Área: Ciências da Vida – CV ESTUDO DA ASSOCIAÇÃO DA MUTAÇÃO CCR5 Δ32 COM O RISCO DE CÂNCER DE PRÓSTATA NO ESTADO DO PIAUÍ Natan Antônio Batista de Sousa (Bolsista PIBIC/CNPq), Giovanny Rebouças Pinto (Orientador, Curso de Biomedicina/UFPI) Introdução O câncer de próstata é o tumor maligno mais comum do aparelho genital masculino e corresponde a cerca de 10% do total de cânceres no mundo, sendo considerado um importante problema de saúde pública mundial (STASIEWICZ et al., 2012). No Brasil, é o mais incidente entre os homens nas regiões Sudeste e Nordeste, sendo o mais incidente no Piauí (INCA, 2012). É uma doença multifatorial, resultante da combinação de fatores de risco ambientais e genéticos. Estudos tem mostrado que mutações em genes que codificam os diversos componentes do sistema imunológico podem estar implicadas no processo do desenvolvimento neoplásico (COUSSENS E WERB, 2010). Destacam-se os genes dos receptores de quimiocinas, que medeiam a quimiotaxia de células de defesa especializadas, um importante mecanismo de defesa contra o processo de carcinogênese. Mutações nesses genes, tal como a mutação CCR5 Δ32, que corresponde à deleção de 32 pares de base no gene do receptor de quimiocinas CCR5, podem interferir em funções gerais e/ou específicas do sistema imune e consequentemente aumentar a susceptibilidade ao câncer (ZAMBRA et al., 2013; ROGERS et al., 2013). Com base nisso, este estudo objetivou analisar a associação entre a mutação CCR5 Δ32 e o risco de câncer de próstata em uma população do Estado do Piauí. Metodologia Realizou-se um estudo caso-controle envolvendo 78 pacientes com câncer de próstata, diagnosticados no Departamento de Patologia do Hospital São Marcos em Teresina, e 78 controles, representados por idosos saudáveis sem histórico familiar de câncer. O DNA dos indivíduos foi extraído de leucócitos de sangue periférico com o kit Wizard®Genomic DNA Purification (Promega, Madison, WI, USA). A mutação do gene CCR5 foi avaliada por meio da reação em cadeia da polimerase (PCR). Após a amplificação os produtos foram identificados e analisados por meio da eletroforese em gel de poliacrilamida a 10% e as frequências genotípicas e alélicas determinadas por simples contagem. O teste do Qui-quadrado foi utilizado para comparar as frequências entre os grupos estudados. Este estudo teve seu protocolo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí. Resultados e Discussão Dos 78 idosos saudáveis analisados, 75 (96,2%) apresentaram genótipo wt/wt e 3 (3,8%) wt/Δ32, e não foram encontrados nenhum portador do genótipo Δ32/Δ32. De igual forma, entre os 78 pacientes, 75 (96,2%) foram wt/wt e 3 (3,8%) wt/Δ32 e nenhum Δ32/Δ32. Portanto, as frequências genotípicas e alélicas para a mutação CCR5 Δ32 foram praticamente idênticas nos pacientes com Área: Ciências da Vida – CV câncer de próstata e no grupo controle (p = 0,981). De acordo com nossos resultados, não houve associação estatisticamente significativa entre a mutação CCR5 Δ32 e o risco de câncer de próstata na população estudada. ZAMBRA et al. (2013) em um estudo similar a este, em uma população do Rio Grande do Sul, também não verificaram uma associação significativa da mutação CCR5 Δ32 com o câncer de próstata, observando a frequência de 5,1% e de 6,2% para o alelo Δ32 nos grupos caso e controle, respectivamente. No nosso estudo, o alelo Δ32 apresentou uma frequência baixa em ambos os grupos, caso e controle, corroborando com resultados observados em outras populações (GHORBAN et al., 2013; KHORRAMDELAZAD et al., 2013). No entanto, recentemente KUCUKGERGIN et al. (2012) avaliaram a associação da mutação CCR5 Δ32 com o risco de câncer de próstata, bem como suas características clínico patológicas em uma população na Turquia, e apesar de não identificarem o genótipo homozigoto mutante em ambos os grupos caso e controle (resultado similar ao do nosso estudo), verificaram que os indivíduos heterozigotos para a mutação apresentaram um risco de 1,91 vezes maior para o desenvolvimento de câncer de próstata em comparação com os indivíduos homozigotos selvagens. No entanto, a ligação entre a mutação CCR5 Δ32 com a agressividade do tumor de próstata não foi observada, o que pode sugerir que esta mutação não apresente valor prognóstico para a doença. A divergência de resultados entre os diferentes estudos pode ter sido causada por alguns fatores, como diferenças étnicas, exposição a fatores ambientais e o padrão alimentar de cada população estudada, apesar dessa discordância também poder ter sido induzida por diferenças entre os números amostrais ou até mesmo pelas metodologias empregadas em cada estudo (MATEVSKA et al., 2008). Conclusão Nenhuma associação estatisticamente significativa foi encontrada entre a mutação CCR5 Δ32 e o risco de câncer de próstata na população estudada, embora mais estudos sejam necessários para confirmar nossos resultados e assim melhorar nosso entendimento sobre o papel dessa mutação na carcinogênese prostática. Apoio: Universidade Federal do Piauí (UFPI). Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq). Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI). Hospital São Marcos. Referências Bibliográficas Coussens LM, Werb Z. Inflammation and cancer. Nature. 420(6917):860-7, 2010. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Coordenação Geral de Ações Estratégicas, Coordenação de Prevenção e Vigilância. – Rio de Janeiro: Inca, 2011. Disponível em: www.inca.gov.br/estimativas/2012/. Ghorban K, Dadmanesh M, Hassanshahi G, Momeni M, Zare-Bidaki M et al. Is the CCR5 Δ 32 mutation associated with immune system-related diseases? Inflammation. 36(3):633-42, 2013. Khorramdelazad H, Hakimizadeh E, Hassanshahi G, Rezayati M, Sendi H et al. CCR5 Δ 32 mutation is not prevalent in Iranians with chronic HBV infection. J Med Virol. 85(6):964-8, 2013. Área: Ciências da Vida – CV Kucukgergin C, Isman FK, Cakmakoglu B, Sanli O, Seckin S. Association of polymorphisms in MCP-1, CCR2, and CCR5 genes with the risk and clinicopathological characteristics of prostate cancer. DNA Cell Biol. 31(8):1418-24, 2012. 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