o paciente renal crônico: a doença e um novo olhar do doente sobre si

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O PACIENTE RENAL CRÔNICO: A DOENÇA E UM NOVO
OLHAR DO DOENTE SOBRE SI
GEORGIA MARIA MELO FEIJÃO1
SAMARA VASCONCELOS ALVES2
JOSÉ AIRTON DE SOUSA 3
HISMÊNIA VIDAL XAVIER4
Resumo: O objetivo do presente artigo é relatar a vivência no setor de hemodiálise a partir de uma experiência
de estágio supervisionado em Psicologia Hospitalar, colocando em diálogo as alterações que estão em circulação
na vida do paciente renal crônico e os efeitos da hemodiálise no campo subjetivo do paciente renal crônico.
Trabalharei com uma proposta metodológica qualitativa de caráter bibliográfico a partir de uma reflexão
humanista-fenomenológica embasada na abordagem teórico-metodológica de Frederick Perls. Entre os
diversos aspectos conclusivos foi possível se observar a importância da atuação do psicólogo no hospital, no
setor hemodialítico, como também, compreender os diversos conflitos que permeiam a mente de um paciente
renal crônico e como este lida com o sofrimento, com a perda e a relação deste com o meio a partir do
diagnóstico da doença.
Palavras-chave: Hemodiálise. Hospital. Psicologia. Gestalt-Terapia.
INTRODUÇÃO
Trata-se de um relato experiencial de um estagiário do 10º Semestre, do Curso de
Psicologia da Faculdade Luciano Feijão, no setor de hemodiálise do Hospital Santa Casa de
Misericórdia em Sobral, no Ceará. O local atende Sobral e cidades vizinhas nos três turnos
de segunda a sábado. Em um período de agosto a outubro de 2015 acompanhei os pacientes
da sala vip, naquele setor. Supervisionados e também com o acompanhamento da preceptoria
Psicóloga. Mestre em Psicologia (UNIFOR). Especialista em Psico-oncologia e em Neuropsicol o gia
(UNICHRISTUS). Docente do curso de Psicologia da Faculdade Luciano Feijão. E-mail:
[email protected]
2 Psicóloga. Preceptora do Estágio Supervisionado em Psicologia Hospitalar na Santa Casa de Misericórdia de
Sobral. Especialista com caráter de residência na Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Escola
de Formação em Saúde da Família Visconde de Saboia (Sobral-CE). E-mail: [email protected]
3 Graduandos
do 10º Semestre do Curso de Psicologia da Faculdade Luciano Feijão. E-mail:
[email protected]
4 Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Luciano Feijão. E-mail: [email protected]
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no Departamento de Ensino, Pesquisa e Extensão (DEPE) daquela instituição, na qual
acontecem atividades desde 2004 e é a nona no Ceará. Neste espaço, pude, como psicólogo
em formação, dialogar com diversos outros saberes que compunham o setor de hemodiálise,
dentre eles, medicina, enfermagem, farmácia, fisioterapia, serviço social e nutrição.
Escolhi o setor de hemodiálise, pois entendia que era um local propício à nossa
atuação, como também, para compreender como aqueles sujeitos acometidos por uma
doença renal crônica percebem as alterações tanto físicas como psicológicas. Além de buscar
viabilizar reflexões sobre o fazer do psicólogo no hospital, exclusivamente neste setor.
Interrogar-me sobre as possibilidades da nossa competência no espaço, assim como, também
criar e desenvolver estratégias de aproximação com o sujeito do estudo e com a equipe
multidisciplinar, buscando um aprofundamento na qualidade de vida dos sujeitos com
problemas renais.
Durante o período de estágio, preocupei-me com minha aproximação do sujeito em
questão e busquei entender as percepções, as formas de conhecimento, já existentes nos
pacientes e em conjunto trabalhei possibilidades para que eles compartilhassem suas dores,
seus conflitos, suas crenças, seus valores, o modo como vivem além do enfrentamento do
tratamento emodialítico. A doença crônica traz diversas mudanças na vida do paciente.
Mudanças que acarretam em perdas, desde as fisiológicas como a função renal, até as
socioeconômicas e também as emocionais.
É sobre este assunto que vou discorrer neste artigo. Trarei, ainda, para a reflexão o
como a subjetividade consegue ser percebida e trabalhada em um campo eminentemente
médico. Como aporte teórico trabalharei a partir de um referencial
humanista
fenomenológico, embasado na abordagem teórico-metodológica de Frederick Perls a Gestalt
Terapia.
O HOSPITAL E A ENTRADA DA PSICOLOGIA NO HOSPITAL: UMA BREVE
REFLEXÃO
O final do século XVIII é o marco inicial do hospital como instrumento terapêutico.
Somente por volta de 1780 o hospital é visto como ferramenta, cuja base é trabalhar a cura
do enfermo. Antes, o hospital era, sobretudo, assistencialista, naquela época o pobre era
assistido nas dependências dessas instituições, pois como pobre, necessitava basicamente de
cuidados e além do estígma da pobreza, era visto como perigoso para a sociedade quando
este era portador de alguma doença, pois havia o medo do contágio (FOUCAULT, 1990).
Conforme o Foucault (1990), o protagonista antes do século XVIII no hospital não
era exclusivamente o doente, mas sim o pobre. Sua função era de recolher estes miseráveis,
contudo, também tinha a função de proteção, livrando os outros do perigo que eles lhes
traziam.
O hospital na época supracitada era conhecido como o lugar de finar, morrer, não
era um lugar tido como o local da cura. Foucault (1990) nos informa que este espaço era tido
como o canto para se realizar o último cuidar, visando a ao doente a salvação espiritual. As
pessoas que ali se encontravam para tratar dos doentes eram pessoais caridosos, aprendizes
e, acima de tudo, religiosos com o objetivo maior da caridade para a salvação eterna daqueles
pobres doentes.
Até o início do século XVIII, o hospital permanecia com essa forma de enxergar o
doente, na qual, até então, a função médica não esteve presente. A medicina da época era
por parte do médico, individualista. A formação da época compreendia entendimento de
textos e o transmitir de receitas, a prática médica da época não estava aberta a um saber
hospitalar e também no hospital não era permitido intervenção do saber médico
(FOUCAULT, 1990).
Foucault (1990) vem trazer que a junção dessa díade hospital/medicina se deu a partir
da anulação daquilo que era o fator negativo do hospital, ou seja, contra esse negativismo
partiu-se do princípio de que o desinfetar do ambiente hospitalar o livraria dos efeitos
nocivos.
Com a reforma hospitalar que se deu não no hospital civil, mas sim no hospital
marítimo devido às desordens econômicas e às doenças trazidas pelas pessoas que
desembarcavam e que podiam gerar uma epidemia, ainda não temos o hospital com o olhar
direcionado para a cura, mas somente uma forma de impedimento de desordens econômica
e médica (FOUCAULT, 1990).
Para o autor acima a medicalização tornou-se possível no ambiente hospitalar a partir
da disciplina, a partir desta se obteve a transformação do saber e da prática médica. A
disciplina traz como alvo e resultado a partir da sua tecnicidade a singularidade e a
individualidade dos seres.
Para Lisboa (2002), historicamente o hospital buscou adaptar-se às transformações
que emergiram durante todo o seu processo de desenvolvimento, construindo uma nova
forma de ação dentro daquela instituição, em que o médico passaria a tomar o lugar da
caridade, tornando-se o responsável principal pela organização hospitalar. Para Foucualt
(1990) aqui se dá o marco de cisão entre organização hospitalar e religião, neste segundo
momento da história do hospital que se deu no final do século XVIII e início do século XIX
até o XX.
As mudanças não param por aí no cenário hospitalar, para Graça (1996) as revoluções
científicas e técnicas trouxeram aquisições importantes no que tange à saúde. Contudo, a
bioquímica, a farmacologia, a terapêutica e a reabilitação predominaram na época, abrindo
um espaço para as tecnologias. A partir destas, a medicina se viu na necessidade de
especializar-se e com isso, os médicos rumaram cada um para sua especialização. Doenças,
órgãos, sistemas agora passaram a ser estudados e trabalhados individualmente de forma
peculiar. Era mais um passo do hospital, que agora dava lugar ao jaleco branco e às mais
distintas tecnologias. Aqui também há lugar para a desumanização, pois as novidades
tecnológicas, o empoderamento do médico, fizeram com que um espaço para cuidar de
humanos passasse a dividir o sujeito em partes, construindo um olhar individualizado sobre
o mesmo. Nascia um mito, Goldenstein (2006) traz como mito essa concepção de poderio
dos hospitais e médicos de que todas as doenças eram passíveis de cura através da tecnologia.
O autor enfatiza ainda que todo esse processo capitalista direcionado à saúde gerou uma
confiança excessiva do paciente no médico, dando-lhe mais ainda poder, afastando-o
hierarquicamente
do sujeito adoecido, assim como também daqueles que estão
multidisciplinarmente acompanhando-o naquele ambiente.
Observo, portanto, que a história do hospital é marcada por mudanças, por
transformações, mas que apesar de terem sido significativas biológica e socialmente,
deixaram uma lacuna e passaram a enxergar sob a óptica do desumano, do excluir.
Para Helito (2007) o cenário, em se tratando de desumanização, começou a mudar
nos anos 80, pois com a pressão de campanhas sanitaristas o estado sentiu a necessidade de
expansão na área da saúde e criou mais hospitais públicos, nessa época o sistema
previdenciário se fortaleceu, o acesso à saúde passou a ser apenas para quem tinha plano
previdenciário, ou para quem tinha vínculo com o programa de previdência social. Para Mello
(2008) a situação só veio mudar em 1988, quando a saúde foi instituída como direito do
cidadão e dever do estado. Nesta mesma data nasce o SUS (Sistema Único de Saúde), este
programa surge com a pretensão de cuidar da saúde do povo brasileiro sem diferenciar
gênero, raça, etc. Visando uma saúde de qualidade e elencando os princípios de integralidade,
universalidade, e equidade. Desde a sua criação, o programa SUS, segundo o Mello (2008),
atravessa dificuldades, contudo, as críticas vieram pautadas na desumanização, na falta de
originalidade e outros aspectos.
Gomes e Nations (2007) trazem que a prática desumana nas instituições hospitalares
nasce a partir da centralização na gestão, no difícil acesso aos programas, como também, o
poder centrado nas mãos do médico, a falta de organização, dentre outros.
O SUS foi uma aposta do governo que veio contribuir com a saúde do povo
brasileiro, porém, é perceptível que os eixos que a balizam não estão sendo praticados como
prega a lei, seus princípios já citados não correspondem em muitas das vezes com aquilo que
lhes condiz, havendo um descrédito por parte dos usuários. Apesar de todos os transtornos,
o programa, como dita a lei, está na constituição e é direito de todo e qualquer cidadão
brasileiro.
Apesar de serem aplicados investimentos diversos, a saúde é tida como uma das
principais problemáticas hoje no campo social. Prevenção e promoção de saúde estão sendo
trabalhadas, mas é necessário uma maior atenção no geral, para que o povo brasileiro venha
ter melhores condições de vida, quando o assunto é a saúde.
De uma forma multidisciplinar, profissionais de diversas áreas vêm se envolvendo
para trabalhar políticas públicas saudáveis, exigindo uma nova institucionalização que traz
propostas para atuações no hospital, trabalhando, portanto, com possibilidades de alavancar
a prevenção e promoção de saúde. Uma destas áreas é a Psicologia.
Para Vieira (2010) em 1960 os primeiros psicólogos começaram a oferecer sua prática
no hospital. Na época a atuação dos profissionais não era padronizada e os mesmos métodos
e práticas usados na clínica eram usados também no hospital. Gorayde (2001) nos diz que
essas práticas da clínica reproduzidas no ambiente hospitalar não surtiram efeito, pois não
trouxeram aos pacientes e nem mesmo à equipe o retorno às suas demandas.
É sabido que o sujeito internado no leito de um hospital não é o mesmo que procura
o psicólogo na sua clínica. No setting terapêutico, este já chega com uma demanda específica,
já no hospital o profissional da psicologia trabalhará um suporte para que o sujeito adoecido
possa trabalhar uma reorganização da sua vida. Para Miranda (2012) o adoecer é provocador
de desordens na vida daquele que está fora do conforto de sua casa internado em um leito
de um hospital, ainda por cima, tem seus hábitos mudados, sua identidade perdida, muitas
vezes seu nome vira número.
A figura do psicólogo no hospital surge neste momento e de forma multidisciplinar
passa a escutar e acolher o sofrer daquele sujeito. Para Miranda (2012):
Enquanto a medicina visa curar a patologia, a psicologia hospitalar buscar
ressignificar a posição do sujeito frente à doença. O trabalho da psicologia
hospitalar é de possibilitar voz a esse sujeito, fazer surgir a palavra. O instrumento
de trabalho desse profissional é a escuta e a palavra, a partir desse enfoque o
psicólogo visa minimizar o sofrimento psíquico do paciente em adoecimento
(MIRANDA, 2012. p. 1).
O psicólogo no hospital, segundo Miranda (2012), estará apto a realizar as suas
atividades nos diversos setores daquela instituição:
As atividades do psicólogo no hospital situam-se em atendimentos
psicoterapêuticos, psicoterapia de grupo, profilaxia e psicoeduca çã o,
atendimentos em ambulatórios, enfermarias e UTI, avaliação diagnóstica,
psicodiagnóstico, consultoria e interconsulta e atuação em equipe multidisciplinar
(MIRANDA, 2012. P. 1).
O setor hospitalar a que irei me ater neste trabalho é a hemodiálise. Para Cayres e
Gióia-Martins (2000) neste setor o paciente sofrerá muito mais impactos, tornando-se mais
debilitado, tanto física como psiquicamente. A doença renal crônica (DRC) provoca
bruscamente mudanças significativas na vida do sujeito.
A saúde pública mundial chama a atenção para um crescimento relevante desta
doença. No nosso país este número aumenta cada vez mais, assim como, os gastos com o
tratamento (BASTOS; BREGMAN; KIRSZTAJN, 2010).
Para Romão Jr. (2004) o que caracteriza a doença renal crônica (DRC) é a parada
lenta, diminuída e inconvertível do órgão rin. Os rins eliminam toxinas do sangue, filtrandoas, têm a função de produzir glóbulos vermelhos, regular a formação e a pressão do sangue,
além de controlar as substâncias corpóreas líquidas e químicas. A queda em processo rápido
da função dos rins gera a uremia que apresenta sinais e sintomas como: fraqueza, cefaleia,
confusão mental, coceiras, edema, hálito de amônia, náusea, diarreia, anemia, cãibras entre
outros (GRICIO; KUSUMOTA; CÂNDIDO, 2009).
Durante três vezes na semana, por demoradas 4 horas/dia, estes os pacientes são
ligados a uma máquina dialisadora na qual o sangue circula por uma bomba a partir de uma
fístula ou catéter, sendo filtrado, jogando fora do organismo as substâncias tóxicas. Estes são
os dissabores que passam a viver os portadores de insuficiência renal crônica após o
diagnóstico. É um tratamento sensível sem a previsão de um fim, contudo, torna o indivíduo
vulnerável e exposto a limitações e impactos em sua vida pessoal e social.
Para Miranda (2012) a doença renal crônica (DRC) causa alterações psicológicas
irreversíveis, portanto, a psicologia de forma multidisciplinar no setor hemodiálise irá
trabalhar intervenções que ajudarão o indivíduo a se reorganizar e encontrar o equilíbrio:
A Psicologia objetiva dar novos sentidos à pessoa com doença crônica por meio
de uma abordagem humanizada com o paciente e seus familiares. O psicólogo
hospitalar deve fornecer ao sujeito instrumentos terapêuticos para ajudá-lo a
diminuir seu sofrimento e ter uma compreensão mais ampla sobre sua
desorganização psíquica, bem como encorajá-lo a criar novas possibilidades de
enfrentamento (MIRANDA, 2012. P. 1).
Concordo com o autor quando o mesmo cita o papel do psicólogo em oferecer
instrumentos terapêuticos para que o paciente consiga, a partir deles, se reconectar com sua
vida, seus propósitos e que possa amenizar o sofrimento pelo qual vem passando.
ESTÁGIO SUPERVISIONADO
RELATO DE EXPERIÊNCIA
DE PSICOLOGIA
NA HEMODIÁLISE:
UM
Como estagiário do 10º Semestre do Curso de Psicologia da Faculdade Luciano Feijão,
estive presente de agosto a outubro de 2015 no setor de hemodiálise da Santa Casa de
Misericórdia de Sobral. O espaço é reservado aos portadores de doenças renal crônica para
a realização do processo hemodialítico.
Durante este período pude adentrar o mundo de alguns dos pacientes que três vezes
por semana se submetem ao processo de diálise. Com estes, pude trabalhar intervenções,
pude também trocar conhecimentos com a equipe que se divide de forma multidisciplinar.
Neste local enxerguei o quanto a psicologia é importante, e nas minhas duas vezes por
semana acompanhando os pacientes consegui adentrar no mundo deles e até mesmo
construir vínculos específicos e manter com eles uma relação genuína, empática e dialógica.
A partir da minha abordagem, Gestalt-Terapia, que foca na relação dialógica, pude
trabalhar com os pacientes da sala vip do setor de hemodiálise da Santa Casa de Misericórdia
de Sobral um diálogo genuíno, com este instrumento pude me aproximar mais dos pacientes
e conhecer cada um deles, quais os problemas foco, quais as dificuldades em lidar com as
perdas. Trabalhei naquele espaço com os clientes com um genuíno interesse na relação com
aquele sujeito.
Para os Gestalt-Terapeutas esta é a relação EU/TU, ou seja, enquanto me relaciono
busco um verdadeiro interesse com aquela pessoa a qual estamos mantendo interação,
respeitando, aceitando as diferenças, os contrastes da outra pessoa. Com essa experiência
pude empaticamente me colocar no lugar do outro, me deixando disponível para o contato.
(PERLS, 1977). O contato é função primordial para o ser vivo, segundo Perls (1977), pois é
onde o sujeito consegue em três estágios cognitivo, emocional e comportamental relacionar se com o meio, e deste, manter uma relação saudável ou não, caso este contato não ocorra
de forma em que percepção, aceitação, rejeição, ou assimilação lhe tragam o de forma
dinâmica os acontecimentos ou até mesmo o aparecer do novo, este contato será negativo.
Dentro do setor hemodiálise entendi que este contato na maioria dos pacientes se dá
de forma negativa, pois este contato é limitado, de maneira que o ser adoecido não consiga
discriminar as funções de contato. Para Perls (1977) as funções de contato estão ligadas aos
nossos sentidos, tato, audição, visão, olfato e paladar. O autor quer dizer, contudo, que o ser
humano é provido dessas ferramentas para atuar com compacidade para discriminar o seu
limite de contato. Os pacientes que atendi na hemodiálise, devido o sofrimento trazido pela
aceitação das diversas perdas, devido as dificuldades humanas que o adoecer e o próprio
hospital lhe suscitam, não conseguem discriminar o que lhes é saudável ou não na fronteira
de contato.
Pude, contudo, perceber as distintas complicações que assolam este sujeito
acometido pela DRC, limitando-o e isolando-o do seu mundo, da família, da sociedade, do
seu meio, impossibilitando-o a vencer suas limitações e desafios que a toda hora se
presentifica na vida desses indivíduos.
Para a Gestalt-Terapia segundo Perls (1977) o ser existe na sua totalidade, e numa
integralidade, onde mente e corpo estão em total sintonia. O autor acima chama isso de
homeostase. Em detrimento àquilo que suscita sofrer, os pacientes aos quais atendi no setor
já citado, a partir das limitações e desafios da doença, não estão conseguindo manter
equilibrada essa relação eu/campo.
Como psicólogo em formação naquela instituição busquei trabalhar intervenções
para que estes sujeitos conseguissem experienciar uma nova forma de olhar para si, se dando
conta das possibilidades que todo aquele processo oferece, o dar-se conta para Perls (1977)
é a awarennes, é onde o sujeito se conscientiza e busca força criativa de atuação para tornarse capaz e retome o equilíbrio entre si e o meio.
CONCLUSÃO
Nesta experiência pude me tornar ferramenta para somar com o ambiente hospitalar,
e compreender a estreita afinidade no cuidado com o cliente/paciente, sua família e a equipe
multiprofissional a partir do diálogo EU/TU, relação que vem como conexão para que se
possa experiênciar junto ao paciente quais os impactos causados pela insuficiência renal e
qual o olhar dele para si, mediante a complexidade e especificidade da doença.
Pude compreender a extrema valorização do aqui e agora, facilitando minha forma
de descrever o campo organismo/meio, enxergando o paciente não como um objeto, mas
sim como pessoa que é com a sua forma de sentir, de pensar, de perceber; entendendo-o nas
suas múltiplas vertentes, intrapsíquica e interpessoal, respeitando-o na sua individualidade.
O trabalho do psicólogo nos hospital se sustenta no tripé: corporeidade, presença e inclusão.
THE CRONIC RENAL PATIENT DISEASE AND A NEW
LOOK OF THE PATIENT ABOUT YOURSELF
Abstract: The purpose of this paper is to report the experience in the hemodialysis unit from a practicum
experience supervised in Health Psychology , putting in dialogue changes that are in circulation in the life of
chronic renal patients , the effects of hemodialysis in the subjective field of patient chronic renal. I w ill w ork
w ith a qualitative methodological approach of bibliographic from a humanities phenomenological grounded in
the theoretical methodological approach of Frederick Perls. Among the many conclusive aspects it w as possible
to observe the importance of the psychologist in the hospital, in the hemodialysis industry, but also understand
the various conflicts that permeate the mind of a chronic kidney patient and how it deals w ith suffering, w ith
the loss and its relationship w ith the environment from the diagnosis.
Key-w ords: Hemodialysis. Hospital. Psychology. Gestalt Therapy.
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