O TERÇO EM ERECHIM Daniel Almeida Szuchman1 Celina Tiepo2 Universidade de Passo Fundo - Faculdade de Artes e Comunicação Grupo de Pesquisa Casa Encantada Orientador: Gérson Werlang [email protected] [email protected] 1 INTRODUÇÃO O rock sem sombra de dúvidas foi um movimento de ruptura para a sociedade tradicional, tendo em vista sua abordagem mais agressiva e principalmente sua musicalidade deslocada dos padrões aceitos até então. Mas o que é o rock? Que pretensão definir o rock! Absurdamente polimorfo, ele parece variar mais no tempo e no espaço do que o fazia, por exemplo, o barroco na Idade Moderna. Mas se a idéia é definir, arregacemos as mangas e vamos ver o que é que dá. Tenho certeza que as próximas páginas vão provocar reações azedas, de rockeiros convictos a anti-rockeiros. Tudo bem. O que importa é que, bem ou mal, falemos dele. Talvez assim ele conquiste um espaço acadêmico que a comunidade sempre lhe negou. (CHACON,1985, p5). 1 Daniel Szuchman é acadêmico do curso de Música (Bacharelado em Violão) pela Universidade de Passo Fundo. 2 Celina Tiepo é acadêmica do curso de Artes Visuais (Bacharelado) pela Universidade de Passo Fundo. 1 Neste sentido, inúmeros grupos musicais destacaram-se nesta esteira, tornando-se exemplo para uma juventude talhada sob um ferrenho regime civil militar, que cerceava com seus atos institucionais a criatividade e a livre expressão de todos aqueles que almejavam um futuro ligado às artes e à cultura. E o rock vem para preencher essa lacuna, como vemos nas palavras de CHACON (1985): Rock é, portanto, e antes de tudo, som. Ao contrário de outras artes que nos tocam pelo mais racional órgão dos sentidos, que é a visão, a música nos atinge pelo mais sensível, que é a audição. Para nos desviarmos de um quadro que não nos agrada, teremos muito mais facilidade do que de uma música. Seu leque de ação no espaço parece ser muito mais aberto, quase infinito, porque as notas se espalham em ondas mais amplas do que os traços presos aos limites concretos das molduras. Nesse sentido, dentro da música, uma nota distorcida de guitarra parece atingir não só o ouvido e o cérebro, mas cada uma das células do corpo humano, fazendo do rock um dos ritmos musicais mais agitados que se conhece nas sociedades modernas. (CHACON,1985, p6). Dito isso, passaremos a discorrer sobre a repercussão do show d’O Terço em terras erechinenses, analisando o momento conturbado em que a banda encontrava-se, bem como construir a partir dos depoimentos daqueles que presenciaram o evento, o cenário em que a juventude da cidade de Erechim estava inserida. Para a descrição da noite que O Terço marcou a cidade com seu rock progressivo, além dos depoimentos, foi analisado o registro fonográfico do show. 2 2 O TERÇO O Terço iniciou sua estrada no final da década de 60 no Rio de Janeiro e sua formação inicial contava com Sérgio Hinds (baixo); Jorge Amiden (guitarra), e Vinícius Cantuária (bateria). Ao longo dos anos a formação sofreu alterações e nos álbuns Criaturas da Noite (1975) e Casa Encantada (1976) a banda teve sua formação mais consagrada: Sérgio Hinds (guitarra), Flávio Venturini (teclado), Sérgio Magrão (baixo) e Luís Moreno (bateria). Nessa fase, O Terço já era considerado um dos mais populares grupos de rock do país. Após Casa Encantada Flávio Venturini deixa o Terço e quem entra para assumir os teclados é Sérgio Kaffa. Ao mesmo tempo em que Kaffa entra para a banda ocorre o retorno de César de Mercês que sempre esteve presente no Terço de alguma forma, seja como compositor ou participante nos discos. Em 1978, Sérgio Hinds, Sérgio Magrão, Luiz Moreno, Cezar de Mercês, e Sérgio Kaffa lançam o quinto disco do Terço, Mudança de Tempo. Naquele mesmo ano a política brasileira também estava mudando. Em 31 de dezembro de 1978 o AI-5 é extinto, acarretando na abertura política com a “anistia”. O nome sugestivo do álbum de 78 não faz alusão apenas às mudanças na formação do grupo, mas também às mudanças que a sociedade brasileira vinha sofrendo. O Terço estava cumprindo sua agenda de shows, mas os atritos com a gravação do álbum e as críticas foram desgastando também o grupo. Além disso, Hinds sofrera um acidente, que o impossibilitou de tocar por um tempo. O Terço contrata Ivo de Carvalho para terminar a agenda, e ainda em 78 a banda interrompe as atividades, e retorna apenas na década de 80. 3 3 ROCK EM ERECHIM NA DÉCADA DE 70 Erechim é um município situado no norte do estado do Rio Grande do Sul, que pertence região do Alto Uruguai. A cidade atualmente tem em torno de 101.752 habitantes, conforme a população estimada para 2014 (Segundo IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais). No final da década de 70 a cidade tinha em torno de 61.000 habitantes. Erechim foi planejada e construída sob uma ótica positivista e teve a formação do seu povo constituída por imigrantes, principalmente das etnias alemã, italiana, polonesa e israelita. A sociedade erechinense teve como característica um conservadorismo em seu modo de ser, independente da situação política da época. As músicas tocadas pelas rádios locais faziam parte do gosto da grande massa, pertencendo em sua maioria aos gêneros nativista, sertanejo e bandinha. Nas lojas de disco esses estilos eram os que predominantes. O que o público geral conhecia de rock, eram algumas músicas internacionais que acabavam por fazer parte da trilha sonora da programação das rádios. Apesar do rock não ser um gênero difundido na região, ainda assim um pequeno grupo foi formando um gosto pelo estilo. Conforme o relato de Rogério Cichocki, proprietário da loja de discos Peninha Som (que iniciou suas atividades no ano de 1977 e no final da década contava com um acervo que possuía em torno de 28.000 discos), comprar discos era um hábito do povo erechinense nos finais de semana. Na época a diversão era comprar um disco final de semana. Chegava sábado todo mundo queria comprar música e ia atrás de disco. O povo ia comprar discos porque queria ouvir coisas diferentes. Então quando ouviam uma musica nova na rádio ou em um programa de TV, no final de semana corriam pra loja pra ver se tinha o disco de tal música. (Chichocki, 2015). 4 Como os programas de TV utilizavam em alguns momentos músicas de grandes bandas de rock, aos poucos os jovens da cidade acabaram interessando-se pelo estilo e passam a buscar pelo rock. Na época quem queria ouvir rock tinha que ouvir as rádios de outros locais, geralmente de Porto Alegre ou São Paulo e Rio de Janeiro. No final de 70 em Erechim abre a loja de discos Opus (de Paulo César Intkar), que era especializada em rock e outros gêneros musicais de qualidade que também não faziam parte do gosto da grande massa. Apesar da qualidade do acervo de discos da Opus, não havia muita procura por parte do público. Pela falta de saída dos discos que a Opus comercializava, em março de 81 a loja encerra suas atividades. Quanto à produção musical da cidade, existiram bandas importantíssimas para a história do rock de Erechim. Um exemplo disso é o grupo The Crazy Boys, uma banda de Jovem Guarda ainda em atividade que já completou 50 anos desde sua formação até os dias de hoje. Inclusive nos primórdios da carreira a banda foi convidada por um empresário de São Paulo para alçarem vôos maiores com bandas nacionais consagradas da Jovem Guarda, porém por motivos pessoais de alguns integrantes a banda não se lança no mercado nacional. Outra banda de rock que surge na cidade é Os Explosivos, em 71. Temos também a banda Os Ipanemas, que tocava bailes, mas o repertório e os músicos eram de muita qualidade. Inclusive pelos Ipanemas passou Alegre Corrêa, músico passo fundense com uma carreira internacional. Outro passo fundense de carreira internacional que passa por grupos de Erechim é Ronaldo Saggiorato. Na década de 80 aparece a banda Apis Melifera, de rock progressivo. Em resumo Erechim teve uma boa produção de rock apesar do pequeno público. Todas as bandas acima citadas tem um componente em comum: o músico e compositor 5 Sérgio Intkar. Sérgio é uma figura de extrema importância para a música erechinense, especialmente o rock. Em sua carreira tocou com grandes músicos, como Hermeto Paschoal, Alegre Corrêa, Ronaldo Saggiorato e Paulo Casarin. O show do Terço em Erechim foi gravado em fita cassete por Sérgio Intkar. Por vezes em Erechim ocorreram alguns shows de bandas renomadas do rock nacional, não existindo um espaço adequado para realização de eventos desse porte, eram locados espaços como o Cine Ideal (um dos cinemas da cidade) e o Ginásio da Paróquia São Pedro. Em 1972 aconteceu no Ginásio São Pedro o show de Roberto Carlos, que foi um sucesso e lotou o espaço. Em 1976, no Cine Ideal, estiveram os Pholhas e no ano seguinte, o Casa das Máquinas fez um show no Ginásio São Pedro. Em 1978 O Terço veio para Erechim fazer o show do álbum daquele ano (Mudança de Tempo) e na década de 80, ocorrem shows do Barão Vermelho e de Baby Consuelo acompanhada por Pepeu Gomes. Shows estes, que foram de vital importância para estimular as bandas locais e influenciaram muito os conjuntos musicais de Erechim, seja no som, na ideologia ou no modo de se vestir. O show do Terço não foi diferente. Sérgio Intkar durante a entrevista declara: “Todo mundo queria ter aquela guitarra do Hinds, uma SG Gibson.” Intkar conta inclusive que, muito por influência do álbum Criaturas da Noite, posteriormente veio a adquirir uma Gibson SG, que infelizmente após ser emprestada, sofreu algum tipo de choque mecânico e quebrou o braço. 6 4 O TERÇO EM ERECHIM Após a saída de Venturini do Terço e a reformulação da banda, a nova formação grava em 1977 o álbum Mudança de Tempo, que é lançado no ano seguinte. 1978 é um ano emblemático para a banda, pois a gravação do disco no ano anterior criou desgates entre os músicos e a gravadora, e com a nova concepção do álbum, que traz sonoridades diferentes para as canções do grupo, vieram também críticas à banda. Essa soma de fatores aliada ao acidente que Hinds sofre, acarreta no fim da banda. Em entrevista para a International Magazine (periódico dos anos 90) ,quando questionado sobre o fim do terço em 78, Hinds explica. Na verdade, quando O Terço parou em 78-79, foi um desgaste geral... de cansaço mesmo. Naquela fase, a gente fazia uma média de 150 a 200 shows por ano. A gente estava de saco na Lua, eu não sabia onde é que eu morava. Eu não aguentava mais. De 74 a 79, a média foi de 150 a 200 shows por ano. Foram muitos anos seguidos de vida na estrada, o tempo todo. (Hinds). É nesse período conturbado da banda que ocorre o show em Erechim. A data exata do show foi esquecida e permanece um mistério, pois através de relatos dos que estavam presentes no show não é possível chegar em um resultado conclusivo. Não saíram notas sobre o show no periódico da cidade e a Paróquia São Pedro que era a responsável pela locação do ginásio se desfez dos registros. O hotel onde os músicos se hospedaram também não soube informar a data. O possível responsável por contratar o show e trazer O Terço para Erechim faleceu pouco tempo após o resgate da fita na qual o show foi gravado. 7 O grupo vem com a formação do disco: Hinds, Mercês, Moreno, Kaffa e Magrão. Quando chegam na cidade ficam hospedados no Hotel Erechim, que era o hotel que geralmente hospedava os artistas e personalidades que passavam pelo município. Durante a tarde O Terço fez a passagem de som no Ginásio da Paróquia São Pedro, local onde o show foi realizado. Sérgio Intkar estava presente na passagem de som com alguns amigos e relata que aquele pequeno grupo de fãs de rock estava ansioso para a chegada do Terço em Erechim, devido ao grande sucesso, principalmente, de Criaturas da Noite. A expectativa desses jovens era grande, assim como a timidez, por isso demoraram um pouco para conversarem com o pessoal da banda. Intkar conta que o mais acessível para um batepapo era o técnico de som do grupo, e que a banda, talvez por ser um das maiores conjuntos de rock do país, não dava muita conversa para o pessoal presente. Intkar observou que na aparelhagem de som havia possibilidade de se gravar o show em fita cassete e então pediu para o Técnico se poderia gravar. Ele respondeu que não teria problema nenhum e seria legal, para registrar o que rolou à noite para depois analisar. Intkar ajustou o ponto onde a fita deveria começar a gravar e quando o show iniciou apertou o “rec”. Quanto ao equipamento utilizado pelo Terço, Intkar lembra que a banda vinha apenas com seus instrumentos e cabeçotes. O pesado da sonorização e iluminação era locado da região. Foram erguidas as redes do ginásio onde o palco ficava. Era um palco alto e improvisado com tábuas que cediam um pouco quando os músicos subiam. Em suma, o equipamento locado estava longe do utilizado pela banda em shows maiores, o que sem dúvida prejudica em algum momento os aspectos técnicos de um show. Apesar disso a noite foi inesquecível para quem compareceu. No momento do show, estima-se que estavam presentes em torno de 200 pessoas, o que para o público erechinense de rock da época é 8 bastante, mas não chega a lotar um ginásio. Embora O Terço já fosse reconhecido como um dos maiores grupos de rock do Brasil na época, em Erechim ele não era tão popular. Os poucos que conheciam estavam mais familiarizados com seus trabalhos anteriores, e uma grande parte do público foi por curiosidade, para conhecer e ver o que estava acontecendo. Enori José Chiaparini, historiador e pesquisador erechinense que assistiu ao show, relata que a cidade até então não tinha presenciado um show de tamanha beleza. Os efeitos de iluminação aliados ao som do Terço deixaram os expectadores estarrecidos. Chiaparini ressalta ainda que pelo público não estar familiarizado com a obra do grupo, principalmente do álbum do ano, o show não tinha tanta interação, mas a platéia estava admirada com o profissionalismo dos músicos. O show da banda Casa das Máquinas no ano anterior gerou alvoroço na cidade. Primero pela roupa do vocalista que chocou os mais conservadores, mas o que gerou mais reclamações na cidade foi pelo fato do volume sonoro do show estar altíssimo. Algumas pessoas deixaram o ginásio por não suportarem o som tão alto. Com o Terço foi muito diferente. Enori conta que o técnico de som foi muito competente, o show não perturbou a vizinhança e estava agradável de se ouvir dentro do ginásio. Sérgio Intkar, por ser um músico profissional, tem uma posição mais crítica quanto ao show: Eu esperava muito mais deles... todo mundo estava esperando Criaturas da Noite e os caras começaram a tocar outras coisas, e eles não estavam tocando como deveriam tocar, como estava gravado. Estavam tocando tudo correndo... Não sei se é por eles terem vindo pro interior ou se eles queriam mudar a banda, levar as coisas pra outro rumo. (Intkar, 2015). 9 Os que foram ao show para ouvir sucessos da fase com Venturini, Criaturas da Noite e Casa Encantada, se decepcionaram. A banda havia mudado radicalmente a concepção das composições. Como no interior o Mudança de Tempo nem havia chegado ainda e o repertório da noite foi basicamente o álbum de 78, acabou que o show foi uma novidade mesmo para os que já conheciam O Terço. Ao término do show O Terço começou a desmontar seus equipamentos, e quando estavam todos indo embora Sérgio Intkar conversou rapidamente com a banda. Em entrevista Intkar descreve o final da noite: Estavam todos indo embora, a banda estava indo pro hotel e eu falei com o guitarrista... eles estavam todos meio juntos mas eu falei mais diretamente com o Hinds, e eu vi que eles estavam muito afim das gatinhas... minhas irmãs estavam ali junto e eu vi que eles estavam de olho nelas. E eles falaram “Ah, chega lá no hotel. Leva a fita lá que a gente vai ouvir, fumar um, mas leva tuas irmãs...” Eu pensei: Ah é, é isso aí então... então não vão levar a fita...”. (Intkar, 2015). 5 REPERTÓRIO DO SHOW O show contou com as músicas do Mudança de Tempo alternadas com as faixas do compacto de 77 e algumas faixas do Casa Encantada e Criaturas da Noite. Com relação às interpretações ao vivo, praticamente todas as músicas foram executadas bem mais rápidas que as faixas originais. 10 5.1 GUITARRAS A banda abre o show com a música instrumental Guitarras, 3ª faixa do álbum Casa Encantada de 76. A versão ao vivo é tocada em um andamento mais rápido que a gravação original. A versão ainda conta com contracantos da flauta de Mercês durante o tema da música que é solada por Hinds e seções de improvisação de ambos. 5.2 PÁSSARO Ao término de Guitarras, a banda anuncia que irá tocar a canção “tocador”, de autoria de Sá e Guarabyra. Pássaro também faz parte do álbum Casa Encantada, que ao vivo contou com improvisos e solos de flauta onde na original seriam as frases de acordeon. Por ser de um trabalho anterior de grande sucesso, essa canção era do conhecimento do público que vinha acompanhando os álbuns anteriores do conjunto. 5.3 GENTE DO INTERIOR “Nós vamos tocar uma música que fala do amor da gente pelo pessoal do interior do Brasil”. É com essa frase que a banda anuncia que irá tocar a musica Gente do Interior, do álbum Mudança de tempo, que foi lançado no mesmo ano do show. Mesmo sem os arranjos de orquesta da gravação a banda faz uma bela versão da música. 5.4 AMIGOS Após duas canções lentas a banda entra de volta no rock progressivo com a música Amigos do compacto lançado no ano anterior. Amigos é tocada num arranjo mais agressivo e rápido do que a versão original. 11 5.5 BARCO DE PEDRA Depois da versão enérgica de Amigos, a banda retorna a um clima mais tranquilo quando Hinds puxa os acordes de Barco de Pedra, balada pertencente ao compacto de 1977. 5.6 FAIXA INSTRUMENTAL A 6ª música inicia o bloco mais progressivo do show. É instrumental e o nome é desconhecido até o momento, pois não está em nenhum dos álbuns de estúdio da banda. Possivelmente não foi gravada e deve ter sido tocada em alguns shows do período. A música apresenta um breve tema tocado em dueto pelas guitarras e solos de guitarra. 5.7 TERÇAS E QUINTAS Até este momento do show, com exceção da música Gente do Interior, a banda tocou apenas músicas de trabalhos anteriores, a parte do show que segue são algumas músicas do álbum Mudança de Tempo. Esse bloco de músicas do álbum de 78 inicia com a 3ª faixa do disco que é um legítimo rock progressivo instrumental e se chama Terças e Quintas. Assim como em algumas músicas anteriores, Terças e Quintas foi tocada em um andamento mais acelerado do que na gravação, mas mantendo sua essência. A música acaba e logo inicia um solo de bateria de Luiz Moreno. 12 5.8 DESCOLADA Após o solo não muito longo de bateria a banda dá inicio à outra musica instrumental, a curta Descolada. Em Erechim ela não contou com o pequeno solo de flauta que Mercês toca no tema da música. 5.9 PELA RUA Saindo das musicas instrumentais, o grupo volta com a animada Pela Rua. Ela também não conta com alguns detalhes de arranjo da gravação do álbum, mas apresenta um solo maior de guitarra ao final da música. 5.10 BLUES DO ADEUS A versão do blues para o show de erechim também foi mais enérgica, e é a faixa na qual a fita em que o show estava sendo gravado acaba. 5.11 MINHA FÉ Quando a fita acaba, a música que inicia o outro lado é Minha Fé. Não se sabe se entre Blues do Adeus e Minha Fé foi tocada outra música, mas considerando que no repertório do show a única música do álbum Mudança de Tempo que não foi tocada foi Hoje é Domingo, não é de se descartar a hipótese de que essa música tenha ficado de fora da gravação até o momento em que a fita voltou a gravar. Minha fé é uma das músicas que mais sofreram uma 13 mudança em relação à gravação original. O andamento é disparado em relação ao disco, e não conta com o vocal feminino do álbum. 5.12 MUDANÇA DE TEMPO “Nós vamos tocar agora a música que é o nome do LP, Mudança de Tempo”, anuncia a banda. E assim eles tocam a música num arranjo bem mais Rock and Roll. Não teve o solo de violão que tem no disco, mas aconteceram os solos em forma de “duelo” entre a guitarra e o teclado. Como aconteceu na maioria das músicas do show, a banda tocou com o andamento bem acima do original. 5.13 FLOR DE LA NOCHE Logo que acaba Mudança de Tempo a banda chama a Flor de la Noche, grande sucesso do Casa Encantada. Essa era uma das músicas mais conhecidas do publico rockeiro erechinense, junto com Hey Amigo, do Criaturas da Noite. 5.14 NÃO SEI NÃO Voltando para o álbum de 78 a banda toca Não Sei Não, faixa que abre o disco. Nesse arranjo a música tem uma roupagem mais viva e o andamento também ficou acima do gravado no LP. 14 5.15 LUZ DE VELA Chegando ao fim do show a banda toca o animado rock Luz de Vela, do Casa Encantada, que após uma finalização com rolos de bateria e improvisações dos instrumentos emenda com a música que encerra a noite. 5.16 HEY AMIGO Para fechar o show em Erechim em grande estilo O Terço toca o tão esperado sucesso do álbum Criaturas da Noite, Hey Amigo. Era sem dúvida a música mais conhecida e esperada pelo público presente que acompanhava o trabalho da banda. O show acaba com um sintetizador fazendo um efeito crescente que era comum em shows de rock da época. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O show do terço, apesar de apresentar um repertório praticamente desconhecido para os erechinenses, foi bem aceito e encantou os espectadores. Ao contrário do show da banda Casa das Máquinas em 77 que causou impacto na cidade devido ao som extremamente alto e vestimentas, O Terço deixou uma ótima impressão na cidade. Sem sombra de dúvidas foi um show memorável e que marcou a todos que tiveram oportunidade de assisti-lo. O registro fonográfico que ficou perdido por quase 40 anos, ressurge em 2015 para ajudar a preencher as lacunas que se tem na história do rock nacional, contribuindo para o entendimento da trajetória de uma banda que marcou e continua a influenciar gerações. Deixamos um agradecimento aos entrevistados que colaboraram para construção deste artigo, em especial a 15 Sérgio Intkar, que cedeu gentilmente a fita cassete com o registro do show tornando possível este resgate. 7 REFERÊNCIAS CHACON, Paulo. O que é Rock. São Paulo: Editora Brasiliense, 1992. 53p. CHIAPARINI, Enori et al. Erechim: Retratos do Passado, Memórias no Presente. Erechim, RS: Graffoluz, 2012. 308p. il. CHIAPARINI, Enori. Entrevista concedida a Celina Tiepo no dia 16/05/2015. Gravação e transcrições da entrevistadora. CHICHOCKI, Rogério. Entrevista concedida a Daniel Szuchman no dia 15/05/2015. Gravação e transcrições do entrevistador INTKAR, Sérgio. Entrevista concedida a Daniel Szuchman no dia 14/05/2015. Gravação e transcrições do entrevistador. INTKAR, Paulo. Entrevista concedida a Daniel Szuchman no dia 17/05/2015. Gravação e transcrições do entrevistador. 8 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA HINDS, Sérgio. Entrevista na International Magazine. Disponível em: http://blogdeigormotta.blogspot.com.br/2012/11/o-terco-e-entrevista-com-sergio-hinds.html. Acessado em 15/05/2015. O Terço. Disponível em: < http://www.oterco.com.br/> Acessado em 14/05/2015 SAGGIORATO, Alexandre. Anos de Chumbo: Rock e Repressão Durante p AI-5 . Passo Fundo, RS: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2012. 184p. il. WOJCIEKOWSKI, G. J. Sérgio Moacir Intkar e The Crazy Boys. Diário da Manhã. Disponível em: <http://www.diariodamanha.com/blogs.asp?a=post&blog_id=21&ID=943>. Acessado em: 15/05/2015. 16 9 ANEXO IMAGEM 1 – Vista aérea do centro de Erechim (1979) IMAGEM 2 – Fita Cassete usada na gravação do show d’O Terço em Erechim (1978) 17