COMISSÃO

Propaganda
1
COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
PROJETO DE LEI N.º 3.998, de 2012
Altera a Lei nº 9.656, de 3 de junho
de 1998, que "dispõe sobre os planos e
seguros privados de assistência à saúde",
para incluir os tratamentos antineoplásicos
de uso oral entre as coberturas obrigatórias.
Autora: Senadora ANA AMÉLIA
Relator: Deputado REGUFFE
I – RELATÓRIO
O presente projeto de lei, de autoria da ilustre Senadora
Ana Amélia, altera a Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998, que "dispõe sobre os
planos e seguros privados de assistência à saúde", para incluir os tratamentos
antineoplásicos de uso oral entre as coberturas obrigatórias.
O objetivo da proposição consiste em determinar que seja
coberto pelos planos de saúde que incluem atendimento ambulatorial o
tratamento de quimioterapia oncológica domiciliar de uso oral, inclusive
medicamentos para o controle de efeitos adversos relacionados ao tratamento e
adjuvantes. No caso dos planos que incluem internação hospitalar, obriga a
cobertura
para
quimioterapia
oncológica
ambulatorial
e
domiciliar,
procedimentos radioterápicos para tratamento de câncer e hemoterapia, com
vistas a garantir a continuidade da assistência prestada na internação hospitalar.
2
Argumenta a Justificação do Projeto que "diferentemente do
que ocorria há dez anos, atualmente cerca de quarenta por cento dos
tratamentos oncológicos emprega medicamentos de uso domiciliar, em
substituição àqueles feitos sob regime de internação hospitalar ou ambulatorial,
estimando-se que, daqui a quinze anos, oitenta por cento dos tratamentos
oncológicos serão feitos no domicílio do paciente, com medicamentos
antineoplásicos de uso oral."
O Projeto foi aprovado por unanimidade pela Comissão de
Assuntos Sociais do Senado Federal em caráter terminativo. Recebido nesta
Casa, a Mesa Diretora determinou a apreciação em caráter conclusivo, em
regime de prioridade, pelas Comissões de Defesa do Consumidor (CDC);
Seguridade Social e Família (CSSF); e Constituição e Justiça e de Cidadania
(CCJC).
Nesta Comissão de Defesa do Consumidor (CDC) fomos
incumbidos de relatar o mencionado projeto, ao qual, no prazo regimental, não
foram apresentadas emendas.
É o relatório.
II – VOTO DO RELATOR
A proposição ora em relato guarda estrita pertinência com a
principiologia essencial de nossa moldura constitucional e da legislação
consumerista dela derivada, que preconiza, no art. 4º, III, do Código de Defesa
do Consumidor, como objetivo precípuo da Política Nacional de Relações de
Consumo, “a harmonização dos interesses dos participantes das relações de
consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios
nos quais se funda a ordem econômica”.
3
De 2000 a 2012 o número de beneficiários de planos de
saúde cresceu de 30 milhões para 48 milhões, aproximadamente 1. Para se ter
uma boa ideia da dimensão do mercado suplementar da saúde, o número de
beneficiários de planos de saúde no Brasil equivale hoje a toda população da
Espanha e mais de quatro vezes a população de Portugal.
Segundo pesquisa DataFolha, o 2º principal sonho de
consumo da classe C brasileira é um plano de saúde, ficando atrás apenas da
casa própria2.
Durante a tramitação da presente proposição na Comissão
de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal, ficou clara a urgente necessidade
de se promover a alteração da Lei 9.656, de 3 de junho de 1998, a fim de
garantir aos beneficiários de planos privados de assistência à saúde a mesma
abrangência de cobertura para tratamento oncológico que lhes era assegurada
quando da promulgação daquela norma.
Isso porque, conforme amplamente debatido durante
audiência pública realizada na CAS do Senado Federal em 15 de dezembro de
2011, quando da promulgação da Lei 9.656, de 3 de junho de 1998,
praticamente todos os tratamentos oncológicos eram realizados em ambiente
ambulatorial e/ou hospitalar e, desde a sua origem, a referida norma garantiu
aos beneficiários de planos de saúde cobertura integral para tratamento
oncológico ambulatorial e hospitalar, deixando de fora o tratamento domiciliar.
De lá para cá, contudo, as tecnologias em saúde se
desenvolveram e, hoje, cerca de 40% dos tratamentos antineoplásicos são de
uso oral em domicílio; estima-se que no prazo de 10 anos, serão 80%.
1
2
Fonte: www.ans.gov.br
http://www.iess.org.br/informativosiess/14.htm
4
Aproveitando-se de uma lacuna na legislação, que não
previu os avanços tecnológicos no universo da oncologia clínica, grande parte
das operadoras de planos de saúde vem se furtando do dever de garantir o
necessário tratamento oncológico aos consumidores de planos de saúde,
notadamente quando são prescritas drogas antineoplásicas de uso oral em
domicílio, uma vez não se tratar de terapia ambulatorial ou hospitalar.
Isso vem obrigando pacientes já fragilizados a ingressarem
com ações judiciais para ter acesso aos novos tratamentos orais, ações essas
invariavelmente julgadas procedentes, ou seja, a favor do consumidor. Alguns
Tribunais, inclusive, já criaram súmula nesse sentido, a exemplo do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo (Súmula 95: Havendo expressa indicação
médica, não prevalece a negativa de cobertura do custeio ou fornecimento de
medicamentos associados a tratamento quimioterápico).
Além do prejuízo causado ao consumidor beneficiário de
planos de saúde, a problemática ora apresentada tem causado impacto negativo
ao Sistema Único de Saúde, que acaba por receber a demanda reprimida dos
planos de saúde, gerando mais custos para o sistema público, o qual já enfrenta
uma crise financeira sem precedentes na história, em manifesto prejuízo aos
mais de 140 milhões de brasileiros que dependem exclusivamente desse sistema
para fins de assistência médica.
Estima-se que o SUS poderia economizar 175 milhões de
reais se os planos de saúde cobrissem os tratamentos antineoplásicos de uso
oral em domicílio3. Com essa economia seria possível adquirir 58 equipamentos
de radioterapia, umas das principais carências do sistema público de saúde, ou
construir 580 postos de saúde.
A imprensa já mostrou em inúmeras oportunidades que
muitas operadoras de planos de saúde, ao negarem a cobertura de tratamento
3
http://www.senado.gov.br/atividade/plenario/sessao/disc/getTexto.asp?s=073.2.54.O&disc=38/1/S
5
antineoplásico de uso oral em domicílio, orientam seus beneficiários a entrarem
com ações judiciais contra o SUS para ter acesso a drogas orais de uso
domiciliar4.
Organizações de defesa e garantia dos direitos do paciente
com câncer tentaram, sem sucesso, sensibilizar a Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) quanto à necessidade de incluir o tratamento antineoplásico
de uso oral em domicílio no rol dos procedimentos e eventos em saúde de
cobertura obrigatória, atualizado periodicamente. No entanto, a própria ANS
sustenta não ter competência legal para obrigar as operadoras de planos de
saúde a cobrir o procedimento. Segundo a Agência, o artigo 10, inciso VI, da Lei
nº 9.656/1998, excetua dentre as coberturas obrigatórias o fornecimento de
medicamentos para tratamento domiciliar.
Por outro lado, merece destaque o fato de que a
quimioterapia oral feita em casa oferece vantagens substanciais ao paciente,
tanto físicas como emocionais, evita o risco de infecção hospitalar, proporciona
maior adesão, e facilidades, vez que não tem que alterar a sua rotina, não
precisa gastar com transporte nem ter alguém disponível para acompanhá-lo à
unidade de saúde.
Por fim, estudos mostram que a cobertura do tratamento
antineoplásico de uso oral em domicílio reduziria a utilização dos serviços de
saúde e, consequentemente, os próprios custos das operadoras de planos de
saúde a médio prazo5.
Resta, evidente, pois, a necessidade de se alterar a Lei nº
9.656/98 para garantir a cobertura de tratamentos antineoplásicos de uso oral
domiciliar entre as coberturas obrigatórias.
4
5
http://bit.ly/fKiEbg
J Bras Econ Saúde 2012;42-48
6
Cumpre fazer, no entanto, um pequeno reparo no que tange
à redação do projeto de lei. É que o objetivo da proposição constitui-se na
cobertura de tratamentos antineoplásicos de uso oral domiciliar (tal como consta
da ementa da proposição), ainda hoje não cobertos pelos planos de saúde.
Dessa forma faz-se
necessário
substituir as
expressões
“quimioterapia
oncológica domiciliar de uso oral” e “quimioterapia oncológica ambulatorial e
domiciliar” pelas expressões “tratamentos antineoplásicos domiciliares de uso
oral” e “tratamentos antineoplásicos ambulatoriais e domiciliares de uso oral”.
Tal adequação da redação se justifica para evitar ambiguidade de interpretação
quanto ao verdadeiro sentido da norma.
Por esse motivo, votamos pela aprovação do Projeto de Lei
n. 3998, de 2012, com a emenda desse relator que se segue.
Sala da Comissão, em
Deputado REGUFFE
PDT/DF
Relator
de
de 2012.
7
PROJETO DE LEI N.º 3.998, de 2012
Altera a Lei nº 9.656, de 3 de junho
de 1998, que "dispõe sobre os planos e
seguros privados de assistência à saúde",
para incluir os tratamentos antineoplásicos
de uso oral entre as coberturas obrigatórias.
EMENDA DE RELATOR
Dê-se ao art. 1º do projeto a seguinte redação:
“Art. 1º A Lei nº 9.656, de 03 de junho de 1998, paqssa a vigorar
com as seguintes alterações:
“Art.10. ..................................................................................
..............................................................................................
VI – fornecimento de medicamentos para tratamento domiciliar,
ressalvado o disposto nas alíneas c do inciso I e g do inciso II do art.
12;
.....................................................................................” (NR)
“Art. 12. .................................................................................
I - .........................................................................................
.............................................................................................
c) a cobertura de tratamentos antineoplásicos domiciliares de uso oral,
8
incluindo medicamentos para o controle
relacionados ao tratamento e adjuvantes;
de
efeitos
adversos
II - .....................................................................................
g) cobertura para tratamentos antineoplásicos ambulatoriais e
domiciliares de uso oral, procedimentos radioterápicos para tratamento
de câncer e hemoterapia, na qualidade de procedimentos cuja
necessidade esteja relacionada à continuidade da assistência prestada
em nível de internação hospitalar;
..........................................................................” (NR)
Sala da Comissão, em
de
Deputado REGUFFE
PDT/DF
Relator
de 2012.
Download