Bragantia Print ISSN 0006-8705 Table of contents Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 Basic Areas • Physical-chemical characterization of precocious dwarf clones cashew nuts and stalks in north of the Minas Gerais State, Brazil Pereira, Marlon Cristian Toledo; Correa, Hugo César Tomáz; Nietsche, Silvia; Mota, Wagner Ferreira da; Marques, Sandra Vanessa • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Gene expression in Solanaceae stigmas and styles: pathogenesis related sequences Angelo, Paula Cristina da Silva • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Effect of 6-BA on nodal explant bud sproutings of Coffea arabica cv. Mundo Novo Ramos, Luis Carlos da Silva; Almeida, Julieta Andrea Silva de • abstract in english | portuguese english Plant Breeding • text in english • pdf in • Path analysis for the yield components of seeds in wheat Silva, Simone Alves; Carvalho, Fernando Irajá Félix de; Nedel, Jorge Luís; Cruz, Pedro Jacinto; Silva, José Antônio González da; Caetano, Vanderlei da Rosa; Hartwig, Irineu; Sousa, Cássia da Silva • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Crossing rate and distance in upland rice Silva, Edson Ferreira da; Silva, Lucielio Manoel da; Montalván, Ricardo • abstract in english | portuguese english • text in english • pdf in Crop Production and Management • Weed seed bank and herbicides as selection factor Monquero, Patrícia Andréa; Christoffoleti, Pedro Jacob • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Late nitrogen application on common bean in no-tillage system Soratto, Rogério Peres; Crusciol, Carlos Alexandre Costa; Silva, Laerte Marques da; Lemos, Leandro Borges • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Paclobutrazol effect at two mango production cycles Mouco, Maria Aparecida do Carmo; Albuquerque, João Antônio Silva • abstract in english | portuguese portuguese Plant Protection • text in portuguese • pdf in • Effect of plants aqueous extracts on oviposition of the diamondback, in kale Medeiros, Cesar Augusto Manfré; Boiça Junior, Arlindo Leal; Torres, Adalci Leite • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Effect of the inherent variation in the mineral concentration of alfalfa cultivars on aphid populations Silva, Alexandre de Almeida e; Varanda, Elenice Mouro; Primavesi, Ana Cândida • abstract in english | portuguese english • text in english • pdf in • Fungicidal action of azocyclotin acaricide on comon bean anthracnose Santini, Ademir; Ito, Margarida Fumiko; Castro, Jairo Lopes de; Ito, Marcio Akira; Goto, Juliana Cristina • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Intraspecific and interspecific pre-adult competition on the neotropical region colonizer Zaprionus indianus (Diptera: Drosophilidae) under laboratory conditions Galego, Luís Gustavo da Conceição; Carareto, Claudia Marcia Aparecida • abstract in english | portuguese english • text in english • pdf in • Nymphal development of Myzus persicae (Sulzer, 1776) (Hemiptera: Aphididae) on eggplant at different temperatures Chagas Filho, Norton Rodrigues; Michelotto, Marcos Doniseti; Silva, Ricardo Adaime da; Busoli, Antonio Carlos • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Soil Fertility and Plant Nutrition • Niitrogen recovery of urea - ammonium sulphate mixtures by corn plants Villas Bôas, Roberto Lyra; Boaretto, Antonio Enedi; Godoy, Leandro José Grava de; Fernandes, Dirceu Maximino • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Seed Technology • Conservation of yellow passion fruit (Passiflora edults Sims f. flavicarpa Deg.) seeds: interference of water content and storage temperature Fonseca, Samara Camargo Lopes; Silva, Walter Rodrigues da • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Covering broccoli and parsley seeds with biodegradable films and coatings Tanada-Palmu, Patrícia Sayuri; Proença, Paula de Salles Penteado; Trani, Paulo Espíndola; Passos, Francisco Antonio; Grosso, Carlos Raimundo Ferreira • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in • Drying and hard seeds formation in velvet bean Nakagawa, João; Cavariani, Cláudio; Martins, Cibele Chalita • abstract in english | portuguese portuguese Agricultural Engineering • text in portuguese • pdf in • Automatic data acquisition system for mechanization management Silveira, Gastão Moraes da; Storino, Moises; Peche Filho, Afonso; Yanai, Kiyoshi; Bernardi, José Augusto • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Agrometeorology • Symplifying the Thornthwaite-Mather water balance Pereira, Antonio Roberto • abstract in english | portuguese portuguese • text in portuguese • pdf in Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 ÁREAS BÁSICAS Caracterização físico-química de pedúnculos e castanhas de clones de cajueiro-anão precoce nas condições do norte de Minas Gerais Physical-chemical characterization of precocious dwarf clones cashew nuts and stalks in north of the Minas Gerais State, Brazil Marlon Cristian Toledo PereiraI; Hugo César Tomáz CorreaII; Silvia NietscheI; Wagner Ferreira da MotaI; Sandra Vanessa MarquesII IDepartamento de Ciências Agrárias, Universidade Estadual de Montes Claros, Caixa Postal 91, 39440-000 Janaúba (MG). E-mail: [email protected] IIEstudantes de graduação do curso de Agronomia da Universidade Estadual de Montes Claros, Janaúba (MG) RESUMO Entre as fruteiras cultivadas, o cajueiro destaca-se no contexto socioeconômico, pelo alto valor nutritivo e comercial dos seus produtos, cuja produção e industrialização garantem expressivo fluxo de renda, além da geração de milhares de empregos. O objetivo deste trabalho foi avaliar as características físico-químicas dos pedúnculos e das castanhas de clones de cajueiro-anão precoce implantados na Região Norte de Minas Gerais. Foram analisados pedúnculos e castanhas provenientes da Unidade Experimental da Embrapa Negócios Tecnológicos, no município de Nova Porteirinha (MG). Foram utilizados os clones CCP 76, CCP 06, CCP 1001 e CCP 09, correspondendo a quatro tratamentos. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com cinco repetições de campo e quatro frutos por parcela foram avaliados. Os pedúnculos foram colhidos em setembro de 2002 e transportados em bandejas de colheita para o laboratório de Fisiologia Pós-colheita da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), situado no Campus de Janaúba (MG). Foram realizadas avaliações de características físico-químicas, submetidas à análise de variância e ao teste de Tukey. Dentre os materiais avaliados, observaram-se, nos pedúnculos do clone CCP 76, características desejáveis para a comercialização in natura, coloração laranja intenso, formato piriforme, boas características químicas e pedúnculos com firmeza adequada, possibilitando maior conservação pós-colheita. Apesar de boas características químicas, verificou-se no clone CCP 09 pedúnculos de coloração laranja pouco intenso e baixa firmeza. Pedúnculos com maior diâmetro tendem a ser menos firmes em pós-colheita. Palavras-chave: Anacardium occidentale L., pseudofrutos, clones, caracterização físicoquímica e cajueiro-anão. ABSTRACT Among the cultivated fruit trees, cashew is distinguished in social and economic context for the high nutritional and commercial value of its parts, whose production and industrialization guarantee an expressive income flow, besides generating thousands of jobs. This study aimed at evaluating physical-chemical characteristics of precocious dwarf cashew nuts and stalks from Experimental Unit of EMBRAPA Technological Business, located in Nova Porteirinha district, State of Minas Gerais. Clones CCP 76, CCP 06, and CCP 1001 e CCP 09 were utilized corresponding to the four treatments. The experiment was designed in a completelyrandomized block with five replications and four fruits per parcel. The stalks were harvested in September of 2002 and carried in harvest trays to Laboratory of Plant Physiology and Postharvest Technology of Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), situated in Campus of Janaúba-MG. Physical and Chemical characteristics were evaluated and subjected to variance analysis and Tukey test. Amongst evaluated materials, stalks of CCP 76 clone showed appropriate aspect of market purposes in nature, with deep orange coloration; pear-shaped format, good chemical features and stalks with adjusted firmness, making possible greater post-harvest conservation. Although good characteristics, the clone CCP 09 presented little intense orange coloration and low firmness. Probably the larger diameter stalk is minor firmness at post-harvest will be. Key words: Anacardium ocidentale L., pseudofruits, clones, parameters physical-chemical and dwarf cashew . 1. INTRODUÇÃO Dentre as principais fruteiras cultivadas no Brasil, destaca-se o cajueiro (Anarcadium occidentale L.), encontrado em grande parte do mundo ocidental. Sua área de ocorrência está compreendida entre as latitudes de 30º Norte e 31º Sul, sendo cultivado atualmente em 27 países. Os principais produtores de castanha são Índia, Nigéria, Brasil, Tanzânia e Indonésia, com 36,60%, 14,64%, 12,81%, 8,86% e 5,74%, respectivamente, da produção mundial (ALVES e FILGUEIRAS, 2002). A exploração do cajueiro representa uma parcela significativa para a economia do Nordeste Brasileiro, notadamente para os Estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, onde se encontram os maiores plantios (PAULA PESSOA et al., 1995). A Região Nordeste, principal produtora do Brasil, participou com 621.419 hectares da colheita de 1998, da qual 92,42% foram provenientes dos Estados anteriormente mencionados (BRASIL, 2001). O cajueiro destaca-se ainda no contexto socioeconômico pelo valor nutritivo e comercial dos seus produtos, cuja produção e industrialização garantem expressivo fluxo de renda além de geração de milhares de empregos (LIMA, 1998). Apesar da importância socioeconômica para os Estados do Nordeste, a cajucultura tem-se caracterizado pela baixa produtividade (240 kg ha-1 de castanhas), resultante do modo de formação dos pomares por sementes (BARROS e CRISÓSTOMO, 1995). Várias pesquisas foram desenvolvidas para a obtenção de genótipos de cajueiro que permitissem não só o aumento de produtividade, como também a melhoria da qualidade da castanha para a indústria e o aproveitamento do pedúnculo. Desse modo, a recuperação no campo vem sendo feita com o uso de clones, cultivados dentro das normas técnicas de produção (PARENTE et al., 1991). Entretanto, o pedúnculo também é importante, pois constitui proveitosa fonte alimentícia no Nordeste do Brasil, ou na forma "in natura", ou processada. É constituído de sais minerais, carboidratos, ácidos orgânicos e um elevado teor de vitamina C. Por apresentar excelente valor alimentar e propriedades medicinais, usadas no tratamento de eczemas, reumatismo, escorbuto e gripe (BALBACH e BOARIM, 1993), é também recomendado na dieta humana (LIMA, 1998). O mercado consumidor para pedúnculo "in natura" é crescente e exigente em frutos que apresentem alta resistência ao manuseio, formato piriforme e frutos de coloração laranja e vermelha (MOURA et al., 2001) No Brasil, o pedúnculo do cajueiro pode ainda ser aproveitado na forma de subprodutos variados como sucos, sorvetes, doces, licor, mel, geléias, cajuína, refrigerantes gaseificados, e aguardentes. Nos países importadores de frutas, a falta de conhecimento do valor nutritivo do pedúnculo tem sido o principal motivo para seu baixo consumo. Entretanto, embora o caju alcance preços elevados nos principais centros de consumo brasileiros, o pedúnculo ainda não oferece retorno econômico para a maioria dos produtores, estimando-se que somente 5% da produção seja industrialmente aproveitada (ALVES e FILGUEIRAS, 2002). As características físicas do pedúnculo são de fundamental importância para a definição de técnicas de manuseio pós-colheita, assim como para a boa aceitação do produto pelo consumidor. Com a grande variabilidade genética existente, é necessário selecionar pedúnculos que atendam às exigências da comercialização, tais como: alta resistência ao manuseio, avaliada através da textura firme, e formato piriforme, de fácil disposição nas embalagens utilizadas. Além disso, o consumidor prefere pedúnculos de cor laranja a vermelha e de tamanho grande, ou seja, dos tipos 4 ou 5 (de acordo com o número de cajus/bandeja). Esses tipos alcançam melhores preços no mercado (MOURA et al., 2001). Diante da necessidade de estudos, em especial na Região Norte mineira, pólo da fruticultura em Minas Gerais, objetivou-se com o presente trabalho avaliar as características físicas e químicas de pedúnculos e castanhas de clones de cajueiro-anão precoce. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os pedúnculos e as castanhas analisados foram provenientes de clones de cajueiro-anão precoce implantados na Unidade Experimental da Embrapa Negócios Tecnológicos, localizada no município de Nova Porteirinha (MG). Esses clones foram introduzidos do Campo Experimental da Embrapa Agroindústria Tropical, localizada no município de Pacajus (CE). A área onde os clones encontram-se implantados possui solo classificado como Latossolo arenoargiloso. O local situa-se a 15º 47' Sul e 43º 18' Oeste, com 516 m de altitude. O clima da região é semi-árido tipo AW, segundo a classificação de KOPPEN (1948). Os clones foram plantados em janeiro de 1998, no espaçamento de 7 x 7 m e irrigados por microaspersão. Foram utilizados os clones de cajueiro anão precoce CCP 06, CCP 09, CCP 76 e CCP 1001, que constituíram os tratamentos. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com cinco repetições e quatro frutos por parcela. Os pedúnculos e as castanhas foram colhidos manualmente, quando os frutos apresentaram estabilidade no diâmetro e comprimento, em setembro de 2002. Em seguida, foram transportados cuidadosamente, em bandejas de colheita, ao laboratório de Fisiologia Vegetal e Tecnologia Pós-colheita da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), situado no Campus de Janaúba (MG). Os pedúnculos e as castanhas foram lavados e identificados. Foram utilizados três frutos por parcela para realização das seguintes avaliações físicoquímicas: tamanho e formato do pedúnculo, cor, massa fresca, pH, firmeza, realizada nos pedúnculos íntegros com penetrômetro manual FT 011, com ponteira de 8 mm de diâmetro sendo as punções feitas nas porções basal (A), mediana (C) e apical (B) do pedúnculo, e a unidade expressa em Newton (N). A firmeza foi avaliada em três pontos com o intuito de identificar a região de maior sensibilidade do pedúnculo, direcionando assim o manuseio mais adequado na colheita e pós-colheita dos pedúnculos e acondicionamento mais apropriado dos cajus nas bandejas. A acidez total titulável, segundo método do INSTITUTO ADOLFO LUTZ (1985) sendo expressa na equivalência de ácido cítrico, teor de sólidos solúveis totais em ºBrix (CUNNIF, 1992) e vitamina C total, avaliada de acordo com STROHECKER e HENNING (1967) e expressa como mg de ácido ascórbico/100g de polpa. Os dados foram submetidos à análise de variância. Quando constatada a significância pelo teste F, por meio do SAEG (RIBEIRO JÚNIOR, 2001), o efeito dos tratamentos foi submetido ao teste Tukey, a 5% de probabilidade. Foi efetuado um estudo de correlação de Pearson entre as características dos frutos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pelas análises de variância, verificou-se efeito significativo dos tratamentos (clones) para todas as características avaliadas, exceto para a firmeza na parte apical (FA) do pedúnculo (Tabela 1). Com relação à firmeza, no clone CCP 09, observou-se média inferior em relação aos demais na parte basal (FB) do pedúnculo, com 5,78 N (Tabela 1). Nas avaliações da parte central (FC), notou-se a maior média ao clone CCP 76, com 16,95 N, não diferindo dos clones CCP 06 e CCP 1001. Novamente, a firmeza central do pedúnculo do clone CCP 09 foi inferior aos demais (8,42 N). A importância da firmeza está diretamente relacionada com a qualidade dos frutos. Do ponto de vista econômico, frutos mais firmes são mais resistentes ao transporte, manuseio e ataque de microrganismos (AWAD, 1993). Dessa forma, espera-se que os clones CCP 76, CCP 06 e CP 1001 tenham maior conservação pós-colheita, podendo ser transportados a longas distâncias com mais segurança. Os pedúnculos dos clones CCP 06 , CCP 09 não diferiram significativamente entre si e em relação ao diâmetro basal (DB), sendo superiores ao clone CCP 1001 (Tabela 1). Os valores médios obtidos para o diâmetro basal foram de 5,43 cm. Esses resultados foram inferiores, quando comparados aos obtidos por MOURA et al. (2001), que obtiveram médias de 5,64 cm trabalhando com os mesmos clones. ORTIZ e ARGUELLO (1985) ao desenvolverem experimento na Costa Rica com o tipo "Local" e "Trinidad", observaram menores valores de diâmetro basal para o "Local", cujos frutos vermelhos e amarelos mediam 3,52 e 4,09 cm respectivamente. Com relação ao diâmetro apical, observa-se que o clone CCP 09 é superior aos demais. Notouse tendência semelhante em relação ao diâmetro apical (DA) médio obtido no presente trabalho (4,56 cm), ao compará-lo com os observados na Costa Rica para a variedade Trinidad, ou seja, tanto os pedúnculos vermelhos como os amarelos tinham diâmetros apicais menores, ou seja, 4,06 e 3,16 cm respectivamente. O pedúnculo do clone CCP 06 obteve maior comprimento (CP) em relação aos demais com média de 9,24 cm (Tabela 1). Os pedúnculos avaliados por ORTIZ e ARGUELLO (1985), com média de comprimento em torno de 7,9 cm para a variedade Trinidad (pedúnculos vermelhos e amarelos), são, portanto, menos longos que os do clone CCP 06 e mais longos que os dos clones CCP 76, CCP 09 e CCP 1001, com 6,48 cm, 5,87 cm e 6,06 cm respectivamente (Tabela 1). PINTO et al. (1997), ao avaliarem frutos de clones cultivados em regime de sequeiro, constataram resultado semelhante para CCP 09, com 5,98 cm de comprimento, e valor superior para o clone CCP 76, com 7,32 cm de comprimento. As condições edafoclimáticas do norte de Minas com temperatura elevada, muita luminosidade e solos agricultáveis são favoráveis ao cultivo do cajueiro. Assim, tais condições associadas à prática irrigação podem ter contribuído para a grande floração e produção, e reduzindo o comprimento dos frutos, nos clones CCP 09 e CCP 76, quando comparados com os dados obtidos por PINTO et al. (1997). Dentre os clones avaliados, os pedúnculos de CCP 76 e CCP 09 são de formato piriforme, ideal para utilização nas embalagens comerciais, por motivo de melhor acomodação dos pedúnculos. Os clones CCP 06 e CCP 1001, de formato cilíndrico e maçã respectivamente, não oferecem boa disposição nas bandejas de comercialização. O clone CCP 06, com massa fresca média de 141,92 g (Tabela 1), é de padrão tipo 4 (4 cajus/bandeja), considerando que a bandeja para comercialização de caju varia de 500 a 800 g. Os clones CCP 76, CCP 09 e CCP 1001 com massa fresca média próxima de 100 g, podem ser classificados como tipos 5 e 6 (5 e 6 cajus/ bandeja), de menor valor comercial. A maior massa fresca média de pedúnculos verificada no clone CCP 06 está relacionada à característica desse clone em produzir naturalmente pedúnculos grandes. Houve sobrecarga de frutos nas plantas dos clones CCP 76 e CCP 1001, o que pode ter influenciado a redução da massa fresca dos pedúnculos. Já o clone CCP 09, provavelmente, foi beneficiado pela baixa quantidade de frutos produzidos na safra, o que proporcionou aumento na massa fresca dos pedúnculos. O mesmo comportamento foi observado quanto à característica de massa fresca da castanha, no clone CCP 06, com maior média de massa, 10,08 g, diferindo significativamente dos demais clones. No trabalho realizado por PINTO et al. (1997), observou-se massa fresca de 79,08 g e 136,58 g, respectivamente, para os clones CCP 09 e CCP 76, sendo diferentes dos estudados neste trabalho, com 109,65 g e 92,72 g (Tabela 1). Esse fato pode ser explicado por diferenças edafoclimáticas ou mesmo por tratos culturais variados. O mesmo comportamento foi notado no clone CCP 06, quanto à característica de massa fresca da castanha , de maior média de peso, ou seja, 10,08 g, diferindo significativamente dos demais clones. A coloração dos pedúnculos é importante do ponto de vista comercial. Frutos de cor que varia do laranja ao vermelho possuem melhor aceitação pelos consumidores. Observaram-se nos clones CCP 76 e CCP 09, respectivamente, colorações laranja intenso e laranja claro; no clone CCP 1001, os pedúnculos são de cor vermelha intensa, ideal para comercialização e no clone CCP 06, a coloração é amarela, de menor aceitação pelos consumidores. Com relação ao teor de sólidos solúveis totais, os clones CCP 06 e CCP 1001 não diferiram entre si, com respectivamente, 12,54 ºBrix e 12,94 ºBrix, superior ao dos clones CCP 76 e CCP 09 que expressaram 10,00 ºBrix e 10,48 ºBrix (Figura 1). Segundo SOARES et al. (1986), todos os pedúnculos obtidos nos atuais sistemas de plantio chegam a indústria com o valor médio de 10,70 ºBrix. Dessa forma, os clones CCP 06 e 1001 são superiores, quando comparados ao CCP 76 e CCP 09, que se aproximaram dos valores citados por esse autor. Quanto ao pH, o clone CCP 06 diferiu significativamente dos demais com índice de 3,92, indicando ser mais ácido (Figura 1). Os valores médios dos demais clones estão dentro da faixa de variação de 4,10 a 4,64 (MOURA, 1998) e superior aos de PRICE et al. (1975) e ORTIZ e ARGUELLO (1985), cujos valores médios foram inferiores a 4,3. A acidez total titulável do pedúnculo do clone CCP 06 foi significativamente maior à dos outros clones avaliados, com valor acima de 0,50%, confirmando os dados de menor pH do pedúnculo desse clone. No clone CCP 7, verificou-se o menor valor de acidez total titulável, ou seja, de 0,25%. A média geral de acidez total titulável foi de 0,32% (Figura 1). Tal resultado foi superior aos valores encontrados por DAMASCENO JÚNIOR e BEZERRA (2002) com média de 0,28 %, mantendo-se dentro do intervalo de 0,26% a 0,35% (MOURA, 1998). Em relação aos sólidos solúveis totais/acidez, nos pedúnculos do clone CCP 1001 notou-se o maior grau de doçura com 43,46, sendo inferior ao observado por MOURA (1998), que foi de 46,28. No clone CCP 06, apesar do maior valor de sólidos solúveis totais, com 12,94 ºBrix verificou-se menor grau de doçura, com 24,87 de ratio, em função da alta acidez, e nos clones CCP 76 e 09, respectivamente, 40,00 e 39,68 de ratio. Observou-se maior valor no clone CCP 06, em comparação aos demais tratamentos com 464,07 mg/100g de polpa, enquanto o menor valor foi proveniente do clone CCP 76, com 289,40 mg/100 g (Figura 1). Essa diferença entre os clones foi bem maior, comparada à faixa de variação verificada por MOURA (1998), de 160,34 a 251,86 mg de ácido ascórbico/100 g de polpa, para os clones CCP 06, CCP 76 e mais sete clones. O alto valor obtido no clone CCP 06 pode ser explicado pela maior dificuldade de determinar o ponto de colheita dos frutos desse clone, por apresentar coloração amarela. Possivelmente, os pedúnculos ainda não estavam totalmente maduros, sendo beneficiados com maiores teores de vitamina C. Por meio da análise de correlação (Tabela 2), foram observadas associações entre várias características. Correlações negativas foram observadas entre diâmetros basal e apical com a firmeza do pedúnculo nos três pontos avaliados, isto é, pedúnculos com maior diâmetro tendem a ser mais sensíveis na pós-colheita. Os cuidados com esses frutos devem ser redobrados, a fim de evitar injúrias mecânicas aos pedúnculos, permitindo maior vida de prateleira. O comprimento dos pedúnculos indicou graus de associação de 88% e 84% com a acidez total titulável e vitamina C respectivamente (Tabela 2). Nota-se que o maior comprimento tende a aumentar essas variáveis. A massa da castanha obteve associação de 84% com a massa fresca do pedúnculo. Assim, em geral, ao selecionar pedúnculos maiores tem-se também maior massa fresca de castanha. Observa-se que, pela associação de massa fresca da castanha com a acidez total titulável (80%) e vitamina C (74%), castanhas maiores tendem a obter pedúnculos mais ácidos e com maiores teores de vitamina C (Tabela 2). A acidez total titulável obteve grau de associação de 91% com vitamina C, pois pedúnculos mais ácidos tendem a ser mais rico em vitamina C. De acordo com COOMBE (1976), durante o crescimento, desenvolvimento e maturação de frutos ou pseudofrutos, caso específico do caju, ocorre o acúmulo de substratos orgânicos como o ácido ascórbico, conhecido como a vitamina C, além dos componentes celulares e de parede celular das castanhas. Dessa forma, quanto maior for o tamanho do dreno, ou seja, castanha e pseudofruto, maior será o teor dos substratos orgânicos acumulados (TAYS, 1991). O conhecimento da associação entre caracteres pode auxiliar muito no melhoramento e na seleção de plantas de acordo com o tipo de exploração. 4. CONCLUSÕES 1. Os pedúnculos do clone CCP 76 possuem características desejáveis para a comercialização in natura, como coloração laranja intenso, formato piriforme, boas características químicas e pedúnculos com firmeza adequada, possibilitando boa conservação pós-colheita; 2. Apesar de boas características químicas, o clone CCP 09 possui pedúnculos de coloração laranja pouco intenso e baixa firmeza; 3. Os pedúnculos do clone CCP 06 têm formato cilíndrico, o que dificulta a disposição nas bandejas, alta acidez e coloração amarela, porém elevada massa fresca, alto teor de sólidos solúveis totais e rico em vitamina C; 4. O clone CCP 1001, apesar do alto teor de sólidos solúveis totais e grau de doçura, ótima coloração (vermelho intenso), é de formato indesejável (maçã) e pequena massa fresca dos pedúnculos; 5. Pedúnculos com maior diâmetro tendem a ter menor firmeza em pós-colheita. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à EMBRAPA pelo apoio na realização deste trabalho. REFERÊNCIAS ALVES, R. 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Caracterização físico-química de cajueiro-anão precoce 169 ÁREAS BÁSICAS CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE PEDÚNCULOS E CASTANHAS DE CLONES DE CAJUEIRO-ANÃO PRECOCE NAS CONDIÇÕES DO NORTE DE MINAS GERAIS (1) MARLON CRISTIAN TOLEDO PEREIRA(2); HUGO CÉSAR TOMÁZ CORREA(3); SILVIA NIETSCHE(2); WAGNER FERREIRA DA MOTA(2); SANDRA VANESSA MARQUES (3) RESUMO Entre as fruteiras cultivadas, o cajueiro destaca-se no contexto socioeconômico, pelo alto valor nutritivo e comercial dos seus produtos, cuja produção e industrialização garantem expressivo fluxo de renda, além da geração de milhares de empregos. O objetivo deste trabalho foi avaliar as características físico-químicas dos pedúnculos e das castanhas de clones de cajueiro-anão precoce implantados na Região Norte de Minas Gerais. Foram analisados pedúnculos e castanhas provenientes da Unidade Experimental da Embrapa Negócios Tecnológicos, no município de Nova Porteirinha (MG). Foram utilizados os clones CCP 76, CCP 06, CCP 1001 e CCP 09, correspondendo a quatro tratamentos. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado com cinco repetições de campo e quatro frutos por parcela foram avaliados. Os pedúnculos foram colhidos em setembro de 2002 e transportados em bandejas de colheita para o laboratório de Fisiologia Pós-colheita da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), situado no Campus de Janaúba (MG). Foram realizadas avaliações de características físico-químicas, submetidas à análise de variância e ao teste de Tukey. Dentre os materiais avaliados, observaram-se, nos pedúnculos do clone CCP 76, características desejáveis para a comercialização in natura, coloração laranja intenso, formato piriforme, boas características químicas e pedúnculos com firmeza adequada, possibilitando maior conservação pós-colheita. Apesar de boas características químicas, verificou-se no clone CCP 09 pedúnculos de coloração laranja pouco intenso e baixa firmeza. Pedúnculos com maior diâmetro tendem a ser menos firmes em pós-colheita. Palavras-chave: Anacardium occidentale L., pseudofrutos, clones, caracterização físico-química e cajueiro-anão. ABSTRACT PHYSICAL-CHEMICAL CHARACTERIZATION OF PRECOCIOUS DWARF CLONES CASHEW NUTS AND STALKS IN NORTH OF THE MINAS GERAIS STATE, BRAZIL Among the cultivated fruit trees, cashew is distinguished in social and economic context for the high nutritional and commercial value of its parts, whose production and industrialization guarantee an expressive income flow, besides generating thousands of jobs. This study aimed at evaluating physicalchemical characteristics of precocious dwarf cashew nuts and stalks from Experimental Unit of EMBRAPA (1) Recebido para publicação em 6 de outubro de 2003 e aceito em 14 de março de 2005. (2) Departamento de Ciências Agrárias, Universidade Estadual de Montes Claros, Caixa Postal 91, 39440-000 Janaúba (MG). E-mail: [email protected]. (3) Estudantes de graduação do curso de Agronomia da Universidade Estadual de Montes Claros, Janaúba (MG). Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.169-175, 2005 170 M.C.T. Pereira et al. Technological Business, located in Nova Porteirinha district, State of Minas Gerais. Clones CCP 76, CCP 06, and CCP 1001 e CCP 09 were utilized corresponding to the four treatments. The experiment was designed in a completely-randomized block with five replications and four fruits per parcel. The stalks were harvested in September of 2002 and carried in harvest trays to Laboratory of Plant Physiology and Postharvest Technology of Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), situated in Campus of Janaúba-MG. Physical and Chemical characteristics were evaluated and subjected to variance analysis and Tukey test. Amongst evaluated materials, stalks of CCP 76 clone showed appropriate aspect of market purposes in nature, with deep orange coloration; pear-shaped format, good chemical features and stalks with adjusted firmness, making possible greater post-harvest conservation. Although good characteristics, the clone CCP 09 presented little intense orange coloration and low firmness. Probably the larger diameter stalk is minor firmness at post-harvest will be. Key words: Anacardium ocidentale L., pseudofruits, clones, parameters physical-chemical and dwarf cashew . 1. INTRODUÇÃO Dentre as principais fruteiras cultivadas no Brasil, destaca-se o cajueiro (Anarcadium occidentale L.), encontrado em grande parte do mundo ocidental. Sua área de ocorrência está compreendida entre as latitudes de 30° Norte e 31° Sul, sendo cultivado atualmente em 27 países. Os principais produtores de castanha são Índia, Nigéria, Brasil, Tanzânia e Indonésia, com 36,60%, 14,64%, 12,81%, 8,86% e 5,74%, respectivamente, da produção mundial (ALVES e F I L G U E I R A S , 2002). A exploração do cajueiro representa uma parcela significativa para a economia do Nordeste Brasileiro, notadamente para os Estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, onde se encontram os maiores plantios (PAULA PESSOA et al., 1995). A Região Nordeste, principal produtora do Brasil, participou com 621.419 hectares da colheita de 1998, da qual 92,42% foram provenientes dos Estados anteriormente mencionados (BRASIL, 2001). O cajueiro destaca-se ainda no contexto socioeconômico pelo valor nutritivo e comercial dos seus produtos, cuja produção e industrialização garantem expressivo fluxo de renda além de geração de milhares de empregos (LIMA, 1998). Apesar da importância socioeconômica para os Estados do Nordeste, a cajucultura tem-se caracterizado pela baixa produtividade (240 kg ha-1 de castanhas), resultante do modo de formação dos pomares por sementes (BARROS e CRISÓSTOMO, 1995). Várias pesquisas foram desenvolvidas para a obtenção de genótipos de cajueiro que permitissem não só o aumento de produtividade, como também a melhoria da qualidade da castanha para a indústria e o aproveitamento do pedúnculo. Desse modo, a recuperação no campo vem sendo feita com o uso de clones, cultivados dentro das normas técnicas de produção (PARENTE et al., 1991). Entretanto, o pedúnculo também é importante, pois constitui proveitosa fonte alimentícia no Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.169-175, 2005 Nordeste do Brasil, ou na forma “in natura”, ou processada. É constituído de sais minerais, carboidratos, ácidos orgânicos e um elevado teor de vitamina C. Por apresentar excelente valor alimentar e propriedades medicinais, usadas no tratamento de eczemas, reumatismo, escorbuto e gripe (B ALBACH e B OARIM , 1993), é também recomendado na dieta humana (LIMA, 1998). O mercado consumidor para pedúnculo “in natura” é crescente e exigente em frutos que apresentem alta resistência ao manuseio, formato piriforme e frutos de coloração laranja e vermelha (MOURA et al., 2001) No Brasil, o pedúnculo do cajueiro pode ainda ser aproveitado na forma de subprodutos variados como sucos, sorvetes, doces, licor, mel, geléias, cajuína, refrigerantes gaseificados, e aguardentes. Nos países importadores de frutas, a falta de conhecimento do valor nutritivo do pedúnculo tem sido o principal motivo para seu baixo consumo. Entretanto, embora o caju alcance preços elevados nos principais centros de consumo brasileiros, o pedúnculo ainda não oferece retorno econômico para a maioria dos produtores, estimando-se que somente 5% da produção seja industrialmente aproveitada (ALVES e FILGUEIRAS, 2002). As características físicas do pedúnculo são de fundamental importância para a definição de técnicas de manuseio pós-colheita, assim como para a boa aceitação do produto pelo consumidor. Com a grande variabilidade genética existente, é necessário selecionar pedúnculos que atendam às exigências da comercialização, tais como: alta resistência ao manuseio, avaliada através da textura firme, e formato piriforme, de fácil disposição nas embalagens utilizadas. Além disso, o consumidor prefere pedúnculos de cor laranja a vermelha e de tamanho grande, ou seja, dos tipos 4 ou 5 (de acordo com o número de cajus/bandeja). Esses tipos alcançam melhores preços no mercado (MOURA et al., 2001). Caracterização físico-química de cajueiro-anão precoce Diante da necessidade de estudos, em especial na Região Norte mineira, pólo da fruticultura em Minas Gerais, objetivou-se com o presente trabalho avaliar as características físicas e químicas de pedúnculos e castanhas de clones de cajueiro-anão precoce. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os pedúnculos e as castanhas analisados foram provenientes de clones de cajueiro-anão precoce implantados na Unidade Experimental da Embrapa Negócios Tecnológicos, localizada no município de Nova Porteirinha (MG). Esses clones foram introduzidos do Campo Experimental da Embrapa Agroindústria Tropical, localizada no município de Pacajus (CE). A área onde os clones encontram-se implantados possui solo classificado como Latossolo areno-argiloso. O local situa-se a 15° 47' Sul e 43° 18' Oeste, com 516 m de altitude. O clima da região é semi-árido tipo AW, segundo a classificação de KOPPEN (1948). Os clones foram plantados em janeiro de 1998, no espaçamento de 7 x 7 m e irrigados por microaspersão. Foram utilizados os clones de cajueiro anão precoce CCP 06, CCP 09, CCP 76 e CCP 1001, que constituíram os tratamentos. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com cinco repetições e quatro frutos por parcela. Os pedúnculos e as castanhas foram colhidos manualmente, quando os frutos apresentaram estabilidade no diâmetro e comprimento, em setembro de 2002. Em seguida, foram transportados cuidadosamente, em bandejas de colheita, ao laboratório de Fisiologia Vegetal e Tecnologia Póscolheita da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), situado no Campus de Janaúba (MG). Os pedúnculos e as castanhas foram lavados e identificados. Foram utilizados três frutos por parcela para realização das seguintes avaliações físico-químicas: tamanho e formato do pedúnculo, cor, massa fresca, pH, firmeza, realizada nos pedúnculos íntegros com penetrômetro manual FT 011, com ponteira de 8 mm de diâmetro sendo as punções feitas nas porções basal (A), mediana (C) e apical (B) do pedúnculo, e a unidade expressa em Newton (N). A firmeza foi avaliada em três pontos com o intuito de identificar a região de maior sensibilidade do pedúnculo, direcionando assim o manuseio mais adequado na colheita e pós-colheita dos pedúnculos e acondicionamento mais apropriado dos cajus nas bandejas. 171 A acidez total titulável, segundo método do I NSTITUTO A DOLFO L UTZ (1985) sendo expressa na equivalência de ácido cítrico, teor de sólidos solúveis totais em oBrix (C UNNIF, 1992) e vitamina C total, avaliada de acordo com S TROHECKER e H ENNING (1967) e expressa como mg de ácido ascórbico/100g de polpa. Os dados foram submetidos à análise de variância. Quando constatada a significância pelo teste F, por meio do SAEG (RIBEIRO JÚNIOR, 2001), o efeito dos tratamentos foi submetido ao teste Tukey, a 5% de probabilidade. Foi efetuado um estudo de correlação de Pearson entre as características dos frutos. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Pelas análises de variância, verificou-se efeito significativo dos tratamentos (clones) para todas as características avaliadas, exceto para a firmeza na parte apical (FA) do pedúnculo (Tabela 1). Com relação à firmeza, no clone CCP 09, observou-se média inferior em relação aos demais na parte basal (FB) do pedúnculo, com 5,78 N (Tabela 1). Nas avaliações da parte central (FC), notou-se a maior média ao clone CCP 76, com 16,95 N, não diferindo dos clones CCP 06 e CCP 1001. Novamente, a firmeza central do pedúnculo do clone CCP 09 foi inferior aos demais (8,42 N). A importância da firmeza está diretamente relacionada com a qualidade dos frutos. Do ponto de vista econômico, frutos mais firmes são mais resistentes ao transporte, manuseio e ataque de microrganismos (A WAD, 1993). Dessa forma, esperase que os clones CCP 76, CCP 06 e CP 1001 tenham maior conservação pós–colheita, podendo ser transportados a longas distâncias com mais segurança. Os pedúnculos dos clones CCP 06 , CCP 09 não diferiram significativamente entre si e em relação ao diâmetro basal (DB), sendo superiores ao clone CCP 1001 (Tabela 1). Os valores médios obtidos para o diâmetro basal foram de 5,43 cm. Esses resultados foram inferiores, quando comparados aos obtidos por MOURA et al. (2001), que obtiveram médias de 5,64 cm trabalhando com os mesmos clones. ORTIZ e ARGUELLO (1985) ao desenvolverem experimento na Costa Rica com o tipo “Local” e “Trinidad”, observaram menores valores de diâmetro basal para o “Local”, cujos frutos vermelhos e amarelos mediam 3,52 e 4,09 cm respectivamente. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.169-175, 2005 172 M.C.T. Pereira et al. Tabela 1. Firmeza basal (FB), firmeza apical (FA), firmeza central (FC) expressas em Newton, diâmetro basal (DB), diâmetro apical (DA), comprimento (CP), e massa fresca do pedúnculo (PP), e massa fresca da castanha (PC), cor e formato do pedúnculo dos clones de cajueiro-anão precoce, produzidos no pomar da Embrapa Negócios Tecnológicos, em Nova Porteirinha (MG) Clones FB FA FC DA N DA CP PP cm PC Coloração do Fruto Formato g CCP76 17,34a 17,93a 16,95a 5,42 ab 4,44 b 6,48 b 92,72bc 7,47b laranja intenso piriforme CCP06 13,81a 13,32a 14,01ab 5,50 a 4,50 b 9,24 a 141,92 a 10,08a amarela cilíndrico CCP1001 15,28a 17,64a 15,48a 4,97 b 4,19 b 6,06 b 80,57c 6,28 c vermelha maçã 5,78 b 13,42a 8,42b 5,80 a 5,11 a 5,87 b 109,60 b 7,39bc laranja claro piriforme CCP 09 Média 13,05 15,57 13,71 5,43 4,56 6,91 106,19 7,80 - - CV (%) 30,98 27,41 30,63 5,12 5,31 5,58 10,54 8,16 - - Médias nas colunas seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente, pelo teste Tukey a 5 % de probabilidade. Com relação ao diâmetro apical, observa-se que o clone CCP 09 é superior aos demais. Notou-se tendência semelhante em relação ao diâmetro apical (DA) médio obtido no presente trabalho (4,56 cm), ao compará-lo com os observados na Costa Rica para a variedade Trinidad, ou seja, tanto os pedúnculos vermelhos como os amarelos tinham diâmetros apicais menores, ou seja, 4,06 e 3,16 cm respectivamente. O pedúnculo do clone CCP 06 obteve maior comprimento (CP) em relação aos demais com média de 9,24 cm (Tabela 1). Os pedúnculos avaliados por ORTIZ e A RGUELLO (1985), com média de comprimento em torno de 7,9 cm para a variedade Trinidad (pedúnculos vermelhos e amarelos), são, portanto, menos longos que os do clone CCP 06 e mais longos que os dos clones CCP 76, CCP 09 e CCP 1001, com 6,48 cm, 5,87 cm e 6,06 cm respectivamente (Tabela 1). PINTO et al. (1997), ao avaliarem frutos de clones cultivados em regime de sequeiro, constataram resultado semelhante para CCP 09, com 5,98 cm de comprimento, e valor superior para o clone CCP 76, com 7,32 cm de comprimento. As condições edafoclimáticas do norte de Minas com temperatura elevada, muita luminosidade e solos agricultáveis são favoráveis ao cultivo do cajueiro. Assim, tais condições associadas à prática irrigação podem ter contribuído para a grande floração e produção, e reduzindo o comprimento dos frutos, nos clones CCP 09 e CCP 76, quando comparados com os dados obtidos por PINTO et al. (1997). Dentre os clones avaliados, os pedúnculos de CCP 76 e CCP 09 são de formato piriforme, ideal para utilização nas embalagens comerciais, por motivo de melhor acomodação dos pedúnculos. Os clones CCP 06 e CCP 1001, de formato cilíndrico e maçã Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.169-175, 2005 respectivamente, não oferecem boa disposição nas bandejas de comercialização. O clone CCP 06, com massa fresca média de 141,92 g (Tabela 1), é de padrão tipo 4 (4 cajus/ bandeja), considerando que a bandeja para comercialização de caju varia de 500 a 800 g. Os clones CCP 76, CCP 09 e CCP 1001 com massa fresca média próxima de 100 g, podem ser classificados como tipos 5 e 6 (5 e 6 cajus/ bandeja), de menor valor comercial. A maior massa fresca média de pedúnculos verificada no clone CCP 06 está relacionada à característica desse clone em produzir naturalmente pedúnculos grandes. Houve sobrecarga de frutos nas plantas dos clones CCP 76 e CCP 1001, o que pode ter influenciado a redução da massa fresca dos pedúnculos. Já o clone CCP 09, provavelmente, foi beneficiado pela baixa quantidade de frutos produzidos na safra, o que proporcionou aumento na massa fresca dos pedúnculos. O mesmo comportamento foi observado quanto à característica de massa fresca da castanha, no clone CCP 06, com maior média de massa, 10,08 g, diferindo significativamente dos demais clones. No trabalho realizado por PINTO et al. (1997), observou-se massa fresca de 79,08 g e 136,58 g, respectivamente, para os clones CCP 09 e CCP 76, sendo diferentes dos estudados neste trabalho, com 109,65 g e 92,72 g (Tabela 1). Esse fato pode ser explicado por diferenças edafoclimáticas ou mesmo por tratos culturais variados. O mesmo comportamento foi notado no clone CCP 06, quanto à característica de massa fresca da castanha , de maior média de peso, ou seja, 10,08 g, diferindo significativamente dos demais clones. 173 Caracterização físico-química de cajueiro-anão precoce A coloração dos pedúnculos é importante do ponto de vista comercial. Frutos de cor que varia do laranja ao vermelho possuem melhor aceitação pelos consumidores. Observaram-se nos clones CCP 76 e CCP 09, respectivamente, colorações laranja intenso e laranja claro; no clone CCP 1001, os pedúnculos são de cor vermelha intensa, ideal para comercialização e no clone CCP 06, a coloração é amarela, de menor aceitação pelos consumidores. Com relação ao teor de sólidos solúveis totais, os clones CCP 06 e CCP 1001 não diferiram entre si, com respectivamente, 12,54 °Brix e 12,94 °Brix, superior ao dos clones CCP 76 e CCP 09 que expressaram 10,00 °Brix e 10,48 °Brix (Figura 1). Segundo S O A R E S et al. (1986), todos os pedúnculos obtidos nos atuais sistemas de plantio chegam a indústria com o valor médio de 10,70 °Brix. Dessa forma, os clones CCP 06 e 1001 são superiores, quando comparados ao CCP 76 e CCP 09, que se aproximaram dos valores citados por esse autor. Quanto ao pH, o clone CCP 06 diferiu significativamente dos demais com índice de 3,92, indicando ser mais ácido (Figura 1). Os valores médios 14 a dos demais clones estão dentro da faixa de variação de 4,10 a 4,64 (M OURA, 1998) e superior aos de P RICE et al. (1975) e O RTIZ e A RGUELLO (1985), cujos valores médios foram inferiores a 4,3. A acidez total titulável do pedúnculo do clone CCP 06 foi significativamente maior à dos outros clones avaliados, com valor acima de 0,50%, confirmando os dados de menor pH do pedúnculo desse clone. No clone CCP 7, verificou-se o menor valor de acidez total titulável, ou seja, de 0,25%. A média geral de acidez total titulável foi de 0,32% (Figura 1). Tal resultado foi superior aos valores encontrados por D AMASCENO JÚNIOR e B EZERRA (2002) com média de 0,28 %, mantendo-se dentro do intervalo de 0,26% a 0,35% (MOURA , 1998). Em relação aos sólidos solúveis totais/acidez, nos pedúnculos do clone CCP 1001 notou-se o maior grau de doçura com 43,46, sendo inferior ao observado por MOURA (1998), que foi de 46,28. No clone CCP 06, apesar do maior valor de sólidos solúveis totais, com 12,94 °Brix verificou-se menor grau de doçura, com 24,87 de ratio, em função da alta acidez, e nos clones CCP 76 e 09, respectivamente, 40,00 e 39,68 de ratio. a 5 12 b b 4,6 a a a 4,2 8 b pH SST (°Brix) 10 6 3,8 4 3,4 2 3 0 CCP76 CCP06 CCP 1001 CCP 09 CCP 76 Clones de Cajueiro Anão Precoce CCP 09 a a 450 0,4 b c bc 0,2 Vit. C (mg/100g) 0,5 ATT(%) CCP1001 500 0,6 0,3 CCP06 Clones de Cajueiro Anão Precoce 400 b 350 bc 300 c 250 0,1 200 0 CCP 76 CCP 06 CCP 1001 CCP 09 Clones de cajueiro anão precoce CCP 76 CCP 06 CCP 1001 CCP 09 Clones de Cajueiro Anão Precoce Figura 1. Valores médios de sólidos solúveis totais (oBrix), pH, acidez total titulável (ATT) e vitamina C para os pedúnculos de clones de cajueiro-anão precoce (CCP 76, CCP 06, CCP 1001 e CCP 03) nas condições do norte de Minas Gerais. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.169-175, 2005 174 M.C.T. Pereira et al. Observou-se maior valor no clone CCP 06, em comparação aos demais tratamentos com 464,07 mg/ 100g de polpa, enquanto o menor valor foi proveniente do clone CCP 76, com 289,40 mg/100 g (Figura 1). Essa diferença entre os clones foi bem maior, comparada à faixa de variação verificada por M OURA (1998), de 160,34 a 251,86 mg de ácido ascórbico/100 g de polpa, para os clones CCP 06, CCP 76 e mais sete clones. O alto valor obtido no clone CCP 06 pode ser explicado pela maior dificuldade de determinar o ponto de colheita dos frutos desse clone, por apresentar coloração amarela. Possivelmente, os pedúnculos ainda não estavam totalmente maduros, sendo beneficiados com maiores teores de vitamina C. Nota-se que o maior comprimento tende a aumentar essas variáveis. A massa da castanha obteve associação de 84% com a massa fresca do pedúnculo. Assim, em geral, ao selecionar pedúnculos maiores tem-se também maior massa fresca de castanha. Por meio da análise de correlação (Tabela 2), foram observadas associações entre várias características. Correlações negativas foram observadas entre diâmetros basal e apical com a firmeza do pedúnculo nos três pontos avaliados, isto é, pedúnculos com maior diâmetro tendem a ser mais sensíveis na pós-colheita. Os cuidados com esses frutos devem ser redobrados, a fim de evitar injúrias mecânicas aos pedúnculos, permitindo maior vida de prateleira. De acordo com COOMBE (1976), durante o crescimento, desenvolvimento e maturação de frutos ou pseudofrutos, caso específico do caju, ocorre o acúmulo de substratos orgânicos como o ácido ascórbico, conhecido como a vitamina C, além dos componentes celulares e de parede celular das castanhas. Dessa forma, quanto maior for o tamanho do dreno, ou seja, castanha e pseudofruto, maior será o teor dos substratos orgânicos acumulados (T AYS , 1991). O conhecimento da associação entre caracteres pode auxiliar muito no melhoramento e na seleção de plantas de acordo com o tipo de exploração. O comprimento dos pedúnculos indicou graus de associação de 88% e 84% com a acidez total titulável e vitamina C respectivamente (Tabela 2). Observa-se que, pela associação de massa fresca da castanha com a acidez total titulável (80%) e vitamina C (74%), castanhas maiores tendem a obter pedúnculos mais ácidos e com maiores teores de vitamina C (Tabela 2). A acidez total titulável obteve grau de associação de 91% com vitamina C, pois pedúnculos mais ácidos tendem a ser mais rico em vitamina C. Tabela 2. Coeficientes de correlações fenotípicas entre doze caracteres precoce nas condições do norte de Minas Gerais (1) avaliados em “frutos” dos clones de cajueiro-anão Caracteres DB DA CP FB FA FC PC PP SST pH VC ATT DB 1,00 0,83 0,17 -0,47 -0,36 -0,51 0,38 0,61 -0,35 0,11 0,03 -0,01 DA - 1,00 -0,12 -0,76 -0,49 -0,70 0,14 0,41 -0,35 0,36 -0,13 -0,17 CP - - 1,00 0,12 -0,26 0,06 0,86 0,82 0,37 -0,82 0,84 0,88 FB - - - 1,00 0,67 0,81 -0,03 -0,22 0,12 -0,30 0,52 0,10 FA - - - - 1,00 0,82 -0,28 -0,42 -0,07 0,19 -0,26 -0,20 FC - - - - - 1,00 -0,10 -,027 -0,01 -0,21 -0,00 0,05 PC - - - - - - 1,00 0,84 0,13 -0,77 0,74 0,80 PP - - - - - - - 1,00 0,17 -0,57 0,68 0,73 SST - - - - - - - - 1,00 -0,53 0,60 0,54 PH - - - - - - - - - 1,00 -0,84 -0,94 VC - - - - - - - - - - 1,00 0,91 ATT - - - - - - - - - - - 1,00 ( 1 ) DB: diâmetro basal; DA: diâmetro apical; CP: comprimento; FB: firmeza na parte basal; FA: firmeza na parte apical; FC: firmeza na parte central; PC: massa fresca da castanha; PP: massa fresca do pedúnculo; SST: teor de sólidos solúveis totais; pH: potencial de hidrogênio; VC: vitamina C(mg de ácido ascórbico/100 g de polpa), ATT: acidez total titulável. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.169-175, 2005 Caracterização físico-química de cajueiro-anão precoce 4. CONCLUSÕES 1. Os pedúnculos do clone CCP 76 possuem características desejáveis para a comercialização in natura, como coloração laranja intenso, formato piriforme, boas características químicas e pedúnculos com firmeza adequada, possibilitando boa conservação pós-colheita; 2. Apesar de boas características químicas, o clone CCP 09 possui pedúnculos de coloração laranja pouco intenso e baixa firmeza; 3. Os pedúnculos do clone CCP 06 têm formato cilíndrico, o que dificulta a disposição nas bandejas, alta acidez e coloração amarela, porém elevada massa fresca, alto teor de sólidos solúveis totais e rico em vitamina C; 4. O clone CCP 1001, apesar do alto teor de sólidos solúveis totais e grau de doçura, ótima coloração (vermelho intenso), é de formato indesejável (maçã) e pequena massa fresca dos pedúnculos; 5. Pedúnculos com maior diâmetro tendem a ter menor firmeza em pós-colheita. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à EMBRAPA pelo apoio na realização deste trabalho. REFERÊNCIAS ALVES, R. E.; FILGUEIRAS, H. A. C. Caju pós-colheita. Brasília: Embrapa, 2002. 36p. (Frutas do Brasil, Informação Tecnológica, 2) AWAD, M. Fisiologia pós-colheita de frutos. São Paulo: Nobel, 1993. p.93-101. BALBACH, A.; BOARIM, D. As frutas na medicina natural. 1.ed. Itaquaquecetuba, São Paulo: Editora Missionária, 1993, 436p. BARROS, L.M.; CRISÓSTOMO, J.R. Melhoramento genético do cajueiro. In: ARAÚJO, J.P.P.; SILVA,V.V. Cajucultura: modernas técnicas de produção. Fortaleza: EMBRAPA-CNPAT, 1995. p.73-93. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção agrícola municipal. Disponível em: htpp://sidra.ibge.gov.br. Acesso em 5 mar., 2001. COOMBE, B. G. The development of fleshy fruits. Annual Review of Plant Physiology, Califórnia, v.27, p.507-528, 1976. CUNNIF, P. 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Nas plantas com flores completas, como aquelas da família Solanaceae, células meristemáticas na camada mais externa, dão origem às sépalas e aquelas na segunda camada originam as pétalas; na terceira camada, as células tornam-se estames e aquelas na quarta e mais interna camada dão origem aos carpelos (ovários, estiletes e estigmas). O surgimento desses órgãos florais é relativamente recente na história evolutiva das plantas e demandou o desenvolvimento de padrões de expressão tecido-específicos. Um desses padrões específicos, em flores de Solanaceae, inclui a expressão de genes relacionados com os processos de defesa, cuja atividade é induzida por infecção com patógenos ou por ferimentos nos órgãos vegetativos da planta, mas que são constitutivamente expressos nas flores sadias, onde os transcritos se acumulam seguindo padrões vinculados ao desenvolvimento. Neste trabalho, são revistas e compiladas as informações publicadas sobre os genes relacionados com as reações de defesa, denominados Sp41, PR10a, SK2 e sobre uma adenosina-metiltransferase, que também pode estar relacionada com a reação aos patógenos, e que seguem esse modelo de expressão. Algumas das hipóteses existentes para explicar este modelo também são apresentadas. Palavras-chave: florescimento, Sp41, PR10a, SK2, metiltransferase. ABSTRACT Flowering is a fundamental process in plant development. Flower evocation is the transition from the vegetative to the reproductive phase, when the specialization of apical meristems takes place. In plants, such as the Solanaceae, which present complete flowers, the meristematic cells in the most external first series bring out the sepals and those cells in the second series turn to be the petals; in the third series the cells become stamens and the cells in the innermost series give origin to carpels (ovaries, styles and stigmas). Floral organs have shown up recently in evolution and this event demanded the development of tissue-specific patterns for gene expression. Indeed, some of the pathogenesis related genes from Solanaceae, induced by infection or wounding in vegetative organs, show flower-specific patterns of transcription, with constitutive expression and the occurrence of temporal profiles of expression controlled by development being detected in healthy floral tissues. PR10a, SK2, Sp41 pathogenesis related genes and an adenosine:methyltransferase, possibly related to pathogenesis as well, are genes that follow the described tissue-specific patterns and are reviewed here. Hypothesis proposed to demonstrate the meanings of these mechanisms of gene expression are also presented. Key-words: flowering, Sp41, PR10a, SK2, methyltransferase. 1. INTRODUÇÃO O florescimento é uma mudança fundamental no desenvolvimento das plantas. A evocação do florescimento é a transição entre a fase vegetativa e a reprodutiva, durante a qual ocorre a especialização dos meristemas apicais. Esses tecidos meristemáticos promovem a emergência de quatro camadas concêntricas de primórdios de órgãos florais, antes que sua atividade cesse. Mutações em genes homeóticos permitiram o reconhecimento de sua atuação na determinação da identidade dos meristemas florais. Esses genes codificam fatores de transcrição, os quais se expressam em regiões específicas dos meristemas. Na evocação floral, os fatores de transcrição homeóticos interagem entre si e com outros genes também relacionados com o processo de florescimento, em uma "cascata" de reações que resulta no surgimento de flores. Nas plantas de flores completas, células primordiais na camada mais externa dão origem às sépalas, aquelas na segunda camada originam as pétalas, na terceira camada as células tornam-se estames e aquelas na quarta e mais interna camada dão origem aos carpelos (BERNIER, 1988). Dois ou mais carpelos podem ser fundidos em uma estrutura única, denominada pistilo. Observa-se nos pistilos uma superfície especializada para receber o pólen, denominada estigma. Estigma e ovário são conectados por meio da estrutura denominada estilete (ESAU, 1981). A porção central do estilete denomina-se tecido transmissor, e é envolvida pelo parênquima cortical e pela epiderme (KANDASAMY e KRISTEN, 1987). Na família Solanaceae, o estigma é classificado como úmido. Estigmas úmidos são aqueles nos quais pode ser observada uma secreção superficial característica. Tal secreção, ou exsudato, é produzida pelas células da zona secretória do estigma e/ou pelas células do tecido transmissor do estilete, imediatamente subjacente (CRESTI et al., 1986; KANDASAMY e KRISTEN, 1987; LI et al., 1994). A secreção preenche os espaços intercelulares do tecido transmissor, da mesma maneira que o faz no estigma, e é altamente enriquecida em carboidratos, especialmente sob a forma de glicoproteínas, formando uma matriz extracelular (CRESTI et al., 1986; BACIC et al., 1988). Em plantas com arquitetura floral primitiva, os carpelos são compostos por estruturas semelhantes a folhas, dobradas longitudinalmente e margens fundidas. Essas margens são cobertas por tricomas e alguns deles protundem para formar uma "crista estigmática", à qual os grãos de pólen aderem para germinar (BAILEY e SWAMY, 1951). O pistilo teria evoluído, provavelmente, dessas estruturas semelhantes a folhas e, portanto, os tecidos especializados dos estigmas/estiletes (papilas estigmáticas, zona secretória, tecido transmissor do estilete) parecem ter tido origem em estruturas muito mais simples. Essa especialização e a diferenciação bioquímica, relativamente recentes, de células e tecidos são conseqüências da modulação órgão-específica da expressão gênica, entre outros fatores. Assim, a aquisição da forma atual observada nos estigmas/estiletes demandou o desenvolvimento de padrões de expressão órgãoespecíficos. A análise estrutural e do padrão de expressão é importante para o entendimento da função dos genes (GOLDMAN et al., 1994). O estudo da relação entre a diferenciação das flores e os padrões tecido-específicos de expressão gênica pode, por sua vez, contribuir para a compreensão das funções exercidas por células, tecidos e órgãos relativamente "recém-diferenciados". A expressão, nas flores, em níveis altos, de "genes de defesa" (aqueles que codificam proteínas que fazem parte das famílias denominadas PR - "pathogenesis related"), de maneira independente de indução por infecção com patógenos ou por ferimentos infligidos à planta, ocorre em Solanaceae e teria sido assegurada através do desenvolvimento de mecanismos reguladores, porque a função reprodutiva exercida pelos órgãos florais e, mais especificamente, pelos estigmas/estiletes, ter-se-ia tornado, ao longo do processo evolutivo, essencial para as plantas (MILLIGAN e GASSER, 1995). Foi observado um conjunto de sete clones de cDNA correspondentes a genes expressos nas flores de tomate, de alto grau de similaridade com seqüências PR previamente descritas, cuja transcrição ocorria em outros órgãos da planta. Os transcritos (sinais da expressão dos genes até a etapa do RNA mensageiro) verificados em tecidos vegetativos seriam induzidos pela presença de fatores de patogenicidade ou por ferimentos, enquanto seus homólogos nos estigmas/estiletes e outros órgãos florais seriam expressos em níveis constitutivos altos ou de acordo com padrões controlados ao longo do desenvolvimento (MILLIGAN e GASSER, 1995). Apesar de alta similaridade da região estrutural, o que é natural em membros de uma mesma família de genes, aqueles verificados nas folhas seriam expressos a partir da indução por infecção (patogênese) ou ferimentos, enquanto os elementos reguladores da transcrição (promotor e cis-elementos adjacentes, que são seqüências curtas de nucleotídeos, conservadas evolutivamente e encontradas, com redundância, em contextos similares, nas regiões de promoção de transcrição) dos genes que codificam as proteínas da mesma família detectadas nas flores, garantiriam sua expressão tecidoespecífica, e em níveis altos, nos tecidos florais sadios. A hipótese construída para explicar a evolução desse sistema admitiu que o desenvolvimento independente de seqüências regulatórias que permitissem o funcionamento independente dos dois conjuntos de genes - genes expressos nos tecidos vegetativos e genes expressos nas flores - tão relacionados estruturalmente seria improvável. A explicação mais plausível seria a ocorrência de duplicação gênica e posterior divergência entre as seqüências expressas em folhas e flores (MILLIGAN e GASSER, 1995). A regulação fina da expressão gênica - ajuste ao contexto ontogênico ou à ocorrência de estresses bióticos - nesses sistemas estaria, então, vinculada à presença de fatores de transcrição tecido-específicos. Alguns dos sistemas de expressão descritos seguem esse mesmo modelo de expressão gênica (Figura 1). 2. PR-10a, UMA PROTEÍNA PR EXPRESSA NO ESTIGMA DAS FLORES DE BATATA Fusões entre a região reguladora de um gene denominado PR-10a da batata e a região estrutural do gene "repórter" que codifica para a β-glucuronidase (GUS) foram reintroduzidas em plantas dessa mesma espécie. A atividade GUS, detectada por coloração azul proveniente da ação daquela enzima sobre um substrato específico, revelou que o acúmulo dos transcritos correspondentes a PR-10a seria induzido em órgãos vegetativos por ferimentos e pela infecção com patógenos, especialmente, o fungo Phytophtora infestans (CONSTABEL e BRISSON, 1995). A proteína PR-10a foi detectada por imuno-reação, seguindo o mesmo padrão de transcrição pós-indução. Nas flores da batata, no entanto, independentemente de indução por infecção, ocorreu um padrão temporal de acúmulo da proteína, modulado pelo desenvolvimento. As concentrações de proteína PR-10a nas flores sadias aumentaram gradativamente durante o desenvolvimento, atingindo um pico em flores completamente abertas, quando foi detectada em quantidade equivalente àquela encontrada nos tubérculos de batata, após a indução por um ativador (ácido araquidônico) de reações de defesa (CONSTABEL e BRISSON, 1995). Os resultados dos experimentos, citados anteriormente, realizados com o gene repórter GUS sob controle da região reguladora de PR-10a, foram utilizados, também, para analisar em detalhes, por meio de preparações histológicas das flores sadias, o padrão espacial de transcrição do gene. A atividade da β-glucuronidase foi detectada somente nos estigmas, concentrada na região das papilas estigmáticas e mais difusa na zona secretória do estigma, subjacente. Nenhuma atividade foi detectada nos tecidos vasculares ou nas células dos estiletes (CONSTABEL e BRISSON, 1995). Nos tubérculos de batata, durante as reações de defesa, a indução da transcrição de PR-10a é mediada pela ligação, aos cis-elementos adjacentes ao promotor do gene, de um complexo protéico que inclui um componente denominado p24 (DESVAUX et al., 2000). Portanto, p24 é parte de um conjunto de fatores de transcrição. É possível que existam conjuntos de fatores tecido-específicos que garantam a ocorrência de transcrição de PR-10a em nível alto nos estigmas de flores sadias. Talvez alguns desses fatores sejam expressos constitutivamente em flores, a partir da evocação floral. O padrão temporal da expressão, independente da infecção por patógenos, seria produzido pelo acúmulo gradual de células com a identidade floral definida em conseqüência da atividade de genes homeóticos durante a morfogênese e no posterior crescimento dos órgãos florais, neste caso de PR-10a, mais especificamente, durante a morfogênese e o crescimento dos estigmas. Uma seqüência parcial de cDNA, estruturalmente similar à proteína p24, foi isolada de uma biblioteca de cDNAs de carpelos de tomate (resultado não publicado, seqüência registrada sob o n.º AI488224, no banco de seqüências do NCBI, no endereço eletrônico http://www.ncbi.nlm.nih.gov). A p24 poderia ser um fator de transcrição específico de flores. A atividade catalisada por algumas das proteínas PR ainda não foi efetivamente demonstrada. Uma atividade provável para proteínas da família PR-10 é de ribonuclease (ZHOU et al., 2002). 3. SK2: ENDOQUITINASE DOS PISTILOS DE BATATA Uma proteína com atividade de endoquitinase, também classificada como PR, foi purificada de pistilos de flores maduras de batata e denominada SK2. Essa proteína constituiria 5% da fração protéica solúvel dos pistilos daquela espécie, sendo similar a outras quitinases da batata e do fumo, de Arabidopsis e da aveia. A atividade catalítica da enzima purificada de batata foi testada e demonstrada. Por imunoensaio, proteínas com os mesmos epitopos foram identificadas em quantidades muito menores nas raízes primárias e nas folhas, provavelmente devido à reação cruzada dos anticorpos com outros membros da família das quitinases expressos nesses órgãos. Em flores, a reação in situ com os mesmos anticorpos indicou a presença de espécies reativas apenas na matriz extracelular do tecido transmissor e, em menor intensidade, na epiderme do ovário. O acúmulo da proteína em flores não foi induzido por estresse (WEMMER et al., 1994). Sondas constituídas de oligonucleotídeos sintéticos correpondentes a todas as combinações possíveis, ou pelo menos às mais prováveis, de códons para uma parte da proteína SK2 foram utilizadas para o "screening" de uma biblioteca de cDNAs de pistilos de batata. Transcritos com 1.050 nucleotídeos, similares aos cDNAs SK2, foram encontrados, em hibridações do tipo "northern blot", apenas nos pistilos, indicando ser a transcrição desse gene também restrita aos órgãos reprodutivos femininos (WEMMER et al., 1994). Uma vez que quitinas (homopolímeros de (1,4)-β-acetilglicosaminas) não são observadas em plantas, sendo, porém, constituintes comuns das paredes celulares de fungos e do exoesqueleto dos insetos, seria mais provável que essa enzima do estilete estivesse envolvida nas reações de defesa contra patógenos. No entanto, o transcrito e a proteína enzimaticamente ativa são detectados em grande quantidade nas flores sadias. A existência de associação entre a quitinase e os tubos polínicos, durante sua germinação através do tecido transmissor do estilete, não pôde ser demonstrada, embora tenha sido inicialmente proposta (WEMMER et al., 1994). Por outro lado, unidades isoladas de acetilglicosamina são encontradas nos pontos de inserção dos glicosídeos em algumas glicoproteínas. O reconhecimento e a mobilização dessas porções apoprotéicas, nos estigmas/estiletes, poderiam estar relacionados com os mecanismos de inibição ou de estímulo à germinação. 4. Sp41: ENDOGLICOSIDASE DO TECIDO TRANSMISSOR DO ESTILETE, NO FUMO A seqüência de Sp41, que seria a proteína presente em maior quantidade no estilete do fumo, tem similaridade com (1,3)-β-glicosidases, proteínas PR que catalisam a hidrólise das ligações β-(1,3) entre monômeros de glicose. Sp41 foi, por imuno-reação, quase exclusivamente localizada na matriz extracelular do tecido transmissor e, em quantidade 500 vezes menor, em folhas de plantas não infectadas. Sp41 seria uma proteína altamente glicosilada nos estiletes e glicosilada em grau menor nas folhas, e a atividade hidrolítica da forma protéica encontrada na matriz extracelular do tecido transmissor foi demonstrada in vitro. Mais especificamente, neste caso, por se tratar de endoglicosidase, a capacidade de hidrolisar ligações internas entre monômeros de glicose em um polímero (a laminarina) mantido por ligações β-(1,3) foi comprovada (LOTAN et al., 1989; ORI et al., 1990). A proteína purificada dos estiletes do fumo foi seqüenciada. Sondas de DNA, sintetizadas para conter combinações de códons capazes de gerar a mesma seqüência de aminoácidos de uma parte da proteína, foram utilizadas para o "screening" de uma biblioteca de cDNAs. Dois grupos de clones, com 1.390 e 1.427 nucleotídeos, com similaridade de 94% entre si, foram isolados. Os transcritos correspondentes possuíam padrão de expressão temporal vinculado ao desenvolvimento do estilete. Não se verificou sinal de ocorrência de transcrição em botões florais recém-diferenciados. Os transcritos começaram a ser detectados em botões diferenciados imaturos; o acúmulo de transcritos atingiu um pico com a aproximação da antese (abertura das flores) e em flores polinizadas a expressão continuou alta, até a instalação do processo de senescência dos tecidos da flor, que ocorre após a fertilização. Resultados coerentes com o modelo proposto por MILLIGAN e GASSER (1995) podem ser observados também no sistema Sp41: os transcritos induzidos em folhas por infecção com o vírus do mosaico do tabaco não foram notados no estilete, e quando o ativador das reações de defesa, tunicamicina, foi aplicado ao pistilo, somente a forma pistilar de Sp41 foi expressa e nenhuma forma de glicosidase específica de folhas ocorreu (Ori et al., 1990). Um clone de DNA genômico correspondente a uma das seqüências de cDNA para Sp41 foi isolado e analisado. A fusão das regiões regulatórias com o gene repórter GUS confirmou o padrão de expressão tecido-específico verificado por imunodetecção da proteína. Um "motivo" para interação com o fator de transcrição homeótico Agamous foi identificado na posição -300 da região regulatória do gene para Sp41. Uma série de experimentos de expressão da região estrutural de Sp41, em orientação "antisense", sob o controle do promotor 35S (promotor do vírus do mosaico da couve-flor, que promove transcrição constitutiva de genes em plantas), com o objetivo de eliminar a expressão do gene, não teria provocado alteração morfológica ou fisiológica nas plantas transformadas (SESSA e FLUHr, 1995). 5. OUTRO GENE. O MESMO MODELO? Recentemente, identificou-se um clone de cDNA para uma adenosina-metiltransferase, expressa exclusivamente no pistilo do tabaco, com um padrão temporal de transcrição modulado pelo desenvolvimento (ANGELO et al., 1999 e 2001). Um dos possíveis substratos para a metilação seria o ácido salicílico. Estando envolvida com mecanismos de defesa, o modelo de regulação sugerido para os genes descritos acima estaria sendo reproduzido para a metil-transferase. O produto da reação, o metil-salicilato, estaria implicado, como um mensageiro volátil, na ativação inicial das reações de defesa (SHULAEV et al., 1997; SESKAR et al., 1998; Ross et al., 1999; ARIMURA et al., 2000; OZAWA et al., 2000). O metil-jasmonato também poderia ser o produto da reação de metilação, neste caso, provavelmente, evocando, também, os mecanismos de morfogênese das flores, em inflorescências de uma mesma planta ou em plantas vizinhas, contribuindo para a sincronização do processo de evocação floral (ZENG et al., 1999; OZAWA et al., 2000; SEO et al., 2001). Uma metiltransferase que atua comprovadamente sobre o ácido jasmônico, registrada sob o código 2.1.1.141, junto à "International Union of Pure and Applied Chemistry" (IUPAC), foi purificada de Arabidopsis thaliana (SEO et al., 2001). 6. QUESTÕES INTERESSANTES Estaria, então, a proteína Sp41 comprometida somente com as vias metabólicas vinculadas à patogênese (SESSA e FLUHR, 1995), embora a ocorrência de um padrão de expressão vinculado ao desenvolvimento tenha sido demonstrada em flores sadias (ORI Et al., 1990)? As glicosidases encontradas na matriz extracelular do tecido transmissor do estilete do fumo, espécie que não apresenta sistema ativo de auto-incompatibilidade, não devem interferir na germinação de tubos polínicos da própria espécie, cuja parede é constituída, principalmente, de calose, um (1,3)-β-glicosídeo. Eventualmente, notamse anéis de arabinana, recobertos por celulose e pectina (BRETT e WALDRON, 1990; LI et al., 1994). Essa estrutura permite o trânsito passivo de proteínas pequenas (JACKSON e KAMBOJ, 1986; WU et al., 1995). Seria necessária, então, a ação catalisada pela Sp41 ser para dificultar o crescimento dos tubos polínicos de gametófitos incongruentes (como, por exemplo, os grãos de pólen de outras espécies que podem ser considerados "passivamente incompatíveis" - ASCHER, 1986)? A ausência de Sp41, um polipeptídeo que representa mais de 20% do total de proteínas solúveis encontradas nos estiletes do fumo e que tem atividade endoglicosidase específica sobre polímeros de (1,3)-β-glicosídeo (ORI et al., 1990; SESSA e FLUHR, 1995), poderia resultar em quebra de barreira à germinação de pólen incongruente? Essa hipótese ainda não foi testada. Existem, no tecido transmissor do estilete e no ovário, mecanismos de direcionamento e suporte ao crescimento do tubo polínico (CHEUNG et al., 1993, 1995a,b; JENSEN et al., 1983). Se esses mecanismos de suporte forem desencadeados apenas na interação compatível (MULCAHY e MULCAHY, 1986), a lentidão das etapas de alongamento (ASCHER, 1986) ou de reforço da parede dos tubos polínicos incongruentes (LI et al., 1994) poderia gerar oportunidade para a ação da endoglicosidase Sp41 e de outras enzimas líticas? Esse fato poderia impedir que a interação do pistilo com grãos de pólen "passivamente incompatíveis" ativasse, "inutilmente", o mecanismo de degeneração de sinérgides (MULCAHY e MULCAHY, 1986) ou provocasse danos aos sacos embrionários, reduzindo a eficiência reprodutiva das plantas? 7 - ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES Existe outro ponto de vista sobre a expressão em níveis constitutivos altos de genes relacionados com processos de reação aos ferimentos e ao ataque de patógenos em flores sadias: as alterações morfogenéticas que ocorrem durante o crescimento e desenvolvimento das plantas poderiam requerer a ruptura de aglomerados de células ou tecidos vegetais previamente estabelecidos (NEALE et al., 1990). A lise inicial dos tecidos poderia ativar mais genes que codificam proteínas com atividade lítica, reconhecidas como PR, desde que os fragmentos de tecidos atuassem como fitoalexinas (EULGEM et al., 1999; Klarzynski et al., 2000). Esse tipo de atividade lítica ocorreria durante o surgimento dos órgãos da flor, na evocação floral; durante a germinação de tubos polínicos através dos estiletes (NEALE et al., 1990) e da mesma forma, durante a germinação de sementes ou lançamento de ramos laterais (HIRSINGER et al., 1999). Seqüências relacionadas com a auto-incompatibilidade (CLARKE e NEWBIGIN, 1993; Mccubbin e Kao, 1999; Charlesworth, 2000), com a megagametogênese ou com a senescência da flor depois da fertilização não estão diretamente vinculadas ao funcionamento do pistilo durante o processo de fertilização compatível, que é o foco principal deste trabalho, e não foram aqui incluídas. Mais especificamente, sobre interações entre pólen e pistilo podem ser consultadas as seguintes referências: CORNISH et al. (1988); GIRANTON et al. (1999); PALANIVELU e PREUSS (2000) e ROULSTON et al. (2000). AGRADECIMENTOS Aos Pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental, Vicente Haroldo de Figueiredo Moraes e Larissa Alexandra Cardoso Moraes pelas sugestões. À Maria Perpetua B. Pereira pela revisão da escrita. À Prof.ª Dr.ª Maria Helena de Souza Goldman (FFCL USP Ribeirão Preto) pela oportunidade de trabalhar com um assunto tão interessante quanto o florescimento. Ao Prof. Dr. Paulo Paes de Andrade (UFPE) pelo incentivo. À FAPESP pelo apoio financeiro durante o primeiro ano do Curso de Doutorado. REFERÊNCIAS ANGELO, P.C.S.; GOLDMAN, G.H.; GOLDMAN, M.H.S. A novel methionine:salicylic acid methyltransferase exclusively expressed in tobacco pistils. In: ENCONTRO LATINOAMERICANO DE BIOTECNOLOGIA VEGETAL, 4., Goiânia, 2001. REDBIO 2001 Programa e Resumos... Goiânia: CEGRAF-FUNAPE-HAGAPRINT GRÁFICA, 2001. p.166. ANGELO, P.C.S.; TERENZI, M.F.; MEGLHIORATTI, F.A.; GOLDMAN, G.H.; GOLDMAN, M.H.S. A novel gene preferentially expressed in pistils of Nicotiana tabacum is identified. 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Recebido para publicação em 19 de janeiro de 2004 e aceito em 14 de março de 2005 (1) Parte da Tese de Doutorado da autora apresentada à USP/Ribeirão Preto, em 2001. 177 Expressão gênica nos estigmas e estiletes da família Solanaceae Artigo de Revisão EXPRESSÃO GÊNICA NOS ESTIGMAS E ESTILETES DE PLANTAS DA FAMÍLIA SOLANACEAE: SEQÜÊNCIAS RELACIONADAS COM A PATOGÊNESE (1) PAULA CRISTINA DA SILVA ANGELO (2) RESUMO O florescimento é uma mudança fundamental no desenvolvimento das plantas. A evocação do florescimento é a transição entre a fase vegetativa e a reprodutiva, durante a qual ocorre a especialização dos meristemas apicais. Nas plantas com flores completas, como aquelas da família Solanaceae, células meristemáticas na camada mais externa, dão origem às sépalas e aquelas na segunda camada originam as pétalas; na terceira camada, as células tornam-se estames e aquelas na quarta e mais interna camada dão origem aos carpelos (ovários, estiletes e estigmas). O surgimento desses órgãos florais é relativamente recente na história evolutiva das plantas e demandou o desenvolvimento de padrões de expressão tecidoespecíficos. Um desses padrões específicos, em flores de Solanaceae, inclui a expressão de genes relacionados com os processos de defesa, cuja atividade é induzida por infecção com patógenos ou por ferimentos nos órgãos vegetativos da planta, mas que são constitutivamente expressos nas flores sadias, onde os transcritos se acumulam seguindo padrões vinculados ao desenvolvimento. Neste trabalho, são revistas e compiladas as informações publicadas sobre os genes relacionados com as reações de defesa, denominados Sp41, PR10a, SK2 e sobre uma adenosina-metiltransferase, que também pode estar relacionada com a reação aos patógenos, e que seguem esse modelo de expressão. Algumas das hipóteses existentes para explicar este modelo também são apresentadas. Palavras-chave: florescimento, Sp41, PR10a, SK2, metiltransferase. ABSTRACT GENE EXPRESSION IN SOLANACEAE STIGMAS AND STYLES: PATHOGENESIS RELATED SEQUENCES Flowering is a fundamental process in plant development. Flower evocation is the transition from the vegetative to the reproductive phase, when the specialization of apical meristems takes place. In plants, such as the Solanaceae, which present complete flowers, the meristematic cells in the most external first series bring out the sepals and those cells in the second series turn to be the petals; in the third series the cells become stamens and the cells in the innermost series give origin to carpels (ovaries, styles and stigmas). Floral organs have shown up recently in evolution and this event demanded the development of tissue-specific patterns for gene expression. Indeed, some of the pathogenesis related genes from Solanaceae, induced by infection or wounding in vegetative organs, show flower-specific patterns of transcription, with constitutive expression and the occurrence of temporal profiles of expression controlled by development being detected in healthy floral tissues. PR10a, SK2, Sp41 pathogenesis related genes and an adenosine:methyltransferase, possibly related to pathogenesis as well, are genes that follow the described tissue-specific patterns and are reviewed here. Hypothesis proposed to demonstrate the meanings of these mechanisms of gene expression are also presented. Key-words: flowering, Sp41, PR10a, SK2, methyltransferase. (1) Parte da Tese de Doutorado da autora apresentada à USP/Ribeirão Preto, em 2001. Recebido para publicação em 19 de janeiro de 2004 e aceito em 14 de março de 2005. ( 2) Embrapa Amazônia Ocidental, Rodovia AM 010 - km 29, Zona Rural, Caixa Postal 319, 69011-970 Manaus (AM). E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.177-184, 2005 178 P.C.S. Ângelo 1. INTRODUÇÃO O florescimento é uma mudança fundamental no desenvolvimento das plantas. A evocação do florescimento é a transição entre a fase vegetativa e a reprodutiva, durante a qual ocorre a especialização dos meristemas apicais. Esses tecidos meristemáticos promovem a emergência de quatro camadas concêntricas de primórdios de órgãos florais, antes que sua atividade cesse. Mutações em genes homeóticos permitiram o reconhecimento de sua atuação na determinação da identidade dos meristemas florais. Esses genes codificam fatores de transcrição, os quais se expressam em regiões específicas dos meristemas. Na evocação floral, os fatores de transcrição homeóticos interagem entre si e com outros genes também relacionados com o processo de florescimento, em uma “cascata” de reações que resulta no surgimento de flores. Nas plantas de flores completas, células primordiais na camada mais externa dão origem às sépalas, aquelas na segunda camada originam as pétalas, na terceira camada as células tornam-se estames e aquelas na quarta e mais interna camada dão origem aos carpelos (BERNIER, 1988). Dois ou mais carpelos podem ser fundidos em uma estrutura única, denominada pistilo. Observa-se nos pistilos uma superfície especializada para receber o pólen, denominada estigma. Estigma e ovário são conectados por meio da estrutura denominada estilete (E SAU , 1981). A porção central do estilete denominase tecido transmissor, e é envolvida pelo parênquima cortical e pela epiderme (K ANDASAMY e K RISTEN , 1987). Na família Solanaceae, o estigma é classificado como úmido. Estigmas úmidos são aqueles nos quais pode ser observada uma secreção superficial característica. Tal secreção, ou exsudato, é produzida pelas células da zona secretória do estigma e/ou pelas células do tecido transmissor do estilete, imediatamente subjacente (C RESTI et al., 1986; KANDASAMY e K RISTEN, 1987; L I et al., 1994). A secreção preenche os espaços intercelulares do tecido transmissor, da mesma maneira que o faz no estigma, e é altamente enriquecida em carboidratos, especialmente sob a forma de glicoproteínas, formando uma matriz extracelular (C RESTI et al., 1986; BACIC et al., 1988). Em plantas com arquitetura floral primitiva, os carpelos são compostos por estruturas semelhantes a folhas, dobradas longitudinalmente e margens fundidas. Essas margens são cobertas por tricomas e alguns deles protundem para formar uma “crista estigmática”, à qual os grãos de pólen aderem para germinar (B AILEY e S WAMY , 1951). O pistilo teria evoluído, provavelmente, dessas estruturas semelhantes a folhas e, portanto, os tecidos Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.177-184, 2005 especializados dos estigmas/estiletes (papilas estigmáticas, zona secretória, tecido transmissor do estilete) parecem ter tido origem em estruturas muito mais simples. Essa especialização e a diferenciação bioquímica, relativamente recentes, de células e tecidos são conseqüências da modulação órgãoespecífica da expressão gênica, entre outros fatores. Assim, a aquisição da forma atual observada nos estigmas/estiletes demandou o desenvolvimento de padrões de expressão órgão-específicos. A análise estrutural e do padrão de expressão é importante para o entendimento da função dos genes (GOLDMAN et al., 1994). O estudo da relação entre a diferenciação das flores e os padrões tecido-específicos de expressão gênica pode, por sua vez, contribuir para a compreensão das funções exercidas por células, tecidos e órgãos relativamente “recém-diferenciados”. A expressão, nas flores, em níveis altos, de “genes de defesa” (aqueles que codificam proteínas que fazem parte das famílias denominadas PR “pathogenesis related”), de maneira independente de indução por infecção com patógenos ou por ferimentos infligidos à planta, ocorre em Solanaceae e teria sido assegurada através do desenvolvimento de mecanismos reguladores, porque a função reprodutiva exercida pelos órgãos florais e, mais especificamente, pelos estigmas/estiletes, ter-se-ia tornado, ao longo do processo evolutivo, essencial para as plantas (M I L L I G A N e G A S S E R , 1995). Foi observado um conjunto de sete clones de cDNA correspondentes a genes expressos nas flores de tomate, de alto grau de similaridade com seqüências PR previamente descritas, cuja transcrição ocorria em outros órgãos da planta. Os transcritos (sinais da expressão dos genes até a etapa do RNA mensageiro) verificados em tecidos vegetativos seriam induzidos pela presença de fatores de patogenicidade ou por ferimentos, enquanto seus homólogos nos estigmas/ estiletes e outros órgãos florais seriam expressos em níveis constitutivos altos ou de acordo com padrões controlados ao longo do desenvolvimento (MILLIGAN e GASSER, 1995). Apesar de alta similaridade da região estrutural, o que é natural em membros de uma mesma família de genes, aqueles verificados nas folhas seriam expressos a partir da indução por infecção (patogênese) ou ferimentos, enquanto os elementos reguladores da transcrição (promotor e cis-elementos adjacentes, que são seqüências curtas de nucleotídeos, conservadas evolutivamente e encontradas, com redundância, em contextos similares, nas regiões de promoção de transcrição) dos genes que codificam as proteínas da mesma família detectadas nas flores, garantiriam sua expressão tecido-específica, e em níveis altos, nos tecidos florais sadios. Expressão gênica nos estigmas e estiletes da família Solanaceae A hipótese construída para explicar a evolução desse sistema admitiu que o desenvolvimento independente de seqüências regulatórias que permitissem o funcionamento independente dos dois conjuntos de genes - genes expressos nos tecidos vegetativos e genes expressos nas flores - tão relacionados estruturalmente seria improvável. A explicação mais plausível seria a ocorrência de duplicação gênica e posterior divergência entre as seqüências expressas em folhas e flores (M ILLIGAN e GASSER , 1995). A regulação fina da expressão gênica ajuste ao contexto ontogênico ou à ocorrência de estresses bióticos - nesses sistemas estaria, então, vinculada à presença de fatores de transcrição tecidoespecíficos. Alguns dos sistemas de expressão descritos seguem esse mesmo modelo de expressão gênica (Figura 1). ÓRGÃOS VEGETATIVOS SADIOS FITOALEXINAS + FATORES DE TRANSCRIÇÃO TECIDO-ESPECÍFICOS FLORES SADIAS FATORES DE TRANSCRIÇÃO HOMEÓTICOS + OUTROS FATORES DE TRANSCRIÇÃO TECIDO-ESPECÍFICOS TRANSCRITO A atividade GUS, detectada por coloração azul proveniente da ação daquela enzima sobre um substrato específico, revelou que o acúmulo dos transcritos correspondentes a PR-10a seria induzido em órgãos vegetativos por ferimentos e pela infecção com patógenos, especialmente, o fungo Phytophtora infestans (CONSTABEL e BRISSON, 1995). A proteína PR-10a foi detectada por imunoreação, seguindo o mesmo padrão de transcrição pós-indução. Nas flores da batata, no entanto, independentemente de indução por infecção, ocorreu um padrão temporal de acúmulo da proteína, modulado pelo desenvolvimento. As concentrações de proteína PR-10a nas flores sadias aumentaram gradativamente durante o desenvolvimento, atingindo um pico em flores completamente abertas, quando foi detectada em quantidade equivalente àquela encontrada nos tubérculos de batata, após a indução por um ativador (ácido araquidônico) de reações de defesa (C ONSTABEL e B RISSON, 1995). Os resultados dos experimentos, citados anteriormente, realizados com o gene repórter GUS sob controle da região reguladora de PR-10a, foram utilizados, também, para analisar em detalhes, por meio de preparações histológicas das flores sadias, o padrão espacial de transcrição do gene. A atividade da β-glucuronidase foi detectada somente nos estigmas, concentrada na região das papilas estigmáticas e mais difusa na zona secretória do estigma, subjacente. Nenhuma atividade foi detectada nos tecidos vasculares ou nas células dos estiletes (C ONSTABEL e BRISSON, 1995). ÓRGÃOS VEGETATIVOS INFECTADOS GENE 179 PROTEÍNA Figura 1. Representação do sistema de expressão dos genes relacionados com a patogênese em órgãos vegetativos e nas flores. Elementos reguladores do gene estão representados em cor cinza e a região estrutural em branco. Os fatores de transcrição estão representados em preto (ANGELO, P.C.S.). 2. PR-10a, UMA PROTEÍNA PR EXPRESSA NO ESTIGMA DAS FLORES DE BATATA Fusões entre a região reguladora de um gene denominado PR-10a da batata e a região estrutural do gene “repórter” que codifica para a βglucuronidase (GUS) foram reintroduzidas em plantas dessa mesma espécie. Nos tubérculos de batata, durante as reações de defesa, a indução da transcrição de PR-10a é mediada pela ligação, aos cis-elementos adjacentes ao promotor do gene, de um complexo protéico que inclui um componente denominado p24 (D ESVAUX et al., 2000). Portanto, p24 é parte de um conjunto de fatores de transcrição. É possível que existam conjuntos de fatores tecido-específicos que garantam a ocorrência de transcrição de PR-10a em nível alto nos estigmas de flores sadias. Talvez alguns desses fatores sejam expressos constitutivamente em flores, a partir da evocação floral. O padrão temporal da expressão, independente da infecção por patógenos, seria produzido pelo acúmulo gradual de células com a identidade floral definida em conseqüência da atividade de genes homeóticos durante a morfogênese e no posterior crescimento dos órgãos florais, neste caso de PR-10a, mais especificamente, durante a morfogênese e o crescimento dos estigmas. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.177-184, 2005 180 P.C.S. Ângelo Uma seqüência parcial de cDNA, estruturalmente similar à proteína p24, foi isolada de uma biblioteca de cDNAs de carpelos de tomate (resultado não publicado, seqüência registrada sob o n. o AI488224, no banco de seqüências do NCBI, no endereço eletrônico http://www.ncbi.nlm.nih.gov). A p24 poderia ser um fator de transcrição específico de flores. A atividade catalisada por algumas das proteínas PR ainda não foi efetivamente demonstrada. Uma atividade provável para proteínas da família PR10 é de ribonuclease (ZHOU et al., 2002). durante sua germinação através do tecido transmissor do estilete, não pôde ser demonstrada, embora tenha sido inicialmente proposta (WEMMER et al., 1994). Por outro lado, unidades isoladas de acetilglicosamina são encontradas nos pontos de inserção dos glicosídeos em algumas glicoproteínas. O reconhecimento e a mobilização dessas porções apoprotéicas, nos estigmas/estiletes, poderiam estar relacionados com os mecanismos de inibição ou de estímulo à germinação. 3. SK2: ENDOQUITINASE DOS PISTILOS 4. Sp41: ENDOGLICOSIDASE DO TECIDO DE BATATA TRANSMISSOR DO ESTILETE, NO FUMO Uma proteína com atividade de endoquitinase, também classificada como PR, foi purificada de pistilos de flores maduras de batata e denominada SK2. Essa proteína constituiria 5% da fração protéica solúvel dos pistilos daquela espécie, sendo similar a outras quitinases da batata e do fumo, de Arabidopsis e da aveia. A atividade catalítica da enzima purificada de batata foi testada e demonstrada. Por imunoensaio, proteínas com os mesmos epitopos foram identificadas em quantidades muito menores nas raízes primárias e nas folhas, provavelmente devido à reação cruzada dos anticorpos com outros membros da família das quitinases expressos nesses órgãos. Em flores, a reação in situ com os mesmos anticorpos indicou a presença de espécies reativas apenas na matriz extracelular do tecido transmissor e, em menor intensidade, na epiderme do ovário. O acúmulo da proteína em flores não foi induzido por estresse (W EMMER et al., 1994). A seqüência de Sp41, que seria a proteína presente em maior quantidade no estilete do fumo, tem similaridade com (1,3)-β-glicosidases, proteínas PR que catalisam a hidrólise das ligações β-(1,3) entre monômeros de glicose. Sp41 foi, por imuno-reação, quase exclusivamente localizada na matriz extracelular do tecido transmissor e, em quantidade 500 vezes menor, em folhas de plantas não infectadas. Sp41 seria uma proteína altamente glicosilada nos estiletes e glicosilada em grau menor nas folhas, e a atividade hidrolítica da forma protéica encontrada na matriz extracelular do tecido transmissor foi demonstrada in vitro. Mais especificamente, neste caso, por se tratar de endoglicosidase, a capacidade de hidrolisar ligações internas entre monômeros de glicose em um polímero (a laminarina) mantido por ligações β-(1,3) foi comprovada (LOTAN et al., 1989; ORI et al., 1990). Sondas constituídas de oligonucleotídeos sintéticos correpondentes a todas as combinações possíveis, ou pelo menos às mais prováveis, de códons para uma parte da proteína SK2 foram utilizadas para o “screening” de uma biblioteca de cDNAs de pistilos de batata. Transcritos com 1.050 nucleotídeos, similares aos cDNAs SK2, foram encontrados, em hibridações do tipo “northern blot”, apenas nos pistilos, indicando ser a transcrição desse gene também restrita aos órgãos reprodutivos femininos (W E M M E R et al., 1994). Uma vez que quitinas (homopolímeros de (1,4)-β-acetilglicosaminas) não são observadas em plantas, sendo, porém, constituintes comuns das paredes celulares de fungos e do exoesqueleto dos insetos, seria mais provável que essa enzima do estilete estivesse envolvida nas reações de defesa contra patógenos. No entanto, o transcrito e a proteína enzimaticamente ativa são detectados em grande quantidade nas flores sadias. A existência de associação entre a quitinase e os tubos polínicos, Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.177-184, 2005 A proteína purificada dos estiletes do fumo foi seqüenciada. Sondas de DNA, sintetizadas para conter combinações de códons capazes de gerar a mesma seqüência de aminoácidos de uma parte da proteína, foram utilizadas para o “screening” de uma biblioteca de cDNAs. Dois grupos de clones, com 1.390 e 1.427 nucleotídeos, com similaridade de 94% entre si, foram isolados. Os transcritos correspondentes possuíam padrão de expressão temporal vinculado ao desenvolvimento do estilete. Não se verificou sinal de ocorrência de transcrição em botões florais recémdiferenciados. Os transcritos começaram a ser detectados em botões diferenciados imaturos; o acúmulo de transcritos atingiu um pico com a aproximação da antese (abertura das flores) e em flores polinizadas a expressão continuou alta, até a instalação do processo de senescência dos tecidos da flor, que ocorre após a fertilização. Expressão gênica nos estigmas e estiletes da família Solanaceae Resultados coerentes com o modelo proposto por M ILLIGAN e GASSER (1995) podem ser observados também no sistema Sp41: os transcritos induzidos em folhas por infecção com o vírus do mosaico do tabaco não foram notados no estilete, e quando o ativador das reações de defesa, tunicamicina, foi aplicado ao pistilo, somente a forma pistilar de Sp41 foi expressa e nenhuma forma de glicosidase específica de folhas ocorreu (Ori et al., 1990). Um clone de DNA genômico correspondente a uma das seqüências de cDNA para Sp41 foi isolado e analisado. A fusão das regiões regulatórias com o gene repórter GUS confirmou o padrão de expressão tecido-específico verificado por imunodetecção da proteína. Um “motivo” para interação com o fator de transcrição homeótico Agamous foi identificado na posição –300 da região regulatória do gene para Sp41. Uma série de experimentos de expressão da região estrutural de Sp41, em orientação “antisense”, sob o controle do promotor 35S (promotor do vírus do mosaico da couve-flor, que promove transcrição constitutiva de genes em plantas), com o objetivo de eliminar a expressão do gene, não teria provocado alteração morfológica ou fisiológica nas plantas transformadas (SESSA e FLUHr, 1995). 5. OUTRO GENE. O MESMO MODELO? Recentemente, identificou-se um clone de cDNA para uma adenosina-metiltransferase, expressa exclusivamente no pistilo do tabaco, com um padrão temporal de transcrição modulado pelo desenvolvimento (ANGELO et al., 1999 e 2001). Um dos possíveis substratos para a metilação seria o ácido salicílico. Estando envolvida com mecanismos de defesa, o modelo de regulação sugerido para os genes descritos acima estaria sendo reproduzido para a metil-transferase. O produto da reação, o metil-salicilato, estaria implicado, como um mensageiro volátil, na ativação inicial das reações de defesa (S HULAEV E t al., 1997; SESKAR et al., 1998; Ross et al., 1999; A RIMURA et al., 2000; OZAWA et al., 2000). O metil-jasmonato também poderia ser o produto da reação de metilação, neste caso, provavelmente, evocando, também, os mecanismos de morfogênese das flores, em inflorescências de uma mesma planta ou em plantas vizinhas, contribuindo para a sincronização do processo de evocação floral (ZENG et al., 1999; O ZAWA et al., 2000; SEO et al., 2001). Uma metiltransferase que atua comprovadamente sobre o ácido jasmônico, registrada sob o código 2.1.1.141, junto à 181 “International Union of Pure and Applied Chemistry” (IUPAC), foi purificada de Arabidopsis thaliana (SEO et al., 2001). 6. QUESTÕES INTERESSANTES Estaria, então, a proteína Sp41 comprometida somente com as vias metabólicas vinculadas à patogênese (SESSA e FLUHR, 1995), embora a ocorrência de um padrão de expressão vinculado ao desenvolvimento tenha sido demonstrada em flores sadias (O RI E t al., 1990)? As glicosidases encontradas na matriz extracelular do tecido transmissor do estilete do fumo, espécie que não apresenta sistema ativo de autoincompatibilidade, não devem interferir na germinação de tubos polínicos da própria espécie, cuja parede é constituída, principalmente, de calose, um (1,3)-β-glicosídeo. Eventualmente, notam-se anéis de arabinana, recobertos por celulose e pectina (BRETT e W ALDRON , 1990; L I et al., 1994). Essa estrutura permite o trânsito passivo de proteínas pequenas (J ACKSON e K A M B O J , 1986; W U et al., 1995). Seria necessária, então, a ação catalisada pela Sp41 ser para dificultar o crescimento dos tubos polínicos de gametófitos incongruentes (como, por exemplo, os grãos de pólen de outras espécies que podem ser considerados “passivamente incompatíveis” - ASCHER, 1986)? A ausência de Sp41, um polipeptídeo que representa mais de 20% do total de proteínas solúveis encontradas nos estiletes do fumo e que tem atividade endoglicosidase específica sobre polímeros de (1,3)β-glicosídeo (O RI et al., 1990; SESSA e F LUHR , 1995), poderia resultar em quebra de barreira à germinação de pólen incongruente? Essa hipótese ainda não foi testada. Existem, no tecido transmissor do estilete e no ovário, mecanismos de direcionamento e suporte ao crescimento do tubo polínico (C HEUNG et al., 1993, 1995a,b; J ENSEN et al., 1983). Se esses mecanismos de suporte forem desencadeados apenas na interação compatível (MULCAHY e MULCAHY, 1986), a lentidão das etapas de alongamento (A SCHER, 1986) ou de reforço da parede dos tubos polínicos incongruentes (LI et al., 1994) poderia gerar oportunidade para a ação da endoglicosidase Sp41 e de outras enzimas líticas? Esse fato poderia impedir que a interação do pistilo com grãos de pólen “passivamente incompatíveis” ativasse, “inutilmente”, o mecanismo de degeneração de sinérgides (M U L C A H Y e M U L C A H Y , 1986) ou provocasse danos aos sacos embrionários, reduzindo a eficiência reprodutiva das plantas? Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.177-184, 2005 182 P.C.S. Ângelo 7 - ÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES Existe outro ponto de vista sobre a expressão em níveis constitutivos altos de genes relacionados com processos de reação aos ferimentos e ao ataque de patógenos em flores sadias: as alterações morfogenéticas que ocorrem durante o crescimento e desenvolvimento das plantas poderiam requerer a ruptura de aglomerados de células ou tecidos vegetais previamente estabelecidos (NEALE et al., 1990). A lise inicial dos tecidos poderia ativar mais genes que codificam proteínas com atividade lítica, reconhecidas como PR, desde que os fragmentos de tecidos atuassem como fitoalexinas (E ULGEM et al., 1999; Klarzynski et al., 2000). Esse tipo de atividade lítica ocorreria durante o surgimento dos órgãos da flor, na evocação floral; durante a germinação de tubos polínicos através dos estiletes (NEALE et al., 1990) e da mesma forma, durante a germinação de sementes ou lançamento de ramos laterais (HIRSINGER et al., 1999). ANGELO, P.C.S.; TERENZI, M.F.; MEGLHIORATTI, F.A.; GOLDMAN, G.H.; GOLDMAN, M.H.S. A novel gene preferentially expressed in pistils of Nicotiana tabacum is identified. Genetics and Molecular Biology, Ribeirão Preto, v.22, n.3, p.294, 1999. Suplemento. ARIMURA, G-I.; OZAWA, R.; SHIMODA, T.; NISHIOKA, T.; BOLAND, W.; TAKABAYASHI, J. Herbivory-induced volatiles elicit defence genes in lima bean leaves. Nature, London, v.406, p.512-514, 2000. ASCHER, P.D. Incompatibility and incongruity: two mechanisms preventing gene transfer between taxa. In: MULCAHY, D.L.; MULCAHY, G.B.; OTTAVIANO, E. (Eds.) Biotechnology and Ecology of Pollen. New York: SpringerVerlag, 1986. p.251-256. BACIC, A.; GELL, A.C.; CLARKE, A.E. Arabinogalactan proteins from stigmas of Nicotiana alata. Phytochemistry, Oxford, v.27, p.679-684, 1988. BAILEY, I.W.; SWAMY, B.G.L. The conduplicate carpel of dicotyledons and its initial trends of specialization. American Journal of Botany, New York, v.38, p.373-379, 1951. Seqüências relacionadas com a autoincompatibilidade (C L A R K E e N E W B I G I N , 1993; Mccubbin e Kao, 1999; Charlesworth, 2000), com a megagametogênese ou com a senescência da flor depois da fertilização não estão diretamente vinculadas ao funcionamento do pistilo durante o processo de fertilização compatível, que é o foco principal deste trabalho, e não foram aqui incluídas. Mais especificamente, sobre interações entre pólen e pistilo podem ser consultadas as seguintes referências: CORNISH et al. (1988); GIRANTON et al. (1999); PALANIVELU e PREUSS (2000) e ROULSTON et al. (2000). BERNIER, G. The control of floral evocation and morphogenesis. Annual Review of Plant Physiology and Plant Molecular Biology, Palo Alto, v.39, p.175-219, 1988. AGRADECIMENTOS CHEUNG, A.Y.; MAY, B.; KAWATA; E.E.; GU, Q.; WU, H-M. Characterization of cDNAs for stylar transmitting tissuespecific proline-rich proteins in tobacco. The Plant Journal, Oxford, v.3, p.151-160, 1993. Aos Pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental, Vicente Haroldo de Figueiredo Moraes e Larissa Alexandra Cardoso Moraes pelas sugestões. À Maria Perpetua B. Pereira pela revisão da escrita. À Prof. a Dr.a Maria Helena de Souza Goldman (FFCL - USP Ribeirão Preto) pela oportunidade de trabalhar com um assunto tão interessante quanto o florescimento. Ao Prof. Dr. Paulo Paes de Andrade (UFPE) pelo incentivo. À FAPESP pelo apoio financeiro durante o primeiro ano do Curso de Doutorado. REFERÊNCIAS ANGELO, P.C.S.; GOLDMAN, G.H.; GOLDMAN, M.H.S. A novel methionine:salicylic acid methyltransferase exclusively expressed in tobacco pistils. In: ENCONTRO LATINOAMERICANO DE BIOTECNOLOGIA VEGETAL, 4., Goiânia, 2001. REDBIO 2001 - Programa e Resumos... Goiânia: CEGRAFFUNAPE-HAGAPRINT GRÁFICA, 2001. p.166. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.177-184, 2005 BRETT, C.; WALDRON, K. Physiology and biochemistry of plant cell walls. London: Black & Chapman, Unwin Hyman Ltd, 1990. 194p. CHARLESWORTH, D. 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E-mail: [email protected] IIFellowship Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café ABSTRACT Coffee plants can be micropropagated by nodal bud sprouting using the 6-benzylaminopurine (6-BA) hormone. However, literature reports the use of a wide range of 6-BA, from 0.5 to 88.8 µM L-1. So, this study was performed to narrow that range. Nodal explants of Coffea arabica cv Mundo Novo obtained from in vitro plantlets were inoculated on gelled-MS medium supplemented with different concentrations of 6-BA. Two assays were carried out: in the first one, 6-BA was used at concentrations of 0, 5, 25, 50, and 100 µM L-1, being evaluated at 43 and 123 days. In the second experiment, dosis of 10, 20 and 30 µM L-1, have evaluated at 65 and 100 days. Treatments with 6-BA induced multiple sprouting from the nodal explants, which were best characterized around 100 days after inoculation. The nodal explants grew taller and showed multiple shoots, whereas the effect of 6-BA at 5 to 25 µM L-1 was similar to that with higher concentrations (50 and 100 µM L-1). Nodal explants yielded from 2.9 to 6.0 buds per node, achieving height of 1.3 to 1.5 cm at 5 to 25 µM L-1 of 6-BA, whereas they yielded from 4.3 to 4.9 buds per node but the sprouting grew about 0.8 cm at 50 and 100 µM L-1 of 6-BA. This study indicated that multiple sprouting of lateral buds can be induced by lower concentrations of 6-BA, for example, from 10 to 30 µM L-1, diminishing possible risks of somaclonal variation due to high levels of hormone concentration. Key words: coffee, nodal bud, micropropagation. RESUMO O cafeeiro pode ser micropropagado via brotação de gemas laterais, aplicando o regulador de crescimento 6-benzilaminopurina (6-BA). Entretanto, a literatura apresenta ampla variação da dose empregada, desde 0.5 a 88.8 µM L-1. Assim, este estudo visou otimizar doses para explantes nodais do cafeeiro C. arabica cv Mundo Novo. Explantes nodais, obtidos de plântulas cultivadas in vitro, foram inoculados em meio MS geleificado, com adição de diferentes concentrações de 6-BA. Foram feitos dois experimentos: no primeiro, 6-BA foi usado nas doses de 0, 5, 10, 25, 50 e 100 µM L-1 e avaliado aos 43 e 123 dias; no segundo, 10, 20 e 30 µM L-1, avaliado aos 65 e 100 dias após a inoculação dos explantes. Os tratamentos com 6-BA induziram a multibrotação dos explantes nodais, e os resultados foram mais bem caracterizados aos cem dias. Os explantes nodais tratados formaram multibrotações que também atingiram maior altura; todavia, o efeito de 6-BA nas concentrações entre 5 a 25 µM L1 foi semelhante ao das doses mais elevadas, 50 e 100 µM L-1. As doses de 5 a 25 µM L-1 de 6BA induziram a brotação de 2,9 a 6,0 gemas por nó, atingindo de 1,3 a 1,5 cm, enquanto os tratamentos de 50 a 100 µM L-1 formaram 3,0 a 4,9 gemas por nó e as suas brotações atingiram cerca de 0,8 cm de altura. Observou-se neste estudo que a multibrotação de explantes nodais de C. arabica cv Mundo Novo pode ser induzida por concentrações menores de 6-BA, entre 10 a 30 µM L-1, diminuindo os riscos de variação somaclonal devido às altas concentrações de hormônio. Palavras-chave: café, gemas nodais, micropropagação. Introduction Coffee is one of the cultivated crops of major economic importance to Brazil. It also has great social significance because of the large amount of labor involved in its cultivation. The main cultivated species in the country is Coffea arabica, which accounts for about 90 % of the planted area. Micropropagation of coffee trees is not only a means of plant propagation, but also of germoplasm preservation. According to the source of explant, and its subsequent manipulation, the micropropagation may occur via axillary bud proliferation, multiple shoots from hypocotyl segments (NYANGE and MCNICOL, 1993) and via direct or indirect somatic embryogenesis (WILLIAMS and MAHESWARAN, 1986). However, tissue culture can generate somaclonal variation, which could be useful in Coffea, as reported by SONDAHL (2001). This is an exception, rather than a rule, however, since most somaclonal variations are naturally deleterious. Micropropagation through nodal explants is less prone to this variation (GANESH and SREENATH, 1997). Plant propagation by bud sprouting from nodal explants could be used for commercial production in C. arabica. In this species there are four buds per axil (SONDAHL et al., 1985). GOUVEIA (1987) also reported that there are about four to five buds in the axils of orthotropic and plagiotropic branches of C. arabica and C. canephora. Sprouting of most of these buds is therefore valuable, since it would result in a larger number of plants in the same space and in a shorter term. Cytokinins have the property of breaking bud dormancy (MOORE, 1979; TURNBULL and HAMKE, 1985; TAMAS, 1987). Among the cytokinins, 6-benzylaminopurine (6-BA) promotes bud sprouting in nodal explants of coffee trees (SONDAHL et al., 1985). This response has been associated with the use of different concentrations of 6-BA from 0.5 to 88.8 µM L-1 (Table 1). Therefore, considering the 6-BA range from 0.5 to 88.8 µM L-1 found in the literature, the aim was to identify adequate concentration of 6-BA to be used in order to obtain a larger number of shoots from nodal explants of Coffea arabica cv Mundo Novo. Material and methods Nodal explants of Coffea arabica cv. Mundo Novo were obtained from plantlets grown from seeds previously germinated and cultivated in vitro (Figure 1). Each seed was placed in a 50 mL glass flask with MURASHIGE and SKOOG (1962) medium (MS). Each explant consisted of an internode excised from plantlets that were originally about 4.0 to 9.0 cm tall, raised from the seeds, after twenty months from originally inoculation. The work was carried out in the plant tissue laboratory of the Center of Research and Development of Plant Genetic Resources of the Agronomic Institute, at Campinas, São Paulo. The internodes were placed on gelled MS medium supplemented with cysteine-HCl, inositol, vitamins (nicotinic acid, thiamine and pyridoxine) and sucrose (20 g L-1), the pH was adjusted to 5.6, and agar added at 6 g L-1. Each explant was inoculated in 350 mL glass flasks with 50 mL of medium. The cytokinin 6-benzylaminopurine (6-BA - SIGMA) was used to induce sprouting. Two experiments were carried out: in the first one, 6-BA was used at the concentration of 0, 5, 10, 25, 50 and 100 µM L-1, and in the second one, at the concentration of 10, 20 and 30 µM L1. Each treatment had ten replications, and each nodal explant was kept individually. The experiments were set up in an entirely randomized design, in a room with 16 hours photoperiod, illuminated by cool white fluorescent lamps of 4,000 lux of light intensity, and temperature of 25 ºC. Treatments were evaluated regarding the number of buds induced by node, and height attained by the shoots, as well. The first experiment was evaluated at 43 and 123 days and the second at 65 and 100 days after the inoculation of the nodal explants. Results and Discussion Most of the treatments with 6-BA induced bud sprouting on nodal explants of Coffea arabica cv. Mundo Novo, producing similar number of shoots per treatment, two on the average. For example, in the first experiment, this was observed in the first evaluation at 43 days after the inoculation of the nodal explants (Figure 2A). However, in this experiment the number of shoots per nodal explant nearly doubled for all the treatments with 6-BA by the second evaluation at day 123. Although treatments with 5, 10, 25, 50 and 100 µM L-1 of 6-BA induced the largest absolute number of shoots (from 2 to 6), results were found to be similar to one another. Loss of nodal explants due to oxidation was also observed, an occurrence quite common to happen (CUSTERS, 1980; DUBLIN, 1980). The highest bud sprouting in absolute value (6.0) was observed with 6-BA doses of 25 µM L-1 at the 123 day measurement (Figure 2A). In other similar studies, it was verified the effect of 6-BA 26.6 µM L-1, which resulted in 4.3 sproutings in nodal explant of C. arabica cv Mundo Novo at 90 days (FORNI et al., 1994); that 17.8 µM L-1 induced 4.0 sproutings per nodal explant of C. arabica cv Catimor at 90 days (GARCIA and RAFAEL, 1989) and 26.6 µM L-1 with 4.0 sproutings in C. arabica cv Caturra Amarelo at 120 days (JESUS et al., 2002). Conversely, low dose (5 µM L-1) of 6-BA induced two sprouts per node on average (Figure 2A). This is also reported on literature; in most cases these low concentrations did not promote a larger number of shoots than higher concentrations; for example, 0.5 and 2.5 µM L-1 of 6-BA resulted in the formation of 1.0 to 2.5 shoots per axil, respectively (CUSTERS, 1980); and the concentrations 0.5; 2.2 and 4.4 µM/L resulted in 1, 1 and 3 shoots, too, respectively (GANESH and SREENATH, 1997). The results of this study showed that lower concentrations, such as 10 and 25 µM L-1 of 6-BA, had a similar effects to that of higher concentrations, 50 and 100 µM L-1. The ability of a plant tissue to differentiate is associated with its competence and determination to initiate an event whenever it is exposed to an environmental or internal signal (MACDANIEL, 1984). Besides competence and determination, the plant tissue is also sensitive to growth substances, that is, a tissue that is determined may initiate a certain event in response to the presence of a growth substance, either at high or low concentration, depending on its sensitivity (TREWAVAS, 1981). The nodal explants of Mundo Novo were therefore sensitive to 6-BA since they responded to both high and low concentrations. Besides the number of sproutings, the height was also affected by 6-BA treatments. In the first experiment, the shoots showed no treatment relevant difference in height on day 43, which was 0.5 cm, on average. However, on day 123, the shoots treated with 5, 10 and 25 µM L-1 attained 1.3, 1.6 and 1.3 cm of length in height, respectively, whereas control shoots were 0.7 cm tall, on average (Figure 2B). Considering that in the first experiment maximum sprouting occurred with low concentrations of 6-BA (10 and 25 µM L-1), a second experiment was carried out to test intermediate concentrations, 10, 20 and 30 µM L-1, so as to establish a more limited range. In this second experiment, the number of buds sprouted per explants was similar for all treatments, both on day 65 and 100 (Figure 3A) from the beginning of the experiment, 3 and 4 buds, on average, respectively. The lower concentration (10 µM L-1) of 6-BA induced a similar number of shoot sprouts to that of higher concentrations, 20 and 30 µM L-1, corroborating the result of the first experiment. As for the height attained by the shoots, similar responses were found also for the three concentrations tested (10, 20 and 30 µM L-1) both on day 65 and on day 100 after the beginning of the experiment (Figure 3B). Therefore, experimental data obtained in this study from nodal explants of Coffea arabica cv Mundo Novo by 100 days of culture indicated that multiple sprouting of lateral buds can be induced by using lower concentrations of 6-BA, for example, from 10 to 30 µM L-1, than those much higher ones reported in the literature. Conclusion Data obtained in this study showed that the dose of 10 µM L-1 of 6-BA can be used to induce multiple sprouting on nodal explants of Coffea arabica cv Mundo Novo as those higher ones reported in the literature, like 88.8 µM L-1. References CUSTERS, J.B.M. Clonal propagation of Coffea arabica L. by nodal culture. In: COLLOQUE ASSOCIATION SCIENTIFIQUE INTERNATIONALE DU CAFÉ, 9, 1980, London. Proceedings ... Paris: ASIC, 1980. p.589-596. DUBLIN, P. Multiplication vegetative in vitro de L'Arabusta. In: COLLOQUE ASSOCIATION SCIENTIFIQUE INTERNATIONALE DU CAFÉ, 9., 1980, London. Proceedings ... Paris: ASIC, 1980. p.571-588. FORNI, R.C.; PASQUAL, M.; CARVALHO, G.R.; ICHIHARA, L.K. Níveis de sais do meio "MS" e de benzilaminopurina e seus efeitos na proliferação "in vitro" de gemas de café cv. Catuaí. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA CAFEEIRA, 20, 1994, Guarapari. Resumos...Rio de Janeiro:MAARA/Pró-Café, 1994. p.12. GANESH, D.S.; SREENATH, H.L. Clonal propagation of coffee through apical bud culture. Journal Plantation Crops, Karnataka, v.25, n.2, p.169-174, 1997. GARCIA, E.G.; RAFAEL, M. Propagacion clonal de plantas de café (Coffea arabica L. "Catimor") a partir de microesquejes cultivados in vitro. Agronomia Tropical, Maracay, v.39, n.4-6, p.249-268, 1989. GOUVEIA, N.M. Blüteninduktion bei Coffea arabica L. Der Tropenlandwirt, Zeitschrift für die Landwirtschaft in den Tropen und Subtropen, Jahrgang, v.88, p.139-143, 1987. 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Annals of Botany, Bristol, v.57, p.443-462, 1986. Recevied for publication in March 31, 2004 and accepted in February 23, 2005 185 Effect of 6-BA on nodal explant bud sproutings of Coffea arabica Note EFFECT OF 6-BA ON NODAL EXPLANT BUD SPROUTINGS OF COFFEA ARABICA CV. MUNDO NOVO (1) LUIS CARLOS DA SILVA RAMOS (2); JULIETA ANDREA SILVA DE ALMEIDA (3) ABSTRACT Coffee plants can be micropropagated by nodal bud sprouting using the 6-benzylaminopurine (6BA) hormone. However, literature reports the use of a wide range of 6-BA, from 0.5 to 88.8 µM L-1. So, this study was performed to narrow that range. Nodal explants of Coffea arabica cv Mundo Novo obtained from in vitro plantlets were inoculated on gelled-MS medium supplemented with different concentrations of 6-BA. Two assays were carried out: in the first one, 6-BA was used at concentrations of 0, 5, 25, 50, and 100 µM L -1, being evaluated at 43 and 123 days. In the second experiment, dosis of 10, 20 and 30 µM L-1 , have evaluated at 65 and 100 days. Treatments with 6-BA induced multiple sprouting from the nodal explants, which were best characterized around 100 days after inoculation. The nodal explants grew taller and showed multiple shoots, whereas the effect of 6-BA at 5 to 25 µM L-1 was similar to that with higher concentrations (50 and 100 µM L -1). Nodal explants yielded from 2.9 to 6.0 buds per node, achieving height of 1.3 to 1.5 cm at 5 to 25 µM L -1 of 6-BA, whereas they yielded from 4.3 to 4.9 buds per node but the sprouting grew about 0.8 cm at 50 and 100 µM L-1 of 6-BA. This study indicated that multiple sprouting of lateral buds can be induced by lower concentrations of 6-BA, for example, from 10 to 30 µM L -1 , diminishing possible risks of somaclonal variation due to high levels of hormone concentration. Key words: coffee, nodal bud, micropropagation. RESUMO EFEITO DE 6-BA NA BROTAÇÃO DE GEMAS DE EXPLANTES NODAIS DE COFFEA ARABICA CV. MUNDO NOVO O cafeeiro pode ser micropropagado via brotação de gemas laterais, aplicando o regulador de crescimento 6-benzilaminopurina (6-BA). Entretanto, a literatura apresenta ampla variação da dose empregada, desde 0.5 a 88.8 µM L -1 . Assim, este estudo visou otimizar doses para explantes nodais do cafeeiro C. arabica cv Mundo Novo. Explantes nodais, obtidos de plântulas cultivadas in vitro, foram inoculados em meio MS geleificado, com adição de diferentes concentrações de 6-BA. Foram feitos dois experimentos: no primeiro, 6-BA foi usado nas doses de 0, 5, 10, 25, 50 e 100 µM L-1 e avaliado aos 43 e 123 dias; no segundo, 10, 20 e 30 µM L-1, avaliado aos 65 e 100 dias após a inoculação dos explantes. Os tratamentos com 6-BA induziram a multibrotação dos explantes nodais, e os resultados foram mais bem caracterizados aos cem dias. Os explantes nodais tratados formaram multibrotações que também atingiram maior altura; todavia, o efeito de 6-BA nas concentrações entre 5 a 25 µM L-1 foi semelhante ao das doses (1) Recevied for publication in March 31, 2004 and accepted in February 23, 2005. ( 2 ) Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Recursos Genéticos Vegetais, Instituto Agronômico, Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). Brasil. E-mail: [email protected] (3) Fellowship Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.185-190, 2005 186 L.C.S. Ramos e J.A.S. Almeida mais elevadas, 50 e 100 µM L-1. As doses de 5 a 25 µM L -1 de 6-BA induziram a brotação de 2,9 a 6,0 gemas por nó, atingindo de 1,3 a 1,5 cm, enquanto os tratamentos de 50 a 100 µM L-1 formaram 3,0 a 4,9 gemas por nó e as suas brotações atingiram cerca de 0,8 cm de altura. Observou-se neste estudo que a multibrotação de explantes nodais de C. arabica cv Mundo Novo pode ser induzida por concentrações menores de 6-BA, entre 10 a 30 µM L-1, diminuindo os riscos de variação somaclonal devido às altas concentrações de hormônio. Palavras-chave: café, gemas nodais, micropropagação. Introduction Coffee is one of the cultivated crops of major economic importance to Brazil. It also has great social significance because of the large amount of labor involved in its cultivation. The main cultivated species in the country is Coffea arabica, which accounts for about 90 % of the planted area. Micropropagation of coffee trees is not only a means of plant propagation, but also of germoplasm preservation. According to the source of explant, and its subsequent manipulation, the micropropagation may occur via axillary bud proliferation, multiple shoots from hypocotyl segments (N Y A N G E and M C N ICOL , 1993) and via direct or indirect somatic embryogenesis (WILLIAMS and M AHESWARAN , 1986). However, tissue culture can generate somaclonal variation, which could be useful in Coffea, as reported by SONDAHL (2001). This is an exception, rather than a rule, however, since most somaclonal variations are naturally deleterious. Micropropagation through nodal explants is less prone to this variation (GANESH and SREENATH, 1997). Plant propagation by bud sprouting from nodal explants could be used for commercial production in C. arabica. In this species there are four buds per axil (S ONDAHL et al., 1985). G OUVEIA (1987) also reported that there are about four to five buds in the axils of orthotropic and plagiotropic branches of C. arabica and C. canephora. Sprouting of most of these buds is therefore valuable, since it would result in a larger number of plants in the same space and in a shorter term. Cytokinins have the property of breaking bud dormancy (MOORE , 1979; TURNBULL and HAMKE , 1985; T A M A S , 1987). Among the cytokinins, 6benzylaminopurine (6-BA) promotes bud sprouting in nodal explants of coffee trees (S ONDAHL et al., 1985). This response has been associated with the use of different concentrations of 6-BA from 0.5 to 88.8 µM L-1 (Table 1). Therefore, considering the 6-BA range from 0.5 to 88.8 µM L-1 found in the literature, the aim was to identify adequate concentration of 6-BA to be used in order to obtain a larger number of shoots from nodal explants of Coffea arabica cv Mundo Novo. Table 1. Literature examples of 6-BA doses for bud sprouting on nodal explants of Coffea Genotype Doses (µM L-1) NBN C. arabica 0.0, 1.8, 8.9, 44.4 1.0, 2.5, 2.8 C. arabica cv Arabusta 0.0, 4.4, 22.2, 44.4 C. arabica cv Mundo Novo 0.0, 13.3, 26.6, 39.9 C. arabica 0.0, 0.4, 2.2, 4.4, 22.2, 44.4 C. arabica cv Catimor Days* Reference 49 Custer (1980) 90 Dublin (1980) 4.3 90 Forni et al. (1994) 1.0, 3.1, 3.9, 5.5 60 Ganesh & Sreenath (1977) 0.0, 17.8, 35.5, 44.4, 53.3, 71.0 4.0, 2.5, 90 Garcia & Rafael (1989) C. arabica cv Caturra Amarelo 0.0, 26.6, 39.9, 53.3, 66.6 1.3 120 Jesus et al. (2002) C. arabica cv Rubi, Catuaí, Icatu 0.0, 26.6, 39.9, 53.3, 66.6 4.3, 3.3, 3.7 90 Jesus et al. (2003) C. arabica cv Ruiru 11 0.0, 2.2, 22.2, 44.4, 66.6, 88.8 4.0 60 Kahia (1993) C. arabica cv Mundo Novo 50.0 7.5 180 Nakamura & Sondahl (1981) C. arabica cv Caturra Amarelo, cv Geisha 50.0 6.8, 2.5, 2.7 140 Ribeiro & Carneiro (1989) C. arabica 40.0 2.2 NBN: Number of buds per node; *Days after inoculation. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.185-190, 2005 35 Sondahl et al. (1985) Effect of 6-BA on nodal explant bud sproutings of Coffea arabica Material and methods Nodal explants of Coffea arabica cv. Mundo Novo were obtained from plantlets grown from seeds previously germinated and cultivated in vitro (Figure 1). Each seed was placed in a 50 mL glass flask with M URASHIGE and S KOOG (1962) medium (MS). Each explant consisted of an internode excised from plantlets that were originally about 4.0 to 9.0 cm tall, raised from the seeds, after twenty months from originally inoculation. The work was carried out in the plant tissue laboratory of the Center of Research and Development of Plant Genetic Resources of the Agronomic Institute, at Campinas, São Paulo. 187 The experiments were set up in an entirely randomized design, in a room with 16 hours photoperiod, illuminated by cool white fluorescent lamps of 4,000 lux of light intensity, and temperature of 25 ºC. Treatments were evaluated regarding the number of buds induced by node, and height attained by the shoots, as well. The first experiment was evaluated at 43 and 123 days and the second at 65 and 100 days after the inoculation of the nodal explants. Results and Discussion Most of the treatments with 6-BA induced bud sprouting on nodal explants of Coffea arabica cv. Mundo Novo, producing similar number of shoots per treatment, two on the average. For example, in the first experiment, this was observed in the first evaluation at 43 days after the inoculation of the nodal explants (Figure 2A). However, in this experiment the number of shoots per nodal explant nearly doubled for all the treatments with 6-BA by the second evaluation at day 123. Although treatments with 5, 10, 25, 50 and 100 µM L -1 of 6-BA induced the largest absolute number of shoots (from 2 to 6), results were found to be similar to one another. Loss of nodal explants due to oxidation was also observed, an occurrence quite common to happen (CUSTERS, 1980; D UBLIN, 1980). Figure 1. Nodal explant of C. arabica cv Mundo Novo obtained from the seedlings in vitro. The internodes were placed on gelled MS medium supplemented with cysteine-HCl, inositol, vitamins (nicotinic acid, thiamine and pyridoxine) and sucrose (20 g L -1), the pH was adjusted to 5.6, and agar added at 6 g L -1. Each explant was inoculated in 350 mL glass flasks with 50 mL of medium. The cytokinin 6-benzylaminopurine (6-BA - SIGMA) was used to induce sprouting. Two experiments were carried out: in the first one, 6-BA was used at the concentration of 0, 5, 10, 25, 50 and 100 µM L -1, and in the second one, at the concentration of 10, 20 and 30 µM L-1. Each treatment had ten replications, and each nodal explant was kept individually. The highest bud sprouting in absolute value (6.0) was observed with 6-BA doses of 25 µM L -1 at the 123 day measurement (Figure 2A). In other similar studies, it was verified the effect of 6-BA 26.6 µM L-1 , which resulted in 4.3 sproutings in nodal explant of C. arabica cv Mundo Novo at 90 days (F ORNI et al., 1994); that 17.8 µM L-1 induced 4.0 sproutings per nodal explant of C. arabica cv Catimor at 90 days (G ARCIA and RAFAEL , 1989) and 26.6 µM L-1 with 4.0 sproutings in C. arabica cv Caturra Amarelo at 120 days (JESUS et al., 2002). Conversely, low dose (5 µM L-1) of 6-BA induced two sprouts per node on average (Figure 2A). This is also reported on literature; in most cases these low concentrations did not promote a larger number of shoots than higher concentrations; for example, 0.5 and 2.5 µM L-1 of 6-BA resulted in the formation of 1.0 to 2.5 shoots per axil, respectively (CUSTERS, 1980); and the concentrations 0.5; 2.2 and 4.4 µM/L resulted in 1, 1 and 3 shoots, too, respectively (GANESH and SREENATH , 1997). Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.185-190, 2005 188 Number of buds sprouted per nodal explant L.C.S. Ramos e J.A.S. Almeida 9 8 7 A 43 dias 123 dias 6 5 4 3 2 1 0 0 5 10 25 50 100 6-BA (uM/L) µ Height of the sproutings (mm) 25 20 B 43 dias 123 dias 15 10 5 0 0 5 10 25 50 100 µ 6-BA (uM/L) Figure 2. Effect of different concentrations of 6-BA on the number of buds sprouted per nodal explant (A) of C. arabica cv Mundo Novo, and on the height of the sproutings (B) 43 and 123 days after the inoculation. Vertical bars: standard errors. The results of this study showed that lower concentrations, such as 10 and 25 µM L -1 of 6-BA, had a similar effects to that of higher concentrations, 50 and 100 µM L -1 . The ability of a plant tissue to differentiate is associated with its competence and determination to initiate an event whenever it is exposed to an environmental or internal signal (M A C D A N I E L , 1984). Besides competence and determination, the plant tissue is also sensitive to growth substances, that is, a tissue that is determined may initiate a certain event in response to the presence of a growth substance, either at high or low concentration, depending on its sensitivity (TREWAVAS, 1981). The nodal explants of Mundo Novo were therefore sensitive to 6-BA since they responded to both high and low concentrations. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.185-190, 2005 Besides the number of sproutings, the height was also affected by 6-BA treatments. In the first experiment, the shoots showed no treatment relevant difference in height on day 43, which was 0.5 cm, on average. However, on day 123, the shoots treated with 5, 10 and 25 µM L-1 attained 1.3, 1.6 and 1.3 cm of length in height, respectively, whereas control shoots were 0.7 cm tall, on average (Figure 2B). Considering that in the first experiment maximum sprouting occurred with low concentrations of 6-BA (10 and 25 µM L-1 ), a second experiment was carried out to test intermediate concentrations, 10, 20 and 30 µM L-1, so as to establish a more limited range. In this second experiment, the number of buds sprouted per explants was similar for all treatments, both on day 65 and 100 (Figure 3A) from the 189 Effect of 6-BA on nodal explant bud sproutings of Coffea arabica beginning of the experiment, 3 and 4 buds, on average, respectively. The lower concentration (10 µM L-1) of 6-BA induced a similar number of shoot sprouts to that of higher concentrations, 20 and 30 µM L -1 , corroborating the result of the first experiment. As for the height attained by the shoots, similar responses were found also for the three concentrations tested (10, 20 and 30 µM L -1) both on day 65 and on day 100 after the beginning of the experiment (Figure 3B). Therefore, experimental data obtained in this study from nodal explants of Coffea arabica cv Mundo Novo by 100 days of culture indicated that multiple sprouting of lateral buds can be induced by using lower concentrations of 6-BA, for example, from 10 to 30 µM L-1, than those much higher ones reported in the literature. Number of buds sprouted per nodal explant 7 6 65 dias A 100 dias 5 4 3 2 1 0 10 20 30 µ 6-BA (uM/L) Height of the sproutings (mm) 25 20 B 65 dias 100 dias 15 10 5 0 10 20 30 6-BA (uM/L) µ Figure 3. Effect of different concentrations of 6-BA on the number of buds sprouted per nodal explant (A) of Coffea arabica cv Mundo Novo, and on the height of the sproutings (B), 65 and l00 days after the inoculation. Vertical bars: standard errors. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.185-190, 2005 190 L.C.S. Ramos e J.A.S. Almeida Conclusion KAHIA, W.J. Plantlet regeneration from Coffea arabica shoot tips. Kenya Coffee, Nairobi, v. 58, n.675, p.1467-1471, 1993. 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Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 MELHORAMENTO GENÉTICO VEGETAL Análise de trilha para os componentes de rendimento de grãos em trigo Path analysis for the yield components of seeds in wheat Simone Alves SilvaI; Fernando Irajá Félix de CarvalhoII; Jorge Luís NedelII; Pedro Jacinto CruzI; José Antônio González da SilvaIII; Vanderlei da Rosa CaetanoIV; Irineu HartwigIV; Cássia da Silva SousaV IDepartamento de Fitotecnia, Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia (AGRUFBA), Campus Universitário, 94380-000 Cruz das Almas (BA). E-mail: [email protected]; [email protected] IIDepartamento de Fitotecnia, UFPel. Caixa Postal 354, 96001-970 Pelotas, RS IIIPesquisador da Embrapa Clima Temperado (EMBRAPA/CPACT). Pelotas, RS IVEstudante de Graduação em Agronomia, Bolsista de Iniciação Científica do CNPq VEstudante de Graduação em Agronomia, Bolsista PET/SESu/MEC RESUMO O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito dos caracteres número de espiga por planta, número de grãos por espiga, massa média de grãos, tamanho da espiga e número de espiguetas por espiga sobre o rendimento de grãos, em trigo (Triticum aestivum L.) diferenciado quanto à presença e ausência do caráter "Stay-green", através de seus coeficientes de correlação e sua decomposição por meio da análise de trilha. Foram utilizados sete genótipos, obtidos através de avanços de gerações de 1999 a 2001, utilizando duas épocas de semeadura por ano, na estação de verão e inverno, sob condições de campo e telado, na Universidade Federal de Pelotas, RS. O experimento foi desenvolvido em delineamento de blocos casualizados com cinco repetições. A análise de trilha permite identificar o componente primário MMG, como o de maior potencial para seleção de constituições genéticas superiores para rendimento de grãos. Palavras-chave: produtividade, enchimento de sementes, variabilidade. ABSTRACT The purpose of this work was to estimate the effect of the ear number per plant, number of seeds per ear, seed weight, size of the ear and spikiest number per ear in relation to the grain yield through its correlation coefficients and its decomposition by the path analysis. The genotypes were obtained through the advances generation in the years from 1999 to 2001, using two sowing dates per year, in the warm and cold season, in the field and in green-house conditions, at the Federal University of Pelotas, RS. The experiment was conducted as a randomized complete block design with five replications. The characters spikiest number for spike and hectoliter weight were identified by the path analysis, as being the one of high potentiality for selection of superior genetic constitutions for seed yield seeds. Key words: productivity, seed filling, variability. 1.INTRODUÇÃO O caráter "stay-green" tem sido utilizado como alternativa para promover redução da senescência em trigo (Triticum aestivum L.) em razão de maior permanência da área verde de folhas e colmos e, conseqüentemente, aumento no período de enchimento até a total formação dos grãos. O colmo e as folhas permanecem verdes até o completo enchimento dos grãos, que corresponde ao período da antese até a maturidade fisiológica, o que constitui estratégia eficiente na potencialização da disponibilidade de assimilados para a espiga e, conseqüentemente, na elevação do rendimento de grãos, principalmente o componente massa média do grão (SILVA et al., 2003). O enchimento do grão começa nas espiguetas centrais e progride até as basais e distais da inflorescência (SLAFER et al., 1994; RODRIGUES, 2000). Nesse momento, a área foliar verde tem grande importância como tecido fotossintetizante ativo, proporcionando maior partição dos assimilados, no enchimento do grão. O caráter "stay-green" tem sido objeto de estudo em diferentes espécies cultivadas, revelando correlações positivas com o rendimento de grãos e seus componentes (THOMAS e SMART, 1993; TENKAUANO et al., 1993; WALULU et al., 1994; e CUKADAR-OLMEDO e MILLER, 1997). Esse caráter foi utilizado por MCBEEN et al. (1983) como alternativa para promover uma progressiva redução da senescência em sorgo, resultando em efetivo aumento funcional da área foliar, na duração da capacidade fotossintética das folhas e colmos, após a maturidade fisiológica, promovendo maior enchimento do produto final, que é o grão. O rendimento de grãos de várias culturas tem sido descrito como produto de vários componentes de rendimento (DEWEY e LU, 1959; FRANCO e CARVALHO, 1989; NEDEL, 1994). Em cereais, com uma população de plantas constante, o rendimento de grãos pode simplesmente ser obtido pelo produto de três componentes principais: número de espigas por unidade de área, número de grãos por espiga e massa média do grão, e esses três componentes, até certo limite, variam independentemente um do outro. FRANCO e CARVALHO (1989), trabalhando com trigo, relataram que o número de grãos por espiga foi o componente de rendimento mais influenciado pelo melhoramento genético do trigo. Para incrementar a produtividade, parece ser necessário que os programas de melhoramento genético devam se orientar no aproveitamento da importância relativa dos componentes de rendimento. O conhecimento da correlação entre caracteres pode ser primordial quando o objetivo é a seleção simultânea de caracteres, ou quando um caráter de interesse revelar baixa herdabilidade, sendo de difícil identificação e resposta para obter ganho genético (SANTOS e VENCOVSKY, 1986). Ao selecionar um caráter de alta herdabilidade, de fácil aferição e identificação, e que evidencie alta correlação com o caráter desejado, o melhorista poderá obter progressos mais rápidos em relação ao uso de seleção direta (FALCONER e MACKAY, 1996). Com o intuito de entender melhor a associação entre caracteres, WRIGHT (1921) propôs um método denominado análise de trilha (path analysis) que desdobra as correlações estimadas em efeitos diretos e indiretos de cada caráter sobre uma variável básica, que segundo CRUZ e REGAZZI (1997), é estabelecido pelo conhecimento prévio do pesquisador de sua importância e de possíveis inter-relações expressas em diagramas de trilha. O sucesso dessa análise reside basicamente na formulação do relacionamento de causa-efeito entre os caracteres. Assim, os objetivos deste trabalho foram avaliar a influência dos componentes do rendimento na produção de grãos de plantas providas do caráter "stay-green" e de maturação sincronizada, estimar o efeito dos coeficientes de correlações entre o rendimento de grãos e seus componentes, assim como a decomposição dos coeficientes de correlação genética por meio da técnica de análise de trilha, possibilitando observar os efeitos diretos e indiretos de um caráter sobre o outro. Essa estratégia é de grande importância em otimização de ganho genético no melhoramento de plantas de trigo para o aumento da produtividade de grãos. 2. MATERIAL E MÉTODOS Os genótipos utilizados no trabalho foram obtidos através de avanços de gerações de 1999 a 2001, utilizando duas épocas de semeadura por ano, na estação de verão e inverno, sob condições de campo e telado. Por meio de autofecundação, até a geração F6, foram obtidos genótipos com presença e ausência do caráter "stay-green", sendo eles: F6-SG e F6-SZ, sendo consideradas linha isogênica desprovida do caráter, ambas na geração F6; foram realizados dois retrocruzamentos, até a geração F6, obtendo os genótipos RC1F6-SG, RC1F6-SZ, RC2F6-SG e RC2F6-SZ para a presença e ausência do caráter "stay-green"; o genótipo-padrão CEP 27 foi empregado pelo seu elevado potencial produtivo. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com cinco repetições. A unidade experimental foi composta de três fileiras de 3 m de comprimento, utilizando uma densidade de semeadura de 160 sementes viáveis por m2. As dimensões para cada parcela foram de 3,0 x 0,9 m, com espaçamento de 0,3 m entre linhas. A semeadura foi efetuada manualmente e logo após a emergência das plântulas, foi realizada adubação conforme recomendações técnicas para a cultura (REUNIÃO DA COMISSÃO SUL-BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO, 1999). O controle de invasoras foi efetuado por capinas manuais e aplicação de herbicida de pósemergência; para o controle de moléstias da parte aérea, foi aplicado fungicida, além de inseticida para controle de insetos durante o alongamento do trigo e no início e fim da floração. Foram avaliados os caracteres rendimento de grãos (REN), determinado por meio da colheita e pesagem dos grãos em uma área de três linhas centrais de cada parcela; o caráter número de espigas por planta (NEP), defini do pela contagem das espigas, em área de um metro linear no período da inflorescência; o número de grãos por espiga (NGE), o número de espiguetas por espiga (NEGE) e o tamanho da espiga (TES), obtidos pela média de dez espigas coletadas ao acaso, nas três linhas centrais, e a massa média de grão (MMG), estabelecida por meio da pesagem de cem grãos. Para análise estatística, foram aplicados testes de variância dos dados para cada caráter avaliados, e estimadas as correlações fenotípicas, genotípicas e de ambiente pelo método proposto por STEEL e TORRIE (1980) a 5% de significância pelo teste t, a n-2 G.L. Posteriormente os efeitos diretos e indiretos foram estimados pelo método de análise de trilha ou "path analysis", desenvolvido por WRIGHT (1921) e aperfeiçoado por LI (1981). Considerouse o modelo causal, descrito por CRUZ e REGAZZI (1997) como análise de regressão padronizada, útil no desdobramento dos coeficientes de correlação em efeito direto e indireto, considerando os componentes primários como número de espiga por planta (NEP), número de grãos por espiga (NGE) e massa média de grão (MMG) e os componentes secundários como o tamanho da espiga (TES) e o número de espiguetas por espiga (NEGE), sendo TES como de relação de causa e efeito com os três componentes primários logaritimizados e NEGE como variável explicativa da logaritimização de NGE e MMG. Como a relação entre as variáveis explicativas (NEP, NGE e MMG) e a variável básica é estruturalmente multiplicativa, os dados foram transformados para a escala Logarítmica (CRUZ e REGAZZI, 1997), sendo a equação de log (Y) = log (P1) + log (P2) + log (P3) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ocorreu diferença significativa (p < 0,05) entre genótipos para os seis caracteres testados, demonstrando provável presença de variabilidade entre os genótipos avaliados. Os coeficientes de variação foram baixos, demonstrando pouca participação do erro experimental e, conseqüentemente, maior confiabilidade nos resultados (Tabela 1). As estimativas dos coeficientes de correlação fenotípica (rp), genotípicas (rG) e de ambiente (rE), para os caracteres avaliados (Tabela 2) possibilitou avaliar a magnitude e o direcionamento das influências de um caráter sobre o outro, dando um indicativo simples de associação entre os caracteres analisados. As correlações genéticas mostram ser, em sua maioria, superiores às correlações fenotípicas e as de ambiente. Essa superioridade é comentada por GONÇALVES et. al. (1996) como resultante dos efeitos modificadores do ambiente na associação dos caracteres genéticos. A maior correlação genética encontrada foi entre os caracteres MMG x NGE (-0,87). Esse fato evidenciou que esses caracteres encontramse inversamente relacionados, visto que quanto menor o NGE, maior será a massa média de grãos (MMG). Os coeficientes de correlação entre os NEP, MMG e REN com os caracteres NGE, TES e NEGE (Tabela 2), em sua maioria, foram negativos e significativos estatisticamente, o que demonstra haver associação inversa para a seleção de genótipos de alto rendimento. Quanto maior o número de grãos por espiga (NGE), maior o tamanho dessa espiga (TES) e maior o número de espiguetas por espiga (NEGE), determinará menor NEP, MMG e REN. Tais resultados estão de acordo com os obtidos, analisando cada genótipo separadamente pela comparação de médias (Tabela 2); os genótipos com maior NGE, TES e NEGE obtiveram menor NEP, MMG e REN. A análise de trilha proporciona um conhecimento detalhado das influências dos caracteres envolvidos em um diagrama previamente estabelecido, e justifica a existência de correlações positivas e negativas, de altas e baixas magnitudes entre os caracteres estudados. Assim, o desdobramento em efeitos diretos e indiretos dos coeficientes das correlações genéticas entre os caracteres em estudo, está inserido na Tabela 3. Entre os caracteres envolvidos no desdobramento das correlações, o caráter massa média de grãos (MMG) revelou ter alto efeito direto sobre o rendimento de grãos (r = 0,09). Essa estimativa corresponde à magnitude do valor do coeficiente de correlação com o rendimento de grãos (0,78), os quais evidenciam magnitudes e sinais iguais, permitindo estabelecer a hipótese da verdadeira existência de uma associação entre esses caracteres. Segundo VENCOVSKY e BARRIGA (1992) quando ocorre uma seleção direta sobre o referido caráter (MMG), será eficiente para melhorar o rendimento de grãos. Para o caráter número de espigas por planta (NEP) , com coeficiente de correlação de 0,61 positivo e com efeito direto negativo (-0,04) sobre o rendimento de grãos, verifica-se que a pressão de seleção intensificada sobre o NEP poderá não proporcionar ganhos genéticos satisfatórios no rendimento; conseqüentemente, essa alta correlação genética permite formular a hipótese, a qual é causada principalmente pelos efeitos indiretos (Tabela 3). Nessa situação, caracteres causais indiretos e significativos, devem ser considerados simultaneamente no processo de seleção como sugerido por CRUZ e REGAZZI (1997). Situação inversa é observada avaliando o caráter TES, de correlação pronunciadamente negativa (-0,44), mas o efeito direto moderadamente positivo (0,01), indicando ausência de causa e efeito. Em tal circunstância, é necessário aplicar uma seleção restrita, como sugerido por VENCOVSKY e BARRIGA (1992), a fim de eliminar os efeitos indiretos indesejáveis para aproveitar o efeito direto existente. A correlação genética entre NEP e o REN foi relativamente alta e positiva (0,61). Entretanto, o efeito direto sobre o rendimento foi inexpressivo (-0,04). Certamente nessa situação, os efeitos indiretos positivos e altos, como o caráter NGE (0,34) e NEGE (0,27) contribuíram para a alta correlação entre os caracteres NEP e REN, sendo, portanto, os caracteres que devem ser simultaneamente considerados para seleção no caráter REN. 4. CONCLUSÕES 1. Existem diferenças entre os genótipos avaliados, demonstrando presença de variabilidade genética. 2. A maior correlação genética negativa encontrada foi entre os caracteres MMG X NGE, visto que, quanto menor o NGE maior será a MMG. 3. A análise de trilha permite identificar o componente primário MMG, como o de maior potencial para seleção de genótipos superiores para o rendimento de grãos. REFERÊNCIAS CRUZ, C.D; REGAZZI, A.J. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético, 2 ed. Viçosa: UFV, 1997, 390p. CUKADAR-OLMEDO, B; MILLER, J.F. Inheritance of the stay-green trait in sunflower. Crop Science, Madison, v.37,p.150-153, 1997. DEWEY, D.R; LU, K.H. A correlation path coefficient analysis of components of crested wheatgrass seed production. Agronomy Journal, Madison, v.51, p.515-518, 1959. FALCONER, D.S.; MACKAY, J.F.C. Introduction to Quantitative Genetics. 4.ed. Malaysia: Lonman, 1996, 464p. FRANCO, F.A; CARVALHO, F.I.F. 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Foram utilizados sete genótipos, obtidos através de avanços de gerações de 1999 a 2001, utilizando duas épocas de semeadura por ano, na estação de verão e inverno, sob condições de campo e telado, na Universidade Federal de Pelotas, RS. O experimento foi desenvolvido em delineamento de blocos casualizados com cinco repetições. A análise de trilha permite identificar o componente primário MMG, como o de maior potencial para seleção de constituições genéticas superiores para rendimento de grãos. Palavras-chave: produtividade, enchimento de sementes, variabilidade. ABSTRACT PATH ANALYSIS FOR THE YIELD COMPONENTS OF SEEDS IN WHEAT The purpose of this work was to estimate the effect of the ear number per plant, number of seeds per ear, seed weight, size of the ear and spikiest number per ear in relation to the grain yield through its correlation coefficients and its decomposition by the path analysis. The genotypes were obtained through the advances generation in the years from 1999 to 2001, using two sowing dates per year, in the warm and cold season, in the field and in green-house conditions, at the Federal University of Pelotas, RS. The experiment was conducted as a randomized complete block design with five replications. The characters spikiest number for spike and hectoliter weight were identified by the path analysis, as being the one of high potentiality for selection of superior genetic constitutions for seed yield seeds. Key words: productivity, seed filling, variability. (1) Recebido para publicação em 29 de dezembro de 2003 e aceito em 29 de dezembro 2004. ( 2 ) Departamento de Fitotecnia, Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia (AGR-UFBA), Campus Universitário, 94380-000 Cruz das Almas (BA). E-mail: [email protected]; [email protected] (3) Departamento de Fitotecnia, UFPel. Caixa Postal 354, 96001-970 Pelotas, RS. (4) Pesquisador da Embrapa Clima Temperado (EMBRAPA/CPACT). Pelotas, RS. (5) Estudante de Graduação em Agronomia, Bolsista de Iniciação Científica do CNPq. (6) Estudante de Graduação em Agronomia, Bolsista PET/SESu/MEC. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.191-196, 2005 192 S.A. Silva et al. 1.INTRODUÇÃO O caráter “stay-green” tem sido utilizado como alternativa para promover redução da senescência em trigo (Triticum aestivum L.) em razão de maior permanência da área verde de folhas e colmos e, conseqüentemente, aumento no período de enchimento até a total formação dos grãos. O colmo e as folhas permanecem verdes até o completo enchimento dos grãos, que corresponde ao período da antese até a maturidade fisiológica, o que constitui estratégia eficiente na potencialização da disponibilidade de assimilados para a espiga e, conseqüentemente, na elevação do rendimento de grãos, principalmente o componente massa média do grão (SILVA et al., 2003). O conhecimento da correlação entre caracteres pode ser primordial quando o objetivo é a seleção simultânea de caracteres, ou quando um caráter de interesse revelar baixa herdabilidade, sendo de difícil identificação e resposta para obter ganho genético (SANTOS e VENCOVSKY, 1986). Ao selecionar um caráter de alta herdabilidade, de fácil aferição e identificação, e que evidencie alta correlação com o caráter desejado, o melhorista poderá obter progressos mais rápidos em relação ao uso de seleção direta (FALCONER e M A C KAY , 1996). O enchimento do grão começa nas espiguetas centrais e progride até as basais e distais da inflorescência (S LAFER et al., 1994; RODRIGUES , 2000). Nesse momento, a área foliar verde tem grande importância como tecido fotossintetizante ativo, proporcionando maior partição dos assimilados, no enchimento do grão. Com o intuito de entender melhor a associação entre caracteres, W RIGHT (1921) propôs um método denominado análise de trilha (path analysis) que desdobra as correlações estimadas em efeitos diretos e indiretos de cada caráter sobre uma variável básica, que segundo CRUZ e REGAZZI (1997), é estabelecido pelo conhecimento prévio do pesquisador de sua importância e de possíveis inter-relações expressas em diagramas de trilha. O sucesso dessa análise reside basicamente na formulação do relacionamento de causa-efeito entre os caracteres. O caráter “stay-green” tem sido objeto de estudo em diferentes espécies cultivadas, revelando correlações positivas com o rendimento de grãos e seus componentes (THOMAS e SMART, 1993; TENKAUANO et al., 1993; W ALULU et al., 1994; e C UKADAR-O LMEDO e M ILLER, 1997). Esse caráter foi utilizado por M CB EEN et al. (1983) como alternativa para promover uma progressiva redução da senescência em sorgo, resultando em efetivo aumento funcional da área foliar, na duração da capacidade fotossintética das folhas e colmos, após a maturidade fisiológica, promovendo maior enchimento do produto final, que é o grão. Assim, os objetivos deste trabalho foram avaliar a influência dos componentes do rendimento na produção de grãos de plantas providas do caráter “stay-green” e de maturação sincronizada, estimar o efeito dos coeficientes de correlações entre o rendimento de grãos e seus componentes, assim como a decomposição dos coeficientes de correlação genética por meio da técnica de análise de trilha, possibilitando observar os efeitos diretos e indiretos de um caráter sobre o outro. Essa estratégia é de grande importância em otimização de ganho genético no melhoramento de plantas de trigo para o aumento da produtividade de grãos. O rendimento de grãos de várias culturas tem sido descrito como produto de vários componentes de rendimento (D EWEY e L U , 1959; FRANCO e CARVALHO , 1989; N EDEL , 1994). Em cereais, com uma população de plantas constante, o rendimento de grãos pode simplesmente ser obtido pelo produto de três componentes principais: número de espigas por unidade de área, número de grãos por espiga e massa média do grão, e esses três componentes, até certo limite, variam independentemente um do outro. F RANCO e CARVALHO (1989), trabalhando com trigo, relataram que o número de grãos por espiga foi o componente de rendimento mais influenciado pelo melhoramento genético do trigo. Para incrementar a produtividade, parece ser necessário que os programas de melhoramento genético devam se orientar no aproveitamento da importância relativa dos componentes de rendimento. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.191-196, 2005 2. MATERIAL E MÉTODOS Os genótipos utilizados no trabalho foram obtidos através de avanços de gerações de 1999 a 2001, utilizando duas épocas de semeadura por ano, na estação de verão e inverno, sob condições de campo e telado. Por meio de autofecundação, até a geração F6, foram obtidos genótipos com presença e ausência do caráter “stay-green”, sendo eles: F 6-SG e F6-SZ, sendo consideradas linha isogênica desprovida do caráter, ambas na geração F6; foram realizados dois retrocruzamentos, até a geração F 6 , obtendo os genótipos RC1F 6-SG, RC 1F6 -SZ, RC2 F6-SG e RC2F 6-SZ para a presença e ausência do caráter “stay-green”; o genótipo-padrão CEP 27 foi empregado pelo seu elevado potencial produtivo. 193 Análise de trilha para componentes de rendimento em trigo O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com cinco repetições. A unidade experimental foi composta de três fileiras de 3 m de comprimento, utilizando uma densidade de semeadura de 160 sementes viáveis por m 2 . As dimensões para cada parcela foram de 3,0 x 0,9 m, com espaçamento de 0,3 m entre linhas. A semeadura foi efetuada manualmente e logo após a emergência das plântulas, foi realizada adubação conforme recomendações técnicas para a cultura (REUNIÃO DA COMISSÃO SUL-BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO, 1999). O controle de invasoras foi efetuado por capinas manuais e aplicação de herbicida de pósemergência; para o controle de moléstias da parte aérea, foi aplicado fungicida, além de inseticida para controle de insetos durante o alongamento do trigo e no início e fim da floração. Foram avaliados os caracteres rendimento de grãos (REN), determinado por meio da colheita e pesagem dos grãos em uma área de três linhas centrais de cada parcela; o caráter número de espigas por planta (NEP), defini do pela contagem das espigas, em área de um metro linear no período da inflorescência; o número de grãos por espiga (NGE), o número de espiguetas por espiga (NEGE) e o tamanho da espiga (TES), obtidos pela média de dez espigas coletadas ao acaso, nas três linhas centrais, e a massa média de grão (MMG), estabelecida por meio da pesagem de cem grãos. Para análise estatística, foram aplicados testes de variância dos dados para cada caráter avaliados, e estimadas as correlações fenotípicas, genotípicas e de ambiente pelo método proposto por STEEL e T ORRIE (1980) a 5% de significância pelo teste t, a n-2 G.L. Posteriormente os efeitos diretos e indiretos foram estimados pelo método de análise de trilha ou “path analysis”, desenvolvido por W R I G H T (1921) e aperfeiçoado por L I (1981). Considerou-se o modelo causal, descrito por C RUZ e R EGAZZI (1997) como análise de regressão padronizada, útil no desdobramento dos coeficientes de correlação em efeito direto e indireto, considerando os componentes primários como número de espiga por planta (NEP), número de grãos por espiga (NGE) e massa média de grão (MMG) e os componentes secundários como o tamanho da espiga (TES) e o número de espiguetas por espiga (NEGE), sendo TES como de relação de causa e efeito com os três componentes primários logaritimizados e NEGE como variável explicativa da logaritimização de NGE e MMG. Como a relação entre as variáveis explicativas (NEP, NGE e MMG) e a variável básica é estruturalmente multiplicativa, os dados foram transformados para a escala Logarítmica (CRUZ e REGAZZI , 1997), sendo a equação de log (Y) = log (P1) + log (P2) + log (P3) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ocorreu diferença significativa (p < 0,05) entre genótipos para os seis caracteres testados, demonstrando provável presença de variabilidade entre os genótipos avaliados. Os coeficientes de variação foram baixos, demonstrando pouca participação do erro experimental e, conseqüentemente, maior confiabilidade nos resultados (Tabela 1). Tabela 1. Médias, coeficientes de variação e quadrado médios da análise de variância dos caracteres número de espigas por planta (NEP), número de grãos por espiga (NGE), massa média de grãos (MMG), tamanho da espiga (TES), número de espiguetas por espiga (NEGE) e rendimento de sementes (REN) Fontes de Variação Quadrado Médio G.L NEP NSE n.o MMS TES NEGE REN g cm n.o kg ha -1 Bloco 4 2,36 13,26 26,57 0,20 0,28 3.769,33 Genótipo 6 0,62* 161,34* 82,53* 5,72* 2,95* 22.507,40* 24 0,12 28,96 2,01 0,17 0,15 4.425,10 Média - 3,59 50,43 34,15 10,89 9,92 3.705,10 CV (%) - 9,65 10,67 4,19 3,77 3,91 17,95 Resíduo * significativo a 5% de probabilidade pelo teste F. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.191-196, 2005 194 S.A. Silva et al. As estimativas dos coeficientes de correlação fenotípica (rp), genotípicas (rG) e de ambiente (rE), para os caracteres avaliados (Tabela 2) possibilitou avaliar a magnitude e o direcionamento das influências de um caráter sobre o outro, dando um indicativo simples de associação entre os caracteres analisados. As correlações genéticas mostram ser, em sua maioria, superiores às correlações fenotípicas e as de ambiente. Essa superioridade é comentada por G ONÇALVES et. al. (1996) como resultante dos efeitos modificadores do ambiente na associação dos caracteres genéticos. A maior correlação genética encontrada foi entre os caracteres MMG x NGE (-0,87). Esse fato evidenciou que esses caracteres encontram-se inversamente relacionados, visto que quanto menor o NGE, maior será a massa média de grãos (MMG). Os coeficientes de correlação entre os NEP, MMG e REN com os caracteres NGE, TES e NEGE (Tabela 2), em sua maioria, foram negativos e significativos estatisticamente, o que demonstra haver associação inversa para a seleção de genótipos de alto rendimento. Quanto maior o número de grãos por espiga (NGE), maior o tamanho dessa espiga (TES) e maior o número de espiguetas por espiga (NEGE), determinará menor NEP, MMG e REN. Tais resultados estão de acordo com os obtidos, analisando cada genótipo separadamente pela comparação de médias (Tabela 2); os genótipos com maior NGE, TES e NEGE obtiveram menor NEP, MMG e REN. A análise de trilha proporciona um conhecimento detalhado das influências dos caracteres envolvidos em um diagrama previamente estabelecido, e justifica a existência de correlações positivas e negativas, de altas e baixas magnitudes entre os caracteres estudados. Assim, o desdobramento em efeitos diretos e indiretos dos coeficientes das correlações genéticas entre os caracteres em estudo, está inserido na Tabela 3. Entre os caracteres envolvidos no desdobramento das correlações, o caráter massa média de grãos (MMG) revelou ter alto efeito direto sobre o rendimento de grãos (r = 0,09). Essa estimativa corresponde à magnitude do valor do coeficiente de correlação com o rendimento de grãos (0,78), os quais evidenciam magnitudes e sinais iguais, permitindo estabelecer a hipótese da verdadeira existência de uma associação entre esses caracteres. Segundo VENCOVSKY e B ARRIGA (1992) quando ocorre uma seleção direta sobre o referido caráter (MMG), será eficiente para melhorar o rendimento de grãos. Tabela 2. Estimativa dos coeficientes de correlações fenotípicas (rP), genotípicas (rG) e de ambiente (rE) entre seis caracteres avaliados em sete genótipos de trigo (Triticum aestivum L.) Caracteres NEP NGE n. NEP NGE MMG TES NEGE MMG o TES g NEGE n. o REN kg ha-1 rP 1 0,92* 0,55* -0,38* -0,55* 0,52* rG 1 - 0,59* -0,46* -0,65* 0,61* rE 1 0,23 0,35 0,08 -0,00 0,22 rP - 1 -0,78* 0,61* 0,78* -0,54* rG - 1 -0,87* 0,68* 0,85* -0,77* rE - 1 0,19 -0,01 0,28* 0,42* rP - - 1 -0,53* -0,96* 0,71* rG - - 1 -0,54* - 0,78* rE - - 1 -0,04 0,12 0,54* rP - - - 1 0,51* -0,38* rG - - - 1 0,51* -0,44* rE - - - 1 0,61* -0,05 rP - - - - 1 -0,68* rG - - - - 1 -0,86* rE - - - - 1 0,22 NEP = número de espigas por planta; NGE = número de grãos por espigas; MMG = massa média de grãos; TES= tamanho da espiga; REN = rendimento de grãos. *significativo a 5% de probabilidade pelo teste t. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.191-196, 2005 195 Análise de trilha para componentes de rendimento em trigo Para o caráter número de espigas por planta (NEP) , com coeficiente de correlação de 0,61 positivo e com efeito direto negativo (-0,04) sobre o rendimento de grãos, verifica-se que a pressão de seleção intensificada sobre o NEP poderá não proporcionar ganhos genéticos satisfatórios no rendimento; conseqüentemente, essa alta correlação genética permite formular a hipótese, a qual é causada principalmente pelos efeitos indiretos (Tabela 3). Nessa situação, caracteres causais indiretos e significativos, devem ser considerados simultaneamente no processo de seleção como sugerido por CRUZ e R EGAZZI (1997). Situação inversa é observada avaliando o caráter TES, de correlação pronunciadamente negativa (-0,44), mas o efeito direto moderadamente positivo (0,01), indicando ausência de causa e efeito. Em tal circunstância, é necessário aplicar uma seleção restrita, como sugerido por VENCOVSKY e BARRIGA (1992), a fim de eliminar os efeitos indiretos indesejáveis para aproveitar o efeito direto existente. A correlação genética entre NEP e o REN foi relativamente alta e positiva (0,61). Entretanto, o efeito direto sobre o rendimento foi inexpressivo (-0,04). Certamente nessa situação, os efeitos indiretos positivos e altos, como o caráter NGE (0,34) e NEGE (0,27) contribuíram para a alta correlação entre os caracteres NEP e REN, sendo, portanto, os caracteres que devem ser simultaneamente considerados para seleção no caráter REN. Tabela 3. Estimativas dos efeitos diretos e indiretos dos coeficientes de rendimento sobre o rendimento de sementes em linhas quase isogênicas de trigo “stay-green” e sincronizado, obtidas a partir dos dados transformados para a escala logarítmica Coeficientes de trilha com colinearidade Caráter NEP NGE MMG TES NEGE Vias de associação Efeito direto sobre REN Efeito indireto via NGE Efeito indireto via MMG Efeito indireto via TES Efeito indireto via NEGE Total (direto e indireto) Efeito direto sobre REN Efeito indireto via NEP Efeito indireto via MMG Efeito indireto via TES Efeito indireto via NEGE Total (direto e indireto) Efeito direto sobre REN Efeito indireto via NEP Efeito indireto via NGE Efeito indireto via TES Efeito indireto via NEGE Total (direto e indireto) Efeito direto sobre REN Efeito indireto via NEP Efeito indireto via NGE Efeito indireto via MMG Efeito indireto via NEGE Total (direto e indireto) Efeito direto sobre REN Efeito indireto via NEP Efeito indireto via NGE Efeito indireto via MMG Efeito indireto via TES Total (direto e indireto) Coeficiente de correlação Efeito direto Efeito indireto -0,04 -0,30 0,09 0,01 -0,42 - 0,34 0,05 -0,01 0,27 - 0,61 0,05 -0,08 0,01 -0,36 - -0,77 -0,03 0,26 -0,01 0,43 - 0,78 0,02 -0,20 -0,05 -0,21 - -0,44 0,03 -0,26 -0,09 0,01 - -0,86 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.191-196, 2005 196 S.A. Silva et al. 4. CONCLUSÕES 1. Existem diferenças entre os genótipos avaliados, demonstrando presença de variabilidade genética. 2. A maior correlação genética negativa encontrada foi entre os caracteres MMG X NGE, visto que, quanto menor o NGE maior será a MMG. 3. A análise de trilha permite identificar o componente primário MMG, como o de maior potencial para seleção de genótipos superiores para o rendimento de grãos. REFERÊNCIAS CRUZ, C.D; REGAZZI, A.J. Modelos biométricos aplicados ao melhoramento genético, 2 ed. Viçosa: UFV, 1997, 390p. CUKADAR-OLMEDO, B; MILLER, J.F. Inheritance of the staygreen trait in sunflower. Crop Science, Madison, v.37,p.150153, 1997. DEWEY, D.R; LU, K.H. A correlation path coefficient analysis of components of crested wheatgrass seed production. Agronomy Journal, Madison, v.51, p.515-518, 1959. NEDEL, J.L. Progresso genético no rendimento de grãos de cultivares de trigo lançado entre 1940 a 1992. 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The Guarani cultivar presents leaf pilosity conditioned by the dominant alleles HLHL and this character was used as a morphologic tracer. On the other hand, the IAC 201 cultivar does not show pilosity because it carries the recessive alleles (hlhl). The experiments were composed of four blocks, constituting of ten circunscribed rows of the cultivar under study, spaced 50 cm between themselves, and in the center of each block the Guarani cultivar was planted. The natural crossing rate and distance were evaluated in the plants resulting from the seeds of the IAC 201 cultivar from natural crossing, expressing pilosity in the leaves. After the evaluation of the plants arising from the first two rows of the experiment carried out in Carpina and the first three rows of the experiment done in Recife, it was concluded that in the first row (0.5 m) there were plants resulting from natural crossing. At this distance, the average crossing rate in Carpina was 0.30% while that in Recife was 0.35%. Key words: Oryza sativa L, upland rice, natural crossing. RESUMO O arroz (Oryza sativa L.) é uma espécie autógama com taxa de cruzamento natural de até 3%, sendo as variações influenciadas pelos genótipos e ambientes. O objetivo deste trabalho foi avaliar a taxa e a distância de cruzamento natural entre as cultivares de arroz-de-sequeiro Guarani e IAC 201. O estudo foi desenvolvido nos municípios de Carpina e do Recife, no Estado de Pernambuco nos anos agrícolas de 2001 e de 2002 respectivamente. Na cultivar Guarani observa-se pilosidade nas folhas condicionada por alelos dominantes HLHL e essa característica foi utilizada como marcador morfológico. Já na cultivar IAC 201 não, por ser portadora dos alelos recessivos (hlhl). Os experimentos foram compostos por quatro blocos, constituídos de dez linhas circunscritas da cultivar em estudo, espaçados a 50 cm entre si, e no centro de cada bloco plantou-se a cultivar Guarani. A taxa e a distância de cruzamento natural foram avaliadas nas plantas provenientes das sementes da cultivar IAC 201, oriundas do cruzamento natural, expressando pilosidade nas folhas. Após a avaliação das plantas referentes às duas primeiras linhas do experimento desenvolvido em Carpina e das três primeiras linhas do experimento de Recife, constatou-se que apenas na primeira linha (0,5 m) houve plantas resultantes de cruzamento natural. Nessa distância, verificou-se que a taxa média de cruzamento natural de 0,30% em Carpina e de 0,35% no Recife. Palavras chaves: Oryza sativa L., arroz-de-sequeiro, cruzamento natural. Introduction The cultivated rice species, Oryza sativa L., shows natural crossing rates which can vary from 0.0 to 1% (TAILLEBOIS and GUIMARÃES, 1988), from 0.0 to 1.89% (BEACHELl et al., 1938) and up to 3% (COSTE 1969). With these rates, the rice plant, as well as all species that presents less than 5% of natural crossing are classified as autogamous (DESTRO and MONTALVAN, 1999). The autogamy in this species is due to the non exposure of the stigmas during anthesis, while they remain between the palea and the lemma after this stage. Occasionaly, when the exposure of the stigmas occurs, normally the self-pollination has already taken place due to the phenomenom of cleistogamy, which is favoured by the lack of genetic incompactibility in the species (YOSHIDA, 1981). Currently, all the activities developed in the breeding program of rice, as well as in the seed multiplication fields in Brazil, are carried out without taking into acount the genic flow arising from cross pollination. The natural crossing rate of rice as well as other higher plants is dependent upon genotype and environmental conditions. The available informations in relation to crossing rate of rice were obtained in other countries with genoptypes which are not adapted to the climatic conditions in Brazil. The occurence of genic flow promotes the contamination of genetic and certified seed production fields due to genic segregation in the generations following crossing, which can compromise the seed production, causing economic losses. Furthermore, it must be considered that the occurence of genic flow during the lineage evaluation phases in the rice breeding programs, can delay or make it unviable the fixing of materials for release as a cultivar, which can compromise such programs. In that context, the knowledge about the natural crossing rate make those activities more efficient. In addition this information is essential for the correct sizing of barriers that prevent varietal contamination in the seed production fields, besides the adequate choice of the breding methods to be employed in the species. Studies have been done on the natural crossing rate and the effective distance of pollen dispersion on several species, using different techniques and methodologies, depending upon the mechanism by which the species are pollinated. In the species in which anemophilly is predominant, as in the case of rice, the method of pollen tracing can be used. However the genic tracers, both molecular an morphologic have been more widely adopted. Among the most common morphologic tracers, those detectable in the seeds and hybrid plants stand out as, for example, the pilosity character, vegetative parts coloration, and the flower and fruit color. In studies done on rice in five states in the US, BEACHELl et al. (1938), obtained a natural crossing rate varying from 0.0 to 1.89% using the genic tracer glutinose observed in the grains, where the variations observed were due to the year and location where the experiments were conducted. The utilization of morphologic genic tracers in similar studies have been done on other species. PATERNIANI and STORT (1974) studied the effective distance of pollen dispersion of corn (Zea mays L.) using the yellow endosperm variety Piracicaba, which is conditioned by the dominant homozigotous gene YY and plants of the white endosperm Perola Piracicaba variety, whichs is recessive homozigotous for the refered gene (yy). The pollination distance was evaluated by means of the rate of seeds with yellow endosperm observed in the cultivar Perola Piracicaba which was positioned at varying distances from a plant with the YY alleles grown in the center of each block. The yellow colored seeds observed were a result of the xenia effect in the triploid endosperm Yyy. GIORDANO et al. (1991), in order to evaluate the rate and natural crossing distance in peas (Pisum sativum L.), used as a morphologic genic tracer the dominant gene AfAfStSt, which conditions the phenotype of normal leaf and it's recessive afafstst, which conditions the "leafless" phenotype. In studies with the cowpea (Vigna unguiculata L. Walp) under the prevailing environmental conditions of the state of Ceara, TEOFILO et al. (1999) used the cultivars Cara Suja-2 (violet flowers, dominant gene) and Branquinha (white flowers, recessive gene). The present work aimed to estimate the rate and natural crossing distance among upland rice cultivars Guarany and IAC 201, in order to obtain informations to prevent contamination in certified seed production fields, as well as to optimize the fixing stages in rice breeding programs in northeast Brazil. Material and Methods The experiments were done in the years of 2001 and 2002, where in the first year they were conducted in the Estacão Experimental de Cana-de-acúcar of the Universidade Federal Rural de Pernambuco (EECAC/UFRPE), in the county of Carpina, located at 07º 51' 04" S, 35º 14' 27" W at an altitude of 178 m and in the second year they were developed in the campus of the UFRPE, located in the county of Recife at 08º 01' 01" S, 34º 56' 45" W and 10.3 m of altitude. For the installation of the experiments, seeds of the upland rice cultivars Gurani and IAC 201, both originated from genetic seed production fields, were used in order to ensure varietal purity. The Guarani cultivar presents pilosity in the leaves conditioned by the dominant allele HL and was utilized as a genic and morphological tracer. The cultivar IAC 201, however, does not show pilosity in the leaves, being recessive homozigotous for the referred gene (hlhl). The experiments were composed of four blocks , separated between themselves by a distance of 2 m, which had ten circumscribed rows at a spacing of 50 cm, planted to the cultivar IAC 201. In the center of the blocks, at a distance of 50 cm from the first row of the IAC 201 cultivar, in a circle of 20 cm radius, the cultivar Guarani was planted (Figure 1). In order to show flowering synchronization between both cultivars, 50 seeds of the Guarany cultivar were planted one week before the planting of the IAC 201, 100 seeds at the same day and 50 seeds one week later than the IAC 201 cultivar. Seeding density was 80 fertile seeds per linear meter for the IAC 201 cultivar and 200 seeds per linear meter of the Guarani seeded at the three dates. During the experimental period, routine cultural practices were observed according to the technical recommendations for the rice crop given by Breseghello and Stone (1998), besides supplemental irrigation by sprinklers during dry spells. After the ripening of the cultivar IAC 201, all the seeds on a 0.5 m line on the four cardinal positions were harvested on each line on every block (Figure 1) The seeds were cleaned, homogenized and air dried, and later a sample of 3000 seeds per line of each block was taken and planted in linear furrows for the evaluation of the presence or absence of pilosity in the leaves of the plants. The seeds of the cultivar IAC 201 resulting from cross pollination express the pilosity character in the leaves (HLhl), since this characteristic is due to dominant monogenic inheritance. The evaluation of the presence or absence of hairs in the leaves was done manually on all the plants originated from the 3000 seeds planted from the IAC 201 cultivar which reached the development stage of the third definitive leaf. The plants were counted and those that showed leaf pilosity (HLhl genotipes) were separated. The values were then converted to percentages and the average of the four blocks of each experimental location were a representation of the natural crossing rates. Results and Discussion Carpina The flowering of the two cultivars occurred from 05th to 12th of June 2001, in which period the accumulated rainfall, average temperature and relative humidity were 131.6 mm, 25 ºC and 83% respectively. The rates of natural crossing were evaluated in plants resulting from sampled seeds from a 0.5 and 1.0 m distance of the genic tracer and the results are shown in Table 1. At the 0.5 m distance four blocks were evaluated with a variable number of plants per block, for a total of 4212 plants, and the average rate of natural crossing was 0.30%, with a wide range of variation (0.00 to 0.72%). Consequently it can be concluded that in the distance of 0.5 m in Carpina, a cross pollination rate of up to 0.72% can be expected. At the distance of 1.0 m a total of 4602 plants were evaluated, for the sum of all four blocks, and no plants resulting from natural crossing were observed. In view of these results, distances from 1.5 m and higher were not evaluated. Recife In Recife, flowering occurred from 22nd to 29th of July, where in this period the accumulated rainfall, the average temperature and relative humidity were 78.8 mm, 25 ºC and 84% respectively. Table 1 shows the results from the evaluation of the natural crossing rates of the plants arising from the seeds sampled at the distances of 0.5, 1.0, and 1.5 m. At the distance of 0.5 m between 1093 and 2122 plants per block were evaluated, where the average crossing rate was 0.35%. Similarly to what occurred in Carpina, there was also a wide range of variation in the crossing rate between blocks (0.0 to 0.82%). For the distance of 1.0 m a total of 5315 plants was evaluated from the four blocks, however no plants from natural crossing were observed. At the distance of 1.5 m a total of 4776 plants were evaluated and also there was no plants resulting from natural crossing. As it was already known that there was no natural crossing between the varieties at a distance of 1.0 m, the evaluation done at the 1.5 m distance was performed in order to confirm the observations. Carpina and Recife The natural crossing rate in rice depends upon the genotype and the environment, that is, the local climatic conditions (BEACHELL et al. 1938), however, it has not been found in the literature rates higher than 3%. The results obtained from the experiments carried out in Carpina and Recife shows that natural crossing occurs up to a distance of 0.5 m. Even though there was great variation between blocks the rates of natural crossing were never higher than 0.82%. Thus, the results are similar to those described by TAILLEDOIS and GUIMARAES (1988). However, it is lower than the pollination rate cited by COSTE (1969). These results indicate that the variation that occurred in relation to the rainfall amount and the relative humidity of the air at the flowering period did not cause large alterations in the crossing rate and distance, since no natural crossing was observed at the distance of 1.0 m at both locations. Therefore, one meter of distance between both genotypes, interspaced by one row prevented the genic flow amongst themselves. It must be noted that there is no information available in relationship to the distance at which natural crossing can occur in rice. Furthermore, in order to manage seed production fields or for the utilization of seeds from experimental plots for the advancement of generation in breeding programs in upland rice, for security measure, it is recommended to maintain 2 m of distance between neighboring genotypes interspaced by one or two border rows of each genotype to avoid contamination. Conclusions The average natural crossing rate of the upland rice cultivar Guarani to the IAC 201 at a distance of 0.5 m at the environmental conditions of Recife and Carpina counties, state of Pernambuco was never higher than 0.82%.The distance of 2.0 m interspaced by one or two rows offers security to avoid the genic flux between the two upland rice cultivars. References BEACHELL, H.M; ADAIR, C.R.; JODON, N.E; DAVIS, L.L.; JONES, J.W. Extent of natural crossing in rice. Journal of the American society of Agronomy, v.30, p.743-753, 1938. BRESEGHELLO, F. AND STONE, L.F. Tecnologia para o arroz de terras altas. Santo Antônio de Goiás: EMBRAPA Arroz e Feijão, 1998. 161p. COSTE, R. EL arroz. Colección agricultura tropical. 2.ed. Barcelona: Editorial Blume, 1969. p.35-72. DESTRO, D.; MONTALVÁN, R. Modo de reprodução das plantas superiores In: DESTRO, D.; MONTALVÁN, R. Melhoramento genético de plantas. Londrina: UEL, 1999. p. 9-25. GIORDANO, L.B.; MARQUES, M.R.C.; MELO, P.E. Estimativa da taxa de cruzamento natural em ervilha. Horticultura Brasileira, Brasília, v.9, n.2, p.82-83, 1991. YOSHIDA, S. Fundamentals of rice crop science. Los Bãnos, Philippine: International Rice Research Institute, 1981. p.269, PATERNIANI, E.; STORT, A.C. Effective maize pollen dispersal in the Field. Euphytica, Dordrecht. V.23, p.129-134, 1974. TAILLEBOIS, J.; GUIMARÃES, E.P. Improving autocrossing rate in rice (Oryza sativa L.). In: Hibrid rice. Manila: International Rice Reseach Institute, 1988. p.175-180. TEÓFILO, E.M.; MAMEDE, F.B.F.; SOMBRA, N.S. Hibridação natural em caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp - Fabaceae). Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.23, p.1010-1011, 1999. Received for publication in November 11, 2003 and approved in January 10, 2005 197 Crossing rate and distance in upland rice Note CROSSING RATE AND DISTANCE IN UPLAND RICE (1) EDSON FERREIRA DA SILVA (2); LUCIELIO MANOEL DA SILVA (2); RICARDO MONTALVÁN (3) ABSTRACT Rice (Oryza sativa L.) is an autogamous species that shows natural crossing rates of up to 3%, where the variations are influenced by genotypes and environments. The present work aimed to evaluate the rates and distances of natural crossing between the upland rice cultivars Guarani and IAC 201. The study was done in the counties of Carpina and Recife, in the State of Pernambuco during the agricultural years of 2001 and 2002, respectively. The Guarani cultivar presents leaf pilosity conditioned by the dominant alleles HLHL and this character was used as a morphologic tracer. On the other hand, the IAC 201 cultivar does not show pilosity because it carries the recessive alleles (hlhl). The experiments were composed of four blocks, constituting of ten circunscribed rows of the cultivar under study, spaced 50 cm between themselves, and in the center of each block the Guarani cultivar was planted. The natural crossing rate and distance were evaluated in the plants resulting from the seeds of the IAC 201 cultivar from natural crossing, expressing pilosity in the leaves. After the evaluation of the plants arising from the first two rows of the experiment carried out in Carpina and the first three rows of the experiment done in Recife, it was concluded that in the first row (0.5 m) there were plants resulting from natural crossing. At this distance, the average crossing rate in Carpina was 0.30% while that in Recife was 0.35%. Key words: Oryza sativa L, upland rice, natural crossing. RESUMO TAXA E DISTÂNCIA DE CRUZAMENTO DO ARROZ-DE-SEQUEIRO O arroz (Oryza sativa L.) é uma espécie autógama com taxa de cruzamento natural de até 3%, sendo as variações influenciadas pelos genótipos e ambientes. O objetivo deste trabalho foi avaliar a taxa e a distância de cruzamento natural entre as cultivares de arroz-de-sequeiro Guarani e IAC 201. O estudo foi desenvolvido nos municípios de Carpina e do Recife, no Estado de Pernambuco nos anos agrícolas de 2001 e de 2002 respectivamente. Na cultivar Guarani observa-se pilosidade nas folhas condicionada por alelos dominantes HLHL e essa característica foi utilizada como marcador morfológico. Já na cultivar IAC 201 não, por ser portadora dos alelos recessivos (hlhl). Os experimentos foram compostos por quatro blocos, constituídos de dez linhas circunscritas da cultivar em estudo, espaçados a 50 cm entre si, e no centro de cada bloco plantou-se a cultivar Guarani. A taxa e a distância de cruzamento natural foram avaliadas nas plantas provenientes das sementes da cultivar IAC 201, oriundas do cruzamento natural, expressando pilosidade nas folhas. Após a avaliação das plantas referentes às duas primeiras linhas do experimento desenvolvido em Carpina e das três primeiras linhas do experimento de Recife, constatouse que apenas na primeira linha (0,5 m) houve plantas resultantes de cruzamento natural. Nessa distância, verificou-se que a taxa média de cruzamento natural de 0,30% em Carpina e de 0,35% no Recife. Palavras chaves: Oryza sativa L., arroz-de-sequeiro, cruzamento natural. (1) Received for publication in November 11, 2003 and approved in January 10, 2005. (2) Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), 52171-930 Recife (PE), Brasil. E-mail: [email protected] (3) EMBRAPA Meio-Norte, 64006-220 Teresina (PI), Brasil. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.197-201, 2005 198 E.F. da Silva et al. Introduction The cultivated rice species, Oryza sativa L., shows natural crossing rates which can vary from 0.0 to 1% (T AILLEBOIS and GUIMARÃES , 1988), from 0.0 to 1.89% (BEACHELl et al., 1938) and up to 3% (COSTE 1969). With these rates, the rice plant, as well as all species that presents less than 5% of natural crossing are classified as autogamous (D ESTRO and M ONTALVAN , 1999). The autogamy in this species is due to the non exposure of the stigmas during anthesis, while they remain between the palea and the lemma after this stage. Occasionaly, when the exposure of the stigmas occurs, normally the self-pollination has already taken place due to the phenomenom of cleistogamy, which is favoured by the lack of genetic incompactibility in the species (Y OSHIDA, 1981). Currently, all the activities developed in the breeding program of rice, as well as in the seed multiplication fields in Brazil, are carried out without taking into acount the genic flow arising from cross pollination. The natural crossing rate of rice as well as other higher plants is dependent upon genotype and environmental conditions. The available informations in relation to crossing rate of rice were obtained in other countries with genoptypes which are not adapted to the climatic conditions in Brazil. The occurence of genic flow promotes the contamination of genetic and certified seed production fields due to genic segregation in the generations following crossing, which can compromise the seed production, causing economic losses. Furthermore, it must be considered that the occurence of genic flow during the lineage evaluation phases in the rice breeding programs, can delay or make it unviable the fixing of materials for release as a cultivar, which can compromise such programs. In that context, the knowledge about the natural crossing rate make those activities more efficient. In addition this information is essential for the correct sizing of barriers that prevent varietal contamination in the seed production fields, besides the adequate choice of the breding methods to be employed in the species. Studies have been done on the natural crossing rate and the effective distance of pollen dispersion on several species, using different techniques and methodologies, depending upon the mechanism by which the species are pollinated. In the species in which anemophilly is predominant, as in the case of rice, the method of pollen tracing can be used. However the genic tracers, both molecular an morphologic have been more widely adopted. Among the most common morphologic tracers, those detectable in the seeds and hybrid plants stand out as, for Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.197-201, 2005 example, the pilosity character, vegetative parts coloration, and the flower and fruit color. In studies done on rice in five states in the US, BEACHEL l et al. (1938), obtained a natural crossing rate varying from 0.0 to 1.89% using the genic tracer glutinose observed in the grains, where the variations observed were due to the year and location where the experiments were conducted. The utilization of morphologic genic tracers in similar studies have been done on other species. PATERNIANI and STORT (1974) studied the effective distance of pollen dispersion of corn (Zea mays L.) using the yellow endosperm variety Piracicaba, which is conditioned by the dominant homozigotous gene YY and plants of the white endosperm Perola Piracicaba variety, whichs is recessive homozigotous for the refered gene (yy). The pollination distance was evaluated by means of the rate of seeds with yellow endosperm observed in the cultivar Perola Piracicaba which was positioned at varying distances from a plant with the YY alleles grown in the center of each block. The yellow colored seeds observed were a result of the xenia effect in the triploid endosperm Yyy. G IORDANO et al. (1991), in order to evaluate the rate and natural crossing distance in peas (Pisum sativum L.), used as a morphologic genic tracer the dominant gene AfAfStSt, which conditions the phenotype of normal leaf and it’s recessive afafstst, which conditions the “leafless” phenotype. In studies with the cowpea (Vigna unguiculata L. Walp) under the prevailing environmental conditions of the state of Ceara, TEOFILO et al. (1999) used the cultivars Cara Suja-2 (violet flowers, dominant gene) and Branquinha (white flowers, recessive gene). The present work aimed to estimate the rate and natural crossing distance among upland rice cultivars Guarany and IAC 201, in order to obtain informations to prevent contamination in certified seed production fields, as well as to optimize the fixing stages in rice breeding programs in northeast Brazil. Material and Methods The experiments were done in the years of 2001 and 2002, where in the first year they were conducted in the Estacão Experimental de Cana-de-acúcar of the Universidade Federal Rural de Pernambuco (EECAC/ UFRPE), in the county of Carpina, located at 07o 51’ 04” S, 35o 14’ 27” W at an altitude of 178 m and in the second year they were developed in the campus of the UFRPE, located in the county of Recife at 08o 01’ 01” S, 34o 56‘ 45” W and 10.3 m of altitude. For the installation of the experiments, seeds of the upland 199 Crossing rate and distance in upland rice rice cultivars Gurani and IAC 201, both originated from genetic seed production fields, were used in order to ensure varietal purity. The Guarani cultivar presents pilosity in the leaves conditioned by the dominant allele HL and was utilized as a genic and morphological tracer. The cultivar IAC 201, however, does not show pilosity in the leaves, being recessive homozigotous for the referred gene (hlhl). The experiments were composed of four blocks , separated between themselves by a distance of 2 m, which had ten circumscribed rows at a spacing of 50 cm, planted to the cultivar IAC 201. In the center of the blocks, at a distance of 50 cm from the first row of the IAC 201 cultivar, in a circle of 20 cm radius, the Block 1 cultivar Guarani was planted (Figure 1). In order to show flowering synchronization between both cultivars, 50 seeds of the Guarany cultivar were planted one week before the planting of the IAC 201, 100 seeds at the same day and 50 seeds one week later than the IAC 201 cultivar. Seeding density was 80 fertile seeds per linear meter for the IAC 201 cultivar and 200 seeds per linear meter of the Guarani seeded at the three dates. During the experimental period, routine cultural practices were observed according to the technical recommendations for the rice crop given by B RESEGHELLO and STONE (1998), besides supplemental irrigation by sprinklers during dry spells. Block 2 2.0 m 2.0 m Block 3 2.0 m Block 4 2.0 m Figure 1. Experimental layout: circunscribed lines represents the planting location of the IAC 210 cultivar, the central circle the location of the Guarani cultivar, which carries the tracer alleles HLHL, and the marks displayed in the four cardinal positions represents the locations where the sampling for the evaluation of the seeds was done. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.197-201, 2005 200 E.F. da Silva et al. After the ripening of the cultivar IAC 201, all the seeds on a 0.5 m line on the four cardinal positions were harvested on each line on every block (Figure 1) The seeds were cleaned, homogenized and air dried, and later a sample of 3000 seeds per line of each block was taken and planted in linear furrows for the evaluation of the presence or absence of pilosity in the leaves of the plants. The seeds of the cultivar IAC 201 resulting from cross pollination express the pilosity character in the leaves (HLhl), since this characteristic is due to dominant monogenic inheritance. The evaluation of the presence or absence of hairs in the leaves was done manually on all the plants originated from the 3000 seeds planted from the IAC 201 cultivar which reached the development stage of the third definitive leaf. The plants were counted and those that showed leaf pilosity (HLhl genotipes) were separated. The values were then converted to percentages and the average of the four blocks of each experimental location were a representation of the natural crossing rates. Results and Discussion Carpina The flowering of the two cultivars occurred from 05th to 12th of June 2001, in which period the accumulated rainfall, average temperature and relative humidity were 131.6 mm, 25 oC and 83% respectively. The rates of natural crossing were evaluated in plants resulting from sampled seeds from a 0.5 and 1.0 m distance of the genic tracer and the results are shown in Table 1. At the 0.5 m distance four blocks were evaluated with a variable number of plants per block, for a total of 4212 plants, and the average rate of natural crossing was 0.30%, with a wide range of variation (0.00 to 0.72%). Consequently it can be concluded that in the distance of 0.5 m in Carpina, a cross pollination rate of up to 0.72% can be expected. At the distance of 1.0 m a total of 4602 plants were evaluated, for the sum of all four blocks, and no plants resulting from natural crossing were observed. In view of these results, distances from 1.5 m and higher were not evaluated. Recife In Recife, flowering occurred from 22nd to 29 th of July, where in this period the accumulated rainfall, Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.197-201, 2005 the average temperature and relative humidity were 78.8 mm, 25 oC and 84% respectively. Table 1 shows the results from the evaluation of the natural crossing rates of the plants arising from the seeds sampled at the distances of 0.5, 1.0, and 1.5 m. At the distance of 0.5 m between 1093 and 2122 plants per block were evaluated, where the average crossing rate was 0.35%. Similarly to what occurred in Carpina, there was also a wide range of variation in the crossing rate between blocks (0.0 to 0.82%). For the distance of 1.0 m a total of 5315 plants was evaluated from the four blocks, however no plants from natural crossing were observed. At the distance of 1.5 m a total of 4776 plants were evaluated and also there was no plants resulting from natural crossing. As it was already known that there was no natural crossing between the varieties at a distance of 1.0 m, the evaluation done at the 1.5 m distance was performed in order to confirm the observations. Carpina and Recife The natural crossing rate in rice depends upon the genotype and the environment, that is, the local climatic conditions (BEACHELL et al. 1938), however, it has not been found in the literature rates higher than 3%. The results obtained from the experiments carried out in Carpina and Recife shows that natural crossing occurs up to a distance of 0.5 m. Even though there was great variation between blocks the rates of natural crossing were never higher than 0.82%. Thus, the results are similar to those described by TAILLEDOIS and G UIMARAES (1988). However, it is lower than the pollination rate cited by COSTE (1969). These results indicate that the variation that occurred in relation to the rainfall amount and the relative humidity of the air at the flowering period did not cause large alterations in the crossing rate and distance, since no natural crossing was observed at the distance of 1.0 m at both locations. Therefore, one meter of distance between both genotypes, interspaced by one row prevented the genic flow amongst themselves. It must be noted that there is no information available in relationship to the distance at which natural crossing can occur in rice. Furthermore, in order to manage seed production fields or for the utilization of seeds from experimental plots for the advancement of generation in breeding programs in upland rice, for security measure, it is recommended to maintain 2 m of distance between neighboring genotypes interspaced by one or two border rows of each genotype to avoid contamination. 201 Crossing rate and distance in upland rice Table 1. Natural crossing rate variation between blocks at the distances of 0.5 and 1.0 m from the genic tracer in the experiment carried out in Carpina in 2001 and 0.5, 1.0 and 1.5 m in Recife in 2002 Distance Block o 0.5 m 1 2o 3o 4o Nº of evaluated plants Nº of hybrid plants (HLhl) Natural crossing rate % Carpina 834 1056 1513 809 6 0 2 3 952 1265 1012 1373 4602 0 0 0 0 0 0.72 0.0 0.13 0.13 0.37 0.30 0.00 0.00 0.00 0.00 Recife 2.122 1.093 1.315 1.953 18 0 2 11 1.162 1.546 1.485 1.122 5.315 1.148 1.082 1.312 1.234 4.776 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Mean 1.0 m 1o 2o 3o 4o Total 0.5 m 1o 2o 3o 4o Mean 1.0 m 1o 2o 3o 4o Total 1.5 m Total 1o 2o 3o 4o Conclusions The average natural crossing rate of the upland rice cultivar Guarani to the IAC 201 at a distance of 0.5 m at the environmental conditions of Recife and Carpina counties, state of Pernambuco was never higher than 0.82%.The distance of 2.0 m interspaced by one or two rows offers security to avoid the genic flux between the two upland rice cultivars. 0.82 0.00 0.15 0.43 0.35 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 COSTE, R. EL arroz. Colección agricultura tropical. 2.ed. Barcelona: Editorial Blume, 1969. p.35-72. DESTRO, D.; MONTALVÁN, R. Modo de reprodução das plantas superiores In: DESTRO, D.; MONTALVÁN, R. Melhoramento genético de plantas. Londrina: UEL, 1999. p. 9-25. GIORDANO, L.B.; MARQUES, M.R.C.; MELO, P.E. Estimativa da taxa de cruzamento natural em ervilha. Horticultura Brasileira, Brasília, v.9, n.2, p.82-83, 1991. YOSHIDA, S. Fundamentals of rice crop science. Los Bãnos, Philippine: International Rice Research Institute, 1981. p.269, References PATERNIANI, E.; STORT, A.C. Effective maize pollen dispersal in the Field. Euphytica, Dordrecht. V.23, p.129-134, 1974. BEACHELL, H.M; ADAIR, C.R.; JODON, N.E; DAVIS, L.L.; JONES, J.W. Extent of natural crossing in rice. Journal of the American society of Agronomy, v.30, p.743-753, 1938. TAILLEBOIS, J.; GUIMARÃES, E.P. Improving autocrossing rate in rice (Oryza sativa L.). In: Hibrid rice. Manila: International Rice Reseach Institute, 1988. p.175-180. 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E-mail: [email protected] IIDepartamento de Produção Vegetal, Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz",Piracicaba (SP), Brasil RESUMO O banco de sementes representa um papel ecológico importante no suprimento de novos indivíduos para as comunidades vegetais. Nos agroecossistemas, o banco de sementes, normalmente constitui um sério problema à atividade agrícola, pois garante infestações de plantas daninhas por longo tempo, mesmo quando é impedida a entrada de novas sementes na área. O solo agrícola é um grande depósito de sementes, entretanto, a composição florística de um solo, em determinado momento, não representa o potencial real de infestação, já que certas espécies necessitam de condições especiais para a quebra de dormência e posterior germinação. Além disso, as sementes que estão na superfície do solo também estão sujeitas à predação, parasitismo e dispersão. Os diferentes sistemas de manejo do solo e das culturas influenciam decisivamente na germinação e composição florística de uma área e, portanto, no banco de sementes do solo. Devido à seletividade intra e interespecifica, o uso contínuo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, pode ocasionar mudanças na composição da comunidade de plantas daninhas selecionando espécies tolerantes ou biótipos resistentes ao controle. Palavras-chave: dinâmica, germinação, herbicidas, seleção. ABSTRACT The seed bank plays a very important ecological role in supplying new individuals to plant communities. In agro-ecosystems, seed banks normally present a serious problem to agricultural activity, as they guarantee weed infestation for a long period of time, even when the entry of new weed seeds into the area is prevented. Agricultural soil is a large seed deposit; however, the floristic composition of a soil at a certain moment does not represent the real infestation potential, as certain species need special conditions to break dormancy and to germinate. Furthermore, the seeds that are at the surface of the soil are also subjected to predation, parasitism and to being dispersed. Different systems of soil and crop management decisively influence the germination and floristic composition of an area and therefore, the soil seed bank. Due to intra and inter-specific selectivity, the continuous use of herbicides with the same action mechanism, they can cause changes in the composition of the weed community, selecting tolerant species or resistant biotypes to control. Key words: dynamics, germination, herbicides, selection. 1. INTRODUÇÃO O termo banco de sementes tem sido adotado para designar as reservas de sementes viáveis no solo, em profundidade e na sua superfície (ROBERTS, 1981). SIMPSON et al. (1989) definem que o banco de sementes é constituído por sementes vivas, presentes no solo ou associadas a restos vegetais. Normalmente, o tamanho do banco de sementes das plantas daninhas é, comparativamente, maior em áreas agrícolas do que em áreas não agrícolas de baixo distúrbio ambiental. Essa tendência é devido à estratégia dessas plantas de produzir grandes quantidades de sementes em ambientes que apresentem um alto distúrbio. DEUBER (1992) listou exemplos da elevada capacidade reprodutiva de algumas plantas daninhas: Amaranthus spp. (120.000 sementes/planta), Galinsoga parviflora (30.000 sementes/planta), Portulaca oleracea (53.000 sementes/planta). O número de flores e sementes de uma planta varia com as condições ambientais. Um estresse hídrico, por exemplo, pode acelerar o florescimento para garantir a perpetuação, porém haverá menor produção de flores e sementes. Muitas espécies de plantas daninhas se reproduzem por meio de partes vegetativas, como, por exemplo: Cyperus rotundus (rizomas, tubérculos e bulbos basais), Sorghum halepense (rizomas) e Cynodon dactylon (rizomas e estolhos). Há ainda, espécies como a Commelina benghalensis, que se reproduz através de sementes aéreas, sementes subterrâneas e fragmentos de caule. Alguns pesquisadores estimaram que a quantidade de sementes enterradas na camada arável do solo em diferentes ecossistemas e localidades pode variar de 2.000 até 70.000 sementes por metro quadrado (JOHNSON e ANDERSON, 1986). Os bancos são espacialmente muito heterogêneos e há também variações na distribuição vertical das sementes no solo (HOLUB, 1994). Geralmente, os bancos de sementes são compostos por muitas espécies, mas, normalmente, as poucas espécies dominantes compreendem de 70% a 90% do total (WILSON, 1988). Essas espécies, consideradas mais nocivas, são resistentes às medidas de controle e possuem capacidade de adaptação às diferentes condições edafoclimáticas. Existe um segundo grupo de sementes compreendendo de 10% a 20% do banco, que são espécies adaptadas à área geográfica. Um terceiro grupo é representado por uma pequena porcentagem de sementes recalcitrantes, com pequena longevidade, e por sementes introduzidas ou da própria cultura desenvolvida na área (WILSON et al., 1985). As informações sobre os bancos de sementes de plantas daninhas no solo poderão ser uma ferramenta bastante importante na tomada de decisão sobre práticas de controle e manejo integrado de plantas daninhas. Modelos bioeconômicos como HERB (WILKERSON et al., 1991) e WEEDCAM (LYBECKER et al., 1991) utilizam as informações sobre a composição dos bancos de sementes para estimar as populações de plantas daninhas, as perdas de produtividade nas culturas devido à competição e para recomendar táticas de controle mais econômicas. O objetivo desta revisão é abordar conceitos gerais sobre banco de sementes, dinâmica, dormência das sementes e sobre os herbicidas como fator de seleção. 2. DISPERSÃO, GERMINAÇÃO E DORMÊNCIA DAS SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS A dispersão de diásporos pode ocorrer por meios próprios (autocoria) ou com o auxílio de agentes externos (alocoria). No primeiro caso, os frutos caem no solo ou se abrem liberando suas sementes. Existem, também, espécies que lançam suas sementes a distâncias relativamente grandes da planta-mãe, como Euphorbia heterophylla e Ricinus communis (BRIGHENTI, 2001). No segundo caso, a dispersão é auxiliada por meios externos. DEUBER (1992) listou os seguintes tipos de dispersão de sementes de plantas daninhas: hidrocoria (disseminação pela água), anemocoria (disseminação pelo vento); zoocoria (disseminação pelos animais); e antropocoria (disseminação pelo homem). O homem é um importante agente dispersor de sementes de plantas daninhas, seja diretamente, pela utilização de sementes ou mudas contaminadas, seja indiretamente como, por exemplo, através do uso de implementos ou sacarias que não foram suficientemente limpas e que podem distribuir sementes de plantas daninhas de uma área a outra. A germinação das sementes é o resultado do balanço entre condições ambientais favoráveis e características intrínsecas das sementes, compreendendo uma seqüência ordenada de atividades metabólicas, que resulta na retomada do desenvolvimento do embrião, originando assim, uma plântula. As sementes viáveis e não dormentes germinam quando há disponibilidade de água, oxigênio, temperatura e em alguns casos luz (CASTRO e VIEIRA, 2001). Dentre os fatores ambientais que influenciam a germinação, a disponibilidade de água é um dos mais importantes. A partir do momento que a semente absorve água, ocorre a reidratação dos tecidos com conseqüente intensificação da respiração e de atividades metabólicas que geram a matéria e energia utilizada pelo embrião para a retomada de crescimento (CASTRO e VIEIRA, 2001). A germinação só ocorre dentro de determinados limites de temperatura, que variam com as diferentes espécies. As altas temperaturas ocasionam desnaturação de proteínas com conseqüente perda da atividade enzimática, enquanto baixas temperaturas diminuem ou paralizam o metabolismo e, portanto, afetam a velocidade, porcentagem e uniformidade da germinação. Segundo GUO e AL-KHATIB (2003), sementes de Amaranthus retroflexus e A. palmeri apresentaram picos de germinação quando expostas às temperaturas de 35/30 ºC dia/noite, já as sementes de A. rudis germinaram melhor na temperatura de 25/20 ºC dia/noite. De acordo com CASTRO e VIEIRA (2001), a germinação pode ser promovida ou inibida por exposição à luz branca. Assim, as sementes podem ser classificadas em: fotoblásticas positivas, que germinam melhor na presença de luz, fotoblásticas negativas, que germinam melhor na ausência de luz e fotoblásticas neutras que germinam com ou sem luz. A ação da luz vermelha (660-760 nm) leva o fitocromo da forma inativa (PV ou P660) à ativa (PVd ou P730), que liberaria ou ativaria as citocininas. Esse grupo de hormônio, agindo de maneira antagônica com relação aos inibidores da germinação, permite às giberelinas desempenhar varias funções no processo germinativo (CARVALHO e NAKAGAWA, 1988). As sementes de várias espécies de plantas daninhas são ortodoxas e, portanto, podem ser quiescentes se alguns dos fatores ambientais limitarem a germinação ou podem estar em estado de dormência (EGLEY, 1983). Os diásporos das plantas daninhas podem ser dotados de mecanismos de dormência variáveis e de elevada longevidade. De acordo com FOLEY (2001), dormência é uma "falha" temporária na capacidade das sementes para germinar mesmo dispondo de todas as condições ambientais favoráveis. A dormência é influenciada por fatores genéticos e ambientais (MURDOCK e ELLIS, 1992). As sementes provenientes da mesma planta-mãe têm diferentes graus de dormência, dependendo das condições ambientais, época de desenvolvimento e posição da semente na inflorescência (DEKKER et al., 1996). A dormência primária ou inata ocorre ainda na planta-mãe durante a formação e maturação da semente. Esse tipo de dormência é importante para muitas espécies, pois impede que as sementes germinem quando ainda estão ligadas às plantas-mãe. A dormência secundária ocorre após a dispersão das sementes maduras, sendo induzida por fatores naturais ou artificiais (CHADOEUF-HANNEL, 1985). Geralmente, a dormência secundária é induzida quando são fornecidas às sementes todas as condições necessárias à sua germinação, exceto uma. Segundo POPIGINIS (1985), altas tensões de dióxido de carbono, por exemplo, podem causar dormência secundária em sementes de Brassica alba. Segundo BRACCINI (2001) a dormência das sementes pode ser classificada de acordo com o mecanismo ou a localização do bloqueador ou inibidor, da seguinte maneira: embrião imaturo ou rudimentar, impermeabilidade do tegumento à água, impermeabilidade do tegumento ao oxigênio, restrições mecânicas, embrião dormente, dormência devido a inibidores internos e combinação de causas. A dormência distribui a germinação ao longo do tempo, garantindo o potencial de regeneração do banco de sementes mesmo em condições ambientais adversas à sobrevivência das espécies e de perturbação contínua do solo para fins de cultivo (CARMONA, 1992). Algumas sementes para germinarem precisam passar por processos de superação (quebra) de dormência. Por exemplo, Oryza sativa e Avena fatua, normalmente, requerem temperaturas altas e secagem (LEOPOLD et al., 1988). Ambrosia trifidia e Setaria viridis necessitam de baixas temperaturas e estratificação (BALLARD et al., 1996). A longevidade das sementes no solo é variável em função da espécie, da profundidade de enterrio, do tipo de solo e das condições climáticas. BURNSIDE et al. (1996) constataram que sementes de Setaria viridis, S. lutescens e S. primilia mantiveram a viabilidade por mais de dezessete anos quando enterradas a vinte centímetros de profundidade em cápsulas seladas. DAWSON e BRUNS (1975) enterraram sementes de Setaria viridis, Setaria glauca e Echinochloa crus-galli em três diferentes profundidades (2,5, 10 e 20 cm) resgatandoas após três anos. Constataram que as sementes de todas estas espécies tiveram maior longevidade em função do aumento da profundidade de enterrio. No caso do sistema de semeadura direta, onde há maior concentração de sementes na superfície do solo, ocorre um decréscimo do banco de sementes, devido à indução da germinação, perda de viabilidade ou predação e parasitismo. YENISH et al. (1992) observaram que sementes de Chenopodium album coletadas na superfície do solo, depois de instalado o sistema de plantio direto, germinaram 40% menos que as sementes coletadas a maiores profundidades após a aração. 3. DINÂMICA DO BANCO DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS O tamanho e a composição botânica das espécies que compõem uma população de sementes do solo, em dado momento, é o resultado do balanço entre a entrada de novas sementes e perdas por germinação, deterioração, parasitismo, predação e dispersão (CARMONA, 1992). Os principais meios de enriquecimento do banco de sementes são: produção de novas sementes por plantas remanescentes após controle e dispersão de sementes por meio de maquinários, animais, vento, água e o homem. O decréscimo do banco de sementes no solo varia em função da espécie, dormência, condições ambientais, presença de microrganismos e predadores, sendo a principal forma de decréscimo a germinação das sementes. A germinação é bastante variável ao longo do tempo, ocorrendo fluxos de emergência das plantas daninhas em determinados períodos do ano. Esses fluxos são resultantes de condições ambientais favoráveis e da habilidade das sementes viáveis em responder a estes estímulos (CARMONA, 1992). As plantas daninhas anuais que ocorrem no verão, por exemplo, necessitam das baixas temperaturas do inverno para a quebra de dormência e posterior germinação durante a primavera. Por outro lado, as plantas anuais que ocorrem no inverno necessitam das altas temperaturas do verão anterior para estimular a germinação durante o outono. Os bancos de sementes, em virtude do padrão de germinação e estabelecimento de plântulas foram classificados por THOMPSON e GRIME (1979) em transitórios e persistentes. No primeiro tipo, a germinação ocorre dentro do período de um ano após a dispersão e no segundo tipo, a ocorrência da germinação das sementes dispersas excede a esse período. As espécies de bancos transitórios não acumulam sementes no solo, sendo raras as espécies de plantas daninhas que fazem parte deste tipo de banco, dentre elas pode-se citar Avena fatua, Alopecurus myosuroides e Matricaria perflorata (BARRALIS et al., 1988). As espécies que formam o banco transitório estão adaptadas a explorar o espaço deixado por danos e morte da vegetação. O tamanho e a composição do banco de sementes reflete todo o manejo adotado no controle de plantas daninhas na área. Uma redução desse banco pode significar menor problema com plantas daninhas nas áreas agrícolas e, portanto, economia para os agricultores, especialmente com herbicidas, além de ambiente mais saudável, com menor utilização de produtos químicos. 4. METODOLOGIA PARA ESTUDO DO BANCO DE SEMENTES Uma predição precisa da emergência de plantas daninhas do banco de sementes permitiria aos agricultores um planejamento mais eficiente do controle e impediria a aplicação inadequada de herbicidas em condições de pré-emergência (CARDINA e SPARROW, 1996). A estimativa qualitativa e quantitativa das sementes no banco pode ser acompanhada pela germinação direta das amostras do solo ou extração física das sementes associada por ensaios de viabilidade (LUSCHEI et al., 1998). A eficácia desses métodos tem sido objeto de muitos estudos (ROBERTS, 1981; GROSS, 1990; CARDINA e SPARROW, 1996). Existem vários problemas relacionados com os métodos de estudo de banco de sementes das plantas daninhas. Dentre eles, destaca-se o número correto de amostragens do solo, métodos adequados para extração e separação das sementes das amostras do solo e cálculo da porcentagem de germinação dessas sementes. Segundo BENOIT et al. (1989), a forma mais correta para se determinar o número ideal de amostras é pela relação de variância, na qual quanto maior o número de sementes em uma amostra por área, menor será a variância e o número de amostras necessárias para estimar o banco de sementes. Em função do objetivo da análise do banco de sementes o número de sementes pode ser alterado. Se a proposta de estudo for apenas a quantificação total de sementes, para se verificar o potencial de infestação de uma área, o número de amostras pode ser menor do que se o objetivo do estudo for de determinar alterações qualitativas e de evolução do banco de sementes em resposta a algum sistema de manejo (MEDEIROS, 2001). Os valores de diâmetro de amostradores citados na literatura encontram-se entre 2,5 cm (ROBERTS e NIELSON, 1981) e 4,5 cm (BARRALIS et al., 1988). Com relação a profundidade recomenda-se trabalhar, em áreas cultivadas, nos primeiros 20 cm do perfil do solo, onde se pode encontrar 90% das sementes (BUHLER et al., 1997). Para a quantificação do banco de sementes, um dos métodos mais utilizados é a enumeração da emergência de plantas a partir de amostras de solos colocadas em bandejas em casa de vegetação (ROBERTS, 1981). BUHLER e MAXWELL (1993) aperfeiçoaram a separação física, que antes era somente feita através de peneiramento do solo, com a utilização de solução de alta densidade, utilizando o carbonato de potássio (K2CO3), seguido de centrifugação. Nesse método há uma separação dos constituintes orgânicos do solo que são recolhidos para posterior identificação. Houve também a constatação que a exposição das sementes a 3,2 M de K2CO3 por períodos menores que 30 minutos não afeta a germinação das sementes. Porém em trabalhos posteriores, LUSCHEI et al. (1998) verificaram que ao centrifugar as amostras na solução de carbonato de potássio, ocorreu uma redução da germinação de Setaria faberi de 94% para 52%. Esse fato ocorre, pois as sementes são danificadas devido ao alto pH da solução em conjunto com o aumento da pressão hidrostática na centrifugação. Alguns autores sugerem a utilização de outros produtos químicos como o sulfato de magnésio (MgSO4), conforme FREITAS (1990). 5. HERBICIDAS COMO FATOR DE SELEÇÃO DE ESPÉCIES DE PLANTAS DANINHAS Os herbicidas, quando utilizados por vários anos, podem permitir que certas espécies ou biótipos passem por seleção e se adaptem ao sistema de cultivo. Outros métodos de controle de plantas daninhas também podem exercer ação selecionadora como os meios mecânicos de controle que podem selecionar espécies de propagação vegetativa. O emprego intensivo de herbicidas com mecanismos de ação similares pode selecionar espécies tolerantes ou biótipos resistentes. Do mesmo modo, herbicidas com efeitos residuais curtos podem selecionar espécies com germinação tardia. Segundo WILSON (1988), o uso repetitivo de herbicidas com o mesmo espectro de ação na cultura do arroz por quatro anos tem permitido a predominância de Eleocharis kuroguwae, Cyperus serotinus e Scirpus juncoides em supressão de plantas daninhas dicotiledôneas. FRYER et al. (1982) constataram que o uso contínuo do 2,4-D em áreas produtoras de cereais na Inglaterra aumentou a freqüência de plantas daninhas monocotiledôneas como Avena spp. e Alopecurus myosuroides, que não são controladas por este herbicida. Algumas espécies de plantas daninhas têm sido relatadas como tolerantes às doses recomendadas do glyphosate, como por exemplo, Ambrosia artemisiifolia (KAPUSTA et al., 1994), Sesbania exaltatta, Ipomoea spp. (JORDAN et al., 1997; LICH et al., 1997). Na Argentina, PAPA et al. (2002), listaram as seguintes espécies de plantas daninhas tolerantes e que se tornaram problemas em áreas cultivadas por soja transgênica: Parietalia debilis, Petunia auxiliares, Verbena litoralis, Verbena bonariensis, Hybanthus parviflorus, Iresine difusa, Commelina erecta e Ipomoea spp. No Brasil, a tolerância ao glyphosate tem sido detectada em algumas espécies de plantas daninhas, como Commelina benghalensis, Commelina diffusa (DURIGAN et al., 1988; SANTOS et al., 2001), Ipomoea spp e Richardia brasiliensis (MONQUERO, 2003). Para prevenir a expansão de espécies de plantas daninhas tolerantes ao glyphosate, em áreas intensivamente tratadas com esse herbicida, como é o caso das áreas cultivadas por plantas transgênicas resistentes ao glyphosate e das áreas de plantio direto, recomendam-se medidas como a rotação de culturas e a mistura do herbicida glyphosate com outros diferentes mecanismos de ação (KRUSE et al., 2000). De acordo com LICH et al. (1997) várias misturas de glyphosate com outros herbicidas têm resultado em interações antagônicas e sinergísticas e que a mistura de glyphosate com os herbicidas bentazon ou fumiclorac resultou em respostas aditivas no controle de Abutilon theophrasti. As interações antagônicas são observadas mais freqüentemente quando se usam os herbicidas chlorimuron-ethyl, imazethapyr ou thifensulfuron em mistura com glyphosate. Pesquisas atestam que o uso de herbicidas inibidores da ALS, em mistura com herbicidas sistêmicos como o glyphosate, reduz o controle de algumas espécies de plantas daninhas (GERWICK et al., 1988). Outra forma utilizada para o controle efetivo de plantas daninhas tolerantes ao glyphosate como Ipomoea grandifolia, Commelina benghalensis, Spermacocea latifolia é a aplicação seqüencial do herbicida glyphosate. Em 2002, no XXIII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, foram apresentados cerca de 16 trabalhos com a aplicação seqüencial do glyphosate, avaliando o efeito sobre algumas plantas daninhas e sobre culturas transgênicas. Nas áreas de soja transgênicas do sul dos Estados Unidos, segundo NORSWORTHY et al. (2002), essa estratégia já é uma rotina e, normalmente, a primeira aplicação ocorre quando as plantas daninhas estão com 1020 cm de altura e a segunda, entre 15 e 20 dias após a primeira. Além do controle mecânico convencional, outras estratégias não químicas também devem ser consideradas no manejo de plantas daninhas. A rotação de culturas, particularmente daquelas com diferentes ciclos de vida, reduz o sucesso intrínseco das plantas daninhas que estão sincronizadas com a cultura, implicando na variação dos padrões de uso do solo e da interferência das plantas daninhas. Técnicas que reduzem o banco de sementes de plantas daninhas podem ser utilizadas tais como: pastagem ou produção de forrageiras, períodos de pousio utilizando herbicidas não-seletivos, utilização de adubos verdes, queima de resíduos da cultura ou de plantas daninhas após a colheita (POWLES e HOLTUM, 1994). REFERÊNCIAS BALLARD, T.O.; BAUMAN, T.T.; FOLEY, M.E. Germination viability and protein changes during stratification of giant ragweed seed. Journal of Plant Physiology, Stuttgart, v.149, n.1/2, p.229-232, 1996. BARRALIS, G.; CHADOEUF, R.; LOCHAMP, J.P. Longevité des semences des mauvaises herbes annuelles dans un sol cultivé. Weed Research, Oxford, v.28, p.407-417, 1988. BENOIT, D.L.; KENKEL, N.C.; CARVERS, P.B. Factors influencing the precision of soil seed bank estimates. Canadian Journal of Botany, Ottawa, v.67, n.10, p.28332840, 1989. BRACCINI, A. L. Banco de sementes e mecanismos de dormência em sementes de plantas daninhas. In: OLIVEIRA JÚNIOR, R.S.; CONSTANTIN, J. (Eds.). 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Banco de sementes de plantas daninhas e herbicidas 203 FITOTECNIA Artigo de Revisão BANCO DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS E HERBICIDAS COMO FATOR DE SELEÇÃO (1) PATRÍCIA ANDRÉA MONQUERO (2); PEDRO JACOB CHRISTOFFOLETI (3) RESUMO O banco de sementes representa um papel ecológico importante no suprimento de novos indivíduos para as comunidades vegetais. Nos agroecossistemas, o banco de sementes, normalmente constitui um sério problema à atividade agrícola, pois garante infestações de plantas daninhas por longo tempo, mesmo quando é impedida a entrada de novas sementes na área. O solo agrícola é um grande depósito de sementes, entretanto, a composição florística de um solo, em determinado momento, não representa o potencial real de infestação, já que certas espécies necessitam de condições especiais para a quebra de dormência e posterior germinação. Além disso, as sementes que estão na superfície do solo também estão sujeitas à predação, parasitismo e dispersão. Os diferentes sistemas de manejo do solo e das culturas influenciam decisivamente na germinação e composição florística de uma área e, portanto, no banco de sementes do solo. Devido à seletividade intra e interespecifica, o uso contínuo de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, pode ocasionar mudanças na composição da comunidade de plantas daninhas selecionando espécies tolerantes ou biótipos resistentes ao controle. Palavras-chave: dinâmica, germinação, herbicidas, seleção. ABSTRACT WEED SEED BANK AND HERBICIDES AS SELECTION FACTOR The seed bank plays a very important ecological role in supplying new individuals to plant communities. In agro-ecosystems, seed banks normally present a serious problem to agricultural activity, as they guarantee weed infestation for a long period of time, even when the entry of new weed seeds into the area is prevented. Agricultural soil is a large seed deposit; however, the floristic composition of a soil at a certain moment does not represent the real infestation potential, as certain species need special conditions to break dormancy and to germinate. Furthermore, the seeds that are at the surface of the soil are also subjected to predation, parasitism and to being dispersed. Different systems of soil and crop management decisively influence the germination and floristic composition of an area and therefore, the soil seed bank. Due to intra and inter-specific selectivity, the continuous use of herbicides with the same action mechanism, they can cause changes in the composition of the weed community, selecting tolerant species or resistant biotypes to control. Key words: dynamics, germination, herbicides, selection. (1) Recebido para publicação em 5 de agosto e aceito em 10 de janeiro de 2005. (2) Doutora em Agronomia, Área de concentração Fitotecnia, Departamento de Produção Vegetal, Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Caixa Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP), Brasil. E-mail: [email protected] ( 3) Departamento de Produção Vegetal, Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba (SP), Brasil. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.203-209, 2005 204 P.A. Monquero e P.J. Christffoleti 1. INTRODUÇÃO O termo banco de sementes tem sido adotado para designar as reservas de sementes viáveis no solo, em profundidade e na sua superfície (R OBERTS , 1981). SIMPSON et al. (1989) definem que o banco de sementes é constituído por sementes vivas, presentes no solo ou associadas a restos vegetais. Normalmente, o tamanho do banco de sementes das plantas daninhas é, comparativamente, maior em áreas agrícolas do que em áreas não agrícolas de baixo distúrbio ambiental. Essa tendência é devido à estratégia dessas plantas de produzir grandes quantidades de sementes em ambientes que apresentem um alto distúrbio. DEUBER (1992) listou exemplos da elevada capacidade reprodutiva de algumas plantas daninhas: Amaranthus spp. (120.000 sementes/planta), Galinsoga parviflora (30.000 sementes/planta), Portulaca oleracea (53.000 sementes/ planta). O número de flores e sementes de uma planta varia com as condições ambientais. Um estresse hídrico, por exemplo, pode acelerar o florescimento para garantir a perpetuação, porém haverá menor produção de flores e sementes. Muitas espécies de plantas daninhas se reproduzem por meio de partes vegetativas, como, por exemplo: Cyperus rotundus (rizomas, tubérculos e bulbos basais), Sorghum halepense (rizomas) e Cynodon dactylon (rizomas e estolhos). Há ainda, espécies como a Commelina benghalensis, que se reproduz através de sementes aéreas, sementes subterrâneas e fragmentos de caule. Alguns pesquisadores estimaram que a quantidade de sementes enterradas na camada arável do solo em diferentes ecossistemas e localidades pode variar de 2.000 até 70.000 sementes por metro quadrado (J OHNSON e ANDERSON , 1986). Os bancos são espacialmente muito heterogêneos e há também variações na distribuição vertical das sementes no solo (HOLUB, 1994). Geralmente, os bancos de sementes são compostos por muitas espécies, mas, normalmente, as poucas espécies dominantes compreendem de 70% a 90% do total (W I L S O N , 1988). Essas espécies, consideradas mais nocivas, são resistentes às medidas de controle e possuem capacidade de adaptação às diferentes condições edafoclimáticas. Existe um segundo grupo de sementes compreendendo de 10% a 20% do banco, que são espécies adaptadas à área geográfica. Um terceiro grupo é representado por uma pequena porcentagem de sementes recalcitrantes, com pequena longevidade, e por sementes introduzidas ou da própria cultura desenvolvida na área (WILSON et al., 1985). As informações sobre os bancos de sementes de plantas daninhas no solo poderão ser uma Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.203-209, 2005 ferramenta bastante importante na tomada de decisão sobre práticas de controle e manejo integrado de plantas daninhas. Modelos bioeconômicos como HERB (WILKERSON et al., 1991) e WEEDCAM (LYBECKER et al., 1991) utilizam as informações sobre a composição dos bancos de sementes para estimar as populações de plantas daninhas, as perdas de produtividade nas culturas devido à competição e para recomendar táticas de controle mais econômicas. O objetivo desta revisão é abordar conceitos gerais sobre banco de sementes, dinâmica, dormência das sementes e sobre os herbicidas como fator de seleção. 2. DISPERSÃO, GERMINAÇÃO E DORMÊNCIA DAS SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS A dispersão de diásporos pode ocorrer por meios próprios (autocoria) ou com o auxílio de agentes externos (alocoria). No primeiro caso, os frutos caem no solo ou se abrem liberando suas sementes. Existem, também, espécies que lançam suas sementes a distâncias relativamente grandes da planta-mãe, como Euphorbia heterophylla e Ricinus communis (BRIGHENTI, 2001). No segundo caso, a dispersão é auxiliada por meios externos. DEUBER (1992) listou os seguintes tipos de dispersão de sementes de plantas daninhas: hidrocoria (disseminação pela água), anemocoria (disseminação pelo vento); zoocoria (disseminação pelos animais); e antropocoria (disseminação pelo homem). O homem é um importante agente dispersor de sementes de plantas daninhas, seja diretamente, pela utilização de sementes ou mudas contaminadas, seja indiretamente como, por exemplo, através do uso de implementos ou sacarias que não foram suficientemente limpas e que podem distribuir sementes de plantas daninhas de uma área a outra. A germinação das sementes é o resultado do balanço entre condições ambientais favoráveis e características intrínsecas das sementes, compreendendo uma seqüência ordenada de atividades metabólicas, que resulta na retomada do desenvolvimento do embrião, originando assim, uma plântula. As sementes viáveis e não dormentes germinam quando há disponibilidade de água, oxigênio, temperatura e em alguns casos luz (CASTRO e VIEIRA, 2001). Dentre os fatores ambientais que influenciam a germinação, a disponibilidade de água é um dos mais importantes. A partir do momento que a semente absorve água, ocorre a reidratação dos tecidos com Banco de sementes de plantas daninhas e herbicidas conseqüente intensificação da respiração e de atividades metabólicas que geram a matéria e energia utilizada pelo embrião para a retomada de crescimento (CASTRO e VIEIRA, 2001). A germinação só ocorre dentro de determinados limites de temperatura, que variam com as diferentes espécies. As altas temperaturas ocasionam desnaturação de proteínas com conseqüente perda da atividade enzimática, enquanto baixas temperaturas diminuem ou paralizam o metabolismo e, portanto, afetam a velocidade, porcentagem e uniformidade da germinação. Segundo G UO e A L - KHATIB (2003), sementes de Amaranthus retroflexus e A. palmeri apresentaram picos de germinação quando expostas às temperaturas de 35/ 30 oC dia/noite, já as sementes de A. rudis germinaram melhor na temperatura de 25/20 oC dia/noite. De acordo com C ASTRO e V IEIRA (2001), a germinação pode ser promovida ou inibida por exposição à luz branca. Assim, as sementes podem ser classificadas em: fotoblásticas positivas, que germinam melhor na presença de luz, fotoblásticas negativas, que germinam melhor na ausência de luz e fotoblásticas neutras que germinam com ou sem luz. A ação da luz vermelha (660-760 nm) leva o fitocromo da forma inativa (PV ou P660) à ativa (PVd ou P730), que liberaria ou ativaria as citocininas. Esse grupo de hormônio, agindo de maneira antagônica com relação aos inibidores da germinação, permite às giberelinas desempenhar varias funções no processo germinativo (CARVALHO e NAKAGAWA, 1988). As sementes de várias espécies de plantas daninhas são ortodoxas e, portanto, podem ser quiescentes se alguns dos fatores ambientais limitarem a germinação ou podem estar em estado de dormência (EGLEY, 1983). Os diásporos das plantas daninhas podem ser dotados de mecanismos de dormência variáveis e de elevada longevidade. De acordo com F OLEY (2001), dormência é uma “falha” temporária na capacidade das sementes para germinar mesmo dispondo de todas as condições ambientais favoráveis. A dormência é influenciada por fatores genéticos e ambientais (MURDOCK e ELLIS, 1992). As sementes provenientes da mesma planta-mãe têm diferentes graus de dormência, dependendo das condições ambientais, época de desenvolvimento e posição da semente na inflorescência (DEKKER et al., 1996). A dormência primária ou inata ocorre ainda na planta-mãe durante a formação e maturação da semente. Esse tipo de dormência é importante para muitas espécies, pois impede que as sementes germinem quando ainda estão ligadas às plantas-mãe. 205 A dormência secundária ocorre após a dispersão das sementes maduras, sendo induzida por fatores naturais ou artificiais (C HADOEUF - HANNEL , 1985). Geralmente, a dormência secundária é induzida quando são fornecidas às sementes todas as condições necessárias à sua germinação, exceto uma. Segundo P OPIGINIS (1985), altas tensões de dióxido de carbono, por exemplo, podem causar dormência secundária em sementes de Brassica alba. Segundo B RACCINI (2001) a dormência das sementes pode ser classificada de acordo com o mecanismo ou a localização do bloqueador ou inibidor, da seguinte maneira: embrião imaturo ou rudimentar, impermeabilidade do tegumento à água, impermeabilidade do tegumento ao oxigênio, restrições mecânicas, embrião dormente, dormência devido a inibidores internos e combinação de causas. A dormência distribui a germinação ao longo do tempo, garantindo o potencial de regeneração do banco de sementes mesmo em condições ambientais adversas à sobrevivência das espécies e de perturbação contínua do solo para fins de cultivo (CARMONA, 1992). Algumas sementes para germinarem precisam passar por processos de superação (quebra) de dormência. Por exemplo, Oryza sativa e Avena fatua, normalmente, requerem temperaturas altas e secagem (L EOPOLD et al., 1988). Ambrosia trifidia e Setaria viridis necessitam de baixas temperaturas e estratificação (BALLARD et al., 1996). A longevidade das sementes no solo é variável em função da espécie, da profundidade de enterrio, do tipo de solo e das condições climáticas. B URNSIDE et al. (1996) constataram que sementes de Setaria viridis, S. lutescens e S. primilia mantiveram a viabilidade por mais de dezessete anos quando enterradas a vinte centímetros de profundidade em cápsulas seladas. DAWSON e BRUNS (1975) enterraram sementes de Setaria viridis, Setaria glauca e Echinochloa crus-galli em três diferentes profundidades (2,5, 10 e 20 cm) resgatando-as após três anos. Constataram que as sementes de todas estas espécies tiveram maior longevidade em função do aumento da profundidade de enterrio. No caso do sistema de semeadura direta, onde há maior concentração de sementes na superfície do solo, ocorre um decréscimo do banco de sementes, devido à indução da germinação, perda de viabilidade ou predação e parasitismo. Y E N I S H et al. (1992) observaram que sementes de Chenopodium album coletadas na superfície do solo, depois de instalado o sistema de plantio direto, germinaram 40% menos que as sementes coletadas a maiores profundidades após a aração. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.203-209, 2005 206 P.A. Monquero e P.J. Christffoleti 3. DINÂMICA DO BANCO DE SEMENTES 4. METODOLOGIA PARA ESTUDO DO BANCO DE PLANTAS DANINHAS DE SEMENTES O tamanho e a composição botânica das espécies que compõem uma população de sementes do solo, em dado momento, é o resultado do balanço entre a entrada de novas sementes e perdas por germinação, deterioração, parasitismo, predação e dispersão (CARMONA, 1992). Os principais meios de enriquecimento do banco de sementes são: produção de novas sementes por plantas remanescentes após controle e dispersão de sementes por meio de maquinários, animais, vento, água e o homem. O decréscimo do banco de sementes no solo varia em função da espécie, dormência, condições ambientais, presença de microrganismos e predadores, sendo a principal forma de decréscimo a germinação das sementes. Uma predição precisa da emergência de plantas daninhas do banco de sementes permitiria aos agricultores um planejamento mais eficiente do controle e impediria a aplicação inadequada de herbicidas em condições de pré-emergência (CARDINA e S P A R R O W , 1996). A estimativa qualitativa e quantitativa das sementes no banco pode ser acompanhada pela germinação direta das amostras do solo ou extração física das sementes associada por ensaios de viabilidade (LUSCHEI et al., 1998). A germinação é bastante variável ao longo do tempo, ocorrendo fluxos de emergência das plantas daninhas em determinados períodos do ano. Esses fluxos são resultantes de condições ambientais favoráveis e da habilidade das sementes viáveis em responder a estes estímulos (C ARMONA , 1992). As plantas daninhas anuais que ocorrem no verão, por exemplo, necessitam das baixas temperaturas do inverno para a quebra de dormência e posterior germinação durante a primavera. Por outro lado, as plantas anuais que ocorrem no inverno necessitam das altas temperaturas do verão anterior para estimular a germinação durante o outono. Os bancos de sementes, em virtude do padrão de germinação e estabelecimento de plântulas foram classificados por T H O M P S O N e G R I M E (1979) em transitórios e persistentes. No primeiro tipo, a germinação ocorre dentro do período de um ano após a dispersão e no segundo tipo, a ocorrência da germinação das sementes dispersas excede a esse período. As espécies de bancos transitórios não acumulam sementes no solo, sendo raras as espécies de plantas daninhas que fazem parte deste tipo de banco, dentre elas pode-se citar Avena fatua, Alopecurus myosuroides e Matricaria perflorata (BARRALIS et al., 1988). As espécies que formam o banco transitório estão adaptadas a explorar o espaço deixado por danos e morte da vegetação. O tamanho e a composição do banco de sementes reflete todo o manejo adotado no controle de plantas daninhas na área. Uma redução desse banco pode significar menor problema com plantas daninhas nas áreas agrícolas e, portanto, economia para os agricultores, especialmente com herbicidas, além de ambiente mais saudável, com menor utilização de produtos químicos. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.203-209, 2005 A eficácia desses métodos tem sido objeto de muitos estudos (ROBERTS , 1981; G ROSS , 1990; CARDINA e S P A R R O W , 1996). Existem vários problemas relacionados com os métodos de estudo de banco de sementes das plantas daninhas. Dentre eles, destacase o número correto de amostragens do solo, métodos adequados para extração e separação das sementes das amostras do solo e cálculo da porcentagem de germinação dessas sementes. Segundo B ENOIT et al. (1989), a forma mais correta para se determinar o número ideal de amostras é pela relação de variância, na qual quanto maior o número de sementes em uma amostra por área, menor será a variância e o número de amostras necessárias para estimar o banco de sementes. Em função do objetivo da análise do banco de sementes o número de sementes pode ser alterado. Se a proposta de estudo for apenas a quantificação total de sementes, para se verificar o potencial de infestação de uma área, o número de amostras pode ser menor do que se o objetivo do estudo for de determinar alterações qualitativas e de evolução do banco de sementes em resposta a algum sistema de manejo (M EDEIROS, 2001). Os valores de diâmetro de amostradores citados na literatura encontram-se entre 2,5 cm (R O B E R T S e NIELSON, 1981) e 4,5 cm (BARRALIS et al., 1988). Com relação a profundidade recomenda-se trabalhar, em áreas cultivadas, nos primeiros 20 cm do perfil do solo, onde se pode encontrar 90% das sementes (BUHLER et al., 1997). Para a quantificação do banco de sementes, um dos métodos mais utilizados é a enumeração da emergência de plantas a partir de amostras de solos colocadas em bandejas em casa de vegetação (R OBERTS , 1981). B UHLER e M AXWELL (1993) aperfeiçoaram a separação física, que antes era somente feita através de peneiramento do solo, com a utilização de solução de alta densidade, utilizando o carbonato de potássio (K2CO3 ), seguido de centrifugação. Nesse método há Banco de sementes de plantas daninhas e herbicidas uma separação dos constituintes orgânicos do solo que são recolhidos para posterior identificação. Houve também a constatação que a exposição das sementes a 3,2 M de K 2 CO 3 por períodos menores que 30 minutos não afeta a germinação das sementes. Porém em trabalhos posteriores, L U S C H E I et al. (1998) verificaram que ao centrifugar as amostras na solução de carbonato de potássio, ocorreu uma redução da germinação de Setaria faberi de 94% para 52%. Esse fato ocorre, pois as sementes são danificadas devido ao alto pH da solução em conjunto com o aumento da pressão hidrostática na centrifugação. Alguns autores sugerem a utilização de outros produtos químicos como o sulfato de magnésio (MgSO 4 ), conforme FREITAS (1990). 5. HERBICIDAS COMO FATOR DE SELEÇÃO DE ESPÉCIES DE PLANTAS DANINHAS Os herbicidas, quando utilizados por vários anos, podem permitir que certas espécies ou biótipos passem por seleção e se adaptem ao sistema de cultivo. Outros métodos de controle de plantas daninhas também podem exercer ação selecionadora como os meios mecânicos de controle que podem selecionar espécies de propagação vegetativa. O emprego intensivo de herbicidas com mecanismos de ação similares pode selecionar espécies tolerantes ou biótipos resistentes. Do mesmo modo, herbicidas com efeitos residuais curtos podem selecionar espécies com germinação tardia. Segundo W ILSON (1988), o uso repetitivo de herbicidas com o mesmo espectro de ação na cultura do arroz por quatro anos tem permitido a predominância de Eleocharis kuroguwae, Cyperus serotinus e Scirpus juncoides em supressão de plantas daninhas dicotiledôneas. FRYER et al. (1982) constataram que o uso contínuo do 2,4-D em áreas produtoras de cereais na Inglaterra aumentou a freqüência de plantas daninhas monocotiledôneas como Avena spp. e Alopecurus myosuroides, que não são controladas por este herbicida. Algumas espécies de plantas daninhas têm sido relatadas como tolerantes às doses recomendadas do glyphosate, como por exemplo, Ambrosia artemisiifolia (KAPUSTA et al., 1994), Sesbania exaltatta, Ipomoea spp. (JORDAN et al., 1997; LICH et al., 1997). Na Argentina, PAPA et al. (2002), listaram as seguintes espécies de plantas daninhas tolerantes e que se tornaram problemas em áreas cultivadas por soja transgênica: Parietalia debilis, Petunia auxiliares, Verbena litoralis, Verbena bonariensis, Hybanthus parviflorus, Iresine difusa, Commelina erecta e Ipomoea spp. 207 No Brasil, a tolerância ao glyphosate tem sido detectada em algumas espécies de plantas daninhas, como Commelina benghalensis, Commelina diffusa (DURIGAN et al., 1988; SANTOS et al., 2001), Ipomoea spp e Richardia brasiliensis (MONQUERO, 2003). Para prevenir a expansão de espécies de plantas daninhas tolerantes ao glyphosate, em áreas intensivamente tratadas com esse herbicida, como é o caso das áreas cultivadas por plantas transgênicas resistentes ao glyphosate e das áreas de plantio direto, recomendam-se medidas como a rotação de culturas e a mistura do herbicida glyphosate com outros diferentes mecanismos de ação (KRUSE et al., 2000). De acordo com L ICH et al. (1997) várias misturas de glyphosate com outros herbicidas têm resultado em interações antagônicas e sinergísticas e que a mistura de glyphosate com os herbicidas bentazon ou fumiclorac resultou em respostas aditivas no controle de Abutilon theophrasti. As interações antagônicas são observadas mais freqüentemente quando se usam os herbicidas chlorimuron-ethyl, imazethapyr ou thifensulfuron em mistura com glyphosate. Pesquisas atestam que o uso de herbicidas inibidores da ALS, em mistura com herbicidas sistêmicos como o glyphosate, reduz o controle de algumas espécies de plantas daninhas (GERWICK et al., 1988). Outra forma utilizada para o controle efetivo de plantas daninhas tolerantes ao glyphosate como Ipomoea grandifolia, Commelina benghalensis , Spermacocea latifolia é a aplicação seqüencial do herbicida glyphosate. Em 2002, no XXIII Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, foram apresentados cerca de 16 trabalhos com a aplicação seqüencial do glyphosate, avaliando o efeito sobre algumas plantas daninhas e sobre culturas transgênicas. Nas áreas de soja transgênicas do sul dos Estados Unidos, segundo NORSWORTHY et al. (2002), essa estratégia já é uma rotina e, normalmente, a primeira aplicação ocorre quando as plantas daninhas estão com 10-20 cm de altura e a segunda, entre 15 e 20 dias após a primeira. Além do controle mecânico convencional, outras estratégias não químicas também devem ser consideradas no manejo de plantas daninhas. A rotação de culturas, particularmente daquelas com diferentes ciclos de vida, reduz o sucesso intrínseco das plantas daninhas que estão sincronizadas com a cultura, implicando na variação dos padrões de uso do solo e da interferência das plantas daninhas. Técnicas que reduzem o banco de sementes de plantas daninhas podem ser utilizadas tais como: pastagem ou produção de forrageiras, períodos de pousio utilizando herbicidas não-seletivos, utilização de adubos verdes, queima de resíduos da cultura ou de plantas daninhas após a colheita (POWLES e HOLTUM, 1994). Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.203-209, 2005 208 P.A. Monquero e P.J. Christffoleti REFERÊNCIAS BALLARD, T.O.; BAUMAN, T.T.; FOLEY, M.E. Germination viability and protein changes during stratification of giant ragweed seed. Journal of Plant Physiology, Stuttgart, v.149, n.1/2, p.229-232, 1996. BARRALIS, G.; CHADOEUF, R.; LOCHAMP, J.P. Longevité des semences des mauvaises herbes annuelles dans un sol cultivé. Weed Research, Oxford, v.28, p.407-417, 1988. BENOIT, D.L.; KENKEL, N.C.; CARVERS, P.B. Factors influencing the precision of soil seed bank estimates. Canadian Journal of Botany, Ottawa, v.67, n.10, p.2833-2840, 1989. BRACCINI, A. L. 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E-mail: [email protected] IVCom bolsa de produtividade do CNPq RESUMO A adoção de técnicas que possibilitem a maximização da eficiência do uso de nitrogênio pelo feijoeiro é de extrema importância para aumentar a produtividade e qualidade de grãos, reduzir o custo de produção e evitar contaminação ambiental. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) à aplicação de nitrogênio em cobertura nos estádios V4 e no início do R7, em sistema de plantio direto. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, em esquema fatorial 2 x 4, com quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos pela aplicação de dois níveis de N (0 e 90 kg ha-1) no estádio V4, combinados com quatro níveis de N (0, 30, 60 e 120 kg ha-1) no início do estádio R7. Quando não foi realizada adubação nitrogenada de cobertura no estádio V4, a aplicação de N no início do estádio R7 aumentou a produtividade de grãos do feijoeiro em sistema de plantio direto. A produtividade máxima de grãos foi obtida com a aplicação exclusiva de 90 kg ha-1 de N no estádio V4, sendo necessárias, para atingir o mesmo nível de produtividade, maiores doses de N quando aplicadas apenas em R7. Quando é realizada aplicação de N em V4, adubações adicionais em R7 não resultam em aumento de produtividade. A aplicação de N em cobertura no estádio V4 foi mais eficiente do que a aplicação em R7, acarretando em maior incremento na produtividade por unidade do nutriente aplicado. A aplicação de N em cobertura, nos estádios V4 e início do R7, proporcionou aumento no teor de proteína nos grãos do feijoeiro. Palavras-chave: Phaseolus vulgaris, adubação nitrogenada, época de aplicação, proteína. ABSTRACT The utilization of techniques that allow the maximization efficiency of nitrogen use by the common bean is important to increase grain yield and quality, to decrease production cost, and to avoid environmental contamination. The objective of this work was to evaluate the performance of common bean (Phaseolus vulgaris L.) in response to levels of sidedressed nitrogen applied on the V4 and on the beginning of R7 development stages, in no-tillage system. A randomized complete block design, in a 2 x 4 factorial scheme, with four replications was used. The treatments were a combination of two N levels (0 and 90 kg ha-1) in the V4 stage and four N levels (0, 30, 60, and 120 kg ha-1) in the beginning of the R7 stage. When nitrogen fertilization was not used in V4 stage, the application in the beginning of R7 stage increased the common bean grain yield in no-tillage system. Nitrogen application in the V4 stage (90 kg ha-1) provided the maximum grain yield. When nitrogen was applied in the V7 stage, its was necessary greater levels for obtaining the same yield. When nitrogen fertilization was used in the V4 stage, the application in the beginning of the R7 stage did not increase common bean grain yield. Nitrogen side dressing in the V4 stage was more efficient than in V7, resulting in higher grain yield per nutrient unit. The application of nitrogen in the V4 stage and in the beginning of R7 development stage, increased grain protein content. Key words: Phaseolus vulgaris, nitrogen fertilization, time of application, protein. 1. INTRODUÇÃO O cultivo do feijoeiro em sistema de plantio direto tem aumentado no Brasil, devido a inúmeros benefícios que esse sistema proporciona às características físicas, químicas e biológicas do solo. O sistema de plantio direto, em razão da manutenção dos resíduos vegetais na sua superfície, promove maior proteção contra o impacto direto das gotas de chuva, favorece a infiltração, reduz perda de água por escoamento superficial e perda de solo por erosão (HERMANI et al., 1999, STONE e SILVEIRA, 1999). Nesse sistema, porém, pelo fato de os restos culturais permanecerem na superfície do solo, a taxa de mineralização da matéria orgânica é mais lenta, quando comparada com sistema convencional (GONÇALVES e CERETTA, 1999), o que tem acarretado menor disponibilidade de nitrogênio às plantas, principalmente, na fase de implantação até a estabilização do sistema (SORATTO et al., 2001; SILVA et al., 2002; SORATTO et al., 2004). Dessa forma, a dose de nitrogênio na adubação do feijoeiro pode estar condicionada ao tipo de resíduo vegetal (gramínea ou leguminosa) presente na superfície do solo, já que palhada com elevada relação C/N, característica da maioria das gramíneas, proporciona maior imobilização de nitrogênio para sua decomposição (CERETTA et al., 2002), sendo necessário maior quantidade desse nutriente para obtenção de produtividades elevadas (BORDIN, et al., 2003; SORATTO et al., 2004). O feijoeiro é planta exigente e, por ser de ciclo curto, necessita que os nutrientes estejam prontamente disponíveis nos estádios de demanda, para que não haja limitação da produtividade (SILVA e SILVEIRA, 2000). O N é o nutriente absorvido em maiores quantidades pelo feijoeiro e, pelo fato de aproximadamente 50% do N total absorvido ser exportado para os grãos, a sua deficiência é a mais freqüente (OLIVEIRA et al., 1996). Esse nutriente tem grande importância, principalmente nas fases de florescimento e enchimentos de grãos, pois, como há vagens e grãos crescendo quase ao mesmo tempo, a demanda por N nessa fase é alta (PORTES, 1996). Dessa forma, o feijoeiro não absorve todo o N que necessita nos primeiros 50 dias do ciclo (ROSOLEM, 1987). WESTERMANN et al. (1981) observaram uma absorção de até 3,5 kg/ha dia-1 no período de enchimento de grãos. De acordo com HUNGRIA et al. (1985), 60% do N mineral total acumulado pelo feijoeiro durante o ciclo, são absorvidos entre os estádios de florescimento e meados do estádio de enchimento dos grãos. Como o nitrogênio das folhas é translocado para os grãos, as folhas mais velhas cairão e a taxa fotossintética das folhas remanescentes decrescerá quase simultaneamente se a disponibilidade do nutriente no solo for baixa nessa fase do ciclo da cultura (PORTES, 1996), podendo ocorrer redução da produtividade de grãos. Além disso, como o N é um nutriente que se perde facilmente por lixiviação, volatilização e desnitrificação no sistema solo-planta, o seu manejo adequado é tido como um dos mais difíceis (SANTOS, et al., 2003), sendo essencial, para a obtenção de altas produtividades, que esse nutriente seja colocado à disposição da planta em tempo e locais adequados (CARVALHO, et al., 2001). Dessa forma, técnicas de manejo que possibilitem a maximização de absorção de N pelo feijoeiro são de extrema importância, devido ao alto custo dos fertilizantes nitrogenados e as perdas de N por lixiviação, que podem representar riscos ao ambiente pela contaminação de mananciais de água (SANTOS et al., 2003). Para ROSOLEM (1996), a adubação nitrogenada deve ser realizada de modo que propicie boa nutrição da planta na época em que ainda é possível aumentar o número de vagens por planta, ou seja, até o início do florescimento. MIYASAKA et al. (1963) recomendam aplicação do N em cobertura até 20 dias após a emergência das plântulas (DAE). Em outros trabalhos, observa-se que a adubação nitrogenada de cobertura pode ser realizada no máximo até 36 DAE (ROSOLEM, 1987). Contudo, SORATTO et al. (2001) verificaram que em feijoeiro cultivado em sistema de plantio direto, após a cultura do milho, a aplicação do nitrogênio em cobertura aos 15 DAE, proporcionou maior produtividade de grãos, quando comparado com a aplicação aos 35 DAE. Outro fator importante é que, no Brasil, a cultura do feijoeiro ocupa posição de destaque, não apenas pelo volume de grãos produzidos, mas também pela importância dessa leguminosa na alimentação humana. O feijão é a principal fonte de proteína da maioria da população brasileira, o que tem proporcionado interesse no estudo de técnicas que acarretem aumento da produtividade e da qualidade dos grãos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do feijoeiro à aplicação de nitrogênio em cobertura nos estádios de 3.ª folha trifoliolada e no início da formação das vagens em sistema de plantio direto. 2. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na Fazenda Experimental Lageado pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP, município de Botucatu, SP (48º 23' W e 22º 58' S; 765 m de altitude). O solo do local é Nitossolo Vermelho estruturado (EMBRAPA, 1999). O clima, conforme a classificação de Köppen, é do tipo Cwa, que se caracteriza como tropical de altitude, com inverno seco e verão quente e chuvoso. Durante a realização do experimento ocorreram 596 mm de chuvas, bem distribuídas durante o período de cultivo. Antes da instalação do experimento, foi coletada amostra composta de 10 subamostras, na camada de 0-0,20 m, para a determinação das características químicas do solo, realizadas de acordo com RAIJ e QUAGGIO (1983), cujos resultados foram: matéria orgânica, 26,0 g dm-3; pH (CaCl2), 4,4; P (resina), 14,9 mg dm-3; K, Ca e Mg, 1,6, 41,3 e 20,6 mmolc dm-3, respectivamente, e saturação por bases, 56%. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, em esquema fatorial 2 x 4, com quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos pela aplicação de dois níveis de N (0 e 90 kg ha-1) no estádio V4 (FERNANDEZ et al, 1986), ou seja, 22 DAE e quatro níveis de N (0, 30, 60 e 120 kg ha-1), no início do estádio R7 (50 DAE), aplicados em cobertura, tendo como fonte o nitrato de amônio. Cada parcela foi constituída por seis linhas de 5 m de comprimento. A área útil foi constituída pelas quatro linhas centrais, desprezando-se 0,50 m em ambas as extremidades de cada linha. O experimento foi instalado em área cultivada há três anos no sistema de plantio direto, com a sucessão milheto/milho, milheto/arroz e aveia-preta/arroz/aveia-preta, o que a caracterizava como de alta resposta à aplicação de N para o feijoeiro (AMBROSANO et al., 1996). No momento da instalação do experimento a área encontrava-se coberta com palhada de aveiapreta. A dessecação da cobertura vegetal do solo foi realizada mediante a aplicação de 1,6 kg ha-1 do i.a. de glifosate. A semeadura foi realizada mecanicamente em 7/1/2004, utilizando a cultivar Pérola com espaçamento de 0,45 m entre as linhas e 15 sementes por metro linear. Por ocasião da semeadura, aplicaram-se em todos os tratamentos, 230 kg ha-1 da fórmula 0828-16 de NPK. A emergência das plântulas ocorreu em 12/1/2004. O florescimento pleno da cultura ocorreu aos 41 DAE e o ciclo teve a duração de 86 dias em todos os tratamentos. Nas adubações de cobertura o adubo foi distribuído sobre a superfície do solo, ao lado e aproximadamente a 10 cm das fileiras de plantas. O controle das plantas daninhas foi realizado mediante duas aplicações seqüenciais do herbicida fluazifop-p-butil + fomesafen (100 + 125 g i.a. ha-1 de em cada aplicação). Durante o desenvolvimento da cultura foram realizados os tratos culturais fitossanitários. Por ocasião do florescimento pleno determinou-se massa de matéria seca da parte aérea das plantas, coletando-se 10 plantas por parcela e secando-as em estufa com circulação forçada de ar a 60-70 ºC, até atingir massa constante. Para determinar o teor de N total nas folhas foram coletadas todas as folhas de 10 plantas de cada parcela no florescimento pleno e secas em estufa com circulação forçada de ar a 60-70 ºC, até atingir massa constante, e em seguida foram moídas e submetidas à análise, conforme método descrito em MALAVOLTA et al. (1997). Por ocasião da colheita foram coletadas 10 plantas de cada parcela e determinados o número de vagens/planta, o número de grãos/vagem e a massa de cem grãos. Em duas fileiras da área útil de cada parcela, as plantas foram arrancadas e deixadas a secar em pleno sol e em seguida submetidas à trilha mecânica; a umidade dos grãos foi corrigida para 0,13 kg kg-1 (base úmida), obtendo-se a produtividade de grãos. Para determinar o teor de proteína, os grãos foram secos em estufa com circulação forçada de ar a 60-70 ºC, até atingir massa constante; em seguida, foram moídos e submetidos à análise para determinação do teor de N, conforme método descrito em MALAVOLTA et al. (1997), posteriormente, multiplicando-se o teor de N pelo fator 6,25, obteve-se o teor de proteína nos grãos. Com a multiplicação do valor do teor de proteína pelo valor de produtividade de grãos da parcela correspondente, obteve-se a produtividade de proteína. Os resultados foram submetidos à análise de variância. As médias referentes à aplicação de N no estádio V4 foram comparadas pelo teste DMS a 5% de probabilidade, enquanto os efeitos dos níveis de N aplicados no início do estádio R7 foram avaliados por meio de análise de regressão, adotando-se como critério para escolha do modelo a magnitude dos coeficientes de regressão significativos a 5% de probabilidade pelo teste t. Determinou-se também o fator de utilização do N aplicado, mediante a relação kg ha-1 de N aplicado / kg ha-1 da produtividade incrementada, em relação à testemunha (sem aplicação de N), em ambas as épocas de aplicação de N. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nos tratamentos que receberam 90 kg ha -1 de N no estádio V4 ocorreu maior massa de matéria seca (Tabela 1). Os resultados podem ser explicados pela maior demanda de nitrogênio, já que os resíduos culturais presentes na área, por serem provenientes de gramíneas, provavelmente possuíam alta relação C/N, o que pode ter aumentado a intensidade de imobilização de N pelos microrganismos, proporcionando menor disponibilidade do nutriente às plantas, na fase inicial do desenvolvimento, corroborando com CERETTA et al. (2002). Além disso, no sistema de plantio direto, devido à permanência dos restos culturais na superfície do solo, a taxa de mineralização da matéria orgânica é lenta (GONÇALVES e CERETTA, 1999), o que promove reduzida liberação de N para a cultura subseqüente, na fase inicial do desenvolvimento. SORATTO et al. (2001) e PIASKOWSKI et al. (2001) também verificaram aumento da massa de matéria seca do feijoeiro cultivado em sucessão a gramíneas, em plantio direto, em virtude da aplicação de N em cobertura. SORATTO et al. (2001) verificaram que a aplicação de todo o N aos 15 DAE proporcionou maior acúmulo de matéria seca nas plantas, quando comparada com a aplicação aos 25 ou 35 DAE. Os resultados evidenciam que, embora a época de máxima absorção de N situa-se entre os estádios de florescimento e meados do enchimento de grãos, o feijoeiro necessita de N para seu crescimento inicial (AMBROSANO et al., 1996; CARVALHO et al., 2001), principalmente, quando cultivado em sistema de plantio direto, em sucessão a gramíneas. A aplicação de N no estádio V4 proporcionou maior teor do nutriente nas folhas do feijoeiro (Tabela 1). Mesmo nos tratamentos que não receberam N no estádio V4, os teores de N nas folhas estavam dentro da faixa considerada adequada para o feijoeiro, ou seja, 30-50 g kg-1 (AMBROSANO et al., 1997). SORATTO et al. (2004) verificaram que a elevação no teor de N nas folhas do feijoeiro, mesmo dentro da faixa considerada adequada, promoveu acréscimos no teor de clorofila e, conseqüentemente, na produtividade de grãos. Segundo esses autores, em sistema de plantio direto, houve maior aproveitamento do N pelo feijoeiro, provavelmente, devido à manutenção de maior umidade no solo. O número de vagens por planta foi influenciado pela interação entre aplicação de N no estádio V4 e no início do R7 (Figura 1). Com a aplicação de N no estádio V4, observou-se maior número de vagens por planta. Essa é uma característica resultante da adubação nitrogenada, pois, quando a planta é mal nutrida em relação a esse nutriente, produz menos flores e, conseqüentemente, menos vagens (PORTES, 1996). Dessa forma, pelos resultados, verifica-se a necessidade da utilização de doses elevadas de N no estádio inicial do desenvolvimento de feijoeiro em sistema de plantio direto. Verificou-se também que, tanto sem aplicação quanto com a aplicação de 90 kg ha-1 de N no estádio V4, o emprego de níveis crescentes do nutriente no estádio R7 proporcionou aumento do número de vagens por planta (Figura 1). No entanto, nos tratamentos que receberam N no estádio V4, a aplicação do nutriente no início do estádio R7 proporcionou incremento linear nessa característica, enquanto nos tratamentos que não receberam N no estádio V4 houve efeito quadrático da aplicação do elemento no estádio R7. Assim, nota-se que em plantas bem nutridas e com maior massa de matéria seca, a aplicação de até 120 kg ha-1 de N, após o início da formação das vagens, pode promover maior fixação de flores e vagens. Nos tratamento que não receberam N no estádio V4, porém, o maior número de vagens por planta foi alcançado com a dose máxima estimada de 72 kg ha-1 de N aplicado no início do estádio R7. O número de grãos por vagem é uma característica de alta herdabilidade genética, que sofre pouca influência do ambiente (ANDRADE et al., 1998). No entanto, esse componente da produção foi incrementado pela aplicação de N no início do estádio R7, nas parcelas que não receberam o elemento no estádio V4 (Figura 1). SILVA et al. (1989), SANTOS et al. (2003) e SORATTO et al. (2004) também verificaram aumento do número de grãos por vagem do feijoeiro com a aplicação de N em cobertura. A massa de cem grãos não foi afetada pelos tratamentos. Segundo SILVA e SILVEIRA (2000) e SORATTO et al. (2004), doses de N não causam grande variação na massa de cem grãos. Esses resultados confirmam o princípio de que essa é uma das características que apresenta pequena variação, em função das alterações no meio de cultivo. Assim, em condições adversas, com restrição de N, a planta de feijão preferencialmente formará poucos grãos nas vagens fixadas ao invés de vários e mal formados. Quanto à produtividade de grãos, houve efeito da interação entre aplicação de N no estádio V4 e no início do R7. A aplicação de N no início do estádio R7 proporcionou aumento linear na produtividade de grãos nas plantas que não receberam N no estádio V4, porém não se observou efeito sobre a produtividade das plantas que receberam 90 kg ha-1 de N no estádio V4 (Figura 1). Pelos resultados, apesar de promover aumento de produtividade das plantas que não receberam N no estádio V4, foi necessária a aplicação de 120 kg ha-1 de N no início do estádio R7 para proporcionar o mesmo nível de produtividade obtido com a aplicação de 90 kg ha-1 de N no estádio V4. A aplicação de 90 kg ha-1 de N no estádio V4 proporcionou um aumento de 28% na produtividade de grãos, enquanto a aplicação no início de R7, resultou em apenas 18%. Verificou-se, dessa forma, menor eficiência da adubação nitrogenada quando aplicada no início do estádio R7, ou seja, a aplicação nesse estádio aumentou o fator de utilização do N, em comparação com a aplicação no estádio V4 (Tabela 2). Assim, apesar de maior demanda do feijoeiro por N ocorrer entre os estádios de florescimento e meados do enchimento dos grãos (HUNGRIA et al., 1985), notou-se, pelos resultados, a importância da aplicação de N na fase vegetativa, ou seja, em época que promova crescimento da planta, pois, plantas mais robustas, com mais ramificações e que produzam maior número de estruturas reprodutivas, acarretam maior produtividade de grãos, como também foi verificado por CARVALHO et al. (2001) e SORATTO et al. (2004). SORATTO et al. (2001) e SILVA et al. (2002) verificaram que o atraso no fornecimento de N à planta (aplicação de todo o N aos 35 DAE), refletiu em baixa produtividade do feijoeiro em plantio direto sobre palhada de milho, provavelmente em vista da alta imobilização biológica do N do solo. O teor de proteína bruta nos grãos foi influenciado pela interação entre aplicação de N no estádio V4 e no início do R7. A aplicação de N no início do estádio R7 proporcionou aumento linear no teor de proteína dos grãos, tanto sem, quanto com a aplicação de 90 kg ha-1 de N no estádio V4 (Figura 2). No entanto, a combinação da aplicação de N no estádio V4, com aplicação no início do R7, promoveu a obtenção dos maiores teores de proteína nos grãos do feijoeiro cultivado em plantio direto. FARINELLI (2003) também obteve elevação do teor de proteína nos grãos do feijoeiro cv. Pérola, com aplicação de doses crescentes de N aplicadas em cobertura no estádio V4. A elevação do teor de N nas folhas pode ter proporcionado o aumento do teor de proteína nos grãos, já que, no estádio de enchimento dos grãos, o N das folhas é translocado para eles (PORTES, 1996). Entretanto, pelos resultados, notou-se a possibilidade de se aumentar o teor de proteína nos grãos do feijoeiro mediante a aplicação de N no início do estádio de formação das vagens (R7). Segundo ROSOLEM (1987), apesar de haver translocação do N das folhas para as vagens, existe absorção do nutriente do solo nos estádios mais tardios da cultura, e o N absorvido nessa fase vai para os grãos, uma vez que os teores nas folhas diminuem no período correspondente. A produção de proteína por área foi incrementada linearmente pela aplicação de N no início do estádio R7, tanto sem, quanto com a aplicação de 90 kg ha-1 de N no estádio V4 (Figura 2). Porém, foram obtidas maiores produções de proteína com a aplicação de N no estádio V4, devido às maiores produtividades de grãos, proporcionadas por esse tratamento (Figura 1). BORDIN et al. (2003) também obtiveram aumento da produção de proteínas pelo feijoeiro cultivado em sistema de plantio direto sobre diferentes tipos de palhada. 4. CONCLUSÕES 1. Quando não é realizada adubação nitrogenada de cobertura no estádio V4, a aplicação de N no início do estádio R7 aumenta a produtividade de grãos do feijoeiro, em sistema de plantio direto, sobre palhada de aveia-preta. 2. A produtividade máxima de grãos é obtida com a aplicação exclusiva de 90 kg ha-1 de N no estádio V4, sendo necessárias, para atingir o mesmo nível de produtividade, maiores doses de N quando aplicadas apenas em R7. Quando é realizada aplicação de N em V4, adubações adicionais em R7 não proporcionam aumento de produtividade. 3. A aplicação de N em cobertura no estádio V4 é mais eficiente do que no R7, acarretando maior incremento na produtividade do feijoeiro por unidade do nutriente aplicado. 4. A aplicação de N em cobertura, nos estádios V4 e início do R7, proporciona aumento no teor de proteína nos grãos do feijoeiro. REFERÊNCIAS AMBROSANO, E.J.; TANAKA, R.T.; MASCARENHAS, H.A.A.; RAIJ, B. van; QUAGGIO, J.A.; CANTARELA, H. Leguminosas e oleaginosas. 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Recebido para publicação em 24 de setembro de 2004 e aceito em 10 de janeiro de 2005 Aplicação tardia de nitrogênio no feijoeiro 211 APLICAÇÃO TARDIA DE NITROGÊNIO NO FEIJOEIRO EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO (1) ROGÉRIO PERES SORATTO (2); CARLOS ALEXANDRE COSTA CRUSCIOL (3,5); LAERTE MARQUES DA SILVA (4); LEANDRO BORGES LEMOS (3) RESUMO A adoção de técnicas que possibilitem a maximização da eficiência do uso de nitrogênio pelo feijoeiro é de extrema importância para aumentar a produtividade e qualidade de grãos, reduzir o custo de produção e evitar contaminação ambiental. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) à aplicação de nitrogênio em cobertura nos estádios V4 e no início do R7, em sistema de plantio direto. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, em esquema fatorial 2 x 4, com quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos pela aplicação de dois níveis de N (0 e 90 kg ha -1) no estádio V 4 , combinados com quatro níveis de N (0, 30, 60 e 120 kg ha -1 ) no início do estádio R 7 . Quando não foi realizada adubação nitrogenada de cobertura no estádio V 4, a aplicação de N no início do estádio R 7 aumentou a produtividade de grãos do feijoeiro em sistema de plantio direto. A produtividade máxima de grãos foi obtida com a aplicação exclusiva de 90 kg ha-1 de N no estádio V4 , sendo necessárias, para atingir o mesmo nível de produtividade, maiores doses de N quando aplicadas apenas em R 7. Quando é realizada aplicação de N em V 4, adubações adicionais em R 7 não resultam em aumento de produtividade. A aplicação de N em cobertura no estádio V 4 foi mais eficiente do que a aplicação em R 7 , acarretando em maior incremento na produtividade por unidade do nutriente aplicado. A aplicação de N em cobertura, nos estádios V 4 e início do R 7 , proporcionou aumento no teor de proteína nos grãos do feijoeiro. Palavras-chave: Phaseolus vulgaris, adubação nitrogenada, época de aplicação, proteína. ABSTRACT LATE NITROGEN APPLICATION ON COMMON BEAN IN NO-TILLAGE SYSTEM The utilization of techniques that allow the maximization efficiency of nitrogen use by the common bean is important to increase grain yield and quality, to decrease production cost, and to avoid environmental contamination. The objective of this work was to evaluate the performance of common bean (Phaseolus vulgaris L.) in response to levels of sidedressed nitrogen applied on the V 4 and on the beginning of R 7 development stages, in no-tillage system. A randomized complete block design, in a 2 x 4 factorial scheme, with four replications was used. The treatments were a combination of two N levels (0 and 90 kg ha -1) in the V 4 stage and four N levels (0, 30, 60, and 120 kg ha-1) in the beginning of the R 7 stage. When nitrogen fertilization was not used in V 4 stage, the application in the beginning of R7 stage increased the common bean grain yield in no-tillage system. Nitrogen application in the V4 stage (90 kg (1) Recebido para publicação em 24 de setembro de 2004 e aceito em 10 de janeiro de 2005. ( 2) Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - Unidade Universitária de Cassilândia, Rod. MS 306 km 6,4, 79540-000 Cassilândia (MS). E-mail: [email protected] ( 3) Departamento de Produção Vegetal - FCA - UNESP- Fazenda Experimental Lageado, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu (SP), Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected] ( 4) Doutorando em Agronomia (Agricultura), Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) - UNESP - Fazenda Experimental Lageado, Botucatu (SP). E-mail: [email protected] ( 5) Com bolsa de produtividade do CNPq. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.211-218, 2005 212 R.P. Soratto et al. ha -1) provided the maximum grain yield. When nitrogen was applied in the V7 stage, its was necessary greater levels for obtaining the same yield. When nitrogen fertilization was used in the V4 stage, the application in the beginning of the R 7 stage did not increase common bean grain yield. Nitrogen side dressing in the V4 stage was more efficient than in V7, resulting in higher grain yield per nutrient unit. The application of nitrogen in the V 4 stage and in the beginning of R 7 development stage, increased grain protein content. Key words: Phaseolus vulgaris, nitrogen fertilization, time of application, protein. 1. INTRODUÇÃO O cultivo do feijoeiro em sistema de plantio direto tem aumentado no Brasil, devido a inúmeros benefícios que esse sistema proporciona às características físicas, químicas e biológicas do solo. O sistema de plantio direto, em razão da manutenção dos resíduos vegetais na sua superfície, promove maior proteção contra o impacto direto das gotas de chuva, favorece a infiltração, reduz perda de água por escoamento superficial e perda de solo por erosão (H ERMANI et al., 1999, STONE e S ILVEIRA , 1999). Nesse sistema, porém, pelo fato de os restos culturais permanecerem na superfície do solo, a taxa de mineralização da matéria orgânica é mais lenta, quando comparada com sistema convencional (G ONÇALVES e C ERETTA , 1999), o que tem acarretado menor disponibilidade de nitrogênio às plantas, principalmente, na fase de implantação até a estabilização do sistema (S ORATTO et al., 2001; SILVA et al., 2002; S ORATTO et al., 2004). Dessa forma, a dose de nitrogênio na adubação do feijoeiro pode estar condicionada ao tipo de resíduo vegetal (gramínea ou leguminosa) presente na superfície do solo, já que palhada com elevada relação C/N, característica da maioria das gramíneas, proporciona maior imobilização de nitrogênio para sua decomposição (C E R E T T A et al., 2002), sendo necessário maior quantidade desse nutriente para obtenção de produtividades elevadas (B ORDIN, et al., 2003; SORATTO et al., 2004). O feijoeiro é planta exigente e, por ser de ciclo curto, necessita que os nutrientes estejam prontamente disponíveis nos estádios de demanda, para que não haja limitação da produtividade (S ILVA e S ILVEIRA , 2000). O N é o nutriente absorvido em maiores quantidades pelo feijoeiro e, pelo fato de aproximadamente 50% do N total absorvido ser exportado para os grãos, a sua deficiência é a mais freqüente (OLIVEIRA et al., 1996). Esse nutriente tem grande importância, principalmente nas fases de florescimento e enchimentos de grãos, pois, como há vagens e grãos crescendo quase ao mesmo tempo, a demanda por N nessa fase é alta (PORTES, 1996). Dessa forma, o feijoeiro não absorve todo o N que necessita nos primeiros 50 dias do ciclo (R OSOL E M , 1987). WESTERMANN et al. (1981) observaram uma absorção de até 3,5 kg/ha dia-1 no período de enchimento de grãos. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.211-218, 2005 De acordo com HUNGRIA et al. (1985), 60% do N mineral total acumulado pelo feijoeiro durante o ciclo, são absorvidos entre os estádios de florescimento e meados do estádio de enchimento dos grãos. Como o nitrogênio das folhas é translocado para os grãos, as folhas mais velhas cairão e a taxa fotossintética das folhas remanescentes decrescerá quase simultaneamente se a disponibilidade do nutriente no solo for baixa nessa fase do ciclo da cultura (PORTES , 1996), podendo ocorrer redução da produtividade de grãos. Além disso, como o N é um nutriente que se perde facilmente por lixiviação, volatilização e desnitrificação no sistema solo-planta, o seu manejo adequado é tido como um dos mais difíceis (S ANTOS, et al., 2003), sendo essencial, para a obtenção de altas produtividades, que esse nutriente seja colocado à disposição da planta em tempo e locais adequados (C ARVALHO , et al., 2001). Dessa forma, técnicas de manejo que possibilitem a maximização de absorção de N pelo feijoeiro são de extrema importância, devido ao alto custo dos fertilizantes nitrogenados e as perdas de N por lixiviação, que podem representar riscos ao ambiente pela contaminação de mananciais de água (SANTOS et al., 2003). Para R OSOLEM (1996), a adubação nitrogenada deve ser realizada de modo que propicie boa nutrição da planta na época em que ainda é possível aumentar o número de vagens por planta, ou seja, até o início do florescimento. MIYASAKA et al. (1963) recomendam aplicação do N em cobertura até 20 dias após a emergência das plântulas (DAE). Em outros trabalhos, observa-se que a adubação nitrogenada de cobertura pode ser realizada no máximo até 36 DAE (R OSOLEM , 1987). Contudo, S ORATTO et al. (2001) verificaram que em feijoeiro cultivado em sistema de plantio direto, após a cultura do milho, a aplicação do nitrogênio em cobertura aos 15 DAE, proporcionou maior produtividade de grãos, quando comparado com a aplicação aos 35 DAE. Outro fator importante é que, no Brasil, a cultura do feijoeiro ocupa posição de destaque, não apenas pelo volume de grãos produzidos, mas também pela importância dessa leguminosa na alimentação humana. O feijão é a principal fonte de proteína da maioria da população brasileira, o que tem proporcionado interesse no estudo de técnicas que acarretem aumento da produtividade e da qualidade dos grãos. Aplicação tardia de nitrogênio no feijoeiro 213 O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do feijoeiro à aplicação de nitrogênio em cobertura nos estádios de 3.ª folha trifoliolada e no início da formação das vagens em sistema de plantio direto. kg ha-1 da fórmula 08-28-16 de NPK. A emergência das plântulas ocorreu em 12/1/2004. O florescimento pleno da cultura ocorreu aos 41 DAE e o ciclo teve a duração de 86 dias em todos os tratamentos. 2. MATERIAL E MÉTODOS Nas adubações de cobertura o adubo foi distribuído sobre a superfície do solo, ao lado e aproximadamente a 10 cm das fileiras de plantas. O trabalho foi realizado na Fazenda Experimental Lageado pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP, município de Botucatu, SP (48º 23’ W e 22º 58’ S; 765 m de altitude). O solo do local é Nitossolo Vermelho estruturado (EMBRAPA , 1999). O clima, conforme a classificação de Köppen, é do tipo Cwa, que se caracteriza como tropical de altitude, com inverno seco e verão quente e chuvoso. Durante a realização do experimento ocorreram 596 mm de chuvas, bem distribuídas durante o período de cultivo. Antes da instalação do experimento, foi coletada amostra composta de 10 subamostras, na camada de 0-0,20 m, para a determinação das características químicas do solo, realizadas de acordo com R AIJ e Q UAGGIO (1983), cujos resultados foram: matéria orgânica, 26,0 g dm -3 ; pH (CaCl 2 ), 4,4; P (resina), 14,9 mg dm -3 ; K, Ca e Mg, 1,6, 41,3 e 20,6 mmol c dm -3 , respectivamente, e saturação por bases, 56%. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, em esquema fatorial 2 x 4, com quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos pela aplicação de dois níveis de N (0 e 90 kg ha-1) no estádio V 4 (F ERNANDEZ et al, 1986), ou seja, 22 DAE e quatro níveis de N (0, 30, 60 e 120 kg ha-1 ), no início do estádio R7 (50 DAE), aplicados em cobertura, tendo como fonte o nitrato de amônio. Cada parcela foi constituída por seis linhas de 5 m de comprimento. A área útil foi constituída pelas quatro linhas centrais, desprezando-se 0,50 m em ambas as extremidades de cada linha. O experimento foi instalado em área cultivada há três anos no sistema de plantio direto, com a sucessão milheto/milho, milheto/arroz e aveia-preta/ arroz/aveia-preta, o que a caracterizava como de alta resposta à aplicação de N para o feijoeiro (AMBROSANO et al., 1996). No momento da instalação do experimento a área encontrava-se coberta com palhada de aveia-preta. A dessecação da cobertura vegetal do solo foi realizada mediante a aplicação de 1,6 kg ha -1 do i.a. de glifosate. A semeadura foi realizada mecanicamente em 7/1/2004, utilizando a cultivar Pérola com espaçamento de 0,45 m entre as linhas e 15 sementes por metro linear. Por ocasião da semeadura, aplicaram-se em todos os tratamentos, 230 O controle das plantas daninhas foi realizado mediante duas aplicações seqüenciais do herbicida fluazifop-p-butil + fomesafen (100 + 125 g i.a. ha -1 de em cada aplicação). Durante o desenvolvimento da cultura foram realizados os tratos culturais fitossanitários. Por ocasião do florescimento pleno determinou-se massa de matéria seca da parte aérea das plantas, coletando-se 10 plantas por parcela e secando-as em estufa com circulação forçada de ar a 60-70 oC, até atingir massa constante. Para determinar o teor de N total nas folhas foram coletadas todas as folhas de 10 plantas de cada parcela no florescimento pleno e secas em estufa com circulação forçada de ar a 60-70 oC, até atingir massa constante, e em seguida foram moídas e submetidas à análise, conforme método descrito em M ALAVOLTA et al. (1997). Por ocasião da colheita foram coletadas 10 plantas de cada parcela e determinados o número de vagens/ planta, o número de grãos/vagem e a massa de cem grãos. Em duas fileiras da área útil de cada parcela, as plantas foram arrancadas e deixadas a secar em pleno sol e em seguida submetidas à trilha mecânica; a umidade dos grãos foi corrigida para 0,13 kg kg-1 (base úmida), obtendo-se a produtividade de grãos. Para determinar o teor de proteína, os grãos foram secos em estufa com circulação forçada de ar a 60-70 ºC, até atingir massa constante; em seguida, foram moídos e submetidos à análise para determinação do teor de N, conforme método descrito em MALAVOLTA et al. (1997), posteriormente, multiplicando-se o teor de N pelo fator 6,25, obteve-se o teor de proteína nos grãos. Com a multiplicação do valor do teor de proteína pelo valor de produtividade de grãos da parcela correspondente, obteve-se a produtividade de proteína. Os resultados foram submetidos à análise de variância. As médias referentes à aplicação de N no estádio V4 foram comparadas pelo teste DMS a 5% de probabilidade, enquanto os efeitos dos níveis de N aplicados no início do estádio R 7 foram avaliados por meio de análise de regressão, adotando-se como critério para escolha do modelo a magnitude dos coeficientes de regressão significativos a 5% de probabilidade pelo teste t. Determinou-se também o fator de utilização do N aplicado, mediante a relação kg ha -1 de N aplicado / kg ha-1 da produtividade incrementada, em relação à testemunha (sem aplicação de N), em ambas as épocas de aplicação de N. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.211-218, 2005 214 R.P. Soratto et al. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nos tratamentos que receberam 90 kg ha -1 de N no estádio V4 ocorreu maior massa de matéria seca (Tabela 1). Os resultados podem ser explicados pela maior demanda de nitrogênio, já que os resíduos culturais presentes na área, por serem provenientes de gramíneas, provavelmente possuíam alta relação C/N, o que pode ter aumentado a intensidade de imobilização de N pelos microrganismos, proporcionando menor disponibilidade do nutriente às plantas, na fase inicial do desenvolvimento, corroborando com CERETTA et al. (2002). Além disso, no sistema de plantio direto, devido à permanência dos restos culturais na superfície do solo, a taxa de mineralização da matéria orgânica é lenta (G ONÇALVES e CERETTA , 1999), o que promove reduzida liberação de N para a cultura subseqüente, na fase inicial do desenvolvimento. SORATTO et al. (2001) e P IASKOWSKI et al. (2001) também verificaram aumento da massa de matéria seca do feijoeiro cultivado em sucessão a gramíneas, em plantio direto, em virtude da aplicação de N em cobertura. SORATTO et al. (2001) verificaram que a aplicação de todo o N aos 15 DAE proporcionou maior acúmulo de matéria seca nas plantas, quando comparada com a aplicação aos 25 ou 35 DAE. Os resultados evidenciam que, embora a época de máxima absorção de N situa-se entre os estádios de florescimento e meados do enchimento de grãos, o feijoeiro necessita de N para seu crescimento inicial (A MBROSANO et al., 1996; C ARV ALHO et al., 2001), principalmente, quando cultivado em sistema de plantio direto, em sucessão a gramíneas. Tabela 1. Matéria seca da parte aérea, teor de N nas folhas, componentes da produção, produtividade de grãos, teor de proteína nos grãos e produtividade de proteína bruta do feijoeiro cultivado em sistema de plantio direto, em vista da aplicação de nitrogênio em cobertura no estádio V4 (22 DAE) (1) N em cobertura no estádio V 4 Variável analisada 0 CV 90 kg ha -1 Matéria seca (g planta -1) (2) % 7,9b 10,2a 22,9 37,5b 42,4a 8,3 Número de vagens por planta 6,6b 7,7a 16,0 Número de grãos por vagem 4,5 4,4 10,4 27,7 28,1 5,2 2.653b 3.137a 13,4 Teor de proteína nos grãos (g kg ) 198,2b 213,5a 6,8 Produtividade de proteína (kg ha-1 ) 528,5b 668,3a 14,4 Teor de N nas folhas (g kg -1) (2) Massa de 100 grãos (g) -1 Produtividade de grãos (kg ha ) -1 ( 1 ) Para cada variável, médias seguidas de letras distintas na linha, diferem entre si pelo teste DMS a 5% de probabilidade. ( 2 ) Medidas feitas no florescimento (estádio R6). As demais foram realizadas na colheita. A aplicação de N no estádio V 4 proporcionou maior teor do nutriente nas folhas do feijoeiro (Tabela 1). Mesmo nos tratamentos que não receberam N no estádio V 4, os teores de N nas folhas estavam dentro da faixa considerada adequada para o feijoeiro, ou seja, 30-50 g kg -1 (AMBROSANO et al., 1997). S ORATTO et al. (2004) verificaram que a elevação no teor de N nas folhas do feijoeiro, mesmo dentro da faixa considerada adequada, promoveu acréscimos no teor de clorofila e, conseqüentemente, na produtividade de grãos. Segundo esses autores, em sistema de plantio direto, houve maior aproveitamento do N pelo feijoeiro, provavelmente, devido à manutenção de maior umidade no solo. O número de vagens por planta foi influenciado pela interação entre aplicação de N no Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.211-218, 2005 estádio V 4 e no início do R 7 (Figura 1). Com a aplicação de N no estádio V 4 , observou-se maior número de vagens por planta. Essa é uma característica resultante da adubação nitrogenada, pois, quando a planta é mal nutrida em relação a esse nutriente, produz menos flores e, conseqüentemente, menos vagens (P ORTES , 1996). Dessa forma, pelos resultados, verifica-se a necessidade da utilização de doses elevadas de N no estádio inicial do desenvolvimento de feijoeiro em sistema de plantio direto. Verificou-se também que, tanto sem aplicação quanto com a aplicação de 90 kg ha -1 de N no estádio V4, o emprego de níveis crescentes do nutriente no estádio R 7 proporcionou aumento do número de vagens por planta (Figura 1). No entanto, nos tratamentos que receberam N no estádio V 4 , a aplicação do nutriente no início do estádio R 7 Aplicação tardia de nitrogênio no feijoeiro proporcionou incremento linear nessa característica, enquanto nos tratamentos que não receberam N no estádio V 4 houve efeito quadrático da aplicação do elemento no estádio R7. Assim, nota-se que em plantas bem nutridas e com maior massa de matéria seca, a aplicação de até 120 kg ha -1 de N, após o início da formação das vagens, pode promover maior fixação de flores e vagens. Nos tratamento que não receberam N no estádio V4, porém, o maior número de vagens por planta foi alcançado com a dose máxima estimada de 72 kg ha-1 de N aplicado no início do estádio R 7. Número de vagens por planta 11 2 y = 7,1 + 0,0133**x R = 0,94 9 7 2 2 y = 5,6 + 0,0574*x-0,0004*x R = 0,81 5 3 Número de grãos por vagem 6 2 y = 4,2 + 0,0071*x R = 0,49 5 y = 4,4 4 3 -1 Produtividade de grãos (kg ha ) 3500 y = 3137,3 3000 2500 2 y = 2355,6 + 5,6505*x R = 0,96 2000 0 30 60 90 120 N em cobertura no início do estádio R7 (kg ha-1) Figura 1. Número de vagens por planta, número de grãos por vagem e produtividade de grãos do feijoeiro em sistema de plantio direto em função da aplicação de níveis de N em cobertura no início do estádio R7 (50 DAE), sem (•) e com ( ) aplicação de 90 kg ha -1 de N em cobertura no estádio V4 (22 DAE). * e ** Significativo a 5% e 1% de probabilidade pelo teste t, respectivamente. Barras verticais indicam o valor de DMS a 5% de probabilidade. 215 O número de grãos por vagem é uma característica de alta herdabilidade genética, que sofre pouca influência do ambiente (A NDRADE et al., 1998). No entanto, esse componente da produção foi incrementado pela aplicação de N no início do estádio R 7, nas parcelas que não receberam o elemento no estádio V 4 (Figura 1). SILVA et al. (1989), SANTOS et al. (2003) e S ORATTO et al. (2004) também verificaram aumento do número de grãos por vagem do feijoeiro com a aplicação de N em cobertura. A massa de cem grãos não foi afetada pelos tratamentos. Segundo S ILVA e SILVEIRA (2000) e S ORATTO et al. (2004), doses de N não causam grande variação na massa de cem grãos. Esses resultados confirmam o princípio de que essa é uma das características que apresenta pequena variação, em função das alterações no meio de cultivo. Assim, em condições adversas, com restrição de N, a planta de feijão preferencialmente formará poucos grãos nas vagens fixadas ao invés de vários e mal formados. Quanto à produtividade de grãos, houve efeito da interação entre aplicação de N no estádio V4 e no início do R 7. A aplicação de N no início do estádio R7 proporcionou aumento linear na produtividade de grãos nas plantas que não receberam N no estádio V 4, porém não se observou efeito sobre a produtividade das plantas que receberam 90 kg ha -1 de N no estádio V 4 (Figura 1). Pelos resultados, apesar de promover aumento de produtividade das plantas que não receberam N no estádio V4, foi necessária a aplicação de 120 kg ha -1 de N no início do estádio R 7 para proporcionar o mesmo nível de produtividade obtido com a aplicação de 90 kg ha -1 de N no estádio V4. A aplicação de 90 kg ha -1 de N no estádio V 4 proporcionou um aumento de 28% na produtividade de grãos, enquanto a aplicação no início de R 7 , resultou em apenas 18%. Verificou-se, dessa forma, menor eficiência da adubação nitrogenada quando aplicada no início do estádio R 7, ou seja, a aplicação nesse estádio aumentou o fator de utilização do N, em comparação com a aplicação no estádio V 4 (Tabela 2). Assim, apesar de maior demanda do feijoeiro por N ocorrer entre os estádios de florescimento e meados do enchimento dos grãos (HUNGRIA et al., 1985), notouse, pelos resultados, a importância da aplicação de N na fase vegetativa, ou seja, em época que promova crescimento da planta, pois, plantas mais robustas, com mais ramificações e que produzam maior número de estruturas reprodutivas, acarretam maior produtividade de grãos, como também foi verificado por C ARVALHO et al. (2001) e S ORATTO et al. (2004). S ORATTO et al. (2001) e S ILVA et al. (2002) verificaram que o atraso no fornecimento de N à planta (aplicação de todo o N aos 35 DAE), refletiu em baixa produtividade do feijoeiro em plantio direto sobre palhada de milho, provavelmente em vista da alta imobilização biológica do N do solo. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.211-218, 2005 216 R.P. Soratto et al. Tabela 2. Aumento da produtividade de grãos de feijoeiro e fator de utilização do nitrogênio, considerando a aplicação de 90 kg ha-1 de N em cobertura no estádio V4 ou no início do estádio R7, em sistema de plantio direto Época de aplicação do N em cobertura Variável Aumento da produtividade (kg ha -1) Fator N Estádio V 4 Início do estádio R 7 686 445 (1) (2) 0,131 0,202 (3) ( 1 ) Obtido em relação à média de produtividade na testemunha (2.419 kg ha -1 ). ( 2 ) Fator de utilização do N: kg ha -1 de N/kg ha -1 de produtividade aumentada. ( 3 ) Para a época de aplicação de N no início do estádio R 7, a produtividade com a dose de 90 kg ha -1 de N foi estimada pela equação contida na Figura 1. O teor de proteína bruta nos grãos foi influenciado pela interação entre aplicação de N no estádio V 4 e no início do R7 . A aplicação de N no início do estádio R7 proporcionou aumento linear no teor de proteína dos grãos, tanto sem, quanto com a aplicação de 90 kg ha -1 de N no estádio V4 (Figura 2). -1 Teor de proteína nos grãos (g kg ) 250 2 y = 191,1 + 0,4279**x R = 0,99 230 210 2 190 y = 183,0 + 0,2899**x R = 0,75 170 150 2 -1 Produtividade de proteína (kg ha ) 800 y = 591,2 + 1,4686**x R = 0,97 700 600 y = 428,8 + 1,8987**x R2 = 0,99 500 400 0 30 60 90 120 N em cobertura no início do estádio R7 (kg ha-1) Figura 2. Teor de proteína nos grãos e produtividade de proteína bruta pelo feijoeiro em sistema de plantio direto em função da aplicação de níveis de N em cobertura no início do estádio R7 (50 DAE), sem (•) e com ( ) aplicação de 90 kg ha-1 de N em cobertura no estádio V4 (22 DAE). ** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste t. Barras verticais indicam o valor de DMS a 5% de probabilidade. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.211-218, 2005 No entanto, a combinação da aplicação de N no estádio V4, com aplicação no início do R7, promoveu a obtenção dos maiores teores de proteína nos grãos do feijoeiro cultivado em plantio direto. FARINELLI (2003) também obteve elevação do teor de proteína nos grãos do feijoeiro cv. Pérola, com aplicação de doses crescentes de N aplicadas em cobertura no estádio V4. A elevação do teor de N nas folhas pode ter proporcionado o aumento do teor de proteína nos grãos, já que, no estádio de enchimento dos grãos, o N das folhas é translocado para eles (P ORTES , 1996). Entretanto, pelos resultados, notou-se a possibilidade de se aumentar o teor de proteína nos grãos do feijoeiro mediante a aplicação de N no início do estádio de formação das vagens (R7 ). Segundo R OSOLEM (1987), apesar de haver translocação do N das folhas para as vagens, existe absorção do nutriente do solo nos estádios mais tardios da cultura, e o N absorvido nessa fase vai para os grãos, uma vez que os teores nas folhas diminuem no período correspondente. A produção de proteína por área foi incrementada linearmente pela aplicação de N no início do estádio R 7, tanto sem, quanto com a aplicação de 90 kg ha -1 de N no estádio V 4 (Figura 2). Porém, foram obtidas maiores produções de proteína com a aplicação de N no estádio V 4, devido às maiores produtividades de grãos, proporcionadas por esse tratamento (Figura 1). BORDIN et al. (2003) também obtiveram aumento da produção de proteínas pelo feijoeiro cultivado em sistema de plantio direto sobre diferentes tipos de palhada. 4. CONCLUSÕES 1. Quando não é realizada adubação nitrogenada de cobertura no estádio V4, a aplicação de N no início do estádio R 7 aumenta a produtividade de grãos do feijoeiro, em sistema de plantio direto, sobre palhada de aveia-preta. Aplicação tardia de nitrogênio no feijoeiro 217 2. A produtividade máxima de grãos é obtida com a aplicação exclusiva de 90 kg ha -1 de N no estádio V 4, sendo necessárias, para atingir o mesmo nível de produtividade, maiores doses de N quando aplicadas apenas em R 7 . Quando é realizada aplicação de N em V4, adubações adicionais em R7 não proporcionam aumento de produtividade. FERNANDEZ, F.; GEPTS, P.; LOPES, M. Etapas de desarrollo de la planta de frijol (Phaseolus vulgaris L.). Cali: Centro Internacional de Agricultura Tropical, 1986. 34p. 3. A aplicação de N em cobertura no estádio V4 é mais eficiente do que no R 7, acarretando maior incremento na produtividade do feijoeiro por unidade do nutriente aplicado. HERNANI, L.C.; KURIHARA, C.H.; SILVA, W.M. Sistema de manejo do solo e perdas de nutrientes e matéria orgânica por erosão. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.23, n.1, p.145-154, 1999. 4. A aplicação de N em cobertura, nos estádios V 4 e início do R 7, proporciona aumento no teor de proteína nos grãos do feijoeiro. HUNGRIA, M.; NEVES, M.C.P.; VICTORIA, R.L. Assimilação do nitrogênio pelo feijoeiro. II. Absorção e translocação do N mineral e do N2 fixado. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.9, n.1, p.201-209, 1985. REFERÊNCIAS AMBROSANO, E.J.; TANAKA, R.T.; MASCARENHAS, H.A.A.; RAIJ, B. van; QUAGGIO, J.A.; CANTARELA, H. Leguminosas e oleaginosas. In: RAIJ, B. van; CANTARELA, H.; QUAGGIO, J.A.; FURLANI, A.M.C. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed. Campinas: Instituto Agronômico e Fundação IAC, 1996. p.189-203. (Boletim Técnico, 100) ANDRADE, M.J.B.; DINIZ, A.R.; CARVALHO, J.G.; LIMA, S.F. 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Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 FITOTECNIA Efeito do paclobutrazol em duas épocas de produção da mangueira Paclobutrazol effect at two mango production cycles Maria Aparecida do Carmo MoucoI; João Antônio Silva AlbuquerqueII IEmbrapa Semi-Árido. Caixa Postal 23, 56302-970 Petrolina (PE). E-mail: [email protected] IIRua Cícero Pombo, 99, 56300-000 Petrolina (PE) RESUMO O uso de reguladores de crescimento tem sido uma prática para viabilizar a alteração do ciclo fenológico da mangueira visando à alteração do período de colheita. Com o objetivo de definir forma e concentração do paclobutrazol (PBZ), para duas épocas distintas de produção da mangueira, foram testadas duas formas de aplicação, via solo e via foliar, e diferentes concentrações do PBZ, em um pomar do município de Itaberaba, Bahia. Constatou-se que o PBZ aplicado via solo promove a floração da mangueira em qualquer época do ano, nas condições tropicais semi-áridas, mas sua eficiência é função principalmente dos valores de temperaturas máximas e mínimas ocorridas na época de quebra de dormência das gemas. Pelos resultados também se verificou a ineficiência do PBZ, aplicado via foliar. Palavras-chave: Mangifera indica, L., floração, temperatura, aplicação foliar, solo, paclobutrazol. ABSTRACT The growth regulators have been used as a practice to alter the mango phenologic cycle in order to forecast the harvest. With the aim to define doses and Paclobutrazol (PBZ) application forms, an experiment was carried out in Itaberaba, State of Bahia, Brazil. Two ways of application were tested, via soil and foliar, and two different paclobutrazol doses. It was found that PBZ via soil, promotes flowering in mango trees in any season of the year, under tropical semi-arid conditions, but its efficiency are related to the maximum and minimum air temperatures at the time of bud break. The results showed that PBZ is inefficient when applied via foliar. Keys Words: Mangifera indica, L., flowering, temperature, foliar and soil, application, paclobutrazol. 1. INTRODUÇÃO Na Região Nordeste do Brasil, a floração natural da mangueira ocorre de junho a setembro, e a colheita se completa entre novembro e janeiro, período que coincide com a safra de outras regiões do País. A indução floral da maioria das plantas envolve sensibilidade a fatores como comprimento do dia ou temperaturas, em algum órgão da planta (BERNIER et al.,1991). Na mangueira, a indução floral é provocada por temperaturas baixas e não por fotoperíodo curto (DAVEMPORT e NUÑEZ-ELISEA,1997; TONGUMPAI, 1999). A floração da mangueira pode durar vários meses e ter seu início alterado, natural ou artificialmente, pelas condições climáticas, produtividade da safra anterior ou mediante práticas culturais, como o uso de reguladores de crescimento (DAVEMPORT e NUÑEZ-ELISEA, 1997). As giberelinas parecem ser os hormônios mais ativos na regulação da floração da mangueira e de outras fruteiras; altos níveis de giberelinas estimulam o crescimento vegetativo e inibem a floração (DAVEMPORT e NUÑEZ-ELISEA, 1997). O paclobutrazol (PBZ) tem sido usado para estimular a floração de fruteiras, regulando o crescimento vegetativo e reduzindo o alongamento da brotação (DAZIEL e LAURENCE, 1984; CHEN, 1987; Tongumpai et al, 1989, 1991; CHARNVICHIT et al, 1991; NUÑEZ-ELISEA e DAVEMPORT ,1991; BURONDKAR e GUNJATE, 1993; SCHAFFER, 1994; KURIAN e IYER,1993; NUÑEZ-ELISEA e DAVEMPORT, 1995; Ferrari e SERGENT, 1996). Sua ação é função da inibição da biossíntese das giberelinas. O efeito do PBZ pode variar sobretudo com as cultivares de mangueira, o porte e as condições climáticas, principalmente temperatura (ICI, 1993); dentro da mesma cultivar, a sensibilidade ao PBZ vai depender da idade e nutrição das plantas (ALBUQUERQUE et al, 2002). Em trabalhos com a cv. Haden de cinco anos, verifica-se que o PBZ reduz o crescimento vegetativo da mangueira, induz florações antecipadas e incrementa o número e o peso total dos frutos por planta; no entanto, o peso médio dos frutos individuais, nas doses mais elevadas, foi inferior aos demais (Ferrari e SERGENT, 1996). Em estudos com outras variedades de mangueira, o período de floração também foi aumentado e foram produzidas inflorescências compactas e de menores tamanho, desenvolvidas a partir de gemas apicais, subapicais e axilares; o PBZ aumenta o número de flores hermafroditas, daí a maior frutificação, segundo WINSTON (1992); BERNARDI e MORENO (1993); VOON et al. (1993); KURIAN e IYER (1993); TONGUMPAI et al. (1996). O modo de aplicação do PBZ deve ser definido com o conhecimento da forma como ele é translocado na planta. BURONKKAR e GUNJATE (1993) observaram incrementos no número de panículas (40 e 80%), e também na produção de frutos, em mangueiras cv. Alphonso, quando utilizaram PBZ via foliar, nas concentrações de 0,5 g.L-1 e 1,0 g.L-1; resultados confirmados por TONGUMPAI e CHANTAKULCHAN (1996), com concentrações entre 0,5 g.L-1 e 2,0 g.L-1 (foliar) e 5 e 10 g PBZ/ planta (solo); Reis et al (2000) também não observaram diferenças entre formas de aplicação do PBZ, na cv. Tommy Atkins. No entanto, Singh (2001) encontrou somente a metade do PBZ em tecidos do xilema e floema, próximos do local da injeção, depois de 27 dias da aplicação em macieiras, e apenas 23% nos ramos onde a inibição do crescimento foi mais evidente; assim, menos de um quarto do PBZ injetado foi envolvido efetivamente na inibição do crescimento. Pelos dados, observa-se que apenas 8% do PBZ foram detectados nas raízes, logo depois da injeção, e esta quantidade não mudou depois de 27 dias, o que sugere que o PBZ nas raízes foi resultado da pressão da injeção e que o transporte basipetalo não ocorre. O PBZ aplicado em pulverizações foliares, segundo o autor, não foi transportado para as raízes; já o aplicado nas raízes foi transportado através do xilema e acumulado nas folhas. O objetivo deste trabalho foi o de avaliar a eficiência quanto ao modo de aplicação e às doses do PBZ, durante o período de temperaturas mais elevadas do ano, no município de ItaberabaBA. 2. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na Fazenda Volta do Rio, no município de Itaberaba-Bahia, que apresenta as coordenadas geográficas de 40 º12' de longitude Oeste, 12 º 40' de latitude Sul e 220 m de altitude; o clima é do tipo semi-árido e predominam Latossolos. O experimento foi desenvolvido em um pomar de mangueira (Mangifera indica, L.), cultivar Tommy Atkins, em plantas com cinco anos de idade e diâmetro da copa de 4,5 m, em espaçamento de 8 m entre fileiras e 5 m entre plantas (250 plantas por hectare). Utilizou-se irrigação por gotejamento, com base no tanque de evaporação classe A, sendo mantida durante o experimento, atendendo à necessidade hídrica da cultura. Os tratos culturais, como capina, adubação e pulverizações com defensivos, foram os normalmente utilizados na propriedade e preconizadas por ALBUQUERQUE et al., (1999b). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com oito tratamentos e quatro repetições. Foram testadas doses de paclobutrazol (PBZ), aplicadas via foliar e via solo, que constituíram os tratamentos: 1) PBZ 0,5 g L-1 via foliar; 2) PBZ 1,0 g L-1 via foliar; 3) PBZ 1,5 g L-1 via foliar; 4) PBZ 0,5 g i.a/ m copa/ planta-via solo; 5) PBZ 1,0 g i.a./m copa/ planta-via solo; 6) PBZ 1,5 g i.a./ m copa/ planta-via solo;7) PBZ 2,0 g i.a/ m copa/ planta-via solo; 8) Testemunha. A dose via solo, em gramas do ingrediente ativo, por metro de copa, foi diluída em dois litros de água e aplicada, por planta, sob os gotejadores localizados sob a projeção da copa (4 gotejadores/ planta) . A fonte de PBZ usada foi um produto comercial com 25% de ingrediente ativo. Considerando o princípio ativo, para cada grama de PBZ recomendada, foram utilizados 4 mL do produto comercial. Para as pulverizações foram utilizados três litros da mistura (PBZ + água) por planta. A aplicação do PBZ nas plantas, via solo e foliar, foi feita em 29 de outubro de 1998 e, em solo com umidade, como também, depois da aplicação, a irrigação foi mantida, para transporte do produto às raízes e na planta (ALBUQUERQUE et al., 2002); quando se notaram sintomas de absorção do produto, como ramos em epinastia e folhagem com coloração verde escura (95 dias após a aplicação), foram iniciadas as pulverizações com nitrato de potássio (4%), em todos os tratamentos, inclusive a testemunha. Em cada planta foram marcados 10 ramos, nos quais foram feitas as avaliações referentes à interrupção do crescimento vegetativo e porcentagem de floração. A colheita desta primeira produção foi concluída em 30 de junho de 1999. As avaliações referentes ao número e à massa de frutos foram feitas considerando toda a planta. Depois da colheita, não ocorreu brotação nas plantas e, em 15 de julho de 1999, foram retirados os restos de panículas nos ramos que produziram, e aplicadas pulverizações com nitrato de cálcio (2%) em todo o experimento. O segundo período de produção foi concluído em 30 de novembro de 1999. Os dados das temperaturas diárias foram anotados durante todo o decorrer do experimento (Figura 1). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Floração Em todos os tratamentos ocorreu emissão de brotos vegetativos durante o período de novembro de 1998 a abril de 1999, com exceção dos que receberam o PBZ via solo; nesses houve paralisação parcial das brotações vegetativas depois de 50 dias, e a intensidade desse sintoma foi diretamente proporcional às concentrações do PBZ via solo. Assim, nas plantas dos tratamentos que receberam 2,0 g, 1,5 g, 1,0 g e 0,5 g i.a. de PBZ/m diâmetro de copa/ planta/ via solo, foi observada menor incidência de brotação vegetativa e, depois da indução floral com o nitrato de potássio, houve porcentagens médias de floração (tomadas aos 120 dias da aplicação do PBZ, nos dez ramos marcados, em cada uma das plantas do tratamento) de 62,5%, 56,5%, 48,7% e 33,2% respectivamente. As temperaturas diurnas/noturnas, entre novembro de 1998 e abril de 1999, variaram entre 34º C e 20º C, respectivamente, o que favoreceu o crescimento vegetativo e inibiu a floração, conforme DAVEMPORT e NUÑEZ-ELISEA (1997) e TONGUMPAI (1999). O efeito das condições climáticas sobre a cultura da mangueira é observado com maior intensidade no período do florescimento e de frutificação. A temperatura influencia de forma significativa a sequência do desenvolvimento das gemas da mangueira, assim, a ocorrência de temperaturas iguais ou maiores que 30 ºC durante o dia e 25 ºC durante a noite, estimulam o crescimento vegetativo, enquanto, máximas de 28 ºC (dia) e 18 ºC (noite), observadas com mais freqüência entre maio e agosto, promovem intensa floração (LIMA FILHO et al., 2002). No entanto, sob condições de alta temperatura e umidade, outros fatores como a idade do ramo, tornam-se importantes na definição de um broto vegetativo ou floral (OU, 1982). Pelo comportamento das plantas em relação ao PBZ, nota-se que o produto só é eficiente na indução da floração na época quente, quando em concentrações mais elevadas, o que promove uma floração com panículas muito compactas, que favorecem a proliferação de fungos e pragas, principalmente microlepidópteros da inflorescência (Erosomyia mangiferae). Esse comportamento das plantas confirma a baixa eficiência do PBZ via foliar nas concentrações utilizadas (HASDISEVE e TONGUMPAI, 1986; BURONDKAR e GUNJATE, 1991). Segundo SINGH (2001), os triazóis são mais eficientes quando aplicado no solo ou diretamente no tronco/caule do que nas aplicações foliares, e a absorção do PBZ se dá principalmente quando é colocado em contato com o sistema radicular da planta (BURONDKAR e GUNJATE, 1993; KULKARNI, 1998). A partir da segunda quinzena de maio de 1999, houve uma interrupção na emissão de fluxos vegetativos nos ramos que não apresentavam panículas, em todos os tratamentos, inclusive a testemunha. Nesse período, as temperaturas máximas e mínimas já estavam com valores mais baixos (Figura 1). A colheita foi realizada no fim de junho de 1999, quando as plantas, independentemente de terem produzido, continuaram sem emitir brotações vegetativas. Assim, em meados de julho de 1999, foram retirados os restos das panículas dos ramos que produziram e iniciadas as pulverizações com nitrato de cálcio (2%), em todos os tratamentos. Foram realizadas três pulverizações, com intervalo de oito dias, e no final, o maior número de gemas brotadas, em todos os tratamentos, produziram flores. De acordo com BERNIER et al.(1991), DAVEMPORT e NUÑEZ-ELISEA (1997) e TONGUMPAI (1999), há um estímulo floral que é sintetizado continuamente nas folhas da mangueira, durante a exposição a temperaturas frias indutivas. Esses resultados confirmam as informações relatadas por Hasdiseve e TONGUMPAI (1986); BURONDKAR e GUNJATE (1991); DAVEMPORT e NUÑEZ-ELISEA (1997); KULKARNI(1998); TONGUMPAI et al. (1996); TONGUMPAI (1999); LIMA FILHO et al. (2002). 3.2. Frutificação Na Tabela 1, pode-se observar que em todos os tratamentos via solo houve maior número de frutos por planta e maior produtividade, na primeira colheita do experimento, quando comparados aos tratamentos com PBZ via foliar e a testemunha. Esses resultados são decorrentes da deficiente floração dos tratamentos com aplicação de PBZ via foliar e da testemunha. Não houve diferença significativa entre tratamentos com PBZ via foliar e testemunha, nos dois períodos de produção. Quanto maior a dose de PBZ via solo, maior foi a produção de frutos e produtividade, sendo o tratamento T7 (2,0 g ia PBZ / solo) significativamente maior aos demais tratamentos via solo, com exceção do T6 (1,5 g ia PBZ / solo). As doses recomendadas de PBZ e citado por FERRARI e SERGENT (1996), são de 2,5 a 3,75 g i.a /planta, para mangueiras entre 3 e 4 anos e de 5,0 a 10,0 g i.a para plantas acima de cinco anos; ALBUQUERQUE et al, (1999a) e ALBUQUERQUE e MOUCO (2000), nas condições do Vale do São Francisco, sugerem para a cv. Tommy Atkins doses de PBZ que variam entre 0,5 e 1,0 g i.a/metro de diâmetro de copa e que essas devem ser adequadas, principalmente, às condições de solo, clima (época de indução), variedade e também se é o primeiro ano de aplicação do regulador (a partir do segundo ano existe a necessidade de considerar resíduo da aplicação anterior). No segundo período de produção, a floração se deu em época comum de ocorrência da floração natural (junho a setembro), quando os valores de temperatura diurna/noturna são os mais baixos. Em todos os tratamentos ocorreram floração e produção de frutos, não sendo observadas diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos (Tabela 2). Assim, do total de frutos produzidos pelas plantas, em todos os tratamentos, parte foi obtida em uma primeira produção (1.º semestre), diretamente proporcional às quantidades de PBZ aplicada ao solo, sendo o T7 o de maior produtividade, superior significativamente aos T4 e T5. Na segunda safra (2.º semestre de 1999), a produção foi constante e os resultados foram independentes do método e das concentrações do PBZ, o que pode ser visualizado na figura 2; as plantas dos tratamentos com aplicação via foliar e sem aplicação de PBZ, obtiveram maior acréscimo na produtividade do que aquelas com aplicação via solo, devido ao maior número de ramos que não frutificaram na primeira safra (tratamentos com aplicação via foliar e testemunha). A massa média de frutos individuais dentro de cada tratamento e entre tratamentos não variou, mesmo considerando os que receberam as doses mais altas de PBZ, contrariando as informações de FERRARI e SERGENT (1996). Esses resultados podem ser explicados porque o número de frutos fixados em cada panícula, entre tratamentos, não variou. As diferenças observadas foram no número de ramos que floresceram (número de panículas) por planta, em cada tratamento. 4. CONCLUSÕES 1. O PBZ aplicado via foliar é ineficiente em regular o crescimento vegetativo e promover a floração da mangueira. 2. O PBZ aplicado via solo promove a floração da mangueira em qualquer época do ano, nas condições tropicais semi-áridas; a eficiência do uso de PBZ no manejo da produção de frutos para o primeiro semestre do ano foi diretamente proporcional às doses utilizadas. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, J.A.S.; MEDINA, V.D.; MOUCO, M.A.C. Indução floral. In: GENU, P.J.C.; Pinto, C.A.Q. (Ed.), A cultura da mangueira. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2002. v.13, p. 259-276. ALBUQUERQUE, J.A.S.; MOUCO, M.A.C. Manga: indução floral. Petrolina: Embrapa Semi-Árido, 2000. 34p. 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Recebido para publicação em 15 de junho de 2004 e aceito em 14 de março de 2005 Efeito do paclobutrazol em mangueira 219 EFEITO DO PACLOBUTRAZOL EM DUAS ÉPOCAS DE PRODUÇÃO DA MANGUEIRA (1) MARIA APARECIDA DO CARMO MOUCO(2); JOÃO ANTÔNIO SILVA ALBUQUERQUE(3) RESUMO O uso de reguladores de crescimento tem sido uma prática para viabilizar a alteração do ciclo fenológico da mangueira visando à alteração do período de colheita. Com o objetivo de definir forma e concentração do paclobutrazol (PBZ), para duas épocas distintas de produção da mangueira, foram testadas duas formas de aplicação, via solo e via foliar, e diferentes concentrações do PBZ, em um pomar do município de Itaberaba, Bahia. Constatou-se que o PBZ aplicado via solo promove a floração da mangueira em qualquer época do ano, nas condições tropicais semi-áridas, mas sua eficiência é função principalmente dos valores de temperaturas máximas e mínimas ocorridas na época de quebra de dormência das gemas. Pelos resultados também se verificou a ineficiência do PBZ, aplicado via foliar. Palavras-chave: Mangifera indica, L., floração, temperatura, aplicação foliar, solo, paclobutrazol. ABSTRACT PACLOBUTRAZOL EFFECT AT TWO MANGO PRODUCTION CYCLES The growth regulators have been used as a practice to alter the mango phenologic cycle in order to forecast the harvest. With the aim to define doses and Paclobutrazol (PBZ) application forms, an experiment was carried out in Itaberaba, State of Bahia, Brazil. Two ways of application were tested, via soil and foliar, and two different paclobutrazol doses. It was found that PBZ via soil, promotes flowering in mango trees in any season of the year, under tropical semi-arid conditions, but its efficiency are related to the maximum and minimum air temperatures at the time of bud break. The results showed that PBZ is inefficient when applied via foliar. Keys Words: Mangifera indica, L., flowering, temperature, foliar and soil, application, paclobutrazol. 1. INTRODUÇÃO Na Região Nordeste do Brasil, a floração natural da mangueira ocorre de junho a setembro, e a colheita se completa entre novembro e janeiro, período que coincide com a safra de outras regiões do País. A indução floral da maioria das plantas envolve sensibilidade a fatores como comprimento do dia ou temperaturas, em algum órgão da planta (BERNIER et al.,1991). Na mangueira, a indução floral é provocada por temperaturas baixas e não por fotoperíodo curto (DAVEMPORT e NUÑEZ-ELISEA,1997; TONGUMPAI, 1999). A floração da mangueira pode durar vários meses e ter seu início alterado, natural ou artificialmente, pelas condições climáticas, produtividade da safra anterior ou mediante práticas culturais, como o uso de reguladores de crescimento (DAVEMPORT e NUÑEZ-ELISEA, 1997). As giberelinas parecem ser os hormônios mais ativos na regulação da floração da mangueira e de outras fruteiras; altos níveis de giberelinas estimulam o crescimento vegetativo e inibem a floração (DAVEMPORT e N UÑEZ-ELISEA , 1997). ( 1) Recebido para publicação em 15 de junho de 2004 e aceito em 14 de março de 2005. ( 2) Embrapa Semi-Árido. Caixa Postal 23, 56302-970 Petrolina (PE). E-mail: [email protected] ( 3) Rua Cícero Pombo, 99, 56300-000 Petrolina (PE). Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.219-225, 2005 220 M.A.C. Mouco e J.A.S.Albuquerque O paclobutrazol (PBZ) tem sido usado para estimular a floração de fruteiras, regulando o crescimento vegetativo e reduzindo o alongamento da brotação (D A Z I E L e L A U R E N C E , 1984; C H E N , 1987; Tongumpai et al, 1989, 1991; C HARNVICHIT et al, 1991; NUÑEZ-ELISEA e DAVEMPORT ,1991; BURONDKAR e GUNJATE, 1993; SCHAFFER ,1994; KURIAN e I YER,1993; NUÑEZ-ELISEA e DAVEMPORT , 1995; Ferrari e SERGENT, 1996). Sua ação é função da inibição da biossíntese das giberelinas. segundo o autor, não foi transportado para as raízes; já o aplicado nas raízes foi transportado através do xilema e acumulado nas folhas. O efeito do PBZ pode variar sobretudo com as cultivares de mangueira, o porte e as condições climáticas, principalmente temperatura (ICI, 1993); dentro da mesma cultivar, a sensibilidade ao PBZ vai depender da idade e nutrição das plantas (A LBUQUERQUE et al, 2002). 2. MATERIAL E MÉTODOS Em trabalhos com a cv. Haden de cinco anos, verifica-se que o PBZ reduz o crescimento vegetativo da mangueira, induz florações antecipadas e incrementa o número e o peso total dos frutos por planta; no entanto, o peso médio dos frutos individuais, nas doses mais elevadas, foi inferior aos demais (Ferrari e S ERGENT , 1996). Em estudos com outras variedades de mangueira, o período de floração também foi aumentado e foram produzidas inflorescências compactas e de menores tamanho, desenvolvidas a partir de gemas apicais, subapicais e axilares; o PBZ aumenta o número de flores hermafroditas, daí a maior frutificação, segundo WINSTON (1992); BERNARDI e MORENO (1993); VOON et al. (1993); KURIAN e IYER (1993); TONGUMPAI et al. (1996). O modo de aplicação do PBZ deve ser definido com o conhecimento da forma como ele é translocado na planta. B URONKKAR e G UNJATE (1993) observaram incrementos no número de panículas (40 e 80%), e também na produção de frutos, em mangueiras cv. Alphonso, quando utilizaram PBZ via foliar, nas concentrações de 0,5 g.L -1 e 1,0 g.L -1 ; resultados confirmados por TONGUMPAI e CHANTAKULCHAN (1996), com concentrações entre 0,5 g.L-1 e 2,0 g.L-1 (foliar) e 5 e 10 g PBZ/ planta (solo); R EIS et al (2000) também não observaram diferenças entre formas de aplicação do PBZ, na cv. Tommy Atkins. No entanto, S INGH (2001) encontrou somente a metade do PBZ em tecidos do xilema e floema, próximos do local da injeção, depois de 27 dias da aplicação em macieiras, e apenas 23% nos ramos onde a inibição do crescimento foi mais evidente; assim, menos de um quarto do PBZ injetado foi envolvido efetivamente na inibição do crescimento. Pelos dados, observa-se que apenas 8% do PBZ foram detectados nas raízes, logo depois da injeção, e esta quantidade não mudou depois de 27 dias, o que sugere que o PBZ nas raízes foi resultado da pressão da injeção e que o transporte basipetalo não ocorre. O PBZ aplicado em pulverizações foliares, Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.219-225, 2005 O objetivo deste trabalho foi o de avaliar a eficiência quanto ao modo de aplicação e às doses do PBZ, durante o período de temperaturas mais elevadas do ano, no município de Itaberaba- BA. O trabalho foi realizado na Fazenda Volta do Rio, no município de Itaberaba-Bahia, que apresenta as coordenadas geográficas de 40 o 12’ de longitude Oeste, 12 o 40’ de latitude Sul e 220 m de altitude; o clima é do tipo semi-árido e predominam Latossolos. O experimento foi desenvolvido em um pomar de mangueira (Mangifera indica, L.), cultivar Tommy Atkins, em plantas com cinco anos de idade e diâmetro da copa de 4,5 m, em espaçamento de 8 m entre fileiras e 5 m entre plantas (250 plantas por hectare). Utilizou-se irrigação por gotejamento, com base no tanque de evaporação classe A, sendo mantida durante o experimento, atendendo à necessidade hídrica da cultura. Os tratos culturais, como capina, adubação e pulverizações com defensivos, foram os normalmente utilizados na propriedade e preconizadas por ALBUQUERQUE et al., (1999b). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com oito tratamentos e quatro repetições. Foram testadas doses de paclobutrazol (PBZ), aplicadas via foliar e via solo, que constituíram os tratamentos: 1) PBZ 0,5 g L-1 via foliar; 2) PBZ 1,0 g L -1 via foliar; 3) PBZ 1,5 g L-1 via foliar; 4) PBZ 0,5 g i.a/ m copa/ planta-via solo; 5) PBZ 1,0 g i.a./m copa/ planta-via solo; 6) PBZ 1,5 g i.a./ m copa/ planta-via solo;7) PBZ 2,0 g i.a/ m copa/ planta-via solo; 8) Testemunha. A dose via solo, em gramas do ingrediente ativo, por metro de copa, foi diluída em dois litros de água e aplicada, por planta, sob os gotejadores localizados sob a projeção da copa (4 gotejadores/ planta) . A fonte de PBZ usada foi um produto comercial com 25% de ingrediente ativo. Considerando o princípio ativo, para cada grama de PBZ recomendada, foram utilizados 4 mL do produto comercial. Para as pulverizações foram utilizados três litros da mistura (PBZ + água) por planta. A aplicação do PBZ nas plantas, via solo e foliar, foi feita em 29 de outubro de 1998 e, em solo com umidade, como também, depois da aplicação, a irrigação foi mantida, para transporte do produto às raízes e na planta (ALBUQUERQUE et al., 2002); quando se notaram sintomas de absorção do produto, como ramos em epinastia e folhagem com coloração verde escura (95 dias após a aplicação), foram iniciadas as pulverizações com nitrato de potássio (4%), em todos os tratamentos, inclusive a testemunha. 221 Efeito do paclobutrazol em mangueira Em cada planta foram marcados 10 ramos, nos quais foram feitas as avaliações referentes à interrupção do crescimento vegetativo e porcentagem de floração. A colheita desta primeira produção foi concluída em 30 de junho de 1999. As avaliações referentes ao número e à massa de frutos foram feitas considerando toda a planta. Depois da colheita, não ocorreu brotação nas plantas e, em 15 de julho de 1999, foram retirados os restos de panículas nos ramos que produziram, e aplicadas pulverizações com nitrato de cálcio (2%) em todo o experimento. O segundo período de produção foi concluído em 30 de novembro de 1999. Os dados das temperaturas diárias foram anotados durante todo o decorrer do experimento (Figura 1). 40 Temp. Mínimas Temp. Máximas Temperatura, °C 35 30 25 20 15 out/98 nov/98 dez/98 jan/99 fev/99 mar/99 abr/99 mai/99 jun/99 jul/99 ago/99 set/99 out/99 nov/99 dez/99 Meses Figura 1. Médias de temperaturas máximas e mínimas durante a realização do experimento em Itaberaba, BA. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Floração Em todos os tratamentos ocorreu emissão de brotos vegetativos durante o período de novembro de 1998 a abril de 1999, com exceção dos que receberam o PBZ via solo; nesses houve paralisação parcial das brotações vegetativas depois de 50 dias, e a intensidade desse sintoma foi diretamente proporcional às concentrações do PBZ via solo. Assim, nas plantas dos tratamentos que receberam 2,0 g, 1,5 g, 1,0 g e 0,5 g i.a. de PBZ/m diâmetro de copa/ planta/ via solo, foi observada menor incidência de brotação vegetativa e, depois da indução floral com o nitrato de potássio, houve porcentagens médias de floração (tomadas aos 120 dias da aplicação do PBZ, nos dez ramos marcados, em cada uma das plantas do tratamento) de 62,5%, 56,5%, 48,7% e 33,2% respectivamente. As temperaturas diurnas/noturnas, entre novembro de 1998 e abril de 1999, variaram entre 34 o C e 20 o C, respectivamente, o que favoreceu o crescimento vegetativo e inibiu a floração, conforme D AVEMPORT e N UÑEZ-ELISEA (1997) e ToNGUMPAI (1999). O efeito das condições climáticas sobre a cultura da mangueira é observado com maior intensidade no período do florescimento e de frutificação. A temperatura influencia de forma significativa a sequência do desenvolvimento das gemas da mangueira, assim, a ocorrência de temperaturas iguais ou maiores que 30 oC durante o dia e 25 oC durante a noite, estimulam o crescimento vegetativo, enquanto, máximas de 28 oC (dia) e 18 oC (noite), observadas com mais freqüência entre maio e agosto, promovem intensa floração (LIMA F ILHO et al., 2002). No entanto, sob condições de alta temperatura e umidade, outros fatores como a idade do ramo, tornam-se importantes na definição de um broto vegetativo ou floral (O U , 1982). Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.219-225, 2005 222 M.A.C. Mouco e J.A.S.Albuquerque Pelo comportamento das plantas em relação ao PBZ, nota-se que o produto só é eficiente na indução da floração na época quente, quando em concentrações mais elevadas, o que promove uma floração com panículas muito compactas, que favorecem a proliferação de fungos e pragas, principalmente microlepidópteros da inflorescência (Erosomyia mangiferae). Esse comportamento das plantas confirma a baixa eficiência do PBZ via foliar nas concentrações utilizadas (HASDISEVE e T ONGUMPAI, 1986; B URONDKAR e G UNJATE, 1991). Segundo S INGH (2001), os triazóis são mais eficientes quando aplicado no solo ou diretamente no tronco/caule do que nas aplicações foliares, e a absorção do PBZ se dá principalmente quando é colocado em contato com o sistema radicular da planta (B URONDKAR e G UNJATE , 1993; KULKARNI, 1998). A partir da segunda quinzena de maio de 1999, houve uma interrupção na emissão de fluxos vegetativos nos ramos que não apresentavam panículas, em todos os tratamentos, inclusive a testemunha. Nesse período, as temperaturas máximas e mínimas já estavam com valores mais baixos (Figura 1). A colheita foi realizada no fim de junho de 1999, quando as plantas, independentemente de terem produzido, continuaram sem emitir brotações vegetativas. Assim, em meados de julho de 1999, foram retirados os restos das panículas dos ramos que produziram e iniciadas as pulverizações com nitrato de cálcio (2%), em todos os tratamentos. Foram realizadas três pulverizações, com intervalo de oito dias, e no final, o maior número de gemas brotadas, em todos os tratamentos, produziram flores. De acordo com BERNIER et al.(1991), D AVEMPORT e N UÑEZ-E LISEA (1997) e TONGUMPAI (1999), há um estímulo floral que é sintetizado continuamente nas folhas da mangueira, durante a exposição a temperaturas frias indutivas. Esses resultados confirmam as informações relatadas por Hasdiseve e TONGUMPAI (1986); BURONDKAR e GUNJATE (1991); D A V E M P O R T e N U Ñ E Z -E L I S E A (1997); KULKARNI (1998); TONGUMPAI et al. (1996); T ONGUMPAI (1999); LIMA FILHO et al. (2002). 3.2. Frutificação Na Tabela 1, pode-se observar que em todos os tratamentos via solo houve maior número de frutos por planta e maior produtividade, na primeira colheita do experimento, quando comparados aos tratamentos com PBZ via foliar e a testemunha. Esses resultados são decorrentes da deficiente floração dos tratamentos com aplicação de PBZ via foliar e da testemunha. Não houve diferença significativa entre tratamentos com PBZ via foliar e testemunha, nos dois períodos de produção. Tabela 1. Número de frutos por planta e produtividade de mangueira Tommy Atkins (t/ha), em função de doses e formas de aplicação do paclobutrazol. 1.ª colheita. Itaberaba- Bahia Tratamentos Número de frutos por planta Produtividade t/ha T1 - PBZ 500ppm/via foliar 18,00 d 2,25 d T2 - PBZ 1000ppm/via foliar 8,00 d 1,00 d T3 – 1500ppm/via foliar 6,25 d 0,79 d T4 - PBZ 0,5g i.a/m copa/planta/via solo 146,00 c 16,72 c T5 - PBZ 1,0g i.a/m copa/planta/via solo 205,75 bc 22,39 bc T6 - PBZ 1,5g i.a/m copa/planta/via solo 241,75 ab 25,65 ab T7 - PBZ 2,0g i.a/m copa/planta/via solo 292,50 a 30,10 a 6,75 d 0,85 d T8 - Testemunha DMS 78,18 6,51 CV (%) 28,51 22,02 Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste Tukey. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.219-225, 2005 223 Efeito do paclobutrazol em mangueira Quanto maior a dose de PBZ via solo, maior foi a produção de frutos e produtividade, sendo o tratamento T7 (2,0 g ia PBZ / solo) significativamente maior aos demais tratamentos via solo, com exceção do T6 (1,5 g ia PBZ / solo). As doses recomendadas de PBZ e citado por F ERRARI e S ERGENT (1996), são de 2,5 a 3,75 g i.a / planta, para mangueiras entre 3 e 4 anos e de 5,0 a 10,0 g i.a para plantas acima de cinco anos; A LBUQUERQUE et al, (1999a) e ALBUQUERQUE e M OUCO (2000), nas condições do Vale do São Francisco, sugerem para a cv. Tommy Atkins doses de PBZ que variam entre 0,5 e 1,0 g i.a/metro de diâmetro de copa e que essas devem ser adequadas, principalmente, às condições de solo, clima (época de indução), variedade e também se é o primeiro ano de aplicação do regulador (a partir do segundo ano existe a necessidade de considerar resíduo da aplicação anterior). No segundo período de produção, a floração se deu em época comum de ocorrência da floração natural (junho a setembro), quando os valores de temperatura diurna/noturna são os mais baixos. Em todos os tratamentos ocorreram floração e produção de frutos, não sendo observadas diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos (Tabela 2). Assim, do total de frutos produzidos pelas plantas, em todos os tratamentos, parte foi obtida em uma primeira produção (1.° semestre), diretamente proporcional às quantidades de PBZ aplicada ao solo, sendo o T7 o de maior produtividade, superior significativamente aos T4 e T5. Na segunda safra (2.° semestre de 1999), a produção foi constante e os resultados foram independentes do método e das concentrações do PBZ, o que pode ser visualizado na figura 2; as plantas dos tratamentos com aplicação via foliar e sem aplicação de PBZ, obtiveram maior acréscimo na produtividade do que aquelas com aplicação via solo, devido ao maior número de ramos que não frutificaram na primeira safra (tratamentos com aplicação via foliar e testemunha). A massa média de frutos individuais dentro de cada tratamento e entre tratamentos não variou, mesmo considerando os que receberam as doses mais altas de PBZ, contrariando as informações de FERRARI e S E R G E N T (1996). Esses resultados podem ser explicados porque o número de frutos fixados em cada panícula, entre tratamentos, não variou. As diferenças observadas foram no número de ramos que floresceram (número de panículas) por planta, em cada tratamento. Tabela 2. Número de frutos por planta e produtividade de mangueira Tommy Atkins, em função de doses e formas de aplicação do paclobutrazol. 2.ª Colheita. Itaberaba, Bahia Tratamentos Número de frutos por planta Produtividade t/ha T 1 PBZ 500ppm/via foliar 191 21 T 2 PBZ 1000ppm/via foliar 146 15 T 3 1500ppm/via foliar 170 17 T 4 PBZ 0,5g i.a/m copa/planta/via solo 172 18 T 5 PBZ 1,0g i.a/m copa/planta/via solo 186 19 T 6 PBZ 1,5g i.a/m copa/planta/via solo 181 18T 7 PBZ 2,0g i.a/m copa/planta/via solo 176 19 T 8 Testemunha 179 18 DMS 108,86 10,01 CV (%) 26,01 23,4 Médias dos tratamentos não diferiram pelo teste Tukey. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.219-225, 2005 224 M.A.C. Mouco e J.A.S.Albuquerque 60 Produção 1ª safra t/ha Produção 2ª Safra t/ha Produtividade, t.ha-1 50 40 30 20 10 0 PBZ 500ppm/via foliar PBZ 1000ppm/via foliar PBZ 1500ppm/via foliar PBZ 0.5g i.a/via solo PBZ 1.0g i.a/via solo PBZ 1.5g i.a/via solo PBZ 2.0g i.a/via solo Testemunha Tratamentos Figura 2. Produtividade de dois ciclos consecutivos de mangueiras tratadas com paclobutrazol em Itaberaba, BA. 4. CONCLUSÕES 1. O PBZ aplicado via foliar é ineficiente em regular o crescimento vegetativo e promover a floração da mangueira. 2. O PBZ aplicado via solo promove a floração da mangueira em qualquer época do ano, nas condições tropicais semi-áridas; a eficiência do uso de PBZ no manejo da produção de frutos para o primeiro semestre do ano foi diretamente proporcional às doses utilizadas. ALBUQUERQUE, J.A.S.; MOUCO, M.A.; MEDINA, V.D.; SANTOS, C. R.; TAVARES, S. C. de H.. O cultivo da mangueira irrigada no semi-árido brasileiro. Petrolina: Embrapa Semiárido/ VALEXPORT, 1999b. 77p. 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Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.219-225, 2005 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 FITOSSANIDADE Efeito de extratos aquosos de plantas na oviposição da traça-das-crucíferas, em couve Effect of plants aqueous extracts on oviposition of the diamondback, in kale Cesar Augusto Manfré MedeirosI; Arlindo Leal Boiça JuniorII; Adalci Leite TorresI IAcadêmico do Curso de Pós-Graduação em Agronomia (Entomologia Agrícola) da FCAV/UNESP, Jaboticabal (SP) IIDepartamento de Fitossanidade, FCAV/UNESP, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n.º, 14884-900 Jaboticabal (SP). E-mail: [email protected] RESUMO Avaliou-se o efeito de extratos aquosos de Achillea millefolium L. (folhas), Azadirachta indica A. Juss. (folhas), Bidens pilosa L. (folhas, frutos e ramos), Bougainvillea glabra Choisy (folhas), Chenopodium ambrosioides L. (folhas, frutos e ramos), Datura suaveolens Humb & Bonpl. ex. Willd (folhas), Enterolobium contortisilliquum (Vell.) Morong (frutos), Mentha crispa L. (folhas e ramos), Nicotiana tabacum L. (folhas), Piper nigrum L. (folhas), Plumbago capensis Thunb. (folhas e ramos), Pothomorphe umbellata L. (folhas), Sapindus saponaria L. (folhas), S. saponaria (frutos), Solanum cernuum Vell. (folhas), Stryphnodendron adstringens (Mart) Coville (casca), Symphytum officinale L. (folhas), Trichilia catigua A. Juss. (folhas), T. catigua (ramos), Trichilia pallida Sw. (folhas) e T. pallida (ramos), em relação à preferência para oviposição de Plutella xylostella. Discos de folhas de couve (Brassica oleracea var. acephala) cultivar Georgia foram imersos em cada extrato à concentração de 10% (massa/volume) por um minuto. Em seguida, foram divididos em quatro partes iguais e duas partes foram colocadas alternadamente com outras duas partes tratadas com água destilada, em uma gaiola. A contagem dos ovos foi feita após 24 horas. Os extratos apresentaram efeito deterrente na oviposição da praga, com exceção do extrato de S. adstringens, que não diferiu da testemunha, tratada apenas com água destilada. Os extratos de E. contortisilliquum, S. saponaria (frutos) e T. pallida (folhas) foram os mais eficientes, apresentando 100% de deterrência. Palavras-chave: Insecta, Plutella xylostella, planta inseticida, couve. ABSTRACT The effect of aqueous extracts from Achillea millefolium L. (leaves), Azadirachta indica A. Juss. (leaves), Bidens pilosa L. (leaves, fruits e branches), Bougainvillea glabra Choisy (leaves), Chenopodium ambrosioides L. (leaves, fruits e branches), Datura suaveolens Humb & Bonpl. ex. Willd (leaves), Enterolobium contortisilliquum (Vell.) Morong (fruits), Mentha crispa L. (leaves e branches), Nicotiana tabacum L. (leaves), Piper nigrum L. (leaves), Plumbago capensis Thunb. (leaves e branches), Pothomorphe umbellata L. (leaves), Sapindus saponaria L. (leaves), S. saponaria (fruits), Solanum cernuum Vell. (leaves), Stryphnodendron adstringens (Mart) Coville (bark), Symphytum officinale L. (leaves), Trichilia catigua A. Juss. (leaves), T. catigua (branches), Trichilia pallida Sw. (leaves) e T. pallida (branches), was evaluated in relation to oviposition preference of Plutella xylostella. Disks of kale leaves (Brassica oleracea var. acephala), cultivar Georgia were immersed in each extract at a concentration of 10% (weight/volume) for one minute, and afterwards, divided in four equal parts, and two parts were placed alternately with other two parts treated with distilled water, in each cage. The counting of the eggs was made after 24 hours. The results showed deterrent effect on oviposition of the pest, except for the extract of S. adstringens, which didn't differed from the water treated control. The extracts of E. contortisilliquum, S. saponaria (fruits) and T. pallida (leaves) were the most efficient, presenting 100% of deterrence. Key words: Insecta, Plutella xylostella, plant insecticide, Cruciferae. 1. INTRODUÇÃO A couve, Brassica oleracea var. acephala, destaca-se entre as plantas hortícolas como um dos alimentos importantes na nutrição humana, sendo rica em minerais e vitaminas (FRANCO, 1960). É uma cultura atacada por diversas pragas, tais como: pulgões, curuquerê da couve, traça-das-crucíferas, lagarta-rosca e lagarta-mede-palmo (GALLO et al. , 2002). MARANHÃO et al. (1998) consideram a traça-das-crucíferas, Plutella xylostella (L. 1758) (Lepidoptera: Plutellidae) a principal praga da couve, repolho e outras brássicas. Destaca-se pela alta taxa de alimentação durante o período larval, causando grandes prejuízos à cultura, chegando a provocar até 100% de perdas na produção (OOI e KELDERMAN, 1979; VILLAS BÔAS et al., 1990; CHEN et al., 1996). A principal forma de controle dessa praga é o controle químico (VILLAS BÔAS et al., 1990; FRANÇA et al., 1985); todavia, o uso indiscriminado de inseticidas pode proporcionar o surgimento de populações de traça-das-crucíferas resistentes. Produtos naturais extraídos de plantas constituem-se em fonte de substâncias bioativas compatíveis com programas de manejo integrado de pragas (MIP), o que pode reduzir os efeitos negativos ocasionados pela aplicação descontrolada de inseticidas organossintéticos. Plantas tratadas com produtos derivados de Azadirachta indica, segundo SCHMUTTERER (1990), inibem a oviposição de diversos lepidópteros, dentre os quais, Spodoptera frugiperda (J.E. Smith). COUDRIED et al. (1985) trataram folhas de algodão com extrato aquoso de sementes de A. indica e observaram redução na oviposição de Bemisia tabaci (Genn.), e concentrações de 0,2 e 2% repeliram de modo semelhante a praga. KIRPAL et al. (1986) também verificaram em diferentes extratos de A. indica alto efeito repelente e antialimentar, reduzindo significativamente a população de Brevicoryne brassicae em plantas de repolho. STEIN e KLINGAUF (1990) estudaram o efeito de extratos etanólicos de algumas plantas e verificaram que os extratos de Chrysanthemum cinerariaefolium e Persea americana proporcionaram, respectivamente,100% e 74,8% de controle de P. xylostella. De acordo com CHEN et al. (1996), extratos orgânicos de Melia azedarach causaram 93,5% de redução na oviposição de P. xylostella na concentração de 4%, sendo essa redução proporcional à concentração utilizada. TORRES (2000) analisou o efeito de extratos aquosos de plantas em relação a P. xylostella, constatando que a oviposição da praga foi diretamente correlacionada com o aumento das concentrações dos extratos, independentemente da espécie vegetal utilizada, e que o efeito repelente se acentua com a quantidade de substâncias bioativas extraídas e existente em cada extrato; os extratos de Aspidosperma pyrifolium, A. indica e Cissampelos aff. glaberrima foram os mais repelentes. Devido à importância da traça-das-crucíferas, que causam perdas significativas na cultura da couve, objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito de extratos aquosos de 18 espécies de plantas, aplicados sobre folhas de couve, na deterrência para a oviposição de P. xylostella, em condições de laboratório. 2. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida em laboratório à temperatura de 25 ± 1 ºC, umidade relativa de 74% ± 5% e fotofase de 12 horas. Sementes de couve, B. oleracea var. acephala, cultivar Georgia, foram semeadas em bandejas de isopor contendo substrato Plantmax®, e mantidas em casa de vegetação. Após 30 dias, foram transplantadas para canteiro definitivo na Área Experimental do Departamento de Fitossanidade, recebendo tratos culturais padrão para a cultura (CAMARGO, 1992). Irrigações por aspersão foram realizadas quando necessário. Para o preparo dos extratos foram utilizados folhas, ramos, frutos e cascas de plantas (Tabela 1), coletadas no Campus da FCAV/UNESP - Jaboticabal (SP), com exceção de Trichilia pallida e de T. catigua, coletadas na Mata Santa Tereza, na cidade de Ribeirão Preto. Logo após a coleta, as partes dos vegetais foram colocadas para secagem em estufa à temperatura de 35 a 38 ºC, por um período de 15 dias, até massa constante, e moídas em seguida com auxílio de moinho de facas, sendo o pó peneirado em peneira de 0,8 mm. No mesmo dia da moagem, foram preparadas suspensões contendo 10 g de cada espécie vegetal moída (Tabela 1) e 100 mL de água destilada, permanecendo em repouso por 12 horas, com o propósito de extrair os compostos hidrossolúveis. Decorrido esse tempo, coou-se usando tecido tipo 'voile', obtendo-se extratos na concentração (massa/volume) de 10%. Após a obtenção dos extratos, discos de 8 cm de diâmetro de folhas de couve foram imersos em cada extrato por um período de um minuto. A testemunha foi constituída por discos imersos em água destilada. Depois desse tempo, os discos foram colocados sobre papel toalha e deixados ao ar livre para perda do excesso de umidade superficial por cerca de uma hora, sendo em seguida divididos em quatro partes iguais, obtendo-se triângulos com dimensões e textura semelhantes. Discos retirados das mesmas folhas de couve foram imersos em água destilada e usados como padrão no teste de deterrência. Formou-se, assim, um conjunto constituído por quatro triângulos dispostos alternadamente sobre papel filtro levemente umedecido com água destilada, sendo dois tratados com extratos e dois tratados com água destilada. Foram feitas marcações no papel filtro, sob cada triângulo de folha de couve, para identificar as partes tratadas com os extratos e as partes tratadas com água, para posterior avaliação. Esse conjunto foi colocado sobre um disco de esponja, com o mesmo diâmetro do papel filtro, sustentado por um copo plástico, e transferido para gaiolas plásticas. Em cada gaiola, colocou-se um casal de P. xylostella com até 12 horas de idade, proveniente de criação feita em laboratório, e mantido por quatro dias para oviposição, sendo realizada, diariamente, a contagem dos ovos em cada um dos triângulos e sua substituição por outro. O efeito deterrente dos extratos foi avaliado através da fórmula: PD = (NC - NT)/(NC + NT) x 100, adaptada de OBENG-OFORI (1995), sendo PD, a porcentagem média de deterrência; NC, o número de ovos no tratamento com água destilada; e NT, o número de ovos em cada tratamento com extrato. Foi atribuída a seguinte classificação: Deterrente PD > 0 e Neutro: PD < 0. Cada repetição foi constituída por uma gaiola contendo um casal da praga. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com 22 tratamentos e quatro repetições. Com relação à testemunha nas quatro repetições, foram colocados os triângulos de folhas alternados, apenas imersos em água destilada, aplicando-se a fórmula de PD, considerando-se como NC, os dois triângulos onde se encontra o maior número de insetos. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P < 0,05), utilizando-se o programa SANEST (versão 3.0). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os extratos promoveram efeito deterrente na oviposição de P. xylostella, exceto o extrato de Stryphnodendron adstringens, que não diferiu da testemunha tratada apenas com água, porém apresentou deterrência de 46,9% (Tabela 2). Houve uniformidade da postura sobre os discos de folha de couve imersos em água destilada, uma vez que a porcentagem de deterrência (PD) foi igual a 6,9%, significando que a quantidade de ovos colocados foi similar nos triângulos de folhas de couve expostos à oviposição da praga, resultando em índice baixo em relação aos demais tratamentos. Os extratos de E. contortisilliquum, S. saponaria (frutos) e T. pallida (folhas) foram os que obtiveram os melhores resultados, com 100% de deterrência (Tabela 2), seguido dos extratos de N. tabacum, C. ambrosioides, T. pallida (ramos) e Bougainvillea glabra, com deterrência acima de 95%. Os demais extratos também possuem bom efeito deterrente, entre 89,7% (A. millefolium) e 54,5% (S. saponaria - folhas). Essa deterrência também foi constatada por outros autores, como COUDRIET et al. (1985), que trataram folhas de algodão com extrato aquoso de sementes de A. indica e observaram redução na oviposição de B. tabaci. Segundo GUPTA e THORSTEINSON (1960), a oviposição de diversos lepidópteros geralmente é mediada por mecanismos sensoriais, mecano e químioreceptores. DEVARAJ e SRILATHA (1993) estudaram as propriedades repelentes de extratos contra Corcyra cephalonica e constataram que o extrato de eucalipto foi o mais repelente, seguido por Cymbopogon, mostarda, nim e datura. A ação deterrente de extratos vegetais na oviposição de insetos ainda é pouco conhecida, sendo poucos os trabalhos que mencionam esse fato. TORRES (2000) avaliou o efeito de extratos aquosos de cinco espécies vegetais na oviposição de P. xylostella, em diferentes concentrações, em que o extrato da casca de A. pyrifolium continha porcentagem de repelência de 56,4% à concentração de 7,5%, sendo superior aos extratos das demais plantas. À medida que se aumentou a concentração, independentemente da espécie vegetal utilizada, aumentou a percentagem de repelência, visto que o efeito repelente se acentua com a quantidade de substâncias bioativas extraídas e existentes em cada extrato. No presente estudo, apesar de algumas plantas não terem influenciado a oviposição de P. xylostella, não devem ser descartadas. Deve-se testar outros meios de extração dos princípios ativos existentes nas plantas, pois ROEL et al. (2000) verificaram diferentes resultados entre os diversos solventes utilizados. Também STEIN e KLINGAUF (1990), estudando o efeito de extratos etanólicos e aquosos de folhas de Prosopis juliflora contra Myzys persicae e larvas de P. xylostella, observaram eficácia de 90% e 28% com extrato etanólico e 6% e 10% com extrato aquoso respectivamente. Também podem ser estudadas outras estruturas dessas plantas, pois podem ter diferentes concentrações dos princípios ativos, como S. saponaria neste trabalho, em que para os frutos, houve 100% de deterrência, e nas folhas, a redução foi de 54,5% na oviposição da praga. 4. CONCLUSÕES 1. Os extratos avaliados proporcionaram efeito deterrente na oviposição de P. xylostella, exceto o de S. adstringens. 2. Os extratos de E. contortisilliquum, S. saponaria (frutos) e T. pallida (folhas) causaram 100% de deterrência na oviposição de P. xylostella. AGRADECIMENTOS Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), pela bolsa de Produtividade em Pesquisa, concedida ao segundo autor. REFERÊNCIAS CAMARGO, L. S. As hortaliças e seu cultivo. 3. ed. São Paulo: Fundação Cargill, 1992. 252p. CHEN, C.; CHANG, S.; CHENG, L.; HOU, R. F. Deterrent effect of the chinaberry extract on oviposition of the diamondback moth, Plutella xylostella (L.) (Lep. Yponomeutidae). Journal Applied Entomology, Berlin, v.120, p.165-169, 1996. COUDRIET, D. L.; PRABHAKER, N.; MEYERDIRK, D. E. Sweetpotato whitefly (Homoptera: Aleyrodidae): effects of neem-seed extract on oviposition and immature stages. Environmental Entomology, Lanhan, v.14, p.776-779, 1985. DEVARAJ, K. C.; SRILATHA, G. M. Antifeedant and repellent properties of certain plant extracts against the rice moth, Corcyra cephalonica St. Botanical Pesticides in Integrated Pest Management, Bangalore, v.8, p.159-165, 1993. FRANÇA, F.H.; CORDEIRO, C.M.T.; GIORDANO, L.B.; RESENDE A.M. Controle da traça das crucíferas em repolho. Horticultura Brasileira, Brasília, v.3, n.2, p.50-51, 1985. FRANCO, G. Tabela de composição química de alimentos. 3.ed. Rio de Janeiro: Serviço de Alimentação da Previdência Social, 1960. 194p. GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BATISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIM, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920 p. GUPTA, P. D.; THORSTEINSON, A. F. Food plant relationships of the diamondback moth (Plutella maculipennis Curt.). II. Sensory regulation of oviposition of the adult female. Entomologia Experimentalis et Applicata, Dordrecht, v.3, p.305-314, 1960. KIRPAL, S.; SHAMA, P. L.; SINGH, K. Studies on the antifeedant and repellent qualities on neem (Azadirachta indica) against aphid (Brevicoryne brassicae L.) on cauliflower and cabbage. Research and Development Reporter, Solan, v.3, n.1, p.33-35, 1986. MARANHÃO, E. A. de A.; LIMA, M. P. L. de; MARANHÃO, E. H. de A.; LYRA FILHO, H. P. Flutuação populacional da traça das crucíferas, em couve, na zona da Mata de Pernambuco. Horticultura Brasileira, Brasília, v.16, n.1, 1998. OBENG-OFORI, D. Plant oils as grain protectants against infestations of Cryptolestes pusillus and Rhyzopertha dominica in stored grain. Entomologia Experimentalis et Applicata, Doidrecht, v.77, p.133-139, 1995. OOI, P.A.C.; KELDERMAN, W. The biology of three common pests of cabagges in Cameron Highlands, Malaysia. Malaysian Agricultural Journal, Kuala Lumpur, v.52, n.1, p.85-101, 1979. ROEL, A. R.; VENDRAMIM, J. D.; FRIGHETTO, R. T. S.; FRIGHETTO, N. Atividade tóxica de extratos orgânicos de Trichilia pallida Swartz (Meliaceae) sobre Spodoptera frugiperda (J. E. Smith). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Londrina, v.29, n.4, p.799-808, 2000. [ SciELO ] SCHMUTTERER, H. Properties and potential of natural pesticides from the neem tree, Azadirachta indica. Annual Review Entomology, Palo Alto, v.35, p.271-297, 1990. STEIN, U.; KLINGAUF, F. Insecticidal effect of plant extracts from tropical and subtropical species. Traditional methods are good as long as they are effective. Journal of Applied Entomology, Berlin, v.110, n. 2, p.160-166, 1990. TORRES, A. L. Efeito de extratos aquosos de plantas na biologia de Plutella xylostella (L. 1758) (Lepidoptera: Plutellidae). 58f. 2000. Dissertação (Mestrado em Agronomia) Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife. VILLAS BOAS, G. L.; CASTELO BRANCO, M.; GUIMARÃES, A. L. Controle químico da traça das crucíferas em repolho do Distrito Federal. Horticultura Brasileira, Brasília, v.8, n.2, p.10-11, 1990. Recebido para publicação em 2 de julho de 2004 e aceito em 10 de janeiro de 2005 227 Extratos de plantas na oviposição da traça-das-crucíferas FITOSSANIDADE EFEITO DE EXTRATOS AQUOSOS DE PLANTAS NA OVIPOSIÇÃO DA TRAÇA-DAS-CRUCÍFERAS, EM COUVE (1) CESAR AUGUSTO MANFRÉ MEDEIROS (2); ARLINDO LEAL BOIÇA JUNIOR (3); ADALCI LEITE TORRES (2) RESUMO Avaliou-se o efeito de extratos aquosos de Achillea millefolium L. (folhas), Azadirachta indica A. Juss. (folhas), Bidens pilosa L. (folhas, frutos e ramos), Bougainvillea glabra Choisy (folhas), Chenopodium ambrosioides L. (folhas, frutos e ramos), Datura suaveolens Humb & Bonpl. ex. Willd (folhas), Enterolobium contortisilliquum (Vell.) Morong (frutos), Mentha crispa L. (folhas e ramos), Nicotiana tabacum L. (folhas), Piper nigrum L. (folhas), Plumbago capensis Thunb. (folhas e ramos), Pothomorphe umbellata L. (folhas), Sapindus saponaria L. (folhas), S. saponaria (frutos), Solanum cernuum Vell. (folhas), Stryphnodendron adstringens (Mart) Coville (casca), Symphytum officinale L. (folhas), Trichilia catigua A. Juss. (folhas), T. catigua (ramos), Trichilia pallida Sw. (folhas) e T. pallida (ramos), em relação à preferência para oviposição de Plutella xylostella. Discos de folhas de couve (Brassica oleracea var. acephala) cultivar Georgia foram imersos em cada extrato à concentração de 10% (massa/volume) por um minuto. Em seguida, foram divididos em quatro partes iguais e duas partes foram colocadas alternadamente com outras duas partes tratadas com água destilada, em uma gaiola. A contagem dos ovos foi feita após 24 horas. Os extratos apresentaram efeito deterrente na oviposição da praga, com exceção do extrato de S. adstringens, que não diferiu da testemunha, tratada apenas com água destilada. Os extratos de E. contortisilliquum, S. saponaria (frutos) e T. pallida (folhas) foram os mais eficientes, apresentando 100% de deterrência. Palavras-chave: Insecta, Plutella xylostella, planta inseticida, couve. ABSTRACT EFFECT OF PLANTS AQUEOUS EXTRACTS ON OVIPOSITION OF THE DIAMONDBACK, IN KALE The effect of aqueous extracts from Achillea millefolium L. (leaves), Azadirachta indica A. Juss. (leaves), Bidens pilosa L. (leaves, fruits e branches), Bougainvillea glabra Choisy (leaves), Chenopodium ambrosioides L. (leaves, fruits e branches), Datura suaveolens Humb & Bonpl. ex. Willd (leaves), Enterolobium contortisilliquum (Vell.) Morong (fruits), Mentha crispa L. (leaves e branches), Nicotiana tabacum L. (leaves), Piper nigrum L. (leaves), Plumbago capensis Thunb. (leaves e branches), Pothomorphe umbellata L. (leaves), Sapindus saponaria (1) Recebido para publicação em 2 de julho de 2004 e aceito em 10 de janeiro de 2005. ( 2) Acadêmico do Curso de Pós-Graduação em Agronomia (Entomologia Agrícola) da FCAV/UNESP, Jaboticabal (SP). ( 3) Departamento de Fitossanidade, FCAV/UNESP, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n.o, 14884-900 Jaboticabal (SP). E-mail: [email protected]. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.227-232, 2005 228 C.A M. Medeiros et al. L. (leaves), S. saponaria (fruits), Solanum cernuum Vell. (leaves), Stryphnodendron adstringens (Mart) Coville (bark), Symphytum officinale L. (leaves), Trichilia catigua A. Juss. (leaves), T. catigua (branches), Trichilia pallida Sw. (leaves) e T. pallida (branches), was evaluated in relation to oviposition preference of Plutella xylostella. Disks of kale leaves (Brassica oleracea var. acephala), cultivar Georgia were immersed in each extract at a concentration of 10% (weight/volume) for one minute, and afterwards, divided in four equal parts, and two parts were placed alternately with other two parts treated with distilled water, in each cage. The counting of the eggs was made after 24 hours. The results showed deterrent effect on oviposition of the pest, except for the extract of S. adstringens, which didn’t differed from the water treated control. The extracts of E. contortisilliquum, S. saponaria (fruits) and T. pallida (leaves) were the most efficient, presenting 100% of deterrence. Key words: Insecta, Plutella xylostella, plant insecticide, Cruciferae. 1. INTRODUÇÃO A couve, Brassica oleracea var. acephala, destacase entre as plantas hortícolas como um dos alimentos importantes na nutrição humana, sendo rica em minerais e vitaminas (FRANCO , 1960). É uma cultura atacada por diversas pragas, tais como: pulgões, curuquerê da couve, traça-das-crucíferas, lagarta-rosca e lagarta-mede-palmo (G ALLO et al., 2002). MARANHÃO et al. (1998) consideram a traça-das-crucíferas, Plutella xylostella (L. 1758) (Lepidoptera: Plutellidae) a principal praga da couve, repolho e outras brássicas. Destaca-se pela alta taxa de alimentação durante o período larval, causando grandes prejuízos à cultura, chegando a provocar até 100% de perdas na produção (O OI e K ELDERMAN , 1979; VILLAS B ÔAS et al., 1990; C HEN et al., 1996). A principal forma de controle dessa praga é o controle químico (VILLAS BÔAS et al., 1990; F RANÇA et al., 1985); todavia, o uso indiscriminado de inseticidas pode proporcionar o surgimento de populações de traça-das-crucíferas resistentes. Produtos naturais extraídos de plantas constituem-se em fonte de substâncias bioativas compatíveis com programas de manejo integrado de pragas (MIP), o que pode reduzir os efeitos negativos ocasionados pela aplicação descontrolada de inseticidas organossintéticos. Plantas tratadas com produtos derivados de Azadirachta indica, segundo S C H M U T T E R E R (1990), inibem a oviposição de diversos lepidópteros, dentre os quais, Spodoptera frugiperda (J.E. Smith). C OUDRIED et al. (1985) trataram folhas de algodão com extrato aquoso de sementes de A. indica e observaram redução na oviposição de Bemisia tabaci (Genn.), e concentrações de 0,2 e 2% repeliram de modo semelhante a praga. K IRPAL et al. (1986) também verificaram em diferentes extratos de A. indica alto efeito repelente e antialimentar, reduzindo significativamente a população de Brevicoryne brassicae em plantas de repolho. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.227-232, 2005 STEIN e KLINGAUF (1990) estudaram o efeito de extratos etanólicos de algumas plantas e verificaram que os extratos de Chrysanthemum cinerariaefolium e Persea americana proporcionaram, respectivamente,100% e 74,8% de controle de P. xylostella. De acordo com C HEN et al. (1996), extratos orgânicos de Melia azedarach causaram 93,5% de redução na oviposição de P. xylostella na concentração de 4%, sendo essa redução proporcional à concentração utilizada. T ORRES (2000) analisou o efeito de extratos aquosos de plantas em relação a P. xylostella, constatando que a oviposição da praga foi diretamente correlacionada com o aumento das concentrações dos extratos, independentemente da espécie vegetal utilizada, e que o efeito repelente se acentua com a quantidade de substâncias bioativas extraídas e existente em cada extrato; os extratos de Aspidosperma pyrifolium, A. indica e Cissampelos aff. glaberrima foram os mais repelentes. Devido à importância da traça-das-crucíferas, que causam perdas significativas na cultura da couve, objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito de extratos aquosos de 18 espécies de plantas, aplicados sobre folhas de couve, na deterrência para a oviposição de P. xylostella, em condições de laboratório. 2. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida em laboratório à temperatura de 25 ± 1 ºC, umidade relativa de 74% ± 5% e fotofase de 12 horas. Sementes de couve, B. oleracea var. acephala, cultivar Georgia, foram semeadas em bandejas de isopor contendo substrato Plantmax, e mantidas em casa de vegetação. Após 30 dias, foram transplantadas para canteiro definitivo na Área Experimental do Departamento de Fitossanidade, recebendo tratos culturais padrão para a cultura (C AMARGO , 1992). Irrigações por aspersão foram realizadas quando necessário. 229 Extratos de plantas na oviposição da traça-das-crucíferas Para o preparo dos extratos foram utilizados folhas, ramos, frutos e cascas de plantas (Tabela 1), coletadas no Campus da FCAV/UNESP – Jaboticabal (SP), com exceção de Trichilia pallida e de T. catigua, coletadas na Mata Santa Tereza, na cidade de Ribeirão Preto. Logo após a coleta, as partes dos vegetais foram colocadas para secagem em estufa à temperatura de 35 a 38 ºC, por um período de 15 dias, até massa constante, e moídas em seguida com auxílio de moinho de facas, sendo o pó peneirado em peneira de 0,8 mm. No mesmo dia da moagem, foram preparadas suspensões contendo 10 g de cada espécie vegetal moída (Tabela 1) e 100 mL de água destilada, permanecendo em repouso por 12 horas, com o propósito de extrair os compostos hidrossolúveis. Decorrido esse tempo, coou-se usando tecido tipo ‘voile’, obtendo-se extratos na concentração (massa/ volume) de 10%. Após a obtenção dos extratos, discos de 8 cm de diâmetro de folhas de couve foram imersos em cada extrato por um período de um minuto. A testemunha foi constituída por discos imersos em água destilada. Depois desse tempo, os discos foram colocados sobre papel toalha e deixados ao ar livre para perda do excesso de umidade superficial por cerca de uma hora, sendo em seguida divididos em quatro partes iguais, obtendo-se triângulos com dimensões e textura semelhantes. Discos retirados das mesmas folhas de couve foram imersos em água destilada e usados como padrão no teste de deterrência. Formou-se, assim, um conjunto constituído por quatro triângulos dispostos alternadamente sobre papel filtro levemente umedecido com água destilada, sendo dois tratados com extratos e dois tratados com água destilada. Foram feitas marcações no papel filtro, sob cada triângulo de folha de couve, para identificar as partes tratadas com os extratos e as partes tratadas com água, para posterior avaliação. Esse conjunto foi colocado sobre um disco de esponja, com o mesmo diâmetro do papel filtro, sustentado por um copo plástico, e transferido para gaiolas plásticas. Tabela 1. Denominação e estrutura vegetal das plantas utilizadas na avaliação dos efeitos dos extratos aquosos na preferência para oviposição de Plutella xylostella. Jaboticabal (SP), 2004 Nome científico Achillea millefolium L. Azadirachta indica A. Juss. Nome comum Família Partes vegetais Mil-folhas Asteraceae Folhas Nim Meliaceae Folhas Ramos + Folhas + Frutos Bidens pilosa L. Picão-preto Asteraceae Bougainvillea glabra Choisy Primavera Nyctaginaceae Folhas Chenopodium ambrosioides L. Erva-de-santa-maria Chenopodiaceae Ramos + Folhas + Frutos Trombeteira Solanaceae Folhas Tamboril Mimosaceae Frutos com sementes Hortelã Lamiaceae Folhas + Ramos Datura suaveolens Humb & Bonpl. ex. Willd Enterolobium contortisilliquum (Vell.) Morong Mentha crispa L. Nicotiana tabacum L. Fumo Solanaceae Folhas Pimenta-do-reino Piperaceae Folhas Plumbago capensis Thunb. Plumbago Plumbaginaceae Folhas + Ramos Pothomorphe umbellata L. Pariparoba Piperaceae Folhas Sapindus saponaria L. Sabão-de-soldado Sapindaceae Folhas S. saponaria L. Sabão-de-soldado Sapindaceae Frutos Piper nigrum L. Solanum cernuum Vell. Panacéia Solanaceae Folhas Barbatimão Mimosaceae Casca Symphytum officinale L. Confrei Boraginaceae Folhas Trichilia catigua A. Juss. Trichilia Meliaceae Folhas T. catigua A. Juss. Trichilia Meliaceae Ramos Stryphnodendron adstringens (Mart) Coville T. pallida Sw. Trichilia Meliaceae Folhas T. pallida Sw. Trichilia Meliaceae Ramos Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.227-232, 2005 230 C.A M. Medeiros et al. Em cada gaiola, colocou-se um casal de P. xylostella com até 12 horas de idade, proveniente de criação feita em laboratório, e mantido por quatro dias para oviposição, sendo realizada, diariamente, a contagem dos ovos em cada um dos triângulos e sua substituição por outro. O efeito deterrente dos extratos foi avaliado através da fórmula: PD = (NC – NT)/(NC + NT) x 100, adaptada de OBENG-OFORI (1995), sendo PD, a porcentagem média de deterrência; NC, o número de ovos no tratamento com água destilada; e NT, o número de ovos em cada tratamento com extrato. Foi atribuída a seguinte classificação: Deterrente PD > 0 e Neutro: PD < 0. Cada repetição foi constituída por uma gaiola contendo um casal da praga. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com 22 tratamentos e quatro repetições. Com relação à testemunha nas quatro repetições, foram colocados os triângulos de folhas alternados, apenas imersos em água destilada, aplicando-se a fórmula de PD, considerando-se como NC, os dois triângulos onde se encontra o maior número de insetos. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P < 0,05), utilizando-se o programa SANEST (versão 3.0). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os extratos promoveram efeito deterrente na oviposição de P. xylostella, exceto o extrato de Stryphnodendron adstringens, que não diferiu da testemunha tratada apenas com água, porém apresentou deterrência de 46,9% (Tabela 2). Houve uniformidade da postura sobre os discos de folha de couve imersos em água destilada, uma vez que a porcentagem de deterrência (PD) foi igual a 6,9%, significando que a quantidade de ovos colocados foi similar nos triângulos de folhas de couve expostos à oviposição da praga, resultando em índice baixo em relação aos demais tratamentos. Tabela 2. Porcentagem média (± EP) de deterrência para oviposição de Plutella xylostella em discos de couve tratados com extratos aquosos de espécies vegetais à concentração de 10% (massa/volume). T (ºC ) = 25 ± 1; UR (%) = 74 ± 5; fotofase = 12 horas. Jaboticabal (SP), 2004 Tratamento Porcentagem de deterrência (PD) Enterolobium contortisilliquum 100,00 a Sapindus saponaria (frutos) 100,00 a Trichilia pallida (folhas) 100,00 a Nicotiana tabacum 99,5 ± 0,34 ab Chenopodium ambrosioides 98,6 ± 0,61 ab Trichilia pallida (ramos) 95,6 ± 1,93 ab Bougainvillea glabra 95,3 ± 0,86 ab Achillea millefolium 89,7 ± 1,47 abc Azadirachta indica 89,1 ± 2,30 abc Datura suaveolens 88,9 ± 1,76 abc Symphytum officinale 86,6 ± 3,81 abc Solanum cernuum 86,0 ± 2,72 abc Trichilia catigua (ramos) 79,6 ± 2,93 abc Pothomorphe umbellata 78,9 ± 5,29 abc Trichilia catigua (folhas) 74,7 ± 7,14 abc Bidens pilosa 73,1 ± 9,23 abc Plumbago capensis 72,5 ± 7,40 abc Piper nigrum 64,1 ± 9,23 abc Mentha crispa 58,9 ± 11,67 abc Sapindus saponaria (folhas) 54,5 ± 12,52 bc Stryphnodendron adstringens 46,9 ± 7,23 cd Testemunha 6,9 ± 12,82 d Médias seguidas pela mesma letra, não diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.227-232, 2005 Extratos de plantas na oviposição da traça-das-crucíferas Os extratos de E. contortisilliquum, S. saponaria (frutos) e T. pallida (folhas) foram os que obtiveram os melhores resultados, com 100% de deterrência (Tabela 2), seguido dos extratos de N. tabacum, C. ambrosioides, T. pallida (ramos) e Bougainvillea glabra, com deterrência acima de 95%. Os demais extratos também possuem bom efeito deterrente, entre 89,7% (A. millefolium) e 54,5% (S. saponaria – folhas). Essa deterrência também foi constatada por outros autores, como C OUDRIET et al. (1985), que trataram folhas de algodão com extrato aquoso de sementes de A. indica e observaram redução na oviposição de B. tabaci. Segundo GUPTA e THORSTEINSON (1960), a oviposição de diversos lepidópteros geralmente é mediada por mecanismos sensoriais, mecano e químio-receptores. DEVARAJ e SRILATHA (1993) estudaram as propriedades repelentes de extratos contra Corcyra cephalonica e constataram que o extrato de eucalipto foi o mais repelente, seguido por Cymbopogon, mostarda, nim e datura. A ação deterrente de extratos vegetais na oviposição de insetos ainda é pouco conhecida, sendo poucos os trabalhos que mencionam esse fato. TORRES (2000) avaliou o efeito de extratos aquosos de cinco espécies vegetais na oviposição de P. xylostella, em diferentes concentrações, em que o extrato da casca de A. pyrifolium continha porcentagem de repelência de 56,4% à concentração de 7,5%, sendo superior aos extratos das demais plantas. À medida que se aumentou a concentração, independentemente da espécie vegetal utilizada, aumentou a percentagem de repelência, visto que o efeito repelente se acentua com a quantidade de substâncias bioativas extraídas e existentes em cada extrato. No presente estudo, apesar de algumas plantas não terem influenciado a oviposição de P. xylostella, não devem ser descartadas. Deve-se testar outros meios de extração dos princípios ativos existentes nas plantas, pois R O E L et al. (2000) verificaram diferentes resultados entre os diversos solventes utilizados. Também S T E I N e K L I N G A U F (1990), estudando o efeito de extratos etanólicos e aquosos de folhas de Prosopis juliflora contra Myzys persicae e larvas de P. xylostella, observaram eficácia de 90% e 28% com extrato etanólico e 6% e 10% com extrato aquoso respectivamente. Também podem ser estudadas outras estruturas dessas plantas, pois podem ter diferentes concentrações dos princípios ativos, como S. saponaria neste trabalho, em que para os frutos, houve 100% de deterrência, e nas folhas, a redução foi de 54,5% na oviposição da praga. 231 4. CONCLUSÕES 1. Os extratos avaliados proporcionaram efeito deterrente na oviposição de P. xylostella, exceto o de S. adstringens. 2. Os extratos de E. contortisilliquum, S. saponaria (frutos) e T. pallida (folhas) causaram 100% de deterrência na oviposição de P. xylostella. AGRADECIMENTOS Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), pela bolsa de Produtividade em Pesquisa, concedida ao segundo autor. REFERÊNCIAS CAMARGO, L. S. As hortaliças e seu cultivo. 3. ed. São Paulo: Fundação Cargill, 1992. 252p. CHEN, C.; CHANG, S.; CHENG, L.; HOU, R. F. Deterrent effect of the chinaberry extract on oviposition of the diamondback moth, Plutella xylostella (L.) (Lep. Yponomeutidae). Journal Applied Entomology, Berlin, v.120, p.165-169, 1996. COUDRIET, D. L.; PRABHAKER, N.; MEYERDIRK, D. E. Sweetpotato whitefly (Homoptera: Aleyrodidae): effects of neem-seed extract on oviposition and immature stages. Environmental Entomology, Lanhan, v.14, p.776-779, 1985. DEVARAJ, K. C.; SRILATHA, G. M. 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Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.227-232, 2005 232 C.A M. Medeiros et al. KIRPAL, S.; SHAMA, P. L.; SINGH, K. Studies on the antifeedant and repellent qualities on neem (Azadirachta indica) against aphid (Brevicoryne brassicae L.) on cauliflower and cabbage. Research and Development Reporter, Solan, v.3, n.1, p.33-35, 1986. MARANHÃO, E. A. de A.; LIMA, M. P. L. de; MARANHÃO, E. H. de A.; LYRA FILHO, H. P. Flutuação populacional da traça das crucíferas, em couve, na zona da Mata de Pernambuco. Horticultura Brasileira, Brasília, v.16, n.1, 1998. OBENG-OFORI, D. Plant oils as grain protectants against infestations of Cryptolestes pusillus and Rhyzopertha dominica in stored grain. Entomologia Experimentalis et Applicata, Doidrecht, v.77, p.133-139, 1995. OOI, P.A.C.; KELDERMAN, W. The biology of three common pests of cabagges in Cameron Highlands, Malaysia. Malaysian Agricultural Journal, Kuala Lumpur, v.52, n.1, p.85-101, 1979. ROEL, A. R.; VENDRAMIM, J. D.; FRIGHETTO, R. T. 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Controle químico da traça das crucíferas em repolho do Distrito Federal. Horticultura Brasileira, Brasília, v.8, n.2, p.10-11, 1990. Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 PLANT PROTECTION Effect of the inherent variation in the mineral concentration of alfalfa cultivars on aphid populations Efeito da variação inata da concentração de minerais em cultivares de alfafa (Medicago sativa) em população de afídeos (Hemiptera: Aphididae) Alexandre de Almeida e SilvaI; Elenice Mouro VarandaII; Ana Cândida PrimavesiIII IIPEPATRO, Rodovia Federal 364, km 3,5, 78900-000, Porto Velho (RO), Brasil. E-mail: [email protected] IIDepartamento de Biologia, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Av. dos Bandeirantes, 3900, 14040-901 Ribeirão Preto (SP), Brasil. E-mail: [email protected] IIIEmbrapa Pecuária Sudeste, Rodovia Washington Luiz, km 254, 13560-970 São Carlos (SP), Brasil. E-mail: [email protected] ABSTRACT Plants have inherent variability of mineral content which affects their physiology and consequently the herbivorous insects feeding on them. Besides, insects need considerable amounts of potassium, phosphorus and magnesium in their diets, whereas little calcium, sodium and chloride are required. In this study, the inherent variation on mineral (Ca, S, Mg, N, P, K and also C:N ratio) concentrations and aphid (Acyrthosiphon spp., Therioaphis maculata, Aphis craccivora) populations on three alfalfa (Medicago sativa) cultivars (P3; Crioula, the most widely cultivated in Brazil, and CUF 101, an aphid-resistant) were studied between September/1997 and August/1998. A significant variation on mineral concentrations and aphid populations was observed among different sampling times and cultivars. The correlations between C:N ratio, Mg, N, P and S concentrations and aphid density variation suggest that the mineral status affects aphid population dynamics under field conditions. Key words: Aphididae, insecta, nutrients, resistance, plant-insect relation. RESUMO As plantas têm variação inata do conteúdo de minerais e seu estado nutricional afeta sua fisiologia cloretos. A variação inata na concentração de minerais (Ca, S, Mg, N, P, K e também a razão C:N) e na população de afídeos (Acyrthosiphon spp., Therioaphis maculata, Aphis craccivora) em três cultivares de alfafa (M. sativa) - P3; Crioula, as mais cultivadas no Brasil, e CUF 101, resistente a afídeos - foi estudada entre setembro/1997 a agosto/1998 neste trabalho. A concentração de minerais e as populações de pulgões variaram significativamente entre os diferentes períodos de coleta e cultivares. As correlações encontradas entre as concentrações de Mg, N, P, S e a razão C:N e a variação no número de pulgões sugerem que os minerais da planta afetam a dinâmica populacional dos pulgões em campo. Palavras-chave: Aphididae, insecta, nutrientes, resistência, relação planta-inseto. 1. INTRODUCTION The term nutrition involves a qualitative aspect and despite considerable phylogenetic differences and distinct feeding habits, insects have qualitative needs for most nutrients (except for sterols) similar to those of vertebrates. The main nutritional needs of insects are amino acids, vitamins, minerals, carbohydrates, lipids and sterols, which should be appropriately balanced, especially in the case of the sugar:protein ratio. Another nutritional aspect considers the quantity, i. e., the nutrients effectively ingested, digested, assimilated and converted into tissues during development (DADD, 1985). Insects have a great variation in their quantitative need for nutrients. This variation may reflect differences in metabolism, as well as accumulated reserves from a previous stage, or association with other organisms which synthesize some nutrients (HOUSE, 1962). But some aspects of insect mineral nutrition are not easily studied due to difficulties in manipulating simple radicals in diets (HOUSE, 1962, DADD, 1973). Despite of that, insects need considerable amounts of potassium, phosphorus, magnesium and small amounts of calcium, sodium and chlorides during their development. Minerals are important for ionic balance, membrane permeability and enzyme activation (DADD, 1973). Mineral concentration is related to nutritional status of plants affecting their physiology and the herbivorous insects that feed on them in positive, neutral or negative ways (DALE, 1988). Several research papers have been published on the effect of mineral use (supplementation or deprivation) and its impact on insect biology (BARKER and TAUBER, 1957; TAYLOR et al., 1952; KINDLER and STAPLES, 1970; MALBRY et al., 1997; BUSCH and PHELAN, 1999; JANSSON and EKBOM, 2002). But there is little information on the effect of inherent concentration of minerals on aphid population dynamics under field conditions. Certain species and cultivars growing under the same conditions may differ in their ability to use mineral elements available in the soil (PAINTER, 1954). Plants also have inherent variability in nutrient levels (MATTSON and SCRIBER, 1987; EASTON et al., 1997). In this work, we investigated the relationships between inherent variation in the Ca, S, N, Mg, P and K concentration of three alfalfa (Medicago sativa) cultivars and variation in aphid populations on these plants in different sampling period. 2. MATERIAL AND METHODS Plant material of each cultivar, P3; Crioula, the most widely cultivated alfalfa cultivar in Brazil; and CUF 101, an aphid resistant cultivar, (replicates from 3 plots of 3 x 2 m) was sampled from September/1997 to August/1998 (12 samplings-15/09/97; 10/10; 10/11; 08/12; 05/01/98; 30/01; 02/03; 01/04; 30/04; 01/06; 03/07; 07/08), at the pre-bloom stage. The three alfalfa cultivars were cultivated at the Canchim cattle farm of Embrapa (Brazilian Federal Agricultural Research Agency) (22º 01'S and 47º 54'W) near São Carlos, São Paulo state, Brazil. The soil was fertilized (180 kg ha-1 of P2O5; 150 kg ha-1 of K2O; 30 kg ha-1 of FTE BR 12; plus 30 kg ha-1 of K2O after each harvest) and the fields were irrigated (15 mm twice weekly) in the dry season. In June, CUF 101 plant samples were not included in the analysis because of ants damages. One hundred shoots, collected individually once per sampling from each alfalfa cultivar, were placed in plastic bags (1 shoot per bag) and stored in common freezers (-20ºC). A soap solution (500 mL) was added to each bag, which was then shaken for a few seconds. The shoot was removed and the solution filtered. Aphids retained on the filter were transferred to Petri dishes and the species Therioaphis maculata, Aphis craccivora and Acyrthosiphon spp. were separated and counted using a stereomicroscope and expressed as aphid density. Both species of Acyrthosiphon (A. pisum and A. kondoi) were considered as one (Acyrthosiphon spp.) due to difficulties in identifying early instars. Plant material (500 g) was dried at 60ºC in a forced-air drying oven, until constant weight was reached. Each sample was ground in a Wiley-type mill equipped with a 20 mesh sieve (SARRUGE and HAAG, 1974). Nitrogen concentration was determined by a microkjeldahl method (AOAC, 1995), after sulfuric digestion. After nitroperchloric digestion, the calcium and magnesium concentrations were determined by titration with EDTA; phosphorus concentration was determined by colorimetry and potassium by flame photometry (MALAVOLTA et al., 1989). Carbon content was determined after calcination in a muffle furnace at 550ºC-600ºC (SILVA, 1981). Statistical analyses were performed using Sigma Stat 2.03 (1992-1997 SPSS Inc.). Two-Way ANOVA was used to study the effects of sampling time and cultivar on the concentration of six different minerals and also C:N ratio (3 replicates/sampling/cultivar). Nonparametric analyses with two or more factors are not generally acceptable (ZAR, 1999) and therefore ANOVA on Ranks was used to study the variation in the aphid population (100 replicates/ sampling/cultivar). Multiple comparisons among data were performed using the Dunn's test. Spearman rank order correlation was used to test for correlation between aphid populations and mineral variation. 3. RESULTS Two Way ANOVA tests indicated differences among mineral concentrations for variables sampling and cultivar, but no significant interaction (sampling x cultivar) was found. Mineral concentration in alfalfa cultivars had significant (p<0.05) variation in different sampling times (Fig. 1). No significant differences were found among phosphorus concentrations during the first five sampling times (p<0.001), but a significant decrease in the 6th sampling was detected (p<0.001). After a decrease on the 9th sampling, nitrogen concentration increased significantly (p<0.001) and was the highest at the 11th sampling. Calcium concentration was the highest in the 1st and 12th samplings (p<0.001). There was a significant increase in sulfur concentration from the 1st to the 6th samplings (p<0.001). The lowest potassium concentration was found at the 4th, 5th, 8th and 12th samplings (p<0.001). Magnesium concentration was the highest at the 8th sampling (p<0.001). C:N ratio was the highest from the 1st to the 4th samplings and at the 9th (p<0.001)(Figure 1). Phosphorus concentration was the highest in P3 cultivar (p<0,001). C:N ratio , magnesium and calcium concentrations were the highest in Crioula cultivar (p=0,002; p<0,001 and p=0,003, respectively). Nitrogen concentration was the highest in CUF 101 (p=0,01) (Table 1). There was a significant variation on aphids density on different samplings and cultivars (p<0.05). Acyrthosiphon spp. density was the highest on the 3 rd and 4th samplings and peaked at the 9th. The highest density of Acyrthosiphon spp. observed was found on the resistant cultivar CUF 101. Therioaphis maculata density was the highest from the 1st to 3rd samplings and also at the 9th and 12th. CUF 101 had the lowest density of this aphid species. Aphis craccivora was found from the 3rd to the 6th samplings and also at the 9th but, it was almost absent at the other samplings. Also, CUF 101 had the lowest density of this aphid species. Total aphid density was high from the 1st to 4th samplings and also at the 9th. Total aphid density was usually lower on the resistant cultivar CUF 101 than the others (Figure 2). C:N ratio was positively correlated to the variation of Acyrthosiphon spp. and T. maculata populations (r=0.6, p=0.03; r=0.63, p=0.02, respectively) and also to total aphid density variation on all cultivars (Crioula- r=0.9, p<0.001; P3- r=0.8, p<0.001 and CUF 101- r=0.6, p=0.03). There was a negative correlation between nitrogen and magnesium concentrations and total aphids density on P3 and Crioula (N- r= -0.63, p=0.02; r= -0.79, p<0.001; Mg- r= 0.59, p=0.04; r= -0.7, p=0.009; respectively). Total aphid density on P3 was also negatively correlated to phosphorus concentration (r= -0.63; p=0.03) and total aphid density on Crioula was negatively correlated to sulfur concentration (r= -0.58; p=0.04). 4. DISCUSSION Mineral analysis of alfalfa plant tips in this work was made during the pre-bloom stage and therefore, the mineral variation found was not related to growth stage. Despite of that, ABRAHAMSON and MC CREA (1985) found that most seasonal changes in the nutrient content and also the highest mineral content in Solidago altissima were associated with young, actively growing plant parts and inflorescences. AIAZZI et al. (1999) found that seasonal differences in the mineral content of Atriplex cordobenses were related to the growth stage (vegetative or reproductive) with accumulation of some minerals in the reproductive structures. As the alfalfa cultivars had a very short cycle between vegetative and reproductive stages (about 30 days), so the observed variation in the mineral concentration during pre-bloom might have resulted from factors affecting soil mineral uptake on different samplings. Significant differences in mineral concentration among different alfalfa cultivars were found in this work (Tab. 1), which implies genotypic differences among cultivars. EASTON et al. (1997) reported genetic variation in the concentration of macro and micro minerals in ryegrass (Lolium perene). Mineral status affects plant's physiology and the herbivores feeding on them, but mineral ions are also important to insect's physiology in at least three major processes: enzyme activation (K, Mg, Fe, Co, Mn), trigger and control mechanisms (Na, Ca, K), and structure formation (Mg). Insect's tissues have large quantities of three major mineral elements: P (10 g kg-1 d.w.), K (1 g kg-1 d.w.) and Mg (2 g kg-1 d.w.) Therefore, it is expected that herbivore interaction with host plants would be at least partially mediated by an interaction between minimal optimum nutrient requirements and the inherent variability of the plant contents of these nutrients (MATTSON and SCRIBER, 1987). Several investigators (AUCLAIR, 1965; DADD and MITTLER, 1965; DADD, 1967; AKEY and BECK, 1972; AUCLAIR and SRIVASTAVA, 1972) did show that macro and micro minerals are essential for aphid development, affecting significantly their biology on artificial diets. Mineral concentrations above optimum thresholds are usually toxic to aphids, e. g., high boron and molybdenum (AUCLAIR and SRIVASTAVA, 1972), phosphorus and potassium (AUCLAIR, 1965) to A. pisum; magnesium to A. pisum (AUCLAIR, 1965) and M. persicae (DADD and MITTLER, 1965) and nitrate to S. graminum (SALAS et al., 1990) The concentration of individual minerals (e.g., P, Mg, S), also their ratios in alfalfa tissues, was negatively correlated to aphid population variation in the present work, suggesting that they affected aphid biology. JANSSON and EKBOM (2002) found negative correlations between both magnesium and sulfur concentration in Petunia leaves and fecundity and longevity of the aphid Macrosiphum euphorbiae and BUSCH and PHELAN (1999) found that high phosphorus concentrations in soybeans resulted in longer developmental time of soybean looper (Pseudoplusia includens) and mineral proportions, such as high P:S ratio decreased pupal mass of this insect, but the opposite response was measured with a high S: P ratio. In this work, a positive correlation of C:N ratio and a negative correlation of N between aphid population were found. TRIPP et al. (1992) related fewer whiteflies on tomatoes with high C:N ratios. A decline on the performance of the aphids M. euphorbiae and Myzus persicae was found on potato tuber-filling leaves with a high C:N ratio, but C:N ratio on leaves was not correlated to sugar: amino acid ratio (KARLEY et al., 2002). Although most sucking insects respond positively to N fertilization (JANSSON and EKBOM, 2002), after reviewing several papers on N supplementation, VAN EMDEN (1966) related that in 36% of the cases aphids responded negatively to N fertilization, e.g., on barley (SALAS et al., 1990) and Polygonum pensilvanicum (MALBRY et al., 1997). SALAS et al. (1990) related nitrogen supplementation was positively related to alkaloid (gramine) concentration and was negatively correlated to aphid (Schizaphis graminum) performance on barley. Alkaloids are also present in alfalfa (CONNOR et al., 1973; PHILLIPS et al., 1992; WIEHLER and MARION, 1958) and are known to be related to root symbiont biochemical and ecological relations on alfalfa (PHILLIPS et al., 1992). Present data, supported by negative correlations between aphid density and nitrogen concentration, highlights a possible relation between alkaloids and aphids on alfalfa. A significant higher concentration of nitrogen on the aphid resistant cultivar was also detected. No significant correlations between aphid population variation and minerals, except for C:N ratio, were found for the resistant cultivar CUF 101, possibly due to its negative effect on T. maculata population size. BUSCH and PHELAN (1999) argued that responses to mineral concentration varied within species, also within cultivars, and were species-specific such as found in this work. That would explain differences in the results of different researches on mineral effect on the same plant and aphid species, e.g., peas and pea aphids (BARKER and TAUBER, 1957 and TAYLOR et al., 1952). Interestingly, the number of Acyrthosiphon spp. on the resistant cultivar was as high as or even higher than in the susceptible cultivars. Apparently, Acyrthosiphon spp. overcomes the resistant characteristics of CUF 101. The existence of "resistant" A. pisum (BOURNOVILLE et al., 2000) and A. kondoi (ZARRABI et al., 1995) biotypes to CUF 101 was already reported. Undoubtedly, there are other factors affecting aphid population dynamics in alfalfa under field conditions such as climatic conditions, mainly, temperature and rain (BERBERET et al., 1983; CARVALHO et al., 1996) and also qualitative changes induced by crowding that are the most probable regulating factor for aphid populations according to DIXON (1977). Correlations found between inherent mineral concentration and aphid populations on alfalfa suggest that mineral variation is related to aphid population dynamics under field conditions. Whether minerals affect aphid biology directly or indirectly through their effect on plant physiology remains to be determined. 5. CONCLUSIONS 1. Mineral concentration and aphid abundance in alfalfa vary with sampling time and cultivar. 2. Variation in aphid abundance along different sampling times is correlated to C:N ratio, N, Mg, P and S, but correlations vary with cultivar and aphid species. ACKNOWLEDGEMENTS The authors thank CAPES for financial support and Dr. Pitágoras da Conceição Bispo for statistical debates. REFERENCES ABRAHAMSON, W.G.; MCCREA, K.D. Seasonal nutrient dynamics of Solidago altissima (Compositae). Bulletin of the Torrey Botanical Club, New York, v.112, n.4, p.414-420, 1985. AIAZZI, M.T.; ABRIL, A.; TORRES, P.; DI RIENZO, J.A.; ARGUELLO, J.A.. Seasonal variations in chemical composition of leaves and stems of Atriplex cordobensis (Gandoger et Stuckert), female and male plants. Phyton, Buenos Aires, v.65, p 173-178, 1999. AKEY, D.H.; BECK, S.D. Nutrition of the pea aphid, Acyrthosiphon pisum: requirements for trace metals, sulphur, and cholesterol. Journal of Insect Physiology, London, v.18, p.19011914, 1972. ASSOCIATION OF OFFICIAL AGRICULTURAL CHEMISTS - AOAC.Official methods of analysis. 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Received for publication in May 21, 2004 and accepted in February 25, 2005 Variation in the mineral concentration of alfalfa cultivars 233 EFFECT OF THE INHERENT VARIATION IN THE MINERAL CONCENTRATION OF ALFALFA CULTIVARS ON APHID POPULATIONS (1) ALEXANDRE DE ALMEIDA E SILVA (2); ELENICE MOURO VARANDA (3); ANA CÂNDIDA PRIMAVESI (4) ABSTRACT Plants have inherent variability of mineral content which affects their physiology and consequently the herbivorous insects feeding on them. Besides, insects need considerable amounts of potassium, phosphorus and magnesium in their diets, whereas little calcium, sodium and chloride are required. In this study, the inherent variation on mineral (Ca, S, Mg, N, P, K and also C:N ratio) concentrations and aphid (Acyrthosiphon spp., Therioaphis maculata, Aphis craccivora) populations on three alfalfa (Medicago sativa) cultivars (P3; Crioula, the most widely cultivated in Brazil, and CUF 101, an aphid-resistant) were studied between September/1997 and August/1998. A significant variation on mineral concentrations and aphid populations was observed among different sampling times and cultivars. The correlations between C:N ratio, Mg, N, P and S concentrations and aphid density variation suggest that the mineral status affects aphid population dynamics under field conditions. Key words: Aphididae, insecta, nutrients, resistance, plant-insect relation. RESUMO EFEITO DA VARIAÇÃO INATA DA CONCENTRAÇÃO DE MINERAIS EM CULTIVARES DE ALFAFA (MEDICAGO SATIVA) EM POPULAÇÕES DE AFÍDEOS (HEMIPTERA: APHIDIDAE) As plantas têm variação inata do conteúdo de minerais e seu estado nutricional afeta sua fisiologia cloretos. A variação inata na concentração de minerais (Ca, S, Mg, N, P, K e também a razão C:N) e na população de afídeos (Acyrthosiphon spp., Therioaphis maculata, Aphis craccivora) em três cultivares de alfafa (M. sativa) - P3; Crioula, as mais cultivadas no Brasil, e CUF 101, resistente a afídeos - foi estudada entre setembro/1997 a agosto/1998 neste trabalho. A concentração de minerais e as populações de pulgões variaram significativamente entre os diferentes períodos de coleta e cultivares. As correlações encontradas entre as concentrações de Mg, N, P, S e a razão C:N e a variação no número de pulgões sugerem que os minerais da planta afetam a dinâmica populacional dos pulgões em campo. Palavras-chave: Aphididae, insecta, nutrientes, resistência, relação planta-inseto. ( 1) Received for publication in May 21, 2004 and accepted in February 25, 2005. ( 2) IPEPATRO, Rodovia Federal 364, km 3,5, 78900-000, Porto Velho (RO), Brasil. E-mail: [email protected] ( 3) Departamento de Biologia, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Av. dos Bandeirantes, 3900, 14040-901 Ribeirão Preto (SP), Brasil. E-mail: [email protected] ( 4 ) Embrapa Pecuária Sudeste, Rodovia Washington Luiz, km 254, 13560-970 São Carlos (SP), Brasil. E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.233-239, 2005 234 A.A. Silva et al. 1. INTRODUCTION 2. MATERIAL AND METHODS The term nutrition involves a qualitative aspect and despite considerable phylogenetic differences and distinct feeding habits, insects have qualitative needs for most nutrients (except for sterols) similar to those of vertebrates. Plant material of each cultivar, P3; Crioula, the most widely cultivated alfalfa cultivar in Brazil; and CUF 101, an aphid resistant cultivar, (replicates from 3 plots of 3 x 2 m) was sampled from September/1997 to August/1998 (12 samplings-15/09/97; 10/10; 10/ 11; 08/12; 05/01/98; 30/01; 02/03; 01/04; 30/04; 01/ 06; 03/07; 07/08), at the pre-bloom stage. The three alfalfa cultivars were cultivated at the Canchim cattle farm of Embrapa (Brazilian Federal Agricultural Research Agency) (220 01’S and 470 54’W) near São Carlos, São Paulo state, Brazil. The soil was fertilized (180 kg ha-1 of P2O5; 150 kg ha -1 of K2O; 30 kg ha -1 of FTE BR 12; plus 30 kg ha -1 of K2 O after each harvest) and the fields were irrigated (15 mm twice weekly) in the dry season. In June, CUF 101 plant samples were not included in the analysis because of ants damages. The main nutritional needs of insects are amino acids, vitamins, minerals, carbohydrates, lipids and sterols, which should be appropriately balanced, especially in the case of the sugar:protein ratio. Another nutritional aspect considers the quantity, i. e., the nutrients effectively ingested, digested, assimilated and converted into tissues during development (DADD, 1985). Insects have a great variation in their quantitative need for nutrients. This variation may reflect differences in metabolism, as well as accumulated reserves from a previous stage, or association with other organisms which synthesize some nutrients (HOUSE , 1962). But some aspects of insect mineral nutrition are not easily studied due to difficulties in manipulating simple radicals in diets (H OUSE, 1962, DADD, 1973). Despite of that, insects need considerable amounts of potassium, phosphorus, magnesium and small amounts of calcium, sodium and chlorides during their development. Minerals are important for ionic balance, membrane permeability and enzyme activation (D ADD , 1973). Mineral concentration is related to nutritional status of plants affecting their physiology and the herbivorous insects that feed on them in positive, neutral or negative ways (D A L E , 1988). Several research papers have been published on the effect of mineral use (supplementation or deprivation) and its impact on insect biology (BARKER and TAUBER , 1957; T AYLOR et al., 1952; KINDLER and STAPLES, 1970; MALBRY et al., 1997; B USCH and P HELAN , 1999; J ANSSON and E KBOM, 2002). But there is little information on the effect of inherent concentration of minerals on aphid population dynamics under field conditions. Certain species and cultivars growing under the same conditions may differ in their ability to use mineral elements available in the soil (PAINTER , 1954). Plants also have inherent variability in nutrient levels (MATTSON and SCRIBER, 1987; EASTON et al., 1997). In this work, we investigated the relationships between inherent variation in the Ca, S, N, Mg, P and K concentration of three alfalfa (Medicago sativa) cultivars and variation in aphid populations on these plants in different sampling period. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.233-239, 2005 One hundred shoots, collected individually once per sampling from each alfalfa cultivar, were placed in plastic bags (1 shoot per bag) and stored in common freezers (-20oC). A soap solution (500 mL) was added to each bag, which was then shaken for a few seconds. The shoot was removed and the solution filtered. Aphids retained on the filter were transferred to Petri dishes and the species Therioaphis maculata, Aphis craccivora and Acyrthosiphon spp. were separated and counted using a stereomicroscope and expressed as aphid density. Both species of Acyrthosiphon (A. pisum and A. kondoi) were considered as one (Acyrthosiphon spp.) due to difficulties in identifying early instars. Plant material (500 g) was dried at 60°C in a forced-air drying oven, until constant weight was reached. Each sample was ground in a Wiley-type mill equipped with a 20 mesh sieve (SARRUGE and H AAG , 1974). Nitrogen concentration was determined by a microkjeldahl method (AOAC, 1995), after sulfuric digestion. After nitroperchloric digestion, the calcium and magnesium concentrations were determined by titration with EDTA; phosphorus concentration was determined by colorimetry and potassium by flame photometry (MALAVOLTA et al., 1989). Carbon content was determined after calcination in a muffle furnace at 550°C-600°C (S ILVA , 1981). Statistical analyses were performed using Sigma Stat 2.03 (1992-1997 SPSS Inc.). Two-Way ANOVA was used to study the effects of sampling time and cultivar on the concentration of six different minerals and also C:N ratio (3 replicates/sampling/ cultivar). Nonparametric analyses with two or more factors are not generally acceptable (ZAR , 1999) and therefore ANOVA on Ranks was used to study the variation in the aphid population (100 replicates/ 235 Variation in the mineral concentration of alfalfa cultivars in the 6 th sampling was detected (p<0.001). After a decrease on the 9 th sampling, nitrogen concentration increased significantly (p<0.001) and was the highest at the 11 th sampling. Calcium concentration was the highest in the 1 st and 12th samplings (p<0.001). There was a significant increase in sulfur concentration from the 1 st to the 6 th samplings (p<0.001). The lowest potassium concentration was found at the 4th, 5 th, 8 th and 12 th samplings (p<0.001). Magnesium concentration was the highest at the 8 th sampling (p<0.001). C:N ratio was the highest from the 1st to the 4 th samplings and at the 9 th (p<0.001)(Figure 1). sampling/cultivar). Multiple comparisons among data were performed using the Dunn´s test. Spearman rank order correlation was used to test for correlation between aphid populations and mineral variation. 3. RESULTS Two Way ANOVA tests indicated differences among mineral concentrations for variables sampling and cultivar, but no significant interaction (sampling x cultivar) was found. Phosphorus concentration was the highest in P3 cultivar (p<0,001). C:N ratio , magnesium and calcium concentrations were the highest in Crioula cultivar (p=0,002; p<0,001 and p=0,003, respectively). Nitrogen concentration was the highest in CUF 101 (p=0,01) (Table 1). Mineral concentration in alfalfa cultivars had significant (p<0.05) variation in different sampling times (Fig. 1). No significant differences were found among phosphorus concentrations during the first five sampling times (p<0.001), but a significant decrease 50 50 Phosphorus 40 40 30 30 20 20 10 10 0 0 (g/kg d. w.) 14 12 3,5 Calcium 3 10 Sulfur 2,5 8 2 6 1,5 4 1 2 0,5 0 0 60 Nitrogen 3,5 Potassium 3 50 Magnesium 2,5 40 2 30 1,5 20 1 10 0,5 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 5 6 7 8 9 10 11 12 C/N 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Sampling time Figure 1. Variation in the mineral concentrations in alfalfa (Medicago sativa) cultivars on different sampling times. (mean ± s. e.) Data for sampling in Two Way Anova (sampling x cultivar). Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.233-239, 2005 236 A.A. Silva et al. Table 1. Concentrations (g kg-1 d. w.) of different minerals in three alfalfa (Medicago sativa) cultivars. (mean ± s.e.) Cultivar Mineral P3 Crioula CUF 101 Phosphorus 33.2 ± 0.09 a 27.6 ±0.09 b 28.0 ± 0.09 b Nitrogen 34.0 ± 0.3 a 33.6 ± 0.3 a 35.2 ± 0.3b Calcium 7.6 ± 0.2 a 8.6 ± 0.2b 7.6 ± 0.2a Sulfur* 2.1 ± 0.04 2.1 ± 0.04 2.1 ± 0.04 Potassium* 38.3 ± 0.7 36.3 ± 0.7 38.5 ± 0.7 Magnesium 2.1 ± 0.04 a 2.5 ± 0.04b 2.2 ± 0.04 a C:N 14.4 ± 0.1 a 14.9 ± 0.1b 13. 9 ± 0.1 a * Indicate no significant (p>0.05) differences for a mineral among cultivars. Different letters indicate significant (p<0.05) differences for a mineral in a row. Data for cultivar in Two Way Anova (sampling x cultivar). There was a significant variation on aphids density on different samplings and cultivars (p<0.05). Acyrthosiphon spp. density was the highest on the 3 rd and 4 th samplings and peaked at the 9 th . The highest density of Acyrthosiphon spp. observed was found on the resistant cultivar CUF 101. Therioaphis maculata density was the highest from the 1st to 3 rd samplings and also at the 9th and 12 th. CUF 101 had 1800 the lowest density of this aphid species. Aphis craccivora was found from the 3rd to the 6 th samplings and also at the 9th but, it was almost absent at the other samplings. Also, CUF 101 had the lowest density of this aphid species. Total aphid density was high from the 1st to 4th samplings and also at the 9 th. Total aphid density was usually lower on the resistant cultivar CUF 101 than the others (Figure 2). 1200 Acyrthosiphon spp Therioaphis maculata 1600 1000 1400 1200 800 1000 600 Number of individuals 800 600 400 400 200 200 0 400 0 Aphis craccivora 3000 350 P3 Total aphids 2500 Crioula 2000 CUF 101 300 250 1500 200 150 1000 100 500 50 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Sampling time Figure 2. Variation in the aphid populations on three alfalfa (Medicago sativa) cultivars in different sampling times. Anova on Ranks (Kruskal-Wallis test) – 100 replicates. Data presented as total number of individuals in each sampling for each cultivar. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.233-239, 2005 Variation in the mineral concentration of alfalfa cultivars C:N ratio was positively correlated to the variation of Acyrthosiphon spp. and T. maculata populations (r=0.6, p=0.03; r=0.63, p=0.02, respectively) and also to total aphid density variation on all cultivars (Crioula- r=0.9, p<0.001; P3- r=0.8, p<0.001 and CUF 101- r=0.6, p=0.03). There was a negative correlation between nitrogen and magnesium concentrations and total aphids density on P3 and Crioula (N- r= -0.63, p=0.02; r= -0.79, p<0.001; Mgr= -0.59, p=0.04; r= -0.7, p=0.009; respectively). Total aphid density on P3 was also negatively correlated to phosphorus concentration (r= -0.63; p=0.03) and total aphid density on Crioula was negatively correlated to sulfur concentration (r= -0.58; p=0.04). 4. DISCUSSION Mineral analysis of alfalfa plant tips in this work was made during the pre-bloom stage and therefore, the mineral variation found was not related to growth stage. Despite of that, A BRAHAMSON and MC C REA (1985) found that most seasonal changes in the nutrient content and also the highest mineral content in Solidago altissima were associated with young, actively growing plant parts and inflorescences. A IAZZI et al. (1999) found that seasonal differences in the mineral content of Atriplex cordobenses were related to the growth stage (vegetative or reproductive) with accumulation of some minerals in the reproductive structures. As the alfalfa cultivars had a very short cycle between vegetative and reproductive stages (about 30 days), so the observed variation in the mineral concentration during pre-bloom might have resulted from factors affecting soil mineral uptake on different samplings. Significant differences in mineral concentration among different alfalfa cultivars were found in this work (Tab. 1), which implies genotypic differences among cultivars. E ASTON et al. (1997) reported genetic variation in the concentration of macro and micro minerals in ryegrass (Lolium perene). Mineral status affects plant’s physiology and the herbivores feeding on them, but mineral ions are also important to insect’s physiology in at least three major processes: enzyme activation (K, Mg, Fe, Co, Mn), trigger and control mechanisms (Na, Ca, K), and structure formation (Mg). Insect’s tissues have large quantities of three major mineral elements: P (10 g kg1 d.w.), K (1 g kg -1 d.w.) and Mg (2 g kg -1 d.w.) Therefore, it is expected that herbivore interaction with host plants would be at least partially mediated by an interaction between minimal optimum nutrient requirements and the inherent variability of the plant contents of these nutrients (MATTSON and SCRIBER, 1987). 237 Several investigators (A UCLAIR , 1965; D ADD and MITTLER , 1965; D ADD, 1967; A KEY and B ECK, 1972; A UCLAIR and SRIVASTAVA , 1972) did show that macro and micro minerals are essential for aphid development, affecting significantly their biology on artificial diets. Mineral concentrations above optimum thresholds are usually toxic to aphids, e. g., high boron and molybdenum (AUCLAIR and S RIVASTAVA , 1972), phosphorus and potassium (A UCLAIR , 1965) to A. pisum; magnesium to A. pisum (AUCLAIR, 1965) and M. persicae (D ADD and M ITTLER, 1965) and nitrate to S. graminum (SALAS et al., 1990) The concentration of individual minerals (e.g., P, Mg, S), also their ratios in alfalfa tissues, was negatively correlated to aphid population variation in the present work, suggesting that they affected aphid biology. J ANSSON and E KBOM (2002) found negative correlations between both magnesium and sulfur concentration in Petunia leaves and fecundity and longevity of the aphid Macrosiphum euphorbiae and BUSCH and PHELAN (1999) found that high phosphorus concentrations in soybeans resulted in longer developmental time of soybean looper (Pseudoplusia includens) and mineral proportions, such as high P:S ratio decreased pupal mass of this insect, but the opposite response was measured with a high S: P ratio. In this work, a positive correlation of C:N ratio and a negative correlation of N between aphid population were found. TRIPP et al. (1992) related fewer whiteflies on tomatoes with high C:N ratios. A decline on the performance of the aphids M. euphorbiae and Myzus persicae was found on potato tuber-filling leaves with a high C:N ratio, but C:N ratio on leaves was not correlated to sugar: amino acid ratio (KARLEY et al., 2002). Although most sucking insects respond positively to N fertilization (JANSSON and EKBOM, 2002), after reviewing several papers on N supplementation, V AN E MDEN (1966) related that in 36% of the cases aphids responded negatively to N fertilization, e.g., on barley (S A L A S et al., 1990) and Polygonum pensilvanicum (MALBRY et al., 1997). S A L A S et al. (1990) related nitrogen supplementation was positively related to alkaloid (gramine) concentration and was negatively correlated to aphid (Schizaphis graminum) performance on barley. Alkaloids are also present in alfalfa (C ONNOR et al., 1973; P HILLIPS et al., 1992; WIEHLER and MARION , 1958) and are known to be related to root symbiont biochemical and ecological relations on alfalfa (P HILLIPS et al., 1992). Present data, supported by negative correlations between aphid density and nitrogen concentration, highlights a possible relation between alkaloids and aphids on alfalfa. A significant higher concentration of nitrogen on the aphid resistant cultivar was also detected. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.233-239, 2005 238 A.A. Silva et al. No significant correlations between aphid population variation and minerals, except for C:N ratio, were found for the resistant cultivar CUF 101, possibly due to its negative effect on T. maculata population size. BUSCH and PHELAN (1999) argued that responses to mineral concentration varied within species, also within cultivars, and were speciesspecific such as found in this work. That would explain differences in the results of different researches on mineral effect on the same plant and aphid species, e.g., peas and pea aphids (B ARKER and TAUBER , 1957 and T AYLOR et al., 1952). Interestingly, the number of Acyrthosiphon spp. on the resistant cultivar was as high as or even higher than in the susceptible cultivars. Apparently, Acyrthosiphon spp. overcomes the resistant characteristics of CUF 101. The existence of “resistant” A. pisum (B OURNOVILLE et al., 2000) and A. kondoi (ZARRABI et al., 1995) biotypes to CUF 101 was already reported. Undoubtedly, there are other factors affecting aphid population dynamics in alfalfa under field conditions such as climatic conditions, mainly, temperature and rain (BERBERET et al., 1983; CARVALHO et al., 1996) and also qualitative changes induced by crowding that are the most probable regulating factor for aphid populations according to D IXON (1977). Correlations found between inherent mineral concentration and aphid populations on alfalfa suggest that mineral variation is related to aphid population dynamics under field conditions. Whether minerals affect aphid biology directly or indirectly through their effect on plant physiology remains to be determined. 5. CONCLUSIONS 1. Mineral concentration and aphid abundance in alfalfa vary with sampling time and cultivar. 2. Variation in aphid abundance along different sampling times is correlated to C:N ratio, N, Mg, P and S, but correlations vary with cultivar and aphid species. ACKNOWLEDGEMENTS The authors thank CAPES for financial support and Dr. Pitágoras da Conceição Bispo for statistical debates. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.233-239, 2005 REFERENCES ABRAHAMSON, W.G.; MCCREA, K.D. Seasonal nutrient dynamics of Solidago altissima (Compositae). Bulletin of the Torrey Botanical Club, New York, v.112, n.4, p.414-420, 1985. AIAZZI, M.T.; ABRIL, A.; TORRES, P.; DI RIENZO, J.A.; ARGUELLO, J.A.. Seasonal variations in chemical composition of leaves and stems of Atriplex cordobensis (Gandoger et Stuckert), female and male plants. Phyton, Buenos Aires, v.65, p 173-178, 1999. AKEY, D.H.; BECK, S.D. Nutrition of the pea aphid, Acyrthosiphon pisum: requirements for trace metals, sulphur, and cholesterol. Journal of Insect Physiology, London, v.18, p.1901-1914, 1972. 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Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.233-239, 2005 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 FITOSSANIDADE Ação fungicida do acaricida azocyclotin sobre a antracnose do feijoeiro comum(1) Fungicidal action of azocyclotin acaricide on comon bean anthracnose Ademir SantiniI; Margarida Fumiko ItoII,V; Jairo Lopes de CastroIII; Marcio Akira ItoIV; Juliana Cristina GotoI IEstação Agrícola Experimental Paulínia - Bayer CropScience Ltda. Fazenda São Francisco, s/nº, Caixa Postal 921, 13140-000 Paulínia (SP), E-mail: [email protected] IICentro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fitossanidade, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected] IIIPólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Sudoeste Paulista (PRDTASP), Caixa Postal 162, 18300-000 Capão Bonito (SP). E-mail: [email protected] IVDepartamento de Produção Vegetal, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ/USP), Caixa Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP). E-mail: [email protected] VCom Bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq RESUMO A cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) pode ser afetada por muitas doenças e dentre elas destaca-se a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum lindemuthianum. O acaricida azocyclotin (AZ) foi avaliado in vitro, em plântulas e em condições de campo, quanto ao efeito em C. lindemuthianum. Foram avaliados sete tratamentos in vitro: 1) testemunha; 2) AZ-1 mg L-1; 3) Trifenil hidróxido de estanho (THE)-1 mg L-1; 4) AZ-10 mg L-1; 5) THE-10 mg L-1; 6) AZ-100 mg L-1 e 7) THE-100 mg L-1 e 13 tratamentos in vivo: 1) testemunha; 2) AZ aplicado 24 horas antes da inoculação (AZ-24); 3) THE-24; 4) AZ-48; 5) THE-48; 6) AZ-72; 7) THE-72; 8) AZ-96; 9) THE-96; 10) AZ-120; 11) THE-120; 12) AZ-144 e 13) THE-144. Azocyclotin foi avaliado à dose de 125 g i.a.100 L-1 de água e trifenil hidróxido de estanho a 41,25 g i.a.100 L1. Os delineamentos experimentais foram inteiramente ao acaso, com cinco repetições. Em condições de campo, foi realizado um experimento com seis tratamentos. Os tratamentos e as doses em g ha-1 de i.a foram: 1) tebuconazole + trifenil hidróxido de estanho (100 + 200); 2) tebuconazole + trifloxystrobin (40 + 100); 3) trifloxystrobin (125); 4) tebuconazole + azocyclotin (100 + 500); 5) azocyclotin (500) e 6) testemunha. O delineamento foi em blocos ao acaso, com quatro repetições. Para a avaliação in vitro foram medidos diâmetros ortogonais do crescimento micelial do fungo em BDA; in vivo e no campo usou-se escala de notas de 1 a 9, sendo 1 = sem sintoma e 9 = igual ou mais de 25% de área foliar afetada. In vitro, o tratamento 7 proporcionou maior inibição do desenvolvimento micelial. Em plântulas, observouse controle de C. lindemuthianum até 144 horas, pelos dois produtos. Uma nova constatação em campo foi o controle de antracnose pelo acaricida azocyclotin, em que se observou também efeito sobre mancha-angular e mancha-de-alternária. Concluiu-se que o acaricida azocyclotin é eficiente no controle da antracnose do feijoeiro, semelhante ao trifenil hidróxido de estanho. Palavras-chave: Phaseolus vulgaris L., Colletotrichum lindemuthianum, controle químico. ABSTRACT The control effect of azocyclotin acaricide was tested to common bean anthracnose pathogen, Colletotrichum lindemuthianum, in vitro, seedlings and in field conditions. The treatments in vitro were: 1) Test; 2) Azocyclotin (AZ)- 1 AZ-1 mg.L-1; 3) Triphenil sthanic hydroxide (THE)-1 mg L-1; 4) AZ-10 mg L-1; 5) THE-10 mg L-1; 6) AZ-100 mg L-1 and 7) THE-100 mg L-1 and in vivo treatments were: 1) Test; 2) AZ applyed 24 hours before inoculation (AZ-24); 3)THE-24; 4) AZ-48; 5)THE-48; 6) AZ-72; 7) THE-72; 8) AZ-96; 9) THE-96; 10) AZ-120; 11) THE-120; 12) AZ-144, and 13) THE-144. Azocyclotin was evaluated at 125 g.100 L-1 of water and fenthin hydroxide at 41,25 g a.i.100 L-1. The experiments were set up as a completely randomized design, with 5 repetitions. In field conditions, the treatments (g ha-1 a.i.) included: 1) tebuconazole + fentin hydroxide-100 + 200; 2) tebuconazole + trifloxystrobin-40 + 100; 3) trifloxystrobin-125; 4) tebuconazole + azocyclotin-100 + 500; 5) azocyclotin - 500 and 6) without chemical. The experimental design was done using randomized blocks, with 4 replicates. The mycelial growth was determined through reading the fungi radial growth in BDA culture media. In vivo and in field conditions, evaluations were made with a scale of 1 to 9, where 1 = without symptoms and 9 = equal or more than 25% of foliar area with anthracnose symptoms. In vitro test, the treatment 7 presented the most effective mycelial development inhibition. Azocyclotin and triphenil sthanic hydroxide controlled dry bean anthracnose when applied until 144 hours before inoculation. A new field record was the control of bean anthracnose with azocyclotin acaricide, with effect on both to angular leaf spot and alternaria leaf spot. It was concluded that azocyclotin acaricide can control dry bean anthracnose with similar efficiency as fentin hydroxide. Key words: Phaseolus vulgaris L., Colletotrichum lindemuthianum, chemical control. 1. INTRODUÇÃO A antracnose, considerada uma das principais doenças fúngicas do feijoeiro comum em todo o mundo, pode causar perdas de até 100%, quando as plantas são afetadas nos primeiros estádios de desenvolvimento, sob condições climáticas favoráveis por longo período. O patógeno causador dessa doença encontra-se amplamente distribuído no Brasil, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. O agente causal da doença é o fungo Colletotrichum lindemuthianum (Sacc. et Magn.) Scrib., pertencente à classe dos Fungos Imperfeitos, Ordem Melanconiales e Família Melanconiaceae (KIMATI et al.,1978). A antracnose do feijoeiro pode ser causada também por C. dematium f. truncata (Schw.) v. Arx. Sua ocorrência no Estado de São Paulo foi descrita por PARADELA e POMPEU (1974). O emprego de fungicidas, aliado à resistência genética das cultivares de feijão, constitui-se em boa alternativa como medida de controle da antracnose do feijoeiro. Fungicidas como trifenil hidróxido de estanho, trifenil acetato de estanho, trifloxystrobin + propiconazole, propiconazole + trifenil hidróxido de estanho, dentre outros, têm proporcionado bom controle da antracnose (GIANASI et al., 1999; ITO et al., 2000; OLIVEIRA, 2003). Em vista da ação de controle dos fungicidas do grupo dos estanhados sobre a antracnose (ITO et al., 2000; ITO et al., 2001; OLIVEIRA, 2003), e sendo o acaricida azocyclotin do grupo químico organo-estânico, comum a esses fungicidas recomendados ao controle de doenças do feijoeiro, e registrado ao controle do ácaro-branco do feijoeiro, este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de azocyclotin sobre C. lindemuthianum, em laboratório, em sala climatizada e em condições de campo. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Efeito do acaricida azocyclotin sobre o crescimento micelial de Colletotrichum lindemuthianum - in vitro Foi realizado um experimento em laboratório com objetivo de verificar o efeito do acaricida azocyclotin, in vitro, em concentrações de 0 mg.L-1, 1 mg.L-1, 10 mg.L-1 e 100 mg.L-1, em comparação ao trifenil hidróxido de estanho (Tabela 1), nas mesmas concentrações, quanto à inibição do crescimento micelial de C. lindemuthianum. O isolado de C. lindemuthianum utilizado no experimento foi o da raça ∑ (Sigma) ou raça 89, registrado na Micoteca - IAC sob o n.º 6222. Essa raça é patogênica a muitos cultivares de feijoeiro em uso comercial no Brasil. O isolado de C. lindemuthianum foi repicado no centro de placas de Petri contendo meio de cultura BDA (batata - 200 g, dextrose - 20 g, agar - 13 g e água destilada para completar 1.000 mL) e incubado a 20 ºC ± 2 ºC em estufa incubadora sem fonte de luz, durante uma semana. Após esse período, foram retirados discos de 4 mm de diâmetro, da região periférica das colônias desenvolvidas, com auxílio de um vazador. Um desses discos foi colocado no centro de cada placa de Petri, contendo meio de cultura BDA com os produtos, em cada concentração. Em seguida, as placas assim preparadas foram incubadas a 20 ºC ± 2 ºC, durante sete dias. Para o preparo do meio de cultura BDA com os produtos químicos, segundo técnica descrita por EDGINGTON et al. (1971), modificada por MENTEN et al. (1976), o meio de cultura BDA foi preparado e colocados 200 mL em erlenmeyers e após esterilização, quando o meio atingiu a temperatura ao redor de 40 ºC, BDA fundente, foram colocadas alíquotas dos produtos, previamente preparados em solução aquosa, de maneira a proporcionar as seguintes concentrações: 0 mg L-1; 1 mg L-1; 10 mg L-1 e 100 mg L-1. O experimento constituiu-se de sete tratamentos e cinco repetições, em delineamento inteiramente ao acaso. Cada repetição foi constituída por uma placa de Petri. Para a avaliação, foram medidos diâmetros ortogonais do crescimento micelial do fungo, uma semana após a incubação. Para o cálculo da porcentagem de inibição do crescimento micelial (PIC), segundo MENTEN et al. (1976), foi aplicada a fórmula: Para a análise estatística, os valores de PIC foram transformados em arc sen . 2.2. Efeito do acaricida azocyclotin sobre colletotrichum lindemuthianum em feijoeiro - in vivo Foi realizado um experimento para avaliar o efeito do acaricida azocyclotin sobre C. lindemuthianum, em comparação ao fungicida trifenil hidróxido de estanho, aplicados preventivamente. Foram preparados vasos com capacidade de 1 L, contendo solo esterilizado. Sementes de feijão da cultivar Rosinha G-2 foram previamente germinadas em estufa a 28 ºC e transplantadas para esses vasos, que permaneceram em casa de vegetação. Plântulas com as folhas primárias expandidas foram pulverizadas com os defensivos agrícolas a cada 24 horas, para obter tratamentos com 24 horas, 48 horas, 72 horas, 96 horas, 120 horas e 144 horas antes da inoculação com C. lindemuthianum, além da testemunha, totalizando 13 tratamentos. Para o preparo de inóculo, o isolado 6222 de C. lindemuthianum foi repicado para placas de Petri contendo o meio de RIKER e RIKER (1936) modificado, com aveia - 30 g, agar - 13 g e água para completar 1.000 mL. Após repicagem, as placas foram incubadas à temperatura de 20º C ± 2 ºC, durante dez dias. Após esse período, foram adicionados cerca de 20 mL de água destilada e esterilizada em cada placa de Petri e a superfície do crescimento do fungo foi levemente raspada, com auxílio de uma lâmina de vidro. A suspensão de micélio e esporos obtida foi filtrada em gaze, sendo a concentração do inóculo ajustada a 1,2.106 esporos.mL-1, com auxílio de um hemacitômetro. A inoculação de C. lindemuthianum foi efetuada por pulverização sobre toda a parte aérea das plantas, com auxílio de um atomizador de Vilbiss. Após inoculação, as plântulas permaneceram em sala climatizada, à temperatura de 20º C ± 2 ºC, durante sete a dez dias, quando foi efetuada a avaliação. Nos primeiros dois dias as plântulas ficaram sob ação de um nebulizador, para proporcionar alta umidade relativa. Cuidados foram tomados para que a nebulização não deixasse o inóculo escorrer da superfície das plântulas. O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso, com cinco repetições por tratamento. Cada repetição foi constituída por um vaso contendo duas plântulas. O acaricida azocyclotin foi avaliado na dose de 125 g i.a.100 L-1 de água e o fungicida trifenil hidróxido de estanho a 41,25 g i.a.100 L-1 de água. Para avaliação, foi usada a escala de notas de 1 a 9, sendo 1 = sem sintoma e 9 = igual ou mais de 25% de área foliar afetada, segundo SCHOONHOVEN e PASTOR-CORRALES (1987). 2.3 Experimento em condições de campo O experimento foi realizado em Capão Bonito (SP), no Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Sudoeste Paulista/APTA, na safra da seca de 2001, utilizandose a cultivar de feijoeiro IAC-Carioca. O acaricida azocyclotin SC (500 g ha-1) foi avaliado em comparação a tebuconazole CE (100 g ha-1) + trifenil hidróxido de estanho SC (200 g ha-1), tebuconazole CE (40 g.ha-1) + trifloxystrobin GRDA (100 g ha-1), trifloxystrobin GRDA (125 g ha-1), e tebuconazole CE (100 g ha-1) + azocyclotin SC (500 g ha-1). O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com seis tratamentos e quatro repetições. Cada parcela constituiu-se de 4 linhas de 5 m, espaçadas de 0,5 m. O tratamento testemunha foi representado pela pulverização de água nas parcelas. As pulverizações foram feitas com pulverizador costal manual, de pressão constante (CO2), utilizando-se 400 litros de calda.ha-1, iniciando-se no estádio R 5. Foram realizadas três aplicações com intervalo de 15 dias entre elas. Para a avaliação das doenças, duas semanas após a terceira pulverização, foram consideradas as duas linhas centrais, sendo utilizada a mesma escala de notas descrita por SCHOONHOVEN e PASTOR-CORRALES (1987). Avaliaram-se a produtividade e a massa de cem sementes, considerando-se as duas linhas centrais, totalizando 10 m2. Os dados foram analisados pelo teste F a 5 % e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Efeito do acaricida azocyclotin sobre o crescimento micelial de Colletotrichum lindemuthianum - in vitro Na avaliação in vitro (Tabela 2), a maior inibição do crescimento micelial de C. lindemuthianum foi proporcionada pelo acaricida azocyclotin a 100 mg.L-1, seguido dos tratamentos azocyclotin a 10 mg.L-1 e trifenil hidróxido de estanho a 100 mg.L-1, que foram iguais entre si, e dos demais, diferindo da testemunha (Figura 1). Por esses resultados, verifica-se melhor efeito do acaricida azocyclotin que o fungicida trifenil hidróxido de estanho no controle de C. lindemuthianum, in vitro, indicando a possibilidade de controle in vivo. Resultado semelhante, de um produto registrado como inseticida para a cultura do feijoeiro e que apresentou efeito fungicida, foi observado por ITO et al. (1996). Esses autores observaram que o inseticida cartap inviabilizava os uredosporos de Uromyces appendiculatus, patógeno causador da ferrugem do feijoeiro. No presente trabalho, com o acaricida azocyclotin houve inibição do crescimento micelial do fungo C. lindemuthianum, causador da doença antracnose em feijoeiro comum. 3.2. Efeito do acaricida azocyclotin sobre Colletotrichum lindemuthianum em feijoeiro - in vivo Em aplicações preventivas em diferentes períodos (Tabela 3), até 144 horas antes da inoculação de C. lindemuthianum, o acaricida azocyclotin apresentou controle da antracnose em todos os tratamentos avaliados, semelhante ao fungicida trifenil hidróxido de estanho, diferindo do tratamento testemunha, que teve a nota máxima de severidade (Figura 2). Com esses resultados verificou-se que a ação preventiva do acaricida azocyclotin sobre a antracnose do feijoeiro proporcionou bom controle da doença. Esse acaricida pertence ao grupo químico dos organo-estânicos, mesmo grupo dos fungicidas trifenil hidróxido de estanho e trifenil acetato de estanho. Observou-se controle da antracnose do feijoeiro com esses dois fungicidas. Quanto ao fungicida trifenil acetato de estanho, GIANASI et al. (1999) estudaram vários componentes do progresso da doença antracnose em feijoeiro e observaram reduções significativas na severidade da doença e na desfolha do feijoeiro, na parcela pulverizada com esse fungicida. ITO et al. (2000) verificaram que trifenil hidróxido de estanho, usado isoladamente ou em associação a outros fungicidas como carbendzim, fluquinconazole e azoxystrobin, proporcionaram controle da antracnose. OLIVEIRA (2003) também verificou controle da antracnose com o uso de trifenil hidróxido de estanho isoladamente e em associação a carbendazim, fluquinconazole, azoxystrobin ou propiconazole. Trabalho semelhante foi realizado por ITO et al. (1995) que observaram efeitos preventivos, curativos e erradicantes do inseticida cartap sobre o patógeno U. appendiculatus, controlando a ferrugem do feijoeiro. Um aspecto indicativo da vantagem do uso do acaricida azocyclotin para o controle da antracnose seria o controle simultâneo do ácaro-branco, em região com possibilidade de sua ocorrência. 3.3. Experimento em condições de campo Devido à ocorrência das doenças mancha-de-alternária e mancha-angular, além da antracnose, foi realizada a avaliação dessas três doenças. Na tabela 4, pode-se observar que, para antracnose e mancha-de-alternaria, em todos os tratamentos ocorreu bom controle, tanto em folhas como em vagens, sendo iguais entre si e diferindo da testemunha. Para o acaricida azocyclotin, aplicado isoladamente ou associado ao fungicida tebuconazole, houve controle semelhante aos fungicidas trifloxystrobin, tebuconazole + trifloxystrobin e tebuconazole + trifenil hidróxido de estanho para essas duas doenças. Ito et al. (2000; 2001) obtiveram resultados semelhantes com o fungicida trifenil hidróxido de estanho, aplicado isoladamente ou em associação a fungicidas dos grupos triazol, estrobilurina e benzimidazol, para o controle da antracnose e mancha-angular do feijoeiro. Mancha-angular, em folhas, foi mais bem controlada pelos tratamentos tebuconazole + trifenil hidróxido de estanho, tebuconazole + trifloxystrobin, trifloxystrobin e tebuconazole + azocyclotin, seguidos por azocyclotin, que foi intermediário e diferiu da testemunha. Nas vagens, com os tratamentos tebuconazole + trifenil hidróxido de estanho, tebuconazole + trifloxystrobin e trifloxystrobin houve melhor controle, seguidos de tebuconazole + azocyclotin e azocyclotin, diferindo da testemunha (Quadro 4). BARROS e CASTRO (1999) também verificaram controle de mancha-angular com o fungicida trifenil hidróxido de estanho, aplicado isoladamente ou em associação a tebuconazole, fungicida do grupo triazol. Em relação à produtividade, os tratamentos foram iguais entre si e diferiram da testemunha, com aumento relativo variando de 37,04 % a 43,64 % (Tabela 4). Quanto à massa de cem sementes, com os tratamentos tebuconazole + trifloxystrobin, trifloxystrobin e tebuconazole + azocyclotin ocorreu maior massa, seguidos dos tratamentos com tebuconazole + trifenil hidóxido de estanho e azocyclotin, diferindo da testemunha (Tabela 4). Os acréscimos obtidos na produtividade e massa de cem sementes do feijoeiro com o uso de fungicidas do grupo dos organo-estânicos, isoladamente ou em associação a outros fungicidas, já é conhecido na literatura (GIANASI et al., 1999; ITO et al., 2000; ITO et al., 2001; OLIVEIRA, 2003), assim como foi observado no presente trabalho. A hipótese formulada de que o acaricida azocyclotin, por pertencer ao mesmo grupo de fungicidas organo-estânicos, poderia controlar a antracnose do feijoeiro, foi confirmada neste trabalho, pois apresentou inibição de crescimento micelial de C. lindemuthianum in vitro e controle in vivo, em sala climatizada e condições de campo, proporcionando, no campo, aumento significativo da produtividade. Essa comprovação permite adicionar o acaricida azocyclotin ao grupo de fungicidas utilizados no controle da antracnose do feijoeiro, com vantagens, devido à classe toxicológica III e menor custo, em comparação a outros produtos, além de ser recomendado ao controle do ácaro branco do feijoeiro comum. 4. CONCLUSÕES 1. O acaricida azocyclotin atua no crescimento micelial de Colletotrichum lindemuthianum, fungo causador da antracnose do feijoeiro, pela sua inibição. 2. O acaricida azocyclotin apresenta eficiência de controle da antracnose do feijoeiro, semelhante ao fungicida trifenil hidróxido de estanho. 3. O acaricida azocyclotin pode ser utilizado isoladamente ou em mistura com tebuconazole para o controle da antracnose do feijoeiro. REFERÊNCIAS BARROS, B.C.; CASTRO, J.L. Eficiência de fungicidas no controle da mancha angular (Phaeoisariopsis griseola) do feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.). In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 6., 1999, Salvador. Resumos Expandidos... Santo Antonio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999. p.182-184. (Embrapa Arroz e Feijão. Documentos, 99). GIANASI, L.; FERNANDES, N.; LOURENÇO, S.A.; AMORIN, L.; BERGAMIN FILHO, A. Antracnose do feijoeiro: efeito do trifenil acetat de estanho no crescimento do hospedeiro e no progresso da doença. Summa Phytopathologica, Jaboticabal, v.25, n.1, p.24, 1999. (Resumo). ITO, M.F.; BERGAMIN FILHO, A.; CASTRO, J.L. Ação fungicida do inseticida cartap sobre a ferrugem do feijoeiro. II-Em campo. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.20, n.4, p.577-584, 1995. ITO, M.F.; BERGAMIN FILHO, A.; YUKI, V.A. Ação fungicida do inseticida cartap sobre a ferrugem do feijoeiro. I- Em laboratório. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 21, n. 1, p. 4449, 1996. ITO, M.F.; CASTRO, J.L.; PETEROSSI JR., N.; ITO, M.A. Eficiência do trifenil hidróxido de estanho e associações no controle da antracnose, mancha de Alternaria e oídio do feijoeiro. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.25, p.381, 2000. (Suplemento) ITO, M.F.; CASTRO, J.L.; PETEROSSI JR, N.; ZAMBON, S.; ITO, M.A. Trifenil hidróxido de estanho no controle de doenças do feijoeiro. Summa Phytopathologica, Jaboticabal, v. 27, n. 1, p. 110, 2001. (Resumo). KIMATI, H. Fungicidas. In: Manual de Fitopatologia. 2 ed. São Paulo: Ceres, 1978. Piracicaba, v.1, cap. 18, p. 325-373. MENTEN, J.O.M.; MINUSSI, C.C.; CASTRO, C.; KIMATI, H. Efeito de alguns fungicidas no crescimento micelial de Macrophomina phaseolina (Tass.) Goid. "in vitro". Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.1, n.2, p.57-66, 1976. OLIVEIRA, S.H.F. de. Novos fungicidas e programas de pulverização para o controle da antracnose e da mancha angular do feijoeiro. Summa Phytopathologica, Botucatu, v.29, n.1, p.45-48, 2003. PARADELA FILHO, O.; POMPEU, A.S. Antracnose do feijoeiro, causada por Colletotrichum lindemuthianum dematium f. truncata (Schw.) v. Arx. Bragantia, Campinas, v.3, I - V, 1974. RIKER, A.J.; RIKER, R.S. Introduction to research on plant diseases. St. Louis: John S. Swift, 1936. p.27, SCHOONHOVEN A. van; PASTOR-CORRALES, M.A. Standard system for the evaluation of bean germoplasm. Cali, Colômbia: CIAT, 1987. 56p. Recebido para publicação em 28 de novembro de 2003 e aceito em 7 de março de 2005 (1) Dissertação de Mestrado em Tecnologia da Produção Agrícola do primeiro autor, apresentada ao Instituto Agronômico (IAC). 241 Ação fungicida do acaricida Azocyclotin AÇÃO FUNGICIDA DO ACARICIDA AZOCYCLOTIN SOBRE A ANTRACNOSE DO FEIJOEIRO COMUM (1) ADEMIR SANTINI (2); MARGARIDA FUMIKO ITO (3,6); JAIRO LOPES DE CASTRO (4); MARCIO AKIRA ITO (5); JULIANA CRISTINA GOTO (2) RESUMO A cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) pode ser afetada por muitas doenças e dentre elas destaca-se a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum lindemuthianum. O acaricida azocyclotin (AZ) foi avaliado in vitro, em plântulas e em condições de campo, quanto ao efeito em C. lindemuthianum. Foram avaliados sete tratamentos in vitro: 1) testemunha; 2) AZ-1 mg L -1; 3) Trifenil hidróxido de estanho (THE)-1 mg L -1; 4) AZ-10 mg L-1 ; 5) THE-10 mg L -1; 6) AZ-100 mg L-1 e 7) THE-100 mg L -1 e 13 tratamentos in vivo: 1) testemunha; 2) AZ aplicado 24 horas antes da inoculação (AZ-24); 3) THE-24; 4) AZ-48; 5) THE48; 6) AZ-72; 7) THE-72; 8) AZ-96; 9) THE-96; 10) AZ-120; 11) THE-120; 12) AZ-144 e 13) THE-144. Azocyclotin foi avaliado à dose de 125 g i.a.100 L -1 de água e trifenil hidróxido de estanho a 41,25 g i.a.100 L -1 . Os delineamentos experimentais foram inteiramente ao acaso, com cinco repetições. Em condições de campo, foi realizado um experimento com seis tratamentos. Os tratamentos e as doses em g ha -1 de i.a foram: 1) tebuconazole + trifenil hidróxido de estanho (100 + 200); 2) tebuconazole + trifloxystrobin (40 + 100); 3) trifloxystrobin (125); 4) tebuconazole + azocyclotin (100 + 500); 5) azocyclotin (500) e 6) testemunha. O delineamento foi em blocos ao acaso, com quatro repetições. Para a avaliação in vitro foram medidos diâmetros ortogonais do crescimento micelial do fungo em BDA; in vivo e no campo usou-se escala de notas de 1 a 9, sendo 1 = sem sintoma e 9 = igual ou mais de 25% de área foliar afetada. In vitro, o tratamento 7 proporcionou maior inibição do desenvolvimento micelial. Em plântulas, observou-se controle de C. lindemuthianum até 144 horas, pelos dois produtos. Uma nova constatação em campo foi o controle de antracnose pelo acaricida azocyclotin, em que se observou também efeito sobre mancha-angular e mancha-de-alternária. Concluiu-se que o acaricida azocyclotin é eficiente no controle da antracnose do feijoeiro, semelhante ao trifenil hidróxido de estanho. Palavras-chave: Phaseolus vulgaris L., Colletotrichum lindemuthianum, controle químico. ABSTRACT FUNGICIDAL ACTION OF AZOCYCLOTIN ACARICIDE ON COMMON BEAN ANTHRACNOSE The control effect of azocyclotin acaricide was tested to common bean anthracnose pathogen, Colletotrichum lindemuthianum, in vitro, seedlings and in field conditions. The treatments in vitro were: 1) Test; 2) Azocyclotin (AZ)- 1 AZ-1 mg.L -1; 3) Triphenil sthanic hydroxide (THE)-1 mg L-1; 4) AZ-10 mg L -1 ; ( 1) Dissertação de Mestrado em Tecnologia da Produção Agrícola do primeiro autor, apresentada ao Instituto Agronômico (IAC). Recebido para publicação em 28 de novembro de 2003 e aceito em 7 de março de 2005. (2) Estação Agrícola Experimental Paulínia – Bayer CropScience Ltda. Fazenda São Francisco, s/no, Caixa Postal 921, 13140-000 Paulínia (SP), E-mail: [email protected] ( 3) Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Fitossanidade, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). E-mail: [email protected] ( 4) Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Sudoeste Paulista (PRDTASP), Caixa Postal 162, 18300-000 Capão Bonito (SP). E-mail: [email protected] ( 5) Departamento de Produção Vegetal, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), Caixa Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP). E-mail: [email protected] ( 6) Com Bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.241-248, 2005 242 A Santini et al. 5) THE-10 mg L-1; 6) AZ-100 mg L -1 and 7) THE-100 mg L-1 and in vivo treatments were: 1) Test; 2) AZ applyed 24 hours before inoculation (AZ-24); 3)THE-24; 4) AZ-48; 5)THE-48; 6) AZ-72; 7) THE-72; 8) AZ96; 9) THE-96; 10) AZ-120; 11) THE-120; 12) AZ-144, and 13) THE-144. Azocyclotin was evaluated at 125 g.100 L-1 of water and fenthin hydroxide at 41,25 g a.i.100 L-1. The experiments were set up as a completely randomized design, with 5 repetitions. In field conditions, the treatments (g ha -1 a.i.) included: 1) tebuconazole + fentin hydroxide-100 + 200; 2) tebuconazole + trifloxystrobin-40 + 100; 3) trifloxystrobin125; 4) tebuconazole + azocyclotin-100 + 500; 5) azocyclotin - 500 and 6) without chemical. The experimental design was done using randomized blocks, with 4 replicates. The mycelial growth was determined through reading the fungi radial growth in BDA culture media. In vivo and in field conditions, evaluations were made with a scale of 1 to 9, where 1 = without symptoms and 9 = equal or more than 25% of foliar area with anthracnose symptoms. In vitro test, the treatment 7 presented the most effective mycelial development inhibition. Azocyclotin and triphenil sthanic hydroxide controlled dry bean anthracnose when applied until 144 hours before inoculation. A new field record was the control of bean anthracnose with azocyclotin acaricide, with effect on both to angular leaf spot and alternaria leaf spot. It was concluded that azocyclotin acaricide can control dry bean anthracnose with similar efficiency as fentin hydroxide. Key words: Phaseolus vulgaris L., Colletotrichum lindemuthianum, chemical control. 1. INTRODUÇÃO A antracnose, considerada uma das principais doenças fúngicas do feijoeiro comum em todo o mundo, pode causar perdas de até 100%, quando as plantas são afetadas nos primeiros estádios de desenvolvimento, sob condições climáticas favoráveis por longo período. O patógeno causador dessa doença encontra-se amplamente distribuído no Brasil, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. O agente causal da doença é o fungo Colletotrichum lindemuthianum (Sacc. et Magn.) Scrib., pertencente à classe dos Fungos Imperfeitos, Ordem Melanconiales e Família Melanconiaceae (K IMATI et al.,1978). A antracnose do feijoeiro pode ser causada também por C. dematium f. truncata (Schw.) v. Arx. Sua ocorrência no Estado de São Paulo foi descrita por P ARADELA e P OMPEU (1974). O emprego de fungicidas, aliado à resistência genética das cultivares de feijão, constitui-se em boa alternativa como medida de controle da antracnose do feijoeiro. Fungicidas como trifenil hidróxido de estanho, trifenil acetato de estanho, trifloxystrobin + propiconazole, propiconazole + trifenil hidróxido de estanho, dentre outros, têm proporcionado bom controle da antracnose (GIANASI et al., 1999; ITO et al., 2000; OLIVEIRA , 2003). Em vista da ação de controle dos fungicidas do grupo dos estanhados sobre a antracnose (ITO et al., 2000; I TO et al., 2001; OLIVEIRA , 2003), e sendo o acaricida azocyclotin do grupo químico organoestânico, comum a esses fungicidas recomendados ao controle de doenças do feijoeiro, e registrado ao controle do ácaro-branco do feijoeiro, este trabalho teve Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.241-248, 2005 como objetivo avaliar o efeito de azocyclotin sobre C. lindemuthianum, em laboratório, em sala climatizada e em condições de campo. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Efeito do acaricida azocyclotin sobre o crescimento micelial de Colletotrichum lindemuthianum - in vitro Foi realizado um experimento em laboratório com objetivo de verificar o efeito do acaricida azocyclotin, in vitro, em concentrações de 0 mg.L -1, 1 mg.L -1, 10 mg.L -1 e 100 mg.L -1, em comparação ao trifenil hidróxido de estanho (Tabela 1), nas mesmas concentrações, quanto à inibição do crescimento micelial de C. lindemuthianum. O isolado de C. lindemuthianum utilizado no experimento foi o da raça ∑ (Sigma) ou raça 89, registrado na Micoteca – IAC sob o n.° 6222. Essa raça é patogênica a muitos cultivares de feijoeiro em uso comercial no Brasil. O isolado de C. lindemuthianum foi repicado no centro de placas de Petri contendo meio de cultura BDA (batata – 200 g, dextrose – 20 g, agar – 13 g e água destilada para completar 1.000 mL) e incubado a 20 oC ± 2 oC em estufa incubadora sem fonte de luz, durante uma semana. Após esse período, foram retirados discos de 4 mm de diâmetro, da região periférica das colônias desenvolvidas, com auxílio de um vazador. Um desses discos foi colocado no centro de cada placa de Petri, contendo meio de cultura BDA com os produtos, em cada concentração. Em seguida, as placas assim preparadas foram incubadas a 20 oC ± 2 oC, durante sete dias. 243 Ação fungicida do acaricida Azocyclotin Tabela 1. Caracterização dos defensivos agrícolas utilizados no experimento in vitro Produto Ingrediente comercial Caligur Brestanid ativo Formulação Grupo químico SC* Organo-estânico SC Organo-estânico Azocyclotin Concentração Classe Dose i.a. toxicológica g 100 L-1 500 III 125,00 500 I 41,25 mL L -1 Trifenil hidróxido de estanho *SC: suspensão concentrada. Para o preparo do meio de cultura BDA com os produtos químicos, segundo técnica descrita por EDGINGTON et al. (1971), modificada por M ENTEN et al. (1976), o meio de cultura BDA foi preparado e colocados 200 mL em erlenmeyers e após esterilização, quando o meio atingiu a temperatura ao redor de 40 o C, BDA fundente, foram colocadas alíquotas dos produtos, previamente preparados em solução aquosa, de maneira a proporcionar as seguintes concentrações: 0 mg L-1; 1 mg L-1; 10 mg L-1 e 100 mg L-1. O experimento constituiu-se de sete tratamentos e cinco repetições, em delineamento inteiramente ao acaso. Cada repetição foi constituída por uma placa de Petri. Para a avaliação, foram medidos diâmetros ortogonais do crescimento micelial do fungo, uma semana após a incubação. Para o cálculo da porcentagem de inibição do crescimento micelial (PIC), segundo MENTEN et al. (1976), foi aplicada a fórmula: horas, 72 horas, 96 horas, 120 horas e 144 horas antes da inoculação com C. lindemuthianum, além da testemunha, totalizando 13 tratamentos. Para o preparo de inóculo, o isolado 6222 de C. lindemuthianum foi repicado para placas de Petri contendo o meio de RIKER e RIKER (1936) modificado, com aveia – 30 g, agar – 13 g e água para completar 1.000 mL. Após repicagem, as placas foram incubadas à temperatura de 20 oC ± 2 oC, durante dez dias. Após esse período, foram adicionados cerca de 20 mL de água destilada e esterilizada em cada placa de Petri e a superfície do crescimento do fungo foi levemente raspada, com auxílio de uma lâmina de vidro. A suspensão de micélio e esporos obtida foi filtrada em gaze, sendo a concentração do inóculo ajustada a 1,2.10 6 esporos.mL -1 , com auxílio de um hemacitômetro. lindemuthianum em feijoeiro – in vivo A inoculação de C. lindemuthianum foi efetuada por pulverização sobre toda a parte aérea das plantas, com auxílio de um atomizador de Vilbiss. Após inoculação, as plântulas permaneceram em sala climatizada, à temperatura de 20 oC ± 2 oC, durante sete a dez dias, quando foi efetuada a avaliação. Nos primeiros dois dias as plântulas ficaram sob ação de um nebulizador, para proporcionar alta umidade relativa. Cuidados foram tomados para que a nebulização não deixasse o inóculo escorrer da superfície das plântulas. Foi realizado um experimento para avaliar o efeito do acaricida azocyclotin sobre C. lindemuthianum, em comparação ao fungicida trifenil hidróxido de estanho, aplicados preventivamente. O delineamento experimental foi o inteiramente ao acaso, com cinco repetições por tratamento. Cada repetição foi constituída por um vaso contendo duas plântulas. Foram preparados vasos com capacidade de 1 L, contendo solo esterilizado. Sementes de feijão da cultivar Rosinha G-2 foram previamente germinadas em estufa a 28 oC e transplantadas para esses vasos, que permaneceram em casa de vegetação. O acaricida azocyclotin foi avaliado na dose de 125 g i.a.100 L -1 de água e o fungicida trifenil hidróxido de estanho a 41,25 g i.a.100 L -1 de água. PIC = crescimento radial testemunha – crescimento radial tratamento x 100 crescimento radial testemunha Para a análise estatística, os valores de PIC foram transformados em arc sen √ %. 2.2. Efeito do acaricida azocyclotin sobre colletotrichum Plântulas com as folhas primárias expandidas foram pulverizadas com os defensivos agrícolas a cada 24 horas, para obter tratamentos com 24 horas, 48 Para avaliação, foi usada a escala de notas de 1 a 9, sendo 1 = sem sintoma e 9 = igual ou mais de 25% de área foliar afetada, segundo SCHOONHOVEN e P ASTOR-CORRALES (1987). Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.241-248, 2005 244 A Santini et al. Os dados foram analisados pelo teste F a 5 % e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade. 2.3 Experimento em condições de campo O experimento foi realizado em Capão Bonito (SP), no Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Sudoeste Paulista/ APTA, na safra da seca de 2001, utilizando-se a cultivar de feijoeiro IAC-Carioca. O acaricida azocyclotin SC (500 g ha -1 ) foi avaliado em comparação a tebuconazole CE (100 g ha -1) + trifenil hidróxido de estanho SC (200 g ha -1), tebuconazole CE (40 g.ha -1 ) + trifloxystrobin GRDA (100 g ha-1), trifloxystrobin GRDA (125 g ha-1), e tebuconazole CE (100 g ha -1 ) + azocyclotin SC (500 g ha -1). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Efeito do acaricida azocyclotin sobre o crescimento micelial de Colletotrichum lindemuthianum - in vitro Na avaliação in vitro (Tabela 2), a maior inibição do crescimento micelial de C. lindemuthianum foi proporcionada pelo acaricida azocyclotin a 100 mg.L -1 , seguido dos tratamentos azocyclotin a 10 mg.L-1 e trifenil hidróxido de estanho a 100 mg.L-1, que foram iguais entre si, e dos demais, diferindo da testemunha (Figura 1). Por esses resultados, verificase melhor efeito do acaricida azocyclotin que o fungicida trifenil hidróxido de estanho no controle de C. lindemuthianum, in vitro, indicando a possibilidade de controle in vivo. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com seis tratamentos e quatro repetições. Cada parcela constituiu-se de 4 linhas de 5 m, espaçadas de 0,5 m. O tratamento testemunha foi representado pela pulverização de água nas parcelas. As pulverizações foram feitas com pulverizador costal manual, de pressão constante (CO2), utilizando-se 400 litros de calda.ha -1 , iniciando-se no estádio R 5. Foram realizadas três aplicações com intervalo de 15 dias entre elas. Resultado semelhante, de um produto registrado como inseticida para a cultura do feijoeiro e que apresentou efeito fungicida, foi observado por I TO et al. (1996). Esses autores observaram que o inseticida cartap inviabilizava os uredosporos de Uromyces appendiculatus, patógeno causador da ferrugem do feijoeiro. No presente trabalho, com o acaricida azocyclotin houve inibição do crescimento micelial do fungo C. lindemuthianum, causador da doença antracnose em feijoeiro comum. Para a avaliação das doenças, duas semanas após a terceira pulverização, foram consideradas as duas linhas centrais, sendo utilizada a mesma escala de notas descrita por SCHOONHOVEN e PASTOR-CORRALES (1987). Avaliaram-se a produtividade e a massa de cem sementes, considerando-se as duas linhas centrais, totalizando 10 m 2 . Tabela 2. Porcentagem de inibição do crescimento micelial de Colletotrichum lindemuthianum pelos produtos azocyclotin e trifenil hidróxido de estanho, em meio de cultura Batata Dextrose Agar. Campinas (SP), 2001 Tratamentos Dose mgL –1 Crescimento % 1. Testemunha 0 0,00 a* 2. Trifenil hidróxido de estanho SC 1 4,72 b 3. Azocyclotin SC 1 8,64 b 4. Trifenil hidróxido de estanho SC 10 28,20 c 5. Azocyclotin SC 10 60,64 d 6. Trifenil hidróxido de estanho SC 100 67,79 d 7. Azocyclotin SC 100 80,65 e - 8,12 C.V. (%) *Médias seguidas por letras distintas diferem entre si (Tukey 5%). Para análise estatística os dados foram transformados em arco seno √%. SC: suspensão concentrada. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.241-248, 2005 Ação fungicida do acaricida Azocyclotin 245 Figura 1. Inibição do crescimento vegetativo de Colletotrichum lindemuthianum, por azocyclotin (A) e trifenil hidróxido de estanho (B), nas concentrações de 0, 1, 10 e 100 mg i.a.L -1 , em meio de cultura BDA, após 168 horas de incubação a 20 o C ± 2 o C. 3.2. Efeito do acaricida azocyclotin sobre Colletotrichum lindemuthianum em feijoeiro – in vivo Em aplicações preventivas em diferentes períodos (Tabela 3), até 144 horas antes da inoculação de C. lindemuthianum, o acaricida azocyclotin apresentou controle da antracnose em todos os tratamentos avaliados, semelhante ao fungicida trifenil hidróxido de estanho, diferindo do tratamento testemunha, que teve a nota máxima de severidade (Figura 2). Com esses resultados verificou-se que a ação preventiva do acaricida azocyclotin sobre a antracnose do feijoeiro proporcionou bom controle da doença. Esse acaricida pertence ao grupo químico dos organo-estânicos, mesmo grupo dos fungicidas trifenil hidróxido de estanho e trifenil acetato de estanho. Observou-se controle da antracnose do feijoeiro com esses dois fungicidas. Figura 2. Efeito dos produtos azocyclotin (A) e trifenil hidróxido de estanho (B) sobre a antracnose do feijoeiro, em aplicações de 24 a 144 horas antes da inoculação de Colletotrichum lindemuthianum. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.241-248, 2005 246 A Santini et al. Tabela 3. Efeito dos produtos azocyclotin e trifenil hidróxido de estanho sobre a antracnose do feijoeiro, em aplicação preventiva. Campinas (SP), 2001 Horas antes da Tratamentos Severidade (1) Inoculação 1. Testemunha 2. Azocyclotin SC (2) (3) - 9,0 a 24 1,2 bc 24 1,0 c 4. Azocyclotin SC 48 1,2 bc 5. Trifenil hidóxido de estanho SC 48 1,0 c 6. Azocyclotin SC 72 1,2 bc 7. Trifenil hidóxido de estanho SC 72 1,0 c 8. Azocyclotin SC 96 1,0 c 9. Trifenil hidóxido de estanho SC 96 1,0 c 10. Azocyclotin SC 120 1,4 bc 11. Trifenil hidóxido de estanho SC 120 1,8 b 12. Azocyclotin SC 144 1,6 bc 13. Trifenil hidóxido de estanho SC 144 1,8 b C.V. (%) - 19,04 D.M.S (5 %) - 0,78 3. Trifenil hidróxido de estanho SC Médias seguidas por letras distintas diferem entre si (Tukey 5 %). ( 1 ) Notas de 1 a 9: 1 = sem sintoma visível, 3 = presença de poucas lesões, que cobrem 1 % da área foliar, aproximadamente, 5 = presença de várias lesões pequenas nos pecíolos ou nas nervuras primárias e secundárias das folhas. Nas vagens, lesões pequenas, cobrindo 5% da área, aproximadamente; 7 = presença de numerosas lesões grandes nas folhas e lesões necróticas nos ramos e pecíolos, nas vagens, presença de lesões de tamanho mediano (mais de 2 mm de diâmetro), além de lesões pequenas e grandes, cobrindo 10 % da superfície das vagens, aproximadamente e 9 = necrose severa evidente em 25% ou mais do tecido da planta, com morte de grande parte dos tecidos, podendo causar deformação e morte das vagens. SC: suspensão concentrada. ( 2 ) Azocyclotin: dose = 125 g i.a.100 L-1 de água. ( 3 )Trifenil hidróxido de estanho: dose = 41,25 g i.a.100 L -1 de água. Quanto ao fungicida trifenil acetato de estanho, G IANASI et al. (1999) estudaram vários componentes do progresso da doença antracnose em feijoeiro e observaram reduções significativas na severidade da doença e na desfolha do feijoeiro, na parcela pulverizada com esse fungicida. I TO et al. (2000) verificaram que trifenil hidróxido de estanho, usado isoladamente ou em associação a outros fungicidas como carbendzim, fluquinconazole e azoxystrobin, proporcionaram controle da antracnose. OLIVEIRA (2003) também verificou controle da antracnose com o uso de trifenil hidróxido de estanho isoladamente e em associação a carbendazim, fluquinconazole, azoxystrobin ou propiconazole. Trabalho semelhante foi realizado por I TO et al. (1995) que observaram efeitos preventivos, curativos e erradicantes do inseticida cartap sobre o patógeno U. appendiculatus, controlando a ferrugem do feijoeiro. Um aspecto indicativo da vantagem do uso do acaricida azocyclotin para o controle da antracnose seria o controle simultâneo do ácaro-branco, em região com possibilidade de sua ocorrência. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.241-248, 2005 3.3. Experimento em condições de campo Devido à ocorrência das doenças mancha-dealternária e mancha-angular, além da antracnose, foi realizada a avaliação dessas três doenças. Na tabela 4, pode-se observar que, para antracnose e mancha-de-alternaria, em todos os tratamentos ocorreu bom controle, tanto em folhas como em vagens, sendo iguais entre si e diferindo da testemunha. Para o acaricida azocyclotin, aplicado isoladamente ou associado ao fungicida tebuconazole, houve controle semelhante aos fungicidas trifloxystrobin, tebuconazole + trifloxystrobin e tebuconazole + trifenil hidróxido de estanho para essas duas doenças. I T O et al. (2000; 2001) obtiveram resultados semelhantes com o fungicida trifenil hidróxido de estanho, aplicado isoladamente ou em associação a fungicidas dos grupos triazol, estrobilurina e benzimidazol, para o controle da antracnose e mancha-angular do feijoeiro. - - C.V. (%) D.M.S. (5 %) 0,64 18,59 3,75 a 1,25 b 1,00 b 1,00 b 1,00 b 1,00 b* Folha (1) 1,21 25,30 5,25 a 1,75 b 1,50 b 1,50 b 1,25 b 1,25 b Vagem Antracnose 0,47 8,91 3,75 a 2,00 b 2,00 b 2,00 b 2,00 b 2,00 b Folha (1) 1,25 14,38 7,50 a 3,25 b 3,25 b 3,25 b 3,00 b 2,50 b Vagem M. alternaria 1,05 12,31 8,75 a 4,75 b 2,50 c 2,00 c 2,00 c 2,25 c Folha (1) 0,94 12,25 7,75 a 3,50 b 2,75 bc 2,00 c 2,00 c 2,00 c Vagem M. angular 1,92 3,59 19,42 c 22,42 b 24,72 a 24,40 a 24,45 a 24,17 ab* g 100 sementes Massa de -1 674,61 8,28 2652,50 b 3635,00 a 3712,50 a 3732,50 a 3810,00 a 3704,50 a kg ha kg.ha -1 Produtividade - - - 37,04 39,96 40,72 43,64 39,66 % relativo Aumento Médias seguidas por letras distintas, na coluna, diferem entre si (Tukey 5 %). ( 1) Notas de 1 a 9: 1 = sem sintoma visível; 3 = presença de poucas lesões, que cobrem 1 % da área foliar, aproximadamente; 5 = presença de várias lesões pequenas nos pecíolos ou nas nervuras primárias e secundárias das folhas. Nas vagens, lesões pequenas, cobrindo 5 % da área, aproximadamente; 7 = presença de numerosas lesões grandes nas folhas e lesões necróticas nos ramos e pecíolos, nas vagens, presença de lesões de tamanho mediano (mais de 2 mm de diâmetro), além de lesões pequenas e grandes, cobrindo 10 % da superfície das vagens, aproximadamente e 9 = necrose severa evidente em 25 % ou mais do tecido da planta, com morte de grande parte dos tecidos, podendo causar deformação e morte das vagens. CE = concentrado emulsionável. SC = suspensão concentrada. GRDA = grânulos dispersíveis em água. - 500 100 + 500 125 40 + 100 100 + 200 g ha -1 Dose (i.a.) 6. Testemunha 5. Azocyclotin SC azocyclotin SC 4. Tebuconazole CE+ 3. Trifloxystrobin GRDA trifloxystrobin GRDA 2. Tebuconazole CE + de estanho SC trifenil hidróxido 1. Tebuconazole CE + Tratamento Tabela 4. Efeito de defensivos agrícolas sobre a antracnose, mancha-angular e mancha-de-Alternaria do feijoeiro, em cultivar IAC-Carioca, na safra da seca/2001, em Capão Bonito (SP) Ação fungicida do acaricida Azocyclotin 247 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.241-248, 2005 248 A Santini et al. Mancha-angular, em folhas, foi mais bem controlada pelos tratamentos tebuconazole + trifenil hidróxido de estanho, tebuconazole + trifloxystrobin, trifloxystrobin e tebuconazole + azocyclotin, seguidos por azocyclotin, que foi intermediário e diferiu da testemunha. Nas vagens, com os tratamentos tebuconazole + trifenil hidróxido de estanho, tebuconazole + trifloxystrobin e trifloxystrobin houve melhor controle, seguidos de tebuconazole + azocyclotin e azocyclotin, diferindo da testemunha (Quadro 4). B A R R O S e C A S T R O (1999) também verificaram controle de mancha-angular com o fungicida trifenil hidróxido de estanho, aplicado isoladamente ou em associação a tebuconazole, fungicida do grupo triazol. 3. O acaricida azocyclotin pode ser utilizado isoladamente ou em mistura com tebuconazole para o controle da antracnose do feijoeiro. Em relação à produtividade, os tratamentos foram iguais entre si e diferiram da testemunha, com aumento relativo variando de 37,04 % a 43,64 % (Tabela 4). Quanto à massa de cem sementes, com os tratamentos tebuconazole + trifloxystrobin, trifloxystrobin e tebuconazole + azocyclotin ocorreu maior massa, seguidos dos tratamentos com tebuconazole + trifenil hidóxido de estanho e azocyclotin, diferindo da testemunha (Tabela 4). GIANASI, L.; FERNANDES, N.; LOURENÇO, S.A.; AMORIN, L.; BERGAMIN FILHO, A. Antracnose do feijoeiro: efeito do trifenil acetat de estanho no crescimento do hospedeiro e no progresso da doença. Summa Phytopathologica, Jaboticabal, v.25, n.1, p.24, 1999. (Resumo). Os acréscimos obtidos na produtividade e massa de cem sementes do feijoeiro com o uso de fungicidas do grupo dos organo-estânicos, isoladamente ou em associação a outros fungicidas, já é conhecido na literatura (GIANASI et al., 1999; I TO et al., 2000; ITO et al., 2001; OLIVEIRA, 2003), assim como foi observado no presente trabalho. A hipótese formulada de que o acaricida azocyclotin, por pertencer ao mesmo grupo de fungicidas organo-estânicos, poderia controlar a antracnose do feijoeiro, foi confirmada neste trabalho, pois apresentou inibição de crescimento micelial de C. lindemuthianum in vitro e controle in vivo, em sala climatizada e condições de campo, proporcionando, no campo, aumento significativo da produtividade. Essa comprovação permite adicionar o acaricida azocyclotin ao grupo de fungicidas utilizados no controle da antracnose do feijoeiro, com vantagens, devido à classe toxicológica III e menor custo, em comparação a outros produtos, além de ser recomendado ao controle do ácaro branco do feijoeiro comum. 4. CONCLUSÕES 1. O acaricida azocyclotin atua no crescimento micelial de Colletotrichum lindemuthianum, fungo causador da antracnose do feijoeiro, pela sua inibição. 2. O acaricida azocyclotin apresenta eficiência de controle da antracnose do feijoeiro, semelhante ao fungicida trifenil hidróxido de estanho. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.241-248, 2005 REFERÊNCIAS BARROS, B.C.; CASTRO, J.L. Eficiência de fungicidas no controle da mancha angular (Phaeoisariopsis griseola) do feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.). In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE FEIJÃO, 6., 1999, Salvador. Resumos Expandidos... Santo Antonio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 1999. p.182-184. (Embrapa Arroz e Feijão. Documentos, 99). ITO, M.F.; BERGAMIN FILHO, A.; CASTRO, J.L. Ação fungicida do inseticida cartap sobre a ferrugem do feijoeiro. II-Em campo. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.20, n.4, p.577-584, 1995. ITO, M.F.; BERGAMIN FILHO, A.; YUKI, V.A. Ação fungicida do inseticida cartap sobre a ferrugem do feijoeiro. I- Em laboratório. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 21, n. 1, p. 44-49, 1996. ITO, M.F.; CASTRO, J.L.; PETEROSSI JR., N.; ITO, M.A. Eficiência do trifenil hidróxido de estanho e associações no controle da antracnose, mancha de Alternaria e oídio do feijoeiro. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.25, p.381, 2000. (Suplemento) ITO, M.F.; CASTRO, J.L.; PETEROSSI JR, N.; ZAMBON, S.; ITO, M.A. Trifenil hidróxido de estanho no controle de doenças do feijoeiro. Summa Phytopathologica, Jaboticabal, v. 27, n. 1, p. 110, 2001. (Resumo). KIMATI, H. Fungicidas. In: Manual de Fitopatologia. 2 ed. São Paulo: Ceres, 1978. Piracicaba, v.1, cap. 18, p. 325-373. 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Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 PLANT PROTECTION Intraspecific and interspecific pre-adult competition on the neotropical region colonizer Zaprionus indianus (Diptera: Drosophilidae) under laboratory conditions Competição pré-adulta intra e interespecífica, em Zaprionus indianus (Diptera: Drosophilidae), espécie colonizadora da região neotropical, sob condições laboratoriais Luís Gustavo da Conceição Galego; Claudia Marcia Aparecida Carareto Departamento de Biologia, IBILCE, Universidade Estadual Paulista, Rua Cristóvão Colombo, 2.265, 15054-000 São Josédo Rio Preto (SP), Brasil. E-mail: [email protected] ABSTRACT This study analyzes the pre-adult interactions of Zaprionus indianus, a recently-introduced species in Brazil, with two others Drosophilidae under laboratory conditions. The effects of larval residues on the viability and on the developmental time of Z. indianus, Drosophila simulans and D. sturtevanti were used to evaluate pre-adult competitive interactions, conditioning the culture medium with larval residues. Pre-adult interactions between Z. indianus, D. sturtevanti and D. simulans may affect their relative abundance over time, since the viability of Z. indianus was negatively affected by residues of D. sturtevanti, and its residues reduced the viability of D. simulans and the developmental time of both D. simulans and D. sturtevanti. Key words: Zaprionus indianus; fitness components; competitive interactions; viability; developmental time. RESUMO Este estudo é uma análise das interações pré-adultas, sob condições laboratoriais, da moscado-figo Zaprionus indianus, espécie recentemente introduzida no Brasil, com dois outros drosofilídeos. A interferência de meio de cultura, acrescido de resíduos larvais, sobre a viabilidade e o tempo de desenvolvimento de Z. indianus, Drosophila simulans e D. sturtevanti foi utilizada para avaliar as interações competitivas pré-adultas. As interações pré-adultas entre Z. indianus, D. sturtevanti e D. simulans podem afetar sua abundância relativa ao longo do tempo, pois a viabilidade de Z. indianus foi negativamente afetada por resíduos de D. sturtevanti; os resíduos da mosca-do-figo reduziram a viabilidade de D. simulans e o tempo de desenvolvimento tanto de D. simulans como de D. sturtevanti. Palavras-chave: Zaprionus indianus; valor adaptativo; interações competitivas; viabilidade; tempo de desenvolvimento. 1. INTRODUCTION Zaprionus indianus is a Drosophilidae species that was recently introduced into the Neotropical region. The first published record refers to individuals observed on fallen persimmon fruits (Diospyrus kaki L.; Ebenaceae) in the São Paulo metropolitan area, São Paulo state, Brazil (VILELA, 1999). In the same year, a large number of Z. indianus were found feeding on and ovipositing in figs (Ficus carica L.; Moraceae) making them inappropriate for human consumption and occasioning the loss of approximately 50% of that crop. So, this African insect may now be reaching pest status in the main fig growing area in the state of São Paulo (VILELA et al., 2001). According to MACK and D'ANTONIO (1998), species removed from or added to an environment which strongly interact with native species frequently produce ecosystem structure alterations and offer model systems for understanding the mechanisms by which species alter disturbance regimes. These alterations occur in both disrupted and intact systems, resulting in profound changes in many cases, including changes in ecosystem processes that ultimately control plant and animal activities and direct species replacements (KNOPS et al., 1999). Mixing cultures makes it possible to study different parameters as a mean of evaluating the performance of one species when in the presence of another. Of diverse possible parameters, developmental time and viability are most frequently analyzed in studies that involve competition (GONZÁLES-CANDELAS et al., 1990). OHBA (1961) noticed diverse consequences of competition in species of Drosophila, such as increases in the variation of the duration of the pre-adult period, decreases in larval viability, increases in variation of the flies' body size, and decreases in pupal viability. In Drosophilidae, developmental time and egg-adult viability are modified when the development occurs in a culture medium previously used by larvae of the same or different species (WEISBROT, 1966; DAWOOD and STRICKBERGER, 1969; HUANG et al., 1971; BUDNIK and BRNCIC, 1975; 1983; HEMMAT and EGGLESTON, 1988; BUDNIK et al., 2001). BUDNIK et al. (2001) demonstrated that competitive interactions between pre-adult individuals of different species can be established, with deterioration or facilitation of the viability of one or both species. These effects may be due to the restriction of nutrition resources or even of substratum contamination by metabolic residues during the larval development. Larval population density is also an important competitive factor. In Drosophila species, population agregation of some species generally leads to individual body size decrease, developmental time increase and fecundity decrease (MITROFANOV and BRODSKAYA, 1976; SCHEIRING et al., 1984; BRNCIC, 1987). Similar results were obtained by AMOUDI et al. (1993) in experimental populations with different initial densities of Z. indianus larvae. The authors observed that the bigger the Z. indianus population size, the greater is the larva-adult developmental time and the lesser are the survival rates and adult body sizes. These authors concluded that, under intraspecific competition, the alterations in the developmental time, survival and body size would be related to the depletion of resources and the increase in larval residues, such as uric acid and CO2. Z. indianus is a species that has shown a great spread in the Neotropical region (TIDON et al., 2003) and information about its interactions with native Drosophilidae is unavailable. Aiming to evaluate the nature of these interactions, we studied the impact on viability and developmental time of metabolic waste products of two species of the genus Drosophila that occur at high abundances in the same area as Z. indianus during our collections, D. sturtevanti and D. simulans. 2. MATERIAL AND METHODS Drosophilids were collected in orchard with different fruit trees in Mirassol, São Paulo State, Brazil (49º30'W, 20º47'S). Five traps with fermented banana were used, placed 1.5 m from the ground. The collections were made in the rainy (October, 2001 and January, 2002) and dry (April and June, 2002) seasons. The most abundant species of Drosophila in the rainy season was D. sturtevanti (saltans group), a native Neotropical species, and in the dry season was D. simulans (melanogaster group), an introduced species. The flies of these three species obtained in the collections were separated and maintained in 250 ml bottles with banana-agar culture medium and the larvae yielded were used in pre-adult competition studies. The method employed to investigate the effects of metabolic waste products of imature stages on development of species that share the same environment was similar to that used by BUDNIK and BRNCIC (1975). According to this method, larvae of the same (to evaluated intraspecific competition) or different (to evaluated interspecific competition) species are transferred to vials with fresh food and maintained there during a certain period of time for releasing metabolic residues in the culture medium. Afterwards, the vials are frozen in order to kill the larvae. These vials containing culture medium with the metabolic waste products and the dead bodies of the larvae are named as "conditioned" with compounds of a particular species. The next step is the transfer of living larvae of a species to be tested into the conditioned vials. This approach can show whether the residues of a particular species can affect its own or the other species development by evaluating fitness components of such species. In this study, three types of competition were evaluate: (1) intraspecific competition: the medium was conditioned with residues of the same species to be tested (for example, larvae of Z. indianus placed in vials conditioned with residues of Z. indianus); (2) interspecific competition: the medium was conditioned with residues of a different species (for example, larvae of Z. indianus placed in vials conditioned with D. simulans) and, (3) intra and interspecific competition: the medium was conditioned with residues of the species to be tested plus residues of a different species (for example, larvae of Z. indianus placed in vials conditioned with Z. indianus and of D. simulans). The viability and developmental time of the species to be tested (ST) were studied in vials containing 5 ml of banana-agar medium, replicated 10 times: Z. indianus (ST1: zp), D. sturtevanti (ST2: st) and D. simulans (ST3: sm). Vial 1 was nonconditioned (Vnc) and the vials 2 to 4 were conditioned each one with 30 larvae one-day-old: vial 2 was conditioned with intraspecific residues (Vzp, Vst or Vsm), vial 3 with interspecific residues (Vzp, Vst or Vsm) and vial 4 was conditioned with intra and interspecific residues using 15 larvae of each species (Vzp+st or Vzp+sm). For example, ST1Vnc means that the Z. indianus viability or developmental time was recorded in non-conditioned medium; ST2Vzp means that the D. sturtevanti viability or developmental time was recorded in medium conditioned with residues of Z. indianus as well as ST3Vzp+sm means that these parameters of D. simulans was recorded in medium conditoned with larvae of Z. indianus plus D. simulans. These vials were maintained in a constant temperature chamber at 25ºC during five days to allow the larvae to develop and to release the metabolic waste products. Thereafter, they were frozen at -20 ºC for about 24 h in order to kill the larvae. After the vials were thawed at 25 ºC, 20 one-day-old larvae of the species to be tested were transferred to each vial and their viability and developmental time were recorded. ANOVA and Tukey's test for pairwise comparisons (significance level at α = 0.05) were used to compare the mean viability and developmental time of each species and between species in different conditioned mediums of culture. 3. RESULTS The viability and the larva to adult developmental time were used to evaluate the effects of the larval competitive interactions between Z. indianus and the Drosophila species. Z. indianus viability ranged from 50.0 % in intra and interspecific (D. sturtevanti) residues to 70.0 % in intraspecific residues (P < 0.01) and its developmental time ranged from 19.06 to 20.24 days in interspecific residues of D. simulans and D. sturtevanti (P > 0.05), respectively. The variation of D. sturtevanti viability on the presence of Z. indianus residues was also not significant. However, the variation of the mean developmental time of D. sturtevanti on the presence of Z. indianus residues was highly significant (P < 0.001), the smallest value was observed in interspecific residues of Z. indianus (18.91 days) and the greatest in the nonconditioned medium (21.86 days). D. simulans viability (P<0.01) ranged from 55.0 % in the presence of Z. indianus residues to 74.5 % in the presence of intraspecific and interspecific (Z. indianus) residues; its developmental time (P < 0.01) varied from 10.91 days in intra and interspecific residues (Z. indianus) to 11.51 days in the non-conditioned medium. Table 1 presents the averages and the standard-errors, as well as the F-values for homogeneity of means of viability and developmental time of each species in different types of conditioning. The pairwise comparisons between the conditioning types and control inside each experimental group show that the residues of D. sturtevanti affect significantly the viability of Z. indianus as wel as the residues of Z. indianus affect the viability of D. simulans. The viability of Z. indianus in non-conditioned vials (67%) and in vails conditioned with its own residues (70%) is significantly reduced in vials conditioned with residues of D. sturtevanti (57.5%) or of D. sturtevanti plus Z. indianus (50%) (Table 1). Also, the viability of D. simulans in nonconditioned vials (70%) is reduced by the Z. indianus residues (55%). On the other hand, the developmental time of Z. indianus was not significantly affected by any residues, but its residues affected significantly this fitness component of D. sturtevanti and D. simulans. The developmental time of D. sturtevanti, in vials non-conditioned (21.86 days) was reduced when compared to vails conditioned with larvae of Z. indianus (19.97 days) or of Z. indianus plus D. sturtevanti (20.87 days) as well as was reduced in D. simulans developed in nonconditioned vails (11.51 days), in vials conditioned with Z. indianus (11.10 days) or with the Z. indianus plus the D. simulans (10.91) residues. It can be also seen that the metabolic residues of D. sturtevanti or D. simulans reduce its own developmental times (Tables 1 and 2). 4. DISCUSSION Competition can occurr in Drosophilidae pre-adult stages due to high larval density and depletion of resources (AMOUDI et al., 1993), or due to larval residues produced by individuals in the medium which can interact with the metabolism of larvae (BUDNIK and CIFUENTES, 1995; BUDNIK et al., 2001). These residues would intervene or promote the growth of yeast or other resources necessary for the survival and the development of these Drosophilidae, reducing or facilitating their development (WEISBROT, 1966). We exposed larvae of Z. indianus to residues of D. sturtevanti and D. simulans, species that we had observed to occur at high frequencies in the same area (Mirassol, State of São Paulo) as Z. indianus; the first during the rainy season and the second during the dry season. The pairwise comparison showed that the developmental time of Z. indianus was not affected by any type of competitor residues, however, its viability was reduced. Individuals of Z. indianus exposed to the non-conditioned medium and to that with intraspecific residues presented practically the same viability (67% and 70%, respectively). However, its viability was significantly reduced when developed in medium conditioned with residues of D. sturtevanti: a reduction of 14.9 % comparing Z. indianus developed in non-conditioned medium versus in medium conditioned only with residues of D. sturtevanti; and 17.9% and 28.6%, respectively, when comparing the viability of Z. indianus which was developed in medium conditioned with its own residues versus in medium conditioned only with D. sturtevanti or with its own residues plus those of D. sturtevanti. These results indicate a possible deleterious effect of D. sturtevanti on Z. indianus survival. On the contrary, it can be seen that Z. indianus residues reduced significantly the viability of D. simulans (21.4%) as shown by the viability of D. simulans in non-conditioned medium versus that in environment conditioned with Z. indianus residues. Neither type of conditioned medium significantly affected the viability of D. sturtevanti; however, the developmental time of this species was affected by residues of Z. indianus. A higher developmental speed is suggested by the pairwise comparisons of the developmental time of this species in non-conditioned medium and the values in medium conditioned only with Z. indianus (a reduction of 8.6%) or with its own residues plus those of Z. indianus (a reduction of 4.8%). Although some exceptions can be observed, these comparisons suggest a possible facilitator role of the Z. indianus larval residues on the D. sturtevanti development. Despite the lower degree, a similar phenomenon was observed in D. simulans development that was significantly reduced in the presence of Z. indianus (3.6%) or when exposed to the Z. indianus plus the D. simulans (5.2 %) larval residues. BUDNIK et al. (2001) pointed out that larval residues may not only be associated with the factors that reduce viability and increase developmental time but may also act as a facilitator of development. For example, pre-adult viability is increased when D. willistoni and D. simulans grow in a culture medium with residues of their own species (BUDNIK and BRNCIC, 1976), but in D. pavani, viability was reduced when exposed to larval intraspecific residues (BUDNIK, 1977). BUDNIK and CIFUENTES (1995) found different viability patterns and developmental times in intraspecific competition studies involving D. pseudoobscura from different geographic regions. The authors concluded that each geographic population has its own genetic background as a response to the history of interactions between species that inhabit the same geographic region. Our results suggest that the interaction between pre-adult stages of Z. indianus, D. sturtevanti and D. simulans in oviposition sites can affect their relative abundance over time. Possible results are the elimination of one or more of these competitor species or coexistence among them, as occurred with other invading Drosophilidae species, such as D. malerkotliana and D. simulans, which reached equilibrium with native Neotropical populations, after a population demographic explosion of these species. Monitoring the interactions among Z. indianus and other Drosophilidae species over time will be important to evaluate the evolutionary dynamics and impact of this species on the Neotropical environment. ACKNOWLEDGEMENTS This work was supported by FAPESP grants and a CAPES fellowship to L.G.C.G. We thank A.J. Manzato for statistical advice and P. J. Harris for reviewing the English text. REFERENCES AMOUD, M.A.; DIAB, F.M.; ABOU-FANNAH, S.S.M. Effects of larval population density on the life cycle parameters in Zaprionus indianus Gupta (Diptera: Drosophilidae). Pakistan Journal of Zoology, v. 25, p. 37-40, 1993. BRNCIC, D. Coexistencia de diferentes especies de Drosophila en frutas fermentadas naturalmente. Médio Ambiente,Casilla, v.8, p. 3-9, 1987. BUDNIK, M. The inhibition of Drosophila pavani preadult viability by different concentrations of larval biotic residues. Ciência e Cultura, São Paulo, v.29, 675-676, 1977. BUDNIK, M.; BRNCIC, D. Preadult competition between Drosophila pavani and D. melanogaster, D. simulans and D. wilistoni. Ecology, Brooklyn, v. 55: p. 657-661, 1975. BUDNIK, M.; BRNCIC, D. Effects of larval biotic residues on viability in four species of Drosophila. Evolution, Lancaster, v. 29: p. 777-780, 1976. BUDNIK, M.; CIFUENTES, L. 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The effects of larval residues on the viability and on the developmental time of Z. indianus, Drosophila simulans and D. sturtevanti were used to evaluate pre-adult competitive interactions, conditioning the culture medium with larval residues. Pre-adult interactions between Z. indianus, D. sturtevanti and D. simulans may affect their relative abundance over time, since the viability of Z. indianus was negatively affected by residues of D. sturtevanti, and its residues reduced the viability of D. simulans and the developmental time of both D. simulans and D. sturtevanti. Key words: Zaprionus indianus; fitness components; competitive interactions; viability; developmental time. RESUMO COMPETIÇÃO PRÉ-ADULTA INTRA E INTERESPECÍFICA, EM ZAPRIONUS INDIANUS (DIPTERA: DROSOPHILIDAE), ESPÉCIE COLONIZADORA DA REGIÃO NEOTROPICAL, SOB CONDIÇÕES LABORATORIAIS Este estudo é uma análise das interações pré-adultas, sob condições laboratoriais, da mosca-dofigo Zaprionus indianus, espécie recentemente introduzida no Brasil, com dois outros drosofilídeos. A interferência de meio de cultura, acrescido de resíduos larvais, sobre a viabilidade e o tempo de desenvolvimento de Z. indianus, Drosophila simulans e D. sturtevanti foi utilizada para avaliar as interações competitivas pré-adultas. As interações pré-adultas entre Z. indianus, D. sturtevanti e D. simulans podem afetar sua abundância relativa ao longo do tempo, pois a viabilidade de Z. indianus foi negativamente afetada por resíduos de D. sturtevanti; os resíduos da mosca-do-figo reduziram a viabilidade de D. simulans e o tempo de desenvolvimento tanto de D. simulans como de D. sturtevanti. Palavras-chave: Zaprionus indianus; valor adaptativo; interações competitivas; viabilidade; tempo de desenvolvimento. ( 1) Received for publication in May 25, 2004 and accepted in March 14, 2005. ( 2) Departamento de Biologia, IBILCE, Universidade Estadual Paulista, Rua Cristóvão Colombo, 2.265, 15054-000 São José do Rio Preto (SP), Brasil. E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.249-255, 2005 250 L.G.C. Galeco e C.M.A Carareto 1. INTRODUCTION Zaprionus indianus is a Drosophilidae species that was recently introduced into the Neotropical region. The first published record refers to individuals observed on fallen persimmon fruits (Diospyrus kaki L.; Ebenaceae) in the São Paulo metropolitan area, São Paulo state, Brazil (VILELA , 1999). In the same year, a large number of Z. indianus were found feeding on and ovipositing in figs (Ficus carica L.; Moraceae) making them inappropriate for human consumption and occasioning the loss of approximately 50% of that crop. So, this African insect may now be reaching pest status in the main fig growing area in the state of São Paulo (VILELA et al., 2001). According to M ACK and D´A NTONIO (1998), species removed from or added to an environment which strongly interact with native species frequently produce ecosystem structure alterations and offer model systems for understanding the mechanisms by which species alter disturbance regimes. These alterations occur in both disrupted and intact systems, resulting in profound changes in many cases, including changes in ecosystem processes that ultimately control plant and animal activities and direct species replacements (KNOPS et al., 1999). Mixing cultures makes it possible to study different parameters as a mean of evaluating the performance of one species when in the presence of another. Of diverse possible parameters, developmental time and viability are most frequently analyzed in studies that involve competition (GONZÁLES -CANDELAS et al., 1990). OHBA (1961) noticed diverse consequences of competition in species of Drosophila, such as increases in the variation of the duration of the pre-adult period, decreases in larval viability, increases in variation of the flies´ body size, and decreases in pupal viability. In Drosophilidae, developmental time and eggadult viability are modified when the development occurs in a culture medium previously used by larvae of the same or different species (W EISBROT , 1966; D AWOOD and S TRICKBERGER, 1969; HUANG et al., 1971; B U D N I K and B R N C I C , 1975; 1983; H E M M A T and E GGLESTON , 1988; B UDNIK et al., 2001). B UDNIK et al. (2001) demonstrated that competitive interactions between pre-adult individuals of different species can be established, with deterioration or facilitation of the viability of one or both species. These effects may be due to the restriction of nutrition resources or even of substratum contamination by metabolic residues during the larval development. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.249-255, 2005 Larval population density is also an important competitive factor. In Drosophila species, population agregation of some species generally leads to individual body size decrease, developmental time increase and fecundity decrease (MITROFANOV and BRODSKAYA, 1976; S CHEIRING et al., 1984; BRNCIC , 1987). Similar results were obtained by A MOUDI et al. (1993) in experimental populations with different initial densities of Z. indianus larvae. The authors observed that the bigger the Z. indianus population size, the greater is the larva-adult developmental time and the lesser are the survival rates and adult body sizes. These authors concluded that, under intraspecific competition, the alterations in the developmental time, survival and body size would be related to the depletion of resources and the increase in larval residues, such as uric acid and CO2. Z. indianus is a species that has shown a great spread in the Neotropical region (TIDON et al., 2003) and information about its interactions with native Drosophilidae is unavailable. Aiming to evaluate the nature of these interactions, we studied the impact on viability and developmental time of metabolic waste products of two species of the genus Drosophila that occur at high abundances in the same area as Z. indianus during our collections, D. sturtevanti and D. simulans. 2. MATERIAL AND METHODS Drosophilids were collected in orchard with different fruit trees in Mirassol, São Paulo State, Brazil (49º30’W, 20º47’S). Five traps with fermented banana were used, placed 1.5 m from the ground. The collections were made in the rainy (October, 2001 and January, 2002) and dry (April and June, 2002) seasons. The most abundant species of Drosophila in the rainy season was D. sturtevanti (saltans group), a native Neotropical species, and in the dry season was D. simulans (melanogaster group), an introduced species. The flies of these three species obtained in the collections were separated and maintained in 250 ml bottles with banana-agar culture medium and the larvae yielded were used in pre-adult competition studies. The method employed to investigate the effects of metabolic waste products of imature stages on development of species that share the same environment was similar to that used by BUDNIK and BRNCIC (1975). According to this method, larvae of the same (to evaluated intraspecific competition) or Intraspecific and interspecific pre-adult competition on Zaprionus indianus different (to evaluated interspecific competition) species are transferred to vials with fresh food and maintained there during a certain period of time for releasing metabolic residues in the culture medium. Afterwards, the vials are frozen in order to kill the larvae. These vials containing culture medium with the metabolic waste products and the dead bodies of the larvae are named as “conditioned” with compounds of a particular species. The next step is the transfer of living larvae of a species to be tested into the conditioned vials. This approach can show whether the residues of a particular species can affect its own or the other species development by evaluating fitness components of such species. In this study, three types of competition were evaluate: (1) intraspecific competition: the medium was conditioned with residues of the same species to be tested (for example, larvae of Z. indianus placed in vials conditioned with residues of Z. indianus); (2) interspecific competition: the medium was conditioned with residues of a different species (for example, larvae of Z. indianus placed in vials conditioned with D. simulans) and, (3) intra and interspecific competition: the medium was conditioned with residues of the species to be tested plus residues of a different species (for example, larvae of Z. indianus placed in vials conditioned with Z. indianus and of D. simulans). The viability and developmental time of the species to be tested (ST) were studied in vials containing 5 ml of banana-agar medium, replicated 10 times: Z. indianus (ST1: zp), D. sturtevanti (ST2: st) and D. simulans (ST3: sm). Vial 1 was nonconditioned (Vnc) and the vials 2 to 4 were conditioned each one with 30 larvae one-day-old: vial 2 was conditioned with intraspecific residues (Vzp, Vst or Vsm), vial 3 with interspecific residues (Vzp, Vst or Vsm) and vial 4 was conditioned with intra and interspecific residues using 15 larvae of each species (Vzp+st or Vzp+sm). For example, ST1Vnc means that the Z. indianus viability or developmental time was recorded in nonconditioned medium; ST2Vzp means that the D. sturtevanti viability or developmental time was recorded in medium conditioned with residues of Z. indianus as well as ST3Vzp+sm means that these parameters of D. simulans was recorded in medium conditoned with larvae of Z. indianus plus D. simulans. These vials were maintained in a constant temperature chamber at 25ºC during five days to allow the larvae to develop and to release the metabolic waste products. Thereafter, they were frozen at -20 ºC for about 24 h in order to kill the larvae. After the 251 vials were thawed at 25 ºC, 20 one-day-old larvae of the species to be tested were transferred to each vial and their viability and developmental time were recorded. ANOVA and Tukey´s test for pairwise comparisons (significance level at α = 0.05) were used to compare the mean viability and developmental time of each species and between species in different conditioned mediums of culture. 3. RESULTS The viability and the larva to adult developmental time were used to evaluate the effects of the larval competitive interactions between Z. indianus and the Drosophila species. Z. indianus viability ranged from 50.0 % in intra and interspecific (D. sturtevanti) residues to 70.0 % in intraspecific residues (P < 0.01) and its developmental time ranged from 19.06 to 20.24 days in interspecific residues of D. simulans and D. sturtevanti (P > 0.05), respectively. The variation of D. sturtevanti viability on the presence of Z. indianus residues was also not significant. However, the variation of the mean developmental time of D. sturtevanti on the presence of Z. indianus residues was highly significant (P < 0.001), the smallest value was observed in interspecific residues of Z. indianus (18.91 days) and the greatest in the non-conditioned medium (21.86 days). D. simulans viability (P<0.01) ranged from 55.0 % in the presence of Z. indianus residues to 74.5 % in the presence of intraspecific and interspecific (Z. indianus) residues; its developmental time (P < 0.01) varied from 10.91 days in intra and interspecific residues (Z. indianus) to 11.51 days in the non-conditioned medium. Table 1 presents the averages and the standard-errors, as well as the F-values for homogeneity of means of viability and developmental time of each species in different types of conditioning. The pairwise comparisons between the conditioning types and control inside each experimental group show that the residues of D. sturtevanti affect significantly the viability of Z. indianus as wel as the residues of Z. indianus affect the viability of D. simulans. The viability of Z. indianus in non-conditioned vials (67%) and in vails conditioned with its own residues (70%) is significantly reduced in vials conditioned with residues of D. sturtevanti (57.5%) or of D. sturtevanti plus Z. indianus (50%) (Table 1). Also, the viability of D. simulans in non-conditioned vials (70%) is reduced by the Z. indianus residues (55%). Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.249-255, 2005 252 L.G.C. Galeco e C.M.A Carareto On the other hand, the developmental time of Z. indianus was not significantly affected by any residues, but its residues affected significantly this fitness component of D. sturtevanti and D. simulans. The developmental time of D. sturtevanti, in vials non-conditioned (21.86 days) was reduced when compared to vails conditioned with larvae of Z. indianus (19.97 days) or of Z. indianus plus D. sturtevanti (20.87 days) as well as was reduced in D. simulans developed in non-conditioned vails (11.51 days), in vials conditioned with Z. indianus (11.10 days) or with the Z. indianus plus the D. simulans (10.91) residues. It can be also seen that the metabolic residues of D. sturtevanti or D. simulans reduce its own developmental times (Tables 1 and 2). Table 1. Means and standard-errors for larva-adult viability (%) and developmental time (days) of Zaprionus indianus (zp), Drosophila sturtevanti (st) and D. simulans (sm) in non-conditioned and conditioned media (ST: species to be tested; V: vial with conditioned medium). Species tested Conditioned vial Viability (Mean ± SE) Developmental time (Mean ± SE) Z. indianus Vnc 67.0 ± 2.9 19.61 ± 0.37 ST1 Vzp 70.0 ± 3.2 19.76 ± 0.24 Vst 57.5 ± 3.0 20.24 ± 0.32 Vsm 64.0 ± 3.8 19.06 ± 0.21 Vzp+st 50.0 ± 2.4 19.50 ± 0.21 Vzp+sm 59.5 ± 2.2 19.53 ± 0.22 F6;54 7.77** 2.04 D. sturtevanti Vnc 87.5 ± 2.4 21.86 ± 0.32 ST2 Vst 76.0 ± 4.5 18.91 ± 0.34 Vzp 73.0 ± 4.7 19.97 ± 0.37 Vzp+st 84.0 ± 3.7 20.80 ± 0.32 F3;36 2.71 13.66*** D. simulans Vnc 70.0 ± 4.5 11.51 ± 0.11 ST3 Vsm 67.0 ± 3.6 11.04 ± 0.06 Vzp 55.0 ± 4.1 11.10 ± 0.10 Vzp+sm 74.5 ± 2.0 10.91 ± 0.04 F3;36 5.06** 9.72*** nc F 2;27: 17.80*** F 1;18: 13.46*** intra F2;27: 01.72*** F 1;18: 03.06*** inter (st and sm) F 3;36: 07.76*** F 2;27: 04.07*** intra and inter (zp+st and zp+sm) F 3;36: 15.41*** F 2;27: 08.46*** *p<0.05; **p<0.01; ***p<0.001 nc: non-conditioned medium. inter: interspecific residues. i intra: intraspecific residues. intra + inter: intra and interspecific residues. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.249-255, 2005 253 Intraspecific and interspecific pre-adult competition on Zaprionus indianus Table 2. Pairwise comparisons of conditioning type effects on viability and developmental time in Zaprionus indianus (zp), Drosophila sturtevanti (st) and D. simulans (sm). (nc: non-conditioned; ST: species to be tested; V: vial with conditioned medium) Species tested/ Conditioning type Conditioning type Viability Developmental time Vzp Vst Vzp+st Vsm Vzp+sm Vst Vzp+st, Vsm Vzp+sm Vzp+st Vzp+sm Vsm Vzp+sm Vsm Vzp+sm NS * NS NS NS * * NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS Vst Vzp Vzp+st Vzp Vzp+st Vzp+st NS NS NS NS NS NS * * * NS * NS Vsm Vzp Vzp+sm Vzp Vzp+sm Vzp+sm NS * NS NS NS * * * * NS NS NS Z. indianus (ST1) Vnc Vzp Vst Vzp+st Vsm D. sturtevanti (ST2) Vnc Vst Vzp D. simulans (ST3) Vnc Vsm Vzp NS: non-significant. *p < 0.05. 4. DISCUSSION Competition can occurr in Drosophilidae pre-adult stages due to high larval density and depletion of resources (A M O U D I et al., 1993), or due to larval residues produced by individuals in the medium which can interact with the metabolism of larvae (B UDNIK and C IFUENTES , 1995; B UDNIK et al., 2001). These residues would intervene or promote the growth of yeast or other resources necessary for the survival and the development of these Drosophilidae, reducing or facilitating their development (W EISBROT , 1966). We exposed larvae of Z. indianus to residues of D. sturtevanti and D. simulans, species that we had observed to occur at high frequencies in the same area (Mirassol, State of São Paulo) as Z. indianus; the first during the rainy season and the second during the dry season. The pairwise comparison showed that the developmental time of Z. indianus was not affected by any type of competitor residues, however, its viability was reduced. Individuals of Z. indianus exposed to the non-conditioned medium and to that with intraspecific residues presented practically the same viability (67% and 70%, respectively). However, its viability was significantly reduced when developed in medium conditioned with residues of D. sturtevanti: a reduction of 14.9 % comparing Z. indianus developed in non-conditioned medium versus in medium conditioned only with residues of D. sturtevanti; and 17.9% and 28.6%, respectively, when comparing the viability of Z. indianus which was developed in medium conditioned with its own residues versus in medium conditioned only with D. sturtevanti or with its own residues plus those of D. sturtevanti. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.249-255, 2005 254 L.G.C. Galeco e C.M.A Carareto These results indicate a possible deleterious effect of D. sturtevanti on Z. indianus survival. On the contrary, it can be seen that Z. indianus residues reduced significantly the viability of D. simulans (21.4%) as shown by the viability of D. simulans in non-conditioned medium versus that in environment conditioned with Z. indianus residues. Neither type of conditioned medium significantly affected the viability of D. sturtevanti; however, the developmental time of this species was affected by residues of Z. indianus. A higher developmental speed is suggested by the pairwise comparisons of the developmental time of this species in non-conditioned medium and the values in medium conditioned only with Z. indianus (a reduction of 8.6%) or with its own residues plus those of Z. indianus (a reduction of 4.8%). Although some exceptions can be observed, these comparisons suggest a possible facilitator role of the Z. indianus larval residues on the D. sturtevanti development. Despite the lower degree, a similar phenomenon was observed in D. simulans development that was significantly reduced in the presence of Z. indianus (3.6%) or when exposed to the Z. indianus plus the D. simulans (5.2 %) larval residues. B UDNIK et al. (2001) pointed out that larval residues may not only be associated with the factors that reduce viability and increase developmental time but may also act as a facilitator of development. For example, pre-adult viability is increased when D. willistoni and D. simulans grow in a culture medium with residues of their own species (BUDNIK and BRNCIC, 1976), but in D. pavani, viability was reduced when exposed to larval intraspecific residues (B UDNIK , 1977). B UDNIK and CIFUENTES (1995) found different viability patterns and developmental times in intraspecific competition studies involving D. pseudoobscura from different geographic regions. The authors concluded that each geographic population has its own genetic background as a response to the history of interactions between species that inhabit the same geographic region. Our results suggest that the interaction between pre-adult stages of Z. indianus, D. sturtevanti and D. simulans in oviposition sites can affect their relative abundance over time. Possible results are the elimination of one or more of these competitor species or coexistence among them, as occurred with other invading Drosophilidae species, such as D. malerkotliana and D. simulans, which reached equilibrium with native Neotropical populations, after a population demographic explosion of these species. Monitoring the interactions among Z. indianus Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.249-255, 2005 and other Drosophilidae species over time will be important to evaluate the evolutionary dynamics and impact of this species on the Neotropical environment. ACKNOWLEDGEMENTS This work was supported by FAPESP grants and a CAPES fellowship to L.G.C.G. We thank A.J. Manzato for statistical advice and P. J. Harris for reviewing the English text. REFERENCES AMOUD, M.A.; DIAB, F.M.; ABOU-FANNAH, S.S.M. Effects of larval population density on the life cycle parameters in Zaprionus indianus Gupta (Diptera: Drosophilidae). Pakistan Journal of Zoology, v. 25, p. 37-40, 1993. BRNCIC, D. Coexistencia de diferentes especies de Drosophila en frutas fermentadas naturalmente. Médio Ambiente,Casilla, v.8, p. 3-9, 1987. BUDNIK, M. The inhibition of Drosophila pavani preadult viability by different concentrations of larval biotic residues. Ciência e Cultura, São Paulo, v.29, 675-676, 1977. BUDNIK, M.; BRNCIC, D. Preadult competition between Drosophila pavani and D. melanogaster, D. simulans and D. wilistoni. Ecology, Brooklyn, v. 55: p. 657-661, 1975. BUDNIK, M.; BRNCIC, D. Effects of larval biotic residues on viability in four species of Drosophila. 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Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.249-255, 2005 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 FITOSSANIDADE Desenvolvimento ninfal de Myzus persicae (Sulzer, 1776) (Hemiptera: Aphididae) sobre berinjela em diferentes temperaturas Nymphal development of Myzus persicae (Sulzer, 1776) (Hemiptera: Aphididae) on eggplant at different temperatures Norton Rodrigues Chagas FilhoI; Marcos Doniseti MichelottoI; Ricardo Adaime da SilvaII; Antonio Carlos BusoliIII IAluno do Programa de Pós-graduação em Entomologia Agrícola da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV/UNESP), Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14884-900 Jaboticabal, São Paulo, Brasil. Bolsista CAPES. Email: [email protected]; [email protected] IIEmbrapa Amapá, Rodovia JK, km 5, 68903-000 Macapá, Amapá, Brasil. E-mail: [email protected] IIIDepartamento de Fitossanidade da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV/UNESP). E-mail: [email protected] RESUMO Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes temperaturas no desenvolvimento ninfal de Myzus persicae sobre folhas de berinjela (Solanum melongena). O experimento foi desenvolvido em câmaras climatizadas, sob condições controladas de temperatura de 15, 20, 25 e 30 ± 1 ºC, umidade relativa do ar de 70% ± 10% e fotofase de 12 horas. A biologia de M. persicae foi acompanhada sobre discos foliares de berinjela (3 cm de diâmetro) mantidos em placas de Petri contendo solução ágar-água a 1% geleificada. Foram estimadas as curvas mais ajustadas à duração dos estádios ninfais de M. persicae, suas equações de regressão e os respectivos coeficientes de determinação (R2). O número de estádios ninfais foi afetado pela temperatura; a 15 e 20 ºC, respectivamente, em 30,4% e 4,2% das ninfas observou-se um estádio adicional. Afídeos mantidos a 30 ºC apresentaram a menor viabilidade na fase ninfal (8%). A duração da fase ninfal foi de 9,4; 7,6; 5,9 e 7,0 dias, respectivamente, a 15, 20, 25 e 30 ºC. As temperaturas de 15 e 20 ºC foram as mais favoráveis para o desenvolvimento ninfal de M. persicae sobre discos de folha de berinjela. Palavras-chaves: Solanum melongena, afídeo-da-batatinha, biologia. ABSTRACT The objective of this work was to study the nymphal development of Myzus persicae on leaves of eggplant (Solanum melongena) at four constant temperatures. The experiment was carried out in the bio-control laboratory, with the following controlled conditions: temperatures (15, 20, 25 and 30 ºC ± 1 ºC); relative humidity (70% ± 10%), and photophase (12 hours). The biology of M. persicae was followed on leaf discs (3 cm diameter) kept in Petri dishes containing a layer of agar-water (1%). It was evaluated the best fitted curve to the biological aspects of M. persicae, as well as their regression equations and respective determination coefficients (R2). The number of nymphal stage was affected by temperature: 15 and 20 ºC, resulted in 30.4% and 4.2% of nymphs showing an 5th nymphal stage, respectively. At 15, 20, 25 and 30 ºC, nymphal phase lasted for 9.4; 7.6; 5.9 and 7.0 days, respectively. Temperatures of 15 and 20 ºC were more favorable to nymphal development of M. persicae on leaf discs of eggplant. Key words: Solanum melongena, green peach aphid, biology. 1. INTRODUÇÃO A berinjela (Solanum melongena L.) (Solanaceae), originária do Continente Asiático, é uma planta de hábito perene, porém cultivada como anual (FILGUEIRA, 2002). No Estado de São Paulo, ocupa uma área de 1.037 hectares, produzindo 47.549 toneladas e gerando 1.023 empregos diretos, tendo Campinas, Aguaí, São José do Rio Pardo e Monte Alto, como principais municípios produtores (CEASA, 2004). De acordo com BLACKMAN e EASTOP (1984), os afídeos (Hemiptera: Aphididae) associados à cultura da berinjela são Aphis fabae, Aphis gossypii, Aulacorthum solani, Macrosiphum euphorbiae e Myzus persicae. No Brasil, M. persicae é relatado como praga na cultura, destacando-se por danificar direta e indiretamente as plantas de berinjela (PINTO et al., 2000). É o mais eficiente vetor do Potato Virus Y (PVY) pertencente ao gênero Potyvirus, que causa severos danos à cultura da berinjela, reduzindo drasticamente a produtividade na maioria das cultivares (PINTO et al., 2000). Os autores ainda relatam que as plantas infectadas por PVY apresentam folhas com sintomas de mosaico, amarelecimento e redução de tamanho, além de frutos pouco desenvolvidos. M. persicae é uma espécie polífaga, cosmopolita e pode transmitir mais de 100 vírus em diversas culturas (RADCLIFFE, 1982; BLACKMAN e EASTOP, 1984). Na cultura da batata, é considerado como o mais importante vetor de Popato Leafroll Virus (PLRV) e PVY. Além da transmissão dos vírus, altas populações de M. persicae podem ocasionar perdas até de 54% da massa seca de plantas de batata, decorrentes da ação toxicogênica da saliva, a qual ocasiona necroses, principalmente ao longo das nervuras (ILHARCO, 1992). Dentre os fatores que podem influenciar a bioecologia dos afídeos destaca-se a temperatura. Segundo EASTOP (1977), a temperatura influi no tamanho das populações, na maturação das fêmeas, na taxa de reprodução, longevidade e dispersão. Dada a importância de M. persicae na cultura da berinjela e da possibilidade de transmitir vírus à cultura e a outras olerícolas, o objetivo deste trabalho foi estudar o desenvolvimento ninfal de M. persicae em laboratório, sob efeito de quatro temperaturas constantes (15, 20, 25 e 30 ºC) tendo como substrato folhas de plantas de berinjela. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido no Laboratório de Controle Biológico de Insetos do Departamento de Fitossanidade, setor de Entomologia da FCAV-UNESP em Jaboticabal (SP). Para a criação de manutenção e o estudo do desenvolvimento dos estádios ninfais de M. persicae foram utilizadas quatro câmaras climatizadas reguladas nas temperaturas de 15, 20, 25 e 30ºC ± 1ºC, umidade relativa do ar de 70% ± 10% e fotofase de 12 horas. As sementes de berinjela (cultivar Nápoli) foram semeadas em vasos de polietileno com capacidade para 5 litros, contendo terra, areia e esterco na proporção 2:1:1 e mantidos em gaiolas de 1,5 x 1,5 m revestidas com uma tela anti-afídeo. Os afídeos utilizados no experimento foram coletados em colônias presentes em plantas de berinjela no campo, e transferidos para plantas de 50 dias de idade com auxílio de um pincel, para a criação no laboratório. As folhas de berinjela utilizadas no ensaio foram previamente lavadas em água corrente e deixadas imersas em solução de hipoclorito de sódio a 1% por um minuto. Após a assepsia, as folhas foram secas em papel absorvente e, utilizando-se um vazador, foram obtidos os discos foliares. Para obtenção de adultos na fase reprodutiva, foram coletadas folhas de berinjela contendo afídeos provenientes das colônias de criação de manutenção, e levados até o laboratório. Para cada temperatura (15, 20, 25 e 30ºC) foram preparados três recipientes, destinados à criação dos adultos, que consistiram de placas de Petri (6 cm de diâmetro) contendo 15 mL de solução geleificada de ágar-água (1%) e um disco de folha de berinjela de 3 cm de diâmetro disposto no centro da placa. Em cada disco foram colocados, com auxílio de um pincel, cinco adultos ápteros de M. persicae. A tampa dessas placas continha uma abertura de 3 cm de diâmetro, coberta com uma tela anti-afídeo para permitir a aeração e evitar a fuga dos insetos. As placas foram identificadas e mantidas nas câmaras climatizadas. Foram realizadas três vistorias por dia para a obtenção das ninfas utilizadas no experimento. Cada unidade experimental foi composta de uma placa de Petri contendo um disco foliar, com a face abaxial voltada para cima, fixo no centro da placa sobre 10 mL de solução ágar-água. Apenas uma ninfa recém-nascida foi transferida por disco foliar. As avaliações foram realizadas a cada 12 horas, observando-se o número de estádios, a duração de cada estádio e da fase ninfal, assim como a viabilidade de cada estádio e da fase ninfal. Quando foram observados os primeiros sinais de deterioração do disco foliar, a ninfa foi transferida para uma nova unidade experimental contendo novo disco foliar. Os dados relativos à duração de cada estádio e da fase ninfal foram submetidos à análise de variância (Teste F) e as médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Tukey. Foram também estimadas as curvas mais ajustadas ao desenvolvimento, suas equações de regressão e os respectivos coeficientes de determinação (R2). Para comparar a viabilidade dos estádios ninfais e da fase ninfal foi utilizado o teste Qui-Quadrado (χ2). O nível de significância dos testes foi de α = 5%. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A temperatura influenciou significativamente no desenvolvimento e na viabilidade ninfal de M. persicae (Tabelas 1, 2). Para o intervalo de temperaturas estudadas, em 30,4% e 4,2% das ninfas que completaram a fase ninfal observou-se um 5.º estádio, nas temperaturas de 15 e 20 ºC respectivamente (Tabela 1). Nas demais ninfas, mantidas a 15 e 20 ºC, observaram-se quatro estádios, assim como naquelas mantidas a 25 e 30 ºC, concordando com os resultados de DIXON (1987). A temperatura também influenciou na duração dos estádios ninfais de M. persicae (Tabela 1). A duração do 1.º estádio foi menor a 30 ºC (1,22 dia) e maior a 15 ºC (1,82 dia) e 20 ºC (1,83 dia). Esses resultados são semelhantes aos de NARVÁEZ e NOTZ (1993) que observaram duração média de 1,5 dia para ninfas dessa espécie mantidas sobre folhas de batata, sob temperatura média de 26,71 ± 3,02 ºC. Por outro lado, CIVIDANES e SOUZA (2003) obtiveram resultados superiores, variando de 3,1 a 4,3 dias para as temperaturas de 23 ºC e 15 ºC, respectivamente, sobre folhas de couve. A curva mais ajustada para a regressão entre as temperaturas e a duração do 1º estádio foi a polinomial de 1.º grau. A duração do 1.º estádio foi dependente da temperatura, visto que o aumento implica redução na duração do estádio (Figura 1A). No 2.º estádio ninfal, observou-se que as temperaturas de 15 e 20ºC proporcionaram as maiores durações, sendo de 2,01 e 1,72 dias respectivamente. Já as menores durações foram observadas a 25 e 30 ºC com 1,28 e 1,23 dia respectivamente (Tabela 1). A curva mais ajustada para a regressão entre as temperaturas e a duração do 2.º estádio do afídeo foi a polinomial de 1.º grau (Figura 1B). Em trabalhos realizados por TAMAKI et al. (1982) e CIVIDANES e SOUZA (2003) o aumento da temperatura também diminuiu o tempo de duração do 2.º estádio de M. persicae. Uma redução na duração do 3.º estádio ninfal em função da temperatura também foi observada. A maior duração (2,24 dias) ocorreu em ninfas mantidas a 15ºC. As menores durações foram observadas nas ninfas mantidas a 25 e 30 ºC, 1,31 e 1,27 dia respectivamente (Tabela 1). TAMAKI et al. (1982), ao estudarem M. persicae sobre plantas de batata em diferentes temperaturas, observaram duração de 1,6 dia para o 3.º estádio a 20 ºC. CIVIDANES e SOUZA (2003) observaram variações de 1,1 (25 ºC) a 2,3 dias (15 ºC). A curva mais ajustada para a regressão entre as temperaturas e o 3.º estádio foi a polinomial de 2.º grau; nota-se que a duração desse estádio diminui bastante quando se aumenta a temperatura de 15 para 25 ºC, mas diminui pouco de 25 para 30 ºC (Figura 1C). Durante o 4.º estádio ninfal, ocorreu duração significativamente menor (1,59 dias) nas ninfas mantidas na temperatura de 25 ºC do que aquelas mantidas a 15 e 30 ºC (2,49 e 3,73 dias) respectivamente (Tabela 1). CIVIDANES e SOUZA (2003), ao estudarem M. persicae sobre folhas de couve, observaram resultados superiores quanto à duração do 4.º estádio em diferentes temperaturas, a menor duração foi registrada a 23 ºC (1,6 dia) e a maior a 15 ºC (3,4 dias). NARVÁEZ e NOTZ (1993), utilizando folhas de batata em diferentes idades da planta, observaram que no 4.º estádio de M. persicae a duração foi de 1,6 dia, à temperatura média de 26,71 ± 3,02 ºC. Nesse estádio, as diferentes temperaturas estudadas influenciaram sobremaneira sua duração. A curva mais ajustada para a regressão entre as temperaturas e a duração do 4.º estádio foi a polinomial de 3.º grau, visto que o aumento de temperatura de 15 para 25 ºC ocasionou uma diminuição na duração do estádio e que o aumento de 25 para 30 ºC prolongou a duração do estádio (Figura 1D). As ninfas com um 5.º estádio nas temperaturas de 15 e 25 ºC duraram em média 2,56 e 2,56 dias respectivamente (Tabela 1). A duração da fase ninfal foi maior a 15 ºC (9,36 dias) e menor a 25 ºC (5,89 dias) (Tabela 1). Resultados inferiores foram observados por BASTOS et al. (1996) para ninfas de M. persicae mantidas a 25 ºC, com duração de 5 dias. NARVÁEZ e NOTZ (1993) obtiveram valores médios para a fase ninfal de 6,0 e 5,4 dias, para ninfas mantidas sobre folhas de batata e folhas de gergelim respectivamente. A curva mais ajustada para a regressão entre as temperaturas e a duração da fase ninfal de M. persicae foi a polinomial de 2.º grau. O aumento da temperatura de 15 para 25 ºC provocou redução da fase ninfal, e o aumento de 25 para 30 ºC prolongou a duração da mesma (Figura 1E). De acordo com WILSON e BARNETT (1983) considera-se o limite térmico superior de desenvolvimento de um inseto a temperatura na qual a velocidade de seu desenvolvimento começa a diminuir. Assim, o limite térmico superior de M. persicae sobre berinjela está na faixa de temperatura de 25 até próximo de 30 ºC. As diferenças verificadas na duração dos estádios ninfais de M. persicae em relação a outros trabalhos podem também estar relacionadas à diferença na planta hospedeira utilizada (WALE et al., 2000) e até mesmo em biótipos diferentes (TAMAKI et al., 1982). EBERT e CARTWRIGHT (1997) relatam ainda que, em um mesmo hospedeiro, diversos autores observaram resultados distintos, em função da variabilidade genética existente, que pode ser influenciada pelas diferenças no procedimento experimental. Segundo esses autores, as diferenças incluem o local onde foi realizada a pesquisa, o tipo de confinamento do afídeo (em discos de folhas, isolamento de toda a planta ou pequenas gaiolas nas folhas) e a idade da colônia do afídeo. No 1.º estádio de M. persicae ocorreu alta viabilidade em todas as temperaturas estudadas, sendo de 100% para ninfas mantidas a 15 ºC e 96% para aquelas mantidas nas demais temperaturas estudadas (Tabela 2). No 2.º estádio, a temperatura de 20 ºC proporcionou a maior viabilidade (100%). No 3.º e 4.º estádios, em ninfas mantidas a 30 ºC ocorreu menor viabilidade que aquelas mantidas nas demais temperaturas (Tabela 2). As ninfas que passaram pelo 5.º estádio apresentaram 100% de viabilidade (Tabela 2). A viabilidade da fase ninfal foi maior em ninfas mantidas a 15 e 20 ºC, em relação às ninfas mantidas a 25 e 30 ºC. Em ninfas mantidas a 30 ºC ocorreu uma alta mortalidade, e somente 8% atingiram a fase adulta (Tabela 2). CIVIDANES e SOUZA (2003), estudando M. persicae em diferentes temperaturas, observaram que a temperatura de modo geral influenciou a viabilidade dos estádios de M. persicae, principalmente as temperaturas mais elevadas. A mortalidade foi de 100%, à temperatura de 30 ºC, sugerindo que as ninfas dessa espécie não são adaptadas a essa temperatura. O mesmo resultado foi observado por BARLOW (1962), em que 100% das ninfas de M. persicae morreram sob temperatura de 30 ºC, tendo como substrato folhas de batata. Considerando que as cultivares comerciais de berinjela desenvolvem-se melhor na faixa compreendida entre as temperaturas de 18 e 30ºC, e que para o desenvolvimento ninfal de M. persicae as temperaturas de 15 e 20ºC são as ideais nesta cultura, torna-se necessário o monitoramento mais intenso das plantas de berinjela nessa faixa de temperatura, visando à adoção de estratégias de controle. 5. CONCLUSÕES 1. Dentro do intervalo de temperatura estudado, o desenvolvimento ninfal de M. persicae sobre discos de folhas de berinjela é favorecido na faixa de 15 e 20 ºC. 2. Nas temperaturas de 15 e 20 ºC, em algumas ninfas de M. persicae ocorreram cincos estádios ninfais. AGRADECIMENTO Os autores agradecem ao Prof. Dr. Francisco Jorge Cividanes, pela cooperação na análise dos dados. REFERÊNCIAS BARLOW, C.A. 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California Agriculture, Oakland, v.37, n.1/2, p.4-7, 1983. Recebido para publicação em 4 de junho de 2004 e aceito em 14 de março de 2005 257 Desenvolvimento ninfal de Myzus persicae DESENVOLVIMENTO NINFAL DE MYZUS PERSICAE (SULZER, 1776) (HEMIPTERA: APHIDIDAE) SOBRE BERINJELA EM DIFERENTES TEMPERATURAS (1) NORTON RODRIGUES CHAGAS FILHO (2 ); MARCOS DONISETI MICHELOTTO (2); RICARDO ADAIME DA SILVA (3 ); ANTONIO CARLOS BUSOLI (4 ) RESUMO Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de diferentes temperaturas no desenvolvimento ninfal de Myzus persicae sobre folhas de berinjela (Solanum melongena). O experimento foi desenvolvido em câmaras climatizadas, sob condições controladas de temperatura de 15, 20, 25 e 30 ± 1 oC, umidade relativa do ar de 70% ± 10% e fotofase de 12 horas. A biologia de M. persicae foi acompanhada sobre discos foliares de berinjela (3 cm de diâmetro) mantidos em placas de Petri contendo solução ágar-água a 1% geleificada. Foram estimadas as curvas mais ajustadas à duração dos estádios ninfais de M. persicae, suas equações de regressão e os respectivos coeficientes de determinação (R 2 ). O número de estádios ninfais foi afetado pela temperatura; a 15 e 20 o C, respectivamente, em 30,4% e 4,2% das ninfas observouse um estádio adicional. Afídeos mantidos a 30 o C apresentaram a menor viabilidade na fase ninfal (8%). A duração da fase ninfal foi de 9,4; 7,6; 5,9 e 7,0 dias, respectivamente, a 15, 20, 25 e 30 o C. As temperaturas de 15 e 20 o C foram as mais favoráveis para o desenvolvimento ninfal de M. persicae sobre discos de folha de berinjela. Palavras-chaves: Solanum melongena, afídeo-da-batatinha, biologia. ABSTRACT NYMPHAL DEVELOPMENT OF MYZUS PERSICAE (SULZER, 1776) (HEMIPTERA: APHIDIDAE) ON EGGPLANT AT DIFFERENT TEMPERATURES The objective of this work was to study the nymphal development of Myzus persicae on leaves of eggplant (Solanum melongena) at four constant temperatures. The experiment was carried out in the biocontrol laboratory, with the following controlled conditions: temperatures (15, 20, 25 and 30 o C ± 1 o C); relative humidity (70% ± 10%), and photophase (12 hours). The biology of M. persicae was followed on leaf discs (3 cm diameter) kept in Petri dishes containing a layer of agar-water (1%). It was evaluated the best fitted curve to the biological aspects of M. persicae, as well as their regression equations and respective determination coefficients (R 2). The number of nymphal stage was affected by temperature: 15 and 20 o C, resulted in 30.4% and 4.2% of nymphs showing an 5th nymphal stage, respectively. At 15, 20, 25 and 30 o C, nymphal phase lasted for 9.4; 7.6; 5.9 and 7.0 days, respectively. Temperatures of 15 and 20 o C were more favorable to nymphal development of M. persicae on leaf discs of eggplant. Key words: Solanum melongena, green peach aphid, biology. (1) Recebido para publicação em 4 de junho de 2004 e aceito em 14 de março de 2005. (2) Aluno do Programa de Pós-graduação em Entomologia Agrícola da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV/UNESP), Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, 14884-900 Jaboticabal, São Paulo, Brasil. Bolsista CAPES. E-mail: [email protected]; [email protected]. (3) Embrapa Amapá, Rodovia JK, km 5, 68903-000 Macapá, Amapá, Brasil. E-mail: [email protected] (4) Departamento de Fitossanidade da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV/UNESP). E-mail: [email protected] Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.257-262, 2005 258 N.R. Chagas Filho et al. 1. INTRODUÇÃO A berinjela (Solanum melongena L.) (Solanaceae), originária do Continente Asiático, é uma planta de hábito perene, porém cultivada como anual (FILGUEIRA, 2002). No Estado de São Paulo, ocupa uma área de 1.037 hectares, produzindo 47.549 toneladas e gerando 1.023 empregos diretos, tendo Campinas, Aguaí, São José do Rio Pardo e Monte Alto, como principais municípios produtores (CEASA, 2004). De acordo com BLACKMAN e E ASTOP (1984), os afídeos (Hemiptera: Aphididae) associados à cultura da berinjela são Aphis fabae, Aphis gossypii, Aulacorthum solani, Macrosiphum euphorbiae e Myzus persicae. No Brasil, M. persicae é relatado como praga na cultura, destacando-se por danificar direta e indiretamente as plantas de berinjela (P INTO et al., 2000). É o mais eficiente vetor do Potato Virus Y (PVY) pertencente ao gênero Potyvirus, que causa severos danos à cultura da berinjela, reduzindo drasticamente a produtividade na maioria das cultivares (P INTO et al., 2000). Os autores ainda relatam que as plantas infectadas por PVY apresentam folhas com sintomas de mosaico, amarelecimento e redução de tamanho, além de frutos pouco desenvolvidos. M. persicae é uma espécie polífaga, cosmopolita e pode transmitir mais de 100 vírus em diversas culturas (RADCLIFFE, 1982; BLACKMAN e EASTOP, 1984). Na cultura da batata, é considerado como o mais importante vetor de Popato Leafroll Virus (PLRV) e PVY. Além da transmissão dos vírus, altas populações de M. persicae podem ocasionar perdas até de 54% da massa seca de plantas de batata, decorrentes da ação toxicogênica da saliva, a qual ocasiona necroses, principalmente ao longo das nervuras (ILHARCO, 1992). Dentre os fatores que podem influenciar a bioecologia dos afídeos destaca-se a temperatura. Segundo E ASTOP (1977), a temperatura influi no tamanho das populações, na maturação das fêmeas, na taxa de reprodução, longevidade e dispersão. Dada a importância de M. persicae na cultura da berinjela e da possibilidade de transmitir vírus à cultura e a outras olerícolas, o objetivo deste trabalho foi estudar o desenvolvimento ninfal de M. persicae em laboratório, sob efeito de quatro temperaturas constantes (15, 20, 25 e 30 oC) tendo como substrato folhas de plantas de berinjela. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido no Laboratório de Controle Biológico de Insetos do Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.257-262, 2005 Departamento de Fitossanidade, setor de Entomologia da FCAV-UNESP em Jaboticabal (SP). Para a criação de manutenção e o estudo do desenvolvimento dos estádios ninfais de M. persicae foram utilizadas quatro câmaras climatizadas reguladas nas temperaturas de 15, 20, 25 e 30oC ± 1oC, umidade relativa do ar de 70% ± 10% e fotofase de 12 horas. As sementes de berinjela (cultivar Nápoli) foram semeadas em vasos de polietileno com capacidade para 5 litros, contendo terra, areia e esterco na proporção 2:1:1 e mantidos em gaiolas de 1,5 x 1,5 m revestidas com uma tela anti-afídeo. Os afídeos utilizados no experimento foram coletados em colônias presentes em plantas de berinjela no campo, e transferidos para plantas de 50 dias de idade com auxílio de um pincel, para a criação no laboratório. As folhas de berinjela utilizadas no ensaio foram previamente lavadas em água corrente e deixadas imersas em solução de hipoclorito de sódio a 1% por um minuto. Após a assepsia, as folhas foram secas em papel absorvente e, utilizando-se um vazador, foram obtidos os discos foliares. Para obtenção de adultos na fase reprodutiva, foram coletadas folhas de berinjela contendo afídeos provenientes das colônias de criação de manutenção, e levados até o laboratório. Para cada temperatura (15, 20, 25 e 30 o C) foram preparados três recipientes, destinados à criação dos adultos, que consistiram de placas de Petri (6 cm de diâmetro) contendo 15 mL de solução geleificada de ágar-água (1%) e um disco de folha de berinjela de 3 cm de diâmetro disposto no centro da placa. Em cada disco foram colocados, com auxílio de um pincel, cinco adultos ápteros de M. persicae. A tampa dessas placas continha uma abertura de 3 cm de diâmetro, coberta com uma tela anti-afídeo para permitir a aeração e evitar a fuga dos insetos. As placas foram identificadas e mantidas nas câmaras climatizadas. Foram realizadas três vistorias por dia para a obtenção das ninfas utilizadas no experimento. Cada unidade experimental foi composta de uma placa de Petri contendo um disco foliar, com a face abaxial voltada para cima, fixo no centro da placa sobre 10 mL de solução ágar-água. Apenas uma ninfa recém-nascida foi transferida por disco foliar. As avaliações foram realizadas a cada 12 horas, observando-se o número de estádios, a duração de cada estádio e da fase ninfal, assim como a viabilidade de cada estádio e da fase ninfal. Quando foram observados os primeiros sinais de deterioração do disco foliar, a ninfa foi transferida para uma nova unidade experimental contendo novo disco foliar. Os dados relativos à duração de cada estádio e da fase ninfal foram submetidos à análise de variância (Teste F) e as médias dos tratamentos Desenvolvimento ninfal de Myzus persicae comparadas pelo teste de Tukey. Foram também estimadas as curvas mais ajustadas ao desenvolvimento, suas equações de regressão e os respectivos coeficientes de determinação (R 2). Para comparar a viabilidade dos estádios ninfais e da fase ninfal foi utilizado o teste Qui-Quadrado (χ 2). O nível de significância dos testes foi de α = 5%. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A temperatura influenciou significativamente no desenvolvimento e na viabilidade ninfal de M. persicae (Tabelas 1, 2). Para o intervalo de temperaturas estudadas, em 30,4% e 4,2% das ninfas que completaram a fase ninfal observou-se um 5. o estádio, nas temperaturas de 15 e 20 o C respectivamente (Tabela 1). Nas demais ninfas, mantidas a 15 e 20 oC, observaram-se quatro estádios, assim como naquelas mantidas a 25 e 30 oC, concordando com os resultados de DIXON (1987). A temperatura também influenciou na duração dos estádios ninfais de M. persicae (Tabela 1). A duração do 1.o estádio foi menor a 30 oC (1,22 dia) e maior a 15 oC (1,82 dia) e 20 oC (1,83 dia). Esses resultados são semelhantes aos de N ARVÁEZ e N OTZ (1993) que observaram duração média de 1,5 dia para ninfas dessa espécie mantidas sobre folhas de batata, sob temperatura média de 26,71 ± 3,02 oC. Por outro lado, C IVIDANES e SOUZA (2003) obtiveram resultados superiores, variando de 3,1 a 4,3 dias para as temperaturas de 23 oC e 15 oC, respectivamente, sobre folhas de couve. A curva mais ajustada para a regressão entre as temperaturas e a duração do 1o estádio foi a polinomial de 1.o grau. A duração do 1. o estádio foi dependente da temperatura, visto que o aumento implica redução na duração do estádio (Figura 1A). No 2. o estádio ninfal, observou-se que as temperaturas de 15 e 20oC proporcionaram as maiores durações, sendo de 2,01 e 1,72 dias respectivamente. Já as menores durações foram observadas a 25 e 30 o C com 1,28 e 1,23 dia respectivamente (Tabela 1). A curva mais ajustada para a regressão entre as temperaturas e a duração do 2. o estádio do afídeo foi a polinomial de 1.o grau (Figura 1B). Em trabalhos realizados por TAMAKI et al. (1982) e CIVIDANES e SOUZA (2003) o aumento da temperatura também diminuiu o tempo de duração do 2.o estádio de M. persicae. Uma redução na duração do 3.o estádio ninfal em função da temperatura também foi observada. A maior duração (2,24 dias) ocorreu em ninfas mantidas a 15 oC. As menores durações foram observadas nas ninfas mantidas a 25 e 30 o C, 1,31 e 1,27 dia 259 respectivamente (Tabela 1). T AMAKI et al. (1982), ao estudarem M. persicae sobre plantas de batata em diferentes temperaturas, observaram duração de 1,6 dia para o 3.o estádio a 20 oC. CIVIDANES e SOUZA (2003) observaram variações de 1,1 (25 oC) a 2,3 dias (15 oC). A curva mais ajustada para a regressão entre as temperaturas e o 3. o estádio foi a polinomial de 2.o grau; nota-se que a duração desse estádio diminui bastante quando se aumenta a temperatura de 15 para 25 o C , m a s d i m i n u i p o u c o d e 2 5 p a r a 3 0 o C (Figura 1C). Durante o 4.o estádio ninfal, ocorreu duração significativamente menor (1,59 dias) nas ninfas mantidas na temperatura de 25 oC do que aquelas mantidas a 15 e 30 o C (2,49 e 3,73 dias) respectivamente (Tabela 1). C IVIDANES e SOUZA (2003), ao estudarem M. persicae sobre folhas de couve, observaram resultados superiores quanto à duração do 4. o estádio em diferentes temperaturas, a menor duração foi registrada a 23 oC (1,6 dia) e a maior a 15 o C (3,4 dias). NARVÁEZ e NOTZ (1993), utilizando folhas de batata em diferentes idades da planta, observaram que no 4. o estádio de M. persicae a duração foi de 1,6 dia, à temperatura média de 26,71 ± 3,02 oC. Nesse estádio, as diferentes temperaturas estudadas influenciaram sobremaneira sua duração. A curva mais ajustada para a regressão entre as temperaturas e a duração do 4. o estádio foi a polinomial de 3.o grau, visto que o aumento de temperatura de 15 para 25 oC ocasionou uma diminuição na duração do estádio e que o aumento de 25 para 30 oC prolongou a duração do estádio (Figura 1D). As ninfas com um 5.o estádio nas temperaturas de 15 e 25 oC duraram em média 2,56 e 2,56 dias respectivamente (Tabela 1). A duração da fase ninfal foi maior a 15 oC (9,36 dias) e menor a 25 oC (5,89 dias) (Tabela 1). Resultados inferiores foram observados por BASTOS et al. (1996) para ninfas de M. persicae mantidas a 25 oC, com duração de 5 dias. NARVÁEZ e NOTZ (1993) obtiveram valores médios para a fase ninfal de 6,0 e 5,4 dias, para ninfas mantidas sobre folhas de batata e folhas de gergelim respectivamente. A curva mais ajustada para a regressão entre as temperaturas e a duração da fase ninfal de M. persicae foi a polinomial de 2.o grau. O aumento da temperatura de 15 para 25 oC provocou redução da fase ninfal, e o aumento de 25 para 30 oC prolongou a duração da mesma (Figura 1E). De acordo com W ILSON e B ARNETT (1983) considera-se o limite térmico superior de desenvolvimento de um inseto a temperatura na qual a velocidade de seu desenvolvimento começa a diminuir. Assim, o limite térmico superior de M. persicae sobre berinjela está na faixa de temperatura de 25 até próximo de 30 oC. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.257-262, 2005 260 N.R. Chagas Filho et al. As diferenças verificadas na duração dos estádios ninfais de M. persicae em relação a outros trabalhos podem também estar relacionadas à diferença na planta hospedeira utilizada (W ALE et al., 2000) e até mesmo em biótipos diferentes (T AMAKI et al., 1982). E BERT e C ARTWRIGHT (1997) relatam ainda que, em um mesmo hospedeiro, diversos autores observaram resultados distintos, em função da variabilidade genética existente, que pode ser influenciada pelas diferenças no procedimento experimental. Segundo esses autores, as diferenças incluem o local onde foi realizada a pesquisa, o tipo de confinamento do afídeo (em discos de folhas, isolamento de toda a planta ou pequenas gaiolas nas folhas) e a idade da colônia do afídeo. No 1. o estádio de M. persicae ocorreu alta viabilidade em todas as temperaturas estudadas, sendo de 100% para ninfas mantidas a 15 oC e 96% para aquelas mantidas nas demais temperaturas estudadas (Tabela 2). No 2.o estádio, a temperatura de 20 oC proporcionou a maior viabilidade (100%). No 3.o e 4. o estádios, em ninfas mantidas a 30 oC ocorreu menor viabilidade que aquelas mantidas nas demais temperaturas (Tabela 2). As ninfas que passaram pelo 5.o estádio apresentaram 100% de viabilidade (Tabela 2). Tabela 1. Duração média (em dias) dos estádios ninfais e da fase ninfal de Myzus persicae sobre folhas de berinjela em diferentes temperaturas. Jaboticabal (SP), 2003 Estádios ninfais Temperatura 1. 15°C 20°C 25°C o 2. o 3.o 4.o 5.o 1,82 ± 0,14 a 2,01 ± 0,12 a 2,24 ± 0,06 a 2,49 ± 0,15 ab 2,56 ± 0,18 9,36 ± 0,17 a (n=25) (n=23) (n=23) (n=23) (n=7) (n=23) 1,83 ± 0,09 a 1,72 ± 0,07 a 1,78 ± 0,06 b 2,12 ± 0,50 bc 2,56 ± 0,00(n=1) 7,55 ± 0,11 b (n=24) (n=24) (n=24) (n=24) (n=1) (n=24) 1,60 ± 0,14 ab 1,28 ± 0,12 b 1,31 ± 0,08 c 1,59 ± 0,12 c (n=24) (n=20) (n=19) (n=17) 1,22 ± 0,06 b 1,23 ± 0,90 b 1,27 ± 0,17 c (n=24) (n=17) (n=8) Teste F 6,31** 12,87** C.V. (%) 34,31 29,45 30°C Fase ninfal - (1) 5,89 ± 0,16 - (n=17) 3,73 ± 2,04 a - - 7,00 ± 2,04 bc (n=2) - (n=2) 32,68** 10,53** - 67,14** 19,29 29,66 - 9,98 Média ± erro padrão. Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5%. ( 1 ) Não houve ninfas de 5. o estádio nas temperaturas de 25 e 30 o C. n= número de repetições. Tabela 2. Viabilidade dos estádios ninfais e da fase ninfal de Myzus persicae sobre folhas de berinjela em diferentes temperaturas. Jaboticabal (SP), 2003 Estádios ninfais Temperatura Fase ninfal 1.o 2.o 3.o 4.o 5.o 15 o C 100,0% a 92,0% ab 100,0% a 100,0% a 100,0% 92,0% a 20 o C 96,0% a 100,0% a 100,0% a 100,0% a 100,0% 96,0% a 25 o C 96,0% a 80,0% b 95,0% a 89,5% a 30 o C 96,0% a 70,8% b 47,0% b 1,03 ns 9,70* 34,56** χ2 ns (1) 68,0% b 25,0% b - 8,0% c 39,88** - 55,08** - : não significativo; **, *: significativo a 1% e a 5% de probabilidade respectivamente. Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste Qui-Quadrado a 5% de probabilidad e. ( 1 ) Não houve ninfas de 5 o estádio nas temperaturas de 25 e 30 o C. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.257-262, 2005 261 Desenvolvimento ninfal de Myzus persicae 1°. estádio 2°. estádio 2,0 2,4 y = -0,0406x + 2,531 2 R = 0,8428 1,9 y = -0,0556x + 2,811 2 R = 0,9302 2,2 1,7 Duração (dias) Duração (dias) 1,8 1,6 1,5 1,4 1,3 1,2 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,1 1,0 1,0 10 15 20 o Temperatura ( C) 25 30 10 35 15 35 y = 0,0038x3 - 0,2296x2 + 4,4717x - 25,66 2 R =1 5,0 4,0 2,0 Duração (dias) Duração (dias) 30 4°. estádio 2 y = 0,0042x - 0,2566x + 5,166 2 R = 0,9845 2,2 25 o 3°. estádio 2,4 20 Temperatura ( C) 1,8 1,6 1,4 3,0 2,0 1,2 1,0 10 15 20 25 30 35 o 1,0 10 Temperatura ( C) 15 20 25 30 35 o Temperatura ( C) Fase ninfal 10,0 2 y = 0,0292x - 1,4888x + 25,253 2 R = 0,9455 Duração (dias) 9,0 8,0 7,0 6,0 5,0 10 15 20 25 30 35 o Temperatura ( C) Figura 1. Curva ajustada para a regressão entre a temperatura e a duração do 1. o (A) , 2. o (B), 3. o (C) e 4. o (D) estádios ninfais e a fase ninfal (E) de Myzus persicae sobre folhas de berinjela. Jaboticabal (SP), 2003. A viabilidade da fase ninfal foi maior em ninfas mantidas a 15 e 20 oC, em relação às ninfas mantidas a 25 e 30 oC. Em ninfas mantidas a 30 oC ocorreu uma alta mortalidade, e somente 8% atingiram a fase adulta (Tabela 2). CIVIDANES e SOUZA (2003), estudando M. persicae em diferentes temperaturas, observaram que a temperatura de modo geral influenciou a viabilidade dos estádios de M. persicae, principalmente as temperaturas mais elevadas. A mortalidade foi de 100%, à temperatura de 30 oC, sugerindo que as ninfas dessa espécie não são adaptadas a essa temperatura. O mesmo resultado foi observado por BARLOW (1962), em que 100% das ninfas de M. persicae morreram sob temperatura de 30 oC, tendo como substrato folhas de batata. Considerando que as cultivares comerciais de berinjela desenvolvem-se melhor na faixa compreendida entre as temperaturas de 18 e 30°C, e que para o desenvolvimento ninfal de M. persicae as temperaturas de 15 e 20°C são as ideais nesta cultura, torna-se necessário o monitoramento mais intenso das plantas de berinjela nessa faixa de temperatura, visando à adoção de estratégias de controle. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.257-262, 2005 262 N.R. Chagas Filho et al. 5. CONCLUSÕES 1. Dentro do intervalo de temperatura estudado, o desenvolvimento ninfal de M. persicae sobre discos de folhas de berinjela é favorecido na faixa de 15 e 20 oC. 2. Nas temperaturas de 15 e 20 oC, em algumas ninfas de M. persicae ocorreram cincos estádios ninfais. AGRADECIMENTO Os autores agradecem ao Prof. Dr. Francisco Jorge Cividanes, pela cooperação na análise dos dados. REFERÊNCIAS BARLOW, C.A. 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E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected] IICentro de Energia Nuclear na Agricultura, Laboratório de Nutrição Mineral de Plantas, USP, 13400-961 Piracicaba (SP). E-mail: aeboaret@cena,usp.br IIIBolsista CAPES RESUMO A mistura de uréia com fertilizantes de características ácidas aplicada ao solo pode aumentar a concentração de íons H+ próximos do grânulo e promover a redução da perda de N por volatilização. O experimento foi desenvolvido em vasos com 15 kg de Latossolo Vermelho textura média, sob túnel plástico, em Botucatu (SP), nos quais foram crescidas plantas de milho (duas plantas por vaso) até o pendoamento (66 dias após a emergência - DAE). Como tratamentos foi realizada a adubação (100 mg dm-3 N), no estádio de cinco folhas (30 DAE) utilizando os seguintes fertilizantes ou misturas físicas: (1) uréia (UR), enriquecida com 15N; (2) sulfato de amônio (SA), enriquecido com 15N; (3) sulfnitro (80% de N-UR e 20% de N-SA no mesmo grânulo); (4) mistura de UR (80% N) e SA (20% N e enriquecido com 15N); (5) mistura de UR (50% N) e SA (50% N), enriquecidos com 15N; (6) mistura de UR (50% N) e SA (50% N e enriquecido com 15N), (7) mistura de UR (50% N) e SA (50% N), enriquecido com 15N, diluídos em água (solução contendo 3% de N) e mais um tratamento que não recebeu N. A mistura de UR e SA não promoveu aumento na recuperação do N da uréia na planta de milho. Do total de 15N-fertilizante aplicado, aproximadamente, 67% foram recuperados pela planta de milho (29% nas folhas, 25% no caule e 13% nas raízes) e 6% no solo, com uma perda estimada de 27%. O 15N da uréia foi recuperado em menor quantidade no caule em relação ao N do sulfato de amônio. Palavras-chave: Zea mays L., 15N, fertilizante nitrogenado, volatilização. ABSTRACT The mixture of urea with fertilizers with acid characteristics applied to the soil can increase the ions H+ concentration close of the granule and promote the reduction of N volatilization losses. The experiment was carried out in pots with 15 kg of a medium textured Red Latossol, under plastic tunnel, in Botucatu, State of São Paulo, in which corn plants were grown (two plants per pot) until tasseling (66 days after emergency - DAE). The treatments comprised application of N-fertilizer (100 mg N dm-3), at the five-leaves stage (30 DAE), using the following fertilizers or mixtures: (1) urea (UR) enriched with 15N; (2) ammonium sulphate (AS) enriched with 15N; (3) "sulfnitro" (80% of N-UR and 20% of N-AS in the same granule); (4) mixture of UR (80% N) and AS (20% N and enriched with 15N); (5) mixture of UR (50% N) and AS (50% N) both enriched with 15N; (6) mixture of UR (50% N) and AS (50% N and enriched with 15N) and (7) mixture of UR (50% N); AS (50% N), both enriched with 15N, diluted in water (solution containing 3% of N), plus a treatment did not receive N. The mixture UR and AS did not affect N recovery by corn plant. Of the total 15N applied, about 67% were recovered by the corn plant (29% in the leaves, 25% in the stem and 13% in the roots) and 6% in the soil, with an estimated loss of 27%. The 15N of urea was recovered in smaller amount in the stem in relation to that from ammonium sulphate. Key words: Zea mays L., 15N, nitrogen fertilizer, volatilization. 1.INTRODUÇÃO A recuperação do nitrogênio dos fertilizantes nitrogenados, pelas plantas, é relativamente baixa, alcançando em muitos casos menos que 50% (RAO et al., 1992). COELHO et al. (1991) utilizando 60 kg ha-1 de N obtiveram recuperação de 60% do nitrogênio aplicado como uréia na cultura do milho. No entanto, quando as doses de N são maiores, a recuperação do N tende a diminuir, como observado por MELGAR et al. (1991) e GROVE et al. (1980), que obtiveram 36% e 40% de recuperação do N, aplicado na cultura do milho, na forma de uréia, nas doses de 120 e 140 kg ha-1 de N respectivamente. A baixa eficiência de recuperação do N do fertilizante tem sido atribuída, principalmente, às perdas gasosas do N (volatilização e desnitrificação). As perdas do fertilizante nitrogenado por desnitrificação têm sido estimadas em menos de 10% na cultura do milho (HILTON et al., 1994), porém, a perda de NH3 por volatilização, quando a uréia, fonte nitrogenada mais comercializada no País (ANDA, 2001), não é enterrada ou incorporada ao perfil do solo pela água da chuva ou irrigação, pode atingir de 31% a 78% do total de N aplicado (LARA CABEZAS et al., 1997). A volatilização da NH3 da uréia resulta de alcalinização da solução próxima ao grânulo durante sua hidrólise. RODRIGUES E KIEHL (1992), em estudo de distribuição e nitrificação da amônia proveniente da uréia aplicada ao solo, determinaram na camada próxima à aplicação do fertilizante, aumento do pH de 6,9 para 8,7. Com a elevação do pH, a conversão do NH3 a NH4+, torna-se dificultada pela falta de íons H+, aumentando a concentração de NH3 próximo do grânulo de uréia e a chance de ocorrer a volatilização da NH3. A mistura da uréia com fertilizantes de características ácidas, aplicada ao solo pode aumentar a concentração de íons H+ próximos do grânulo e promover a diminuição das perdas de N por volatilização. Dentre os fertilizantes nitrogenados mais utilizados, o sulfato de amônio é a fonte de nitrogênio com caráter mais ácido, além de não sofrer volatilização do nitrogênio amoniacal quando o pH é inferior a 7 (VOLK, 1959). De acordo com VITTI et al. (2002), a mistura de uréia com sulfato de amônio, na proporção de 1,1:1, reduziu as perdas de amônia sem afetar a qualidade da mistura em relação aos atributos físico-químicos. Em uma mistura de uréia e sulfato de amônio, no mesmo grânulo, respectivamente, nas proporções de 59,6% e 40,4%, LARA CAbezas et al. (1992) observaram menores perdas de amônia se comparada com uréia de diferentes granulometrias. As perdas menores de NH3 da uréia ocorreram em virtude, provavelmente, da reação acidificante do sulfato de amônio, próximo do grânulo, que pode neutralizar o efeito local de elevação do pH provocado pela hidrólise da uréia. Segundo WATSON (1988), o N da uréia quando misturado ao do sulfato de amônio na proporção 1:1 (peso/peso) contendo 68,5% de N-NH2 e 31,5 de N-NH4+, foi recuperado pela planta de Lolium cerca de 38% a mais em relação à aplicação de uréia sozinha. Por outro lado, na mistura, houve uma redução na recuperação do N do sulfato de amônio em 14% em relação à aplicação somente do sulfato de amônio. Portanto, houve aumento de recuperação do N da mistura de 24%, visto que ocorreu interação entre as fontes nitrogenadas. Embora haja trabalhos evidenciando a redução nas perdas de N-NH3 por volatilização, quando a uréia é misturada com o sulfato de amônio poucos são os trabalhos que estudam os efeitos dessa mistura na recuperação do N do fertilizante pelos órgãos da planta, no caso o milho. Nesse contexto da adição de sulfato de amônio em mistura com uréia diminuir as perdas por volatilização realizou-se o presente experimento, com o objetivo de estudar a melhor proporção (20% e 50% de sulfato de amônio) e tipo (mistura física, no mesmo grânulo ou em solução) da mistura sulfato de amônio-uréia, aplicado na superfície do solo, para melhorar a recuperação do nitrogênio por plantas de milho. 2.MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em vasos plásticos contendo 15 kg de Latossolo Vermelho textura média, alocados em um túnel plástico (tipo arco com 20 m de comprimento, 7 m de largura e 2,5 m de altura), localizado na Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu, SP (22º51'S, 48º26W; altitude de 786 m). Um mês após a correção da acidez com a aplicação de calcário, foram observadas no solo as seguintes características químicas, de acordo com Raij et al. (1987): pH (CaCl2) de 5,7; 20 g dm-3 de M.O.; 84 mg dm-3 de P (resina); 20; 0,1; 43; 20 e 83 mmolc dm-3 de H++Al3+, K+, Ca2+, Mg2+ e CTC respectivamente e saturação por bases de 76%. Foram aplicados ao solo, como adubação de base, o superfosfato simples e o cloreto de potássio para elevar os teores de P e K para 200 e 100 mg dm-3 respectivamente. Os vasos foram dispostos em arranjo inteiramente casualizados com três repetições e cada vaso continha duas plantas, constituindo a parcela experimental. Como tratamento, foi realizada a adubação em cobertura utilizando os seguintes fertilizantes: (1) 100% de uréia, enriquecida com 15N; (2) 100% de sulfato de amônio, enriquecido com 15N; (3) sulfnitro contendo 80% de N na forma de uréia e 20% na forma de sulfato de amônio, no mesmo grânulo; (4) mistura física de uréia e sulfato de amônio (enriquecido com 15N), na proporção de 80% do N-uréia e 20% do N-sulfato de amônio; (5) mistura física de uréia e sulfato de amônio (ambos enriquecidos com 15N), na proporção de 50% do N-uréia e 50% do N-sulfato de amônio; (6) mistura física de uréia e sulfato de amônio (enriquecido com 15N), na proporção de 50% do N-uréia e 50% do N-sulfato de amônio e (7) mistura física de uréia e sulfato de amônio (ambos enriquecido com 15N), na proporção de 50% do N-uréia e 50% do Nsulfato de amônio, diluídos em água (solução contendo 3% de N). Adotou-se mais um tratamento cujas plantas não receberam adubação nitrogenada (testemunha). A uréia e o sulfato de amônio enriquecidos apresentavam, respectivamente, 5,0 e 3,0% de 15N, provenientes da SHOKO CO. LTDA, Tóquio, Japão. Os fertilizantes e as misturas foram analisados quanto ao teor de N e de S, segundo método de BRASIL (1988), e a abundância de 15N. Para a semeadura, foi utilizado o milho híbrido XL 678, em espaçamento de 20 cm entre plantas e as linhas de vasos ficaram distantes de 1,0 m. A adubação nitrogenada foi realizada no estádio de cinco folhas, aos 30 dias após a emergência, sobre a superfície do solo, na dose de 1,5g de N por vaso (100 mg dm-3 de N). Após a adubação, foi aplicada a irrigação com uma lâmina aproximada de 4 mm. Juntamente com a adubação de semeadura , foi aplicado o sulfato de cálcio nos vasos que não receberam enxofre nos tratamentos ou cuja quantidade foi inferior à recebida no tratamento com sulfato de amônio. O teor de água no solo foi mantido em 70% do total retido a tensão de 0,033 MPa, regulada por pesagens diárias de vasos sem tratamento, específicos para esse objetivo. As plantas foram cortadas rente ao solo, no pendoamento (66 dias após a emergência), separando a parte aérea em folhas e colmo. O solo e as raízes foram espalhados em um plástico, no qual o solo foi homogeneizado para a retirada de uma amostra para determinar o teor de N e a abundância de 15N, e as raízes separadas do solo por peneiramento e lavagem com água. Todo o material vegetal foi lavado e seco em estufa para avaliação da fitomassa seca. Nas folhas e no colmo foram determinados os teores de N e S, segundo método adaptado de MALAVOLTA et al. (1997). O teor de N total no solo foi determinado pelo método modificado de macroKjeldahl, utilizando permanganato de potássio e ferro reduzido em solução digestora de ácido sulfúrico, para incluir nitrito e nitrato, de acordo com BURESH et al. (1982) e STUMPE et al. (1985). Nas amostras de planta e solo dos tratamentos com fertilizante enriquecido com 15N foram realizadas as determinações de abundância de 15N (% de átomos), de acordo com o método de RITTEMBERG descrito por TRIVELLIN et al. (1973), em espectrômetro de massa pertencente ao Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP). A recuperação (%) do N-fertilizante marcado com 15N foi calculado pelas equações: em que: R é a recuperação porcentual do N-fertilizante marcado com 15N; Qnppf, quantidade de N da planta proveniente do fertilizante marcado (15N) (mg vaso-1); Qnaf, a dose de fertilizante (mg vaso-1); A e B, abundância de 15N da planta e do fertilizante (% de átomos) respectivamente; C, a abundância natural de 15N (% de átomos) e NT, a quantidade de N na planta (mg vaso-1). Os resultados foram submetidos à análise de variância utilizando o teste F a 5%, e para as causas de variação em que o F apresentou valor significativo, realizou-se o teste de Tukey (p = 0,05) para comparação das médias dos tratamentos. Aplicou-se a análise de regressão linear adotando como variável independente à porcentagem de N-amídico (0%, 50%, 80% e 100%) no fertilizante ou na mistura física de fertilizante. Todas as análises foram processadas no programa ESTAT versão 2.0 (UNESP, 1994). 3.RESULTADOS E DISCUSSÃO A falta de resposta à adubação nitrogenada na produção de fitomassa seca total nos diferentes órgãos (Tabela 1), talvez tenha sido devido à contribuição do N do solo (Figura 1) cujo teor de matéria orgânica era de 20 mg dm-3. De acordo com a figura 1, a contribuição do N no solo, de 43%, em média, foi semelhante ao obtido por ULLOA et al. (1982), mas acima do obtido por MIRANDA FLORES (1986), de 33%. Provavelmente, o N do solo tenha sido suficiente para atender a demanda de N pela planta até o pendoamento (66 dias após a emergência - DAE). Embora a absorção do N seja mais intensa no período entre 40 e 60 DAE, a planta de milho assimila cerca de 50% do N que necessita após o início do florescimento (CANTARELLA, 1993). No fim do experimento, a deficiência de nitrogênio nas plantas do tratamento testemunha pode ser comprovada pelo teor de N na parte aérea (folha + caule) de 0,5 g kg-1 de N, bem abaixo das plantas dos outros tratamentos que apresentaram um teor de 1,0 g kg1 de N semelhante ao encontrado por ANDRADE et al. (1975) aos 65 DAE e REICHARDt et al. (1979) aos 77 DAE. Possivelmente, diferenças no acúmulo de fitomassa seca, em relação à testemunha, ocorreriam se o experimento se prolongasse por um tempo maior. No entanto, quando se comparou a porcentagem de N-amídico no fertilizante aplicado em cobertura (0%, 50%, 80% e 100%) e a fitomassa seca de folha e caule do milho, obteve-se uma relação significativa e negativa, ou seja, à medida que se aumentou a proporção de uréia, foi obtida menor fitomassa seca de folha e caule (Tabela 1 e Figura 2). Essa relação sugere que o N do sulfato de amônio teve maior influência sobre a produção de fitomassa seca da parte aérea do que o N da uréia, talvez por ser menos perdido por volatilização e proporcionar maior disponibilidade de N para o acúmulo de fitomassa, como observado por VITTI et al. (2002). Não houve correlação entre a porcentagem de N-amídico (uréia) e a quantidade de N nos órgãos e, portanto, a relação negativa existente entre a proporção de uréia e a fitomassa seca da folha e do caule (Figura 2) não pode ser atribuída à quantidade de N nesses órgãos, uma vez que, a quantidade de nitrogênio diferiu apenas entre as plantas que receberam N em cobertura e a testemunha (Tabela 1). Logo, as várias misturas de uréia e sulfato de amônio não promoveram incremento na quantidade de nitrogênio absorvido pela planta de milho em relação ao uso somente de uréia. De acordo com CANTARELLA e RAIJ (1986) as diferenças observadas ocasionalmente entre as fontes de nitrogênio podem estar relacionadas a outros elementos nos fertilizantes, como é o caso do enxofre no sulfato de amônio, ou ao efeito que alguns fertilizantes nitrogenados exercem sobre o solo. A quantidade de enxofre na planta foi maior em plantas que receberam somente sulfato de amônio em relação às plantas que receberam uréia, e as misturas dos dois fertilizantes, que por sua vez foi maior que nas plantas da testemunha (Tabela 1). Verifica-se que o sulfato de amônio foi mais eficiente que o sulfato de cálcio no fornecimento de enxofre para a planta, em virtude, provavelmente, de o sulfato de cálcio apresentar menor solubilidade (2,1g L-1) que o sulfato de amônio (754 g L-1) (MELGAR et al., 1999) e por ter sido misturado ao solo, enquanto o sulfato de amônio foi aplicado em cobertura (maior concentração de S). Além disso, a concentração de Ca2+ no solo, elevada pela calagem, pode ter reduzido ainda mais a solubilização do gesso. As plantas do tratamento testemunha também receberam a aplicação do sulfato de cálcio, mas a quantidade de enxofre na planta de milho foi significativamente menor em relação à dos demais tratamentos, sugerindo que a falta de nitrogênio afetou a absorção de S como observado também por DAIGGER e FOX (1971). Também não houve correlação entre a porcentagem de N-amídico (uréia) e a quantidade de S nos órgãos (Tabela 1). A tendência de maior fitomassa seca de folhas e caule com a maior porcentagem de N-amoniacal (vindo do sulfato de amônio) na mistura de fertilizantes (Figura 2) não ocorreu, em virtude da maior assimilação de S. SEGUNDO ANTI et al. (2001), o amônio é assimilado mais rapidamente (menor energia) que o nitrato e ou a uréia, sobrando mais energia (carboidrato) para ser utilizada no acúmulo de fitomassa do caule e da folha, podendo ser uma das causas de haver uma relação negativa entre a porcentagem de N-amídico (uréia) e a fitomassa seca de folha e caule. A quantidade de 15N aplicada foi suficiente para marcar de modo adequado os órgãos da planta de milho, pois as porcentagens de átomos de 15N em excesso foram maiores às consideradas naturais para as condições estudadas (Tabela 2). Embora pouco significativo, ocorreu o enriquecimento de 15N nas plantas do tratamento testemunha, provavelmente, devido à perda de 15N na forma gasosa nos tratamentos marcados e que esses gases foram reabsorvidos pela folhagem do milho. A disposição das plantas distantes 20 cm na linha e 1,0 m na entrelinha, a aplicação do fertilizante espalhado na superfície do solo do vaso, além das plantas estarem em um ambiente fechado (estufa) podem ter favorecido essa reabsorção. CATCHPOOLE et al. (1993) encontraram cerca de 5% de 15N nas plantas ao redor das microparcelas onde foi aplicado o 15N em faixa de 10 cm. Do N aplicado, em média, 29% foi encontrado nas folhas, 25% no caule e 13% na raiz (Tabela 2). O aproveitamento do N dos fertilizantes pela planta variou de 63% a 71%, sendo esses valores semelhantes aos obtidos por MIRANDA FLORES (1986), em condições de vaso. No entanto, esses valores foram maiores que os observados em experimentos em campo, talvez por não levarem em conta a contribuição do sistema radicular devido à dificuldade de avaliação (ULLOA et al, 1982; VILLAS BÔAS, 1990). A porcentagem do N do fertilizante que permaneceu no solo foi, em média, de 6%, totalizando, portanto, uma recuperação solo-planta de 73%, o que permite estimar a perda média de nitrogênio aplicado de 27% (Tabela 2). Uma vez que o experimento foi realizado em vaso, condição em que perdas por lixiviação não devem ocorrer, a diferença do nitrogênio aplicado em relação ao recuperado pode ser atribuído às perdas gasosas. As perdas por volatilização, quando da utilização do sulfato de amônio, são em torno de 4% a 10% do N aplicado na superfície em sistema de plantio convencional e direto respectivamente (LARA CABEZAS et al., 1997). No entanto, 23% do N aplicado, na forma de sulfato de amônio, foi perdido do sistema solo-planta. A recuperação incompleta do 15N aplicado em experimentos em vasos foi atribuída ao processo de desnitrificação de acordo com CLOUGH et al. (2001) que recuperaram 96,9% do 15N aplicado na forma de nitrato de potássio e destes 23% do 15N foi recuperado na forma de N e N2O. A perda do 15N do sistema solo planta pode ocorrer também pela volatilização de amônia das folhas em virtude da redução na síntese das enzimas responsáveis pela assimilação da amônia no metabolismo do N (HOLTAN-HARTWIG e BOCKMAN, 1994). No entanto, esse tipo de perda, provavelmente, não ocorreu no presente experimento, pois, foi conduzido até o pendoamento. Segundo SHARPE e HARPER (1997) esta perda ocorre quando as folhas entram na senescência, da antese até a colheita, variando de 10% a 23% do 15N aplicado através da folhagem das plantas de milho. Ao contrário do que tem sido observado na literatura (COELHO et al., 1992; Lara Cabezas et al., 1997) não houve diferença entre a recuperação, pelas plantas de milho, do N fornecido como uréia ou sulfato de amônio (Tabela 2). Um dos principais fatores que podem ter contribuído para não haver diferença foi a irrigação realizada após a adubação, na qual foi aplicada uma lâmina de 4 mm (250 ml por vaso). A aplicação de uma lâmina de 4 m de água até 3 horas após a aplicação de 100 kg ha-1 de N, na forma de uréia, aplicado na superfície de pasto, pode reduzir a volatilização da amônia para 8% do N aplicado (HAYNES, 1986). Segundo HOFF et al. (1981) a aplicação do adubo em área total seguido de irrigação, como foi realizado no experimento, pode reduzir a concentração de NH4+ no solo diminuindo as chances de perdas por volatilização. Como o experimento foi realizado em ambiente fechado, a ausência de vento também pode ter contribuído para menor perda por volatilização da uréia. Além disso, a incorporação do gesso nos tratamentos com uréia, para complementar a quantidade de S aplicada nos tratamentos que receberam sulfato de amônio, pode ter diminuído também a volatilização de N-NH3 da uréia. Segundo ZIA et al. (1999) em um estudo de incubação utilizando fontes de N, no Paquistão, a incorporação de gesso reduziu significativamente as perdas de amônia por volatilização. Somente no caule puderam ser observadas diferenças na recuperação do 15N pela planta, principalmente entre as plantas que receberam somente sulfato de amônio e aquelas que receberam a mistura de sulfato de amônio (20%) com uréia (80%) (Tabela 2). A relação negativa existente entre a porcentagem de N-amídico (uréia) e a recuperação de N no caule sugerem uma melhoria na recuperação do nitrogênio pela planta quanto maior a proporção de N-amoniacal (Figura 3). Provavelmente, esse efeito foi observado no caule porque 70% do N acumulado neste órgão foram provenientes do fertilizante (Figura 1), além do que, aos 66 DAE, parte do N foi transportado para as inflorescências que foram computadas como fitomassa do caule. Os valores de recuperação do 15N nas plantas que receberam todo o N enriquecido foram muito próximos, porém, diferentes em relação aos órgãos da planta. A distribuição percentual do N recuperado do fertilizante (média dos três tratamentos com todo N enriquecido) nos órgãos da planta de milho e no solo foi em média de 40% nas folhas, 34% no caule, 17% nas raízes e 9% no solo. 4.CONCLUSÕES 1. A mistura de uréia e sulfato de amônio não promoveu aumento na recuperação do N da uréia determinado na planta de milho. 2. Do total de 15N aplicado, aos 66 dias após a emergência (pendoamento), aproximadamente, 67% foi recuperado pela planta de milho (29% nas folhas, 25% no caule e 13% nas raízes) e 6% no solo, com uma perda estimada de 27%. 3. O 15N da uréia foi recuperado em menor quantidade no caule em relação ao N proveniente do sulfato de amônio. REFERÊNCIAS ANDRADE, A.G.; HAAG, H.P.; OLIVEIRA, G.D. Acumulação diferencial de nutrientes por cinco cultivares de milho (Zea mays L.) I. Acumulação de mcronutrientes. Anais da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Piracicaba, v.32, p.115-149, 1975. ANDA, Associação Nacional para Difusão de Adubos e Corretivos Agrícolas. Anuário estatístico do setor de fertilizantes. São Paulo: Anda, 2001. 159p. ANTI, A.B.; MORTATTI, J.; TRIVELIN, P.C.O.; BANDASSOLLI, J.A. Radicular uptake kinetics of 15NO -, CO(15NH ) , and 15NH + in whole rice plant. Journal of Plant Nutrition, Madison, 3 2 2 4 v.24, n.11, p.1695-1710, 2001. BRASIL. Ministério da Agricultura. 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Recebido para publicação em 15 de dezembro de 2003 e aceito em 10 de janeiro de 2005 263 Recuperação do nitrogênio por plantas do milho FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS RECUPERAÇÃO DO NITROGÊNIO DA MISTURA DE URÉIA E SULFATO DE AMÔNIO POR PLANTAS DO MILHO (1) ROBERTO LYRA VILLAS BÔAS (2); ANTONIO ENEDI BOARETTO (3); LEANDRO JOSÉ GRAVA DE GODOY (2,4) ; DIRCEU MAXIMINO FERNANDES (2) RESUMO A mistura de uréia com fertilizantes de características ácidas aplicada ao solo pode aumentar a concentração de íons H+ próximos do grânulo e promover a redução da perda de N por volatilização. O experimento foi desenvolvido em vasos com 15 kg de Latossolo Vermelho textura média, sob túnel plástico, em Botucatu (SP), nos quais foram crescidas plantas de milho (duas plantas por vaso) até o pendoamento (66 dias após a emergência - DAE). Como tratamentos foi realizada a adubação (100 mg dm -3 N), no estádio de cinco folhas (30 DAE) utilizando os seguintes fertilizantes ou misturas físicas: (1) uréia (UR), enriquecida com 15N; (2) sulfato de amônio (SA), enriquecido com 15N; (3) sulfnitro (80% de N-UR e 20% de N-SA no mesmo grânulo); (4) mistura de UR (80% N) e SA (20% N e enriquecido com 15N); (5) mistura de UR (50% N) e SA (50% N), enriquecidos com 15N; (6) mistura de UR (50% N) e SA (50% N e enriquecido com 15N), (7) mistura de UR (50% N) e SA (50% N), enriquecido com 15N, diluídos em água (solução contendo 3% de N) e mais um tratamento que não recebeu N. A mistura de UR e SA não promoveu aumento na recuperação do N da uréia na planta de milho. Do total de 15 N-fertilizante aplicado, aproximadamente, 67% foram recuperados pela planta de milho (29% nas folhas, 25% no caule e 13% nas raízes) e 6% no solo, com uma perda estimada de 27%. O 15 N da uréia foi recuperado em menor quantidade no caule em relação ao N do sulfato de amônio. Palavras-chave: Zea mays L., 15 N, fertilizante nitrogenado, volatilização. ABSTRACT NIITROGEN RECOVERY OF UREA - AMMONIUM SULPHATE MIXTURES BY CORN PLANTS The mixture of urea with fertilizers with acid characteristics applied to the soil can increase the ions H + concentration close of the granule and promote the reduction of N volatilization losses. The experiment was carried out in pots with 15 kg of a medium textured Red Latossol, under plastic tunnel, in Botucatu, State of São Paulo, in which corn plants were grown (two plants per pot) until tasseling (66 days after emergency - DAE). The treatments comprised application of N-fertilizer (100 mg N dm-3), at ( 1) Recebido para publicação em 15 de dezembro de 2003 e aceito em 10 de janeiro de 2005. ( 2) Departamento de Recursos Naturais/Ciência do Solo, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu (SP). E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected] ( 3) Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Laboratório de Nutrição Mineral de Plantas, USP, 13400-961 Piracicaba (SP). E-mail: aeboaret@cena,usp.br ( 4) Bolsista CAPES. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.263-272, 2005 264 R.L.V. Bôas et al. the five-leaves stage (30 DAE), using the following fertilizers or mixtures: (1) urea (UR) enriched with 15 N; (2) ammonium sulphate (AS) enriched with 15N; (3) “sulfnitro” (80% of N-UR and 20% of N-AS in the same granule); (4) mixture of UR (80% N) and AS (20% N and enriched with 15 N); (5) mixture of UR (50% N) and AS (50% N) both enriched with 15N; (6) mixture of UR (50% N) and AS (50% N and enriched with 15N) and (7) mixture of UR (50% N); AS (50% N), both enriched with 15N, diluted in water (solution containing 3% of N), plus a treatment did not receive N. The mixture UR and AS did not affect N recovery by corn plant. Of the total 15N applied, about 67% were recovered by the corn plant (29% in the leaves, 25% in the stem and 13% in the roots) and 6% in the soil, with an estimated loss of 27%. The 15 N of urea was recovered in smaller amount in the stem in relation to that from ammonium sulphate. Key words: Zea mays L., 15 N, nitrogen fertilizer, volatilization. 1.INTRODUÇÃO A recuperação do nitrogênio dos fertilizantes nitrogenados, pelas plantas, é relativamente baixa, alcançando em muitos casos menos que 50% (R AO et al., 1992). COELHO et al. (1991) utilizando 60 kg ha -1 de N obtiveram recuperação de 60% do nitrogênio aplicado como uréia na cultura do milho. No entanto, quando as doses de N são maiores, a recuperação do N tende a diminuir, como observado por MELGAR et al. (1991) e G ROVE et al. (1980), que obtiveram 36% e 40% de recuperação do N, aplicado na cultura do milho, na forma de uréia, nas doses de 120 e 140 kg ha -1 de N respectivamente. A baixa eficiência de recuperação do N do fertilizante tem sido atribuída, principalmente, às perdas gasosas do N (volatilização e desnitrificação). As perdas do fertilizante nitrogenado por desnitrificação têm sido estimadas em menos de 10% na cultura do milho (HILTON et al., 1994), porém, a perda de NH3 por volatilização, quando a uréia, fonte nitrogenada mais comercializada no País (A NDA , 2001), não é enterrada ou incorporada ao perfil do solo pela água da chuva ou irrigação, pode atingir de 31% a 78% do total de N aplicado (LARA CABEZAS et al., 1997). A volatilização da NH 3 da uréia resulta de alcalinização da solução próxima ao grânulo durante sua hidrólise. RODRIGUES E K IEHL (1992), em estudo de distribuição e nitrificação da amônia proveniente da uréia aplicada ao solo, determinaram na camada próxima à aplicação do fertilizante, aumento do pH de 6,9 para 8,7. Com a elevação do pH, a conversão do NH3 a NH4+, torna-se dificultada pela falta de íons H +, aumentando a concentração de NH3 próximo do grânulo de uréia e a chance de ocorrer a volatilização da NH 3. A mistura da uréia com fertilizantes de características ácidas, aplicada ao solo pode aumentar a concentração de íons H + próximos do grânulo e promover a diminuição das perdas de N por volatilização. Dentre os fertilizantes nitrogenados mais utilizados, o sulfato de amônio é a fonte de Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.263-272, 2005 nitrogênio com caráter mais ácido, além de não sofrer volatilização do nitrogênio amoniacal quando o pH é inferior a 7 (VOLK, 1959). De acordo com VITTI et al. (2002), a mistura de uréia com sulfato de amônio, na proporção de 1,1:1, reduziu as perdas de amônia sem afetar a qualidade da mistura em relação aos atributos físico-químicos. Em uma mistura de uréia e sulfato de amônio, no mesmo grânulo, respectivamente, nas proporções de 59,6% e 40,4%, L A R A C A bezas et al. (1992) observaram menores perdas de amônia se comparada com uréia de diferentes granulometrias. As perdas menores de NH 3 da uréia ocorreram em virtude, provavelmente, da reação acidificante do sulfato de amônio, próximo do grânulo, que pode neutralizar o efeito local de elevação do pH provocado pela hidrólise da uréia. Segundo WATSON (1988), o N da uréia quando misturado ao do sulfato de amônio na proporção 1:1 (peso/peso) contendo 68,5% de N-NH2 e 31,5 de NNH4+, foi recuperado pela planta de Lolium cerca de 38% a mais em relação à aplicação de uréia sozinha. Por outro lado, na mistura, houve uma redução na recuperação do N do sulfato de amônio em 14% em relação à aplicação somente do sulfato de amônio. Portanto, houve aumento de recuperação do N da mistura de 24%, visto que ocorreu interação entre as fontes nitrogenadas. Embora haja trabalhos evidenciando a redução nas perdas de N-NH 3 por volatilização, quando a uréia é misturada com o sulfato de amônio poucos são os trabalhos que estudam os efeitos dessa mistura na recuperação do N do fertilizante pelos órgãos da planta, no caso o milho. Nesse contexto da adição de sulfato de amônio em mistura com uréia diminuir as perdas por volatilização realizou-se o presente experimento, com o objetivo de estudar a melhor proporção (20% e 50% de sulfato de amônio) e tipo (mistura física, no mesmo grânulo ou em solução) da mistura sulfato de amôniouréia, aplicado na superfície do solo, para melhorar a recuperação do nitrogênio por plantas de milho. Recuperação do nitrogênio por plantas do milho 2.MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em vasos plásticos contendo 15 kg de Latossolo Vermelho textura média, alocados em um túnel plástico (tipo arco com 20 m de comprimento, 7 m de largura e 2,5 m de altura), localizado na Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu, SP (22°51’S, 48°26W; altitude de 786 m). Um mês após a correção da acidez com a aplicação de calcário, foram observadas no solo as seguintes características químicas, de acordo com R AIJ et al. (1987): pH (CaCl2) de 5,7; 20 g dm -3 de M.O.; 84 mg dm-3 de P (resina); 20; 0,1; 43; 20 e 83 mmolc dm -3 de H ++Al3+, K +, Ca 2+, Mg 2+ e CTC respectivamente e saturação por bases de 76%. Foram aplicados ao solo, como adubação de base, o superfosfato simples e o cloreto de potássio para elevar os teores de P e K para 200 e 100 mg dm-3 respectivamente. Os vasos foram dispostos em arranjo inteiramente casualizados com três repetições e cada vaso continha duas plantas, constituindo a parcela experimental. Como tratamento, foi realizada a adubação em cobertura utilizando os seguintes fertilizantes: (1) 100% de uréia, enriquecida com 15N; (2) 100% de sulfato de amônio, enriquecido com 15N; (3) sulfnitro contendo 80% de N na forma de uréia e 20% na forma de sulfato de amônio, no mesmo grânulo; (4) mistura física de uréia e sulfato de amônio (enriquecido com 15N), na proporção de 80% do Nuréia e 20% do N-sulfato de amônio; (5) mistura física de uréia e sulfato de amônio (ambos enriquecidos com 15 N), na proporção de 50% do N-uréia e 50% do Nsulfato de amônio; (6) mistura física de uréia e sulfato de amônio (enriquecido com 15N), na proporção de 50% do N-uréia e 50% do N-sulfato de amônio e (7) mistura física de uréia e sulfato de amônio (ambos enriquecido com 15N), na proporção de 50% do Nuréia e 50% do N-sulfato de amônio, diluídos em água (solução contendo 3% de N). Adotou-se mais um tratamento cujas plantas não receberam adubação nitrogenada (testemunha). A uréia e o sulfato de amônio enriquecidos apresentavam, respectivamente, 5,0 e 3,0% de 15N, provenientes da SHOKO CO. LTDA, Tóquio, Japão. Os fertilizantes e as misturas foram analisados quanto ao teor de N e de S, segundo método de B RASIL (1988), e a abundância de 15N. Para a semeadura, foi utilizado o milho híbrido XL 678, em espaçamento de 20 cm entre plantas e as linhas de vasos ficaram distantes de 1,0 m. A adubação nitrogenada foi realizada no estádio de cinco folhas, aos 30 dias após a emergência, sobre a superfície do solo, na dose de 1,5g de N por vaso (100 mg dm-3 de N). Após a adubação, foi aplicada a irrigação com uma lâmina aproximada de 4 mm. 265 Juntamente com a adubação de semeadura , foi aplicado o sulfato de cálcio nos vasos que não receberam enxofre nos tratamentos ou cuja quantidade foi inferior à recebida no tratamento com sulfato de amônio. O teor de água no solo foi mantido em 70% do total retido a tensão de 0,033 MPa, regulada por pesagens diárias de vasos sem tratamento, específicos para esse objetivo. As plantas foram cortadas rente ao solo, no pendoamento (66 dias após a emergência), separando a parte aérea em folhas e colmo. O solo e as raízes foram espalhados em um plástico, no qual o solo foi homogeneizado para a retirada de uma amostra para determinar o teor de N e a abundância de 15N, e as raízes separadas do solo por peneiramento e lavagem com água. Todo o material vegetal foi lavado e seco em estufa para avaliação da fitomassa seca. Nas folhas e no colmo foram determinados os teores de N e S, segundo método adaptado de M ALAVOLTA et al. (1997). O teor de N total no solo foi determinado pelo método modificado de macroKjeldahl, utilizando permanganato de potássio e ferro reduzido em solução digestora de ácido sulfúrico, para incluir nitrito e nitrato, de acordo com BURESH et al. (1982) e STUMPE et al. (1985). Nas amostras de planta e solo dos tratamentos com fertilizante enriquecido com 15N foram realizadas as determinações de abundância de 15 N (% de átomos), de acordo com o método de R ITTEMBERG descrito por T RIVELLIN et al. (1973), em espectrômetro de massa pertencente ao Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP). A recuperação (%) do N-fertilizante marcado com 15 N foi calculado pelas equações: R = (Qnppf / Qnaf) x 100 (1) Qnppf = [(A – C) / (B – C)] * NT (2) em que: R é a recuperação porcentual do Nfertilizante marcado com 15 N; Qnppf, quantidade de N da planta proveniente do fertilizante marcado ( 15N) (mg vaso-1 ); Qnaf, a dose de fertilizante (mg vaso-1); A e B, abundância de 15N da planta e do fertilizante (% de átomos) respectivamente; C, a abundância natural de 15N (% de átomos) e NT, a quantidade de N na planta (mg vaso -1 ). Os resultados foram submetidos à análise de variância utilizando o teste F a 5%, e para as causas de variação em que o F apresentou valor significativo, realizou-se o teste de Tukey (p = 0,05) para comparação das médias dos tratamentos. Aplicou-se a análise de regressão linear adotando como variável independente à porcentagem de N-amídico (0%, 50%, 80% e 100%) no fertilizante ou na mistura física de fertilizante. Todas as análises foram processadas no programa ESTAT versão 2.0 (UNESP, 1994). Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.263-272, 2005 266 R.L.V. Bôas et al. 3.RESULTADOS E DISCUSSÃO A falta de resposta à adubação nitrogenada na produção de fitomassa seca total nos diferentes órgãos (Tabela 1), talvez tenha sido devido à contribuição do N do solo (Figura 1) cujo teor de matéria orgânica era de 20 mg dm-3. De acordo com a figura 1, a contribuição do N no solo, de 43%, em média, foi semelhante ao obtido por U LLOA et al. (1982), mas acima do obtido por M IRANDA F LORES (1986), de 33%. Provavelmente, o N do solo tenha sido suficiente para atender a demanda de N pela planta até o pendoamento (66 dias após a emergência - DAE). Embora a absorção do N seja mais intensa no período entre 40 e 60 DAE, a planta de milho assimila cerca de 50% do N que necessita após o início do florescimento (CANTARELLA, 1993). No fim do experimento, a deficiência de nitrogênio nas plantas do tratamento testemunha pode ser comprovada pelo teor de N na parte aérea (folha + caule) de 0,5 g kg-1 de N, bem abaixo das plantas dos outros tratamentos que apresentaram um teor de 1,0 g kg-1 de N semelhante ao encontrado por ANDRADE et al. (1975) aos 65 DAE e R EICHARDt et al. (1979) aos 77 DAE. Possivelmente, diferenças no acúmulo de fitomassa seca, em relação à testemunha, ocorreriam se o experimento se prolongasse por um tempo maior. No entanto, quando se comparou a porcentagem de N-amídico no fertilizante aplicado em cobertura (0%, 50%, 80% e 100%) e a fitomassa seca de folha e caule do milho, obteve-se uma relação significativa e negativa, ou seja, à medida que se aumentou a proporção de uréia, foi obtida menor fitomassa seca de folha e caule (Tabela 1 e Figura 2). Essa relação sugere que o N do sulfato de amônio teve maior influência sobre a produção de fitomassa seca da parte aérea do que o N da uréia, talvez por ser menos perdido por volatilização e proporcionar maior disponibilidade de N para o acúmulo de fitomassa, como observado por VITTI et al. (2002). Tabela 1. Fitomassa seca e a quantidade de N e S acumulada nos órgãos de duas plantas de milho, no pendoamento (66 dias após a emergência), em função do fertilizante ou mistura de fertilizantes nitrogenados Fitomassa seca Tratamentos Folha Caule Raiz Nitrogênio Total Folha -1 Caule Raiz Enxofre Total Folha Caule Total -1 g vaso (duas plantas de milho) mg vaso (duas plantas de milho) 63 114 119 296 463 b 1 386 b 569 1418 b 48 c 28 76 c 64 126 144 334 988 a 680 a 678 2348 a 81 b 26 107 b 72 144 127 343 976 a 755 a 521 2272 a 119 a 34 153 a 64 137 127 328 916 a 749 a 656 2312 a 81 b 26 107 b U+SA (80%N+20% N) 68 133 207 408 935 a 710 a 905 2550 a 80 b 27 107 b U+SA (50% 15N+50%15N) 68 138 11 317 941 a 690 a 550 2181 a 78 b 29 107 b U+SA (50%N+50% 15N) 68 138 180 386 951 a 732 a 812 2495 a 85 b 32 117 b U+SA (50% 15N+50% 15N)2 64 138 122 324 966 a 744 a 622 2332 a 91 b 29 120 b Média 66 134 142 342 892 683 664 2240 83 29 112 Teste F n.s.3 n.s. n.s. n.s. ** 1 ** n.s. ** ** n.s. ** DMS Tukey 5% 18 39 123 149 193 166 575 650 23 10 26 CV% 9 10 30 15 8 9 31 10 10 12 8 Reg. Linear (teste t) 4 ** ** n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. Testemunha (s/ N) Uréia - U (100% 15 N) Sulf. de Amônio - SA (100% 15 N) Sulfnitro (80%N+20% N) 1 15 ( 1 ) Valores entre parênteses significam a % do N como uréia + a % do N como sulfato de amônio. ( 2 ) Fertilizantes aplicados diluídos em água. ( 3 ) n.s. = não significativo; ** = significativo a 1%. Médias nas colunas seguidas das mesmas letras ou sem letras não diferem entre si. ( 4 ) Foi utilizado como variável independente à porcentagem de N-NH 2 [0 (100% SA), 50 (50% SA e 50% U), 80 (20% SA e 80% U) e 100%(100% U)] no fertilizante ou na mistura física de fertilizante. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.263-272, 2005 267 Solo 120 Raiz 100 80 56 Fertilizante Folha 52 45 49 54 Planta Caule 50 60 70 69 70 30 31 30 59 55 58 41 45 42 40 44 20 48 55 51 46 50 U S. A U +S .A S. A +S .A U U U S. A +S .A U U S. A +S .A 0 U N proveniente do fertilizante ou do solo, % Recuperação do nitrogênio por plantas do milho Figura 1. Contribuição do N do solo e do fertilizante no N acumulado nas folhas, caule e raízes de plantas de milho, no pendoamento (66 dias após a emergência), em função do fertilizante, enriquecido com 15N, utilizado; U = uréia; SA = sulfato de amônio. Não houve correlação entre a porcentagem de N-amídico (uréia) e a quantidade de N nos órgãos e, portanto, a relação negativa existente entre a proporção de uréia e a fitomassa seca da folha e do caule (Figura 2) não pode ser atribuída à quantidade de N nesses órgãos, uma vez que, a quantidade de nitrogênio diferiu apenas entre as plantas que receberam N em cobertura e a testemunha (Tabela 1). Logo, as várias misturas de uréia e sulfato de amônio não promoveram incremento na quantidade de nitrogênio absorvido pela planta de milho em relação ao uso somente de uréia. 150 130 Fitomassa seca, g y = -0,1626x + 145,1 R2 = 0,89** 110 Folha 90 Caule yfolha = -0,086x + 71,96 R2 = 0,96** 70 50 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 % de N-NH2 na mistura de fertilizantes Figura 2. Fitomassa seca acumulada nas folhas e caule de duas plantas de milho, no pendoamento (66 dias após a emergência) em função da porcentagem de N-amídico (N-NH 2) na mistura física de fertilizantes. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.263-272, 2005 268 R.L.V. Bôas et al. De acordo com CANTARELLA E R AIJ (1986) as diferenças observadas ocasionalmente entre as fontes de nitrogênio podem estar relacionadas a outros elementos nos fertilizantes, como é o caso do enxofre no sulfato de amônio, ou ao efeito que alguns fertilizantes nitrogenados exercem sobre o solo. fertilizante espalhado na superfície do solo do vaso, além das plantas estarem em um ambiente fechado (estufa) podem ter favorecido essa reabsorção. C ATCHPOOLE et al. (1993) encontraram cerca de 5% de 15 N nas plantas ao redor das microparcelas onde foi aplicado o 15N em faixa de 10 cm. A quantidade de enxofre na planta foi maior em plantas que receberam somente sulfato de amônio em relação às plantas que receberam uréia, e as misturas dos dois fertilizantes, que por sua vez foi maior que nas plantas da testemunha (Tabela 1). Verifica-se que o sulfato de amônio foi mais eficiente que o sulfato de cálcio no fornecimento de enxofre para a planta, em virtude, provavelmente, de o sulfato de cálcio apresentar menor solubilidade (2,1g L -1) que o sulfato de amônio (754 g L -1 ) (MELGAR et al., 1999) e por ter sido misturado ao solo, enquanto o sulfato de amônio foi aplicado em cobertura (maior concentração de S). Além disso, a concentração de Ca2+ no solo, elevada pela calagem, pode ter reduzido ainda mais a solubilização do gesso. Do N aplicado, em média, 29% foi encontrado nas folhas, 25% no caule e 13% na raiz (Tabela 2). O aproveitamento do N dos fertilizantes pela planta variou de 63% a 71%, sendo esses valores semelhantes aos obtidos por MIRANDA FLORES (1986), em condições de vaso. No entanto, esses valores foram maiores que os observados em experimentos em campo, talvez por não levarem em conta a contribuição do sistema radicular devido à dificuldade de avaliação (ULLOA et al, 1982; VILLAS B ÔAS, 1990). As plantas do tratamento testemunha também receberam a aplicação do sulfato de cálcio, mas a quantidade de enxofre na planta de milho foi significativamente menor em relação à dos demais tratamentos, sugerindo que a falta de nitrogênio afetou a absorção de S como observado também por DAIGGER e FOX (1971). Também não houve correlação entre a porcentagem de N-amídico (uréia) e a quantidade de S nos órgãos (Tabela 1). A tendência de maior fitomassa seca de folhas e caule com a maior porcentagem de N-amoniacal (vindo do sulfato de amônio) na mistura de fertilizantes (Figura 2) não ocorreu, em virtude da maior assimilação de S. S EGUNDO ANTI et al. (2001), o amônio é assimilado mais rapidamente (menor energia) que o nitrato e ou a uréia, sobrando mais energia (carboidrato) para ser utilizada no acúmulo de fitomassa do caule e da folha, podendo ser uma das causas de haver uma relação negativa entre a porcentagem de N-amídico (uréia) e a fitomassa seca de folha e caule. A quantidade de 15N aplicada foi suficiente para marcar de modo adequado os órgãos da planta de milho, pois as porcentagens de átomos de 15N em excesso foram maiores às consideradas naturais para as condições estudadas (Tabela 2). Embora pouco significativo, ocorreu o enriquecimento de 15N nas plantas do tratamento testemunha, provavelmente, devido à perda de 15N na forma gasosa nos tratamentos marcados e que esses gases foram reabsorvidos pela folhagem do milho. A disposição das plantas distantes 20 cm na linha e 1,0 m na entrelinha, a aplicação do Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.263-272, 2005 A porcentagem do N do fertilizante que permaneceu no solo foi, em média, de 6%, totalizando, portanto, uma recuperação solo-planta de 73%, o que permite estimar a perda média de nitrogênio aplicado de 27% (Tabela 2). Uma vez que o experimento foi realizado em vaso, condição em que perdas por lixiviação não devem ocorrer, a diferença do nitrogênio aplicado em relação ao recuperado pode ser atribuído às perdas gasosas. As perdas por volatilização, quando da utilização do sulfato de amônio, são em torno de 4% a 10% do N aplicado na superfície em sistema de plantio convencional e direto respectivamente (L ARA CABEZAS et al., 1997). No entanto, 23% do N aplicado, na forma de sulfato de amônio, foi perdido do sistema soloplanta. A recuperação incompleta do 15N aplicado em experimentos em vasos foi atribuída ao processo de desnitrificação de acordo com CLOUGH et al. (2001) que recuperaram 96,9% do 15N aplicado na forma de nitrato de potássio e destes 23% do 15 N foi recuperado na forma de N e N2O. A perda do 15N do sistema solo planta pode ocorrer também pela volatilização de amônia das folhas em virtude da redução na síntese das enzimas responsáveis pela assimilação da amônia no metabolismo do N (HOLTAN-HARTWIG e BOCKMAN, 1994). No entanto, esse tipo de perda, provavelmente, não ocorreu no presente experimento, pois, foi conduzido até o pendoamento. Segundo SHARPE E HARPER (1997) esta perda ocorre quando as folhas entram na senescência, da antese até a colheita, variando de 10% a 23% do 15N aplicado através da folhagem das plantas de milho. Ao contrário do que tem sido observado na literatura (COELHO et al., 1992; Lara Cabezas et al., 1997) não houve diferença entre a recuperação, pelas plantas de milho, do N fornecido como uréia ou sulfato de amônio (Tabela 2). Um dos principais fatores que 269 Recuperação do nitrogênio por plantas do milho Z I A et al. (1999) em um estudo de incubação utilizando fontes de N, no Paquistão, a incorporação de gesso reduziu significativamente as perdas de amônia por volatilização. podem ter contribuído para não haver diferença foi a irrigação realizada após a adubação, na qual foi aplicada uma lâmina de 4 mm (250 ml por vaso). A aplicação de uma lâmina de 4 m de água até 3 horas após a aplicação de 100 kg ha-1 de N, na forma de uréia, aplicado na superfície de pasto, pode reduzir a volatilização da amônia para 8% do N aplicado (HAYNES, 1986). Segundo HOFF et al. (1981) a aplicação do adubo em área total seguido de irrigação, como foi realizado no experimento, pode reduzir a concentração de NH4+ no solo diminuindo as chances de perdas por volatilização. Como o experimento foi realizado em ambiente fechado, a ausência de vento também pode ter contribuído para menor perda por volatilização da uréia. Além disso, a incorporação do gesso nos tratamentos com uréia, para complementar a quantidade de S aplicada nos tratamentos que receberam sulfato de amônio, pode ter diminuído também a volatilização de N-NH3 da uréia. Segundo Somente no caule puderam ser observadas diferenças na recuperação do 15 N pela planta, principalmente entre as plantas que receberam somente sulfato de amônio e aquelas que receberam a mistura de sulfato de amônio (20%) com uréia (80%) (Tabela 2). A relação negativa existente entre a porcentagem de N-amídico (uréia) e a recuperação de N no caule sugerem uma melhoria na recuperação do nitrogênio pela planta quanto maior a proporção de N-amoniacal (Figura 3). Provavelmente, esse efeito foi observado no caule porque 70% do N acumulado neste órgão foram provenientes do fertilizante (Figura 1), além do que, aos 66 DAE, parte do N foi transportado para as inflorescências que foram computadas como fitomassa do caule. Tabela 2. Átomos de 15N em excesso e recuperação do N-fertilizante marcado com 15N nos órgãos de duas plantas de milho, no pendoamento (66 dias após a emergência), em função do fertilizante ou mistura de fertilizantes nitrogenados Átomos de 15N em excesso Tratamentos Folha Caule Raiz Recuperação do 15N aplicado Solo Folha Caule Raiz Planta Solo Total % Testemunha (s/ N) 0,023 0,060 0,043 0,001 — — — — — — Uréia (100% 15N) 2,031 2,358 1,373 0,041 29 23 b 2 14 66 6 72 Sulf. de Amônio (100% 15N) 1,258 1,441 0,802 0,021 31 29 a 11 71 6 77 0 0 0 0 — — — — — — 0,224 0,242 0,138 0,03 27 22 b 16 65 4 69 U+SA (50% N+50% N) 1,646 1,779 1,082 0,035 29 23 b 11 63 7 70 U+SA (50%N+50% 15N) 0,624 0,677 0,375 0,010 30 25 ab 15 71 5 76 U+SA (50% 15N+50%15N)3 1,632 1,866 1,096 0,032 29 26 ab 13 68 6 74 0,386 0,386 0,371 29 25 13 67 6 73 ** n.s. n.s. n.s. n.s. 11 Sulfnitro (80%N+20% N) 1 U+SA (80%N+20% 15N) 15 Sulfnitro 15 4 0,394 2 Teste F - - - - -n.s. DMS Tukey 5% - - - - 6 4 13 14 3 CV% - - - - 7 6 30 7 205 Reg. Linear (teste t) 5 - - - - n.s. * n.s. n.s. n.s. n.s. ( 1 ) Valores entre parênteses significam a % do N como uréia + a % do N como sulfato de amônio. ( 2 ) n.s., **, * = não significativo, significativo a 1 e 5%, respectivamente . Médias nas colunas seguidas das mesmas letras ou sem letras não diferem entre si. ( 3 ) Fertilizantes aplicados diluídos em água. ( 4 ) Valores obtidos no tratamento com sulfnitro expressam a abundância natural considerada para cada parte da planta de milho e no solo para o presente experimento. ( 5 ) Foi utilizado como variável independente à porcentagem de N-NH 2 [0 (100% SA), 50 (50% SA e 50% U), 80 (20% SA e 80% U) e 100%(100% U)] no fertilizante ou na mistura física de fertilizante. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.263-272, 2005 270 R.L.V. Bôas et al. 30 Recuperação de 15 N 28 26 24 y = -0,0661x + 28,3 R 2 = 0,85* 22 20 0 20 40 60 80 100 % deN-NH 2 na mistura de fertilizantes Figura 3. Recuperação do N-fertilizante marcado com 15N pelo caule de plantas de milho, no pendoamento (66 dias após a emergência) em função da porcentagem de N-amídico (N-NH2) na mistura física de fertilizantes. Os valores de recuperação do 15N nas plantas que receberam todo o N enriquecido foram muito próximos, porém, diferentes em relação aos órgãos da planta. A distribuição percentual do N recuperado do fertilizante (média dos três tratamentos com todo N enriquecido) nos órgãos da planta de milho e no solo foi em média de 40% nas folhas, 34% no caule, 17% nas raízes e 9% no solo. 4.CONCLUSÕES 1. A mistura de uréia e sulfato de amônio não promoveu aumento na recuperação do N da uréia determinado na planta de milho. 2. Do total de 15N aplicado, aos 66 dias após a emergência (pendoamento), aproximadamente, 67% foi recuperado pela planta de milho (29% nas folhas, 25% no caule e 13% nas raízes) e 6% no solo, com uma perda estimada de 27%. 3. O 15N da uréia foi recuperado em menor quantidade no caule em relação ao N proveniente do sulfato de amônio. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.263-272, 2005 REFERÊNCIAS ANDRADE, A.G.; HAAG, H.P.; OLIVEIRA, G.D. Acumulação diferencial de nutrientes por cinco cultivares de milho (Zea mays L.) I. Acumulação de mcronutrientes. Anais da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, v.32, p.115-149, 1975. ANDA, Associação Nacional para Difusão de Adubos e Corretivos Agrícolas. Anuário estatístico do setor de fertilizantes. São Paulo: Anda, 2001. 159p. ANTI, A.B.; MORTATTI, J.; TRIVELIN, P.C.O.; BANDASSOLLI, J.A. Radicular uptake kinetics of 15NO3-, CO(15NH2)2, and 15NH4+ in whole rice plant. Journal of Plant Nutrition, Madison, v.24, n.11, p.1695-1710, 2001. BRASIL. Ministério da Agricultura. Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária. Análise de corretivos, fertilizantes e inoculantes: métodos oficiais. Brasília, 1988. 104p. BURESH, R.J.; AUSTIN, E.R.; CRASWELL, E.T. 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Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 TECNOLOGIA DE SEMENTES Conservação de sementes de maracujá-amarelo: interferências do teor de água das sementes e da temperatura de armazenamento(1) Conservation of yellow passion fruit (Passiflora edults Sims f. flavicarpa Deg.) seeds: interference of water content and storage temperature Samara Camargo Lopes FonsecaI; Walter Rodrigues da SilvaII IBióloga, Rua Maranhão, 815, Werner Plaas, 13478-260 Americana (SP). E-mail: [email protected]. Bolsista CAPES IIIn memoriam RESUMO Buscando embasamento para a definição de alternativas tecnológicas voltadas a desacelerar a deterioração durante o armazenamento, a pesquisa objetivou estudar, através de variações no teor de água das sementes e na temperatura do ambiente de armazenamento, o comportamento fisiológico de sementes de maracujazeiro. O experimento, realizado entre julho de 2002 e agosto de 2003 no Laboratório de Análise de Sementes localizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP), foi realizado com sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) produzidas em Mogi Mirim/ SP a partir de polinização aberta entre híbridos da Série IAC 270. Após a retirada da mucilagem das sementes, foi determinado o grau de umidade inicial do lote e, paralelamente, obtida a amostra representante do tratamento com o maior teor de água estudado (31%). As sementes remanescentes foram submetidas à secagem, em estufa com circulação de ar a 30ºC ± 3ºC, para a obtenção dos demais tratamentos referentes aos teores de água desejados (27%, 21%, 17%, 11% e 7%). Posteriormente, os tratamentos, correspondentes aos diferentes graus de umidade, foram armazenados em câmaras com temperaturas controladas de 10ºC, 15ºC e 20ºC. Antes do armazenamento, e após 35, 70, 105, 140, 175, 210, 245, 280, 315 e 350 dias, as sementes foram submetidas às avaliações da qualidade. De acordo com os resultados, a combinação do grau de umidade de 7% com a temperatura de 10ºC supera as demais no favorecimento à manutenção do potencial fisiológico das sementes de Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg. Palavras-chave: Passiflora edulis, sementes, teor de água, conservação, armazenamento. ABSTRACT In order to define technological alternatives foward delaying deterioration of passion fruit (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) seeds during storage, physiological studies were performed through varied seed water content and environmental temperature. The experiments were conducted at the Seed Analysis Laboratory of the Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - USP, from July 2002 through August 2003, with yellow passion fruit seeds produced in Mogi Mirim/ SP, through random pollination among IAC 270 Series hybrids. Following seed mucilage removal, the initial moisture degree of the lot was determined and the representative sample of the treatment with the highest water content studied (31%) was obtained concurrently; the remaining seeds were dried in an air-circulating oven at 30ºC ± 3ºC to achieve other treatments regarding the intended water contents (27%, 21%, 17%, 11% and 7%). Further, the treatments - corresponding to different moisture levels - were stored in controlled-temperature chambers at 10 ºC, 15 ºC and 20 ºC. Previous to storage and 35, 70, 105, 140, 175, 210, 245, 280, 315 and 350 days later, the seeds were submitted to quality assays. The results indicate that the combination between 7% moisture degree and 10ºC temperature overcomes the remaining ones, favoring the maintenance of the physiological potential of Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg. seeds. Key words: Passiflora edulis, seeds, water content, conservation, storage. 1. INTRODUÇÃO A temperatura ambiental, isoladamente ou em associação com a umidade relativa do ar, interfere na conservação das sementes de maracujá; há evidências de vantagens do armazenamento em ambiente controlado na comparação com o natural (ALMEIDA, 1985; SÃO JOSÉ, 1987). Segundo COSTA et al. (1974), o período de armazenamento, em ambiente sem controle térmico, não deve ser superior a oito meses para garantir, no mínimo, 50% de germinabilidade; sob ambiente natural, sementes inicialmente com 85% de germinação apresentaram, após um ano de armazenamento, viabilidade inferior a 25% (CHAPMAN, 1962). Sementes armazenadas, em ambiente natural e em câmara seca (45%UR) ou fria (5ºC), mantiveram-se vigorosas durante seis meses; aos 12 meses, entretanto, as sementes mantidas em ambiente natural perderam a viabilidade, enquanto as conservadas na câmara seca ou fria apresentaram, respectivamente, 63% e 82% de germinação (ALMEIDA et al., 1988). No fim de 18 meses de armazenamento em ambiente natural e em câmara seca (30%40%UR), GERALDI JUNIOR (1974) obteve, respectivamente, 16,5% e 31,5% de germinabilidade; contudo, a viabilidade das sementes armazenadas em câmara seca foi conservada, por OLIVEIRA et al. (1984), durante cinco anos. Por outro lado, as sementes podem ser satisfatoriamente conservadas em sacos de papel embalados em sacos plásticos, hermeticamente fechados, em ambiente mantido a 10 ºC (CARVALHO, 1974); sob 4 ºC, LIMA et al. (1992) mantiveram a viabilidade das sementes empregando recipientes metálicos herméticos. A germinação no maracujazeiro é negativamente influenciada pela possível ação de substâncias reguladoras de crescimento presentes no arilo que envolve as sementes; aliado ao fato de contribuir para uma germinação desuniforme, o arilo deve ser adequadamente retirado visando, além da obtenção da máxima germinação, a emergência rápida das plântulas (PEREIRA e DIAS, 2000). Adicionalmente, conforme relatado por MELETTI et al. (2002), observa-se na semente recém-colhida um tipo de dormência, considerada temporária, que tem sido superada com o armazenamento por 30 a 40 dias; esse período de armazenamento varia segundo a região e, em geral, possibilita a obtenção de índices de germinação superiores a 95%, valor que decresce cerca de 8% ao mês com o prosseguimento da armazenagem. O armazenamento de sementes, constituído por um conjunto de procedimentos voltados à preservação da qualidade do produto, atua como instrumento para a formação de estoques reguladores e à manutenção de recursos genéticos através dos bancos de germoplasma (AGUIAR et al., 1993). Entretanto, os trabalhos disponíveis a respeito da conservação das sementes de maracujazeiro, além de escassos, não permitem o estabelecimento de tecnologias de armazenagem alicerçadas no conhecimento científico existente. Assim, buscando embasamento para definir alternativas tecnológicas, a fim de desacelerar a deterioração durante o armazenamento, a pesquisa objetivou estudar, através de variações no teor de água das sementes e na temperatura do ambiente, o comportamento fisiológico de sementes de maracujá-amarelo. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento, desenvolvido entre julho de 2002 e agosto de 2003, no Laboratório de Análise de Sementes, localizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/ USP, foi realizado com sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) produzidas em Mogi Mirim, SP, a partir de polinização aberta entre híbridos da Série IAC 270. As sementes, recém-extraídas de frutos maduros, foram submetidas à retirada parcial da mucilagem por turbilhonamento hídrico em equipamento, existente no Instituto Agronômico, Campinas (SP), adaptado a partir da substituição das lâminas em um liqüidificador convencional. O material obtido foi manualmente friccionado contra peneira (arame trançado) de malha inferior ao tamanho das sementes e, posteriormente, lavado em água corrente, com o objetivo de reduzir a quantidade de mucilagem restante. Em seguida, foi realizada secagem à sombra até a eliminação da água aderida externamente às sementes. Após esse procedimento inicial, foi determinado o grau de umidade do lote (BRASIL, 1992) e, paralelamente, obtida a amostra representante do tratamento com o maior teor de água a ser estudado (31%). As sementes remanescentes foram submetidas à secagem, em estufa com circulação de ar a 30 ºC ± 5 ºC, para a obtenção dos demais graus de umidade desejados (27%, 21%, 17%, 11% e 7%). Os tratamentos foram obtidos pelo acompanhamento da perda de massa das sementes durante a secagem; para tanto, amostras de sementes para o monitoramento, com massa inicial previamente conhecida, foram acondicionadas em sacos de filó e distribuídas nas bandejas da estufa para pesagens a intervalos regulares. As massas finais das amostras, correspondentes a cada um dos teores de água desejados, foram estimadas por meio do uso da equação descrita por CROMARTY et al. (1985). À medida que foram sendo atingidos graus de umidade próximos aos desejados, as amostras foram retiradas, homogeneizadas e divididas em frações, embaladas hermeticamente em sacos transparentes de polietileno (0,14 mm de espessura) e mantidas a 10 ºC até a obtenção dos demais tratamentos, 20 horas após o início do processo de secagem. Os tratamentos, correspondentes aos diferentes graus de umidade, foram armazenados em câmaras com temperaturas controladas de 10 ºC, 15 ºC e 20 ºC. Antes do armazenamento, e após 35, 70, 105, 140, 175, 210, 245, 280, 315 e 350 dias, as sementes foram submetidas às seguintes avaliações da qualidade. Teor de água das sementes: foi determinado a 105 ºC ± 3 ºC por 24 horas, pelo método da estufa (BRASIL, 1992), em duas amostras de 50 sementes/ repetição. Os dados obtidos, com base na massa úmida (Bu), foram expressos em porcentagem. Teste de germinação: foram instaladas 50 sementes por repetição em rolos de papel toalha, umedecidos em volume de água equivalente a 2,5 vezes a sua massa sem a hidratação, mantidos sob temperatura alternada de 20-30 ºC (BRASIL, 1992). As avaliações, totalizadas aos 28 dias da instalação do teste, forneceram dados expressos em porcentagem de plântulas normais classificadas segundo os critérios estabelecidos por PEREIRA e ANDRADE (1994). Primeira contagem de germinação: realizada conjuntamente com o teste de germinação, considerou a contagem do número de plântulas normais aos 21 dias após a semeadura na avaliação realizada antes do armazenamento e, aos 14 dias, nas demais determinações efetuadas durante o armazenamento. Comprimentos de raiz, de hipocótilo e de plântula: de modo similar ao descrito no teste de germinação, 10 sementes por repetição foram instaladas em rolos de papel toalha mantidos sob temperatura alternada de 20-30 ºC. Aos 21 dias após a instalação do teste, foram tomadas as distâncias (mm) do ápice da raiz à região de transição com o hipocótilo (comprimento de raiz) e desta à região de inserção das folhas cotiledonares (comprimento de hipocótilo); a soma de ambas as medidas representou o comprimento de plântula. Os dados médios foram obtidos, em cada uma das determinações, pelo quociente entre o somatório das medidas registradas e o número de sementes utilizadas. Emergência de plântula: empregando substrato de vermiculita expandida (grão médio) com disponibilidade hídrica mantida próxima à da capacidade de campo, foram semeadas (1 cm de profundidade) 50 sementes por repetição em ambiente sombreado desprovido de controles de temperatura e de umidade relativa. Foram consideradas as plântulas que, aos 28 dias após a instalação do teste, apresentaram a parte aérea exposta acima da superfície do substrato. Os dados obtidos foram expressos em porcentagem. Velocidade de emergência de plântula: foi obtida, com base na contagem do número diário de indivíduos emersos no teste de emergência de plântula, pelo cálculo de índice seguindo os procedimentos descritos por MARCOS FILHO et al. (1987). O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições, considerando seis tratamentos (teores de água) antes da armazenagem e 18 tratamentos (seis teores de água x três temperaturas de armazenagem) em cada época de avaliação durante esse período. Os dados de germinação, de primeira contagem de germinação e de emergência de plântula foram transformados em arco seno (x%/100)1/2; os de teor de água não foram submetidos à análise estatística. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Posteriormente, os tratamentos receberam pontuações conforme a ordenação hierárquica de desempenho verificada em cada avaliação fisiológica. Para tanto, foram consideradas classificações, semelhantes às empregadas por CALIARI e SILVA (2001), fundamentadas no teste de Tukey (classificação estatística) e nos valores absolutos (classificação absoluta). Na classificação estatística (Tabela 1), dentro de cada avaliação fisiológica, foi atribuída a cada um dos tratamentos a pontuação resultante do somatório das pontuações positivas ou nulas (número de tratamentos estatisticamente inferiores) com as negativas ou nulas (número de tratamentos estatisticamente superiores). Na classificação absoluta (Tabela 2), a pontuação foi representada pelo número (nulo ou positivo) de tratamentos superados em valor absoluto, independentemente das indicações estatísticas. Em ambas as classificações, o somatório dos valores obtidos em todas as avaliações constituiu a pontuação parcial do tratamento em cada período estudado; a pontuação total resultou do somatório das pontuações parciais (Tabelas 1 e 2). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados de teor de água obtidos antes do armazenamento (Tabela 3), compatíveis com os desejados, indicaram eficiência do método de acompanhamento da secagem para a obtenção dos tratamentos. Adicionalmente, durante o armazenamento (Tabela 4), foi observada estabilidade para o grau de umidade, dentro de cada tratamento, representada por desvios máximos de 0,9% entre os dados extremos; dessa forma, a embalagem utilizada, além de proporcionar eficiência na manutenção da umidade dos tratamentos, permitiu confiabilidade nas comparações realizadas durante a armazenagem. Anteriormente à armazenagem (Tabela 3), não houve diferenças estatisticamente significativas na germinação e no vigor, indicando ausência de efeitos imediatos do processo de secagem sobre o desempenho fisiológico das sementes. Esse comportamento, independentemente da temperatura empregada na armazenagem permaneceu inalterado na germinação (Tabela 5) durante 35 dias; a partir de 70 dias, entretanto, diferenças no desempenho entre os tratamentos foram sendo paulatinamente acentuadas no decorrer do período estudado. No ambiente a 10 ºC (Tabela 5), as sementes com 31% e 27% de água foram as únicas a ter a germinação anulada e, juntamente com as de 21%, tenderam a apresentar valores absolutos inferiores aos dos demais tratamentos; a superioridade dos tratamentos com 17%, 11% e 7% de umidade, estabelecida em relação aos de maior umidade, foi constantemente confirmada, em termos estatísticos, a partir de 280 dias de armazenamento. Considerando o período compreendido entre 105 e 210 dias de armazenagem, nos tratamentos com 27% e 21% de água, de modo isolado, observou-se comportamento sugestivo do surgimento e da superação seqüenciais de dormência; o método adotado, porém, não permitiu aferir a validade dessa hipótese. Similarmente, ALMEIDA (1985) e MEDINA (1980), citados por CATUNDA et al. (2003), observaram aumento na germinação após, respectivamente, seis e 12 meses de armazenamento, atribuível à superação de um provável estado de dormência das sementes. Sob 15 ºC (Tabela 5), o comportamento germinativo dos tratamentos assemelhou-se ao observado a 10 ºC. Contudo, a superioridade estatística para a germinação, atribuída aos tratamentos com grau de umidade igual ou inferior a 17%, foi antecipada e permanentemente verificada a partir de 175 dias experimentais. A germinação (Tabela 5), no ambiente a 20 ºC, deixou de ser anulada nas sementes com 27% de umidade. Porém, quando comparados entre si, os tratamentos mantiveram, aproximadamente, o mesmo comportamento observado a 10 ºC e a 15 ºC. A superioridade estatística dos tratamentos com menores teores de água (17%, 11% e 7%), por sua vez, foi menos evidente ao estabelecer-se, de modo definitivo, somente após 315 dias de armazenamento. Similarmente ao verificado a 10 ºC, nos tratamentos com 27% e 21% de água ocorreram variações nos dados, entre 105 e 210 dias de armazenamento, passíveis de atribuição ao fenômeno de dormência. A redução da temperatura, ao influenciar as atividades metabólicas das sementes, resulta no favorecimento das condições de armazenamento e, conseqüentemente, na conservação da sua qualidade (TOLEDO e MARCOS FILHO, 1977). Contudo, fixados os graus de umidade, diferenças relativas às temperaturas foram esparsas e não permitiram a identificação de tendências consistentes. Por outro lado, fixadas as temperaturas de armazenamento, as sementes com graus de umidade superiores a 17%, sofreram redução acentuada no desempenho germinativo, conforme progrediu o período de armazenamento; em sementes não secadas (31% de água), a partir de 140 dias de armazenamento, o desempenho foi predominantemente inferior ao das sementes submetidas à secagem, corroborando os dados obtidos por ALMEIDA (1985) e por SÃO JOSÉ e NAKAGAWA (1988); porém, somente a dessecação a teor de água igual ou inferior a 17% conservou adequadamente o poder germinativo durante o período estudado. A deterioração expressa-se nas sementes por intermédio de alterações químicas e fisiológicas; a perda da capacidade germinativa, observada no teste de germinação, é uma de suas manifestações finais (TOLEDO e MARCOS FILHO, 1977) e portanto, em estudos comparativos, faz-se necessária a realização de testes auxiliares capazes de identificar a deterioração em estádios anteriores. Assim, complementando os dados obtidos na germinação, foi estimado o vigor das sementes por meio de testes que forneceram os dados a seguir discutidos. Nos ambientes a 10 ºC e a 15 ºC, a análise dos dados de primeira contagem de germinação (Tabela 6) apontou, a partir de 280 dias de armazenamento, superioridade permanente dos tratamentos com teor de água igual ou inferior a 17% em relação aos demais. Superioridade equivalente, excetuando a similaridade comportamental para o comprimento de raiz a 10ºC entre os tratamentos com 21% e 17% de água aos 350 dias (Tabela 7), foi observada para os comprimentos de raiz (Tabela 7), de hipocótilo (Tabela 8) e de plântula (Tabela 9) a partir de 280 dias de armazenamento. Nos testes de emergência de plântula (Tabela 10) e de velocidade de emergência (Tabela 11), a partir dos 210 dias de armazenamento, a superioridade observada nos demais testes tendeu a ficar restrita aos tratamentos com 11% e 7% de água, uma vez que, na maior parte dos casos, houve desempenho equivalente ao de 21% no tratamento com grau de umidade de 17%. Sob 20 ºC, os dados da primeira contagem de germinação (Tabela 6) forneceram indicações similares às observadas nas demais temperaturas, destacando a superioridade dos tratamentos portadores dos menores teores de água (17%, 11% e 7%) a partir de 140 dias de armazenamento. Os testes de comprimentos de raiz (Tabela 7), de hipocótilo (Tabela 8) e de plântula (Tabela 9), por sua vez, detectaram a referida superioridade, mais tardiamente, aos 350 dias de armazenamento. Nos testes de emergência de plântula (Tabela 10) e de velocidade de emergência (Tabela 11), os dados não originaram indicações estatísticas suficientes para proporcionar consistência à sua interpretação; contudo, considerados os valores absolutos observados, a superioridade dos tratamentos com teor de água igual ou inferior a 17% predominou durante o armazenamento. Os resultados verificados nas avaliações fisiológicas, evidenciando a influência do teor de água na deterioração das sementes, detectaram os valores iguais ou inferiores a 17% de água como favoráveis à conservação independentemente da temperatura de armazenamento. Contudo, o método de interpretação empregado, considerando os testes isoladamente, acarretou dificuldades para identificar a combinação específica, entre teor de água e temperatura, mais vantajosa à manutenção do desempenho fisiológico das sementes. Na busca desse esclarecimento, os dados obtidos nos testes fisiológicos foram conjuntamente interpretados, através da atribuição de pontuações aos tratamentos, utilizando os critérios de classificação estatística (Tabela 12) e absoluta (Tabela 13) aplicados por CALIARI e SILVA (2001). Em ambas as classificações, foi confirmada a superioridade dos tratamentos com graus de umidade de 17%, 11% e 7%; entre esses, dentro de cada temperatura, o tratamento com 7% de água destacou-se invariavelmente como superior aos demais. Adicionalmente, realizando comparações entre as pontuações de todas as combinações (teores de água e temperaturas) estudadas, 7% de água associado a 10ºC apresentou a maior pontuação total e constituiu a condição mais favorável à conservação das sementes. 4. CONCLUSÃO Admitindo os intervalos de 31% a 7% de água e de 10 ºC a 20 ºC para o armazenamento, a combinação do grau de umidade de 7% com a temperatura de 10 ºC supera as demais no favorecimento à manutenção do potencial fisiológico das sementes de Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg. REFERÊNCIAS ALMEIDA, A.M. Maturação e qualidade fisiológica de sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa Deg.). 1985. 91f. Dissertação (M.S.) - Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu. ALMEIDA, A.M.; NAKAGAWA, J.; ALMEIDA, R.M. Efeito de armazenamento na germinação de sementes de maracujá-amarelo de diferentes estádios de maturação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 9., 1987, Campinas. Anais... 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Recebido para publicação em 16 de março e aceito em 14 de dezembro de 2004 (1) Extraído da tese apresentada pela primeira autora para a obtenção do título de Doutora em Agronomia, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo, Piracicaba (SP). 273 Conservação de sementes de maracujá-amarelo TECNOLOGIA DE SEMENTES CONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE MARACUJÁ-AMARELO: INTERFERÊNCIAS DO TEOR DE ÁGUA DAS SEMENTES E DA TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO (1) SAMARA CAMARGO LOPES FONSECA (2) ; WALTER RODRIGUES DA SILVA (3) RESUMO Buscando embasamento para a definição de alternativas tecnológicas voltadas a desacelerar a deterioração durante o armazenamento, a pesquisa objetivou estudar, através de variações no teor de água das sementes e na temperatura do ambiente de armazenamento, o comportamento fisiológico de sementes de maracujazeiro. O experimento, realizado entre julho de 2002 e agosto de 2003 no Laboratório de Análise de Sementes localizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP), foi realizado com sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) produzidas em Mogi Mirim/ SP a partir de polinização aberta entre híbridos da Série IAC 270. Após a retirada da mucilagem das sementes, foi determinado o grau de umidade inicial do lote e, paralelamente, obtida a amostra representante do tratamento com o maior teor de água estudado (31%). As sementes remanescentes foram submetidas à secagem, em estufa com circulação de ar a 30°C ± 3°C, para a obtenção dos demais tratamentos referentes aos teores de água desejados (27%, 21%, 17%, 11% e 7%). Posteriormente, os tratamentos, correspondentes aos diferentes graus de umidade, foram armazenados em câmaras com temperaturas controladas de 10°C, 15°C e 20°C. Antes do armazenamento, e após 35, 70, 105, 140, 175, 210, 245, 280, 315 e 350 dias, as sementes foram submetidas às avaliações da qualidade. De acordo com os resultados, a combinação do grau de umidade de 7% com a temperatura de 10°C supera as demais no favorecimento à manutenção do potencial fisiológico das sementes de Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg. Palavras-chave: Passiflora edulis, sementes, teor de água, conservação, armazenamento. ABSTRACT CONSERVATION OF YELLOW PASSION FRUIT (PASSIFLORA EDULIS SIMS F. FLAVICARPA DEG.) SEEDS: INTERFERENCE OF WATER CONTENT AND STORAGE TEMPERATURE In order to define technological alternatives foward delaying deterioration of passion fruit (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) seeds during storage, physiological studies were performed through varied seed water content and environmental temperature. The experiments were conducted at the Seed Analysis Laboratory of the Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - USP, from July 2002 through August 2003, with yellow passion fruit seeds produced in Mogi Mirim/ SP, through random pollination among IAC 270 Series hybrids. Following seed mucilage removal, the initial moisture degree of the lot was determined and the representative sample of the treatment with the highest water content studied (31%) was obtained concurrently; the remaining seeds were dried in an air-circulating oven at 30°C ± ( 1) Extraído da tese apresentada pela primeira autora para a obtenção do título de Doutora em Agronomia, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo, Piracicaba (SP). Recebido para publicação em 16 de março e aceito em 14 de dezembro de 2004. ( 2) Bióloga, Rua Maranhão, 815, Werner Plaas, 13478-260 Americana (SP). E-mail: [email protected] . Bolsista CAPES. ( 3) In memoriam. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 274 S.C.L. Fonseca e W.R. Silva 3°C to achieve other treatments regarding the intended water contents (27%, 21%, 17%, 11% and 7%). Further, the treatments - corresponding to different moisture levels - were stored in controlled-temperature chambers at 10 °C, 15 °C and 20 °C. Previous to storage and 35, 70, 105, 140, 175, 210, 245, 280, 315 and 350 days later, the seeds were submitted to quality assays. The results indicate that the combination between 7% moisture degree and 10°C temperature overcomes the remaining ones, favoring the maintenance of the physiological potential of Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg. seeds. Key words: Passiflora edulis, seeds, water content, conservation, storage. 1. INTRODUÇÃO A temperatura ambiental, isoladamente ou em associação com a umidade relativa do ar, interfere na conservação das sementes de maracujá; há evidências de vantagens do armazenamento em ambiente controlado na comparação com o natural (ALMEIDA , 1985; S ÃO JOSÉ , 1987). Segundo C OSTA et al. (1974), o período de armazenamento, em ambiente sem controle térmico, não deve ser superior a oito meses para garantir, no mínimo, 50% de germinabilidade; sob ambiente natural, sementes inicialmente com 85% de germinação apresentaram, após um ano de armazenamento, viabilidade inferior a 25% (CHAPMAN, 1962). Sementes armazenadas, em ambiente natural e em câmara seca (45%UR) ou fria (5°C), mantiveramse vigorosas durante seis meses; aos 12 meses, entretanto, as sementes mantidas em ambiente natural perderam a viabilidade, enquanto as conservadas na câmara seca ou fria apresentaram, respectivamente, 63% e 82% de germinação (A LMEIDA et al., 1988). No fim de 18 meses de armazenamento em ambiente natural e em câmara seca (30%-40%UR), G ERALDI J UNIOR (1974) obteve, respectivamente, 16,5% e 31,5% de germinabilidade; contudo, a viabilidade das sementes armazenadas em câmara seca foi conservada, por O LIVEIRA et al. (1984), durante cinco anos. Por outro lado, as sementes podem ser satisfatoriamente conservadas em sacos de papel embalados em sacos plásticos, hermeticamente fechados, em ambiente mantido a 10 °C (C ARVALHO , 1974); sob 4 °C, L IMA et al. (1992) mantiveram a viabilidade das sementes empregando recipientes metálicos herméticos. A germinação no maracujazeiro é negativamente influenciada pela possível ação de substâncias reguladoras de crescimento presentes no arilo que envolve as sementes; aliado ao fato de contribuir para uma germinação desuniforme, o arilo deve ser adequadamente retirado visando, além da obtenção da máxima germinação, a emergência rápida das plântulas (PEREIRA e D IAS, 2000). Adicionalmente, conforme relatado por M ELETTI et al. (2002), observase na semente recém-colhida um tipo de dormência, considerada temporária, que tem sido superada com o armazenamento por 30 a 40 dias; esse período de Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 armazenamento varia segundo a região e, em geral, possibilita a obtenção de índices de germinação superiores a 95%, valor que decresce cerca de 8% ao mês com o prosseguimento da armazenagem. O armazenamento de sementes, constituído por um conjunto de procedimentos voltados à preservação da qualidade do produto, atua como instrumento para a formação de estoques reguladores e à manutenção de recursos genéticos através dos bancos de germoplasma (A G U I A R et al., 1993). Entretanto, os trabalhos disponíveis a respeito da conservação das sementes de maracujazeiro, além de escassos, não permitem o estabelecimento de tecnologias de armazenagem alicerçadas no conhecimento científico existente. Assim, buscando embasamento para definir alternativas tecnológicas, a fim de desacelerar a deterioração durante o armazenamento, a pesquisa objetivou estudar, através de variações no teor de água das sementes e na temperatura do ambiente, o comportamento fisiológico de sementes de maracujá-amarelo. 2. MATERIAL E MÉTODOS O experimento, desenvolvido entre julho de 2002 e agosto de 2003, no Laboratório de Análise de Sementes, localizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/ USP, foi realizado com sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) produzidas em Mogi Mirim, SP, a partir de polinização aberta entre híbridos da Série IAC 270. As sementes, recém-extraídas de frutos maduros, foram submetidas à retirada parcial da mucilagem por turbilhonamento hídrico em equipamento, existente no Instituto Agronômico, Campinas (SP), adaptado a partir da substituição das lâminas em um liqüidificador convencional. O material obtido foi manualmente friccionado contra peneira (arame trançado) de malha inferior ao tamanho das sementes e, posteriormente, lavado em água corrente, com o objetivo de reduzir a quantidade de mucilagem restante. Em seguida, foi realizada secagem à sombra até a eliminação da água aderida externamente às sementes. Conservação de sementes de maracujá-amarelo Após esse procedimento inicial, foi determinado o grau de umidade do lote (BRASIL, 1992) e, paralelamente, obtida a amostra representante do tratamento com o maior teor de água a ser estudado (31%). As sementes remanescentes foram submetidas à secagem, em estufa com circulação de ar a 30 °C ± 5 °C, para a obtenção dos demais graus de umidade desejados (27%, 21%, 17%, 11% e 7%). Os tratamentos foram obtidos pelo acompanhamento da perda de massa das sementes durante a secagem; para tanto, amostras de sementes para o monitoramento, com massa inicial previamente conhecida, foram acondicionadas em sacos de filó e distribuídas nas bandejas da estufa para pesagens a intervalos regulares. As massas finais das amostras, correspondentes a cada um dos teores de água desejados, foram estimadas por meio do uso da equação descrita por C ROMARTY et al. (1985). À medida que foram sendo atingidos graus de umidade próximos aos desejados, as amostras foram retiradas, homogeneizadas e divididas em frações, embaladas hermeticamente em sacos transparentes de polietileno (0,14 mm de espessura) e mantidas a 10 °C até a obtenção dos demais tratamentos, 20 horas após o início do processo de secagem. Os tratamentos, correspondentes aos diferentes graus de umidade, foram armazenados em câmaras com temperaturas controladas de 10 °C, 15 °C e 20 °C. Antes do armazenamento, e após 35, 70, 105, 140, 175, 210, 245, 280, 315 e 350 dias, as sementes foram submetidas às seguintes avaliações da qualidade. Teor de água das sementes: foi determinado a 105 oC ± 3 oC por 24 horas, pelo método da estufa (BRASIL, 1992), em duas amostras de 50 sementes/ repetição. Os dados obtidos, com base na massa úmida (Bu), foram expressos em porcentagem. Teste de germinação: foram instaladas 50 sementes por repetição em rolos de papel toalha, umedecidos em volume de água equivalente a 2,5 vezes a sua massa sem a hidratação, mantidos sob temperatura alternada de 20-30 °C (B RASIL , 1992). As avaliações, totalizadas aos 28 dias da instalação do teste, forneceram dados expressos em porcentagem de plântulas normais classificadas segundo os critérios estabelecidos por PEREIRA e ANDRADE (1994). Primeira contagem de germinação: realizada conjuntamente com o teste de germinação, considerou a contagem do número de plântulas normais aos 21 dias após a semeadura na avaliação realizada antes do armazenamento e, aos 14 dias, nas demais determinações efetuadas durante o armazenamento. 275 Comprimentos de raiz, de hipocótilo e de plântula: de modo similar ao descrito no teste de germinação, 10 sementes por repetição foram instaladas em rolos de papel toalha mantidos sob temperatura alternada de 20-30 oC. Aos 21 dias após a instalação do teste, foram tomadas as distâncias (mm) do ápice da raiz à região de transição com o hipocótilo (comprimento de raiz) e desta à região de inserção das folhas cotiledonares (comprimento de hipocótilo); a soma de ambas as medidas representou o comprimento de plântula. Os dados médios foram obtidos, em cada uma das determinações, pelo quociente entre o somatório das medidas registradas e o número de sementes utilizadas. Emergência de plântula: empregando substrato de vermiculita expandida (grão médio) com disponibilidade hídrica mantida próxima à da capacidade de campo, foram semeadas (1 cm de profundidade) 50 sementes por repetição em ambiente sombreado desprovido de controles de temperatura e de umidade relativa. Foram consideradas as plântulas que, aos 28 dias após a instalação do teste, apresentaram a parte aérea exposta acima da superfície do substrato. Os dados obtidos foram expressos em porcentagem. Velocidade de emergência de plântula: foi obtida, com base na contagem do número diário de indivíduos emersos no teste de emergência de plântula, pelo cálculo de índice seguindo os procedimentos descritos por MARCOS FILHO et al. (1987). O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições, considerando seis tratamentos (teores de água) antes da armazenagem e 18 tratamentos (seis teores de água x três temperaturas de armazenagem) em cada época de avaliação durante esse período. Os dados de germinação, de primeira contagem de germinação e de emergência de plântula foram transformados em arco seno (x%/100)1/2; os de teor de água não foram submetidos à análise estatística. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Posteriormente, os tratamentos receberam pontuações conforme a ordenação hierárquica de desempenho verificada em cada avaliação fisiológica. Para tanto, foram consideradas classificações, semelhantes às empregadas por CALIARI e SILVA (2001), fundamentadas no teste de Tukey (classificação estatística) e nos valores absolutos (classificação absoluta). Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 276 S.C.L. Fonseca e W.R. Silva Na classificação estatística (Tabela 1), dentro de cada avaliação fisiológica, foi atribuída a cada um dos tratamentos a pontuação resultante do somatório das pontuações positivas ou nulas (número de tratamentos estatisticamente inferiores) com as negativas ou nulas (número de tratamentos estatisticamente superiores). Na classificação absoluta (Tabela 2), a pontuação foi representada pelo número (nulo ou positivo) de tratamentos superados em valor absoluto, independentemente das indicações estatísticas. Em ambas as classificações, o somatório dos valores obtidos em todas as avaliações constituiu a pontuação parcial do tratamento em cada período estudado; a pontuação total resultou do somatório das pontuações parciais (Tabelas 1 e 2). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados de teor de água obtidos antes do armazenamento (Tabela 3), compatíveis com os desejados, indicaram eficiência do método de acompanhamento da secagem para a obtenção dos tratamentos. Tabela 1. Classificação estatística: exemplo hipotético das pontuações parciais (∑ das pontuações obtidas nas avaliações fisiológicas por período de armazenamento) e total (∑ das pontuações parciais) atribuídas aos tratamentos (Trat.) Período A de armazenamento Trat. Avaliação x Avaliação y Período B de armazenamento Pontuação Avaliação x Avaliação y Pontuação Pontuação dados pontos dad o s pontos parcial dados pontos dados pontos parcial total 100a 2+0=2 98b 1 +( - 1 ) =0 2 96a 2+0=2 90bc 0+(-2)=-2 0 2 2 99ab 1+0=1 97bc 0+(-1)=-1 0 86c 0+(-4)=-4 97a 2+0=2 -2 -2 3 90abc 0+0=0 100a 3+0=3 3 94a 2+0=2 95a 2+0=2 4 7 4 89bc 0+(-1)=-1 96c 0+(-3)=-3 -4 90b 1+(-2)=-1 92ab 1+0=1 0 -4 5 87c 0+(-2)=-2 99ab 1+0=1 -1 92ab 1+0=1 86c 0+(-3)=-3 -2 -3 1 Tabela 2. Classificação absoluta: exemplo hipotético das pontuações parciais (∑ das pontuações obtidas nas avaliações fisiológicas por período de armazenamento) e total (∑ pontuações parciais) atribuídas aos tratamentos (Trat.) Período A de armazenamento Trat. Avaliação x Avaliação y Período B de armazenamento Pontuação Avaliação x Avaliação y Pontuação Pontuação dados pontos dad o s pontos parcial dados pontos dados pontos parcial total 1 100 4 98 2 6 96 4 90 1 5 11 2 99 3 97 1 4 86 0 97 4 4 8 3 90 2 100 4 6 94 3 95 3 6 12 4 89 1 96 0 1 90 1 92 2 3 4 5 87 0 99 3 3 92 2 86 0 2 5 Tabela 3. Teor de água (U), germinação (G), primeira contagem de germinação (PC), emergência de plântula (E), índice de velocidade de emergência de plântula (IVE), comprimento de raiz (R), comprimento de hipocótilo (H) e comprimento de plântula (P) em sementes de maracujá-amarelo: valores médios obtidos antes do armazenamento U (Bu) G PC E IVE R % H P mm 31,3 98 a 95 a 09 a 0,10 a 81 a 68 a 149 a 26,8 97 a 94 a 11 a 0,13 a 81 a 64 a 145 a 20,9 97 a 94 a 10 a 0,11 a 82 a 65 a 147 a 16,6 95 a 92 a 12 a 0,16 a 83 a 76 a 159 a 10,8 93 a 93 a 14 a 0,18 a 94 a 72 a 166 a 7,3 94 a 92 a 15 a 0,19 a 93 a 77 a 170 a Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 Conservação de sementes de maracujá-amarelo Adicionalmente, durante o armazenamento (Tabela 4), foi observada estabilidade para o grau de umidade, dentro de cada tratamento, representada por desvios máximos de 0,9% entre os dados extremos; dessa forma, a embalagem utilizada, além de proporcionar eficiência na manutenção da umidade dos tratamentos, permitiu confiabilidade nas comparações realizadas durante a armazenagem. Anteriormente à armazenagem (Tabela 3), não houve diferenças estatisticamente significativas na germinação e no vigor, indicando ausência de efeitos imediatos do processo de secagem sobre o desempenho fisiológico das sementes. Esse comportamento, independentemente da temperatura empregada na armazenagem permaneceu inalterado na germinação (Tabela 5) durante 35 dias; a partir de 70 dias, entretanto, diferenças no desempenho entre os tratamentos foram sendo paulatinamente acentuadas no decorrer do período estudado. No ambiente a 10 °C (Tabela 5), as sementes com 31% e 27% de água foram as únicas a ter a germinação anulada e, juntamente com as de 21%, tenderam a apresentar valores absolutos inferiores aos dos demais tratamentos; a superioridade dos tratamentos com 17%, 11% e 7% de umidade, estabelecida em relação aos de maior umidade, foi constantemente confirmada, em termos estatísticos, a partir de 280 dias de armazenamento. Considerando o período compreendido entre 105 e 210 dias de armazenagem, nos tratamentos com 27% e 21% de água, de modo isolado, observou-se comportamento sugestivo do surgimento e da superação seqüenciais de dormência; o método adotado, porém, não permitiu aferir a validade dessa hipótese. Similarmente, A LMEIDA (1985) e MEDINA (1980), citados por C ATUNDA et al. (2003), observaram aumento na germinação após, respectivamente, seis e 12 meses de armazenamento, atribuível à superação de um provável estado de dormência das sementes. Sob 15 °C (Tabela 5), o comportamento germinativo dos tratamentos assemelhou-se ao observado a 10 °C. Contudo, a superioridade estatística para a germinação, atribuída aos tratamentos com grau de umidade igual ou inferior a 17%, foi antecipada e permanentemente verificada a partir de 175 dias experimentais. A germinação (Tabela 5), no ambiente a 20 °C, deixou de ser anulada nas sementes com 27% de umidade. Porém, quando comparados entre si, os tratamentos mantiveram, aproximadamente, o mesmo comportamento observado a 10 °C e a 15 °C. A superioridade estatística dos tratamentos com menores teores de água (17%, 11% e 7%), por sua vez, foi menos evidente ao estabelecer-se, de modo 277 definitivo, somente após 315 dias de armazenamento. Similarmente ao verificado a 10 °C, nos tratamentos com 27% e 21% de água ocorreram variações nos dados, entre 105 e 210 dias de armazenamento, passíveis de atribuição ao fenômeno de dormência. A redução da temperatura, ao influenciar as atividades metabólicas das sementes, resulta no favorecimento das condições de armazenamento e, conseqüentemente, na conservação da sua qualidade (TOLEDO e M ARCOS F ILHO, 1977). Contudo, fixados os graus de umidade, diferenças relativas às temperaturas foram esparsas e não permitiram a identificação de tendências consistentes. Por outro lado, fixadas as temperaturas de armazenamento, as sementes com graus de umidade superiores a 17%, sofreram redução acentuada no desempenho germinativo, conforme progrediu o período de armazenamento; em sementes não secadas (31% de água), a partir de 140 dias de armazenamento, o desempenho foi predominantemente inferior ao das sementes submetidas à secagem, corroborando os dados obtidos por ALMEIDA (1985) e por SÃO JOSÉ E NAKAGAWA (1988); porém, somente a dessecação a teor de água igual ou inferior a 17% conservou adequadamente o poder germinativo durante o período estudado. A deterioração expressa-se nas sementes por intermédio de alterações químicas e fisiológicas; a perda da capacidade germinativa, observada no teste de germinação, é uma de suas manifestações finais (T OLEDO e MARCOS FILHO, 1977) e portanto, em estudos comparativos, faz-se necessária a realização de testes auxiliares capazes de identificar a deterioração em estádios anteriores. Assim, complementando os dados obtidos na germinação, foi estimado o vigor das sementes por meio de testes que forneceram os dados a seguir discutidos. Nos ambientes a 10 °C e a 15 °C, a análise dos dados de primeira contagem de germinação (Tabela 6) apontou, a partir de 280 dias de armazenamento, superioridade permanente dos tratamentos com teor de água igual ou inferior a 17% em relação aos demais. Superioridade equivalente, excetuando a similaridade comportamental para o comprimento de raiz a 10°C entre os tratamentos com 21% e 17% de água aos 350 dias (Tabela 7), foi observada para os comprimentos de raiz (Tabela 7), de hipocótilo (Tabela 8) e de plântula (Tabela 9) a partir de 280 dias de armazenamento. Nos testes de emergência de plântula (Tabela 10) e de velocidade de emergência (Tabela 11), a partir dos 210 dias de armazenamento, a superioridade observada nos demais testes tendeu a ficar restrita aos tratamentos com 11% e 7% de água, uma vez que, na maior parte dos casos, houve desempenho equivalente ao de 21% no tratamento com grau de umidade de 17%. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 278 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 Tabela 4. Teor de água das sementes de maracujá-amarelo: valores médios (%, Bu) obtidos durante o armazenamento Tratamentos Período de armazenamento (dias) 35 70 105 140 175 210 245 280 315 350 10°C/ 31% 31,1 31,3 30,9 31 31,2 31,2 31 31,3 31,1 30,9 27% 26,9 27 26,8 26,8 26,7 26,6 26,9 27 27,1 26,9 21% 20,8 21,1 20,9 20,8 20,9 21,1 21 21,3 21,1 21 17% 16,5 16,4 16,7 17 16,9 16,9 16,7 16,8 16,5 16,4 11% 11 10,8 11,1 10,9 11,1 10,8 10,6 10,5 10,7 11 7,2 7 7 7,1 7,3 7,2 7,4 7,6 7,5 7,7 31,1 31 30,9 30,8 30,9 31 31,2 31,4 31,3 31,1 27% 27 26,8 26,7 27,1 26,8 27 27,1 26,9 27,2 26,9 21% 21,1 20,8 21 21,1 20,9 21 20,7 21,3 21,1 21 17% 16,4 16,5 16,7 16,6 17 17,1 16,8 16,4 16,7 16,3 11% 10,8 11 11,2 10,9 10,9 11 11,1 10,7 10,5 11 7% 7 7,2 7,2 7,5 7,3 7,4 7,2 6,6 7,1 31 30,9 30,8 31,1 30,8 30,9 31,2 31,4 31,3 31 27% 26,8 26,9 26,6 26,6 26,4 26,7 26,9 27,1 27 26,8 21% 20,8 20,7 20,9 21 21,2 20,8 21 21,4 21,1 20,9 17% 16,5 16,7 16,7 17 16,8 16,8 16,7 16,3 16,5 16,5 11% 11,1 11,3 11,2 10,9 10,6 10,6 10,7 10,5 10,8 10,6 7% 7,4 7,3 7 7,2 7,1 7,4 7,3 7,5 7,3 7 7% 15°C/ 31% 20°C/ 31% 7,5 S.C.L. Fonseca e W.R. Silva (temperatura/teor de água) Tabela 5. Germinação das sementes de maracujá-amarelo: valores médios (%) obtidos durante o armazenamento Tratamentos Período de armazenamento (dias) 35 70 105 140 175 210 245 280 315 350 10°C/ 31% 96 a 78 c 73 de 17 i 06 f 17 ef 00 h 00 f 00 g 00 h 27% 94 a 86 bc 81 bcd 56 gh 67 e 78 c 69 ef 60 d 34 f 00 h 21% 93 a 90 abc 94 ab 78 defg 65 e 85 bc 81 def 59 d 67 e 51 ef 17% 93 a 92 abc 99 a 93 abcd 97 ab 97 a 86 cdef 94 bc 97 bc 95 bc 11% 92 a 96 ab 95 ab 96 ab 92 abc 95 a 90 cd 97 abc 7% 94 a 95 ab 96 a 95 abc 92 abc 94 ab 99 ab 99 ab 95 a 93 abc 58 e 42 h 05 f 12 f 00 h 00 f 00 g 00 h 27% 97 a 97 ab 93 ab 80 cdef 76 cde 53 d 10 g 06 e 00 g 00 h 21% 95 a 98 ab 96 a 87 bcde 75 de 75 c 68 f 48 d 37 f 30 g 17% 94 a 99 a 99 a 97 ab 96 ab 100 a 95 abcd 94 bc 97 bc 94 bc 11% 98 a 96 ab 96 a 96 ab 94 ab 96 a 98 abc 96 abc 96 bcd 90 cd 7% 96 a 93 abc 97 a 95 abc 94 ab 96 a 95 abcd 96 abc 88 d 80 d 92 a 89 abc 77 cde 18 i 12 f 27 e 21 g 00 f 00 g 00 h 27% 95 a 93 abc 92 abc 69 efg 86 bcd 97 a 88 cde 90 c 58 e 31 fg 21% 94 a 97 ab 94 ab 62 fgh 97 ab 96 a 90 bcd 93 bc 63 e 55 e 17% 93 a 99 a 97 a 92 abcd 98 a 99 a 100 a 99 ab 95 bcd 98 ab 11% 89 a 91 abc 96 a 95 abc 89 abcd 99 a 100 a 97 bc 98 ab 7% 96 a 95 ab 95 ab 99 a 90 abcd 97 a 15°C/ 31% 98 abc 100 a 100 a 99 ab 100 a 99 ab 99 ab 100 a Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 279 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 20°C/ 31% 100 a Conservação de sementes de maracujá-amarelo (temperatura/teor de água) 280 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 Tabela 6. Primeira contagem de germinação das sementes de maracujá-amarelo: valores médios (%) obtidos durante o armazenamento Tratamentos Período de armazenamento (dias) 35 70 105 140 175 210 245 280 315 350 10°C/ 31% 38 de 19 g 21 gh 00 h 00 h 00 g 00 h 00 g 00 g 00 g 27% 40 de 38 fg 48 ef 10 g 08 g 08 f 05 fg 08 f 05 f 00 g 21% 46 bcde 58 def 71 abcd 41 de 45 ef 57 d 37 cd 41 de 13 ef 15 f 17% 64 abc 66 cde 80 abc 57 cd 88 a 76 bc 53 c 69 c 84 bc 92 abc 11% 70 a 75 abcd 84 abc 71 bc 81 ab 92 a 97 a 95 ab 84 bc 90 bcd 7% 71 a 83 abc 86 a 81 ab 87 a 88 ab 98 a 97 a 95 a 97 abc 31 e 52 ef 03 i 00 h 00 h 00 g 00 h 00 g 00 g 00 g 27% 42 cde 66 cde 38 fg 21 ef 16 g 11 f 00 h 01 fg 00 g 00 g 21% 49 abcde 79 abcd 66 cde 54 cd 50 de 31 e 15 ef 34 e 10 ef 00 g 17% 64 abc 86 ab 72 abcd 83 ab 84 a 51 d 27 de 67 c 79 bc 87 cd 11% 66 ab 88 a 82 abc 89 ab 85 a 75 bc 83 b 87 b 87 ab 75 de 72 a 89 a 85 ab 90 ab 80 abc 75 bc 93 ab 87 b 81 bc 65 e 61 abcd 67 bcde 14 hi 00 h 00 h 00 g 00 h 00 g 00 g 00 g 27% 70 a 74 abcde 36 fg 13 g 31 f 32 e 03 gh 27 e 18 e 00 g 21% 72 a 80 abc 53 def 38 ef 44 ef 62 cd 53 c 58 cd 46 d 21 f 17% 60 abcd 90 a 67 bcde 85 ab 86 a 91 a 98 a 96 ab 73 c 97 abc 11% 68 ab 86 ab 70 abcd 82 ab 65 cd 92 a 91 ab 92 ab 95 a 98 ab 7% 64 abc 76 abcd 78 abc 92 a 67 bcd 83 ab 90 ab 92 ab 87 ab 99 a 15°C/ 31% 7% 20°C/ 31% Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. S.C.L. Fonseca e W.R. Silva (temperatura/teor de água) Tabela 7. Comprimento de raiz em maracujá-amarelo: valores médios (mm) obtidos durante o armazenamento Trata-mentos Período de armazenamento (dias) 35 70 105 140 175 210 245 280 315 350 10°C/ 31% 84 abcde 63 de 77 abc 48 def 13 de 11 de 00 g 00 g 00 f 00 f 27% 90 ab 73 bcde 84 ab 70 bcd 45 cd 37 cd 34 f 52 e 13 ef 00 f 21% 95 a 79 abcd 88 ab 79 abc 65 abc 62 bc 52 def 62 de 21 e 24 e 17% 89 abc 87 abc 89 ab 91 ab 86 ab 97 a 88 ab 91 abc 85 abc 46 de 11% 93 a 92 ab 92 a 98 a 78 abc 61 bc 102 ab 90 ab 63 cd 88 abcd 95 a 91 a 96 a 93 a 80 ab 94 ab 108 a 98 a 96 a 62 fg 70 cde 58 c 27 f 03 e 07 e 00 g 00 g 00 f 00 f 27% 71 cdef 75 abcde 70 bc 50 def 68 abc 50 c 03 g 08 g 00 f 00 f 21% 81 abcde 74 bcde 71 bc 70 bcd 73 abc 77 ab 40 ef 28 f 20 e 28 e 17% 78 abcdef 80 abcd 92 a 78 abc 83 ab 94 a 83 ab 79 cd 75 c 95 a 11% 73 bcdef 84 abc 85 ab 82 abc 93 a 92 a 71 bcd 90 abc 85 abc 88 ab 7% 83 abcde 92 ab 87 ab 92 ab 93 a 89 a 58 cde 80 cd 74 c 95 a 40 h 57 e 58 c 42 ef 16 de 21 de 00 g 00 g 00 f 00 f 27% 60 fg 75 abcde 78 ab 63 cde 76 abc 82 ab 59 cde 86 bc 50 d 38 e 21% 50 gh 78 abcd 79 ab 79 abc 55 bc 90 a 59 cde 93 abc 74 c 44 de 17% 48 gh 87 abc 88 ab 85 abc 63 abc 92 a 84 ab 100 ab 58 d 82 abc 11% 66 efg 84 abc 82 ab 81 abc 63 abc 90 a 81 abc 108 a 81 bc 72 bc 7% 70 def 91 ab 82 ab 85 abc 63 abc 96 a 99 a 81 bc 88 ab 7% 15°C/ 31% 95 abc Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 281 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 20°C/ 31% 102 a Conservação de sementes de maracujá-amarelo (temperatura/teor de água) 282 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 Tabela 8. Comprimento de hipocótilo em maracujá-amarelo: valores médios (mm) obtidos durante o armazenamento Trata-mentos (temperatura/teor de água) Período de armazenamento (dias) 35 70 105 140 210 245 280 315 350 65 bcd 44 e 52 cde 24 hi 09 fg 09 g 00 h 00 f 00 e 00 g 27% 62 cde 55 de 51 cde 46 efgh 28 ef 37 ef 27 fg 28 de 09 e 00 g 21% 67 abcd 58 cde 61 abcd 58 defg 49 de 73 bcd 40 defg 37 d 10 e 15 efg 17% 80 a 62 bcde 66 abcd 70 cde 84 ab 93 ab 69 b 84 b 63 c 43 cd 11% 79 ab 74 abcd 77 abc 85 abcd 84 ab 61 d 95 a 106 a 77 ab 61 bc 80 a 76 abcd 83 ab 84 abcd 91 a 97 a 93 a 107 a 84 a 84 a 53 def 63 bcde 26 e 08 i 02 g 05 g 00 h 00 f 00 e 00 g 27% 56 cde 60 bcde 43 de 19 hi 52 de 32 f 02 h 07 f 00 e 00 g 21% 58 cde 69 bcd 58 bcd 39 fgh 65 bcd 58 de 21 gh 15 ef 10 e 13 fg 17% 68 abc 72 abcd 72 abc 61 defg 79 abc 74 bcd 54 bcde 65 bc 60 c 83 a 11% 67 abcd 79 abc 74 abc 82 bcd 88 ab 86 abc 62 bcd 66 bc 72 abc 79 ab 68 abc 82 ab 86 a 106 ab 88 ab 82 abc 34 efg 65 bc 79 a 86 a 40 fgh 75 abcd 43 de 32 ghi 14 fg 18 fg 00 h 00 f 00 e 00 g 27% 32 h 61 bcde 42 de 62 def 68 abcd 70 cd 28 fg 58 c 31 d 25 def 21% 39 gh 66 bcde 50 cde 66 cdef 48 de 72 bcd 45 cdef 59 c 43 d 34 de 17% 48 efg 73 abcd 66 abcd 94 abc 63 bcd 76 abcd 68 bc 80 b 66 bc 84 a 11% 49 efg 82 ab 67 abcd 85 abcd 55 cd 75 abcd 67 bc 82 b 61 c 85 a 7% 62 cde 93 a 68 abcd 112 a 64 bcd 77 abcd 73 ab 77 bc 78 ab 86 a 10°C/ 31% 7% 15°C/ 31% 7% 20°C/ 31% Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. S.C.L. Fonseca e W.R. Silva 175 Tabela 9. Comprimento de plântula em maracujá-amarelo: valores médios (mm) obtidos durante o armazenamento Trata-mentos Período de armazenamento (dias) (temperatura/teor de água) 10°C/ 31% 35 70 105 140 175 210 245 280 315 350 107 e 128 cdef 72 hi 22 fg 20 g 00 h 00 h 00 i 00 f 27% 152 abc 128 de 135abcdef 116 efgh 72 ef 74 ef 61 g 78 ef 22 hi 00 f 21% 162 ab 136 bcde 150abcde 137 cdef 117 cde 135 bc 92 fg 99 e 31 h 39 ef 17% 169 a 152 abcd 155abcde 161abcdef 170 abc 190 a 158 bcd 175 bcd 147 bcd 90 cd 11% 172 a 165 abcd 169 abc 184 abc 162 abc 122 cd 197 a 209 ab 166 ab 124 bc 7% 168 a 171 abc 174 a 180 abc 184 a 178 a 187 ab 215 a 182 a 180 a 115 cdef 134 bcde 84 g 35 i 05 g 12 g 00 h 00 h 00 i 00 f 27% 127 bcde 135 bcde 113 efg 69 hi 120 cde 82 de 05 h 14 gh 00 i 00 f 21% 139 abc 143abcde 130bcdef 109 fgh 138 abcd 136 bc 61 g 43 fg 30 h 41 ef 17% 147 abc 153 abcd 165 abc 139 cdef 162 abc 168 ab 137 cde 144 d 134 def 178 a 11% 140 abc 164 abcd 159 abcd 165abcde 181 ab 178 a 133 de 157 cd 158 bc 168 a 7% 151 abc 175 ab 173 ab 198 a 182 a 172 ab 92 fg 145 d 152 bcd 181 a 80 f 132 cde 101 fg 74 ghi 31 fg 36 fg 00 h 00 h 00 i 00 f 27% 92 def 137 bcde 120 defg 126 defg 144 abcd 153 abc 87 fg 144 d 81 g 63 de 21% 90 ef 144abcde 130bcdef 145bcdef 103 de 162 abc 104 ef 152 cd 117 f 78 de 17% 96 def 160 abcd 154abcde 178 abcd 126 cd 168 ab 153 bcd 180 abcd 123 ef 166 a 11% 114 cdef 166 abcd 149abcde 166abcde 119 cde 166 ab 148 cd 190 abc 142 cde 157 ab 7% 132 abcd 184 a 149abcde 197 ab 128 bcd 174 ab 172 abc 172 bcd 159 bc 175 a 15°C/ 31% Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 283 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 20°C/ 31% Conservação de sementes de maracujá-amarelo 149 abc 284 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 Tabela 10. Emergência de plântula em maracujá-amarelo: valores médios (%) obtidos durante o armazenamento Tratamentos Período de armazenamento (dias) (temperatura/teor de água) 105 140 175 210 245 280 315 08 f 03 i 03 g 06 gh 00 f 00 d 00 f 00 f 00 d 00 f 27% 10 ef 06 fghi 10 fg 11 fg 02 ef 03 bcd 00 f 00 f 00 d 00 f 21% 12 def 09 efghi 13 efg 17 efg 11 de 11 bc 03 ef 10 de 00 d 05 def 17% 20 abcdef 15 defghi 20 def 33 cde 22 cd 15 b 11 de 14 d 06 c 08 de 11% 26 abc 21bcdefg 33 bcd 39 bcde 40 bc 54 a 54 ab 48 bc 17 bc 32 abc 24 abcd 27 abcde 31 cde 50 abcd 51 ab 59 a 69 ab 79 a 48 a 39 ab 09 ef 04 hi 01 g 00 h 00 f 00 d 00 f 00 f 00 d 00 f 27% 12 def 18cdefghi 21 def 00 h 04 ef 00 d 03 ef 00 f 00 d 00 f 21% 15 bcdef 23 bcdef 27 cdef 18 efg 12 de 09 bc 06 ef 08 de 00 d 01 ef 17% 19 bcdef 20cdefgh 35 abcd 31 cdef 08 de 13 bc 07 def 18 d 05 cd 15 cd 11% 21 abcde 35 abcd 41 abcd 54 abc 44 abc 67 a 56 ab 50 b 40 a 51 a 7% 25 abcd 38 abcd 47 abc 71 a 66 a 64 a 73 a 77 a 46 a 43 a 13 cdef 20cdefgh 03 g 00 h 00 f 00 d 00 f 00 f 00 d 00 f 27% 17 bcdef 36 abcd 20 def 04 gh 01 ef 01 cd 00 f 01 ef 00 d 00 f 21% 20 abcdef 40 abc 27 cdef 28 def 05 ef 05 bcd 26 cd 25 cd 18 bc 11 de 17% 25 abcd 42 abc 46 abc 65 a 08 de 11 bc 45 bc 45 bc 32 ab 20 bcd 11% 29 ab 46 ab 54 ab 62 ab 58 ab 64 a 75 a 61 ab 25 ab 30 abc 35 a 52 a 57 a 62 ab 54 ab 74 a 79 a 70 ab 44 a 34 abc 7% 15°C/31% 20°C/31% 7% Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 350 S.C.L. Fonseca e W.R. Silva 70 10°C/31% 35 Tabela 11. Índice de velocidade de emergência (IVE) de plântula em maracujá-amarelo: valores médios obtidos durante o armazenamento Tratamentos (temperatura/teor de água) Período de armazenamento (dias) 35 70 105 140 175 210 245 280 315 350 0,11 e 0,04 g 0,05 g 0,04 c 00 c 00 c 00 d 00 f 00 e 00 f 27% 0,12 e 0,06 fg 0,10 fg 0,11 c 0,03 c 0,03 c 00 d 00 f 00 e 00 f 21% 0,16 de 0,10 efg 0,14 efg 0,13 c 0,16 c 0,14 c 0,03 d 0,11 ef 00 e 0,04 ef 17% 0,27 bcde 0,18 efg 0,18 efg 0,29 bc 0,27 c 0,23 c 0,16 d 0,15 ef 0,07 de 0,07 ef 11% 0,35 abcd 0,23 defg 0,32 cde 0,51 ab 0,73 b 1,07 b 0,96 bc 0,76 cd 0,21 cde 0,34 abc 7% 0,33 abcd 0,32 bcde 0,31 cde 0,59 a 0,97 ab 1,33 ab 1,24 ab 1,27 a 0,61 a 0,41 ab 0,12 e 0,05 fg 0,01 g 00 c 00 c 00 c 00 d 00 f 00 e 00 f 27% 0,15 de 0,24 defg 0,18 efg 00 c 0,07 c 00 c 0,03 d 00 f 00 e 00 f 21% 0,18 cde 0,31 bcde 0,25 def 0,17 c 0,19 c 0,15 c 0,06 d 0,08 ef 00 e 0,01 f 17% 0,27 bcde 0,27 cdef 0,33 bcde 0,29 bc 0,13 c 0,19 c 0,08 d 0,19 ef 0,05 e 0,14 def 11% 0,28abcde 0,52 ab 0,40 abcd 0,52 ab 0,85 b 1,32 ab 1,01 b 0,67 d 0,49 ab 0,49 a 7% 0,33 abcd 0,63 a 0,45 abc 0,78 a 1,28 a 1,43 ab 1,35 a 1,07 ab 0,47 ab 0,45 ab 0,17 de 0,30 bcde 0,05 g 00 c 00 c 00 c 00 d 00 f 00 e 00 f 27% 0,23 bcde 0,43 abcd 0,18 efg 0,06 c 0,01 c 0,02 c 00 d 0,01 f 00 e 00 f 21% 0,28abcde 0,47 abc 0,25 def 0,27 bc 0,08 c 0,11 c 0,32 d 0,33 e 0,18 cde 0,10 ef 17% 0,38 abc 0,49 abc 0,42 abcd 0,50 ab 0,12 c 0,17 c 0,66 c 0,62 d 0,37 abc 0,21 cde 11% 0,42 ab 0,49 abc 0,52 ab 0,64 a 1,12 ab 1,33 ab 1,40 a 1,12 ab 0,31 bcd 0,30 bcd 7% 0,48 a 0,55 a 0,54 a 0,66 a 1,09 ab 1,61 a 1,46 a 0,96 bc 0,54 ab 0,35 abc 15°C/31% Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 285 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 20°C/31% Conservação de sementes de maracujá-amarelo 10°C/31% 286 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 Tabela 12. Classificação estatística: pontuações parciais (å das pontuações obtidas nas avaliações fisiológicas por período de armazenamento) e total (å das pontuações parciais) atribuídas aos tratamentos Tratamentos Período de armazenamento (dias) 350 Total 35 70 105 140 175 210 245 280 315 10°C/31% -11 -75 -52 -83 -89 -91 -86 -90 -80 -76 -733 27% -10 -42 -28 -41 -54 -60 -44 -57 -63 -76 -475 21% 9 -23 2 -11 -21 -14 -26 -36 -49 -38 -207 17% 27 -12 10 13 32 29 19 18 36 12 184 11% 39 4 28 47 53 35 82 75 50 49 462 7% 35 17 35 56 67 64 82 90 98 79 623 15°C/31% -38 -35 -92 -88 -92 -93 -86 -90 -80 -76 -770 27% -15 -12 -25 -60 -26 -66 -81 -84 -80 -76 -525 21% 6 5 5 -19 -5 -14 -54 -51 -54 -54 -235 17% 14 8 30 21 25 15 11 9 20 50 203 11% 15 25 33 49 62 59 51 50 70 65 479 7% 26 31 45 66 66 57 45 56 64 62 518 20°C/31% -43 -13 -79 -85 -89 -87 -82 -90 -80 -76 -724 27% -29 9 -20 -36 -3 1 -36 -10 -30 -42 -196 21% -31 17 1 -8 -16 13 -1 19 2 -17 -21 17% -19 25 29 55 17 30 61 57 40 63 358 11% 2 27 38 57 33 62 69 74 61 71 494 7% 23 44 40 67 40 60 76 60 75 80 565 S.C.L. Fonseca e W.R. Silva (temperatura/teor de água) Tabela 13. Classificação absoluta: pontuações parciais (å das pontuações obtidas nas avaliações fisiológicas por período de armazenament o) e total (å das pontuações parciais) atribuídas aos tratamentos Tratamentos Período de armazenamento (dias) 35 10°C/31% 47 27% 70 350 Total 140 175 210 245 280 315 1 19 13 4 4 0 0 0 0 88 47 11 35 31 24 28 23 25 20 0 244 21% 56 27 54 46 46 50 45 44 31 44 443 17% 74 43 74 72 95 96 76 74 80 88 772 11% 91 71 91 92 83 64 105 103 89 78 867 7% 89 86 95 90 103 88 105 114 118 90 978 15°C/31% 26 21 0 2 0 0 0 0 0 0 49 27% 44 40 27 17 42 18 21 15 0 0 224 21% 52 62 48 43 63 43 37 40 25 34 447 17% 62 70 94 69 79 80 66 59 69 84 732 11% 77 88 87 88 97 91 80 79 96 91 874 7% 90 82 104 104 103 86 75 79 88 98 909 20°C/31% 20 36 8 8 8 8 3 0 0 0 91 27% 42 51 26 34 51 50 32 45 34 27 392 21% 45 72 43 52 45 58 64 66 61 58 564 17% 44 94 82 90 67 83 99 92 79 89 819 11% 57 85 77 87 67 91 99 104 95 89 851 7% 76 99 81 109 72 102 93 92 90 105 919 287 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 105 Conservação de sementes de maracujá-amarelo (temperatura/teor de água) 288 S.C.L. Fonseca e W.R. Silva Sob 20 °C, os dados da primeira contagem de germinação (Tabela 6) forneceram indicações similares às observadas nas demais temperaturas, destacando a superioridade dos tratamentos portadores dos menores teores de água (17%, 11% e 7%) a partir de 140 dias de armazenamento. Os testes de comprimentos de raiz (Tabela 7), de hipocótilo (Tabela 8) e de plântula (Tabela 9), por sua vez, detectaram a referida superioridade, mais tardiamente, aos 350 dias de armazenamento. Nos testes de emergência de plântula (Tabela 10) e de velocidade de emergência (Tabela 11), os dados não originaram indicações estatísticas suficientes para proporcionar consistência à sua interpretação; contudo, considerados os valores absolutos observados, a superioridade dos tratamentos com teor de água igual ou inferior a 17% predominou durante o armazenamento. temperatura de 10 °C supera as demais no favorecimento à manutenção do potencial fisiológico das sementes de Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg. Os resultados verificados nas avaliações fisiológicas, evidenciando a influência do teor de água na deterioração das sementes, detectaram os valores iguais ou inferiores a 17% de água como favoráveis à conservação independentemente da temperatura de armazenamento. Contudo, o método de interpretação empregado, considerando os testes isoladamente, acarretou dificuldades para identificar a combinação específica, entre teor de água e temperatura, mais vantajosa à manutenção do desempenho fisiológico das sementes. AGUIAR, I.B.; PINA-RODRIGUES, F.C.M.; FIGLIOLIA, M.B. Sementes florestais tropicais. Brasília: ABRATES, 1993. 350p. Na busca desse esclarecimento, os dados obtidos nos testes fisiológicos foram conjuntamente interpretados, através da atribuição de pontuações aos tratamentos, utilizando os critérios de classificação estatística (Tabela 12) e absoluta (Tabela 13) aplicados por CALIARI e SILVA (2001). Em ambas as classificações, foi confirmada a superioridade dos tratamentos com graus de umidade de 17%, 11% e 7%; entre esses, dentro de cada temperatura, o tratamento com 7% de água destacouse invariavelmente como superior aos demais. Adicionalmente, realizando comparações entre as pontuações de todas as combinações (teores de água e temperaturas) estudadas, 7% de água associado a 10°C apresentou a maior pontuação total e constituiu a condição mais favorável à conservação das sementes. REFERÊNCIAS ALMEIDA, A.M. Maturação e qualidade fisiológica de sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa Deg.). 1985. 91f. Dissertação (M.S.) - Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu. ALMEIDA, A.M.; NAKAGAWA, J.; ALMEIDA, R.M. Efeito de armazenamento na germinação de sementes de maracujáamarelo de diferentes estádios de maturação. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 9., 1987, Campinas. Anais... Campinas: SBF, 1988, v.2, p.603-608. BRASIL. Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília, 1992. 365p. CALIARI, M.F.; SILVA, W.R. Interpretação de dados de testes de vigor na avaliação da qualidade fisiológica de sementes de milho. 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Estudo da germinação de sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) armazenado sob duas diferentes condições. 1974. 22f. Monografia (Graduação) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal. Admitindo os intervalos de 31% a 7% de água e de 10 °C a 20 °C para o armazenamento, a combinação do grau de umidade de 7% com a LIMA, D.; BRUNO, R.L.A.; LIMA, A.A.; CARDOSO, E.A. Efeito de recipientes e de dois ambientes de armazenamento sobre a germinação e vigor de sementes de maracujá-amarelo. Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v.13, n.2, p.27-32, 1992. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 Conservação de sementes de maracujá-amarelo MARCOS FILHO, J.; CICERO, S.M.; SILVA, W.R. Avaliação da qualidade das sementes. Piracicaba: FEALQ, 1987. 230p. MEDINA, J.C. Maracujá: da cultura ao processamento e comercialização. Campinas: ITAL, 1980. 207p. 289 PEREIRA, K.J.C.; DIAS, D.C.F.S. Germinação e vigor de sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) submetidas a diferentes métodos de remoção da mucilagem. Revista Brasileira de Sementes, Campinas, v.22, n.1, p.288-291, 2000. MELETTI, L.M.M.; FURLANI, P.R.; ÁLVARES, V.; SOARESSCOTT, M.D.; BERNACCI, L.C.; AZEVEDO FILHO, J.A. Novas tecnologias melhoram a produção de mudas de maracujá. O Agronômico, Campinas, v.54, n.1, p.30-33, 2002. SÃO JOSÉ, A.R. Influência do método de extração na qualidade fisiológica de sementes de maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.). 1987. 87f. Dissertação (M.S) Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu. OLIVEIRA, J.C.; SADER, R.; ZAMPIERI, R.A. Efeito da idade sobre a emergência e vigor de sementes de maracujá-amarelo. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.6, n.2, p.37-43, 1984. SÃO JOSÉ, A.R.; NAKAGAWA, J. Influência do método de extração na qualidade fisiológica de sementes de maracujazeiro amarelo. 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Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.273-289, 2005 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 TECNOLOGIA DE SEMENTES Recobrimento de sementes de brócolos e salsa com coberturas e filmes biodegradáveis Covering broccoli and parsley seeds with biodegradable films and coatings Patrícia Sayuri Tanada-PalmuI; Paula de Salles Penteado ProençaI,III; Paulo Espíndola TraniII; Francisco Antonio PassosII; Carlos Raimundo Ferreira GrossoI IDepartamento de Alimentos e Nutrição, Faculdade de Engenharia de Alimentos, UNICAMP, Caixa Postal 6121, 13083-862 Campinas (SP) IICentro de Análise e Pesquisa Tecnológica de Horticultura, IAC, Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP) IIIBolsista de Iniciação Científica da FAPESP RESUMO O objetivo deste trabalho foi a comparação do desempenho de sementes de brócolos e de salsa cobertas ou aderidas a filmes biodegradáveis de quitosana e gelatina. Inicialmente, determinouse o número ótimo de camadas de cobertura e a espessura do filme, para não comprometer a germinação das sementes. O desempenho foi avaliado por meio da capacidade de germinação e do vigor, e pelas massas de material fresco e seco de plantas com cerca de 30 dias. Observou-se germinação inferior ao controle nas sementes inseridas às fitas. O recobrimento de sementes obteve bons resultados em termos de vigor e desenvolvimento das plantas. Pelos resultados indicados, verificou-se que o recobrimento de sementes, com coberturas biodegradáveis, pode ser promissor, devido à melhoria na germinação das sementes recobertas e também no desenvolvimento das plantas quando comparadas às sementes sem tratamento. Palavras-chave: quitosana, sementes de salsa e brócolos, plantas, germinação, vigor. ABSTRACT The objective of this work was to compare the performance of broccoli and parsley seeds coated or adhered to biodegradable films of gelatin and chitosan. Initially, the optimum number of coating layers and the thickness of the film were determined in order not to affect the germination of seeds. The performance was evaluated by germination capacity and vigor, and by fresh and dry weight of plants with 30 days. The seeds inserted into the films of gelatin and chitosan showed lower germination results than the control seeds. The coating of the seeds with gelatin and chitosan coatings of had good results in terms of vigor and development of plants. The results indicated that coating the seeds with biodegradable coatings can be promising due to the improvement of the germination of the coated seeds and the development of the plants when compared to the seeds with not treated. Key words: chitosan, broccoli and parsley seeds, plants, germination, vigor. 1. INTRODUÇÃO Recentemente, tem havido grande interesse no desenvolvimento de filmes ou coberturas biodegradáveis, principalmente pelo impacto ambiental provocado pela degradação muito lenta das embalagens convencionais de alimentos. Além disso, há oportunidades para a criação de novos mercados para matérias-primas renováveis, derivadas de produtos agrícolas, na produção de filmes (TANADA-PALMU e GROSSO, 2002a,b; PARK, 1999; AMARANTE e BANKS, 2001). O filme biodegradável é uma película fina à base de material biológico, que pode agir como uma barreira a elementos externos tais como umidade, óleo e gases e, conseqüentemente, confere maior proteção ao produto revestido, aumentando assim seu armazenamento. Entre as propriedades funcionais dos filmes biodegradáveis podem ainda ser mencionados o transporte de gases (O2 e CO2) e de solutos; a retenção de compostos aromáticos e o transporte e a incorporação de aditivos alimentícios, tais como, nutrientes, aromas, pigmentos ou agentes antioxidantes e antimicrobianos. A utilização da técnica de recobrimento de sementes com uma camada polimérica fina e uniforme de filme, para minimizar a perda dos aditivos aplicados, pode representar boa alternativa para a agricultura (DUAN e BURRIS, 1997). As sementes com esse recobrimento têm, praticamente, forma e tamanho iguais à semente sem cobertura, com ganho mínimo de massa. Aos filmes e, conseqüentemente, às sementes, podem ser incorporados pesticidas, nutrientes, corantes e outros aditivos (BUTLER, 1993). As coberturas biodegradáveis enriquecidas com nutrientes, além de melhorar a emergência das plântulas, também podem auxiliar no seu crescimento. Os agricultores, porém, têm sido reticentes em adotar novos métodos, que alterem hábitos consagrados de manejo das plantações (SHAYA et al., 1991). A composição do material de recobrimento das sementes pode influenciar a germinação, inibir o ressecamento das raízes, controlar a infestação por pragas e auxiliar na fertilização do solo nas proximidades da semente. Entre os exemplos de culturas beneficiadas, podem ser citados o algodão e o feijão, com aumento de 20% a 30% no índice de germinação (NUSSINOVITCH, 1997). Sementes de arroz, recobertas com filme de alginato de sódio e óxido de cálcio, germinaram melhor e, nas plantas, ocorreu melhor crescimento em relação às sementes não recobertas, atribuindo-se esses resultados à presença de óxido de cálcio e aos compostos antibióticos adicionados à solução filmogênica. Sementes de ervilha foram tratadas contra o apodrecimento da raiz, utilizando-se um filme de alginato, verificando-se, também, aumento no tamanho médio das plantas. Esse estudo comprovou a efetividade do uso de cobertura de sementes no controle de microorganismos (DANDURAND e KNUDSEN, 1993). O objetivo do presente trabalho foi avaliar os efeitos da cobertura ou inclusão em fitas biodegradáveis na germinação e no vigor de sementes de brócolos e de salsa. 2. MATERIAL E MÉTODOS Inicialmente, a quitosana (PADETEC-UFC) passou por um processo de desacetilação, sendo dissolvida em solução de hidróxido de sódio (25%), na proporção de 1:5 (p/v) em temperatura ambiente. Essa solução foi mantida em repouso por sete dias e, após esse período, procedeuse a lavagem da quitosana com água até atingir-se pH neutro e a secagem em estufa a vácuo a 40 ºC por 24 horas. A solução de cobertura e o filme de quitosana foram preparados com base em solução de 2% dessa quitosana desacetilada, ajustando-se o pH em 4,5 com ácido clorídrico concentrado. A seguir, a solução foi centrifugada por 15 minutos a 4.000 rpm. Ao sobrenadante obtido (solução filmogênica) foi adicionado 0,25 g de glicerol (Merck, Darmstadt), com agitação moderada e sob aquecimento (cerca de 50 ºC). A solução de cobertura e o filme de gelatina foram preparados hidratando-se, 10 g de gelatina (tipo A, 244 bloom, Leiner Davis, Brasil) por 1 hora em 100 mL de água destilada, e em seguida, aquecendo-se essa solução a 70 ºC por 10 minutos e acrescentando-se 0,5 g de glicerol. As sementes de salsa 'Lisa comum' e brócolos 'Ramoso' (IAC), sem defensivos, foram recobertas com as coberturas de quitosana e gelatina em drageadeira-piloto, do tipo "pan coating", marca Incal, modelo JAA 110E, de capacidade de 5 L e a uma velocidade de rotação de 25 rpm, no ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos), normalmente usada na cobertura de confeitos de chocolate, balas e doces em geral. Para cada 100 g de sementes, utilizaram-se 10 g de solução de cobertura. As sementes foram colocadas na drageadeira e a solução de cobertura foi aspergida sobre elas, sendo mantidas em movimento durante a aplicação. Houve passagem de ar frio para a secagem da primeira camada de cobertura até que a aglomeração entre as sementes fosse reduzida. Em seguida, a solução de cobertura foi novamente aspergida e as sementes secas para a formação da segunda camada de cobertura, e assim sucessivamente. A fita de filme contendo as sementes foi preparada à base da solução filmogênica, colocada sobre placas de acrílico (15 x 15 cm), com 25 sementes em espaçamento de 1 cm sobre a solução; posteriormente, nova aplicação da solução filmogênica, recobrindo-as. O volume da solução filmogênica colocada sobre a placa foi variado a fim de se obter diversas espessuras para as fitas contendo as sementes. Foram realizadas quatro repetições para cada tratamento. As sementes, recobertas ou as incluídas nas fitas de filmes, foram colocadas sobre folha de papel de filtro totalmente umedecida com água destilada, em caixas de germinação (Gerbox). As caixas foram mantidas em germinadores a 20 ºC, por tempo dependente da espécie de semente, observando-se sua germinação. Foram realizadas quatro repetições de 25 sementes para cada tratamento. O teste de vigor, por meio da emergência de plântulas, foi efetuado em casa de vegetação, do Centro de Horticultura do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, entre maio e setembro de 2003. Cada parcela correspondeu a um vaso de alumínio, com 18 cm de diâmetro e 15 cm de altura, onde foram semeadas 18 sementes. Cerca de quatro dias antes da semeadura, os vasos foram lavados com solução de Super Cândida (hipoclorito de sódio, hidróxido de sódio, cloreto de sódio e água) contendo de 2% a 2,5% de cloro ativo p/p. No dia anterior à semeadura, os vasos foram preenchidos com terra de local não cultivado, peneirada, sendo tratada com solução de Mancozeb (Dithane) (20 g do produto por 10 L de água). As sementes foram colocadas na superfície do vaso, e cobertas com cerca de 60 cm3 de terra peneirada. A umidade do solo foi mantida próxima da saturação, colocando-se os vasos em caixas plásticas e mantendo-se a quantidade de água em nível constante (cerca de 1 L por caixa). Foram realizados dois experimentos. Experimento 1: Constou dos seguintes tratamentos com sementes de brócolos: a) controle (sementes sem recobrimento); b) fita de filme de gelatina (sem sementes); c) fita de filme de quitosana (sem sementes); d) fita de filme de gelatina (com sementes); e) fita de filme de quitosana (com sementes); f) sementes com cobertura de quitosana (5 camadas); g) sementes com cobertura de quitosana (15 camadas); h) sementes com cobertura de gelatina (5 camadas). Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, com três repetições. A contagem de plântulas emergidas foi realizada de três em três dias até o 30.º dia de semeadura. Foram utilizadas fitas de filmes sem inclusão de sementes para observar o tempo necessário para sua dissolução no solo. Experimento 2: Constou dos seguintes tratamentos com sementes de salsa: a) sementes com cobertura de quitosana (5 camadas); b) sementes com cobertura de gelatina (5 camadas) e c) controle (sementes sem recobrimento). Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado, com sete repetições A contagem de plântulas emergidas foi efetuada de três em três dias, até o 30.º dia da semeadura. Além de testes de emergência das plântulas, realizaram-se, também, nos dois experimentos, as determinações discriminadas a seguir: a) Matéria fresca da parte aérea: aos 30 dias após a semeadura. Em cada parcela experimental, as plantas foram cortadas rente ao solo e pesadas em balança semi-analítica. Para a determinação da matéria fresca por planta, dividiu-se o valor obtido pelo número de plantas emergidas por parcela. b) Matéria seca da parte aérea: após a determinação da matéria fresca, as plantas de cada parcela foram secas em estufa com circulação forçada de ar, a 65 ºC por 24 horas. A seguir, foram pesadas em balança analítica. Para a determinação da matéria seca por planta, dividiuse o valor obtido pelo número de plantas emergidas por parcela. Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de Tukey (5% P), utilizando-se o programa SANEST (Sistema de Análise Estatística), de ZONTA e MACHADO (1984). 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1. Efeito do número de camadas das coberturas e da espessura das fitas filmogênicas na germinação das sementes Na preparação das fitas filmogênicas, os filmes de quitosana mostraram-se frágeis e quebradiços, impedindo, assim, a variação da espessura da fita de filme (volume de solução filmogênica colocada na placa). Para os filmes de gelatina, cuja concentração utilizada foi de 10%, foi possível variar-se a espessura das fitas. No recobrimento das sementes em drageadeira, devido à viscosidade da solução filmogênica de gelatina, somente foi possível trabalhar com a aplicação de cinco camadas de cobertura das sementes. Experimentos preliminares definiram a utilização da cobertura de gelatina com aplicação de cinco camadas sobre as sementes de brócolos e a elaboração das fitas de filme de gelatina com várias espessuras (variação do volume de solução filmogênica colocada em cada placa: 8, 10, 12 e 15 mL/placa) para as sementes de salsa. Para a quitosana, foi possível variar a quantidade de camadas de cobertura (5, 10 e 15 camadas) para o recobrimento das sementes de brócolos, porém, somente foi viável o volume de 50 mL/placa de solução filmogênica para a fita contendo as sementes de salsa, devido à impossibilidade de manuseio da fita de filme de quitosana. Pela análise da tabela 1, verifica-se que a germinação das sementes de brócolos não foi afetada pelas coberturas; conforme os resultados da tabela 2, observa-se que a germinação de sementes de salsa foi afetada pela sua incrustação em fitas biodegradáveis. Os valores obtidos indicaram a inviabilidade de utilização das fitas de filme de gelatina e de quitosana como transportadoras de sementes de salsa, nas condições estudadas. Sementes recobertas, incluindo as peletizadas, têm sido usadas para muitas finalidades; uma delas é o melhor estabelecimento de plântulas, favorecendo a absorção de água livre pelas sementes no período de germinação. Nesse contexto, DADLANI et al. (1992) estudaram o potencial hidrófilo do polissacarídio alginato de sódio, combinando-o ao óxido de cálcio (CaO) ou ao polietileno glicol (PEG) 8000 no recobrimento de sementes de arroz (Oryza sativa L.). Quando utilizaram 20% (PEG) 8000 na solução, verificaram que a germinação foi prejudicada em situação de estresse de água. A adição de CaO na solução de recobrimento possibilitou o crescimento de plântula mais vigorosa, comparado ao crescimento de plântula de semente nãorecoberta, resultado obtido pela melhor absorção de água da camada de recobrimento. Em outro trabalho, foram realizados estudos para traçar a influência dos fertilizantes DAP, sulfato de zinco e borax adicionados aos pellets, na qualidade inicial da semente, na emergência, no potencial em campo e no armazenamento (por mais de três meses) de sementes de soja (SRIMATHI et al., 2002). Peletizando-se as sementes com a adição de sulfato de zinco (250 mg kg-1 de semente) houve melhora na sua qualidade inicial e no potencial de produção. O desempenho das sementes peletizadas, com e sem nutrientes, foi melhor do que no controle. O poder de germinação das sementes foi mantido por mais de 3 meses sem redução significativa na qualidade inicial. 3.2. Germinação e vigor das sementes de brócolos inseridas em fitas A fita de filme de quitosana dissolveu-se completamente no solo em uma semana, enquanto a fita de filme de gelatina dissolveu-se em 15 dias, indicando maior solubilidade do filme de quitosana. Essa observação explica o valor mais baixo de germinação das sementes de brócolos nas fitas de gelatina, devido ao maior tempo para a sua dissolução no solo. Na tabela 3, nas sementes incrustadas nas fitas de filme, observou-se comportamento inferior ao controle, com exceção da matéria fresca e seca por planta. O desempenho da fita de gelatina também foi inferior à fita de quitosana com relação à germinação e emergência de plântulas. Outra análise realizada foi a comparação visual dos tamanhos das plantas em relação ao controle, sendo menores e também crescimento irregular, quando se utilizou a fita de gelatina . Independentemente da forma como a germinação foi observada (Gerbox ou em solo), nas fitas de gelatina notaram-se valores muito baixos e diferentes das sementes, incluídas em fitas de quitosana (Tabela 3), possivelmente, devido ao maior tempo ocorrido para sua dissolução, retardando assim a germinação das sementes. Considerando os resultados (Tabela 3), verificou-se a ineficiência das fitas de filme tanto de gelatina quanto de quitosana por comprometer a germinação e vigor das sementes de brócolos, quando comparados aos obtidos para as sementes controle. Uma pesquisa foi desenvolvida para se estudar o impacto do filme polimérico na germinação de sementes de beterraba (DUAN e BURRIS, 1997). Entretanto, após a cobertura com o filme, a porcentagem de germinação variou de 68% a 94% e em metade dos lotes de sementes ocorreu redução significativa de germinação. Depois da remoção do pericarpo, não houve redução na germinação, indicando ou seja, a interação entre o filme e o pericarpo foi relevante na redução da germinação de sementes cobertas com filme. Outro trabalho investigou a aplicação do inseticida, clorpirifos, sob a forma de cobertura de filme em sementes de repolho (JYOTI et al., 2003). Os tratamentos com as sementes cobertas com clorpirifos não afetaram adversamente a germinação em testes de laboratório e ainda proveram proteção contra os insetos que atacam o repolho, por algumas semanas após o transplante para o solo. Esse resultado está de acordo com estudos europeus anteriores, sobre o potencial da cobertura de filme com clorpirifos em sementes de repolho. Em outra pesquisa, ensaios de germinação foram feitos com sementes de cenoura cobertas com filmes contendo inseticidas e os resultados comparados com a aplicação convencional de inseticidas por pulverização (NEUVEL e ÉSTER, 1990). Os resultados expressam vantagens no uso de filmes para proteção das sementes ao ataque de insetos e para prevenção de perdas devido à aplicação de fungicidas e inseticidas durante o transporte. Os filmes também mostraram bons resultados na germinação em solos. O uso de filmes previne a difusão de açúcares e desenvolve um ambiente nos arredores das sementes contra microrganismos indesejáveis. Há empresas do exterior usando fitas de papel com adesivo, ambos biodegradáveis, para sementes. Por exemplo, a empresa Gurney's Seed & Nursery, oferece fitas de papel com sementes de diversas espécies, como cenoura, pimentão, pimenta, espinafre, alface, nabo e rabanete. Há garantia de espaçamento perfeito, sem falhas e necessidade de desbaste. A empresa Park's Garden possui sementes de cenoura, alface, ervas aromáticas, flores de corte, girassol e zinia entre outras, em fitas de papel biodegradável. Assim, em alguns países do exterior as fitas de papel com sementes já estão disponíveis no comércio, para uso em jardins e hortas domésticas. 3.3. Vigor de sementes de brócolos revestidas O revestimento de sementes de brócolos com quitosana (5 e 15 camadas) e gelatina (5 camadas) não afetou o vigor, como pode ser observado na tabela 4, constituindo-se em uma técnica potencial de uso no agronegócio. Em outros experimentos da literatura, quando foram aplicadas coberturas em sementes de algodão e soja, ocorreu aumento de 20% a 30% no índice de germinação, observando-se que quanto pior as condições para o crescimento das plantas, maiores foram as vantagens do revestimento das sementes (MARK et al., 1985). Em estudo realizado por SAUVE e SHIEL (1980), utilizando polímero em base líquida em combinação com ingredientes ativos, verificou-se que as sementes tratadas com substâncias adesivas melhoraram a emergência no solo. Todavia, problemas com a fitotoxicidade em sementes recobertas são ainda comuns, principalmente quando novos materiais poliméricos são aplicados, sem estudos de adequabilidade. 3.4. Vigor de sementes de salsa revestidas Pela avaliação dos resultados da Tabela 4, constatou-se que não houve diferença entre os tratamentos para todos os testes de vigor realizados. Desse modo, pode-se dizer que a cobertura de sementes em drageadeira também não afetou o vigor de sementes de salsa, apresentando potencial de uso como cobertura protetora das sementes. WEST et al. (1985), verificaram que a aplicação da cobertura à base de cloreto de polivinilideno (PVDC), em sementes de soja, promoveu uma germinação mais rápida do que nas sementes sem a cobertura. 4. CONCLUSÕES 1. A inclusão de sementes em fitas de gelatina e quitosana afetou negativamente a germinação da salsa e brócolos e o vigor do brócolos. 2. O recobrimento de sementes com coberturas de quitosana ou gelatina não afetou sua qualidade, em termos de capacidade de germinação e de vigor em semente de brócolos e o vigor em sementes de salsa. 3. A utilização do recobrimento de sementes, funcionando como veículo para substâncias que melhorem as características de germinação e o crescimento das sementes estudadas, é viável. AGRADECIMENTOS À FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) pela bolsa de iniciação científica concedida à autora Paula S. P. Proença, ao IAC (Instituto Agronômico), pelo fornecimento das sementes e pelo auxílio nos testes de germinação em solo, a Marise B. Queiroz, pelo uso da drageadeira no ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos) e ao Senhor Antônio Francisco de Oliveira, pelas idéias e sugestões a esse trabalho e em testes preliminares . REFERÊNCIAS AMARANTE C.; BANKS N. H.. Postharvest physiology and quality of coated fruits and vegetables. Horticultural Reviews, Londres, v.26, p.161-238, 2001. BUTLER, R. Coatings, films & treatments. Seed World, Des Plaines, v.10, p.18-24, 1993. DADLANI, M.; SHENOY, V.V.; SESHU, D.V. Seed coating to improve stand establishment in rice. Seed Science & Technology, v.20, p.307-313, 1992. DANDURAND, L.M.; KNUDSEN, G.R. 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Recebido para publicação em 4 de junho de 2004 e aceito em 23 de fevereiro de 2005 Recobrimento de sementes com coberturas e filmes biodegradáveis 291 RECOBRIMENTO DE SEMENTES DE BRÓCOLOS E SALSA COM COBERTURAS E FILMES BIODEGRADÁVEIS (1) PATRÍCIA SAYURI TANADA-PALMU (2); PAULA DE SALLES PENTEADO PROENÇA (2,4); PAULO ESPÍNDOLA TRANI (3); FRANCISCO ANTONIO PASSOS (3); CARLOS RAIMUNDO FERREIRA GROSSO (2) RESUMO O objetivo deste trabalho foi a comparação do desempenho de sementes de brócolos e de salsa cobertas ou aderidas a filmes biodegradáveis de quitosana e gelatina. Inicialmente, determinou-se o número ótimo de camadas de cobertura e a espessura do filme, para não comprometer a germinação das sementes. O desempenho foi avaliado por meio da capacidade de germinação e do vigor, e pelas massas de material fresco e seco de plantas com cerca de 30 dias. Observou-se germinação inferior ao controle nas sementes inseridas às fitas. O recobrimento de sementes obteve bons resultados em termos de vigor e desenvolvimento das plantas. Pelos resultados indicados, verificou-se que o recobrimento de sementes, com coberturas biodegradáveis, pode ser promissor, devido à melhoria na germinação das sementes recobertas e também no desenvolvimento das plantas quando comparadas às sementes sem tratamento. Palavras-chave: quitosana, sementes de salsa e brócolos, plantas, germinação, vigor. ABSTRACT COVERING BROCCOLI AND PARSLEY SEEDS WITH BIODEGRADABLE FILMS AND COATINGS The objective of this work was to compare the performance of broccoli and parsley seeds coated or adhered to biodegradable films of gelatin and chitosan. Initially, the optimum number of coating layers and the thickness of the film were determined in order not to affect the germination of seeds. The performance was evaluated by germination capacity and vigor, and by fresh and dry weight of plants with 30 days. The seeds inserted into the films of gelatin and chitosan showed lower germination results than the control seeds. The coating of the seeds with gelatin and chitosan coatings of had good results in terms of vigor and development of plants. The results indicated that coating the seeds with biodegradable coatings can be promising due to the improvement of the germination of the coated seeds and the development of the plants when compared to the seeds with not treated. Key words: chitosan, broccoli and parsley seeds, plants, germination, vigor. ( 1) Recebido para publicação em 4 de junho de 2004 e aceito em 23 de fevereiro de 2005. ( 2 ) Departamento de Alimentos e Nutrição, Faculdade de Engenharia de Alimentos, UNICAMP, Caixa Postal 6121, 13083-862 Campinas (SP). ( 3) Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica de Horticultura, IAC, Caixa Postal 28, 13001-970 Campinas (SP). ( 4) Bolsista de Iniciação Científica da FAPESP. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.291-297, 2005 292 P.S. Tanada-Palmu et al. 1. INTRODUÇÃO Recentemente, tem havido grande interesse no desenvolvimento de filmes ou coberturas biodegradáveis, principalmente pelo impacto ambiental provocado pela degradação muito lenta das embalagens convencionais de alimentos. Além disso, há oportunidades para a criação de novos mercados para matérias-primas renováveis, derivadas de produtos agrícolas, na produção de filmes (T ANADAP ALMU e G ROSSO , 2002a,b; P ARK , 1999; A MARANTE e B ANKS, 2001). O filme biodegradável é uma película fina à base de material biológico, que pode agir como uma barreira a elementos externos tais como umidade, óleo e gases e, conseqüentemente, confere maior proteção ao produto revestido, aumentando assim seu armazenamento. Entre as propriedades funcionais dos filmes biodegradáveis podem ainda ser mencionados o transporte de gases (O 2 e CO 2 ) e de solutos; a retenção de compostos aromáticos e o transporte e a incorporação de aditivos alimentícios, tais como, nutrientes, aromas, pigmentos ou agentes antioxidantes e antimicrobianos. A utilização da técnica de recobrimento de sementes com uma camada polimérica fina e uniforme de filme, para minimizar a perda dos aditivos aplicados, pode representar boa alternativa para a agricultura (D UAN e B URRIS, 1997). As sementes com esse recobrimento têm, praticamente, forma e tamanho iguais à semente sem cobertura, com ganho mínimo de massa. Aos filmes e, conseqüentemente, às sementes, podem ser incorporados pesticidas, nutrientes, corantes e outros aditivos (BUTLER , 1993). As coberturas biodegradáveis enriquecidas com nutrientes, além de melhorar a emergência das plântulas, também podem auxiliar no seu crescimento. Os agricultores, porém, têm sido reticentes em adotar novos métodos, que alterem hábitos consagrados de manejo das plantações (S HAYA et al., 1991). A composição do material de recobrimento das sementes pode influenciar a germinação, inibir o ressecamento das raízes, controlar a infestação por pragas e auxiliar na fertilização do solo nas proximidades da semente. Entre os exemplos de culturas beneficiadas, podem ser citados o algodão e o feijão, com aumento de 20% a 30% no índice de germinação (N USSINOVITCH , 1997). Sementes de arroz, recobertas com filme de alginato de sódio e óxido de cálcio, germinaram melhor e, nas plantas, ocorreu melhor crescimento em relação às sementes não recobertas, atribuindo-se esses resultados à presença de óxido de cálcio e aos compostos antibióticos adicionados à solução filmogênica. Sementes de ervilha foram tratadas contra o apodrecimento da raiz, Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.291-297, 2005 utilizando-se um filme de alginato, verificando-se, também, aumento no tamanho médio das plantas. Esse estudo comprovou a efetividade do uso de cobertura de sementes no controle de microorganismos (DANDURAND e KNUDSEN, 1993). O objetivo do presente trabalho foi avaliar os efeitos da cobertura ou inclusão em fitas biodegradáveis na germinação e no vigor de sementes de brócolos e de salsa. 2. MATERIAL E MÉTODOS Inicialmente, a quitosana (PADETEC-UFC) passou por um processo de desacetilação, sendo dissolvida em solução de hidróxido de sódio (25%), na proporção de 1:5 (p/v) em temperatura ambiente. Essa solução foi mantida em repouso por sete dias e, após esse período, procedeu-se a lavagem da quitosana com água até atingir-se pH neutro e a secagem em estufa a vácuo a 40 oC por 24 horas. A solução de cobertura e o filme de quitosana foram preparados com base em solução de 2% dessa quitosana desacetilada, ajustando-se o pH em 4,5 com ácido clorídrico concentrado. A seguir, a solução foi centrifugada por 15 minutos a 4.000 rpm. Ao sobrenadante obtido (solução filmogênica) foi adicionado 0,25 g de glicerol (Merck, Darmstadt), com agitação moderada e sob aquecimento (cerca de 50 oC). A solução de cobertura e o filme de gelatina foram preparados hidratando-se, 10 g de gelatina (tipo A, 244 bloom, Leiner Davis, Brasil) por 1 hora em 100 mL de água destilada, e em seguida, aquecendo-se essa solução a 70 oC por 10 minutos e acrescentandose 0,5 g de glicerol. As sementes de salsa ‘Lisa comum’ e brócolos ‘Ramoso’ (IAC), sem defensivos, foram recobertas com as coberturas de quitosana e gelatina em drageadeirapiloto, do tipo “pan coating”, marca Incal, modelo JAA 110E, de capacidade de 5 L e a uma velocidade de rotação de 25 rpm, no ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos), normalmente usada na cobertura de confeitos de chocolate, balas e doces em geral. Para cada 100 g de sementes, utilizaram-se 10 g de solução de cobertura. As sementes foram colocadas na drageadeira e a solução de cobertura foi aspergida sobre elas, sendo mantidas em movimento durante a aplicação. Houve passagem de ar frio para a secagem da primeira camada de cobertura até que a aglomeração entre as sementes fosse reduzida. Em seguida, a solução de cobertura foi novamente aspergida e as sementes secas para a formação da segunda camada de cobertura, e assim sucessivamente. Recobrimento de sementes com coberturas e filmes biodegradáveis A fita de filme contendo as sementes foi preparada à base da solução filmogênica, colocada sobre placas de acrílico (15 x 15 cm), com 25 sementes em espaçamento de 1 cm sobre a solução; posteriormente, nova aplicação da solução filmogênica, recobrindo-as. O volume da solução filmogênica colocada sobre a placa foi variado a fim de se obter diversas espessuras para as fitas contendo as sementes. Foram realizadas quatro repetições para cada tratamento. As sementes, recobertas ou as incluídas nas fitas de filmes, foram colocadas sobre folha de papel de filtro totalmente umedecida com água destilada, em caixas de germinação (Gerbox). As caixas foram mantidas em germinadores a 20 o C, por tempo dependente da espécie de semente, observando-se sua germinação. Foram realizadas quatro repetições de 25 sementes para cada tratamento. O teste de vigor, por meio da emergência de plântulas, foi efetuado em casa de vegetação, do Centro de Horticultura do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas, entre maio e setembro de 2003. Cada parcela correspondeu a um vaso de alumínio, com 18 cm de diâmetro e 15 cm de altura, onde foram semeadas 18 sementes. Cerca de quatro dias antes da semeadura, os vasos foram lavados com solução de Super Cândida (hipoclorito de sódio, hidróxido de sódio, cloreto de sódio e água) contendo de 2% a 2,5% de cloro ativo p/p. No dia anterior à semeadura, os vasos foram preenchidos com terra de local não cultivado, peneirada, sendo tratada com solução de Mancozeb (Dithane) (20 g do produto por 10 L de água). As sementes foram colocadas na superfície do vaso, e cobertas com cerca de 60 cm 3 de terra peneirada. A umidade do solo foi mantida próxima da saturação, colocando-se os vasos em caixas plásticas e mantendo-se a quantidade de água em nível constante (cerca de 1 L por caixa). Foram realizados dois experimentos. Experimento 1: Constou dos seguintes tratamentos com sementes de brócolos: a) controle (sementes sem recobrimento); b) fita de filme de gelatina (sem sementes); c) fita de filme de quitosana (sem sementes); d) fita de filme de gelatina (com sementes); e) fita de filme de quitosana (com sementes); f) sementes com cobertura de quitosana (5 camadas); g) sementes com cobertura de quitosana (15 camadas); h) sementes com cobertura de gelatina (5 camadas). Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, com três repetições. A contagem de plântulas emergidas foi realizada de três em três dias até o 30.o dia de semeadura. Foram utilizadas fitas de 293 filmes sem inclusão de sementes para observar o tempo necessário para sua dissolução no solo. Experimento 2: Constou dos seguintes tratamentos com sementes de salsa: a) sementes com cobertura de quitosana (5 camadas); b) sementes com cobertura de gelatina (5 camadas) e c) controle (sementes sem recobrimento). Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado, com sete repetições A contagem de plântulas emergidas foi efetuada de três em três dias, até o 30. o dia da semeadura. Além de testes de emergência das plântulas, realizaram-se, também, nos dois experimentos, as determinações discriminadas a seguir: a) Matéria fresca da parte aérea: aos 30 dias após a semeadura. Em cada parcela experimental, as plantas foram cortadas rente ao solo e pesadas em balança semi-analítica. Para a determinação da matéria fresca por planta, dividiu-se o valor obtido pelo número de plantas emergidas por parcela. b) Matéria seca da parte aérea: após a determinação da matéria fresca, as plantas de cada parcela foram secas em estufa com circulação forçada de ar, a 65 oC por 24 horas. A seguir, foram pesadas em balança analítica. Para a determinação da matéria seca por planta, dividiu-se o valor obtido pelo número de plantas emergidas por parcela. Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de Tukey (5% P), utilizando-se o programa SANEST (Sistema de Análise Estatística), de ZONTA e M ACHADO (1984). 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1. Efeito do número de camadas das coberturas e da espessura das fitas filmogênicas na germinação das sementes Na preparação das fitas filmogênicas, os filmes de quitosana mostraram-se frágeis e quebradiços, impedindo, assim, a variação da espessura da fita de filme (volume de solução filmogênica colocada na placa). Para os filmes de gelatina, cuja concentração utilizada foi de 10%, foi possível variar-se a espessura das fitas. No recobrimento das sementes em drageadeira, devido à viscosidade da solução filmogênica de gelatina, somente foi possível trabalhar com a aplicação de cinco camadas de cobertura das sementes. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.291-297, 2005 294 P.S. Tanada-Palmu et al. Experimentos preliminares definiram a utilização da cobertura de gelatina com aplicação de cinco camadas sobre as sementes de brócolos e a elaboração das fitas de filme de gelatina com várias espessuras (variação do volume de solução filmogênica colocada em cada placa: 8, 10, 12 e 15 mL/placa) para as sementes de salsa. Para a quitosana, foi possível variar a quantidade de camadas de cobertura (5, 10 e 15 camadas) para o recobrimento das sementes de brócolos, porém, somente foi viável o volume de 50 mL/placa de solução filmogênica para a fita contendo as sementes de salsa, devido à impossibilidade de manuseio da fita de filme de quitosana. a absorção de água livre pelas sementes no período de germinação. Nesse contexto, DADLANI et al. (1992) estudaram o potencial hidrófilo do polissacarídio alginato de sódio, combinando-o ao óxido de cálcio (CaO) ou ao polietileno glicol (PEG) 8000 no recobrimento de sementes de arroz (Oryza sativa L.). Quando utilizaram 20% (PEG) 8000 na solução, verificaram que a germinação foi prejudicada em situação de estresse de água. A adição de CaO na solução de recobrimento possibilitou o crescimento de plântula mais vigorosa, comparado ao crescimento de plântula de semente não-recoberta, resultado obtido pela melhor absorção de água da camada de recobrimento. Pela análise da tabela 1, verifica-se que a germinação das sementes de brócolos não foi afetada pelas coberturas; conforme os resultados da tabela 2, observa-se que a germinação de sementes de salsa foi afetada pela sua incrustação em fitas biodegradáveis. Os valores obtidos indicaram a inviabilidade de utilização das fitas de filme de gelatina e de quitosana como transportadoras de sementes de salsa, nas condições estudadas. Em outro trabalho, foram realizados estudos para traçar a influência dos fertilizantes DAP, sulfato de zinco e borax adicionados aos pellets, na qualidade inicial da semente, na emergência, no potencial em campo e no armazenamento (por mais de três meses) de sementes de soja (SRIMATHI et al., 2002). Peletizandose as sementes com a adição de sulfato de zinco (250 mg kg-1 de semente) houve melhora na sua qualidade inicial e no potencial de produção. O desempenho das sementes peletizadas, com e sem nutrientes, foi melhor do que no controle. O poder de germinação das sementes foi mantido por mais de 3 meses sem redução significativa na qualidade inicial. Sementes recobertas, incluindo as peletizadas, têm sido usadas para muitas finalidades; uma delas é o melhor estabelecimento de plântulas, favorecendo Tabela 1. Porcentagem de sementes de brócolos com coberturas, germinadas em Gerbox a 20 oC. UNICAMP, Campinas (SP) Tipo de cobertura Número de camadas na cobertura Germinação (1) % Controle (sem cobertura) Cobertura de quitosana 5 10 15 88ab 96a 78ab 72b Cobertura de gelatina 5 87ab D.M.S. (5% P) C.V. (%) - 20 5,8 Médias na mesma linha com letras diferentes diferem entre si (Tukey, P<0,05). ( 1 ) Média de 4 triplicatas. Tabela 2. Porcentagem de sementes de salsa encrustadas em fitas biodegradáveis, germinadas em Gerbox, a 20 oC. UNICAMP, Campinas (SP) Tipo de fita Volume de solução filmogênica Controle Quitosana Gelatina D.M.S. (5% P) C.V. (%) mL/placa 50 8 10 12 15 % 91,0a 65,5b 24,0c 20,5cd 18,5d 15,5d - 5,1 3,3 Médias na mesma linha com letras diferentes diferem entre si (Tukey, P<0,05). (1) Média de 4 triplicatas. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.291-297, 2005 Germinação ( 1) Recobrimento de sementes com coberturas e filmes biodegradáveis 3.2. Germinação e vigor das sementes de brócolos inseridas em fitas A fita de filme de quitosana dissolveu-se completamente no solo em uma semana, enquanto a fita de filme de gelatina dissolveu-se em 15 dias, indicando maior solubilidade do filme de quitosana. Essa observação explica o valor mais baixo de germinação das sementes de brócolos nas fitas de gelatina, devido ao maior tempo para a sua dissolução no solo. Na tabela 3, nas sementes incrustadas nas fitas de filme, observou-se comportamento inferior ao controle, com exceção da matéria fresca e seca por planta. O desempenho da fita de gelatina também foi inferior à fita de quitosana com relação à germinação e emergência de plântulas. Outra análise realizada foi a comparação visual dos tamanhos das plantas em relação ao controle, sendo menores e também crescimento irregular, quando se utilizou a fita de gelatina . Independentemente da forma como a germinação foi observada (Gerbox ou em solo), nas fitas de gelatina notaram-se valores muito baixos e diferentes das sementes, incluídas em fitas de quitosana (Tabela 3), possivelmente, devido ao maior tempo ocorrido para sua dissolução, retardando assim a germinação das sementes. Considerando os resultados (Tabela 3), verificou-se a ineficiência das fitas de filme tanto de gelatina quanto de quitosana por comprometer a germinação e vigor das sementes de brócolos, quando comparados aos obtidos para as sementes controle. Uma pesquisa foi desenvolvida para se estudar o impacto do filme polimérico na germinação de sementes de beterraba (D UAN e B URRIS , 1997). Entretanto, após a cobertura com o filme, a porcentagem de germinação variou de 68% a 94% e em metade dos lotes de sementes ocorreu redução significativa de germinação. Depois da remoção do pericarpo, não houve redução na germinação, indicando ou seja, a interação entre o filme e o pericarpo foi relevante na redução da germinação de sementes cobertas com filme. Outro trabalho investigou a aplicação do inseticida, clorpirifos, sob a forma de cobertura de filme em sementes de repolho (JYOTI et al., 2003). Os tratamentos com as sementes cobertas com clorpirifos não afetaram adversamente a germinação em testes de laboratório e ainda proveram proteção contra os insetos que atacam o repolho, por algumas semanas após o transplante para o solo. Esse resultado está de 295 acordo com estudos europeus anteriores, sobre o potencial da cobertura de filme com clorpirifos em sementes de repolho. Em outra pesquisa, ensaios de germinação foram feitos com sementes de cenoura cobertas com filmes contendo inseticidas e os resultados comparados com a aplicação convencional de inseticidas por pulverização (NEUVEL e ÉSTER , 1990). Os resultados expressam vantagens no uso de filmes para proteção das sementes ao ataque de insetos e para prevenção de perdas devido à aplicação de fungicidas e inseticidas durante o transporte. Os filmes também mostraram bons resultados na germinação em solos. O uso de filmes previne a difusão de açúcares e desenvolve um ambiente nos arredores das sementes contra microrganismos indesejáveis. Há empresas do exterior usando fitas de papel com adesivo, ambos biodegradáveis, para sementes. Por exemplo, a empresa Gurney’s Seed & Nursery, oferece fitas de papel com sementes de diversas espécies, como cenoura, pimentão, pimenta, espinafre, alface, nabo e rabanete. Há garantia de espaçamento perfeito, sem falhas e necessidade de desbaste. A empresa Park’s Garden possui sementes de cenoura, alface, ervas aromáticas, flores de corte, girassol e zinia entre outras, em fitas de papel biodegradável. Assim, em alguns países do exterior as fitas de papel com sementes já estão disponíveis no comércio, para uso em jardins e hortas domésticas. 3.3. Vigor de sementes de brócolos revestidas O revestimento de sementes de brócolos com quitosana (5 e 15 camadas) e gelatina (5 camadas) não afetou o vigor, como pode ser observado na tabela 4, constituindo-se em uma técnica potencial de uso no agronegócio. Em outros experimentos da literatura, quando foram aplicadas coberturas em sementes de algodão e soja, ocorreu aumento de 20% a 30% no índice de germinação, observando-se que quanto pior as condições para o crescimento das plantas, maiores foram as vantagens do revestimento das sementes (M ARK et al., 1985). Em estudo realizado por SAUVE e SHIEL (1980), utilizando polímero em base líquida em combinação com ingredientes ativos, verificou-se que as sementes tratadas com substâncias adesivas melhoraram a emergência no solo. Todavia, problemas com a fitotoxicidade em sementes recobertas são ainda comuns, principalmente quando novos materiais poliméricos são aplicados, sem estudos de adequabilidade. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.291-297, 2005 296 P.S. Tanada-Palmu et al. Tabela 3. Germinação e vigor de sementes de brócolos encrustadas em fitas biodegradáveis. UNICAMP, Campinas (SP) Caracteres avaliados Controle Emergência das plantas (%) 94,0a Germinação em Gerbox (%) 95,0a Germinação total (dias) 6c N.0 de plantas/parcela 17,0a (1) Fita de gelatina (1) Fita de Quitosana (1) D.M.S. (5%P) C.V. % 51,9b 11,6 31,5 14,0c 67,0b 13,0 28,6 21a 12b 5 30,4 18,5c 3,3b 9,3b 9,6 38,6 Matéria seca (g)/parcela 0,59a 0,10b 0,18b 0,24 33,5 Matéria fresca (g)/parcela 4,79a 1,20b 1,96b 2,73 41,1 Matéria seca (g)/planta 0,037a 0,021a 0,026a 0,029 41,3 Matéria fresca (g)/planta 0,283a 0,277a 0,218a 0,281 43,3 Médias na mesma linha com letras diferentes diferem entre si (Tukey, P<0,05). ( 1) Média de triplicatas. Tabela 4. Resultados do teste de vigor em sementes de brócolos e salsa revestidas com coberturas de quitosana ou gelatina. UNICAMP, Campinas (SP) Tipo de cobertura N.o de plantas/ parcela (1,2) Matéria seca/ parcela (1,2) Matéria fresca/ parcela (1,2) Matéria seca/ planta (1,2) Matéria fresca/ planta (1,2) g Brócolos com coberturas de gelatina e quitosana Controle 17,0a 0,59a 4,79a 0,0367a 0,2830a 18,0a 0,85a 7,32a 0,0470a 0,4033a 17,3a 0,67a 5,56a 0,0387a 0,3220a 19,0a 0,52a 4,33a 0,0280a 0,2327a 5,3 0,55 5,28 0,0307 0,2927 11,3 31,9 36,7 31,2 36,1 Quitosana 5 camadas Quitosana 15 camadas Gelatina 5 camadas D.M.S. (5%P) C.V. (%) Salsa com coberturas de gelatina e quitosana Controle 15,7a 0,14a 0,86a 0,0091a 0,0543 a Gelatina 17,9a 0,15a 0,88a 0,0082a 0,0500a Quitosana 16,7a 0,16a 0,95a 0,0096a 0,0586a 3,0 0,05 0,33 0,0031 0,0205 13,3 24,9 26,6 25,2 27,7 D.M.S. (5%P) C.V. (%) ( 1 ) Média de 4 replicatas. (2 ) Médias na mesma coluna com letras diferentes diferem entre si (Tukey, P<0,05). Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.291-297, 2005 Recobrimento de sementes com coberturas e filmes biodegradáveis 3.4. Vigor de sementes de salsa revestidas Pela avaliação dos resultados da Tabela 4, constatou-se que não houve diferença entre os tratamentos para todos os testes de vigor realizados. Desse modo, pode-se dizer que a cobertura de sementes em drageadeira também não afetou o vigor de sementes de salsa, apresentando potencial de uso como cobertura protetora das sementes. W EST et al. (1985), verificaram que a aplicação da cobertura à base de cloreto de polivinilideno (PVDC), em sementes de soja, promoveu uma germinação mais rápida do que nas sementes sem a cobertura. 297 DANDURAND, L.M.; KNUDSEN, G.R. Influence of Pseudomonas fluorescens on hyphal growth and biocontrol activity of Trichoderma harzianum in the spermosphere of pea. Phytopathology, St Paul, v.83, n.3, p. 265-270, 1993. DUAN, X.; BURRIS, J.S. 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O recobrimento de sementes com coberturas de quitosana ou gelatina não afetou sua qualidade, em termos de capacidade de germinação e de vigor em semente de brócolos e o vigor em sementes de salsa. 3. A utilização do recobrimento de sementes, funcionando como veículo para substâncias que melhorem as características de germinação e o crescimento das sementes estudadas, é viável. AGRADECIMENTOS À FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) pela bolsa de iniciação científica concedida à autora Paula S. P. Proença, ao IAC (Instituto Agronômico), pelo fornecimento das sementes e pelo auxílio nos testes de germinação em solo, a Marise B. Queiroz, pelo uso da drageadeira no ITAL (Instituto de Tecnologia de Alimentos) e ao Senhor Antônio Francisco de Oliveira, pelas idéias e sugestões a esse trabalho e em testes preliminares . REFERÊNCIAS AMARANTE C.; BANKS N. H.. Postharvest physiology and quality of coated fruits and vegetables. 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Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.291-297, 2005 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 TECNOLOGIA DE SEMENTES Secagem e formação de sementes duras em mucunapreta Drying and hard seeds formation in velvet bean João NakagawaI,II; Cláudio CavarianiI; Cibele Chalita MartinsI IDepartamento de Produção Vegetal, FCA/UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu (SP). E-mail: [email protected] IIBolsista CNPq RESUMO A mucuna-preta, leguminosa empregada como adubação verde e forrageira, produz sementes com dormência causada pela impermeabilidade do tegumento à água (dureza). O objetivo do trabalho foi estudar as relações entre a secagem das sementes no interior das vagens e a ocorrência desse fenômeno. Para tanto, nas colheitas realizadas semanalmente entre 40 e 89 dias após o florescimento, foram obtidas sementes de vagens submetidas ou não à secagem. Foram realizadas determinações de teor de água das sementes na colheita, coloração nas vagens e nas sementes no momento da colheita, condutividade elétrica, germinação e presença de sementes duras. A secagem das sementes nas vagens, separadas da plantamãe, favorece o surgimento da dureza; essa ocorrência, contudo, é atenuada com o retardamento da referida separação. Palavras-chave: Mucuna aterrima, dormência. ABSTRACT The velvet bean [Mucuna aterrima (Piper et Tracy) Holland] is a legume used for green manure and as forage. Its seeds have dormancy caused by coating impermeable to water. The purpose of this work was to study relations between seed drying in intact pod and hardness occurrence. Pods were harvested weekly between 40 and 89 days after flowering. From these pods, subjected or not to dry, seeds were evaluated regarding moisture content at harvest, color of pods and seeds at harvesting times, electrical conductivity of exudate solutions, germination and hard seeds presence. Seed drying in intact pods, separated from plants, is favors the development of hardness. However this occurrence decreases with a late separation from plants. Key-words: Mucuna aterrima, dormancy. 1. INTRODUÇÃO A mucuna-preta [Mucuna aterrima (Piper et Tracy) Holland] é uma leguminosa anual, de crescimento indeterminado, hábito rasteiro e ramos trepadores, vigorosos e bem desenvolvidos (WUTKE, 1993). É utilizada na adubação verde, como forragem ou, triturados os grãos, como suplemento protéico na alimentação animal (CALEGARI, 1995). A dureza, dormência resultante da impermeabilidade do tegumento à água (BRASIL, 1992), ocorre na mucuna-preta predominantemente em sementes novas (WUTKE, 1993), com taxa variando entre 60% e 80% logo após a colheita (MAEDA e LAGO, 1986a) e sendo reduzida durante o armazenamento (MAEDA e LAGO, 1986b). A impermeabilidade do tegumento é, normalmente, associada à presença de uma ou mais camadas impermeáveis de células, dispostas em paliçada, com espessas paredes secundárias lignificadas, sendo os macroesclereídeos as células mais comuns (BASKIN e BASKIN, 1998). Os macroesclereídeos são impermeáveis à água por estarem impregnados de substâncias hidrófobas como cutina, lignina, quinonas, materiais pécticos insolúveis, suberina e cera (ROLSTON, 1978). A impermeabilização do tegumento à água ocorre durante a maturação das sementes, (MURDOCH e ELLIS, 1993) e, assim, observa-se maior ocorrência de sementes duras quando a maturação é completada anteriormente à colheita (QUINLIVAN, 1965; SIDHU e CAVERS, 1977; CHAVES e KAGEYAMA, 1980; DEMIR, 1997). Em sementes colhidas precocemente, a instalação da dormência é prejudicada e as sementes podem germinar prontamente (BASKIN e BASKIN, 1998). A redução do teor de água, ainda que ocorrida durante o armazenamento (MURDOCH e ELLIS, 1993), favorece o surgimento da dureza (ROLSTON, 1978); no momento em que o tegumento torna-se impermeável, o teor de água varia de 2% a 21% segundo a espécie considerada (BASKIN e BASKIN, 1998). Tem sido verificado que, em algumas leguminosas, há relação entre a coloração do tegumento e sua permeabilidade à água (MARBACH e MAYER, 1974). Durante a desidratação das sementes, na fase final de maturação, substâncias fenólicas são oxidadas resultando em compostos de coloração escura, os quais podem contribuir para a impermeabilização do tegumento (BEWLEY e BLACK, 1985); em sementes de Pisum elatius (MARBACH e MAYER, 1974, 1975), por exemplo, o escurecimento do tegumento foi devido à maior atividade da catecol oxidase catalisando a oxidação de compostos fenólicos em presença de O2. As condições do ambiente de produção de sementes podem afetar a impermeabilidade do tegumento (QUINLIVAN, 1965; CAMERON, 1967; SIDHU e CAVERS, 1977; ROLSTON, 1978; ARGEL e HUMPHREYS, 1983). Adicionalmente, fatores genéticos e o estádio de desenvolvimento das sementes no momento da secagem têm efeito na formação de sementes duras (BASKIN e BASKIN, 1998). Assim, NAKAGAWA et al. (2003), em mucunapreta, submetida a colheitas seqüenciais das vagens, verificaram antecipação do aparecimento de sementes duras, nas sementes secas no interior das vagens, em relação às secas após a extração das vagens. O objetivo do presente experimento foi estudar, em mucuna-preta, as relações entre a secagem das sementes no interior das vagens, obtidas em colheitas distribuídas durante a maturação, e a ocorrência da dureza. 2. MATERIAL E MÉTODOS As sementes de mucuna-preta [Mucuna aterrima (Piper et Tracy) Holland] foram produzidas em área de Nitossolo Vermelho (OLIVEIRA et al., 1999), pertencente à Fazenda Lageado do Campus de Botucatu - UNESP, localizada no município de Botucatu, SP (815 m, 22º51'Sul e 48º26' Oeste). A semeadura foi realizada em dezembro, linearmente, a 0,3 m de cada uma das plantas de milho que, estando com 40 dias de desenvolvimento após a emergência, haviam sido instaladas em espaçamento de 1,0 x 0,2 m. Foram realizadas oito colheitas semanais de racemos entre 40 e 89 dias após a observação de 50% de florescimento (DAF). Em cada colheita, considerando o plano longitudinal do eixo do racemo como divisório, foram obtidas duas porções de vagens numericamente eqüitativas. Uma porção mantida intacta, permaneceu em ambiente de laboratório até que, com a secagem das vagens, as sementes fossem extraídas (sementes secas no interior das vagens); na outra porção, as sementes foram imediatamente extraídas das vagens (sementes frescas), e sem secagem complementar, submetidas às avaliações. A coloração das vagens e das sementes foi visualmente caracterizada no momento da colheita; nesse período, foi determinado o grau de umidade das sementes pelo método da estufa a 105 +/- 3ºC (BRASIL, 1992). Cada uma das sementes obtidas (frescas e secas no interior das vagens) foi imersa em recipientes contendo 10 mL de água deionizada, os quais mantidos a 25 ºC durante 24 horas, permitiram a contagem do número de sementes duras e, paralelamente, a leitura (µScm-1) e o cálculo (µS.cm-1 g-1) da condutividade elétrica da solução; particularmente, em relação às sementes frescas, a massa (g) da semente foi representada pela matéria seca (BARBEDO e CÍCERO, 1998) para atenuar os efeitos de diferenças no teor de água das sementes, entre as colheitas, em sua massa. Dessa maneira, da condutividade elétrica individualizada por semente, foi possível obter a média aritmética das leituras para estimar a condutividade elétrica das sementes duras e das porções de sementes frescas e secas no interior das vagens. Concluída a leitura da condutividade elétrica, as sementes foram submetidas ao teste de germinação (30 ºC) em rolo de papel toalha umedecido com massa de água três vezes superior à do substrato seco; aos 14 dias após a instalação, realizou-se a contagem segundo os critérios das Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992); as sementes consideradas duras tiveram o tegumento escarificado (remoção de porção situada na região oposta à do eixo embrionário) e foram mantidas no teste, durante 14 dias adicionais, para a obtenção do porcentual de germinação das sementes que apresentavam dureza. Os dados de teor de água e de germinação das sementes duras foram comparados, entre colheitas, obedecendo ao delineamento inteiramente casualizado e empregando o teste Tukey (5%). Nas demais determinações, foram ajustadas curvas de regressão interligando as épocas de colheita. Para as análises, os dados em porcentagem foram transformados em arco seno (x/100)1/2 e quando com dados com valor zero, em (x + 0,5)1/2. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se que nas sementes duras, apesar de não ficarem embebidas, ocorreu a exsudação de produtos, provavelmente do tegumento, acusada pela avaliação da condutividade elétrica da solução (Figura 1). Os valores da condutividade desses exsudatos foram reduzidos nas últimas colheitas, notando-se que nas sementes maduras há melhor estruturação do tegumento (ROLSTON, 1978). Nas sementes frescas, com o avanço das épocas de colheita, houve diminuição contínua da condutividade, representada por uma equação linear (Figura 1). Assim, observou-se que, com a antecipação da colheita, as sementes apresentaram maior permeabilidade das membranas celulares e do tegumento, devido provavelmente ao estádio de desenvolvimento. Dessa maneira, a progressiva redução nas perdas de soluto sugere que o atraso na colheita permitiu avanços nas estruturações das membranas e do tegumento (ROLSTON, 1978; BOSEWINKEL e BOUMAN, 1995), resultando no menor valor da condutividade elétrica para as sementes da última colheita (89 DAF), cuja coloração era típica de sementes secas (preta brilhante) e teor de água de 13,3% (Tabela 1). A condutividade elétrica das sementes frescas, inclusive na última colheita, foi sempre maior à das sementes duras (Figura 1); essa ocorrência pode ser resultante de que nas sementes frescas não se observou dureza, e o teor de água de (13,3%) aos 89 DAF, aparentemente, não atingiu o mínimo necessário para originar sementes duras (BASKIN e BASKIN, 1998). Segundo WUTKE et al. (1995), a redução do grau de umidade é determinante para o surgimento de sementes duras, pois, com a diminuição da umidade, o tegumento torna-se progressivamente impermeável à água (BEWLEY e BLACK, 1985). As sementes frescas, embora sem expressar dureza, passaram a germinar a partir dos 68 DAF (Figura 2), em virtude de, nas colheitas anteriores, apresentaram-se todas mortas. Em leguminosas, sementes imaturas e úmidas, não têm mostrado viabilidade (ADAMS e RINNE, 1981; DASGUPTA et al., 1982). A partir dos 68 DAF, as sementes frescas tenderam a aumentar a perda de água (Tabela 1) e aumentar a germinação (Figura 2) indicando avanço na maturação. Verificou-se nas sementes secas no interior das vagens, independentemente da colheita considerada e da coloração inicial (Tabela1), coloração preta, indicativa da ocorrência de oxidação (BEWLEY e BLACK, 1985). NAKAGAWA et al. (2003) também observaram esse escurecimento e a presença de sementes duras em secagem no interior das vagens. A condutividade elétrica do exsudato das sementes secas na vagem comportou-se segundo a equação linear com valores diretamente proporcionais ao retardamento da colheita (Figura 1). A condutividade do exsudato das sementes secas na vagem tendeu, a partir de 47 DAF, a superar a das sementes duras (Figura 1), mostrando o aumento da permeabilidade do tegumento e a diminuição da taxa das duras (Figura 2). O teste de germinação das sementes secas nas vagens, indicou em todas as colheitas, a presença de sementes duras (Figura 2), fato não constatado nas sementes frescas. Houve entre sementes secas na vagem, tendência de diminuição na dureza a partir de 68 DAF. Essa diminuição na dureza, relacionada ao atraso da colheita, foi similarmente observada por NAKAGAWA et al. (2003) em sementes secas nas vagens. Pelos resultados obtidos e as informações contidas em trabalhos com outras espécies de sementes duras (QUINLIVAN, 1965; MARBACH e MAYER, 1974, 1975; SIDHU e CAVERS, 1977; ROLSTON, 1978; CHAVES e KAGEYAMA, 1980; MURDOCH e ELLIS, 1993; DEMIR, 1997; BASKIN e BASKIN, 1998), pode-se inferir que a secagem das sementes de mucunapreta, realizada no interior das vagens, ocasionou a oxidação do tegumento, causando seu escurecimento e o surgimento de sementes duras em decorrência da impermeabilização do tegumento. Ocorreram germinações (85,5 +/- 4,8%) estatisticamente semelhantes entre as épocas de colheita, nas sementes duras, originadas pela secagem no interior das vagens (Figura 2), após escarificação, revelando que a qualidade fisiológica das sementes duras não foi afetada pelo estádio de maturação. Com esses resultados, verifica-se que as sementes presentes nas vagens verdes de mucunapreta podem originar sementes duras com capacidade de germinar. Dessa maneira, no caso de incorporação de vagens ao solo durante o manejo da mucuna-preta como adubação verde, há possibilidade de as sementes presentes no interior das vagens originarem plantas invasoras para a cultura principal. 4. CONCLUSÃO A secagem das sementes de mucuna-preta no interior de vagens, separadas da planta mãe, favorece o surgimento da dureza. Essa ocorrência, contudo, perde intensidade com o retardamento da separação. REFERÊNCIAS ADAMS, C.A.; RINNE, R.W. Seed maturation in soybean (Glycine max L. Merr.) is independent of seed mass and of the parent plant, yet is necessary for production of viable seeds. Journal of Experimental Botany, Oxford, v.32, n.128, p.615-620, 1981. ARGEL, P.J.; HUMPHREYS, L.R. Environmental effects on seed development and hardseedness in Stylosanthes humata cv. Verano. I. Temperature. Australian Journal of Agricultural Research, East Melbourne, v.34, p.261-270, 1983. BARBEDO, C.J.; CICERO, S.M. 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Superação de dormência de sementes de mucuna-preta pela utilização de "calor seco". Scientia Agricola, Piracicaba, v.52, n.3, p.482-490, 1995. [ SciELO ] Recebido para publicação em 27 de agosto de 2004 e aceito em 6 de abril de 2005 299 Formação de sementes duras em mucuna-preta SECAGEM E FORMAÇÃO DE SEMENTES DURAS EM MUCUNA-PRETA (1 ) JOÃO NAKAGAWA (2 ,3 ); CLÁUDIO CAVARIANI (2); CIBELE CHALITA MARTINS (2) RESUMO A mucuna-preta, leguminosa empregada como adubação verde e forrageira, produz sementes com dormência causada pela impermeabilidade do tegumento à água (dureza). O objetivo do trabalho foi estudar as relações entre a secagem das sementes no interior das vagens e a ocorrência desse fenômeno. Para tanto, nas colheitas realizadas semanalmente entre 40 e 89 dias após o florescimento, foram obtidas sementes de vagens submetidas ou não à secagem. Foram realizadas determinações de teor de água das sementes na colheita, coloração nas vagens e nas sementes no momento da colheita, condutividade elétrica, germinação e presença de sementes duras. A secagem das sementes nas vagens, separadas da plantamãe, favorece o surgimento da dureza; essa ocorrência, contudo, é atenuada com o retardamento da referida separação. Palavras-chave: Mucuna aterrima, dormência. ABSTRACT DRYING AND HARD SEEDS FORMATION IN VELVET BEAN The velvet bean [Mucuna aterrima (Piper et Tracy) Holland] is a legume used for green manure and as forage. Its seeds have dormancy caused by coating impermeable to water. The purpose of this work was to study relations between seed drying in intact pod and hardness occurrence. Pods were harvested weekly between 40 and 89 days after flowering. From these pods, subjected or not to dry, seeds were evaluated regarding moisture content at harvest, color of pods and seeds at harvesting times, electrical conductivity of exudate solutions, germination and hard seeds presence. Seed drying in intact pods, separated from plants, is favors the development of hardness. However this occurrence decreases with a late separation from plants. Key-words: Mucuna aterrima, dormancy. 1. INTRODUÇÃO A mucuna-preta [Mucuna aterrima (Piper et Tracy) Holland] é uma leguminosa anual, de crescimento indeterminado, hábito rasteiro e ramos trepadores, vigorosos e bem desenvolvidos (W UTKE , 1993). É utilizada na adubação verde, como forragem ou, triturados os grãos, como suplemento protéico na alimentação animal (C ALEGARI, 1995). A dureza, dormência resultante da impermeabilidade do tegumento à água (BRASIL, 1992), ocorre na mucuna-preta predominantemente em sementes novas (W UTKE , 1993), com taxa variando entre 60% e 80% logo após a colheita (MAEDA e LAGO , 1986a) e sendo reduzida durante o armazenamento (MAEDA e L AGO, 1986b). A impermeabilidade do tegumento é, normalmente, associada à presença de uma ou mais camadas impermeáveis de células, dispostas em paliçada, com espessas paredes secundárias lignificadas, sendo os macroesclereídeos as células mais comuns (B A S K I N e B A S K I N , 1998). Os macroesclereídeos são impermeáveis à água por estarem impregnados de substâncias hidrófobas como cutina, lignina, quinonas, materiais pécticos insolúveis, suberina e cera (R OLSTON, 1978). ( 1) Recebido para publicação em 27 de agosto de 2004 e aceito em 6 de abril de 2005. ( 2 ) Departamento de Produção Vegetal, FCA/UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu (SP). [email protected] ( 3) Bolsista CNPq. E-mail: Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.299-303, 2005 300 J. Nakagawa et al. A impermeabilização do tegumento à água ocorre durante a maturação das sementes, (MURDOCH e E LLIS, 1993) e, assim, observa-se maior ocorrência de sementes duras quando a maturação é completada anteriormente à colheita (Q UINLIVAN , 1965; S IDHU e C AVERS , 1977; CHAVES e K AGEYAMA , 1980; DEMIR, 1997). Em sementes colhidas precocemente, a instalação da dormência é prejudicada e as sementes podem germinar prontamente (BASKIN e BASKIN, 1998). A redução do teor de água, ainda que ocorrida durante o armazenamento (M URDOCH e E LLIS, 1993), favorece o surgimento da dureza (R OLSTON, 1978); no momento em que o tegumento torna-se impermeável, o teor de água varia de 2% a 21% segundo a espécie considerada (BASKIN e B ASKIN, 1998). Tem sido verificado que, em algumas leguminosas, há relação entre a coloração do tegumento e sua permeabilidade à água (M ARBACH e M AYER, 1974). Durante a desidratação das sementes, na fase final de maturação, substâncias fenólicas são oxidadas resultando em compostos de coloração escura, os quais podem contribuir para a impermeabilização do tegumento (B EWLEY e BLACK , 1985); em sementes de Pisum elatius (MARBACH e MAYER, 1974, 1975), por exemplo, o escurecimento do tegumento foi devido à maior atividade da catecol oxidase catalisando a oxidação de compostos fenólicos em presença de O2. As condições do ambiente de produção de sementes podem afetar a impermeabilidade do tegumento (Q UINLIVAN, 1965; C AMERON , 1967; SIDHU e C AVERS , 1977; R OLSTON , 1978; A RGEL e H UMPHREYS , 1983). Adicionalmente, fatores genéticos e o estádio de desenvolvimento das sementes no momento da secagem têm efeito na formação de sementes duras (BASKIN e BASKIN, 1998). Assim, NAKAGAWA et al. (2003), em mucuna-preta, submetida a colheitas seqüenciais das vagens, verificaram antecipação do aparecimento de sementes duras, nas sementes secas no interior das vagens, em relação às secas após a extração das vagens. O objetivo do presente experimento foi estudar, em mucuna-preta, as relações entre a secagem das sementes no interior das vagens, obtidas em colheitas distribuídas durante a maturação, e a ocorrência da dureza. 2. MATERIAL E MÉTODOS As sementes de mucuna-preta [Mucuna aterrima (Piper et Tracy) Holland] foram produzidas em área de Nitossolo Vermelho (O LIVEIRA et al., 1999), pertencente à Fazenda Lageado do Campus de Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.299-303, 2005 Botucatu – UNESP, localizada no município de Botucatu, SP (815 m, 22º51’Sul e 48º26’ Oeste). A semeadura foi realizada em dezembro, linearmente, a 0,3 m de cada uma das plantas de milho que, estando com 40 dias de desenvolvimento após a emergência, haviam sido instaladas em espaçamento de 1,0 x 0,2 m. Foram realizadas oito colheitas semanais de racemos entre 40 e 89 dias após a observação de 50% de florescimento (DAF). Em cada colheita, considerando o plano longitudinal do eixo do racemo como divisório, foram obtidas duas porções de vagens numericamente eqüitativas. Uma porção mantida intacta, permaneceu em ambiente de laboratório até que, com a secagem das vagens, as sementes fossem extraídas (sementes secas no interior das vagens); na outra porção, as sementes foram imediatamente extraídas das vagens (sementes frescas), e sem secagem complementar, submetidas às avaliações. A coloração das vagens e das sementes foi visualmente caracterizada no momento da colheita; nesse período, foi determinado o grau de umidade das sementes pelo método da estufa a 105 +/- 3ºC (BRASIL, 1992). Cada uma das sementes obtidas (frescas e secas no interior das vagens) foi imersa em recipientes contendo 10 mL de água deionizada, os quais mantidos a 25 ºC durante 24 horas, permitiram a contagem do número de sementes duras e, paralelamente, a leitura (µScm -1) e o cálculo (µS.cm-1 g -1 ) da condutividade elétrica da solução; particularmente, em relação às sementes frescas, a massa (g) da semente foi representada pela matéria seca (BARBEDO e CÍCERO, 1998) para atenuar os efeitos de diferenças no teor de água das sementes, entre as colheitas, em sua massa. Dessa maneira, da condutividade elétrica individualizada por semente, foi possível obter a média aritmética das leituras para estimar a condutividade elétrica das sementes duras e das porções de sementes frescas e secas no interior das vagens. Concluída a leitura da condutividade elétrica, as sementes foram submetidas ao teste de germinação (30 ºC) em rolo de papel toalha umedecido com massa de água três vezes superior à do substrato seco; aos 14 dias após a instalação, realizou-se a contagem segundo os critérios das Regras para Análise de Sementes (BRASIL , 1992); as sementes consideradas duras tiveram o tegumento escarificado (remoção de porção situada na região oposta à do eixo embrionário) e foram mantidas no teste, durante 14 dias adicionais, para a obtenção do porcentual de germinação das sementes que apresentavam dureza. 301 Formação de sementes duras em mucuna-preta Os dados de teor de água e de germinação das sementes duras foram comparados, entre colheitas, obedecendo ao delineamento inteiramente casualizado e empregando o teste Tukey (5%). Nas demais determinações, foram ajustadas curvas de regressão interligando as épocas de colheita. Para as análises, os dados em porcentagem foram transformados em arco seno (x/100) 1/2 e quando com dados com valor zero, em (x + 0,5)1/2. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se que nas sementes duras, apesar de não ficarem embebidas, ocorreu a exsudação de produtos, provavelmente do tegumento, acusada pela avaliação da condutividade elétrica da solução (Figura 1). Os valores da condutividade desses exsudatos foram reduzidos nas últimas colheitas, notando-se que nas sementes maduras há melhor estruturação do tegumento (R OLSTON, 1978). Nas sementes frescas, com o avanço das épocas de colheita, houve diminuição contínua da condutividade, representada por uma equação linear (Figura 1). Assim, observou-se que, com a antecipação da colheita, as sementes apresentaram maior permeabilidade das membranas celulares e do tegumento, devido provavelmente ao estádio de desenvolvimento. Dessa maneira, a progressiva redução nas perdas de soluto sugere que o atraso na colheita permitiu avanços nas estruturações das membranas e do tegumento (R O L S T O N , 1978; B OESEWINKEL e B OUMAN, 1995), resultando no menor valor da condutividade elétrica para as sementes da última colheita (89 DAF), cuja coloração era típica de sementes secas (preta brilhante) e teor de água de 13,3% (Tabela 1). A condutividade elétrica das sementes frescas, inclusive na última colheita, foi sempre maior à das sementes duras (Figura 1); essa ocorrência pode ser resultante de que nas sementes frescas não se observou dureza, e o teor de água de (13,3%) aos 89 DAF, aparentemente, não atingiu o mínimo necessário para originar sementes duras (BASKIN e B ASKIN, 1998). Segundo W UTKE et al. (1995), a redução do grau de umidade é determinante para o surgimento de sementes duras, pois, com a diminuição da umidade, o tegumento torna-se progressivamente impermeável à água (BEWLEY e B LACK, 1985). 600 Condutividade elétrica(µ ( S cm-¹g-¹) Y2 Y 1= 103,44286-42,30102x+12,07824x²-0,99098x³(R ²= 0,75*) Y 2= 832,89814-7,32941x (R ²= 0,58*) Y 3= -60,19449+2,55070x (R ²= 0,60*) 500 400 300 200 100 Y1 Y3 0 40 47 54 61 68 75 82 89 Figura 1. Condutividade elétrica da solução de exsudato das sementes duras (Y1), das sementes frescas (Y2) e das sementes secadas na vagem (Y3) colhidas em diferentes épocas. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.299-303, 2005 302 J. Nakagawa et al. Tabela 1. Teor de água (TA) e coloração predominante nas vagens e nas sementes recém-colhidas em diferentes épocas (DAF = número de dias após 50% de florescimento) Colheitas (DAF) Coloração TA % Vagem Semente 40 73,1 a Verde-amarelada Vermelho-clara 47 68,0 ab Verde-amarelada Vermelho-clara, com escurecimento próximo ao hilo 54 66,7 ab Verde-amarelada Vermelho-clara, com pontos escuros 61 63,8 b Verde-amarelada Vermelho-clara, com pontos escuros 68 61,8 b Verde-amarelada/amarelada-preta Vermelha, com escurecimento 75 48,6 c Amarelada preta/preta Vermelha, com escurecimento/preta 82 35,4 d Preta Preta 89 13,3 e Preta Preta brilhante 5,73 - - C.V. (%) As sementes frescas, embora sem expressar dureza, passaram a germinar a partir dos 68 DAF (Figura 2), em virtude de, nas colheitas anteriores, apresentaram-se todas mortas. Em leguminosas, sementes imaturas e úmidas, não têm mostrado viabilidade (A D A M S e R I N N E , 1 9 8 1 ; D ASGUPTA et al., 1982). A partir dos 68 DAF, as sementes frescas tenderam a aumentar a perda de água (Tabela 1) e aumentar a germinação (Figura 2) indicando avanço na maturação. Verificou-se nas sementes secas no interior das vagens, independentemente da colheita considerada e da coloração inicial (Tabela1), coloração preta, indicativa da ocorrência de oxidação (BEWLEY e BLACK, 1985). NAKAGAWA et al. (2003) também observaram esse escurecimento e a presença de sementes duras em secagem no interior das vagens. A condutividade elétrica do exsudato das sementes secas na vagem comportou-se segundo a equação linear com valores diretamente proporcionais ao retardamento da colheita (Figura 1). A condutividade do exsudato das sementes secas na vagem tendeu, a partir de 47 DAF, a superar a das sementes duras (Figura 1), mostrando o aumento da permeabilidade do tegumento e a diminuição da taxa das duras (Figura 2). O teste de germinação das sementes secas nas vagens, indicou em todas as colheitas, a presença de sementes duras (Figura 2), fato não constatado nas Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.299-303, 2005 sementes frescas. Houve entre sementes secas na vagem, tendência de diminuição na dureza a partir de 68 DAF. Essa diminuição na dureza, relacionada ao atraso da colheita, foi similarmente observada por NAKAGAWA et al. (2003) em sementes secas nas vagens. Pelos resultados obtidos e as informações contidas em trabalhos com outras espécies de sementes duras (QUINLIVAN, 1965; M ARBACH e MAYER, 1974, 1975; SIDHU e CAVERS, 1977; ROLSTON, 1978; CHAVES e KAGEYAMA , 1980; MURDOCH e ELLIS, 1993; DEMIR, 1997; BASKIN e B ASKIN , 1998), pode-se inferir que a secagem das sementes de mucuna-preta, realizada no interior das vagens, ocasionou a oxidação do tegumento, causando seu escurecimento e o surgimento de sementes duras em decorrência da impermeabilização do tegumento. Ocorreram germinações (85,5 +/- 4,8%) estatisticamente semelhantes entre as épocas de colheita, nas sementes duras, originadas pela secagem no interior das vagens (Figura 2), após escarificação, revelando que a qualidade fisiológica das sementes duras não foi afetada pelo estádio de maturação. Com esses resultados, verifica-se que as sementes presentes nas vagens verdes de mucunapreta podem originar sementes duras com capacidade de germinar. Dessa maneira, no caso de incorporação de vagens ao solo durante o manejo da mucuna-preta como adubação verde, há possibilidade de as sementes presentes no interior das vagens originarem plantas invasoras para a cultura principal. Formação de sementes duras em mucuna-preta 4. CONCLUSÃO A secagem das sementes de mucuna-preta no interior de vagens, separadas da planta mãe, favorece o surgimento da dureza. Essa ocorrência, contudo, perde intensidade com o retardamento da separação. 303 DEMIR, I. Ocurrence of hardseededness in relation to seed development in okra (Abelmoschus esculentus (L.) Moench). Plant Varieties and Seeds, Cambridge, v.10, n.1, p.7-13, 1997. MAEDA, J.A.; LAGO, A.A. Germinação de sementes de mucuna-preta após tratamento para superação de impermeabilidade do tegumento. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.8, n.1, p.79-84, 1986a. REFERÊNCIAS MAEDA, J.A.; LAGO, A.A. Longevidade de sementes de algumas espécies de mucuna. Bragantia, Campinas, v.45, n.1, p.189-194, 1986b. ADAMS, C.A.; RINNE, R.W. Seed maturation in soybean (Glycine max L. Merr.) is independent of seed mass and of the parent plant, yet is necessary for production of viable seeds. Journal of Experimental Botany, Oxford, v.32, n.128, p.615620, 1981. MARBACH, I.; MAYER, A.M. Permeability of seed coats to water as related to drying conditions and metabolism of phenolics. Plant Physiology, Kutztown, v.54, n.6, p.817820, 1974. ARGEL, P.J.; HUMPHREYS, L.R. 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Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.299-303, 2005 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 ENGENHARIA AGRÍCOLA Sistema de aquisição automatica de dados para o gerenciamento de operações mecanizadas Automatic data acquisition system for mechanization management Gastão Moraes da Silveira; Moises Storino; Afonso Peche Filho; Kiyoshi Yanai; José Augusto Bernardi Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Engenharia e Automação, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 26, 13201-970 Jundiaí (SP). E mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] ; [email protected] RESUMO Para difundir e popularizar técnicas de gestão de informações na agricultura são necessários esforços para prover o usuário de ferramentas de análise e de avaliação operacional. A versatilidade do trator agrícola o torna uma enorme fonte de informações que, se bem obtidas, analisadas e interpretadas, podem subsidiar o gerenciamento operacional da propriedade agrícola. Este trabalho apresenta o desenvolvimento de um sistema de aquisição automática de dados projetados para o levantamento de informações de campo. O sistema foi concebido para determinar a posição do veículo através de sistema de posicionamento global (GPS), juntamente com o consumo de combustível, a rotação do motor e a velocidade de deslocamento. Foram realizados experimentos visando verificar o funcionamento do sistema, por meio de da confrontação com outras técnicas de determinação do consumo de combustível, da rotação do motor e da velocidade de deslocamento. Concluiu-se que o consumo de combustível, não exige correção de dados, e a determinação da rotação do motor requer calibração. Palavras-chave: mecanização, automação, sistemas de informação, aquisição de dados. ABSTRACT To spread out and to popularize the information management techniques in agriculture, efforts are necessary to provide the user with analysis and operational evaluation tools. The versatility of agricultural tractor becomes an enormous source of information; if it is well obtained, analyzed and interpreted, it can subsidize the farm management. This work presents the development of an automatic acquisition data system projected for field information. The system was conceived to determine the position of the vehicle using global positioning system (GPS), fuel consumption , engine rotation, and forward speed. This data set permits the statistical control the operational parameters and generates reports with the main management indicators as field capacity, and work conditions. Its spatial treatment makes possible the creation of a database that associated to other sources of information can facilitate the management of the agricultural activity and the use of natural resources. Experiments had been carried out to test the system and confrontation with other techniques of the fuel consumption estimation , engine rotation and the forward speed. Key words: mechanization, automation, information systems, data acquisition. 1. INTRODUÇÃO No processo produtivo, a informação tem características definidas que devem ser observadas e gerenciadas juntamente com outros fatores de produção. Segundo Nicoletti (1975), a propriedade agrícola, como qualquer outra organização produtiva, pode ser vista como um sistema de atividade, na qual entra uma série de "inputs" (insumos para a produção, informações, etc.), que sofrem transformações, originando "outputs" com determinadas características. Os registros dos trabalhos de campo, normalmente usam métodos pessoais ou pouco organizados, geralmente limitados às anotações feitas em caderneta do operador. O levantamento dos dados das operações de campo, não é muito difundido. Segundo MISENER e MCLEOD (1987), existem exemplos de empresas e pesquisadores que se dedicam a essa atividade, seguindo soluções muito práticas que utilizam o operador como apontador, e soluções mais sofisticadas com o emprego de computadores portáteis para o arquivamento dos dados obtidos diretamente no campo. Os dados também podem ser descarregados no fim do dia em um computador de mesa, usandose, dentre outros, o processo de código de barras com caneta ótica. Levando-se em consideração esses problemas, CASTELLI e MAZZETTO (1996) e MAZZETTO (1996) desenvolveram um sistema que realiza o registro automático dos dados de campo, permitindo dispor de informações apropriadas para o planejamento e gerenciamento estratégico, de todas as atividades e recursos da propriedade. SILVEIRA (2001), com base em trabalho de Mazzetto (1996), realizou experimentos estáticos, estudando os parâmetros de identificação do trator no campo, a fim de determinar velocidade de deslocamento, consumo de combustível e rotação do motor. STORINO et al. (2000) estudaram o desempenho do trator como indicador do estado físico do solo em agricultura de precisão. Determinaram os principais parâmetros operacionais como rotação do motor, consumo de combustível, e velocidade de deslocamento, bem como a sua localização no campo, usando "Global Posicional Systems" (GPS). PERRET et al.(2000) desenvolveram um equipamento eletrônico para a aquisição de dados embarcados em trator, determinando os mesmos parâmetros operacionais definidos por STORINO et al. (2000). Por meio de uma série de trabalhos, observa-se o aproveitamento de dados com os mesmos objetivos do atual trabalho, especialmente de colheita monitorada como os trabalhos de SCHUELLER, (1992), BALASTREIRE (1994) e SWINTON e LOWENBERGDEBER (1998). YULE et al. (1999) elaboraram o mapeamento de um trator no campo usando GPS. Determinaram a força de tração do implemento, consumo de combustível e declividade do terreno, caracterizando também os custos operacionais. Todos os dados eram processados e informados ao operador em tempo real, através de um mostrador. MAZZETTO e LANDONIO (1999) desenvolveram um sistema que caracteriza a posição do trator no campo usando GPS, determinando, também, velocidade de deslocamento, consumo de combustível, rotação do motor e operador. Os dados processados são armazenados no trator e transferidos a um computador central através do uso de cartão usado para o armazenamento de dados. O objetivo deste trabalho é apresentar um sistema automático de aquisição de dados que, em intervalos preestabelecidos, determina a posição do trator no campo através de um receptor GPS, sua velocidade de deslocamento, o consumo de combustível, e a rotação do motor, e verificar sua funcionalidade por meio de comparações com outros métodos de medida. 2. MATERIAL E MÉTODOS Para o sistema mostrado na Figura 1, usa-se método de identificação, com base em receptor de GPS, e um microprocessador de bordo coleta os dados da operação do trator. No trabalho, utiliza-se um trator marca Massey Ferguson modelo 65 - X, motor marca Perkins, 4 cilindros com 48 kW de potência a 2.200 rpm, e seis marchas a frente, sendo as três primeiras reduzidas e as três últimas simples. O sistema de aquisição de dados é formado por: unidade de aquisição de dados (UA), medidor de consumo de combustível, medidor de rotação do motor e GPS. Componentes no trator - O trator é equipado com: Uma Unidade de Aquisição de Dados (UA), para a qual convergem todos os dados levantados exercendo diversas funções: monitora o fluxo de dados dos sensores periféricos (relativos ao receptor de GPS, consumo de combustível e rotação do motor); filtra os dados antes de serem armazenados na memória de bordo; associa a informação à data e à hora de obtenção através de um relógio completo com calendário. A UA faz a leitura de quatro sensores tipo Ligado/Desligado, leitura de consumo de combustível, acionamento de quatro atuadores, um LED para indicação do funcionamento do sistema e outro para indicação da aquisição dos dados do GPS, chave de comando de início e termino da operação. Registra também a posição (latitude e longitude), velocidade de deslocamento, e funcionamento dos sensores. A medida do consumo de combustível é realizada por um medidor volumétrico de deslocamento positivo com engrenagens elípticas. Mede o volume de liquido que passa através da tubulação de combustível, originando um numero de impulsos proporcionais a cada centímetro cúbico de combustível consumido. O medidor é da marca Oval, tipo M-III modelo LSF41L8-M2, série n. 0Y006. Foi montado na saída do reservatório de combustível e o retorno de combustível acoplado entre o sensor e o sistema de injeção. As leituras são feitas de acordo com a necessidade, por exemplo, a cada 10 segundos e armazenadas na UA. Para a medição da rotação do motor, utiliza-se um transdutor ótico de velocidade "encoder" ótico incremental, com 360 pulsos por volta, marca Sick modelo T13100 B82140, que conta o número de voltas do eixo comando de válvulas do motor. A leitura da rotação do motor é feita a cada 10 segundos. Um GPS, marca Ashtec Magellan, modelo G 8, sem correção diferencial, com uma antena receptora, posicionada na parte posterior do trator, em suporte especial, a qual determina a posição do trator em coordenadas geográficas (latitude, longitude, altitude e o tempo). Com a posição atual e anterior, calcula-se a velocidade do conjunto. O sistema permite modificar o intervalo de obtenção dos dados do GPS, a cada 1,5,10,30 ou 60 segundos de acordo com as necessidades específicas. No caso a taxa de aquisição é de 10 segundos. A acurâcia do GPS é de 10 metros dada pelo Valor Médio Quadrático. O equipamento foi aferido comparando os dados de latitude e longitude de um marco de coordenadas conhecidas existentes na propriedade. Para coletar, organizar e tratar os dados de campo é utilizado um sistema com três módulos. O modulo de comunicação permite fazer a leitura dos dados da UA através de um computador portátil Toshiba 4010, apresentando a tela de cadastro e a tela principal com as funções: conectar; carregar dados; alterar freqüência e desconectar e recuperar os dados da unidade de aquisição via cabo por meio do protocolo serial RS232. O módulo administração do banco de dados organiza os registros das diferentes operações e apresenta as seguintes funcionalidades: filtrar dados, exportar para planilha eletronica, imprimir relatório geral, exibir mapa, carregar pontos, e imprimir mapa. O terceiro módulo, denominado Geodata, permite a conversão de dados para que possam ser manipulados em planilhas de cálculo e sistemas de informação geográfica. Para verificar o bom funcionamento das medidas, o consumo de combustível obtido pelo sistema, foi comparado com o volume utilizado para encher o tanque do trator após 1 hora e 30 minutos de trabalho. Foram feitas 21 repetições, utilizando-se como implemento uma roçadora. A rotação do motor fornecida pelo sistema foi comparada àquela obtida por um tacômetro ótico digital marca Ono Sokki modelo HT-431, medida no cabo do horímetro do trator. Multiplicando-se esse valor obtido por 2, tem-se a rotação do motor. A velocidade fornecida pelo sistema de aquisição de dados foi obtida através do GPS com medições dos tempos necessários para que o conjunto trator implemento, percorrer 100 m. O trator possui seis marchas no total à frente, sendo três reduzidas (primeira, segunda e terceira) e três simples (quarta quinta e sexta). Foram utilizadas nos experimentos as segunda, terceira e quarta marchas, comparadas com dados obtidos com cronômetro para percorrer o mesmo espaço. Em cada marcha, foram feitas 15 repetições. Análises de estatística descritiva foram utilizadas comparando as características de medida central e de dispersão entre os conjuntos de dados. Quando necessárias foram utilizadas análises de regressão para obtenção de curvas de calibração. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 1, verificam-se os dados de estatistica relativos ao consumo de combustível L/h, obtidos nos experimentos. Pela Tabela 1, os dados de consumo de combustível estão com valores médios muito próximos. Observando-se os valores de erro-padrão conclui-se que os sistemas estimam com a mesma eficiência o consumo de combustível. Os valores de desvio- padrão, amplitude e coeficiente de variação, assim como os valores de máximo e mínimo das duas populações confirmam essa afirmação. Assim, os dois sistemas são adequados, o que dispensa o uso de análise de regressão com a finalidade de calibração. Na tabela 2, verifica-se a comparação dos dados obtidos pelo sistema com relação àqueles lidos no eixo do horímetro, obtidos com tacômetro digital. Assim, se tem o dado estatístico da rotação do motor. Nesse caso, observa-se tanto na média, como nos valores máximos e mínimos que o sistema empregado subestima os valores em relação ao tacômetro digital. Pelo desvio-padrão e o coeficiente de variação observa-se que as populações têm as mesmas características de dispersão. Em tais circunstâncias, obteve-se uma curva de calibração por meio de regressão linear, entre os dados do sensor do tacômetro digital e o usado no sistema de aquisição de dados (transdutor ótico de velocidade), o que garante sua utilização sem prejuízos à operacionalidade do sistema proposto. Na tabela 3, as estatísticas foram separadas pelas diferentes marchas utilizadas. Nesse caso, observa-se que as medidas do GPS variam mais que as do cronômetro, as estatísticas de dispersão confirmam esta afirmação. Nota-se que os valores menores são superestimados enquanto os maiores, subestimados. Para obter uma curva de calibração foram testados vários modelos de regressão: linear, logarítmica, exponencial e polinomial. Embora o melhor ajuste seja com a polinomial de quarta ordem, não é uma das analises com menor ajuste, porém mais simples de usar. Neste trabalho para a leitura, memorização e transferência dos dados usa-se um computador portátil. No trabalho de Yule et al. (1991) os dados são processados e informados ao operador em tempo real através de um display. Esse sistema realiza o registro automático dos dados de campo, igual aos sistemas desenvolvidos por CASTELLI e MAZZETTO (1996), MAZZETTO (1996). Determinados os principais parâmetros operacionais como: velocidade de deslocamento, consumo de combustível, rotação do motor e localização do trator no campo através do GPS, o sistema é semelhante àqueles desenvolvidos por MAZZETTO e LANDONIO (1999); PERRET et al. (2000); STORINO et al. (2000) e SILVEIRA (2001). Como aplicações do sistema, após a obtenção dos dados de velocidade de deslocamento, rotação do motor, e consumo de combustível, em outros trabalhos, os resultados serão processados com ênfase a: a) métodos de estatística descritiva buscando entender o comportamento das medidas de posicionamento ou de tendência central e as medidas de variabilidade; b) utilização do método da estatística descritiva recomendada para ánalise de controle de qualidade; c) os dados serão processados com base em métodos utilizados em geoestatística, com a finalidade de verificar a ocorrência de dependência espacial para fins de uso ou não da interpolação na geração de mapas representativos da ocorrência de dados no campo. 3. CONCLUSÕES 1. O consumo de combustível, não exige correção de dados podendo ser aplicado diretamente. 2. A determinação da rotação do motor requer calibração. REFERÊNCIAS BALASTREIRE. L.A. Aplicação localizada de insumos, um velho conceito novo. 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A versatilidade do trator agrícola o torna uma enorme fonte de informações que, se bem obtidas, analisadas e interpretadas, podem subsidiar o gerenciamento operacional da propriedade agrícola. Este trabalho apresenta o desenvolvimento de um sistema de aquisição automática de dados projetados para o levantamento de informações de campo. O sistema foi concebido para determinar a posição do veículo através de sistema de posicionamento global (GPS), juntamente com o consumo de combustível, a rotação do motor e a velocidade de deslocamento. Foram realizados experimentos visando verificar o funcionamento do sistema, por meio de da confrontação com outras técnicas de determinação do consumo de combustível, da rotação do motor e da velocidade de deslocamento. Concluiu-se que o consumo de combustível, não exige correção de dados, e a determinação da rotação do motor requer calibração. Palavras-chave: mecanização, automação, sistemas de informação, aquisição de dados. ABSTRACT AUTOMATIC DATA ACQUISITION SYSTEM FOR MECHANIZATION MANAGEMENT To spread out and to popularize the information management techniques in agriculture, efforts are necessary to provide the user with analysis and operational evaluation tools. The versatility of agricultural tractor becomes an enormous source of information; if it is well obtained, analyzed and interpreted, it can subsidize the farm management. This work presents the development of an automatic acquisition data system projected for field information. The system was conceived to determine the position of the vehicle using global positioning system (GPS), fuel consumption , engine rotation, and forward speed. This data set permits the statistical control the operational parameters and generates reports with the main management indicators as field capacity, and work conditions. Its spatial treatment makes possible the creation of a database that associated to other sources of information can facilitate the management of the agricultural activity and the use of natural resources. Experiments had been carried out to test the system and confrontation with other techniques of the fuel consumption estimation , engine rotation and the forward speed. Key words: mechanization, automation, information systems, data acquisition. (1) Recebido para publicação em 5 de novembro e aceito em 11 de janeiro de 2005. (2) Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Engenharia e Automação, Instituto Agronômico (IAC), Caixa Postal 26, 13201-970 Jundiaí (SP). E mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] ; [email protected] Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.305-310, 2005 306 G.M. Silveira et al. 1. INTRODUÇÃO No processo produtivo, a informação tem características definidas que devem ser observadas e gerenciadas juntamente com outros fatores de produção. Segundo Nicoletti (1975), a propriedade agrícola, como qualquer outra organização produtiva, pode ser vista como um sistema de atividade, na qual entra uma série de “inputs” (insumos para a produção, informações, etc.), que sofrem transformações, originando “outputs” com determinadas características. Os registros dos trabalhos de campo, normalmente usam métodos pessoais ou pouco organizados, geralmente limitados às anotações feitas em caderneta do operador. O levantamento dos dados das operações de campo, não é muito difundido. Segundo MISENER e MC LEOD (1987), existem exemplos de empresas e pesquisadores que se dedicam a essa atividade, seguindo soluções muito práticas que utilizam o operador como apontador, e soluções mais sofisticadas com o emprego de computadores portáteis para o arquivamento dos dados obtidos diretamente no campo. Os dados também podem ser descarregados no fim do dia em um computador de mesa, usandose, dentre outros, o processo de código de barras com caneta ótica. Levando-se em consideração esses problemas, C A S T E L L I e M A Z Z E T T O (1996) e M A Z Z E T T O (1996) desenvolveram um sistema que realiza o registro automático dos dados de campo, permitindo dispor de informações apropriadas para o planejamento e gerenciamento estratégico, de todas as atividades e recursos da propriedade. S ILVEIRA (2001), com base em trabalho de Mazzetto (1996), realizou experimentos estáticos, estudando os parâmetros de identificação do trator no campo, a fim de determinar velocidade de deslocamento, consumo de combustível e rotação do motor. STORINO et al. (2000) estudaram o desempenho do trator como indicador do estado físico do solo em agricultura de precisão. Determinaram os principais parâmetros operacionais como rotação do motor, consumo de combustível, e velocidade de deslocamento, bem como a sua localização no campo, usando “Global Posicional Systems” (GPS). P ERRET et al.(2000) desenvolveram um equipamento eletrônico para a aquisição de dados embarcados em trator, determinando os mesmos parâmetros operacionais definidos por S TORINO et al. (2000). Por meio de uma série de trabalhos, observase o aproveitamento de dados com os mesmos objetivos do atual trabalho, especialmente de colheita Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.305-310, 2005 monitorada como os trabalhos de SCHUELLER, (1992), B ALASTREIRE (1994) e S WINTON e L OWENBERG D E B E R (1998). YULE et al. (1999) elaboraram o mapeamento de um trator no campo usando GPS. Determinaram a força de tração do implemento, consumo de combustível e declividade do terreno, caracterizando também os custos operacionais. Todos os dados eram processados e informados ao operador em tempo real, através de um mostrador. MAZZETTO e LANDONIO (1999) desenvolveram um sistema que caracteriza a posição do trator no campo usando GPS, determinando, também, velocidade de deslocamento, consumo de combustível, rotação do motor e operador. Os dados processados são armazenados no trator e transferidos a um computador central através do uso de cartão usado para o armazenamento de dados. O objetivo deste trabalho é apresentar um sistema automático de aquisição de dados que, em intervalos preestabelecidos, determina a posição do trator no campo através de um receptor GPS, sua velocidade de deslocamento, o consumo de combustível, e a rotação do motor, e verificar sua funcionalidade por meio de comparações com outros métodos de medida. 2. MATERIAL E MÉTODOS Para o sistema mostrado na Figura 1, usa-se método de identificação, com base em receptor de GPS, e um microprocessador de bordo coleta os dados da operação do trator. No trabalho, utiliza-se um trator marca Massey Ferguson modelo 65 – X, motor marca Perkins, 4 cilindros com 48 kW de potência a 2.200 rpm, e seis marchas a frente, sendo as três primeiras reduzidas e as três últimas simples. O sistema de aquisição de dados é formado por: unidade de aquisição de dados (UA), medidor de consumo de combustível, medidor de rotação do motor e GPS. Componentes no trator - O trator é equipado com: Uma Unidade de Aquisição de Dados (UA), para a qual convergem todos os dados levantados exercendo diversas funções: monitora o fluxo de dados dos sensores periféricos (relativos ao receptor de GPS, consumo de combustível e rotação do motor); filtra os dados antes de serem armazenados na memória de bordo; associa a informação à data e à hora de obtenção através de um relógio completo com calendário. Sistema de aquisição automática de dados 307 Figura 1. Diagrama geral do sistema automático de aquisição de dados utilizados. A UA faz a leitura de quatro sensores tipo Ligado/Desligado, leitura de consumo de combustível, acionamento de quatro atuadores, um LED para indicação do funcionamento do sistema e outro para indicação da aquisição dos dados do GPS, chave de comando de início e termino da operação. Registra também a posição (latitude e longitude), velocidade de deslocamento, e funcionamento dos sensores. A medida do consumo de combustível é realizada por um medidor volumétrico de deslocamento positivo com engrenagens elípticas. Mede o volume de liquido que passa através da tubulação de combustível, originando um numero de impulsos proporcionais a cada centímetro cúbico de combustível consumido. O medidor é da marca Oval, tipo M-III modelo LSF41L8-M2, série n. 0Y006. Foi montado na saída do reservatório de combustível e o retorno de combustível acoplado entre o sensor e o sistema de injeção. As leituras são feitas de acordo com a necessidade, por exemplo, a cada 10 segundos e armazenadas na UA. Para a medição da rotação do motor, utilizase um transdutor ótico de velocidade “encoder” ótico incremental, com 360 pulsos por volta, marca Sick modelo T13100 B82140, que conta o número de voltas do eixo comando de válvulas do motor. A leitura da rotação do motor é feita a cada 10 segundos. Um GPS, marca Ashtec Magellan, modelo G 8, sem correção diferencial, com uma antena receptora, posicionada na parte posterior do trator, em suporte especial, a qual determina a posição do trator em coordenadas geográficas (latitude, longitude, altitude e o tempo). Com a posição atual e anterior, calcula-se a velocidade do conjunto. O sistema permite modificar o intervalo de obtenção dos dados do GPS, a cada 1,5,10,30 ou 60 segundos de acordo com as necessidades específicas. No caso a taxa de aquisição é de 10 segundos. A acurâcia do GPS é de 10 metros dada pelo Valor Médio Quadrático. O equipamento foi aferido comparando os dados de latitude e longitude de um marco de coordenadas conhecidas existentes na propriedade. Para coletar, organizar e tratar os dados de campo é utilizado um sistema com três módulos. O modulo de comunicação permite fazer a leitura dos dados da UA através de um computador portátil Toshiba 4010, apresentando a tela de cadastro e a tela principal com as funções: conectar; carregar dados; alterar freqüência e desconectar e recuperar os dados da unidade de aquisição via cabo por meio do protocolo serial RS232. O módulo administração do banco de dados organiza os registros das diferentes operações e apresenta as seguintes funcionalidades: filtrar dados, exportar para planilha eletronica, imprimir relatório geral, exibir mapa, carregar pontos, e imprimir mapa. O terceiro módulo, denominado Geodata, permite a conversão de dados para que possam ser manipulados em planilhas de cálculo e sistemas de informação geográfica. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.305-310, 2005 308 G.M. Silveira et al. Para verificar o bom funcionamento das medidas, o consumo de combustível obtido pelo sistema, foi comparado com o volume utilizado para encher o tanque do trator após 1 hora e 30 minutos de trabalho. Foram feitas 21 repetições, utilizando-se como implemento uma roçadora. Os valores de desvio- padrão, amplitude e coeficiente de variação, assim como os valores de máximo e mínimo das duas populações confirmam essa afirmação. Assim, os dois sistemas são adequados, o que dispensa o uso de análise de regressão com a finalidade de calibração. A rotação do motor fornecida pelo sistema foi comparada àquela obtida por um tacômetro ótico digital marca Ono Sokki modelo HT-431, medida no cabo do horímetro do trator. Multiplicando-se esse valor obtido por 2, tem-se a rotação do motor. Na tabela 2, verifica-se a comparação dos dados obtidos pelo sistema com relação àqueles lidos no eixo do horímetro, obtidos com tacômetro digital. Assim, se tem o dado estatístico da rotação do motor. Nesse caso, observa-se tanto na média, como nos valores máximos e mínimos que o sistema empregado subestima os valores em relação ao tacômetro digital. Pelo desvio-padrão e o coeficiente de variação observase que as populações têm as mesmas características de dispersão. A velocidade fornecida pelo sistema de aquisição de dados foi obtida através do GPS com medições dos tempos necessários para que o conjunto trator implemento, percorrer 100 m. O trator possui seis marchas no total à frente, sendo três reduzidas (primeira, segunda e terceira) e três simples (quarta quinta e sexta). Foram utilizadas nos experimentos as segunda, terceira e quarta marchas, comparadas com dados obtidos com cronômetro para percorrer o mesmo espaço. Em cada marcha, foram feitas 15 repetições. Análises de estatística descritiva foram utilizadas comparando as características de medida central e de dispersão entre os conjuntos de dados. Quando necessárias foram utilizadas análises de regressão para obtenção de curvas de calibração. Tabela 2. Análise estatística da rotação do motor em rotações por minuto (rpm) Estatística Média Erro-padrão Desvio-padrão Intervalo 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na tabela 1, verificam-se os dados de estatistica relativos ao consumo de combustível L/ h, obtidos nos experimentos. Pela Tabela 1, os dados de consumo de combustível estão com valores médios muito próximos. Observando-se os valores de erro-padrão conclui-se que os sistemas estimam com a mesma eficiência o consumo de combustível. Tabela 1. Estatísticas do consumo de combustível em l/h de trabalho com roçadora Estatística Dados Sistema Obtidos Média 3,49 3,55 Erro-padrão 0,067 0,062 Desvio-padrão 0,310 0,284 Intervalo 1,29 1,21 Mínimo 3,00 3,03 Máximo 4,29 4,24 Coeficiente de variação (%) 8,88 8,01 Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.305-310, 2005 Tacômetro Sistema de aquisição digital de dados 1608,4 1506,029 99,04623 585,9654 92,64775 548,1115 1680 1563 Mínimo 834 788 Máximo 2514 2351 Coeficiente de variação (%) 36,43157 36,39449 Em tais circunstâncias, obteve-se uma curva de calibração por meio de regressão linear, entre os dados do sensor do tacômetro digital e o usado no sistema de aquisição de dados (transdutor ótico de velocidade), o que garante sua utilização sem prejuízos à operacionalidade do sistema proposto. y = 1,069x - 1,5709 R2=0,9999 (1) Na tabela 3, as estatísticas foram separadas pelas diferentes marchas utilizadas. Nesse caso, observa-se que as medidas do GPS variam mais que as do cronômetro, as estatísticas de dispersão confirmam esta afirmação. Nota-se que os valores menores são superestimados enquanto os maiores, subestimados. Para obter uma curva de calibração foram testados vários modelos de regressão: linear, logarítmica, exponencial e polinomial. Embora o melhor ajuste seja com a polinomial de quarta ordem, não é uma das analises com menor ajuste, porém mais simples de usar. 309 Sistema de aquisição automática de dados Tabela 3. Estatísticas da velocidade em km/h obtida com cronômetro e pelo sistema de aquisição em segunda, terceira e quarta marchas Marcha Estatística Segunda Terceira Quarta Sistema Cronômetro Sistema Cronômetro Sistema Cronômetro Média 2,66 2,50 4,41 4,57 6,18 6,62 Erro-padrão 0,0367 0,0020 0,0475 0,0052 0,0504 0,0171 Desvio-padrão 0,1422 0,0079 0,1841 0,0200 0,1886 0,0640 Variância da amostra 0,0202 0,0001 0,0339 0,0004 0,0356 0,0041 Intervalo 0,44 0,03 0,64 0,07 0,63 0,27 Mínimo 2,44 2,49 4,14 4,52 5,78 6,53 Máximo 2,88 2,51 4,78 4,59 6,41 6,80 y = 0.0083x4 - 0.2354x 3 + 2.1088x2 - 6.2864x + 8.3202 (R 2 = 0.9892) (2) 3. CONCLUSÕES Neste trabalho para a leitura, memorização e transferência dos dados usa-se um computador portátil. No trabalho de Yule et al. (1991) os dados são processados e informados ao operador em tempo real através de um display. Esse sistema realiza o registro automático dos dados de campo, igual aos sistemas desenvolvidos por C ASTELLI e M AZZETTO (1996), MAZZETTO (1996). 1. O consumo de combustível, não exige correção de dados podendo ser aplicado diretamente. Determinados os principais parâmetros operacionais como: velocidade de deslocamento, consumo de combustível, rotação do motor e localização do trator no campo através do GPS, o sistema é semelhante àqueles desenvolvidos por M AZZETTO e L ANDONIO (1999); P ERRET et al. (2000); STORINO et al. (2000) e SILVEIRA (2001). Como aplicações do sistema, após a obtenção dos dados de velocidade de deslocamento, rotação do motor, e consumo de combustível, em outros trabalhos, os resultados serão processados com ênfase a: a) métodos de estatística descritiva buscando entender o comportamento das medidas de posicionamento ou de tendência central e as medidas de variabilidade; b) utilização do método da estatística descritiva recomendada para ánalise de controle de qualidade; c) os dados serão processados com base em métodos utilizados em geoestatística, com a finalidade de verificar a ocorrência de dependência espacial para fins de uso ou não da interpolação na geração de mapas representativos da ocorrência de dados no campo. 2. A determinação da rotação do motor requer calibração. REFERÊNCIAS BALASTREIRE. L.A. Aplicação localizada de insumos, um velho conceito novo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRICOLA, 23., 1994, Campinas. Resumos.... Campinas: SBEA/UNICAMP, 1994. p.248. CASTELLI, G.; MAZZETTO, F. Automatic system for monitoring and recording farm field activities. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON COMPUTERS IN AGRICULTURE, 4., 1996, Cancum, Mexico. Anais… Michigan: ASAE, American Society of Agricultural Engineering, 1996. p.548-556. MAZZETTO, F. L’acquisicione dei datti aziendali in tempo reale. Genio Rurale, Milano, v.12, n.1 p.20-30,1996. MAZZETTO, F.; LANDONIO, S. Hardware and software developments applied to a system for the automatic organisation of computerised notebooks. In: EUROPEAN CONFERENCE ON PRECISION AGRICULTURE, 2., 1999, Odense. Anais… Odense: SCI Agriculture and Environment Group, 1999. v.1, p.53-54. MISENER,G.G.; McLEOD, C.D.; A model to facilate farm machinery use and cost data collection. Agricultural Systems, Nancy, v.24, p.149-157, 1987. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.305-310, 2005 310 G.M. Silveira et al. PERRET, S.; PIROT, R.; BARRET, D.; DEURVEILHER. D. Etude de définition d´ un appareillage électronique d´ acquisision de données embarqué. Montpellier: Cirad SAR, 2000. 35p. STORINO, M.; PIROT, R.; TISSEYRE,B.; SEVILA, F. Performance du tracteur comme indicateur de l´état du sol en agriculture de précision: première approch en riziculture camarguaise. In: AGRICULTURE DE PRECISION : AVANCÉES DE LA RECHERCHE TECHNOLOGIQUE ET INDUSTRIELLE, 1., 2000, Dijon. Anais... Dijon: CemagrefENESAD, 2000. v.1, p.103-115. SCHUELLER, J.K. A review and integrating analysis of SpatialVariable Crop Control of crop production. Fertilizer Research, The Hague, v.33. p.1-34, 1992. SWINTON, S.S.; LOWENBERG-DEBOER, J. Evaluating the profitability of site-specific farming. Journal of Production Agricultura, Madison, v.11, n.4, p.439-46, 1998. SILVEIRA, G.M. Sistema informativo de operação em campo, baseado na aquisição automática de dados. Revista Brasileira de Engenharia Agricola e Ambiental, Campina Grande, v.5, n.2, p.365-368, 2001. YULE, I.J.; KOHNEN, G.; NOWAK, M. In field mapping of tractor performance. In: EUROPEAN CONFERENCE ON PRECISION AGRICULTURE., 2., 1999, Odense. Anais... Odense: SCI Agriculture and Environment Group, 1999. v.1, p.20. NICOLETTI, B. L’ impiego degli elaboratori. In: GIACOMAZZI, F. Manuale di gestione della produzione. Torino: ISEDI, 1975. v.34, p.34-27. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.305-310, 2005 Bragantia Print ISSN 0006-8705 Bragantia vol.64 no.2 Campinas 2005 AGROMETEOROLOGIA NOTA Simplificado o balanço hídrico de Thornthwaite-Mather Symplifying the Thornthwaite-Mather water balance Antonio Roberto Pereira Departamento de Ciências Exatas, ESALQ-USP, Caixa Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP). Email: [email protected]. Bolsista do CNPq RESUMO Seguindo a abordagem de Mendonça, em 1958, e com princípios básicos de cálculo o balanço hídrico climatológico de Thornthwaite e Mather, em 1955, foi simplificado eliminando-se a coluna de Negativo Acumulado, sem nenhuma perda para os resultados finais. Essa simplificação aumenta a eficiência dos cálculos e torna o balanço hídrico mais fácil de ser entendido. Palavras-chave: negativo acumulado, evapotranspiração real, deficiência hídrica ABSTRACT Following the approach presented by Mendonça (1958) and using basic calculus the Thornthwaite & Mather (1955) climatic water balance was simplyfied by eliminating the column Accumulated Potential Water Loss, without any loss for the final results. Such simplification increases the efficiency of the computations and it makes easier to understand the water balance. Key words: accumulated potential water loss, actual evapotranspiration, water deficit Introdução O balanço hídrico climatológico (BHC) foi desenvolvido por THORNTHWAITE e MATHER (1955) para determinar o regime hídrico de um local, sem necessidade de medidas diretas das condições do solo. Para sua elaboração, há necessidade de se definir o armazenamento máximo no solo (CAD - Capacidade de Água Disponível), e de se ter a medida da chuva total, e também a estimativa da evapotranspiração potencial em cada período. Com essas três informações básicas, o BHC permite deduzir a evapotranspiração real, a deficiência ou o excedente hídrico, e o total de água retida no solo em cada período. Como o solo é um reservatório que dificulta a saída da água à medida que vai secando, nos períodos em que o total de chuvas (P) é menor que a evapotranspiração potencial (ETP), a água retida torna-se uma função dessa demanda potencial (P - ETP < 0) e da CAD adotada. Havendo uma seqüência de períodos nessa condição, a água retida no solo será uma função seqüencial dos valores negativos acumulados de P - ETP, ou seja, da perda potencial acumulada (THORNTHWAITE e MATHER, 1955). Tal somatório foi denominado "negativo acumulado" (ORTOLANI et al., 1970; CAMARGO, 1971). Para facilitar a elaboração do balanço hídrico THORNTHWAITE e MATHER (1957) apresentaram uma série de tabelas de água retida em função do negativo acumulado para valores de CAD variando de 25 mm a 400 mm, pois naquela época a capacidade computacional estava restrita a máquinas mecânicas de difícil operação. Utilizando cálculo diferencial e integral, impondo as condições de contorno do BHC, MENDONÇA (1958) propôs a primeira simplificação no método de Thornthwaite-Mather, na qual todas as tabelas de água retida (ARM) podiam ser substituídas pela equação adimensional ARM/CAD = exp [Neg Acum/CAD]. Essa equação facilita a programação dos cálculos do balanço hídrico, pois elimina o uso das tabelas (PINTO e PREUSS, 1975). No fim do período de estiagem se ocorrer um mês com P - ETP > 0, mas em quantidade insuficiente para levar o ARM ao valor máximo (CAD), calcula-se um valor para Neg Acum daquele mês, invertendo-se a equação de Mendonça (PEREIRA et al., 1997, p153). Menos freqüente é a ocorrência de um mês com P - ETP > 0 durante o período seco, também em quantidade insuficiente para atingir a CAD, seguido novamente por outro mês seco. Para avaliar o ARM desse último mês, é necessário calcular o Neg Acum do mês anterior adicionado do P - ETP do mês em curso. Essa última condição é mais comum quando se efetua o BHC ao longo de anos reais (não com valores normais), ou em escalas de tempo menores que mês para se monitorar o ARM em tempo real. Por este trabalho, verifica-se que a equação de Mendonça pode ser generalizada eliminandose a coluna Neg Acum sem nenhuma perda no resultado do BHC, economizando cálculos desnecessários. Teoria Para uma seqüência de n meses com estiagem após a estação chuvosa, o armazenamento (ARMn) ao longo desses meses será dado pela equação de MENDONÇA (1958), na forma condensada, ou seja, Supondo-se uma seqüência de dois meses (n = 2) de P - ETP < 0, para facilitar a demonstração, e expandindo-se a equação 1, tem-se: Por definição: resultando em: que, para uma seqüência de n meses reduz-se à equação geral: Havendo um ou mais meses com P - ETP > 0, mas com valores insuficientes para levar o ARM até o valor da CAD, segue-se a rotina normal com: Em seguida, havendo outro mês de P - ETP < 0, retoma-se a equação 5, sem necessidade de se calcular o valor do Neg Acum no período anterior. Exemplo Embora a simplificação aqui descrita seja embasada em princípios matemáticos e sem aproximações, a apresentação de um exemplo de balanço hídrico completo não tem finalidade de comprová-la, mas apenas de indicar o ganho em eficiência no cômputo e no entendimento do modelo de THORNTHWAITE e MATHER (1955). Foi selecionado um caso especial em que o valor anual de ∑[P - ETP] < 0, com uma CAD maior que o somatório dos valores positivos (∑[P - ETP]+ = M). Nessa situação (CAD > M), o ARM nunca será igual à CAD e a abordagem clássica exige o cálculo de um valor inicial de Neg Acum (primeiro mês depois do período chuvoso). Essa situação é mostrada na Tabela 1, com as condições normais de Campina Grande, PB (7º 08' S; 35º 32' W; 548 m), conforme o balanço hídrico mostrado em PEREIRA et al. (1997, p157). Agora, a coluna Neg Acum da abordagem clássica pode ser eliminada. No presente exemplo, em função do clima local, eliminou-se a coluna de excedente hídrico por razões óbvias. O valor do ARM no fim do período chuvoso (julho), mês de início dos cálculos, será dado pela proposição de MENDONÇA (1958) e descrita em PEREIRA et al. (1997), ou seja, em que: M = ∑[P - ETP]+ = 111 mm, N = ∑[P - ETP]- = -465 mm. Daí em diante, os cálculos do ARM são dados pelas equações 5 e 6 conforme o caso de julho. Não há necessidade de se calcular o Neg Acum (= CAD Ln [ARM/CAD] = -12 mm) correspondente, pois no próximo mês (agosto) tem-se ARM8 = 114 exp[-20/125 ]≅ 97 mm, sem necessidade de se saber o Neg Acum de agosto. CONCLUSÃO Utilizando-se a abordagem de MENDONÇA (1958) foi possível simplificar os cálculos do balanço hídrico de Thornthwaite-Mather eliminando-se a coluna de Negativo Acumulado, com o mesmo resultado final. Além da maior eficiência pela redução nos cálculos necessários, o modelo ficou mais fácil de ser explicado e entendido. REFERÊNCIAS CAMARGO, A.P. Balanço hídrico no Estado de São Paulo. 3.ed. Campinas: Instituto Agronômico, 1971. 28p. (Boletim 116) MENDONÇA, P.V. Sobre o novo método de balanço hidrológico do solo de ThornthwaiteMather. In: CONGRESSO LUSO-ESPANHOL PARA O PROGRESSO DAS CIÊNCIAS, 24., Madrid. Anais... Madri, 1958, p.271-282. ORTOLANI, A.A. et al. Parâmetros climáticos e a cafeicultura. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro do Café, 1970. 27p. PEREIRA, A.R.; VILLA NOVA, N.A.; SEDIYAMA, G.C. Evapo(transpi)ração. Piracicaba: FEALQ, 1997. 183p. PINTO, H.S.; PREUSS, A. Uso de computador no cálculo do balanço hídrico climático. Turrialba, San José, v.25, n.2, p.199-201, 1975. THORNTHWAITE, C.W.; MATHER, J.R. The water balance. Centerton, NJ: Drexel Institute of Technology - Laboratory of Climatology, 1955. 104p. (Publications in Climatology, vol. VIII, n.1) THORNTHWAITE, C.W.; MATHER, J.R. Instructions and tables for computing potential evapotranspiration and the water balance. Centerton, NJ: Drexel Institute of Technology - Laboratory of Climatology, 1957. 311p. (Publications in Climatology, vol.X, n.3) Recebido para publicação em 30 de junho e aceito em 30 de dezembro de 2004 Simplificando o balanço hídrico de Thorthwaite-Mather. 311 AGROMETEOROLOGIA Nota SIMPLIFICANDO O BALANÇO HÍDRICO DE THORNTHWAITE-MATHER( 1 ) ANTONIO ROBERTO PEREIRA (2 ,3) RESUMO Seguindo a abordagem de Mendonça, em 1958, e com princípios básicos de cálculo o balanço hídrico climatológico de Thornthwaite e Mather, em 1955, foi simplificado eliminando-se a coluna de Negativo Acumulado, sem nenhuma perda para os resultados finais. Essa simplificação aumenta a eficiência dos cálculos e torna o balanço hídrico mais fácil de ser entendido. Palavras-chave: negativo acumulado, evapotranspiração real, deficiência hídrica ABSTRACT SYMPLIFYING THE THORNTHWAITE-MATHER WATER BALANCE Following the approach presented by Mendonça (1958) and using basic calculus the Thornthwaite & Mather (1955) climatic water balance was simplyfied by eliminating the column Accumulated Potential Water Loss, without any loss for the final results. Such simplification increases the efficiency of the computations and it makes easier to understand the water balance. Key words: accumulated potential water loss, actual evapotranspiration, water deficit Introdução O balanço hídrico climatológico (BHC) foi desenvolvido por THORNTHWAITE e MATHER (1955) para determinar o regime hídrico de um local, sem necessidade de medidas diretas das condições do solo. Para sua elaboração, há necessidade de se definir o armazenamento máximo no solo (CAD - Capacidade de Água Disponível), e de se ter a medida da chuva total, e também a estimativa da evapotranspiração potencial em cada período. Com essas três informações básicas, o BHC permite deduzir a evapotranspiração real, a deficiência ou o excedente hídrico, e o total de água retida no solo em cada período. ( 1) Recebido para publicação em 30 de junho e aceito em 30 de dezembro de 2004. ( 2) Departamento de Ciências Exatas, ESALQ-USP, Caixa Postal 9, 13418-900 Piracicaba (SP). E-mail: [email protected] ( 3) Bolsista do CNPq. Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.311-313, 2005 312 A.R. Pereira. Como o solo é um reservatório que dificulta a saída da água à medida que vai secando, nos períodos em que o total de chuvas (P) é menor que a evapotranspiração potencial (ETP), a água retida tornase uma função dessa demanda potencial (P - ETP < 0) e da CAD adotada. Havendo uma seqüência de períodos nessa condição, a água retida no solo será uma função seqüencial dos valores negativos acumulados de P - ETP, ou seja, da perda potencial acumulada (THORNTHWAITE e MATHER, 1955). Tal somatório foi denominado "negativo acumulado" (ORTOLANI et al., 1970; CAMARGO, 1971). Para facilitar a elaboração do balanço hídrico THORNTHWAITE e MATHER (1957) apresentaram uma série de tabelas de água retida em função do negativo acumulado para valores de CAD variando de 25 mm a 400 mm, pois naquela época a capacidade computacional estava restrita a máquinas mecânicas de difícil operação. Utilizando cálculo diferencial e integral, impondo as condições de contorno do BHC, MENDONÇA (1958) propôs a primeira simplificação no método de Thornthwaite-Mather, na qual todas as tabelas de água retida (ARM) podiam ser substituídas pela equação adimensional ARM/CAD = exp [Neg Acum/CAD]. Essa equação facilita a programação dos cálculos do balanço hídrico, pois elimina o uso das tabelas (P INTO e PREUSS , 1975). No fim do período de estiagem se ocorrer um mês com P - ETP > 0, mas em quantidade insuficiente para levar o ARM ao valor máximo (CAD), calcula-se um valor para Neg Acum daquele mês, invertendo-se a equação de Mendonça (PEREIRA et al., 1997, p153). Menos freqüente é a ocorrência de um mês com P - ETP > 0 durante o período seco, também em quantidade insuficiente para atingir a CAD, seguido novamente por outro mês seco. Para avaliar o ARM desse último mês, é necessário calcular o Neg Acum do mês anterior adicionado do P - ETP do mês em curso. Essa última condição é mais comum quando se efetua o BHC ao longo de anos reais (não com valores normais), ou em escalas de tempo menores que mês para se monitorar o ARM em tempo real. Por este trabalho, verifica-se que a equação de Mendonça pode ser generalizada eliminando-se a coluna Neg Acum sem nenhuma perda no resultado do BHC, economizando cálculos desnecessários. Teoria Para uma seqüência de n meses com estiagem após a estação chuvosa, o armazenamento (ARMn) ao longo desses meses será dado pela equação de MENDONÇA (1958), na forma condensada, ou seja, Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.311-313, 2005 n ARM n = CAD exp[ ∑ ( P − ETP) Neg Acumn ] = CAD exp[ n=1 CAD CAD n ] (1) Supondo-se uma seqüência de dois meses (n = 2) de P - ETP < 0, para facilitar a demonstração, e expandindo-se a equação 1, tem-se: ARM 2 = CAD exp[ ( P − ETP )1 + ( P − ETP ) 2 ( P − ETP )1 ( P − ETP ) 2 ] = CAD exp[ ] exp[ ] CAD CAD CAD (2) Por definição: CAD exp[ ( P − ETP )1 ] = ARM 1 CAD (3) resultando em: ARM 2 = ARM 1 exp[ ( P − ETP ) 2 ] CAD (4) que, para uma seqüência de n meses reduz-se à equação geral: ARM n = ARM n −1 exp[ ( P − ETP ) n ] CAD (5) Havendo um ou mais meses com P - ETP > 0, mas com valores insuficientes para levar o ARM até o valor da CAD, segue-se a rotina normal com: ARM n = ARM n −1 + ( P − ETP ) n (6) Em seguida, havendo outro mês de P - ETP < 0, retoma-se a equação 5, sem necessidade de se calcular o valor do Neg Acum no período anterior. Exemplo Embora a simplificação aqui descrita seja embasada em princípios matemáticos e sem aproximações, a apresentação de um exemplo de balanço hídrico completo não tem finalidade de comprová-la, mas apenas de indicar o ganho em eficiência no cômputo e no entendimento do modelo de THORNTHWAITE e MATHER (1955). Foi selecionado um caso especial em que o valor anual de ∑[P - ETP] < 0, com uma CAD maior que o somatório dos valores positivos (∑[P - ETP] + = M). Nessa situação (CAD > M), o ARM nunca será igual à CAD e a abordagem clássica exige o cálculo de um valor inicial de Neg Acum (primeiro mês depois do período chuvoso). Essa situação é mostrada na Tabela 1, com as condições normais de Campina Grande, PB (7o 08' S; 35 o 32' W; 548 m), conforme o balanço hídrico mostrado em P EREIRA et al. (1997, p157). Agora, a coluna Neg Acum da abordagem clássica pode ser eliminada. No presente exemplo, em função do clima local, eliminou-se a coluna de excedente hídrico por razões óbvias. O valor do ARM no fim do período 313 Simplificando o balanço hídrico de Thorthwaite-Mather. chuvoso (julho), mês de início dos cálculos, será dado pela proposição de M ENDONÇA (1958) e descrita em P EREIRA et al. (1997), ou seja, ARM 7 = M 1 − exp[ N ] CAD = 111 ≈ 114 mm − 465 1 − exp[ ] 125 Daí em diante, os cálculos do ARM são dados pelas equações 5 e 6 conforme o caso de julho. Não há necessidade de se calcular o Neg Acum (= CAD Ln [ARM/CAD] = -12 mm) correspondente, pois no próximo mês (agosto) tem-se ARM8 = 114 exp[-20/125 ]≅ 97 mm, sem necessidade de se saber o Neg Acum de agosto. (7) em que: M = ∑[P - ETP]+ = 111 mm, N = ∑[P - ETP]- = -465 mm. Tabela 1. Balanço hídrico segundo THORNTHWAITE e MATHER (1955), para Campina Grande, PB (7o 08’ S; 35o 32’ W; 548 m), com CAD = 125 mm. Valores expressos em mm MÊS P ETP P-ETP Neg Acum ARM ALT ETR DEF JAN 41 108 -67 -408 5 -3 44 64 FEV 55 109 -54 -462 3 -2 57 52 MAR 100 115 -15 -477 3 0 100 15 ABR 129 107 +22 -201 25 +22 107 0 MAI 95 95 0 -201 25 0 95 0 JUN 107 80 +27 -110 52 +27 80 0 +62 62 0 JUL 124 62 +62 -12 114 * AGO 58 78 -20 -32 97 -17 75 3 SET 38 77 -39 -71 71 -26 64 13 OUT 17 102 -85 -156 36 -35 52 50 NOV 19 108 -89 -245 18 -18 37 71 DEZ 21 117 -96 -341 8 -10 31 86 ANO 804 1158 -465 - - ±111 805 354 - - +111 - - - - - * O balanço hídrico normal começa neste mês. A coluna Neg Acum pode ser eliminada. CONCLUSÃO Utilizando-se a abordagem de MENDONÇA (1958) foi possível simplificar os cálculos do balanço hídrico de Thornthwaite-Mather eliminando-se a coluna de Negativo Acumulado, com o mesmo resultado final. Além da maior eficiência pela redução nos cálculos necessários, o modelo ficou mais fácil de ser explicado e entendido. REFERÊNCIAS CAMARGO, A.P. Balanço hídrico no Estado de São Paulo. 3.ed. Campinas: Instituto Agronômico, 1971. 28p. (Boletim 116) MENDONÇA, P.V. Sobre o novo método de balanço hidrológico do solo de Thornthwaite-Mather. In: CONGRESSO LUSO-ESPANHOL PARA O PROGRESSO DAS CIÊNCIAS, 24., Madrid. Anais... Madri, 1958, p.271-282. ORTOLANI, A.A. et al. Parâmetros climáticos e a cafeicultura. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro do Café, 1970. 27p. PEREIRA, A.R.; VILLA NOVA, N.A.; SEDIYAMA, G.C. Evapo(transpi)ração. Piracicaba: FEALQ, 1997. 183p. PINTO, H.S.; PREUSS, A. Uso de computador no cálculo do balanço hídrico climático. Turrialba, San José, v.25, n.2, p.199201, 1975. THORNTHWAITE, C.W.; MATHER, J.R. The water balance. Centerton, NJ: Drexel Institute of Technology - Laboratory of Climatology, 1955. 104p. (Publications in Climatology, vol. VIII, n.1) THORNTHWAITE, C.W.; MATHER, J.R. Instructions and tables for computing potential evapotranspiration and the water balance. Centerton, NJ: Drexel Institute of Technology Laboratory of Climatology, 1957. 311p. (Publications in Climatology, vol.X, n.3) Bragantia, Campinas, v.64, n.2, p.311-313, 2005