UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP ANA CAROLINA ROSA UTILIZAÇÃO DE EXTRATOS DE CAJUZINHO-DO-CERRADO E DO LIQUIDO DA CASTANHA DE CAJU (LCC) NO CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS ATRAVÉS DO ESTUDO DE ESPÉCIES-ALVO CAMPO GRANDE - MS 2015 ANA CAROLINA ROSA UTILIZAÇÃO DE EXTRATOS DE CAJUZINHO-DO-CERRADO E DO LIQUIDO DA CASTANHA DE CAJU (LCC) NO CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS ATRAVÉS DO ESTUDO DE ESPÉCIES-ALVO Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera-Uniderp, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Comitê de Orientação: Prof. Dr. Ademir Kleber Morbeck de Oliveira Profa. Dra. Rosemary Matias CAMPO GRANDE – MS 2015 2 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhanguera – Uniderp R694u Rosa, Ana Carolina. Utilização de extratos de cajuzinho-do-cerrado e do líquido da castanha de caju (LCC) no controle de plantas daninhas através do estudo de espécies-alvo. / Ana Carolina Rosa. -- Campo Grande, 2015. 83f. Dissertação (mestrado) – Universidade Anhanguera – Uniderp, 2015. “Orientação: Prof. Dr. Ademir Kleber Morbeck de Oliveira. ” 1. Desenvolvimento regional 2. Alelopatia 3. Anacardiaceae 4. Herbicidas naturais Título. CDD 21.ed. 338.9 577.82 3 AGRADECIMENTOS A Deus A minha família, pelo apoio, incentivo, suporte, ensinamentos de perseverança, humildade e caráter. A Elvia Silvia Rizzi e Kelly Cristina Lacerda pelo apoio durante toda a caminhada. A todos que me apoiaram e participaram para que este trabalho fosse realizado, principalmente aos meus orientadores: Dr. Ademir K. M. de Oliveira e à Dra. Rosemary Matias pela oportunidade e ensino. A Universidade Anhanguera-Uniderp. 4 SUMÁRIO 1. Resumo Geral ................................................................................... 2. General Summary ................................................................................... 7 66 666....................... 3. Introdução Geral ............................................................................... 8 ................................................................................... 4. Revisão de Literatura 6 ........................................................ ..... 12 ...... 4.1 Alelopatia e os aleloquimicos .............................................................. 12 ...................... 4.2 Metabólitos secundários ...................................................... ............ 13 4.3 Plantas daninhas ...................................................... ......... 16 4.4 O bioma Cerrado ...................................................... .......... 18 4.5 4 Anacardiaceae ...................................................... .......... 19 4.6 Anacardium humile ...................................................... ........ 19 4.7 Líquido da castanha do caju (LCC) ...................................................... ....... 21 5. Referencias Bibliográficas ...................................................... ........... 23 6. Artigos Artigo I ....................................................................................................... ................. 34 .......................................................................................................... 34 Potencial alelopático dos extratos de cajuzinho-do-cerrado na germinação ............................... e crescimento de alface, tomate e fedegoso. Resumo ........................................................................................................ 34 Abstract Introdução ......................................................................................................... 35 .................................................................................................... .. 35 Material e Métodos ..................................................................................... .. 38 Resultados e Discussão ............................................................................. .... 42 Conclusão .......................................................................... 54 Referências Bibliográficas ......................................................................... ............................ 54 Artigo II ......................................................................... ...... 64 Análise química e potencial alelopático do liquido da castanha de caju .......................... (LCC) na germinação e crescimento de alface e tomate. Resumo ........................................................................................................ Abstract 64 ......................................................................................................... 65 Introdução................... .................................................................................................... 65 Material e Métodos .. ............................................................................. 68 Resultados e Discussão ............................................................................. ............ 71 Conclusão ............................................................................. . 77 Referências Bibliográficas ........................ ......................................................................... 77 7. Conclusão Geral ...................................................................................... 83 5 1. Resumo Geral O uso de produtos naturais obtidos de matéria-prima vegetal oferece uma grande diversidade de moléculas e atividades biológicas, entre estas encontra-se as propriedades alelopáticas. Assim, o presente trabalho, que está inserido da linha Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável, teve como objetivo estudar os efeitos alelopáticos de extratos do cajuzinho-do-cerrado (Anacardium humille), do Líquido da Castanha de Caju (LCC) comercial e de um fitoproduto a base do LCC sobre a germinação e desenvolvimento Lactuca sativa, Lycopersicon esculentum e Senna obtusifolia, além de realizar sua caracterização química. Nos bioensaios de germinação, foram utilizados 5 mL das amostras de extrato aquoso e etanólico das folhas do cajuzinho e do LCC nas concentrações de 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL -1 e da formulação, 100 mg mL-1, além do controle com água destilada, em delineamento inteiramente casualizado (quatro tratamentos e quatro repetições). Para os bioensaios de crescimento, foram utilizadas 10 mL dos extratos nas mesmas concentrações, com o mesmo delineamento. Para os testes em casa de vegetação, foram utilizados pó das folhas misturado a vermiculita, em diferentes proporções. Os extratos (aquoso e etanólico) das folhas do cajuzinho e o LCC foram submetidos a analise física e química e apresentaram predominantemente compostos fenólicos, flavonóides, triterpenos e esteróides. O LCC e a formulação a base de LCC possuem majoritariamente o ácido anacárdico. O extratos testados e o LCC, apresentaram efeito alelopático sobre as sementes de alface, tomate e fedegoso, diminuindo sua germinação, tempo médio de germinação, índice de velocidade de germinação e comprimento de plântulas, a partir da concentração de 50 mg mL-1 e na maior concentração (200 mg mL-1) do LCC. Diante dos dados de crescimento e germinação analisados considera-se a espécie Anacardium humile, o LCC e a formulação como uma alternativa promissora para o controle de espécies consideradas invasoras. Palavras-chave: Alelopatia, Anacardiaceae, Lipídios fenólicos, Herbicidas naturais, Desenvolvimento Regional. 6 2. General Summary The use of natural products obtained from plant raw material offers a wide variety of large molecules and biological activities, including the allelopathic properties. Therefore the present research, is inserted in the study line of Society, Environment and Sustainable Regional Development, that had the objective to study, the allelopathic effects of cajuzinho-do-cerrado extracts (Anacardium humile), Liquid Cashew Nut (CNSL) commercial, and a fitoproduto, which has as base the CNSL in the germination and growth of Lactuca sativa, Lycopersicon esculentum and an invasive species, Senna obtusifolia, besides to chemically characterize. The experiment was conducted at the Research Laboratory of Environmental Systems and Biodiversity, University Anhanguera-Uniderp, Campo Grande, Mato Grosso do Sul. For germination bioassays were used 5 mL it‟s were used 5 mL of aqueous extracts and ethanolic at concentrations of 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL-1, beyond the use of distilled water for control, in Petri dish and a control with distilled water at completely randomized design (CRD), (with four treatments and four repetitions). For bioassays of growth, 10 mL of the extract at the same concentrations and the CRD. For the tests in the „casa de vegetação‟, there was use dust of leaves mixed with vermiculite in different proportions. The extracts (aqueous and ethanolic) the leaves of cajuzinho and the CNSL were submitted to analyze physical and chemical and showed predominantly phenolic compounds, flavonoids, triterpenes and steroids. The CNSL and formulating the basis of CNSL have mostly acid anacárdico. The tested extracts and the CNSL, showed allelopathic effect on the seeds of lettuce, tomato and “fedegoso”, decreasing its germination, average time of germination, germination speed index and length of seedlings, from the concentration of 50 mg mL-1 and the highest concentration (200 mg mL-1) of CNSL. According to the data the growth and germination analyzed It is considered that the specie Anacardium humile, CNSL and the formulation as a promising alternative for the control of species considered as weeds. Keywords: Allelopathy, Anacardiaceae, Phenolic lipid, Natural herbicides, Regional Development. 7 3. Introdução Geral Existe uma vasta literatura quando se trata do comportamento alelopático dos vegetais. A palavra alelopatia é usada para indicar qualquer efeito causado por um ser vivo que pode influenciar de forma benéfica e/ou prejudicial sobre outro, através de substâncias químicas denominadas aleloquímicos. Estes são liberados pelas diversas partes da planta ou pela decomposição de folhas e caules e exsudação diretamente no solo pelas raízes (RICE, 1984; MIZUTANI, 1999). Os aleloquímicos isolados de plantas são uma fonte de potencial para modelos de novos tipos de herbicidas. Esses “herbicidas naturais” podem ser mais específicos em relação ao seu modo de ação de maior potencial quando comparados com aqueles usados atualmente na agricultura (MIZUTANI, 1999; DUKE et al., 2000), pois oferecem variedades de moléculas com grande diversidade nas suas estruturas e atividade biológica, que podem ter propriedades herbicidas, inseticidas, fungicidas entre outras (REIGOSA e PEDROL, 2002; HERNÁNDEZ-TERRONES et al., 2007). Com isso, a alelopatia pode ajudar no controle de plantas daninhas, fornecendo novos conceitos de controle e novas gerações de fitotoxinas (ZIMDHAL, 1999; VYVYAN, 2002). Este fato é relacionado à questão de que as plantas desenvolveram ao longo da evolução e por meio da seleção natural, meios de defesa contra herbívoros, patógenos e fatores ambientais de estresse (WINK, 2003). Alguns desses eventos, por muito tempo desconhecidos por suas funções, resultam da ação de compostos orgânicos de baixo peso molecular originado pelo metabolismo primário de carbono nos vegetais (HADACEK, 2002), como os metabólitos secundários (TAIZ e ZEIGER, 2010). Os metabólitos secundários são substâncias produzidas em pequenas quantidades que nem sempre estão envolvidos em funções vitais do vegetal ou mesmo presentes em todos eles. Apresentam baixo peso molecular e possuem características químicas variadas e às vezes complexas (ALVES, 2001), e tem como funções importantes o suporte estrutural fornecido pela lignina, proteção contra a radiação ultravioleta, atração de polinizadores e dispersores, proteção contra herbivoria e agentes patogênicos e atuação na interação planta-planta (WINK, 2003; TAIZ e ZEIGER, 2010). 8 Dentre os compostos secundários que estão ligados ao metabolismo secundário, estão presentes diferentes grupos de substâncias alelopáticas que, com os recentes avanços na química de produtos naturais, podem ser importantes para a utilização em áreas agrícolas, após a identificação destas substâncias inibitórias (COELHO et al., 2011). O potencial alelopático desses compostos são investigados, inicialmente por meio de extratos aquosos e/ou alcoólicos derivados tanto de plantas cultivadas quanto de medicinais (SOUZA et al., 2005). Os aleloquímicos vegetais dividem-se em três grupos quimicamente diferentes, que são os terpenos, os compostos fenólicos e os compostos nitrogenados, sendo a maior classe a dos terpenóides (TAIZ e ZEIGER, 2010). Entre os terpenóides, divididos em vários tipos, pode-se citar os monoterpenos voláteis, chamados também de óleos essenciais, que atraem polinizadores ou repelem insetos e devido a essa característica, são usados na fabricação de perfumes ou sabores (PEIXOTO et al., 2008; LUMMISS et al., 2012). Entre os diterpenos se destaca a giberelina, um hormônio vegetal, atuante na geminação de sementes, desenvolvimento do caule e dos frutos (HANSON, 2009). Uma enorme variedade de plantas sintetiza os triterpenos e dentre destes, se destaca a classe das saponinas, que atuam na defesa contra insetos e microrganismos (MIRANDA, et al., 2013) Já os compostos fenólicos desempenham funções importantes, como atrativos para polinização ou dispersão de sementes; também protegem as plantas contra injúria, ataque de insetos e de animais (SHAHIDI e HO, 2005). Entre eles, pode-se citar os flavonóides, compostos que estão envolvidos principalmente na sinalização entre plantas e outros organismos e na proteção contra a radiação UV e os taninos, compostos envolvidos nas defesas contra pragas, pois se ligam a proteínas digestivas dos insetos (BEZERRA, 2008). Entre os compostos nitrogenados, os alcalóides se destacam, sendo compostos do metabolismo secundário reconhecidos pela presença de substâncias que atuam no sistema nervoso (PINTO et al., 2002), além de exercerem importante papel como substâncias de defesa contra insetos herbívoros atuam sobre a germinação e o desenvolvimento de plântulas de Lactuca sativa (ALVES et al., 2004). Dentre os compostos apontados com maior atividade alelopática, são 9 encontrados e distribuídos em concentrações variadas durante o ciclo de vida das plantas e em diferentes órgãos, estão os terpenóides, esteróides, compostos fenólicos e derivados (taninos, flavonoides, cumarinas) e alcaloides. Quando essas substâncias são liberadas em quantidades suficientes, podem causar efeitos na germinação de sementes, no crescimento e/ou no desenvolvimento das plantas interferindo na divisão celular, na permeabilidade das membranas, na ativação de enzimas e na produção de hormônios (RODRIGUES, 2012). Os aleloquímicos variam na planta em concentração, localização e composição, podendo ser excretados para o meio no solo ou no ar de forma ativa ou simplesmente lixiviados. O tempo de residência, persistência e a transformação podem aumentar, diminuir ou fazer cessar o seu efeito alelopático, pela ação de microrganismos no solo. Inclusive, o próprio andamento diário do metabolismo primário, com formação de cadeias carbonadas que variam nas diferentes horas do dia, tem repercussões no metabolismo secundário (FERREIRA e AQUILA, 2000). As análises de plantas com atividade alelopática podem ser importantes na busca de fitotoxinas, sendo altamente importante a realização de pesquisas nesse campo para se conhecer os mecanismos de ação, produção e decomposição de compostos alelopáticos (ROSADO et al., 2009). Para avaliar se uma planta apresenta princípios alelopáticos, são realizados bioensaios de sementes de espécies cultivadas de boa qualidade, como tomate (Lycopersicum esculentum Mill.) e a alface (Lactuca sativa L.), pois são facilmente encontradas e bastante sensíveis a vários aleloquímicos. De acordo com SOUZA et al. (2005), a principal vantagem do uso de alface como pesquisas de estudos alelopáticos encontra-se na sensibilidade das sementes da espécie, pois mesmo em baixas concentrações de aleloquímicos, o processo de germinação pode ser comprometido. Devido à importância da alelopatia nos diversos ecossistemas, vários estudos já foram realizados sobre o tema, a maioria deles envolvendo espécies econômicas. Estes são de grande importância para a descoberta de fitotoxinas, causando menos prejuízo ao ambiente quando em substituição a produtos químicos sintéticos, utilizados atualmente (TEIXEIRA e POLETTO, 2014). Deste modo, é possível diminuir a contaminação do meio, utilizando uma 10 menor quantidade de agrotóxicos e com isso, melhorar a qualidade dos produtos agrícolas (SOUZA FILHO e ALVES, 2002). A prospecção de espécies vegetais com este potencial tem sido cada vez mais intensa, uma vez que estas podem ser utilizadas no controle natural de plantas daninhas. Dessa forma, aumenta-se a possibilidade dos agricultores diminuírem a utilização de herbicidas químicos e adotarem formas de manejo mais econômico e agroecológico (ALVES et al., 2014) Como tentativa de controlar a disseminação de plantas invasoras e com a percepção de que as substâncias químicas envolvidas nas interações do tipo planta x planta poderiam ser utilizadas como estratégia de manejo de plantas daninhas, diferentes pesquisas foram desenvolvidas com enfoque no potencial de plantas medicinais. Em síntese, os trabalhos envolvem, em sua fase inicial, o uso de extratos aquosos ou alcoólicos e, em alguns poucos casos, extratos hidroalcoólicos (SOUZA FILHO et al., 2010). Pesquisas têm demonstrado os efeitos dos extratos e dos óleos essenciais sobre a germinação de diferentes espécies (ALVES et al., 2004; MARASCHIN-SILVA e AQUILA, 2006; SOUZA-FILHO et al., 2006; PICCOLO et al., 2007) e na maioria das espécies, o efeito alelopático é mais evidente quando são utilizados extratos de folhas (SOUZA et al., 2007). Pouco se sabe sobre os efeitos alelopáticos dos extratos do cajuzinhodo-cerrado (Anacardium humille) e do Líquido da Castanha de Caju (LCC), sobre espécies cultivadas e invasoras; com isso o presente trabalho tem por objetivo avaliar os possíveis efeitos alelopáticos de extratos do cajuzinho-docerrado na germinação e crescimento de Lactuca sativa (alface) e Lycopersicon esculentum (tomate) e Senna obtusifolia (fedegoso). 11 4. Revisão de Literatura 4.1 Alelopatia e os aleloquímicos Determinado por Molish, em 1937, o termo alelopatia vem das palavras gregas alleton que significa mútuo e pathos prejuízo, e é usado principalmente para indicar qualquer efeito causado por um ser vivo de forma benéfica ou prejudicial sobre outro, através de substâncias químicas ou metabólitos secundários por ele produzidos (REIGOSA e PEDROL, 2002;). Estes mecanismos de ataque e defesa, na natureza, acontecem ao mesmo tempo, sendo difícil diferenciar e identificar os efeitos de cada um, devido à complexidade biológica do processo (RICE, 1984). De acordo com BESSA (2007), plantas invasoras e culturas são capazes de produzir compostos químicos que podem influenciar o crescimento e produtividade de plantas vizinhas. As interações planta-planta são a combinação de competição direta por fontes de luz, água, nutriente e alelopatia (REZENDE, 2011). A alelopatia é considerada importante principalmente quando uma planta invasora afeta uma espécie cultivada, causando prejuízos (REIGOSA et al., 1999). Estas plantas são capazes de produzir compostos químicos que podem influenciar o crescimento e produtividade de outras plantas vizinhas, além da competição por fontes de luz, água e nutriente (REZENDE, 2011). O estudo sobre alelopatia pode ser complicado, devido ao fato de na natureza os efeitos alelopáticos entre as plantas serem difícieis de separar da complexidade de interferências que se estabelecem entre elas. Só se pode identificar um fenômeno como sendo alelopático se nos testes são comprovados que é devido às ações bioquímicas e não a fatores climáticos ou de competição por água, luz ou nutrientes orgânicos e inorgânicos (ALMEIDA, 1988). Esta competição direta por recursos nutricionais, que também causam efeitos inibitórios de uma planta sobre outra, os quais são parecidos com os do fenômeno alelopatia e definido como interferência entre duas espécies (DUKE et al., 1997). Sendo assim, um aspecto importante na pesquisa em alelopatia é a identificação de compostos aleloquímicos envolvidos nas interações entre as plantas e seus possíveis mecanismos de ação (LOTINA-HENNSEN et al., 1998; COSTA et al., 1999). 12 Os aleloquímicos isolados de plantas ou microrganismos são uma fonte potencial para modelos de novos tipos estruturais de herbicidas. Esses “herbicidas naturais” podem ser mais específicos, com novos modos de ação e de maior potencial que aqueles usados atualmente na agricultura (MIZUTANI, 1999; DUKE et al., 2000). O efeito do aleloquímico depende do composto químico que é adicionado ao ambiente, separando, assim, o fenômeno de alelopatia da competição. Estes aleloquímicos inibem a certa concentração, mas também estimulam o mesmo processo ao qual atuam, quando em pequenas concentrações (RICE, 1984). Dentre os mais variados grupos químicos, estão presentes cerca de 10 mil produtos fitoquímicos com potencial alelopático. Dentre eles estão os ácidos fenólicos, as cumarinas, os terpenóides, flavonóides, alcalóides e glicosídeos cianogênicos (TEIXEIRA e POLETTO, 2014). Os metabólitos secundários se diferem dos primários por possuírem uma distribuição variada nas plantas, ocorrem esporadicamente restringem-se a algumas famílias, gêneros, espécies e até subespécies (TEIXEIRA e POLETTO, 2014). De acordo com HADACEK (2002), para evitar a intoxicação das plantas produtoras de metabólitos secundários, estes são compartimentalizados em alguns órgãos, tecidos e estruturas celulares, como vacúolos, idioblastos, ductos laticíferos, glândulas e tricomas. RICE (1984) relata que os aleloquímicos são encontrados em todas as partes da planta, mas a sua principal fonte produtora dessas substâncias químicas vem das folhas, estes são liberados pela planta por intermédio da decomposição de folhas e caules e exsudação direta no solo pelas raízes mediante processos físicos, químicos ou biológicos, com concentrações muito baixas e variáveis, de acordo com as condições fisiológicas (BAGHESTANI et al., 1999; MIZUTANI, 1999; REIGOSA e PEDROL, 2002). 4.2 Metabólitos secundários As transformações químicas executadas pelos metabolismos primários e secundários, são necessárias para a vida dos organismos vivos, além disso, as várias substâncias extraídas dos vegetais possuem aplicabilidade na alimentação e na saúde. Isto tem sido o estímulo ao desenvolvimento do 13 estudo químico de muitas plantas. A bioquímica, principalmente, investiga a química de produtos naturais do metabolismo primário, que produz substâncias distribuídas nos seres vivos: aminoácidos, lipídios, carboidratos e macromoléculas, além de glicídios e lipídios. Já os compostos provenientes do metabolismo secundário, que são os terpenos, alcalóides, glicosídios, entre vários outros, são estudados para denominar a química de produtos naturais, estudada por químicos orgânicos (MATOS, 1999; SILVA et al., 2010). O estudo dos constituintes químicos bioproduzidos pelo metabolismo secundário dos organismos vivos, são específicos das espécies e participam das interações intra e intercelular do próprio organismo ou com células de outros organismos, e continua proporcionando a descoberta de diversas substâncias orgânicas, com atividades biológicas, que dependem da investigação farmacológica e fitoquímica (BRAZ FILHO, 2010). Segundo FUMAGALI et al. (2008), os metabólitos desempenham um importante papel na adaptação das plantas ao ambiente em que vivem e representam uma fonte de substâncias farmacologicamente ativas Há metabólitos primários que possuem funções básicas vitais, como no crescimento celular, respiração, estocagem e reprodução e também metabólitos secundários, opostos aos primários, sendo pouco abundantes e com baixa frequência, com estocagem muitas vezes ocorrendo em órgãos ou células específicas. A produção de metabólitos secundários é o resultado de complexas interações entre biossíntese, transporte, estocagem e degradação. As rotas biossintéticas dos metabólitos talvez sejam ativadas durante alguns estágios de crescimento e desenvolvimento da planta ou em períodos de estresse causados por limitações nutricionais ou ataques de patógenos. Embora qualquer tecido ou célula da planta tenha a capacidade de produzi-los, parece que isto acontece apenas em tecidos ou células especiais, tornando a biossíntese restrita a uma parte da planta; porém o armazenamento se dá em toda ela e é de fundamental importância para a sobrevivência do vegetal (REZENDE et al., 2011). Sua presença é influenciada por diversos fatores ambientais (GOBBO NETO e LOPES, 2007) e permite o aumento da sobrevivência de uma espécie, sendo responsáveis por diversas atividades biológicas e podendo atuar como 14 antibióticos, antifúngicos e antivirais para que a planta seja protegida dos patógenos, com atividades antigerminativas ou tóxicas para outras plantas, diminuindo a competição ou ainda compostos que absorvem a luz ultravioleta, evitando que as folhas sejam danificadas (FUMAGALI et al., 2008). Existem três grandes grupos de metabólitos secundários: terpenos, compostos fenólicos e alcalóides. Os terpenos são produzidos a partir do ácido mevalônico (no citoplasma) ou do piruvato e 3-fosfoglicerato (no cloroplasto), abrangem uma grande variedade de substancias de origem vegetal e sua importância ecológica como defensivos de plantas esta bem estabelecida (JUNIOR, 2003). Além disso, entre os terpenos, podemos citar os monoterpenos voláteis, chamados também de óleos essenciais, que atraem polinizadores ou repelem insetos e devido a essa característica, são usados na fabricação de perfumes ou sabores (PEIXOTO et al., 2008; LUMMISS et al., 2012). Já os alcalóides (também conhecidos como produtos secundários nitrogenados) são provenientes de aminoácidos aromáticos (tripofano, tirosina), os quais são derivados do ácido chiquímico e de aminoácidos alifáticos (omitina, lisina), sendo reconhecidos pela presença de substâncias que atuam no sistema nervoso (PINTO et al., 2002). Diferem da maioria das outras classes de produtos naturais por serem básicos e ocorrerem normalmente nas plantas como sais de ácidos orgânicos. A cafeína e várias outras substâncias são frequentemente incluídas nos alcalóides e são mais conhecidos por seus efeitos fisiológicos sobre o homem e seu uso farmacológico. Além disso, atuam como substâncias de defesa contra insetos herbívoros atuam sobre a germinação e o desenvolvimento de plântulas de Lactuca sativa (ALVES et al., 2004). Os compostos fenólicos e derivados (flavonoides, taninos) são derivados do ácido chiquímico e ácido mevalônico. As aplicações e uso pelo homem dos componentes do metabolismo secundário das plantas são variados, sendo utilizados principalmente na alimentação, na indústria e na medicina (BEZERRA, 2008). 15 4.3 Plantas daninhas As plantas daninhas existem há muito tempo, desde a antiguidade, quando plantas cultivadas viviam em estado silvestre. Sua origem foi atribuída ao homem, que para melhorar as espécies úteis, retirou a competitividade necessária para estas viverem sozinhas (LORENZI, 2000). Segundo LORENZI (2000), as plantas possuem uma grande habilidade para a sua sobrevivência e isso se dá aos alguns mecanismos desenvolvidos pela natureza como a alta produção de sementes e facilidade na dispersão das mesmas, grande agressividade competitiva e a grande longevidade no banco de sementes do solo. Um dos principais problemas enfrentados pelos agricultores é a infestação de plantas daninhas nas lavouras, elevando o custo da produção, pois além de causar prejuízos às lavouras, é necessário o controle destas plantas, podendo causar decréscimos da produtividade quer pela competição direta por fatores de produção ou pelos compostos alelopáticos liberados no meio (SILVA et al., 2006). A facilidade de infestação em áreas agrícolas das plantas daninhas está ligada ao fato delas possuírem habilidade na captação de recursos e adaptação ao ambiente e pela elevada produção de diásporos, seu potencial de disseminação e viabilidade no solo por longo período de tempo (MASIN et al., 2005) O controle de plantas daninhas em áreas de pastagens cultivadas é realizado pelo uso de herbicidas sintéticos ou através do fogo e da roçadeira, que isoladamente ou em conjunto, tem se mostrado pouco eficiente no controle de plantas daninhas em médio e longo prazo, levando os produtores a repetilos sistematicamente, o que eleva o custo de manutenção das culturas (SOUZA FILHO et al., 2006) Segundo SOUZA FILHO et al., (2006) o uso de herbicidas sintéticos, embora seja considerado um método de controle eficaz para um número considerável de espécies de plantas daninhas, tem sido questionado quanto ao seu impacto ambiental e pela crescente resistência a esses produtos. Assim, a busca de herbicidas naturais que não apresentem os inconvenientes dos herbicidas sintéticos é de fundamental importância, visando minimizar o impacto ambiental causado por essas atividades, considerando 16 que a pesquisa de propriedades alelopáticas em plantas pode ser uma oportunidade para minimizar esses problemas (SOUZA FILHO et al., 2005). A atividade dos aleloquímicos tem sido usado como alternativa ao uso de herbicidas, inseticidas e nematicidas (defensivos agrícolas). A maioria dessas substâncias provém do metabolismo secundário, porque na evolução das plantas, elas representaram alguma vantagem contra a ação de microrganismos, vírus, insetos, predadores e outros patógenos, sejam inibindo a ação destes ou estimulando o crescimento ou desenvolvimento das plantas (WALLER, 1999). Uma das espécies de invasoras de áreas agrícolas é o chamado fedegoso (Senna obtusifolia (L.) Irwin & Barneby), uma espécie herbácea nativa das Américas, pertencente à família Fabaceae (Leguminosae) e subfamília Caesalpinioideae. Apresenta distribuição pantrópica, sendo frequentemente encontrada como uma planta daninha de pastos, terrenos baldios e plantações de cereais como soja, sorgo e trigo e pode ser facilmente encontrada como contaminante de áreas de pastoreio; populações rurais muitas vezes utilizam suas sementes, torradas e moídas, para o preparo do “café negro”, uma bebida semelhante ao café (TESKE e TRENTINI, 1994), indicando seu potencial de utilização e propriedades químicas. 4.4 O bioma Cerrado O Brasil é considerado um dos países com maior biodiversidade do mundo, pois se calcula que nada menos de 10% de todo a biota terrestre encontra-se no país (GOUVEA, 2010). O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro e se destaca pela riqueza de fisionomias e por abrigar grande diversidade de espécies de animais e vegetais, com solo deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, cobrindo mais de 2 milhões de km² na região do planalto central (SIMON et al., 2009). O termo Cerrado designa uma vegetação de aspecto e flora própria, classificada dentro dos padrões do mundo como savana (EITEN, 1994) destacando-se, porém, em sua variação na composição, apresenta desde formas florestais até as campestres (RIBEIRO et al., 1998). Possui uma flora vegetal estimada em aproximadamente, sete mil espécies (VILA VERDE et al., 2003), onde grande parte da sua biodiversidade 17 ainda é desconhecida, o que é considerado um agravante, uma vez que esta savana tropical é a mais rica e ameaçada do planeta (SCARIOT e SEVILHA, 2005). Em 2000, MYERS et al. (2000) estimavam que o Cerrado brasileiro possuía aproximadamente dez mil espécies, das quais 40% endêmicas, o que representa aproximadamente 1,5% do total de espécies endêmicas do planeta, sendo considerada um dos hotspot de biodiversidade. Portanto, a intensificação dos estudos das espécies ocorrentes no Cerrado é de fundamental importância para o suporte no delineamento de estratégias de conservação dentro do bioma, tendo em vista um acelerado processo de degradação ambiental e risco eminente de extinção de muitos grupos taxonômicos (RATTER et al., 1997). Fica claro, portanto que a proteção do Cerrado, a conservação de sua biodiversidade e o estudo de sua flora são de fundamental importância (GOUVEA, 2010). A utilização popular de plantas medicinais faz parte da tradição e costume das comunidades que vivem nessa região. No entanto, as plantas utilizadas na medicina popular pelos habitantes locais não tem ainda despertado de forma significativa, o interesse da comunidade científica, se comparadas com aquelas das demais regiões, o que pode ser observado a partir da falta de dados disponíveis sobre as características biológicas de plantas medicinais do Cerrado, que possibilitem a sua utilização sustentável (SILVA, 2007) e de outras maneiras, além das convencionais. Quando se procura obter substâncias ativas de plantas, um dos principais aspectos a serem observados consiste nas informações da medicina popular. Já é senso comum que é muito mais provável encontrar atividade biológica em plantas orientadas pelo uso na medicina popular, do que em plantas escolhidas ao acaso (YUNES, 2001). Segundo SILVA et al. (2010), trabalhar com plantas é ingressar em um mundo vasto e variado. A pesquisa fitoquímica é importante, principalmente quando ainda não existem estudos químicos com espécies de interesse popular, tendo como objetivo conhecer os compostos químicos das espécies vegetais e avaliar sua presença nos mesmos, identificando grupos de metabólitos secundários relevantes (SIMÕES et al., 2000), úteis enquanto marcadores químicos no monitoramento das plantas medicinais em processo de domesticação (LEITE, 18 2009), na qualidade da matéria prima medicinal e na prospecção da biodiversidade ou bioprospecção (BRAGA, 2009). Segundo CAMARGO (1976), a medicina popular oferece ao homem uma contribuição cada vez maior, pelo fato de haver um alto conhecimento e práticas médicas relacionadas a produtos da medicina popular que são principalmente influenciadas pelo contexto sociocultural, econômico e físico no qual se encontram inseridas. O uso de produtos naturais por estas populações, por ser fonte de compostos poucos estudados, também vem sendo estudado para o controle de pragas e doenças na agricultura, como uma alternativa viável, de baixo custo e toxicidade, eficaz no controle de determinadas pragas agrícolas (ISMAN, 2000). 4.5 Anacardiaceae A família Anacardiaceae é composta de 76 gêneros, subdivididos em cinco tribos (Anacardieae, Dobineae, Rhoeae, Semecarpeae e Spondiadeae) e 600 espécies (SANT‟NNA-SANTOS et al., 2006). Aproximadamente 25% dos gêneros conhecidos são classificados como tóxicos e causadores de dermatite de contato severa, atribuída principalmente a compostos fenólicos e catecólicos ou a mistura destas substâncias, denominados lipídios fenólicos (CORREIA et al., 2006). Nos últimos anos, a origem dos lipídios fenólicos e derivados também foi objeto de investigação; além disso, espécies da família Anacardiaceae têm se mostrado bastante promissora na busca de substâncias bioativas (CORREIA et al., 2006; SANT‟NNA-SANTOS et al., 2006). Os gêneros Mangifera, Rhus e Anacardium destacam-se pelo número de investigações biológicas de seus extratos e metabólitos e os estudos de suas espécies possibilitaram verificar a ocorrência de flavonóides, terpenos, esteróides, xantonas e principalmente, dos lipídeos fenólicos e derivados (CORREIA et al., 2006) 4.6 Anacardium humile Dentre os gêneros da família Anacardiaceae o Anacardium é alvo de inúmeras investigações relativas à composição química de suas espécies, atividades biológicas de seus extratos e metabólitos secundários (PORTO et 19 al., 2008). Entre as espécies do gênero Anacardium, além de A. occidentale L., o caju comum, destaca-se A. humile St. Hil., conhecido como cajuzinho-docerrado ou cajuí, nativo do Brasil e de ocorrência natural em campo sujo e no Cerrado sensu stricto, sendo as principais áreas de distribuição os Estados de Rondônia, Bahia, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (CARVALHO et al., 2005). Assim como a grande maioria das espécies do Cerrado, A. humile tem importância biológica e socioeconômica. Seu potencial de utilização aumenta a necessidade de gerar informações biológicas, na tentativa de adequar à exploração econômica, de modo que não haja utilização predatória ou até mesmo, a extinção da espécie (LONDE, 2005). A utilização popular do cajuzinho-do-cerrado abrange praticamente todas as partes da planta. O óleo da castanha é usado para doenças da pele. A infusão, tanto de suas folhas como da casca do caule subterrâneo, é indicado como diarreica e como expectorante. O suco do pseudofruto é referido como antissifilítico. A infusão das inflorescências, empregada contra tosse e também para glicemia em diabéticos. Estudos estão sendo realizados para testar as propriedades e benefícios da espécie, nos últimos 30 anos e alguns destes demonstraram que esta planta possui atividade antifúngica, anti-rotavirus, antidiarreica, anti-inflamatória e hipoglicemiante (ALMEIDA et al., 1998). Os estudos atuais demonstram eficiência do óleo das folhas dessa planta quanto às propriedades inseticida (PORTO et al., 2008), anti-inflamatória e anticancerígena (LUIZ-FERREIRA et al., 2008), antimicrobiana, antioxidante e mutagênica (BARBOSA et al., 2008). Investigações fitoquímicas feitas por FERREIRA (2005), levaram ao isolamento de compostos do metabolismo secundário de A. humile. Entre eles, estão derivados de ácido gálico, catequinas e flavonóides. Neste mesmo estudo, o autor constatou que o extrato metanólico das folhas de A. humile foi capaz de inibir significativamente a formação de lesões ulcerativas induzidas em ratos, atribuindo esta atividade protetora à presença dos componentes encontrados. A análise fitoquímica desenvolvida por ANDRADE FILHO et al. (2010), no extrato aquoso das folhas de A. humile, detectou a presença de taninos 20 hidrolisáveis, açúcares redutores e saponinas, além do índice de espuma (Índice Afrosimétrico) com o valor de 1250, considerado elevado. Esse extrato provocou a mortalidade parcial em ninfas e “pupas” de Bemisia tuberculata (Bondar, 1923), mortalidade total em todas as concentrações testadas (2,0; 0,8; 0,4 e 0,05%) e alongamento do ciclo da fase jovem em todas as dosagens testadas. Recentemente, MATIAS et al. (2013), fracionaram o extrato clorofórmico (CHCl3) das folhas de A. humile e isolaram três triterpenos (ácido oleanólico, ursólico e betulínico), identificando por cromatografia líquida de alta eficiência o ácido anacárdico. O extrato CHCl3 causou efeito na mortalidade de ninfas de mosca branca (B. tuberculata) de 66,3 a 74,9% em todas as dosagens testadas. 4.7 Líquido da castanha do caju (LCC) Anarcadium occidentale foi objeto de investigação nos últimos anos devido a descoberta de compostos lipídicos fenólicos que podem ser encontradas em diferentes partes da planta; além disso, a família Anacardiaceae tem se mostrado bastante promissora na busca de substância bioativas (CORREIA et al., 2006). Dentre estas estão os ácidos anacárdicos, que são compostos fenólicos biossintetizados a partir de ácidos graxos. Eles constituem cerca de 90% do líquido que é extraído da casca da castanha de caju, sendo que, em tais concentrações, apresentam propriedades cáusticas e irritantes (SOUSA, 2008). O LCC representa aproximadamente 25% do peso da castanha e é considerado um subproduto de agronegócio do caju, de baixíssimo valor agregado. Este líquido é uma das fontes mais ricas de lipídeos fenólicos de origem natural, em que o componente principal é ácido anacardico (Figura 1), cuja cadeia lateral (alifática) e o grupo hidroxila e carboxílico proporcionaram, respectivamente, uma natureza hidrofóbica (apolar) e hidrofílica (polar) (MAZZETO et al., 2009), características estas importantes para justificar a atividade dos lipídios fenólicos em sistemas biológicos (GUIMARÃES et al., 2010). 21 Figura 1. Principais constituintes do Líquido da Castanha de Caju (LCC). Fonte: Adapatado de MAZZETTO et al. (2009). Diferentes processos podem ser empregados para a obtenção do LCC, como a extração a frio (prensas), extração por solvente (KUMAR et al., 2002; CORREIA et al., 2006), processo térmico-mecânico, onde o próprio LCC quente é usado como meio para aquecer as castanhas in natura a aproximadamente 190 °C; nessa temperatura, a casca externa se rompe e libera os alquilfenois presentes na casca porosa (mesocarpo), seguido da remoção da casca interna, o que permite a recuperação das amêndoas ou, ainda, extração supercrítica com CO2, onde o rendimento é praticamente 100% (PATEL et al., 2006). Esse processo de aquecimento em altas temperaturas leva o ácido anacardico a sofrer uma descarboxilação formando novas substâncias, dentre as quais tem-se o cardol, carnadol, material polímero e metilcardol (RODRIGUES, 2006). A utilização do LCC e seus constituintes foram amplamente revisadas nas últimas décadas, com sua principal aplicação na produção de derivados poliméricos e resinas, considerando seu potencial de possível substituto a alguns derivados do petróleo. Dentre as principais utilizações desses polímeros (LCC) destacam-se o uso em resinas, tintas anticorrosivas, materiais à prova d'água, retardantes de chama, no revestimento de superfícies, em materiais de atrito e na modificação de borrachas (MAZZETO et al., 2009), demonstrando a importância de seu estudo. 22 5. Referências Bibliográficas ALMEIDA, F. S. A Alelopatia e as plantas. Londrina: IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná), 1988. 60p. (IAPAR. Circular, 53). ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBEIRO, J. F. Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina: Embrapa-CPAC, 1998. 464p. ALVES, C. S. A.; MEDEIROS FILHO, S.; INNECCO, R.; TORRES, S. T. Alelopatia de extratos voláteis na germinação de sementes e no comprimento da raiz de alface. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 39, n. 11, p. 1083-1086, 2004. ALVES, G. M. R.; VASCONCELOS, F. M. T.; RAMOS, J. P. C.; SIZENANDO, C. I. T.; MELO FILHO, P. A.; LIMA, L. M.; SANTOS, R. C. Efeito alelopático de extratos aquosos na inibição da germinação de Lactuca sativa L. Congresso Brasileiro de Mamona, 6. Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, 3, 2014, Fortaleza. Anais...Campina Grande: Embrapa Algodão, 2014. p.151 ALVES, H. M. A diversidade química das plantas como fonte de fitofármacos. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, São Paulo, v. 3, p. 11-15, 2001. ANDRADE FILHO, N. N.; ROEL, A. R.; PORTO, K. R. A.; SOUZA, R. O.; COELHO, R. M.; PORTELA, A. Toxicidade do extrato aquoso das folhas de Anacardium humile para Bemisia tuberculata. Ciência Rural, Santa Maria, v. 40, p. 1689-1694, 2010. BAGHESTANI, A.; LEMIEUX, C.; LEROUX, G.; BAZIRAMAKENGA, R. Determination of allelochemicals in spring cereal cultivars of different competitiveness. Weed Science, Ann Arbor, v. 47, n. 5, p. 498-507, 1999. BARBOSA, D. B. Avaliação das atividades antimicrobianas, antioxidante e análise preliminar da mutagenicidade do extrato aquoso das folhas de Anacardium humile St. Hill. (Anacardiaceae). 2008. 64f. Dissertação 23 (Mestrado em Genética e Bioquímica) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais. BESSA, T. Avaliação fitotóxica e identificação de metabólitos secundários da raiz de Cenchrus echinatus. Horizonte Cientifico, Uberlândia, v. 1, n. 1, p. 17, 2007. BEZERRA, D. A. C. Estudo fitoquímico, bromatológico e microbiológico de Mimosa tenuiflora (Wild) Poiret e Piptadenia stipulacea (Benth) Ducke. 2008. 63f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Zootecnia) Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, Paraíba. BRAGA, F. C. Pesquisa fitoquímica. In: LEITE, J. P. V. Fitoterapia: bases científicas e tecnológicas. 1ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2009. p. 99-118. BRAZ-FILHO, R. interdisciplinaridade, Química dificuldades de e produtos perspectivas. naturais: A importância, peregrinação de Pacatupano. Quimica Nova, São Paulo, v. 17, n. 5, p. 405-445, 2010. CAMARGO, M. T. L. A medicina popular. Rio de Janeiro: Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, 1976. 46p. CARVALHO, M. P.; SANTANA, D. G.; RANAL, M. A. Emergência de plântulas de Anacardium humile A. St.-Hil. (Anacardiaceae) avaliada por meio de amostras pequenas. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v. 28, n. 3, p. 627-633, 2005. CHANDEL, R. S.; RASTOGI, R. P. Triterpenoid saponins and sapogenins: 1973-1978. Phytochemistry, Oxford, v. 19, n. 9, p.1889-1908, 1980. COELHO, M. F. B.; MAIA, S. S. S.; OLIVEIRA, A. K.; DIÓGENES, F. E. P. Atividade alelopática de extrato de sementes de juazeiro. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 29, n. 1, p. 108-11, 2011. CORREIA, S. J.; DAVID, J. P.; DAVID, J. M. Metabólitos secundários de 24 espécies de Anacardiaceae. Quimica Nova, São Paulo, v. 29, n. 6, p.12871300, 2006. COSTA, A. V.; BARBOSA, L. C. A.; DEMUNER, A. J.; SILVA, A. A. Synthesis and herbicidal activity of 2α, 4α-Dimethyl-8-oxabiciclo[3.2.1] oct-6-en-3-one derivatives. Journal of Agricultural and Food Chemistry, Washington, v. 47, n. 11, p. 4807-48114, 1999. DUKE, S. O.; DAYAN, F. E.; ROMAGNI, J. C.; RIMANDO, A. M. Natural products as sources of herbicides: current status and future trends. Weed Research, East Anglia, v. 40, n. 1, p. 99-111, 2000. DUKE, S. O.; SMEDA, R. J.; WESTON, L. A. Potential for utilization of allelopathy for weed management. In: Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, 21, 1997, Caxambu. Anais...Caxambu, 1997, p. 111-116. EITEN, G. Vegetação do Cerrado. In: PINTO, M. N. Cerrado: caracterização, ocupação e perspectivas, Brasília: UNB, 1994. p.1-65. FERREIRA, A. G.; AQUILA, M. E. A. Alelopatia: uma área emergente da ecofisiologia. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, Campinas, v. 12, p.175-204, 2000. FERREIRA, A. L. Atividade antiulcerogênica da espécie Anacardium humile St. Hill. (Anacardiaceae). 2005. 127f. Dissertação (Programa de Mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo. FUMAGALI, E.; GONÇALVES, R. A. C.; MACHADO, M. F. P. S.; VIDOTI, G. J.; OLIVEIRA, A. J. B. D. Produção de metabólitos secundários em cultura de células e tecidos de plantas: o exemplo dos gêneros Tabernaemontana e Aspidosperma. Revista Brasileira de Farmacognosia, Curitiba, v. 18, n. 4, p. 627-641, 2008. GOBBO NETO, L.; LOPES, N. P. Plantas medicinais: fatores de influência no conteúdo de metabólitos secundários. Quimica Nova, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 25 374-381, 2007. GOUVEA, D. R. Estudo da variação populacional dos metabólitos secundários do arnicão (Lychnophora salicifolia Mart., Vernonieae, Asteraceae). 2010. 76f. Tese (Programa de Pós-Graduação - Doutorado) Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo. GUIMARÃES, D. O.; MOMESSO, L. S.; PUPO, M. T. Antibióticos: importância terapêutica e perspectivas para a descoberta e desenvolvimento de novos agentes. Química Nova, São Paulo, v. 33, n. 3, p. 667-679, 2010. HADACEK, F. Secondary metabolites as plant traits: current assessment and future perspectives. Critical Reviews in Plant Sciences, Boca Raton, v. 21, n. 4, p. 273-322, 2002. HANSON, J. R. Diterpenoids. Natural Product Reports. Brighton, v. 26, n. 9, p. 1156-1171, 2009. HERNÁNDEZ-TERRONES, M. G.; MORAIS, S. A. L.; LONDE, G. B.; NASCIMENTO, E. A.; CHANG, R. Ação alelopática de extratos de embaúba (Cecropia pachystachya) no crescimento de capim-colonião (Panicum maximum), Planta Daninha, Viçosa, v. 25, n. 4, p. 763-769, 2007. ISMAN, M. B. Plant essential oils for pest and disease management. Crop Protection, Guildford, v. 19, n. 8, p. 603-608, 2000. JÚNIOR, C. V. Terpenos com atividade inseticida: uma alternativa para o controle químico de insetos. Quimica Nova, São Paulo, v. 26, n. 3, p. 390-400, 2003. KUMAR, P. P.; PARAMASHIVAPPA, R.; VITHAYATHIL, P. J.; SUBBA RAO, P. V.; RAO, S. Process for isolation of cardanol from technical cashew (Anacardium occidentale L.) nut shell liquid. Journal of Agricultural and Food Chemistry, Chicago, v. 50, n. 26, p. 4705, 2002. 26 LEITE, J. P. V. Química dos produtos naturais: Uma abordagem biossintética. In: LEITE, J. P. V. Fitoterapia: bases científicas e tecnológicas. 1ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2009. p. 47-97. LONDE, L. N. Indução de respostas morfogenéticas em Anacardium humile St. Hill. (Anacardiaceae) e análise da divergência genética entre populações. 2005. 165f. Dissertação (Programa de Mestrado do Instituto de Genética e Bioquímica), Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais. LORENZI, H. Plantas daninhas do Brasil: terrestre, aquáticas, parasitas, tóxicas e medicinais. 2ed. Nova Odessa, Editora PIantarum, 2000. 425p. LOTINA-HENNSEN, B.; MATA, R.; CALDERON, J.; CESPEDES, C.; JIMENEZ, M. Secondary metabolites isolated from Mexican plants: Target and mechanism of action on photosynthesis. Journal of Agricultural and Food Chemistry, Chicago, v. 46, n. 2, p. 165, 1998. LUIZ-FERREIRA, A.; COLA-MIRANDA, M.; BARBASTEFANO, V.; HIRUMALIMA, C. A.; VILEGAS. W.; BRITO, A. R. M. S. Should Anacardium humile St. Hill. be used as an antiulcer agent? A scientific approach to the traditional knowledge. Fitoterapia, New York, v. 79, n. 3, p. 207- 209, 2008. LUMMISS, J. A. M.; KELLEY, C.; OLIVEIRA, K. C.; PRANCKEVICIUS, A. M. T.; SANTOS, A. G.; SANTOS, E. N.; FOGG, D. E. Chemical plants: high-value molecules from essential oils. Journal of the American Chemical Society, Ottawa, v. 134, n. 46, p. 18889–18891, 2012. MARASCHIN-SILVA, F.; AQUILA, M. E. A. Potencial alelopático de espécies nativas na germinação e crescimento inicial de Lactuca sativa L. (Asteraceae). Acta Botanica Brasilica, São Paulo, v. 20, n. 1, p. 61-9, 2006. 27 MASIN, R.; ZUIN, M. C.; ARCHER, D. W.; FORCELLA, F.; ZANIN, G. Weed turf: A predictive model to aid control of annual weeds in turf. Weed Science, Champaign, v. 53, p. 193-201, 2005. MATIAS, R.; ROEL, A. R.; ANDRADE FILHO, N. N.; SCHLEDER, E. J. D.; YASUNAKA, D. S.; CARDOSO, C. A. L. Controlof silver leaf white fly in cassava grown in the greenhouse treated with Anacardium humile (Anacardiaceae) extract. Bioscience Journal, Uberlândia, v. 29, n. 6, p. 18151822, 2013. MATOS, F. J. A. Plantas da medicina popular do Nordeste: propriedades atribuídas e confirmadas. Fortaleza: EUFC, 1999. 80p. MAZZETTO, S. E.; LOMONACO, D.; MELE, G. Óleo da castanha de caju: oportunidades e desafios no contexto do desenvolvimento e sustentabilidade industrial. Química Nova, São Paulo, v. 32, n. 3, p. 732-741, 2009. MIRANDA, G. S.; SANTANA, G. S.; MACHADO, B. B.; COELHO, F. P.; CARVALHO, C. A. Atividade antibacteriana in vitro de quatro espécies vegetais em diferentes graduações alcoólicas. Revista brasileira de plantas medicinais, v. 15, n. 1, p. 104-11, 2013. MIZUTANI, J. Selected allelochemicals. Critical Revista Plant Science, Edinburg, v. 18, n. 5, p. 653-671, 1999. MYERS, N.; MITTERMEIER, R. A.; MITTERMEIER, C. G.; FONSECA, G. A. B.; KENT, J. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, Philadelphia, v. 403, n. 6772, p. 853-858, 2000. PATEL, R. N.; BANDYOPADHYAY, S.; GANESH, A. Extraction of cashew (Anacardium occidentale) nut shell liquid using supercritical carbon dioxide. Bioresource Technology, Oxford, v. 97, n. 6, p. 847-53, 2006. PEIXOTO, A. F.; MELO, D. S.; FERNANDES, T. F.; FONSECA, Y.; 28 GUSEVSKAYA, E. V.; SILVA, A. M. S.; CONTRERAS, R. R.; REYES, M.; USUBILLAGA, A.; SANTOS, E. N.; PEREIRA, M. M.; BAYÓN, J. C. Rhodium catalyzed hydroformylation of kaurane derivatives: A route to new diterpenes with potential bioactivity. Applied Catalysis A: General, Coimbra, v. 340, p. 212-219, 2008. PINTO, Â. C.; SILVA, D. H. S.; BOLZANI, V. S.; LOPES, N. P.; EPIFANIO, R. A. Produtos naturais: atualidades, desafios e perspectivas. Química Nova, São Paulo, v. 25, supl.1, p. 45-61, 2002. PORTO, K. R. A.; ROEL, A. R.; SILVA, M. M.; COELHO, R. M.; SCHELEDER, E. J.; JELLER, A. J. Atividade larvicida do óleo de Anacardium humile Saint Hill. sobre Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) (Diptera, Culicidae). Revista Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 41, n. 6, p. 586-589, 2008. RATTER, J. A.; RIBEIRO, J. F.; BRIDGEWATER, S. The Brazilian cerrado vegetation and threats to its biodiversity. Annals of Botany, Oxford, v. 80, n. 3, p. 223-230, 1997. REIGOSA, M.; PEDROL, N. Allelopathy from molecules to ecosystems. Plymouth: Science Publishers, 2002. 316p. REIGOSA, M. J.; SÁNCHEZ-MOREIRAS, A.; GONZÁLEZ, L. Ecophysiological approach in allelopathy. Critical Reviews in Plant Sciences, Oxford, v. 18, n. 5, p. 577-608, 1999. REZENDE, G. A. A.; TERRONES, M. G. H.; REZENDE, D. M. L. C. Estudo do potencial alelopático do extrato metanólico de raiz e caule de Caryocar brasiliense Camb. (Pequi). Bioscience Journal, Uberlândia, v. 27, n. 3, p. 460472, 2011. RIBEIRO, J. F.; WALTER, B. M. T.; SANO, S. M.; ALMEIDA, S. D. Fitofisionomias do bioma Cerrado. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. (Eds.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. p.89-166 29 RICE, E. L. Allelopathy. 2ed. New York: Academic Press, 1984. 267p. RODRIGUES, A. P. D. C.; LAURA, V. A.; PEREIRA, S. R.; DEISS, C. Alelopatia de duas espécies de braquiária em sementes de três espécies de estilosantes. Ciência Rural, Santa Maria v. 42, n. 10 p. 1758-1763, 2012. RODRIGUES, F. Ação antioxidante de derivados do líquido da castanha de caju (LCC) sobre a degradação termooxidativa do poli (1, 4-cis-isopreno). 2006. 160f. Tese. Programa de Pós-Graduação em Química Inorgânica. Departamento de Química Orgânica e Inorgânica. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará. ROSADO, L. D. S.; RODRIGUES, H. C. A.; PINTO, J. E. B. P.; CUSTÓDIO, T. N.; PINTO, L. B. B.; BERTOLUCCI, S. K. V. Alelopatia do extrato aquoso e do óleo essencial de folhas do manjericão "Maria Bonita" na germinação de alface, tomate e melissa. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v. 11, n. 4, p. 422-428, 2009. SANT‟ANNA-SANTOS, B. F. M. T.; MEIRA, R. M. S. A.; ASCENSÃO, L. Anatomia e histoquímica das estruturas secretoras do caule de Spondias dulcisforst F. (Anacardiaceae). Revista Árvore, Viçosa, v. 30, n. 3, p. 481-489, 2006. SCARIOT, A.; SEVILHA, A. C. Biodiversidade, estrutura e conservação de florestas estacionais deciduais no Cerrado. In: SCARIOT A.; SOUZA-SILVA, J. C.; FELFILI, J. M. Cerrado: ecologia, biodiversidade e conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2005. p. 121-139. SHAHIDI, F.; HO, C. Phenolic compounds in foods and natural health products. Washington: American Chemical Society, 2005. 320p. SIMÕES, C. M. O.; SCHENKEL, E. P.; GOSMANN, G.; MELLO, J. C. P.; MENTZ, L. A.; PETROVICK, P. R. (Orgs.). Farmacognosia: da planta ao medicamento. 3ed. Porto Alegre/Florianópolis: Editora UFRGS/UFSC, 2000. 30 822p. SILVA, S. O.; MATSUMOTO, S. N.; BEBÉ, F. V.; SÃO JOSÉ, A. R. Diversidade e frequência de plantas daninhas em associações entre cafeeiros e grevíleas. Coffee Science, Lavras, v. 1, n. 2, p. 126-134, 2006. SILVA, C. A. M. Contribuição ao estudo químico e biológico de Pouteria gardnerii (Mart. & Miq.) Baehni (Sapotaceae). 2007. 99f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde), Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal. SILVA, N. L. A.; MIRANDA, F. A. A.; DA CONCEIÇÃO, G. M. Triagem fitoquímica de plantas de Cerrado, da Área de Proteção Ambiental Municipal do Inhamum, Caxias, Maranhão. Scientia Plena, Aracaju, v. 6, n. 2, p. 1-17, 2010. SOUZA FILHO, A. P. S.; ALVES, S. M. Alelopatia: princípios básicos e aspectos gerais. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2002. 260p. SOUZA FILHO, A. P. S.; PEREIRA, A. A. G.; BAYMA, J. C. Aleloquímico produzido pela gramínea forrageira Brachiaria humidicola. Planta Daninha, Viçosa, v. 23, n. 1, p. 25-32, 2005. SOUZA-FILHO, A. P. S.; SANTOS, A. S.; SANTOS, L. S.; GUILHON, G. M. P.; SANTOS, A. S.; ARRUDA, M. S. P.; MULLER, A. H.; ARRUDA, A. C. Potencial alelopático de Myrcia guianensis. Planta Daninha, Viçosa, v. 24, n. 4, p. 64956, 2006. SOUZA FILHO, A. P. S.; GURGEL, E. S. C.; QUEIROZ, M. S. M.; SANTOS, J. U. M. Atividade alelopática de extratos brutos de três espécies de Copaifera (Leguminosae-Caesalpinioideae). Planta Daninha, Viçosa, v. 28, n. 4, p. 743751, 2010. SOUZA, C. S. M.; SILVA, W. L. P.; GUERRA, A. M. N. M.; CARDOSO, M. C. R.; TORRES, C. S. B. Alelopatia do extrato aquoso de folhas de aroeira na 31 germinação de sementes de alface. Revista Verde, Mossoró, v. 2, n. 2, p. 96100, 2007. SOUSA, B. C. Anacardium occidentale: Avaliação do efeito fotoprotetor e conservante em preparações cosméticas. 90f. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife. SOUZA, S. A. M.; CATTELAN, L. V.; VARGAS, D. P.; PIANA, C. F. B.; BOBROWSKI, V. L.; ROCHA, B. H. G. Efeito de extratos aquosos de plantas medicinais nativas do Rio Grande do Sul sobre a germinação de sementes de alface. Ciências Biológicas e da Saúde, Ponta Grossa, v. 11, n. 3, p. 29-38, 2005. TAIZ, L.; ZEIGER, E. Plant physiology. 5ed. Sounderland: Sinauer Associates Inc., 2010. 782p. TEIXEIRA, R. A.; POLETTO, R. Efeito alelopático de plantas tóxicas sobre a germinação e crescimento inicial do pepino. Revista Científica Eletrônica de Agronomia, Garça, v. 25, n. 1, p. 38-47, 2014. TESKE, M.; TRENTINI, A. M. M. Herbarium. 2ed. Curitiba: Laboratório Botanico Ltda., 1994. 216p. VILA VERDE, G. M.; PAULA, J. R.; CARNEIRO, D. M. Levantamento etnobotânico das plantas medicinais do cerrado utilizadas pela população de Mossâmedes (GO). Revista Brasileira de Farmacognosia, Brasília, v. 13, supl., p. 64-66, 2003. VYVYAN, J. R. Allelochemicals as leads for news herbicides and agrochemicals. Tetrahedron, Asymmetry, v. 58, p. 1631-1646, 2002. WALLER, G. R.; FEUG, M. C.; FUJII, Y. Biochemical analysis of allelopathic compounds: plants, microorganisms, and soil secondary metabolites. In: INDERJIT; DAKSHINI, K. M. M.; FOY, C. L. (Eds.). Principles and practices in 32 plant ecology. Boca Raton: CRC Press, 1999. p. 75-98. WINK, M. Evolution of secondary metabolites from an ecological and molecular phylogenetic perspective. Phytochemistry, Oxford, v. 64, n.1, p. 3-19, 2003. YUNES. R. A. Plantas medicinais sob a ótica da moderna química medicinal. 1ed. Chapeco: Argos, 2001. 523p. ZIMDHAL, R. L. Fundamentals of weed science. New York: Academic Press, 1999. 556p. 33 6. Artigos Artigo I Potencial alelopático dos extratos de Anacardium humile A. St. -Hil. (cajuzinho-do-cerrado) na germinação e crescimento de alface, tomate e fedegoso Ana Carolina Rosa Resumo O gênero Anacardium, na família Anacardiaceae, destaca-se em relação aos demais devido à presença de compostos fenólicos, especificamente os lipídeos fenólicos. Esse grupo químico possui inúmeras aplicações e usos populares. Uma das espécies deste gênero investigada pelos diferentes usos e potencialidades de utilização é o Anacardium humille (cajuzinho-do-cerrado). Porém pouco se sabe sobre seus efeitos alelopáticos, com isso, o presente trabalho teve por objetivo avaliar os possíveis efeitos alelopáticos dos extratos de A. humile na germinação de sementes e crescimento de espécies-alvo, alface e tomate e, uma planta invasora, o fedegoso. Para os bioensaios de germinação, foram utilizados 5 mL dos extratos aquoso e etanólico nas concentrações de 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL -1, além do controle com água destilada, em placas de Petri, com delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições (25 sementes por placa). Para os bioensaios de crescimento, 10 mL dos extratos nas mesmas concentrações, em caixas plásticas transparentes, com delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições (10 sementes pré-germinadas por caixa). Os extratos aquoso e etanólico apresentaram diferentes classes de metabólitos, com compostos fenólicos e taninos em maior intensidade. Os resultados demonstraram efeito alelopático dos extratos na germinação e no crescimento das espécies-alvo (alface e tomate) a partir da concentração de 50 mg mL-1, além da planta daninha (fedegoso) na maior concentração (200 mg mL-1), indicando que provavelmente a atividade alelopática está ligada aos diferentes compostos encontrados. Palavras-chave: Alelopatia, Anacardiaceae, lipídeos fenólicos, Herbicidas naturais 34 Abstract The Anacardium gender, of Anacardiaceae family, it is featured in, relation the family just because the presence of phenolic compounds, more specifically the phenolic lipids. This chemical group has infinite numbers of enforcement and communal application. One of the species of the gender cited, Anacardium humile (cajuzinho-do-cerrado), has highlighted because its vast different application and your potentiality for use. Meantime, is low the knowledge about its allelopathic effects. This present research has as objective to evaluate the possible effects of allelopathic extracts of the A. humile in the seed germination and the growth of target species, lettuce and tomato, and a plant weed, the fedegoso. In the bioassays of germination, its were used 5 mL of aqueous extracts and ethanolic at concentrations of 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL -1, beyond the use of distilled water for control, in Petri dish, with the completely randomized design (CRD), with four treatments and four repetitions (25 seeds per card). For bioassays of growth, 10 mL of the extract at the same concentrations, in transparent plastic boxes, also with the completely randomized design (CRD) with four treatments and four repetitions (10 seeds pre-germinated per box). The aqueous extract and ethanolic has showed different classes of metabolites, with phenolics and tannins compounds with a bigger intensity. The results showed allelopathic effects of the extracts on germination and growth of the target species ( lettuce and tomato ) from the concentration of 50 mg mL- 1 , as well as weed ( fedegoso ) in the highest concentration (200 mg mL- 1) indicating that probably the allelopathic activity is linked to different compounds found. Keywords: Allelopathy, Anacardiacea, phenolic lipid, Natural herbicides. Introdução A alelopatia é uma forma de interferência química entre plantas, mediada por metabólitos secundários, moléculas bioquimicamente diversificadas capazes de atuar em muitos processos fisiológicos. Apesar do primeiro relato sobre a interação, em 300 a. C., ter abordado a perda de produtividade agrícola (CHOU, 2006), no Brasil, apenas recentemente começou-se a estudar a aplicabilidade desses compostos na dinâmica dos agroecossistemas (GATTI et al., 2004; VOLTARELLI et al., 2012; REIGOSA et al., 2013). 35 Entre estes compostos, pode-se citar o grupo dos esteróides e triterpenos, que apresentam potencial alelopático, sendo capazes de lesionar os tecidos das plantas (FERREIRA e BORGUETTI, 2004; WILLIS, 2010); outros compostos que inibem a germinação de sementes são os alcalóides solamargina e solasonina, conhecidos por sua toxicidade (YE et al., 2001) e ser eficaz contra a herbívoria (CROTEAU et al., 2000). A classe dos compostos fenólicos apresenta o maior número de compostos com ação alelopática, sendo responsáveis por causar efeito sobre a germinação e morfologia das plantas (RICE, 1984; FERREIRA e AQUILA, 2000; FUMAGALI et al., 2008), além, de atuarem na proteção da planta contra raios ultravioleta, insetos, fungos, vírus e bactérias (CROTEAU et al., 2000). Os compostos alelopáticos podem associar-se aos herbicidas sintéticos no controle de plantas indesejáveis, ou mesmo substituí-los com vantagens (CHOU, 2006). Atualmente tem sido sugerida à possibilidade do controle de espécies vegetais nocivas (ervas daninhas) através de aleloquímicos. Uma vez determinada, através de testes de laboratório, a atividade alelopática de uma determinada espécie, os testes podem ser levados a campo, servindo como uma opção a mais a ser utilizada no controle biológico de espécies indesejáveis a agricultura (SILVA et al., 2014). O uso de sementes de espécies-alvo em bioensaios é excelente, pelo motivo de haver rápidas mudanças fisiológicas no processo de germinação, permitindo avaliar o potencial alelopático de uma espécie. A inibição da germinação e/ou do crescimento de espécies daninhas através da alelopatia é uma alternativa de controle de plantas invasoras, não só pelo uso potencial do extrato como um agente químico natural, mas também pela presença de novos grupamentos químicos nas substâncias isoladas nos extratos, as quais podem potencialmente ser manipuladas pela indústria de modo a descobrir novas moléculas com efeito herbicida (PIRES et al., 2001). As plantas daninhas são causa de prejuízos agrícolas, pois se instalam junto às culturas de interesse econômico e reduzem sua produtividade devido a competição direta por nutrientes, CO2, água, luz e outros fatores necessários para um bom desempenho de qualquer vegetal (DEUBER, 1992). Diversos métodos são empregados no controle das plantas daninhas, como físico, químico, biológico e integrado, que podem acabar se tornando 36 muito onerosos para os custos das lavouras comerciais. Desta maneira, o interesse por formas de controle mais sustentáveis vem crescendo de forma acentuada com o intuito de aumentar as opções e reduzir custos e contaminações do ambiente e do homem. Nesse contexto, a alelopatia vem ganhando espaço nas pesquisas, como uma alternativa em potencial no controle das plantas daninhas (LOUSADA et al., 2010). Dentre essas plantas daninhas o fedegoso (Senna obtusifolia (L.) Irwin & Barneby), uma espécie herbácea nativa das Américas, pertencente à família Fabaceae (Leguminosae) e subfamília Caesalpinioideae, apresenta distribuição pantrópica, sendo frequentemente encontrada como uma planta daninha de pastos, terrenos baldios e plantações de cereais como soja, sorgo e trigo (LORENZI, 2006). A utilização de espécies nativas do bioma Cerrado no estudo de propriedades alelopáticas é promissora e dentre estas estão as da família Anacardiaceae, com destaque ao gênero Anacardium pelo número de investigações de seus fitoconstituintes, principalmente pela presença dos compostos fenólicos e flavonoides (CORREIA et al., 2006; SANT‟ANNASANTOS et al., 2006). Dentre as espécies nativas do Cerrado está a Anacardium humile A. St. –Hil., conhecido como cajuzinho-do-cerrado ou cajuí, nativa do Brasil e de ocorrência natural em campo sujo, no cerrado sensu stricto e principais áreas de distribuição nos Estados de Rondônia, Bahia, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (CARVALHO et al., 2005). Estudos estão sendo realizados para descobrir as propriedades e benefícios da espécie A. humile e nos últimos 30 anos, além do uso na medicina popular, alguns destes trabalhos demonstraram que esta planta possui atividade antifúngica, anti-rotavirus, antidiarréica, hipoglicemiante, antiinflamatória, anticancerígena (ALMEIDA et al., 1998, LUIZ-FERREIRA et al., 2008), sendo que o óleo, o extrato aquoso e extrato clorofórmio das folhas apresentaram potencial inseticida (PORTO et al., 2008; ANDRADE FILHO et al., 2010; MATIAS et al., 2013), entre outras ações. Porém pouco se sabe sobre os efeitos alelopáticos dos extratos do cajuzinho-do-cerrado sobre espécies cultivadas ou nativas; com isso o presente trabalho tem por objetivo avaliar os possíveis efeitos alelopáticos de 37 extratos do cajuzinho-do-cerrado na germinação e crescimento de Lactuca sativa L. (alface), Lycopersicon esculentum Mill. (tomate) e germinação de Senna obtusifolia. Material e Métodos Coleta do material Foram utilizadas as folhas de A. humile (colhidas manualmente, com auxilio de tesoura de poda, diretamente de 20 matrizes de fragmentos de Cerrado, localizados na região conhecida como Parque dos Poderes, latitude 20°26‟21” e longitude 54°32‟27”, município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil. Após coleta, as amostras foram acondicionadas em sacos de polietileno e transportadas para o Laboratório de Pesquisa em Sistemas Ambientais e Biodiversidade, Campus Agrárias, Universidade Anhanguera-Uniderp. Secagem do material e trituração No laboratório, as folhas foram secas, sobre as bancadas forradas com papel pardo, a temperatura ambiente (27 ± 2 ºC) por 72 horas. Em sequencia, as folhas foram fragmentadas com ajuda de tesoura de poda e em seguida, trituradas em moinho industrial (Moinho tipo Willye/TE-650, Tecnal) e o pó resultante, acondicionados em béqueres lacrados com papel filme e mantidos em geladeira até a preparação do extrato. Preparação do extrato aquoso e etanólico O extrato aquoso (ExtH2O) e etanólico (ExtEtOH) foram preparados utilizando 200 g de material para 1000 mL de solvente (200 mg mL-1). A mistura permaneceu por 24 h em geladeira, na ausência de luz. Após este período, submeteu-se a mistura a um banho de ultra-som (UNIDQUE®, 1450), durante 30 minutos, e o material foi filtrado (funil de vidro e algodão) em balão volumétrico e obtido o extrato ExtH2O e o extrato ExtEtOH. A metodologia empregada seguiu os procedimentos descritos por OLIVEIRA et al. (2011). Análise fitoquímica Foi realizada com base em MATOS (2009), onde os extratos ExtH2O e 38 ExtEtOH a 200 mg mL-1, foram submetidos à prospecção fitoquímica por via úmida e seca, por meio de ensaios colorimétricos e/ou precipitação, as quais tiveram caráter qualitativo e foram realizadas em triplicatas. Os resultados foram comparados com o grupo controle (extrato ExtH2O e extrato ExtEtOH a 200 mg mL-1) e também entre si para visualizar alteração de cor ou precipitação (COSTA, 2002). As alterações na cor, para cada teste, foram classificados como sendo do parcial (±), baixo (+), moderado (++), alta intensidade (+++) e negativo (-). Os testes com formação de precipitado (compostos fenólicos e de taninos) foram realizadas em tubos graduados (Pyrex®, No.8080) e considerado como sendo parcial (menos do que 0,2 cm), baixa (0,2 a 0,5 cm), moderada (0,5 a 0,7 cm) e alta intensidade (0,7 a 1 cm) (FONTOURA et al., 2015). Os extratos ExtH2O e ExtEtOH (200,0 mg mL-1) também foram submetidos à análise de pH (pH DM-20, Digimed), condutividade elétrica (CE DM3, Digimed) e concentração de sólidos solúveis, determinada utilizando um refratômetro digital (45 RTD- refractómetro), com os resultados expressos em graus Brix corrigido para 20 °C. Determinação dos fenóis totais e flavonóides totais Para determinar o teor de fenóis e flavonóides totais, os solventes dos extratos ExtH2O e ExtEtOH a 200 mg mL-1 foram evaporados e, posteriormente, 100 mg de cada amostra retirada e utilizada nos ensaios. O teor de fenóis totais (FT) foi determinado pelo Método FolinCiocalteu‟s, com as absorbâncias medidas em espectrofotômetro na região de 750 nm (SOUSA et al., 2007), em cubetas de quartzo. A análise foi executada por interpolação da absorbância das amostras contra uma curva de calibração (y = 0,078x + 0,031; R² = 0,9959), construída com padrões de ácido gálico (GAE 10 a 300 μg mL-1). Para quantificação dos flavonóides, foi utilizada a metodologia descrita PEIXOTO SOBRINHO et al. (2008), utilizando-se como padrão a quercetina (QE = 0,5 mg.mL-1) para construir a curva de calibração nas concentrações de 0,04; 0,2; 0,4; 2; 4; 8; 12; 16; 20 μg.mL-1 (y= 0,0633 x + 0,0061 R²= 0,9989). As análises foram realizadas por espectrofotometria no comprimento de onda de 420 nm, em cubetas de quartzo. 39 O delineamento experimental dos fenóis e flavonóides totais foi realizado com três repetições para cada concentração e o cálculo das médias foi acompanhado do desvio padrão. Os resultados foram submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5%, realizadas utilizando o software estatístico BioEstat 5.0 (AYRES et al., 2007). Bioensaios de germinação Foram utilizados 5 mL dos extratos nas concentrações de 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL-1, para alface e tomate e, 10 e 200 mg mL -1 para o fedegoso, além do controle com água destilada, sobre duas folhas de papel germitest forradas em placas de Petri de 7 cm de diâmetro, que não foram umedecidas novamente durante o período de 7 dias, ao qual foi feita a avaliação. A quebra de dormência das sementes de fedegoso foi realizada através da imersão das sementes em ácido sulfúrico por 20 minutos e posterior lavagem em água corrente por três minutos. O delineamento foi inteiramente casualizado, com seis tratamentos e quatro repetições de 25 sementes de tomate e alface para cada tratamento. As placas foram mantidas em câmaras de germinação na temperatura de 20 °C para sementes de alface e 25 °C, sementes de tomate. A contagem das sementes germinadas foi realizada a cada 24 h por 7 dias, onde eram consideras germinadas as sementes que apresentarem 2 mm de raiz primária. Para o teste de germinação, foram avaliadas a percentagem de germinação FERREIRA e BORGHETTI (2004) e o vigor das sementes, medido indiretamente pelo tempo médio de germinação em dias (TMG) (LABOURIAU e AGUDO, 1987) e pelo índice de velocidade de germinação (IVG) (MAGUIRE, 1962). O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado. Não foi necessária a transformação dos dados de germinação, IVG e TMG. Os dados das características avaliadas foram submetidos à análise de variância e, quando ocorreu significância, realizou-se a comparação das médias, utilizandose do teste de Tukey, a 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram processadas om o uso do programa estatístico Assistat 7.7 beta. 40 Bioensaios de crescimento Foram utilizadas 10 mL dos extratos ExtH2O e ExtEtOH nas concentrações de 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL -1, para alface e tomate e, 10 e 200 mg mL-1 para o fedegoso, além do controle com água destilada, em caixas plásticas transparentes (11 x 3,5 cm de altura) forradas com duas folhas de papel germitest e vedadas com papel filme, que não foram umedecidas novamente durante o período de 10 dias, ao qual foi feita a avaliação. Para este teste também foi realizada a quebra de dormência nas sementes de fedegoso, conforme citado anteriormente. O delineamento foi o inteiramente casualizado, com seis tratamentos e quatro repetições contendo 10 sementes pré-germinadas para cada espéciealvo. As placas foram mantidas em câmaras de germinação, na temperatura de 20 °C para sementes de alface e 25 °C, sementes de tomate, sendo a avaliação feita 10 dias após a instalação do experimento e medidas a altura da planta (mm) do colo até o ápice e comprimento da raiz (mm), do colo até o ápice meristemático do sistema radicular (BENINCASA, 1988), através de paquímetro digital. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado. Os dados das características avaliadas foram submetidos à análise de variância e, quando ocorreu significância, realizou-se a comparação das médias, utilizandose do teste de Tukey, a 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram processadas om o uso do programa estatístico Assistat 7.7 beta. Bioensaios em casa de vegetação Para as sementes de alface e tomate, foram utilizados 950 g do substrato vermiculita e 50 g de planta (pó) para a concentração de 50 %, 900 g de vermiculita e 100 g de planta para a concentração de 10% e 800 g de vermiculita e 200 g de planta para a concentração de 20%. O controle utilizou apenas substrato vermiculita. Em seguida o material preparado foi umedecido com água destilada e permaneceu por um período de descanso de dois dias, após o qual foi distribuído em bandejas de poliestireno expandido (isopor) com 128 células. Após foi feita a semeadura nas células, utilizando 60 sementes de cada espécie para cada tratamento. O processo de emergência foi acompanhado 41 diariamente por um período de 10 dias; após esse período, as plântulas foram coletadas e medidas, avaliando-se o comprimento da raiz primária (colo até o ápice meristemático do sistema radicular) e parte aérea (colo até o ápice, mm) (BENINCASA, 1988), através de paquímetro digital. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado. Os dados das características avaliadas foram submetidos à análise de variância e, quando ocorreu significância, realizou-se a comparação das médias, utilizandose do teste de Tukey, a 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram processadas com o uso do programa estatístico Assistat 7.7 beta. Resultados e Discussões Análise fitoquímica Na análise fitoquímica das folhas de A. humile, tanto para ExtH2O como ExtEtOH (200 mg mL-1), ocorreu a predominância dos compostos fenólicos e derivados (flavonóides, taninos e antraquinonas). Para diferenciar os dois extratos, foi quantificado o teor de fenóis e flavonóides totais e, os valores obtidos para ExtEtOH foram superiores aos encontrados para ExtH2O (Tabela 1). Nesta classe de metabólitos secundários, encontra-se a maior parte dos compostos apontados com atividade alelopática (RICE, 1984), afetando a elasticidade da parede celular, além de bloquear a respiração mitocondrial, por exemplo (WEIR et al., 2004). De acordo com as análises qualitativas, pode-se verificar que o extrato ExtH2O e ExtEtOH se diferem na intensidade dos triterpenos e açúcares redutores e na ausência de esteróides no extrato ExtH2O. Essas três classes de fitoconstituintes, além dos glicosídeos cardiotônicos, estão em baixa intensidade em relação aos demais metabólitos. Resultado semelhante foi encontrado por FERREIRA (2005), para o extrato metanólico das folhas de A. humile, coletadas na região de Campinas – SP, que isolou um composto fenólico (ácido gálico), um polifenol (catequina) e flavonóides. ANDRADE FILHO et al. (2010) encontraram no extrato aquoso das folhas da espécie em estudo, coletado também na região de Campo Grande, a presença de taninos hidrolisáveis, saponinas e açúcares redutores. MATIAS et al. (2013) isolaram do extrato clorofórmico das folhas de A. humile, também coletada na região de Campo Grande-MS, triterpenos (ácido ursólico, ácido 42 oleanólico e ácido betulínico), além do ácido anacárdico, um lipídio fenólico. Tabela 1. Análise fitoquímica dos extratos, ExtH2O e ExtEtOH (200 mg mL-1), das folhas de Anacardium humile, coletadas na região do Parque dos Poderes, Campo Grande, Mato Grosso do Sul Classe de metabólitos secundários ExtH2O ExtEtOH 200 mg mL-1 Compostos Fenólicos +++ +++ Taninos ++ ++ Flavonóides ++ ++ Antraquinonas +++ +++ Esteróides - ++ Triterpenos + ++ Glicosídeos Cardiotônicos + + Açúcares Redutores + ± pH 5,04 ± 0,02 5,50 ± 0,02 Condutividade elétrica µS cm-1 132,8 ± 1,3 111,7 ± 1,8 S.S. (°Brix a 20 °C) 0,2 ± 0,1 0,1 ± 0,1 Fenóis Totais (mg de equivalentes de ácido 22,87 ± 0,12 75,45 ± 0,03 15,10 ± 0,5 51,64 ± 0,12 gálico/g) Flavonóides Totais (mg de equivalentes de quercetina/g) Fortemente positivo (+++), moderadamente positivo (++) e, fracamente positivo (+). Cond. Elétrica= condutividade elétrica. S.S.= sólidos solúveis. A diferença na classe de metabolitos secundários provavelmente decorre do fato que nas plantas, os metabólitos secundários estão distribuídos em diferentes órgãos e concentrações ao longo da sua fase fenológica (GOLDFARB et al., 2009) e desta maneira, uma outra época de coleta poderia indicar resultados distintos quanto a intensidade dos compostos. Dependo da concentração dos metabolitos liberados no meio, estes podem determinar o padrão de germinação, crescimento e o desenvolvimento de plantas ao redor (CARVALHO, 1993) e classes como a dos terpenos, 43 alcalóides e antraquinonas são as responsáveis pela ação alelopática, devido a toxicidade sobre as células vegetais (MUELLER e STOPPER, 1999; SOUZA et al., 2003; ADAMS et al., 2011; MULAC e HUMPF, 2011), enquanto os glicosídeos cardiotônicos alteram a permeabilidade da membrana das células meristemáticas atuando no citoesqueleto dessas células (BONA, 2009); desta maneira, os metabólitos podem afetar negativamente a germinação e crescimentos das plântulas. As substâncias químicas pertencentes a classe dos flavonóides estão envolvidas em alelopatia, e isso é conhecido desde o início dos anos 1980. Agropyron repens (L.), uma agressiva invasora perene tem sido apresentada como possuidora de atividade alelopática e, estudos desenvolvidos com essa invasora, têm revelado que sua atividade alelopática está relacionada com os flavonóides, incluindo tricina (WESTON et al., 1981). MORELAND e NOVITZKY (1987) hipotetizaram que os flavonóides alteram a permeabilidade da membrana da mitocôndria e do cloroplasto. As substâncias químicas pertencentes as estas classes podem ter variadas atividades biológicas, as quais poderiam ser capitalizadas para usos, inclusive como herbicida. Pelas informações disponíveis na literatura, existem menos informações a respeito do envolvimento dos taninos condensados em alelopatia do que os hidrolisáveis. Os taninos condensados são encontrados em todas as classes de plantas, estando, aparentemente, envolvidos com o desenvolvimento das plantas, mais propriamente com a vascularização (SWAIN, 1977). RICE (1984), afirma que o alface apresenta pouca sensibilidade para diferentes valores de pH e apenas valores extremos de acidez (pH ≤ 3.0, ácido) e alcalinidade (pH ≥ 9,0, básico) podem afetar a germinação, o que não deve ter ocorrido nos ensaios de alelopatia. SOUZA et al. (1999), os quais apontam que valores de condutividade inferiores a 200 µS cm-1 não possuem efeitos deletérios sobre a germinação e vigor das sementes. A determinação de sólidos solúveis é uma forma de estimar o potencial osmótico. O Brix tendendo a zero indica baixa concentração de açúcar o que não irá interferir no potencial osmótico, conforme apontado por OLIVEIRA et al. (2013). 44 Bioensaios de germinação De acordo com os dados analisados, apenas o extrato ExtH 2O apresentou interferência na percentagem de germinação das sementes de alface, na maior concentração (200 mg mL-1) com 62 % de germinação, quando comparado com o controle, 97% (Tabela 2). De acordo com FERREIRA e ÁQUILA (2000), normalmente o efeito alelopático é maior sobre o crescimento das plântulas do que sobre a germinação, o que foi observado neste trabalho, com efeito mais intenso sobre o desenvolvimento das plântulas, o que é confirmado por FERREIRA e BORGHETTI (2004), onde a percentagem final de sementes germinadas normalmente é menos afetada. Para o Índice de Velocidade de Germinação (IVG), ambos os extratos apresentaram diminuição na velocidade. No extrato ExtEtOH essa redução ocorreu a partir da concentração de 150 mg mL -1 e, para o extrato ExtH2O, em 25 mg mL-1. O Tempo Médio de Germinação (TMG) foi afetado apenas para o extrato aquoso, a partir de 50 mg mL-1, indicando que o vigor das sementes de alface foi mais afetado pelo extrato ExtH2O. Tabela 2. Germinação (%), índice de velocidade de germinação (IVG), tempo médio de germinação (TMG) e, dias de sementes de alface tratadas com os extratos ExtH2O e ExtEtOH das folhas de Anacardium humile a 0 mg mL-1 (controle) 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL-1 Extrato Germinação (%) (mg mL-1) ExtH2O ExtEtOH IVG TMG (dias) ExtH2O ExtEtOH ExtH2O ExtEtOH 0 97 a 99 a 22,3 a 23 a 1,2 a 1,2 a 25 93 a 99 a 19,4 b 20,5 ab 1,5 a 1,4 a 50 96 a 95 a 11,2 c 20,6 ab 2,2 b 1,3 a 100 88 a 96 a 6,9 d 20,3 ab 3,4 c 1,3 a 150 87 a 96 a 5,3 de 17,5 b 4,3 d 1,6 a 200 62 b 96 a 3,3 e 18,5 b 4,8 d 1,5 a *Médias seguidas de mesma letra na coluna não se diferenciam estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey 5.0 de probabilidade. Apesar de ExtEtOH apresentar maior diversidade de metabólitos 45 secundários e maiores teores de compostos fenólicos e flavonóides do que o ExtH2O, este extrato apresentou maior efeito alelopático do que o extrato etanólico. Esses resultados indicam que pode ter ocorrido um efeito de antagonismo dos constituintes químicos presentes e provavelmente dos compostos fenólicos e flavonóides no extrato ExtEtOH, em que ocorreu uma interferência mutua entre seus constituintes. SILVA et al. (2013) avaliaram a ação de três diidroflavonóis isolados das folhas de Derris urucu (Killip et Smith) Macbr sobre a germinação de sementes e desenvolvimento da espécie daninha Mimosa pudica L., e verificaram que os flavonóides, quando combinados aos pares, apresentaram atividade sinergismo ao desenvolvimento da radícula e do hipocótilo e efeitos antagônicos na germinação de sementes, isto é, as substâncias quando associadas não causavam efeito alelopático. Já o sinergismo corresponde a ação combinatória de diferentes aleloquímicos em atuam conjuntamente na inibição de sementes (MACIAS et al., 1997). Os resultados obtidos para o tomate (Tabela 3) indicaram resultados parcialmente diferentes, com a germinação sendo afetada tanto no ExtH2O quanto o ExtEtOH, a partir da concentração de 50 mg mL-1. Tabela 3. Germinação (%), índice de velocidade de germinação (IVG), tempo médio de germinação (TMG) em dias de sementes de tomate tratadas com os extratos ExtH2O e o ExtEtOH, das folhas de Anacardium humile a 0 mg mL-1 (controle) 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL-1 Extrato Germinação (%) IVG TMG (dias) (mg mL-1) ExtH2O ExtEtOH ExtH2O ExtEtOH ExtH2O ExtEtOH 0 95 a 95 a 7,2 a 6,2 a 3,4 a 3,9 a 25 93 a 87 ab 5,7 b 3,6 b 4,2 b 6,2 b 50 75 b 76 b 3,4 c 3,0 b 5,6 c 6,3 b 100 46 c 79 b 1,9 d 3,3 b 6,2 d 6,1 b 150 0d 78 b 0e 3,3 b 0e 6,1 b 200 0d 69 b 0e 2,8 b 0e 6,2 b *Médias seguidas de mesma letra na coluna não se diferenciam estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey 5.0 de probabilidade. 46 Para o IVG, ambos os extratos apresentaram diminuição em sua velocidade (Tabela 3), com redução da velocidade já ocorrendo na concentração de 25 mg mL-1. O mesmo foi observado para o TMG, com aumento no tempo de germinação também com início na concentração de 25 mg mL-1. Os resultados alcançados indicaram que o tomate, família Solanaceae, é mais sensível a presença dos diferentes aleloquímicos, em ambos os extratos, do que a alface, família Asteraceae. Esta diferença de comportamento germinativo de ambas as espécies provavelmente está ligada aos processos fisiológicos e bioquímicos das espécies-alvo, que por serem de famílias distintas, podem responder de maneira diferente aos metabólitos presentes nos extratos. Quando da germinação das sementes de fedegoso na presença dos diferentes extratos (Tabela 4), não ocorreu a inibição da germinação. Porém, o vigor das sementes foi negativamente afetado nas duas concentrações testadas do extrato ExtH2O, demonstrando que este extrato, mesmo para plantas daninhas, possui em sua composição metabólitos que afetam negativamente o processo, indicando seu potencial de uso. Tabela 4. Germinação (%), índice de velocidade de germinação (IVG) e tempo médio de germinação (TMG) em dias, de sementes de fedegoso tratadas com os extratos ExtH2O e o ExtEtOH das folhas de Anacardium humile a 0 mg mL-1 (controle), 100 e 200 mg mL-1 Germinação (%) Extrato IVG TMG (dias) (mg mL-1) ExtH2O ExtEtOH ExtH2O ExtEtOH ExtH2O ExtEtOH 0 100 a 96 a 20,7 a 17 a 1,2 a 1,7 a 100 94 a 94 a 12,7 b 14,4 a 2,2 b 2,0 a 200 100 a 98 a 10,1 b 14,8 a 2,7 b 1,9 a *Médias seguidas de mesma letra na coluna não se diferenciam estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey 5% de probabilidade. Nos bioensaios com sementes de fedegoso foram utilizadas apenas duas concentrações 100 mg mL-1 e 200 mg mL-1 pelo fato de seguirmos os bioensaios utilizando as espécies alvo (alface e tomate), onde nessas 47 concentrações apresentaram maior efeito alelopático, assim podermos avaliar possível efeito alelopático utilizando espécies daninhas. Os resultados obtidos novamente confirmam a afirmação de FERREIRA e AQUILA (2000), que apontam que a germinação é menos sensível aos aleloquímicos do que o crescimento da plântula, pois as substâncias alelopáticas podem induzir o aparecimento de problemas de desenvolvimento. CORREIA et al. (2014) relataram que ocorreu efeito alelopático significativo do extrato metanólico das sementes de Morinda citrifolia L. na germinação e velocidade de germinação das sementes de Senna obtusifolia, ao contrário do obtido neste estudo, onde foi o extrato aquoso de A. humile que não interferiu na germinação, apenas no vigor das sementes de S. obtusifolia, fator que pode estar relacionado ao compostos encontrados em M. citrifolia. SOUZA FILHO (2002), trabalhando com extrato aquoso de Calopogonium mucunoides Desv. (calopogônio), também observaram efeito alelopático sobre a germinação das sementes de outras espécies do gênero Senna, S. obtusifolia (L.) Irwin & Barneby e S. occidentalis (L.) H.S. Irwin & R.C. Barneby. O efeito alelopático do extrato ExtH2O também pode ser observado com A. humile e esta interferência deve estar relacionada à solubilidade das substâncias químicas em água. O mesmo foi descrito por SOUZA FILHO et al. (1997), analisando o extrato aquoso de calopogônio (Calopogonium mucunoides Desv.). A extração desses compostos, no ambiente, se dá através da lixiviação, o que pode justificar a presença e a interferência dessas substâncias no extrato ExtH2O dos estudos observados (SOUZA FILHO e ALVES, 2002), como a extração de saponinas, taninos e flavonóides, que são solúveis em água (FERREIRA e AQÜILA, 2000), com os taninos, por exemplo, inibindo a germinação das sementes e afetando desenvolvimento das plântulas (CASTRO e FERREIRA, 2001). Outros trabalhos também indicaram que extratos aquosos de espécies nativas possuem efeito alelopáticos sobre espécies-alvo, como ALVES et al. (2011), trabalhando com extrato aquoso de Tabernaemontana catharinensis DC., nas concentrações de 50 e 100 mg mL -1, com efeito inibitório na porcentagem de germinação de alface, além de estudos realizados por RICKLI et al. (2011) com o extrato aquoso das folhas de Azadirachta indica A. Juss. 48 que também relataram efeito alelopático sobre sementes de alface, assim como OLIVEIRA et al. (2012), com o extrato aquoso de sementes de Erythrina velutina Willd. descreveram a redução no IVG de sementes de alface. Estudo de PESSOTO et al. (2007), trabalhando com o extrato aquoso de Foeniculum vulgare Mill a 10 mg L-1, também demonstram que a percentagem de germinação e IVG das sementes de tomate foram significativamente menores em relação ao controle. Segundo RODRIGUES et al. (1992), os compostos alelopáticos são inibidores de germinação e crescimento, pois interferem na divisão celular, permeabilidade de membranas e na ativação de enzimas. A ação alelopática de Anacardium humile também foi relatada, inicialmente por PERIOTTO et al. (2012), com extrato aquoso de caule e folhas, com efeito alelopático sobre alface e rabanete (Raphanus sativus L.), resultados que corroboram com os encontrados neste estudo. Porém nem sempre a utilização de espécies nativas indica a presença de substâncias alelopáticas, tal como trabalho relatado por MALHEIROS et al. (2014), em estudo com extratos etanólicos bruto das folhas e do caule de Lafoensia pacari A. St.-Hill., que não afetaram o processo germinativo nas sementes de alface em nenhuma concentração utilizada. Também trabalho realizado com extrato aquoso e etanólico das cascas de Pouteria ramiflora (Mart.) Raldk. não indicaram nenhuma interferência no TMG das espécies-alvo, alface e tomate (OLIVEIRA et al., 2014). Bioensaios de crescimento Avaliando o desenvolvimento das plântulas de alface e tomate (Tabela 5), pode ser observado que ambos os extratos, ExtH 2O e o ExtEtOH, influenciaram negativamente no comprimento radicular quando comparado com o controle, diminuindo seu comprimento a partir concentração de 25 mg mL-1 para todos os extratos, raiz e parte aérea, com exceção da parte aérea do tomate, extrato ExtH2O, que foi afetada a partir de 50 mg mL-1. As maiores concentrações do extrato ExtH2O causaram a morte das plântulas, indicando novamente que este extrato possui maior efeito alelopático. Porém, ao contrário do processo germinativo, a espécie mais afetada foi a alface e, com exceção do crescimento do caule do tomate, extrato 49 aquoso, todas as plântulas tiveram reduções de comprimento superiores a 45% para ambas as estruturas medidas. Tabela 5. Comprimento médio das raízes e caules (mm) de sementes de alface e tomate tratadas com os extratos ExtH2O e o ExtEtOH das folhas de Anacardium humile a 0 mg mL-1 (controle), 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL-1 Alface Extrato mg mL-1 ExtH2O Tomate ExtEtOH ExtH2O ExtEtOH Raiz Caule Raiz Caule Raiz Caule Raiz Caule 0 48,3 a 15,3 a 26,2 a 9,3 a 71,8 a 26,6 a 87,3 a 23,1 a 25 34,2 b 7,0 b 15,4 b 5,9 b 41,8 b 27,4 a 55,2 b 18,5 b 50 4,5 c 7,6 b 15,6 b 6,4 b 12,7 c 19,7 b 23,8 c 11,7 c 100 3,0 c 3,1 c 9,1 c 6,8 b 3,6 d 10,3 c 14,3 d 8,5 d 150 0d 0d 7,9 c 5,2 bc 3,5 d 7,3 de 3,9 e 5,6 e 200 0d 0d 4,0 d 4,5 c 3,1 d 5,0 e 3,2 e 3,8 e *Médias seguidas de mesma letra na coluna não se diferenciam estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey 5.0 de probabilidade. Os resultados obtidos foram os esperados, pois como citado acima, o desenvolvimento das plântulas costuma ser mais afetado que a germinação (FERREIRA, 2004), a germinação pode ser a parte do desenvolvimento menos afetada pelos aleloquímicos. JACOBI e FERREIRA (1991) também relataram que os metabólitos secundários agem de maneira diferente nos órgãos vegetais, afetando mais o desenvolvimento do que o sistema radicular. Por exemplo, SILVA et al. (2014), trabalhando com extratos de Caryocar coriaceum Wittm, descreveram que o comprimento da raiz e do caule sofreram mais interferência que a germinação das sementes. Por outro lado, GUSMAN et al. (2011) relatam a interferência tanto na germinação quanto no crescimento inicial; entretanto a parte mais afetada foi a raiz, nas maiores concentrações do extrato de Bidens pilosa L. Os resultados encontrados, em relação ao crescimento do fedegoso (Tabela 6) indicaram que os extratos, ExtH2O e o ExtEtOH, interferiram no desenvolvimento radicular e da parte aérea das plântulas de fedegoso, com os 50 menores comprimentos observados no extrato aquoso a partir da concentração de 100 mg mL-1. O extrato ExtEtOH foi menos eficaz em inibir o crescimento, afetando negativamente apenas a raiz, na concentração de 200 mg mL-1. Tabela 6. Comprimento médio das raízes e caules (mm) de sementes de fedegoso tratadas com os extratos ExtH2O e o ExtEtOH das folhas de Anacardium humile a 100 e 200 mg mL-1 e controle (mg mL-1) Raiz Concentração Caule (mg mL-1) ExtH2O ExtEtOH ExtH2O ExtEtOH 0 32,2 a 27,5 a 23,0 a 14,9 a 100 8,7 b 23,5 ab 6,3 b 17,4 a 200 7,5 b 20,9 b 6,1 b 17,1 a *Médias seguidas de mesma letra na coluna não se diferenciam estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey 5.0 de probabilidade. Os dados observados que o processo de lixiviação dos compostos foi mais eficiente para a extração dos metabólitos, propiciando maior inibição no crescimento do fedegoso. ALBUQUERQUE et al. (2015), trabalhando com extrato aquoso das folhas de Azadirachta indica A. Juss. observaram diminuição do comprimento da parte aérea e da raiz de plantas daninhas, com o aumento da concentração (250, 500, 750 e 1000 mg mL-1), sendo o desenvolvimento mais sensível ao efeito alelopático que a germinação, o que de acordo com NOVAES et al. (2013), pode estar relacionado ao contato direto das raízes com os compostos químicos. Bioensaios casa de vegetação As análises de casa de vegetação (Tabela 7 e 8), plântulas de alface e tomate, demonstraram que a emergência foi afetada de maneira diferente, a partir da concentração de 100 mg mL-1, alface e 200 mg mL-1, tomate. Já o IVE foi afetado já a partir da concentração de 50 mg mL-1, tomate, enquanto para as sementes de alface, ocorreu uma aceleração do processo, com todos os extratos propiciando uma maior velocidade de emergência (Tabela 6). Para o desenvolvimento das plântulas de alface, o efeito inibitório do 51 substrato já ocorreu a partir de 50 mg mL-1, enquanto que para o tomate, sistema radicular, 100 mg mL-1, com a parte aérea se desenvolvendo melhor quando da presença do substrato com o pó das folhas (Tabela 7 e 8). Tabela 7. Emergência (%), índice de velocidade de emergência (IVE) e comprimento médio (mm) das raízes e caules de plântulas de alface crescidas em substrato vermiculita adicionado a pó das folhas de Anacardium humile nas concentrações de 50, 100, 200 mg mL-1 e controle vermiculita (0 mg mL-1) Concentração do extrato Emergência (mg mL-1) (%) Comprimento IVE Raiz Caule 0 94 a 3,1 b 38,2 a 24,7 a 50 80 ab 4,4 ab 30,4 b 18,8 b 100 63 bc 4,1 ab 20,9 c 19,3 b 200 50 c 5,0 a 7,9 d 12,3 c *Médias seguidas de mesma letra na coluna não se diferenciam estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey 5.0 de probabilidade. Os resultados obtidos confirmam a presença de metabólitos no pó das folhas que foi adicionado ao substrato vermiculita, alterando o processo de emergência e crescimento das plântulas, demonstrando seu efeito alelopático. Porém, a alface foi mais afetada, um resultado contrário do obtido inicialmente na avaliação do processo de germinação em caixas plásticas. Em relação ao crescimento em câmara de germinação, os resultados em casa de vegetação confirmam a ação alelopática, com maior efeito sobre a alface, o que também foi percebido na Tabela 4, onde as maiores concentrações levaram a morte das plântulas. Porém em casa de vegetação, o efeito alelopático foi menor do que o observado em laboratório, pois para que exista interferência dos compostos, estas substâncias precisam ser liberadas e, em seguida acumuladas em quantidades suficientes para que ocorra a atividade alelopática (TREZZI, 2002), o que é mais complexo quando se utiliza apenas o pó de determinado órgão. Este fator pode justificar os resultados obtidos com as sementes de tomate, onde em laboratório, a ação alelopática ocorreu a partir da 52 concentração de 5%, com melhores resultados nas concentrações de 150 e 200 mg mL-1 (0 mg mL-1 de germinação); já em casa de vegetação, a interferência alelopática ocorreu apenas na concentração de 200 mg mL-1, com 84% de sementes germinadas. Tabela 8. Emergência (%), índice de velocidade de emergência (IVE) e comprimento médio (mm) das raízes e caules de plântulas de tomate crescidos em substrato vermiculita adicionado a pó das folhas de Anacardium humile nas concentrações de 50, 100, 200 mg mL-1 e controle vermiculita (0 mg mL-1) Concentração do extrato Emergência (mg mL-1) (%) Comprimento IVE Raiz Caule 0 97 a 3,2 a 42,6 a 23,9 b 50 92 ab 2,3 b 42,6 a 28,9 a 100 92 ab 2,2 b 33,7 b 37,0 a 200 84 b 2,3 b 24,1 c 30,9 a *Médias seguidas de mesma letra na coluna não se diferenciam estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey 5.0 de probabilidade. Em relação às sementes de alface, a interferência em casa de vegetação ocorreu na concentração de 100 e 200 mg mL-1, e em laboratório, a partir de 200 mg mL-1, resultados distintos para as espécies-alvo. Este resultado está ligado a questão da ação alelopática depender da quantidade de material utilizado, dos grupos de compostos que podem ser liberados, além da reciprocidade da planta-alvo (TOKURA e NOBREGA, 2006), o que é variável. De acordo com ALMEIDA et al. (2008), em casa de vegetação ou campo, os compostos alelopáticos podem causar estresse oxidativo, atuando diretamente na degradação celular, prejudicando os processos fisiológicos e afetando o desenvolvimento inicial das plântulas alvo (ALMEIDA et al., 2008), o que pode ser observado parcialmente através dos crescimento das plântulas. Conclusão Os extratos testados demonstraram seu potencial de inibição para o crescimento das espécies-alvo e também para a espécie daninha, in vitro e em 53 casa de vegetação, evidenciando que a Anacardium humile é uma alternativa promissora para o controle de espécies consideradas invasoras. Referências Bibliográficas ADAMS, T. B.; GAVIN, C. L.; MCGOWEN, M. M.; WADDELL, W. J.; COHEN, S. M.; FERON, V. J.; MARNETT, L. J.; MUNRO, I. C.; PORTOGHESE, P. S.; RIETJENS, I. M.; SMITH, R. L. The FEMA GRAS assessment of aliphatic and aromatic terpene hydrocarbons used as flavor ingredientes. Food and Chemical Toxicology, Elsevier, v. 49, n. 10, p. 2471-2494, 2011. ALBURQUERQUE, M. B.; GARCIA NETO, S.; ALMEIDA, D. J.; MALTA, A. O. Efeito do extrato aquoso das folhas de nim indiano (Azadirachta indica) sobre o crescimento inicial de plantas daninhas. Gaia Scientia, João Pessoa, v. 9, n. 1, p.1- 6, 2015. ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBEIRO, J. F. Cerrado: espécies vegetais úteis. Planaltina: Embrapa-CPAC, 1998. 464p. ALMEIDA, G. D.; ZUCOLOTO, M.; ZETUN, M. C.; COELHO, I.; SOBREIR, F. N. Estresse oxidativo em células vegetais mediante aleloquímicos. Revista Facultad Nacional de Agronomía Medellín, Medellín, v. 61, n.1, p. 42374247, 2008. ALVES, L. L.; OLIVEIRA, P. V. A.; FRANÇA, S. C.; ALVES, P. L. C.; PEREIRA, P. S. Atividade alelopática de extratos aquosos de plantas medicinais na germinação de Lactuca sativa L. e Bidens pilosa L. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Paulínia, v. 13, n. 3, p. 328-336, 2011. ANDRADE FILHO, N. N.; ROEL, A. R.; PORTO, K. R. A.; SOUZA, R. O.; COELHO, R. M.; PORTELA, A. Toxicidade do extrato aquoso das folhas de Anacardium humile para Bemisia tuberculata. Ciência Rural, Santa Maria, v. 40, n. 8, p. 1689-1694, 2010. 54 AYRES, M.; AYRES JÚNIOR, M.; AYRES, D. L.; SANTOS, A. S. BioEstat 5.0 – aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Belém: Sociedade Civil Mamirauá, 2007. 364p. BENINCASA, M. M. P. Análise de crescimento das plantas – Noções básicas. 3ed. Jaboticabal: Funep, 1988. 42p. BONA, A. P. Estudo fitoquímico alelopático, toxico e mutagênico de Erythrina mulungu Mart. ex Benth. utilizando bioensaios. 2009. 70f. Dissertação (Mestrado em Biologia Vegetal) - Universidade Federal do Espirito Santo, Centro de Ciências Humanas e Naturais, Espirito Santo. CASTRO, H. G.; FERREIRA, F. A. Contribuição ao estudo das plantas medicinais: carqueja (Baccharis genistelloides). Viçosa: UFV, 2001. 102p. CARVALHO, M. P.; SANTANA, D. G.; RANAL, M. A. Emergência de plântulas de Anacardium humile A. St.-Hil. (Anacardiaceae) avaliada por meio de amostras pequenas. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v. 28, n. 3, p. 627-633, 2005. CHOU, C. H. Introduction to allelopathy. In: REIGOSA, M. J.; PEDROL, N.; GONSÁLES, L. (Eds.). Allelopathy: a physiological process with ecological implications. Dordrecht: Springer, 2006. p. 1-9. CORREIA, A. P.; CHRISTICHINI, J. P. L.; BARRETO, T. A.; CARDOSO, P. H. F.; SILVA, P. C. L.; SILVA, R. A. Potencial alelopático do extrato metanólico da semente de Morinda citrifolia sobre a germinação e velocidade de germinação de Senna occidentalis. In: XXIV Congresso Brasileiro de Zootecnia, 12, 2014, Vitória. Anais...Vitória: UFES, 2014. p.1-3. COSTA, A. F. Farmacognosia. 6ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2002. 824p. CROTEAU, R.; KUTCHAN, T. M.; LEWIS, N. G. Natural products (secondary metabolites). In: BUCHANAN, B.; GRUISSEM, W.; JONEAS, R. (Eds.). 55 Biochemistry and molecular biology of plants. Rockville: American Society of Plant Biologists, 2000. p. 1250–1268. DEUBER, R. Ciência das plantas daninhas: fundamentos. 1ed. v.1. Jabuticabal: FUNEP, 1992. 431p. FERREIRA, A. G.; AQUILA, M. E. A. Alelopatia: uma área emergente da ecofisiologia. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, Campinas, v. 12, p. 175-204, 2000. FERREIRA, A. G. Interferência: competição e alelopatia. In: FERREIRA, A. G.; BORGUETTI, F. (Eds.). Germinação: do básico ao aplicado. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 252-262. FERREIRA, A. L. Atividade antiulcerogenica da espécie Anacardium humile St. Hil. (Anacardiaceae). 2005. 127f. Dissertação (Mestrado em Farmacologia). Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. FOUNTOURA, F. M.; MATIAS, R.; OLIVEIRA, A. K. M.; LUDWIG, J.; BONO, J. A. M.; MARTINS, P. F. R. B.; CORSINO, J.; GUEDES, N. M. R. Seasonal effects and antifungal activity from bark chemical constituents of Sterculia apetala (Malvaceae) at Pantanal of Miranda, Mato Grosso do Sul, Brazil. Acta amazônica, Manaus, v. 45, n.3, p. 283-292, 2005. FUMAGALI, E.; GONÇALVES, R. A. C.; MACHADO, M. F. P. S.; VIDOTI, G. J.; OLIVEIRA, A. J. B. Produção de metabólitos secundários em cultura de células e tecidos de plantas: O exemplo dos gêneros Tabernaemontana e Aspidosperma. Revista Brasileira de Farmacognosia, Curitiba, v. 18, n. 4, p. 627-641, 2008. GATTI, A. B.; PEREZ, S. C. J. G. A.; LIMA, M. I. S. Atividade alelopática de extratos aquosos de Aristolochia esperanzae O. Kuntze na germinação e crescimento de Lactuca sativa L. e Raphanus sativus L. Acta Botanica 56 Brasilica, Porto Alegre, v. 18, n. 3, p. 459-472, 2004. GOLDFARB, M.; PIMENTEL, L. W.; PIMENTEL, N. W. Alelopatia: relações nos agroecossistemas. Revista Tecnologia & Ciência Agropecuária, João Pessoa, v. 3, n. 1, p. 23-28, 2009. GUSMAN, G. S.; YAMAGUSHI, M. Q.; VESTENA, S. Potencial alelopático de extratos aquosos de Bidens pilosa L., Cyperus rotundus L.. e Euphorbia heterophylla L. Iheringia Série Botânica, Porto Alegre, v. 66, n. 1, p. 87-98, 2014. JACOBI, U. S.; FERREIRA, A. G. Efeitos alelopáticos de Mimosa bimucronata (DC) OK, sobre espécies cultivadas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 26, n. 7, p. 934-935, 1991. LABOURIAU, L. G.; AGUDO, M. On the physiology of seed germination in Salvia hispanica L. I - Temperature effects. Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 59, n. 1, p. 37-50, 1987. LOUSADA, L. L.; LEMOS, G. C. S.; FREITAS, S. P.; SILVA, R. M.; ESTEVES, B. S. Alelopatia de extratos hidroalcóolicos de Cyperus rotundus L. sobre emergência de Bidens pilosa L. In: Congresso brasileiro da ciência das plantas daninhas, 27, 2010, Ribeirão Preto. Anais...Ribeirão Preto: SBCPD, 2010. p. 3329-3331. LORENZI, H. Manual de identificação e controle de plantas daninhas: plantio direto e convencional. 6.ed. São Paulo: Instituto Plantarum, 2006. 339p. LUIZ-FERREIRA, A.; COLA-MIRANDA, M.; BARBASTEFANO, V.; HIRUMALIMA, C. A.; VILEGAS, W.; BRITO, A. R. M. S. Should Anacardium humile St. Hill. be used as an antiulcer agent? A scientific approach to the traditional knowledge. Fitoterapia, Amsterdam, v. 79, n. 3, p. 207- 209, 2008. 57 MACIAS, F. A.; SIMONET, A. M.; GALNDO, J. C. G. Bioactive steroids and triterpenes from Melilotus messanensis and their allelopathic potential. Journal of Chemical Ecology, Florida, v. 23, n. 7, p. 1781- 1803, 1997. MAGUIRE, J. D. Speed of germination aid in selection and evaluation for seedling and vigour. Crop Science, Madison, v. 2, n. 1, p. 176-177, 1962. MALHEIROS, R. S. P.; SANTANA, F. S.; LINHARES NETO, M. V.; MAPELI, A. M.; MACHADO, L. L. Atividade alelopática de extratos de Lafoensia pacari A. St.-Hil. Revista Brasileira de Agroecologia, Cruz Alta, v. 9, n. 1, p. 185-194, 2014. MATIAS, R.; ROEL, A. R.; ANDRADE FILHO, N. N.; SCHLEDER, E. E. J. D.; YASUNAKA, D. S.; CARDOSO, C. A. L. Control of silverleaf whitefly in cassava grown in the greenhouse treated with Anacardium humile (Anacardiaceae) extract. Bioscience Journal, Uberlândia, v. 29, n. 6 , p. 1815-1822, 2013. MATOS, J. F. A. Introdução a fitoquímica experimental. 2ed. Fortaleza: UFC. 2009. 150p. MORELAND, D. E.; NOVITZKY, W. P. Effects of phenolic acids, coumarins, and flavonoids on isolated chloroplasts and mitochondria. In: WALLER, G. R. (Ed.) Allelochemicals: role in agriculture and forestry. Washington: American Chemical Society, 1987. p. 247-261. MUELLER, S. O.; STOPPER, H. Characterization of the genotoxicity of anthraquinones in mammalian cells. Biochimica et Biophysica Acta, Freiburg, v. 1428, n. 2-3, p. 406-414, 1999. MULAC, D.; HUMPF, H. U. Cytotoxicity and accumulation of ergot alkaloids in human primary cells. Toxicology, Elsevier, v. 282, n. 3, p. 112-121, 2011. NOVAES, E.; IMATOMI, M.; MIRANDA, M. A. F. M.; GUALTIERI, S. C. J. Phytotoxicity of leaf aqueous extract of Rapanea umbellata (Mart.) Mez 58 (Primulaceae) on weeds. Acta Scientiarum, Agronomy, Maringá, v. 35, n. 2, p. 231- 239, 2013. OLIVEIRA, A. K. M.; RIBEIRO, J. W. F.; MATIAS, R.; GUSMÃO, D. H.; PEREIRA, K. C. L. Potencial alelopático de folhas frescas de bacupari (Rheedia brasiliensis (Mart.) Planch. & Triana) na germinação de alface. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 9, n. 4, p. 550-553, 2011. OLIVEIRA, A. K. M.; PEREIRA, K. C. L.; MULLER, J. A. I.; MATIAS, R. Análise fitoquímica e potencial alelopático das cascas de Pouteria ramiflora na germinação de alface. Horticultura brasileira, Vitória da Conquista, v. 32, n. 1, p. 41-47, 2014. OLIVEIRA, A. K.; COELHO, M. F. B.; MAIA, S. S. S.; DIÓGENES, F. E.; MEDEIROS FILHO, S. Alelopatia de extratos de diferentes órgãos de mulungu na germinação de alface. Horticultura Brasileira, Vitória da Conquista, v. 30, n. 3, p. 480-483, 2012. OLIVEIRA, A. K. M.; RIBEIRO, J. W. F.; FONTOURA, F. M.; MATIAS, R. Leaf extract effects of Vochysia divergens on lettuce and tomato. Allelopathy Journal, Haryana, v. 31, n. 1, p. 129-138, 2013. PEIXOTO SOBRINHO, T. J. S.; SILVA, C. H. T. P.; NASCIMENTO, J. E.; MONTEIRO J. M.; ALBUQUERQUE, U. P.; AMORIM, E. L. C. Validação de metodologia espectrofotométrica para quantificação dos flavonóides de Bauhinia cheilantha (Bongard) Steudel. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, São Paulo, v. 44, n. 4, p. 683-689, 2008. PERIOTTO, F.; GUALTIERI, S. C. J.; LIMA, M. I. S. Allelopathic potential of Anacardium humile Mart. and their effects on seed germination and early development of seedlings. Revista Eletrônica Científica Inovação e Tecnologia, Medianeira, v. 2, n. 6, p. 2-14, 2012. 59 PESSOTTO, G. P.; PASTORINI, L. H. Análise da germinação de alface (Lactuca sativa L.) e tomate (Lycopersicon esculentum Mill.) sob a influência alelopática do funcho (Foeniculum vulgare Mill.). Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, n. 2, p. 990-992, 2007. PIRES, N. M.; PRATES, H. T.; PEREIRA FILHO, I. A.; OLIVEIRA JR, R. S.; FARIA, T. C. L. Atividade alelopática da leucena sobre espécies de plantas daninhas. Scientia Agricola, Piracicaba, v. 58, n. 1, p. 61-65, 2001. PORTO, K. R. A.; ROEL, A. R.; SILVA, M. M.; COELHO, R. M.; SCHELEDER, E. J.; JELLER, A. J. Atividade larvicida do óleo de Anacardium humile Saint Hill. sobre Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) (Diptera, Culicidae). Revista Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 41, n. 6, p. 586-589, 2008. REIGOSA, M.; GOMES, A. S.; FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. Allelopathic research in Brazil. Acta Botanica Brasilica, Porto Alegre, v. 27, n. 4, p. 629646, 2013. RICE, E. L. Allelopathy. 2ed. New York: Academic Press, 1984. 267p. RICKLI, H. C.; FORTES, A. M. T.; DA SILVA, P. S. S.; PILATTI, D. M.; HUTT, D. R. Efeito alelopático de extrato aquoso de folhas de Azadirachta indica A. Juss. em alface, soja, milho, feijão e picão-preto. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 32, n. 2, p. 473-484, 2011. RODRIGUES, L. R. A.; RODRIGUES, T. J. D.; REIS, R. A. Alelopatia em plantas forrageiras. 1ed. Guaíba: FCAVJUNESP/ FUNEP, Jaboticabal, 1992. 18p. SANT‟ANNA-SANTOS, B. F. M. T.; MEIRA, R. M. S. A.; ASCENSÃO, L. Anatomia e histoquímica das estruturas secretoras do caule de Spondias dulcisforst. F. (Anacardiaceae). Revista Árvore, Viçosa, v. 30, n. 3, p. 481-489, 2006. 60 SILVA, M. A. P.; MEDEIROS FILHO, S.; DUARTE, A. E.; MOREIRA, F. J. M. Potencial alelopático de Caryocar coriaceum Wittm na germinação e crescimento inicial de plântulas de alface. Caderno Cultura Ciência, Cariri, v. 13, n. 1, p. 17-24, 2014. SILVA, E. A. S.; LÔBO, L. T.; SILVA, G. A.; SOUZA FILHO, A. P.; SILVA, M. N.; ARRUDA, A. C.; GUILHO, G. M. S. P.; SANTOS, L. S.; ARRUDA, M. S. P. Flavonoids from leaves of Derris urucu: assessment of potential effects on seed germination and development of weeds. Anais da Academia Brasileira de Ciências, São Paulo, v. 85, n. 3, p. 881-889, 2013. SOUZA FILHO, A. P. S. Alelopatia em agroecossistemas. In: SOUZA FILHO, A. P. S.; ALVES, S. M. (Eds.). Alelopatia: princípios básicos e aspectos gerais. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2002. p. 165 - 166. SOUZA FILHO, A. P. S.; ALVES, S. M. Mecanismo de liberação e comportamento de aleloquímicos no ambiente. In: SOUZA FILHO, A. P. S.; ALVES, S. M. (Eds.). Alelopatia: princípios básicos e aspectos gerais. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2002. p. 111- 115. SOUZA FILHO, A. P. S.; RODRIGUES, L. R. A.; RODRIGUES, T. J. D. Efeitos do potencial alelopático de três leguminosas forrageiras sobre três invasoras de pastagens. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 32, n. 2, p. 165170, 1997. SOUSA, C. M.; SILVA, H. R. E.; VIEIRA-JR G. M.; AYRES, M. C. C.; COSTA, C. L. S.; ARAÚJO, D. S.; CAVALCANTE, L. C. D.; BARROS, E. D. S.; ARAÚJO, P. B. M.; BRANDÃO, M. S.; CHAVES, M. H. Fenóis totais e atividade antioxidante de cinco plantas medicinais. Quimica Nova, São Paulo, n. 30, n. 2, p. 351-355, 2007. SOUZA, L. S.; VELINI, E. D.; MAIOMONI-RODELLA, R. C. S. Efeito alelopático de plantas daninhas e concentrações de capim-braquiária (Brachiaria decumbens) no desenvolvimento inicial de eucalipto (Eucalyptus grandis). 61 Planta daninha, Viçosa, v. 21, n. 3, p. 343-354, 2013. SWAIN, T. Secondary compounds as protective agents. Annual Review of Plant Physiology, v. 28, p. 479-501, 1977. TESKE, M.; TRENTINI, A. M. M. Compêndio de fitoterapia. 2ed. Curitiba: Herbarium, 1994. 268p. TREZZI, M. M. Avaliação do potencial alelopático de genótipos de sorgo. 2002. 132f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. TOKURA, L. K.; NOBREGA, L. H. P. Alelopatia de cultivos de cobertura vegetal sobre plantas infestantes. Acta Scientiarum. Agronomy, Maringá, v. 28, n.3, p. 379-384, 2006. VOLTARELLI, V. M.; NEPOMUCENO, J. P.; LIMA, M. I. S. Allelopathic potential of Gleichenella pectinata (Willd.) Ching on weed plant species. Acta Botanica Brasilica, Porto Alegre, v. 26, n. 4, p. 779-784, 2012. WEIR, T. L.; PARK, S. W.; VIVANCO, J. M. Biochemical and physiological mechanisms mediated by allelochemicals. Current Opinion in Plant Biology, London, v. 7, n. 4, p. 472-479, 2004. WESTON, L. A.; BURKE, B. A.; PUTNAM, A. R. Isolation, characterization and activity of phytotoxic compounds from quackgrass [Agropyron repens (L.) Beauv.]. Journal of Chemical Ecology, Florida, v. 13, n. 3, p. 403-421, 1981. WILLIS, R. J. The history of allelopathy. New York: Springer Verlaq, 2010. 330p. YE, W. C.; WANG, H.; ZHAO, S. X.; CHE, C. T. Steroidal glycoside and glycoalkaloid from Solanum lyratum. Biochemical Systematics and Ecology, Freiburg, v. 29, n. 4, p. 421-423, 2001. 62 Artigo II Análise química e potencial alelopático do líquido da castanha de caju (LCC) na germinação de sementes e crescimento de plântulas de alface, tomate e fedegoso. Ana Carolina Rosa Resumo O líquido da castanha de caju (LCC), Anacardium occidentale, é rico em lipídeos fenólicos e a esse grupo químico é atribuído inúmeras aplicações, sendo utilizado com sucesso em ensaios larvicidas para Aedes aegypti; porém pouco se sabe sobre seus efeitos alelopáticos. Com isso, o presente trabalho teve por objetivo avaliar os efeitos do LCC comercial e de um fitoproduto a base de LCC sobre a germinação e desenvolvimento de Lactuca sativa, Lycopersicon esculentum e Senna obtusifolia, além de determinar sua constituição química. Os resultados encontrados indicaram que o pH do LCC é de 6,4 ± 0,3 e da formulação de LCC, 6,8 ± 0,2; a condutividade elétrica foi de 2,89 µS cm-1 (LCC) e 2,21 µS cm-1 (formulação). Nas análises quali e quantitativa, LCC e formulação, foi evidenciada a presença do ácido anacárdico (teor de 53,2%) e produtos de degradação. Nos bioensaios de germinação, foram utilizados 5 mL do LCC nas concentrações de 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL-1 e da formulação, 100 mg mL-1, além do controle com água destilada, em delineamento inteiramente casualizado (quatro tratamentos e quatro repetições). Para os bioensaios de crescimento, foram utilizadas 10 mL dos extratos nas casualizado mesmas (quatro concentrações, tratamentos e com quatro delineamento repetições). inteiramente Os resultados demonstraram efeito alelopático dos extratos (LCC), afetando negativamente a germinação e vigor das sementes de alface e tomate, entre as concentrações de 100 e 200 mg mL-1, enquanto a formulação não exerceu efeito negativo; para o fedegoso, apenas o vigor foi afetado na concentração de 200 mg mL -1. No crescimento, o LCC influenciou negativamente as raízes de alface e tomate a partir de 25 mg mL-1 e fedegoso, a partir de 200 mg mL-1, enquanto a parte aérea foi pouco influenciada; já a formulação afetou toda a plântula. Palavras-chave: Alelopatia, Anacardiaceae, Lipídios fenólicos, plantas daninhas. 63 Abstract The liquid of cashew nut (LCC), Anacardium occidentale, is rich in phenolic lipids and this chemical group is assigned numerous applications, being used with success in tests larvicides for Aedes aegypti; however little is known about its effects alelopáticos. With this, the aim of this work was to evaluate the effects of LCC commercial and a fitoproduto the LCC on the germination and development Lactuca sativa, Lycopersicon esculentum and Senna obtusifolia, in addition to determining its chemical constitution. The results indicated that the pH of the LCC is 6.4 ± 0.3 and the formulation of LCC, 6.8 ± 0.2; the electrical conductivity was 2.89 µS cm-1 (LCC) and 2.21 µS cm-1 (formulation). The analyzes qualitative and quantitative, LCC and formulation, was evidenced by the presence of acid anacárdico (content of 53.2 %) and degradation products. For bioassays of growth, were used 10 mL of extracts at the same concentrations, with a completely randomized design (four treatments and four replicates). The results demonstrated alelopático effect of extracts of A. humile, LCC, adversely affecting the germination and vigor of the seeds of lettuce and tomato, between the concentrations of 100 and 200 mg mL -1, while the formulation had no effect, for the fedegoso only force was affected by the concentration of 200 mg mL-1. On growth, the LCC negatively influenced the roots of lettuce, tomato, from 25 mg mL-1, and fedegoso from 200 mg mL-1, while the aerial part was little influenced; already the formulation affected all the seedlings. Keywords: Allelopathy, Anacardiaceae, Phenolic lipids, weeds. Introdução Os produtos naturais obtidos de matéria-prima vegetal oferecem larga variedade de moléculas com grande diversidade nas suas estruturas e atividade biológica. Esta atividade pode se manifestar por meio das suas propriedades herbicidas, inseticidas, fungicidas e/ou farmacológicas (REIGOSA e PEDROL, 2002; SIMÕES et al., 2002; HERNANDEZ-TERRONES et al., 2003). Existe uma literatura considerável sobre o comportamento alelopático dos vegetais, com o termo alelopatia sendo usado para indicar qualquer efeito causado por um ser vivo de forma benéfica e/ou prejudicial sobre outro, por 64 meio da liberação de substâncias químicas denominadas aleloquímicos. Estes são liberados pelas diversas partes da planta ou por intermédio da decomposição de folhas e caules e exsudação direta no solo pelas raízes (RICE, 1984; MIZUTANI, 1999). As plantas têm o seu próprio mecanismo de defesa, e os aleloquímicos, algumas vezes, podem ser considerados “herbicidas naturais”, diminuindo a competição por recursos, sendo uma fonte potencial para modelos de novos tipos estruturais de herbicidas, que podem ser mais específicos, com diferentes modos de ação e de maior potencial que aqueles usados atualmente na agricultura (MIZUTANI, 1999; DUKE et al., 2000). Dessa forma, a alelopatia pode ajudar, fornecendo diferentes conceitos de controle integrado de plantas daninhas, variedades de culturas e novas gerações de fitotoxinas (ZIMDAHL, 1999; VYVYAN, 2002). A resistência ou tolerância aos metabólitos secundários é uma característica espécie-específica, existindo aquelas mais sensíveis como Lactuca sativa L. (alface) e Lycopersicon esculentum Miller (tomate), consideradas plantas indicadoras de atividade alelopática. Para que seja indicada como planta teste, a espécie deve apresentar germinação rápida e uniforme, e um grau de sensibilidade que permita expressar os resultados sob baixas concentrações das substâncias alelopáticas (FERREIRA e ÁQUILA, 2000). Porém também é necessário testar os metabólitos em espécies silvestres, tais como o fedegoso, Senna obtusifolia (L.) H. S. Irwin & Barneby, uma espécie subarbustiva, anual, considerada invasora de pastagens e áreas de cultivo. Entre as espécies que se destacam por apresentarem substâncias alelopáticas está Anacardium occidentale L., uma planta alvo de muitas pesquisas, principalmente nos últimos anos, devido a presença de lipídios fenólicos, encontrados em diferentes partes da planta e especificamente no líquido da castanha de caju (LCC) (CORREA et al., 2006; CHAVES et al., 2010). O LCC é um óleo-resina com propriedades cáusticas (LORENZI e MATOS, 2008) e até pouco tempo, empregado exclusivamente nas indústrias automobilísticas para a formulação de pó de fricção, isolantes elétricos, impermeabilizantes, vernizes, dentre outros (LOMONACO et al., 2009). 65 Atualmente, é reportado ao LCC propriedades medicinais (anti-nflamatória, analgésico e antitumoral), além de indicação como moluscicida, fungicida, bactericida e utilizado com sucesso em ensaios larvicidas contra Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) (LOMONACO et al., 2009; DOURADO et al., 2015). Como larvicida, PORTO et al. (2013), além de avaliarem o potencial inseticida do LCC, determinaram o componente majoritário (ácido anacárdico, 69%) após produção do LCC e acondicionamento em condições ambientais e em refrigeração durante seis meses, verificando o mesmo perfil de toxicidade para o A. aegypti. Esse tipo de análise é necessário, visto que o LCC não é puro e possui em sua composição cerca de 90% de ácido anacárdico, um composto fenólico biossintetizado a partir de ácidos graxos (DIÓGENES et al., 1996), e por ser facilmente descarboxilado em altas temperaturas, passa a apresentar em sua composição, além do ácido anacardico, o cardanol (70-75%), cardol (10-15%), material polimérico (10%) e traços de 2-metilcardol (RODRIGUES et al., 2006; MAZZETTO et al., 2009). Como o LCC e seus subprodutos estão sendo indicados como uma das alternativas para o controle das larvas de A. aegypti (PORTO et al., 2013; DOURADO et al., 2015) e a utilização destes produtos ocorre no ambiente onde a larva se desenvolve, se faz necessário avaliar os efeitos alelopáticos do LCC e de suas formulações a base do LCC sobre as espécies cultivadas e daninhas, com a finalidade de verificar a fitotoxicidade provocada por esse inseticida botânico. Diante do exposto, o objetivo deste estudo é avaliar os efeitos do LCC comercial e de um fitoproduto a base de LCC sobre a germinação e desenvolvimento da alface, tomate e do fedegoso, além de determinar a constituição química quantitativa e qualitativa do LCC e do produto testado. Material e Métodos Material de estudo O líquido da castanha de caju (LCC) (Cashol®), componente extraído do endocarpo de A. occidentalle, usado no experimento, foi cedido pela Resibras Company, São Paulo-SP, Brasil. A formulação a base do LCC foi obtida utilizando a tecnologia Spray 66 Drying (SpDr), que envolve a formação de partículas de tamanho reduzido e uniformes, a partir de uma amostra líquida que é nebulizada numa câmara para secagem, no meio pré-aquecido. Para isto, a formulação a base do LCC foi preparada por meio da dispersão do LCC em solução hidroalcoólica seguida de adsorção em amido de milho na proporção de 100 mg mg-1 (10%). A mistura foi seca num aparelho de SpDr da LabPlant (SD-05), nas seguintes condições: temperatura (Tin) de 100 ºC, temperatura de exaustão (T exa) 65 ºC, fluxo da bomba de aproximadamente 250 mL h-1. O pó foi tamisado para calibração do tamanho dos grânulos utilizando tamis com abertura de 200 mesh e armazenado a temperatura ambiente ao abrigo da luz (OLIVEIRA e PETROVICK, 2010). O LCC e o pó obtido da formulação foram utilizados nas análises químicas com a finalidade de avaliar a presença do ácido anacárdico e os produtos de degradação (cardanol, cardol e metil cardol), uma vez que o ácido anacárdico presente no LCC é termolábil (RISFAHERI et al., 2009) e posteriormente, empregado nos bioensaios de germinação e crescimento. Análise química A detecção do ácido anacárdico no LCC e na formulação a base de LCC (10 mg mL-1) foi realizada, qualitativamente, primeiro por cromatografia de camada delgada (CCD), aplicando 10 µL de cada uma das amostras em cromatoplacas de alumínio (Merck GF254), com 0,25 mm de espessura, tendo como fase móvel: Clorofórmio (CHCl3): Hexano (Hex): etanol (EtOH) na proporção 5,0:5,0:0,4 mL. A visualização das substâncias presentes foram observadas em câmara com lâmpada ultravioleta (max = 254 e 365 nm) (VILBER LOURMA®, VOO-6168). O segundo método de caracterização das amostras, dissolvidas em etanol, correu pela varredura entre 200 a 700 nm em espectroscopia UVvisível, utilizando 10 mg mL-1 (SILVERSTEIN e WEBSTER, 2000; AGOSTINICOSTA et al., 2004). Para quantificar o ácido anacárdico no LCC (0,004 g 100 mL -1 Hexano) e da formulação a base de LCC, utilizou-se procedimentos descritos por AGOSTINI-COSTA et al. (2005) e por interpolação da absorbância da amostra contra uma curva de calibração construída (y = 0,1088 + 0,03102 x; r2= 0,9762) 67 com padrão de ácido anacárdico (0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5 mg mL -1), obtido conforme reportado por AGOSTINI-COSTA et al. (2004). O LCC e a formulação a base de LCC também foram submetidas a análise de pH (pH DM-20, Digimed) e condutividade elétrica (DM3, Digimed). Bioensaios de germinação Foram utilizados 5 mL dos extratos de LCC nas concentrações de 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL-1 para alface e tomate, e as concentrações de 100 e 200 mg mL-1 para o fedegoso, além de um controle com água destilada (0 mg mL-1), sobre duas folhas de papel germitest forradas em placas de Petri de 7 cm de diâmetro, que não foram umedecidas novamente durante o período de 7 dias, ao qual foi feita a avaliação. O delineamento foi inteiramente casualizado, com seis tratamentos para alface e tomate e três para o fedegoso, com quatro repetições de 25 sementes para cada tratamento. As placas foram mantidas em câmaras de germinação na temperatura de 20 °C para sementes de alface e 25 °C, tomate e fedegoso. A quebra de dormência das sementes de fedegoso foi realizada com ácido sulfúrico, com imersão das sementes por 20 minutos e posterior lavagem em água corrente por cinco minutos. A contagem das sementes germinadas foi realizada a cada 24 h por 7 dias, onde eram consideras germinadas as sementes que apresentarem 2 mm de raiz primária. Para o teste de germinação, foi avaliada a percentagem de germinação BORGHETTI e FERREIRA (2004) e o vigor das sementes, medido indiretamente pelo tempo médio de germinação em dias (TMG) (LABOURIAU e AGUDO, 1987) e pelo índice de velocidade de germinação (IVG) (MAGUIRE, 1962). Os dados das características avaliadas foram submetidos à análise de variância e, quando ocorreu significância, realizou-se a comparação das médias, utilizando-se do teste de Tukey, a 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram processadas com o uso do programa estatístico Assistat 7.7 beta. Bioensaios de crescimento Foram utilizados 10 mL dos extratos de LCC nas concentrações de 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL-1, para alface e tomate e 100 e 200 mg mL -1, 68 fedegoso, além do controle com água destilada, em caixas plásticas transparentes (11 x 3,5 cm de altura) forradas com duas folhas de papel germitest. O delineamento foi o inteiramente casualizado, com seis tratamentos para alface e tomate e três para o fedegoso, com quatro repetições contendo 10 sementes pré-germinadas para cada espécie (também foi realizada a quebra de dormência das sementes de fedegoso, conforme citado anteriormente). As placas foram mantidas em câmaras de germinação, sendo a avaliação feita 10 dias após a instalação do experimento e medidas a altura da planta (mm) do colo até o ápice e comprimento da raiz (mm), do colo até o ápice meristemático do sistema radicular (BENINCASA, 1988), através de paquímetro digital. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado. Os dados das características avaliadas foram submetidos à análise de variância e, quando ocorreu significância, realizou-se a comparação das médias, utilizandose do teste de Tukey, a 5% de probabilidade. As análises estatísticas foram processadas om o uso do programa estatístico Assistat 7.7 beta. Resultados e Discussões Análise química do LCC A análise em CCD do LCC foi registrado a presença de 4 bandas (Figura 1A), esses resultados indicam que ocorreu degradação do ácido anacárdico em 3 outras substâncias, enquanto que a formulação a base de LCC (10 mg mg-1) apresentou, além do ácido anacárdico, 2 bandas (Figura 1B). Os resultados obtidos a partir dos espectros de absorção UV-visível de varredura do LCC e da formulação demonstraram a mesma absorção máxima entre 280 e 320 nm (Figura 1C e 1D), o que corresponde ao cardol e ácido anacárdico, respectivamente. Esses valores também foram descritos por AGOSTINI-COSTA et al. (2005), com as bandas 3 e 4 (Figura 1C) provavelmente correspondendo ao metilcardol e cardanol. O resultados da análise em CCD e os espectro de varredura indicaram que o LCC na formulação possui maior estabilidade, com a degradação confirmada com a quantificação do ácido no LCC, que foi de 53,2%, também em ambas as amostras. 69 Figura 1. Foto da cromatoplaca A corresponde ao LCC, componente de A. occidentalle, e a foto da cromatoplaca B, a formulação a base do LCC. As figuras 1C e 1D, os espectros de absorção de UV-visível do LCC e da formulação, correspondendo a absorção em 280 nm ao cardol (1) e em 320 nm, ao ácido anacárdico (2). As absorções em 3 e 4 não podem ser identificados. RODRIGUES et al. (2006), ao estudarem o LCC e sua degradação termoxidativa, afirmaram que amostras provenientes de extração natural contém uma maior quantidade de ácido anacárdico (60-65%), seguido do cardol (15-20%), do cardanol (10%) e traços de 2 meticardol. Em amostras extraídas com temperatura por volta dos 140 °C, o ácido anacárdico, termolábil, sofre descarboxilação, perdendo a carboxila de sua estrutura e degradando-se totalmente, gerando novas substâncias como o cardanol (70-75%), cardol (10-20%) e 10% de material polimerizado e traços de 2 metilcardol, além da decomposição gerar dióxido de carbono, o que contribuí para a variação e alcalinização do meio; é ainda possível observar que a liberação de CO2 influência diretamente na densidade do LCC e tem relação inversa a decomposição (RODRIGUES et al., 2006; LOMONACO et al., 2009; MAZZETTO et al., 2009). O LCC e a formulação apresentaram pH de 6,4 ± 0,3 e pH de 6,8 ± 0,2, respectivamente. AGOSTINI-COSTA et al. (2004) apontaram que o pH do ácido anacárdico puro, isolado das cascas de castanhas de caju, ficou entre 4,2 a 70 4,7. ANDRADE et al. (2008) encontraram valores semelhantes para o LCC, que foi de 4,4 a 4,6. O pH ácido é influenciado diretamente pela concentração de ácidos orgânicos presentes na amostra, com predominância do ácido anacárdico (AGOSTINI-COSTA et al., 2004). Por outro lado, PIMENTEL (2008) descreveu que os valores de pH superiores (entre 6,2 a 7,8) no LCC estão ligados a decomposição do ácido anacárdico, o que deve estar ocorrendo com as amostras utilizadas neste estudo. RICE (1984), afirma que o alface é uma das espécies que apresenta pouca sensibilidade para diferentes valores de pH e apenas valores extremos de acidez (pH ≤ 3.0, ácido) e alcalinidade (pH ≥ 9,0, básico) podem afetar a germinação, o que não deve ter ocorrido nos ensaios de alelopatia. O mesmo ocorreu para a condutividade elétrica, onde os valores obtidos para o LCC (CE = 2,89 µS cm-1) e para a formulação a base de LCC (CE = 2,21 µS cm-1) não influenciaram negativamente na germinação e crescimento das plântulas, conforme as recomendações de CARMELLO (1992), para o processo de germinação e crescimento e com base nos experimentos realizados por SOUZA et al. (1999), os quais apontam que valores de condutividade inferiores a 200 µS cm-1 não possuem efeitos deletérios sobre a germinação e vigor das sementes. Bioensaios de germinação (LCC) O LCC afetou a germinação das sementes de alface apenas na concentração de 200 mg mL-1, enquanto para sementes de tomate, a partir da concentração de 100 mg mL-1 (Tabela 1); para as sementes de fedegoso não ocorreu interferência na germinação (Tabela 2). Para o IVG, a concentração de 100 mg mL-1 diminuiu a velocidade de germinação de alface e tomate, enquanto para o TMG, a partir de 150 mg mL-1 (Tabela 1). Para as sementes de fedegoso, a interferência no IVG e TMG foi apenas na concentração de 200 mg mL-1 (Tabela 2). Em relação a formulação a base de LCC, pode-se observar que o mesmo não interferiu em nenhum dos parâmetros de germinação, apresentando médias estatisticamente iguais ao controle (Tabela 1). 71 Tabela 1. Germinação (%), índice de velocidade de germinação (IVG), tempo médio de germinação (TMG) em dias, de sementes de alface e tomate tratadas com o Líquido da Castanha do Caju (LCC) a 0 (controle água), 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL-1 e formulação a base de LCC da castanha de Anacardium occidentale Concentração do Germinação (%) extrato (mg mL-1) Alface Tomate Alface Tomate Alface Tomate 0 100 a 98 a 24,5 a 5,4 a 1,0 a 5,2 a 25 100 a 97 a 23,9 a 6,3 a 1,1 a 4,2 a 50 97 a 93 ab 23,6 a 6,1 a 1,0 a 4,3 a 100 97 a 84 b 20,3 b 4,1 b 1,2 a 5,5 a 150 99 a 0c 7,5 c 0c 3,5 b 0b 200 43 b 0c 2,1 c 0c 6,1 c 0b Formulação LCC 100 a 93 ab 23,8 a 5,9 a 1,1 a 4,1 a *Médias de seguidas mesma letra IVG na TMG (dias) coluna não se diferenciam estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey 5% de probabilidade. Estudos recentes demonstram que, embora a porcentagem final de germinação possa não ser significativamente afetada pela ação de aleloquímicos, o padrão de germinação pode ser modificado, verificando-se diferenças na velocidade e na sincronia da germinação de sementes submetidas a tais compostos (SANT‟ANNA-SANTOS et al., 2006). Os dados obtidos indicaram que a formulação não afetou a germinação e vigor das sementes, enquanto para as sementes de alface e tomate, tanto a germinação como o vigor das sementes foi negativamente afetado, o que difere da afirmação dos autores acima. Para as sementes de fedegoso, apenas o vigor foi afetado de maneira negativa, o que confirma a citação acima. Também pode ser observado que as sementes de tomate sofreram maior influência dos extratos testados do que as sementes de alface. Esta espécie, pertencente à família Solanaceae, possui maior sensibilidade aos metabólitos secundários encontrados nos extratos, ao contrário da alface, família Asteraceae. A diferença no processo de germinação provavelmente está relacionado a fisiologia das espécies testadas, que por serem de famílias distintas, respondem de maneira diferente aos metabólitos presentes. 72 Para ZAMBERLAM et al. (2012), os compostos fenólicos de cadeias lateral longas e hidrófobica, denominados de lípidos fenólicos, são compostos naturais encontrados em Gramineae, Leguminosae e Anacardiaceae e tem atraído interesse de vários grupos de pesquisa na busca de herbicidas naturais; dentre os compostos testados, o que mostrou notável atividade alelopática, inibindo a germinação de sementes e crescimento das plântulas, foi citosporonas A, um lipídio fenólico sintetizado. Tabela 2. Germinação (%), índice de velocidade de germinação (IVG), tempo médio de germinação (TMG) em dias, de sementes de fedegoso, tratadas com o Líquido da Castanha do Caju a 0 (controle água), 100 e 200 mg mL-1 Concentração do Germinação (%) IVG TMG (dias) 0 84 a 19,67 a 1,14 a 100 84 a 19,42 a 1,28 a 200 80 a 5,31 b 4,1 b extrato (mg mL-1) * Médias seguidas de mesma letra na coluna não se diferenciam estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Os resultados também indicaram que o fedegoso, apesar de ser uma espécie considerada invasora, é sensível aos aleloquímicos presentes nos extratos, que aumentou seu tempo de germinação, indicando um possível uso do LCC para o controle de espécies daninhas. Bioensaios de crescimento (LCC) Quanto ao desenvolvimento das plântulas de alface e tomate, o sistema radicular de ambas foi afetado negativamente a partir da concentração de 25 mg mL-1, com o protótipo também prejudicando o desenvolvimento das raízes de tomate e alface (Tabela 3). Para o fedegoso, o sistema radicular foi afetado na concentração de 200 mg mL -1 (Tabela 4). A parte aérea apresentou um padrão distinto, ocorrendo um maior crescimento para o caule, a partir de 50 mg mL-1, nas plântulas de alface, além do efeito negativo do protótipo, enquanto para o tomate, efeito negativo apenas 73 para a concentração de 200 mg mL-1 e da formulação (Tabela 3). Para o fedegoso não ocorreu interferência no desenvolvimento do caule (Tabela 4). Tabela 3. Comprimentos das raízes e caule de sementes de alface e tomate tratadas com o Líquido da Castanha do Caju (LCC) a 0 (controle água), 25, 50, 100, 150 e 200 mg mL-1 e formulação do LCC da castanha de Anacardium occidentale Comprimento Concentração do LCC Alface (mg mL-1) Tomate Raiz Caule Raiz Caule 0 47,5 a 3,2 b 59,7 a 31,5 a 25 32,2 b 3,8 b 38,4 b 33,7 a 50 32,0 b 5,3 a 31,8 bc 34,7 a 100 30,5 b 5,6 a 27,0 c 36,6 a 150 24,9 c 5,5 a 19,8 d 31,2 a 200 23,9 c 5,4 a 17,6 d 25,4 b Formulação LCC 42,1 b 2,9 b 31,6 bc 19,5 c *Médias seguidas de mesma letra na coluna não se diferenciam estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey 5% de probabilidade. Tabela 4. Comprimento da raiz e caule (mm) de plântulas de fedegoso tratadas com o Líquido da Castanha do Caju a 0 (controle água), 100 e 200 mg mL-1 Concentração do extrato (mg mL-1) Raiz Caule 0 26,2 a 13,45 a 100 23,55 a 12,11 a 200 17, 5 b 13,26 a * Médias seguidas de mesma letra na coluna não se diferenciam estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. De acordo com FERREIRA e AQUILA (2000), os efeitos alelopáticos podem ser observados tanto sobre a germinação quanto sobre o crescimento da plântula e que a germinação é menos sensível aos aleloquímicos do que o 74 crescimento da plântula, com as substâncias alelopáticas podendo induzir o aparecimento de plântulas anormais, sendo a necrose da radícula um dos sintomas mais comuns, o que foi parcialmente observado para os testes. Os dados obtidos indicaram que os sistemas radiculares das espécies testadas foi mais afetado que a parte aérea. Este padrão de comportamento é explicado por HAGEMANN et al. (2010), que escrevem que o sistema radicular é mais sensível aos aleloquímicos, pois de acordo com FUJII e HIRADATE (2007), seu alongamento rápido depende da divisão celular, que pode ser afetado pela presença destes compostos. O maior tempo de exposição das raízes aos metabólitos, devido a ser a primeira estrutura a emergir, além de obrigatoriamente os compostos passarem por sua estrutura, antes de chegar a parte aérea, são os outros fatores a influenciar negativamente o desenvolvimento das folhas e caule. Resultados similares foram citados por MAZZAFERA (2003), com efeito mais drástico sobre o crescimento do que a germinação, utilizando Syzygium aromaticum (L.) Merr. & L. M. Perry e por CARMO et al. (2007), com Ocotea odorífera (Vell.) Rohwer. Já dados de HAGEMANN et al. (2010) indicaram que o uso de extratos da parte aérea de Avena sativa L. e Avena strigosa Schreb provocaram a redução tanto na germinabilidade como no crescimento da radícula e do hipocótilo de Lolium multiflorum Lam. e Euphorbia heterophylla L. Segundo RODRIGUES et al. (1992), os compostos alelopáticos são inibidores de germinação e crescimento, pois interferem na divisão celular, permeabilidade de membranas e na ativação de enzimas. No caso do LCC e da formulação a base de LCC, o efeito alelopático sobre as espécies testadas está relacionado aos lipídios fenólicos (ácido anacárdico e produtos de decomposição). O mecanismo de ação dos lipídios fenólicos ainda não está elucidado, porém GUIMARÃES et al. (2010) e DOURADO et al. (2015), descrevem a ação dos lipídios fenólicos sobre bactérias e larvas de Aedes aegypti, respectivamente. Com base nestas informações, pode-se apontar que o efeito alelopático dos lipídios fenólicos ocorre por estes apresentarem uma cadeia lateral alifática com características hidrofóbica (apolar) e outra polar (hidrofílica), que corresponde aos grupos hidroxilas e carboxílicos (MAZZETO, 2009). A cadeia 75 alifática favorece a permeação dos lipídios fenólicos pela bicamada lipídica das sementes (membrana lipoproteica), afetando a permeabilidade da membrana. Dentro da célula, os grupos polares dos lipídios fenólicos podem atuar nos resíduos de aminoácidos das proteínas destes organismos, desativando-as (GUIMARÃES et al., 2010). As respostas fisiológicas e morfológicas das sementes ou das plântulas à exposição a compostos alelopáticos são manifestações secundárias decorrentes de alterações moleculares e celulares, cujos mecanismos ainda permanecem obscuros (FERREIRA e AQUILA, 2000). Da mesma forma, o perfil químico da maioria das espécies testadas em bioensaios de alelopatia também não está disponível na literatura. Assim, a caracterização físico-química dos extratos vegetais utilizados nesses bioensaios é importante para que se possa concluir a respeito dos efeitos biológicos observados. Conclusão O LCC e a formulação a base de LCC apresentaram efeito alelopático sobre as sementes das espécies testadas, em diferentes graus, indicando seu potencial alelopático devido a presença dos constituintes ácido anacárdico e o cardol, demonstrando que a utilização destes compostos pode afetar a sobrevivência de outros vegetais, quando utilizados em campo, o que recomendaria cuidados extras desses produtos no ambiente. Referências Bibliográficas AGOSTINI-COSTA, T. S.; JALES, K. A.; GARRUTI, D. S.; PADILLA, V. A.; LIMA, J. B.; AGUIAR, M. J.; PAIVA, J. R. Teores de ácido anacárdico em pedúnculos de cajueiro Anacardium microcarpum e em oito clones de Anacardium occidentale disponíveis no Nordeste do Brasil. Ciência Rural, Santa Maria, v. 34, n. 4, p. 1075-1080, 2004. AGOSTINI-COSTA, T. S.; VIEIRA, R. F.; NAVES, R. V. Caju: identidade tropical que exala saúde. Distrito Federal: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2005. ANDRADE A. P. S; OLIVEIRA V. H; INNECCO R; SILVA, E. O. Qualidade de 76 cajus-de-mesa obtidos nos sistemas de produção integrada e convencional Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal v. 30, n. 1, p. 176-179, 2008. BENINCASA, M. M. P. Análise de crescimento das plantas – Noções básicas. 3ed. Jaboticabal: Funep, 1988. 42p. BORGHETTI, F.; FERREIRA, A. G. Interpretação de resultados de germinação. In: FERREIRA, A. G.; BORGHETTI, F. Germinação: do básico ao aplicado. Porto Alegre: Artmed, 2004. p.209-222. CARMELLO, Q. A. C. Saturação por bases e relações entre K, Ca e Mg no solo na nutrição potássica do milho (Z. mays L.) cv. Piranão. 105f. Tese (Doutorado em Solos e Nutrição de Plantas). Escola Superior de Agricultura de Luiz de Queiroz, Piracicaba. 1992. CARMO, M. S. F.; BORGES, E. E. L.; TAKAKI M. Alelopatia de extratos aquosos de canela-sassafrás (Ocotea odorifera (Vell.) Rohwer). Acta Botanica Brasilica, Belo Horizonte, v. 21, p. 697- 705, 2007. CHAVES, M. H.; CITÓ, A. M. G. L.; LOPES, J. A. D.; COSTA, D. A.; OLIVEIRA, C. A. A.; BRITO JÚNIOR, F. E. M. B. Fenóis totais, atividade antioxidante e constituintes químicos de extratos de Anacardium occidentale L., Anacardiaceae. Revista Brasileira de Farmacognosia, Curitiba, v. 20, n. 1, p. 106-112, 2010. CORREIA, S. J.; DAVID, J. P.; DAVID, J. M. Metabólitos secundários de espécies de Anacardiaceae. Química Nova, São Paulo, n. 6, p. 1287-1300, 2006. DOURADO, D. M.; ROSA, A. C.; PORTO, K. R. A.; ROEL, A. R.; CARDOSO, C. A. L.; FAVERO, S.; GUILHERMINO, J.; MATIAS, R. Effects of cashew nut shell liquid (CNSL) componente upon Aedes aegypti Lin. (Diptera: Culicidae) larvae´s midgut. African Journal of Biotechnology, Nigéria, v. 14, n. 9, p. 829-834, 2015. 77 DUKE, S. O.; CANEL, C.; RIMANDO, A. M.; TELLE, M. R.; DUKE, M. V.; PAUL, R. N. Current and potential exploitation of plant glandular trichome productivity. Advances in Botanical Research, New York, v. 31, p. 121-151, 2000. FERREIRA, A. G.; AQUILA, M. E. A. Alelopatia: uma área emergente da ecofisiologia. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, Campinas, v. 12, suplemento, p. 175-204, 2000. GUIMARÃES, D. O.; MOMESSO, L. S.; PUPO, M. T. Antibióticos: importância terapêutica e perspectivas para a descoberta e desenvolvimento de novos agentes. Quimica Nova, São Paulo, v. 33, n. 3, p. 667-679, 2010. HAGEMANN, T. R.; BENIN, G.; LEMES, C.; MARCHESE, J. A.; MARTIN, T. N.; PAGLIOSA, E. S.; BECHE, E. Effect of extracts from the above-ground part of oat genotypes on ryegrass and wild poinsettia. Bragantia, Campinas, v. 69, n. 3, p. 509-518, 2010. HERNANDEZ-TERRONES, M. G.; AGUILAR, I.; KING-DIAZ, B.; LOTINAHENNSEN, B. Inhibition of photosystem II in spinach chloroplasts by the trachyloban-19-oic acid. Pesticide Biochemistry and Physiology, Elsevier, v. 77, n. 1, p. 12-17, 2003. LABOURIAU, L. G.; AGUDO, M. On the physiology of seed germination in Salvia hispanica L. I - Temperature effects. Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, v. 59, n. 1, p. 37-50, 1987. LOMONACO, D.; SANTIAGO, G. M. P.; FERREIRA, Y. S.; ARRIAGA, A. M. C.; MAZZETTO, S. E.; MELE, G.; VASAPOLLO, G. Study of technical CNSL and its main components as new green larvicides. Green Chemistry, New York, v. 4, n. 11, p. 31-33, 2009. LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2ed. Nova Odessa: Plantarum, 2008. 544p. 78 MAGUIRRE, J. D. Speed of germination aid in selection and evaluation for seedling and vigour. Crop Science, Madison, v. 2, n. 1, p. 176-177, 1962. MAZZAFERA, P. Efeito alelopático do extrato alcoólico do cravo-da-índia e eugenol. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v. 26, p. 231-238, 2003. MAZZETTO, S. E.; LOMONACO, D.; MELE, G. Óleo da castanha de caju: oportunidades e desafios no contexto do desenvolvimento e sustentabilidade industrial. Química Nova, São Paulo, v. 32, n. 3, p. 732-741, 2009. MIZUTANI, J. Selected allelochemicals. Critical Reviews in Plant Sciences, Elsevier, v. 18, n. 5, p. 653-671, 1999. OLIVEIRA, W. O.; PETROVICK, P. R. Secagem por aspersão (spray drying) de extratos vegetais: bases e aplicações. Revista Brasileira de Farmacognosia, Curitiba, v. 20, n. 4, p. 641-650, 2010. PIMENTEL, M. F. Análise ecotoxicológico do efluente da indústria de beneficiamento da castanha de caju antes e após tratamento em reator aeróbio inoculado com fungos. 67f. Dissertação (Mestrado em Ciências Marinhas Tropicais). Fortaleza, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2008. PORTO, K. R. A.; ROEL, A. R.; MACHADO, A. A.; CARDOSO, C. A. L.; SEVERINO, E.; OLIVEIRA, J. M. Atividade inseticida do líquido da castanha de caju sobre larvas de Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) (Diptera: Culicidae). Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 11, n. 4, p. 419-422, 2013. REIGOSA, M. J.; PEDROL, N. Allelopathy: from molecules to ecosystems. 1ed. New Hampshire: Science Publishers, 2002. 316p. RICE, E. L. Allelopathy. 2ed. New York: Academic Press, 1984. 267p. RISFAHERI, T. T.; IRAWADI, M.; ANWAR, N.; ILLAH, S. Isolation of cardanol 79 from cashew nut shell liquid using the vacuum distillation method. Indonesian Journal of Agriculture, Singapura, v. 2, n. 1, p. 11-20. 2009. RODRIGUES, F. H. A.; SOUZA, J. R.; FRANÇA, F. C. F.; RICARDO, N. M. P. S.; FEITOSA, J. P. A. Efeito estabilizante de componentes do líquido da castanha de caju (LCC) natural e técnico (cardanol e cardol) sobre a termooxidação do poli (1,4-cis-isopreno) sintético (pis). In: 17º CBECIMat Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciências dos Materiais, 11, 2006, Foz do Iguaçu, Brasil. Anais...Foz do Iguaçu: Associação Brasileira de Cerâmica (ABS), 2006. p. 8503-8512. RODRIGUES, L. R. A.; RODRIGUES, T. J. D.; REIS, R. A. Alelopatia em plantas forrageiras. Jaboticabal/Guaiba: FCAVJ-UNESP/FUNEP, 1992. 68p. SANT‟ANNA-SANTOS, B. F.; THADEO, M.; MEIRA, R. M. S. A.; ASCENSÃO, L. Anatomia e histoquímica das estruturas secretoras do caule de Spondias dulcisforst. F. (Anacardiaceae). Revista Árvore, Viçosa, v. 30, n. 3, p. 481-489, 2006. SIMÕES, R. P.; GROPPO, F. C.; SARTORATO, A.; DEL FIOL, F. S.; MATTOS FILHO T. R.; ROMACCIATO, J. C.; RODRIGUES, M. V. N. Efeito do óleo de Melaleuca alternifolia sobre a infecção estafilocócica. Revista Lecta, Bragança Paulista, v. 20, n. 2, p. 143-152, 2002. SILVERSTEIN, R. M.; WEBSTER, F. X. Identificação espectrométrica de compostos orgânicos. 6ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 2000. 462p. SOUZA, C. L. M.; MORAIS, V.; SILVA, E. R.; LOPES, H. M.; TOZANI, R.; PARRAGA, M. S.; CARVALHO, G. J. A. Efeito inibidor dos extratos hidroalcóolicos de coberturas mortas sobre a germinação de sementes de cenoura e alface. Planta daninha, Viçosa, v. 17, n. 2, p. 263-271, 1999. VYVYAN, J. R. Allelochemicals as leads for new herbicides and agrochemicals. Tetrahedron, Philadelfia, v. 58, n. 1, p. 1631-1646, 2002. 80 ZAMBERLAM, C. E. M.; MEZA, A.; LEITE, C. B.; MARQUES, M. R.; LIMA, D.; BEATRIZ, A. Total synthesis and allelopathic activity of cytosporones A-C. Journal of Brazilian Chemical Society, São Paulo, v. 23, n. 1, p. 124-131, 2012. ZIMDAHL, R. C. Fundamentals of weed Science. 2ed. San Diego: Academic Press, 1999. 596p. 81 Conclusão Geral Para os dados de germinação utilizando sementes de alface conclui-se que apenas o extrato ExH2O apresentou interferência na percentegem de germinação, na maior concentração (200 mg mL-1). Já nos dados do IVG ambos os extratos apresentaram diminuição na velocidade, a partir da concentração de 150 mg mL-1. O TMG foi afetado a partir da concentração de 50 mg mL-1. Para os dados de germinação utilizando sementes de tomate tanto no ExH2O quanto no etanólico a germinação foi afetada a partir da concentração de 150 mg mL-1. Nos dados do IVG e TMG conclui-se que houve interferência a partir da menor concentração (25 mg mL-1). Para as sementes de fedegoso conclui-se que apenas o vigor das sementes foi afetada nas duas concentrações testadas (100 mg mL-1 e 200 mg mL-1). Nos dados de crescimento conclui-se que ambos os extratos influenciaram negativamente no comprimento radicular e na partir aérea a partir da menor concentração (25 mg mL-1). Nas maiores concentrações do ExH2O, causaram morte das plântulas, tanto para as espécies alvos( alface e tomate) quanto para a espécie daninha(fedegoso) Os extratos aquoso e etanólico das folhas de Anacardium humile, apresentaram efeito alelopático sobre as sementes de alface, tomate e fedegoso, diminuindo sua germinação, tempo médio de germinação, índice de velocidade de germinação e comprimento das plântulas. Para os dados de campo, conclui-se que concentração de 200 mg mL-1 obteve o melhor resultado alelopático para as sementes de alface, e 100 mg mL-1 e 200 mg mL-1 para o tomate. Nota-se que os extratos aquoso na concentração de 200 mg mL-1 apresentaram os melhores resultados para germinação e crescimento da alface, tomate e fedegoso. O LCC e a formulação apresentaram efeito alelopático sobre as sementes das espécies testadas, em diferentes graus, a germinação de alface foi afetada apenas na maior concentração (200 mg mL-1), já na de tomate foi a partir da concentração de 100 mg mL-1. O sistema radicular das plantas de alface e tomate foi afetado negativemente ao partir da concentração de 25 mg mL-1, no fedegoso foi afetado na maior concentração (200 mg mL-1). 82 Assim, considera-se a espécie Anacardium humile, o LCC e a formulação como uma alternativa promissora para o controle de espécies consideradas invasoras. 83