Fármacos Anti-Helminticos

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ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA
24) Fármacos anti-helmínticos
filarioses causam obstrução dos vasos linfáticos, produzindo
elefantíase; outras doenças relacionadas incluem a
oncocercíase (cegueira devido microfilárias presentes no
olho) e aloíase (inflamação da pele e outros tecidos).
Os seres humanos constituem os hospedeiros primários
(definitivos) na maioria das infecções helmínticas; em outras
palavras, os helmintos, em sua maioria, têm a sua
reprodução sexual no hospedeiro humano, produzindo ovos
ou larvas que são eliminados do corpo e infectam o
hospedeiro secundário (intermediário).
Alguns nematódeos que vivem habitualmente no trato
gastrintestinal de animais podem infectar os seres humanos
e penetrar nos tecidos. Uma infestação cutânea, denominada
“erupção serpiginosa” ou “larva migrans cutânea”, é causada
pelas larvas dos ancilóstomos de gatos e cães. A toxiocaríase
ou “larva migrans visceral” é causada por larvas de
nematódeos de gatos e cães do gênero Toxocara.
Existem dois tipos clinicamente importantes de
infecções por helmintos: infecções em que o verme vive no
tubo digestivo do hospedeiro e aquelas em que o verme
estabelece residência em outros tecidos do hospedeiro.
Os principais exemplos de verme que vivem no tubo
digestivo do hospedeiro são:
Farmacos anti-helminticos:
Uma droga, para ser considerado fármaco antihelmíntico eficaz, precisa ser capaz de penetrar na cutícula
do verme ou ter acesso a seu trato alimentar.
- Tênias (Taenia saginata, Taenia solium, etc.): os
hospedeiros habituais dessas duas tênias mais comuns são o
gado bovino e o suíno, respectivamente. Os seres humanos
tronam-se infectados ao consumir carne crua ou mal cozida
contendo as larvas que se encistaram no tecido muscular do
animal. Em algumas circunstâncias, pode ocorrer
desenvolvimento do estágio larvar de Taenia solium nos
seres humanos, resultando em cisticercose, uma doença
caracterizada por larvas encistadas nos músculos e nas
vísceras ou, nos casos mais graves, nos olhos ou no cérebro.
O anti-helmíntico pode atuar ao produzir paralisia do
verme ou ao lesar a sua cutícula, resultando em digestão
parcial ou rejeição do verme por mecanismos imunológicos.
Os agentes anti-helmínticos podem também interferir no
metabolismo do verme e, como as necessidades
metabólicas desses parasitas variam acentuadamente de uma
espécie para outra, as drogas que se mostram altamente
eficazes contra determinado tipo de verme podem ser
ineficazes contra outros tipos.
- Nematódeos intestinais tais como Ascaris lubricoides,
Enterobius vermiculares, Trichuris trichiuria, Strongiloydes
stercolaris, Necator americanus e Ankyslostoma duodenale
são responsáveis por um número muito grande de infecções.
Muitos agentes anti-helmínticos modulam a atividade
neuromuscular dos parasitas através do aumento da
sinalização inibitória, do antagonismo da sinalização
excitatória (bloqueio não despolariante) ou da estimulação
tônica da sinalização excitatória (bloqueio despolarizante).
Os principais exemplos de vermes que vivem nos
tecidos do hospedeiro são:
- Trematódeos (Schistosomas) causam esquistossomose. Os
vermes adultos de ambos os sexos vivem e acasalam-se nas
veias ou vênulas da parede intestinal ou da bexiga. A fêmea
põe ovos que passam para bexiga ou o intestino e causam
inflamação desses órgãos, resultando em hematúria no
primeiro caso e, em certas ocasiões, em perda de sangue nas
fezes, no segundo caso. Os ovos eclodem na água após
serem eliminados do organismo e liberam miracídios, que
penetram no hospedeiro secundário – uma determinada
espécie de caramujo. Depois de um período de
desenvolvimento neste hospedeiro, surgem as cercárias que
nadam livremente. Estas possuem a capacidade de infectar o
homem ao penetrar na sua pele.
Benzimidazóis:
Os anti-helmínticos benzimidazóis incluem o
mebendazol, tiabendazol e o albendazol. Esses compostos
são agentes de amplo espectro, que formam um dos
principais grupos de anti-helmínticos utilizados na clínica.
Mecanismo de ação:
Os benzimidázois ligam-se à beta-tubulina livre,
inibindo a sua polimerização e, assim, interferem na
captação de glicose dependente de microtúbulos. Exercem
ação inibitória seletiva sobre a função microtubular dos
helmintos, sendo 250 – 400 vezes mais potentes nos
helmintos do que nos tecidos de mamíferos. O efeito leva
algum tempo para se manifestar, e os vermes podem não ser
expelidos durante vários dias.
- Nematódeos teciduais (Trichinella spiralis, Dracunculus
medinensis e as filárias).
As filárias adultas vivem nos vasos linfáticos, no tecido
conjuntivo ou no mesentério do hospedeiro e produzem
embriões vivos ou microfilárias, que alcançam a corrente
sanguínea. Depois de certo período de desenvolvimento no
interior do hospedeiro intermediário (mosquitos ou outros
hematófagos), as larvas passam para as peças bucais do
inseto e são reinjetadas nos seres humanos. As principais
O mebendazol é administrado em dose única para os
oxiúrus e duas vezes ao dia durante três dias para as
infecções por ancilóstomos e nematódeos. Seus efeitos
indesejáveis são poucos, todavia em certas ocasiões, podem
ocorrer distúrbios gastrintestinais.
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Marcelo A. Cabral
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O tiabendazol é administrado duas vezes ao dia,
durante três dias, para infestações por Dracunculus e por
estrongilóides, e por um período de até cinco dias para
triquinose e para a larva migrans cutânea. Os efeitos
colaterais com o tiabendazol são mais freqüentes do que
com o mebendazol, porém geralmente transitórios; os mais
comuns incluem distúrbios gastrintestinais, embora se tenha
relatado a ocorrência de cefaléia, tonteira e sonolência,
podendo ocorrer reações alérgicas.
Pirantel
Acredita-se que o pirantel atue ao despolarizar a junção
neuromuscular dos helmintos, causando espasmo e paralisia.
Este fármaco é geralmente considerado droga segura. Os
efeitos indesejáveis são leves e consistem principalmente em
distúrbios gastrintestinais. O pirantel foi substituído, em
grande parte, pelos benzimidazóis.
O albendazol, o benzimidazol mais recentemente
introduzido no mercado, é um anti-helmíntico de amplo
espectro. É administrado por via oral. A concetração
plasmática do metabólito ativo é 100 vezes maior do que a
do mebendazol. Os efeitos indesejáveis – principalmente
distúrbios gastrintestinais – não são comuns e, em geral, não
exigem a interrupção do fármaco.
Niclosamida
A niclosamida era a droga de escolha para o tratamento
da teníase; todavia, foi em grande parte suplantada pelo
praziquantel.
Mecanismo de ação:
A niclosamida lesa irreverssivelmente o escólex
(cabeça do verme com órgãos que se fixam às células
intestinais do hospedeiro) e o segmento proximal. O verme
separa-se da parede intestinal e é expelido.
Praziquantel
O praziquantel é um anti-helmíntico de amplo
espectro. Trata-se da droga de escolha para o tratamento de
todas as espécies de esquistossomo, sendo eficaz na
cisticercose, que antigamente não tinha tratamento eficaz.
Para a T. solium a droga é administrada em dose única
após uma refeição leve, seguida de purgativo duas horas
mais tarde. O purgativo se faz necessário porque os
segmentos lesados da tênia podem liberar ovos, que não são
afetados pelo medicamento, existindo, portanto, uma
possibilidade teórica de desenvolvimento de cisticercose.
Para outras infecções por tênias, não há necessidade de se
administrar um purgativo após a administração da
niclosamida. Os efeitos indesejáveis são poucos,
infrequentes e transitórios. Podem ocorrer náuseas e
vômitos.
Mecanismo de ação:
O praziquantel atua ao alterar a homeostasia do cálcio
nas células do verme. Isso provoca contração da musculatura
e, por fim, resulta em paralisia e morte do helminto.
O praziquantel afeta não apenas os esquitossomos
adultos, como também as formas imaturas e as cercárias – a
forma do parasita que infecta o homem ao penetrar na sua
pele. Por outro lado, ele não exerce nenhum efeito
farmacológico no homem na posologia indicada.
Oxamniquina
Ocorrem efeitos indesejáveis leves que consistem em
distúrbios gastrintestinais, tonteira, dor muscular e articular,
erupções cutâneas e febre baixa.
A oxamniquina mostra-se ativa contra Schistossoma
mansoni, afetando as formas maduras quanto imaturas. O
mecanismo de ação pode envolver a intercalação no DNA, e
sua ação seletiva pode estar relacionada com a capacidade
de o parasita concentrar a droga.
Piperazina
A piperazina pode ser utilizada no tratamento de
infecções pela lombriga e pelo oxiúrus.
Os efeitos indesejáveis consistem em tonteira e cefaléia
transitórias, cuja ocorrência é relatada em 30 – 95% dos
pacientes. Podem ocorrer sintomas causados pela
estimulação do SNC, incluindo alucinações e episódios
convulsivos.
Mecanismo de ação:
A piperazina inibe reversivelmente a transmissão
neuromuscular no verme, provavelmente ao atuar como o
GABA, o neurotransmissor inibitório sobre os canais de
cloreto operados por GABA no músculo do nematódeo. Os
vermes paralisados são expelidos ainda vivos.
Levamisol
O levamisol mostra-se eficaz nas infecções por
lombriga. Exerce ação semelhante à da nicotina,
estimulando e, posteriormente, bloqueando as junções
neuromusculares. Os vermes paralizados são então
eliminados nas fezes. Os ovos são destruídos.
A piperzina é administrada por via oral. Seus efeitos
indesejáveis são raros; todavia em certas ocasiões, ocorrem
distúrbios gastrintestinais, urticária e broncoespasmo, e
alguns pacientes apresentam tonteira, parestesias, vertigem e
descoordenação. Quando utilizada no tratamento de
infecções por nematódeos, é usada em dose única. Para os
oxiúros, é necessário um curso mais prolongado (sete dias)
com doses menores. A piperazina foi susbtituida, em grande
parte, pelos benzimidazóis.
O levamisol atravessa a barreira hematoencefálica. Os
efeitos indesejáveis são poucos. Consistem em distúrbios
gastrintestinais, tonteira e erupções cutâneas.
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Marcelo A. Cabral
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Ivermectina
Mecanismo de ação:
A ivermectina é um agente semi-sintético derivado de
um grupo de substâncias naturais, as avermectinas, obtidas
de um actinomiceto. Esse fármaco possui potente atividade
anti-helmíntica contra microfilárias no homem, constituindo
a droga de escolha no tratamento da oncocercose, que causa
a “cegueira dos rios”. Porém, a droga não mata as filarias
dultas. O fármaco é empregado para prevenir a lesão ocular
mediada pelas microfilárias e diminuir a transmissão entre
seres humanos e vetores, entretanto, não tem a capacidade
de curar o hospedeiro humano com infestação por
Onchocerca volvulus.
Acredita-se que a droga paralisa o verme ao abrir os
canais de cloreto mediado pelo GABA e ao aumentar a
condutância do cloreto regulada pelo glutamato. O resultado
consiste em bloqueio da transmissão neuromuscular e
paralisia do verme.
A iermectina não interage com os receptores de GABA
nos vertebrados, porém a sua afinbidade pelos receptores
GABA dos invertebrados é de cerca de 100 vezes maior. Os
cestódeos e os trematódeos carecem de receptores de
ivermectina de alta afinidade, o que pode explicar a
resistência desses organismos ao fármaco. A ivermectina
não atravessa a barreira hematoencefálica, motivo pelo qual
também não atua sobre os receptores gabaergicos humano.
Como a ivermectina não é curativa, é tipicamente
administrada a indivíduos infestados a cada 6 a 12 meses
para a espectativa de vida dos vermes adultos (de 5 a 10
anos).
Os efeitos adversos da ivermectina são habitualmente
atribuídos a respostas inflamatórias ou alérgicas às
microfilárias que estão morrendo (reação de tipo Mazzoti) e
consistem em erupções cutâneas, febre, tonteira, cefaléia e
dores musculares, articulares e nos linfonodos, fraqueza, dor
abdominal e hipotensão. Em geral, a droga é bem tolerada.
A droga também produziu bons resultados na infecção
por Wuchereria bancrofti, que causa elefantíase.
A ivermectina reduz em até 80% a incidência da
cegueira por oncocercose. A droga também exibe atividade
contra infecções por alguns nematódeos: ascaris, trichuris,
enterobios, mas não contra os ancilóstomos.
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Referências Bibliográficas
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