Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Relações entre o Ensino da Matemática e a Neurociência Luciana Montes Pizyblski Guataçara dos Santos Junior Nilcéia Aparecida Maciel Pinheiro Resumo Neste trabalho, são apresentados fundamentos sobre as funções mentais, memória e o cálculo básico, sob o enfoque das neurociências e, mais especificamente, da psicologia cognitiva. O objetivo principal é colaborar com os professores de matemática e os de séries iniciais no que diz respeito à importância do cálculo mental e da fixação de conteúdos para o desenvolvimento cerebral do aluno, em suas bases estruturais do raciocínio lógico matemático. Estas informações poderão ser úteis no planejamento das ações pedagógicas e na escolha de práticas que tornem a aprendizagem matemática mais efetiva. Palavras-chave: matemática, neurociência, cálculo mental, calculadora, tecnologia. Abstract In this work, beddings on the mental functions, memory and the basic calculation are presented, under the approach of the neuroscience and more specifically of cognitiva psychology. The main objective is to collaborate with the professors of mathematics and of initial series, on the importance of the mental arithmetic and the setting of contents for the cerebral development of the pupil, and the structural bases of the mathematical logical reasoning. These information could be useful in the planning of the pedagogical actions and in the choice of practical that they become the mathematical learning more effective. Keywords: mathematics, neurociência, mental arithmetic, calculating, technology. I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1138 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Introdução Ciência e tecnologia andam lado a lado, o desenvolvimento de uma impulsiona o da outra, gerando a ciranda do conhecimento, da informação, e do produto, interferindo e desestabilizando a vida do homem contemporâneo. Percebe-se o momento como sendo de crise cultural profunda, sem precedentes na história da humanidade, justificadas pelas palavras de D.Bidney Landdsheere, “um estado de desequilíbrio grave provocado pelo avanço das condições tecnológicas, sociais ou ideológicas consideradas normais ou que prevaleçam durante um período mais ou menos longo” (LANDDSHEERE, 1996, p.84). Para uma sobrevivência adequada, as exigências são muito mais intelectuais que físicas, e neste processo de adaptação, são imprescindíveis ações mentais superiores como, de análise, síntese e criatividade, que nos levam a concordar com a expressão de LANDDSHEERE (1996, p.37), “a sociedade está prestes a encefalizar-se”, diz-se também que a inteligência tornou-se uma das mercadorias mais procuradas. Toda esta mudança desencadeou uma revisão nas formas de pensar e preparar os indivíduos e em sendo a escola parte integrante na sua formação, ingressou neste processo para entrar na mesma ciranda. A escola brasileira enfrenta grandes desafios, principalmente quanto à qualidade da aprendizagem, identificados diante dos índices obtidos em exames internacionais de aprendizagem, como no caso o PISA (Programa Internacional de Aferição de Estudantes), em que ocupou um dos últimos lugares em anos sucessivos, em todas as disciplinas, comparadas a outras 57 nações. A matemática apresenta-se como uma das disciplinas de mais baixo desempenho, e a necessidade de melhora, não se deve apenas aos resultados insatisfatórios desses exames, mas, sobretudo pelas conseqüências desastrosas para a sociedade de uma escola fraca, tendo em vista o entrelaçamento existente entre o raciocínio lógico matemático e desenvolvimento tecnológico. Sendo assim o objetivo deste trabalho é levantar discussões e questionamentos, tais como: Como melhorar a aprendizagem matemática para torná-la significativa? A utilização da calculadora no ensino fundamental não estaria interferindo no processo, negativamente? I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1139 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Matemática e Neurociência A humanidade atravessa um tempo onde a revolução do pensamento gera a revolução no conhecimento e nas informações. São muitas as oportunidades: de liberdade, de pensamento, de expressão e mais importante ainda, do entrelaçamento de várias linhas de pensamentos e de pesquisas, beneficiando toda a sociedade. As expressões “O mundo passou a ser completamente rápido, estimulante e de alto risco“ e “A revolução da aprendizagem se impõe como uma necessidade para que todos possam compartilhar os benefícios desta nova era de desenvolvimento” (JAIME 2001, p.11) traduzem as aspirações para a nova época. Esta “nova era” abre um questionamento, será que os alunos estão sendo preparados para estes novos desafios? Os índices extremamente baixos da educação brasileira deixam claro o seu desempenho insuficiente. As críticas feitas pelo físico alemão Andréas Schleicher, (2008, p.17), responsável há oito anos pela aplicação da prova do PISA, visitou mais de 100 escolas espalhadas pelo mundo, ao analisar as provas dos alunos brasileiros, tanto de escolas públicas como particulares, percebeu que nossos alunos têm habilidades para decorar a matéria e dificuldades em estabelecer relações entre o que sabem e o mundo real. No entanto, as habilidades esperadas ao fazerem este exame são de análise e de síntese, ou seja, se sobressaem as pessoas com mente mais flexível. Há que se pesquisar não apenas os desajustes da própria escola, mas no ser humano e seus aspectos mentais, sociais, e seu mundo de valores, que estão por trás destes índices e destas referências. As expansões da ciência e da tecnologia trouxeram novos questionamentos e responsabilidades para o universo escolar, como o de avaliar certas tecnologias, seus danos e benefícios para o ensino da Matemática. Um questionamento importante e com graves conseqüências, como exemplo, é do uso da calculadora nas séries iniciais para o cálculo básico, amplamente discutido entre educadores. Apresenta duplo viés, os favoráveis e os contrários. Estes muito criticados, vistos como atrasados por não aderirem aos recursos tecnológicos disponíveis. Atualmente as calculadoras estão até mesmo no celular dos alunos, mostrando todo o impacto de uma sociedade que se reescreve. Faz-se necessário uma discussão a respeito dos efeitos que o cálculo básico, que se aplicado de forma adequada pode ajudar a desenvolver as estruturas cognitivas dos alunos. A utilização da calculadora, como parte do material escolar, para I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1140 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT o ensino fundamental e médio, pode bloquear esta fase de estruturação do raciocínio lógico trazendo dependência e alienação. Fases do Raciocínio Matemático As fases iniciais do pensamento lógico matemático, segundo Howard Gardner apud Piaget (1994), não se origina na esfera auditivo-oral, mas de ações simples das crianças pequenas sobre objetos físicos de seu mundo. Surge, portanto do confronto com os elementos táteis, a idéia de ordenação e reordenação originando a noção de quantidades. Por volta de quatro ou cinco anos, a criança já é capaz de ordenar os objetos e entender a correspondência numérica entre os elementos de um pequeno conjunto. A partir desta fase, poderá comparar objetos, estabelecer relações de tamanho, extensão espacial e a quantidade. Propõe-se uma maior observação a partir desta etapa, porque a criança já sabe calcular mentalmente os objetos dos conjuntos e associá-los aos números oralmente. Este processo é como que instintivo na criança. Tem-se ai o início de toda a estrutura do pensamento lógico matemático. Acredita-se que a aprendizagem passa a ser significativa para o cálculo mental, a partir deste momento. Considerado AUSUBEL apud MOREIRA (1999, p.153) tem-se que a aprendizagem significativa é um processo por meio do qual uma nova informação relaciona-se com um aspecto especificamente relevante da estrutura do conhecimento do indivíduo, este processo envolve uma interação da nova informação com uma estrutura do conhecimento específica, denominada de conceito subsunçor, existente na estrutura cognitiva do indivíduo. A prática do cálculo mental básico inicia-se com a adição dos objetos de seu mundo, funcionando como organizadores prévios para a adição. Isto pode ser comparado a operações matemáticas, que podem ser dispostos na sua forma mais elementar, como por exemplo: 2 + 3 = ___; 3 + 4=___ funcionam como âncoras para a aprendizagem da subtração, por se tratar do processo reverso da adição, proporcionando o insight e novas percepções, assim uma nova informação relaciona-se com um outra já existente. Desta forma se executa uma ponte de raciocínio lógico e seqüencial, tornando a aprendizagem significativa. A cadeia do conhecimento matemático estará estabelecida, pois a adição funciona como âncora para as operações de subtração, multiplicação e divisão, servindo de subsunçores para novas informações correlatas, abrindo caminhos para raciocínios maiores. I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1141 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT É relevante discutir o momento pedagógico da escola brasileira, da importância dada a estas operações e o seu treinamento, julgado muitas vezes por “processo mecanicista”, mas que se não for ofertado satisfatoriamente ao aluno, não lhe proporcionará estruturas para novas aprendizagens. Ao reafirmar a importância da repetição dos cálculos básicos mentalmente e posteriormente com algoritmos, não se refere ao exagero do repetir, mas oferecer situaçõesproblema, que permitam uma estruturação cerebral. Uma comparação pertinente pode ser elucidada, por exemplo, pelo número de vezes que um indivíduo assista a um filme: caso assista por duas vezes, é capaz de notar que certas cenas ou falas passaram despercebidas. O fato do ensino da matemática ter condenado a repetição como forma de fixação por meio de teorias pedagógicas como o construtivismo, como se isto fosse um pecado cometido pelo professor, devido a uma interpretação equivocada do docente e consequentemente aplicada desastrosamente trouxe aos alunos que vivenciaram este período, incertezas e tropeços na elaboração de cálculos elementares. Um exemplo é a falta de estruturação da tabuada: quando não memorizada adequadamente, deixa lacunas nos processos subseqüentes. (Marco Antonio Moreira1) deixa claro que: “Na sala de aula, o construtivismo tem sido confundido com método construtivista, ou com aprendizagem por descoberta, ou ainda, o que é pior, com simples atividades manipulativas. Crê-se, ingenuamente que só por estar manipulando coisas o aluno está construindo. Construtivismo não é isto.” A banalização das conseqüências que a falta da estruturação cognitiva auzubeliana1, poderia trazer ao aprendizado, parece a mesma que estão querendo introduzir, com o uso da calculadora. Sugere-se e ratifica-se a pergunta: que efeitos positivos o uso da calculadora na sala de aula ou nas tarefas escolares poderiam trazer ao pensamento lógico matemático? As conseqüências podem ser percebidas longe dos bancos escolares, em situações do dia a dia, como por exemplo, balconistas que não sabem fazer uma simples adição sem se utilizar da calculadora ou, estudantes do ensino médio que não sabem tabuada e erram em cálculos básicos, muito embora possam ter entendido e equacionado o problema. 1 Marco Antonio Moreira. Teorias da Aprendizagem. Editora Pedagógica Universitária: São Paulo. 2 Originário de Ausubel. I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1142 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Aprendizagem Significativa e a Neurociência A prática do cálculo mental foi muito comum na escola nas décadas de 30 até 60 e acabou se perdendo na medida em que, de forma intuitiva, a julgaram desnecessária. O facilitar neste caso, trouxe prejuízo ao raciocínio lógico e à expansão das inteligências, gerando alienação e lentidão mental. Estes fatos que continuam se repetindo, quando se oferece ou se permite que crianças de segunda, terceira, quarta séries do ensino fundamental utilizem as calculadoras para cálculos básicos e tabuadas. No entanto em situações de cálculos ensinados e utilizados em séries posteriores a quarta série do ensino fundamental, como no cálculo com radicais e muitos outros, a calculadora pode levar o aluno a um melhor entendimento e abertura de raciocínio. Porém, neste caso percebe-se que os alunos não sabem se utilizar dela e ficam limitados apenas a cálculos elementares. Os estudos da neurociência e seu entrelaçamento com a matemática vêm em auxílio de novas práticas pedagógicas, porque ao conhecer o cérebro e seu funcionamento pode-se entender a finalidade de certas operações matemáticas, e o que elas representam neurologicamente bem como os efeitos no cérebro humano. Na prática, significa atingir a raiz do problema. Estudos envolvendo a Neurociência e a Matemática não representam novidade para a ciência, pois o Japão, a mais de uma década investe neste tipo de pesquisa através do Ministério da Educação reunindo professores de Matemática e neurocientistas, pesquisando áreas que consideram pilares da ciência para os séculos XX e XXI. Destas áreas, para o século XX se pode citar: a) Conhecer o cérebro (aprender como o cérebro funciona); b) Proteger o cérebro (como repará-lo no caso de lesões); c) Criar um cérebro (construir um computador que funcione do mesmo modo que o cérebro humano), E para o século XXI: d) Desenvolver o Cérebro (pesquisa do novo século). I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1143 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Bases Estruturais do Sistema Nervoso Segundo DAMÁSIO (1996, p.13) “[...] a razão humana depende não de um único centro cerebral, mas de vários sistemas cerebrais que funcionam de forma concertada ao longo de muitos níveis de organização neuronal” A neuroanatomia ou anatomia do sistema nervoso humano torna-se importante neste estudo por delinear desde o nível microscópico dos neurônios individuais (células nervosas) até o nível macroscópico dos sistemas que se estendem sobre o cérebro, e para melhor entender os vários níveis de funcionamento do cérebro bem como um conhecimento pormenorizado de sua geografia. Em ANDRADE et al. (2004, p.37) a organização do sistema nervoso é constituída do tecido nervoso formado por células nervosas “neurônios” e de células de sustentação, as células da neuroglia. FIORI (2008, p.21) ao classificar o sistema nervoso, o fez sob dois aspectos: microscópico refere-se ao tecido nervoso, mais especificamente às células, constituído por dois tipos de células- as células nervosas- estimadas em mais ou menos 100 bilhões (ou neurônios) constituem o substrato de base da transmissão da informação nervosa, são as células essenciais na atividade cerebral e as células gliais (a neurologlia), mais numerosas ainda, necessárias a essa transmissão. Sob o ponto de vista macroscópico refere-se às grandes subdivisões do sistema nervoso relacionadas ao seu funcionamento, a primeira diz respeito ao sistema nervoso central, que engloba o cérebro propriamente dito, o tronco cerebral, o cerebelo e a medula espinhal – o sistema nervoso periférico que compreende: os nervos cranianos, os nervos raquidianos e o sistema nervoso autônomo. (idem) Os neurônios Entende-se neste trabalho a importância em detalhar mais sobre os neurônios, pois os fenômenos ligados à aprendizagem acontecem no interior dos mesmos com as sinapses. Constituem as células de base do sistema nervoso, veiculam informações entre a periferia do sistema nervoso central e entre suas diversas regiões, permitem retirar a informação do ambiente, agir sobre ele, são responsáveis pelo pensamento, memorização, antecipação e I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1144 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT programação de ações. São células excitáveis e excretoras (se comunicam entre si pelas sinapses) têm tamanhos e formatos variados, os que têm a mesma forma têm as mesmas propriedades funcionais e se encontram em grandes quantidades numa mesma região, importante destacar que a morfologia dos neurônios permite a identificação e a distinção das diferentes regiões do sistema nervoso. Possuem três componentes importantes: corpo celular (ou soma) também chamado de pericário, uma fibra principal de saída chamada de axônio (prolongamento longo e único) dividindo-se em sua extremidade em finas ramificações (ramificações axonais ou terminações sinápticas) sua função é conduzir os impulsos nervosos e repassá-los a outras células, na maioria dos vertebrados são revestidos pela bainha de mielina que confere a capacidade de conduzir os impulsos nervosos em uma velocidade muito mais alta do que as fibras amielínicas. E finalmente as fibras de entrada também conhecidas como dendritos (prolongamento curto) são prolongamentos múltiplos, geralmente ramificados que junto ao corpo celular constitui-se na parte do neurônio receptora de informações das outras células nervosas. (ANDRADE et al., 2004, p.37; DAMÁSIO, 1996, P.51; FIORI, 2008, p.22) Figura 1 - Neurônio multipolar com axônio meielinizado. (Fonte: Reproduzido de Corenza, RM (1998). Fundamentos de Neuroanatomia, 2ª edição. Editora Guanabara Koogan, RJ.) apud (Andrade et al., 2004, p. 38) I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1145 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Figura 2 - Visão esquemática de neurônio recebendo variadas terminações sinápticas (A, B, C). A: sinapse inibitória; B e C: sinapses excitatórias. (Reproduzido de Cosenza, R.M. (1998). Fundamentos de Neuroanatomia, 2ª ed. Editora Guanabara Koogan, RJ) apud (ANDRADE et al., 2004, p. 38) Em FIORI (2008) existem vários tipos de neurônios que diferem entre si pela morfologia, no entanto, têm as mesmas propriedades funcionais e se encontram numa mesma região do sistema nervoso o que não quer dizer que numa determinada região do sistema nervoso não existam tipos diversos de neurônios, porém os de mesmo tipo estão em maior quantidade. Quanto aos prolongamentos os neurônios estão divididos em três categorias: neurônios multipolares, neurônios bipolares e os neurônios pseudomonopolares. Podem também ser classificados pelo tamanho: células pequenas (estreladas, granuladas) e células grandes (piramidais, de Purkinje); finalmente são classificados conforme a função: neurônios aferentes ou sensoriais são do tipo bipolar ou pseudomonopolar; os neurônios eferentes compreendem os grandes neurônios multipolares que são os motoneurônios e os neurônios de associação ou interneurônios que garantem as ligações entre as diferentes regiões do sistema nervoso central, sendo a categoria mais numerosa. I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1146 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Figura 3 - Representação esquemática de um neurônio e diferentes tipos de neurônios (Fonte: FIORI, 2008, p. 24) A expansão deste estudo em todo o mundo abre novos horizontes em todas as áreas do saber, as declarações de Andréas Schleicher, (2008, n.31, p.21) ao convidar os pedagogos e professores a entrarem em contato com os neurocientistas, para melhorarem suas práticas, reforça a sua importância e a certeza de que esta ciência do uso do cérebro necessita fazer parte de estudos no mundo todo. Membros do grupo de pesquisadores do Centro de Pesquisas Integradas da Ciência e Tecnologia do Futuro da Universidade de Tohoku - Japão ressaltam a seriedade da Matemática como veículo propulsor e facilitador das sinapses cerebrais. Estes pesquisadores destacam que o cálculo básico quando realizado mentalmente pode desenvolver o cérebro do estudante, fazendo novos impulsos elétricos cerebrais e conseqüentemente aumentando a inteligência. Segundo Dr KAWASHIMA pesquisas neurológicas, os efeitos no cérebro dos discentes referentes a utilização das calculadoras e dos brinquedos eletrônicos substituem o tempo reservado para as tarefas escolares (Info Educação3): “Quando as crianças estão estudando matemática concentradamente, no caso do teste de Kraepelin (teste meticuloso onde se deve adicionar números de um algarismo continuamente por 30 minutos), estão estimulando seus cérebros mais 3 Instituto Kumon de Educação. O Navegante Kumon. Japão: Material Development Division, jul/2001, p.3. I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1147 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT que se estivessem jogando vídeo game, pois os dois hemisférios direito e esquerdo da região do lobo frontal estavam intensamente ativos, aparecendo nos exames esta área mais vermelha devido à circulação intensa do sangue na região. No jogo de vídeo game, a maior atividade se dava na região do lobo occipital, que é responsável pela visão, e que os neurônios do lobo frontal que controlam os movimentos, estavam pouco ativos e não intensamente ativos”. O cérebro dos adultos e o das crianças possui a mesma estrutura, só diferem no tamanho e no desenvolvimento das fibras nervosas. Os neurônios dos adultos, que são células transmissoras de informações através de suas fibras nervosas estão espalhadas pela massa branca, possuem densidade maior por já terem estabelecido maior quantidade de sinapses, fato que ocorrerá também com as crianças, não pelo aumento do número de neurônios, mas pelas ligações entre eles, resultando no desenvolvimento do cérebro humano. A valorização das situações-problema pela escola atual, incluindo os problemas geométricos são válidas ao aprendizado, porém não deve vir antes do aluno ser capaz de realizar mentalmente as operações. Neste caso, o treino do cálculo mental estaria facilitando a resolução dos problemas influenciando no raciocínio lógico. De acordo com a continuidade das pesquisas, Kawashima (2001, p.4) concluiu o seguinte: os problemas geométricos e os de labirinto, que devido ao esforço de interpretação e raciocínio lógico deveriam ativar mais o cérebro, porém só ativam o hemisfério direito deste e não os dois como se esperava, ao contrário dos cálculos simples de soma de números com apenas um algarismo que ativaram os dois hemisférios intensamente. Na continuidade das pesquisas foi realizada uma nova experiência com Ressonância Magnética Funcional (MRI), que difere do PET por usar forças magnéticas e materiais não radioativos, pois possibilitam ver plenamente todas as atividades do cérebro. Alunos do ensino fundamental, do método Kumon de Matemática, e alunos universitários foram submetidos a cálculos de adição e subtração. Os cérebros dos universitários, na região do lobo frontal, tanto no hemisfério direito, quanto no esquerdo, apresentaram intensa atividade, o mesmo acontecendo com as crianças do Ensino Fundamental, afinal o padrão difere um pouco do adulto, mas nota-se que as regiões ativas são as mesmas. Constatou-se que cálculos básicos simples ativaram os cérebros das crianças, dos universitários e até mesmo de professores universitários em várias regiões, mais especificamente no hemisfério direito. A região do cérebro que trabalha com os números é o córtex temporal inferior e também é a área que controla o pensamento. Nas duas situações foi a mais ativa quando as pessoas realizavam cálculos. Quando estavam resolvendo problemas com enunciados a única diferença foi no lobo occipital, que controla a I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1148 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT visão. Este estava mais ativo e isto é devido às exigências de leitura e análise, conforme ilustra a figura I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1149 4. ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Figura 4 - Áreas cerebrais de ativação de acordo com as operações matemáticas (adaptado do Jornal Kumon de Info-Educação, 2001) I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1150 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT Conclusão Defende-se a ação mental como o centro da construção do conhecimento lógico matemático. O raciocínio lógico matemático se dá através de construção gradativa, como bem explica a psicologia genética, a epistemologia genética a pedagogia e a neurociência como a ciência do momento. A construção do conhecimento é uma ação contínua em que a atividade do sujeito se apóia nas estruturas cognitivas pré-existentes. Construir conhecimento não é apenas conhecer novos conteúdos, mas fundamentalmente provocar uma reestruturação mental, face às estruturas de assimilação. Há um engano em pensar que o conhecimento é puramente fruto de experiências ou práticas, mas será fonte de aprendizagem se levar o aprendiz a operar, coordenar suas idéias e ações, abstrações, formalizações que o levem a uma reestruturação intelectual na resolução de problemas que exigem síntese e análise. As contribuições da neurociência comprovam os efeitos que o cálculo mental exerce sobre os cérebros humanos e abre definitivamente de questionamentos sobre o momento ideal para introduzir, como exemplo o uso da calculadora e jogos eletrônicos como tecnologia de apoio ao ensino da Matemática e do desenvolvimento do raciocínio matemático. O resultado prático do desleixo com cálculo mental à partir da década de 80 produziu uma geração de jovens, os quais depositam muita confiança na tecnologia e se mostram totalmente inseguros com o próprio raciocínio lógico e matemático quando estes são exigidos. Não se é contrário aos benefícios ganhos com a utilização da tecnologia, como exemplo a calculadora, e o auxílio que prestam na “nova era” ao ensino da Matemática, mas favoráveis à sua introdução como parte do currículo de matemática para o aprendizado de sua operalização. A aprendizagem matemática é mais do que assimilar conteúdos escolares, ela leva a ampliação dos conhecimentos e, sobretudo melhora as estruturas intelectuais do educando, gerando concentração, estimulando a cognição e aumentando a capacidade de percepção nas demais áreas do conhecimento. Referências I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 Página: 1151 ISBN: 978-85-7014-048-7 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT ANDRADE, Vivian M.; SANTOS, Flávia H. dos; BUENO, Orlando. F. A. Neuropsicologia Hoje. São Paulo: Artes Médicas, 2004. DAMÁSIO, Antonio R.; O erro de Descartes: emoção razão e o cérebro humano. São Paulo: Editora Schwarcz LTDA, 1996. FIORI, Nicole; As neurociências cognitivas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. JAIME, Fausto. A Revolução da Aprendizagem. Um sistema de aprendizagem para o desenvolvimento do cérebro e a expansão da mente. Goiânia: Kelps, 2001. LANNSHERE, Gilbert. La Investigacion Educativa Em El Mundo. Fondo De Cultura Economica, 1996. GARDNER, H. Estruturas da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994. INSTITUTO KUMON DE EDUCAÇÃO. O Navegante Kumon. Japão: Material Development Division, jul/2001. 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