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Veterinária e Zootecnia
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AVALIAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DA EXPRESSÃO DA GLICOPROTEÍNA-P
EM TUMORES DE MAMA DE CADELAS TRATADAS COM PREDNISONA
Alexandre Lima de Andrade 1
Maria Cecília Rui Luvizott02
Silvia Edelweiss Crusco 3
Heitor Flávio Ferrari4
Rodrigo Antonio Lopes 4
RESUMO
o tumor de mama é o tipo de tumor mais freqüente que acomete cães. Vários estudos
epidemiológicos têm sido conduzidos para estimar a sua incidência em todo mundo. Estudos
prospectivos em cães, comparando combinação de 5-fluorouracil e ciclosfosfamida após a
mastectomia, revelaram maior taxa de sobrevida para os animais que receberam a terapia
combinada, em relação aos animais tratados apenas pelo procedimento cirúrgico. No entanto,
muitos protocolos podem falhar graças ao fenômeno celular conhecido como resistência
celular a drogas, no qual as células tumorais expressam uma glicoproteína na membrana
plasmática, denominada glicoproteína-P. Tal fato confere à célula a habilidade reduzida em
acumular fármacos anticâncer, sendo esta a principal causa de falência dos tratamentos
quimioterápicos. Trabalhos atuais revelam que a expressão da glicoproteína-P em biópsias de
tecidos neoplásicos antes e após o tratamento tem valor prognóstico em alguns tipos de
câncer no homem. No entanto, é necessário o emprego de alguns fármacos nos protocolos
quimioterápicos, dentre eles, os corticosteróides. Sendo assim, este trabalho teve por objetivo
avaliar a expressão da glicoproteína-P em tumores de mama de 23 cadelas utilizando-se o
anticorpo monoclonal 5B 12 antes e após o tratamento com prednisona. Dentre os tumores
encontrados, os resultados mostraram que a prednisona foi capaz de modular a expressão da
glicoproteína-P nos fragmentos de tumores de mama com classificação histológica de
carcinoma papilífero e carcinoma tubular simples. e que este fármaco deve ser considerado
como fármaco adjuvante quando protocolos de quimioterapia estiverem indicados no
combate e cura de câncer de mama em cães.
Palavras-chave: tumor de mama, cães, glicoproteína-P.
IMMUNOHISTOCHEMICAL
ANALYSIS OF P-GLYCOPROTEIN EXPRESSION
IN BREAST CANCER IN DOGS TREATED WITH PREDNISONE.
ABSTRACT
The breast cancer is the most frequent type of tumor in dogs. Many epidemiologic studies
have been leaded to steem its incidence in the world. Prospectivies studies in dogs,
comparing the combination of 5-fluorouracil and cyclophosphamide after mastectomy, had
I Professor Assistente Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba, Unesp. Disciplina de Clínica
Cirúrgica de Pequenos Animais. Rua Clóvis Pestana, 793 (CEP: 16050-680), Bairro Jd. Dona Amélia, Araçatuba
(SP). Telefone: 18-36363294. E-mail: [email protected].
2 Professora Assistente Doutora da Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba - SP, Unesp. Disciplina de
Patologia Geral Veterinária.
3 Médica Veterinária, Pesquisadora e Pós-Doutoranda da FA PESP - Laboratório de Biologia Molecular da
Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba, Unesp.
4 Médico Veterinário, Pós-graduando do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal-- Unesp _. carnpus de
Araçatuba (SP).
_
Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P em tumores de mama de
cadelas tratadas com prednisona. Ver, e Zootec. v.15. n.I. abr., p. 75-84,2008.
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disclosed greater tax of supervened for the animaIs that had received the therapy combined,
in relation to the animals treated only for the surgical procedure. However, many protocols
can fail due to the known cellular phenomenon as cellular multidrugs resistance, in which the
cells express a glycoprotein in plasm membrane, called P-glycoprotein.
Such fact confers to
the cell a reduced ability in accumulating anticancer drugs, being and it has the main cause of
failure of the chemotherapy
treatments. Some researches disclose that the expression of Pglycoprotein in several tumors before and after .the treatment has prognostic value in some
types of human cancers. However, the role of some drugs in the chemotherapy
protocols is
necessary, amongst them, corticosteroids.
As a result, the aim of this study was to evaluate
the expression of P-glycoprotein
in breast tumors of 23 dogs using the monoclonal antibody
5B 12 before and after the treatment with prednisone. Among the studied, the results had
shown that prednisone
was capable to modulate the expression
of P-glycoprotein
in
tubulopapillary carcinoma and tubular sim pie carcinoma, and this drug must be considered as
adjuvant product when protocols of chemotherapy will be indicated in the combat and cure of
breast cancer in dogs.
Key words:
breast cancer, dogs, P-glycoprotein.
EV ALUACION INMUNOISTOQUIMICA
DE LA EXPRESION DELA
GLICOPROTEINA-P
EN TUMORES DE MAMA DE HEMBRAS CANINAS
TRATADAS CON PREDNISONA
RESUMEN
EI cáncer de mama es el tipo más frecuente de tumor en perros. Muchos estudios
epidemiológicos han observado
su incidencia en el mundo. Estudios prospectivos en perros,
al pesquisar Ia combinación de 5-fluorouracilo
y ciclofosfamida
después de Ia mastectomía,
han revelado una mayor tasa de sobrevivencia para los animales que habían recibido Ia terapia
combinada, en relación con los animales tratados sólo para el procedimiento
quirúrgico. Sin
embargo, muchos protocolos
pueden dar errado debido al fenómeno
conocido
como
resistencia celular a Ia multidrogas, ya que Ias células tumorales expresan una glicoproteína
en su membrana plasmática, llamada glicoproteína-P.
Tal hecho confiere a Ia célula una
capacidad reducida en Ia acumulación
de medicamentos
contra el cáncer, y es Ia principal
causa de fracaso de los tratamientos de quimioterapia. Algunos investigadores
sefialan que Ia
expresión de Ia glicoproteína-P
en varios tumores antes y después deI tratamiento tiene valor
de prognóstico en algunos tipos de cánceres humanos. Sin embargo, el papel de algunos
medicamentos
en Ia quimioterapia
es necesario,
entre ellos,
los corticosteroides.
Consecuentemente,
el objetivo de este estudio fue evaluar Ia expresión de Ia glicoproteína-P
en los tumores de mama, de 23 perros usando el anticuerpo monoclonal 5B 12 antes y después
deI tratamiento con prednisona. Entre los tumores observados. los resultados han demostrado
que Ia prednisona es capaz de modular Ia expresión de Ia glicoproteína-P
en carcinoma
tubulopapilar y el carcinoma tubular simple, y este fármaco debe ser considerado
como
producto adyuvante de Ia quimioterapia
cuando los protocolos los indiquen en Ia lucha y Ia
cura deI cáncer de mama en el perro.
Pala bras-clave:
Cáncer de mama, los perros, Ia P-glicoproteína.
Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteina-P
cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v.15, n.l, abr., p. 75··84, 2008.
em tumores de mama de
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INTRODUÇÃO
o tumor de mama é o tipo de tumor mais freqüente que acomete cães. Vários estudos
epidemiológicos têm sido conduzidos para estimar a sua incidência em todo mundo. No
passado, os dados apontam uma freqüência de 13,4% em relação à incidência de câncer em
cães, e 41,7% de todos os tipos de tumor que ocorrem em cadelas não castradas (DORN et
al., 1968). Outros registros apontam valores ainda maiores de 53,3% em cadelas de qualquer
raça.
Os tumores
de mama em cadelas podem ser benignos ou malignos.
Aproximadamente, 40% a 50% deles são tumores malignos. Freqüentemente, eles são
classificados conforme a origem do tecido envolvido (de origem epitelial, mioepitelial ou
mesenquimal), achados morfológicos encontrados e prognóstico. No entanto, a Organização
Mundial de Saúde Internacional de Classificação Histológica de Tumores de Mama de Cães e
Gatos combina, ainda, a classificação histogênica e morfológica descritiva, incluindo os
achados histológicos e prognósticos de malignidade do tumor. Assim, os tumores de origem
epitelial são os mais freqüentes, entretanto, um mesmo fragmento analisado pode revelar uma
classificação histológica mista que pode variar, de origem epitelial, mioepitelial com áreas de
cartilagem e calcificadas como tecido ósseo e, em menor freqüência, de origem mesenquimal
(MISDORP et al., 2001). Os fatores que levam a sua ocorrência são inúmeros, mas dentre
eles destacam-se a influência hormonal, predisposição genética e racial, fatores dietéticos e
obesidade (SONNENSCHEIN et al., 1991; BERNSTEIN & ROSS, 1993; LA GUARDIA &
GIAMMANCO, 2001).
Tumores espontâneos em cães e gatos são excelentes modelos de estudo para avaliar a
eficácia de novas terapias para o homem. As modalidades de tratamento empregadas no
combate e cura do câncer de mama na mulher compreendem cirurgias radicais, emprego de
radiação, terapia hormonal e quimioterapia. A escolha de uma terapia única ou combinada
depende dos resultados de um grande número de estudos prospectivos descritos e avaliação
da eficácia de vários tratamentos em grupos de pacientes em diferentes estágios da doença,
com fatores prognósticos bem estabelecidos. Este consenso para indicação e escolha de
terapias ainda não foi descrito em medicina veterinária.
Usualmente, a cirurgia é o tratamento empregado em cadelas com tumores de mama,
e se consistiu na única modalidade mais efetiva para controle local do tumor (JOHNSTON,
1999). Os procedimentos variam desde lumpectomia a mastectomia radical, atentando-se a
remoção da massa tumoral com margens de segurança (KURZMAN & GILBERTSON,
1986).
A excisão cirúrgica pode ser curativa em cães com estágios iniciais da doença, e nos
casos de carcinomas bem diferenciados, pequenos e não invasivos. Em estágios mais
avançados ou tumores de grandes proporções, há chance de ocorrência de doença metastática,
entretanto, uma terapia adicional pode trazer grandes benefícios (KURZMAN &
GILBERTSON, 1986; YAMAGAMI et al., 1996).
Cita-se a utilização da radiação ionizante após mastectomia radical como alternativa
em medicina veterinária, a exemplo do que é realizado rotineiramente em mulheres I.
Embora Andrade et al. (2003a) tenham descrito a experiência clínica do uso dessas
radiações no combate ao câncer em pequenos animais, trata-se, ainda, de um recurso restrito
e não rotineiro em nosso país. O uso da terapia endócrina no tratamento de câncer em
mulheres é empírico e o mesmo não se mostra eficaz na diminuição da taxa de doença
1 National
Institutes of Health Consensus Development Pane!. National Institutes of Health Consensus
Statement: adjuvant therapy for breast cancer. J Natl Cancer Inst Monogr, v.30, p. 5-15,2001
Andrade, A.L. et ai. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P em tumores de mama de
cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v. I5, n. I, abr., p. 75-84,2008.
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metastática, bem como na cura e aumento de sobrevida. No entanto, a ooforectomia foi
utilizada com sucesso para induzir a regressão de câncer de mama há 100 anos atrás
(MARTIN&WEBER, 2000), e desde então tem sido considerada até hoje em muitos
protocolos de tratamento. Os mesmos resultados satisfatórios também são observados em
medicina veterinária, cuja ovariosalpingohisterectomia
em cadelas, ainda, em idade prépúbere, reduz sensivelmente as chances de ocorrência do câncer de mama (MOE, 2001).
Além dessas opções de tratamento, não há como desconsiderar os efeitos benéficos da
quimioterapia, que não dispensa novas e originais investigações. Os protocolos são inúmeros
e, em medicina humana, oferecem desde os anos 70, com o advento da ciclofosfamida,
metotrexato e 5-fluorouracil resultados clínicos satisfatórios significantes (BONADONNA et
al., 1976). Atualmente, estudos prospectivos em cães comparando combinação de 5fluorouracil e ciclosfosfamida após a mastectomia revelaram maior taxa de sobrevida para os
animais que receberam a terapia combinada, em relação aos animais tratados apenas pelo
procedimento cirúrgico. No entanto, muitos protocolos podem falhar devido ao fenômeno
celular conhecido como resistência celular a drogas (MDR). Um tipo de MDR bem
conhecido demonstra uma habilidade reduzida das células neoplásicas em acumular fármacos
anticâncer como antibióticos, vinca-alcalóides e podofilotoxinas, sendo esta a principal causa
de falência dos tratamentos quimioterápicos. Isto ocorre, entre outras coisas, devido à
presença de uma proteína transmembrânica conhecida como glicoproteina-P de alto peso
molecular (170-180 Kdáltons) que é codificada geneticamente pelos genes mdr-l , 2 e 3 em
seres humamos (SOUVIRON RODRIGUEZ et al., 1997). Em cães é conhecido que o gene
mdr-I está envolvido na produção desta glicoproteína.
Trabalhos atuais revelam que a expressão da glicoproteína-P em biópsias de tecidos
neoplásicos antes e após o tratamento tem valor prognóstico em alguns tipos de câncer no
homem (SOUVIRON RODRIGUEZ et al., 1997). Sendo assim, este trabalho teve por
objetivos: 1) Estudar os efeitos da prednisona sobre a expressão da glicoproteína-P em tumor
de mama em cadelas; 2) Avaliar o valor do uso da prednisona como possível fármaco
adjuvante no tratamento quimioterápico em tumor de mama.
MATERIAL E MÉTODOS
Animais
Foram estudadas 23 cadelas, com e sem raça definida (SRD), com médias de peso e
idade de 25,2 kg e 6,8 anos, respectivamente, com diagnóstico de tumor de mama em
diferentes estágios evolutivos (Fig. IA). Os animais foram atendidos no Serviço de Clínica
Cirúrgica de Pequenos Animais do Hospital Veterinário "Luis Quintiliano de Oliveira" da
Unesp, campus de Araçatuba (SP). Os animais apresentavam aumentos de volume em região
topográfica anatômica das cadeias mamárias, envolvendo uma ou demais mamas.
Inicialmente, todos os animais foram submetidos a exame físico geral na busca de
outras intercorrências clínicas associadas ao tumor, uma vez que, em muitos dos casos, os
animais apresentavam a condição clínica há mais de seis meses, em média.
Confirmado o diagnóstico presuntivo de tumor de mama, com o auxílio de Punção
Biópsia por Agulha Fina (PBAF), os 23 animais foram encaminhados à cirurgia para excisão
das respectivas massas. Previamente às condutas cirúrgicas, as cadelas foram tratadas com
prednisona (Meticorten Veterinário® 20mg, Schering-Plough Coopers) na dose de 1,1 mg/kg,
por via oral, durante 15 dias.
Em todos os animais foi realizada mastectomia radical, independentemente de apenas
uma mama estar acometida. Por cuidados pós-operatórios da ferida cirúrgica, optou-se por
utilizar o extrato aquoso de Triticum vulgare (BandVet®, Schering-Plough Coopers), uma
vez ao dia, durante 10 dias. Para que fatores comportamentais de lambedura e auto mutilação
Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P
cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v.15, n.l, abr., p. 75-84,2008.
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não influenciassem na cicatrização das feridas, os animais receberam colar do tipo
Elizabetano até a retirada dos pontos. Um critério adotado para inclusão de animais no
estudo, exigia que os mesmos não apresentassem contaminação e/ou ulceração das massas
tumorais.
As feridas cirúrgicas foram avaliadas aos sete dias, 15 dias e momento da cicatrização
completa das feridas. Os fenômenos avaliados foram: presença ou não de secreção, coaptação
da ferida, deiscência de pontos e presença de cicatriz hipertrófica.
Figura 1. [A] Imagem fotográfica de tumor de mama em cadela localizado na mama inguinal
direita. [B] Imagem fotográfica da reação de imunoistoquímica de controle .para a
glicoproteína- P170 em fígado de cão normal. Aumento: 200X. Método LSAB, DAB, contracoloração Hematoxicilina de Harris.
Avaliação morfológica e imunoistoquimica dos tumores
Foram colhidos fragmentos do tumor de 0,5 X 0,5 em antes e após o tratamento com a
prednisona. Tal procedimento teve a aprovação prévia dos proprietários. Os fragmentos
foram fixados em solução de formaldeído 10% tamponada durante três dias, e em seguida,
processados como de rotina, incluídos em parafina, e cortados em micrótomo a uma
Andrade, A.L. et ai. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P
cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v.15, n.l, abr., p. 75-84,2008.
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espessura de 5 um. De cada amostra, fizeram-se 6 cortes. Em seguida, os fragmentos foram
corados pelos métodos: a) Hematoxilina-Eosina
(HE), para classificação histológica do tumor
e confirmação
do diagnóstico
presuntivo
realizado pela PBAF; e b) Imunoistoquímica
utilizando-se o anticorpo monoc1onal C5B 12 (anti-glicoproteína-P),
na diluição 1: 10 para
estudo da expressão da glicoproteína-P
(P170 / p-Glycoprotein
/ MDR Ab-4 / clone 5B 12 /
NeoMarkers - Lab Vision). Um fragmento de fígado de um cão sadio foi utilizado como
controle positivo para reação imunoistoquímica
(Fig. lB). Neste procedimento,
utilizou-se o
Sistema Avidina-Biotina
Peroxidase (Kit LSAB, Dako), seguindo os protocolos descritos por
BOURNE (1983). Para controle da reação (controle negativo) o anticorpo primário foi
substituído pelo tampão fosfato. Foram utilizados como controles, dois fragmentos de mama
de duas cadelas vítimas de trauma crânio-encefálico
fatal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
o interesse pela oncologia veterinária é cada vez mais freqüente. Buscam-se a
aplicação de métodos diagnósticos
mais apurados,
bem como a utilização
de terapias
combinadas, que não somente a excisão cirúrgica dos tumores como medida única no
combate e controle do câncer. Certamente, isto reflete em aumento da taxa de sobrevida com
qualidade de vida dos pacientes. Não foi intenção estudar tais parâmetros,
embora sejam
primordiais, mas sim, avaliar os efeitos de um fármaco in vivo sobre a expressão de uma
proteína transmembrânica
expressa por tecidos neoplásicos,
e que é responsável
por um
fenômeno que põe à prova a indicação da quimioterapia em muitos tipos de câncer.
Não foram observadas
intercorrências
clínicas como diarréia, hiporexia e êmese,
comuns em tratamentos
prolongados
com antiinflamatórios
esteroidais.
Os proprietários
relataram apenas um aumento no apetite, e em alguns casos, o aumento da ingestão de água.
Aumento de peso também foi observado no momento da cirurgia quando comparado à última
data de exame.
Relativamente
à mastectomia radical empregada aqui para remoção dos tumores, a
mesma foi conduzida com técnicas apropriadas descritas na literatura atentando-se
para o
controle efetivo das hemorragias, que muitas vezes, tornam-se um fator complicante no pósoperatório e, não raramente,
podem levar o animal a óbito por choque hipovolêmico
(FOSSUM, 2001). As feridas evoluíram a contento com tempo médio de cicatrização de 10
dias. Em quatro animais, observou-se
pequena extensão de deiscência
de sutura por
contaminação local. Isto é esperado em feridas cirúrgicas de longa extensão (PEREIRA &
ARIAS, 2001). Tais complicações
se resolveram em média em 12 dias, com continuação do
tratamento iniciado anteriormente.
Os benefícios de fármacos tópicos devem superar seus
efeitos citotóxicos. Neste caso, os resultados aqui observados falam a favor do uso tópico do
Triticum vulgare sob a forma de creme (BandVet® creme) em feridas cirúrgicas de grande
extensão em cães. Proporcionou,
ainda, uma cicatriz cosmética e resistente. O mesmo foi
observado por Andrade et al. (2003b), que utilizaram o mesmo princípio ativo no tratamento
de feridas contaminadas e sujas em cães.
Não se encontraram óbices quanto ao processamento
das amostras, que se deram de
forma rotineira. No que se refere à avaliação morfológica,
dados interessantes
foram
encontrados. A avaliação histológica por H.E. dos tumores coletados permitiu observar que:
17,4% (n=4) eram adenocarcinoma
papilífero, 52,1% (n=12) eram tumor misto benigno e
30,4% (n=7) eram carcinoma tubular simples. Tais dados coadunam com dados da literatura
que apontam a maior freqüência do tumor misto benigno (MISDORP et al., 2001).
A expressão de glicoproteína-P
antes do tratamento foi observada em apenas nove
fragmentos analisados (39,1%), sendo que quatro deles consistiam em carcinoma papilífero
(Fig. 28). Observou-se
diminuição
na expressão da glicoproteína-P
após o tratamento
Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P
cadelas tratadas com prednisona. Veto e Zootec. v.15, n.l, abr., p. 75-84,2008.
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proposto com prednisona desses tumores analisados. Dos 12 fragmentos avaliados do tipo
histológico tumor misto benigno, dois deles mostraram positividade para expressão da
glicoproteína-P, no entanto, os fragmentos analisados desta classificação histológica após o
tratamento continuaram expressando a glicoproteína-P em mesma intensidade. Dos sete
fragmentos do tipo histológico carcinoma tubular simples, três deles expressaram a proteína,
e que após o tratamento, tiveram a sua expressão atenuada (Fig. 3).
Figura 2. [A] Imagem fotográfica de aspecto histopatológico do carcinoma papilífero de
glândula mamária (200X. HE). [B] Imagem fotográfica da reação imunoistoquímica
fortemente positiva para a glicoproteína-P170 no carcinoma papilífero mamário, antes do
tratamento. 200X. Método LSAB, DAB, contra-coloração Hematoxicilina de Harris.
Estudos semelhantes mostraram resultados conflitantes quanto às porcentagens de
positividade da expressão da glicoproteína-P. Embora os estudos tenham analisado um maior
número de fragmentos dos que foram avaliados, os autores relataram valores em torno de
37,2% (TSUKAMOTO et al., 1997) e 76% (BOTTI et al., 1993) de positividade para
expressão de glicoproteína-P. Li et al. (1998) demonstraram positividade na reação em 48,3%
de 60 casos de câncer de mama e o correlacionaram com o estadiamento clínico. Concluíram
que os pacientes com doença metastática que evoluíram para o óbito apresentaram maior
positividade da expressão da glicoproteína-P do que aqueles com prognóstico melhor. Assim,
Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P
cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v.15, n.l, abr., p. 75-84,2008.
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podemos inferir que a prednisona utilizada durante 15 dias foi capaz de modular a expressão
da glicopretéina-P no carcinoma papilífero e no carcinoma tubular simples, provavelmente
ligando-se a ela impedindo a sua ação de efluxo (LI et al., 1998), tornando as células
neoplásicas mais suceptíveis a ação de outros quimioterápicos, confirmando o valor
prognóstico da avaliação da glicoproteína-P antes e durante a terapia quimioterápica.
Salientamos que não objetivamos avaliar o uso único do corticosteróide como protocolo de
quimioterapia, mesmo porque, neste trabalho todos os animais foram submetidos à
mastectomia radical, mas sim avaliar o seu efeito em modular a expressão da glicoproteína-P
em tumores de mama de cadelas para, então, supostamente poder indicá-lo como fármaco
adjuvante em protocolos de quimioterapia específicos para cura e controle de doença
metastática. Embora o número de casos seja pequeno, os resultados mostram indícios do
efeito modulador da prednisona sobre a expressão da glicoproteína-P de tumores malignos
em cães.
Figura 3. [A] Reação imunoistoquímica
tubular simples de glândula mamária, antes
imunoistoquímica fracamente positiva para
de glândula mamária, após o tratamento.
Hematoxicilina de Harris.
positiva para glicoproteína-P170 no carcinoma
do tratamento. 200X. Método LSAB. [B] Reação
glicoproteína-P170 no carcinoma tubular simples
200X. Método LSAB, DAB, contra-coloração
Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P
cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v.15, n.I, abr., p. 75-84,2008.
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pode-se concluir que:
expressão
de glicoproteína-P
foi
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CONCLUSÕES
Com base nos resultados e condições aqui adotadas
1. Das amostras
de tumores de mama analisadas
a
observada em 39,3%;
2. A prednisona foi capaz de modular a expressão da
tumores de mama com classificação
histológica de
tubular simples.
glicoproteína-P
nos fragmentos de
carcinoma papilífero e carcinoma
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Recebido em: 28/06/2006
Aceito em: 04/07/2001'''·
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em tumores de mama de
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