Informativo Técnico Sandra Prudente Nogueira ([email protected]) M.V. MSc, Gerente de Comunicação Científica da Royal Canin Brasil Alterações metabólicas no paciente hospitalizado O suporte nutricional é cada vez mais reconhecido como um aspecto fundamental no manejo de pacientes hospitalizados. As doenças graves induzem alterações metabólicas únicas nos animais, sendo responsáveis por um elevado risco de desnutrição e consequentes problemas causados por este estado. O organismo apresenta respostas diferentes quando há uma nutrição inadequada em caso de doença (inanição por stress) ou em estado saudável (inanição simples). Um animal saudável em jejum utiliza como principal fonte de energia as reservas de glicogénio. Contudo, estas reservas esgotam-se rapidamente – sobretudo em carnívoros estritos como o gato – o que desencadeia a mobilização inicial de aminoácidos das reservas musculares. Após de alguns dias, dá-se uma nova alteração metabólica que leva o organismo a utilizar preferencialmente os depósitos adiposos, evitando assim os efeitos catabólicos sobre a massa muscular. Nos animais enfermos, a resposta inflamatória provoca alterações ao nível das citoquinas e das concentrações hormonais e induz uma alteração metabólica para um estado catabólico. A secreção aumentada de glucagon, catecolaminas, cortisol, hormônio do crescimento e citocinas antagonizam os efeitos da insulina e induzem hiperglicemia e degradação de proteína tecidual para fornecer substrato para a gliconeogênese. Este mecanismo perpetua a perda de massa corporal magra, refletindo-se de forma negativa nos processos de reparação tecidual, metabolismo de drogas, resposta imune e prognóstico. Devido à ausência de ingestão alimentar, a principal fonte de energia resulta de uma proteólise acelerada, que, por si só, constitui um processo de elevado consumo energético. Assim sendo, estes animais por vezes mantêm as reservas adiposas, evidenciando, no entanto, perda de tecido muscular. Pacientes em escore de condição corporal pobre, com perda das reservas nutricionais orgânicas, demonstraram maior mortalidade do que aqueles em condição nutricional ideal ou mesmo em sobrepeso. As necessidades energéticas dos pacientes enfermos são estimadas a partir da soma da energia necessária para seu metabolismo basal, atividade física voluntária e enfermidade. A taxa metabólica basal, ou necessidade energética basal, pode ser estimada de vários modos. Em kilocalorias por dia, pode-se empregar equações exponenciais [(70 x Peso Corporal(kg))0.75] que pode ser utilizada para todos os animais ou linear (30 x Peso Corporal(kg)) equação para animais que pesam entre 2 e 30 kg. De qualquer forma, a definição das necessidades calóricas do paciente é apenas um ponto de partida. Ajustes deverão ser realizados com base na reposta individual do animal à alimentação, variações de seu peso corpóreo e mudanças na doença de base. Deve-se ter em mente que o sucesso do suporte nutricional depende de monitoria constante, para assegurar que o fornecimento de calorias esteja adequadamente ajustado ao cão ou gato. A escolha correta do alimento é fundamental. Recomenda-se o uso de alimentos que apresentem ingredientes com alto valor biológico, para garantir a máxima digestibilidade (aproveitamento dos nutrientes pelo organismo do animal). Para atingir as necessidades nutricionais dos pacientes hospitalizados os alimentos devem conter: Proteína de altíssima digestibilidade, em teores mais elevados – para obtenção de energia e reparação tecidual; Maior quantidade de energia na forma de gordura – há aumento de necessidade energética. Também permite reduzir o volume de alimento a ser fornecido; Redução na quantidade de carboidratos – a glicose oriunda dos carboidratos não é adequadamente utilizada como fonte de energia em gatos e cães em estado crítico; Aminoácidos de cadeia ramificada (leucina, isoleucina e valina) – visam a redução da perda muscular devido ao catabolismo; Arginina - ciclo da uréia; produção de poliaminas; síntese do fator de relaxamento endotelial; Glutamina – substrato energético para as células de divisão rápida (mucosa intestinal, sistema imune etc), desintoxicação etc; Taurina, Selênio, Vitamina E, Vitamina C, Luteína – antioxidantes; Ácidos graxos ômega 3 – moduladores de processos inflamatórios; Fibras – redução de fibras insolúveis e/ou não fermentáveis; uso moderado de prebióticos e fibras fermentáveis; Minerais e vitaminas – Zinco, Potássio, Cloro, Sódio, Fósforo, Vitaminas do Complexo B, Vitamina A. Dietas úmidas ou secas poderão ser fornecidas. Um dos benefícios dos alimentos úmidos é que eles apresentam alta palatabilidade. Gatos e cães convalescentes podem apresentar hiporexia ou anorexia e muitas vezes oferecer somente alimento úmido ou misturar alimentos secos com úmidos pode ser uma boa alternativa para estimular a ingestão de alimentos. O suporte nutricional demonstra-se como prática importante e efetiva para auxilio no tratamento de pacientes hospitalizados. Referências Bibliográficas BRUNETTO, M. A.; CARCIOFI, A. C.; GOMES, M. O. S.; et al. Effects of the nutritional support in hospitalized dogs and cats. Journal of Veterinary Emergency and Critical Care. 20(2), 2010, p.224-231 BRUNETTO, M. A. Avaliação de suporte nutricional sobre a alta hospitalar em cães e gatos. 2006, 86 p. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária). Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2006. CHAN, D. Suporte nutricional em pacientes criticos. Veterinary Focus. Vol.16. n3, 2006. p.916. CHAN, D. Making a difference – nutritional support in critically ill patients. Veterinary Focus. Vol 23. N1. 2013. p8-13. LARSEN, J.A. Enteral nutrition and tube feeding. In: Applied Veterinary Clinical Nutrition. Wiley Blackwell, 2012.p.329-353. www.royalcanin.com.br | SAC: 0800 703 55 88