foi o mesmo utilizado no primeiro
experimento, ou seja, em blocos completos casualizados
com sete tratamentos e três repetições. Os tratamentos
foram constituídos do efeito residual da combinação de
sete quantidades de jitirana seca incorporadas ao solo (3,0;
6,0; 9,0; 12,0; 15,0; 18,0 e 21,0 t ha-1 de matéria seca).
Cada parcela constou de seis fileiras de plantas espaçadas
de 0,2 m x 0,05 m com duas plantas por cova, totalizando
quarenta e oito plantas por fileira, sendo as linhas laterais
consideradas bordaduras. A área total da parcela de 1,44
m2 e a área útil de 0,8 m², contendo cento e sessenta
plantas (Figura 1).
Figura 1. Representação gráfica da parcela experimental de coentro plantada no espaçamento de 0,20 m x 0,05 m e
adubada com diferentes quantidades de jitirana. Mossoró-RN, UFERSA, 2010.
A jitirana utilizada no experimento foi colhida em área
da UFERSA nos meses de maio e junho de 2009, triturada
em máquina forrageira convencional, obtendo-se
partículas entre 2,0 e 3,0 cm, acondicionadas em sacos de
ráfia com teor de umidade médio de 11%, armazenada nas
instalações da UFERSA em ambiente seco adequado para
a conservação de material fenado (Figura 2). Por ocasião
da instalação do primeiro cultivo do coentro, foram
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retiradas cinco amostras de jitirana seca, levadas para o
laboratório de analises vegetal do departamento de solos
da UFERSA para as análises de nitrogênio, fósforo,
potássio e relação carbono nitrogênio, cuja concentração
química foi (25,6; 11,0 e 10,0 g kg-1 e 18/1
respectivamente). Quantificados e incorporados na
camada de 0 - 20 cm do solo nas parcelas experimentais
referentes aos tratamentos acima citados.
Figura 2. Ilustração da convolvulaceae jitirana (Merremia aegyptia L.), espécie espontânea da caatinga no início da
floração (a) e em plena formação de frutos (b). Mossoró-RN, 2010.
A variedade de coentro utilizada foi a “Super verdão”,
que foi plantada em semeadura direta, colocando-se seis
sementes por cova. Dez dias após a emergência (DAE),
foi realizado o desbaste das parcelas, deixando-se duas
plantas por cova, perfazendo uma população de 2000000
plantas ha-1. Durante a condução do experimento foram
efetuadas regas diárias, para permanência da umidade no
solo, e capinas manual, para o controle da competição
entre as plantas.
Aos trinta e cinco dias após a semeadura (DAS)
realizou-se a colheita do experimento. Foram realizadas
avaliações das características: altura de planta (cm planta1
), número de hastes por planta (termos de média por
planta), produtividade e massa da matéria seca de coentro
(kg ha-1). A altura de planta foi tomada de uma amostra de
vinte plantas medindo a altura da base até o ápice da
planta utilizando uma régua milimetrada. Número de
hastes, tomado de uma amostra de vinte plantas e contado
o número de hastes expresso em média. Para
produtividade de coentro utilizou-se o índice de 70% de
área total, já que os espaços entre os canteiros não são
cultivados (condição regional). Assim, considerou-se
como rendimento, o resultado do produto entre o peso por
m2 de canteiro e a área de um hectare. O rendimento foi
obtido pela pesagem em balança eletrônica com precisão
para 1,0 g após o corte acima do colo da planta. A massa
da matéria seca foi obtida em estufa de aquecimento com
ar forçado a 65 oC, até massa constante.
Análises de variância para as características avaliadas
foram realizadas através do aplicativo software ESTAT
(KRONKA; BANZATO, 1995). Para o fator quantidade,
o procedimento de ajustamento de curva de resposta foi
realizado através do software Table Curve (JANDEL
SCIENTIFIC, 1991).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi observado efeito significativo ao nível de 1% de
probabilidade do efeito residual da jitirana nas
características avaliadas na cultura do coentro (Tabela 1).
Tabela 1 – Valores de F para altura de plantas (AT), número de hastes por planta (NH), produtividade de coentro (PC) e massa da
matéria seca (MMSC) de coentro. Mossoró-RN, UFERSA, 2010.
Causas de Variação
GL
AT (cm)
NH
PC
MMSC
453,83**
Tratamentos
6
98,19**
3501,71**
276,65**
Blocos
2
0,65n.s
1,95n.s
0,43n.s
0,87n.s
Resíduo
12
---
---
---
---
Desvio padrão
---
0,1777
0,1279
42,5219
12,6475
CV (%)
---
1,78
1,66
0,93
Média Geral
--9,9619
7,7238
4566,8095
† Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem entre si ao nível de 5% probabilidade pelo teste de Tukey.
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3,61
350,2381
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Esses resultados demonstram que as diferentes
quantidades de jitirana adicionadas ao solo promoveram
um efeito residual nas características acima descritas,
tendo em vista que, a cultura anterior, o coentro, por ser
de ciclo curto, contribuiu para que possivelmente
houvesse disponibilidade de elementos essenciais ao
crescimento do coentro.
Um aumento de 2,5 cm planta-1 na altura foi observado
entre a menor quantidade (4,27 t ha-1) e a maior (17,1 t ha1
), com altura máxima média de 11,1 cm planta-1, com
ajustamento de curva com equação polinomial do terceiro
grau y2= 94,21 -10,09x + 1,47x2 – 0,004x3, ocorrendo um
ponto de máximo para a referida característica (Figura 3).
Linhares et al. (2010), encontraram resultados superiores
(17,35 cm de altura planta-1), quando testou diferentes
proporções de jitirana com mata-pasto incorporado ao solo
na produtividade de coentro. Já, Tavella et al. (2010),
estudando o cultivo orgânico de coentro em plantio direto
utilizando cobertura viva e morta, adubado com composto,
encontrou altura máxima de coentro de 24,34 cm planta-1,
no sistema de plantio utilizando amendoim forrageiro
como planta adubadeira.
Figura 3. Efeito residual das diferentes doses de jitirana na altura de planta de coentro. Mossoró-RN, 2010.
No número de hastes por planta, ocorreu um acréscimo
de 4,1 hastes por planta entre a menor quantidade (3,0 t
ha-1) e a maior (21,0 t ha-1), com valor máximo de 10,3
hastes planta-1, com curva ascendente em relação às
diferentes quantidades (Figura 4). Valor inferior foi
encontrado por Linhares (2009) estudando diferentes
quantidades e tipos de adubos verdes, com acréscimo
médio de 1,0 haste planta-1 entre a menor quantidade (5,4 t
ha-1) e a maior (15,6 t ha-1) de adubos verdes, com valor
máximo de 8,5 hastes planta-1. Nunes et al. (2007),
avaliando os efeitos de fontes, doses e intervalos de
aplicação de compostos orgânicos na produtividade de
repolho e coentro em sistema de produção, observaram
número de hastes por planta de 13,28, superior ao referido
trabalho.
Figura 4. Efeito residual das diferentes doses de jitirana no número de hastes de coentro. Mossoró-RN, 2010.
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Na produtividade e massa da matéria seca ocorreu
acréscimo nas características com valores médios de 6179
e 538 kg ha-1 nas quantidades de 19,5 e 21,0 t ha-1
respectivamente (Figuras 5 e 6). Valores inferiores foram
encontrados por Linhares (2009), estudando diferentes
quantidades e tipos de adubos verdes, encontrou valores
máximos de produtividade na quantidade de 15,6 t ha-1 de
2810; 2570 e 2230 kg ha-1 para jitirana, flor-de-seda e
mata-pasto respectivamente. Já em relação à massa da
matéria seca os valores foram de 540; 550 e 480 para
jitirana, flor-de-seda e mata-pasto respectivamente.
Tavella et al. (2010), estudando o cultivo orgânico de
coentro em plantio direto utilizando cobertura viva e
morta adubado com composto, encontrou produtividade
de 3454,3 kg ha-1, no sistema de plantio com plantas
espontânea, inferior ao referido trabalho. Já com resteva
morta, o mesmo autor obteve produtividade de 8000 kg
ha-1 e 0,77 g planta-1, equivalente a 770 kg ha-1, sendo
superior ao referido trabalho. Para cada tonelada de
jitirana adicionada ao solo, acarretou um efeito residual de
316 kg ha-1.
Figura 5. Efeito residual das diferentes doses de jitirana na produtividade de coentro. Mossoró-RN, 2010.
Figura 6. Efeito residual das diferentes doses de jitirana na massa da matéria seca de coentro. Mossoró-RN, 2010.
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CONCLUSÃO
As doses entre 18 e 21,0 t há-1 foram as que
promoveram o maior efeito residual entre as
características avaliadas.
KRONKA, S. N.; BANZATO, D. A. ESTAT: sistema
para análise estatística versão 2. 3. ed. Jaboticabal: Funep,
1995. 243 p.
LINHARES, P. C. F; NETO, F. B; MARACAJÁ, P. B;
DUDA, G. P; SÁ, J. R. de. Produção de fitomassa e teores
de macronutrientes da jitirana em diferentes estágios
fenológicos. Revista Caatinga, Mossoró, v.21, n.4, p.7278, 2008.
AGRADECIMENTOS
Os nossos votos de gratidão vão para o Grupo de
Pesquisa Jitirana, pois em equipe tornamos realidade
nossas ideias; à Instituição UFERSA - Mossoró/RN, na
qual fazemos parte, pois oferece um aparato físico,
indispensável para ciência.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de solos.
Sistema brasileiro de classificação de solos, 2. ed. Rio
de Janeiro: Embrapa, 2006. 306p.
ESPINDOLA, J. A. A.; GUERRA, J. G. M.; ALMEIDA,
D. L. Adubação verde para hortaliças. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 46., 2006,
Goiânia, Resumos... Goiânia: [s.n.], 2006. p. 3535. CDROM.
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TAVELLA, L. B.; GAVÃO, R. O. de.; FERREIRA, R. L.
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Cultivo orgânico de coentro em plantio direto utilizando
cobertura viva e morta adubado com composto. Revista
Ciência Agronômica, Fortaleza, 41, p. 614-618, 2010.
Recebido em 10/01/2011
Aceito em 10/07/2011
Revista Verde (Mossoró – RN – Brasil) v.6, n.3, p.109 - 114 julho/setembro de 2011
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