O que vem a ser o Judaismo humanista secular um

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Reflexões para um Judaísmo Secular Humanista para o século 21
Jayme Fucs Bar - Outubro 2006
Como judeu que se define Secular Humanista, gostaria neste pequeno memorando
de compartilhar com o leitor duas importantes reflexões sobre O que vem a ser
Judeu Secular Humanista no Século 21? E a centralidade de Deus e do
Homem?
O Judaísmo Secular Humanista vem se convertendo, nos últimos 40 anos, não só
em um pensamento filosófico, mais sim em um movimento organizado, ou melhor,
em uma nova e atuante corrente do judaísmo do século XXI.
Desde meados da década de 1960, surgiram 14 comunidades filiadas ao Jewish
Secular Humanistic Community (Comunidade do Judaísmo Secular Humanista),
principalmente nos Estados Unidos e em Israel, mas também na Europa, Austrália,
México e Uruguai. Tais Comunidades têm como base a influência de personalidades
e lideres como o Rabino Mordechai Kaplan, fundador do movimento judaísta
reconstrucionista nos EUA e o Rabino Sherwin Wine (fundador do movimento
Judaísmo Humanista também nos EUA e em Israel); podemos citar ainda, entre os
mais influentes, Yair Saban, fundador do movimento Meitar, que vê o judaísmo como
cultura. Saban é ex-ministro de Israel pelo antigo partido socialista Mapam.
O que essas três grandes personalidades, Kaplan, Wine e Saban, têm em comum é
a centralidade do Homem no mundo; em suas comunidades judaicas, eles talvez
expliquem tais conceitos através de diferentes ângulos, mas mantêm sempre a
mesma base do Homem como centro.
Mas o que levou o pensamento filosófico do Judaísmo Secular Humanista a se
organizar em comunidades estruturadas no século 21?
Uma resposta a essa pergunta deve levar em consideração isto: o que vem a
ser Judeu no Século 21, na era da Globalização?
Se Napoleão vivesse hoje, em plena Revolução Global, logicamente não faria aos
71 senedrim (lideres religiosos) as 12 perguntas que fez na França de 1807. Talvez
fizesse apenas uma: Quem é judeu?
E obteria inúmeras respostas, todas diferentes e corretas. Napoleão provavelmente
sairia insatisfeito desse encontro; sua grande dificuldade, em pleno século 21, seria
definir a quem fazer tal pergunta, uma vez que temos, hoje, um judaísmo de tantos
tipos de senedrim diferentes.
Judaísmo é, hoje, uma fusão de identidades mundiais; não existe mais uma
identidade judaica única, somos judeus de identidades diversificadas, de valores e
conceitos que mudam num ritmo acelerado. As identidades no Judaísmo deste
século recriam-se, renascem, revitalizam-se em um novo e versátil judaísmo de
"caras novas", onde as correntes clássicas desse judaísmo se transformam para
sobreviver e se adaptam ao novo padrão das identidades globalizadas.
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O Judaísmo Secular Humanista faz parte integral desse processo, ele está
tomando um novo ritmo, criará um novo rumo na vida judaica.
O que se chamou de pensamento Judaico Secular Humanista no passado foi, sem
dúvida, o resultado de um processo de 200 anos de emancipação, tem origem na
revelação de Copérnico sobre a terra não ser mais o centro do universo; esse
judaísmo assumiu a coragem de Darwin ao afirmar que o homem não é mais filho de
Deus; esse judaísmo sentou-se no divã de Freud quando se identificou com a
revelação de que o homem é um labirinto povoado pelo inconsciente; esse
Judaísmo Secular Humanista é fruto do pensamento de Spinoza, Mendelssohn,
Hess, Marx, Buber, Sartre, Theodor Hertzl e muitos outros.
Quem desejar se definir como um judeu secular humanista do século 21 terá de
enfrentar grandes desafios – não na necessidade de reafirmar o pensamento "O
homem como centro do mundo, ou da vida judaica", mas na reconstrução dos
fundamentos do pensamento judaico secular humanista, dentro da compreensão de
que o judaísmo é uma civilização.
Compreender isso não é o suficiente. É preciso, ainda, saber se unir e atuar como
judeus seculares humanistas. E para isso é necessária a organização em estruturas
comunitárias voluntárias e ativas, como as que vêm surgindo nos últimos anos em
sociedades judaicas em diversas partes do mundo.
Quem crê em um Judaísmo Secular Humanista precisa conhecer e agir de
acordo com preceitos judaicos. Essa prática deverá estar presente em toda a
esfera da vida da comunidade, nos aspectos cultural, histórico e educativo,
realizando o ciclo da vida judaica através do Brit Milá, de casamentos, Bar Mitzva e
Bat Mitzva, entre outras festividades judaicas.
Para que o leitor possa compreender melhor a prática desses conceitos, seguem
algumas idéias já integradas e definidas em comunidades judaicas seculares
humanistas:
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O Judaísmo Secular Humanista para o século 21 deverá restabelecer de
forma clara o direito do povo judeu a seu centro civilizatório, que é a
terra de Israel. Deverá lutar contra o racismo, o anti-semitismo e o
fundamentalismo religioso; deverá restaurar a vida e a cultura judaica através
da educação, fortalecendo o núcleo comunitário e o movimento juvenil.
A educação judaica secular humanista não somente depende da
compreensão seus rituais, mas também deve capacitar os seus
indivíduos para uma amplitude cultural judaica voltada ao pensamento
critico e analítico, para a formação de lideranças capacitadas a enfrentar as
possíveis manifestações de antagonismo e hostilidade ao mundo externo.
A expressão de civilização judaica tem como base de estudo de texto
judaico a interpretação das expressões de nossos antepassados e
relacionando-as ao pensamento moderno, condicionando-as e interpretandoas de maneira relevante dentro do contexto da sociedade pós-moderna.
Devem ser incentivadas as manifestações culturais e artísticas como
forma de criar um espaço comunitário atrativo, absorvendo, assim,
judeus afastados do judaísmo. O Judaísmo Secular Humanista acredita
que judeu é todo aquele que se identifica como judeu e está vinculado de
forma ativa a sua historia, cultura e tradições.
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Com tudo isso, onde fica Deus dentro dessa visão de Judaísmo Secular
Humanista?
Deus existe ou não?
Se fizéssemos esta pergunta, “Deus existe ou não?”, para Kaplan, Wine ou Saban,
eles nos dariam três respostas diferentes – porém, é incerto qual deles poderia
responder essa grande pergunta com mais segurança e firmeza. A verdade, pode-se
dizer, é que muitos judeus seculares humanistas concordariam que "Sim, Deus
existe – em nossas consciências. Ele é um, mas não é o centro deste mundo; o
homem é o centro".
Para explicar melhor essa afirmação, temos que voltar às fontes de uma passagem
bíblica em Êxodos, que talvez seja uma das mais importantes para os judeus
humanistas; ela nos revela algo interessante sobre a questão da centralidade de
Deus e do Homem. Essa passagem revela o diálogo sem fronteiras entre Moisés e
Deus.
Conta-se em Êxodos que Deus manteve um diálogo profundo com o profeta Moisés,
em que revelou, inclusive, um de seus vários nomes. O Profeta Moisés talvez teve
que transcender os conceitos de tempo e de espaço para poder chegar mais perto
desse Deus.
Esse Deus anuncia um dos mais importantes eventos da humanidade, a todos os
seres humanos representados, ali, pelo Profeta Moisés, na entrega das Tábuas das
Leis; Tábuas que devem estabelecer o pacto profundo entre Deus e o Homem. Esse
pacto, escrito em pedra fundida, é denominado Os Dez Mandamentos.
Mas que Leis são essas? Para quê Deus nos apresenta essas Leis?
Talvez Deus tivesse a intenção de nos dizer que os Dez Mandamentos eram o
código moral e ético que deveria reger todos os seres humanos que vivem na
face da Terra, e, como judeus, deveríamos divulgar esses mandamentos a toda
humanidade.
Talvez o nosso Profeta Moisés, nesse dialogo tão humano, ainda tenha tido a
coragem de perguntar a Deus: "E agora, Deus? O que vai acontecer? Para onde
Vamos?” E talvez esse Deus tenha respondido: "A partir de agora, vocês, seres
humanos, serão o centro da terra. Vocês têm um código moral e ético a ser
cumprido, portanto, se virem! Eu irei para outros cantos, eu estarei em outros
tempos celestiais".
O Judaísmo Secular Humanista procura "se virar", assumindo responsabilidades,
neste mundo conturbado em que vivemos. Já se passaram mais de 4 mil anos e as
metas de moral e da ética das Tabuas das Leis ainda estão muito longe de ser
alcançadas,. E essa é, talvez, a grande missão do Judaísmo Secular Humanista;
responsabilidade que deve ser assumida por nós, seres humanos, aqui na Terra, e
não entregue a Deus.
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O filósofo humanista Kenneth Phife define sua visão de Deus de forma muito
interessante:
"O humanismo nos ensina que é imoral esperar que Deus aja por nós.
Devemos agir para acabar com as guerras, os crimes e a brutalidade desta e
das futuras eras. Temos poderes notáveis. Termos um alto grau de liberdade
para escolher o que havemos de fazer. O humanismo nos diz que, não
importa qual seja a nossa filosofia a respeito do universo, a responsabilidade
pelo tipo de mundo em que vivemos, em última análise, cabe a nós
mesmos."
Se a responsabilidade sobre o mundo e os seres humanos cabe a nós e não
mais a Deus, de que forma podemos assumi-la?
O Judaísmo Secular Humanista deve assumir o legado recebido pelo Profeta Moisés
no alto do Monte Sinai. Devemos fazer de cada uma dessas comunidades a
consciência da memória do Legado da Ética e da Moral recebido no Monte Sinai.
Devemos nos responsabilizar e garantir que esse Legado seja difundido para todo
mundo, com o intuito de alcançarmos um mundo melhor e mais humano.
Jayme Fucs-Bar
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