Insuficiência cardíaca: Avaliação e manejo Antonio Luiz Pinho Ribeiro MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Atenção à Saúde Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Importância n n n n n n Via comum final das cardiopatias caráter progressivo grande impacto na qualidade de vida elevadas taxas de mortalidade 300 mil internações em 2007 no SUS 23 mil mortes em 2005 Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Mudança de Perfil de gravidade dos pacientes internados por IC no SUS Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Importância O tratamento adequado permite grande melhora clínica, redução do número de internações, da mortalidade e, provavelmente, dos custos com a doença. Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Definição Síndrome clínica onde anormalidade estrutural ou funcional torna o coração incapaz de bombear o sangue em quantidades proporcionais às necessidades do organismo Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Definição I. Sintomas de IC (aos esforços ou em repouso) e II. Evidência objetiva (preferencialmente ao ecocardiograma) de disfunção cardíaca sistólica e/ou diastólica e III. Resposta ao tratamento para IC OBS: Os critérios I e II devem ser preenchidos em todos os casos Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Principais fatores e doenças que podem causar IC Miocardiopatia isquêmica Desordens do ritmo (Infarto prévio/isquemia crônica) Bradiarritmias Hipertensão Arterial Sistêmica Taquicarritmias Valvopatias Cor pulmonale Miocardiopatias dilatadas Doenças com “shunt” E-D Doença de Chagas Condições Após miocardites infecciosas cardíaco Induzida por drogas cardiotóxicas Metabólicas e infiltrativas Familiar / Alcoólica / Idiopática de Tireotoxicose Anemia Fístulas A-V alto débito Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Principais fatores precipitantes de IC Não cardíacos · Má-adesão ao tratamento · pulmonar medicamentoso · · Tromboembolismo Excessos físicos, dietéticos, · Infecção ambientais e emocionais · Abuso de álcool Uso de anti-inflamatórios não · HAS não controlada esteóides, anti-arrítmicos que · Disfunções da tireóide não amiodarona, beta- · Anemia bloqueadores (início do · Gestação tratamento), verapamil, ou diltiazem Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Principais fatores precipitantes de IC Cardíacos · Taquiarritmias · (fibrilação atrial ou Miocardite reumática, viral e outras outras taquiarritmias · Endocardite infecciosa supraventriculares ou · Surgimento ou piora de ventriculares) regurgitação mitral ou · Bradicardia tricúspide · Isquemia miocárdica / · Redução excessiva da Infarto agudo do pré-carga com miocárdio diuréticos e/ou vasodilatadores Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Características da IC sistólica e diastólica IC sistólica n n n n n n n n n VE dilatado PA normal ou reduzida População de idade variável mais comum nos homens Terceira bulha freqüente FE do VE reduzida Disfunção sistólica e diastólica (ecocardiograma) Prognóstico menos favorável Tratamento bem estabelecido IC diastólica n n n n n n n n n VE de dimensões normais, HVE HAS muito freqüente População idosa mais comum nas mulheres Quarta bulha freqüente FE normal ou aumentada Disfunção diastólica (ecocardiograma) Prognóstico mais favorável Tratamento menos estabelecido Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Sinais e sintomas n n n Síndrome de má-tolerância aos esforços Síndrome de retenção hídrica Ausência de sintomas de IC Um exame clínico detalhado, não deve ser substituído por múltiplos exames complementares Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Exame físico Sinal Desvio Observação do impulso apical (Ictus) Aumento da cardíaco Importância da palpação do precordio pressão venosa Inspeção do pulso jugular com a central cabeceira a 45 o B3 Não é específica da IC, mas tem valor diagnóstico e prognóstico Hiperfonese de P2 Traduz hipertensão pulmonar Edema Inespecífico, sobretudo ausência de outros sinais na Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Diagnóstico diferencial Dispnéia n n n n n n n n n Sintoma mais precoce na IC Progressiva Relacionada ao esforço Ortopnéia e dpn sugerem causa cardíaca Diferenciar de fadiga Sedentarismo, depressão e obesidade são causas de dispnéia e fadiga DPOC é causa importante Rx Toráx pode auxiliar Eco pode ser necessário Edema n n n Na IC, é associada a aumento da PVC e hepatomegalia Insuficiência venosa é causa mais comum de edema Outras causas incluem: n n n n n n n Gravidez hepatopatias doença renal crônica obesidade distúrbios da drenagem linfática uso de corticóides Ascite ocorre em ICC avançado ou quando há componente restritivo Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Classificação da IC Classe Atividade que precipita a dispnéia funcional I Esforços extenuantes (subir escadas carregando peso, correr) II Esforços maiores do que habituais (subir > 2 lances de escada) III Esforços habituais (caminhar no plano, tomar banho, vestir-se) IV Repouso (conversar, ortopnéia) Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Diagnóstico diferencial n n A tosse por congestão pulmonar secundária à IC é seca, predominantemente noturna, enquanto na DPOC ela é mais matinal e de caráter produtivo Palpitações relacionadas à extrassístoles isoladas, sem outras evidências de cardiopatia, NÃO devem alarmar o médico, nem desencadear uma propedêutica mais complexa e dispendiosa como realização de Holter e ecocardiograma Estágio A: Fatores de risco Hipertensos; Diabéticos; Coronariopatas; História de cardiotoxidade; História de alcoolismo; História de Febre reumática; HF cardiomiopatia; FI Doença de Chagas? Doença cardíaca estrutural assintomática Pós-infarto; Disfunção ventricular esquerda assintomática; Doença cardíaca valvular grave assintomática; Cardiopatia chagásica assintomática? Estágio C: ICC sintomática Doença cardíaca estrutural com sintomas de ICC atuais ou prévios Estágio D: ICC ‘avançada’ ICC refratária a medidas convencionais Estágio B: Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Avaliação laboratorial inicial n n n Confirmar a presença de uma alteração estrutural e/ou funcional cardíaca que explique os sintomas relatados pelo paciente; Determinar a gravidade da cardiopatia, e portanto o prognóstico; Identificar condições que mereçam tratamento específico, como acontece da doença arterial coronariana e nas valvopatias. Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Avaliação laboratorial inicial Exames que devem realizados em todos os pacientes com IC: · Testes de sangue: hemograma, glicemia de jejum, função renal, potássio, sódio e perfil lipídico e TSH. · ECG basal de 12 derivações · Rx Tórax · Ecocardiograma (supeita clínica, disponibilidade) Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Ecocardiograma na IC Prognosis <30 50 Post MI n=196 40 Cardiac 30 Mortality % 31-35 20 36-45 10 46-53 54-60 >60 0 20 30 40 50 LVEF 60 70 80 Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Seguimento: avaliação clínica n n n n n n n Capacidade funcional Dieta: consumo de sódio e de água Uso regular das medicações nas dosagens prescritas Medida da PA em decúbito e em pé Alterações na FC PESO PVJ, B3, edema Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Seguimento: avaliação clínica n Mais importante do que uma única mensuração dos dados é a avaliação continuada, com a comparação ao longo das consultas de retorno, permitindo o ajuste de medicamentos Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Seguimento: laboratório n n n Uréia, creatinina e potássio a cada 3/4 meses Glicemia e lípides anualmente ECG e Rx Tórax anualmente Exames intermediários podem ser necessários em caso de descompensação Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Seguimento: laboratório n Não é necessária a realização do ecocardiograma seriado. O exame pode ser repetido quando há uma mudança significativa e persistente da classe funcional, sem causa aparente Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Tratamento: objetivos n n n Evitar progressão da IC Prevenção e controle das doenças de base Redução da morbidade e melhora da qualidade de vida n n n Evitar internações hospitalares Melhorar a classe funcional Redução da mortalidade ESTÁGIO A ESTÁGIO B ESTÁGIO C ESTÁGIO D Alto risco para IC mas sem cardiopatia estrutural ou sintomas de IC Cardiopatia estrutural mas sem sintomas de IC Cardiopatia estrutural e com sintomas de IC IC refratária requerendo atenção especializada HAS IAM prévio Paciente com DAC Doença valvular assintomática Paciente com fadiga e dispnéia DM Uso de cardiotóxicos Trate HAS e DM Trate dislipidemia Atividade física Hábitos de vida saudáveis Ajude a parar de fumar Ortopnéia, sintomas mínimos ao repouso, internações freqüentes e sem possibilidade de alta Disfunção sistólica do VE Todas as medidas para o estágio A Todas as medidas para o estágio A Todas as medidas para o estágio A, B e C I-ECA I-ECA Restrição de sódio BB BB Ressincronizador Diurético Inotrópico/vasodilatador EV Digoxina Transplante cardíaco Cuidado paliativo Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo IC estágio A n n n n n n n n Hipertensos Diabéticos Coronariopatas História de cardiotoxidade História de alcoolismo História de Febre reumática HF cardiomiopatia FI Doença de Chagas? Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio A n n n n n n n n Hipertensos - 16,5 M + 2,8 M Diabéticos - 5,5 M Coronariopatas História de cardiotoxidade História de alcoolismo História de Febre reumática 20-30 Milhões HF cardiomiopatia de pessoas? FI Doença de Chagas – 1,5 M Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio A Medidas recomendadas n n n n n Medidas gerais de prevenção das doenças cardiovasculares Controle da HAS/DM Evitar hábitos que aumentem o risco de IC – tabagismo, etilismo e drogas ilícitas Tratamento das doenças da tireóide Avaliação periódica para sinais e sintomas de IC Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio A Medidas não indicadas n n n n Repouso Redução do sal dietético além do que é prudente para não hipertensos TESTE ROTINEIRO para avaliação da função ventricular SUPLEMENTOS DIETÉTICOS Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio B n n n n Pós-infarto 2M? Disfunção ventricular esquerda assintomática N? Doença cardíaca valvular grave assintomática N? Cardiopatia chagásica assintomática? 1M Quantas pessoas? Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio B Medidas recomendadas n n n n n Todas do estágio A Inibidores da ECA em todos pós-IAM ou com FEVE reduzida Betabloq em todos pós-IAM ou com FEVE reduzida (ex.carvedilol) Reparo ou troca valvar se hemodinamicamente significativo Avaliação periódica p/ sinais e sintomas de IC Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio B Medidas não indicadas n n n n Repouso Redução do sal dietético além do que é prudente para não hipertensos Digoxina rotineiramente se em ritmo sinusal SUPLEMENTOS DIETÉTICOS Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio C IC sintomática 300 mil internações/ano Diretriz ICC: 6,5 M de pacientes? Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio C Medidas recomendadas n n n n n n Todas dos estágios A e B Diuréticos se houver retenção fluida Inibidores da ECA em todos pacientes Betabloq específico (ex. carvedilol ou metoprolol) em todos pacientes estáveis Digital se houver sintomas Retirada de medicamentos que pioram a função ventricular esquerda Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio C Medidas recomendadas n n n Espironolactona se CF IV (B) Exercício para melhora da capacidade física Bloqueador da angiotensina ou nitrato + hidralazina se houver intolerancia ao iECA Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio C Medidas não indicadas Terapia inotrópica intermitente n Bloqueadores de cálcio n Inibidor da angiotensina no lugar de iECA ou antes do betabloqueador n SUPLEMENTOS DIETÉTICOS n Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio D Procedimentos hospitalares do SUS - por local de internação - Brasil 180 170 160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 TRANSPLANTE DE CORACAO 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio D Medidas recomendadas Todas dos estágios A, B e C n Controle meticuloso da retenção hídrica n Referir a centro especializado / transplantador n Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo ICC estágio D Questões controversas n n Mecanismos de referência e contrareferência Terapias de alto custo: CDI, Ressincronizador, Tx n n n Regulação do acesso, uso racional, impacto econômico. Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Uso dos iECA na IC Qual inibidor de ECA usar Captopril Enalapril Dose inicial 6,25 mg TID 2,5 mg BID Dose alvo 50 mg TID 10-20 mg BID Como usar · Comece com dose baixa · Dobre a dose de 2/2 semanas · Almeje a dose alvo ou a maior dose tolerada · Lembre-se: qualquer dose de iECA é melhor do que não usar Converse com o paciente · Explique os benefícios esperados: melhora dos sintomas, prevenção de piora da IC e aumento da sobrevida · Sintomas melhoram com algumas semanas ou meses · Aconselhe o paciente a relatar os principais sintomas: tosse e sintomas de hipotensão sintomática (tonteira, adinamia) Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Uso dos BB na IC Qual BB usar Dose inicial Dose alvo Carvedilol 3,25 mg BID 25 mg BID Bisoprolol 1,25 mg MID 10 mg MID Succinato de metoprolol 12,5 -25 mg MID 150 - 200 mg MID Como usar · Comece com dose baixa · Dobre a dose de 2/2 semanas · Almeje a dose alvo ou a maior dose tolerada · Lembre–se de que qualquer dose de BB é melhor do que não usar · Monitore a PA, FC e sintomas ou sinais de congestão Converse com o paciente · Explique os benefícios esperados: prevenção de piora da IC e aumento da sobrevida · A melhora dos sintomas é lenta (3–6 meses) · Pode ocorrer piora temporária dos sintomas no início do tratamento · Aconselhe o paciente a não suspender a medicação antes de consultar o médico · Explique ao paciente que a piora dos sintomas pode ser corrigida rapidamente com o ajuste das outras medicações Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Medicamentos a ser evitados na IC n n n n n Bloqueadores de canal de cálcio : diltiazem, verapamil, nifedipina. Prazosin e minoxidil Antiarrítmicos: proprafenona, quinidina, procainamida, sotalol Anti-inflamatórios não esteroides Anfetaminas, carbamazepina, itraconazol, antidepressivos tricíclicos Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo A IC é uma doença crônica e habitualmente progressiva. É o cuidado regular e prolongado, com o uso regular das medições e recomendações, a melhor arma para reduzir a morbidade e a mortalidade. Insuficiência cardíaca: avaliação e manejo Coordenação Geral de Média e Alta Complexidade DAE/SAS/MS Antonio Luiz P. Ribeiro, [email protected]