SAÚDE 6 Acima, atendimento no PS Central. No centro, remédios comuns usados no tratamento de asma e bronquite. À direita, o pneumologista Josué Reinaldo Ferreira atende paciente Policlínicas não tratam doenças respiratórias EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: Douglas Teixeira • FOTOGRAFIA: Maisa Salmi e Fábio Paes • ABRIL DE 2004 • PRIMEIRA impressão C om a chegada do outono e do in verno, os prontossocorros estão prestes a ficar lotados de pacientes com problemas respiratórios. Esta é a emergência mais corriqueira nesta época do ano. Asma e bronquite são chamadas de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica). De acordo com a Secretaria de Saúde, em 2002 entraram em óbito 407 pacientes com doenças pulmonares diversas em Santos. Este número perde apenas para as doenças cardíacas e para o câncer. Os dados de 2003 ainda não foram divulgados. “Por falta de recursos, a saúde pública e os médicos em geral tratam os efeitos e deixam as causas de lado”. Este é o alerta do médico pneumologista Josué Reinaldo Ferreira. Para ele, a melhor maneira de tratar um paciente de asma e bronquite é a prevenção e a seqüência do tratamento, mas isso não acontece na prática. Hoje, por exemplo, um asmático vai ao pronto-socorro com uma crise aguda de falta de ar e é medicado com aminofilina — um bronco dilatador poderoso — cortisona e inalação. Para Ferreira, o tratamento de emergência está correto, mas é perigoso pela falta de controle. “Se ocorrer uma outra crise horas mais tarde, e houver um retorno ao pronto-socorro, outro médico vai ministrar os mesmos medicamentos e isso é perigoso, pois o paciente terá dosagens acumuladas em um único dia”, alerta o especialista. A dona de casa Átila Maria de Barros, de 64 anos, sentiu na pele este procedimento. Ela sofria muito com a DPOC. Durante três anos foi atendida pelo SUS e sempre foi medicada para eliminar a crise. Nunca, segundo ela, foi orientada sobre tratamento preventivo. “Eu ia diariamente ao pronto-socorro, era medicada e horas depois eu voltava para tomar a medicação novamente”. Este mesmo procedimento era feito com o seu marido, Rolando Jequitibá Peroba de Barros, que tinha a mesma doença. “Ele faleceu há seis meses de insuficiência respiratória. Os remédios não faziam mais efeito e não sabíamos que havia tratamento preventivo”, lamenta a paciente. Hoje Átila faz o tratamento adequado e passa bem: “ Mas os remédios são caros. Gasto R$ 350,00 por mês e a rede pública não tem para distribuir”. A médica e diretora do Pronto-Socorro Central, Roseli Marquesine, diz que o problema é grave, pois os pacientes encaminhados para a policlínica sempre retornam. “Existe uma demora de até 30 dias para ser atendido por um especialista, após isso o paciente irá descobrir que não tem condições de aviar a receita e que os remédios não estão disponíveis na rede pública”. O risco de desenvolver outras doenças para quem recebe de forma continuada e diária os medicamentos aminofilina e cortisona é grande, como explica a médica Roseli. “Estes pacientes poderão ter no futuro hipertensão, diabetes ou problemas cardíacos”. A moradia é o maior problema para quem tem asma ou bronquite. “Essas pessoas são muito carentes, moram em lugares extremamente úmidos e por isso estão sempre em contato com mofo. Isso contribui para que nunca tenham uma melhora”, disse Roseli. Para o pneumologista Josué Reinaldo Ferreira, o problema não terá solução se o paciente não tiver um controle secundário da doença por um especialista da rede pública: “Eles não têm como abrigar todos os pacientes asmáticos em determinadas épocas do ano. Faltam especialistas e medicamentos de uso continuado no SUS”. (Veja quadro). Hoje a população carente não tem condições de ter um médico particular e os medicamentos para tratar de modo correto a asma e a bronquite são muito caros. Em média, o tratamento custa de R$ 150,00 a R$ 200,00 por mês. Ferreira acredita que a população carente deveria ser educada no sentido de saber que pronto-socorro não é lugar de tratamento. O médico defende a prática de tratamento adequado das doenças respiratórias e diz que só assim o número de emergências seria menor. O clínico geral Clóvis Gouveia — que trabalha pelo SUS no Pronto-Socorro Boqueirão, na Praia Grande — diz que no local é realizado tratamento nos pacientes com doenças respiratórias quando há necessida- * Medicamentos de: “Quando um paciente vem ao pronto-socorro com asma ou bronquite, por exemplo, nós fazemos a inalação como primeiro atendimento, mas depois fazemos exames para saber se ele precisa passar por um pneumologista ou só os remédios resolvem. Damos um encaminhamento para se fazer um tratamento mais profundo, se for preciso.” O médico condena o uso da inalação e da bombinha: “Eu sou contra esse tipo de medicação porque só alivia a falta de ar por um momento e não age no foco da doença como os outros remédios. As pessoas que costumam usar “bombinha” se tornam dependentes e não vão procurar um médico para se tratar”. Quando um paciente é encaminhado para se tratar num especialista através do SUS demora cerca de um mês para ser atendido. “O problema é que existem pessoas que querem passar por um pneumologista sem precisar. Há outras que marcam uma consulta, mas não vão e isso atrasa um pouco os outros atendimentos. Mas sempre que nós notamos que um paciente realmente precisa do tratamento nós encaminhamos”, explica Gouveia. O médico diz que para todo e qualquer tipo de problema respiratório — de gripe até pneumonia — o importante é se cuidar. Gouveia explica que que as estações frias são perigosas tanto para quem tem problemas respiratórios quanto para quem não tem. Alimentar-se bem, procurar não se estressar, se agasalhar, praticar exercícios e ficar longe de poeira, pêlos de animais e fumaça são essenciais para a prevenção dessas doenças que incomodam tanto. Tratamentos alternativos Os tratamentos alopáticos, como a inalação e a aplicação de remédios broncodilatadores e antiinflamatórios, são utilizados na maioria dos hospitais públicos como uma das únicas alternativas para aliviar crises de asma e de bronquite. Os pacientes que vão se tratar pelo SUS acabam acreditando somente nesta saída e não se interessam em outras formas de tratamento. Mas a auxiliar administrativa Cláudia Santos Freire, de 29 anos, discordou dessa atitude e foi conhecer a medicina alternativa. Desde criança, Cláudia tem bronquite asmática e já foi levada ao pronto-socorro várias vezes para fazer inalação. Por causa disso, hoje ela possui um aparelho em casa para se automedicar. “Até começar a trabalhar, eu me tratava pelo SUS, mas na verdade a única coisa que o médico fazia era me indicar uma inalação. Algumas vezes, ele escutava meu coração e me receitava remédios como o Aerolin. Se eu fiz dois exames de pulmão nesse tempo todo foi muito”, conta Cláudia. Depois de anos, dependente da bombinha e sentindo as mesmas sensações após cada inalação como taquicardia e tremedeira, Cláudia resolveu procurar a homeopatia: “Depois disso melhorei. Não tenho crises sérias de falta de ar há cinco anos. E já me livrei da bombinha”. O médico Clóvis Gouveia explica que é importante que o paciente procure outro tipo de tratamento que o faça se sentir melhor, mas não acredita no potencial da homeopatia: “Elas não podem esquecer os outros remédios. Eles foram feitos para tratar esses problemas e não prejudicam a saúde. É errado, por exemplo, achar que fazer inalação todos os dias pode prejudicar a saúde. Carolina Teijeira e FábioPaes SUS Policlínica C.T. Preço Médio Spiriva Não Sim R$ 317,00 Singulair Não Sim R$ 125,00 Symbicort Não Sim R$ 110,00 Foraseq Sim Não R$ 87,00 Zaditem Não Não R$ 30,00 *Medicamentos de última geração mais utilizados na prevenção