[1] Os projetos de cruzada na doutrina missionária de Raimundo Lúlio Ramon Sugranyes de Franch Professor da Universidade de Friburgo (Suíça) Não é a primeira vez que o problema • pois existe um problema • do sentido que tem a guerra religiosa no conjunto da ideologia luliana me preocupa. Hoje em dia, afortunadamente, vamo-nos acostumando a considerar Raimundo Lúlio sobretudo como “um filósofo, um missionário de coração aberto e inflamado e dotado de uma grande [2] vocação literária” . De minha parte, tentei contribuir para essa valoração mais exata da pessoa e da obra do Doutor iluminado dedicando todo um livro ao segundo aspecto [3] mencionado: Raymond Lulle, docteur des missions . E um de seus capítulos teria, inevitavelmente, de ser consagrado aos projetos de cruzada bélica, que completam e modificam de uma maneira tão surpreendente seus próprios projetos missionários. Se, não obstante, permito-me insistir outra vez no tema é, de um lado, porque o considero de interesse fundamental para situar a personalidade de Raimundo Lúlio na história do pensamento político e religioso da Idade Média e, por outro, porque meu trabalho acima mencionado pode ser melhor precisado e aprofundado em muitos pontos. I. A conversão “per manera d'amor” [4] O florescimento primaveril das atividades missionárias no século XIII encontra em Raimundo Lúlio não somente um apóstolo inflamado mas também um teorizador consciente. O zelo pela conversão das almas que o devorava é o que fez do senescal maiorquino um teólogo, um filósofo e até mesmo um literato. Toda a obra luliana tem uma clara intenção apologética. Esse fato é hoje bastante conhecido. Já o é menos o fato que o mesmo esforço de reflexão, ditado pela preocupação central de conduzir os infiéis a Jesus Cristo, inspirou a Raimundo Lúlio toda uma teologia e uma metodologia de evangelização. Pois bem, o primeiro princípio teológico de propagação da fé é que a conversão dos infiéis deve ser eminentemente uma obra de amor, a conseqüência do amor primeiro de Cristo por todos os homens. Contudo, como nada pode ser amado ou odiado sem ser previamente conhecido, essa obra de amor tem de ser realizada antes de tudo pela [5] inteligência . Disso deriva o dever de começar por propor a verdade em primeiro lugar aos “sábios” e aos homens de cultura • aos “intelectuais”, diríamos hoje • entre os infiéis. Quer dizer, iluminar os espíritos de modo que os corações fossem preparados para a [6] efusão da Graça: o que modernamente se denomina apostolado intelectual . O segundo princípio, derivado do primeiro, é que tanto da parte de quem prega quanto da parte de quem recebe o Evangelho, a conversão deverá ser um ato de liberdade, pois Deus espera amantes todos os dias, os quais deseja que venham a Ele de livre-arbítrio e não por [7] coação” . Por isso, Raimundo Lúlio se opõe ao uso da força para conquistar as almas e faz a apologia das armas espirituais • aquelas que não perdem o fio nem se podem romper, as que quanto mais são utilizadas, mais tornam-se agudas e eficazes •, as armas de Cristo e dos Apóstolos, que converteram todo o mundo com pregação e queda de lágrimas e de sangue e com [8] muitos trabalhos e com o martírio . Ao respeito escrupuloso da liberdade humana e à fé inabalável nas armas do espírito (oração e sacrifício), Raimundo Lúlio acrescenta uma confiança absoluta nas “armas intelectuais”: para ele, nenhum ser humano de boa fé, raciocinando livre e desapaixonadamente, poderia deixar de aderir aos dogmas cristãos se estes fossem demonstrados racionalmente, por “razões necessárias” • as razões necessárias que ele [9] próprio imaginou ter proposto de uma vez por todas em sua Arte . Essas idéias fundamentais da teologia luliana de conversão • vale a pena sublinhar • encontram-se sem exceção em todas as suas obras (desde o Livro da Contemplação em Deus, [10] com que inaugura esplendorosamente sua atividade como escritor , até os opúsculos compostos em Maiorca e Sicília, nos derradeiros anos de sua vida). E são sempre acompanhadas por uma atitude respeitosa para com os infiéis e por uma presunção de boa fé em seu favor, coisa que nenhum leitor pode deixar de admirar por menos que esteja familiarizado com a literatura apologética medieval. Ele nunca põe em dúvida a sinceridade ou o espírito religioso dos infiéis ou dos cristãos dissidentes. Um sábio judeu, um rei sarraceno ou simplesmente os fiéis que escutam a pregação dos místicos do Islã choram lágrimas de amor ou de devoção sincera. E todos os princípios mencionados encontram sua aplicação em uma metodologia missionária bastante elaborada: estudo profundo das crenças dos infiéis a quem se deve pregar; ensino das línguas orientais e, em geral, formação dos missionários; técnica das discussões apologéticas, de intercâmbio de pessoas e de organização das missões, etc. Contudo, deixo de lado os detalhes, por mais interessantes que sejam, pois esse aspecto [11] não serve diretamente ao nosso propósito . Raimundo Lúlio não é um pensador que fique a meio caminho de seus raciocínios. A apologia das armas espirituais e das armas intelectuais haveria de conduzi-lo necessariamente à condenação de qualquer violência contra os infiéis, e particularmente, da “guerra corpo a corpo” contra os sarracenos. A força das “armas corpo a corpo” deveria dar lugar à “guerra intelectual” e dialética, pois se os cristãos tivessem paz sensualmente com os sarracenos, seria coisa possível encaminhar e iluminar os sarracenos ao caminho da verdade pela graça do Espírito [12] Santo e por verdadeiras razões... Enquanto isso, contudo, uns e outros guerreiam corpo a corpo, ... guerra pela qual os homens são feridos e presos, mortos e destruídos, destruição pela qual são gastos e arrasados muitos principados, muitas riquezas e muitas terras, e pela qual põe-se [13] fim a muitas riquezas que se produziriam se não existisse a guerra. Essa passagem é do Livro da Contemplação. A partir daí, a reprovação às guerras de religião não faltaria em qualquer uma das obras do Mestre, até mesmo – paradoxalmente – naquelas que têm por objetivo propor ao mundo uma nova cruzada, como o Livro da Passagem. No meio desse tratado, inédito até bem pouco tempo, encontra-se esta apóstrofe veemente, que agora tenho o prazer de traduzir pela primeira vez à língua em que foi [14] pensada : Mais vale dominar os infiéis na discussão, convencendo-os através das dignidades divinas e por razões necessárias, que guerrear contra eles, matá-los com o gládio e tirar-lhes as terras que possuem. Convertê-los, mas deixando-os desfrutar seus bens: o que conta é a concórdia e o amor! A crítica mais severa de Raimundo Lúlio contra as cruzadas – e desta vez tratam-se de cruzadas propriamente ditas, proclamadas oficialmente para o resgate do Santo Sepulcro – encontra-se em uma passagem famosa de Blanquerna (cap. 80, parágrafo 1), em que as compara à “guerra santa” de Maomé e conclui dos fracassos reiterados dos cruzados na Terra Santa que Deus não aprova esse tipo de expedição. Ironicamente, essa afirmação Lúlio atribui a ninguém menos que o sultão da Babilônia, em uma carta que um de seus mensageiros apresenta ao papa e aos cardeais. A lição não pareceu perdida, pelo menos na ficção luliana: tendo ouvido o mensageiro, o papa Blanquerna foi movido por uma grande maravilha e preparou todo um vasto projeto de atividades missionárias... Em todos os seus pontos de vista a respeito dessas questões, o nosso Doutor vai além de seus mestres • se no seu caso é legítimo falar de mestres. São Tomás • e com ele São Raimundo de Penyafort • limitavam-se a negar, classicamente, a validade do batismo [15] administrado pela força . Raimundo Marti, ainda que não tenha sido o único a fazê-lo, [16] apelou às demonstrações racionais para obter suas finalidades apologéticas . Entre os escritores contemporâneos, o franciscano Roger Bacon e o dominicano Ricoldo de Montecroce são talvez os únicos que tiveram a coragem de manifestar também suas dúvidas sobre a eficácia, tanto espiritual quanto temporal, das cruzadas. Por outro lado, o entusiasmo popular também havia se esvaído quase totalmente no final do século XIII. O fracasso militar das expedições, o sentimento de revolta contra a corrupção eclesiástica e a utilização da cruzada como um pretexto para impor novos tributos aos pobres haviam [17] determinado o nascimento de uma hostilidade decidida contra a idéia de cruzada . II - A cruzada segundo Raimundo Lúlio À parte o valor que tem como escritor, verdadeiro criador da literatura catalã, Raimundo Lúlio é uma figura universal – e atual– do pensamento cristão graças a suas idéias missionológicas. O apóstolo maiorquino propõe a conversão “por maneira de amor” e recusa, com seu costumeiro ardor, o uso das armas na obra de propagação da fé. Não podemos, contudo, parar por aqui. Todos os lulistas conhecem de memória a extensa lista das Epistolae, Petitiones e outros tratados nos quais Raimundo Lúlio insistentemente exige do papa e dos reis cristãos a organização de uma autêntica cruzada • a que chama passagium, termo técnico com o qual a Idade Média designou a expedição militar destinada a recuperar a Terra Santa. Entre essas duas atitudes lulianas existe, pois, uma contradição. Como explicá-la? Como é possível que Raimundo Lúlio, “tão dado a uma só obsessão” – como disse justamente Rubió – , proponha ao mesmo tempo , e quase sempre no mesmo documento, duas soluções em aparência tão diametralmente opostas? [18] Berthold Altaner foi o primeiro a assinalar essa contradição e a tentar uma explicação que poderíamos chamar de “psicológica”: Raimundo Lúlio teria acabado por ceder à pressão do meio: desencorajado pelo pouco êxito das suas campanhas em favor das missões, junto aos papas e aos grandes da terra, resigna-se a fazer essa concessão às idéias de seu tempo e ao estado egral dos espíritos. Recentemente, ainda, o sr. Jordi Rubió retomou o argumento pelo ponto de vista literário, a fim de explicar a diversidade de formas dos escritos lulianos e divide toda a produção em três etapas, concentrando na [19] etapa central todos os escritos que se referem à cruzada . Tentarei eu também fornecer uma solução, mas para atingi-la é necessário antes estudar mais de perto o lugar e a função exatos que a expedição guerreira ocupa nos projetos lulianos. Em primeiro lugar, deve-se observar que a cruzada militar, tal como Raimundo Lúlio a imagina, não é nunca uma finalidade última, nem tampouco o ponto central de suas propostas. Os próprios títulos dos escritos o indicam claramente: a maioria chama-se Petitiones pro conversione infidelium e alguns apenas De recuperatione Terrae Sanctae. Por sua vez, os capítulos fundamentais a respeito da matéria no Libre de Contemplació (cap. 346) e da Doctrina pueril (cap. 83) intitulam-se Como converter os errados. Até bem pouco tempo acreditava-se que o tratado mais completo dessa natureza era o Liber de fine, composto em Montpellier no ano de 1305. Atualmente dispomos do texto integral a que o próprio Lúlio chama, no Desconhort (verso 285), de A passagem, e verificamos com surpresa que o verdadeiro título é Tractatus de modo convertendi infidelis. Este opúsculo torna-se, no mais, a primeira (entre fim de 1291 ou início de 1292) e a mais ampla e detalhada das petições lulianas. A expedição por terra e por mar ganha nele um espaço considerável e é minuciosamente descrita. Contudo, nem neste nem em qualquer de seus opúsculos a cruzada é vista como uma empresa independente. O essencial é sempre a conversão dos infiéis, a pregação e a livre discussão com eles. Por isso, no exército dos cruzados deveria haver um número suficiente de sacerdotes e religiosos especializados nas línguas orientais para empreender imediatamente [20] a pregação, começando pelos prisioneiros. As operações militares não têm outra finalidade senão a de permitir aos religiosos missionários a livre pregação da palavra de Deus (Cf. Blanquerna, cap. 87, 4). Buscando uma analogia à posição de Raimundo Lúlio sobre esse ponto, poderíamos mencionar o exemplo de São Francisco de Sales: o bispo de Genebra, quando desejava ir pregar nas terras convertidas à Reforma protestante, pedia a ajuda do duque de Sabóia e, se em um dado momento desejou o êxito da expedição de Carlos Emmanuel contra a Genebra calvinista, foi também para poder-se fazer escutar, nunca para impor aos seus diocesanos [21] rebeldes o retorno forçado à Igreja . Ora, Raimundo Lúlio mais adiante, também, que o santo apóstolo do século XVI: o que o maiorquino reclama é uma empresa mancomunada da cristandade, proclamada pelo papa: a força internacional empregada para a proteção do direito da Igreja de exercer livremente o seu ministério de ensino! Em segundo lugar • e esta observação é essencial • a cruzada integra-se dentro dos planos mais vastos de reforma social, política, moral e religiosa do nosso grande utopista. A expedição militar não é senão uma etapa na obra de conversão dos infiéis. Mas a incorporação dos infiéis • de todos os infiéis! • à Igreja não é senão uma outra etapa, indispensável, do retorno de todos os povos e de todas as raças da terra à unidade da Cidade de Deus, da qual Lúlio é um infatigável campeão. Um apostolado muito realista para a salvação das almas • e um sonho utópico de unidade político-religiosa do mundo • são, logo, dois aspectos indissoluvelmente ligados da grande quimera generosa do Doutor Iluminado. A terceira nota característica dessa cruzada “sui generis” é que nela Raimundo Lúlio confia ao papa e aos cardeais a direção ao mesmo tempo da missão e da expedição militar, enquanto que a execução direta e o comando do exército na maioria das propostas lulianas são entregues ao grão-mestre de uma ordem militar unificada que o papa e os cardeais [22] estão encarregados de constituir . A iniciativa ficaria então nas mãos do papa e os príncipes cristãos deveriam obedecer aos seus decretos. Em todos esses projetos, os cismáticos e os hereges seriam os primeiros a submeterse. A separação de Bizâncio surge para Raimundo Lúlio como o primeiro obstáculo à propagação da fé. Seria preciso, pois, que Roma se assegurasse da lealdade de Constantinopla e que o retorno dos gregos à Igreja Romana fosse conseguido, livremente ou à força. A aceitação da primazia do papa pela Igreja Oriental seria o símbolo da unidade do mundo na fé. A ação militar contra Bizâncio não seria mais que um simples ato de disciplina, de controle interno da cristandade, poderíamos dizer, e nesse caso não se pode tratar de conversão forçada, pois os gregos são cristãos – devia pensar Raimundo [23] Lúlio. O resgate da Terra Santa, da “pátria terrestre do Deus do Céu”, já não tem para [24] Raimundo Lúlio o prestígio místico que oferecia a São Bernardo , quando era então o objetivo principal das cruzadas. Não obstante, nosso propagandista outorga um prestígio heróico à libertação do Santo Sepulcro de Jerusalém e quer aproveitá-lo como uma isca a fim de que as igrejas paguem o dízimo, que os clérigos renunciem a certas prebendas e aos seus costumes luxuosos e a fim de que os príncipes paguem os tributos que lhes fixará o [25] Para o teorizador da cavalaria cristã que era Raimundo Lúlio, as cruzadas papa.. constituem uma boa ocasião para destacar as virtudes cavaleirescas, que em seu século estavam perdendo força, caídas na mundanidade e nos costumes cortesãos, na fixação pelos torneios e pelos livros de cavalaria. Finalmente, elas seriam um exutório para o espírito combativo e para as contínuas lutas fratricidas entre os príncipes cristãos. III - O gládio espiritual e o gládio corporal A análise que acabamos de fazer das características da cruzada, tal como Raimundo Lúlio a propõe, abre novas perspectivas, complementares às que nos mostrava a análise anterior das concepções missionárias do nosso apóstolo. A idéia da cruzada como um ato legítimo do poder da Igreja e como uma etapa prévia na obra de conversão não era um simples recurso tático, como pensava Altaner. Suas raízes são profundas no pensamento luliano e deve-se buscá-las no que é a base de toda a sua doutrina social: a concepção que Raimundo Lúlio tem das relações da Igreja e da sociedade política. Essa concepção está toda ela dominada por um princípio de unidade, em virtude do qual a sociedade humana confunde-se com a sociedade sobrenatural, que é a Igreja, e a ordem temporal fica absorta na ordem espiritual. É praticamente impossível falar de uma doutrina luliana das relações entre a Igreja e o Estado, pois nele havia qualquer coisa a mais que a simples afirmação tradicional da primazia da ordem espiritual: de acordo com Raimundo Lúlio, a ordem temporal perde a sua autonomia, até mesmo na ordem metafísica, da causalidade ou da finalidade. E nesse ponto, como em tantos outros, Raimundo Lúlio manifesta-se um adepto fiel não de Santo Agostinho como filósofo, mas [26] do que foi denominado agostinismo medieval . Em toda a filosofia luliana, e especialmente em sua filosofia social, a doutrina da primeira e segunda intenção ocupa um destacado papel na solução do problema da finalidade no universo. A primeira intenção é o plano divino para a ordenação das criaturas. E toda a ética luliana é uma ética de primeira intenção, que tem por objetivo ajustar a conduta humana, tanto individual quanto coletiva, à ordenação divina que, como tal, é imutável, absoluta e eterna. Conseqüentemente, a sua concepção de ordem social é claramente finalista, e a função de todas as autoridades hierárquicas – que Raimundo Lúlio denomina “pessoas gerais” ou “comuns” – é, pela primeira intenção, a de fazer reinar a [27] justiça e os “bons costumes” entre os homens . Viver virtuosamente, segundo a lei de Deus, e comportar-se justamente, segundo a lei da autoridade humana, é uma só e única coisa. O poder das autoridades eclesiásticas e dos príncipes • dentro de suas respectivas competências • têm uma mesma finalidade: conduzir as almas à salvação. O bem público • o bonum commune dos escolásticos • confunde-se, para ele, com a prática das virtudes cristãs. E não é que Raimundo Lúlio recuse a efetividade do poder político. É muito realista para isso. Mas não lhe reconhece mais que uma competência prática, a de manter a justiça e a paz. Diferentemente do pensamento escolástico, o de Raimundo de Penyafort, por [28] exemplo, que distinguia ao menos as esferas eclesiástica e civil, o pensamento luliano não aceita uma zona própria do Estado, em plena soberania. O símbolo que utiliza é o mesmo de São Bernardo e de todos os teorizadores do poder pontifical: o símbolo dos dois gládios. No Tractatus de modo convertendi infidelis, diz: Ita quod sint ibi duo gladii, unus spiritualis et alius corporalis, e essa imagem é novamente encontrada na Disputatio clerici et Raimundi phantastici e no Liber de fine. No nosso caso, os dois gládios significam o duplo poder da Igreja e o duplo dever que dele deriva quanto à conversão dos infiéis: a força das armas e o direito (com o dever correlativo) de pregar. Portanto, o poder dos príncipes está submetido ao poder espiritual e o governante não pode desembainhar a espada sem a ordem da Igreja, ad nutum Ecclesiae segundo a fórmula clássica, bernardina. Essa doutrina das relações entre o poder espiritual e o temporal está implícita em todas as obras de Raimundo Lúlio que refletem sua filosofia social. A única na qual delimita uma distinção formal entre as hierarquias eclesiástica e secular é a Árvore da Ciência. Mas mesmo aqui o objetivo final e comum das duas árvores, apostólica e imperial, é a paz entre os homens, a fim de que possam lembrar, entender e amar, [29] honrar e servir a Deus , isto é, uma paz que é ao mesmo tempo a paz na terra e a paz no interior da ordem sobrenatural. E no mesmo tratado precisa-se que o papa é a maior autoridade da terra e participa em maior grau nas dignidades divinas: O tronco apostólico é maior e mais pleno de grandeza, de bondade e das outras virtudes que qualquer outro tronco, pois nele estão todos os outros troncos de seu povo, ordenados e [30] dispostos para a finalidade pela qual foram criados. No Livro da Intenção a função do príncipe é definida pela finalidade, que com temor tenha justiça no seu principado, mas com referência ao papa, pois assim como o santo Papa existe no mundo pela intenção de governar e manter seus submetidos com caridade, o príncipe, filho, existe pela intenção de ser temido pelos homens que são inimigos da justiça. (cap. 28, 1). A tradução prática dessa teoria é a doutrina da superioridade do poder pontifical. O papa de Raimundo Lúlio, cabeça da sociedade espiritual única, com a qual se vem confundir a sociedade civil, pode exercer a plenitude da potestade terrena. O poder pontifício é da ordem espiritual, certamente, mas o papa exerce sobre a ordem temporal uma influência predominante, que ultrapassa em muito a que sem dúvida pertence à Igreja, em virtude de sua missão de iluminar as estruturas sociais e políticas. O amplo desenho da “Árvore Imperial”, juntamente com a forte tendência platônica em direção à unidade que informa toda a filosofia luliana, têm podido fazer pensar que Lúlio desejava ver realizada a unidade cristã no Império. A idéia do império teria fascinado Raimundo Lúlio, como fascinava Dante e tantos outros grandes espíritos do seu tempo. Frente à realidade histórica do final do século XIII e ao fato da eliminação do império como instituição política que haveria de encarnar a cristandade, tem-se dito que Raimundo Lúlio sentia nostalgia da idéia imperial e que, para ele, a abundância de reinos e a igualdade dos príncipes era um mal que fomentava as guerras e se opunha à utilidade geral. Assim o afirmam, por exemplo, dois dos conhecedores mais sólidos e inteligentes da obra luliana, [31] como o são os senhores Carreras e Artau . Não obstante, permito-me discordar neste ponto de meus mestres. De fato, a idéia imperial se apaga em toda a construção intelectual de Raimundo Lúlio. Nem a instituição nem o próprio título do imperador figuram em suas obras de divulgação • Doutrina puerils, Libre d’ Intenció, etc. Por toda parte, a multiplicidade e a igualdade dos príncipes é colocada como um fato indiscutível • até mesmo no texto que Carreras cita em apoio à pretensa doutrina imperialista luliana. [32] Assim, poderíamos supor, como o sr. Valls i Taberner , que Lúlio outorga ao papa a plenitude do poder porque o considera neste aspecto como o herdeiro do império caído? Certamente não. Não há o menor traço de um “império pontifical” em Raimundo Lúlio. Há, isso sim, uma cristandade plena, total, em potência universal, que o papa governa por direito divino. Tampouco diríamos pois que o ordenamento da comunidade universal fosse confiado ao papa porque o pontificado era o único poder aglutinante, a [33] única realidade histórica universal que restava (como afirma o sr. Elías de Tejada ). Não; a superioridade do poder pontifical, na doutrina de Raimundo Lúlio, não se deve a qualquer razão contingente e histórica. Faz parte essencialmente de sua concepção unitária do corpo social. O papa Blanquerna se ocupa, por direito próprio, tanto de ordenar o que pertence à pregação da fé como de proclamar a cruzada, tanto de restabelecer a paz entre os reis cristãos (ou entre as comunas da Lombardia, Toscana e Veneza!) quanto de construir pelos caminhos do mundo hospitais, pontes e igrejas. E até mesmo quando deseja destruir a diversidade de línguas, o faz para que todas as gentes em geral se entendam e se amem [34] e que sejam úteis no serviço a Deus . Finalmente retornando ao nosso tema, veremos claramente que a obra apostólica da [35] conversão dos infiéis faz parte da publica utilitas , do bem comum que justifica todos os poderes sobre a terra • e que se identifica com a salvação espiritual de todos os homens. Por isso, a cabeça suprema de toda a comunidade humana, ou seja, o papa, tem o dever preciso de tomar todas as medidas para que em todo o mundo não exista mais que uma linguagem, uma crença, uma fé e, por conseguinte, um papa... Inclusive, entre elas, a utilização da força contra os infiéis, não para forçá-los ao batismo – pois aqui entramos no terreno inferior do livre-arbítrio da alma –, mas para tornar possível a pregação. IV - Raimundo Lúlio e seu tempo. Conclusão A todas as considerações apresentadas, fruto da crítica interna do pensamento luliano, pode-se acrescentar uma outra, de caráter histórico. Poderíamos supor que Raimundo Lúlio, ao propor a cruzada, estivesse cedendo à pressão do meio no qual vivia, se as suas idéias se adequassem às de seu tempo. Mas alguns indícios nos bastarão para constatar que as concepções do nosso grande utopista eram praticamente opostas às dos mesmos personagens que se esforçava por convencer. É verdade que por volta de 1300 toda a Europa Ocidental constituía ainda uma cristandade de caráter sagrado, e tinha consciência disso. A Igreja visível estava praticamente confinada a meia Europa. E por isso as lutas dos povos europeus contra os muçulmanos da Península Ibérica e do Oriente tinham o aspecto de guerras de religião. Mas, de fato, eram empresas nacionais, graças às quais as nacionalidades nascentes se afirmavam. René Grousset faz observar justamente que a Sétima Cruzada, apesar do caráter profundamente religioso que lhe dá a santidade do rei São Luís, constitui na [36] realidade a primeira expedição colonial do reino da França. O velho sonho medieval da unidade política do mundo, baseada na unidade religiosa, não se havia extinguido, pelo contrário. Mas os dados de fato do problema eram então completamente diferentes dos que haviam permitido a Gregório VII, dois séculos antes, construir a teoria da plenitude do poder papal. Agora, o império havia perdido toda possibilidade política de se tornar a força aglutinadora do Ocidente • e não a recuperaria senão momentaneamente, no apogeu renascentista, sob Carlos V. O pontificado encontrava-se enfraquecido pela rápida sucessão de catorze papas nos cinqüenta anos que vão da morte de Gregório IX a Celestino V. O poder dos príncipes se havia afirmado definitivamente, tanto frente ao pontificado como ao império. Felipe, o Belo, da França, a quem Raimundo se dirige, era o mais ambicioso dos soberanos e o que mais prezava por sua autoridade. Os defensores da unidade político-religiosa são agora os doutrinários gibelinos, defensores da teoria dos dois poderes, como Dante Alighieri, ou os guelfos, que sustentam por razões puramente políticas a supremacia pontifical, como Egídio Romano e o próprio papa Bonifácio VIII, preocupado sobretudo por seus conflitos com Felipe, o Belo, da França e com Frederico da Sicília. Considerar Raimundo Lúlio um guelfo ou um gibelino é coisa que faria simplesmente sorrir. Sua tese sobre as relações da Igreja com o poder civil é a antípoda da monarquia mundial gibelina. E sua doutrina do poder supremo do papa, espiritual e submetido à ordem das coisas humanas desejada por Deus, não é em nada menos distante das preocupações de Bonifácio VIII e de seus curiais. Os projetos de cruzada se multiplicavam no tempo de Raimundo Lúlio, mas nenhum deles se tornou realidade • prova de que o momento histórico das cruzadas havia passado. De todos esses projetos, nenhum se assemelha aos de Raimundo Lúlio, por mais que tenham pontos coincidentes. São, em sua maior parte, parciais e episódicos; inspiramse em circunstâncias especiais ou localizadas e não em uma visão tão vasta e generosa como a de Raimundo Lúlio. Muitos estão fundamentados somente em uma das notas secundárias que o nosso publicista acrescenta para justificar a cruzada. Outros, como o do chanceler da França, Guilherme de Nogaret, têm uma finalidade claramente política: dar ao soberano francês uma posição hegemônica • e até mesmo melhorar as finanças do reino! O único projeto comparável aos de Raimundo Lúlio, inspirado neles, e que como eles se inscreve com temeridade quimérica em um programa geral de reforma eclesiástica, política, social e intelectual, é o de Pierre Dubois. Contudo, os pontos de vista do [37] anticlerical Dubois se opõem ponto a ponto aos do ultraconservador Raimundo Lúlio . Tal como propunha o maiorquino, a cruzada não somente era utópica como contrariava os interesses de todos aqueles que poderiam com ela contribuir. * * * Para chegar a uma conclusão a respeito do problema que colocamos, temos aqui o ponto essencial: os planos missionários para a conquista pacífica das almas e os projetos militares estão sempre estreitamente ligados no pensamento de Raimundo Lúlio. Desde o [38] Livro da Contemplação , ambos os aspectos são expostos ao mesmo tempo e são complementares. A contradição, tão facilmente perceptível, subsiste. Na realidade, ela é muito mais profunda do que suspeitava Altaner. Não é uma contradição entre dois momentos sucessivos do pensamento, determinada por razões externas. É uma contradição intrínseca do coração e do espírito do nosso apóstolo. Seu coração generoso e aberto dá ao Doutor Iluminado a intuição exata dos verdadeiros métodos para a propagação da fé. Mas o filósofo que existia nele nunca abriu mão de uma teoria de inserção da ordem temporal na ordem espiritual, que em seu tempo já era caduca. A contradição explode mais visivelmente por causa da veemência de seu temperamento. Raimundo Lúlio é um ardente propagandista. Quando expõe seu ideal missionário, o faz atacando o uso de armas. Mas, a seguir, sua própria impaciência o vence. Ele conhecia muito bem as dificuldades que o Islã impunha à pregação cristã. E como, de acordo com suas idéias políticas, o papa tem direito de empregar a força para abrir à Igreja as terras do Oriente, por que não o faria para obrigar os infiéis a escutar a verdade? E aqui é que intervém, não obstante, o fator psicológico. Em uma obra da primeira etapa de sua produção, o Libre d’Intenció (1282?), Lúlio já precisava muito claramente a prioridade ética da conversão sobre a guerra: Pela primeira intenção, filho, é amável a mudança e a conversão dos infiéis, e pela segunda é amável a guerra e a batalha contra os infiéis. E por isso, filho, os cristãos deveriam mais fortemente permanecer e usar da primeira intenção com os infiéis, preferindo-a à segunda; e como não o fazem, a primeira intenção é injuriada e à segunda é feita maior honra do que convém (cap. 20, par. 3) Apenas dez anos mais tarde, no Tractatus de modo convertendi infidelis, mescla, sem qualquer diferença de intenção, a pregação e a guerra. E, antes – a julgar pela composição do opúsculo –, dá preferência à cruzada. Vale a pena assinalar que o tratado endereçava-se ao papa Nicolau IV. E este foi o único pontífice que se propôs seriamente a organizar uma cruzada, na mesma época em que Raimundo Lúlio lhe escrevia, poucos meses depois da imensa comoção que provocou em toda a Europa a queda de São João de Acre (18 de [39] maio de 1291) . A partir desse momento, uma evolução se produziu no ânimo de Raimundo Lúlio, uma evolução íntima provocada por sua própria necessidade apostólica. E a esperança de conseguir que seus projetos missionários fossem aceitos conjuntamente a seus planos de cruzada ideal durará até depois do Concílio de Vienne (1311). Não se trata de uma mudança radical de atitude, mas uma questão de ênfase. As teses fundamentais permanecem as mesmas, antes e depois de 1291. Mas a cruzada torná-se, durante mais de vinte anos, o tema central da sua obsessão. O outro tema, o da pregação, ele próprio é que o levará, sozinho, às terras do Islã, a fim de acrescentar o exemplo a suas palavras. Detido por um momento em Gênova pelo temor da morte, ele se lançará finalmente ao martírio, suprema aspiração do místico, daquele que deseja morrer em pélago de amor. Tem razão, pois, o senhor Jordi Rubió em estabelecer as três etapas que distingue na obra e na vida do Mestre, com uma única correção de data que a publicação do livro dirigida a Nicolau IV nos obriga a corrigir. Resta, no fundo de tudo que acabamos de dizer, um paradoxo. Um a mais na personalidade paradoxal de Raimundo Lúlio. É notável (outro paradoxo) que a parte mais nova, a parte mais revolucionária para o seu tempo • a missão pacífica e amorosa • fosse também a mais realista e, em todo caso, profética das aspirações lulianas. Enquanto que a idéia de cruzada, tão corrente até então, estava já praticamente morta e politicamente inviável quando Raimundo Lúlio a fez objeto de seus insistentes pedidos. [1] Publicado em EL 4 (1960), 275-290. Tradução: Ricardo da Costa (UFES). [2] Jordi Rubió, L'expressió literària en l'obra de Ramon Llull. In: Obres essencials de Ramon Llull, Barcelona, 1957, I, p. 85. [3] Ramon Sugranyes de Franch, Raymond Lulle, docteur des missions, Beckenried, 1954 (Nouvelle Revue de Science Missionaire, supplementa V). [4] Obra em grande parte das ordens mendicantes • franciscanos e dominicanos. Veja a bibliografia citada em meu livro, p. 53 s. [5] Llibre de contemplació, cap. 346, par. 17 e 20; Doctrina pueril, cap. 83, par. 12. [6] Blanquerna, cap. 80, par. 11; Vita Beati R. Lulli, par. 26. [7] Blanquerna, 43, 5. Lúlio, sempre preocupado em salvaguardar o livre-arbítrio, protesta freqüentemente contra uma objeção banal que se devia opor geralmente aos seus projetos missionários: que se Deus desejasse, os homens se converteriam, cfr. Llibre de contemplació, cap. 346, 19; Doctrina pueril, cap. 83, 2; Blanquerna, 85, 5; Desconort, v. 337-360; 529-540. [8] Doctrina pueril, cap. 71, 12; Llibre de contemplació, 112, 11; 131, 20; 346, 24. [9] Sobre o problema das rationes necessariae e em geral das relações entre a fé e a razão em Ramon Llull, veja particularmente Joaquim I Tomàs Carreras Artau, Historia de la Filosofía española. Filosofía cristiana de los siglos XIII al XV, Madrid, 1939, I, pp. 514-523. [10] O capítulo 346 del Llibre de contemplació é essencial para conhecer o pensamento missionário luliano, pois é o precedente de toda a larga série de opúsculos posteriores de propaganda. [11] Veja meu livro Raymond Lulle, docteur des missions, pp. 57-80. [12] Llibre de contemplació, 204, 27. [13] Ibid., 204, 25. [14] N.T. : Segue o texto em Língua Catalã: “Més val dominar els infidels en la discussió, convencent-los per les dignitats divines i per raons necessàries, que guerrejar contra ells i occir-los amb el glavi i arrabassar-los les terres que posseeixen. Convertim-los, però deixem-los gaudir de llurs béns: el que compta és la concòrdia i l’amor!” Editado por Jacqueline Rambaud-Buhot, em B. M. Raimundi Lulli Opera latina, Mallorca, 1954, fasc. III, p. 109. [15] S. Tomás De Aquino, Summa Theol., II, quaest. 10, art. 8; S. Ramon De Penyafort, Summa Iuris, I, 4, 1, ed. Josep Rius I Serra, p. 25. [16] Ramon Martí, Explanatio Simboli Apostolorum, ed. J. M. March, no Anuari de l'Institut d'Estudis Catalans, 1908, p. 459 s. [17] Veja, por exemplo, Berthold Altaner, Glaubenszwang und Gluubensfreiheit in der Missionstheorie des Raymundus Lullus, em Historisches Jahrbuch, 48 (1928), p. 590; Ugo Monneret De Villard, Lo studio dell'islam in Europa nel XII e nel XIII secolo, Città del Vaticano 1944, p. 71 s. (Studi e testi, 110). [18] Altaner, loc. Cit., pp. 605-610. A primeira monografia científica sobre o tema de Ramon Llull e as cruzadas é a de Adam Gottron, Ramon Lulls Kreuzzugsideen, Berlim-Leipzig, 1912 (Abhandlungen z. mittleren u. neueren Geschichte, 39). Gottron não aborda, contudo, o problema da contradição entre as duas vertentes do pensamento luliano, como fará mais tarde Altaner. [19] Rubió, loc. cit., p. 94 s. [20] Liber de fine, dist. II, par. 6. [21] Francis Trochu, S. François de Sales, Lyon-Paris 1941, I, p. 396. [22] Blanquerna, 80, 7; Desconhort, v. 670 ss.; Tractatus de modo convertendi infideles, ed. cit., p. 101; Liber de acquisitione Terrae Sanctae, dist. I, pars 4; Liber de fine, dist. II, pars 1 e 2. Raimundo Lúlio insiste freqüentemente sobre o projeto de unificar as ordens militares, e denomina bellator rex o grão-mestre da ordem futura e única, comandante da cruzada. O projeto, contudo, não é de sua invenção, excetuando-se o título bellator rex, que não aparece em nenhum outro autor. O problema da rivalidade das ordens militares e da necessidade da fusão preocupou o pontificado durante muitos anos, de Gregório X (1274) a Clemente V, que acabará por dissolver os templários em 1312. A idéia de confiar a direção da cruzada ao chefe de uma das grandes ordens militares figura em diversos projetos contemporâneos e foi até mesmo aplicada em alguma expedição específica. Cf. Franz Heidelberger, Kreuzzugsversuche um die Wende des 13 Jahrhunderts, Berlim-Leipzig, 1911, pp. 3 ss., 31 ss., 78 (Abhandlungen z. mittleren u. neueren Geschichte, 31); Hélène Wieruszowski, Ramon Llull et l'idée de la Cité de Dieu. Quelques nouveaux écrits sur la croisade, em Estudis franciscans, Barcelona 47 (1935), p. 92 s. [23] Doctrina pueril, 72, 4-7; Tractatus de modo convertendi infideles, ed. cit., p. 100. [24] S. Bernardi, Epist. 363, 1, em Migne, Patr. Lat. t. 183, col. 565. [25] Petitio in Concilio generali ad acquirendam Terram Sanctam, ed. WIERUSZOWSKI, loc. cit., p. 105 s; Tractatus de modo convertendi infideles, ed. cit., p. 107; Liber de fine, dist. II, par. 1. [26] A elaboração da tese fundamental do pensamento político de filiação agostiniana foi exposta magistralmente por Mons. H.-X. Arquillière em seus livros L'augustinisme politique. Essai sur la formation des théories politiques du moyen âge, Paris, 1934 (passim e p. 149) e Grégoire VII. Essai sur as conception du povoir pontifical, Paris, 1934 (passim). [27] Arbre de Sciència, De l'Arbre imperial, ed. de Mallorca, I, pp. 304 ss.; Llibre d'intenció, cap. 28, 29 e 30. [28] S. Ramon De Penyafort, Summa Iuris, I, 5, ed. cit., p. 25. [29] Arbre de Sciència, De l'Arbre imperial, ed. cit., I, pp. 308 e 329. [30] Arbre de Sciència, De l'Arbre apostolical, ed. cit., II, p. 8 s. [31] Joaquin I Tomàs Carreras I Artau, loc. cit., p. 624 s., cfr. Tomàs Carreras I Artau, Fonaments metafísics de la filosofia lul.liana, em Estudis franciscans, Barcelona, 47 (1953), p. 148 s. [32] Ferran Valls I Taberner, La Societat de les Nacions i les idees de comunitat internacional en els antics autors catalans, em La Paraula cristiana, Barcelona, 1925, p. 12. [33] Francisco Elías De Tejada, Las doctrinas políticas en la Cataluña medieval, Barcelona, 1950, p. 96 s. [34] Blanquerna, 94, 2. [35] Cf. Wieruszowski, loc. cit., p. 96, n. 48, com ambos os textos citados. [36] René Grousset, Histoire des Croisades, Paris, 1936, III, p. 428. [37] Heidelberger, loc. cit., pp. 66-80. O tratado de Pierre Dubois, De recuperatione Terre Sancte, verdadeiro tratado de política geral, foi editado por Ch.-V. Langlois, na Collection de textes pour servir à l'étude et à enseignement de l'histoire, fasc. 9, Paris, 1891. [38] Llibre de contemplació, cap. 346, 21; 358, 29, onde a pregação e a força das armas vão juntas. [39] HEIDELBERGER, loc. cit., p. 1 ss.