ENCONTRO DE BIOÉTICA DO PARANÁ – Bioética início da vida em foco. 1, 2009, Curitiba. Anais eletrônicos... Curitiba: Champagnat, 2009. Disponível em: http://www.pucpr.br/congressobioetica2009/ 121 ACONSELHAMENTO GENÉTICO E O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO ATRELADOS A CONCEITOS EUGÊNICOS EMPÍRICOS Eliana Diniz1 Leide da Conceição Sanches2 Mariana Schenato Araujo Pereira3 Resumo As expectativas de cura para as mais diversas doenças aumentam cada dia, e para as patologias de cunho genético não é diferente. Vários são os motivos que dão início a uma pesquisa genética. Sejam estas de cunho probatório ou terapêutico, o fim de tudo é a caracterização de um mal, do qual muitas vezes se conhece a origem gênica e a partir daí se inicia uma nova batalha, a da consciência. A sociedade anseia por fatores que expliquem alterações em seus indivíduos. Uma análise aprofundada faz-se necessária, a análise dos requisitos para que o conhecimento trazido pelos avanços da tecnologia e da ciência não venham a interferir negativamente nos princípios éticos. Conceitos formados com embasamentos políticos e culturais não podem ser esquecidos, e a assistência deve permanecer disponível para evitar o caos social a partir da descoberta de um mal de origem genética, onde não se pode alterar o DNA defeituoso. Numa busca contínua por explicações e entendimento de tudo que diz respeito ao DNA e aos problemas a ele relacionados, surge a necessidade do estudo do genoma humano e do aconselhamento genético, visando prevenir e evitar possíveis danos. Palavras-chave: Genética. Aconselhamento genético. Eugenia. 1 Acadêmica do Curso de Biomedicina das Faculdades Pequeno Príncipe. Mestranda em Sociologia pela UFPR. Professora de Sociologia e Antropologia Aplicada à Saúde das Faculdades Pequeno Príncipe. 3 Mestre em Biologia. Professora de Genética e Biologia Molecular das Faculdades Pequeno Príncipe. 2 122 1 INTRODUÇÃO Sabe-se que hoje em dia a ciência e a tecnologia estão cada vez mais unidas em notório progresso. As expectativas de cura para as mais diversas doenças aumentam cada dia, e para as patologias de cunho genético não é diferente. Cada dia que passa a comunidade científica dá um passo molecular para a compreensão das enfermidades que envolvem o ouro celular chamado DNA. Uma busca por algo próximo ou igual à perfeição tem fundamentado muitas pesquisas, conceito este que é subjetivo, porém desejo comum a muitos povos. Vários são os motivos que dão início a uma pesquisa genética. Sejam estas de cunho probatório ou terapêutico, o fim de tudo é a caracterização de um mal, do qual muitas vezes se conhece a origem gênica e a partir daí se inicia uma nova batalha, a da consciência. Essa nova batalha engloba uma análise de amplo espectro, onde o problema enfrentado é descrever o mal e estabelecer um prognóstico que seja abrangente e que trate das conseqüências fisiológicas até as sociais (OLIVEIRA, 1997, p. 111). A sociedade anseia por fatores que expliquem alterações em seus indivíduos. Pais querem sempre saber de onde vem o que há de errado com os seus filhos, mas nem sempre estão prontos para lidar com toda a carga da situação. Uma análise aprofundada faz-se necessária, a análise dos requisitos para que o conhecimento trazido pelos avanços da tecnologia e da ciência não venham a interferir negativamente nos princípios éticos. Conceitos formados com embasamentos políticos e culturais não podem ser esquecidos, e a assistência deve permanecer disponível para evitar o caos social a partir da descoberta de um mal de origem genética, onde não se pode alterar o DNA defeituoso. Essa descoberta não pode (ou não deve) se tornar motivo da frustração de uma família, ou mesmo um transtorno que assombrará seus membros. Se isso acontecer uma porta para a instauração de um preconceito ou discriminação estará aberta. (OLIVEIRA, 1997, p. 64-66). Os avanços tecnológicos que caminham em paralelo com o estudo de doenças genéticas são comprovadamente eficazes, a exemplo do diagnóstico intrauterino, que permite a descoberta de patologias e pode garantir o sucesso da gestação. Apesar disso, questionamentos éticos surgem para dar contrapartida. A possibilidade do diagnóstico precoce de diversas patologias pode incitar a prática do aborto, permitido em alguns países. Numa busca contínua por explicações e entendimento de tudo que diz respeito ao DNA e a problemas a ele relacionados, surge a necessidade do estudo do genoma humano e do aconselhamento genético, visando prevenir e evitar possíveis danos. 123 Importantes questionamentos são levantados quando o que está em jogo é o nascimento de um feto com diagnóstico de doença genética. O cerne da questão é a decisão sobre o que é mais viável: preservar o feto com todos os seus problemas e deixá-lo nascer, ou praticar aborto para evitar o sofrimento do futuro indivíduo e de sua família. Se o aborto é praticado, pode-se considerar eugenia? (VIEIRA; FÉO, 2009, p. 46). Segundo Sanches (2007), historicamente, a eugenia foi apresentada como ciência que promovia as qualidades inatas de uma raça, desenvolvendo-as ao máximo e visando a melhoria das futuras gerações. Além disso, também preconizava métodos de controle social, como o controle dos matrimônios e práticas eliminatórias dos considerados mais fracos. Hoje em dia para a maioria das culturas já é obsoleto o pensamento sobre o controle social dos matrimônios, mas e o melhoramento das qualidades físicas e morais? Considerando o fato de que a reprodução assistida, ramo que pode vir a ser sugerido no aconselhamento genético e é capaz de selecionar embriões, não seria um tipo de seleção favorecedora da eliminação de seres ditos “inferiores”? 2 O ACONSELHAMENTO GENÉTICO – FUNDAMENTOS E PROBLEMAS Para entender o processo de cuidar do indivíduo com doença genética, da sua família e da sociedade pode-se contar com o amparo do aconselhamento genético, que pode ser entendido por: [...] conjunto de procedimentos que se destina a informar e orientar indivíduos que apresentam problemas relacionados com a ocorrência ou risco de ocorrência de uma doença genética em sua família. Faz parte desses procedimentos o estabelecimento do diagnóstico, etiologia, prognóstico e risco de repetição da doença na família envolvida, bem como fornecer esclarecimentos que possibilitem aos casais de risco tomar decisões sobre seu futuro reprodutivo [...] (OSÓRIO; ROBINSON, 2001, p. 376). Tomando como base esta definição pode-se partir para a reflexão da complexidade que envolve o aconselhamento genético, que deve sempre ter como aconselhador um geneticista acompanhado de equipe multidisciplinar para que os mais diversos aspectos de impacto sobre o indivíduo e sua família sejam informados e orientados. O trabalho de aconselhar consiste em sanar as dúvidas de modo que possa ajudar a fundamentar toda e qualquer decisão tomada pela família, ou mesmo pelo indivíduo dependendo do caso. Os conflitos surgidos no aconselhamento genético permeiam três fases: negação, depressão e aceitação. Esses conflitos devem ser tratados com absoluta seriedade, respeitando as peculiaridades de cada caso (OSÓRIO; ROBINSON, 2001, p. 376, 377 e 379). 124 Há duas formas de aconselhamento genético: o prospectivo – ligado à prevenção do aparecimento de doença genética, feito para pessoas passíveis de risco. E o aconselhamento retrospectivo – quando há existência de indivíduos afetados, para minimizar possibilidades de repetição (OSÓRIO; ROBINSON, 2001, p. 376). O surgimento do aconselhamento genético se deu nos Estados Unidos, na década de 40, e aconteceu a partir da necessidade identificada pelo doutor Sheldon Reed que fazia consultas com intuito de esclarecer a população sobre o olhar genético das patologias, desenvolvendo um trabalho de saúde pública (GUEDES; DINIZ, 2009, p. 248). Quando o Dr. Reed começou a sua prática, surgiram preocupações diversas com o tema, inclusive na escolha de como seria chamado esse serviço, então se chegou ao consenso de que seria denominado de “aconselhamento”. Uma grande preocupação era o cuidado para não parecer algo ligado ao ideal eugênico, pois, muito pelo contrário, visava instruir a população e quebrar as barreiras da convivência com um portador de patologia genética, que pode ser de relevância diversa, podendo trazer desde alterações fenotípicas, comportamentais e clínicas difíceis de serem aceitas, até alterações pouco significativas (GUEDES; DINIZ, 2009, p. 248). Para se chegar a um modelo atual, a prática do aconselhamento veio sendo lapidada, com embasamento ético muito bem discutido, pois não é difícil encontrar entraves morais que fazem pesar a viabilidade do serviço. Existem doenças que são de origem genética, mas não se manifestam no nascimento, tem um período longo de evolução e começam a apresentar sintomas na vida adulta, como por exemplo, a Doença de Huntigton (DH). Esta patologia genética pode demorar em torno de vinte anos para apresentar algum sintoma e quando se manifesta conduz o doente a comprometimento de vários órgãos, demência e óbito. Por outro lado, o diagnóstico precoce, advindo da precaução do aconselhamento genético em relação a famílias com um traço específico, pode vir a ser o grande diferencial na qualidade da vida de um doente de Anemia Falciforme, que se diagnosticada e tratada adequadamente tem suas consequências amplamente minimizadas (GUEDES; DINIZ, 2009, p. 248). Quanto ao diagnóstico precoce ofertado pelo avanço científico e tecnológico, não existem dúvidas de que é viável e ajuda a salvar muitas vidas. Porém a grande preocupação é: quem deve ser submetido a um teste? A população assintomática deve fazer exames quando há uma suspeita de risco? Alguns grupos defendem que a descoberta precoce é sempre o melhor caminho, porque ajuda a direcionar o desenvolvimento do paciente e de todos os envolvidos no processo, outros defendem que dependendo do teor da doença, não vale a pena o sofrimento por antecipação, como no caso das doenças de manifestação tardia, e que é 125 melhor viver sem preocupações os anos em que a doença não esteja se manifestando (ZATZ, 2000, p. 50-51). Praticamente, o que se tem observado é que não são realizados testes moleculares em crianças com risco de doença genética de desenvolvimento tardio, pois o intuito é não priválas do direito de decidir quando adultas se querem ou não ser testadas, e, além disso, a maioria dos adultos jovens faz opção por não ser testado, alegando preferir viver na dúvida que na certeza de uma doença sem cura estabelecida, onde se enquadra a DH (ZATZ, 2000, p. 50). O teste para DH é um exemplo muito prático do contexto ético envolvido com o diagnóstico genético previsto no trabalho do aconselhamento. Sendo uma patologia grave, um resultado positivo pode levar a drásticas conseqüências: o paciente ao saber ser portador pode ter reações como depressão, dificuldade de convívio social e afetivo, e até mesmo desenvolver tendência suicida. O fato é que se o indivíduo que está em posição de risco em relação à DH não quiser ser testado ele tem esse direito assegurado, e é o que se observa na maioria dos casos. Se o caso for de cônjuges em posição de risco, talvez o teste se faça necessário, para fundamentar seu planejamento reprodutivo e evitar arrependimentos (GUEDES; DINIZ, 2009, p. 248). Quando se trata de um diagnóstico em um feto, a pauta fica ainda mais séria, pois se a mãe levar a gestação adiante terá em alguns casos que se adaptar à certeza de uma patologia genética grave que não possui cura e invariavelmente fará com que seu filho sofra. Assume-se de fato a condição ética atrelada ao aconselhamento genético, que deve ter como colunas de sustentação três premissas básicas: neutralidade moral – sem julgamentos pessoais da equipe multidisciplinar que possam influenciar uma decisão, não-diretividade – aconselhar um caso sem envolvimento direto para não influenciar nas decisões agindo apenas como facilitador da informação, e confidencialidade – respeitar a privacidade dos envolvidos, pois a informação genética não é de mais ninguém a não ser do próprio indivíduo (GUEDES; DINIZ, 2009, p. 250). O ponto mais crítico do que diz respeito à confidencialidade é o uso indevido das informações genéticas, que pode levar à discriminação. Empresas de seguro, planos de saúde, bancos de sangue, escolas, dentre outros, tendem a excluir pessoas cuja informação genética seja apresentadora de alguma forma de risco (GUEDES; DINIZ, 2009, p. 251). 126 3 A EUGENIA E GENÉTICA A eugenia nasceu na Inglaterra no século XIX e foi conceituada por Sir Francis Galton como uma ciência promotora de melhoria das gerações futuras, do grego “eugenes” – bem nascido. Galton, sobrinho de Charles Darwin, ganhou em 1907 a cadeira de honra na presidência da Sociedade Britânica para Educação Eugênica. No século XX a eugenia ganhou força nos Estados Unidos, onde se decidia então a base num discurso de hereditariedade para tentar acabar com os seres considerados inferiores. Em 1923 fundou-se a Sociedade Eugênica Americana. As considerações feitas para se definir o que era inferior eram baseadas em fatores como status social, cor de pele, ou mesmo tendências ao alcoolismo, e levaram à consequências drásticas, como por exemplo, a esterilização de milhares de pessoas. O pensamento recorrente era não deixar que os indivíduos inferiores ou débeis mentais se reproduzissem (SANCHES, 2007, p. 75-76). Normalmente usa-se o nazismo e o nome de Adolf Hitler para exemplificar eugenia, e é, sem dúvida, um exemplo pertinente. Na prisão ele contou com o apoio teórico de um manual escrito por biólogos germânicos para fundamentar suas idéias. De acordo com o que se passava nos Estados Unidos, Hitler, ao exibir seus ideais de uma raça pura, foi exaltado, ganhou fortes aliados e em 1933 promulgou a Lei de Esterilização Eugênica, além de logo em seguida destinar pessoas à eutanásia (SANCHES, 2007, p. 78-79). No Brasil, um contexto de higienização foi adotado para justificar ideais eugênicos, defendido em escolas através de aulas de higiene. Essa higienização trazia nas entrelinhas a limpeza da sociedade, que, trocando em miúdos, discriminava todo e qualquer ser que tivesse alguma característica dita “inferior”, a exemplo, pele negra (OLIVEIRA, 1997, p. 114). Para o decréscimo do pensamento eugênico, muito conhecimento e desenvolvimento de outras ciências foram necessários. Destaque para o crescimento das ciências sociais, a posição religiosa e a contribuição de cientistas que trabalharam no que foi chamado de nova genética. As desvantagens econômicas, a extensão do nazismo e a comprovação da falsidade do discurso que atribuía à genética o ideal eugênico também foram importantes constatações para o declínio da eugenia por volta de 1930 (SANCHES, 2007, p. 93-94). Agora que já não se fala mais em culto ao pensamento eugênico, precisa ser bem conceituado o papel da reprodução assistida, da seleção embrionária, e os valores da beneficência. A problemática enfrentada é em torno do diagnóstico molecular, da manipulação do DNA para a descoberta de doenças ou características que por algum motivo não são desejadas para um individuo. O aborto quando em caráter terapêutico, tem o intuito 127 de evitar o desenvolvimento de um indivíduo com patologia gravíssima, já a seleção embrionária por parte da reprodução assistida tem o intuito de evitar o aborto (VIEIRA; FÉO, 2009, p. 50). Caiu em obsolescência o pensamento eugênico de raça ou indivíduo superior, mas de alguma forma dentro de alguns contextos esse pensamento não pode estar totalmente desatrelado, porque a alta seletividade agora já não é mais motivadora da eliminação do mais fraco que já existe, mas sim da possibilidade de impedir que ele nasça (VIEIRA; FÉO, 2009, p. 50). O que se percebe é uma prática de valores contraditórios. Na Califórnia, o seguro saúde cobre um aborto de um feto com fibrose cística diagnosticada e previne à gestante quanto ao não pagamento de tratamento caso ela resolva deixá-lo vir ao mundo. Faz parte do pensamento eugênico a eliminação dos mais fracos e o favorecimento do mais forte, critério que não é diferente na escolha do embrião (SANCHES, 2007, p. 107). Outra preocupação pertinente à viabilidade de um diagnóstico intrauterino ou embrionário de traços genéticos que indiquem uma doença grave remete a um pensamento mais generalizado: quando uma gestação acontece, invariavelmente está inserida num contexto familiar, seja ele qual for. Se a mãe optar por levar até o fim uma gestação sabidamente resultante num filho comprometido por alguma patologia, ela mesma e sua família, principalmente se houver marido, terão de arcar com todas as consequências em que isso implica. Prover o modo mais adequado de vida possível faz parte da obrigação moral dos pais, e, por meios públicos, muitos tratamentos não estão disponíveis. Neste contexto, a visão da beneficência ou da não-maleficência pode condenar pais que não tem outra forma de prevenir um sofrimento maior, além da prática de um aborto eugênico (VIEIRA; FÉO, 2009, p. 71). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Sabe-se que uma sociedade é composta de indivíduos, cada um com seu conjunto de informações genéticas próprias, seu genótipo. A tecnologia permite saber as características genotípicas de cada indivíduo já na fase embrionária; a ética prevê que o aconselhamento genético informe aos indivíduos que só ele é dono de suas informações genéticas; mas a reprodução assistida permite a seleção embrionária e coopera com a escolha do mais forte. Considerando o exposto, quem permite que seja avaliado o genótipo de um embrião? Se no caso de um indivíduo incapaz o responsável legal é quem responde por ele, pode-se 128 considerar o embrião incapaz de responder por ele mesmo e então se dá aos pais o direito de saber sobre as informações genéticas que ele contém. Mas é considerado então um embrião como indivíduo? O posicionamento ético em questões embrionárias pode ser norteado pela prática eugênica empírica, os profissionais biomédicos e os profissionais que formatam e praticam os princípios bioéticos necessitam de um embasamento sólido no que confere lidar com decisões complexas que podem destruir critérios morais. É claro que a influência cultural tem alto peso em decisões pertinentes à opção por uma prática de escolha embrionária ou no caso de um aborto. Legislações regem os países e cada um faz suas regras, mas nem todos são iguais e o turismo terapêutico é uma alternativa para pessoas que queiram muito fazer algum procedimento não regularizado em seu país. Ainda surge mais uma questão importante, a prática em clandestinidade de procedimentos, envolvendo muitas vezes alto poder aquisitivo. Numa realidade onde se tenta consolidar um serviço de aconselhamento genético, que conforme citado anteriormente visa informar e orientar as pessoas em torno de toda a questão genética, o que se observa é um ramo com muitos debates éticos difíceis de defender numa sociedade pluralista. Um pensamento retrógrado baseado em ideais eugênicos fora substituído por pensamentos mais críticos, mas toda essa crítica envolve seres humanos e células que tem potencialidade de se tornar individuo. No meio de tudo há milhares de profissionais em formação para atuar nas áreas médica e biológica, sedentos em conhecer os mistérios que envolvem o código genético humano, e muitas vezes eles ainda não estão capazes de refletir com seriedade o quanto é delicado esse assunto. Talvez, se o aconselhamento genético e tudo o que lhe confere reflexões éticas fosse uma realidade mais próxima da sociedade, os parâmetros da discussão em torno da prática do aborto eugênico ou da seleção embrionária fossem melhor estabelecidos. A individualidade deve ser preservada, cada família tem o direito de definir seus critérios, mas um aconselhamento genético adequado, feito por profissionais sérios e competentes é um caminho que ajuda as famílias com complicações ligadas ao seu genoma a lidar melhor com as situações adversas. Esse caminho pode ser ainda um fator que colabore para o desenvolvimento humano. Pode ser absorvido o conhecimento tecnológico e científico, preservando a ética e direcionando o foco para a cura ao invés da seleção prévia de indivíduos. Mães podem estar livres do peso de ter que optar pelo aborto se a sociedade pensar num aconselhamento inserido em programas de planejamento familiar. 129 Quanto mais se caminha tecnologicamente em favor da prevenção, em contrapartida é criado um novo critério de exclusão. Mudanças fazem parte do processo evolutivo em que o mundo está inevitavelmente inserido, porém, passos largos vêm sendo dados e este pode ser o momento mais propício para dar atenção moral a uma nova realidade. REFERÊNCIAS GUEDES, Cristiano; DINIZ, Débora. A ética na história do aconselhamento genético: um desafio à educação médica. Revista Brasileira de Educação Médica. 33 (2), p. 247-252, 2009. OLIVEIRA, Fátima. Bioética uma face da cidadania. 1 ed. Saõ Paulo: Moderna, 2007. OSÓRIO, Maria Regina Borges; ROBINSON, Wanyce Miriam. Genética Humana. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. SANCHES, Mário Antônio. Brincando de Deus: bioética e as marcas sociais da genética. São Paulo: Ave Maria, 2007. VIEIRA, Tereza Rodrigues; FÉO, Christina. Ensaios de bioética e direito. Brasília: Consulex, 2009. ZATZ, Mayana. Projeto genoma humano e ética. São Paulo em Perspectiva. 14 (3), 2000.