Introdução Desde o final de minha infância eu comecei a conviver com as histórias deste livro. No Natal eu ganhava roupas, livros e alguns brinquedos,como miniaturas de "caubóis e índios", sempre. Um belo dia, eu fui na casa de um amigo que tinha "soldadinhos da segunda guerra". Achei lindos e fiquei bem feliz em saber que vendiam em uma galeria perto do colégio que eu estudava. Guardando o dinheiro de algumas "merendas", comprei alguns soldados alemães e uns ingleses. Ao ver com o que eu estava brincando minha mãe disse para eu não deixar meu pai ver aquilo, pois iria reclamar. Perguntei por que e ela disse que ele tinha ido à Guerra e que não gostava de lembrar. Aquilo mexeu comigo: meu pai tinha ido na Guerra! Comecei a ler as enciclopédias que tínhamos em casa e tudo sobre a II Guerra começou a ser descoberto por mim, então com 11 anos. Mas eu queria saber mais, queria conhecer as histórias dele. E, claro, queria mais "soldadinhos"! Tomei coragem e mostrei para ele, junto com um trabalho de História, onde eu ilustrei algumas passagens com os soldados que eu tinha. Foi uma apresentação "multimídia". De início ele ficou chateado. Mas vendo como eu tinha interesse sincero pela História e que o fato de ter os soldados não causaria nenhum trauma ou instinto belicoso, passou ao falar algumas aventuras que viveu na Itália. E a comprar soldadinhos para mim. Passados 35 anos, meu pai precisou fazer uma cirurgia. Para distraí-lo durante as horas que antecederam a ida para o centro cirúrgico, fiz uma longa entrevista com ele, perguntando tudo o que ele ainda guardava sobre sua participação na Itália. Após esta cirurgia ainda conversamos muitas outras vezes e a idéia do livro já era uma realidade. Todo seu acervo de fotos, correspondências, desenhos, rascunhos, jornais, revistas, medalhas, insígnias, entre outros, foi cuidadosamente guardado por todos estes anos. Recuperei tudo e pude traçar esta história, que sempre teve minha mãe, de família italiana, participando. Este livro é minha homenagem "em vida" a este meu herói, hoje um velhinho de 91 anos, responsável junto com minha mãe, igualmente de 91 anos, pelo caráter, formação e educação de seus três filhos, dos quais me orgulho de ser o eterno "caçulinha" (como ela me chama), ou o "temporão" (para ele). E a homenagem vem no mês de seu aniversário! E espero homenagear também todos os outros "heróis velhinhos" que, junto com ele, foram para um país distante, lutar numa guerra distante, com clima totalmente desconhecido, sem equipamento compatível, com treinamento incompleto. Não idolatro a Guerra, não endeuso ditadores, não curto os regimes autoritários. Eu admiro o que estes heróis fizeram, garantindo um país livre para todas as raças e credos, e que infelizmente virou as costas para eles por muito tempo. Parabéns meu pai, esta é a sua história! Prólogo O Mundo: O mundo depois da I Guerra Mundial era dividido. O Tratado de Paz selado em Versalhes em 1918 humilhou os vencidos, entenda-se a Alemanha e, em menor escala, o Império Austro-Húngaro. A Itália, que fazia parte desta Tríplice Aliança, passou para o outro lado, a Tríplice Entente (França, Reino Unido e Rússia), em 1915. Em 1917, os Estados Unidos entraram na Guerra e garantiram a vitória. A Liga das Nações, criada após a Guerra, não era aceita por muitos países e não decidia praticamente nada. O colonialismo europeu ainda assolava povos de três continentes. O “perigo vermelho”, com a recém-criada União Soviética, assustava. Havia tensões por todos os lados. Não havia a tão esperada Paz no mundo. A depressão econômica que assolou a América (e o mundo) no final dos anos 1920 propiciou a ascensão ao poder de ditadores como Benito Mussolini, na Itália, e Adolf Hitler, na Alemanha.2 Mussolini e seu fascismo, com a desculpa de unir a Itália, retomou a política colonialista no Mediterrâneo e na África. Isto gerou atritos com a Inglaterra e a França. Tudo por causa dos resultados da Grande Guerra. A Itália perdeu mais de 700 mil soldados, estava totalmente endividada e não teve nenhuma compensação com os tratados de paz. Poucos territórios foram cedidos aos italianos e não houve perdão da dívida com os americanos e ingleses. Desemprego e tensões sociais passam a fazer parte do dia-a-dia dos italianos. Desde 1920, Mussolini, um antigo professor e ex-membro do Partido Socialista Italiano (de onde foi expulso por suas idéias radicais), vinha combatendo seus adversários usando milícias (seus famosos “Camisas Pretas”), promovendo assaltos às sedes dos partidos de esquerda, dos sindicatos, além de intimidar e mesmo assassinar os adversários. Em 1921 ele fundou o Partito Nazionale Fascista (PNF). Em 25 de Outubro de 1922, o Congresso do Partido Fascista, que acontecia em Nápoles, foi encerrado em meio a um inflamado discurso de Mussolini onde ele acusava de incompetente o governo, que permita a “anarquia vermelha”. Era o momento esperado. Em 28 de Outubro, usando duas colunas de “Camisas Negras”, o grupo militarizado do partido, e 50 mil pessoas, Mussolini ordena uma marcha até Roma, para pressionar as “autoridades incompetentes”. Era o início da vitória de seu Partido Nacional e o fim da Democracia Liberal na Itália. O governo do primeiro ministro declara estado de sítio, o que é recusado pelo Rei Vitor Manuel III. Com a inoperância do Parlamento, que era duramente criticado por Mussolini, e a falta de apoio real, o primeiro ministro renuncia. O Rei convida Mussolini para compor um novo governo. Uma nota cômica foi o fato de Mussolini ter alardeado em seus discursos que havia participado de uma batalha sangrenta, com mais de três mil mortos. Não só ele não estava presente na marcha (chegou a Roma de trem no dia seguinte), como a ocupação de Roma foi totalmente pacifica, sem um único ato violento. Três dias depois da marcha ele já estava montando seu ministério e assumindo poderes absolutos, criando o primeiro Estado Fascista Europeu. No dia 31 de Outubro, o exército fascista desfilou por Roma como faziam as legiões romanas. Mussolini intitulou-se “Il Duce” (O Líder), para guiar a Itália rumo a uma ditadura que infelizmente iria inspirar outras pelo mundo. O lema fascista era “Crer, Obedecer, Lutar”. A “Marcha de Roma” acabou inspirando Adolf Hitler a tentar marcha semelhante em Berlim e até Getúlio Vargas a realizar o emblemático ato de amarrar seu cavalo no Obelisco em frente ao Congresso Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro, 1930, iniciando a revolução.2 Adolf Hitler e seu nazismo surgiram como a solução para a crise econômica alemã. Logo depois da I Guerra, a Alemanha foi humilhada no Tratado de Versalhes, que exigia reparações econômicas pela guerra, tomava as colônias alemãs pelo mundo e até mesmo parte do território alemão. Fora isso, impunha limites militares. A ocupação da Bacia do Ruhr pela França e Bélgica, foi a gota d’água. Os dois países queriam garantias econômicas pelos empréstimos concedidos à Alemanha. A república instaurada em 1918 na Alemanha, com a abdicação do Kaiser (Imperador) Guilherme II, enfrentou logo de saída uma tentativa de golpe comunista em 1919 e a fúria da burguesia com a desvalorização do marco. Logo seria aprovada a Constituição de Weimar, organizando a república federal. Adolf Hitler, austríaco de nascença, alistou-se no exército bávaro no começo da Primeira Guerra Mundial. Tornou-se cabo e, com o fim da Guerra, em 1919, associouse a um pequeno grupo nacionalista, o Partido Operário Alemão, que mais tarde transformou-se no Partido Nacional Socialista Alemão. Em 1921, assumiu o posto de chefe do partido. Dois anos depois, no calor de seus discursos antissemitas e antimarxistas, e totalmente inspirado na “Marcha de Roma” de Mussolini, Hitler tenta um golpe de estado, uma insurreição conhecida como “Putsch de Munique”. Foi preso e ficou na mesma cela que Rudolph Hess, seu futuro colaborador e segundo homem de confiança. Neste período na prisão ele dita para Hess o seu manifesto político, uma colcha de idéias onde o foco era a necessidade da Alemanha se rearmar, ser autossuficiente economicamente, acabar com o sindicalismo e, principalmente, com o comunismo. E plantava a idéia de exterminar a minoria judaica. Estas idéias foram lançadas posteriormente com o título de Mein Kampf (Minha Luta). Em 1929, Hitler já contava com muitos colaboradores. Com a violência praticada contra seus inimigos, o partido cresceu. Até que em 1933, após vários Chanceleres terem fracassado, o presidente Hindenburg convida Adolf Hitler para ser o chefe do governo Alemão. Suas primeiras ações foram a eliminação dos outros partidos políticos na Alemanha, criando a “ditadura unipartidária”. Para garantir isso montou uma guarda social terrível, a SA (“Sturmabteilung” ou “Divisões de Assalto”). Em 1934 aconteceu a terrível “Noite das Longas Facas”, onde todos os inimigos políticos foram assassinados. Com a morte do presidente Hindenburg, em Agosto, Adolf Hitler assume o título de Presidente do Heich Alemão. Começa então a rearmar a Alemanha, ferindo os termos do Tratado de Versalhes. Ele cria uma brigada de elite no exército, a SS (“Schutzstaffel” ou “Tropa de Proteção”), que vai substituir as SA, que eram semi-independentes e estavam começando a causar problemas aos planos de Hitler. Ele também rearma as forças terrestres, monta uma força aérea quase que imbatível, a Luftwaffe, e igualmente monta a marinha alemã. E ele teve como testar suas novas forças, dando uma “ajuda” a mais um ditador que surgia na Europa, o general espanhol Francisco Franco, ao mesmo tempo em que recuperou os territórios perdidos da Renânia, no início de 1936.2 A Espanha do pós-guerra também passava por terríveis convulsões, ainda centrada na “Trindade” Exército-Igreja-Latifúndio. Vivia do passado imperialista, uma Igreja reacionária que condenava o modernismo como sendo algo demoníaco e uma Elite Latifundiária de quase 50 mil “hidalgos” controlando quase 3 milhões de “braceros”, camponeses miseráveis, sendo donos de mais da metade do território espanhol. Com a depressão de 1929, a crise também se instalou na Espanha, culminando em 1931 com a queda do Rei Afonso XIII, que se exilou. Foi criada a “Republica de Trabajadores”, que tinha os ideais de modernizar o país, separar a Igreja do Estado e garantir grandes conquistas sociais, restauração do pluralismo político e a liberdade de expressão. Mas isso não aconteceu e começou a luta de classes e a depressão no país. As Esquerdas espanholas (cerca de 11 partidos), seguem as determinações da União Soviética e sua Internacional Comunista, agrupando-se na “Fronte Popular”, para chegar ao poder nas eleições contra a Direita (a Frente Liberal). Para a Direita era uma verdadeira “Cruzada Contra o Comunismo”, trazendo de volta a tradição espanhola (autoritarismo e catolicismo). A República de 1931 tinha que ser extinta. Para as esquerdas era preciso “Barrar o “Fascismo” que havia conquistado a Itália e a Alemanha. E, em Fevereiro de 1936, saem vitoriosas das urnas, dominando 60% das “Cortes” (O Parlamento). Mas esta aparente vitória logo seria enfraquecida com as brigas internas da “Fronte” e nos enfrentamentos com parte da Direita, com muitos assassinatos políticos. A Direita logo começa a alinhar-se com os fascistas da Itália (Mussolini), da Alemanha (Hitler) e Portugal (Salazar). Começam a conspirar com os Generais, para a derrubada do poder. Em 18 de Julho de 1936, o General Franco coloca o exército contra o Governo. Mas, em cidades como Madrid e Barcelona, o povo vai às ruas e impede o golpe. Foram formadas milícias anarquistas e socialistas para enfrentar o exército. A Espanha foi dividida em Nacionalista (controlada por Franco), e Republicana (controlada pelo governo). Ocorreu a “Revolução Social” na área República, com as terras sendo distribuídas para a coletividade, fábricas e meios de comunicação controlados pelos sindicatos e até mesmo a abolição do dinheiro. Começa então a “Guerra Civil Espanhola”, com fuzilamentos de padres, militares e latifundiários pelos Republicanos, e de sindicalistas, professores e esquerdistas pelos Nacionalistas. Mussolini e Hitler acodem Franco, enviando aviões (a Divisão Condor da Luftwaffe) e infantaria, aviões e blindados italianos. Stalin acode os Republicanos, com o envio de material bélico e assessores militares. França e Inglaterra ficam totalmente neutras e impassíveis com atrocidades como o bombardeio alemão sobre as cidades de Guernica e Madrid, onde civis são dizimados. A República não consegue fazer frente aos Nacionalistas e, em 1938, Franco consegue dividir a Espanha em duas, isolando a Catalunha. Em 1939, a Espanha é Nacionalista.2 Com o sucesso de sua ajuda militar à Espanha, Hitler anexou a Áustria, em 1938, que foi o marco do início da expansão do “Terceiro Heich”, e surpreendentemente consegue a cessão da região conhecida como “sudetos”, da antiga Thecoslováquia, na Conferência de Munique, em 1938, da qual participaram a França, a Itália e a Inglaterra, que viam a Alemanha Nazista como um “aliado” contra a União Soviética e seu comunismo. Hitler ainda anexaria o Porto de Memel, na Lituânia, no Mar Báltico, em 1939. Em seguida, a Alemanha assina o “Pacto de Não-Agressão Nazi-Soviético” com o ditador soviético Stalin. Era o salvo-conduto para o próximo passo de Hitler: em uma afronta direta à Inglaterra e à França, invade a Polônia no dia 1º de Setembro.2 Começou oficialmente a Segunda Guerra Mundial.