PARECER‐CONSULTA Nº 5432/2014 CONSULENTE: Sra. R. A CONSELHEIRO PARECERISTA: Cons. Bruno Mello Rodrigues dos Santos EMENTA: O toque retal pode ser feito por médico não urologista desde que se sinta apto a realizá‐lo. Dosagem de PSA deve ser associada a toque retal para rastreamento de câncer de próstata. I. PARTE EXPOSITIVA O presente parecer foi motivado por correspondência eletrônica enviada a este Conselho em XXX pela Sra. R. A, Coordenadora da XXX, da qual extraímos: “Favor enviar o entendimento deste Conselho sobre os questionamentos abaixo: 1. O exame de toque retal no homem com o objetivo de investigar a presença de câncer de próstata é uma atribuição prevista para a prática clínica dos médicos que atuam nas Equipes de Saúde da Família, geralmente médicos generalistas ou especialistas em saúde da família ou medicina da família e comunidade, ou a realização deste exame clínico é uma atribuição específica da especialidade de urologia? 2. Na investigação inicial do câncer de próstata, pode‐se utilizar como critério a realização isolada do PSA ou é necessária a realização conjunta do toque retal como critério para prosseguir na investigação?” II. PARTE CONCLUSIVA A Urologia é a especialidade médica que trata das doenças do aparelho urinário de ambos os gêneros, e do aparelho reprodutor masculino. As doenças de próstata, portanto, são área de abrangência desta especialidade e ocupam grande parte do cotidiano do Urologista. Historicamente, o rastreamento do câncer de próstata tem sido feito por Urologistas, uma vez que, mais afeitos ao tratamento dessas doenças, são mais minuciosos na sua detecção, estudam detalhadamente as indicações e as formas de fazer o aludido rastreamento e podem participar na decisão de qual tratamento será indicado caso alguma doença prostática seja diagnosticada. Os urologistas até mesmo participam de campanhas de divulgação à população sobre a importância de se avaliar a próstata periodicamente. Exemplo disso foi o lançamento da Campanha “Novembro Azul” durante o último Congresso Mineiro de Urologia, no dia 30 de outubro de 2014, que contou com o importante apoio da Secretaria Estadual de Saúde, ora consulente. No entanto, todos os médicos são aptos a realizar exames de rastreamento, uma vez que tenham em sua formação aprendido a realizar o exame físico prostático por meio do toque retal, indistintamente se são médicos generalistas ou especialistas em saúde da família. Desde que se sinta preparado para realizar o toque retal com esse objetivo, não há nenhuma restrição de ordem ética que impeça que médicos não urologistas realizem o exame de próstata em seus pacientes e interpretem o exame de PSA (antígeno prostático específico). Em caso de dúvida, ou caso o médico não se sinta apto a realizar o exame físico da próstata, o paciente deverá ser encaminhado a Urologista. Smith e Catalona, em 1995, sugerem que o valor máximo do toque retal será obtido quando feito por especialistas. Dessa forma, o médico generalista que não tiver formação não deve se aventurar a realizar o toque retal sob o risco de avaliação errônea dos seus achados, podendo levar a aumento da chance de falsos positivos e falsos negativos, com prejuízo à população rastreada. A avaliação das doenças de próstata pode ser feita por meio de vários exames, tais como toque retal, dosagem de PSA, ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética e outros. No entanto, para a detecção precoce do câncer de próstata, motivo da presente consulta, os exames indicados no rastreamento populacional são o toque retal e a dosagem do PSA . A dosagem isolada do PSA não se presta ao fim de rastreamento do câncer de próstata, já que há tumores prostáticos que não alteram o PSA, ou o fazem tardiamente, já sem possibilidade de cura da doença. De forma geral, quando o toque retal e o PSA são empregados no rastreamento do câncer de próstata, as taxas de detecção da doença se tornam maiores do que quando cada um dos testes é usado isoladamente (CATALONA et al, 1991). Já que o toque retal e o PSA não detectam os mesmos cânceres, os testes são complementares e sua combinação é recomendada para avaliar a presença do câncer de próstata (OKOTIE et al, 2007). Belo Horizonte, 20 de novembro de 2014. Cons. Bruno Mello Rodrigues dos Santos Conselheiro Parecerista REFERÊNCIA: Smith DS, Catalona WJ. Interexaminer variability of digital rectal examination in detecting prostate cancer. Urology. 1995 Jan;45(1):70‐4. Catalona WJ, Smith DS, Ratliff TL, Dodds KM, Coplen DE, Yuan JJ, Petros JA, Andriole GL. Measurement of prostate‐specific antigen in serum as a screening test for prostate cancer.N Engl J Med. 1991 Apr 25;324(17):1156‐61. Erratum in: N Engl J Med 1991 Oct 31;325(18):1324. Okotie OT, Roehl KA, Han M, Loeb S, Gashti SN, Catalona WJ. Characteristics of prostate cancer detected by digital rectal examination only. Urology. 2007 Dec;70(6):1117‐20. Aprovado na sessão plenária do dia 20 de novembro de 2014