“FILOSOFIA PARA CRIANÇAS” ANÁLISE DO PROJETO EDUCAÇÃO PARA O PENSAR IMPLANTADO NAS SÉRIES INICIAS DA REDE MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – SC ( 2001-2008). RAMOS, Karine Rodrigues1(UDESC) [email protected] Celso João Carminati (UDESC) [email protected] Palavras-chave: História da Educação. Memória institucional. Cultura Escolar. Currículo. INTRODUÇÃO Neste artigo, são destaques a trajetória do projeto “Educação para o Pensar” e sua produção de significados e representações na rede municipal de São José. Todavia, pretendo utilizar as teorizações dos historiadores franceses Roger Chartier e Dominique Julia acerca da história cultural e cultura escolar, considerando, neste estudo, que projeto e método pedagógico remodelam as relações, influindo, assim, nas práticas escolares. “O que se faz na Escola” atribui, nos diferentes tempos e lugares, novo significado às práticas escolares, enquanto elementos essenciais constitutivos da realidade educacional e da vida social (CHARTIER, 2000). A trajetória e a memória justificarão as razões da implantação de um projeto filosófico na rede pública de ensino, pois, segundo Julia (2002), as finalidades das disciplinas nunca são unívocas. Procedem, normalmente, de arquiteturas complexas, nas quais se mesclam estratos sucessivos que se sobrepuseram a partir de elementos contraditórios. 1 TRAJETÓRIA DA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO “EDUCAÇÃO PARA O PENSAR” NA REDE MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ/SC 1 Aluna regular das disciplinas História da Educação e História Cultural: Questões e perspectivas de Pesquisa da linha História e Historiografia do mestrado em Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina. Numa perspectiva realmente progressista, democrática e não–autoritária, não se muda a “cara” da Escola por portaria. Não se decreta que, de hoje em diante, a escola será competente, séria e alegre. Não se democratiza a Escola autoritariamente. P. Freire, em A Educação na cidade 1.1 RELATO DA EXPERIÊNCIA NA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ/SC A produção deste texto tem como fonte entrevista de 22 jul. 2012, em sua residência, cedida por Alberto Thomal, idealizador do projeto Educação para o Pensar, atualmente professor aposentado da mesma rede municipal. A trajetória histórica e cultural deste projeto provoca discussões acerca das relações entre história e cultura. A história cultural é pensada como determinada forma de abordagem do real histórico e, ao mesmo tempo, da dimensão ou perspectiva cultural como alguma coisa presente na economia, na política e na sociedade. Segundo Roger Chartier (1990): [...] trata-se de identificar o modo como em diferentes lugares e momentos, determinada realidade social é constituída, pensada, dada a ler, “sendo necessário” considerar os esquemas geradores das classificações e das percepções próprias de cada grupo ou meio como verdadeiras instituições sociais, incorporando sob a forma de categorias mentais e de representações coletivas as demarcações da própria organização social (p. 25, nota 45). Afirma ainda o mesmo autor que podemos: [...] pensar uma história cultural do social que tome por objeto a compreensão das formas e dos motivos, isto é, das representações do mundo social que, à revelia dos atores sociais, traduzem as suas posições e interesses objetivamente confrontados e que, paralelamente, descrevem a sociedade tal como pensam que ela é ou como gostariam que fosse (idem, ibidem). 1987 – O professor Alberto Thomal, formado em filosofia, é contratado para dar aulas de PPT (Preparação para o trabalho), na rede pública municipal de São José/SC. Esta disciplina foi instituída pela Lei n. 5.692. O professor destaca que, desde esta época, o que fazia era dar aulas de filosofia, disciplina que permeava todo o seu trabalho. A orientação da secretaria para aulas de PPT era trabalhar com horta; porém, a Escola Maria Luiza de Mello não tinha um espaço adequado ou possível para construir uma “horta”. A matéria seria substituída por textos. Trabalhar com marcenaria era outra proposta limitada pelo mesmo problema. Frente a estas dificuldades, o professor propôs adaptar os conteúdos oferecendo mais aulas práticas de metodologia científica com bases filosóficas, adaptando-se à realidade escolar e dos alunos. Os professores gostaram da ideia e os trabalhos de pesquisas dos alunos melhoraram e se tornaram mais organizados. Começa, com estas primeiras experiências, o desejo de implantar conteúdos de filosofia para oferecer aos alunos a possibilidade de estruturar melhor seus pensamentos. O professor começa a ter contato com novas propostas educativas que já realizavam um trabalho filosófico, como os de Nivaldo Alves de Souza (1995): “A pedagogia de Santo Tomás e a Filosofia para crianças, de Matthew Lipman – confiança na capacidade da criança pensar por si mesma”; O pensar na Educação, também de Matthew Lipman (1999); Filosofia para crianças na prática escolar, vol. II, de Walter Omar Kohan (1999); Filosofia na Escola Pública, vol. V; Pensando para viver alguns caminhos da filosofia, de Mauri Luiz Heerdt (2000). 1989 - O professor Alberto Tomal participa do curso Issau e Guga, promovido pelo centro de Filosofia de Santa Catarina, que, mais tarde, se tornará o Centro Sophos de Filosofia “Educar para o Pensar”. 1991 – Pela primeira vez é proposto ao secretário da Educação de São José o ensino da filosofia no município, em substituição à matéria de Educação Moral e Cívica. A ideia foi acolhida, mas o projeto foi engavetado. 1993 - O professor Alberto Tomal participa do 1º Congresso Nacional de Filosofia para Crianças em Florianópolis, e do curso Ari dos Teles, em São Paulo. 1994 – Mudanças Políticas. O professor volta a propor ao prefeito e ao secretário de Educação o projeto de filosofia no ensino fundamental. A ideia é aceita, mas o projeto continua na gaveta. 1995 a 1997 – Novas mudanças políticas, reapresentação do projeto ao secretário da educação; o projeto permanece engavetado. 1998 - A secretária adjunta Mery Teresinha Hang aceita implantar a filosofia da 5ª à 8ª série no período noturno e no período diurno para as sétimas e oitavas séries, mas não como disciplina curricular. Dois professores ministram o projeto; entre eles, Alberto Thomal. 1999 – No primeiro curso de capacitação para o projeto, a formação se dá exclusivamente na área de filosofia, com uma carga horária de 80 horas. É nesta oportunidade que se produz o primeiro material para inserir uma proposta de disciplina curricular de filosofia em formato de projeto, incluindo desde o primeiro ano até a oitava série, mais uma vez apresentado ao Secretário de Educação. Fernando Melquíades Elias, secretário à época, lhe dá seu apoio, pois se encaixava em seu plano educacional, no qual punha ênfase em “Educar para Pensar” e “Educar para vencer”, com que acreditava que o povo de São José teria sucesso e felicidade, pois a taxa de analfabetismo era muita alta, como elevado era o número de crianças fora da escola. Garantia a implantação do projeto para o ano de 2000 como projeto-piloto. 2000 – Nesse ano, o secretário inicia o processo de implantação e cria o Departamento de Filosofia, nomeando o professor Alberto Thomal como coordenador. A rede municipal de educação amplia o número de escolas; abre novas vagas; contrata professores de filosofia para aplicar nas práticas escolares o projeto “Educação para o pensar”. É a primeira vez que a rede abre vagas para ACTs na área de filosofia. O departamento contava, naquele ano, com os seguintes professores de filosofia: Ana Nélia, Arlindo Giacomelli, Arnaldo De Biasi, Cleonice, Ivonete, Jandir, Lucas, Marize. O curso de capacitação continuaria. Para elaborar os conteúdos, os alunos participam ativamente, sugerindo temas e assuntos a serem trabalhados. No mês de julho, o departamento apresenta uma síntese de conteúdos, que constituirão o fio condutor da proposta curricular. O coordenador expõe a diretores e especialistas a proposta como projeto-piloto. Três escolas aderem ao programa: Albertina K. Maciel, José Nitro e Dulcilício. Nas duas últimas, os professores tiveram dois encontros de capacitação. Os professores da escola José Nitro aplicaram nas suas aulas o método do “Educar para o Pensar”. Na escola Albertina K. Maciel, foi feita uma apresentação do projeto a toda a comunidade escolar e a professora Ivonete Maria Rodrigues da Rosa o introduziu em sua turma de quarto ano. Nesse ano, ainda, foi lançado o primeiro informativo “Educar para o Pensar”, artesanal; mesmo assim, com rápida divulgação, a tiragem atingiu 500 exemplares. 2001 – Neste ano, o projeto efetivamente parece levantar voo. Logo no início do ano foi lançado o segundo informativo, agora, porém, impresso, e com uma tiragem de cinco mil exemplares. Este informativo, da mesma forma que o primeiro, teve a participação de alunos e professores. Pelo terceiro ano consecutivo, realizava- se o curso de capacitação de filosofia, com carga horária de 100 horas. A proposta desta capacitação era agora de aprofundamento dos estudos, produção de material didático e direções metodológicas. O quadro de professores de filosofia contava, naquele momento, com os seguintes profissionais: Alberto Thomal, Arlindo Giacomelli, Arnaldo Debiase Raldi, Ivonete Maria Rodrigues da Rosa, Jandir Françozi, Lucas da Silva, Marize Geviski Ouriques, e Tarciso Dávila Andrade, sem contar dois professores de história, que em suas unidades escolares davam uma aula de filosofia com a qual completavam as cargas horárias. Neste ano ocorrem os primeiros encontros com os diretores e especialistas do primário – Ensino Fundamental I - para aplicar o projeto nas turmas de primeiro, segundo, terceiro e quarto ano das series iniciais, o que levou a contratar mais três professores. 2002 – A contratação de ACTs aumenta para doze o número de professores. Neste ano se realiza o primeiro concurso público de filosofia, com duas vagas. Dezoito professores do curso de capacitação participam do pré-congresso de filosofia “Educação para o Pensar” em Florianópolis, custeado pela prefeitura de São José. 2003 – A contratação de ACTs aumenta para vinte e um professores. Para cobrir as novas vagas – três -, é realizado o segundo concurso público de filosofia. Os professores de filosofia e mais 120 professores das demais disciplinas participam do 2º Congresso de Filosofia “Educação para o Pensar” e “Educação Sexual” em Florianópolis. 2005 – Foi enviada ao Conselho de Educação do Município de São José a proposta de inclusão da disciplina filosofia no currículo do Ensino Fundamental. 2007 –Devido a problemas de saúde do professor Alberto Thomal o professor José Emilio de Medeiros Filho assume o Departamento de Filosofia. 2008 – Por aprovação pelo Conselho de Educação do Município de São José, a disciplina de filosofia passa a fazer parte da grade curricular do Ensino Fundamental. Portanto, deixa de ser um projeto para ser disciplina curricular. Cria-se uma nova Proposta Pedagógica por meio do Caderno Pedagógico da Rede Municipal de Ensino de São José, em cujo currículo a filosofia merece destaque como nova disciplina. 1.2 O PROJETO EM NÚMEROS NO DECORRER DE SUA TRAJETÓRIA 1999: Turmas de 7ª e 8ª série; Nº de alunos atendidos: 2502. 2000: número de alunos atendidos nas escolas José Nitro, Albertina K. Maciel, Luar, Docilício, Maria Luisa de Melo, Altino C. (Flores): 1.750; professores nos encontros para preparação de implantação do projeto (Escolas José Nitro e Docilício Vieira da Luz): 34; pais nos encontros de preparação para a implantação do projeto: 52; curso de capacitação para seis professores: 1; número de alunos atendidos: 2.657. 2001: alunos atendidos pelo projeto, incluindo alunos de 1º e 2º ano e do 5º ao 8º ano do Ensino Fundamental: 3.540; participação de professores no Congresso Nacional Educação para o Pensar e Educação Sexual, com custeio arcado pela prefeitura: 14; pela primeira vez, o projeto de filosofia de São José é citado no jornal a “Corujinha” ( em tiragem de cópias distribuídas em todo o Brasil): 30.000 exemplares; curso de capacitação para professores: 8. 2002: alunos atendidos em doze escolas do município: 5.760; Café de Idéias: 4; número de pessoas participantes do “café de ideias” (com frequência média de 25 pessoas): 160; curso de capacitação para 23 professores: 1; participação de professores de filosofia e especialistas no Curso de Filosofia em Florianópolis, custeado pela prefeitura de São José: 15. 2003 Número de professores e de alunos: professores: 21 (dos quais 19 atuam em classe); alunos da 1ª à 3ª série: 4.153; alunos de 5ª à 8ª série: 2.301; alunos do 2º grau regular: 711; alunos do EJA, da 5ª à 8ª e do 2º grau: 2.657; total de alunos atendidos: 9.822. O exposto teve como objetivo mostrar os caminhos que o projeto precisou percorrer para ser aceito pela comunidade escolar e mostrar como, no decorrer dos anos e especificamente no contexto escolar da rede municipal de São José se construíram relações políticas, trâmites legais, como os professores se envolveram ativamente no projeto que deu origem à mudança curricular. O processo confirma o que afirma Dominique Julia (2002): “As finalidades das disciplinas nunca são unívocas. Procedem, normalmente, de arquiteturas complexas, nas quais estratos sucessivos, que se sobrepuseram a partir de elementos contraditórios, se mesclam”. O que se faz na Escola? Que assuntos são planejados para as práticas do projeto decorrerão longo de sua trajetória? A tabela constante do item 2.1, a seguir, indica os assuntos trabalhados com os alunos da 1ª. à 8a. série do Ensino Fundamental. 2 INDICAÇÕES TEMÁTICAS PARA A ORIENTAÇÃO DO ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL NO ANO DE 2000 A filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos [...] O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência. Quer dizer que a filosofia não é uma simples arte de formar, de inventar ou de fabricar conceitos, pois os conceitos não são necessariamente formas, achados ou produtos. A filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que consiste em criar conceitos. (G. Deleuze e F. Guattari, RJ: Ed. 34, 1992, p. 10-13) 1ª série 2ª séries A filosofia A amizade A filosofia O namoro A alegria A violência A brincadeira A verdade A violência A vida A Sexualidade A amizade A paz A alegria A natureza A natureza A família As drogas O amor O preconceito A educação A máquina A música O namoro O medo A máquina A paz A brincadeira 3 ª série 4ª série 5ª série 6ª série A filosofia A sexualidade A amizade A filosofia As drogas A filosofia A sexualidade A filosofia A sexualidade A violência O amor A sexualdade O namoro A filosofia A filosofia A sexualidade A sexualidade As drogas A amizade O amor A violência As drogas Música A família Os vícios A razão A violência O amor A amizade O amor Adolescência O mundo A violência O namoro O amor A violência O aborto A felicidade A consciência As paixões As paixões A percepção A vontade A responsabilidade Os vícios A música A morte O namoro A saúde A ilusão A família O preconceito O homem A ecologia A educação A arte O homem O preconceito A ecologia A ignorância A sabedoria As virtudes O preconceito A demoracia O saber A juventude A arte A adolescência A verdade O espiritualismo A existência Vida O prazer A felicidade A história O medo O desejo A liberdade O trabalho A arte A ciência A linguagem A sociedade A política História da Filosofia A tecnologia O trabalho O lazer A justiça Os valores A cultura Hist. da Filosofia A morte O poder O inconsciente A religião História da Fil. 7ª série 8ª série As drogas A responsabilidade A amizade O saber As paixões O estado História da Fil. 2.1 NO ANO DE 2006, OS ASSUNTOS SÃO REELABORADOS PARA AS TURMAS DE SEGUNDO E QUARTO ANO 2° Ano SÉRIE CONTEÚDO 2ª Novela Filosófica 2.7 20 – Idéia clara. Idéia Obscura 21 – Instintos animais 2ª 2ª 2ª Novela Filosófica 2.8 e 2.9 22 – Reconhecimento 23 – Hipótese Novela Filosófica 3.1 e 3.2 24 – Classificar 25 – Saber e conhecer Novela Filosófica 3.3 e 3.4 26 – Animais em extinção 27 – Gênero feminino. Gênero masculino 28 – Hábito dos animais Novela Filosófica 3.5 e 3.6 29 – Sonho e realidade 30 – Estar intrigado 31 – Quando o assunto interessa 32 – Planejamento de projeto e pesquisa Novela Filosófica 4.1 e 4.2 33 – Partes do dia-a-dia. Partes da semana 34 – Mamíferos roedores. 35 – Caçar 36 – Labirinto verde Novela Filosófica 4.3 37 – Arrependimento 38 – Cometer erros 39 – Estar perdido 40 – Raciocínio Hipotético Novela Filosófica 4.4 41 – Aflição. Apavoramento 42 – Ser controlado 43 – Pensando por silogismo 44 – Sentir medo 45 – Ver no escuro BIMESTRE SÉRIE 1º bimestre 3ª 2º bimestre 3ª 3º bimestre 3ª CONTEÚDO Novela Filosófica 1.1 e 1.2 Irmãos de Sangue 1 – Interior 2 – Ritos de Passagem 3 – Desejar boa sorte 4 – Clã, aldeia, tribo, nação Novela Filosófica 1.3 e 1.4 5 – Honra 6 – Leis e tradição 7 – Partilhar e compartilhar 8 – Irmãos de sangue 9 – Podemos fazer tudo? Novela Filosófica 1.6 e 1.7 10 – A história de cada um 11 – Nome 12 – Resumo BIMESTRE 1º bimestre 2º bimestre 3º bimestre Novela Filosófica 1.8 13 – Em busca de suposição 14 – Ambiguidade 15 – Sinal de nascença 4º bimestre 3ª Novela Filosófica 1.9 16 – Decisão 17 – Localização Geográfica 18 – Seguir o seu caminho 4º bimestre 4° Ano SÉRIE 4ª CONTEÚDO Novela Filosófica 2.1 19 – Despedidas 20 – Desejar BIMESTRE Novela Filosófica 2.2 21 – Agilidade 22 – Cobras 23 – Cuidados necessários Novela Filosófica 2.3 24 – Leitura de sinais 25 – Sentir-se ameaçado 26 – A união como garantia Novela Filosófica 3.1 27 – Chuva 28 – Interpretação de fatos 4ª 4ª 1º bimestre 2º bimestre 3º bimestre Novela Filosófica 3.2 29 – Necessidades 30 - Morte Novela Filosófica 3.3 31 – Costumes 32 – Reconhecimento 4ª Novela Filosófica 3.4 33 – Vizinhos 34 – Imaginação 4º Bimestre Novela Filosófica 4.1 e 4.2 35 – Propriedade 36 – Um fato pode nos levar a outro CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da história da trajetória do projeto “Educação para o pensar”, é possível afirmar que as relações e as produções de significados na escola foram impulsionadoras de mudanças, conflitos e sucessos do projeto. As dificuldades para a implantação foram bastante árduas em várias frentes: A primeira, para justificar sua presença com pressupostos filosóficos e pedagógicos; A inclusão da filosofia num currículo superinchado de matérias; A mentalidade do senso comum, imediatista e utilitarista, da filosofia, com o intuito de solucionar problemas de disciplina na escola; Como matéria auxiliar ou substituta da antiga EMC ou OSPB; Comprometimento partidário: se feito por um partido, não pode ser continuado na administração seguinte; em caso de vitória de partido diferente, o plano pedagógico ou é simplesmente excluído ou se ou lhe dá outra conotação ou encaminhamento; Falta de professores pedagogicamente preparados para este novo desafio na educação, aliada à dificuldades de filósofos de ministrar aulas nas series iniciais; Novidade do projeto, que por isso demanda muitos estudos e capacitações; Capacidade profissional para realizar pesquisas e produzir um currículo básico para as diferentes turmas e níveis de ensino. A ênfase dada à filosofia no projeto “Educação para o pensar” se alicerça no pressuposto filosófico de Kant de que “não se ensina a filosofia, ensina-se a filosofar”. Por considerado correto (o pressuposto), a partir de 2001 a rede municipal incluiu na educação um espaço para esta disciplina, nele contemplando curso de capacitação para professores, supervisores e orientadores educacionais e aulas de filosofia desde as séries iniciais até a oitava série. Em uma análise sobre a cultura escolar, Rosa Fátima de Souza (2000, p. 5) contribui quando destaca que: [...] a escola está sempre vinculada à formação de pessoas, à produção de indivíduos e subjetividades. Por isso, o que se ensina e como se ensina nela não é uma questão menor, mas se encontra no centro de uma compreensão mais acurada, sobre as relações entre educação, cultura e poder. Finalizo este breve artigo sobre a trajetória do projeto com uma frase de Francisco José Calazans Falcon: “O fato é que não existe apenas uma cultura, mas sim culturas. Daí a validade de definição proposta para a história cultural como os homens representam e representam-se no mundo que os cerca”. REFERÊNCIAS ADORNO, T. Educação e emancipação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. ADORNO, T. e HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 13. ed., São Paulo: Ática, 2003. CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Tradução: Maria Manuela Galhardo. 2.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; Lisboa: Difel. 2002. DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? Trad. Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992, p.10-13. FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez Editora, 1991. FALCON, F. J. C. . História cultural e história da educação.. 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