76 Estudo comparativo entre hipertensos que utilizam e os que não utilizam medicamentos fornecidos pelo SUS na unidade de saúde Três Poços Geraldo Assis Cardoso 1 Ana Paula Ferreira Vilarinho 2 Douglas Neves Gonçalves Dias 2 Lorena Arataque Sahium 2 Natália Delfino Araújo 2 Renata Silveira Duarte Quindeler Tatiana Santos Caus 2 Palavras-chaves: Resumo Hipertensão Arterial Sistêmica Introdução: A hipertensão arterial sistêmica é quase sempre assintomática ou oligossintomática, mas se deixada evoluir naturalmente, a doença desencadeia, insidiosamente, alterações vasculares em órgãos vitais, sobretudo no coração, cérebro, rins, olhos e vasos.No Brasil a prevalência é estimada em 20% nos adultos e 50% nos idosos. Objetivo: Estudo comparativo entre os hipertensos que utilizam medicamentos fornecidos pelo SUS e aqueles que utilizam medicamentos que não estão incluídos na lista de medicamentos fornecidos pelo SUS em relação ao controle dos níveis pressóricos. Materiais e métodos: Foi utilizado como instrumento os prontuários dos pacientes cadastrados no PSF de Três Poços. Deste foram retirados os seguintes dados: faixa etária, sexo, medicamentos, controle da PA. Conclusão: A associação de medicamentos preconizados pelo SUS e os não preconizados apresentam poucos efeitos porque a população não tem condições financeiras de fazer uso contínuo da medicação e usam apenas os medicamentos do SUS. Já os medicamentos não preconizados pelo SUS têm bons resultados, porém apenas poucos pacientes têm condições de fazer uso crônico desses medicamentos. PSF de Três Poços Medicamentos SUS Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008 Controle da Pressão Arterial. Cadernos UniFOA 2 1. Introdução Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) 1.1 Definição de HAS Uma doença sistêmica definida pela persistência de níveis de pressão arterial acima de 135 mmHg de pressão sistólica e 85mmHg de pressão diastólica.A hipertensão eleva em 4 vezes o risco de acidente vascular cerebral e de 6 vezes o de insuficiência cardíaca.O risco de lesão cardiovascular, entretanto começam a aumentar a partir de níveis mais baixos, ao redor de 115/75mmHg , e o risco dobra a cada 20/10mmHg de aumento de pressão. É quase sempre assintomática ou oligossintomática, mas se deixada evoluir naturalmente, a doença desencadeia, insidiosamente, alterações vasculares em 1 2 Especialistas - Ciências da Saúde – UniFOA Acadêmicos - Medicina - UniFOA órgãos vitais, sobretudo no coração (hipertrofia, insuficiência cardíaca, coronariopatia), cérebro (acidente vascular cerebral), rins (disfunção progressiva), olhos (retinopatia hipertensiva) e vasos (aneurisma, dissecção). No Brasil a prevalência é estimada em 20% nos adultos e 50% nos idosos. • Fator de risco para HAS: • Diabetes Mellitus (DM) • Obesidade • Sedentarismo • Tabagismo • Ingestão de sal • LDL elevado • HDL baixo • Obesidade abdominal • Hiperuricemia • Alcoolismo ou abuso de drogas O objetivo primordial do tratamento da HAS é a redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares do paciente hipertenso, aumentadas em decorrência dos altos níveis tensionais, sendo utilizadas tanto medidas não medicamentosas isoladas quanto associadas a medicamentos antihipertensivos. A redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular em hipertensos leves a moderados foi demonstrada de forma consistente, em inúmeros estudos, apenas para os diuréticos e betabloqueadores. Em relação à pressão arterial, o tratamento medicamentoso visa a reduzir os níveis de pressão para valores inferiores a 140/90mmHg, respeitando as características individuais, a comorbidade e a qualidade de vida dos pacientes. 1.3 Classificação da HAS Pelos níveis pressóricos -Normal: abaixo de 120/80 mmHg -Pré-hipertensão: 120-139/80-89 mmHg -Hipertensão nível I: 140-149/90-99 mmHg -Hipertensão nível II: 150-179/100-109 mmHg -Hipertensão nível III: >180/>110 mmHg Pela repercussão em órgãos alvo -Estágio I: Sem evidência de repercussão em órgãos alvo. -EstágioII: Pelo menos uma lesão em órgãos-alvo como: hipertrofia cardíaca, estreitamento focal ou generalizado das artérias retinianas, proteinúria ou discreto aumento da creatininemia, microalbuminúria; evidência radiológica ou ultrassonografia de placas ateroscleróticas 77 Observação: a gravidade das lesões e repercussões em órgãos alvo não corresponde necessariamente aos níveis pressóricos. Princípios gerais do tratamento medicamentoso: -O medicamento deve ser eficaz por via oral -O medicamento deve ser bem tolerado -Deve permitir a administração do menor número possível de tomadas diárias, com preferência para aqueles com posologia de dose única diária -O tratamento deve ser iniciado com as menores doses efetivas preconizadas para cada situação clínica, podendo ser aumentadas gradativamente e/ou associar-se a outro hipotensor de classe farmacológica diferente ( deve-se levar em conta que quanto maior a dose, maiores são as probabilidades de se surgirem efeitos indesejáveis) -Respeitar um período mínimo de 4 semanas para se proceder o aumento da dose e ou associação de drogas, salvo em situações especiais -Instruir o paciente sobre a doença, sobre os efeitos colaterais dos medicamentos utilizados e sobre a planificação e os objetivos terapêuticos -Considerar as condições socioeconômicas 1.4 Tratamento O tratamento da HAS é de convivência, isto é, por toda a vida. Como doença é geralmente assintomática, a medição freqüente da PA é fundamental e o prognóstico depende diretamente do controle adequado dos níveis pressóricos. Uma das principais regras da abordagem da HAS é evitar precipitações, Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008 1.2 Objetivos do Tratamento nas carótidas, aorta, ilíaca ou femoral. -Estágio III: Repercussão mais grave em coração (angina pectoris, Infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca); cérebro (acidente vascular cerebral, ataque isquêmico transitório, encefalopatia hipertensiva); fundo de olho (exsudato com ou sem papiledema, hemorragia); rins (creatininemia > 2 mg/dl); vasos (aneurisma dissecante da aorta, doença arterial oclusiva sintomática). Cadernos UniFOA • Raça negra, idade avançada, pobreza • Complicações: • Insuficiência cardíaca • Infarto Agudo Miocárdio • Acidente Vascular Encefálico • Insuficiência Renal Crônica • Aneurisma • Outros sobretudo nos casos de hipertensão leve ou moderada. Boa parte dos pacientes apresenta hipertensão transitória, que desaparece durante o seguimento, independente das medidas tomadas. Nos casos leves e moderados, devem ser inicialmente tentadas apenas medidas não farmacológicas, com adoção de hábitos mais saudáveis de alimentação, alguma perda de peso, atividade física regular e mudanças de estilo de vida e a evolução dos níveis pressóricos é observada por 3 a 6 meses. Geralmente, durante esse período é feita a propedêutica básica, buscando a causa da HAS. A menos que a HAS seja muito grave (>180/110mmHg) ou com repercussões evidentes sobre órgãos-alvo( cardíacas, renais, encefalopatia), a redução e normalização dos níveis pressóricos deve ser alcançadas de forma gradual e as drogas usadas podem demorar semanas ou meses para fazerem o efeito desejado. Ajustes das doses e troca de medicamentos devem ser realizados com intervalos mínimos de várias semanas, de acordo com a resposta observada e a tolerância aos medicamentos. 78 Cadernos UniFOA Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008 Tratamento não-farmacológico O tratamento não farmacológico é suficiente nos casos de pré-hipertensão, na maioria dos casos de hipertensão nível I e em alguns casos de hipertensão nível II. Quando adotado de forma determinada, reduz os níveis pressóricos em cerca de 10mmHg o que é igual a resposta média obtida com monoterapia com antihipertensivos. A cada consulta devem ser checados vários itens: -Peso→peso ideal com IMC entre 18 e 25. Em pacientes com sobrepeso (IMC de 25 a 30) e nos obesos (IMC>30), devese estabelecer como objetivo inicial a redução de cerca de 3 e 5 Kg de peso, respectivamente. Essa redução de peso deve ser obtida com reeducação alimentar, programa de atividades físicas associada a suporte psicológico em casos selecionados. -Dieta→aumentar o consumo de frutas, verduras e legumes. Reduzir o consumo de gorduras, aumentarem o consumo de grãos e cereais integrais e reduzir o consumo de açúcar. -Sal→diminuir ao máximo o uso culinário de sal. -Fumo→o médico deve reenumerar os males e riscos do cigarro. Explicar as drogas de auxílio disponíveis, mas que elas não substituem a importância da tomada de uma decisão firme e persistência do paciente. -Drogas que induzem hipertensão→evitar anticoncepcionais, descongestionantes adrenérgicos, corticóides, antiinflamatórios não hormonais, anfetaminas, anabolizantes, ciclosporina, tacrolinus etc). -Atividade física→estabelecer um programa regular de atividade física. A atividade física reduz a pressão sistólica em 4 a 9 mmHg. -Álcool→o paciente deve ser orientado a parar de beber ou, restringir a ingestão diária de álcool a uma dose de destilado (60 ml) ou uma taça de vinho (200 ml) ou duas latas de cerveja (600 ml). Tratamento farmacológico O tratamento medicamentoso só deverá ser iniciado imediatamente nos casos com hipertensão significativa persistente ou nos casos de hipertensão moderada associada a dois fatores de risco ou repercussão em órgãos alvo. Deve ser iniciado imediatamente em todo paciente com níveis pressóricos persistentemente acima de 180/110mmHg e nos com hipertensão sintomática ou evidências de repercussão em órgãos alvo. A escolha do anti-hipertensivo a ser iniciado deve levar em consideração a idade e a etnia, a presença de angina ( ou infarto anterior ou revascularização miocárdica prévia), de insuficiência cardíaca, de insuficiência renal, de hipertrofia ventricular esquerda, de obesidade, de diabetes mellitus, de hiperlipidemia, de gota e de broncoespasmo. TAM bem é importante considerar o custo do tratamento e as eventuais interações com outros medicamentos que o paciente usa 2. Cenário do Trabalho O PSF de Três Poços é composto de uma equipe multidisciplinar, sendo 1 enfermeiro, 2 técnicos de enfermagem, 4 agentes comunitários, 1 agente administrativo e 1 médico. Este PSF abrange toda a região de Três Poços e atende a 3483 usuários, ou seja, 1053 famílias. Cada agente comunitário é responsável por uma área da comunidade, a área A é composta por 1048 pessoas (298 famílias), a área B é composta por 787 pessoas (243 famílias), a área C é composta por 858 pessoas (270 famílias) e a área D é composta por 790 pessoas (242 famílias). O funcionamento do PSF é baseado nos princípios do SUS, ou seja, universalidade, eqüidade e integralidade. Dessa forma o PSF mantém um atendimento de forma ampla, ou seja, o indivíduo é atendido como um todo e o atendimento são desiguais para necessidades desiguais, assim a assistência é feita de modo integral (aliando curativo e preventivo), em todos os graus de complexidade. O número de consultas calculado pelo ministério da saúde são 7723 consultas por ano, porém o PSF de Três Poços com apenas um médico oferece à população 3696 consultas, desse total 2398 consultas são para hipertensos e diabéticos e o restante para demanda. hipertensos, a microárea C 95 Hipertensos e a microárea D 70 hipertensos cadastrados. 79 3. Objetivos do Trabalho Estudo comparativo entre os hipertensos que utilizam medicamentos fornecidos pelo SUS e aqueles que utilizam medicamentos que não estão incluídos na lista de medicamentos fornecidos pelo SUS em relação ao controle dos níveis pressóricos. Dessa forma poderemos obter dados embasados em uma pesquisa e assim oferecer um melhor tratamento e controle da PA, além de ajudar na administração e funcionamento do PSF de forma mais eficaz. 4. Materiais e Métodos Foi utilizado como instrumento os prontuários dos pacientes cadastrados no PSF de Três Poços. Deste foram retirados os seguintes dados: faixa etária, sexo, medicamentos ( SUS, não SUS, associados), controle da PA. Os Programas Realizados no PSF são: Os hipertensos do PSF de Três Poços acompanhados são 376, esses estão distribuídos em 4 microáreas e cada microárea é coberta por 1 agente comunitário, a microárea A tem 132 hipertensos cadastrados, a microárea B 79 Cadernos UniFOA Acompanhamento dos Hipertensos A amostra do trabalho é composta por todos os hipertensos cadastrados no PSF de Três Poços. Os dados obtidos foram coletados dos prontuários dos pacientes. A partir dessas informações avaliamos que 65% das consultas realizadas correspondiam a hipertensos e diabéticos. (Gráfico1) Foram analisados 376 pacientes hipertensos dos quais coletamos os seguintes dados: sexo, faixa etária, medicamentos usados ( SUS, não SUS e associados) e controle da PA. Dentre esses dados vimos que: quanto à faixa etária 3% estão entre 20 e 30 anos, 8,5% estão entre 31 e 40 anos, 19% entre 41 e 50, 33,5% entre 51 e 60%, 20% entre 61 e 70 anos, 11,9% estão entre 71 e 80 anos, 3,9% entre 81 e 90 anos e 0,2% entre 91 e 100 anos. (Gráfico 2) No que diz respeito ao sexo: 39% são do sexo masculino e 61% são do sexo feminino. (Gráfico 3) Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008 5. Discussão de resultados -Grupos de HAS e DM -Grupo do Peso Saudável (obesidade) -Grupo de Gestante e Mães -Visitas Domiciliares -Planejamento Familiar -Imunização -Nebulização -Curativos -Consultas agendadas para grupos prioritários: hiper-dia), gestante( pré-natal baixo risco), criança menores de 2 anos, preventivo, Câncer de mama e colo de útero. -Consulta de demanda -Grupo da 3ª idade -Grupo de Mulheres Quanto ao uso de medicamentos 72% usam medicamentos do SUS, 11% usam medicamentos não preconizados pelo SUS e 17% fazem associação desses medicamentos. (Gráfico 4) Já no controle da PA: dos pacientes que usam medicamentos do SUS, 69% estão controlados e 31% não estão controlados, dos que fazem uso de medicação que não é do SUS, 64% estão controlados e 36% não estão e os que fazem associação, 50,3% não estão controlados e 50,7% estão controlados. (Gráfico 5) 80 Cadernos UniFOA Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008 6. Conclusões Após a análise dos dados coletados, concluímos que a maioria dos hipertensos concentra-se na faixa etária dos 51 a 60 anos, os hipertensos são predominantemente do sexo feminino; os medicamentos mais usados são os preconizados pelo SUS e os pacientes estão com a PA, na maioria das vezes, controlada. Sendo assim admiti-se pensar que a maioria dos hipertensos que procuram o PSF são mulheres por isso elas estão em maior quantidade. Quanto a faixa etária é nessa fase da vida que aumenta a chance e os fatores de risco para doenças cardiovasculares por isso prevalecendo entre 51 e 60 anos. Os medicamentos são mais usados devido ao nível sócioeconômico da população, e os resultados demonstram que estes medicamentos quando usados na dose correta e de forma regular apresentam bons resultados no controle da PA. Concluímos ainda que a associação de medicamentos preconizados pelo SUS e os não preconizados apresentam poucos efeitos porque a população não tem condições financeiras de fazer uso contínuo da medicação e usam apenas os medicamentos do SUS. Já os medicamentos não preconizados pelo SUS têm bons resultados, porém apenas poucos pacientes têm condições de fazer uso crônico desses medicamentos. 7. Sugestões Após a realização do trabalho e conclusão dos resultados vimos que: • O mau uso da medicação (uso irregular, dose incorreta) não controla a PA. • Os medicamentos preconizados pelo SUS são eficazes no controle da PA da maioria dos hipertensos. • Deve-se oferecer informações aos pacientes quanto ao uso da medicação ( uso regular). • Devem-se orientar as agentes comunitárias para que elas possam informar melhor os pacientes e acompanhá-los de forma correta. • Formação de um grupo de apoio para discussão da HAS e tirar dúvidas que os pacientes possam ter. • Os medicamentos do SUS poderiam ser oferecidos no próprio PSF, assim a cada consulta, o paciente já teria em mãos os medicamentos e facilitaria a adesão ao tratamento. • Orientar os médicos e acadêmicos a dar preferência aos medicamentos preconizados pelo SUS. 8. Referências PEDROSO, E. R. P.; OLIVEIRA, R. G. Blackbook – Clínica Médica. 1ªed. Medicamentos e Rotinas Médicas. Belo Horizonte, 2005 LOPES, A. C.;Tratado de Clínica Médica. Volume 1, Rocca, 1ªed. Rio de Janeiro, 2006, cap.68, p.712, secção 6 NETO, A. S.; MARTINS, H. S.; NETO, R. A. B. Emergências Clínicas Abordagem Prática; 3ªed. São Paulo, 2007, cap.18, p.267, parte 3 9. Anexos Gráfico 1 Das 3696 consultas, 2398 correspondiam a hipertensos e diabéticos: Gráfico 2 81 Gráfico 3 Gráfico 4 Medicamentos utilizados pelos pacientes: Cadernos UniFOA Edição Especial Prefeitura Municipal de Volta Redonda - outubro 2008 Gráfico 5 Informações bibliográficas: Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: CARDOSO, G. A.; VILARINHO, A. P. F.; DIAS, D. N. G.; SAHIUM, L. A.; ARAÚJO, N. D.; QUINDELER, R. S. D.; CAUS, T. S.. Estudo comparativo entre hipertensos que utilizam e os que não utilizam medicamentos fornecidos pelo SUS na unidade de saúde Três Poços. Volta Redonda, ano III, edição especial, outubro. 2008. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/pesquisa/ caderno/especiais/pmvr/76.pdf>