INFORME-NET DTA Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo Centro de Vigilância Epidemiológica - CVE MANUAL DAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS GRAYANOTOXINAS/INTOXICAÇÃO PELO MEL ________________________________________________________________________________________ 1. Descrição da doença - intoxicação causada pelo mel devido ao consumo de mel produzido com o néctar de flores das ericáceas (azálea ou Rhododendron spp.) e das lauráceas (louro-cravo, Kalmia spp e outras espécies da família). O tipo de grayanotoxinas varia conforme a espécie das plantas. A intoxicação é conhecida também por "envenenamento por rhododendron" ou por "mel bravo" ou por "grayanotoxina". A intoxicação é raramente fatal e geralmente dura não mais que 24 horas. Caracteriza-se geralmente por vertigem ou desmaio, fraqueza, sudorese, salivação, náusea e vômitos iniciando-se quase logo após a ingestão. Outros sintomas podem ocorrer como hipotensão ou choque, bradicardia, extrasístoles, taquicardia ventricular, bradicardia sinusal (pulso < 60 bpm) ritmo nodal (nodo atrioventricular), síndrome de WolffParkinson-White (excitação atrioventricular anômala) e completo bloqueio atrioventricular. Alguns casos podem exigir marca-passo temporariamente. Parestesias de extremidades, fraqueza muscular, e outros sintomas neurológicos podem ocorrer em função da junção da toxina aos canais de sódio. Convulsões ocasionais, foram também relatadas. Essa intoxicação em humanos é rara. Contudo, casos de intoxicação por mel encontram-se descritos em várias partes do mundo. Nos Estados Unidos alguns casos foram relacionados com o aumento de consumo de mel importado. Outros, devido à ingestão de mel não industrializado, consumidos como alimento natural. 2. Agente etiológico - neurotoxina encontrada no néctar de certas espécies de ericáceas (Rhododendron spp.) e lauráceas (Kalmia spp.) conhecidas como andromedotoxina, acetilandromedol e rhodotoxina (compostos de terpeno) e em mel de néctar destas plantas. 3. Ocorrência - pode ocorrer em todo o mundo. Casos graves de intoxicação por grayanotoxina estão bem documentados a partir dos anos 80, ocorridos na Turquia e na Áustria. Ericáceas são comuns na Turquia, Japão, Brasil, Estados Unidos e outras partes. Espécies das lauráceas, comuns em várias partes do mundo, e em regiões montanhosas, parecem ser as fontes mais importantes dessa toxina. Há relato de intoxicações em animais devido à ingestão dos arbustos, de flores e folhas. Não há dados sobre a ocorrência de casos no Brasil. 4. Reservatório - toxina do néctar, flores e folhas de ericáceas e lauráceas. Mel produzido a partir do néctar dessas plantas. nos casos registrados na Turquia os sintomas iniciaram-se cerca de 1 hora após o consumo de 50 g de mel. Todos os pacientes se recuperaram, em média, dentro de 24 horas. 5. Período de incubação - 6. Modo de transmissão - consumo de mel contendo terpeno. 7. Susceptibilidade e resistência - todos são suscetíveis à intoxicação. O aumento de consumo de mel tipo "natural" têm contribuído para o aumento de casos. Mel adquirido de fazendeiros com poucas colméias é de alto risco. A produção comercial de mel a partir da mistura de grandes quantidades contribui para a diluição de possíveis substâncias tóxicas. 8. Conduta médica e diagnóstico - a grayanotoxina atua ligando-se ao canal de sódio nas membranas celulares. A junção é feita pelo receptor do grupo II, localizado na região do canal de sódio que está envolvido na ativação voltagem-dependente e inativação. Estes compostos impedem a inativação; assim, células excitáveis (nervos e músculos) são mantidos em estado de despolarização, durante a qual a entrada do cálcio nas células pode ser facilitada. Esta ação é similar a exercida por alcalóides de veratrum e aconita. Todas as respostas observadas de músculos do coração e esqueléticos, nervos e sistema nervoso central são afetadas. Severa hipotensão pode ocorrer e responde à administração de fluidos e correção de bradicardia; terapia com drogas vasopressoras podem ser necessárias nos casos graves. Bradicardia sinusal e problemas de condução respondem com atropina; podendo ser necessário, contudo, o uso temporário de marca-passo. O diagnóstico é feito com base no quadro clínico e pela detecção da toxina no alimento. Exames complementares como da função cardíaca, avaliação neurológica, eletroneuromiografia, líquor e outros contribuem para a diferenciação diagnóstica que deve ser feita com outros quadros de paralisia flácida, inclusive, botulismo, síndrome de Guillain-Barré (e a variante Muller-Fisher), e outros. A história de ingestão de mel deve ser bem investigada, seja quanto a hipótese de ocorrência dessa intoxicação quanto a de botulismo por mel ou outro alimento (ver Manual de Botulismo do CVE - orientação para profissionais de saúde. In: http://www.cve.saude.sp.gov.br <Manuais>). reposição de fluidos, suporte geral, monitorização das condições vitais, ventilação artificial e correção da bradicardia (atropina) e marca-passo nos casos graves. 9. Tratamento - 10. Alimentos associados - em humanos, o consumo de mel de azáleas e louros-cravos; em animais, a ingestão das flores e folhas. A ingestão de flores e folhas representa também perigo para crianças. 11. Medidas de controle - 1) notificação de surtos - a ocorrência de um caso ou de surtos (2 ou mais casos) requer a notificação imediata às autoridades de vigilância epidemiológica municipal, regional ou central, para que se desencadeie a investigação das fontes comuns e o controle através de medidas preventivas (interdição do produto, medidas educativas, entre outras). Orientações poderão ser obtidas junto à Central de Vigilância Epidemiológica - Disque CVE, no telefone é 0800-55-5466. 2) medidas preventivas – educação dos produtores de mel; educação da população sobre os risco de consumirem mel de procedência duvidosa e sobre o risco de tais plantas. 3) medidas em surtos – investigação dos casos, interdição do produto, orientações, etc. 12. Bibliografia consultada e para saber mais sobre a doença 1. FDA/CFSAN (2003). Bad Bug Book. Grayanotoxin. URL: http://www.cfsan.fda.gov/~mow/chap44.html 2. Rhododendron poisoning (2003). URL: http://www.user.fast.net/~shenning/rhodytox.html Texto organizado pela Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, Maio de 2003.