CONSTRUÇÃO EM CLIMAS TROPICAIS Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda FRANCISCO MANUEL GOMES FERRAZ ESTEVES Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL — ESPECIALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÕES CIVIS Orientador: Professor Doutor Vasco Manuel Araújo Peixoto de Freitas FEVEREIRO DE 2009 MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2008/2009 DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL Tel. +351-22-508 1901 Fax +351-22-508 1446 [email protected] Editado por FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Rua Dr. Roberto Frias 4200-465 PORTO Portugal Tel. +351-22-508 1400 Fax +351-22-508 1440 [email protected] http://www.fe.up.pt Reproduções parciais deste documento serão autorizadas na condição que seja mencionado o Autor e feita referência a Mestrado Integrado em Engenharia Civil 2007/2008 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2008. As opiniões e informações incluídas neste documento representam unicamente o ponto de vista do respectivo Autor, não podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou outra em relação a erros ou omissões que possam existir. Este documento foi produzido a partir de versão electrónica fornecida pelo respectivo Autor. Aos meus pais, ao Gustavo e à Joana. Science is organized knowledge. Wisdom is organized life. Immanuel Kant Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda AGRADECIMENTOS Ao Professor Vasco Freitas pela paciência e disponibilidade. i Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda ii Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda RESUMO O variado número de ambientes climáticos existentes na Terra, teve e tem como consequência o desenvolvimento de uma série de estratégias para fazer frente às adversidades que cada um dos climas apresenta. No entanto, verifica-se frequentemente, principalmente nas regiões de climas quentes, a adopção de modelos construtivos inspirados em conceitos eficazes em outros países, com clima absolutamente diferente, o que origina ambientes internos construídos desconfortáveis, devido à deficiente resposta dada pelos edifícios face às características climáticas. É, assim, de extrema importância o estudo das formas tradicionais dos edifícios nas zonas tropicais, semi-tropicais e quentes em paralelo com a análise das características do clima e de conforto. A incorporação positiva no processo de projecto das condições climáticas locais, obriga ao conhecimento de parâmetros como: a velocidade e direcção do vento, temperaturas e humidades anuais, precipitação, distribuição e acumulação da temperatura exterior e a radiação. O conceito de conforto térmico pode ser definido como sendo “o estado de espírito em que o indivíduo expressa satisfação em relação ao ambiente térmico”. Os actuais “standards” internacionais de conforto térmico mais utilizados são o ASHRAE 55-92 (1992) e o ISO 7730 (1994), modelos que consideram que as condições e critérios de conforto são iguais a um nível global, quer se trate de um edifício num país frio ou num país quente. No entanto, existem inúmeros estudos sobre algoritmos adaptativos que consideram o comportamento adaptativo dos ocupantes às condições de clima local. O presente trabalho visa o estudo das características construtivas adequadas para os climas quentes, de modo a determinar as características construtivas que melhor se adequam ao clima da cidade de Luanda. PALAVRAS-CHAVE: Clima, Conforto, Estratégias Bioclimáticas, Projecto Térmico; iii Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda iv Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda ABSTRACT The Earth has many varied climatic environments, which has resulted in the human need to develop an outnumber of strategies to face the adversities inherent to every climate. However, it’s often seen, mainly in warm regions, the adoption of constructive models inspired in concepts that are successful in other countries enjoying a completely different climate. This implies uncomfortable indoor environments due to the building’s insufficient response towards the local climatic characteristics. Hence, it’s extremely important to study the traditional design and construction of buildings in tropical, semitropical and warm areas while assessing its climatic and comfort aspects. Including the local climate in the design process implies the knowledge of parameters such as wind speed and direction, annual temperatures and moistures, outer temperature distribution and accumulation and solar radiation. Thermal comfort can be defined as being “the mood in which one expresses agreement towards the thermal environment”. The most used current international standards for thermal comfort are ASHRAE 55-92 (1992) and o ISO 7730 (1994), which admit that the comfort conditions and criteria are the same at a global level, whether the building is located at the warm or cold country. There are, nevertheless, innumerous studies about adaptative algorithms that consider the inhabitants behavior to adapt to the local climate setting. In this work the most suitable building strategies to warm climates are studied in a way to determine the most accurate building characteristics for the city of Luanda. KEYWORDS: Climate, Comfort, Building Strategies, Thermal Project v Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda vi Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda ÍNDICE GERAL AGRADECIMENTOS i RESUMO ii ABSTRACT iii 1. INTRODUÇÃO 1 2. RELAÇÃO DA CONSTRUÇÃO COM O CLIMA E O CONFORTO 5 2.1. ENQUADRAMENTO CLIMÁTICO 5 2.2 CONFORTO 12 2.3 MÉTODO DE MAHONEY 16 2.3.1. MÉTODO DE MAHONEY TRADICIONAL 18 2.3.2. MÉTODO DE MAHONEY NEBULOSO 26 2.4. ESTRATÉGIAS CLIMÁTICAS 36 2.4.1. ARREFECIMENTO PASSIVO – VENTILAÇÃO 36 2.4.2. CONTROLO DOS GANHOS SOLARES 48 2.4.3. ISOLAMENTO TÉRMICO 53 2.4.4. CAPACIDADE TÉRMICA 54 2.5. CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS EM FUNÇÃO DO CLIMA 56 2.5.1. CLIMA EQUATORIAL TEMPERADO HÚMIDO 61 2.5.2. SUBCLIMA DESÉRTICO-MARÍTIMO 65 3. CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DE LUANDA 67 3.2 HUMIDADE RELATIVA 69 3.3 TEMPERATURA VS HUMIDADE RELATIVA 70 3.4 PRECIPITAÇÃO 71 3.5 VENTO 71 3.6 RADIAÇÃO 72 4. CONTROLO SOLAR 81 vii Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 5. ESTRATÉGIA CONSTRUTIVA PARA LUANDA – APLICAÇÃO DO MÉTODO DE MAHONEY 95 6. CONCLUSÕES 97 7. BIBLIOGRAFIA 99 viii Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Habitação vernacular característica dos climas Frio, Temperado, Árido e Tropical (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007) ............................................................................................... 2 Figura 2 – Mapa mundi da classificação de Köppen-Geiger (fonte: University of Melbourne). .... 7 Figura 3 – Temperatura mundial em Janeiro (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007)………………………….9 Figura 4 – Temperatura mundial em Julho (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007) ........................ 10 Figura 5 – Radiação global anual (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007) ....................................... 11 Figura 6 – Precipitação anual (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007) ............................................. 11 Figura 7 - Carta Bioclimática de Givoni (fonte: Gonçalves e Graça, 2004) ................................ 13 Figura 8 – Monograma da temperatura efectiva (fonte: Gomes, 1967) ...................................... 14 Figura 9 – Monograma do índice de conforto equatorial (fonte: Gomes, 1967). ........................ 15 Figura 10 – Representação gráfica da lógica binária da classificação da amplitude térmica (fonte: Harris, A., Cheng, L.Y., Labaki, L., 2000) ........................................................................ 17 Figura 11 – Representação gráfica da lógica nebulosa da classificação da amplitude térmica (fonte: Harris, A., Cheng, L.Y., Labaki, L., 2000). ....................................................................... 18 Figura 12 – Representação das fases do Método de Mahoney Tradicional (fonte: Harris, A., 1999) ........................................................................................................................................... 18 Figura 13 – Representação das fases do Método de Mahoney Nebuloso (MMN) (fonte: Harris, A., 1999). ..................................................................................................................................... 27 Figura 14 – Representação gráfica das funções de pertinência para classificação da Temperatura segundo o MMN (fonte: Harris, A., 1999). ............................................................. 27 Figura 15 – Representação gráfica das funções de pertinência para classificação da Amplitude Térmica segundo o MMN (fonte: Harris, A., 1999). .................................................................... 28 Figura 16 – Representação gráfica das funções de pertinência relativas aos Grupos de Humidade segundo o MMN (fonte: Harris, A., 1999). ................................................................. 28 Figura 17 – Representação gráfica das funções de pertinência para classificação da Pluviosidade segundo o MMN (fonte: Harris, A., 1999). ............................................................. 28 Figura 18 – Representação gráfica dos conjuntos de Bem-estar Nebulosos (fonte: Harris, A., 1999) ........................................................................................................................................... 31 Figura 19 – Determinação gráfica da contribuição de cada um dos conjuntos de bem-estar no conjunto nebuloso "confortável" (fonte: Harris, A., 1999). .......................................................... 33 Figura 20 – Determinação dos conjuntos nebulosos "Confortável", "Quente" e "Frio" (fonte: Harris, A., 1999) .......................................................................................................................... 33 Figura 21 – Ventilação no interior de uma habitação através do efeito de chaminé (à esquerda) e através do vento e brisas locais (à direita) (fonte: Oakley, 1961). ........................................... 38 Figura 22 – Linhas de fluxo em torno de um edifício (fonte: Koenigsberger et al, 1977). .......... 38 Figura 23 – Variação da velocidade no interior do edifício através do aumento da zona de depressão a sotavento (fonte: Koenigsberger et al, 1977). ........................................................ 39 ix Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 24 – Fluxos de ar em função da disposição conjunta de habitações (fonte: Gomes, 1967). .......................................................................................................................................... 40 Figura 25 - Influência da distância entre edifícios e da sua altura na admissão de brisas locais (fonte: Gomes, 1967). ................................................................................................................. 41 Figura 26 – Influência da envolvente exterior do edifício na ventilação interior do edifício (fonte: Gomes, 1967) .............................................................................................................................. 41 Figura 27 - Ventilação natural deficiente do interior do edifício devido ao número e disposição das aberturas (fonte: Koenigsberger et al, 1977)........................................................................ 42 Figura 28 – Influência da localização das aberturas a barlavento no percurso do fluxo de ar no interior do edifício (fonte: Koenigsberger et al, 1977). ................................................................ 42 Figura 29 – Influência da localização das aberturas a sotavento no percurso do fluxo de ar no interior do edifício (fonte: Gomes, 1967) ..................................................................................... 43 Figura 30 – Linhas de fluxo do ar interior do edifício para aberturas localizadas em fachadas opostas e na mesma direcção .................................................................................................... 43 Figura 31 - Linhas de fluxo do ar interior do edifício para aberturas localizadas em fachadas adjacentes. .................................................................................................................................. 44 Figura 32 – Em cima: disposição de elementos verticais adjacentes às aberturas para melhoramento das condições de ventilação interior – solução excelente. Em baixo: disposição de elementos verticais adjacentes às aberturas para melhoramento das condições de ventilação interior – solução menos adequada. .......................................................................... 44 Figura 33 – Disposição de elementos verticais adjacentes às aberturas a evitar. ..................... 44 Figura 34 – Influência da disposição de divisórias interiores no movimento de ar. .................... 45 Figura 35 – Variação do fluxo de ar em função do tamanho da entrada e saída de ar (fonte: Gomes, 1967). ............................................................................................................................. 46 Figura 36 – Influência do tamanho da divisória na velocidade do ar interior. ............................. 46 Figura 37 – Influência da configuração de janelas no movimento interior do ar (fonte: Gomes, 1967). .......................................................................................................................................... 47 Figura 38 – Influência da configuração de elementos adjacentes às aberturas no movimento interior do ar (fonte: Gomes, 1967). ............................................................................................ 47 Figura 39 - Dispositivos de sombreamento e respectivas Superfícies de Eficiência Total (fonte: Cunha, M.M.F. 2005) .................................................................................................................. 51 Figura 40 – Redução dos gastos de energia para arrefecimento em função do coeficiente de absorção das superfícies exteriores (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007). .................................. 52 Figura 41 – Variação da temperatura exterior (esquerda) e interior (direita) da superfície de uma parede com vários coeficientes de absorção. ..................................................................... 52 Figura 42 – Variação do consumo de energia em regiões quentes e húmidas (esquerda) e quentes e árias (direita) em função do isolamento de elementos da envolvente. Legenda: A – elementos simples sem isolamento; B – paredes simples com 40mm de isolamento; C – coberturas com 40mm de isolamento (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007) ................................ 53 Figura 43 – Ganhos energéticos em regiões quentes e húmidas (esquerda) e em regiões quentes e secas (direita) (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007). ................................................... 54 x Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 44 – Representação gráfica da determinação do tempo de atraso Φ em função da temperatura exterior To e da Temperatura ar-sol (fonte: Koenigsberger et al, 1977). ................ 55 Figura 45 – Planta de uma habitação típica de climas quentes e secos (fonte: Koenigsberger et al, 1977)....................................................................................................................................... 55 Figura 46 – Planta de uma habitação típica de climas de savana (fonte: Koenigsberger et al, 1977). .......................................................................................................................................... 56 Figura 47 – Variação de alguns parâmetros climáticos em função do clima local: sombreamento e os ganhos solares, factores de pressão do vento sobre os edifícios, temperatura e humidade relativa exterior e a precipitação (fonte: Hindrichs e Daniels, 2007)........................................... 57 Figura 48 – Influência do sol nos climas locais (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007). ................. 58 Figura 49 – Disposição tradicional dos átrios, escadas e entrada, e outras áreas anexas para cada clima (fonte: Hindrichs e Daniels, 2007)............................................................................. 59 Figura 50 – Apresenta a influência do clima na forma, orientação e distribuição da massa, indicando a melhor orientação das fachadas principais e a localização da massa térmica do edifício (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007). ............................................................................... 60 Figura 51 – Exemplo de planta ideal de uma habitação de clima equatorial temperado húmido (fonte: Koenigsberger et al, 1977).. ............................................................................................. 62 Figura 52 – Plantas e cortes de habitação adaptada ao clima equatorial temperado húmido (fonte: Koenigsberger et al, 1977).. ............................................................................................. 63 Figura 53 - Dispositivo de orientação das brisas para promoção da ventilação natural do espaço interior (Gomes, 1967). ................................................................................................... 66 Figura 54 - Classificação Climática de Köppen-Geiger para Angola……………………………...67 Figura 55 - Variação média Temperatura ao longo do ano em Luanda ..................................... 68 Figura 56 - Variação média da Temperatura mensal e horária ao longo do ano em Luanda .... 69 Figura 57 - Variação da Temperatura média horária em Luanda para 2 períodos do ano ........ 69 Figura 58 - Variação da Humidade Relativa média mensal e horária ao longo do ano para Luanda ......................................................................................................................................... 70 Figura 59 - Variação da Humidade Relativa média horária em Luanda para dois períodos estacionais ................................................................................................................................... 70 Figura 60 - Variação da Temperatura e Humidade Relativa média mensal ao longo do ano em Luanda ......................................................................................................................................... 71 Figura 61 - Variação da Temperatura e da Humidade Relativa média horária ao longo do ano para Luanda ................................................................................................................................ 71 Figura 62 - Variação da Precipitação e da Temperatura média mensal ao longo do ano para Luanda ......................................................................................................................................... 71 Figura 63 - Rosa-dos-ventos para a cidade de Luanda. ............................................................. 72 Figura 64 - Determinação do ângulo de incidência da radiação solar sobre um ligar da superfície da Terra. ..................................................................................................................... 73 Figura 65 - Variação quantidade radiação solar incidente em superfícies horizontais e verticais ao longo do ano em Luanda........................................................................................................ 74 xi Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 66 - Variação da intensidade da radiação solar média mensal incidente ao longo do ano em Luanda................................................................................................................................... 75 Figura 67 - Variação da quantidade de Radiação Solar recebida durante o ano em Luanda .... 75 Figura 68 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Janeiro em Luanda ..... 76 Figura 69 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 23 de Fevereiro em Luanda .. 76 Figura 70 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Março em Luanda ....... 76 Figura 71 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 17 de Abril em Luanda .......... 77 Figura 72 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Maio em Luanda ......... 77 Figura 73 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Junho em Luanda ....... 77 Figura 74 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 24 de Julho em Luanda ........ 77 Figura 75 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 28 de Agosto em Luanda ...... 78 Figura 76 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Setembro em Luanda . 78 Figura 77 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 20 de Outubro em Luanda .... 78 Figura 78 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 22 de Novembro em Luanda 78 Figura 79 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Dezembro em Luanda 79 Figura 80 - Carta Solar para Luanda. ........................................................................................ 84 Figura 81 - Transferidor de ângulos de sombra. ......................................................................... 84 Figura 82 - Dispositivos de sombreamento na Residência de Estudantes em Luanda (fonte: Quintã, M.M.G., 2007) ................................................................................................................. 85 Figura 83 - Dispositivos de sombreamento na Residência de Estudantes em Luanda (fonte: Quintã, M.M.G., 2007) ................................................................................................................. 85 Figura 84 - Dispositivos de sombreamento na Residência de Estudantes em Luanda (fonte: Quintã, M.M.G., 2007) ................................................................................................................. 85 Figura 85 - Ilustração da folha de cálculo para dimensionamento dos dispositivos solares. ..... 91 Figura 86 - Superfície de Eficiência Total do dispositivo do tipo C para a orientação Norte ...... 92 Figura 87 - Superfície de Eficiência Total do dispositivo do tipo G para a orientação Norte...... 93 Figura 88 - Frequência anual dos indicadores climáticos ........................................................... 95 Figura 89 - Graus de pertinência mensais para cada um dos indicadores climáticos................ 95 Figura 90 - Frequência anual rectificada dos indicadores climáticos ......................................... 96 xii Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 – Classificação climática de Köppen-Geiger. ................................................................ 7 Tabela 2 - Estratégias Bioclimáticas para diferentes tipos de clima (fonte: Gonçalves e Graça, 2004) ........................................................................................................................................... 13 Tabela 3 – Exemplo do Quadro I: introdução dos dados climáticos (fonte: Koenigsberger et al, 1977) ........................................................................................................................................... 19 Tabela 4 – Classificação da Humidade Relativa em Grupos de Humidade (fonte: Koenigsberger et al, 1977)................................................................................................................................... 20 Tabela 5 – Carta de Limites de Conforto (fonte: Koenigsberger et al, 1977). ............................ 20 Tabela 6 – Quadro II: Classificação do Rigor Térmico do dia e da noite (fonte: Koenigsberger et al, 1977)....................................................................................................................................... 21 Tabela 7 – Tabela de apoio à determinação dos indicadores climáticos de humidade e aridez para cada mês (fonte: Koenigsberger et al, 1977). ..................................................................... 22 Tabela 8 - Quadro III: determinação das recomendações de projecto a partir do tipo e do 23número de indicadores climáticos verificados – Especificações Recomendadas (fonte: Koenigsberger et al, 1977). ......................................................................................................... 23 Tabela 9 - Recomendações de projecto - Especificações recomendadas (fonte: Koenigsberger 3et al, 1977)................................................................................................................................. 24 Tabela 10 - Quadro III: determinação das recomendações de projecto a partir do tipo e do número de indicadores climáticos verificados – Recomendações de Detalhe (fonte: Koenigsberger et al, 1977). ......................................................................................................... 25 Tabela 11 - Recomendações de Projecto - Recomendações de Detalhe (fonte: Koenigsberger et al, 1977)................................................................................................................................... 26 Tabela 12 – Quadro I: introdução e definição dos graus de pertinência dos dados climáticos (adaptado de Harris, 1999). ........................................................................................................ 29 Tabela 13 – Conjuntos de Bem-Estar obtidos a partir do Grupo de Humidade e da classificação da Temperatura média (fonte: Harris, A., 1999). ........................................................................ 30 Tabela 14 – Exemplo da determinação do grau de pertinência do Rigor Térmico..................... 34 Tabela 15 – Regras de inferência para determinação dos indicadores climáticos mensais (fonte: Harris, A., 1999) .......................................................................................................................... 35 Tabela 16 – Exemplo da determinação do grau de pertinência dos indicadores climáticos. ..... 35 Tabela 17 - Configuração plantas e relação das áreas das fachadas ........................................ 82 Tabela 18 - Quantidade de Radiação Solar incidente durante um ano ...................................... 83 Tabela 19 - Trajectórias visíveis do Sol para cada orientação de fachada. ............................... 86 Tabela 20 - Períodos de Incomodidade da Radiação Solar. ...................................................... 87 Tabela 21 - Ângulos de Sombra.................................................................................................. 87 Tabela 22 - Elementos de Sombreamento. ................................................................................ 89 Tabela 23 - Variáveis do dimensionamento de dispositivos de sombreamento pré-definidas ... 91 xiii Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 1 INTRODUÇÃO A procura de novos mercados por parte das empresas portuguesas do sector da construção civil conduziu-as para países onde a necessidade de infra-estruturas básicas e de habitação é gritante, nomeadamente África. Em virtude dos laços históricos criados, do términos da guerra civil e das elevadas potencialidades da sua economia, Angola tornou-se no porto de abrigo, e até na tábua de salvação, de muitas empresas portuguesas ligadas à engenharia civil. Com um crescimento médio do Produto Interno Bruto anual nos últimos 3 anos de cerca de 15%, cada vez é maior o número de pessoas que se deslocam para este país em busca de melhores oportunidades de negócio. Os 26 anos de guerra civil, com toda a destruição provocada por esta, aliado à entrada massiva de estrangeiros, provocada pelo boom económico que o país vive, levam a que a oferta de edificado face à procura, seja bastante reduzida. Esta necessidade urgente de construção de edificado levou a que muitas empresas portuguesas se deslocassem para Angola e de imediato iniciassem a sua implementação, sem ponderação sobre se o tipo de construção executada em Portugal seria viável num país com um clima completamente diferente do clima português. A globalização dos critérios arquitectónicos e de construção originam por vezes a descontextualização dos edifícios face ao local onde se inserem, uma vez que não são tidos em conta aspectos climáticos e ambientais. O empirismo da construção tradicional autóctone e a arquitectura vernacular permitiam criar construções eficientes face clima local, resultando tal facto no surgimento de construções típicas dos vários tipos de climas, tal como evidencia a Figura 1. 1 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 1 - Habitação vernacular característica dos climas Frio, Temperado, Árido e Tropical (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007) Para além da globalização dos modelos construtivos e do esquecimento das técnicas construtivas tradicionais características de cada local, a velocidade da inovação não permite o amadurecimento dos processos e produtos. O fascínio pelas novas tecnologias leva à rápida substituição das técnicas antigas e à aposta em novos instrumentos sem se concluir quais os seus reais efeitos, sendo disso exemplo a utilização massiva do ar condicionado. A importação de modelos construtivos característicos de países com clima temperado ou frio, para países de clima quente e tropical, tem como consequência uma defeituosa resposta por parte dos edifícios às solicitações do clima local. O recurso constante à utilização do ar condicionado, para reduzir o desconforto no interior dos edifícios, trata-se de uma solução antieconómica, para além de precária a nível ambiental e da saúde do próprio utilizador. É assim fundamental estudar e adaptar os edifícios a uma realidade climática distinta da nossa, para que, em função das características do clima local, se possa projectar um edifício cujas condições do ambiente interior sejam as mais próximas possíveis das condições de conforto ambiental ideais para esse mesmo local, evitando-se assim a adopção de conceitos construtivos característicos de climas distintos, que resultariam no aquecimento dos edifícios, obrigando, posteriormente, ao arrefecimento mecânico do interior, a fim de se criar um ambiente interior confortável. Segundo o último relatório das Nações Unidas, a população mundial aumentará em 2,5 biliões até 2050, aumento esse que será absorvido na sua maioria pelos países em desenvolvimento, onde se engloba Angola. De acordo com o último relatório do departamento de assuntos económicos e sociais da ONU divulgado no final do ano passado, prevê-se um cenário médio para Angola em que os cerca de 12 milhões de habitantes estimados no ano de 2000 aumentem de forma constante até aos 24 milhões em 2025. Uma vez que o parque edificado é tipicamente responsável por uma percentagem significativa da energia consumida nos países e que uma população em crescimento requer a expansão do parque edificado, perante este cenário, prevê-se que a factura energética a pagar será cada vez maior, de acordo as exigências de uma população crescente. Este fenómeno tem, reconhecidamente, consequências não só económicas como ambientais. É, por isso, fundamental que, ao nível da construção, se inicie um processo de estudo relativamente à adaptação dos edifícios às condições bioclimáticas características de cada região. Esta adaptação permitirá 2 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda reduzir a energia gasta na manutenção das condições de conforto no interior dos edifícios, sendo por isso vantajoso a nível económico e ambiental. Este estudo passa pela análise do clima do local, através da análise de um conjunto de factores climáticos, tais como a exposição solar, a temperatura, a humidade ou o regime de ventos, pela avaliação das características de conforto térmico exigidas para esses climas e pelo estudo, por exemplo, do isolamento térmico e inércia térmica dos elementos construtivos, forma e orientação do edifício ou ventilação. O estudo da geometria de insolação de um lugar permite analisar a orientação mais favorável do edifício, bem como determinar a duração da exposição solar e os ângulos de incidência dos raios solares, a partir dos quais são definidas as características dos elementos de sombreamento dos vãos envidraçados. A radiação solar directa, difusa ou reflectida, que penetra no interior dos edifícios através dos vãos envidraçados promove o aquecimento do espaço em causa, uma vez que o envidraçado se deixa atravessar pela radiação de comprimento de onda curto, sendo opaco à radiação de maior comprimento de onda emitidos pelos objectos. Para além da radiação solar, a avaliação das temperaturas locais e dos fluxos de calor que se estabelecem entre o exterior e o interior do edifício é de extrema importância, visto ser um dos principais factores que desencadeia o desconforto do ambiente interior e influenciar outros factores de análise. A humidade é outro dos factores que condiciona grandemente o clima de uma região, uma vez que, para uma temperatura constante, a sua variação pode dar origem a ambientes com níveis de conforto diferente. O estudo dos ventos dominantes é também importante, uma vez que permite definir a melhor orientação do edifício para o estabelecimento de uma ventilação natural adequada. A ventilação natural promove um aumento do conforto térmico, em virtude de o movimento do ar aumentar as perdas de calor do corpo humano, para além de promover perdas de calor por convecção das paredes, pavimentos e tectos. Para além da orientação do edifício, também a forma deste influencia a sua exposição ao vento, condicionando ainda a superfície de contacto edifício/exterior, tendo por isso influência nos ganhos de calor através da envolvente. Outra questão a ter em conta consiste na avaliação da necessidade de dotar os elementos construtivos de isolamento e inércia térmica. Com tudo isto, pretende-se atingir níveis de conforto ambiente harmonizados com as características do clima local. Actualmente, admite-se que os critérios de conforto não só variam de pessoa para pessoa, como também de clima para clima e de povo para povo, tratando-se por isso de um erro a consideração dos critérios de conforto relativos a países de clima temperado ou frio para climas de clima quente e tropical. Neste contexto, procura-se com este relatório de projecto identificar quais as melhores estratégias construtivas para a cidade de Luanda, de modo a que os edifícios futuramente construídos possam responder melhor ao clima da região, garantindo desta forma melhores condições de conforto e saúde no interior das habitações, diminuindo, por conseguinte, a necessidade da utilização do ar condicionado e as necessidades gerais de energia. Desta forma, conhecidas as características principais dos climas existentes na região onde se insere o local de estudo e o tipo de construção típico de cada um deles, serão analisados os dados climáticos de Luanda, a fim de se definirem as características de projecto mais adequadas para o local. Será também utilizado um método intuitivo, o Método de Mahoney, através do qual, a partir dos dados do clima local, são produzidas recomendações base de projecto. Este trabalho é então dividido em 6 capítulos, sendo o primeiro relativo ao enquadramento do tema e o segundo relativo à apresentação dos climas mundiais, conceitos relacionados com o 3 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda conforto, estratégias bioclimáticas e à relação entre estes. O capítulo 3 consiste na descrição detalhada do clima da cidade de Luanda, no capítulo 4 será apresentado o estudo relativo ao controlo solar, cabendo no capítulo 5 a descrição e discussão das estratégias construtivas para Luanda. No capítulo 6 serão apresentadas as conclusões do trabalho. Concluído este trabalho, espera-se que a definição dos parâmetros de projecto para o clima de Luanda fique facilitada e que possa corresponder a uma melhoria da resposta dada pelos edifícios construídos nesta zona do globo. 4 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 2 RELAÇÃO DA CONSTRUÇÃO COM O CLIMA E O CONFORTO 2.1. ENQUADRAMENTO CLIMÁTICO O Clima é definido com sendo o Tempo Meteorológico Médio ou como sendo a integração no tempo dos estados físicos do ambiente atmosférico característico de certa localidade geográfica (Koenigsberger et al, 1977). O clima tem um efeito óbvio e directo no ambiente térmico. Para a definição do tipo de construção mais adequado às características climáticas do local, ou seja, determinar a importância comparativa que deve ser dada às várias estratégias de projecto de edifícios, é fundamental analisar não só os valores médios das várias variáveis climáticas, nomeadamente a temperatura, humidade relativa velocidade e direcção do vento, precipitação e radiação solar, como também os valores máximos e mínimos registados ao longo do dia e do ano. A variação diária da temperatura do ar depende das condições da atmosfera. Nos dias limpos, a entrada de uma grande quantidade de radiação e a existência de um caminho livre para a libertação de radiação produz uma grande amplitude térmica diária, ao passo que num dia nublado, a entrada e saída de radiação estão restringidas, o que origina uma menor variação da temperatura. Mais significativo é a opacidade do vapor de água relativamente às radiações de onda comprida libertadas durante a noite pela superfície da Terra, facto que retarda o arrefecimento nocturno, sendo esta a razão pela qual o deserto aquece tanto durante o dia e arrefece rapidamente à noite e nas regiões húmidas a variação diária da temperatura é tão pequena. O planeta Terra caracteriza-se pela existência de um leque variadíssimo de tipos de climas. Desde os Pólos até ao Equador, a interacção da radiação solar com a atmosfera e as forças gravitacionais, juntamente com a distribuição das massas de terra e mar, criam uma variedade quase infinita de climas, sendo, no entanto, possível distinguir certas zonas onde o clima é aproximadamente constante (Koenigsberger et al, 1977). Em virtude dos inúmeros factores que interagem no planeta, podem caracterizar-se e classificarse climas em função desses mesmos factores. A quantidade de radiação solar recebida num determinado local, a latitude, os sistemas de ventos e precipitação, a relação entre terra e mar, altura acima no nível do mar, topografia, presença ou ausência de vegetação e a influência das correntes oceânicas são alguns dos factores que caracterizam um clima. No entanto, na concepção de um sistema de classificação climático, os elementos de caracterização podem ser em maior ou menor número, ou mesmo diferentes, do que numa outra escala de classificação climática (Koenigsberger et al, 1977; Oakley, 1961). 5 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda A concepção simplista do zonamento climático segundo uma delimitação geográfica, em que, por exemplo, os climas tropicais se encontram confinados na faixa intertropical centrada no equador e os climas subtropicais delimitados pelo Trópico de Câncer e pelo paralelo de latitude 30º Norte e pelo Trópico de Capricórnio e o paralelo de latitude 30º Sul, não é compatível com a complexidade dos factores climáticos (Gomes, 1967). Desta forma, ao longo dos anos foram sendo desenvolvidos alguns sistemas de classificação climática, destacando-se entre estes a Classificação Climática de Köppen. Este é o sistema de classificação global dos tipos climáticos mais utilizada em geografia, climatologia e ecologia. Tendo sido proposta em 1900 pelo climatologista alemão Wladimir Köppen, foi sendo melhorada ao longo dos anos com a colaboração de Rudolf Geiger, sendo na actualidade também conhecida como Classificação Climática de Köppen-Geiger (Sena, 2004). Este sistema de classificação baseia-se no pressuposto, de que a vegetação natural de cada grande região da Terra é a tradução do clima que nela existe. Assim, as fronteiras entre regiões climáticas estabelecidas correspondem, tanto quanto possível, às áreas de predominância de cada tipo de vegetação, razão pela qual a distribuição global dos tipos climáticos e a distribuição dos biomas apresenta elevada correlação. Na determinação dos tipos climáticos de KöppenGeiger são considerados a sazonalidade e os valores médios anuais e mensais da temperatura do ar e da precipitação. Cada grande tipo climático é identificado por um código, constituído por letras maiúsculas e minúsculas, cuja combinação resulta nos tipos e subtipos considerados. A classificação climática de Köppen-Geiger estabelece 5 grandes grupos climáticos: Tropical, Árido, Temperado, Continental e Glacial, que comportam diversos tipos e subtipos. Cada clima é representado por duas ou três letras em que a primeira letra ("A", "B", "C", "D", "E"), representando cada um dos 5 tipos principais de climas, permite caracterizar na generalidade o clima de uma região, constituindo assim, o indicador do grupo climático. No caso de o clima ser do tipo "A", "C" ou "D", a segunda letra, que estabelece o tipo de clima dentro do grupo, é minúscula e evidencia as particularidades do regime pluviométrico. Nos grupos cuja primeira letra seja "B" ou "E", a segunda letra é também uma maiúscula, denotando a quantidade de precipitação total anual, no tipo de clima B, ou a temperatura média anual do ar, no tipo de clima E. A terceira letra é minúscula e representa a temperatura média mensal do ar dos meses mais quentes, nos tipos de clima C ou D, ou a temperatura média anual do ar, para o clima tipo B (Tabela 1) (Sena, 2004). 6 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 1 – Classificação climática de Köppen-Geiger. Temperatura do ar A B C D E Tropical Árido Temperado Continental Glacial T Tundra ET F Polar EF M Alpino EM S Estepário BS W Desértico BW f Equatorial Af. Subtropical Cfa, Oceânico Cfb m Monçónico Am Pampeano Cwa, Cwb w Savana Aw s Savana As Precipitação Continental Dfa, Dfb, Subártico Dfc, Dfd Manchuriano Dwa, Dwb Mediterrânico Csa, Csb Desta forma, a divisão de zonas térmicas de Köppen baseia-se nas médias de temperatura e nas relações temperaturas–quantidade de precipitação, bem como nas amplitudes térmicas e duração dos períodos quentes (Gomes, 1967). Através da Figura 2, verifica-se a diferença de climas entre a Europa e o continente Africano, que em oposição aos climas europeus, maioritariamente temperados, apresenta climas equatoriais e áridos. Figura 2 – Mapa mundi da classificação de Köppen-Geiger (fonte: University of Melbourne). 7 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda No entanto, o Tropical Building Section do United Kingdom Building Research Sation, estabeleceu uma classificação de climas «… baseada em características de climas para os quais (…) se põem aos projectistas de edifícios problemas mais ou menos similares». Esta classificação, proposta por G. A. Atkinson em 1953 e definida para fins práticos de projecto e construção de edifícios, baseia-se na consideração dos principais factores atmosféricos influentes no conforto humano: a temperatura e a humidade do ar, tendo-se adoptado como critério principal a consideração dos valores extremos destes dois factores, uma vez que são causa provável de incomodidade (Gomes, 1967; Koenigsberger et al, 1977). Assim, as regiões tropicais podem ser divididas em três zonas climáticas principais e três subgrupos (Koenigsberger et al, 1977): clima equatorial temperado húmido - subgrupos: clima insular temperado húmido ou clima dos alísios; clima desértico ou semidesértico quente seco – subgrupo: clima desértico marítimo quente seco; clima composto ou de monção – subgrupo: clima tropical de altitude. Observando a região onde se localiza o local a estudar, constata-se que os climas com maior expressão na região são do tipo equatorial húmido e desértico marítimo quente e seco. Os climas equatoriais temperados húmidos encontram-se numa faixa próxima do Equador, entre os 15º Norte e Sul. Caracterizam-se por pequenas variações estacionais ao longo do ano, em que a média dos valores máximos da temperatura do ar varia entre os 27ºC e 32ºC, enquanto a média dos valores mínimos, registados durante a noite, encontram-se entre os 21ºC e os 27ºC. A humidade relativa pode variar entre os 55% e os 100%, mantendo-se na maioria do tempo na casa dos 75%. A pressão de vapor é bastante uniforme, variando entre os 2500N/m2 e os 3000N/m2. As precipitações são elevadas durante todo o ano, podendo atingir anualmente valores entre os 2000mm e os 5000mm de chuva O aspecto do céu é bastante nublado durante todo o ano, variando a cobertura nebulosa entre os 60% a 90% (Koenigsberger et al, 1977). A radiação solar é em parte reflectida, sendo a restante dispersada pelas nuvens ou pelo vapor atmosférico, sendo por isso o solo atingido maioritariamente por radiação difusa. As nuvens e o vapor existentes na atmosfera condicionam a passagem da radiação emitida pela terra e mar durante a noite, o que dificulta a dissipação de calor acumulada. O vento apresenta velocidades normalmente baixas, bem como uma ou duas orientações predominantes (Koenigsberger et al, 1977). O clima desértico marítimo quente seco é comum às latitudes do clima desértico quente seco, mas apenas para regiões banhadas pelo mar, sendo considerado um dos climas mais desfavoráveis da Terra. Também neste clima se identificam duas estações: uma quente e outra fria (Koenigsberger et al, 1977). A temperatura do ar atinge à sombra valores máximos médios na ordem dos 38ºC, enquanto que na estação fria variam entre os 21ºC. e os 26ºC. As temperaturas mínimas médias na estação quente encontram-se na casa dos 24ºC a 30ºC, ao passo que na estação fria atingem valores entre os 10ºC e os 18ºC. A humidade relativa é normalmente elevada, compreendendo valores entre os 50% e os 90%, com a pressão de vapor a atingir valores entre os 1500 e os 2500 N/m2. Apesar da forte radiação solar produzir uma elevada evaporação da água do mar, a humidade não precipita, permanecendo na atmosfera e criando condições de manifesta incomodidade para as pessoas (Koenigsberger et al, 1977). As condições do céu são idênticas às verificadas para os climas desérticos quentes secos, apresentando ainda uma bruma ligeira e transparente. A radiação solar é forte, caracterizando-se 8 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda por uma maior componente de radiação difusa, em comparação com os climas desérticos, devido às nuvens e à humidade do ar. Os ventos, principalmente locais e resultantes do desigual aquecimento e arrefecimento das superfícies terrestre e marítima, sopram do mar para terra durante o dia e invertem o sentido durante a noite (Koenigsberger et al, 1977). Conhecidos os dois tipos de classificação climática, apresentam-se, nas Figuras 3 a 6, alguns dados climáticos mundiais. Desta forma, as Figuras 3 e 4 ilustram a distribuição da temperatura exterior global típica em Janeiro e Julho, respectivamente, representando a Figura 5 a distribuição da intensidade de radiação solar anual numa superfície em kWh/m2a e a Figura 6 a precipitação mundial. Figura 3 – Temperatura mundial em Janeiro (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007) 9 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 4 – Temperatura mundial em Julho (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007) 10 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 5 – Radiação global anual (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007) Figura 6 – Precipitação anual (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007) Contudo, estas classificações e dados gerais não são suficientes para a análise rigorosa de um local específico, sendo por isso necessário proceder sempre ao levantamento detalhado das características específicas do local de implantação do edifício. 11 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 2.2 CONFORTO Segundo a American Society of Heating, Refrigerating and Air Conditioning Engineers (ASHRAE), define-se conforto térmico como sendo “o estado de espírito em que o indivíduo expressa satisfação em relação ao ambiente térmico”, o que implica uma condição de equilíbrio com o ambiente circundante. Este equilíbrio resulta de um balanço térmico que depende de factores como o sexo, a idade, o metabolismo, o vestuário, a temperatura da pele, a temperatura do ar, temperatura do ambiente, temperatura superficial dos elementos da sala, temperatura de radiação média, humidade relativa e velocidade do ar (www.ashrae.org; Silva, 2006). Na classificação geral dos climas tropicais e das variantes de climas locais distingue-se a importância de quatro factores que podem afectar directamente o conforto humano: a temperatura do ar, a humidade, o movimento do ar e a radiação. Cada um destes influência de algum modo os processos de intercâmbio de calor entre o corpo humano e o seu ambiente, podendo cada um favorecer ou impedir a dissipação do excesso de calor do corpo (Koenigsberger et al, 1977). Em termos da influência da temperatura, o conforto térmico é determinado principalmente pelo cálculo da média da temperatura do ar e da temperatura média de todas as superfícies circundantes. Quanto menos os valores destas duas temperaturas divergirem e quanto mais próximas estiverem do intervalo 20-24 ºC, mais uniforme será a distribuição da perda de calor do corpo humano (Hindrichs e Daniels, 2007). A humidade, em particular a humidade relativa, é um outro factor importante para o conforto, uma vez que a intensidade da evaporação depende largamente da diferença entre a pressão de vapor na superfície da pele e da pressão de vapor no ar (Hindrichs e Daniels, 2007). O movimento de ar no interior de um compartimento influencia fortemente o conforto. Em geral, o aumento do movimento do ar conduz a situações de conforto à medida que a temperatura interior aumenta, verificando-se também o oposto (Hindrichs e Daniels, 2007). A Carta Bioclimática de Givoni, representada na Figura 7, fornece a primeira indicação das estratégias mais adequadas para um determinado clima, através da introdução dos valores da temperatura e humidade relativa no diagrama psicrométrico e da verificação da(s) área(s) em que este conjunto de valores se inserem. A Tabela 2 apresenta as estratégias de arrefecimento para cada uma das zonas delimitadas na Carta Bioclimática de Givoni. Para climas do tipo tropical e equatorial, representados pela Zona V, as principais estratégias de arrefecimento passam pela promoção da ventilação natural e pela restrição dos ganhos solares. (Gonçalves e Graça, 2004). 12 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 7 - Carta Bioclimática de Givoni (fonte: Gonçalves e Graça, 2004) Tabela 2 - Estratégias Bioclimáticas para diferentes tipos de clima (fonte: Gonçalves e Graça, 2004) Zonas Estratégias Bioclimáticas V Promover ventilação natural V, EC, AC, M Restringir ganhos solares M, EC Promover arrefecimento por evaporação M Promover arrefecimento por radiação A temperatura efectiva, idealizada por Houghton e Yaglou, foi um dos primeiros índices térmicos, ou escalas de conforto, a ser criado. Este índice é baseado em estudos estatísticos sobre a sensação de conforto experimentado por um conjunto de pessoas, para várias combinações possíveis de temperatura do ar, humidade e velocidade do ar, o que permite definir ambientes equivalentes, obtidos a partir de reacções sensoriais equivalentes, através da correspondência de temperaturas efectivas de igual valor (Figura 8) (Gomes, 1967). A delimitação de zonas de conforto, função da temperatura do ar e do grau de humidade, com base nos graus de conforto para cada valor de temperatura efectiva, permite avaliar as condições naturais de conforto térmico de um determinado local. Apesar de discutível e criticada, a noção de temperatura efectiva é tida como padrão de conforto térmico útil (Gomes, 1967). 13 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 8 – Monograma da temperatura efectiva (fonte: Gomes, 1967) Um outro índice térmico é o índice de conforto equatorial, ilustrado na Figura 9, desenvolvido por C. G. Webb da Topical Building Section, a partir do registo de respostas subjectivas de pessoas aclimatizadas em conjunto com a medição da temperatura do ar, humidade e movimento do ar. As relações experimentais determinadas representam-se num gráfico semelhante ao nomograma da temperatura efectiva. Estes índices térmicos permitem avaliar as condições do ambiente climático, para posterior análise do conforto térmico dos espaços (Koenigsberger et al, 1977; Gomes, 1967). 14 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 9 – Monograma do índice de conforto equatorial (fonte: Gomes, 1967). Actualmente existem “standards” internacionais globais relativos ao conforto térmico. Os mais utilizados são o ASHRAE 55-92 (1992) e o ISO 7730 (1994). No entanto, estes modelos consideram que o controlo térmico é resultante somente de variáveis físicas e fisiológicas e prevêem as condições de conforto a um nível global, o que leva a que os critérios de conforto sejam os mesmos, quer se trate de um edifício num país frio ou num país quente. (Gomes, 1967). Ora, hoje em dia, sabe-se que os critérios de conforto não só variam clima para clima e de povo para povo, mas também de pessoa para pessoa. Existem, então, já inúmeros estudos sobre algoritmos adaptativos que consideram também o comportamento adaptativo dos ocupantes dos edifícios, quer em termos de acções físicas, quer em termos de adaptação psicológica, relacionando ambos os factores com o contexto climático. Desta forma, os habitantes das zonas mais quentes, seriam mais intolerantes ao frio e suportariam temperaturas mais altas do que os habitantes das zonas mais frias (Roriz, 2003). De acordo com os estudos de campo de Humphreys (1978), as temperaturas preferidas no interior dos edifícios dependem significativamente das temperaturas médias mensais exteriores. Já antes, Mahoney, Koenigsberger e Evans (ONU 1970) no Método dos Quadros de Mahoney, adoptaram um conceito adaptativo de zona de conforto, no qual as temperaturas desejáveis diferem do dia para a noite, dependendo da humidade relativa média mensal e da temperatura média anual do ar exterior. Com base na Carta de Limites de Conforto estabelecida por Mahoney, define-se uma recta de regressão (equação 1) cujos valores dados são as temperaturas 15 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda médias dos intervalos confortáveis de Mahoney, representando TC a Temperatura média de conforto e TME a Temperatura mensal exterior. (Roriz, 2003; Humphreys, 1978; ONU, 1970). TC = 14,5 + 0,42TME (1) Também Humphreys (1978) identificou uma equação que a partir da TME obtém TC (Roriz, 2003; Humphreys, 1978). TC = 11,9 + 0,534TME (2) Muitas outras equações foram definidas com o intuito de responder à problemática do conceito adaptativo. No entanto, verificam-se diferenças entre os vários modelos, o que revela a necessidade de serem desenvolvidos estudos de campo em cada região climática, principalmente em zonas tropicais. Contudo, segundo Nicol (2000), na ausência destes estudos, pode-se recorrer à equação de Humphreys, uma vez que esta é baseada em dados obtidos em diversas partes do mundo (Roriz, 2003; Nicol, 2000). A determinação de uma temperatura de conforto tem implícita a definição de uma faixa de tolerância em torno dessa temperatura média. Com base em estudos relativos à determinação do comportamento humano face à variação da temperatura exterior ao longo das horas, é aceitável considerar que as preferências térmicas dos seres humanos variem ao longo do dia (Roriz, 2003). Desta forma, segundo Nicol e Humphreys (2001) a largura da faixa de tolerância é directamente proporcional à possibilidade de os indivíduos realizarem acções adaptativas, podendo, neste caso, a zona de conforto ser mais larga do que ±2ºC em torno da temperatura média preferida. Posto isto, poder-se-á concluir que um modelo de variação horária dos limites confortáveis, poderá permitir identificar os efeitos de cada variável construtiva sobre o conforto ambiental ou sobre a eficiência energética da edificação, calculando, em graus-horas, os valores acumulados de desconforto ao longo de um período qualquer (Roriz, 2003). O critério de conforto resultante da aplicação de algoritmos adaptativo é bem mais flexível e realista que os critérios convencionais como o ISO 7730 ou a ASHRAE, podendo a sua aplicação resultar num diminuição significativa do consumo energético à escala mundial. Desta forma o projectista deverá perceber a relação entre o clima exterior, a construção e o corpo humano, de forma a poder criar condições de desempenho ambiental que sejam aceitáveis para a maioria dos utentes, através da manutenção de uma temperatura interna média constante, resultante do equilíbrio entre a dissipação de energia e a temperatura do meio exterior (Silva, 2006; Gomes, 1967). O projecto inteligente de edifícios permitirá estabelecer no interior melhores condições do que as do clima exterior, conduzindo ainda a uma menor utilização de sistemas de climatização mecânicos, uma maior liberdade para usar estratégias bioclimáticas e a um menor consumo de energia (Silva, 2006). 2.3 MÉTODO DE MAHONEY Tal como foi referido anteriormente, o desconhecimento ou a falta de estudos relativos a um determinado tipo de clima leva a que os projectistas optem por recorrer, na maioria dos casos, a soluções construtivas inadequadas ao clima local. A necessidade de contrariar esta tendência levou a que se desenvolvessem algumas metodologias que permitissem avaliar as condições climáticas de um local e produzir linhas orientadoras para o projecto de forma expedita (Silva, 2006). 16 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda De entre estas metodologias destaca-se o Método de Mahoney, cujo objectivo passa pela adequação das características construtivas de um edifício ao clima local, através da produção de recomendações base para o projecto a partir dos dados climáticos locais, visando o conforto térmico. Trata-se assim de um instrumento de apoio ao desenvolvimento inicial de projectos (Silva, 2006). As principais vantagens deste método são: a facilidade de operação, a consideração de limites de conforto específicos para o dia e para a noite e as recomendações técnicas para a fase inicial de projecto. No entanto, pelo facto de os limites definidos para a avaliação climática do local serem pouco flexíveis e de as variáveis qualitativas serem tratadas de modo determinístico, as recomendações finais de projecto para locais com climas de transição podem ser bastante diferentes umas das outras (Silva, 2006). Desta forma, procurou-se modificar o Método de Mahoney Tradicional, de modo a solucionar o problema da análise deste tipo de climas, tendo-se recorrido à Teoria dos Sistemas Difusos (Fuzzy Systems Theory). A Teoria dos Sistemas Difusos resulta de um conjunto de teorias e métodos capazes de modelar sistemas complexos e subjectivos, isto é, permite o tratamento e análise adequados de variáveis qualitativas e subjectivas de natureza vaga ou nebulosa, idênticas às utilizadas na definição dos grupos climáticos e na avaliação do rigor térmico do Método de Mahoney Tradicional, colmatando assim as deficiências da matemática clássica (Silva, 2006). No Método de Mahoney Tradicional os dados climáticos são analisados segundo uma lógica binária, em que da função característica destes elementos apenas resultam valores iguais a 0 ou 1, não sendo por isso considerada qualquer zona de transição entre as classificações dos parâmetros climáticos em análise, o que conduz a mudanças bruscas de classificação nos limites destes. Veja-se o caso da amplitude térmica mensal (Figura 10), em que para valores próximos dos 10ºC, valor que separa a amplitude térmica baixa da amplitude térmica alta, a classificação é distinta, apontando ainda para indicadores climáticos diferentes, como à frente se irá ver (Silva, 2006; Harris et al, 2000; Harris, 2002). Figura 10 – Representação gráfica da lógica binária da classificação da amplitude térmica (fonte: Harris, A., Cheng, L.Y., Labaki, L., 2000) Pelo contrário, a matemática nebulosa utilizada pela Teoria dos Sistemas Difusos permite definir conjuntos de valores cujas funções características fornecem resultados, com os respectivos valores a variarem entre 0 e 1. Estas funções características, denominadas funções de pertinência (µ), indicam o grau de inclusão de um elemento num conjunto nebuloso, possibilitando medir o grau de quanto a Amplitude Térmica Mensal é baixa ou alta (Figura 11). Esta assume valor zero quanto não pertence a um conjunto, valor 1 quando pertence e valores entre zero e um quando pertence parcialmente, traduzindo este último grupo a zona de transição que no método tradicional não era tida em conta (Silva, 2006). 17 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 11 – Representação gráfica da lógica nebulosa da classificação da amplitude térmica (fonte: Harris, A., Cheng, L.Y., Labaki, L., 2000). Assim, a remodelação do Método de Mahoney através da Teoria dos Sistemas Difusos, deu origem ao Método de Mahoney Difuso, uma metodologia com maior flexibilidade, análise mais realista dos parâmetros climáticos e produção de recomendações de projecto mais plausíveis do que o método original. Seguidamente irão ser apresentados cada um dos dois métodos supracitados, sendo dado maior relevo ao Método de Mahoney Difusos (MMD) (Silva, 2006; Harris et al, 2000). 2.3.1. MÉTODO DE MAHONEY TRADICIONAL No Método de Mahoney Tradicional (MMT) identificam-se duas etapas distintas: a primeira relativa à análise e caracterização dos dados climáticos locais e a segunda referente à produção de recomendações de projecto. O método desenvolve-se através do preenchimento de 3 quadros, tendo como base um processo de inferências e deduções que tem origem nos dados climáticos do local em estudo e conclusão na produção de recomendações de projecto (Figura 12) (Silva, 2006). Figura 12 – Representação das fases do Método de Mahoney Tradicional (fonte: Harris, A., 1999) Tal como é mostrado na Figura 12, no Quadro I, representado na Tabela 3, são inseridos os dados climáticos locais e calculados alguns parâmetros, tais como, a Temperatura Média Anual 18 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda (TMA), resultante da média aritmética entre a maior Temperatura Média Máxima (TMmáx) e a menor Temperatura Média Mínima (TMmin) dos doze meses, a Amplitude Térmica Anual (ATA), determinada a partir da diferença entre a maior Temperatura Média Máxima e a menor Temperatura Média Mínima dos doze meses, e a Humidade Relativa Média (HRM), dada pela média entre os valores máximo e mínimo das Humidades Relativas Médias Máximas e Humidade Relativa Média Mínima, respectivamente. Concluída a introdução dos dados climáticos, procede-se à classificação da humidade relativa segundo Grupos de Humidade (GH), de acordo com a Tabela 4 (Harris et al, 2000). Tabela 3 – Exemplo do Quadro I: introdução dos dados climáticos (fonte: Koenigsberger et al, 1977) Dados Locais: Local Latitude Altitude Longitude Determinação dos valores referentes à temperatura média: Temperatura média mensal (ºC) Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez TMmax TMmin AT Tmaxa Temperatura média anual Tmina Amplitude térmica anual Determinação dos valores referentes à humidade relativa e à pluviosidade: HR (%) Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez HRmax HRmin HMmed GH Pluviosidade (mm) Pluviosidade mensal Vento dominante Vento secundário 19 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 4 – Classificação da Humidade Relativa em Grupos de Humidade (fonte: Koenigsberger et al, 1977). Humidade Média Relativa (%) Grupos de Humidade <30 1 30-50 2 50-70 3 >70 4 No Quadro II, procede-se à análise dos dados climáticos, através da definição do rigor climático mensal e da determinação da frequência dos indicadores climáticos do local em estudo (Harris et al, 2000). A Carta de Limites de Conforto (Tabela 5) define grupos de bem-estar, que estabelecem limites de temperatura de conforto para o dia e para a noite, em função da TMA e dos Grupos de Humidade. A existência de faixas de temperatura de conforto diurnas e nocturnas justifica-se pela utilização do conceito adaptativo na definição dos intervalos de bem-estar, de forma a atender à preferência das pessoas por temperaturas mais baixas durante a noite em relação ao dia (Harris et al, 2000; Sena, 2004). Tabela 5 – Carta de Limites de Conforto (fonte: Koenigsberger et al, 1977). HMR (%) GH TMA > 20ºC 15ºC ≤ TMA ≤ 20ºC TMA < 15ºC BEdia BEnoite BEdia BEnoite BEdia BEnoite Dia Noite Dia Noite Dia Noite < 30% 1 26-34 17-25 23-32 14-23 21-30 12-21 30–50 % 2 25-31 17-24 22-30 14-22 20-27 12-20 50-70 % 3 23-29 17-23 21-28 14-21 19-26 12-19 >70 % 4 22-27 17-22 20-25 14-20 18-24 12-18 A partir da comparação das temperaturas de conforto diurnas com a Temperatura Média Máxima Mensal (TMmáx) e das temperaturas de conforto nocturnas com a Temperatura Média Mínima Mensal (TMmín), é possível caracterizarem-se as solicitações térmicas de dia e à noite através da definição do rigor térmico para cada mês. No caso de a TMmáx e TMmin ultrapassarem os respectivos limites superiores de conforto, o rigor térmico é classificado como Quente (Q), se estiverem abaixo, o rigor térmico é classificado como Frio (F), e caso estes se encontrem entre os valores da temperatura de conforto, o rigor térmico toma a designação de Confortável (C) (Tabela 6) (Harris et al, 2000). 20 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 6 – Quadro II: Classificação do Rigor Térmico do dia e da noite (fonte: Koenigsberger et al, 1977). Solicitações térmicas pelo dia Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez TMmax Max do bem estar pelo dia Mín do bem estar pelo dia Rigor térmico pelo dia Solicitações térmicas pela noite TMmin Max do bem estar pela noite Mín do bem estar pela noite Rigor noite térmico pela Obtida a classificação do rigor térmico para o dia e noite, determina-se a frequência dos indicadores climáticos de humidade (H1, H2, H3) e de aridez (A1, A2, A3), em cada mês. Estes indicadores são grupos de sintomas de rigor climático que visam orientar a aplicação de medidas correctivas que podem ser adoptadas pelo projectista, estando a sua ocorrência dependente da natureza das tensões térmicas, algumas características climáticas e da duração destes fenómenos. A Tabela 7 apresenta as regras que definem a existência de cada um dos indicadores climáticos, bem como as necessidades de projecto inerentes a cada um deles. O somatório do número de ocorrências de cada indicador ao longo do ano representa a frequência anual do indicador, a partir da qual se faz a atribuição das recomendações de projecto (Harris et al, 2000; Silva, 2006; Sena, 2004). 21 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 7 – Tabela de apoio à determinação dos indicadores climáticos de humidade e aridez para cada mês (fonte: Koenigsberger et al, 1977). Indicadores Significado H1 Movimento do ar essencial RTdia PLalta GH Quente 4 Quente 2,3 Confortável 4 H2 Movimento do ar desejável H3 Protecção contra chuvas necessária A1 Armazenamento térmico necessário A2 Desejável dispor de local para se dormir ao ar livre Quente Protecção contra o frio Frio A3 RTnoite AT <10ºC >200mm 1,2,3 Quente 1,2 Confortável 1,2 >10ºC >10ºC Após a obtenção da frequência anual de cada indicador, inicia-se o procedimento do Quadro III, que resultará em recomendações de projecto relativas ao traçado, espaçamento, movimento de ar, dimensão das aberturas, tipo de paredes e telhados, possível existência de dormitórios exteriores e de protecções contra a chuva intensa. A Tabela 8 representa o mapa de correspondências entre o número de meses em que determinado(s) indicador(es) climático(s) ocorre(m) e as especificações de projecto (Silva, 2006). Para além deste quadro de recomendações gerais de projecto, existe um outro que, seguindo a mesma lógica do anterior, fornece orientações mais pormenorizadas relativamente às aberturas, ao tipo de estrutura e a características exteriores (Tabela 10) (Silva, 2006). 22 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 8 - Quadro III: determinação das recomendações de projecto a partir do tipo e do número de indicadores climáticos verificados – Especificações Recomendadas (fonte: Koenigsberger et al, 1977). FH1 FH2 FH3 FA1 FA2 FA3 Recomendação para Croquis Total detectado Traçado 0-10 R1 5-12 11-12 0-4 R2 Espaçamento 11-12 R3 2-10 R4 0-1 R5 Movimento do ar 3-12 R6 0-5 1-2 6-12 R7 2-12 0 0-1 R8 Aberturas 0-1 0 R9 11-12 0-1 R10 Quaisquer outras condições R11 Paredes 0-2 R12 3-12 R13 Coberturas 0-5 R14 6-12 R15 Dormir ao ar livre 0-12 R16 Protecção para chuvas 3-12 R17 23 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 9 - Recomendações de projecto - Especificações recomendadas (fonte: Koenigsberger et al, 1977) Recomendações Descrição Traçado R1 Orientação Norte-Sul (eixo maior Este-Oeste) R2 Pátio compacto Espaçamento R3 Separação ampla para penetração da brisa R4 Separação ampla para penetração da brisa, mas com protecção contra o vento quente e frio. R5 Distribuição compacta da habitação Movimento do ar R6 Habitações numa só fila com provisão permanente do movimento do ar R7 Habitações em duas filas para estabelecimento temporal do movimento do ar através da habitação. R8 Não é necessário movimento de ar Aberturas R9 Aberturas grandes 40-80% R10 Aberturas muito pequenas 10-20% R11 Aberturas médias 20-40% Paredes R12 Paredes ligeiras, pequeno tempo de atraso R13 Paredes interiores e exteriores pesadas Coberturas R14 Telhados ligeiros e isolados R15 Telhados pesados, com tempo de atraso superior a 8h Dormitórios Exteriores R16 Espaço para dormitórios exteriores Protecção para as chuvas R17 Protecção contra a chuva intensa 24 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 10 - Quadro III: determinação das recomendações de projecto a partir do tipo e do número de indicadores climáticos verificados – Recomendações de Detalhe (fonte: Koenigsberger et al, 1977). FH1 FH2 FH3 FA1 FA2 FA3 Recomendação para Croquis Total detectado Tamanho das aberturas 0 0-1 R1 1-12 2-5 R2 6-10 R3 0-3 R4 4-12 R5 11-12 Posição as aberturas 3-12 R6 0-5 1-2 6-12 R7 0 2-12 Protecção das aberturas 0-2 2-12 R8 R9 Paredes e Pavimentos 0-2 R10 3-12 R11 Coberturas 0-2 R12 10-12 3-12 R13 0-5 0-9 6-12 R14 Características externas 0-12 1-12 R15 R16 25 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 11 - Recomendações de Projecto - Recomendações de Detalhe (fonte: Koenigsberger et al, 1977) Recomendações Descrição Tamanho das aberturas R1 Grandes 40-80% R2 Médias 25-40% R3 Pequenas 15-25% R4 Muito Pequenas 10-20% R5 Médias 25-40% Posição as aberturas R6 Nas paredes Norte e Sul à altura de um homem e a barlavento R7 Idêntico ao anterior, mas com aberturas também nas paredes interiores Protecção as aberturas R8 Evitar a luz solar directa R9 Proteger da chuva Paredes e Pavimentos R10 Ligeiros, baixa capacidade térmica R11 Pesados, tempo de atraso de mais de 8 horas Cobertura R12 Ligeiros, superfície reflectora, câmara R13 Ligeiros, bem isolados R14 Pesados, tempo de atraso próximo das 8 horas Características externas R15 Espaço para dormir no exterior R16 Adequada drenagem da chuva 2.3.2. MÉTODO DE MAHONEY DIFUSO Segundo Harris (1999), o modo como os dados climáticos são analisados e definidos os intervalos que classificam as características climáticas, assim como a subjectividade intrínseca à delimitação das faixas de temperaturas de bem-estar, são os principais problemas da metodologia do Método de Mahoney Tradicional. A remodelação do método tradicional segundo a Teoria dos Sistemas Difusos permitiu uma modelagem mais consistente dos parâmetros tipicamente difusos, através de uma variação suave e gradual destes (Silva, 2006; Harris et al, 2000). O método difuso apresenta uma estrutura semelhante à do método tradicional, constituída por três quadros, como mostra a Figura 13. 26 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 13 – Representação das fases do Método de Mahoney Difuso (MMD) (fonte: Harris, A., 1999). No Quadro I inserem-se os dados climáticos, tal como no método tradicional, seguindo-se a atribuição do grau de pertinência correspondente a cada parâmetro climático com características subjectivas, de acordo com o conceito de conjunto difuso (Silva, 2006). Desta forma, foi necessário, inicialmente, identificar os conceitos subjectivos e difusos utilizados no método tradicional, sendo eles: o conceito de temperatura “alta”, “média” e “baixa”, relativos à classificação dos grupos de bem-estar na Carta de Limites de Conforto, de amplitude térmica “pequena” e “grande”, de pluviosidade “alta” e a classificação da humidade relativa “GH1”, “GH2”, “GH3” e “GH4” (Silva, 2006). Para cada um deles foi definida uma função de pertinência (µ) a partir dos limites estabelecidos no método tradicional e da opinião de especialistas. Assim, os valores que no método tradicional constituíam a fronteira entre as classificações dos parâmetros têm um valor de pertinência de 0,5, pertencendo estes valores à zona de transição dos conjuntos difusos definidos (Figuras 14 à 17) (Silva, 2006). Figura 14 – Representação gráfica das funções de pertinência para classificação da Temperatura segundo o MMD (fonte: Harris, A., 1999). 27 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 15 – Representação gráfica das funções de pertinência para classificação da Amplitude Térmica segundo o MMD (fonte: Harris, A., 1999). Figura 16 – Representação gráfica das funções de pertinência relativas aos Grupos de Humidade segundo o MMD (fonte: Harris, A., 1999). Figura 17 – Representação gráfica das funções de pertinência para classificação da Pluviosidade segundo o MMD (fonte: Harris, A., 1999). 28 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Analisados os conjuntos nebulosos a partir das funções de pertinência, conclui-se o preenchimento do Quadro 1 (Tabela 12) através da anotação dos valores de pertinência relativos a cada conjunto nebuloso para cada mês (Silva, 2006) Tabela 12 – Quadro I: introdução e definição dos graus de pertinência dos dados climáticos (adaptado de Harris, 1999). Temp (ºC) Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Jan Fev TMmax TMmin TM µ TM-alta (mês) µ TM-média (mês) µ TM-baixa (mês) (AT) µ AT-pequena (mês) µ AT-grande (mês) HR % HRM µ HRM-seco (mês) µ HRM-húmido (mês) PL Μ PL-alta (mês) No segundo quadro, é analisado o Rigor Térmico mês a mês, a partir da definição de três grupos difusos de rigor térmico: Frio, Confortável e Quente. A Região Confortável, resultante de um processo de inferência nos conjuntos Bem Estar são modelados a partir da carta de limites de conforto, é um conjunto difuso, que juntamente com os outros dois conjuntos difusos (Frio e Quente), definem o grau de pertinência do Rigor Térmico (Silva, 2006). Determinado o grau de pertinência dos Rigores Térmico Diurno e Nocturno, através de operações lógicas equivalentes às estabelecidas nas definições usadas no método tradicional, obtêm-se os graus de pertinência dos indicadores climáticos mês a mês, em que estes, contrariando a lógica binária de ocorrência ou não da metodologia tradicional, variam entre 0 e 1. Somados os valores do grau de pertinência obtidos mensalmente, tem-se o valor da frequência anual do indicador, representado geralmente por um número não inteiro (Silva, 2006) No Quadro II procede-se à análise dos dados climáticos. Tal como no método tradicional, também no Método de Mahoney Difuso a definição do rigor térmico mensal é feito com base na Carta de Limites de Conforto. No entanto, tal como vimos anteriormente, no método difuso as informações subjectivas e nebulosas são tratadas de acordo com a Teoria dos Sistemas Difusos, o que obriga, neste caso, à utilização da Lógica Difusa na determinação do conjunto nebuloso 29 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda “confortável” que, juntamente com os conjuntos difusos “frio” e “quente”, permitem a classificação do Rigor Térmico (Sena, 2004). A determinação do conjunto nebuloso “confortável” requer a utilização de regras de inferência que têm como dados de entrada os valores da Temperatura Média e da Humidade Relativa Média. No entanto, ao contrário do que sucede no método tradicional, que utiliza o valor da Temperatura Média Anual, no método difuso utiliza-se o valor da Temperatura Média mensal na definição dos limites de conforto, uma vez que o objectivo da análise é determinar os indicadores climáticos mensais (Sena, 2004). Desta forma, a remodelação das regras de inferência da Carta de Limites de Conforto do Método de Mahoney Tradicional deu origem, segundo Harris (1999), aos Limites de Conforto Difusos (Tabela 13) (Sena, 2004). Tabela 13 – Conjuntos de Bem-Estar obtidos a partir do Grupo de Humidade e da classificação da Temperatura média (fonte: Harris, A., 1999). Conjuntos de Bem-Estar Grupos de Humidade TM Alta GU1 BE1 BE2 BE3 GU2 BE4 BE5 BE6 GU3 BE7 BE8 BE9 GU4 BE10 BE11 BE12 TM Média TM Baixa De acordo com a Tabela 13 o processo de inferência é composto por doze regras, representando cada uma delas um caso de combinação entre um dos três valores da Temperatura Média mensal e um dos quatro valores da Humidade Relativa Média mensal. Como resultado das combinações efectuadas, obtêm-se grupos de conforto representados por conjuntos de bem-estar difusos BE. Para uma Temperatura Média mensal de 25 ºC (TM> 20 ºC; TM “alta”), e uma Humidade Relativa Média mensal de 80% (HRM ≥ 70%; HRM “GH4”), teremos como resultado desta combinação o conjunto bem-estar difuso BE10, como conjunto “confortável” (Sena, 2004). Os conjuntos de bem-estar BEi foram definidos com base nos intervalos de conforto diurnos e nocturnos, apresentados na Carta de Limites de Conforto (Tabela 5). O conjunto de bem-estar BE1, por exemplo, é definido como sendo um conjunto do tipo triangular limitado inferiormente pelo menor valor da faixa de bem-estar pela noite (17 ºC), limitado superiormente pelo limite superior da faixa de bem-estar pelo dia (34 ºC) e com moda igual ao limite intermédio das duas faixas (26 ºC) (Figura 18.1) (Sena, 2004). 30 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 31 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 18 – Representação gráfica dos conjuntos de Bem-estar Difusos (fonte: Harris, A., 1999) Definidos os conjuntos de BE1 a BE12 para cada uma das doze regras apresentadas na Tabela 13, a operação de inferência difusa passa pela determinação dos graus de pertinência do valor linguístico da TM (Figura 14) e do valor linguístico da HRM (Figura 16) em cada mês e usa-los para modificar os conjuntos bem-estar da regra. Pelo Método de Mamdani, a modificação do conjunto de bem-estar é feita cortando a parte superior do conjunto BEi, acima do menor valor entre os graus de pertinência das variáveis linguísticas TM e HRM, sendo este valor denominado de “a” (Figura 19.1). Como resultado obtém-se o conjunto de bem-estar BE’i, que traduz a contribuição da regra no conjunto nebuloso “confortável” (Figura 19.2). Desta forma, a definição do conjunto difuso “confortável” resulta da união dos resultados obtidos das doze regras para os doze meses (Sena, 2004). Porém, face à dispersão do conjunto difuso “confortável”, Harris et al (2000) propuseram a redefinição da região de conforto numa função de pertinência triangular, mantendo como limite superior e inferior as extremidades do conjunto difuso de região de Conforto com grau de pertinência 0 e usando o baricentro da união como moda. (Sena, 2004; Harris et al, 2000). 32 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 19 – Determinação gráfica da contribuição de cada um dos conjuntos de bem-estar no conjunto difuso "confortável" (fonte: Harris, A., 1999). Por seu turno, o conjunto difuso “quente” foi delineado como uma função de pertinência cuja variação entre zero e um ocorre entre as temperaturas de 12ºC a 34ºC, respectivamente, correspondendo o grau de pertinência 0,5 à temperatura ideal de conforto, definida no conjunto difuso “confortável” com o grau de pertinência 1. O conjunto difuso “frio” é o complemento do “quente” (Sena, 2004). No entanto, devido ao conceito de zona de conforto adaptativo adoptado por Mahoney, ambos os conjuntos são influenciados pela TM, sendo esta considerada no método difuso, através do ajuste da temperatura ‘ideal’ de 22ºC à moda do conjunto difuso “confortável”. Daqui resulta que os conjunto difusos “quente” e “frio” são definidos através da translação das funções de pertinência de modo a que o ponto da curva cujo grau de pertinência é 0.5 coincida com a moda do conjunto “confortável” (Figura 20) (Sena, 2004). Figura 20 – Determinação dos conjuntos difusos "Confortável", "Quente" e "Frio" (fonte: Harris, A., 1999) Criadas estas três regiões, é possível determinar o grau de pertinência do Rigor Térmico em cada mês. O grau de pertinência do Rigor Térmico diurno (RTdia) é obtido entrando-se com o valor da TMmax na abcissa do gráfico dos conjuntos difusos ‘frio’, ‘quente’ e ‘confortável’ (Figura 20), procedendo de igual forma na determinação do grau de pertinência do Rigor 33 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Térmico nocturno (RTnoite), usando, porém, o valor da TMmin, ao invés do de TMmax (Tabela 14) (Sena, 2004). Tabela 14 – Exemplo da determinação do grau de pertinência do Rigor Térmico RTdia por TM Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez µ (RTdiaFrio) 0.35 0.29 0.35 0.41 0.45 0.53 0.62 0.42 0.43 0.36 0.36 0.40 µ (RTdiaConf) 0.73 0.61 0.69 0.83 0.92 0.93 0.67 0.83 0.88 0.74 0.73 0.81 µ (RTdiaQuente) 0.65 0.71 0.65 0.59 0.55 0.47 0.38 0.58 0.57 0.64 0.64 0.60 RTnoite por TM Jn Fev Mar Arb Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez µ (RTnoiteFrio) 0.87 0.88 0.88 0.94 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00 0.96 0.90 0.86 µ (RTnoiteConf) 0.00 0.00 0.06 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.13 µ (RTnoiteQuente) 0.13 0.12 0.12 0.06 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.04 0.10 0.14 Obtidos os graus de pertinência do Rigor Térmico, chega-se à última etapa referente ao Quadro II, nomeadamente a determinação do grau de pertinência dos indicadores climáticos mensais e respectivas frequências anuais (Sena, 2004). A remodelação das regras de inferência para determinação dos indicadores climáticos mensais delineadas no Método de Mahoney Tradicional (Tabela 7) foi feita, uma vez mais, utilizando operações de conjuntos difusos, (Tabela 15) (Sena, 2004). 34 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 15 – Regras de inferência para determinação dos indicadores climáticos mensais (fonte: Harris, A., 1999) Indicador Definição Regras µH1 (mês) Movimento do ar essencial {µ(RTdia-Quente) [TMmax (mês)] ^ µHRM-Húmido (mês)} v {µ(RTdia-Quente) [TMmax (mês)] ^ µHRMSeco(mês) [TMmin (mês)] ^ µHRM-Seco(mês) ^ µATGrande(mês)} µH2 (mês) Movimento do ar desejável {µRTdia-Confortável [TMmax (mês)] ^ µURM-Húmido (mês)} µH3 (mês) Protecção contra chuvas necessária µPL-Alta(mês) µA1 (mês) Armazenamento térmico necessário {µAT-Grande(mês) ^ µURM-Seco(mês)} µA2 (mês) Local para dormir ao ar livre {µ(RTnoite-Quente) [TMmax (mês)] ^ µHRM-Húmido (mês)} v {µ(RTdia-Quente) [TMmax (mês)] ^ µRTnoiteConfortável [TMmax (mês)] ^ µHRM-Seco(mês) [TMmin (mês)] ^ µAT-Grande(mês)} µA3 (mês) Protecção contra o frio { µRTdia-Frio [TMmax (mês)] Os graus de pertinência dos indicadores climáticos resultam das inferências que utilizam o grau de pertinência dos valores linguísticos do RTdia, do RTnoite, da amplitude térmica e da pluviosidade e a classificação da humidade relativa, apresentadas na Tabela 12, e das respectivas operações, em que as operações de intersecção traduzem-se na escolha do menor valor e as operações de união na escolha do maior valor (Sena, 2004). A frequência anual de cada um dos indicadores é dada pela somatória dos graus de pertinência mensais, sendo as recomendações de projecto definidas pela frequência anual de um ou vários indicadores diferentes de modo idêntico ao preconizado no Método de Mahoney Tradicional (Quadro III) (Sena, 2004). Tabela 16 – Exemplo da determinação do grau de pertinência dos indicadores climáticos. Indicador Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Frq µ (H1) 0.65 0.71 0.65 0.59 0.55 0.47 0.38 0.58 0.57 0.64 0.64 0.60 7.03 µ (H2) 0.73 0.61 0.69 0.83 0.92 0.93 0.67 0.83 0.88 0.74 0.73 0.81 9.37 µ (H3) 0.75 0.47 0.46 0.29 0.20 0.15 0.10 0.14 0.25 0.34 0.49 0.69 4.33 µ (A1) 0.06 0.06 0.06 0.06 0.06 0.07 0.07 0.08 0.09 0.09 0.07 0.06 0.83 µ (A2) 0.06 0.06 0.06 0.06 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.04 0.07 0.06 0.41 µ (A3) 0.35 0.29 0.35 0.41 0.45 0.53 0.62 0.42 0.43 0.36 0.36 0.40 4.97 Temos assim concluído o processo de produção de recomendações de projecto. Este método deverá ser encarado como uma ferramenta orientadora das especificações base de um projecto, 35 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda sendo sempre necessário uma análise final das características climáticas locais e do ajustamento destas medidas ao local em estudo. 2.4. ESTRATÉGIAS CLIMÁTICAS As denominadas Estratégias de Design Bioclimático têm como principal objectivo a adaptação dos edifícios ao clima local, de modo a que estes sejam capazes de minimizar as condições de desconforto no ambiente interior, resultantes do clima local, recorrendo ao mínimo possível a técnicas activas para estabelecimento de condições de conforto dentro dos edifícios. A adopção de modelos construtivos que respondam adequadamente às características climáticas da região obriga ao conhecimento dos respectivos parâmetros climáticos e a uma análise cuidada das técnicas construtivas apropriadas (Silva, 2006). São inúmeros as técnicas e variáveis construtivas que se podem modelar em função do clima, que permitirão ao edifício responder às solicitações do ambiente exterior de forma eficiente. No caso dos climas quentes, procura-se evitar que o calor entre no interior dos edifícios e retirar o calor em excesso no interior dos mesmos, tentando criar um ambiente interior que seja o mais confortável possível (Silva, 2006). 2.4.1. ARREFECIMENTO PASSIVO - VENTILAÇÃO O arrefecimento passivo tem uma longa história de teoria e aplicação em edifícios indígenas. Contudo, poucos destes princípios são encontrados no design dos edifícios contemporâneos. As estratégias de conforto básicas em climas sobreaquecidos são defensivas: estas evitam os ganhos devidos à radiação solar, através de barreiras reflectivas e de sombreamento, e a transferência de calor através da envolvente, isolando-a. Por outro lado, a atmosfera serve de instrumento de troca de calor por ventilação, o que permite trocar o ar quente do interior dos edifícios por ar exterior mais fresco e aumentar o arrefecimento da pele. Desta forma, a principal técnica de arrefecimento passivo consiste no arrefecimento por ventilação, através da troca do ar quente do interior dos edifícios por ar exterior mais fresco e direccionando o fluxo do ar de modo a que este circule pela pele dos ocupantes e promovendo um arrefecimento por convecção e evaporação. O movimento do ar pode ter origem no vento ou no efeito de chaminé. A ventilação é umas das estratégias de arrefecimento mais antigas e mais utilizadas na dissipação e extracção do calor interno dos edifícios e no aumento do conforto do ambiente interior (Oakley, 1961). À ventilação podem ser atribuídas 3 funções principais: a renovação do ar interior, o arrefecimento convectivo e o arrefecimento fisiológico. A renovação do ar interior é fundamental para a manutenção da salubridade deste. A ventilação deficiente do espaço interior conduz à criação de um ambiente interior propício ao aparecimento e propagação de doenças, bem como de desconforto e stress. O arrefecimento convectivo ocorre quando o ar interior é mais quente que o ar exterior, resultando daqui uma troca de ar quente do interior por ar fresco, ou menos quente, exterior. Por sua vez, o arrefecimento fisiológico resulta da passagem do ar fresco sobre a superfície da pele, provocando, desta forma, um aumento da perda de calor por convecção e por evaporação. O movimento de ar permite ainda aumentar a sensação de conforto, uma vez que o aumento da velocidade da circulação do ar permite tolerar temperaturas mais altas, dentro de certos limites. Há no entanto que referir que as velocidades do ar para 36 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda retirar o calor do edifício são menores do que as velocidades necessárias para se atingir o conforto humano (cerca de 1 a 2m/s) (Oakley, 1961; Silva, 2006; Koenigsberger et al, 1977). Nos climas quentes e secos, onde existe uma grande variação da temperatura diária e construções maciças e pesadas, a ventilação nocturna é normalmente usada, tirando-se vantagem das temperaturas nocturnas do ar frescas e do isolamento do interior para fazer face às condições diurnas extremamente quentes. No entanto, caso a amplitude térmica seja muito elevada, com as temperaturas nocturnas a atingir valores baixos, a ventilação nocturna poderá ser limitada ao mínimo, de modo a não criar desconforto resultante do ar frio exterior. No caso de se recorrer à ventilação permanente, as aberturas deverão ser colocadas nas zonas superiores das fachadas e protegidas do vento e das tempestades de areia. Nos climas quentes e húmidos não há condições especiais a ter em conta, desde que o fluxo de ar seja suficiente, mesmo quando as persianas, janelas e portas estiverem fechadas. As aberturas deverão ser colocadas em locais opostos e segundo a direcção dos ventos predominantes, de forma a permitir a ventilação transversal, sendo esta facilitada quando as plantas são alongadas. No caso de um espaço em que apenas se possa colocar aberturas num único lado, é preferível colocar duas aberturas afastadas lado a lado. No entanto, este tipo de ventilação não transversal revela-se pouco eficaz, sendo preferível colocar aberturas uma por cima da outra, provocando, desta forma, o efeito de chaminé (Silva, 2006). Também a relação de dimensões da admissão de ar com a abertura de saída é importante, verificando-se que uma entrada de ar mais pequena e uma saída maior provoca um aumento da velocidade de circulação do ar, conduzindo o inverso a uma redução da velocidade de circulação do ar, abrangendo, no entanto, uma maior área interior (Silva, 2006). Apesar de nos climas quentes e húmidos a ventilação ser o principal factor na melhoria das condições do ambiente interior, nos climas quentes e secos a ventilação é secundária relativamente à protecção da habitação contra a radiação solar. Assim, para climas quentes e secos, em caso de conflito entre estes dois factores, a prioridade é dada ao controlo da radiação solar (Oakley, 1961). A eficiência da ventilação natural, total ou parcial em edifícios depende muito das condições atmosféricas, nomeadamente da distribuição das pressões médias e da distribuição da dimensão, frequência, e correlação da variação de pressão na envolvente do edifício. A eficiência da ventilação é assim dependente da direcção do vento, geometria do edifício, ambiente construído, temperatura interior e exterior e tipo de nível da permeabilidade da envolvente (Hindrichs e Daniels, 2007). A circulação natural do ar pode ser estimulada ou induzida numa habitação de duas maneiras: através do efeito de chaminé ou através dos ventos e brisas (Figura 21). A ventilação gerada pelo efeito de chaminé resulta da diferença de densidades entre o ar interior e o exterior, ou mesmo entre o ar interior de zonas superiores e de zonas inferiores do edifício, diferença essa com origem na diferença de temperaturas das massas de ar. A colocação de aberturas a cotas elevadas permite a saída do ar quente, que é substituído por ar exterior que penetra no interior da habitação por aberturas a cotas reduzidas (Oakley, 1961). 37 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 21 – Ventilação no interior de uma habitação através do efeito de chaminé (à esquerda) e através do vento e brisas locais (à direita) (fonte: Oakley, 1961). Em muitas regiões, onde se verifica um súbito arrefecimento, por exemplo no início do anoitecer enquanto o sol se põe, o efeito de chaminé tem claro contributo na circulação do ar. Este fenómeno é um grande auxílio ao conforto nas regiões onde se verificam velocidades do vento baixas. Locais situados em zonas protegidas do vento nas cidades ou em zonas de clima quente e húmido, a ventilação através do efeito de chaminé será quase tão importante como a ventilação através dos ventos, podendo mesmo ser a única solução, para combater as condições de desconforto no interior das habitações (Oakley, 1961). A ventilação natural induzida através dos ventos, obriga o projectista a captar convenientemente os ventos locais. O vento, ao embater contra um edifício, diminui o seu fluxo e exerce pressão sobre a fachada, o que leva à formação de uma massa de ar em forma de cunha do lado de barlavento que desvia o restante ar para cima e para os lados, criando-se um fluxo laminar que, devido à sua quantidade de movimento e trajectória rectilínea, demora a regressar à superfície do terreno, originando uma zona de ar estancado na fachada a sotavento, tal como é ilustrado na Figura 22. (Koenigsberger et al, 1977). Figura 22 – Linhas de fluxo em torno de um edifício (fonte: Koenigsberger et al, 1977). 38 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Se o edifício tem uma abertura na zona de alta pressão e outra na zona de baixa pressão, o ar circulará através do edifício, estabelecendo-se desta forma a ventilação do interior do edifício (Koenigsberger et al, 1977). No entanto, o modo como esta circulação se processa no interior e no exterior do edifício é função de um conjunto de variáveis, que alteram a configuração das linhas de corrente do ar, podendo beneficiar ou prejudicar a ventilação interior. Desta forma, os factores que afectam o fluxo interior e exterior do ar são a orientação, as configurações externas, a ventilação transversal, a posição das aberturas, o tamanho das aberturas e o controlo destas (Koenigsberger et al, 1977). Em virtude de a taxa de renovação do ar, a natureza das brisas incidentes e a velocidade do ar no interior da habitação serem influenciadas pela natureza e direcção dos ventos, pela localização e orientação da casa e pela maneira como esta está internamente dividida, e pela disposição das aberturas de entrada e saída do ar, apresenta-se a seguir uma descrição de cada uma destes parâmetros (Oakley, 1961). Orientação A fachada de um edifício a barlavento é sujeita a uma pressão máxima por parte do vento, quanto o ângulo de incidência deste sobre a superfície é de 90º, parecendo evidente que as maiores velocidades no interior do edifício sejam atingidas neste caso. Assim, o projectista deve determinar o sentido dos ventos predominantes e orientar o edifício de tal forma que as maiores aberturas estejam na fachada de barlavento (Koenigsberger et al, 1977). No entanto, Givoni obteve resultados que indicam que no caso de o vento incidir a 45º, a velocidade média do ar interior aumentaria, verificando-se ainda uma melhor distribuição do seu movimento. Este facto pode ser explicado com base na Figura 23, onde é ilustrado o contorno do fluxo de ar a 90º e a 45º, num edifício de planta quadrada. No segundo caso criamse velocidades maiores ao longo das fachadas a barlavento e uma sombra de vento mais ampla, o que conduzirá a um aumento da pressão negativa, logo do efeito de sucção, originando assim fluxo de ar interior acrescido (Koenigsberger et al, 1977). Figura 23 – Variação da velocidade no interior do edifício através do aumento da zona de depressão a sotavento (fonte: Koenigsberger et al, 1977). 39 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Fluxo de ar em redor de edifícios A presença próxima de edifícios pode interferir bastante no balanço de forças que provocam a indução da circulação do ar no interior. Por exemplo, edifícios localizados a barlavento irão reduzir a força do vento que incide na fachada (Oakley, 1961). Estudo levados a cabo pelo Texas Engineering Experiment Station em túneis de vento com modelos à escala, permitiram obter as linhas de fluxo para várias configurações de edifícios. Os esquemas das Figuras 24.1 e 24.2 ilustram a influência da disposição urbanística de grupos de edifícios, segundo uma dada direcção do vento. Numa disposição urbanística de acordo com a Figura 24.1, os edifícios de barlavento funcionam como uma barreira e, a não ser que o espaçamento entre edifícios seja muito grande, impedem, ou quase, que o vento actue nos edifícios seguintes. A disposição ilustrada na FIGURA 24.2 melhora a situação, permitindo o acesso da ventilação praticamente a todos os edifícios (Gomes, 1967). Figura 24 – Fluxos de ar em função da disposição conjunta de habitações (fonte: Gomes, 1967). Na Figura 25.1 esquematiza-se a influência da distância entre os edifícios, verificando-se que para um espaçamento superior a sete vezes a altura do edifício a barlavento, a ventilação do edifício posterior não é praticamente afectada. A Figura 25.2 mostra que o efeito de máscara de um edifício alto é menos desfavorável do que o de um edifício baixo, uma vez que as correntes de sucção induzidas a sotavento do edifício alto, podem beneficiar a ventilação de outro edifício aí localizado (Gomes, 1967). 40 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 25 - Influência da distância entre edifícios e da sua altura na admissão de brisas locais (fonte: Gomes, 1967). As Figuras 26.1 e 26.2 apresentam a influência de elementos de barreira colocados nas imediações da habitação e das aberturas, evidenciando-se o efeito favorável da existência de uma antepara no prolongamento da fachada de sotavento, quando o vento é paralelo às fachadas com aberturas, bem como o da troca de alinhamentos entre árvores e sebes (Gomes, 1967). Figura 26 – Influência da envolvente exterior do edifício na ventilação interior do edifício (fonte: Gomes, 1967) 41 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Posição das aberturas A existência de aberturas apenas num dos lados da habitação ou a existência de uma divisão fechada, conduz a um movimento de ar pouco eficaz, ou inexistente, através de um edifício (Figura 27) (Koenigsberger et al, 1977). Figura 27 - Ventilação natural deficiente do interior do edifício devido ao número e disposição das aberturas (fonte: Koenigsberger et al, 1977). Com uma abertura a barlavento e sem nenhuma saída criar-se-á uma pressão interior muito similar à que aparece na fachada frontal do edifício, o que dá lugar a piores condições interiores, aumentando a falta de conforto. Se apenas existe uma abertura a sotavento e nenhuma entrada, podem ocorrer mudanças oscilantes de pressão (Koenigsberger et al, 1977). Para que o movimento do ar seja eficaz, este deve ser dirigido para a superfície do corpo, devendo-se por isso assegurar que o movimento do ar se faça através dos espaços mais utilizados pelos ocupantes. Como indica a Figura 28, se a abertura de entrada está a um nível elevado, seja qual for a posição da abertura de saída, a corrente de ar estabelecer-se-á próxima do tecto e não na zona habitada (Koenigsberger et al, 1977). Figura 28 – Influência da localização das aberturas a barlavento no percurso do fluxo de ar no interior do edifício (fonte: Koenigsberger et al, 1977). A Figura 29 ilustra a influência da altura das aberturas a sotavento e barlavento nas linhas de fluxo de ar que atravessa o interior do edifício. A variação da posição vertical das janelas na fachada de sotavento, não provoca alterações significativas na direcção do fluxo do ar, não acontecendo o mesmo quando a mudança se processa a barlavento, uma vez que se verifica uma alteração das linhas de fluxo, podendo até invertê-las (Gomes, 1967). 42 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 29 – Influência da localização das aberturas a sotavento no percurso do fluxo de ar no interior do edifício (fonte: Gomes, 1967) Também a disposição das aberturas em planta tem influência na circulação do ar através do edifício. Tal como vimos anteriormente, o estabelecimento de uma ventilação adequada do interior do edifício exige a colocação de duas aberturas em lados oposto e de preferência alinhados, de modo a potenciar ao máximo o arrefecimento interior (Figura 30). Na eventualidade das aberturas estarem localizadas em paredes adjacentes, a localização da abertura de entrada e de saída influência o percurso do ar no interior do edifício. Para evitar mudanças bruscas na direcção do fluxo de ar, a melhor solução passa por uma localização das aberturas o mais diagonal possível (Figura 31). (Koenigsberger et al, 1977; ). Figura 30 – Linhas de fluxo do ar interior do edifício para aberturas localizadas em fachadas opostas e na mesma direcção 43 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 31 - Linhas de fluxo do ar interior do edifício para aberturas localizadas em fachadas adjacentes. Para estes casos, ou quando as aberturas se localizam na mesma fachada, a ventilação pode ser melhorada com a introdução de elementos verticais adjacentes às aberturas. Estes elementos podem ser introduzidos propositadamente para este fim ou resultar de exigências ao nível da protecção solar, devendo em tal caso ser avaliada a sua influência na ventilação interior dos espaços. Estes elementos tornam-se particularmente eficientes no estabelecimento de ventilação cruzada em espaços com apenas uma parede exterior. No entanto, a localização destes elementos relativamente às aberturas, influencia a eficácia da ventilação cruzada estabelecida. As Figuras 32 e 33 ilustram a influencia que a localização da aberturas na fachada e a dos elementos verticais têm na criação de movimento de ar no interior do. Figura 32 – Em cima: disposição de elementos verticais adjacentes às aberturas para melhoramento das condições de ventilação interior – solução excelente. Em baixo: disposição de elementos verticais adjacentes às aberturas para melhoramento das condições de ventilação interior – solução menos adequada. Figura 33 – Disposição de elementos verticais adjacentes às aberturas a evitar. 44 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Além da ventilação normal resultante da acção do vento, pode também provocar-se o movimento do ar no interior das habitações, aproveitando a diferença de temperatura que existe entre o ar ao nível de ocupação e o ar junto à cobertura. Através da disposição apropriada de entradas de ar na base das paredes, e de saídas no cume das coberturas, resulta um efeito de aspiração do exterior que renova o ar interno (Gomes, 1967). Divisões interiores A localização e a orientação das divisões interiores podem afectar a velocidade e direcção do fluxo de ar no interior de um edifício. Em geral, divisões paralelas à direcção que o fluxo de ar teria no caso de não haver qualquer elemento, têm um efeito mínimo na velocidade e direcção, enquanto uma divisória similar mas colocada perpendicularmente ao fluxo, altera o fluxo no interior e reduz a sua velocidade. Figura 34 – Influência da disposição de divisórias interiores no movimento de ar. Divisórias localizadas fora do percurso principal do fluxo de ar têm pouca influência neste, ao passo que aquelas que bloqueiam o caminho criam um efeito de “barragem”, originando áreas estagnadas de ar (Figura 34). Tamanho das aberturas Tal como vimos anteriormente, a existência de aberturas em paredes opostas aliviam a pressão máxima na fachada a barlavento, criando boa ventilação cruzada por todo o interior. A máxima troca de ar é criada quando as áreas de entrada e saída do ar são iguais, sendo esta a configuração óptima quando o arrefecimento do edifício é o principal objectivo. Para uma superfície de fachada dada, obtém-se a maior velocidade do ar através de uma abertura de entrada pequena e uma saída grande. Tal se deve, em parte, à força total que actua sobre a área pequena, o que obriga a passar o ar a grande pressão. Esta disposição pode ser útil 45 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda no caso de se ter de dirigir a corrente de ar a uma determinada parte da habitação ou quando o objectivo principal é o arrefecimento das pessoas. Quando a abertura de entrada é maior que a de saída, a velocidade do ar que passa através desta será menor, apesar de o caudal total ser maior. Quando a direcção do vento não é constante ou quando se pretende que o fluxo de ar percorra todo o espaço, será preferível uma grande abertura na entrada. Esta configuração tem ainda potencial para arrefecer uma zona exterior localizada, tal como um pátio, em virtude do aumento da velocidade de saída do ar (Figura 35) (Koenigsberger et al, 1977; ). Figura 35 – Variação do fluxo de ar em função do tamanho da entrada e saída de ar (fonte: Gomes, 1967). Dependendo do tamanho das aberturas nas divisórias interiores, a velocidade do fluxo de ar pode exceder a velocidade do ar no exterior em zonas próximas da janela (Figura 36). Figura 36 – Influência do tamanho da divisória na velocidade do ar interior. 46 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Controlo das aberturas Os elementos que controlam as aberturas, como janelas rebatíveis ou gelosias, influenciam a configuração das linhas de fluxo de ar, o mesmo acontecendo com elementos adjacentes às aberturas como alpendres ou palas de protecção solar. (Koenigsberger et al, 1977) Na Figura 37 é visível a perturbação provocada pela posição das aberturas no percurso do ar no interior do edifício. No caso das janelas pivotantes, consoante a posição destas, o fluxo de ar é dirigido para o tecto ou para uma zona útil. Da mesma forma, a posição das lâminas das gelosias alteram o trajecto efectuado pela massa de ar no interior do edifício (Koenigsberger et al, 1977). Figura 37 – Influência da configuração de janelas no movimento interior do ar (fonte: Gomes, 1967). Os alpendres podem eliminar o efeito do aumento de pressão acima das janelas, levando a que a pressão exercida na zona inferior da janela dirija a corrente para cima. Caso se crie um espaço entre o edifício e o alpendre, a corrente de ar passaria a percorrer a zona habitada (Figura 38) (Koenigsberger et al, 1977). Figura 38 – Influência da configuração de elementos adjacentes às aberturas no movimento interior do ar (fonte: Gomes, 1967). 47 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda No caso de palas de sombreamento horizontais em fachadas a barlavento, a influência que estas terão no movimento de ar no interior é função da posição da pala em relação à abertura (Oakley, 1961). No caso do elemento horizontal se encontrar bastante acima da abertura, a sua influência no fluxo de ar interior é inexistente, não acontecendo o mesmo, quando a pala horizontal está ao nível da janela. Quando tal acontece, verifica-se uma subida do ar, fazendo com que não percorra a zona habitável. Tal se deve ao facto de o ar, ao fluir em sentido ascendente sobre a superfície da parede exterior por baixo da janela, originar uma componente de força ascendente que, devido à pala horizontal, não é contrabalançada com uma força descendente. A consideração de uma fresta de separação entre a pala e a parede permitirá assegurar a igualdade de pressão acima e abaixo da pala, conseguindo-se que o fluxo de ventilação se conserve na zona de ocupação da habitação e não suba para o tecto, perdendo-se o seu benefício (Gomes, 1967; Oakley, 1961) 2.4.2. CONTROLO DOS GANHOS SOLARES Para além do arrefecimento passivo, temos ainda as técnicas que permitem evitar o aumento da temperatura interior, através do controlo e redução dos ganhos externos de calor. A absorção de radiação solar, responsável pelos ganhos de calor interno, pode ser minimizada ou controlada através da forma e orientação do edifício, de sombreamentos de forma a reduzir a percentagem de radiação solar directa sobre o edifício, controlo da área de envidraçado, aumentando o isolamento dos telhados e paredes ou reduzindo a absorção da radiação através de acabamentos reflectores, principalmente na cobertura, ou recorrendo a elementos construtivo de elevada capacidade térmica (Silva, 2006). Cada um destes parâmetros será de seguida abordado mais detalhadamente, a fim de se perceber um pouco melhor a importância de se proceder a uma correcta análise destes, nomeadamente o modo como estes variam em função do clima local (Silva, 2006). 2.4.2.1. Orientação A análise e definição da orientação dos edifícios deverão passar por uma avaliação da trajectória do sol, da quantidade de radiação solar incidente, dos períodos de ganhos solares indesejáveis, das estratégias de sombreamento em conjugação com várias exposições dos edifícios. A orientação de um edifício poderá ainda influenciar a uniformidade das soluções construtivas da envolvente de um edifício, ou seja, poderá ser benéfico que os edifícios possuam diferentes soluções de fachadas consoante a orientação destas. O mesmo é verdade para o design dos elementos de sombreamento, que têm de ser orientados e projectados de acordo com a sua implementação nos diferentes lados da estrutura (Hindrichs e Daniels, 2007). A consideração principal nos climas tropicais é a protecção da estrutura do edifício dos efeitos do sol. Assim, minimizar os ganhos solares é essencial. A partir da análise dos gráficos da variação da intensidade de radiação solar sobre uma superfície horizontal e sobre paredes verticais com diferentes orientações, podemos observar que nas regiões próximas do Equador a superfície horizontal é a que recebe a intensidade máxima, ao passo que as paredes a Sul são as que recebem os valores mínimos de intensidade. As paredes a Este e a Oeste são os elementos verticais onde os valores da radiação são mais elevados. A orientação das fachadas principais de um edifício tem de ser baseada no eixo Este – Oeste, devendo as áreas funcionais ocupadas de um edifício de planta rectangular estar orientadas para norte ou sul (Hindrichs e Daniels, 2007; Koenigsberger et al, 1977). 48 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda No entanto, dependendo do tipo de clima, a ventilação dos espaços interiores, através das brisas locais, pode ser um factor importante na manutenção de um ambiente interior confortável, correndo-se o risco de as orientações óptimas relativas à protecção contra a radiação solar e à canalização do ar para o interior do edifício não coincidirem (Hindrichs e Daniels, 2007). Outros factores, como ventilação natural, nomeadamente a direcção e velocidade dos ventos dominantes, a topografia do terreno, a existência de massas de água junto ao edifício ou de vegetação, deverão ser contemplados na definição da melhor orientação a dar ao edifício. A necessidade de ventilar os espaços interiores. A topografia do terreno poderá, de certa forma, influenciar localmente as características do vento, ao passo que a existência de grandes massas de água junto ao local de implantação do edifício influenciam os movimentos das massas de ar durante o dia, podendo-se verificar uma inversão do sentido das brisas ao longo do dia. A vegetação poderá constituir um elemento de sombreamento e de criação de um micro ambiente mais confortável que o clima local, ou então ser uma barreira à livre passagem do vento, dificultando a ventilação natural do edifício (Hindrichs e Daniels, 2007). Fica assim demonstrado que a definição da orientação de um edifício é um processo complexo que exige o conhecimento mais ou menos detalhado das características climáticas e naturais do local (Hindrichs e Daniels, 2007).. 2.4.2.2. Controlo solar A determinação dos valores médios mensais do intervalo de insolação diária sobre a superfície das fachadas de um edifício possibilita ao projectista avaliar, em termos qualitativos, as disponibilidades de radiação solar directa, bem como a sua incidência na temperatura do ar, permitindo-lhe desta forma decidir qual a composição das fachadas. A penetração dos raios solares através dos vãos envidraçados implica um acréscimo da temperatura do ar interior. Os vidros são praticamente transparentes à radiação infra-vermelha de onda curta emitida pelo sol, sendo praticamente opacos para a radiação de onda larga emitida pelos objectos existentes no interior da habitação. Como consequência, o calor radiante, tendo entrado através dos envidraçados, fica retido no interior do edifício. Para além de fazer aumentar a temperatura interior, a radiação solar que incide directamente no ocupante aumenta a sua temperatura e contribui para o seu desconforto (Silva, 2006; Koenigsberger et al, 1977; ) Do ponto de vista térmico, a limitação da entrada dos raios solares deve ser efectuada pelo lado exterior, recorrendo a elementos construtivos integrados nas fachadas, de forma a restringir ao máximo a penetração destes através dos vãos envidraçados e, consequentemente, reduzir o aumento da temperatura do ar e o agravamento das condições de conforto térmico. Por outro lado, a minimização dos ganhos solares em zonas próximas do equador passa por orientar os envidraçados a Sul, concedendo um cuidado especial às aberturas orientadas a Este e principalmente a Oeste, uma vez que a intensidade máxima coincide com a parte mais quente do dia (Koenigsberger et al, 1977) O sombreamento externo é uma importante forma de sombrear um edifício, contribuindo para o controlo do aquecimento deste. As habitações tradicionais dos trópicos quentes e secos estão normalmente dispostas em bloco, o que permite que cada edifício sombreie outros e que o aquecimento global dos edifícios seja reduzido (Oakley, 1967). Edifícios dispostos segundo o alinhamento Este – Oeste sombreiam-se uns às outros, obtendo-se uma redução das cargas térmicas para cada habitação individual. Esta técnica pode ser bastante 49 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda útil em áreas quentes e secas onde os requisitos de conforto através das brisas não têm muito significado (Oakley, 1967) Nos trópicos húmido, arbustos ou painéis localizados nas fachadas Este e Oeste ou habitações dispostas em bloco protegem estas fachadas da radiação (Oakley, 1967). A cobertura de uma habitação apresenta-se como o maior problema em termos de ganhos solares, sendo a sua protecção difícil. As habitações tradicionais dos climas quentes e secos possuem normalmente coberturas pesadas e espessas de terra, que oferecem protecção durante o denominado período de atraso, tal como as paredes de terra. Uma alternativa passa por construir uma cobertura dupla, em que a superior sombreia a inferior, ao mesmo tempo que pelo espaço de ar existente entre as duas coberturas, se processa a movimentação do ar vindo do exterior. Este conceito de pára-sol é também aplicável a clima húmidos onde o telhado pode ser pensado como sendo um grande guarda-chuva por cima dos espaços habitáveis, onde os espaços laterais são para serem abertos o mais possível, a fim de promover a circulação do ar (Oakley, 1967). Sombrear paredes e aberturas é um problema mais fácil de solucionar do que o sombreamento de telhados, sendo possível apresentar um grande variedade de soluções esteticamente agradáveis. Alguns dispositivos de sombreamento resultantes da análise de um problema particular numa localização particular seduzem outros projectistas, que muitas vezes caem na armadilha de os usar sem qualquer sentido para regiões de latitudes diferentes. O sombreamento de paredes a Sul e a Norte é comparativamente fácil em casas de um só piso, desenvolvidas segundo eixo Este – Oeste, e próximas do Equador, através do prolongamento da cobertura em ambas as orientações (Oakley, 1967). Podem-se distinguir três tipos básicos de dispositivos de sombreamento: horizontais, verticais e em forma de colmeia, resultante da combinação dos dois primeiros. Os elementos verticais estão mais adaptados para paredes orientadas a Este e a Oeste, apesar de não oferecerem protecção completa durante todo o ano, enquanto os elementos horizontais e tipo colmeia são mais eficazes para paredes orientadas a Norte e a Sul. Na Figura 39 apresentam-se algumas soluções de dispositivos de sombreamento e respectivas Superfícies de Eficiência Total. (Oakley, 1967). 50 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 39 - Dispositivos de sombreamento e respectivas Superfícies de Eficiência Total (fonte: Cunha, M.M.F. 2005) Para além da disposição de elementos de sombreamento, também a selecção cuidada do material e da cor do acabamento final das superfícies exteriores permite reduzir os ganhos internos de calor. A radiação solar incidente numa superfície da habitação é em parte reflectida, sendo a restante absorvida, estando os respectivos valores dependentes da absorção e condutância superficial dos materiais. Estes parâmetros variam consoante a cor e o tipo de material, sendo as 51 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda superfícies claras e brilhantes, como as superfícies metálicas, as mais reflectoras (Figura 40 e 41). A restante radiação recebida é absorvida pelo material sendo convertida em calor, tendo como resultado o aquecimento do material. A superfície aquecida do material emite radiação de baixa temperatura e assim algum do calor ganho é re-irradiado (Oakley, 1967; Koenigsberger et al, 1977) A re-emissão de calor por parte das superfícies varia em função do coeficiente de emitância, mas também do ambiente que envolve as superfícies, uma vez que a perda de calor por radiação depende da existência de corpos próximos a temperaturas inferiores às destas (Oakley, 1967). A radiação solar que não é reflectida será absorvida pela estrutura e irá aquecer o interior da habitação, a não ser que seja removida de alguma forma. Como a temperatura de uma superfície que absorva uma grande quantidade de radiação será geralmente maior do que a temperatura do ar, o movimento do ar ao longo da superfície irá ajudar na remoção de algum do calor, reduzindo assim a quantidade disponível para passar para o interior (Oakley, 1967). Figura 40 – Redução dos gastos de energia para arrefecimento em função do coeficiente de absorção das superfícies exteriores (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007). Figura 41 – Variação da temperatura exterior (esquerda) e interior (direita) da superfície de uma parede com vários coeficientes de absorção. 52 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Ao contrário do que acontece para a radiação directa, na radiação difusa a orientação de uma superfície é indiferente, uma vez que esta vem de todas as direcções (Silva, 2006). Em certas zonas onde o pavimento tem cores claras e superfícies reflectoras, a componente reflectora pode ser tão importante como a reflexão do céu. Num clima tropical a radiação difusa constitui mais um ganho térmico indesejado (Silva, 2006). 2.4.3. ISOLAMENTO TÉRMICO Um edifício que tenha coeficiente de transmissão térmico baixo reduzirá todas as formas de transferência de calor por condução através da envolvente do edifício. Este fluxo de calor estabelecido por condução é grande quando a diferença de temperatura entre o interior e o exterior é grande, caso contrário, o fluxo de calor é pequeno em ambos os sentidos, não se verificando, neste caso, qualquer redução significativa do fluxo com o aumento do isolamento térmico (Koenigsberger et al, 1977). No entanto, convém recordar que devido aos ganhos de calor resultantes da radiação solar, o valor que se deve utilizar para determinar a diferença de temperaturas é o valor da temperatura ar-sol, uma vez que, apesar de a diferença entre a temperatura exterior e interior poder ser pequena, a superfície dos elementos exteriores aquecem, aumentando a sua temperatura, levando a que a diferença de temperaturas que actua como força motriz do fluxo calorífico seja mais elevada, podendo ser suficientemente grande que admita uma utilização favorável do isolamento térmico (Koenigsberger et al, 1977). O isolamento é mais eficaz sobre condições de estado estacionário ou se pelo menos o sentido do fluxo do calor é constante durante largos períodos de tempo, especialmente se se tratarem de edifícios com ar condicionado. Quando o sentido do fluxo calorífico em cada ciclo de 24 horas muda duas vezes, diminui a importância do isolamento (Koenigsberger et al, 1977). Análises relativas a paredes exteriores e telhados em regiões tropicais e subtropicais, recorrendo a simulações térmicas, permitiram avaliar as necessidades energéticas para arrefecimento dos edifícios, com base num cenário de referência, e inferir sobre a influência do isolamento térmico nessas mesmas necessidades (Hindrichs e Daniels, 2007). Nas regiões quentes e húmidas e quentes e áridas o consumo de energia para arrefecimento diminui apenas após a adição da camada de isolamento com 40 mm de espessura, sendo esta diminuição insignificante, tal como se pode verificar no gráfico da Figura 42 (Hindrichs e Daniels, 2007). Figura 42 – Redução do consumo de energia em regiões quentes e húmidas (esquerda) e quentes e árias (direita) em função do isolamento de elementos da envolvente. Legenda: A – elementos simples sem isolamento; B – paredes simples com 40mm de isolamento; C – coberturas com 40mm de isolamento (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007) 53 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Analisando a eficiência de paredes duplas verifica-se que a redução do consumo para arrefecimento neste tipo de elemento é pequena. Segundo a Figura 43, as paredes duplas com caixa-de-ar ventilada (caso C) são as que permitem reduzir mais o consumo de energia, apesar de este ser bastante pequeno. Paredes duplas com caixa-de-ar não ventiladas (caso B) conseguem produzir uma maior poupança de energia do que os telhados duplos com o espaço de ar ventilado (caso D. Verifica-se ainda que este tipo de elementos tem melhores resultados nas regiões quentes e áridas do que nas regiões quentes e húmidas (Hindrichs e Daniels, 2007). Figura 43 – Redução consumo energia em regiões quentes e húmidas (esquerda) e em regiões quentes e secas (direita) (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007). 2.4.4. CAPACIDADE TÉRMICA Nos climas quentes procura-se reduzir ao máximo a entrada de calor no interior das habitações, tentando evitar que as temperaturas internas se aproximem das temperaturas exteriores Em regiões onde predominam grandes variações diárias de temperatura, terá mais significado a capacidade térmica que o isolamento. Alguns autores referem-se à capacidade térmica como o isolamento capacitivo, em oposição ao isolamento resistivo característico dos materiais de baixa condutividade e das edificações de baixa transmissibilidade (Koenigsberger et al, 1977). Socorrendo-se de diferentes materiais e estruturas, cujos tempos de atraso, isto é, o tempo que demora o calor incidente nas superfícies exteriores a passar para o interior, variam em função do peso, espessura e resistência térmica, é possível, consoante as necessidades, diminuir os efeitos da variação da temperatura interior em relação á exterior (Oakley, 1961). Surge assim a dúvida sobre o valor da capacidade térmica e do tempo de atraso a considerar para cada estrutura. Um aspecto que frequentemente se despreza é o facto de a capacidade térmica poder ser excessiva e o tempo de atraso demasiado comprido. Considerando como exemplo uma parede orientada a Este, onde o aquecimento máximo se verifica às 10 horas e com um tempo de atraso de 10 horas, levaria a que a temperatura superficial interna tivesse o seu valor máximo às 20 horas, o que, provavelmente, conduziria a um excesso de temperatura durante a noite, impedindo os habitantes de dormir. Esta questão pode ser resolvida através do traçado de um gráfico com as variações da temperatura exterior ar-sol para cada parede, definindo-se de seguida o tempo de tolerância do aquecimento interior máximo. (Koenigsberger et al, 1977). 54 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 44 – Representação gráfica da determinação do tempo de atraso Φ em função da temperatura exterior To e da Temperatura ar-sol (fonte: Koenigsberger et al, 1977). Nos climas quentes e secos, a protecção do calor diurno é feita tradicionalmente através de construções pesadas com elevada capacidade térmica. A resposta rápida da construção leve de baixa capacidade térmica pode ser utilizada para assegurar áreas frescas para dormir durante a noite (Figura 45) (Oakley, 1961). Figura 45 – Planta de uma habitação típica de climas quentes e secos (fonte: Koenigsberger et al, 1977). As paredes e os telhados são espessos, as aberturas para janelas são pequenas e as superfícies externas são claras para reflectir o calor do sol. Nos climas de savana, onde existe uma ampla flutuação diária e sazonal das temperaturas, paredes espessas e pesadas são úteis no interior na habitação. A sua elevada capacidade térmica é explorada como “volante”, auxiliando, desta forma, na redução das temperaturas extremas dentro da habitação. (Figura 46) (Oakley, 1961). 55 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 46 – Planta de uma habitação típica de climas de savana (fonte: Koenigsberger et al, 1977). Desta forma, fica patente a importância de se conhecer o clima da zona de implantação de um edifício, uma vez que a importação de modelos construtivos característicos de regiões com características climáticas distintas pode originar maus desempenhos térmicos do edifício, provocando nos utilizadores sensações de desconforto (Koenigsberger et al, 1977). 2.5. CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS EM FUNÇÃO DO CLIMA A história dos edifícios em diferentes regiões do planeta está intimamente relacionada com as condições climáticas. O design dos edifícios tradicionais tira partido dos recursos naturais do ambiente, tentando responder da melhor forma possível às solicitações do clima local. Como tal, os elementos e parâmetros climáticos desempenham um papel fundamental na idealização e construção dos edifícios (Hindrichs e Daniels, 2007). Em virtude das diferenças climáticas entre os climas quentes e os climas frios, os requisitos do projecto de habitações para estes climas deverão ser diferentes, a fim de se estabelecerem condições de ambiente interior satisfatórias para cada um destes. Se nos climas frios, o principal objectivo é conservar o calor dentro das habitações, nos climas quentes pretende-se evitar ao máximo a entrada de calor no interior destas. Desta forma, as características climáticas devem ser analisadas de acordo com a respectiva influência na forma, implementação e características típicas dos edifícios nessas zonas (Hindrichs e Daniels, 2007; Oakley, 1961). O sombreamento e os ganhos solares, factores de pressão do vento sobre os edifícios, temperatura e humidade relativa exteriores e a precipitação, são alguns dos parâmetros que têm um papel fundamental nesta análise. Os diagramas representados na Figura 47 ilustram a variação de alguns parâmetros climáticos em função do clima local. No Diagrama 1 são apresentadas as exigências anuais para o sombreamento solar e ganhos solares, e tal como seria de esperar temos que a necessidade de potenciar os ganhos solares vai aumentando das regiões do equador para o norte, verificando-se o percurso inverso para as necessidades de sombreamento. O Diagrama 2 é relativo aos requisitos anuais de protecção contra o vento. A faixa central a branco representa a zona de condições naturais óptimas, onde não é necessário definir qualquer tipo de protecção ou encaminhamento do vento, enquanto a área sombreada à esquerda dessa faixa é relativa à necessidade de protecção do vento e a área da direita à necessidade de brisa ao longo do ano para o estabelecimento de condições confortáveis. Verifica-se assim a necessidade de promover a admissão de brisas no interior dos edifícios 56 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda durante quase todo o ano nas regiões de clima quente e tropical. O gráfico do Diagrama 3 apresenta o nível médio anual de humidade relativa nas quatro zonas climáticas. Na zona árida o baixo nível de humidade pode ser benéfico para o arrefecimento evaporativo, ao passo que a elevada taxa de humidade na zona tropical conduz a condições climáticas bastante desconfortáveis. A quantidade média anual de precipitação, indicada no Diagrama 4, está directamente relacionada com os níveis de humidade. A variação sazonal do clima ao longo do ano é ilustrada no Diagrama 5, verificando-se que as zonas de baixa latitude apresentam um clima constante ao longo do ano (Hindrichs e Daniels, 2007). Figura 47 – Variação de alguns parâmetros climáticos em função do clima local: sombreamento e os ganhos solares, factores de pressão do vento sobre os edifícios, temperatura e humidade relativa exterior e a precipitação (fonte: Hindrichs e Daniels, 2007). Na Figura 48 apresentam-se mais quatro diagramas que caracterizam a influência do sol nos climas locais. As necessidades de sombreamento, representadas no Diagrama 1, dependem da trajectória do sol em cada época do ano, sendo evidente o perigo de sobreaquecimento associado aos ganhos solares indesejados, zona sombreada a escura, nas regiões próximas do equador. No Diagrama 2 define-se a localização óptima de elementos sombreadores. A linha continua representa os elementos sombreadores verticais, enquanto a linha a tracejado ilustra a necessidade de protecção dos edifícios contra os baixos ângulos do sol da manhã e do entardecer e os elementos horizontais de sombreamento. As zonas tropicais necessitam de ambos os tipos de elementos sombreadores durante todo o ano. O Diagrama 3 apresenta a forma da trajectória do sol em cada zona climática, sendo esta efectuada cada vez mais a sul à medida que a latitude aumenta (Hindrichs e Daniels, 2007). 57 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 48 – Influência do sol nos climas locais (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007). A secção sombreada no Diagrama 1 da Figura 49 indica a disposição tradicional dos átrios, escadas e entrada, e outras áreas anexas. Estas áreas não necessitam de um controlo climático total, sendo a ventilação natural normalmente suficiente. Nas zonas tropicais e áridas os espaços de transição estão normalmente localizados nos lados norte e sul dos edifícios, onde o sol não penetra muito no interior dos quartos. O átrio pode também ser utilizado como um espaço sombreado de transição. No Diagrama 2, a área identificada representa a localização de espaços que podem ser usados para obter ganhos solares. A localização segue a trajectória do sol em cada zona climática. Nas zonas tropicais e áridas estas localizam-se nas fachadas orientadas a este e oeste. O Diagrama 3 mostra a posição óptima para os átrios dos edifícios para cada zona climática. Nas zonas tropicais, os átrios devem ser dispostos tal como é mostrado, de modo a assegurar a ventilação, enquanto nas zonas áridas este deve ser localizado no centro do edifício, para arrefecimento e sombreamento. O telhado e o espaço ao nível do piso térreo podem ser projectados como potenciais espaços exteriores usáveis, sendo uma opção cada vez menos exequível à medida que nos afastamos do equador (Diagrama 4). Em climas tropicais e áridos o potencial de utilização de todos os espaços exteriores é elevado, enquanto nas regiões a norte estes mesmos espaços têm de ser cobertos (Hindrichs e Daniels, 2007). 58 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 49 – Disposição tradicional dos átrios, escadas e entrada, e outras áreas anexas para cada clima (fonte: Hindrichs e Daniels, 2007). O clima tem também influência na orientação das fachadas principais e na localização da massa térmica do edifício, como se observa na Figura 50. Segundo o Diagrama 1 os edifícios característicos das baixas latitudes exigem formas mais alongadas, de modo a minimizar a exposição a este e a oeste. A orientação óptima de um edifício e a localização das fachadas principais torna-se clara quando se analisa o Diagrama 2 conjuntamente com o Diagrama 3. A orientação é um factor importante no planeamento bioclimático, visto poder ajudar a manter o calor dentro ou fora de um edifício (Hindrichs e Daniels, 2007). 59 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 50 – Apresenta a influência do clima na forma, orientação e distribuição da massa, indicando a melhor orientação das fachadas principais e a localização da massa térmica do edifício (fonte: Heindrichs e Daniels, 2007). Nas zonas tropicais a massa primária fechada e protegida, o núcleo, deverá estar localizada nos lados este e oeste do edifício, para assegurar que este está sombreado durante o dia contra o sol baixo. Nas zonas áridas a massa deverá também estar localizada nos lados este e oeste. Estes princípios deverão ser genericamente aplicados em cada região local para promover a orientação bioclimática correcta dos edifícios (Hindrichs e Daniels, 2007). Para além das diferenças existentes entre os quatro tipos principais de climas mundiais e entre as habitações típicas de cada um destes verificam-se também algumas diferenças entre os vários tipos de climas quentes e tropicais e, consequentemente, entre os respectivos edifícios tradicionais. A influência do clima na variação das características de projecto de uma habitação para estes climas pode ser traduzida através da influência do clima sobre o vestuário. Se nas regiões quentes e secas se utilizam vestimentas claras e volumosas, para protecção da radiação solar e constituição de uma camada isoladora ao ar quente e desértico e ainda protecção nas noites frias, nos climas quentes e húmidos, onde o sol é menos intenso e há a necessidade de promover a sudação, beneficiando de todas as aragens, verifica-se uma prática ausência, ou acentuada ligeireza, do vestuário dos autóctones. Analogamente, verifica-se que na habitação espontânea em climas secos, as envolventes são maciças e fechadas, ao passo que em climas húmidos as habitações são ligeiras (Oakley, 1961; Gomes, 1967). Estas soluções tradicionais foram evoluindo com base em êxitos e fracassos, tendo a premência do meio ambiente vinculado as características funcionais. No entanto, nos países tropicais é necessário distinguir as características das habitações que traduzem adaptações eficazes ao meio climático, das que resultam do nível social, da carência de materiais ou da falta de exigência (Gomes, 1967). A adequação do projecto aos factores locais que intervêm neste, permite criar ambientes interiores confortáveis nas habitações projectadas para regiões tropicais. A protecção das habitações contra os raios solares, que nas regiões tropicais é a principal fonte de calor, não 60 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda deverá conduzir a níveis de luz natural demasiado baixos que impeçam a leitura, nem impedir a ventilação necessária à respiração e à promoção da circulação do ar, principalmente nos climas húmidos. Consequentemente, a combinação destes factores na fase de projecto, obriga ao conhecimento das características do clima local, bem como a climatologia da região. Desta forma, para a concepção de edifícios localizados em climas húmidos, dever-se-á ter em conta os seguintes aspectos (Oakley, 1961; Gomes, 1967): a maior importância da cobertura face à envolvente do espaço, proporcionando protecção contra a incidência solar e contra a chuva e permitindo a ventilação ampla que minimizará o efeito da humidade excessiva; o prolongamento da cobertura até próximo do chão, evitará o desconforto visual que resulta da extrema luminosidade dum céu normalmente enevoado e portanto brilhante; a sobreelevação das habitações relativamente ao solo, possibilitando a ventilação sob o pavimento; a ligeireza das construções evitando a acumulação de calor que, num regime térmico pouco variável, não podendo dissipar-se, seria uma origem de desconforto. Em climas secos, os aspectos principais são os seguintes (Gomes, 1967): a envolvente maciça pesada que funciona como volante térmico, acumulando o calor durante o dia, com altas temperaturas, e só o dissipando durante a noite, em que o sensível abaixamento da temperatura do ar e da temperatura radiante da atmosfera permitem a dissipação, sem incómodo, desse calor acumulado; a fenestração reduzida a pequenas frestas dispostas junto ao tecto, impedindo a entrada do sol; os acabamentos de paramentos expostos, com caiações de alta reflectividade limitando a absorção da radiação solar; as soluções urbanísticas de aglomeração de casas protegendo-as mutuamente pelo sombreamento provocado. Seguidamente apresentam-se considerações mais específicas relativamente ao conforto e características das construções para os climas que mais se aproximam do clima da ragição do local em estudo. 2.5.1. CLIMA EQUATORIAL TEMPERADO HÚMIDO O clima equatorial temperado húmido tem como características fundamentais as fracas amplitudes térmicas, tanto diurnas, como sazonais, um nível térmico praticamente constante, com temperaturas que raramente atingem ou excedem a temperatura humana e um teor de humidade ambiente elevado, que constitui nestes climas o principal elemento perturbador do conforto (Gomes, 1967). As trocas de calor entre o corpo humano e o ambiente fazem-se por convecção, radiação e evaporação, tendo esta última um papel predominante quando as temperaturas são elevadas. No entanto, a evaporação é significativamente condicionada pela elevação da humidade, constituindo este facto a principal causa de desconforto neste tipo de climas, em virtude das elevadas temperaturas e humidade (Gomes, 1967). Desta forma, é fundamental recorrer a um incremento da ventilação para manter os limites aceitáveis de conforto. A ventilação actua por duas vias distintas, concorrentes para o mesmo fim: agitando o ar, fomentando as trocas por convecção e por outro lado, favorecendo a secagem da pele, o que facilita a continuidade dos processos de evaporação (Gomes, 1967). 61 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda As habitações dos climas quentes e húmidos podem ser comparadas a árvores de copa frondosa: dão sombra, permitem a ampla ventilação, absorvem, mas eliminam a radiação solar. Os modelos construtivos das habitações apropriadas para estes climas resultam destas premissas e ainda de outras características climáticas. Assim, as habitações deverão (Gomes, 1967): ser abertas a todos os ventos, sendo o chão frequentemente elevado e assente em estacas, de modo a aumentar a superfície exposta às brisas frescas; limitar o nível térmico interno através de um sombreamento eficaz e de uma orientação, forma e dimensão da cobertura adequadas, sendo o telhado o elemento estrutural e exterior dominante, devendo ser opaco à radiação solar, com um máximo de isolamento, na forma de ar encurralado, e grandes beirais para proteger os habitantes contra o sol baixo; assegurar protecção visual contra a elevada luminosidade dos céus nublados, através do sombreamento dos vãos e do tratamento do espaço envolvente da habitação, de modo a evitar a ocorrência de reflexões luminosas secundárias; ter preferencialmente uma envolvente aligeirada, uma vez que, devido à constância da temperatura ambiente, não há qualquer vantagem no recurso a construções com capacidade de volante térmico. Após uma caracterização geral dos aspectos construtivos mais relevantes das habitações dos climas quentes e húmidos, serão analisados mais pormenorizadamente alguns elementos de projecto. 2.5.1.1. Desenho O edifício deverá estar aberto às brisas e orientado de forma a captar qualquer brisa ou vento, uma vez que a única forma de atenuar o rigor climático é através do movimento de ar no espaço interior. Para satisfazer estas condições, os edifícios têm plantas alargadas com apenas uma fila de compartimentos, de modo a permitir a ventilação de todos os espaços (Figura 51). Figura 51 – Exemplo de planta ideal de uma habitação de clima equatorial temperado húmido (fonte: Koenigsberger et al, 1977).. 62 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda As portas e janelas devem ser tão grandes quanto possível, a fim de permitirem a entrada de ar. A sucessão de vários alinhamentos de edifícios origina uma deficiente circulação de ar em torno destes, uma vez que o movimento do ar é substancialmente reduzido pela primeira fila de edifícios, devendo os grupos de edifícios estar estendidos por áreas amplas e alinhados transversalmente à direcção do ar, oferecendo resistência mínima ao seu movimento. Esta é tida como a solução ideal. Um terreno coberto de vegetação tende a reduzir o movimento de ar perto do solo, sendo por isso necessário elevar o edifício para que a velocidade do ar que o atravessa seja maior (Figura 52), além de que o próprio terreno tende a alcançar a mesma temperatura do ar, fazendo com que a condução de calor do edifício para o solo não seja significativa. Figura 52 – Plantas e cortes de habitação adaptada ao clima equatorial temperado húmido (fonte: Koenigsberger et al, 1977).. Apesar de a radiação solar ser em geral menor do que a verificada nos climas quentes e secos, não deixa de constituir uma importante fonte de calor, pelo que a sua captação deve ser evitada. 63 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Visto que, neste tipo de climas, grande parte da radiação é difusa, serão necessários alguns cuidados na definição dos dispositivos de protecção das aberturas O sombreamento de todas as superfícies verticais, sejam aberturas ou paredes, é benéfico para a redução dos ganhos térmicos, contribuindo para tal o prolongamento das coberturas ou telhados para fora do alinhamento das paredes. Em edifícios altos, a cobertura já não pode assegurar a função de sombrear os vãos, sendo por isso necessário recorrer a elementos de sombreamento dispostos de acordo com as orientações das fachadas, de modo a proteger as janelas e aberturas de ventilação não só do calor como da luz solar (Gomes, 1967). Do ponto de vista da elevação térmica devida à radiação solar, os edifícios devem estar orientados segundo a direcção este – oeste, ficando com as suas fachadas principais expostas a Norte e a Sul (Gomes, 1967). A incompatibilização da orientação ideal para proteger o edifício da radiação solar e da orientação desejada para captar os ventos e brisas terá de ser devidamente estudada caso a caso. Nesta análise é necessário ter presente que a geometria solar não pode ser alterada, ao passo que a direcção do vento ou brisas pode ser alterada mediante a disposição certa de alguns elementos exteriores. No entanto, no caso de edifico baixos, como as paredes não recebem muita radiação, é mais importante a orientação segundo os ventos dominantes, enquanto para edifícios altos verifica-se o contrário, sendo a orientação adequada para evitar o sol o factor decisivo. 2.5.1.2. Coberturas e paredes Pelo facto de a temperatura se manter praticamente constante durante o dia e a noite, os edifícios não conseguem arrefecer o suficiente durante a noite, dissipando o calor armazenado durante o dia, o que leva a que os edifícios, para este tipo de clima, resultem de uma construção ligeira com materiais de baixa capacidade térmica. A promoção do movimento de ar exterior através do interior do edifício, conduz a uma secundarização da influencia da estrutura sobre as condições interiores, passando a ser o telhado o único elemento que tem verdadeira importância. Este não melhora as condições interiores proporcionando temperaturas mais baixas do que as do ar exterior, mas, no caso de ser bem projectado, pode evitar que a temperatura interior seja superior à temperatura exterior. Uma solução construtiva viável consiste em construir uma dupla cobertura com uma superfície exterior reflectora, um espaço de ar ventilado e um tecto com a superfície superior altamente reflectora e com um isolamento muito eficaz. Ambos os elementos, tecto e telhado, devem ter uma capacidade térmica baixa. Nas paredes maciças verticais não é necessário isolamento, caso estas estejam à sombra. Contudo, se estão expostas à radiação solar, um bom isolamento evita a elevação da temperatura interior. Qualidades reflectoras na superfície exterior da paredes expostas à radiação solar são benéficas. 2.5.1.3. Movimento do ar e aberturas As aberturas para além de amplas e poderem ser abertas totalmente, devem estar localizadas segundo a direcção das brisas mais frequentes, de modo a permitir uma corrente natural de ar através dos espaços interiores e ao nível do corpo humano. O movimento do ar pode ser 64 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda influenciado pela topografia, orientação do edifício e posição das edificações vizinhas e como tal, todos estes aspectos devem ser analisados cuidadosamente. Porém, estas grandes aberturas exigem protecções contra a chuva, insectos e ruídos, que não deverão conduzir a uma redução do movimento do ar. 2.5.1.4. Ventilação Em virtude do calor e humidade libertados pelo corpo, bem como pelas actividades desenvolvidas no interior das habitações, a temperatura e humidade do ar interior pode aumentar de tal forma que pode ultrapassar os valores do ar exterior. Assim, é necessário promover a ventilação, uma vez que esta auxilia a renovação do ar, permitindo a substituição do ar interior por ar exterior renovado. A ventilação é também necessária no espaço compreendido entre o telhado e o tecto, situação que pode provocar uma diminuição de 2ºC da temperatura do tecto. De facto, o papel da ventilação no conforto térmico nestes climas é extremamente importante. Fundamentalmente, a deslocação do ar realiza-se por efeito de diferenças de pressão em geral provocadas por diferenças de temperatura. Existindo vento e o obstáculo materializado por edifícios, a face deste que recebe a acção do vento fica sujeita a uma dada pressão resultante do choque dos filetes do ar. Estes são desviados, escoam-se lateralmente ou superiormente e criam ao longo das correspondentes faces do edifício efeitos de depressão, sendo mais acentuada junto ao bordo do ataque (Gomes, 1967). Tais considerações foram estabelecidas a partir dos resultados dos ensaios do Texas Engeineering Experimental, anteriormente apresentadas na secção 2.4.1 (Gomes, 1967). Desta forma, as habitações de 1 piso beneficiarão, do ponto de vista da ventilação, se forem elevadas relativamente ao terreno, aproveitando desta forma a acção mais intensa do vento e ainda o arrefecimento provocado pela ventilação sob o pavimento. Esta disposição construtiva tem ainda a vantagem de libertar a habitação das cargas térmicas dissipadas pelo terreno durante o seu arrefecimento nocturno (Gomes, 1967). 2.5.2. SUBCLIMA DESÉRTICO-MARÍTIMO Neste tipo de subclima, as situações climáticas são menos constantes. As temperaturas diurnas são elevadas, diminuindo durante o período frio que caracteriza este clima, as amplitudes térmicas diárias e anuais são menores que as verificadas no clima desértico quente, verificandose ainda um teor de humidade mais elevado relativamente a este último. O elemento mais desfavorável para o conforto é igualmente a elevada temperatura diurna, apesar de a elevada humidade ajudar na perturbação das condições de conforto (Gomes, 1967). Este clima é o que oferece mais dificuldades para o projecto de edifícios. As estruturas de elevada capacidade térmica não são tão eficazes como nas regiões quentes e secas, apesar de também serem úteis. Na estação quente, a envolvente da habitação deveria ainda suportar e resistir ao calor diurno, mas já o não pode fazer exclusivamente por efeito da inércia térmica, dado que o abaixamento da temperatura de noite é menos acentuado e, como tal, a dissipação de calor além de poder originar desconforto nocturno, é mais limitada (Gomes, 1967). Na estação mais húmida, a participação da ventilação é já de auxílio sensível para o conforto e, por exemplo, a captação dos ventos frescos de maior frequência, por mangas em concha 65 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda orientadas na direcção de tais ventos, como representado na Figura 53, e emergindo das coberturas, é uma solução tradicional em algumas regiões deste tipo (Gomes, 1967). A brisa ou vento diurno proveniente do mar pode ser aproveitado para melhorar as condições térmicas, enquanto o vento nocturno, procedente do continente e que circula em direcção ao mar, é muito quente, devendo-se, portanto, proteger o interior da habitação deste. As soluções construtivas propícias para este tipo de clima são mais ambíguas do que nos climas desérticos. Muitas vezes será recomendável a coexistência de zonas de habitação com características de envolventes bem diferenciadas para uso diurno e nocturno (Gomes, 1967). De dia, a envolvente pesada e cerrada permite o possível conforto nas horas quentes do dia. Um anexo de construção ligeira, permitindo a ventilação e destinado à ocupação nocturna, assegura o conforto durante o sono, enquanto a habitação diurna arrefece (Gomes, 1967). Figura 53 - Dispositivo de orientação das brisas para promoção da ventilação natural do espaço interior (Gomes, 1967). 66 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 3 CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DE LUANDA Apesar de Angola estar contida na denominada zona tórrida, verificam-se algumas diferenças climáticas bastante acentuadas de região para região, em virtude da diferença de latitudes entre os extremos Norte e Sul, das diferenças de altitude e da proximidade ou afastamento do mar. Segundo a Classificação Climática de Köppen-Geiger, ilustrada na Figura 54, Angola comporta 4 tipos de climas: Clima tropical com estação seca no Inverno (Aw), Clima Árido Quente (BWh), Clima Semi-Árido Quente (BSh) e Clima tropical de altitude (Cwa, Cwb). Figura 54 - Classificação Climática de Köppen-Geiger para Angola Constata-se a existência de uma faixa costeira árida, que se estende desde a Namíbia até Luanda, um planalto interior húmido, uma savana seca no interior sul e sueste e uma floresta tropical no norte e em Cabinda, experimentando, de um modo geral, duas estações, uma estação quente e chuvosa e uma outra seca e com temperaturas mais amenas, também conhecida por Cacimbo. No litoral, a temperatura do ar é máxima entre Janeiro e Abril e mínima nos meses de Julho a Agosto. A amplitude média da variação diurna da temperatura do ar varia pouco durante o ano nas regiões costeiras e de pequena altitude, verificando-se o mesmo relativamente à humidade do ar, registando-se os valores máximos da humidade relativa na época seca e os mínimos na época quente, ou das chuvas. Em termos de ventos, verifica-se a predominância das 67 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda brisas, principalmente marítimas, de direcção compreendida entre Oeste e Sudoeste, na região do litoral. (SMA, 1955) De acordo com a Classificação Climática de Köppen-Geiger, Luanda encontra-se numa zona de Clima Semi-Árido Quente (BSh), correspondendo ao Clima Quente e Seco – Desértico Marítimo indicado por Gomes, a partir da classificação preconizada por G. A. Atkinson, como sendo o tipo de clima existente em Angola. Conhecido o tipo de clima da cidade de Luanda, procurou-se reunir o máximo de dados climáticos, de modo a ser possível analisar correctamente o clima desta cidade. A partir de documentos do Serviço Meteorológico da Colónia de Angola, datados desde o ano de 1938 a 1952, foram recolhidos uma série de dados meteorológicos que permitiram estudar com maior exactidão o clima local e as respectivas exigências construtivas. Os valores da Temperatura e Humidade Relativa apresentados, constituem valores médios representativos de um período de 18 anos, enquanto para a precipitação esse período é de 50 anos e para o vento 13 anos. 3.1 TEMPERATURA De acordo com o gráfico da Figura 55, ilustrativo da variação da temperatura ao longo do ano, verifica-se que as temperaturas são maiores entre os meses de Fevereiro e Abril, e mais baixas entre Julho e Agosto, variando a temperatura média do ar entre os 27 ºC em Março e os 20.4 ºC em Julho, originado desta forma uma amplitude térmica média anual de 6,6 ºC. A temperatura poderá, em média, atingir valores máximos e mínimos extremos de 33,2 ºC e 22.3 ºC em Março, e 26,3 ºC e 16,2 ºC em Julho. Figura 55 - Variação média Temperatura ao longo do ano em Luanda A Figura 56 apresenta o gráfico da variação das temperaturas médias mensais e das temperaturas médias horárias. Para cada mês foi criado um “dia médio”, representativo dos valores horários médios registados em cada mês, resultando as 288 horas das 24h de cada um dos 12 “dias médios” definidos para cada um dos meses. A análise do gráfico permite identificar a existência de um período onde tanto as temperaturas médias mensais, como temperaturas médias horárias, são mais elevadas, e de um outro onde estas são mais baixas. Enquanto, durante o ano, as temperaturas mais altas ocorrem em Fevereiro e Março e as mais baixas em Julho e Agosto, durante o dia as temperaturas mais elevadas ocorrem por volta das 13h e as mais baixas entre as 5 e as 6h. Da análise do gráfico da Figura 56 ressalta a possibilidade de definir dois períodos durante o ano, um entre Junho e Setembro, onde as temperaturas são menores, e um outro, durante os restantes meses, onde as temperaturas são mais elevadas. A partir desta divisão do ano é possível definir duas variações médias horárias da temperatura, que se apresentam na Figura 57. 68 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Temos assim que, entre Junho e Setembro, as temperaturas médias horárias variam entre os 19,5 ºC e os 24 ºC, enquanto nos restantes meses este valor está entre os 23,5 ºC e os 29 ºC, resultando numa amplitude térmica diária média de 4,5 ºC e 5,5 ºC, respectivamente. Figura 56 - Variação média da Temperatura mensal e horária ao longo do ano em Luanda Figura 57 - Variação da Temperatura média horária em Luanda para 2 períodos do ano 3.2 HUMIDADE RELATIVA Relativamente à humidade relativa (HR), o gráfico da Figura 58 traduz a variação ao longo do ano desta. No que respeita à HR média, constata-se a existência de dois picos, com os valores máximos a ocorrem em Agosto e os mínimos em Fevereiro, atingindo-se valores na casa dos 85 % e dos 78,5 %, respectivamente. Em termos de valores extremos, verifica-se uma variação dos extremos máximos semelhante à observada para a HR média anual, registando-se valores entre os 95,3 % em Fevereiro e os 98,3 % em Setembro, enquanto os valores mínimos, com um comportamento anual mais errante, variam entre os 53,9 % registados em Maio e os 61,2% em Setembro. Pode-se assim afirmar que a HR média mensal não varia muito durante o ano, não acontecendo o mesmo durante o dia. De facto, a variabilidade da HR média ao longo do dia é maior do que a verificada ao longo do ano. Os valores da HR horária para cada mês, ilustrados na Figura 58, não diferem significativamente entre si, o que resulta, e tal como vimos anteriormente, numa variação ligeira da HR média mensal, ao passo que a variação horária média da HR é mais visível, estando compreendida entre os 89,5 % registados às 6h e os 72,3% às 13h. 69 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Considerando a existência de dois períodos estacionais durante o ano, tal como foi feito para a temperatura, constata-se, através do gráfico da Figura 59, que não existe grande diferença entre os valores registados durante o dia nestes dois períodos. Figura 58 - Variação da Humidade Relativa média mensal e horária ao longo do ano para Luanda Figura 59 - Variação da Humidade Relativa média horária em Luanda para dois períodos estacionais 3.3 TEMPERATURA VS HUMIDADE RELATIVA Através do gráfico ilustrado na Figura 60, representativo da variação conjunta da Temperatura e HR médias mensais ao longo do ano, observa-se que a HR média é maior nos períodos em que a temperatura é mais baixa e menor nos meses em que as temperaturas são mais elevadas, nomeadamente entre Novembro e Março. De acordo com o gráfico da Figura 61, constata-se também que nas horas em que a temperatura do ar é mais alta a HR atinge os valores mais baixos do dia, verificando-se igualmente o contrário. 70 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 60 - Variação da Temperatura e Humidade Relativa média mensal ao longo do ano em Luanda Figura 61 - Variação da Temperatura e da Humidade Relativa média horária ao longo do ano para Luanda 3.4 PRECIPITAÇÃO Relativamente à precipitação, o gráfico da Figura 62 é ilustrativo da variação da quantidade de precipitação caída durante ao ano. Verifica-se a ausência de chuva durante o Cacimbo, isto é, durante o período de menos calor, e a ocorrência de precipitação nos meses em que as temperaturas são mais elevadas. Em termos médios, a precipitação caída durante um ano não ultrapassa os 350 mm, nem os 120 mm mensais. Constata-se assim que, apesar das elevadas HR registadas ao longo dos meses e do ano, a precipitação é reduzida. Figura 62 - Variação da Precipitação e da Temperatura média mensal ao longo do ano para Luanda 3.5 VENTO A Meteorológico da Colónia de Angola, A partir dos dados anuais relativos ao vento, existentes nos documentos do Serviço Meteorológico da Colónia de Angola, procedeu-se à determinação da direcção dominante do vento em Luanda. Na Figura 63 está representada a Rosa dos Ventos 71 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda para a cidade de Luanda, onde se representa o número de meses em que a direcção do vento dominante coincide com cada um dos pontos cardeais. Assim, contabilizando 156 meses, relativos a 13 anos de observações, constata-se que a direcção dominante é, sem dúvida alguma, a direcção WSW. Analisando os dados mensalmente, verifica-se que a direcção que apresenta maior frequência é também a direcção WSW. Com base nos valores de velocidade medidos nos meses em que a direcção predominante do vento era WSW, determinou-se que a velocidade média do vento ronda os 20,35 km/h. Figura 63 - Rosa-dos-ventos para a cidade de Luanda. Apresentados os dados climáticos referentes à cidade de Luanda, verifica-se que os valores obtidos, concretamente os da temperatura, não encaixam totalmente nos intervalos característicos do clima Desértico Marítimo – Quente Seco. As características gerais deste clima são observadas nos dados climáticos recolhidos, nomeadamente a existência de um período quente e um período frio, resultantes de uma amplitude térmica média anual de aproximadamente 7 ºC, a humidade elevada e precipitação reduzida durante o ano. No entanto, os valores máximos médios da temperatura não são tão elevados como os característicos do clima Desértico Marítimo, podendo tal facto dever-se à influência da corrente fria de Benguela. Desta forma, apesar de as características gerais do clima de Angola corresponderem às do clima Desértico Marítimo a variação das temperaturas é menor, o que implicará um maior cuidado na análise das características construtivas para os edifícios a implantar. 3.6 RADIAÇÃO Um outro aspecto climático importante é a radiação solar. A energia proveniente dos raios solares é uma das principais fontes de produção de calor no interior das habitações, sendo por isso aconselhável a sua quantificação. A energia solar recebida num local da superfície da Terra, sobre um plano perpendicular às radiações emitidas pelo Sol, é dada pela expressão 3 (3) onde A representa a constante solar, isto é, a intensidade com que a radiação solar atinge a Terra, cujo valor é 13514,19 W/m2, t o factor de redução da intensidade devido ao atravessamento da atmosfera terrestre por parte das radiações, e e o aumento do caminho 72 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda percorrido por estas quando atravessam a atmosfera obliquamente, sendo determinado através da fórmula 4 (4) A proporção e é função da razão entre a espessura da atmosfera no zénite do local l, a qual vale, aproximadamente, um centésimo do raio da Terra, e a espessura da atmosfera atravessada pelas radiações L, dada pela expressão 5 (5) em que R representa o raio da Terra e θH o ângulo de incidência da radiação em relação à superfície horizontal do local, tal como é ilustrado na Figura 64, o qual varia com a latitude, época do ano e hora do dia. Figura 64 - Determinação do ângulo de incidência da radiação solar sobre um ligar da superfície da Terra. Quando as radiações solares não incidem perpendicularmente à superfície, a energia recebida por metro quadrado fica reduzida na proporção da área projectada perpendicularmente à radiação, isto é: (6) sendo θ o ângulo de incidência das radiações, formado pelos raios incidentes e a normal à superfície considerada. Este ângulo pode ser calculado em função dos ângulos que caracterizam a orientação do Sol e da superfície em relação ao plano horizontal do local, nomeadamente a declinação do Sol (δ), ou seja, o ângulo formado pela direcção Terra-Sol e o plano do Equador, sendo positivo para Norte, a latitude do local (φ), positiva para Norte, a inclinação da superfície em relação à horizontal (S), o azimute da superfície (γ), isto é, o ângulo de desvio da normal à superfície em relação ao meridiano do local, medido a partir de Sul com valores positivos para leste, e o ângulo horário (W), ou seja, o ângulo medido a partir das 12 horas (0º), em que cada hora vale 15º, com as manhãs positivas e as tardes negativas. A declinação do Sol pode ser calculada, com uma boa aproximação, pela fórmula empírica de Cooper: 73 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda (7) variando os seus valores entre -23,45º no Solstício de Verão e 23,45º no Solstício de Inverno, isto para o caso de regiões situadas no hemisfério Sul. A letra n da expressão 7 representa o número do dia do ano considerado. A partir das coordenadas trigonométricas citadas, o ângulo de incidência das radiações é dado pela seguinte expressão: (8) O valor de S será igual a 0º ou 90º, caso as superfícies sejam horizontais ou verticais, respectivamente. Para superfícies voltadas a Norte, por exemplo, o azimute será igual a 180º. Conhecidos os princípios de cálculo da radiação solar de um local na superfície da Terra, procedeu-se à determinação dos valores da intensidade solar recebida por superfícies horizontais e superfícies verticais com 8 orientações tipo, nomeadamente Norte (N), Nordeste (NE), Este (E), Sudeste (SE), Sul (S), Sudoeste (SW), Oeste (W) e Noroeste (NW), para todos os dias do ano. Uma vez que os 12 meses do ano não têm todos o mesmo número de dias, a análise da quantidade de radiação solar recebida pelas fachadas e cobertura centrou-se na avaliação dos valores médios diários por metro quadrado característicos de cada mês, possibilitando assim aferir quais os períodos do ano em que a radiação é mais ou menos intensa. Assim, de acordo com a metodologia de cálculo anteriormente apresentada, procedeu-se à representação gráfica da variação anual da radiação solar, ilustrada na Figura 65, podendo-se afirmar que a intensidade da radiação solar recebida pelas fachadas é maior em Dezembro e mínima no mês de Março. Segundo o mesmo gráfico, a radiação média diária recebida pelas coberturas é máxima em Fevereiro e mínima em Junho, altura em que o Sol se encontra mais baixo. Avaliando o conjunto das duas parcelas, constata-se que o mês de Junho é aquele em que a quantidade de radiação solar total recebida é menor, sendo máxima durante o mês de Dezembro. Figura 65 - Variação quantidade radiação solar incidente em superfícies horizontais e verticais ao longo do ano em Luanda A Figura 66 apresenta um gráfico ilustrativo da variação da radiação solar média diária recebida em cada mês para cada uma das orientações de fachada estudadas. Nas fachadas voltadas a NW, 74 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda N e NE os valores máximos de radiação são registados durante o mês de Junho, enquanto para as fachadas viradas a SE, S e SW, a radiação solar é mais forte em Dezembro e Janeiro. Para as fachadas orientadas a W e E, a quantidade de energia recebida é mais ou menos constante ao longo do ano, sendo maior em Fevereiro e Outubro. Para as superfícies horizontais, o pico máximo da radiação solar incidente é registado em Fevereiro e entre Outubro e Novembro, período em que a trajectória do Sol atinge máxima verticalidade em relação ao local em estudo. Analisando a quantidade de radiação solar total recebida durante o ano por cada uma das superfícies estudadas, ou seja, o somatório da radiação recebida durante todos os dias do ano, para cada uma das 8 orientações pré-definidas, observou-se que as superfícies horizontais, ou seja, as coberturas, são aquelas que recebem maior quantidade de energia. Limitando a análise às superfícies verticais, constata-se que as fachadas orientadas a Este e Oeste são aquelas que são atingidas por uma maior quantidade de radiação solar, registando-se os valores mais baixos para a orientação Sul, tal como é visível no gráfico da Figura 67. Figura 66 - Variação da intensidade da radiação solar média mensal incidente ao longo do ano em Luanda Figura 67 - Variação da quantidade de Radiação Solar recebida durante o ano em Luanda No que respeita à quantidade de radiação solar recebida durante o dia, identificaram-se as 8h e as 16h como sendo os períodos do dia em que a radiação solar recebida por superfícies verticais, excepto as orientadas a N e S, é maior e as 12 h como o período de menor intensidade. Pelo contrário, nas coberturas e fachadas N e S, as 12h são a altura do dia em que estas recebem mais radiação, registando-se os valores mínimos diários por volta das 6h e 18h. Para melhor compreender a distribuição da radiação consoante a época do ano, altura do dia e orientação, procedeu-se à representação gráfica, através da Figura 68 à 79, da variação da radiação solar ao longo do dia para as 8 orientações tipo anteriormente enunciadas, em 12 datas específicas, nomeadamente 21 de Janeiro, 23 de Fevereiro, 21 de Março, 17 de Abril, 21 de Maio, 21 de Junho, 24 de Julho, 28 de Agosto, 21 de Setembro, 20 de Outubro, 22 de 75 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Novembro e 21 de Dezembro. Estas datas correspondem às datas indicadas nas cartas solares disponibilizadas pelo LNEC, que posteriormente serão apresentadas. Figura 68 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Janeiro em Luanda Figura 69 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 23 de Fevereiro em Luanda Figura 70 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Março em Luanda 76 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 71 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 17 de Abril em Luanda Figura 72 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Maio em Luanda Figura 73 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Junho em Luanda Figura 74 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 24 de Julho em Luanda 77 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 75 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 28 de Agosto em Luanda Figura 76 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Setembro em Luanda Figura 77 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 20 de Outubro em Luanda Figura 78 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 22 de Novembro em Luanda 78 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 79 - Variação da Radiação Solar incidente durante o dia 21 de Dezembro em Luanda Dada a localização e características do local de estudo, uma das principais acções a realizar na prevenção do aumento da temperatura dos espaços interiores é o estudo da orientação e protecção de fachadas e envidraçados. De facto, a radiação solar incidente nestes elementos contribui para o aumento da temperatura interior das habitações e, consequentemente, do desconforto dos utilizadores do espaço, sendo por isso importante avaliar a orientação, dimensão e até a constituição de fachadas e vãos envidraçados. 79 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 80 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 4 CONTROLO SOLAR Conhecida a distribuição e intensidade da radiação solar ao longo do dia e do ano, procedeu-se à avaliação da influência do tipo de planta e da distribuição das áreas das fachadas de edifícios. Partindo do principio que a maioria das plantas de edifícios são rectangulares ou quadradas, definiram-se 5 tipos de distribuições de áreas das fachadas e 2 subtipos, classificadas de A a E e 1 a 2, respectivamente, e 2 orientações principais das plantas, nomeadamente N, E, S, W e NE, SE, SW, NW, tal como é visível na Tabela 17. Os números indicados nas figuras da Tabela 17 representam os factores multiplicativos das áreas em relação à unidade base da área. Assim, para o a planta do tipo D.1, temos que a área das fachadas de maior dimensão é 4 vezes superior à área das fachadas mais pequenas. A Tabela 18 apresenta o somatório da radiação solar recebida durante o ano, para cada uma das situações apresentadas na Tabela 17. 81 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 17 - Configuração plantas e relação das áreas das fachadas N, E, S, W 1 NE, SE, SW, NW 2 1 2 A B C D E 82 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 18 - Quantidade de Radiação Solar incidente acumulada ao longo do ano das 7h00 às 18h00 Radiação Total (W/m2) A N-E-S-W NE – SE – SW – NW 1 2584876,2 2659809,4 1 3446464,1 3989714,2 2 4308164,6 3989714,2 1 4308052,0 5319618,9 2 6031453,0 5319618,9 1 5169639,9 6649523,6 2 7754741,3 6649523,6 1 6031227,8 7979428,3 2 9478029,7 7979428,3 B C D E Analisando estes valores observa-se que para plantas de edifícios orientadas a N, E, S e W, quando as fachadas com maior área estão viradas a N e S a quantidade de radiação solar total recebida é menor do que nos casos em que a fachadas de maior dimensão se encontram voltadas a E e W. Constatou-se ainda a existência de alguns casos em que, mesmo com áreas totais superiores, as plantas com fachadas de maior dimensão viradas a N e S recebem menos radiação do que as plantas com fachadas principais voltadas a E e W. Por outro lado, para uma determinada planta rectangular, com as fachadas de maior área orientadas a N e S, a radiação solar total incidente é menor do que para uma planta quadrada com a mesma área total de fachadas. Verificou-se também que para as plantas rodadas 45º em relação a N, a orientação das fachadas de maior dimensão é indiferente, uma vez que o somatório da radiação total recebida é igual para cada um dos tipos de planta apresentados. Assim, analisando os dados fornecidos por este estudo, bem como as informações resultantes da análise dos gráficos da distribuição da radiação solar ao longo do ano e do dia, pode-se afirmar que as principais fachadas a proteger são as que estão voltadas a E e W, devendo-se sempre ter em atenção todas as outras, especialmente as orientadas a NE e NW e até mesmo a N. Os edifícios deverão ser alongados segundo o eixo E-W, ou seja, com as fachadas de maior dimensão orientadas a N e S, assim como os envidraçados, uma vez que constituem a solução mais favorável no que diz respeito ao controlo dos ganhos solares. Para além da quantificação da radiação, é também importante conhecer o trajecto do Sol ao longo do dia e do ano, de modo a ser possível definir os períodos anuais e diários em que é necessário proteger os vãos envidraçados. Uma das formas de estudar o trajecto efectuado pelo Sol é através de cartas solares. As cartas solares são projecções, sobre um plano, dos pontos cardeais e das trajectórias aparentes do Sol acima do horizonte do lugar, assinalando-se, em cada trajectória projectada, as posições do Sol em instantes igualmente espaçados e anteriores e posteriores ao meio-dia solar verdadeiro. Conhecendo as trajectórias solares é possível, através de transferidores de determinação de ângulos sombra, definir o tipo e as dimensões dos elementos de sombreamento mais adequados. Na Figura 80 e na Figura 81 estão representadas a Carta Solar de Angola para a latitude, aproximada, de Luanda e o transferidor de Ângulos de Sombra, respectivamente. As 83 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figuras 82 à 84 ilustram alguns tipos de dispositivos de sombreamento existentes em edifícios localizados na cidade de Luanda. Figura 80 - Carta Solar para Luanda. Figura 81 - Transferidor de ângulos de sombra. 84 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 82 - Dispositivos de sombreamento na Residência de Estudantes em Luanda (fonte: Quintã, M.M.G., 2007) Figura 83 - Dispositivos de sombreamento na Residência de Estudantes em Luanda (fonte: Quintã, M.M.G., 2007) Figura 84 - Dispositivos de sombreamento na Residência de Estudantes em Luanda (fonte: Quintã, M.M.G., 2007) 85 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Para o estudo em questão, e tal como se viu anteriormente, optou-se por analisar 8 orientações de elementos verticais (N, NE, E, SE, S, SW, W, NW). Através das cartas solares é possível definir os períodos diários e anuais em que os envidraçados estão sujeitos à acção da radiação solar. As cartas solares que a seguir se apresentam, representam a trajectória do Sol a considerar para cada uma das orientações definidas. Tabela 19 - Trajectórias visíveis do Sol para cada orientação de fachada. N S NE SW E W SE NW A análise das cartas solares permite verificar que as fachadas orientadas a N e a S recebem radiação durante todo o dia entre Março e Setembro e entre Setembro e Março, respectivamente. As restantes fachadas são atingidas por radiação durante todo o ano, mas apenas durante um período do dia. Desta forma, procurou-se estudar e definir os elementos de sombreamento que melhor se adequam a cada uma das 8 orientações seleccionadas. Conhecida a variação da radiação solar horária incidente ao longo do ano, definiram-se períodos de incomodidade, durante os quais os vãos envidraçados deveriam estar protegidos da acção do Sol, tendo-se considerado necessário o sombreamento destes quando a intensidade da radiação fosse superior a 200 W/m2. Na Tabela 20 são apresentados os períodos de incomodidade para cada uma das 8 orientações, constituindo a mancha a cor-de-rosa, a área que deverá ser abrangida pela Superfície de Eficiência Total (SET) dos elementos de sombreamento. Seguidamente, definiram-se conjuntos de ângulos de sombra necessários para proteger totalmente os vãos envidraçados durante os períodos de incomodidade da radiação, estando estes representados na Tabela 21. A partir destes ângulos, dimensionaram-se palas de sombreamento, cuja SET integrasse a área correspondente ao período de incomodidade. Para o efeito, foram seleccionados 9 tipos de elementos de sombreamento, classificados de A a I e caracterizados na Tabela 22. 86 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Tabela 20 - Períodos de Incomodidade da Radiação Solar. N NE E SE S SW W NW Tabela 21 - Ângulos de Sombra N NE 87 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda E SE S SW 88 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda W NW Tabela 22 - Elementos de Sombreamento. A B C D 89 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda E F G H I Para cada orientação, analisaram-se os conjuntos de ângulos de sombra definidos e a lista de elementos de sombreamento seleccionados, de modo a identificar quais os mais apropriados para cada situação. Dada a configuração da trajectória do Sol apresentada na Carta Solar, constatou-se que os dispositivos de sombreamento mais adequados são os do tipo A (pala única horizontal), do tipo C (palas múltiplas horizontais com desenvolvimento vertical), do tipo E (palas múltiplas horizontais com desenvolvimento horizontal) e do tipo G, H e I (dispositivos mistos). Os restantes dispositivos não permitem proteger os vãos durante a totalidade do período de incomodidade definido, havendo, no entanto, casos, em que a área reprentatativa do período de incomodidade que não é abrangida pela SET do elemento de sombreamento é diminuta, como é o caso dos dispositivos do tipo D para as orientações SE e SW. Determinados os conjunto de ângulo de sombra e respetivas SET, necessários para que os elementos de sombreamento protejam as aberturas durante o período de incomodidade, e identificados os tipos de dispositivos mais adequado, passou-se ao dimensionamento dos 90 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda elementos de protecção dos vãos envidraçados contra a acção da radiação solar. Para o dimensionamento definiram-se dois tipos de aberturas: o tipo 1 com 1m de altura (H) e 1,5m de largura (L) e o tipo 2 com 1,5m de altura e 1m de largura. De modo a facilitar o dimensionamento dos dispositivos de sombreamento, precedeu-se à criação de folhas de cálculo automático que, a partir da introdução dos ângulos de sombreamento definidos e das dimensões dos vãos a proteger, forneciam a dimensão dos dispositivos em estudo. Devido ao elevado número de variáveis, optou-se por definir inicialmente alguns parâmetros envolvidos no dimensionamento destes, sendo esses valores apresentados na Tabela 23. A título de exemplo, apresenta-se na Figura 85 a folha de cálculo automático relativa ao dimensionamento dos elementos do tipo C, em que, introduzindo o valor da altura (H) e da largura (L) dos vãos, a largura (P) e comprimento saliente das palas em relação ao alinhamento vertical dos vãos (L1, L2) e os ângulos de sombras (α e δ), obtem-se o espaçamento (I Final) entre as lâminas do dispositivo, selecionando o menor dos dois intervalos cálculados (I1 e I2) a partir dos ângulo de sombreamento α e δ. Dado que, para um dos ângulos, o espaçamento entre lâminas é menor do que o necessário, o processo de dimensionamento deste tipo de dispositivos é finalizado com a determinação dos ângulos de sombreamento reais. Tabela 23 - Variáveis do dimensionamento de dispositivos de sombreamento pré-definidas Tipo P (m) A H1 (m) H2 (m) L1 (m) L2 (m) 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 B C 0,1 ; 0,2 D 0,1 ; 0,2 E 0,2 0,2 F 0,2 0,2 G 0,2 H 0,1 ; 0,2 I 0,1 ; 0,2 Figura 85 - Ilustração da folha de cálculo para dimensionamento dos dispositivos solares. Em anexo (Anexo 2 – Tabelas 1 a 8) são apresentadas as dimensões dos elementos de sombreamento para cada uma das orientações estudadas. As células sombreadas apresentam os valores calculados para cada um dos tipos de elementos seleccionados, albergando as restantes células os valores introduzidos inicialmente para se proceder dimensionamento dos elementos de sombreamento. 91 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Determinadas as dimensões dos dispositivos de sombreamento necessárias para que estes protejam as aberturas do tipo 1 e 2 durante o período de maior incidência da radiação solar, constata-se que, para alguns dispositivos, nomeadamente os do tipo C e G, os ângulos de sombra reais não correspondem aos utilizados para o dimensionamento, uma vez que para estes elementos de sombreamento, as dimensões relativas aos dois ângulos de sombra utilizados no dimensionamento são inter-dependentes, traduzindo-se este facto num sobredimensionamento obrigatório do dispositivo. Desta forma, em anexo (Anexo2 -Tabelas 9 a 16) apresentam-se os ângulos de sombra e dimensões finais para cada um dos dispositivos. Após o dimensionamento das palas de sombreamento, o processo é concluído com a inscrição da SET nas Cartas Solares (ver Anexo 3). A título de exemplo, apresentam-se nas Figuras 86 e 87 as SET dos dispositivos do tipo C e G, respectivamente. O contorno e área a amarelo representa a SET dos dispositivos, sendo que, nas Cartas Solares onde se representam a SET dos dispositivos do tipo C a área a amarelo identifica a SET das palas de sombreamento com lâminas com 0,2m de profundidade (P) e o contorno a cor-de-rosa a SET das palas de sombreamento com lâminas de 0,1m de profundidade (P). Para os elementos do tipo G, a área a amarelo é representativa da SET dos dispositivos para os vãos do tipo 1, ao passo que o contorno a violeta ilustra a SET dos dispositivos para os vãos do tipo 2. Figura 86 - Superfície de Eficiência Total do dispositivo do tipo C para a orientação Norte 92 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Figura 87 - Superfície de Eficiência Total do dispositivo do tipo G para a orientação Norte A concretização dos elementos de sombreamento depende de questões arquitectónicas e construtivas. No entanto, é possível verificar que, dadas as dimensões dos vãos envidraçados estudados, a concretização de alguns elementos de sombreamento é bastante difícil. Porém, apesar do objectivo deste estudo não passar por uma avaliação da exequibilidade das soluções definidas, mas sim pela determinação das necessidades de sombreamento para cada orientação em função do período de incomodidade definido, foi feita uma pequena análise do tipo de dispositivos de sombreamento que, aparentemente, possuem maior facilidade de implementação, tendo por base a apreciação da dimensão necessária para sombrear os vãos e a redução potencial da perda de paisagem visível e de entrada de luz natural. Assim, verifica-se que, de uma maneira geral, os elementos de sombreamento que melhor se adequam aos vãos envidraçados analisados são os dispositivos do tipo J, em forma de colmeia. Para vãos orientados a Norte as palas do tipo I e G poderão constituir ainda soluções viáveis. A Sul, qualquer um dos elementos de sombreamento seleccionados é solução para a protecção dos envidraçados, não sucedendo o mesmo para as orientações Este e Oeste, dadas as dimensões dos elementos de sombreamento necessárias para proteger os vãos envidraçados durante o período de incomodidade. Apesar de tudo, o dispositivo do tipo J, com uma largura de lâmina de 0,2 m, será, porventura, o mais apropriado, sendo, no entanto, a melhor solução a inexistência de aberturas em fachadas orientadas a Este e Oeste. 93 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 94 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 5 ESTRATÉGIA CONSTRUTIVA PARA LUANDA – APLICAÇÃO DO MÉTODO DE MAHONEY Tal como vimos anteriormente, o Método de Mahoney é um método a partir do qual se podem obter recomendações base para o projecto de habitações, devendo por isso ser encaradas como elementos orientativos para a definição das características construtivas dos edifícios, ou seja, a utilização das recomendações fornecidas deverá ser precedida de uma análise dos resultados fornecidos pelo método. Introduzidos os valores da Temperatura média, média máxima e média mínima, Humidade Relativa média e Pluviosidade média referentes a Luanda nas respectivas tabelas, foram obtidos os seguintes resultados: Figura 88 - Frequência anual dos indicadores climáticos Os resultados obtidos apontam para a necessidade de se promover movimento de ar através dos espaços interiores (H1) e a dispensa de armazenamento térmico (A1). Ressalta, no entanto, o valor do indicador A3, indicador relativo à necessidade de protecção contra o frio. Analisando os dados climáticos relativos à cidade de Luanda, nomeadamente os valores de temperatura média, verifica-se que o valor obtido para o indicador A3 e a respectiva recomendação são discutíveis, uma vez que as temperaturas médias registadas encontram-se dentro ou acima das temperaturas de conforto e nunca abaixo, isto é, na zona fria. Analisando os valores mensais obtidos para o indicador climático A3, apresentados na Figura 89, verifica-se que a frequência de ocorrência anual de A3 resulta do somatório de um conjunto de graus de pertinência de baixo valor, significando tal facto que a necessidade de protecção contra o frio para cada mês é reduzida, sendo por isso o valor obtido pouco fiável face às reais necessidades. Figura 89 - Graus de pertinência mensais para cada um dos indicadores climáticos 95 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda Desta forma, e para o caso específico dos graus de pertinência dos indicadores climáticos, considerando apenas os graus de pertinência superiores a 0,5, o valor de A3 anula-se. Uma vez que os graus de pertinência 0,5 do rigor térmico Frio e Quente coincidem com o grau de pertinência 1 do rigor térmico Conforto, os valores abaixo de 0,5 estarão para lá do valor óptimo de conforto, devendo a sua consideração ser devidamente analisada e ponderada. Assim, considerando apenas os graus de pertinência cujo valor é superior a 0,5, obtêm-se novos graus de pertinência para os indicadores climáticos, estando estes apresentados na Figura 90. Figura 90 - Frequência anual rectificada dos indicadores climáticos Determinados os graus de ocorrência anuais de cada um dos indicadores e analisando as consequentes necessidades e recomendações construtivas, observa-se que o tipo de construção aconselhada para as condições climáticas de Luanda é uma construção ligeira, com baixa capacidade térmica. De acordo com o Relatório de recomendações base resultante da aplicação do Método de Mahoney (ver Anexo 1), os edifícios deverão estar orientados segundo o eixo Este-Oeste, dando ao Norte e ao Sul as fachadas com maior área. O movimento de ar através dos espaços interiores é fundamental, sendo por isso recomendado o afastamento entre os edifícios e a existência de aberturas em paredes opostas, de modo a facilitar a ventilação cruzada. As aberturas deverão ter uma área entre 40% e 80% da área de parede, sendo a orientação preferencial destas Norte e Sul, uma vez que são as fachadas que, no conjunto, recebem menos radiação solar. De forma a reduzir os efeitos da radiação solar incidente nas aberturas, estas deverão ser protegidas através de dispositivos de sombreamento. Relativamente à estrutura, esta deverá ser ligeira, com paredes e pavimentos com capacidade térmica baixa, tal como o telhado ou cobertura, que deverão ser também bem isolados. Para os telhados e/ou coberturas é vantajoso utilizar uma estrutura dupla, com os painéis exterior e interior separados por uma caixa-de-ar, preferencialmente ventilada, e isolamento térmico sobre a face exterior do painel interior, devendo tanto a superfície exterior do isolamento térmico, como a do painel exterior, serem reflectoras. 96 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 6 CONCLUSÕES A grande diversidade de climas existentes no nosso planeta inviabiliza a existência de um único modelo construtivo. A construção vernacular resulta da adaptação das habitações aos condicionalismos climáticos de cada região, a fim de se estabelecerem as melhores condições possíveis, face às adversidades do clima local. Foram apresentadas neste trabalho várias estratégias construtivas, cuja aplicação depende das características do clima, nomeadamente da temperatura, humidade relativa, das respectivas amplitudes diárias e anuais, da exposição solar e dos ventos dominantes. O clima de Luanda caracteriza-se principalmente pela sua temperatura elevada e relativamente constante, tanto durante o dia, como durante o ano, pelas humidades relativas na casa dos 80%, pela escassa precipitação e ventos dominantes com direcção WSW. Face às temperaturas e humidades relativas elevadas durante todo o ano, a ventilação natural é fundamental para a diminuição do desconforto dos espaços interiores das habitações. Assim, os edifícios deverão ser dotados de aberturas em fachadas opostas, a fim de promover a ventilação cruzada dos espaços interiores, e estar orientados de acordo com os ventos dominantes. Contudo, esta disposição esbarra com a orientação óptima no que respeita à protecção do edifício relativamente à radiação solar. Dado que, a implantação dos edifícios segundo o eixo Este-Oeste, orientando as fachadas de maior área a Norte e a Sul, constitui a solução que minimiza os ganhos resultantes da incidência da radiação solar sobre as fachadas e cobertura, será necessário chegar a uma solução de compromisso. Esta solução passará por criar barreiras exteriores que orientem o vento a penetrar no interior dos edifícios segundo a direcção SulNorte, ou, caso tal não seja possível, dotar o edifício de uma orientação intermédia. À elevada quantidade de radiação solar que atinge as fachadas Este e Oeste, acrescenta-se ainda a extrema dificuldade em proteger os vão envidraçados que nelas se situem. Resulta assim que os edifícios a implantar em Luanda deverão privilegiar as fachadas viradas a Norte e a Sul com implantação dos vão envidraçados e espaços com elevada permanência, nomeadamente salas e quartos, deixando os espaços não habitáveis, como caixas de escadas ou garagens, virados a Este e Oeste. A protecção dos vãos envidraçados é globalmente conseguida recorrendo a dispositivos de sombreamento do tipo colmeia, sendo que, os restantes tipos de dispositivos, poderão ser utilizados com maior ou menor dificuldade, dependendo de questões arquitectónicas e construtivas. Dada a constância da temperatura ao longo do dia e do ano, as paredes e coberturas deverão ser ligeiras. Construções com elevada inércia térmica resultariam em situações de desconforto durante a noite. As soluções duplas com ventilação do espaço de ar, tanto para paredes como para coberturas, constituem uma boa solução construtiva, uma vez que a camada exterior 97 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda funciona como uma protecção ao elemento interior, permitindo ainda a ventilação, e consequente arrefecimento, de ambas as camadas. A colocação de um isolamento de pequena espessura com a face exterior revestida a película de alumínio, por exemplo, irá ainda proteger o pano interior dos ganhos de calor por radiação. As coberturas deverão ser bem isoladas, dadas as quantidades de radiação solar que as atingem. 98 Construção em Climas Tropicais - Comportamento Térmico de Edifícios em Luanda 7 BIBLIOGRAFIA Cunha, M.M.F. (2005). Vãos envidraçados: Geometria de Insolação – Optimização do dimensionamento de elementos de protecção solar, Mestrado em Construção de Edifícios, FEUP, Porto. Gomes, R.J. (1967). 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(2006) Arquitectura bioclimática em Timor Leste – Caminho para a sustentabilidade, Dissertação de Mestrado, Instituto Superior Técnico. 100 ANEXOS Anexo 1 ANEXO 2 Tabela 1 - Dimensionamento dos dispositivos de sombreamento para a orientação Norte N Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 25º 15º 15º 2,58 4,48 4,48 0,2 1,5 1 25º 15º 15º 3,65 6,35 6,35 0,2 1 1,5 25º 15º 15º 0,1 0,2 0,2 1 1,5 25º 15º 15º 0,2 0,2 0,2 1,5 1 25º 15º 15º 0,1 0,2 0,2 1,5 1 25º 15º 15º 0,2 0,2 0,2 1 1,5 25º 15º 15º 2,58 4,48 4,48 0,2 0,2 1,5 1 25º 15º 15º 3,65 6,35 6,35 0,2 0,2 1 1,5 45º 40º 40º 0,2 0,2 0,2 1,5 1 45º 40º 40º 1,7 0,2 0,2 0,2 1 1,5 25º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,046 1 1,5 25º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,09 1,5 1 25º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,046 1,5 1 25º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,09 1 1,5 45º 40º 40º 0,1 0,1 0,1 0,11 1 1,5 45º 40º 40º 0,2 0,2 0,2 0,23 1,5 1 45º 40º 40º 0,1 0,1 0,1 0,11 1,5 1 45º 40º 40º 0,2 0,2 0,2 0,23 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A 0,046 0,05 C 0,046 0,05 E 1,43 1,43 G H I Tabela 2 -Dimensionamento dos dispositivos de sombreamento para a orientação Nordeste NE Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 55º 10º 13,72 0,84 6,81 0,2 1,5 1 5º 55º 10º 19,43 1,19 9,64 0,2 1 1,5 5º 55º 10º 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 55º 10º 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 55º 10º 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 55º 10º 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 55º 10º 13,72 0,84 6,81 0,2 0,2 1,5 1 5º 55º 10º 19,43 1,19 9,64 0,2 0,2 1 1,5 20º 70º 70º 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1,5 1 20º 70º 70º 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1 1,5 20º 55º 70º 4,67 0,84 0,2 1,5 1 20º 55º 70º 4,67 1,19 0,2 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 20º 70º 70º 0,1 0,1 0,036 0,036 1 1,5 20º 70º 70º 0,2 0,2 0,072 0,072 1,5 1 20º 70º 70º 0,1 0,1 0,036 0,036 1,5 1 20º 70º 70º 0,2 0,2 0,072 0,072 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 3 - Dimensionamento dos dispositivos de sombreamento para a orientação Este E Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 15º 25º 13,72 4,78 2,58 0,2 1,5 1 5º 15º 25º 19,43 6,35 3,65 0,2 1 1,5 5º 15º 25º 0,1 0,2 0,2 0,009 1 1,5 5º 15º 25º 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 15º 25º 0,1 0,2 0,2 0,009 1,5 1 5º 15º 25º 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 15º 25º 13,72 4,78 2,58 0,2 0,2 1,5 1 5º 15º 25º 19,43 6,35 3,65 0,2 0,2 1 1,5 5º 75º 75º 13,71 0,2 0,2 0,2 1,5 1 5º 75º 75º 19,43 0,2 0,2 0,2 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 75º 75º 0,1 0,1 0,009 0,026 1 1,5 5º 75º 75º 0,2 0,2 0,017 0,053 1,5 1 5º 75º 75º 0,1 0,1 0,009 0,026 1,5 1 5º 75º 75º 0,2 0,2 0,017 0,053 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 4 - Dimensionamento dos dispositivos de sombreamento para a orientação Sudeste. SE Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 5º 70º 13,72 13,72 0,44 0,2 1,5 1 5º 5º 70º 19,43 19,43 0,62 0,2 1 1,5 5º 5º 70º 0,1 0,2 0,2 0,0085 1 1,5 5º 5º 70º 0,2 0,2 0,2 0,0175 1,5 1 5º 5º 70º 0,1 0,2 0,2 0,0085 1,5 1 5º 5º 70º 0,2 0,2 0,2 0,0175 1 1,5 5º 5º 70º 13,72 13,72 0,44 0,2 0,2 1,5 1 5º 5º 70º 19,43 19,43 0,62 0,2 0,2 1 1,5 40º 70º 70º 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1,5 1 40º 70º 70º 3,3 3,3 0,2 0,2 0,2 1 1,5 40º 70º 70º 4,67 0,2 0,44 1,5 1 40º 70º 70º 3,3 0,2 0,62 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0, 008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0, 008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 40º 70º 70º 0,1 0,1 0,083 0,036 1 1,5 40º 70º 70º 0,2 0,2 0,167 0,072 1,5 1 40º 70º 70º 0,1 0,1 0,083 0,036 1,5 1 40º 70º 70º 0,2 0,2 0,167 0,072 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 5 - Dimensionamento dos dispositivos de sombreamento para a orientação Sul. S Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 60º 30º 30º 0,7 2,08 2,08 0,2 1,5 1 60º 30º 30º 0,98 2,95 2,95 0,2 1 1,5 60º 30º 30º 0,1 0,2 0,2 0,115 1 1,5 60º 30º 30º 0,2 0,2 0,2 0,115 1,5 1 60º 30º 30º 0,1 0,2 0,2 0,115 1,5 1 60º 30º 30º 0,2 0,2 0,2 0,115 1 1,5 60º 30º 30º 0,7 2,08 2,08 0,2 0,2 1,5 1 60º 30º 30º 0,98 2,95 2,95 0,2 0,2 1 1,5 60º 20º 20º 0,7 0,2 0,2 0,2 1,5 1 70º 25º 25º 0,62 0,2 0,2 0,2 1 1,5 60º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,17 1 1,5 60º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,34 1,5 1 60º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,17 1,5 1 60º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,34 1 1,5 70º 25º 25º 0,1 0,1 0,27 0,214 1 1,5 70º 25º 25º 0,2 0,2 0,55 0,429 1,5 1 70º 25º 25º 0,1 0,1 0,27 0,214 1,5 1 70º 25º 25º 0,2 0,2 0,55 0,429 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 6 - Dimensionamento dos dispositivos de sombreamento para a orientação Sudoeste. SW Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 5º 70º 13,72 13,72 0,44 0,2 1,5 1 5º 5º 70º 19,43 19,43 0,62 0,2 1 1,5 5º 5º 70º 0,1 0,2 0,2 0,0085 1 1,5 5º 5º 70º 0,2 0,2 0,2 0,0175 1,5 1 5º 5º 70º 0,1 0,2 0,2 0,0085 1,5 1 5º 5º 70º 0,2 0,2 0,2 0,0175 1 1,5 5º 5º 70º 13,72 13,72 0,44 0,2 0,2 1,5 1 5º 5º 70º 19,43 19,43 0,62 0,2 0,2 1 1,5 40º 70º 70º 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1,5 1 40º 70º 70º 3,3 3,3 0,2 0,2 0,2 1 1,5 40º 70º 70º 4,67 0,2 0,44 1,5 1 40º 70º 70º 3,3 0,2 0,62 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0, 008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0, 008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 40º 70º 70º 0,1 0,1 0,083 0,036 1 1,5 40º 70º 70º 0,2 0,2 0,167 0,072 1,5 1 40º 70º 70º 0,1 0,1 0,083 0,036 1,5 1 40º 70º 70º 0,2 0,2 0,167 0,072 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 7 - Dimensionamento dos dispositivos de sombreamento para a orientação Oeste. W Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 15º 25º 13,72 4,78 2,58 0,2 1,5 1 5º 15º 25º 6,81 6,35 3,65 0,2 1 1,5 5º 15º 25º 0,1 0,2 0,2 0,009 1 1,5 5º 15º 25º 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 15º 25º 0,1 0,2 0,2 0,009 1,5 1 5º 15º 25º 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 15º 25º 13,72 4,78 2,58 0,2 0,2 1,5 1 5º 15º 25º 6,81 6,35 3,65 0,2 0,2 1 1,5 5º 75º 75º 13,71 0,2 0,2 0,2 1,5 1 5º 75º 75º 19,43 0,2 0,2 0,2 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 75º 75º 0,1 0,1 0,009 0,026 1 1,5 5º 75º 75º 0,2 0,2 0,017 0,053 1,5 1 5º 75º 75º 0,1 0,1 0,009 0,026 1,5 1 5º 75º 75º 0,2 0,2 0,017 0,053 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 8 - Dimensionamento dos dispositivos de sombreamento para a orientação Noroeste. NW Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 55º 10º 13,72 0,84 6,81 0,2 1,5 1 5º 55º 10º 19,43 1,19 9,64 0,2 1 1,5 5º 55º 10º 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 55º 10º 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 55º 10º 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 55º 10º 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 55º 10º 13,72 0,84 6,81 0,2 0,2 1,5 1 5º 55º 10º 19,43 1,19 9,64 0,2 0,2 1 1,5 20º 70º 70º 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1,5 1 20º 70º 70º 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1 1,5 20º 55º 70º 4,67 0,84 0,2 1,5 1 20º 55º 70º 4,67 1,19 0,2 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 20º 70º 70º 0,1 0,1 0,036 0,036 1 1,5 20º 70º 70º 0,2 0,2 0,072 0,072 1,5 1 20º 70º 70º 0,1 0,1 0,036 0,036 1,5 1 20º 70º 70º 0,2 0,2 0,072 0,072 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 9 - Dimensões finais dos dispositivos de sombreamento para a orientação Norte N Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 25º 15º 15º 2,58 4,48 4,48 0,2 1,5 1 25º 15º 15º 3,65 6,35 6,35 0,2 1 1,5 25º 13,12º 15º 0,1 0,2 0,2 1 1,5 15º 15º 15º 0,2 0,2 0,2 1,5 1 25º 13,12º 15º 0,1 0,2 0,2 1,5 1 15º 15º 15º 0,2 0,2 0,2 1 1,5 25º 15º 15º 2,58 4,48 4,48 0,2 0,2 1,5 1 25º 15º 15º 3,65 6,35 6,35 0,2 0,2 1 1,5 40,1º 40º 40º 1,43 1,43 1,43 0,2 0,2 0,2 1,5 1 45º 54,8º 54,8º 1,7 1,7 1,7 0,2 0,2 0,2 1 1,5 25º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,046 1 1,5 25º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,09 1,5 1 25º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,046 1,5 1 25º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,09 1 1,5 45º 40º 40º 0,1 0,1 0,1 0,11 1 1,5 45º 40º 40º 0,2 0,2 0,2 0,23 1,5 1 45º 40º 40º 0,1 0,1 0,1 0,11 1,5 1 45º 40º 40º 0,2 0,2 0,2 0,23 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A 0,046 0,05 C 0,046 0,05 E G H I Tabela 10 - Dimensões finais dos dispositivos de sombreamento para a orientação Nordeste NE Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 55º 10º 13,72 0,84 6,81 0,2 1,5 1 5º 55º 10º 19,43 1,19 9,64 0,2 1 1,5 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 55º 10º 13,72 0,84 6,81 0,2 0,2 1,5 1 5º 55º 10º 19,43 1,19 9,64 0,2 0,2 1 1,5 14,4º 70º 70º 4,67 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1,5 1 20º 75,6º 75,6º 4,67 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1 1,5 20º 55º 70º 4,67 0,84 0,2 1,5 1 20º 55º 70º 4,67 1,19 0,2 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 20º 70º 70º 0,1 0,1 0,036 0,036 1 1,5 20º 70º 70º 0,2 0,2 0,072 0,072 1,5 1 20º 70º 70º 0,1 0,1 0,036 0,036 1,5 1 20º 70º 70º 0,2 0,2 0,072 0,072 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 11 - Dimensões finais dos dispositivos de sombreamento para a orientação Este E Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 15º 25º 13,72 4,78 2,58 0,2 1,5 1 5º 15º 25º 19,43 6,35 3,65 0,2 1 1,5 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,009 1 1,5 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,009 1,5 1 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 15º 25º 13,72 4,78 2,58 0,2 0,2 1,5 1 5º 15º 25º 19,43 6,35 3,65 0,2 0,2 1 1,5 5º 82,9º 82,9º 13,71 13,71 13,71 0,2 0,2 0,2 1,5 1 5º 86,5º 86,5º 19,43 19,43 19,43 0,2 0,2 0,2 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 75º 75º 0,1 0,1 0,009 0,026 1 1,5 5º 75º 75º 0,2 0,2 0,017 0,053 1,5 1 5º 75º 75º 0,1 0,1 0,009 0,026 1,5 1 5º 75º 75º 0,2 0,2 0,017 0,053 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 12 - Dimensões finais dos dispositivos de sombreamento para a orientação Sudeste. SE Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 5º 70º 13,72 13,72 0,44 0,2 1,5 1 5º 5º 70º 19,43 19,43 0,62 0,2 1 1,5 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,0085 1 1,5 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,0175 1,5 1 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,0085 1,5 1 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,0175 1 1,5 5º 5º 70º 13,72 13,72 0,44 0,2 0,2 1,5 1 5º 5º 70º 19,43 19,43 0,62 0,2 0,2 1 1,5 14º 70º 70º 4,67 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1,5 1 27º 70º 70º 3,3 3,3 3,3 0,2 0,2 0,2 1 1,5 14º 70º 70º 4,67 4,67 0,2 0,44 1,5 1 27º 70º 70º 3,3 3,3 0,2 0,62 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0, 008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0, 008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 40º 70º 70º 0,1 0,1 0,083 0,036 1 1,5 40º 70º 70º 0,2 0,2 0,167 0,072 1,5 1 40º 70º 70º 0,1 0,1 0,083 0,036 1,5 1 40º 70º 70º 0,2 0,2 0,167 0,072 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 13 - Dimensões finais dos dispositivos de sombreamento para a orientação Sul. S Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 60º 30º 30º 0,7 2,08 2,08 0,2 1,5 1 60º 30º 30º 0,98 2,95 2,95 0,2 1 1,5 49,1º 30º 30º 0,1 0,2 0,2 0,115 1 1,5 30º 30º 30º 0,2 0,2 0,2 0,115 1,5 1 49,1º 30º 30º 0,1 0,2 0,2 0,115 1,5 1 30º 30º 30º 0,2 0,2 0,2 0,115 1 1,5 60º 30º 30º 0,7 2,08 2,08 0,2 0,2 1,5 1 60º 30º 30º 0,98 2,95 2,95 0,2 0,2 1 1,5 60º 22,2º 22,2º 0,7 0,7 0,7 0,2 0,2 0,2 1,5 1 70º 27,3º 27,3º 0,62 0,62 0,62 0,2 0,2 0,2 1 1,5 60º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,17 1 1,5 60º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,34 1,5 1 60º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,17 1,5 1 60º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,34 1 1,5 70º 25º 25º 0,1 0,1 0,27 0,214 1 1,5 70º 25º 25º 0,2 0,2 0,55 0,429 1,5 1 70º 25º 25º 0,1 0,1 0,27 0,214 1,5 1 70º 25º 25º 0,2 0,2 0,55 0,429 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 14 - Dimensões finais dos dispositivos de sombreamento para a orientação Sudoeste. SW Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 5º 70º 13,72 13,72 0,44 0,2 1,5 1 5º 5º 70º 19,43 19,43 0,62 0,2 1 1,5 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,0085 1 1,5 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,0175 1,5 1 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,0085 1,5 1 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,0175 1 1,5 5º 5º 70º 13,72 13,72 0,44 0,2 0,2 1,5 1 5º 5º 70º 19,43 19,43 0,62 0,2 0,2 1 1,5 14º 70º 70º 4,67 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1,5 1 27º 70º 70º 3,3 3,3 3,3 0,2 0,2 0,2 1 1,5 14º 70º 70º 4,67 4,67 0,2 0,44 1,5 1 27º 70º 70º 3,3 3,3 0,2 0,62 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0, 008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0, 008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 40º 70º 70º 0,1 0,1 0,083 0,036 1 1,5 40º 70º 70º 0,2 0,2 0,167 0,072 1,5 1 40º 70º 70º 0,1 0,1 0,083 0,036 1,5 1 40º 70º 70º 0,2 0,2 0,167 0,072 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 15 - Dimensões finais dos dispositivos de sombreamento para a orientação Oeste. W Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 15º 25º 13,72 4,78 2,58 0,2 1,5 1 5º 15º 25º 19,43 6,35 3,65 0,2 1 1,5 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,009 1 1,5 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,009 1,5 1 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 15º 25º 13,72 4,78 2,58 0,2 0,2 1,5 1 5º 15º 25º 19,43 6,35 3,65 0,2 0,2 1 1,5 5º 82,9º 82,9º 13,71 13,71 13,71 0,2 0,2 0,2 1,5 1 5º 86,5º 86,5º 19,43 19,43 19,43 0,2 0,2 0,2 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 75º 75º 0,1 0,1 0,009 0,026 1 1,5 5º 75º 75º 0,2 0,2 0,017 0,053 1,5 1 5º 75º 75º 0,1 0,1 0,009 0,026 1,5 1 5º 75º 75º 0,2 0,2 0,017 0,053 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Tabela 16 - Dimensões finais dos dispositivos de sombreamento para a orientação Noroeste. NW Tipo H L α δ1 δ2 L1 L2 H1 1 1,5 5º 55º 10º 13,72 0,84 6,81 0,2 1,5 1 5º 55º 10º 19,43 1,19 9,64 0,2 1 1,5 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 2,5º 2,5º 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 5º 5º 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 5º 55º 10º 13,72 0,84 6,81 0,2 0,2 1,5 1 5º 55º 10º 19,43 1,19 9,64 0,2 0,2 1 1,5 14,4º 70º 70º 4,67 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1,5 1 20º 75,6º 75,6º 4,67 4,67 4,67 0,2 0,2 0,2 1 1,5 20º 55º 70º 4,67 0,84 0,2 1,5 1 20º 55º 70º 4,67 1,19 0,2 1 1,5 5º 3,36º 3,36º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1 1,5 5º 6,71º 6,71º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1,5 1 5º 4,76º 4,76º 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,008 1,5 1 5º 9,46º 9,46º 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,017 1 1,5 20º 70º 70º 0,1 0,1 0,036 0,036 1 1,5 20º 70º 70º 0,2 0,2 0,072 0,072 1,5 1 20º 70º 70º 0,1 0,1 0,036 0,036 1,5 1 20º 70º 70º 0,2 0,2 0,072 0,072 γ1 γ2 P P1 P2 H2 I1 I2 A C E G H I Anexo 3 Figura 1 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo A e E para a orientação Norte Figura 2 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo C para a orientação Norte Figura 3 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo G para a orientação Norte. Figura 4 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo H para a orientação Norte Figura 5 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo I para a orientação Norte Figura 6 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo A e E para a orientação Nordeste. Figura 7 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo C para a orientação Nordeste. Figura 8 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo G para a orientação Nordeste. Figura 9 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo H para a orientação Nordeste. Figura 10 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo I para a orientação Nordeste. Figura 11 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo A e E para a orientação Este. Figura 12 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo C para a orientação Este. Figura 13 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo G para a orientação Este. Figura 14 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo H para a orientação Este. Figura 15 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo I para a orientação Este. Figura 16 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo A e E para a orientação Sudeste. Figura 17 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo C para a orientação Sudeste. Figura 18 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo G para a orientação Sudeste. Figura 19 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo H para a orientação Sudeste. Figura 20 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo I para a orientação Sudeste. Figura 21 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo A e E para a orientação Sul. Figura 22 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo C para a orientação Sul. Figura 23 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo G para a orientação Sul. Figura 24 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo H para a orientação Sul. Figura 25 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo I para a orientação Sul. Figura 26 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo A e E para a orientação Sudoeste. Figura 27 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo C para a orientação Sudoeste. Figura 28 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo G para a orientação Sudoeste. Figura 29 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo H para a orientação Sudoeste. Figura 30 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo I para a orientação Sudoeste. Figura 31 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo A e E para a orientação Oeste. Figura 32 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo C para a orientação Oeste. Figura 33 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo G para a orientação Oeste. Figura 34 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo H para a orientação Oeste. Figura 35 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo I para a orientação Oeste. Figura 36 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo A e E para a orientação Noroeste. Figura 37 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo C para a orientação Noroeste. Figura 38 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo G para a orientação Noroeste. Figura 39 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo H para a orientação Noroeste. Figura 40 - Superfície de Eficiência Total característica do dispositivo tipo I para a orientação Noroeste.