influências sócio-familiares e depressão na infância

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ISSN 1646-6977
Documento produzido em 29.03.2014
INFLUÊNCIAS SÓCIO-FAMILIARES
E DEPRESSÃO NA INFÂNCIA
[2014]
Paulo Correia
Psicólogo Clínico – Assistente Principal
Centro de Saúde de Barcelos – ACES do Cávado III
Barcelos, Portugal
Paulo Mariano
Psicólogo Clínico – Assistente
Centro de Saúde de Amares – ACES do Cávado II
Amares, Portugal
Paulo Passos
Psicólogo Clínico – Assessor Superior
Centro de Saúde de Braga – ACES do Cávado I
Braga, Portugal
E-mail de contato:
[email protected]
RESUMO
O artigo referencia-se nos constructos inerentes ao desenvolvimento na infância, no que
concerne a modelos relacionais, valorizações familiares e sociais.
Faz alusão às inquisidoras limitações da consciencialização e elaboração mental, que têm
impedido a promoção do confronto e actualização das representações psicológicas, promovidas
familiar e socialmente.
A ornamentada imaturidade social e histórica tem mantido os sistemas no obscurantismo da
conveniência e da cegueira, com enraizamento na visão acrítica para a ajustada evolução.
Desperta intentos de exploração, nos escombros da história social circunscrita, de modo a
viabilizar cenários relacionais facilitadores da implicação dos protagonistas, em detrimento da
clássica subalternidade e obediência à oligofrenia institucional da existência, que têm impedido o
ajustado padrão evolutivo, tanto individual como comunitário.
Ambiciona despertar acessos de liberdade e igualdade, conduzindo à facilitação de
desenvolvimento, pela via do renascimento, do direito e da justiça.
Paulo Correia, Paulo Mariano, Paulo Passos
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Intenta denunciar os medievais mecanismos inerentes às matrizes familiares e sociais,
enquanto fomentadores e perpetuadores da paralisante ode à mendicidade, à dívida, à
manipulação, ao preconceito, à menoridade e pequenez, à mansidão e à glorificação do medo.
Palavras-chave: Influências, infância, sistemas sócio-familiares, depressão.
“O homem em rebelião contra a fatalidade, negando-se a sofrê-la
passivamente, revoltado, criando em função dessa revolta”
Artaud (Marselha 1896 – Paris 1948).
Considerando os processos de influência social, como determinantes para o registo da
construção dos conteúdos perceptivos, aceita-se que todas as matrizes fomentadoras de
estimulação estão para além da organização da individualidade.
De facto a história ontogenética começa na exterioridade, começa no objecto, no outro,
sendo este o local de controlo de motivações e acções, nos procedimentos iniciais de
desenvolvimento.
Actualmente, e pelos motivos inerentes ao formato evolutivo dos sistemas sociais, as
fontes estimuladoras são de tal forma variadas e intensas que a disponibilidade para o ajustado
poder de relacionamento, poderá ficar comprometido, nas suas valências de facilitação de
desenvolvimento, de integração e de adaptação.
Na sequência destas ocorrências e por necessidades de salvaguarda, perante as
adversidades e perigosidades relacionais, é imperioso (para salvaguarda) a construção e o recurso
a redes defensivas, que ultrapassam a capacidade de consciencialização e consequente
actualização das representações mentais, parasitando o natural intento espaço de sanidade.
A insatisfação (ou o medo) não desaparece quando desaparece a estimulação persecutória
e castradora, nem desaparecem os efeitos da prolongada vivência desorganizadora, ambivalente e
ansiogénica, verificando-se sim uma acumulação passiva de danos, grande parte das vezes não
percepcionada, nem identificada, e muito menos elaborada.
Contrariamente observam-se caracteres residuais de ruína e conflito (tanto intrapsíquico
como de relacionamento inter-pessoal), que não são mais do que um terreno de construção e
desenvolvimento da ansiedade, angústia e depressão.
Paulo Correia, Paulo Mariano, Paulo Passos
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As considerações sobre a naturalidade da adaptação, com premissas de desenvolvimento
ajustadas estão, efectivamente, aquém das exigidas, denotando o impacto da eventual
perigosidade na maturação dos diversos enquadramentos sociais.
Muito para além das vigências correntes, estão as reais necessidades individuais e grupais,
que deverão ser construídas através da consciencialização da emissão comunitária e ambiental,
onde se referencia, genuinamente, o natural movimento da questão existencial da infância.
A coartação do desenvolvimento, fomentado pelos próprios sistemas sociais e familiares,
encontram suporte nos enquadramentos institucionais e políticos, estes travestidos por directrizes
e discursos repletos de conveniência, de promotora obediência e mansidão e de roupagem
figurativa para satisfação da subalternidade (como se existissem alternativas formas de dignidade
e de honestidade!!!).
Contudo, na oportunidade da pobreza política, sócio-histórica e cultural, abundante nos
cenários de relação familiar, continua-se a sobrevalorizar o contexto pré-estabelecido, a prioritar
a opinião transformada em certeza e centrada na subjectividade e conveniência dos interesses
próximos, em nada cumpridoras das directrizes básicas de promoção de saúde mental infantojuvenil.
Sujeita a sistemas rígidos de hierarquização, de normalização e conformismo, no
enquadramento sócio-familiar e institucional, a possibilidade do “ser criança actuante” é
facilmente transformada em “ser criança submissa” (nas diversas variantes sintomáticas),
refreando as vias de integração participante, contrariando a naturalidade do registo motivacional
para a lógica, construtora e coerente interiorização de material das esferas relacionais.
Os panoramas patológicos infanto-juvenis (de onde se salientam os manifestos depressivos)
são o grande contributo para a fiel avaliação dos contextos relacionais, sublinhando-se o sentido
ascendente da tendência das frequências de disfunção, onde prima a quase epidémica depressão,
como alerta a Organização Mundial de Saúde quando refere que “… a depressão pode atingir
cerca de 20% da população, bem como se tornar na principal causa de incapacidade no ano de
2020”.
A consciencialização e a introjecção/interiorização das normas deverão passar por
patamares de implicação futura no seu cumprimento, sem o cariz punitivo, ao qual só é possível
escapar no quadro das regulações patológicas.
É indispensável a adequada função da instância reguladora dos princípios de normalização,
no psiquismo humano, de modo a que as noções de justiça, de direito e de dever se instalem para
as intenções de desenvolvimento ambiental e comunitário, ultrapassando a saturante vertente
individual, idiossincrática, circunstancial e fatalmente protocolada.
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As medidas preventivas em saúde mental infanto-juvenis intentam no desenvolvimento
centrado na seriedade das exigências de direito que, a qualquer criança não se poderá continuar a
negar, como também não se deverá continuar a permitir a constante sobrevalorização de encantos
e vontades do oportunismo institucional, político, social e familiar, criando desencantos,
falsidades e dissonâncias na vivência da infância.
No registo da psicopatologia funcional o problema é e está na família; é e está nos sistemas
sociais de proximidade e de influência, sendo a criança, tão só (e com a auto-estima na regência
do exterior) a portadora do problema/sintoma.
Para o cínico e esclavagista alívio familiar e social, as medidas defensivas de difusão de
responsabilidades e de atribuições causais canalizadas para a externalização, são um recurso
constante, ausentando-se assim de culpa e responsabilização, mantendo-se nas suas inúteis
funções de imitadores.
Sublinha-se que os contextos diagnósticos estão enquadrados na análise discriminativa da
semiologia depressiva da criança e diferenciados pelos critérios: respostas depressivas; sintomas
ligados ao sofrimento depressivo; sintomas como defesa contra a posição depressiva e
equivalentes depressivos, onde a materialização desse diagnóstico estrutural (não, simplesmente,
sintomático) compete, tão só, a quem, profissionalmente hábil e competente se movimenta na
esfera da saúde e da doença mentais.
Propõe-se, assim, a ênfase na simples justificativa do ser criança, por si só, em detrimento
das usuais qualificações de conveniência, corrupções discursivas, adulterações de prioridades e
versatilidades das incoerências, cuja única condenável vantagem apenas se encontra na satisfação
pela auto-congratulação (alimentador narcísico) e na continuidade do processo de domesticação
da infância.
Interrompamos o clássico, o imaturo, o caduco e funesto conceito e o etiopatogénico
desonesto valor familiar/social/institucional de “chefe-de-família” e de “dona-de-casa”, e
façamos promover o genuíno relacionamento de pares (com os flexíveis e devidos estatutos e
papéis, no registo de aproximação das referências e pertenças), onde os dignitários protagonistas
são:
- A criança;
- O pai e a mãe;
- Os dois pais;
- As duas mães,
- O pai;
- A mãe;
- Os outros.
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Contudo, o legado “Deus, Pátria e Família”, lamentável e perturbadoramente em contramão, ainda está intrusamente enraizado no âmago dos sistemas sócio-familiares, onde os seus
tóxicos vestígios continuam implacavelmente visíveis e influentes, aproveitando-se da passiva,
submissa, pálida, medrosa e torturante imaturidade sócio-familiar, bem como da fragilidade e da
dependência oferecida pela própria infância.
… com o insuperável desprezo pela miserável, corrosiva, subalterna, castradora, obediente
e inquestionável fiel mansidão …
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Mental Health: New Understanding, New Hope
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