EMBALAGENS COMO FORMA DE EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO NO PONTO-DE-VENDA DE AUTO-SERVIÇO Nathália Umbelino Borges RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo estabelecer que a embalagem possui a função de proteger, transportar e conter produtos, além de transmitir a imagem empresarial do produto ao consumidor. A embalagem, além de ser responsável pela potencialização de vendas, é capaz de construir e reconhecer marcas fazendo com que o consumidor não distingua o produto de sua própria embalagem, favorecendo na atração do produto e em sua compra através de seu destaque no ponto-de-venda. Considerando que a embalagem passou a ser um elemento indispensável para a diferenciação dos produtos, diante da situação em que se encontra o mercado atual, altamente competitivo, pretende-se com o presente estudo entender o papel da embalagem enquanto ferramenta de marketing, comunicação, posicionamento e promoção dos produtos e analisá-la ainda como canal de comunicação direta com o consumidor, abrangendo os aspectos de design e mercadológicos que transformam a embalagem em um conjunto de estímulos, incentivos e necessidades acarretando o consumo do produto. PALAVRAS-CHAVE: Design, Marketing, Merchandising. INTRODUÇÃO A disputa pelo consumidor está cada vez mais acirrada, devido ao surgimento de novas marcas e à renovação de produtos que já pertencem ao mercado. Recentemente, verificou-se a importância de se observar e estudar os critérios nos quais o consumidor se fundamenta para escolher e comprar determinado produto. O comportamento do consumidor é baseado em necessidades fisiológicas, psicológicas e sociológicas que determinam as reações aos apelos mercadológicos. Entendese como necessidades fisiológicas as necessidades vitais relacionadas com a sobrevivência do indivíduo, as necessidades psicológicas como ligadas à satisfação sendo adquiridas no decorrer da vida e as necessidades sociológicas como relacionadas às atividades sociais. Devemos analisar e identificar o processo decisório do consumidor, ou seja, explicar as razões do seu comportamento de compra, analisando motivações conscientes e inconscientes que geram a escolha deste ou daquele produto no ponto-de-venda. Essas motivações conscientes e inconscientes estão ligadas, em grande parte, à análise da 2 embalagem e seus componentes. A embalagem é uma forma de comunicação direta com o consumidor e tem grande participação nessa disputa de mercado, uma vez que ela representa o primeiro contato do consumidor com o produto, sendo objeto primordial para a definição da escolha e da compra. Partindo do pressuposto de que a embalagem, enquanto canal de comunicação, carrega elementos essenciais para a sua função persuasiva, sendo esses elementos estéticos e funcionais, é capaz de criar uma situação de vínculo da empresa com o consumidor. Esta monografia é construída a partir de um aparato teórico e visa analisar esses elementos essenciais para a construção persuasiva de uma embalagem, ressaltando a importância de um planejamento da mesma durante a produção de um produto. Pretende-se, também, entender o papel da embalagem sendo uma ferramenta de marketing enquanto comunicação, posicionamento e promoção dos produtos. O capítulo 1 relata toda a história e evolução sofrida pelas embalagens desde o seu surgimento até os dias atuais, mostrando as modificações ocorridas nela tanto em suas utilizações como canal de comunicação, quanto em relação ao design. O capítulo 2 percorre a criação e o desenvolvimento de uma embalagem analisando o comportamento dos consumidores dentro de ponto-de-venda e conhecendo os estímulos, incentivos e necessidades que são criados através do design dela, ou seja, seus elementos como: cor, formato, tamanho, imagem, informações complementares, a fim de influenciar o consumo do produto. Já no capítulo 3, estuda-se o papel da embalagem enquanto ferramenta de marketing analisando os aspectos mercadológicos que podem ser trabalhados estrategicamente para se obter uma vantagem competitiva no ponto-de-venda. Vale ressaltar que ao final deste estudo teórico, os resultados adquiridos são aplicados de forma prática na análise da embalagem do novo produto da Nestlé, o Nescau 2.0, porém, não será a empresa, nem o seu produto, o objeto de estudo deste trabalho. Esta é somente uma exemplificação dos resultados adquiridos através do estudo e das análises da embalagem de um produto quando da sua reformulação para ser reintroduzida no mercado. A EVOLUÇÃO DA EMBALAGEM 3 O objetivo deste capítulo é relatar a história da embalagem desde o seu surgimento até os dias atuais, mostrando toda a sua evolução, tanto como canal de comunicação com o consumidor, quanto em relação aos materiais, ao design, que foram sendo modificados ao longo dos anos por influência de acontecimentos históricos. A embalagem acompanha a humanidade desde os primórdios da civilização quando surgiu a necessidade de agrupar e conter alimentos, possibilitando assim que eles fossem transportados e armazenados. Por volta do ano 1000 a.C; os médicos egípcios embalavam remédios em recipientes de bambu rotulados e jarros de barros gravados eram comuns na Grécia antiga, assim como também no Brasil pré-colonial os índios utilizavam conchas, folhas, chifres, cascas de frutos e de árvores e outros elementos derivados da natureza para acondicionar, armazenar e transportar, principalmente, alimentos. Com a evolução do mercado e a maior competição entre os produtos, houve a necessidade de se buscar novos recursos para o transporte das mercadorias. O progresso da indústria gráfica e das indústrias em geral levou as embalagens a incorporarem cada vez mais recursos. A maneira de como a embalagem foi incorporando funções, e estas foram sendo traduzidas em objetos, constituiu ao longo dos tempos um repertório iconográfico, uma espécie de vocabulário visual com características próprias: a linguagem visual da embalagem. A revolução da linguagem visual das embalagens dependeu sempre dos recursos gráficos e de produção existentes a cada época. A linguagem visual da embalagem constitui um vocabulário que os designers precisam conhecer para poder se comunicar com os consumidores. Esse é o principal diferencial do design de embalagem em relação às outras linguagens do design; existe um repertório exclusivo, construído ao longo dos séculos com a evolução do comércio e o desenvolvimento da sociedade de consumo, que dotou os produtos de uma roupagem que permite a identificação de seu conteúdo e facilita o processo de compra. (MESTRINER, 2001, p.10) Em 1798 duas invenções levaram à popularização dos rótulos: a máquina de fazer papel, inventada na França por Nicolas-Lois Robert, e o princípio da litografia, descoberto por Alois Senefeldern, na Bavária. A litografia é um processo de gravura em plano, executada sobre uma pedra calcária ou sobre uma placa de metal (em geral zinco ou alumínio), granidas, e baseado no fenômeno de repulsão entre as substâncias graxas e a água, usadas na tiragem, o qual impede que a tinta de impressão adira às partes que absorveram a umidade, por não terem sido inicialmente cobertas pelo desenho, feito também a tinta oleosa. 4 Em 1830 os rótulos já eram utilizados na maioria das formas de embalagem e para variados tipos de produtos, mas somente em 1850, quando George Baxter patenteou seu método de cromolitografia, que se permitiu a satisfatória impressão em cores nas embalagens. A cromolitografia é um método de impressão de imagens em cores superpostas por processos litográficos. A nova técnica possibilitou a inclusão de imagens que chamassem a atenção e cenas que ilustrassem situações em que o produto poderia ser utilizado. Os novos rótulos coloridos tornavam os produtos mais atraentes e logo os fabricantes perceberam que, decorados dessa forma, vendiam mais. Fonte: http://www.tede.ufsc.br/teses/PEPS4405.pdf acesso em 08/03/2010 às 11h. Figura 1 – Rótulos impressos em cromolitografia (Itália – 1890). A economia mundial sofreu modificações profundas a partir da segunda metade do século XVIII, quando se iniciou a Revolução Industrial. Estreitamente relacionada ao desenvolvimento do sistema capitalista, a industrialização se estendeu por todo o mundo e determinou o surgimento de novas formas de sociedade, de estado e de pensamento. Em sentido restrito, a expressão “Revolução Industrial” aplica-se às transformações econômicas e técnicas ocorridas na Grã- Bretanha com o surgimento da grande indústria moderna. Com a Revolução Industrial o volume de produção aumentou extraordinariamente. A produção de bens deixou de ser artesanal e passou a ser máquino faturada, houve a aglomeração de pessoas em centros urbanos, causada, principalmente pela migração da população rural e somada à decrescente auto-suficiência das pessoas, cada vez mais carente de produtos, bens e serviços. Criou-se uma necessidade ainda maior de aumentar a produção para satisfazer a 5 essa demanda sempre crescente. Com o interesse de se produzir cada vez mais, com custos menores, iniciou-se a fabricação em série. [...] a produção em série, em grande escala, para um consumidor indeterminado. Enquanto antes se produzia para certo mercado, constituído por pessoas conhecidas, agora se produz para um mercado anônimo; enquanto antes o artigo era feito por um artesão, uma pessoa, agora o é pela máquina ou por várias pessoas, que dividem as tarefas, de modo a tornar o labor mais racional e rentável. A produtividade da máquina é evidentemente muito superior à do trabalho antigo. (IGLÉSIAS, 1990, p.48 e 49) Percebe-se que os elementos visuais básicos que constituíram as embalagens do século passado continuam presentes ainda que de forma modificada nas embalagens atuais. Faixas, filetes, bordas, selos, logotipos desenhados, splashes e imagens sugestivas do uso do produto continuam compondo o visual das embalagens que encontramos no mercado. Em contrapartida, Tambini (1999, p.232) descreve que o design e as formas evoluem a cada nova era: [...] em 1900, a compra de alimentos do dia-a-dia estava deixando de basearse na tradicional confiança em determinado comerciante e passando a depender do poder de influência da publicidade e embalagens encomendadas pelas fábricas. O design das embalagens ainda refletia as preferências do século XIX, com exceção das perfumarias e de outros ramos, que se valiam do estilo orgânico e sinuoso do momento, o art nouveau. Fonte: CAVALCANTI; CHAGAS (2006, p.42) Figura 2 – Rótulo litográfico da Imperial Fábrica de Chocolate a Vapor, do Rio de Janeiro, desenvolvida com traços de Art Nouveau. A abertura dos portos com a vinda de D. João VI para o Brasil em 1808 modificou tão profundamente a economia, a cultura e a política brasileira, quanto também influenciou o destino das embalagens. A produção de embalagens em grandes quantidades foi surgir a partir da exportação dos produtos agrícolas. E essa produção transformou-se realmente em indústria, acompanhando o grande processo de industrialização, no final do século XIX. Assim surgiram a sacaria de 6 algodão para os moinhos de trigo, o metal para a lataria dos frigoríficos, os vidros para os remédios e perfumes, as garrafarias para cerveja, o papel para os cigarros e os embrulhos, o papelão para todos os tipos de caixa. (CAVALCANTI; CHAGAS, 2006, p.19) Nessa época, a produção no Brasil era primária suprindo somente as necessidades do país. A embalagem mal tinha a função de proteção, era utilizada somente como um recipiente onde os produtos eram colocados para serem transportados. Fonte: CAVALCANTI; CHAGAS (2006, p.157) Figura 3 – As embalagens de madeira estão entre as mais antigas do mundo, eram utilizadas para transportar a maioria dos produtos. A primeira guerra mundial acelerou a tendência de produtos embalados individualmente, de forma avulsa, pois era muito mais fácil de distribuir e fornecer rações às tropas em pequenos pacotes. Muitos rótulos foram atualizados e as novas técnicas de embalagem melhoraram o acesso aos processos de lacramento dos produtos, possibilitando conservá-los frescos por um prazo maior. As tampas com furos, como as para talcos foram um dos grandes avanços nas formas de uso das embalagens nesta época. Fonte: http://www.slideshare.net/juzinha13/embalagens acesso em 08/03/2010 às 12h. Figura 4 – Embalagem de talco. A publicidade ganhou destaque à medida que os fabricantes brigavam pela atenção 7 do consumidor. Os anos de mudança após a primeira guerra continuavam, devido diminuição do à número de empregados domésticos e das famílias, ocasionando a redução no tamanho dos produtos. As embalagens passaram a ter um design mais limpo e claro, influenciados por cores mais vivas e linhas angulares do movimento art déco, caracterizado por padrões geométricos simples. Com o passar dos anos, as folhas de alumínio foram reconhecidas pela suas propriedades de barreira funcional, onde foi utilizado para fabricar embalagens de balas, durante os anos 20. Fonte: http://www.slideshare.net/juzinha13/embalagens acesso em 08/03/2010 às 13h. Figura 5 – Embalagem de cigarro feminino da década de 20. Elegantes e exóticos em design Art Déco. Na década de 30 os rótulos apresentavam extravagantes detalhes gráficos, com formas fortes e geométricas e as cores fortes. A arte gráfica se tornou mais ousada e simples, atraindo a atenção de modo imediato. As ilustrações realísticas nas embalagens estavam se tornando cada vez mais comuns, dando uma melhor impressão a respeito do real conteúdo do produto. A tecnologia da embalagem também estava se aperfeiçoando, nesta década, o celofane era mais higiênico para embalar produtos, e os plásticos e o alumínio, embora ainda caros, eram substituídos para os pesados potes de vidro. Foram desenvolvidos revestimentos de viscose para os tecidos, seguido pela introdução do celofane, que permitiu o desenvolvimento de embalagens à prova de umidade. Durante os anos 40 houve outra guerra, que afetou todos os aspectos da sociedade. As embalagens precisaram ser adaptadas em muitos países devido à escassez de tinta de impressão e materiais, tornando-a cada vez mais funcional. Os rótulos foram diminuídos a fim de economizar papel, e foi por esse motivo que as embalagens receberam um novo elemento em sua comunicação visual: o splash. Segundo Mestriner (2001, p.16) 8 “originário das onomatopéias popularizadas pelas histórias em quadrinhos (...) os splashes eram elementos visuais chamativos que alertavam os atributos mais proeminentes dos produtos”. Fonte: http://www.slideshare.net/juzinha13/embalagens acesso em 08/03/2010 às 12h. Figura 6 – Rótulos simples, embalagens simplificadas. O papel e o papelão eram racionados no período da guerra. Com o fim da segunda guerra mundial, vários países europeus industrializados foram atingidos pelas consequências do pós-guerra, particularmente aqueles que tiveram seus territórios afetados pelos conflitos e estavam em processo de reconstrução das suas economias. Durante este período de reconstrução, liderado aos poucos pelos EUA, as empresas norte-americanas puderam expandir suas atuações para aqueles países, conforme foi previsto no Plano Marshall, idealizado como legitimador e regulador dessa expansão. O pós-guerra não teve somente o crescimento dessas empresas, como consequência houve o surgimento de um novo tipo de consumidor. Este consumidor era mais exigente, imediatista e com disposição de aproveitar melhor a vida através do consumo de produtos e serviços. Relata Yanaze: [...] esse consumidor, podemos dizer, emerge das transformações do mundo provocadas pelo reconhecimento do poder destrutivo da guerra [...] essa nova consciência, levou às mobilizações da sociedade civil de corrida nuclear, sendo determinantes dos movimentos contraculturais emergente nos anos 50/60, de outro alterou os padrões de vida e de consumo vigentes no decorrer do século XIX e início do século XX, que privilegiavam projeto de vida de longo prazo e 9 valorização da poupança, com vistas à acumulação de bens a serem transmitidos aos descendentes. O novo homem pós-guerra passa a valorizar mais o conforto e o gozo imediato de vida, e encontra no progresso tecnológico e nos produtos dele decorrentes os suportes para a sua realização. (n. 5, p.88-92) Este consumismo exacerbado é atribuído a vários motivos como: o aprimoramento da tecnologia, as campanha publicitárias maçantes, o surgimento da televisão, a inovação de materiais, formas e cores, a demanda exigente de mercado e a variedade de produtos. As empresas passaram a se preocupar em conhecer melhor este novo consumidor, investigando suas motivações de compra. O desenvolvimento do comércio causou uma grande revolução no mundo das embalagens, que até então era dominado por bazares, armarinhos, quitandas e empórios em que os produtos, incluindo os perecíveis, eram pesados no balcão e vendidos a granel, porém devido à industrialização crescente dos alimentos e à nova maneira de acondicioná-los fizeram com que os produtos já viessem embalados de fábrica. Surgindo os supermercados como nova forma de comércio, como ressalta Cavalcanti; Chagas: Do arroz aos queijos, da farinha de mandioca aos dropes, dos xampus aos sorvetes, uma nova linha de montagem se disseminava, e os produtos empacotados na fábrica se tornavam uma realidade, cercados naturalmente pelos cuidados que cada um exigia. Assim se chegava à grande novidade comercial da época: os supermercados. (2006, p.129) Fonte: CAVALCANTI; CHAGAS (2006, p.124) Figura 7 – Até a entrada dos supermercados, o domínio das vendas de secos e molhados era dos empórios ou armazéns. Os produtos eram vendidos a granel e pesados no caixa. Em se tratando da relação supermercados e embalagens, talvez seja impossível definir com precisão quem influenciou mais quem, pois não se sabe se o êxito do autoserviço no Brasil dependeu da embalagem ou se, pelo contrário, a evolução da indústria de 10 embalar mercadorias só foi possível por causa da profunda mudança ocorrida nos usos e costumes de atender o cliente no comércio brasileiro. O supermercado foi lançado em Nova York, nos EUA, em 1930, quando Michael Cullen, com uma ideia diferente em relação aos padrões da época, lançou uma estratégia simples: comprou um galpão industrial, adaptou o lugar para vender comida e deixou que as pessoas se servissem sozinhas apresentando características que prevalecem até hoje. Além da diferença no modo de atendimento aos consumidores também possuía preços mais baixos que os demais comércios. Posteriormente essa nova forma de comércio foi se expandindo para os demais países. As dificuldades enfrentadas para a implantação desta nova forma de comércio foram muitas. No Brasil, quando tudo começou, não havia fabricantes de gôndolas, nem de carrinhos de supermercados, balcões de frigoríficos abertos, muito menos de embalagens. Era relativamente fácil importar gôndolas, carrinhos e balcões, porém, o problema com as embalagens mostrou-se muito mais complicado e os supermercados se viam obrigados a improvisar máquinas de embalagens com caixotes e funis. A entrada dos supermercados veio mudar o enfoque da embalagem, pois atendem pelo sistema de auto-serviço, uma forma de vender pela qual o comprador tem a liberdade de fazer a escolha dos produtos que deseja, apanhá-los e levá-los até as caixas registradoras para pagá-los, sem que para isso haja qualquer interferência ou serviço pessoal na loja, surgindo assim a necessidade de produtos instantaneamente identificáveis, que vendem por si só nas gôndolas. Fonte: CAVALCANTI; CHAGAS (2006, p.138) Figura 7 – Até a entrada dos supermercados, o domínio das vendas de secos e molhados era dos empórios ou armazéns. Os produtos eram vendidos a granel e pesados no caixa. 11 A embalagem começou a funcionar como um elemento indutor da venda como afirma Tambini (1999, p.234) “(...) as embalagens foram capazes de substituir o vendedor com seu design e conteúdo informativo, viabilizando o auto-serviço”. O próprio consumidor passava por um aprendizado, outra dificuldade encontrada, pois sentia falta do atendimento pessoal, do bate-papo com o balconista, da atenção do próprio dono, que às vezes o ajudava a escolher, a comparar os preços. No auto- serviço, as pessoas precisavam decidir sozinhas, como bem apresenta Mestriner (2001, p.16) “(...) a venda dos produtos no sistema de auto-serviço obrigou uma completa reformulação na função das embalagens (...) a embalagem deveria fazer tudo isso sozinha”. O supermercado também influenciou no grafismo e na forma de expor as embalagens, colocadas em pé, expostas para o consumidor como um incentivo à venda e economizando espaço expositivo na gôndola, e não mais deitada, na pilha que o vendedor tirava da prateleira às suas costas. Trouxe também o conceito da multiplicação, onde um produto que antes se perpetuava no mercado, se multiplica agora em mix de produtos, para melhor ocupar espaço na gôndola. As versões diet e light, assim como os variados sabores deste produto, ajudam a diminuir o espaço dos concorrentes. Trata-se de uma estratégia de fragmentação, que as empresas criaram e praticam para melhorar a divulgação de suas marcas diante dos concorrentes. Conforme essas mudanças, ela foi ganhando novas funções e maior importância. A embalagem deixou de ser apenas um invólucro protetor do produto, ou apenas o elemento que facilita sua distribuição. A todas essas funções foram acrescidas outras que tem exigido atenção e cuidados por parte de técnicos que se preocupam com seus elementos e seu design. (BLESSA, 2009, p.19) Outra diretamente novidade é que as gôndolas, além de colocarem o consumidor com o produto, também o colocam diante de produtos semelhantes, concorrentes. Em consequência, a proliferação de marcas e a quantidade de produtos no mercado, que possuem funções e embalagens similares, a embalagem transformou em um elemento fundamental na comunicação das mercadorias, onde exige do designer e do fabricante estratégias mercadológicas para vencer a competição acirrada. Lincoln Seragini (apud CANDELORO, 1997) ressalta a importância da embalagem em uma visita rápida a lugares cheios de prateleiras (por exemplo, um supermercado), onde o comprador só consegue avistar 10% dos itens expostos. A 12 velocidade média com a qual os olhos correm pelas prateleiras é de 100 quilômetros por hora, necessitando assim de um estudo adequado para indicar a melhor maneira de utilizar cores, formas e outras ferramentas para chamar a atenção do consumidor para o produto desejado. A embalagem passou a ser vista, a partir dos anos 80, como uma oportunidade de comunicação direta com o consumidor, pois muitas vezes é o seu primeiro contato com o produto sendo um veículo ainda mais poderoso de venda de produtos. Os designers perceberam que a embalagem poderia ser integrada a toda concepção de marca, e se for bem planejada irá atrair o seu target 1 e poderá levar ao consumo, se não, passará despercebida em meio à concorrência. A tecnologia de corte e dobra de materiais e moldagem de plásticos foi se tornando mais barata, propiciando ideias cada vez mais inovadoras. Figura 9 – Embalagem do Ponche Havaiano e Água Mineral Vittel, nos anos 80, utilizando a tecnologia de corte e moldagem de materiais. Fonte: http://www.slideshare.net/juzinha13/embalagens acesso em 08/03/2010 às 13h. O Novo Cenário para a Indústria de Embalagens Assim, a embalagem foi se tornando um instrumento de publicidade, e vem se transformando em um setor competitivo, essencial para o sucesso dos negócios. De acordo com Mestriner (2001, p.11) “a embalagem é uma ferramenta de marketing sendo que nos produtos de consumo são também um instrumento de comunicação e venda.” A embalagem atual continua sendo altamente bem sucedida e inovadora, incorporando elementos de linguagens de outras áreas, acompanhando a moda e as tendências 1 Target: público-alvo 13 culturais e sociais e responde às premissas de marketing do produto. Campanhas de fidelização de clientes, divulgação da linha de produtos, construção da imagem da marca, ações promocionais, entre outras são desenvolvidas a partir de embalagens, que passaram a funcionar como uma mídia dirigida aos consumidores efetivos do produto. Tudo indica que a inovação é um fator decisivo no novo cenário competitivo. A indústria brasileira de embalagens tem conseguido algumas conquistas que indicam que esta atividade no país vem seguindo tendências internacionais de buscar novos desenvolvimentos e inovações para competir num mercado cada vez mais exigente. A tecnologia de materiais e pigmentos vem oferecendo um amplo leque de oportunidades que devem ser exploradas no futuro. Tintas luminosas, extrabrilhantes tem dado um novo realce aos produtos, constituindo a tendência de cores não usuais. De acordo com Haberfeld 2, em uma entrevista a revista About (junho, 2001): Podemos vislumbrar que o design de embalagem vai dar um grande salto qualitativo nos próximos anos, pois cada vez mais as empresas verão nas embalagens a solução para conquistar e manter posições num ambiente competitivo e que se move em grande velocidade. Existem dois grandes desafios impostos ao setor de embalagem de acordo com Gracioso (2000). O primeiro desafio é a embalagem que está cada vez mais integrada com o produto, sendo capaz de mesmo vazia, representá-lo. O segundo é que a indústria de embalagem precisa pensar na etapa do pós-consumo e adotar medidas para a solução deste problema. Conforme Manzini; Vezzoli (2002), o desenvolvimento de produtos deve ser sustentável, ou seja, o projeto deve ser desenvolvido com base no seu ciclo de vida. O desenvolvimento do produto deve prever sua maior durabilidade, sua reutilização, remanufatura, ou ainda, a reciclagem dos materiais que o compõem. O desenvolvimento de produtos sustentáveis tem grande importância para a humanidade, pois existe uma grande preocupação com o consumo de recursos naturais, uma grande ameaça ao futuro da espécie humana. Muitas abordagens e conceitos tem sido desenvolvidos nas últimas décadas para tratar de problemas ambientais, tais como a produção mais limpa, tecnologias mais limpas, minimização de resíduos e abordagens que visam à reciclagem, ecodesign e 2 Haberfeld: Entrevista concedida por Haberfeld, então presidente da ABRE, Associação Brasileira de Embalagem,à Revista About de Junho de 2001. 14 design para a sustentabilidade. Para atingir a sustentabilidade ambiental não basta mudar o que antes existia, mas sim pensar em novas mudanças em serviços e produtos diferentes dos atuais. Em uma entrevista para a Revista EmbalagemMarca (nº 15, setembro, 2000), Sinkevisque 3 relata o futuro das embalagens: A internet com o e-commerce, o meio-ambiente, a reciclagem ou a reutilização e a globalização são algumas das questões que afetam o futuro das embalagens, exigindo novas atitudes de todos os envolvidos com este tema, pois cada vez mais as embalagens devem possuir imagens que sejam integradas ao produto e que, consequentemente, mesmo depois de vazia, o represente. A preocupação com a preservação ambiental é a condição limitadora mais forte no setor das embalagens. Os pesquisadores não podem ignorar, em nenhum caso, o destino da embalagem pós-consumo. O aumento da preocupação mundial com o meio ambiente e a ecologia tem pressionado os fabricantes a fornecerem produtos em embalagens recicláveis e/ou biodegradável. Toda a embalagem será reciclável num futuro próximo, mas existem sérias críticas dos especialistas aos produtos biodegradáveis. Eles não a consideram uma vantagem porque, em última instância, modificam a qualidade de água e do ar e desrespeitam o princípio de que tudo que é retirado da natureza deve ser aproveitado ao extremo. Os produtos biodegradáveis não podem ser reaproveitados. Os materiais renováveis são tidos como a grande solução ambiental. Embalagens responsáveis, que não vendem somente o seu conteúdo, mas sim toda uma preocupação com as leis ambientais e preservação da natureza. Fica evidente, ainda, o alto custo na produção de embalagens ecológicas, o que dificulta a adequação das empresas, podendo também provocar aumento nos preços do produto final. Entretanto, uma estrutura de design bem desenvolvida, com economia de materiais e tempo de produção, abordando preocupações como logística e peso, pode ajudar a empresa a fazer seu papel e conquistar sua fatia no mercado de consumidores fiéis. Tendo como grande desafio mundial a diminuição do impacto ambiental, uma solução apresentada, entre outras soluções renováveis, são as embalagens de reposição. As embalagens de reposição, que podem ser chamadas de embalagens refiláveis ou produtos “pelados”, são embalagens que podem ser recarregáveis, ou seja, a embalagem é utilizada 3 Sinkevisque: Entrevista concedida por Sinkevisque, um dos maiores especialistas em embalagem no Brasil, já trabalhou nas empresas Gessy Leser, Avon, Gillette, Johnson&Johnson e Nestlé e atualmente possui uma empresa de consultoria onde atende algumas empresas de expressão. 15 novamente comprando somente o conteúdo interno do produto que são chamados de refis, com isso, reduz embalagem no pós- consumo proporcionando vantagens econômicas para o consumidor e para o meio- ambiente. Grandes empresas de produtos de limpeza, de cosméticos, produtos de maquiagem e produtos de higiene, com suas embalagens plásticas passam a aderir ao movimento em busca de soluções de menor impacto ao meio ambiente. O britânico Andrew Eyles, diretor da Blue Marlin, uma das mais requisitadas consultorias internacionais de design e gestão de marcas, para a revista Embalagem Marca (2009, p.16) destaca: “Além de estimular recompras, que é o seu objetivo principal, embalagens de reposição podem também gerar diversificação das vendas e um engajamento efetivo na sustentabilidade.” Desde o surgimento do computador, a Internet tem se sobressaído pelo impacto na condução de negócios, viabilizando o ambiente digital, que permite a realização eletrônica de negócios, como o comércio eletrônico (e-commerce). O e- commerce promove a venda de forma virtual. Geralmente os produtos virtuais são baseados em informações e descrições do produto para que o consumidor possa saber suas funções e características. A embalagem dos produtos também é utilizada para auxiliar as vendas neste comércio, porém não é mais uma forma de comunicação direta com o consumidor, nem o seu primeiro contato com o produto no processo de compra. Segundo algumas teorias e especulações, a embalagem que é vista na tela dos computadores terá de ter outro tratamento de cores, de brilho, de design. O caminho será a suavização no uso das cores e de grafismos voltados ao impacto. Como não há sentido no uso de tais recursos numa mídia eletrônica que ainda é de baixa resolução e captação lenta de imagens, tudo favorece um conceito estético minimalista, baseado no uso de uma cor determinante para a embalagem, ligada estritamente à comunicação visual do produto ou marca. A logotípia também ganhará força, não bastará uma tipologia ou um elemento gráfico que transmita sensações e percepções, mais que informe de que o produto se trata ou qual é o benefício, o atributo, aplicação deste produto. A embalagem passa a ser uma forma de identificar o produto, porém o que influencia nas compras são as descrições e informações adicionadas a ela. Recentemente, novas tecnologias e fatores surgiram para ajudar o papel do design na exposição no monitor. Entre elas as comunicações de alta velocidade e sistemas avançados de definição de cores na web. Essas novas tecnologias podem facilitar a venda de produtos cujas embalagens não poderão decepcionar o consumidor. Com o e-commerce, os produtos são enviados em uma caixa 16 podendo conter várias embalagens, ou apenas uma única, porém esta deverá resistir devidamente até sua chegada ao consumidor. Tampas flip-top, que permitem que o produto seja aberto e fechado facilmente, plásticos transparentes possibilitando a visualização do produto, latas com fechamentos a vácuo e lacre de látex, que ao ser retirado deixa o ar entrar liberando a abertura da tampa dispensado a necessidade de abridor de latas são alguns exemplos dos formatos e dos acessórios que deram às embalagens mais praticidade, diferenciação, sofisticação e segurança. Fonte: CAVALCANTI; CHAGAS (2006, p.138) Figura 10 – Latas com fechamento a vácuo e lacre de látex, quando retirado deixa o ar entrar liberando a abertura da tampa dispensando a necessidade do abridor de latas. A criação de uma embalagem de sucesso, além de contar com logotipo e layout que a valorize, também deve envolver o estudo constante de novos materiais e novos avanços tecnológicos, levando-se em conta não só a sua função informativa como também a estratégia de posicionamento, a sustentabilidade e a tecnoeconomia desse setor, ou seja, a embalagem é sempre o resultado de um compromisso entre a sua função específica (proteção, manuseio), as vantagens competitivas que se pretende obter (comunicação, posicionamento) e o seu custo. O seu custo ainda é um problema para as empresas, principalmente para as de pequeno porte, porém, há um reconhecimento quanto ao seu papel fundamental no posicionamento dos produtos e na comunicação com o mercado. O setor de embalagens compreende uma cadeia industrial que vai da matéria- prima 17 aos fabricantes das mesmas, passando pela indústria de máquinas e equipamentos e pelos escritórios de design e comunicação. Envolve tanto quem pensa na criação, como quem as fábricas e os que envasam os produtos nas embalagens. Ao criar uma embalagem, o designer precisa integrar elementos de identificação como formas, cores, dimensões, entre outros, capazes de determinar a escolha e a compra do produto. Estes elementos serão analisados de maneira aprofundada no capítulo seguinte. A CONSTRUÇÃO DA EMBALAGEM A utilização da imagem se generaliza e todos os dias acabamos sendo levados a utilizá-la e, por conseqüência, decifrá-la e interpretá-la. Por um lado, lemos as imagens de uma maneira que nos parece totalmente natural, por outro, temos a impressão de estarmos sendo manipulados inconscientemente com códigos. As imagens provocam significações, isto é, interpretações. Um signo exprime ideias e provoca na mente uma atitude interpretativa de acordo com o repertório cultural de quem o decodifica. Como afirma Joly: Instrumento de comunicação, divindade, a imagem assemelha-se ou confunde-se com o que representa. Visualmente imitadora, pode enganar ou educar. Reflexo, pode levar ao conhecimento. A Sobrevivência, o Sagrado, a Morte, o Saber, a Verdade, a Arte, se tivermos um mínimo de memória, são os campos a que o simples termo 'imagem' nos vincula. Consciente ou não, essa história nos constituiu e nos convida a abordar a imagem de uma maneira complexa, a atribuir-lhe espontaneamente poderes mágicos, vinculada a todos os nossos grandes mitos. (1996, p.19) Um dos principais campos de atuação da semiótica é o da imagem, sendo a imagem concebida como representação plástica, material, virtual ou aquilo que evoca uma determinada coisa por ter com ela uma relação simbólica. De acordo com Perez (2004, p.147) “a imagem pode ser produto da imaginação, consciente ou inconsciente, ou ser uma simples visão”. Já Peirce (1977) fala de semiologia como ciência geral dos signos e abre a noção de significante/significado para demonstrar a natureza do signo, sendo forma e também substância. O signo carrega substâncias que são as reais portadoras dos significados que os sujeitos enunciatários vão ter do signo apelando para os diversos sentidos, além de ser também ideológico. Sendo assim, a imagem possui dois lados: de um lado a tangibilidade, de fácil percepção (significado) e, de outro, uma imagem mental mais abstrata, que pode 18 ser tão somente imaginada, pensada, intangível (significante). Todas essas variáveis resultarão numa percepção do produto, que irá gerar atitudes positivas ou negativas, e terá impactos sobre suas preferências. “Perceber é tomar conhecimento de um objeto. Para isso, é preciso focalizar a atenção sobre ele. A atenção é uma condição essencial para que haja percepção” (KARSAKLIAN, 2000, p.43). A embalagem traz essa percepção. A visão é o primeiro sentido humano responsável pelo processo de compra, um primeiro estímulo que faz com que o cérebro reaja em direção ao produto. Portanto, os investimentos em embalagens, assim como também em marca, nome fácil, displays e materiais de apoio são cativadores de percepções e impulsionadores de vendas, dentre os diversos aspectos que influenciam a visualização de objetos. Uma embalagem deve chamar a atenção, fazendo-se visível no ponto-de-venda, além de facilitar a memorização e comunicar o produto, também deve inspirar confiança e atrair visualmente criando associações positivas. Semiótica Aplicada nas Embalagens Em termos de efeito da criação publicitária e na relação da embalagem com o consumidor, é pertinente relatar que todo produto tem sua cultura, sendo assim cada mercado a que a embalagem se destina deverá ter um visual que possua ligação com a cultura local. Na cultura contemporânea são os meios de comunicação de massa que atribuem intensivamente significados aos objetos, classificando a produção e socializando o consumo. Para se estabelecer uma comunicação eficiente com o consumidor é preciso que o sistema de códigos (signos, sinais, símbolos) seja difundido através de um canal capaz de permitir a recepção da mensagem pelo consumidor e a sua compreensão podendo levar a uma ação, a compra. A embalagem é o principal elo de ligação, em termos de comunicação, entre o consumidor, o produto e a marca. São objetos semióticos de caráter expressivo e portadores de informações, portanto, podem ser vistas como mídias, veículos de comunicação carregadas de significado. Conforme Perez: A embalagem constitui em um limiar semiótico entre o objeto e o sujeito ao qual se destina. Consiste em uma fronteira que, como tal, se revela como primeiro ponto de contato. É um importante elemento da expressividade marcária, especialmente para os produtos de consumo em auto-serviço. (2004, p.66) 19 A semiótica de Peirce (1977), como foi estudada acima, é a ciência dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura. Sendo a imagem como um dos principais campos de atuação da semiótica, uma embalagem se torna uma imagem com propriedades expressivas quando agrada seu consumidor e oferece-lhe sensações específicas. Os elementos gráficos como forma, cor, imagens, tipografia, entre outros, são os que dão força de atração visual em uma embalagem, consistindo na capacidade de promover uma intersemiose, isto é, a comunicação na qual estão envolvidos os signos, como a tipografia e as imagens, para compor uma só mensagem. Esta combinação de signos como os textos, as ilustrações e a forma tornam a embalagem em composto semiótico. As embalagens, como objetos semióticos, são portadores de informação, e, portanto, mídias, veículos de mensagens carregadas de significação. Nas embalagens, os planos, os espaçamentos e os materiais constituem-se como espaços privilegiados de significação e devem ser planejados e executados com essa perspectiva sígnica. (PEREZ, 2004, p.66) Sem dúvida, a embalagem, como canal de comunicação, apresenta um novo leque de associações simbólicas na mente do consumidor, como deixa claro Cheskin (1964, p.44): “A embalagem (...) representa o produto. A embalagem é uma imagem visual do produto. O seu símbolo.” O consumidor faz suas escolhas no ponto-de-venda com base no efeito visual, ou seja, inconscientemente transfere o efeito do exterior da embalagem para o seu conteúdo. A imagem de uma embalagem acaba identificada com o produto por associação e assim a embalagem se torna um ícone. A grande força dela está no fato de que no ponto-de-venda ocorre uma batalha de percepção e atenção e não de produtos. Neste sentido, a embalagem tem poder de fazer com que o produto seja percebido de maneira simbólica, agregando a ele novos valores e significados. O Aspecto Físico das Marcas Dentro do contexto histórico e mercadológico, as marcas ganham relevância na gestão das organizações, chegando a serem consideradas como patrimônio para boa parte delas. Uma marca é um nome, termo, símbolo, desenho ou até uma combinação desses elementos que deve identificar os bens ou serviços de um fornecedor ou grupo de fornecedores e diferenciá-los dos da concorrência. Segundo Kotler (2000), marca é a tradução de conceitos e valores, tem 20 personalidade e gera identificação. Pode estar relacionada ao estilo de vida dos consumidores e precisa criar experiências relevantes e memoráveis, para ficar registrada na lembrança dos mesmos. As marcas se expressam e se mostram de diversas maneiras com o objetivo de aplicar seus efeitos e sentidos ao produto a fim de impactar o consumidor. No caso da criação de embalagens, os elementos de expressividade marcária são: as cores de fundo da embalagem, a tipologia empregada no nome do produto, formas, materiais, grafismos, ilustrações, fotos, texturas e os movimentos que o conjunto visual transmitem para o consumidor. Esses elementos são levados até a embalagem com a intenção de adentrar os sentidos e causar sensações agradáveis e efetivas que levam a uma decisão de consumo. Segundo Perez (2004), uma marca não é somente um produto, mas é também uma entidade perceptual que existe num espaço psicológico, na mente do consumidor. O que vemos na prateleira do supermercado (ou em outro comércio) não é a marca, mas seu aspecto físico: o produto e a embalagem. A publicidade é o meio que temos para acessar a mente dos consumidores e criar um espaço perceptual de imagens, símbolos e sensações que definem a entidade perceptual que chamamos de marca. As marcas se expressam por meio do nome que apresentam, do logotipo, da forma e do design dos produtos que encarnam da embalagem e do rótulo, da cor, do slogan, do jingle, da personalidade, do personagem que representa de um mascote, além de outros recursos e do contexto organizacional. [...] Dentro desse espaço perceptual da marca podemos criar mundos imaginários sedutores, fábulas, sonhos e personagens míticos que, graças às ferramentas publicitárias, ficam associados ao produto e que finalmente passam a definir a marca. (PEREZ, 2004, p.47-48) As empresas utilizam de várias maneiras para expressarem e mostrarem as suas marcas, tendo como objetivo a aplicação de efeitos e sentidos. Os elementos de expressão marcária são levados nas embalagens com a intenção de adentrar os sentidos dos consumidores e causar sensações agradáveis levando a uma decisão de consumo e estabelecendo uma conexão com o consumidor. Como já vimos, a imagem possui dois lados, sendo então, de um lado, a embalagem como algo tangível, de fácil percepção (significado) e, de outro, a marca como uma imagem mental mais abstrata (significante). O Consumo e o Comportamento do Consumidor A atividade do consumo atualmente é influenciada pelo movimento de seus 21 objetos/signos, diferenciadas por meio de códigos e valores inseridos em hierarquias. Neste sentido, o consumo pode ser visto como um operador, gerenciando a distribuição de valores (sensualidade, poder, saber, bom gosto, cultura, sofisticação, beleza e outros tantos) que classificam e posicionam grupos e objetos em uma ordem social. Neste contexto, entre a a embalagem procura cumprir o seu papel estabelecendo produção (com a sua uma cumplicidade serialidade, impessoalidade e sequencialidade) e o consumo (com sua emotividade, significação e humanidade). Segundo a definição de Canclini (1999, p.53), “o consumo é um conjunto de processos socioculturais em que se realizam a apropriação e os usos dos produtos”. Essa definição ajuda a compreender o ato do consumismo como algo mais do que uma simples compra irrefletida, quer seja por capricho ou por gosto, consumir quer dizer participar de um cenário de disputas por aquilo que a sociedade produz e pelos modos de usá-lo. O desejo de consumo reproduz-se segundo a estruturação social, que está sempre em constante movimentação e interage com as construções de natureza ideológica e com suas relações da materialidade social. O ato de compra não surge do nada. Seu ponto de partida é a motivação, que irá conduzir a uma necessidade, e que por sua vez, despertará um desejo. Com base em tal desejo, surgem as preferências por determinadas formas específicas de à motivação inicial. Essas preferências estão diretamente ligadas ao autoconceito: o consumidor tenderá a escolher um produto que corresponda ao conceito que ele tem ou gostaria de ter sobre si mesmo. De acordo com Richers (1984), caracteriza-se o comportamento do consumidor pelas atividades mentais e emocionais realizadas na seleção, compra e uso de produtos/serviços para a satisfação de necessidades e desejos. São vários os fatores internos e externos que influenciam o processo de tomada de decisão de compra dos consumidores. Solomon (2002) e Schiffman; Kanuk (2000) compreendem que o indivíduo, como consumidor, sofre influências psicológicas, pessoais, sociais e culturais. Os fatores culturais são os que exercem a mais ampla e profunda influência sobre os consumidores. Schiffman; Kanuk (2000, p.286) definem cultura como: “a soma total das crenças, valores e costumes aprendidos que servem para direcionar o comportamento de consumo dos membros de determinada sociedade”. Sendo assim, o indivíduo, crescendo em uma determinada sociedade, vai adquirindo valores, tendo percepções, preferências e criando comportamentos refletidos deste meio social que interferem em seus hábitos de consumo. 22 Referenciando Kotler (1993), fatores sociais são os grupos de referência como a família, amigos, vizinhos e personalidades. Eles tem uma influência direta ou indireta sobre as atitudes do comportamento das pessoas. Esses grupos de pessoas influenciam os pensamentos, os sentimentos e os comportamentos dos consumidores. Nos diferentes grupos sociais dos quais as pessoas participam ao longo de suas vidas, elas assumem papéis e posições sociais, escolhendo produtos que comuniquem seu papel e status na sociedade. Já os fatores pessoais dizem respeito às características particulares de cada indivíduo, ou seja, momentos e vivências pelas quais um indivíduo está passando que acabam por interferir nos seus hábitos e nas suas decisões de consumo. Kotler (1993) as classificam como: • Idade e ciclo de vida, onde as pessoas não compram a vida toda os mesmos produtos. Desde o seu nascimento até a velhice, as pessoas necessitam de produtos relacionados com a sua idade e a forma de agir e pensar naquele momento. • Ocupação que está relacionada com os bens ou serviços que uma pessoa pode adquirir. • Condições econômicas é a situação econômica que o consumidor pode estar vivendo em seu país como inflação, recessão, condições de empréstimo, taxa de juros etc. • Estilo de vida, onde as pessoas podem pertencer à mesma classe social, ou ter a mesma ocupação, mas podem ter estilos de vida diferentes. Cada indivíduo cria a sua personalidade. Por fim, quando os consumidores pensam em uma compra, diversos fatores psicológicos influenciam na decisão. Segundo Sant’Anna (1989), para que o consumidor tome a decisão de compra é preciso que em sua mente se desenvolvam os seguintes estados: existência de uma necessidade, consciência desta necessidade, conhecimento do objeto que a pode satisfazer, desejo de satisfazê-la e decisão por determinado produto. O processo de compra do consumidor inclui cinco etapas: reconhecimento das necessidades, busca das alternativas, avaliação das alternativas, atividade de compra e avaliação pós compra. O reconhecimento das necessidades é a primeira etapa do processo. Após identificar a necessidade de se obter algo, o indivíduo busca alternativas para avaliar as opções existentes no mercado, seja através de amigos, livros ou propaganda. Cada fonte de informação 23 desempenha uma função diferente ao influenciar a decisão de compra. De acordo com Kotler (2000) as fontes de informações comerciais normalmente desempenham uma função informativa, enquanto as fontes pessoais desempenham uma função de avaliação ou legitimação. Durante a avaliação de alternativas, o consumidor busca informações e esclarecimento sobre os problemas e diferenciais, construindo um conceito sobre o produto. Depois de realizada a busca de informações e avaliadas as alternativas, o consumidor está pronto para a realização da compra. A avaliação pós-compra é a última etapa do processo decisório, porém, não é a menos importante, pois o consumidor experimenta algum nível de satisfação ou insatisfação após a compra do produto. Para Kotler: O trabalho do profissional de marketing não termina quando o produto é comprado. Ele deve monitorar a satisfação, as ações e a utilização em relação ao produto depois de efetuada a compra. (2000, p.204) Por meio das etapas do processo de compra, juntamente com os fatores internos e externos que influenciam o comportamento do consumidor em sua compra, a embalagem pode ser criada para atingir o consumidor através do seu design. O Design de Embalagens O projeto de embalagem deve agregar valor, sejam eles estéticos, funcionais, técnicos, culturais ou emocionais. A embalagem tem a função de atrair o olhar do leitor, anteciparse em provocar a sensibilidade do paladar, do olfato e do tato. Com o estímulo provocado pelo produto, as pessoas conseguem misturar os sentidos – visão, audição, tato, paladar e olfato. Quando se faz o design de uma embalagem deve-se ter em mente o dia-a- dia do consumidor para então influenciar na sua decisão de compra. Os consumidores tem o poder de escolha, e o papel da embalagem é inspirá- los a comprar determinado produto [...] esse é o segredo do design de embalagens – você deve reconhecer uma marca mesmo se a logo dela estiver escondida. (JAMES, 2008, p.20-22) No caso de Design de Embalagens, é de suma importância admitir que uma imagem sempre constitua uma mensagem para o consumidor. Existem dois tipos de embalagens: a de transporte e a de consumo. Uma embalagem de consumo é a que entra em contato com o consumidor, enquanto que a de transporte é somente para que o produto seja transportado 24 para ser distribuído. Quando do planejamento de uma embalagem de consumo, o estímulo para o desejo de compra deve ser articulado de maneira eficaz, através dos elementos gráficos e formais nela contidos, esclarecendo as suas intenções comunicativas de maneira objetiva para que, como um vendedor silencioso, a imagem do produto estimule o consumidor à compra, através da sedução pelas formas. Ao criar uma embalagem, o designer precisa integrar elementos de identificação capazes de determinar a escolha e a compra do produto. Forma e design são questões fundamentais e permeiam as decisões quanto à estética, à funcionalidade e à percepção que se deseja para o produto ou embalagem. A Influência das Formas As formas possuem uma linguagem própria capaz de causar efeitos e sensações nos consumidores aos quais elas se destinam. Aconselha Mestriner: Na fase de estratégia do projeto, sempre que houver espaço para a adoção de uma forma diferenciada, esta deverá ser buscada, pois nada expressa de maneira tão evidente a personalidade do produto. Formas diferenciadas não são exclusividade de frascos e garrafas; elas surgem em todos os materiais [...] (2002, p.52) As formas trazem considerações importantes para a construção da expressividade e da sensorialidade, que pode ser entendido como tudo aquilo que impressiona os órgãos sensórios, por meio da análise das formas e do design. Como explica Gomes: A forma pode ser definida como a figura ou a imagem visível do conteúdo. A forma nos informa sobre a natureza da aparência externa do objeto. Tudo o que você vê possui forma. A percepção da forma é o resultado de uma interação entre o objeto físico e o meio de luz agindo como transmissor de informações. (2000, p.41) Uma maneira que se pode evocar diferentes sensações é através da escolha da inclinação, comprimento e espessura das linhas em uma embalagem. As linhas horizontais trazem ideia de repouso e calma, evocando sentimento de tranquilidade, pois é mais fácil para as pessoas moverem os olhos horizontalmente do que verticalmente. As linhas verticais trazem sensações de força, confiança e até orgulho (o movimento vertical é menos natural e gera mais esforço nos músculos). 25 Assim, Perez argumenta que: Linhas retas e ângulos (vértices) estão associados à rigidez, à firmeza e à masculinidade. Curvas e ondulações expressam dinamicidade, sensualidade e feminilidade. Linhas em ziguezague representam energia, cólera, agitação e podem causar sensação de choque. Já as linhas tracejadas estão associadas à descontinuidade, nervosismo, indecisão e fragmentação. As paralelas verticais representam apoio e sustentação, e assim por diante. (2004, p.60) A forma da embalagem também afeta o seu volume aparente, tendo duas embalagens com o mesmo volume, mas formatos diferentes, sendo uma mais alta que a outra, parecerá com maior volume aparentemente. Essas são as variedades de dimensões de forma, que configuram como dimensões importantes que devem ser consideradas no momento de planejar determinada estratégia para uma identidade visual. A construção e a manipulação dessas dimensões podem provocar um impacto impressionante nas percepções das pessoas. As principais dimensões são: a angularidade, a simetria, o tamanho e a proporção. A angularidade diz respeito à forma dos ângulos, que podem ser triangulares, retangulares ou arredondados. As formas angulares ou retas (triangular e retangular) representam dinamismo e masculinidade, já as esféricas ou curvas representam harmonia, suavidade e feminilidade como foi citado acima. A simetria refere-se ao equilíbrio da forma, facilitando o apelo visual do produto. Proporção se mistura com a simetria, proporcionando percepções de harmonia, suavidade, equilíbrio e perfeição. O tamanho é uma dimensão que pode sugerir personalidade para o produto. As embalagens grandes são percebidas como poderosas e fortes, enquanto que as menores parecem tamanhos delicadas para e frágeis. satisfazer as Os fabricantes necessidades oferecem específicas recipientes dos de diferentes diversos segmentos de mercado, para abranger as diferentes situações de usos e também para ganhar mais espaço de prateleiras nos varejistas. A proporção influencia na maneira de como perceber o mundo em volta e comunicar com ele. Formas angulares longas e formas oblongas estendem o campo de visão parecendo captar mais de uma determinada cena e criando uma estética dominante. Porém, formas angulares curtas parecem mais tímidas e suaves. Já nas formas arredondadas, proporção e simetria se misturam, criando percepções de harmonia e de suavidade. A forma é o mais importante elemento diferenciador de um produto, pois é 26 exclusiva, só ele pode utilizá-la. Já a cor, embora não seja exclusiva, constitui-se no principal elemento da comunicação, provocando estímulo visual como nenhum outro elemento. (MESTRINER, 2002, p.53) As Cores na Comunicação Martineau (apud BLESSA, 2009) afirma que todos os produtos são similares, e para que sejam percebidos como ‘únicos’, o ponto fundamental é estabelecer uma imagem diferenciada do produto, de maneira que o consumidor consiga identificá-lo facilmente entre os outros. A embalagem e as cores do produto ajudam a estabelecer essa imagem. Nesse sentido, as cores são a parte mais emotiva do processo visual. Possui uma grande força e seu uso é vital para expressar e reforçar a informação visual. As cores tem papel fundamental na vida das pessoas, pois tem a habilidade de despertar sensações, definir ações, comportamentos e provocar reações corporais e psicológicas. Quando utilizada no campo da comunicação, a cor ajuda na clareza da mensagem a ser transmitida. Contudo, é difícil prever a reação do ser humano aos estímulos cromáticos, tendo em vista que nem sempre ele reage de maneira uniforme. A linguagem das cores é apontada como individual, onde o cérebro de cada indivíduo sente e registra as cores de modo particular. Farina; Perez; Bastos (2006) defende que a escolha da cor é influenciada pelo clima (cores escuras favorecem a absorção do calor), pela idade (o envelhecimento altera a percepção das cores na medida em que a estrutura física dos olhos fica debilitada), pela moda e outros. Exemplificando, pessoas mais velhas tendem a comprar produtos com embalagens com cores frias, enquanto crianças se sentem atraídas por cores mais vivas e quentes. As cores, no sentido sensorial, além de atuar sobre a emotividade humana, produzem uma sensação de movimento, uma dinâmica envolvente e compulsiva. Dependendo de como se organizam podem fazer algo recuar ou avançar, de acordo com o contexto em que atuam. A cor pode ser um elemento de peso, o próprio volume do objeto pode ser alterado pelo uso da cor, uma composição, por exemplo, pode ser equilibrada ou desequilibrada. O uso proposital, por exemplo, do claro-escuro e de cores quentes- frias pode fazer com que os objetos pareçam mais leves ou mais pesados. As cores quentes (vermelho, amarelo, laranja) parecem dar a sensação de proximidade, calor, densidade, opacidade, secura, além 27 de serem estimulantes. Em contraposição, as cores frias (azul, verde) dão a sensação de distância, mas também são transparentes, úmidas, aéreas, leves e acalmam. A cor psicológicas, pode ser explorada a partir simbólicas, mercadológicas e de outras. diversas Um finalidades ponto funcionais, importante no uso adequado das cores é o aspecto psicológico, pois a utilização dela vai depender de alguns conceitos que estabelecem sensações associadas à combinação de cores, criando uma harmonia, equilíbrio cromático com a preocupação de tornar a informação o mais eficaz possível. [...] em relação à criação publicitária, os psicólogos quiseram dar um sentido mais prático quanto ao uso das cores em definidas peças de propaganda, desde o anúncio a cores para uma revista, cartaz ou painel, até os próprios comerciais coloridos da TV e do cinema. Usar a nomenclatura de cores 'quentes' as cores que integram o vermelho, o laranja e pequena parte do amarelo e do roxo; e de 'frias' as que integram grande parte do amarelo e do roxo, o verde e o azul. (FARINA; PEREZ; BASTOS, 2006, p.86) Com base nas obras de Goldman (1964), Farina; Perez; Bastos (2006), Gregory (1979), Guimarães (2000) e Pedrosa (2002) cada cor influencia psicologicamente de um modo e apresenta algum significado. A cor vermelha faz referência com a alimentação, assim como com a energia e fluxo (sangue), além de acolhimento (fraternidade). Está associada materialmente ao sol, fogo, guerra, perigo, carne, rubi, lábios e maçã. Afetivamente esta cor está intimamente ligada aos vínculos afetivos, à força, ao poder, ao dinamismo, à energia, ao movimento, à coragem, à ira, à excitação, à emoção, ao calor e à paixão, sendo a representante do ânimo das cores. É uma cor quente, que estimula a vitalidade e energia em todo o organismo, estimulando a atividade. O amarelo é um pouco mais frio que o vermelho e remete à alegria, espontaneidade, ação, poder, dinamismo, impulsividade. Representa o calor, a energia e a claridade estando associado materialmente com o verão, luz solar, grandes flores e riquezas. Como relata Kandinsky (1996, p.130) “percebe-se logo que o amarelo irradia, que realiza um movimento excêntrico e se aproxima quase visivelmente do observador”. Esta cor ainda tem o poder de abrir o apetite do receptor, sendo atualmente muito usada em restaurantes. A cor laranja ou alaranjado possui a luminosidade do amarelo e a excitação do vermelho, tornando-se a cor do dinamismo, da busca, do descobrimento, enfim, da novidade. O alaranjado é muito popular e provoca uma sensação de alegria, de euforia, de 28 liberdade, concentração e independência. O verde tem um efeito calmante, relaxante e até mesmo repousante. É a cor da esperança, da fé, da longevidade, assim como a imortalidade, simbolizada por ramos verdes. Afetivamente, o verde remete ao bem-estar, ao silêncio, à tranquilidade, ao equilíbrio, à esperança, à serenidade, ao descanso, à tolerância. O verde absoluto é a cor mais calma que existe. Não é o centro de nenhum movimento. Não se acompanha nem de alegria, nem de tristeza, nem de paixão. Não solicita nada, não lança nenhum apelo. Esta imobilidade é a qualidade preciosa, e sua ação é benfazeja sobre os homens e sobre as almas que aspiram ao repouso. A passividade é o caráter dominante do verde absoluto, mas esta passividade se perfuma de unção, de contentamento de si mesmo. (KANDINSKY, 1996, p.156) O azul é a cor da decisão, da lógica e da razão, tendo a característica de ampliar os horizontes. Esta cor é a que transmite maior profundidade, percepção do infinito e da alma, segundo Kandinsky o seu movimento é, ao mesmo tempo, Um movimento de afastamento do homem e um movimento dirigido unicamente para seu próprio centro, que, no entanto, atira o homem para o infinito e desperta nele o desejo de pureza e de sede do sobrenatural. (1996, p.145) A cor violeta, também popularmente chamada de roxo ou púrpura, remete à sabedoria e ao espiritual. É a cor que mais expressa a vida espiritual do homem e está ligada a questões místicas e esotéricas, representando também o mistério da vida, e com a religiosidade uma das manifestações relacionadas a essa cor. O violeta transmite valores favoráveis de temperança, nobreza e dignidade, colaborando muito em processos criativos, de tolerância e união. Os valores negativos da cor estão ligados ao esquecimento, falta de persistência, desrespeito, atitude autoritária, orgulho, arrogância, desgosto, mistério e a melancolia. O branco, por um lado, é a cor do leite e da neve, indicia neutralidade, pureza, vida quando é associado à alimentação, limpeza, castidade, liberdade e criatividade. Por outro lado, além de significar simplesmente paz, remete também a algo incorpóreo, à cor dos fantasmas e dos espíritos. Diametralmente oposto à cor branca, o preto é a ausência de cores, as trevas, o breu. É a cor da vida interior sombria e depressiva. Psicologicamente, o preto representa a angústia sem fim, em que o luto aparece como símbolo de perda irreparável. O preto evoca o caos, o vazio, a noite, o mal, a tristeza, o inconsciente, o pessimismo, a desgraça, o temor, a sujeira e a morte. É o símbolo maior da frustração e da impossibilidade, 29 estando sempre ligado a maldade. Mesclado ao branco, o preto produz o cinza, cor neutra por excelência, como Kandinsky afirma: Não é sem razão que o branco é o ornamento da alegria e da pureza sem mancha, e o preto o do luto, da aflição profunda, símbolo da morte. O equilíbrio destas duas cores, obtido por uma mistura mecânica, dá o cinza. É natural que uma cor assim produzida não tenha nem som exterior nem movimento (1996, p.180) Existem alguns requisitos básicos para que a cor na embalagem funcione como um fator para atrair a atenção do consumidor, levando-o à compra. É necessário que ela esteja adequada às condições mercadológicas, ao produto anunciado e ao público. No mercado, há a necessidade de se pesquisarem as tendências. Em relação ao público, interessam diversas variáveis como a educação, nível econômico, meio ambiente, capacidade de contatos com outros meios, adaptabilidade, idade e outros elementos. A cor, portanto, por meio da embalagem, deverá identificar rapidamente o produto, refletir a sua essência e a sua finalidade. Em geral, a cor que mais atrai é o laranja, depois segue o vermelho. Quando aplicadas à embalagem, essas cores resultam em um bom chamado de atenção para diferentes tipos de produtos, especialmente para gêneros alimentícios. O azul e o verde são também usados para recipientes de diferentes tipos de produtos, com algumas exceções em alimentos. O verde é geralmente usado para recipientes contendo óleos, legumes e sementes, a fim de dar maior aproximação à natureza desses produtos. A garrafa de água, por exemplo, adapta-se muito bem num recipiente predominante azul transparente. Essa cor reflete a pureza que a água deve possuir, a embalagem fica com um aspecto tão suave pela sua transparência azulada que desperta a vontade de beber. O amarelo, o preto, o branco e o cinza, quando reproduzidos numa embalagem, são consideradas cores fracas para um chamado de atenção. Fonte: www.shelflife.com.br/tag/schincariol acesso em 26/03 às 16hs Figura 11 – Embalagem da garrafa de água mineral Schincariol em parceria com a Calvin Klein Jeans. 30 Outra questão diz respeito aos produtos diet e light. Convencionou-se que a cor azul era índice de baixas calorias, baixos teores de açúcar ou mesmo ausência dele. As crianças tem preferência, facilmente verificável, pela cor chamada “pura”, por serem mais chapadas e vibrantes. Porém, para os bebês, recomenda-se o tom pastel. Fonte: www.agenciaquattro.com.br acesso em 26/03 às 17h30min. Figura 12 – Embalagem de alguns produtos da linha light da Sadia. O uso de cores brilhantes é uma estratégia interessante para chamar a atenção do comprador, porém deve-se ter em conta também a dimensão cultural do uso da cor e do brilho. O brilho na embalagem pode ser obtido pelo processo de metalização. O Rótulo na Embalagem Dentro do planejamento da estratégia de identidade visual entram também os rótulos, que representam um subconjunto das embalagens. Os rótulos vão de uma simples etiqueta presa aos produtos até peças gráficas complexas fazendo parte da embalagem. Toda embalagem possui um rótulo, que propicia em sua tonalidade a transmissão informativa e persuasiva do produto. O rótulo contribui para a comunicação visual e conceitual que o produto pretende construir na mente dos consumidores: sofisticação e diferenciação. O rótulo permite o reconhecimento do produto ou marca. Sua identidade visual traz questões informativas de manuseio, preparo conservação incluindo dados classificatórios e descritivos. Além do aspecto informacional, o rótulo agrega valores estéticos ao produto. 31 O desenvolvimento do rótulo vai além da criação, envolve também conhecimento, pesquisa, arte e tecnologia. A embalagem é a apresentação do produto, o rótulo sua “roupa” e possui o objetivo de informar o consumidor sobre o produto. Na hora da criação, deve-se reservar espaços para o nome do produto, o peso líquido, os ingredientes, o conteúdo, o fabricante, o prazo de validade, o código de barras, entre outros dados técnicos que são obrigatórios e devem ser verificados com os órgãos competentes, sendo eles: a ANVISA, o Inmetro e o Ministério da Agricultura. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), na resolução nº 259 de 2002, o rótulo deve conter obrigatoriamente: • Denominação de venda do alimento – nome que indica a origem e as características do alimento, como por exemplo: azeite de oliva, barra de cereal, biscoito recheado sabor chocolate. • Lista de ingredientes – descrição de todos os ingredientes do produto, por ordem decrescente da proporção (com exceção de alimentos com um único ingrediente, como açúcar e farinha). • Peso líquido – quantidade de alimento presente na embalagem, sendo expressa normalmente em mililitro (ml), litro (l), grama (g), quilo (Kg) ou por unidade. • Identificação da origem – nome e endereço do fabricante. • Identificação do lote – todo rótulo deve ter impresso uma indicação em código que permita identificar o lote a que pertence o alimento. • Prazo de validade – no caso de alimentos que exijam condições especiais para a sua conservação deve ser indicado o melhor local de armazenamento (freezer, congelador, geladeira) e o vencimento correspondente. • Instruções sobre o preparo e o uso do alimento – deve conter as informações necessárias sobre o modo de uso, incluídos a reconstituição e o descongelamento. • Informações nutricionais – de acordo com a Resolução nº 40 de 21/03/2001, todos os alimentos e bebidas produzidos, comercializados e embalados na ausência do cliente e prontos para oferta ao consumidor devem ter as informações nutricionais presentes no rótulo. O código de barra são informações gravadas opticamente nos rótulos dos produtos, utilizado para aprimorar qualquer processo que envolva controle de mercadorias com grandes quantidades de itens. Além de agilizar o atendimento ao consumidor nos caixas, 32 facilita na emissão de nota fiscal com detalhamento do produto necessidade de e dispensa a etiquetagem de preço nos produtos. Preferencialmente, o código de barra deve ser colocado na parte inferior dos rótulos. As Imagens nas Embalagens A utilização de imagens ou de fotografia é muito comum nas embalagens contemporâneas. Realiza-se reprodução com fidelidade das imagens que tem um papel mais direto por meio de fotografia ou em efeitos gráficos que modificam seu contexto original, transformando-as em ilustrações. Segundo Mestriner: Ilustrações tem também suas qualidades que podemos explorar. Quando são hiper realistas destacam sobremaneira os aspectos sobre os quais queremos chamar atenção. Se a ilustração não é realista, podemos evocar a imaginação do consumidor e utilizar o estilo de desenho e a técnica do ilustrador como elemento de personalidade do produto. Desenho tem sua mística, e as ilustrações atribuem um toque humano e artístico ao produto, podendo ser utilizados sempre que esses aspectos forem relevantes no produto. (2001, p.56) O appetite appeal, ou a exploração do apetite com o uso de imagens de alimentos prontos para serem degustados nas embalagens, é uma estratégia muito utilizada, pois desperta a vontade nos consumidores e conseguem influenciar a compra. Para se ter uma situação eficiente na exploração do appetite appeal a fotografia do produto deve ser tirada de um ângulo exatamente igual ao que vai dos olhos de uma pessoa sentada até o prato sobre a mesa. Fonte: www.mistermag.com.br/site/2009/12/top-5-3/ acesso em 27/03 às 10hs Figura 13 – Embalagem da Sadia. 33 Já nos produtos para o público infantil é frequente o uso de imagens de personagens infantis para chamarem a atenção. Fonte: www.modaeventos.com.br/?tag=criancas acesso em 27/03 às 10h15min. Figura 14 – Embalagem promocional para crianças. O Nome do Produto – o seu Logotipo As embalagens são projetadas com uma linguagem visual com a pretensão e a intenção de substituir o vendedor, uma mídia silenciosa que, através de seu design, conteúdo informativo e linguagens gráficas são capazes de agregar valores emocionais e funcionais. Desenvolver uma embalagem não é uma questão meramente estética. Trata-se de criar um instrumento de venda funcional. Uma embalagem mal projetada pode acarretar diversas complicações, desde a produção e ‘envase’, passando pelo acondicionamento, empilhamento e exposição do produto no ponto-de-venda, até o manuseio e durabilidade na mão do consumidor. O nome do produto é o que distingue um produto dos demais, afirmando sua personalidade. Com isso há a importância de um logotipo que expresse essa personalidade com letras, enfatizando seu diferencial. Devemos entender o logotipo como um elemento chave da identidade do produto e dar a ele uma expressão condizente com a sua importância. Nem sempre o nome está preso a uma significação, mas na perspectiva mercadológica, o nome é parte da marca podendo ser seus elementos visuais, letras, símbolos e até personagens. Às vezes os nomes dos produtos tornam-se tão fortes que passam a ser o nome da categoria, como exemplo a marca Bombril. 34 O nome do produto tem tanta importância quanto o nome de uma pessoa tem para a vida em sociedade. Ele distingue o produto dos demais, afirmando sua personalidade. Expressar essa personalidade com letras, enfatizando seu diferencial [...] (MESTRINER, 2002, p.57) O logotipo deve possuir originalidade para se distinguir dos demais, gerar o reconhecimento e a memorização, além de ter flexibilidade e versatilidade para ser reproduzido em qualquer meio. A Tipologia Da mesma forma que a cor evoca sensações e pode ser associada a uma série de atributos, a tipologia também pode ser utilizada para agregar ao produto valores e significados. A tipologia é um elemento importante no processo de comunicação e o seu uso pode resultar em elementos decorativos e facilitar o processo de leitura das informações contidas nas embalagens. Costuma-se haver mais de um elemento ou fonte por página, porém, deve-se tomar cuidado ao combinar mais de uma fonte e é preciso sentir se uma fonte deve ficar maior ou se um elemento deve ficar mais evidenciado. Nessas situações, é estabelecida uma relação que pode ser concordante, conflitante ou contratante. Uma relação concordante é quando utiliza-se uma família de fontes sem variações, seja no estilo, peso, tamanho, etc. Essa relação traz uma estética calma e formal. A relação conflitante ocorre quando combinamos fontes similares em estilo, peso, tamanho, etc. Essa relação cria uma leitura incômoda porque as atrações visuais não são as mesmas (concordantes), mas também não são diferentes (contratantes), criando um conflito. Já a relação contratante ocorre quando combinamos fontes separadas e elementos nitidamente diferentes entre si. Através desta relação se cria um visual interessante e atrativo. Nas escolhas dos tipos, deve-se levar em consideração toda a estrutura da composição gráfica como o alinhamento, a legibilidade, o estilo ou o contraste em relação ao formato, ao peso, à estrutura, à forma, à direção e às cores. Também é necessário prestar atenção à hierarquia entre fontes dos textos principais e secundários ou explicativos e informativos. O diferencial nas tipologias muda conforme o segmento. Em alguns é a utilização da cor ou a orientação dos tipos, em outros é o movimento ou a 35 inclinação, ou ainda a sinuosidade da linha de modo que esses recursos reforcem a impressão de que o produto espera causar no consumidor. A Composição da Embalagem – sua Montagem Depois de reunidos todos os elementos que irão compor a embalagem, começa a montagem. Durante a montagem surgem outros aspectos que merecem ser analisados, sendo a composição e a diagramação para que fiquem de forma correta. O primeiro passo nesse sentido é atribuir os pesos necessários à função de cada elemento. Assim, aquele elemento que foi definido na estratégia como o ponto de maior relevância da embalagem deve ocupar a posição que indique ao consumidor sua importância [...] A diagramação é a arte de dispor os elementos visuais compondo unidades informativas e significantes. (MESTRINER, 2002, p.62) É importante diagramar todos os painéis da embalagem. Todos eles devem conter o nome e a designação do produto. Também é necessário estabelecer uma hierarquia conforme a estratégia de design, lembrando de sempre destacar o que é mais importante e o que é secundário. Os demais elementos devem elevar e colocar em destaque o elemento central, evitando competir com ele ou reduzir sua força de comunicação. Em alguns produtos é comum vermos embalagens que deixam escondidos elementos importantes, que deveriam estar em destaque de forma clara. Elementos como os benefícios do produto, novidades, promoções, entre outros, devem ter seu espaço garantido. A diagramação possui alguns princípios, sendo eles o contraste, o alinhamento, a proximidade e a repetição. O contraste cria um foco visual. Se há dois elementos visuais diferentes, essa diferença deverá ser evidente. O propósito básico do contraste é criar interesse numa peça e auxiliar na organização das informações. No alinhamento, cada elemento da composição deve ter uma conexão visual com outro elemento. O propósito básico é o de unir e organizar a informação. Normalmente é um alinhamento marcante que cria uma aparência sofisticada, formal, engraçada ou séria. A proximidade é quando vários elementos estão próximos, eles formam uma unidade visual. O propósito básico é organizar a informação, ornando-a mais fácil de ler e de memorizar. Já a repetição de elementos unifica e fortalece uma peça. O propósito básico é unificar e acrescentar interesse visual. Repetição é sinônimo de consistência. 36 Podemos perceber assim, as grandes mudanças das embalagens, criando novas funções e aplicabilidade ao longo dos anos. Determinadas marcas transmitem valores como: juventude, prazer, status, ou ainda podem agregar valores que os identificam como um produto de custo acessível, popular e assim por diante. Uma vez que a embalagem é um canal de comunicação de primeira grandeza neste universo de estímulos, ao combinar e organizar os signos verbais e não-verbais cria- se uma força de atração no seu processo de comunicação que está na capacidade de promover uma intersemiose (processo de comunicação no qual estão envolvidos signos de códigos diferenciados, ou seja, significações que necessitam de vários elementos diferenciados para que sejam interpretados juntos). À medida que se inserem outros elementos como cor, imagens, formas, entre outros, na criação da embalagem, obtém-se a combinação desses elementos um conjunto gráfico visual que constrói a identidade do produto. Essa identidade cria um elo do consumidor com o produto. Assim, o consumidor pode encontrá-lo mesmo estando em um lugar diferenciado, pois a sua aparência torna-se familiar. Por tudo isso, fica claro que qualquer investimento na construção da marca de um produto passa, necessariamente, pela composição de uma embalagem à altura do que se pretende vender. As embalagens devem ser prática, atraente e capaz de traduzir benefícios e as características do produto, indo além dos os aspectos visuais e “substituindo” a figura dos vendedores. A embalagem pode fazer muito mais pelo produto, basta que explore todas as suas possibilidades e entenda que o produto cuja embalagem tem contato direto com o consumidor possui um instrumento poderoso de ação institucional e mercadológica. Esses aspectos mercadológicos serão analisados de maneira aprofundada no capítulo seguinte. A EMBALAGEM COMO FERRAMENTA DE MARKETING NO PONTO-DE-VENDA Durante toda a história da humanidade e a sua evolução, os homens permutaram bens, serviços e dinheiro. Dentro do processo competitivo, cada empresa busca constantemente o ajustamento entre o produto específico que ela oferece e algum grupo de consumidores no mercado. Toda essa história e essa essência da concorrência entre as empresas contribuíram para o que chamamos atualmente de marketing, cabendo a 37 ele a tarefa de realizar esse ajustamento. Esta palavra de origem inglesa, que não possui tradução literal para o português, já passou por tentativas de tradução como mercadização (execução dos negócios que encaminham dos produtores aos consumidores o fluxo de mercadorias e serviços), ou mercadologia, porém nenhum vocábulo traduz com o desejável efeito o mesmo sentido do termo original. (RICHERS, 1998, p.31) Como relata Richers (1998), a literalmente para o português, palavra gerando assim marketing não pode ser traduzida vários sentidos para ela, como apresentado por Rocha; Christensen: Marketing é uma função gerencial, que busca ajustar a oferta da organização a demandas específicas do mercado, utilizando como ferramenta um conjunto de princípios e técnicas. Pode ser visto, também, como um processo social, pelo qual são reguladas a oferta e a demanda de bens e serviços para atender às necessidades sociais. É ainda, uma orientação da administração, uma filosofia, uma visão. Essa orientação reconhece que a tarefa primordial da organização é satisfazer o consumidor, atendendo a suas necessidades, levando em conta seu bem- estar a longo prazo, respeitadas as exigências e limitações impostas pela sociedade e atendidas as necessidades de sobrevivência e continuidade da organização. (1999, p.15) O marketing se mistura ao desenvolvimento do modo de produção e comercialização e, como tal, vem sofrendo diversas transformações, modificando seus conceitos, crenças, valores e recriando novos padrões no que se refere aos modos de produção e também às relações de troca. Como descreve Simões (1986), o marketing começou quando o homem procurou realizar a primeira troca, sendo a primeira intenção comercial e, portanto, o que gerou as necessidades de comercialização formando a sua essência que, segundo Kotler (1980, p.19), é “a atividade humana dirigida à satisfação de necessidades e desejos por meio de processos de troca.” Uma relevante definição sobre o conceito de marketing que prevaleceu durante muito tempo vem da AMA – American Marketing Association, citado por Kotler; Armostrong (2004) e diz que o marketing é uma função organizacional, um conjunto de processos que envolvem a criação, a comunicação e a entrega de valor para os clientes, bem como a administração do relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e seu público interessado. Outro conceito de marketing também utilizado, porém mais simples e objetivo é o citado por Rocha; Christensen (apud LEFÈVRE, 1998, p.5), que propõe que “marketing é o processo de atrair e manter a fidelização do cliente”. 38 O Marketing e a Embalagem A embalagem é um canal de comunicação direta com o consumidor e usá-la para desenvolver ações de marketing requer um planejamento e este precisa ser pensado a longo prazo. Como ressalta Mestriner (2002), a embalagem possui uma importância no composto de marketing dos produtos de consumo. Existem cinquenta possibilidades de acordo com Mestriner (2002) de ações de marketing diferentes para serem feitas em embalagens, dentre elas: promoção dos outros produtos da empresa, cupons de desconto, vale-brindes, atividades e brincadeiras impressas na embalagem, promoções combinadas, embalagens utilitárias, sampling 4, embalagens multipack 5, miniaturas, séries especiais, refil etc. As Variáveis de Marketing O marketing pode ser entendido como uma forma de persuasão, visando à percepção do produto com seus benefícios e características pelo consumidor. O marketing é uma função comercial presente nas empresas, possuindo várias ferramentas são utilizadas para perseguir seus objetivos. Essas ferramentas são chamadas de mix de marketing ou composto de marketing. Churchill; Peter (2000, p.20) definiram o composto de marketing como “a combinação de ferramentas estratégicas usadas para criar valor para os clientes e alcançar os objetivos da organização.” Existem vários conceitos e aplicações do composto de marketing para os diversos tipos de produtos e serviços. As mais importantes são reunidas em quatro grupos de variáveis, segundo a teoria de McCarthy (1960), conhecidos como os “quatro P’s”: Produto, Preço, Praça e Promoção. Para Kotler (1993) significa dizer que características do produto, tais como as cheiro, volume, tamanho, cor, composição química, entre outras devem ser combinadas com preço adequado, polítícas de promoção e sistema de distribuição e vendas de modo a alcançar os objetivos desejados. O “P” de Produto que também pode ser considerado um serviço, é qualquer coisa que possa ser oferecida e que satisfaça necessidades e desejos de um mercado. Produto inclui não só bens ou produtos, mas também embalagens, marcas e outras características. 4 5 Sampling: amostragem, distribuição de amostra grátis. Multipack: embalagens múltiplas que agrupam produtos 39 Produtos são o conjunto de atributos, funções e benefícios que os clientes compram. Primeiramente, eles podem consistir de atributos tangíveis (físicos) ou intangíveis, como aqueles associados aos serviços, ou uma combinação de tangíveis e intangíveis. (GRIFFIN, 2001, p.228) Quando se criam produtos devem ser observados cinco níveis, sendo eles: benefícionúcleo, produto básico, produto real ou esperado, produto ampliado e produto potencial. O “P” de Preço é o volume de dinheiro cobrado por um produto ou serviço. Devemos sempre levar em consideração o custo-benefício e a concorrência para se elaborar uma estratégia de preço. O “P” de Praça também é conhecido como ponto-de-venda ou canal de distribuição, sendo assim é toda estrutura que se relaciona com os canais de distribuição e de logística que viabilizam a entrega ou aquisição do produto ao cliente. São várias as formas de distribuição, dentre as principais estão: a distribuição direta, que ocorre quando o produtor do serviço ou produto vende diretamente ao consumidor e a distribuição indireta, que ocorre quando o produto ou serviço utiliza-se de distribuidores para levar o produto ou serviço até o consumidor. O último “P”, de Promoção, é o esforço que a empresa faz para comunicar a existência de seus produtos (ou serviços) ao mercado e promovê-los, utilizando os meios de comunicação. Para Etzel; Walker; Stanton (2001) a promoção é uma forma de promover e comunicar o atributo do produto aos consumidores potenciais para que este seja adquirido. São várias as ferramentas da promoção, fazendo parte: a venda pessoal, propaganda, publicidade, promoção de vendas, merchandising etc. O Mix Promocional De acordo com Rocha; Christensen (1999, p.151), a venda pessoal é: O conjunto das atividades realizadas pelo vendedor com o propósito de informar, motivar e persuadir o cliente a adquirir um produto ou serviço da empresa, podendo incluir ou não a concretização da venda propriamente dita. A propaganda é definida como um conjunto de atividades pelas quais determinadas mensagens são transmitidas a um público-alvo, utilizando os meios de comunicação de massa, com o propósito de informar, motivar e persuadir o público- alvo a adotar os produtos, serviços ou ideias. Segundo Kotler (1998, p.554) “a propaganda é 40 uma das ferramentas mais comuns que as empresas usam para dirigir comunicações persuasivas aos compradores e públicos-alvo.” A publicidade consiste na informação sobre uma determinada empresa ou seus produtos comunicada ao público, porém não possui custos para a empresa, ou seja, é toda comunicação que não é paga pela veiculação. A ferramenta promoção de vendas envolve uma combinação entre a propaganda e o preço do produto. Pode ser utilizada de várias formas, como: amostras grátis, prêmios, concursos, descontos, cupons, etc. O objetivo de uma promoção de vendas é totalmente ligado a induzir e aumentar o volume de vendas do produto. O merchandising pode ser definido como um conjunto de atividades realizadas dentro do ponto-de-venda relacionadas à exposição e apresentação do produto a fim de gerar vendas. O merchandising está acima da promoção de vendas, pois é a soma das ações promocionais com os materiais de ponto-de- venda. O Merchandising e a Embalagem A embalagem tem um papel importante no ponto-de-venda, onde, aliada a uma exposição inteligente dos produtos, se comunica de forma eficiente com o consumidor. Considerando que 70% das decisões de compra são tomadas no ponto- de-venda, pode-se perceber que a embalagem tem uma função fundamental dentro deste contexto por atrair o olho humano. Na visão de Mestriner (2002, p.71) “quando nos referimos à comercialização de um produto, a embalagem é muito mais importante do que o seu conteúdo”. Não há dúvida também de que a forma como colocar e arrumar a embalagem nas prateleiras de um supermercado tem importante função. A embalagem está dentro do último estágio da comunicação mercadológica – a hora da compra, que pode ser chamado de Merchandising, uma das ferramentas utilizadas do marketing. Merchandising é o planejamento e a operacionalização de atividades que se realizam em estabelecimentos comerciais, principalmente em lojas de varejo e de auto-serviço, como parte do complexo mercadológico de bens de consumo, tendo como objetivo expô-los ou apresentá-los de maneira adequada a criar impulsos de compra na mente dos consumidores (ou usuários), tornando mais rentáveis todas as operações nos canais de marketing. (SILVA apud CANDELORO, 1997, p.43) Merchandising são ações de marketing e comunicação feitas nos pontos-de- venda 41 para identificar e controlar, além de ambientar e promover marcas, produtos e serviços. É a mídia mais rápida e eficaz, pois a mensagem conta com os “três elementos chave” para a concretização de uma venda: o consumidor, o produto e o dinheiro. Os objetivos de merchandising são, segundo Blessa (2009): - Induzir novos consumidores à experimentação e à compra; - Influenciar consumidores atuais estimulando fidelidade à marca; - Diferenciar uma marca de seus concorrentes; - Gerar tráfego nas lojas; - Entre outros. Os objetivos de merchandising são basicamente mostrar que o produto é fácil de encontrar, fácil de ver e fácil de comprar, despertando o interesse, motivando o consumidor e podendo gerar a compra. A partir dos objetivos de merchandising é analisado o comportamento de compra dos consumidores em pontos-de-venda existindo três tipos de comportamento de compra estudados: compra premeditada, sugerida e impulsiva. Através destes comportamentos se criam estratégias para despertar a atenção dos consumidores. A premeditada é quando o cliente já decidiu o que quer comprar, indo somente atrás do seu objetivo de compra. Geralmente, esse tipo de compra é rápida. Os fatores que colaboram para que essa venda aconteça são: a imagem da marca, a propaganda, o conhecimento do produto, o uso habitual e as recomendações de amigos e vizinhos. A sugerida é quando o consumidor se deixa influenciar por terceiros, podendo estes ser vendedores, balconistas ou outros consumidores. Isso acontece quando o cliente tem interesse e simpatia pela marca ou pelo vendedor. Já a impulsiva trabalha a compra por impulso, o consumidor é levado ao súbito desejo, adquire um produto em que, conscientemente, não pensava. O aparecimento desse desejo geralmente depende da aparência do produto, facilidade de acesso e conveniência do seu preço. É justamente nesse tipo de venda que o merchandising procura seus maiores efeitos, sendo a embalagem um meio para ajudar a gerar a compra impulsiva. A compra impulsiva é um processo decisório não planejado e extremamente rápido. Pode ser a quebra de um padrão habitual, pode ocorrer em função de o consumidor ter-se recordado de uma necessidade, de ter-se admirado com uma oferta ou ter visto um comercial e se lembrado do produto interessante. Pode ser um 42 impulso provocado pela visão de um produto desconhecido e percebido como necessário e útil. Pode, na verdade, ser um padrão de compra que deixa a decisão final para ser tomada dentro da loja, como acontece com a dona-de-casa que organiza o cardápio enquanto seleciona os itens no supermercado. (BLESSA, 2009, p.25) O comportamento de compra do consumidor nos pontos-de-venda também é diferenciado de acordo com o seu sexo. O consumidor do sexo feminino se comporta com impulsividade e subjetividade, já o consumidor do sexo masculino se comporta de forma racional, com objetividade e formalidade. De acordo com a pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Popai Brasil, no ano de 2004, podemos analisar alguns comportamentos de compras como: 85% das compras nas lojas de auto-serviço se realizam por impulso. 40% dos consumidores não fazem listas de compras. O tempo percorrido pelos olhos do consumidor é de 100 km/h. O consumidor vê apenas 10% dos itens expostos. Faz a decisão de compra em 5 segundos. 15% dos consumidores fazem compras planejadas. 73% compram e decidem a marca no PDV. (POPAI BRASIL) Podemos perceber através do ponto-de-venda possibilidades de se aproximar do consumidor para que ele veja a sua marca e reconheça o produto, logo influenciando na sua escolha para gerar vendas. Existem alguns fatores importantes que precisam ser analisados pelos profissionais de merchandising e de design de embalagens. De acordo com Blessa (2009, p.20), estes fatores são: O produto ou a marca é identificado prontamente de longe? (visualização rápida a quatro metros de distância) A embalagem caracteriza claramente a natureza do produto? (seu uso / finalidade) Rapidamente entendemos o que o produto faz? (clareza da apresentação / mensagem) A embalagem atrai o seu olhar? Chama a atenção entre os concorrentes nas prateleiras? Se o produto for montável, elétrico, mecânico ou eletrônico, tem especificações suficientes para uma rápida decisão de compra? (voltagem, capacidade, potência) Tem instruções rápidas de uso atrás ou nas laterais? Várias embalagens juntas formam figuras maiores? Formam um bom conjunto ou confundem o visual? A embalagem tem tamanho apropriado para as gôndolas ou displays de vários tipos de loja? Foi testada na fábrica para proteger o produto e manter a qualidade? Está legalmente aprovada? (selos/chancelas do governo/atestados de qualidade) Seu material é resistente ao seu uso e contato? (plastificação/resistência do papelão) Está registrada? (marca/design) 43 O planejamento para um bom funcionamento e de circulação de público no PDV necessita de um layout da loja, uma planta baixa com a localização dos equipamentos (gôndolas, seções). Para projetar um layout eficiente, é preciso equilibrar o incentivo aos consumidores a se movimentarem dentro da loja para que comprem mais do que o planejado e criar um clima agradável às compras. Existem algumas regras para a projeção de um layout eficiente, que devem ser respeitadas sempre que possível, como ensina Silva (1990): - A área da loja deve ser retangular; - O espaço para vendas deve ser totalmente aproveitado, já que todo espaço tem um custo; - Os equipamentos devem ser colocados de modo a conseguir um tráfego de consumidores constante e uniforme dentro da loja; - Tem que considerar a racionalidade da operação e de sua eficiência ao colocar os equipamentos e áreas de apoio e de serviço; - Os equipamentos, quando colocados no espaço físico devem produzir um ambiente harmonioso e agradável. Por maiores que sejam os esforços dos especialistas em layout, sempre existirão áreas negativas e áreas mais positivas que as outras. É na área de exposição de produtos que se aplica a técnica mais agressiva do merchandising, chamada de exibitécnica, a sua principal ferramenta. Uma exposição bem planejada dos produtos chama a atenção dos consumidores e impulsiona-os a comprar. Uma mercadoria não exposta não é vendida, o consumidor não pergunta por algum item não encontrado, vai esquecer e acabar levando o da concorrência. Vantagens de uma exposição bem-feita, de acordo com Blessa: Para o consumidor: facilita a compra, economiza tempo e lembra necessidades; Para o varejista: cria fidelidade à loja, atrai novos consumidores, aumenta a lucratividade e valoriza o espaço de sua loja. Para o fornecedor: aumenta a rotatividade dos produtos, cria fidelidade ao produto e à marca e bloqueia as atividades da concorrência. (2009, p.44) A área de controle (check-out) requer cuidados especiais por se tratar de uma “área nervosa”, em que o prazer da compra se choca com o desprazer de esperar e pagar. É muito importante o local onde serão colocado as áreas de controle e a maneira como serão 44 decoradas, pois se deve eliminar ao máximo todas as esperas e tensões. Um bom layout deve ter um sentido de tráfego dentro da loja, ensina Silva: [...] um supermercado é boa regra expor no lado direito de quem entra produtos que criem de imediato uma sensação agradável ou de prazer, tais como chocolate, biscoitos, bebidas etc. Já os vegetais, legumes, frutas etc. devem ser os últimos do lado esquerdo, porque sendo produtos delicados, devem ser colocados no alto das compras, quando praticamente tudo já foi comprado. (1990, p.140) Um layout apropriado também necessita de uma boa exposição de produtos, pois é vendo que se compra. Para expor os produtos existem algumas técnicas como: ponto normal, ponto agrupamento, promocional ou extra, localização junto ou longe da categoria, associação, cross-merchandising 6, impulsores, empilhamento, volume, ângulo de visão e ponto de pega. De acordo com Blessa, os principais pontos a serem observados em uma exposição são: Localização: escolha dos melhores locais de tráfego; Agrupamento: separação por categorias de produtos; Posicionamento: altura para olhar, alcance para pegar; Comunicação: sinalização com preços, ofertas etc.; Volume: quantidade suficiente de mercadoria. (2009, p.46) O ponto normal é o local onde o produto é colocado permanente, onde o consumidor já tem o costume de encontrá-lo. Já o ponto promocional ou extra é onde o produto é exposto por tempo limitado e o objetivo é destacá-lo de sua posição normal. A localização junto ou longe da categoria está relacionada ao ponto normal e ao ponto extra, onde se pode colocar um produto junto de seus afins como, por exemplo, o vinho na ponta da gôndola de queijos, como também junto aos concorrentes na seção de bebidas. O agrupamento é você expor os produtos agrupado-os por categoria ou por segmento para que o consumidor veja todas as opções, marcas e preços juntos. A associação é colocar próximos, produtos que tem o uso concominantes ou relacionados que, se expostos juntos, criarão mais possibilidades de impulso e desejo de compra. O cross-merchandising é uma técnica de associação e usos em pontos extras. Os impulsores é uma técnica para aumentar as vendas de algum produto, onde se utiliza de um produto impulsor (que vende muito), localizado de forma a puxar as vendas de outros menos vendáveis colocando-os juntos. 6 Cross-merchandising: é a técnica de colocar produto que tem relação entre si juntos. 45 O empilhamento é a pilha de produtos no chão, que deve ser bem montada e bem balanceada para não correr o risco de cair. O volume deve ser compatível com a quantidade de vendas do produto, observando sempre para que não faltem mercadorias. O ângulo de visão e o alcance das mãos dos consumidores são algo a serem respeitados para que ele consiga tanto observar os produtos quanto pegá-los. A altura máxima para se colocar um produto é de 2 metros, e a mínima de 0,5 metros. A altura dos olhos como o melhor local para expor é de 1,60 metros, e a altura das mãos, chamada de ponto de pega, é de 1 a 1,60 metros. Além da distribuição dos equipamentos dentro de um supermercado e as técnicas de exibição, também é necessário que se crie um ambiente agradável à compra para que o consumidor sinta prazer. Para se criar essa atmosfera de compra tem-se que explorar alguns aspectos como a iluminação, as cores, decoração, ar condicionado, plantas, aromas aplicados, degustação, música ambiente e o som. Como ressalta Mestriner: Por meio do produto, o consumidor consegue perceber os principais atributos da empresa responsável por sua fabricação. Ele forma uma imagem da marca que ajuda a conquistar a recompra, a admiração e a fidelidade, que é o fator mais importante para o sucesso de ambos. (2002, p.8) De acordo com Keller; Machado (2006, p. 115), a exposição da embalagem ao consumidor não se baseia somente dentro dos pontos-de-venda: A exposição do consumidor à embalagem não se restringe ao pontos-de- venda e aos momentos de consumo, já muitas vezes ela desempenha um papel importante na propaganda. Um levantamento de 200 comerciais de televisão para bens de consumo de massa indicou que a embalagem era apresentada, em média, durante aproximadamente 12 segundos em 30 segundos (Packaging plays starring role in TV comercials, Marketing News, 30 jan 1987). Os produtos mais novos ou atualizações de produtos mais antigos tendem a mostrar a embalagem durante mais tempo – uma sensata estratégia de propaganda para marcas cujo objetivo de marketing é construir reconhecimento de marca. Os anúncios impressos muitas vezes também exibem a embalagem com destaque. De acordo com todo este conjunto teórico descrito, parecemos pertinente visualizar esta perspectiva a partir de uma realidade concreta. Estudo de Caso – Nescau 2.0 A Nestlé possui o nome de seu fundador, Henri Nestlé, um farmacêutico alemão que inventou a primeira fórmula de alimento nutritivo para as crianças, cujas mães estavam 46 impossibilitadas de amamentar, chamada por ele de Farinha Láctea, em 1843, e que só viria a ser comercializada em 1867 com a fundação da Sociedade Henri Nestlé em Vevey, na Suíça. A Farinha Láctea era constituída por dois nutrientes básicos da alimentação humana, sendo eles: a farinha de trigo e o leite de vaca. Foi utilizado o brasão de sua família para personificar o seu negócio, que tinha a figura de um ninho. O nome Nestlé significa, em alemão, “pequeno ninho”, evocando segurança, maternidade e afeição, natureza e nutrição. Este símbolo continua sendo o elemento principal da identidade corporativa da empresa. A novidade se revelou eficaz na alimentação das crianças nos primeiros meses de vida e, com o enorme sucesso, logo passou a ser exportada para outros países da Europa como Alemanha, França e Reino Unido. A Nestlé chegou ao Brasil durante o século XIX, quando o país começou a importar a Farinha Láctea, produto precursor da empresa. O produto era importado devido a indicações de médicos pediatras e conquistou o consumidor brasileiro. Em 1921, foi inaugurada a primeira fábrica em território nacional, localizada no interior de São Paulo, em Araras, e produzia o leite condensado Milkmaid (posteriormente modificado para Leite Moça). Com o seu sucesso, vários outros produtos foram lançados ao longo do anos e a Nestlé foi inaugurando fábricas, ampliando sua linha de produção nas já existentes, adquirindo empresas nacionais (a primeira delas foi a Sociedade Anonyma Companhia de Laticínios Santa Rita e Indústria de Laticínios Santa Ritense, no ano de 1927), inovando suas ações de relacionamento com o consumidor e diversificando seu portfólio de produtos (possui dezoito características: águas, alimentos à base de soja, alimentos infantis, balas, bebidas achocolatadas, biscoitos, cafés, cereais infantis, cereais matinais, cereais Nestlé, chocolates, coffee- mate, culinários, lácteos, nutrição de performance, refrigerados, sorvetes e suplementos alimentares) Atualmente, a empresa conta com 28 fábricas, 18.000 colaboradores e está presente em mais de 270 mil pontos-de-venda, dados adquiridos através do site da empresa www.nestle.com.br. O Surgimento do Nescau O Nescau é um achocolatado que foi criado no Brasil, em 1932. O produto foi lançado pela Nestlé praticamente sem nenhum apoio publicitário, sendo recomendado pela empresa às mães preocupadas com a nutrição dos seus filhos. Na época, a escrita do produto era 47 Nescáo, devido a junção de Nestlé com cacáo (como eram as escritas as palavras que terminavam em au). Com esse mesmo nome o alimento, à base de chocolate, foi lançado na Itália, na Espanha, na Argentina e na França. A mudança do nome do produto para Nescau só ocorreu em 1954, devido à leitura das pessoas ao acento agudo de Nescáo, como Nescão e a mudança ortográfica na língua portuguesa, substituindo o registro do ao por au. A embalagem original do produto era uma lata de aço. Nessa época o slogan utilizado era: Nescau, fortifica, alimenta e engorda. No ano de 1960, devido à popularização de eletrodomésticos entraram na moda as vitaminas, que eram feitas de frutas batidas com leite ou água, fazendo com que os achocolatados tivessem suas vendas reduzidas. A partir daí, os pesquisadores da Nestlé apresentaram, em 1961, o Nescau com sua nova fórmula, transformando o produto em instantâneo e enriquecido com vitamina, fazendo com que ele começasse a se firmar no mercado brasileiro. A primeira campanha publicitária do produto surgiu nessa época, onde destacava o papel do achocolatado no crescimento saudável das crianças, futuros médicos, engenheiros, professores, etc. e também apresentava sua característica de dissolução instantânea. Logo em seguida surgiu uma outra campanha baseada no tema do circo e ancorada na assinatura: gostoso como uma tarde no circo. A partir dessa, as campanhas publicitárias do Nescau eram desenvolvidas baseadas em temas de festas infantis. Começaram, então, as atividades promocionais com sorteios de brindes e a utilização de vários meios de comunicação com o consumidor de forma combinada. Em 1972, o produto tornou sua formulação mais saborosa ganhando uma melhor solubilidade e um composto vitamínico, tendo sido relançado, agora com o nome de Super Nescau e sob um novo slogan: Super Nescau, energia que dá gosto. Já em 1990, outro componente passou a fazer parte da comunicação do produto: os esportes radicais, por serem cheios de aventura e adrenalina. Os comerciais descreviam diferentes aventuras vividas pelas crianças que consumiam o produto. O sucesso foi tão grande que no primeiro ano, o Nescau atingia a liderança do mercado, mantida até hoje em sua categoria. O Nescau é líder em sua categoria de achocolatado devido a sua constante inovação em formulação e embalagem, a sua capacidade de se comunicar com o público jovem, e inclusive, pela força de sua marca, migrando para outras categorias de produtos como cereais matinais, chocolates e biscoitos. 48 Evolução da Embalagem do Nescau O primeiro Nescau (quando ainda se chamava Nescáo) era vendido em uma embalagem de lata de aço utilizando as cores amarela e vermelha, cores sempre presentes no produto por trazerem algumas sensações que possuem relação com a imagem do produto, porém as cores eram em tons escuros. Vinha com um desenho de uma mulher carregando uma bandeja com xícaras e a logomarca do produto escrita curvada. Fonte: http://blogdoguilhon.blogspot.com/2007_07_01_archive.html acesso em 26/05 às 14h33min Figura 15 – Embalagem do Nescau em 1932. Devido à mudança do nome do produto, em 1954, a embalagem sofreu mudança alterando a sua logomarca. Fonte: http://blogdoguilhon.blogspot.com/2007_07_01_archive.html acesso em 26/05 às 14h33min. Figura 16 – Embalagem do Nescau em 1955. No ano de 1960, a embalagem do produto experimentou grandes modificações. A sua logomarca deixou de ser curvada e passou a ser reta, a escrita curvada passa uma ideia negativa, pois fica inclinada para baixo. O desenho foi modificado dos produtos dentro de uma por um xícara saindo fumaça, contextualizando melhor o produto. As cores da embalagem ficaram mais claras e vivas, diminuindo a quantidade de preto, chamando mais atenção. Fonte: http://blogdoguilhon.blogspot.com/2007_07_01_archive.html acesso em 26/05 às 14h33min. Figura 17 – Embalagem do Nescau em 1960. 49 Outra modificação ocorrida na embalagem foi em 1972, onde o produto deixou de ter seu fundo todo em amarelo e vermelho e passou a possuir somente o amarelo com branco. O desenho foi substituído por imagens do produto dentro de um copo e xícara mostrando claramente o produto. Fonte: http://blogdoguilhon.blogspot.com/2007_07_01_archive.html acesso em 26/05 às 14h33min. Figura 18 – Embalagem do Nescau em 1972. No ano de 1991, foi modificada novamente a logomarca do produto colocada em tons mais claros e com a figura de um raio todo em vermelho passando a ideia de energia e força, características ligadas ao produto. A imagem não mudou, só diminuiu e foi posicionada de forma diferente. Fonte: http://blogdoguilhon.blogspot.com/2007_07_01_archive.html acesso em 26/05 às 14h33min. Figura 19 – Embalagem do Nescau em 1991. A grande modificação feita na embalagem só foi ocorrer em 2003 conferindo maior destaque ao produto nas prateleiras. O fundo da embalagem voltou a ser em vermelho e amarelo, porém com as cores misturando com a imagem do achocolatado. O raio da logomarca ficou de forma mais real, também nas cores amarelo e vermelho, e como se tivesse mexendo no achocolatado. A logo também passou a ter uma leve inclinação para cima, dando sentido de crescimento. 50 Fonte: http://blogdoguilhon.blogspot.com/2007_07_01_archive.html acesso em 26/05 às 14h33min. Figura 20 – Embalagem do Nescau em 2003. A partir de 2005, a embalagem passa a conter um fundo todo vermelho e sua logomarca em grande destaque. A embalagem deixou de ter as suas imagens ligadas ao produto em si e passou a ter fotos de pessoas praticando algum esporte. Fonte: http://blogdoguilhon.blogspot.com/2007_07_01_archive.html acesso em 26/05 às 14h33min. Figura 21 – Embalagem do Nescau em 2005. Achocolatado 2.0 O achocolatado Nescau vinha perdendo sua participação no mercado. O produto, que já possuiu 65% do mercado, perdeu mais de 20 pontos e chegou a atingir 40%, em 2007. A Nestlé iniciou então, em 2004, um projeto de recuperação com um estudo sobre o mercado e o que se pensava sobre Nescau. Através desta pesquisa foi identificado como responsável pela perda de participação o fato de a Nestlé ter parado de investir no produto deixando de apresentar inovações. Procurando reverter essa situação e aproveitando a comemoração dos 75 anos de Nescau, a empresa lançou, em outubro de 2007, uma versão diferente do achocolatado, chamada de Nescau 2.0., tendo como objetivo principal comunicar-se com o público jovem por meio do novo sabor e da sua nova embalagem. A sua nova fórmula apresenta blend de cacau e actigen-E (combinação de vitaminas e minerais) e foi testada com aproximadamente 2.000 consumidores. A Embalagem 51 Fonte: http://www.nestle.com.br/site/marcas/nescau/em_po/nescau_2.0.aspx acesso em 26/05 às 15h15min. Figura 22 – Embalagem do Nescau 2.0. A identidade visual do Nescau 2.0 foi inspirada no universo da linguagem digital, internet e jogos eletrônicos. A embalagem é direcionada ao público jovem e foi criada pela FutureBrand. O termo 2.0 faz referência à web 2.0, formato que reforça a noção de troca de informações e colaboração dos internautas com sites e serviços virtuais, tornando-o envolvente e mais dinâmico com a participação ativa dos usuários na organização dos conteúdos. O nome do produto é bastante familiar ao target do Nescau, um consumidor que já nasceu dentro do mundo digital de games, de softwares e de blogs, remetendo às ferramentas de comunicação interativa. A embalagem de lata de aço possui um formato exclusivo, o formato de um tornado, sendo sinônimo de movimento, modernidade e energia, que são características trabalhadas pela marca. O design “espiralado” é uma alusão ao movimento do tornado de chocolate, presente nas demais embalagens de Nescau, transmitindo a ideia de interatividade, ação e velocidade. A embalagem saiu do rótulo e se transformou na própria lata litografada com grafismos exclusivos e modernos. O produto pode ser encontrado em dois tamanhos: 200g e 400g. A cor escolhida como predominante na embalagem foi a vermelha remetendo historicamente ao produto. A cor vermelha traz a sensação de proximidade, calor, além de ser uma cor quente que estimula a vitalidade e a energia em todo o organismo. Esta cor também está ligada afetivamente com algumas características que possuem relação com o produto como: a força, o poder, o dinamismo, o movimento. A embalagem também é composta por fotos reais de atletas que são campeões consagrados nas suas modalidades. As fotos reais, além de ilustrarem a embalagem, destacam os aspectos relevantes do produto, como a força e a energia. A Disposição da Embalagem no PDV 52 Analisando o produto em algumas das redes de supermercados em Goiânia, sendo elas: Bretas, Carrefour, Pão-de-Açúcar e Wall Mart, podemos perceber que a embalagem, por possuir um formato diferenciado e uma cor chamativa, consegue maior destaque nas gôndolas. O produto foi encontrado em seu ponto normal onde é colocado permanentemente, organizado por agrupamento na categoria de achocolatados juntamente com seus demais concorrentes, porém sua posição nas gôndolas é mais favorável. A embalagem, em todas as redes analisadas, está colocada no melhor lugar para expor produtos, o ângulo de visão de 1,60 metros e ao alcance das mãos de 1 a 1,60 metros, onde acaba influenciando a visão e escolha do produto. A comunicação do produto em todas as redes analisadas está boa, possuindo sinalização de preços. Em relação ao volume do produto nas gôndolas, em um dos supermercados, o Bretas, a quantidade de Nescau 2.0 exposta era pouca deixando a gôndola vazia. O produto possui dois tamanhos, porém em todos os supermercados analisados só foi encontrado o produto no tamanho de 400g. Outra influência percebida no ponto-de-venda é a falta do Nescau Tradicional no tamanho de 400g na maioria dos supermercados, encontrada somente no Carrefour, o que acaba fazendo com que o consumidor adquira o Nescau 2.0. Resultado O Nescau, antes do lançamento da nova embalagem, tinha exatos 40,9% das vendas em volume. Com a chegada do Nescau 2.0, o produto passou a ter 42,5% em Novembro de 2007 e em Fevereiro de 2008 chegou a atingir 43,96% das vendas de volume, conferindo à marca um crescimento de participação de mercado em 3,7 pontos percentuais em apenas quatro meses. O seu concorrente Toddy, neste mesmo período, possuía 23,9% das vendas de volume. Devido ao sucesso da embalagem, em maio de 2008, foi retirado o Nescau tradicional das prateleiras passando a vender somente o Nescau 2.0, o Nescau Power, o Nescau Light e o Nescau Nutri Júnior. Porém, a novidade não foi aceita por muitos consumidores do produto que queriam o Nescau Tradicional de volta. Em setembro de 2008, devido às reivindicações dos consumidores através de blogs, comunidades no Orkut e do próprio site da empresa, a Nestlé voltou a comercializar o Nescau Tradicional. A embalagem também conferiu à empresa a vitória no Prêmio ABRE de Design 53 & Embalagem 2008, na categoria de Redesign Alimentos e Bebidas tendo como atributos a embalagem diferenciada, moderna e inovadora, a aprovação dos consumidores em pesquisas e um novo formato da embalagem que traz o movimento e a energia da marca. Em relação à embalagem nos pontos-de-venda, pode-se verificar que, além de ocupar espaços menores, podendo ser expostos em maior quantidade, ela também se destaca devido a sua forma diferenciada da concorrência e às cores mais vivas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a planejamento conclusão do presente estudo, percebeu-se a importância do de embalagens durante a produção de um produto como sendo um instrumento poderoso de ação institucional e mercadológica onde sua comunicação visual tem como objetivo informar, silenciosamente, expressando um significado, definindo uma situação, dando uma orientação, desencadeando um sentido ligado ao consumo do produto. Podemos perceber as embalagens como signos, ou seja, algo complexo que produz signagens em movimentos. Portanto, são objetos semióticos portadores de informações devendo ser vistas como mídias, veículos de comunicação carregadas de significado. O que vemos hoje no mercado de embalagens é o resultado de desenvolvimento econômico-social e tecnológico ocorrido, desde os povos mais antigos. Em uma sociedade de abundâncias, vivendo dentro do capitalismo que dissolve valores econômicos e estimula o aumento da oferta de produtos e serviços em relação às necessidades de consumo, identificamos a embalagem como um grande diferencial para uma acirrada competição. Para a situação em que o mercado atual se encontra, altamente competitivo, possuindo vários produtos e marcas diferentes sendo comercializados e com a tendência de cada vez mais aumentar essas variedades, ganham espaços os mecanismos que satisfazem e alimentam a chamada estratégia do desejo, dentro de um sistema de motivações em que a embalagem, através de suas sedutoras formas e mensagens, cumpre um papel essencial. Conclui-se que a embalagem tem a capacidade de atrair a atenção do consumidor e, por isso, é uma estratégia de vendas, destacando e obtendo vantagens diante da concorrência nos pontos-de-venda como também motivando o consumidor a examinar o produto e, finalmente tomar a decisão de compra. A funcionalidade, a 54 praticidade, a tecnologia e os elementos de design de embalagens como: forma, cor, logotipo são fundamentais para essa decisão. Percebemos, também, que a criação e o desenvolvimento de uma embalagem requer uma análise de mercado verificando a concorrência e as oportunidades que se pode criar, e uma pesquisa do consumo e do consumidor conhecendo os estímulos, incentivos e necessidade que o levam a adquirir um produto. Através dessas análises e pesquisas a embalagem pode ser criada de forma eficaz, utilizando do seu design para comunicar-se com este consumidor. Nesse sentido, as empresas tem muito a ganhar com o bom design de embalagens. É o melhor investimento que ela pode fazer para sobreviver diante desse mercado competitivo. A embalagem atribui vida à relação do consumidor com o produto, é o elemento tangível da ligação dele com a marca, tendo repercussão direta nas vendas. Sendo assim, ela precisa ser desenvolvida e planejada levando em consideração todo o universo que a rodeia, para que seja utilizada como forma de estratégia de comunicação e atinja o consumidor dentro dos pontos-de-venda criando um diferencial importante frente à concorrência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLESSA, Regina. Merchandising no ponto-de-venda. 4. ed, São Paulo: Atlas, 2009. CANDELORO, Raúl. Venda mais: 25 armas para você aumentar de maneira eficiente as vendas de sua empresa. Salvador: Casa da Qualidade, 1997. CANCLINI, Nestor G. Consumidores e Cidadãos: multinacionais da Globalização. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. Conflitos CAVALCANTI, Pedro; CHAGAS, Carmo. História da embalagem no Brasil. São Paulo: Grifo Projetos Históricos e Editoriais, 2006. CHESKIN, Luis. Por que se compra: A pesquisa motivacional e sua aplicação. São Paulo: Pioneira, 1964. CHURCHILL, Gilbert A.; PETER, Paul. Marketing: criando valor para o cliente. São Paulo: Saraiva, 2000. 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Figura 6: Disponível em <www.slideshare.net/juzinha13/embalagens> Acesso em: 08 mar. 2010. Figura 7: CAVALCANTI, Pedro; CHAGAS, Carmo. História da embalagem no Brasil. São Paulo: Grifo Projetos Históricos e Editoriais, 2006. p.124 Figura 8: CAVALCANTI, Pedro; CHAGAS, Carmo. História da embalagem no Brasil. São Paulo: Grifo Projetos Históricos e Editoriais, 2006. p.138 Figura 9: Disponível em <www.slideshare.net/juzinha13/embalagens> Acesso em: 08 mar. 2010. Figura 10: CAVALCANTI, Pedro; CHAGAS, Carmo. História da embalagem no Brasil. São Paulo: Grifo Projetos Históricos e Editoriais, 2006. p.138 Figura 11: Disponível em <www.shelflife.com.br/tag/schincariol> Acesso em: 26 mar. 2010. Figura 12: Disponível em <www.agenciaquattro.com.br>. Acesso em: 26 mar. 2010. Figura 13: Disponível em <www.mistermag.com.br/site/2009/12/top-5-3/> Acesso em: 27 mar. 2010. Figura 14: Disponível em <www.modaeventos.com.br/?tag=criancas> Acesso em: 27 mar. 2010. 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