Veterinária e Zootecnia ISSN 0102-5716 75 AVALIAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DA EXPRESSÃO DA GLICOPROTEÍNA-P EM TUMORES DE MAMA DE CADELAS TRATADAS COM PREDNISONA Alexandre Lima de Andrade 1 Maria Cecília Rui Luvizott02 Silvia Edelweiss Crusco 3 Heitor Flávio Ferrari4 Rodrigo Antonio Lopes 4 RESUMO o tumor de mama é o tipo de tumor mais freqüente que acomete cães. Vários estudos epidemiológicos têm sido conduzidos para estimar a sua incidência em todo mundo. Estudos prospectivos em cães, comparando combinação de 5-fluorouracil e ciclosfosfamida após a mastectomia, revelaram maior taxa de sobrevida para os animais que receberam a terapia combinada, em relação aos animais tratados apenas pelo procedimento cirúrgico. No entanto, muitos protocolos podem falhar graças ao fenômeno celular conhecido como resistência celular a drogas, no qual as células tumorais expressam uma glicoproteína na membrana plasmática, denominada glicoproteína-P. Tal fato confere à célula a habilidade reduzida em acumular fármacos anticâncer, sendo esta a principal causa de falência dos tratamentos quimioterápicos. Trabalhos atuais revelam que a expressão da glicoproteína-P em biópsias de tecidos neoplásicos antes e após o tratamento tem valor prognóstico em alguns tipos de câncer no homem. No entanto, é necessário o emprego de alguns fármacos nos protocolos quimioterápicos, dentre eles, os corticosteróides. Sendo assim, este trabalho teve por objetivo avaliar a expressão da glicoproteína-P em tumores de mama de 23 cadelas utilizando-se o anticorpo monoclonal 5B 12 antes e após o tratamento com prednisona. Dentre os tumores encontrados, os resultados mostraram que a prednisona foi capaz de modular a expressão da glicoproteína-P nos fragmentos de tumores de mama com classificação histológica de carcinoma papilífero e carcinoma tubular simples. e que este fármaco deve ser considerado como fármaco adjuvante quando protocolos de quimioterapia estiverem indicados no combate e cura de câncer de mama em cães. Palavras-chave: tumor de mama, cães, glicoproteína-P. IMMUNOHISTOCHEMICAL ANALYSIS OF P-GLYCOPROTEIN EXPRESSION IN BREAST CANCER IN DOGS TREATED WITH PREDNISONE. ABSTRACT The breast cancer is the most frequent type of tumor in dogs. Many epidemiologic studies have been leaded to steem its incidence in the world. Prospectivies studies in dogs, comparing the combination of 5-fluorouracil and cyclophosphamide after mastectomy, had I Professor Assistente Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba, Unesp. Disciplina de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais. Rua Clóvis Pestana, 793 (CEP: 16050-680), Bairro Jd. Dona Amélia, Araçatuba (SP). Telefone: 18-36363294. E-mail: [email protected]. 2 Professora Assistente Doutora da Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba - SP, Unesp. Disciplina de Patologia Geral Veterinária. 3 Médica Veterinária, Pesquisadora e Pós-Doutoranda da FA PESP - Laboratório de Biologia Molecular da Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba, Unesp. 4 Médico Veterinário, Pós-graduando do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal-- Unesp _. carnpus de Araçatuba (SP). _ Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P em tumores de mama de cadelas tratadas com prednisona. Ver, e Zootec. v.15. n.I. abr., p. 75-84,2008. Veterinária e Zootecnia iSSN 0102-5716 76 disclosed greater tax of supervened for the animaIs that had received the therapy combined, in relation to the animals treated only for the surgical procedure. However, many protocols can fail due to the known cellular phenomenon as cellular multidrugs resistance, in which the cells express a glycoprotein in plasm membrane, called P-glycoprotein. Such fact confers to the cell a reduced ability in accumulating anticancer drugs, being and it has the main cause of failure of the chemotherapy treatments. Some researches disclose that the expression of Pglycoprotein in several tumors before and after .the treatment has prognostic value in some types of human cancers. However, the role of some drugs in the chemotherapy protocols is necessary, amongst them, corticosteroids. As a result, the aim of this study was to evaluate the expression of P-glycoprotein in breast tumors of 23 dogs using the monoclonal antibody 5B 12 before and after the treatment with prednisone. Among the studied, the results had shown that prednisone was capable to modulate the expression of P-glycoprotein in tubulopapillary carcinoma and tubular sim pie carcinoma, and this drug must be considered as adjuvant product when protocols of chemotherapy will be indicated in the combat and cure of breast cancer in dogs. Key words: breast cancer, dogs, P-glycoprotein. EV ALUACION INMUNOISTOQUIMICA DE LA EXPRESION DELA GLICOPROTEINA-P EN TUMORES DE MAMA DE HEMBRAS CANINAS TRATADAS CON PREDNISONA RESUMEN EI cáncer de mama es el tipo más frecuente de tumor en perros. Muchos estudios epidemiológicos han observado su incidencia en el mundo. Estudios prospectivos en perros, al pesquisar Ia combinación de 5-fluorouracilo y ciclofosfamida después de Ia mastectomía, han revelado una mayor tasa de sobrevivencia para los animales que habían recibido Ia terapia combinada, en relación con los animales tratados sólo para el procedimiento quirúrgico. Sin embargo, muchos protocolos pueden dar errado debido al fenómeno conocido como resistencia celular a Ia multidrogas, ya que Ias células tumorales expresan una glicoproteína en su membrana plasmática, llamada glicoproteína-P. Tal hecho confiere a Ia célula una capacidad reducida en Ia acumulación de medicamentos contra el cáncer, y es Ia principal causa de fracaso de los tratamientos de quimioterapia. Algunos investigadores sefialan que Ia expresión de Ia glicoproteína-P en varios tumores antes y después deI tratamiento tiene valor de prognóstico en algunos tipos de cánceres humanos. Sin embargo, el papel de algunos medicamentos en Ia quimioterapia es necesario, entre ellos, los corticosteroides. Consecuentemente, el objetivo de este estudio fue evaluar Ia expresión de Ia glicoproteína-P en los tumores de mama, de 23 perros usando el anticuerpo monoclonal 5B 12 antes y después deI tratamiento con prednisona. Entre los tumores observados. los resultados han demostrado que Ia prednisona es capaz de modular Ia expresión de Ia glicoproteína-P en carcinoma tubulopapilar y el carcinoma tubular simple, y este fármaco debe ser considerado como producto adyuvante de Ia quimioterapia cuando los protocolos los indiquen en Ia lucha y Ia cura deI cáncer de mama en el perro. Pala bras-clave: Cáncer de mama, los perros, Ia P-glicoproteína. Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteina-P cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v.15, n.l, abr., p. 75··84, 2008. em tumores de mama de ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia 77 INTRODUÇÃO o tumor de mama é o tipo de tumor mais freqüente que acomete cães. Vários estudos epidemiológicos têm sido conduzidos para estimar a sua incidência em todo mundo. No passado, os dados apontam uma freqüência de 13,4% em relação à incidência de câncer em cães, e 41,7% de todos os tipos de tumor que ocorrem em cadelas não castradas (DORN et al., 1968). Outros registros apontam valores ainda maiores de 53,3% em cadelas de qualquer raça. Os tumores de mama em cadelas podem ser benignos ou malignos. Aproximadamente, 40% a 50% deles são tumores malignos. Freqüentemente, eles são classificados conforme a origem do tecido envolvido (de origem epitelial, mioepitelial ou mesenquimal), achados morfológicos encontrados e prognóstico. No entanto, a Organização Mundial de Saúde Internacional de Classificação Histológica de Tumores de Mama de Cães e Gatos combina, ainda, a classificação histogênica e morfológica descritiva, incluindo os achados histológicos e prognósticos de malignidade do tumor. Assim, os tumores de origem epitelial são os mais freqüentes, entretanto, um mesmo fragmento analisado pode revelar uma classificação histológica mista que pode variar, de origem epitelial, mioepitelial com áreas de cartilagem e calcificadas como tecido ósseo e, em menor freqüência, de origem mesenquimal (MISDORP et al., 2001). Os fatores que levam a sua ocorrência são inúmeros, mas dentre eles destacam-se a influência hormonal, predisposição genética e racial, fatores dietéticos e obesidade (SONNENSCHEIN et al., 1991; BERNSTEIN & ROSS, 1993; LA GUARDIA & GIAMMANCO, 2001). Tumores espontâneos em cães e gatos são excelentes modelos de estudo para avaliar a eficácia de novas terapias para o homem. As modalidades de tratamento empregadas no combate e cura do câncer de mama na mulher compreendem cirurgias radicais, emprego de radiação, terapia hormonal e quimioterapia. A escolha de uma terapia única ou combinada depende dos resultados de um grande número de estudos prospectivos descritos e avaliação da eficácia de vários tratamentos em grupos de pacientes em diferentes estágios da doença, com fatores prognósticos bem estabelecidos. Este consenso para indicação e escolha de terapias ainda não foi descrito em medicina veterinária. Usualmente, a cirurgia é o tratamento empregado em cadelas com tumores de mama, e se consistiu na única modalidade mais efetiva para controle local do tumor (JOHNSTON, 1999). Os procedimentos variam desde lumpectomia a mastectomia radical, atentando-se a remoção da massa tumoral com margens de segurança (KURZMAN & GILBERTSON, 1986). A excisão cirúrgica pode ser curativa em cães com estágios iniciais da doença, e nos casos de carcinomas bem diferenciados, pequenos e não invasivos. Em estágios mais avançados ou tumores de grandes proporções, há chance de ocorrência de doença metastática, entretanto, uma terapia adicional pode trazer grandes benefícios (KURZMAN & GILBERTSON, 1986; YAMAGAMI et al., 1996). Cita-se a utilização da radiação ionizante após mastectomia radical como alternativa em medicina veterinária, a exemplo do que é realizado rotineiramente em mulheres I. Embora Andrade et al. (2003a) tenham descrito a experiência clínica do uso dessas radiações no combate ao câncer em pequenos animais, trata-se, ainda, de um recurso restrito e não rotineiro em nosso país. O uso da terapia endócrina no tratamento de câncer em mulheres é empírico e o mesmo não se mostra eficaz na diminuição da taxa de doença 1 National Institutes of Health Consensus Development Pane!. National Institutes of Health Consensus Statement: adjuvant therapy for breast cancer. J Natl Cancer Inst Monogr, v.30, p. 5-15,2001 Andrade, A.L. et ai. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P em tumores de mama de cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v. I5, n. I, abr., p. 75-84,2008. ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia 78 metastática, bem como na cura e aumento de sobrevida. No entanto, a ooforectomia foi utilizada com sucesso para induzir a regressão de câncer de mama há 100 anos atrás (MARTIN&WEBER, 2000), e desde então tem sido considerada até hoje em muitos protocolos de tratamento. Os mesmos resultados satisfatórios também são observados em medicina veterinária, cuja ovariosalpingohisterectomia em cadelas, ainda, em idade prépúbere, reduz sensivelmente as chances de ocorrência do câncer de mama (MOE, 2001). Além dessas opções de tratamento, não há como desconsiderar os efeitos benéficos da quimioterapia, que não dispensa novas e originais investigações. Os protocolos são inúmeros e, em medicina humana, oferecem desde os anos 70, com o advento da ciclofosfamida, metotrexato e 5-fluorouracil resultados clínicos satisfatórios significantes (BONADONNA et al., 1976). Atualmente, estudos prospectivos em cães comparando combinação de 5fluorouracil e ciclosfosfamida após a mastectomia revelaram maior taxa de sobrevida para os animais que receberam a terapia combinada, em relação aos animais tratados apenas pelo procedimento cirúrgico. No entanto, muitos protocolos podem falhar devido ao fenômeno celular conhecido como resistência celular a drogas (MDR). Um tipo de MDR bem conhecido demonstra uma habilidade reduzida das células neoplásicas em acumular fármacos anticâncer como antibióticos, vinca-alcalóides e podofilotoxinas, sendo esta a principal causa de falência dos tratamentos quimioterápicos. Isto ocorre, entre outras coisas, devido à presença de uma proteína transmembrânica conhecida como glicoproteina-P de alto peso molecular (170-180 Kdáltons) que é codificada geneticamente pelos genes mdr-l , 2 e 3 em seres humamos (SOUVIRON RODRIGUEZ et al., 1997). Em cães é conhecido que o gene mdr-I está envolvido na produção desta glicoproteína. Trabalhos atuais revelam que a expressão da glicoproteína-P em biópsias de tecidos neoplásicos antes e após o tratamento tem valor prognóstico em alguns tipos de câncer no homem (SOUVIRON RODRIGUEZ et al., 1997). Sendo assim, este trabalho teve por objetivos: 1) Estudar os efeitos da prednisona sobre a expressão da glicoproteína-P em tumor de mama em cadelas; 2) Avaliar o valor do uso da prednisona como possível fármaco adjuvante no tratamento quimioterápico em tumor de mama. MATERIAL E MÉTODOS Animais Foram estudadas 23 cadelas, com e sem raça definida (SRD), com médias de peso e idade de 25,2 kg e 6,8 anos, respectivamente, com diagnóstico de tumor de mama em diferentes estágios evolutivos (Fig. IA). Os animais foram atendidos no Serviço de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais do Hospital Veterinário "Luis Quintiliano de Oliveira" da Unesp, campus de Araçatuba (SP). Os animais apresentavam aumentos de volume em região topográfica anatômica das cadeias mamárias, envolvendo uma ou demais mamas. Inicialmente, todos os animais foram submetidos a exame físico geral na busca de outras intercorrências clínicas associadas ao tumor, uma vez que, em muitos dos casos, os animais apresentavam a condição clínica há mais de seis meses, em média. Confirmado o diagnóstico presuntivo de tumor de mama, com o auxílio de Punção Biópsia por Agulha Fina (PBAF), os 23 animais foram encaminhados à cirurgia para excisão das respectivas massas. Previamente às condutas cirúrgicas, as cadelas foram tratadas com prednisona (Meticorten Veterinário® 20mg, Schering-Plough Coopers) na dose de 1,1 mg/kg, por via oral, durante 15 dias. Em todos os animais foi realizada mastectomia radical, independentemente de apenas uma mama estar acometida. Por cuidados pós-operatórios da ferida cirúrgica, optou-se por utilizar o extrato aquoso de Triticum vulgare (BandVet®, Schering-Plough Coopers), uma vez ao dia, durante 10 dias. Para que fatores comportamentais de lambedura e auto mutilação Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v.15, n.l, abr., p. 75-84,2008. em tumores de mama de ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia 79 não influenciassem na cicatrização das feridas, os animais receberam colar do tipo Elizabetano até a retirada dos pontos. Um critério adotado para inclusão de animais no estudo, exigia que os mesmos não apresentassem contaminação e/ou ulceração das massas tumorais. As feridas cirúrgicas foram avaliadas aos sete dias, 15 dias e momento da cicatrização completa das feridas. Os fenômenos avaliados foram: presença ou não de secreção, coaptação da ferida, deiscência de pontos e presença de cicatriz hipertrófica. Figura 1. [A] Imagem fotográfica de tumor de mama em cadela localizado na mama inguinal direita. [B] Imagem fotográfica da reação de imunoistoquímica de controle .para a glicoproteína- P170 em fígado de cão normal. Aumento: 200X. Método LSAB, DAB, contracoloração Hematoxicilina de Harris. Avaliação morfológica e imunoistoquimica dos tumores Foram colhidos fragmentos do tumor de 0,5 X 0,5 em antes e após o tratamento com a prednisona. Tal procedimento teve a aprovação prévia dos proprietários. Os fragmentos foram fixados em solução de formaldeído 10% tamponada durante três dias, e em seguida, processados como de rotina, incluídos em parafina, e cortados em micrótomo a uma Andrade, A.L. et ai. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v.15, n.l, abr., p. 75-84,2008. em tumores de mama de ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia 80 espessura de 5 um. De cada amostra, fizeram-se 6 cortes. Em seguida, os fragmentos foram corados pelos métodos: a) Hematoxilina-Eosina (HE), para classificação histológica do tumor e confirmação do diagnóstico presuntivo realizado pela PBAF; e b) Imunoistoquímica utilizando-se o anticorpo monoc1onal C5B 12 (anti-glicoproteína-P), na diluição 1: 10 para estudo da expressão da glicoproteína-P (P170 / p-Glycoprotein / MDR Ab-4 / clone 5B 12 / NeoMarkers - Lab Vision). Um fragmento de fígado de um cão sadio foi utilizado como controle positivo para reação imunoistoquímica (Fig. lB). Neste procedimento, utilizou-se o Sistema Avidina-Biotina Peroxidase (Kit LSAB, Dako), seguindo os protocolos descritos por BOURNE (1983). Para controle da reação (controle negativo) o anticorpo primário foi substituído pelo tampão fosfato. Foram utilizados como controles, dois fragmentos de mama de duas cadelas vítimas de trauma crânio-encefálico fatal. RESULTADOS E DISCUSSÃO o interesse pela oncologia veterinária é cada vez mais freqüente. Buscam-se a aplicação de métodos diagnósticos mais apurados, bem como a utilização de terapias combinadas, que não somente a excisão cirúrgica dos tumores como medida única no combate e controle do câncer. Certamente, isto reflete em aumento da taxa de sobrevida com qualidade de vida dos pacientes. Não foi intenção estudar tais parâmetros, embora sejam primordiais, mas sim, avaliar os efeitos de um fármaco in vivo sobre a expressão de uma proteína transmembrânica expressa por tecidos neoplásicos, e que é responsável por um fenômeno que põe à prova a indicação da quimioterapia em muitos tipos de câncer. Não foram observadas intercorrências clínicas como diarréia, hiporexia e êmese, comuns em tratamentos prolongados com antiinflamatórios esteroidais. Os proprietários relataram apenas um aumento no apetite, e em alguns casos, o aumento da ingestão de água. Aumento de peso também foi observado no momento da cirurgia quando comparado à última data de exame. Relativamente à mastectomia radical empregada aqui para remoção dos tumores, a mesma foi conduzida com técnicas apropriadas descritas na literatura atentando-se para o controle efetivo das hemorragias, que muitas vezes, tornam-se um fator complicante no pósoperatório e, não raramente, podem levar o animal a óbito por choque hipovolêmico (FOSSUM, 2001). As feridas evoluíram a contento com tempo médio de cicatrização de 10 dias. Em quatro animais, observou-se pequena extensão de deiscência de sutura por contaminação local. Isto é esperado em feridas cirúrgicas de longa extensão (PEREIRA & ARIAS, 2001). Tais complicações se resolveram em média em 12 dias, com continuação do tratamento iniciado anteriormente. Os benefícios de fármacos tópicos devem superar seus efeitos citotóxicos. Neste caso, os resultados aqui observados falam a favor do uso tópico do Triticum vulgare sob a forma de creme (BandVet® creme) em feridas cirúrgicas de grande extensão em cães. Proporcionou, ainda, uma cicatriz cosmética e resistente. O mesmo foi observado por Andrade et al. (2003b), que utilizaram o mesmo princípio ativo no tratamento de feridas contaminadas e sujas em cães. Não se encontraram óbices quanto ao processamento das amostras, que se deram de forma rotineira. No que se refere à avaliação morfológica, dados interessantes foram encontrados. A avaliação histológica por H.E. dos tumores coletados permitiu observar que: 17,4% (n=4) eram adenocarcinoma papilífero, 52,1% (n=12) eram tumor misto benigno e 30,4% (n=7) eram carcinoma tubular simples. Tais dados coadunam com dados da literatura que apontam a maior freqüência do tumor misto benigno (MISDORP et al., 2001). A expressão de glicoproteína-P antes do tratamento foi observada em apenas nove fragmentos analisados (39,1%), sendo que quatro deles consistiam em carcinoma papilífero (Fig. 28). Observou-se diminuição na expressão da glicoproteína-P após o tratamento Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P cadelas tratadas com prednisona. Veto e Zootec. v.15, n.l, abr., p. 75-84,2008. em tumores de mama de ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia 81 proposto com prednisona desses tumores analisados. Dos 12 fragmentos avaliados do tipo histológico tumor misto benigno, dois deles mostraram positividade para expressão da glicoproteína-P, no entanto, os fragmentos analisados desta classificação histológica após o tratamento continuaram expressando a glicoproteína-P em mesma intensidade. Dos sete fragmentos do tipo histológico carcinoma tubular simples, três deles expressaram a proteína, e que após o tratamento, tiveram a sua expressão atenuada (Fig. 3). Figura 2. [A] Imagem fotográfica de aspecto histopatológico do carcinoma papilífero de glândula mamária (200X. HE). [B] Imagem fotográfica da reação imunoistoquímica fortemente positiva para a glicoproteína-P170 no carcinoma papilífero mamário, antes do tratamento. 200X. Método LSAB, DAB, contra-coloração Hematoxicilina de Harris. Estudos semelhantes mostraram resultados conflitantes quanto às porcentagens de positividade da expressão da glicoproteína-P. Embora os estudos tenham analisado um maior número de fragmentos dos que foram avaliados, os autores relataram valores em torno de 37,2% (TSUKAMOTO et al., 1997) e 76% (BOTTI et al., 1993) de positividade para expressão de glicoproteína-P. Li et al. (1998) demonstraram positividade na reação em 48,3% de 60 casos de câncer de mama e o correlacionaram com o estadiamento clínico. Concluíram que os pacientes com doença metastática que evoluíram para o óbito apresentaram maior positividade da expressão da glicoproteína-P do que aqueles com prognóstico melhor. Assim, Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v.15, n.l, abr., p. 75-84,2008. em tumores de mama de ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia 82 podemos inferir que a prednisona utilizada durante 15 dias foi capaz de modular a expressão da glicopretéina-P no carcinoma papilífero e no carcinoma tubular simples, provavelmente ligando-se a ela impedindo a sua ação de efluxo (LI et al., 1998), tornando as células neoplásicas mais suceptíveis a ação de outros quimioterápicos, confirmando o valor prognóstico da avaliação da glicoproteína-P antes e durante a terapia quimioterápica. Salientamos que não objetivamos avaliar o uso único do corticosteróide como protocolo de quimioterapia, mesmo porque, neste trabalho todos os animais foram submetidos à mastectomia radical, mas sim avaliar o seu efeito em modular a expressão da glicoproteína-P em tumores de mama de cadelas para, então, supostamente poder indicá-lo como fármaco adjuvante em protocolos de quimioterapia específicos para cura e controle de doença metastática. Embora o número de casos seja pequeno, os resultados mostram indícios do efeito modulador da prednisona sobre a expressão da glicoproteína-P de tumores malignos em cães. Figura 3. [A] Reação imunoistoquímica tubular simples de glândula mamária, antes imunoistoquímica fracamente positiva para de glândula mamária, após o tratamento. Hematoxicilina de Harris. positiva para glicoproteína-P170 no carcinoma do tratamento. 200X. Método LSAB. [B] Reação glicoproteína-P170 no carcinoma tubular simples 200X. Método LSAB, DAB, contra-coloração Andrade, A.L. et aI. Avaliação imunoistoquímica da expressão da glicoproteína-P cadelas tratadas com prednisona. Vet. e Zootec. v.15, n.I, abr., p. 75-84,2008. em tumores de mama de Veterinária e Zootecnia 83 pode-se concluir que: expressão de glicoproteína-P foi ISSN 0102-5716 CONCLUSÕES Com base nos resultados e condições aqui adotadas 1. Das amostras de tumores de mama analisadas a observada em 39,3%; 2. A prednisona foi capaz de modular a expressão da tumores de mama com classificação histológica de tubular simples. glicoproteína-P nos fragmentos de carcinoma papilífero e carcinoma REFERÊNCIAS ANDRADE, A.L. et aI. Clinical trial with 90-Strontium low radiation for third eyelid neoplasms in dogs. ln: Genes, dogs and cancer, 3, 2003. Seatle - EUA. Disponível em: <:w\Vw.ivis.org>. document P.3028.0903 (a). ANDRADE, A.L. et aI. Análises clínica, morfológica e imunohistoquímica do uso do Triticum vulgare na cicatrização de feridas cutâneas sujas em cães. Hora Vet., v.23, p.16-20, 2003 (b). BERNSTEIN L.; ROSS, R.K. Rev., v.15, pA8-65, 1993. Endogenous hormones and breast cancer risk. BONNADONNA, G. et aI. Combination chemotherapy as an adjuvant breast câncer. N. Engl. J. Med., v.294. pA05-11 O, 1976. treatment Epidemiol. in operable BOTT1, G. et aI. PCNAlcyclin and P-glycoprotein as prognostic factors in locally advanced breast cancer. An immunohistochemical, retrospective study. 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