FENOLOGIA DE INSETOS EPIGEICOS EM FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECÍDUA DO PARQUE ECOLÓGICO MUNICIPAL DE MORRINHOS – GO Jésica Vieira1, Luciana Verzeloni Ferreira1, Monique Bárbara Rosa de Oliveira1, Marcos Antônio Pesquero2 1 Alunas do Curso de Ciências Biológicas , UnU Morrinhos – UEG. 2 Orientador, docente do Curso de Ciências Biológicas, UnU Morrinhos – UEG. Resumo Os insetos constituem um grupo megadiverso de artrópodes e são considerados os animais terrestres mais bem sucedidos do planeta exercendo papel de espécie-chave em comunidades. O objetivo deste trabalho é avaliar a abundância e a sazonalidade de insetos epigeicos num remanescente de Mata Atlântica. As coletas foram realizadas através de armadilhas de queda no Parque Ecológico Municipal de Morrinhos, GO caracterizado como Floresta Estacional Semidecidual. Foram coletados 15.888 insetos durante os meses de novembro de 2006 a agosto de 2007 e classificados em dez ordens distintas. Diptera, Coleoptera, Hemipera, Hymenoptera, Psocoptera e Lepidopera foram encontradas com maior abundância e observouse que todas as ordens sofreram influência da sazonalidade. Palavras-chave: serrapilheira, armadilha de queda, sazonalidade. Introdução Os insetos constituem um grupo megadiverso de artrópodes com 950.000 espécies descritas no mundo. Eles são considerados os animais terrestres mais bem sucedidos no planeta, tendo em vista as grandes riquezas, abundância e biomassa encontradas em muitos ecossistemas, além de abrangerem uma ampla variação de hábito alimentar, participando ativamente dos processos de transferência de matéria e energia ao longo das teias alimentares, muitos exercendo papel de espécies-chave nas comunidades (GULLAN & CRANSTON, 2008). A importância dos insetos vai além do equilíbrio natural dos ecossistemas, muitas espécies estão estritamente relacionadas à espécie humana, ora trazendo benefícios, ora prejuízos em diversos contextos de nossas vida. Este trabalho tem como objetivos conhecer a variação da abundância e a riqueza de insetos de solo-serrapilheira segundo as estações do 1 ano no Parque Ecológico Municipal Jatobá Centenário no município de Morrinhos (GO), visando identificar a integridade ambiental desta unidade de conservação. Material e Métodos O Parque Municipal de Morrinhos, criado por lei municipal em maio de 1969, com função principal de proteger a nascente do córrego Maria Lucinda, localiza-se ao norte da área urbana do município de Morrinhos (17º45’S e 49º09’W) – 790m – e possui área aproximada de 80ha. Apresenta clima tropical úmido e temperatura média anual de 20°C. Ele é composto de espécies perenifólias (solo úmido) e semi-decíduas (solo seco), com dossel medindo até 25m de altura. Várias espécies características de Mata Atlântica como o palmito-doce (Euterpe edulis Mart.), a peroba-rosa (Aspidospema cf. polyneurun M. Arg.), o jatobá (Hymenaea courbaril L.), a garapa (Myroxylon cf. peuiferum L.F.) e o angico preto [Apuleia moralis (Vog.) Macbr.] entre outras, são comuns nesse ambiente. Na zona sul do parque ocorrem vários olhos d´água que se unem formando o Córrego do Açúde conferindo uma característica hidromórfica ao solo povoado de árvores com raízes tabulares e aéreas, samambaias e palmeiras. O Parque apresenta características de Floresta Estacional Semidecidual, uma das fisionomias reconhecidas do bioma Mata Atlântica (Heleno Ferreira, comunicação pessoal). A coleta de dados foi restrita à área com solo firme onde foram demarcados 12 quadrantes contendo um total de 698 armadilhas-de-queda, que consistem em copos plásticos (500ml, 13cm de altura e 8,5cm de diâmetro) enterrados, com a boca rente a superfície do solo e contendo 200ml de solução conservante (formol a 5% + 4 gotas de detergente). As armadilhas foram instaladas em quatro períodos do ano (primavera, verão, outono e inverno) e permaneceram por sete dias completos a cada estação. Todos artrópodes capturados foram conservados em álcool 70%, devidamente etiquetados e depositados na coleção de referências do Laboratório de Ecologia da UEG - Morrinhos. Os artrópodes foram separados e quantificados segundo o período do ano. Resultados e Discussão Segundo os dados da Estação Meteorológica da UEG – Morrinhos, os períodos mais quentes também foram os mais úmidos (Figura 1). Os insetos do Parque Ecológico foram classificados em dez ordens distintas, sendo que Diptera (34,86%), Coleoptera (33,79%), Hemiptera (7,92%), Hymenoptera (7,33%), Orthoptera (7,23%) e Lepidoptera (3,25%) foram 2 as mais abundantes (Figura 2). Apenas um indivíduo de Neuroptera e dois de Siphonaptera foram identificados somente durante o inverno (Figura 3). Diptera e Coleoptera juntas somam 68,65% da comunidade. Esses resultados são semelhantes a estudos realizados em ambiente de florestas tropicais preservadas de grande porte (BARBOSA et al., 2005; FERREIRA & MARQUES, 1998), demonstrando que o Parque, apesar da área reduzida ainda mantêm características naturais. Pinheiro et al. (2008) encontraram abundâncias semelhantes entre as ordens Coleoptera (26%), Hymenoptera (23%), Diptera (20,5%) e Isoptera (20%), utilizando armadilhas de queda e malaise em ambiente de cerrado stricto sensu. Entretanto, a alta proporção da ordem Hymenoptera é explicada pela presença de Formicidae. As ordens Homoptera, Lepidoptera, Orthoptera e Hemiptera somaram 10,5% do total da comunidade de insetos. Lourenço & Soares (2003) realizaram estudo sobre diversidade de insetos em pequena área de floresta úmida temperada (7ha) localizada em área urbana no Rio Grande do Sul e verificaram diversidade de insetos nos três pontos de amostragem e constataram a distribuição de nove ordens diferentes, dentre as mais abundantes estão Diptera, Hymenoptera, Coleoptera e Lepidoptera. Ganho & Marinoni (2003) observaram que a abundância de Coleoptera numa ampla área de preservação ambiental com diferentes níveis de interferência antrópica, foi maior em áreas de regeneração vegetal do que em áreas de floresta madura ou em áreas abertas dominadas por plantas arbustivas. Este fato é explicado porque a área de regeneração possui solo mais úmido, rico em folhiço e vegetação rasteira pobre. Outono foi o período de menor atividade para todas as ordens de insetos (Figuras 2, 3). A ordem Diptera foi predominante no período quente e chuvoso do verão (Figura 2). As ordens Coleoptera, Orthoptera, Lepidoptera, Psocoptera e Hemiptera foram as mais abundantes durante o período seco e frio do inverno (Figuras 2, 3). Blatodea foi mais abundante durante os períodos secos e frios do inverno e primavera, Dermaptera foi abundante durante os períodos quentes e chuvosos da primavera e verão, e Isoptera foi igualmente abundante durante o inverno e verão (Figura 3). Marques et al. (2006), estudando a diversidade de artrópodes em copas de Vochysia divergens (Cambará) no Mato Grosso, observaram diferenças na distribuição dos insetos no período seco e chuvoso (abril e outubro). Contrariamente aos resultados do Parque, houve predominância de Dermaptera no período seco e de Psocoptera no período chuvoso. Lourenço & Soares (2003) capturaram Diptera após dias chuvosos, representando 20% do total dos insetos capturados durante o estudo no Rio Grande do Sul. 3 25 220 24.6 24.2 180 23.8 140 23.4 100 23 60 22.6 20 -20 Temperatura (ºC) Umidade (%) e Precipitação (mm3) 260 22.2 primavera verão outono inverno 21.8 temperatura umidade precipitação Figura 1. Médias das variáveis climáticas segundo as estações do ano para o município de Morrinhos (GO). 7000 6000 Abundância total 5000 4000 3000 2000 1000 0 Coleoptera Hymenoptera Orthoptera Diptera Hemiptera Lepidoptera inverno outono verão primavera Figura 2. Abundância total das principais ordens de insetos segundo as estações do ano no Parque Ecológico de Morrinhos (GO). 4 350 300 Abundância total 250 200 150 100 50 0 Blatodea Dermaptera Neuroptera Isoptera Psocoptera Siphonaptera inverno outono verão primavera Figura 3. Abundância total das ordens secundárias de insetos segundo as estações do ano no Parque Ecológico de Morrinhos (GO). Almeida & Câmara (2008), em pesquisas com distribuição de gafanhotos (Orthoptera: Acridoidea) em Pernambuco, concluíram que existe estreita relação ecológica entre esses insetos e o tipo de vegetação em que são encontrados. O estudo também indicou que eles têm padrão de distribuição relacionado com a quantidade de luz e período seco. Resultados semelhantes também foram observados em Santa Catarina (LUTINSKI et al., 2008). Ott et al. (2006), verificando a abundância e a sazonalidade de cigarrinhas (Hemipteras) no rio Grande do Sul, observaram que a flutuação dessa ordem foi menor em temperaturas mais altas durante os meses de janeiro a março. Os Lepidopteros adultos são pouco capturados pelo método empregado nesse estudo e, portanto, os resultados são considerados subestimados. As formas juvenis, representadas pelas lagartas, foram as mais representadas dentro dessa ordem, devido ao fato de caminharem sobre plantas e serrapiheira. Entretanto, o estudo feito com mariposas (Lepidoptera, Sphingidae) em fragmento de Mata Atlântica em Pernambuco não demonstrou padrão de sazonalidade climática (DUARTE Jr. & SCLINDEIN, 2005). 5 Conclusões Os Coleoptera e Diptera predominam no ambiente de estudo, compondo aproximadamente 70% do total de indivíduos. Todas as ordens sofreram variação na abundância devido aos efeitos das estações climáticas. A maioria predominou durante o inverno, enquanto Diptera foi mais abundante no verão. Referências Bibliográficas ALMEIDA, A.V.; CÂMARA, C.A.G. Distribution of grasshoppers (Orthoptera: Acridoidea) in the Tapacurá ecological station. Braz. J. Biol., v. 68, n.1, p. 21-24, 2008. DUARTE Jr., J.A.; SCHLINDWEIN, C. Riqueza, abundância e sazonalidade de Sphingidae (Lepidoptera) num fragmento de Mata Atlântica de Pernambuco, Brasil. Rev. Bras. Zool. v. 22, n. 3, p. 662-666, 2005. GANHO, N.G.; MARINONI, R.C. Fauna de Coleoptera do Parque Estadual de Vila Velha, Ponta Grossa, Paraná, Brasil: Abundância e Riqueza de famílias capturadas através de armadilha de malaise. Rev. Bras. Zool. v. 20, n. 4, p. 727-736, 2003. GULLAN, P.J.; CRANSTON, P.S. Os insetos: um resumo em entomologia. 3ª. ed. São Paulo: Ed. Roca. 2008. 456 p. LOURENÇO, A.M.; SOARES, B.M. Estudo da Diversidade de Insetos no Parque Poncho Verde, Santo Ângelo - RS, Brasil. Ver. Pesq. Pós-Grad. Santo Ângelo, 2003. Disponível em http://www.uri.br/publicaonline/revistas/artigos/68.pdf. Acesso em 9 set. 2008. LUTINSKI, C.J. et al. Flutuação populacional de gafanhotos na Floresta Nacional de Chapecó, Santa Catarina. Ciência Rural, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/cienciarural Acesso em: 12 out.2008. MARQUES, M.I. et al. Terrestrial arthropods from tree canopies in the Pantanal of Mato Grosso, Brazil. Ver. Brasil. Entomol. v. 50, n. 2, p. 257-267, 2006. OTT, A.P. et al. Abundância e sazonalidade de cigarrinhas (Hemiptera, Cicadellidae, Cicadellinae) em vegetação herbácea de pomar de laranja doce, no muinicípio de Montenegro, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia. v. 96, n. 4, p.425-429, 2006. 6