FEBRE CATARRAL MALIGNA- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ALBARELLO, Morgana Centenaro1; CARDOSO, Guilherme Vinícius1; SPEROTTO, Vitor da Rocha2. Palavras-Chave: Infecciosa. Viral. Fatal. Introdução A Febre catarral maligna (FCM) é uma doença infecciosa, viral, pansistêmica, com distribuição geográfica ampla e altamente fatal (BARROS et al., 2006). A enfermidade é descrita em muitas espécies de ruminantes, principalmente bovinos, e ocasionalmente em suínos (FURLAN et al.,2012). Os animais acometidos pela doença apresentam febre alta, depressão, corrimento nasal e ocular, erosões e ulcerações na mucosa do trato respiratório, ceratoconjuntivite, linfadenopatia, enterite hemorrágica, diarréia, encefalite e arterite (RECH et al.,2005). O objetivo desse trabalho é realizar uma revisão bibliográfica referente à Febre Catarral Maligna, elucidando seus aspectos principais como etiologia, epidemiologia, manifestações clínicas, diagnóstico e prevenção. Revisão Bibliográfica Os “vírus do grupo da FCM” pertencem ao gênero Rhadinovirus da família Gammaherpesvirinae. A forma africana, ou FCM gnu-associada (FCM-GA), é induzida pela cepa Alcelaphine Herpesvírus 1 (AlHV-1) e transmitida por gnus. A forma denominada FCM ovino-associada (FCM-OA), transmitida por ovinos, é causada por herpesvírus ovino-2 – OvHV-2 (RECH et al.,2005 apud GARMATZ et al., 2004). Os vírus dessa subfamília caracterizam-se por replicar em linfócitos T e B, estabelecer infecções latentes em tecidos linfóides e causar doenças linfoproliferativas, neoplasias e morte celular (MURPHY et al., 1999). O entendimento da epidemiologia do OHV-2 ainda é controverso, devido às dificuldades para o isolamento do mesmo e entendimento de seus mecanismos de 1 Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária da Universidade [email protected]; [email protected]. 2 Docente do Curso de Medicina Veterinária da Universidade de Cruz Alta. de Cruz Alta. E-mail: transmissão. A maioria dos cordeiros é infectada entre dois meses e dois meses e meio de vida. Trabalhos indicam que a remoção dos mesmos do contato com animais infectados antes dessa idade permite a criação de animais livres da infecção por OHV-2 (EHLLERS et al., 1999). O ápice da excreção viral ocorre aos cinco meses em ovinos (ASSIS et al,.2007). Enfermidade amplamente distribuída pelo mundo. No Brasil, as regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste notificaram a presença da doença, havendo o diagnóstico do OHV-2 por PCR no Rio Grande do Sul (DRIEMEIER et al., 2002). Estudos realizados no Rio Grande do Sul apontam duas formas da enfermidade, a esporádica (60% de incidência), em que apenas um ou até três animais são infectados e a forma de surtos epizoóticos, que tem 40% de incidência e afeta vários animais dentro do rebanho. A taxa de morbidade é baixa, variando de 2,5% a 20%, em contraste com a taxa de mortalidade cuja variação vai de 83% a 100%. No verão aumenta o número de casos, inexistindo predileção por idade ou sexo (GARMATZ et al., 2004). As principais fontes da infecção são as secreções nasais e oculares. A principal forma de transmissão ocorre pelo contato direto e indiretamente através da água compartilhada. Existe a possibilidade de transmissão por vetores mecânicos como insetos (LI et al., 2001). Outra forma relatada ocorre por infecção transplacentária de FCM em bovinos e a manutenção do vírus em animais que nasçam infectados é outra possibilidade. Ruminantes silvestres podem ser portadores (DRIEMEIER et al., 2002). A patogênese da FCM esta ligada a infecção viral e alterações na população de linfócitos. A perda da atividade dos linfócitos supressores facilitaria a proliferação linfóide observada na doença, enquanto a atividade descontrolada das células NK seria responsável pela destruição tecidual (SMITH, 2002). Dependendo da apresentação, intensidade e duração dos sinais clínicos, a FCM tem sido classificada nas formas hiperaguda, “cabeça-e-olho”, digestiva (alimentar), encefálica, dérmica e leve ou branda (SMITH, 2002). Na forma hiperaguda, o curso clínico varia de 1 a 3 dias. Os animais apresentam febre alta, dispnéia, gastrenterite hemorrágica aguda e rápida perda de peso. Ocasionalmente ocorre morte súbita, na ausência de sinais prévios. O curso clínico da doença aguda é de 3 a 7 dias (SMITH, 2002). A forma “cabeça-e-olho” refere-se à síndrome clássica da FCM. É caracterizada pelo aparecimento súbito de sinais relacionados à cavidade oral, oculares, respiratórios e febre (RADOSTITS et al., 2000). Inicialmente há secreção ocular serosa ou seromucosa que pode se tornar mucopurulenta à medida que a doença progride. A opacidade de córnea é característica. Os sinais respiratórios incluem descarga nasal, dispnéia e estertor devido à obstrução da cavidade nasal com exsudato (SELMAN et al., 1974). Sinais clínicos de distúrbios nervosos desenvolvem-se mais tarde no curso da doença. Consistem de fraqueza, letargia, incoordenação, ataxia, agressividade e convulsões (BARROS et al., 1983). Lesões cutâneas, especialmente na forma ovino-associada, são comuns, mas freqüentemente passam despercebidas (SELMAN et al., 1974). A forma alimentar é caracterizada por diarréia fétida, profusa, muitas vezes hemorrágica (melena acentuada) e leves alterações oculares como conjuntivite, lacrimejamento, fotofobia, febre, hiperemia nas mucosas oral e nasal, leves erosões ou ulcerações na mucosa oral, linfonodos aumentados, hiperemia do focinho, emaciação, perda de peso (PIERSON et al., 1973). A forma leve ou branda é descrita comumente em animais experimentais. Há febre transitória, acompanhada de erosões discretas nas mucosas oral e nasal, catarro nasal, diarréia com muco e lesões ulcerativas entre os dígitos (O’TOOLE et al., 1997). Para o diagnóstico de FCM, o apoio laboratorial é necessário, já que os sinais clínicos são inespecíficos. É geralmente baseado no histórico, epidemiologia, achados clinicopatológicos, e ocasionalmente na sorologia e determinação genômica do DNA viral no sangue ou tecidos de animais doentes ou clinicamente sadios. Os achados histológicos de vasculite disseminada são característicos e considerados patognomônicos da doença (BARKER et al., 1993). PCR tem sido eficiente e amplamente utilizada para detecção de ácidos nucléicos genômicos em amostras de campo, a partir do sangue total ou em tecidos colhidos na necropsia (LI et al., 1995). As alterações nos vasos sangüíneos são fortes indicativos de FCM, entretanto arterite pode ser observada na diarréia viral bovina-doença das mucosas (BVD-MD), principalmente na submucosa do trato alimentar inferior. Outras doenças semelhantes à FCM incluem rinotraqueíte infecciosa bovina, peste bovina, língua azul, estomatite vesicular, febre aftosa. Febre aftosa e estomatite vesicular cursam com alta morbidade e baixa mortalidade e geralmente não se apresentam com diarréia. Língua azul é rara em bovinos (RADOSTITS et al., 2000). Tratamentos de suporte têm sido usados em alguns casos de FCM em bovinos com relativo sucesso, mas não há tratamento específico ou vacinas eficazes contra a doença. Medidas de controle recomendadas incluem não colocar bovinos em contato com ovinos e isolar bovinos afetados de bovinos sadios (RECH et al.,2005). Considerações Finais Conclui-se que devido às várias formas clínicas de apresentação da doença, ela pode ser facilmente confundida com outras patologias de ruminantes e assim permanecer indefinidamente dentro de um rebanho. Somente com o diagnóstico laboratorial definitivo poderão ser tomadas medidas para o seu controle. Referências ASSIS, R; CAMARGOS, M; FONSECA, A. Febre Catarral Maligna. Beef point, 2007. BARKER, I.K.; VAN DREUMEL, A.A.; PALMER, N. The alimentary system. In: JUBB, K.V.F.; KENNEDY, P.C; PALMER, N. Pathology of domestic animals. 4. ed. San diego: Academic Press, 1993. V.2. Cap.1, p.163-173. BARROS, C; DRIEMEIER, D; DUTRA, I. & Lemos, R. Febre Catarral Maligna (FCM): Doenças do sistema nervoso de bovinos no Brasil. São Paulo: Agnes, pp.36-43. 2006. BARROS, S.S.; SANTOS, M.N.; BARROS, C.S.L. Surto de febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.3, p.81-86, 1983. DRIEMEIER, D; BRITO, M; TRAVERSO, S; CATTANI, C. & CRUZ, C. 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