Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos A CIÊNCIA LÚDICA NO ESTUDO DE BACTÉRIAS ODORANTES Elizete Cristina Serrati1; Rose Meire Costa Brancalhão2 RESUMO No ensino de ciências é importante que o professor se utilize de estratégias metodológicas diversificadas, como a lúdica, capaz de motivar e envolver o aluno no ato de aprender, levando-o a um aprendizado significativo. Este estudo utilizou a história em quadrinhos (HQ) como metodologia lúdica de ensino de célula procariótica, em específico, as bactérias odorantes do corpo humano, cuja estrutura microscópica dificulta o entendimento e o ensino. A HQ intitulada “A Revolta das Bactérias” apresentou características morfofuncionais destes organismos microscópicos, na forma de humor, justamente para chamar a atenção e foi aplicada a alunos do ensino fundamental. Os alunos leram a HQ e ao término das atividades foi possível constatar o envolvimento dos mesmos na dinâmica lúdica de ensino, o que foi comprovado pelo debate, onde todos colocaram sua opinião sobre o tema, demonstrando que o aprendizado foi alcançado. Assim, esta metodologia se mostrou bastante adequada e motivadora, o que certamente favoreceu o desenvolvimento cognitivo dos alunos nesta área. Palavras-chave: Procarioto, metodologia de ensino, reprodução assexuada. ABSTRACT In the Science teaching it is important that the teacher makes use of a variety of methodological strategies, such as the ludic one, able to motivate and engage students in learning that takes them to a meaningful learning. This study used the comic strip as a ludic methodology to teach prokaryotic cell, in particular, the odorous bacteria from the human body, which microscopic structure makes the understanding and the teaching difficult. The comic strip called "The Revolt of Bacteria" presented morphological and functional characteristics of these microscopic organisms in humorous way, just to get the attention of the students. It was applied to elementary school students. They read the comic strip and at the end of the activities it was possible to certify their involvement in the dynamic of the strategy, which was confirmed by the debate, where everyone gave their opinion about the subject, demonstrating that the learning was achieved. Thus, this methodology proved quite adequate and motivating, which certainly promoted the cognitive development of the students. Key-words: prokaryote, teaching methodology, asexual reproduction. 1 Bióloga, professor do Programa de Desenvolvimento da Educação do Paraná, Colégio Estadual Bartolomeu Mitre – EFM. 2 Bióloga, orientadora, Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Introdução Este estudo é decorrente da participação no programa de formação continuada, o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), oferecida pelo governo do Estado do Paraná aos professores da rede pública estadual de ensino. O PDE oportunizou a revisão de práticas metodológicas do cotidiano escolar, no intuito de aprimorar o trabalho pedagógico docente. Estudos apontam para o fato que devemos observar as formas em que a aprendizagem se manifesta e se efetiva, não só no ensino de ciências, mas em todas as disciplinas. As teorias são muitas e podem auxiliar a prática pedagógica do professor. O método tradicional é o de aulas expositivas, sabe-se de sua importância e necessidade, pois é uma das primeiras informações recebidas pelos alunos. Contudo, o uso exclusivo desta metodologia não atende as reais necessidades de apropriação do conhecimento, já que a simples exposição de conteúdos não é suficiente em despertar o interesse do aluno pelo aprender. Assim, o professor deve utilizar metodologias diferenciadas e cativantes, que despertem o interesse e motivem o aluno a um aprendizado efetivo (KRASILCHIK, 2005). Perceber as questões metodológicas e sua importância, enquanto estratégia de ensino, deve ser uma preocupação constante do professor. Como destaca Oliveira (2010), o professor exerce uma função primordial nesta etapa de apropriação do conhecimento, pois, o educando necessita deste aporte pedagógico para o seu aprendizado. Entre as várias metodologias que objetivam uma maior participação do aluno, apresenta-se a lúdica, que supre a carência deixada pelas aulas expositivas. De acordo com as Diretrizes Curriculares de Ciências para a Educação Básica do Estado do Paraná, o lúdico deve ser considerado nas estratégias de ensino independente da série e da faixa etária do estudante, adequando encaminhamento metodológico, linguagem e recursos utilizados como apoio (DCE, 2009). O que se propôs neste trabalho foi desenvolver uma metodologia lúdica de ensino, através de história em quadrinhos, de maneira a se disponibilizar uma ferramenta metodológica que proporcione aos professores e aos alunos um maior envolvimento no processo de compreensão de conceitos complexos e de certa forma abstratos, como ocorre no ensino da célula. Mesmo com a riqueza de material didático disponível verifica-se, ainda, a necessidade de se desenvolver ferramentas lúdicas de apoio na construção do conhecimento nesta área da ciência, cujo conteúdo é contemplado nas diretrizes curriculares da rede estadual de ensino, item Biodiversidade - Organização dos Seres Vivos. Assim, o presente estudo abordou o conteúdo do Reino Monera, em especial, bactérias que causam mau cheiro no ser humano, trabalhado no 7° ano do Ensino Fundamental. Metodologia Este trabalho foi desenvolvido em duas fases, na primeira houve a organização da história, onde foram utilizadas referências bibliográficas da área (KRASILCHIK, 2005; MIOTO, 2009; SANTOS, 2011; PINHEIRO, 2013), de forma a fornecer o embasamento teórico necessário. A história apresentou um enredo constituído por uma população de bactérias que habitam o corpo humano e aí se multiplicam. Enfatiza a importância de hábitos de higiene pessoal no controle da população bacteriana, onde o excesso de bactérias pode causar problemas como a Bromidrose. Toda a história tem uma linguagem simples e acessível para facilitar o entendimento dos alunos, as figuras são coloridas e atrativas à leitura. Na segunda fase, a história foi aplicada em sala de aula, alunos do 7º ano do ensino fundamental, do Colégio Estadual Bartolomeu Mitre, localizado na cidade de Foz do Iguaçu, Paraná. Participaram da implementação duas turmas de 7º ano, A e B, num total de 60 alunos. As atividades foram iniciadas durante o trabalho com o Reino Monera. No conhecimento das pré-concepções dos alunos sobre as bactérias, foi realizado um pré-teste, contendo questões diagnósticas sobre o tema. Após, foram realizadas algumas atividades práticas como: exposição dos dois tipos de células (eucarióticas e procarióticas), com as suas diferenças morfofisiológicas, e confecção das mesmas em material do tipo E.V.A. (Etil Vinil Acetato). Quanto à questão teórica, foi realizada a exposição do conteúdo do Reino Monera com suas características, conceitos, importância, benefícios e malefícios. Também foi apresentado o vídeo “O EPIRRO” que apresentou a dispersão e a reprodução das bactérias, com duração de cerca de 3 minutos, disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=defTJs6eO4A>. Acesso em: 20 fev. 2014. Na sequência dos trabalhos foram realizados debates, leituras complementares (extraídas da Revista Ciência Hoje das Crianças), pesquisas na sala de informática, observação de uma cultura de bactérias no laboratório de Ciências e a leitura da HQ produzida. Na finalização das atividades foi efetuada a dinâmica para que os alunos construíssem uma frase, com as palavras BACTÉRIA, HUMANO, BROMIDROSE. Resultados e discussão Os resultados evidenciaram a importância da ludicidade no ensino de Ciências, uma vez que esta metodologia propiciou o envolvimento ativo dos alunos no ato de aprender. No caso do conteúdo de bactérias a experiência pedagógica evidenciou as dificuldades no entendimento da estrutura e fisiologia destes seres microscópicos e suas relações com outros seres vivos, como os humanos. Assim, a utilização da HQ facilitou o conhecimento científico deste Reino. A HQ utilizou duas linguagens claras e objetivas, a narrativa e a visual, que possibilitaram a ligação entre o conteúdo teórico e a realidade vivencial dos alunos em relação à bromidrose. Com isso, o tema e seus principais objetivos, foram melhor esclarecidos quando foi disponibilizada a HQ para os alunos. Destaca-se que o lúdico, no forma de HQ, possibilitou o uso dos sentidos de forma a estimular áreas cerebrais da memória. Importante destacar que a utilização de recursos didáticos diversificados, como o lúdico, necessita de um planejamento por parte do professor, de tal forma que a atividade não se torne um mero passatempo. Na implementação desta proposta metodológica lúdica, primeiramente foi organizado e criado os personagens e o enredo da história. Este período foi desenvolvido com bastante atenção e cuidado, para que houvesse a criação de uma história fidedigna e atrativa aos alunos. VERGUEIRO (2004) coloca a importância da criatividade e organização do professor na condução das atividades didáticas. Neste estudo, a produção da HQ serviu como fonte de pesquisa para concluir o tema estudado em aula. Os alunos puderam fazer uma interpretação significativa, cuja narrativa possibilitou a compreensão do que realmente ocorre no organismo, ou seja, o corpo humano, e as relações estabelecidas com os procariotos. Segundo as DCE’s (2008, p. 68): Na organização do plano de trabalho docente espera-se que o professor de Ciências reflita a respeito das abordagens e relações a serem estabelecidas entre os conteúdos estruturantes, básicos e específicos. Reflita, também, a respeito das expectativas de aprendizagem, das estratégias e recursos a serem utilizados e dos critérios e instrumentos de avaliação. Para isso é necessário que os conteúdos específicos de Ciências sejam entendidos em sua complexidade de relações conceituais, não dissociados em áreas de conhecimento físico, químico e biológico, mas visando uma abordagem integradora. Os alunos fizeram a leitura da HQ livremente, porém, foi necessário ficar atenta as possíveis reações, como a forma de interpretação e possíveis incompreensões. É importante organizar a prática pedagógica de forma a atender igualmente os alunos. Entretanto, cabe destacar a necessidade do professor em analisar as diferentes potencialidades de seus alunos, direcionando as estratégias de ensino conforme a necessidade (DCE’s, 2008). O papel do professor no processo de ensino aprendizagem é de ser mediador, apresentando conceitos préestabelecidos e as concepções que são dadas ao tema abordado. Para tanto, o planejamento e as estratégias utilizadas neste trabalho foram elaboradas de acordo com os objetivos a que se queria alcançar. Após a leitura e interação entre os alunos, foi proposta a atividade com a formação de frases, o que possibilitou realizar uma avaliação diagnóstica. Abaixo são apresentadas algumas das produções de frases dos alunos. “O ser humano vive com muitas bactérias e quando corre ou faz exercícios causa o cecê, ou seja, a bromidrose, aí fica com um mau cheiro nas axilas”. (Aluna nº 01). “Todos os seres humanos tem milhares de bactérias no corpo e na maioria das vezes causa a bromidrose”. (Aluno nº 15). “O nosso corpo é cheio de bactérias, nós seres humanos temos a bromidrose que é o nome dado ao mau cheiro”. (Aluna nº 27). “Quando ficamos sem tomar banho causa a bromidrose, mau cheiro causado pela ação das bactérias”. (Aluno nº 07). “Nós humanos temos muitas bactérias no nosso corpo e a bromidrose é o nome dado ao mau cheiro causado pelo suor e a ação das bactérias”. (Aluno nº 18). “Nós humanos temos em nosso corpo as bactérias que se alimentam do nosso suor e causa o mau cheiro que se chama bromidrose”. (Aluna nº 05). “As bactérias foram os primeiros a existirem em nosso planeta e nós humanos temos elas no corpo causando a bromidrose que é o mau cheiro”. (Aluno nº 12). “Bromidrose é o nome que se dá ao chulé ou ao odor. Quando nós humanos tomamos banho não eliminamos todas as bactérias do nosso corpo porque elas impedem que outras entrem em nosso corpo e causem várias outras doenças”. (Aluno nº 07). Assim, utilizar a ludicidade como apoio ou ferramenta pedagógica para enriquecer as aulas, é uma estratégia motivadora para que o aluno possa construir um conhecimento significativo capaz de formar memória de forma prazerosa e efetiva. Fomentar discussões sobre como melhorar a prática pedagógica, de forma que esta contribua ao aprendizado do aluno, é um desafio constante para o educador (CAMPOS, 2008). Os professores de Ciências são assim desafiados a acompanhar e interagir com a realidade e as novas descobertas científicas, que não podem ficar isoladas da sala de aula ou de sua prática pedagógica. Muitas vezes as condições físicas, de formação ou mesmo pedagógicas na escola, dificultam o trabalho do professor, seja por salas super lotadas, falta de material didático ou laboratórios que não atendem as necessidades educacionais. Nem sempre as metodologias que se usam são realmente efetivas e, por isso, o educador precisa estar atento a essas dificuldades e promover diferentes possibilidades e estratégias que facilitem a efetiva construção do conhecimento dos educandos (LIMA e VASCONCELOS, 2006). Considerações finais São muitas as possibilidades para se trabalhar com as HQ como ferramenta ou apoio pedagógico. Cabe ao professor saber como introduzi-las pedagogicamente, sendo que as mesmas podem ser usadas para potencializar um debate, iniciar um conteúdo novo ou ainda fechar um conteúdo. Como educadores temos a responsabilidade de apontar caminhos para que nossos alunos consigam adquirir o conhecimento científico, levando em consideração todo o conhecimento empírico que eles trazem para dentro da sala de aula. O conhecimento através de material lúdico se mostrou eficiente e significativo. O professor precisa aliar a qualidade de suas aulas com uma metodologia que ajude a instigar e despertar o interesse do aluno pelo tema que será estudado. Nesse sentido a percepção do professor é crucial em relação aos métodos que irá utilizar para que o aluno se aproprie do conhecimento. Comprovadamente aprendemos com o uso dos sentidos e cada pessoa potencializa uma capacidade específica, como no caso dos portadores de necessidades especiais, e o ensino através da ludicidade vem justamente contribuir com o seu aprendizado. Esperamos que esta produção possa servir de apoio pedagógico, pois contribuir e socializar um trabalho que pode ser explorado por outros professores da área também significa uma realização além de profissional, pessoal. Referências AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Biologia dos organismos. Volume 2. 3. ed. São Paulo. Moderna, 2010. CAMPOS, I.M.I; BORTOLO, T.M; FELÍCIO, A.K.C. A produção de jogos didáticos para o ensino de ciências e biologia: uma proposta para favorecer a aprendizagem. Disponível em: <http://www.unesp.br/prograd/PDFNE2002/aproducaodejogos>. Acesso em 24 abril 2013, 16:53:34. JÚNIOR, C. da S.; SASSON, S. Biologia – Volume 2 – 2ª série - Seres vivos: estrutura e função. 8ª edição. São Paulo: Saraiva, 2005. KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. 4 ed. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004, 2005. MACEDO, L.; PETTY, A. L. S.; PASSOS, N. C. Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2005. MIOTO, R. Pele tem centenas de tipos de bactérias. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u573579.shtml>. Acesso em: 06 jun 2013, 17:14:56. NORDQVIST, C. What is body (B.O)? What causes body odor? Medical News Today, 2009. Disponível em: <http://www.medicalnewstoday.com/articles/173478.php>. Acesso em: 06 jun. 2013, 15:35:16. OLIVEIRA, M. K. . VYGOTSKY - Aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 2010. PARANÁ. Secretaria do Estado de Educação. Diretrizes curriculares de ciências para o ensino fundamental do Paraná. Curitiba: SEED, 2008. PINHEIRO, P. Bromidrose: mau odor nas axilas. Disponível em <http://www.mdsaude.com/2013/02/mau-cheiro-axilas>. Acesso em: 24/04/2013, 16:45:10. SANTOS, S. M. P. dos. O brincar na escola: Metodologia lúdico-vivencial, coletânea de jogos, brinquedos e dinâmicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. VASCONCELOS, S. D.; LIMA, K. E. C. Análise da metodologia de ensino de ciências nas escolas da rede municipal de Recife, 2006. Disponível em: <www. scielo. br/pdf/ensaio/v14n52/a08v1452.pdf>. Acesso em 01/05/2013, 09:28:10. VERGUEIRO, Valdomiro. Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004. Anexo I - HQ "A revolta das bactérias”