UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE AQUICULTURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA DEFESA ANTIVIRAL EM Litopenaeus vannamei CONTRA O VÍRUS DA SÍNDROME DA MANCHA BRANCA (WSSV), INDUZIDA VIA RNA DE INTERFERÊNCIA, E SUA INFLUÊNCIA NA EXPRESSÃO DE ALGUNS GENES IMUNOLÓGICOS Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Aquicultura. Orientadora: Margherita Anna Antônia Maria Barracco Co-orientadora: Luciane Maria Perazzolo CRISTHIANE GUERTLER Florianópolis/SC 2010 Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina G935d Guertler, Cristhiane Defesa antiviral em Litopenaeus vannamei contra o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV), induzida via RNA de interferência, e sua influência na expressão de alguns genes imunológicos [dissertação] / Cristhiane Guertler ; orientadora, Margherita Anna Antônia Maria Barracco. – Florianópolis, SC, 2010. 103 p.: 6 figs., 2 tabs. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Agrárias. Programa de Pós-Graduação em Aquicultura. Inclui referências 1. Aquicultura. 2. Litopenaeus vannamei. 3. Crustáceos - Imunologia. 4. Vírus da síndrome da mancha branca. 5. RNA de interferência. 6. Expressão gênica. I. Barracco, Margherita Anna Antonia Maria. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Aquicultura. III. Título. CDU 639.3 Defesa antiviral em Litopenaeus vannamei contra o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV), induzida via RNA de interferência, e sua influência na expressão de alguns genes imunológicos. Por CRISTHIANE GUERTLER Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE EM AQÜICULTURA e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Aqüicultura. _____________________________________ Prof. Cláudio Manoel Rodrigues de Melo, Dr. Coordenador do Curso Banca Examinadora: __________________________________________________ Dra. Margherita Anna Antônia Maria Barracco – Orientadora __________________________________________________ Dr. Cláudio Humberto Mejía Ruiz __________________________________________________ Dr. Walter Quadros Seiffert Aos meus pais, Henrique e Anajara, com gratidão e amor. AGRADECIMENTOS Inicialmente, quero agradecer a Deus por ter me dado a vida e a oportunidade de desfrutá-la junto às pessoas especiais que conheci e que ainda conhecerei. Aos meus pais, Henrique e Anajara, pelo amor incondicional e apoio absoluto durante toda minha vida. Vocês são para mim o exemplo de amor, bondade e perseverança. Obrigada por terem criado as condições para que eu pudesse sempre realizar meus sonhos. Amo vocês. À minha irmã Ágatha, que também foi responsável pela minha conquista, já que além do incentivo também se privou de muita coisa para que eu pudesse chegar até aqui. Ao meu irmão Gustavo, e a mais nova componente da família, minha sobrinha Marina, que já chegou ao mundo lutando e que com certeza apareceu em novas vidas para torná-las mais leves e felizes. Ao Clênio, meu amigo e amor, que aguentou bravamente minhas inúmeras oscilações de humor durante o mestrado e ainda assim continuou sendo meu maior incentivador. Obrigada pelo amor, companheirismo e amizade durante todos esses anos. Você é muito importante na minha vida. Às minhas queridas amigas Bárbara, Manoela, Giselle e Liane. Gurias, obrigada pela amizade verdadeira. Vocês são demais! Amo muito todas vocês. À professora Luciane, pela orientação, respeito e amizade. Com certeza, seus esforços para a realização deste projeto serviram de motivação para que eu fizesse um bom trabalho. Obrigada principalmente, pela oportunidade inicial e por acreditar em minha capacidade confiando a mim um projeto relativamente distante de minhas atribuições profissionais e que encarei como um desafio profissional. À professora Margherita, por ajudar a moldar minha formação profissional, já que é para mim um exemplo de dedicação e ética profissional. Mais uma vez obrigada por responder àquele e-mail, pois devido a isso fui apresentada ao mundo da pesquisa, que tanto me encantou e também iludiu, mas que graças a isso pude encontrar meu verdadeiro lugar dentro da minha profissão. Aos colegas e amigos do Laboratório de Imunologia Aplicada à Aquicultura: Paulinha (brava companheira de trabalho durante feriados e finais de semana), Mirian, Pri, Liege, Dani, Pedro, Mirella, Gabi, Érik, Tailin, Douglas e Scheila. Um agradecimento especial à Mirian pelo apoio técnico que tanto facilitou meu trabalho, e à Priscila pela ajuda durante a reta final dos experimentos. Ao professor Maurício Lehmann, pela amizade e por todo apoio durante a fase de infecção experimental em Araquari. Ao professor Claudio Humberto Mejía-Ruíz, pelo auxílio no preparo do dsRNA e por pacientemente sempre estar disposto a esclarecer minhas dúvidas. Ao sempre prestativo Felipe Vieira, pelo fornecimento dos animais utilizados no experimento. Ao Carlito e ao professor Cláudio Mello, pela dedicação intensa aos alunos e ao programa de pós-graduação. Vocês deveriam servir de exemplo para muitos funcionários públicos. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de mestrado. À Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), pela concessão dos recursos destinados a aquisição de equipamentos e reagentes. RESUMO A proteção antiviral específica contra o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV) induzida via RNA de interferência (RNAi) e sua influência na expressão de alguns genes imunológicos foram avaliados em Litopenaeus vannamei. Os animais foram injetados com dsRNA de sequência específica (vp28 do envelope viral), e posteriormente desafiados com o WSSV. Camarões tratados com dsRNA vp28 tiveram a infecção viral limitada, uma alta taxa de sobrevivência (73%) e ausência do vírus em 80% dos sobreviventes, confirmando a ativação do mecanismo antiviral específico via RNAi. Animais desafiados e não tratados com dsRNA vp28 tiveram uma queda significativa no hemograma (85%) e depleção gênica da argonauta, caspase-3, fator antilipopolissacarídeo (ALF), pró-fenoloxidase (proPO) e transglutaminase (TGase). Uma superexpressão gênica da proteína que reconhece LPS e β-1,3-glicanas (LGBP) e do inibidor de proteases α2macroglobulina (α2M) foi verificada nesses animais, indicando o envolvimento destas proteínas na fase aguda da infecção por WSSV. O tratamento com dsRNA vp28 limitou a infecção e restabeleceu as condições imunológicas gerais dos animais através do aumento do hemograma e da modulação positiva dos genes argonauta, ALF, proPO e TGase, sugerindo a participação destas proteínas na defesa do organismo contra o WSSV. Os resultados deste estudo apontam para uma potencial utilização do dsRNA vp28 como agente terapêutico antiWSSV e confirmam que a técnica de RNAi é uma abordagem preventiva promissora e efetiva para o controle das viroses de crustáceos. Palavras chave: Litopenaeus vannamei, imunologia de crustáceos, WSSV, RNA de interferência, dsRNA vp28, expressão gênica. ABSTRACT The main purpose of this study was to evaluate the specific antiviral protection induced by the RNA-interference (RNAi) phenomenon in the shrimp Litopenaeus vannamei during an experimental infection with the white spot syndrome virus (WSSV) and the expression of several immune genes through semi-quantitative RT-PCR. Shrimp were injected with a dsRNA-specific sequence (vp28 protein from viral envelope), and then challenged with the virus. In animals treated with sequence-specific dsRNA the progress of viral infection was limited and their survival (73%) and viral clearance (80%) were much higher than in experimentally infected shrimp. These results confirmed that RNAi mechanism is effectively capable to trigger a specific antiviral protection in shrimp. Experimentally infected shrimps, not treated with dsRNA exhibited a strong reduction on their haemocyte numbers (85%). Also, the expression of different genes such as argonaute, caspase-3, antilipopolysaccharide factor (ALF), prophenoloxidase (proPO) and transglutaminase (TGase) was markedly down-regulated in these animals. Interestingly, there was an overexpression of the lipopolysaccharide and β-1,3-glucans binding protein (LGBP) and the protease inhibitor α2-macroglobulin (α2M) genes in these infected animals suggesting the involvement of these proteins in acute phase WSSV-infection. The treatment with vp28-dsRNA was able to limit viral infection and to restore the normal immunological conditions of the animals. The treated animals maintained the number of their hemocytes (immunocompetent cells) and the expression of several immune protein genes (argonaute, ALF, proPO and TGase) at their normal levels. These results suggest that vp28-dsRNA can serve as a potential therapeutic tool to combat WSSV and that RNAi phenomenon is effectively a promising and effective approach to control viral diseases in crustaceans. Key words: Litopenaeus vannamei, crustacean immune system, WSSV, RNA interference, dsRNA vp28, gene expression. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Esquema explicativo do desenho experimental. No período de pré-infecção, os animais foram injetados com tampão (G1 e G2) ou com dsRNA vp28 (G3) e, após 48h, infectados (G2 e G3) ou não (G1) com WSSV. As coletas de hemolinfa ocorreram 6h após injeção com dsRNA vp28 (G3); e 0, 3, 6, 24, 48 e 72h após a infecção com WSSV negativo (G1) ou positivo (G2)......46 Figura 2. Contagem total de hemócitos (CTH) em L. vannamei imediatamente antes das injeções (0h); 6h após injeção com dsRNA vp28 (G3); e 3, 6, 24, 48 e 72h pós-infecção com inóculo negativo (G1) ou positivo (G2 e G3) para o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV). Letras maiúsculas representam diferenças significativas (p<0,05) na CTH dentro de um mesmo grupo nos diferentes períodos analisados. Letras minúsculas representam diferenças significativas (p<0,05) na CTH entre os grupos dentro de um mesmo período...... ...................52 Figura 3. Análise semiquantitativa por RT-PCR dos genes argonauta, caspase-3, alfa 2-macroglobulina (α2M), fator antilipopolissacarídeo (ALF), proteína que se liga a LPS e β-1,3glicanas (LGBP), pró-fenoloxidase (proPO) e transglutaminase (TGase) nos hemócitos de L. vannamei. As análises foram feitas antes do início das injeções (0h- expressão gênica basal); 6h após injeção de dsRNA vp28 (G3) e 3, 6, 24, 48 e 72h após a infecção com inóculo negativo (G1) ou positivo (G2 e G3) para o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV). Os valores correspondem à razão entre a densidade de cada banda do gene de interesse pela banda actina nos diferentes tempos. A expressão relativa basal (0h) foi arbitrariamente estabelecida com o valor 1 A densitometria das bandas foi realizada utilizando-se o programa Scion Image®..................... ......................58 Figura 4. Expressão em relação ao controle dos genes: argonauta (A), caspase-3 (B), alfa 2-macroglobulina (C), fator antilipopolissacarídeo (D), proteína que se liga a LPS e β-1,3glicanas (E), pró-fenoloxidase (F) e transglutaminase (G) nos hemócitos de L. vannamei antes do início das injeções (0h) e 3, 6, 24, 48 e 72h após a infecção com o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV) nos grupos G2 (tampão/WSSV+) e G3 (dsRNA/WSSV+)......................... ....................................................59 Figura 5. Porcentagem da mortalidade cumulativa dos animais em cada tratamento durante 30 dias..... ..................................................60 Figura 6. Eletroforese em gel de agarose (1%) representando os produtos amplificados por PCR em Tempo Real, com amostras de DNA genômico de animais infectados com WSSV e previamente tratados com dsRNA vp28 (linhas 1 a 18). A análise foi feita 30 dias após a infecção, utilizando-se iniciadores VP19 (fragmento de 375 pb). M: marcador de peso molecular (100pb); CN: Controle Negativo (sem adição de DNA); I: Inóculo Positivo para WSSV. Linhas 7 a 10: animais WSSV positivos............................................................................................61 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Pares de iniciadores utilizados para as análises de RTPCR de sete genes relacionados ao sistema imune em Litopenaeus vannamei. Os iniciadores argonauta e proPO referem-se à sequências de P. monodon e F. chinensis....... .......... 50 Tabela 2. Detecção de WSSV nos animais G1: tampão/WSSV-, G2: tampão/WSSV+ e G3: dsRNA/WSSV+, por PCR convencional, em um (+) ou dois passos (nested-PCR) (++). As análises em cada período foram feitas com DNA genômico extraído de um pool de 3 animais/grupo......................................... 61 LISTA DE ABREVIATURAS α2M – α2- macroglobulina A260/280nm – Razão da absorbância 260/280 nm ALF – Fator antilipopolissacarídeo CTH – Contagem total de hemócitos dsRNA – double-stranded RNA (RNA dupla fita) EDTA – Ácido diamino tetracético HG – Hemócitos granulares HGG – Hemócitos com grânulos grandes HGP – Hemócitos com grânulos pequenos HH – Hemócitos hialinos IAP – Inhibitor of Apoptosis Proteins (Proteínas inibidoras de apoptose) IFN – Interferon IHHNV – Infectious Hypodermal and Hematopoietic Necrosis Virus (Vírus da Necrose Hipodérmica e Hematopoietica) IMNV – Infectious Myonecrosis Virus (Vírus da Mionecrose Infecciosa Muscular) LBP – Proteína que se liga a LPS LGBP – Proteína que se liga a ambos β-glicanas e LPS LPS – Lipopolissacarídeos MAS – Solução anticoagulante Alsever modificada NaCl – Cloreto de sódio NaOH – Hidróxido de sódio p – Nível de probabilidade PAM – Peptídeos antimicrobianos PAMPs – Padrões moleculares associados aos patógenos pb – Pares de base PCR - Reação em cadeia da polimerase PG – Peptidoglicanas proPO – Pró-fenoloxidase PRPs – Proteínas de reconhecimento de padrão RISC - RNA-induced silencing complex RNA (complexo multiproteico de silenciamento induzido por RNA) RNAi – RNA de interferência RT-PCR – PCR em Tempo Real SDS – Sodium dodecyl sulfate TGase – Transglutaminase TSV – Taura Syndrome Virus (Vírus da Síndrome de Taura) WSS – White Spot Syndrome (Síndrome da Mancha Branca) WSSV – White Spot Syndrome Virus (Vírus da Síndrome da Mancha Branca) YHV – Yellow Head Virus (Vírus da Cabeça Amarela) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................ 17 Sistema imune dos crustáceos ............................................................... 23 Respostas antivirais em crustáceos........................................................ 28 OBJETIVOS ......................................................................................... 37 Objetivo Geral....................................................................................... 37 Objetivos Específicos............................................................................ 37 1. INTRODUÇÃO ................................................................................ 39 2. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................. 43 2.1. Animais .......................................................................................... 43 2.2. Preparo do inóculo viral ................................................................. 43 2.3. Síntese do dsRNA vp28 ................................................................. 44 2.4. Ativação do sistema de RNA de interferência em L. vannamei injeção com dsRNA vp28 e infecção experimental com WSSV........... 44 2.5. Detecção da infecção dos camarões por WSSV............................. 46 2.6. Extração de hemolinfa.................................................................... 47 2.7. Contagem total de hemócitos (CTH).............................................. 48 2.8. Extração dos RNA totais e síntese do cDNA ................................. 48 2.9. Análise da expressão gênica semiquantitativa de algumas proteínas imunológicas de L. vannamei ................................................ 48 3. ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................... 51 4. RESULTADOS................................................................................. 51 4.1. Contagem Total de Hemócitos (CTH) ........................................... 51 4.2. Expressão gênica ............................................................................ 52 4.2.1. Argonauta: a proteína slicer do RISC do sistema RNAi.............. 53 4.2.2. Caspase-3: uma protease executora da via apoptótica ............... 53 4.2.3. Alfa 2-macroglobulina (α2M): um inibidor de proteases de amplo espectro ...................................................................................... 54 4.2.4. Fator antilipopolissacarídeo (ALF): um peptídeo antimicrobiano com atividade antiviral ................................................ 54 4.2.5. Proteína que se liga a LPS e β-1,3-glicanas (LGBP): uma proteína de reconhecimento padrão...................................................... 55 4.2.6. Pró-fenoloxidase: um zimógeno do sistema de ativação da proPO.................................................................................................... 56 4.2.7. Transglutaminase (TGase): a enzima-chave no processo de coagulação da hemolinfa ...................................................................... 56 4.3. Mortalidade dos animais ................................................................ 60 4.4. Detecção do DNA viral (WSSV) nos tecidos dos animais............. 60 5. DISCUSSÃO..................................................................................... 62 6. REFERÊNCIAS................................................................................ 74 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA INTRODUÇÃO ................ 86 16 17 1. INTRODUÇÃO Atualmente, devido à crescente estagnação da pesca e à procura comercial na indústria alimentícia, a aquicultura vem constituindo uma grande alternativa para o suprimento da demanda por proteína de origem animal, apresentando elevado crescimento dentre os setores produtores de alimento. Segundo a FAO (2006), em 1996 a pesca de captura representava 73% da produção mundial de pescados, enquanto a aquicultura participava com a pequena parcela de 27%. No entanto, apenas 10 anos depois, em 2006, a pesca participava com 58% da produção mundial de pescados, enquanto a aquicultura aumentou sua contribuição em 42%. A exploração indiscriminada dos estoques pesqueiros juntamente com a crescente diferença entre a oferta de pescado capturado e a demanda de consumo acabaram por tornar a aquicultura a alternativa mais viável no mundo para produção de alimento de elevado valor proteico (CAMARGO e POUEY, 2005). Dentro da maricultura, o cultivo de camarões marinhos, tem se expandido de forma bastante acelerada em diversos países ao redor do mundo, sendo responsável pela maior parte do volume financeiro envolvido no comércio internacional de frutos do mar (SEIFFERT et al., 2006). A carcinicultura é uma atividade fundamental na pauta de exportações de países em desenvolvimento, sendo responsável pela geração de milhões de empregos. Atualmente, a China e a Tailândia são os principais produtores mundiais, e, na América Latina, os principais produtores são México, Equador e Brasil, sendo que as espécies mais cultivadas no mundo atualmente são Litopenaeus vannamei e Penaeus monodon (FAO, 2006). O cultivo de camarões marinhos teve sua origem no Sudeste da Ásia, onde por séculos, pescadores da região despescavam viveiros abastecidos por marés. No entanto, a carcinicultura em seus moldes atuais surgiu na década de 30 do século XX, quando cientistas japoneses iniciaram os trabalhos de larvicultura com Marsupenaeus japonicus (ROSEMBERRY, 1992). No Brasil, a atividade teve início durante a década de 80 com a introdução do peneídeo M. japonicus no Nordeste. Entretanto, apesar desta espécie, na ocasião, ser a mais cultivada na Ásia, ela não se adaptou bem às condições brasileiras, principalmente em função das baixas salinidades nas zonas de produção (BARBIERI e OSTRENSKY, 2002). Seguiram-se então tentativas para a domesticação das espécies nativas Litopenaeus schmitti (OSTRENSKY, 1997) e Farfantepenaeus 18 paulensis (WASIELESKY, 2000) nas regiões Sul e Sudeste, e Farfantepenaeus subtilis no Norte e Nordeste (TAVARES e SANTOS, 2006). No entanto, a baixa produtividade e lucratividade destas espécies levaram à desativação das fazendas. Ainda na década de 80, a espécie L. vannamei foi introduzida no país primeiramente na região Nordeste. Em Santa Catarina a espécie foi inicialmente utilizada em 1998 pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Estado de Santa Catarina) com o intuito de viabilizar a atividade no Estado. Conhecido como camarão branco do Pacífico, L. vannamei possui uma distribuição natural que vai desde as águas do Oceano Pacífico, na província de Sonora (México), até o sul de Tumbes, no Peru (PÉREZFARFANTE e KENSLE, 1997). Esta espécie possui excelentes características zootécnicas, como rusticidade no manejo, boa conversão alimentar, rápido crescimento, facilidades na reprodução em cativeiro, além de poder ser cultivada em águas oligohalinas crescendo em ambientes com salinidade variando de 0,5 a 40 ppt (NUNES, 2001). O seu cultivo em águas interiores, sem influência de águas marinhas, já foi implantado com sucesso em países como o Equador, México, Panamá, Tailândia e Estados Unidos, sendo que no Brasil é encontrado também nos estados do Ceará, Paraíba e Piauí (FIGUEIREDO et al., 2004). Além disso, em função de sua típica coloração esbranquiçada esta espécie apresenta uma alta aceitação no mercado americano (NUNES, 2001). No Brasil, este peneídeo se adaptou às condições climáticas e ambientais encontradas no Nordeste brasileiro, sendo que nesta região são obtidas até 2,5 safras por ano. Em 2005, a produção brasileira de L. vannamei chegou a 65 mil toneladas cultivadas em 15 mil hectares de viveiros, sendo o Nordeste brasileiro a região que contribui com 95% do total de cultivo (IDEMA, 2006). Com relação à Santa Catarina os dados do setor mostraram um crescimento vigoroso da produção, com um volume triplicado no período de 1999 e 2002, sendo que no último ano desse período, houve um incremento de 97% no setor. A produtividade cresceu de forma bastante acentuada, como resultado de uma melhora no desempenho dos recursos tecnológicos em uso nos cultivos, e também do desenvolvimento da indústria de alimento animal no país, corroborando para o incremento do segmento de camarão cultivado (BUGLIONE NETO, 2009). Desta forma, a atividade veio nos últimos anos experimentando uma rápida evolução, no sentido de intensificação dos sistemas e das 19 técnicas de produção, visando um aumento da lucratividade e eficiência nos cultivos. No entanto, a intensificação dos cultivos na maioria das vezes não leva em conta os aspectos ecológicos e fisiológicos dos animais (BACHÈRE, 2000), tendo como consequência o surgimento de enfermidades entre os animais e a degradação ambiental (BORGHETTI; OSTRENSKY; BORGHETTI, 2003). Sabe-se também que, fatores ambientais potencialmente estressores, como alterações nos parâmetros físico-químicos da água, a presença de metais pesados, pesticidas agrícolas e poluentes no ambiente, podem alterar o sistema imune dos camarões, debilitando-os e propiciando a instalação de doenças (LE MOULLAC e HAFFNER, 2000; CHANG; LEE; LIU, 2006). Além disso, a água dos cultivos abriga naturalmente inúmeros microorganismos potencialmente patogênicos, e uma vez instalada a doença, a transmissão entre os animais é rapidamente veiculada (BOYD, 1979). Os camarões podem ser suscetíveis a diferentes patógenos (parasitas, fungos, bactérias e vírus) que geram enfermidades, muitas delas endêmicas e/ou pandêmicas, que causam sérias perdas econômicas advindas da diminuição na produção. No entanto, atualmente as infecções virais são as principais responsáveis por perdas econômicas catastróficas na carcinicultura a nível mundial, especialmente no cultivo de L. vannamei. Dentre elas destacam-se àquelas causadas pelos vírus da necrose hipodérmica e hematopoiética (IHHNV), vírus da síndrome de Taura (TSV), o vírus da cabeça amarela (YHV) e o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV) (LIGHTNER, 2003). Assim como em outros países, a carcinicultura no Brasil também encontrou limitações ao seu desenvolvimento. Em 2004, com o advento da ação antidumping imposta pelos Estados Unidos, associado a fatores como a desvalorização do dólar, o setor camaroneiro perdeu competitividade nas exportações (ROCHA, 2007). Somado a isso, duas viroses causaram sérios prejuízos à carcinicultura nacional: a Mionecrose Infecciosa (NIM) nos cultivos da Região Nordeste, causada pelo vírus da mionecrose infecciosa (IMNV), e a Síndrome da Mancha Branca (WSS) em Santa Catarina, causada pelo vírus da síndrome da mancha branca (WSSV). Juntas, estas duas viroses rebaixaram o posto brasileiro de líder americano na produção de camarão, obtido em 2003 graças as suas 94.000 toneladas de produção, para um pouco atrativo terceiro lugar, precedido pelo México e Equador. Além disso, o Brasil perdeu a liderança mundial em termos de produtividade com perdas na produção na ordem de 40 mil toneladas entre o período de 2003 a 2005 (SEIFFERT et al., 2006). 20 A síndrome da mancha branca é considerada a enfermidade viral mais devastadora para a indústria camaroneira registrada até o momento, sendo que o WSSV vem dizimando populações inteiras de cultivo (LIGTHNER, 2003; FLEGEL, 2006). Segundo a OIE (2006) as perdas na produção devido ao WSSV passam de 10 bilhões de dólares desde 1993 em todo o mundo. Mortalidades massivas podem ocorrer em um período muito curto, sendo que em casos mais severos podem chegar a 100% entre 2 a 7 dias após a detecção dos sinais clínicos (CHOU et al., 1995; CHANG et al., 1999). Este vírus foi detectado pela primeira vez em Taiwan, em 1992, de onde se espalhou rapidamente para a maioria dos países produtores (CAI et al., 1995; FLEGEL, 1997; ROSEMBERRY, 2002). Muito recentemente, a ocorrência deste vírus foi também detectada de forma natural em espécies nativas de crustáceos na Argentina (MARTORELLI; OVERSTREET; JOVONOVICH, 2010). No caso do Brasil, os primeiros surtos da WSS foram detectados em cultivos de Santa Catarina, em 2004, onde apenas 200 dos 1.600 hectares de viveiros em produção não foram afetados pela enfermidade, resultando assim em prejuízos na ordem de R$ 6 milhões (SEIFFERT et al., 2006). Em termos de produção, em 2004 a carcicicultura catarinense estava em franca expansão comercializando 4.189 t do crustáceo, enquanto que em 2007 essa cifra caiu para apenas 300 t (EPAGRI/CEDAP, 2008). A WSS geralmente se manifesta quando ocorre um desequilíbrio no cultivo, advindo, por exemplo, de altas densidades populacionais, má preparação do solo, baixa qualidade de água, excesso de matéria orgânica no solo e mudanças bruscas na temperatura da água (PEREIRA; LEGAT; LEGAT, 2006; BUCHELI e GARCIA, 2005; SEIFFERT; WINCLER; MAGGIONI, 2005). Os principais sinais clínicos da enfermidade são o surgimento de calcificações brancas arredondadas na parte interna do exoesqueleto do rostro, atividade errática do camarão na periferia do viveiro, redução rápida no consumo de alimento, atividade metabólica reduzida dos animais e coloração avermelhada no corpo (BUCHELI e GARCIA, 2005). As manchas brancas, cuja presença confere denominação à enfermidade, são decorrentes de depósitos de sais de cálcio na epiderme cuticular dos camarões infectados. No entanto, o mecanismo de formação destas manchas ainda é pouco conhecido, mas sabe-se que a infecção por WSSV pode provocar uma disfunção do epitélio subcuticular do animal, resultando assim no acúmulo dos sais de cálcio (WANG et al., 1999). Em L. vannamei estas manchas nem sempre são 21 observadas, ocorrendo apenas em estágios mais avançados da enfermidade (NUNES e MARTINS, 2002). Além disso, os pontos brancos na cutícula, nem sempre constituem um sinal clínico desta síndrome, podendo ser causada por doenças de origem bacteriana, ou até por condições ambientais, como alta alcalinidade da água (WANG et al., 2002). O WSSV é um vírus envelopado, baciliforme e pertence ao gênero Whispovirus e à família Nimaviridae (vide revisões de ESCOBEDO-BONILLA et al., 2008; BONAMI, 2008). Seu material genético é composto por uma molécula de DNA dupla fita, circular e longa, com tamanho variável entre 293 kpb a 307 kbp (van HULTEN et al., 2001; YANG et al., 2001; CHEN et al., 2002), sendo encontradas várias linhagens de vírus que são extremamente virulentas e patogênicas para várias espécies de peneídeos e outros crustáceos (DURAND et al., 1997). O WSSV infecta especialmente as células de origem ectodermal e mesodermal, incluindo células da epiderme, brânquias, intestino (CHANG et al., 1996), órgão linfoide (DURAND et al, 1996; CHANG et al, 1998), músculo, coração (KOU et al., 1998), gônadas (LO et al., 1997), hemócitos e células associadas ao sistema nervoso central (RAJENDRAN et al., 1999; WANG et al., 1999). Atualmente, muitos estudos têm sido realizados com o objetivo de caracterizar e analisar a função de proteínas do WSSV, especialmente àquelas do envelope viral que estão diretamente associadas à adesão e entrada do vírus na célula hospedeira, sendo elas: vp19, vp26, vp28, vp68, vp281 e vp466 (van HULTEN; GOLDBACH; VLAK, 2000; YI et al., 2004; WU et al., 2005). A confecção de vacinas, no termo clássico da palavra, é inviável para invertebrados, como os crustáceos, devido ao fato do organismo destes animais não estar apto a produzir anticorpos antígeno-específicos e células de memória, não produzindo, portanto, uma memória imunológica a longo prazo (vide revisão BARRACCO; PERAZZOLO; ROSA, 2008). Desta forma, camarões não podem ser imunizados da mesma forma que os peixes. No entanto, atualmente, muitos estudos têm relatado uma proteção a médio prazo contra mortalidades ocasionadas por vírus, como o WSSV, por meio de técnicas de “vacinação” que utilizam como agentes terapêuticos proteínas virais purificadas ou recombinantes, vírus inativados ou “vacinas” de DNA (YI et al., 2004; WU et al., 2005; WITTEVELDT; VLAK; van HULTEN, 2004; SYEDMUSTHAQ et al., 2009). As proteínas do envelope viral, especialmente aquelas associadas à adesão e entrada do vírus na célula hospedeira, são as mais visadas 22 para produção destas “vacinas”. Dentre elas, a vp28 é considerada uma das proteínas mais eficazes, sendo capaz de conferir os melhores níveis de proteção em crustáceos contra o WSSV (vide revisão de JOHNSON; van HULTEN; BARNES, 2008; KUMAR et al., 2008). Esta proteína é a mais abundante no envelope viral e além de estar envolvida na adesão do WSSV às células do hospedeiro (YI et al., 2004), a vp28 interage com proteínas intracelulares do hospedeiro, tais como a Rab7GTPase (SRITUNYALUCKSANA et al., 2006), a proteína de choque térmico HSP70 (XU et al., 2009) e o transdutor de sinal e ativador de transcrição STAT (LIU et al., 2007). Quando utilizada como “vacina”, o mecanismo de ação da vp28 é o de funcionar como um “bloqueador físico” dos receptores celulares para o vírus, impedindo a ligação posterior e entrada do mesmo na célula hospedeira e limitando, por consequência, o processo infeccioso. (JOHNSON; van HULTEN; BARNES, 2008). No entanto, na ausência de uma expressão continuada das proteínas virais no organismo, como ocorre habitualmente, a reciclagem dos receptores/proteínas ligantes nas células do hospedeiro leva ao retorno da “suscetibilidade” do animal ao vírus em um curto período de tempo (PERAZZOLO; BARRACCO; ROSA, 2010). Sendo assim os métodos de “vacinação” disponíveis para crustáceos conferem, no máximo, uma imunoproteção a médio prazo (vide revisão de PERAZZOLO; BARRACCO; ROSA, 2010). O estudo do mecanismo de resistência de camarões frente a infecções causadas por vírus é ainda pouco compreendido, sendo assim, como descrito anteriormente, as infecções virais o principal fator realmente limitante para o sucesso da carcinicultura, na atualidade. No entanto, é importante salientar que a presença de enfermidades não inviabiliza a atividade, exigindo, porém adaptações à nova realidade. Todos os países produtores de camarão já tiveram problemas com enfermidades, e ainda assim a carcinicultura é considerada uma atividade lucrativa (PEREIRA; LEGAT; LEGAT, 2006). Porém, no que diz respeito ao controle e prevenção de doenças nos cultivos, métodos convencionais de tratamento, como o uso de drogas químicas, não apresentam eficácia contra viroses. Atualmente, a profilaxia e o controle de enfermidades em cultivos estão basicamente relacionados à tentativa de reduzir as condições de estresse dos animais através do uso de práticas adequadas de manejo. Convém lembrar que, além de infectar diferentes tecidos do camarão, o WSSV compromete seriamente o sistema imunológico dos animais, uma vez que as suas células imunocompetentes ou hemócitos são as principais células-alvo para a sua replicação (WANG et al., 23 2002). Neste contexto, a mais ansiada e urgente contribuição para a carcinicultura na atualidade é indiscutivelmente o controle das infecções virais (PERAZZOLO; BARRACCO; ROSA, 2010). Desta forma, tornase cada vez mais importante a busca de terapias eficazes embasadas no conhecimento prévio do sistema imunológico desses animais, uma vez que estudos dessa natureza poderão auxiliar na compreensão dos mecanismos envolvidos nas respostas antivirais, na interação entre patógeno e hospedeiro e na relação suscetibilidade/resistência desses animais frente a esses parasitas. Sistema imune dos crustáceos Assim como mencionado anteriormente, os crustáceos possuem apenas um sistema imune inato ou natural, portanto, não possuem a imensa gama de anticorpos específicos e células de memória, que compõem o sistema imune adaptativo dos vertebrados. Devido a esta característica, é importante ressaltar, mais uma vez, que não é possível o desenvolvimento de vacinas que os proteja a longo prazo contra infecções reincidentes (vide revisão de PERAZZOLO; BARRACCO; ROSA, 2010). No entanto, devemos salientar que a ideia de que os crustáceos, assim como outros invertebrados, contam apenas com um sistema de defesa desprovido de especificidade e memória imunológica vem sendo recentemente contestada, frente às novas descobertas que apontam para a potencial presença de uma “imunidade adaptativa alternativa” (vide revisões de KURTZ e FRANZ, 2003; KURTZ e ARMITAGE, 2006; JOHNSON; van HULTEN; BARNES, 2008). O sistema circulatório dos crustáceos é do tipo aberto ou semiaberto, por onde transita um tecido fluido denominado hemolinfa, que corresponde ao sangue dos vertebrados. Sendo assim, o sistema imune dos crustáceos está relacionado à sua hemolinfa, que é composta por uma fração celular (hemócitos) e uma fração líquida (plasma), onde estão dissolvidos os fatores humorais. Os hemócitos e os fatores humorais atuam de maneira integrada na proteção do organismo contra invasões e infecções por patógenos, garantindo assim sua sobrevivência (vide revisão de BARRACCO; PERAZZOLO; ROSA, 2008). Os hemócitos são as células imunocompetentes, responsáveis pelas respostas celulares de defesa, e respondem à invasão de microorganismos e parasitas destruindo-os por fagocitose ou isolando-os em agregados hemocíticos através da formação de nódulos e cápsulas 24 (MILLAR e RATCLIFFE, 1994). Os mecanismos de lise e morte dos patógenos são ainda auxiliados pela atuação de moléculas microbicidas e/ou citotóxicas, exocitadas pelos hemócitos no sítio de infecção, ou resultantes da clivagem proteolítica de proteínas de sistemas de defesa auxiliares (LEE e SÖDERHÄLL, 2002). Segundo suas características morfofisiológicas, os hemócitos são classificados em: hemócitos hialinos (HH), hemócitos com grânulos pequenos (HGP) e hemócitos com grânulos grandes (HGG) (SÖDERHÄLL e SMITH, 1983), sendo que a proporção na hemolinfa de cada tipo celular em animais sadios pode variar drasticamente conforme a espécie (GARGIONI e BARRACCO, 1998; HOLMBLAD e SÖDERHÄLL, 1999). De uma maneira geral, os HHs de crustáceos são descritos como os menores hemócitos, com uma alta relação núcleo citoplasmática e contendo de nenhum a poucos grânulos (vide revisão de BARRACCO; PERAZZOLO; ROSA, 2008). Para alguns autores, esse tipo de hemócito pertence a uma linhagem celular distinta daquela dos hemócitos granulares e está essencialmente relacionado aos mecanismos de coagulação (HOSE; MARTIN; GERARD, 1990). Outros autores afirmam que os HHs são as principais células fagocíticas (JOHANSSON et al., 2000) e correspondem a uma forma intermediária da linhagem de hemócitos granulares (van de BRAAK et al., 2002). Os hemócitos granulares (HGPs e HGGs) são descritos como células de citoplasma mais abundantes e ricas em grânulos de diversos tamanhos e conteúdos (BARRACCO; PERAZZOLO; ROSA, 2008), estando especialmente envolvidos na fagocitose de micro-organismos, na formação de cápsulas e nódulos, na produção de moléculas citotóxicas e microbicidas capazes de lisar e/ou degradar os patógenos invasores e a maioria das proteínas envolvidas, direta ou indiretamente, com o sistema imune dos crustáceos (HOSE; MARTIN; GERARD, 1990; GARGIONI e BARRACCO, 1998; DESTOUMIEUX et al., 2000; van de BRAAK et al., 2002). A primeira etapa de defesa dos crustáceos envolve o reconhecimento dos agentes infecciosos por proteínas/receptores de reconhecimento de padrões (PRPs, do inglês pattern recognition proteins), situados na membrana dos hemócitos ou dissolvidos no plasma e que reconhecem padrões moleculares expressos especificamente nos patógenos (PAMPs, do inglês pathogen-associated molecular patterns), e que estão ausentes no hospedeiro. As principais PRPs caracterizadas em crustáceos reconhecem os seguintes PAMPs: lipopolissacarídeos (LPS) da superfície de bactérias Gram-negativas, peptidoglicanas de parede de bactérias Gram-positivas, β-glicanas da 25 parede de fungos e o RNA dupla fita (dsRNA, do inglês doublestranded RNA), produzido por vários vírus durante a sua replicação no hospedeiro (LEE e SÖDERHÄLL, 2002). Os vírus são endoparasitas intracelulares extremamente simples formados por um capsídeo proteico que abriga um ácido nucleico (DNA ou RNA, na forma de fita simples ou dupla) e que em alguns casos pode estar envolvido por uma capa lipídica, derivada da membrana celular do hospedeiro. A estrutura viral é desprovida dos PAMPs comumente encontrados em bactérias e fungos (carboidratos: LPS/peptidoglicanas/β-1,3-glicanas). Dentre as PRPs encontradas nos crustáceos destacam-se as lectinas, que reconhecem açúcares específicos da superfície de diferentes micro-organismos, as LBP e Mas-like que reconhecem lipopolissacarídeos (LPS) da parede de bactérias Gram-negativas, as βGBP e GBP que reconhecem β-1,3-glicanas da parede de fungos e a LGBP que reconhece ambos LPS e β-1,3-glicanas (vide revisão de JIRAVANICHPAISAL; LEE; SÖDERHÄLL, 2006). Uma vez dentro do hospedeiro, os padrões moleculares do patógeno são reconhecidos e ligados às suas respectivas PRPs e, no caso dos crustáceos, iniciam a ativação dos hemócitos, desencadeando uma resposta imune celular através da produção/liberação de uma série de moléculas imunoefetoras/imunoreguladoras, bem como a modulação da expressão de genes imunológicos específicos (vide revisão de BARRACCO; PERAZZOLO; ROSA, 2008). No caso da LGBP, esta proteína já foi identificada em crustáceos e insetos, sendo que em crustáceos são proteínas pequenas (36-46 kDa) produzidas pelos hemócitos e/ou no hepatopâncreas (vide revisão de BARRACCO; PERAZZOLO; ROSA, 2008). Em peneídeos, existem três relatos sobre a clonagem do gene da LGBP: Litopenaeus stylirostris (ROUX et al., 2002), L. vannamei (CHENG et al., 2005) e Fenneropenaeus chinensis (DU; ZHAO; WANG, 2007), sendo que análises da expressão diferencial demonstraram que ocorre uma modulação evidente deste gene nos animais durante a fase aguda de infecção pelo WSSV (ROUX et al., 2002; DHAR et al., 2003; YEH et al., 2009). O reconhecimento do agente invasor desencadeia a ativação dos hemócitos que podem migrar para os sítios de infecção, onde realizam a fagocitose e/ou a formação de agregados celulares densos em torno das partículas invasoras (nódulos e/ou cápsulas). Os patógenos podem, então, ser neutralizados ou destruídos através de diferentes mecanismos, incluindo: a liberação de enzimas degradativas, a ativação dos componentes do sistema pró-fenoloxidase (proPO) e a produção de 26 compostos citotóxicos, como as espécies reativas de oxigênio (ROIs) e nitrogênio (RNIs). Além disso, os hemócitos de crustáceos produzem diferentes proteínas e/ou peptídeos antimicrobianos (PAM), que apresentam uma atividade microbicida rápida e potente contra um amplo espectro de micro-organismos, incluindo bactérias, fungos filamentosos, leveduras, e em alguns casos também contra vírus e protozoários (BACHÈRE et al., 2004; REDDY; YEDERY; ARANHA, 2004). Em camarões, os PAMs são produzidos constitutivamente pelos hemócitos, sendo armazenados em seus grânulos, e seu mecanismo de ação normalmente se dá a nível da membrana do micro-organismo. Os PAMs podem apresentar uma atividade detergente sobre a membrana do micro-organismo, uma vez que sendo eles na maioria moléculas catiônicas interagem por atração eletrostática com os fosfolipídeos aniônicos da membrana das bactérias, por exemplo, formando grandes poros e gerando um influxo descontrolado de solutos e um extravasamento do conteúdo citoplasmático, resultando na morte do micro-organismo (BACHÈRE et al., 2004; BULET; STÖCKLIN; MENIN, 2004). Os principais peptídeos antimicrobianos de crustáceos são as peneidinas (DESTOUMIEUX et al., 1997), as crustinas (GROSS et al., 2001; BARTLETT et al., 2002) e os fatores antilipopolissacarídeos (ALFs) (GROSS et al., 2001; SUPUNGUL et al., 2002). Os ALFs já foram encontrados em vários peneídeos, dentre os quais Litopenaeus setiferus (GROSS et al., 2001), P. monodon (SUPUNGUL et al., 2002), F. chinensis (LIU et al., 2005), M. japonicus (NAGOSHI et al., 2006) L. vannamei (de la VEGA et al., 2008), F. paulensis e L. schmitti (ROSA; STOCO; BARRACCO, 2008) sendo ativos contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, e contra fungos filamentosos (SOMBOONWIWAT et al., 2005; NAGOSHI et al., 2006). Além disso, estudos recentes têm apontado para a relevância deste PAM na limitação das infecções por WSSV em crustáceos (LIU et al., 2006; THARNTADA et al., 2009). Outra importante molécula, que é exocitada durante a ativação do hemócito, é a enzima transglutaminase (TGase) que induz o processo de coagulação da hemolinfa nos crustáceos. TGases são enzimas Ca2+ dependentes, usualmente compartimentalizadas dentro dos hemócitos (LORAND et al., 1979; GREENBERG; BRICKBICHLER; RICE, 1991), e que promovem ligações covalentes γ-glutamil-ε-lisina entre moléculas da proteína de coagulação (CP) (LORAND e CONRAD, 1984), formando assim, coágulos estáveis no local do ferimento. A 27 coagulação da hemolinfa é um mecanismo imunológico essencial para a sobrevivência de invertebrados que possuem um sistema circulatório aberto, como é o caso dos crustáceos, pois previne a perda da hemolinfa e a disseminação dos patógenos pela cavidade corpórea do animal, por ocasião de uma injúria no organismo (vide revisão BARRACCO; PERAZZOLO; ROSA, 2008). Além disso, a coagulação é muito importante durante o processo de muda, fase esta em que o animal torna-se potencialmente mais exposto às injúrias e ataques microbianos. Conforme dito anteriormente, durante as infecções, LPS e peptidoglicanas de bactérias, e β-1,3-glicanas de fungos se ligam diretamente a receptores hemocitários ou através de PRPs plasmáticas ligadas aos respectivos PAMPs, induzindo uma degranulação ou exocitose regulada, com liberação de várias moléculas imunoefetoras, dentre as quais as moléculas do sistema de ativação da pró-fenoloxidase (proPO). O sistema proPO consiste em uma cascata proteolítica composta por vários zimógenos de proteases, pela proPO, além das PRPs e moléculas associadas (vide revisões de LEE e SÖDERHÄLL, 2002; JIRAVANICHPAISAL; LEE; SÖDERHÄLL, 2006), e cujo produto final é a melanina. Em relação ao papel imunológico do sistema proPO, sabe-se que esta via gera transitoriamente moléculas altamente citotóxicas, como as quinonas, hemiquinonas e radicais livres como as ROIs, uma vez que ocorre o consumo de oxigênio molecular que leva à destruição dos patógenos invasores, sendo que alguns estudos relatam uma modulação na expressão gênica da proPO, em camarões infectados por WSSV (ROUX et al., 2002; AI et al., 2008; YEH et al., 2009). Contudo, a ativação do sistema proPO deve ser estritamente regulada para evitar uma ativação indesejada ou generalizada no organismo do crustáceo. Para isso, os animais possuem inibidores plasmáticos de proteases, como a pacifastina (LIANG; SOTTRUP-JENSEN; SÖDERHÄLL, 1997), os inibidores da família Kazal (JOHANSSON; KEYSER; SÖDERHÄLL, 1994; JIMÉNEZ-VEGA e VARGAS-ALBORES, 2005), a serpina (LIANG e SÖDERHÄLL, 1995) e a α2-macroglobulina (α2M) (HERGENHAHN; HALL; SÖDERHÄLL, 1988). A α2M é uma glicoproteína plasmática constitutivamente sintetizada pelos hemócitos (GROSS et al., 2001; RATTANACHAI et al., 2004) que atua como um inibidor de proteases de amplo espectro (serino, aspartato, cisteína e metalo-proteases), inibindo tanto as proteases endógenas do hospedeiro, como aquelas exógenas produzidas pelo patógeno durante o processo infeccioso (vide revisão de ARMSTRONG, 2006). O papel imunomodulador da α2M nos 28 crustáceos ainda não está bem estabelecido. No entanto, sabe-se que ela inibe parcialmente serino-proteases ativadoras do sistema proPO do lagostim Pacifastacus leniusculus (HERGENHAHN; HALL; SÖDERHÄLL, 1988; ASPÁN; HALL; SÖDERHÄLL, 1990) e proteases produzidas pelo fungo Aphanomyces spp, um patógeno conhecido para lagostins (DIEGUEZ-URIBEONDO e CERENIUS, 1998). Além disso, foi relatado que ocorre um aumento na expressão da α2M em P. monodon infectados pelo WSSV (TONGANUNT et al., 2005). Respostas antivirais em crustáceos Além dos processos acima descritos, os crustáceos possuem ainda respostas antivirais, que, comparadas às respostas antimicrobianas, são ainda muito pouco conhecidas (vide revisão de LIU; SÖDERHÄLL; JIRAVANICHPAISAL, 2009). Atualmente, são reconhecidos pelo menos três mecanismos antivirais nos crustáceos: a apoptose celular, o sistema de RNA de interferência (RNAi) e um mecanismo semelhante ao sistema interferon (IFN) dos vertebrados (vide revisões de ROBALINO et al., 2007; LIU; SÖDERHÄLL; JIRAVANICHPAISAL, 2009; PERAZZOLO; BARRACCO; ROSA, 2010). A apoptose ou morte celular programada é um processo fisiológico controlado geneticamente e que está envolvido na regulação da homeostase do organismo, atuando tanto no desenvolvimento embrionário, como no controle dos tecidos e também nas respostas imunológicas contra vírus. A indução do processo apoptótico inicia-se em resposta a uma variedade de estímulos, incluindo infecções virais, e envolve várias alterações morfológicas celulares, como a condensação da cromatina, a fragmentação do núcleo, o encolhimento celular e a lobulação da membrana (vide revisões de ROULSTON; MARCELLUS; BRANTON, 1999; CHOWDHURY; THARAKAN; BHAT, 2008). Por fim, ocorre a fragmentação da célula em pequenas vesículas revestidas por membrana, denominadas de corpos apoptóticos, que em geral são rapidamente fagocitados pelas células vizinhas ou por macrófagos, sem haver qualquer liberação intracelular de seu conteúdo, como no caso de uma necrose, que desencadeia um processo inflamatório. Uma célula que sofre apoptose morre de forma “silenciosa”, sem alertar as células circunvizinhas e sem gerar um processo inflamatório (vide revisão de 29 ROULSTON; MARCELLUS; BRANTON, 1999; CHOWDHURY; THARAKAN; BHAT, 2008). Muitas proteínas e componentes virais perturbam a fisiologia celular e fornecem sinais celulares que induzem a apoptose. Em mamíferos, alguns componentes das vias pró-apoptóticas (a proteína quinase R, a RNase L, o fator regulatório 3 do IFN e a quinase Nterminal c-Jun), podem ser ativados pelo dsRNA viral (GANTIER e WILLIAMS, 2007). Logo, durante uma infecção viral, o dsRNA estaria envolvido tanto na sinalização intracelular ativando os sistemas de RNAi e interferon, como também induzindo a apoptose celular. A maquinaria intracelular responsável pela apoptose parece ser semelhante em todas as células animais e é mediada por enzimas nucleases e proteases da família das caspases, que desencadeiam a morte celular através da clivagem de proteínas específicas do núcleo e citoplasma (vide revisão de CHOWDHURY; THARAKAN; BHAT, 2008). As caspases existem nas células como precursores inativos (prócaspases) que são normalmente ativados por clivagem de outras caspases, resultando em uma cascata de amplificação proteolítica. Estas proteases podem ser classificadas de acordo com seu pró-domínio e seu papel na apoptose: caspases iniciadoras possuem pró-domínios longos e estão envolvidas na iniciação da cascata proteolítica, enquanto as caspases efetoras apresentam pró-domínios curtos ou inexistentes, e são responsáveis pela clivagem de substratos celulares (RUPNARAIN et al., 2004). Desta forma, a ativação inicial de um pequeno número de caspases iniciadoras pode levar, através de uma cascata, à ativação de um grande número de caspases executoras, que por sua vez, clivam proteínas-chave na célula, incluindo proteínas citosólicas e das lâminas nucleares (vide revisão de CHOWDHURY; THARAKAN; BHAT, 2008). Até agora, 14 diferentes caspases já foram identificadas em mamíferos, sendo que as caspases 2, 8, 9 e 10 são classificadas como iniciadoras e as caspases 3, 6 e 7 como efetoras ou executoras (vide revisão de GRIVICICH; REGNER; ROCHA, 2007; HUNTER; LACASSE; KORNELUK, 2007). Em camarões, genes codificantes tanto para caspases efetoras em Penaeus merguiensis (PHONGDARA; WANNA; CHOTIGEAT, 2006), P. monodon (WONGPRASERT; SANGSURIYA; PHONGDARA, 2007) e L. vannamei (RIJIRAVANICH; BROWDY; WITHYACHUMNARNKUL, 2008), quanto para uma caspase iniciadora em M. japonicus (WANG et al., 2008) já foram identificados e clonados, sendo que em todos esses peneídeos as caspases são induzidas pelas infecções com WSSV. 30 Um fato relevante a ser considerado é que a apoptose mostra-se apenas efetiva como resposta antiviral quando acionada em estágio precoce da infecção. Neste caso, ela pode limitar a produção de partículas virais e reduzir ou eliminar a propagação da progênie viral para outros tecidos. No entanto, muitos vírus conseguem retardar o processo apoptótico, matando as células apenas no final do ciclo infeccioso (vide revisão de ROULSTON; MARCELLUS; BRANTON, 1999). Este processo tardio é altamente indesejável, uma vez que vírus empacotados em corpos apoptóticos não são detectados pelo sistema imune do hospedeiro e acabam sendo fagocitados pelas células vizinhas, propagando assim a infecção viral em seu organismo (BARRACCO; PERAZZOLO; ROSA, 2008). Assim, muitos vírus desenvolveram este mecanismo, ao longo da evolução como forma de se evadir imunologicamente e garantir a sua replicação e patogenicidade no hospedeiro. Como exemplo desse fato, é comum os vírus produzirem proteínas antiapoptóticas de diferentes classes. No caso do WSSV, um gene codificante para uma proteína antiapoptótica denominada WSSV449 (ou ORF 390) já foi identificado em seu genoma, sendo considerada uma nova classe de genes de inibidores de apoptose (WANG et al., 2004). Em estudo posterior, LEU et al. (2008) mostraram que a WSSV449 recombinante era capaz de se ligar in vitro a uma caspase executora de P. monodon, inibindo a sua atividade pró-apoptótica e confirmando, assim, a atividade antiapoptótica dessa proteína viral. Sendo assim, estas proteínas virais antiapoptóticas conseguem retardar o processo apoptótico na célula infectada, em tempo hábil para impedir a progressão da infecção viral no hospedeiro. Por outro lado, o próprio hospedeiro possui reguladores intracelulares de apoptose, como os da família de proteínas IAP (do inglês, inhibitor of apoptosis proteins), em um processo natural para a regulação da apoptose celular. As IAPs são as únicas proteínas endógenas conhecidas capazes de regular tanto caspases ativas iniciadoras (caspase 9), quanto efetoras (caspases 3 e 7), inibindo assim a apoptose (LISTON; FONG; KORNELUK, 2003; HUNTER; LACASSE; KORNELUK, 2007). As primeiras IAPs foram originalmente descobertas como proteínas produzidas por alguns vírus de insetos, sendo hoje detectadas em diversas espécies de invertebrados e vertebrados (LISTON; FONG; KORNELUK, 2003). No caso dos crustáceos, muito recentemente foi identificado e clonado o gene codificante para uma IAP no camarão P. monodon (LEU et al., 2008). 31 Outro mecanismo antiviral importante dos vertebrados é o sistema interferon (IFN). Os interferons (IFNs) são citocinas que interferem na replicação viral e induzem um estado antiviral inespecífico no hospedeiro. Em mamíferos, as infecções virais induzem à produção de interferons que estimula a expressão de diversos genes implicados nas respostas antivirais inespecíficas. Um potente indutor do sistema IFN de vertebrados é o dsRNA, que como dito anteriormente, é produzido pela maioria dos vírus durante seu ciclo de replicação dentro do hospedeiro sendo, portanto, uma molécula diretamente associada às infecções virais (JACOBS e LANGLAND, 1996). Nos invertebrados, mais especificamente nos crustáceos, nenhuma molécula ou gene com homologia estrutural aos IFNs de mamíferos foi, até o momento, encontrada (ROSA e BARRACCO, 2008). Apesar disso, relatos recentes indicam a presença nestes animais de moléculas análogas, porém não homólogas aos IFNs de vertebrados, participando da defesa antiviral inespecífica dos crustáceos (vide revisões ROBALINO et al., 2007; LIU; SÖDERHÄLL; JIRAVANICHPAISAL, 2009). Robalino et al. (2004) demonstraram um estado antiviral inespecífico em L. vannamei injetados com um dsRNA de sequência inespecífica, sendo observado um aumento na sua resistência contra infecções posteriores por dois vírus não relacionados, o TSV e o WSSV, ou seja, muito semelhante ao estado antiviral induzido pelos IFNs dos mamíferos. Nesse estudo, camarões foram injetados com um oligonucleotídeo sintético denominado poly (C:G) (polycytidylicpolyguanylic acid), que mimetiza um dsRNA viral e desencadeia respostas antivirais inespecíficas. Os animais tratados tiveram um aumento significativo na sua resistência a infecções posteriores tanto por TSV, como por WSSV. Durante as infecções por vírus, as células dos mamíferos reconhecem dsRNA viral através de receptores celulares específicos do tipo TLRs (do inglês, Toll-like proteins), como o Toll-like 3 (TLR3) (ALEXOPOULOU et al., 2001) e os RLRs (do inglês, Retinoic acid – inducible gene (RIG)-I- like receptors) (SAITO e GALE Jr., 2008). A presença de receptores Toll em peneídeos já foi verificada nos hemócitos de L. vannamei (YANG et al., 2007), P. monodon (ARTS et al., 2007), M. japonicus (MEKATA et al., 2008), e F. chinensis (YANG et al., 2008). Aparentemente, os receptores Toll até agora identificados em camarões estão relacionados a respostas antibacterianas, uma vez que alguns autores observaram um aumento na expressão gênica destes receptores após injeção dos animais com peptidoglicanas (MEKATA et al., 2008), Vibrio anguillarum (YANG et al., 2008) e Vibrio harveyi 32 (WANG et al., 2010). Sendo assim, até o momento ainda não foi demonstrado um envolvimento de TLRs na resposta antiviral de camarões (ARTS et al., 2007; MEKATA et al., 2008; LABREUCHE et al., 2009; WANG et al., 2010). Apesar disto, pode-se supor que devam existir outras famílias de receptores Toll ainda não detectadas nos peneídeos (LABREUCHE et al., 2009) e que se relacionem às respostas antivirais. Além de induzir o sistema IFN e a apoptose em vertebrados, o padrão molecular dsRNA viral é também capaz de ativar o mecanismo de silenciamento pós-transcricional de genes, conhecido por RNA de interferência (RNAi) (HANNON, 2002; ROBALINO et al., 2007). Neste processo, o dsRNA desencadeia a destruição do RNA mensageiro (RNAm) homólogo à sua própria sequência. O RNAi representa um mecanismo de defesa natural contra vírus e transposons presentes nos mais diferentes seres vivos, desde plantas até mamíferos (vide revisões de HANNON, 2002; ALIYARI e DING, 2009). Muitos transposons e vírus produzem RNA de dupla fita (dsRNA), pelo menos transitoriamente em seus ciclos celulares, e o RNAi auxilia a manter sob controle esses invasores potencialmente perigosos. Este sistema foi inicialmente observado em plantas (NAPOLI; LEMIEUX; JORGENSEN, 1990; VAN DER KROL et al., 1990) e a primeira descrição em animais ocorreu em 1998 no nematódeo Caenorhabditis elegans (FIRE et al., 1998), sendo posteriormente identificado em uma ampla variedade de organismos. A ativação deste sistema inicia-se pelo processamento de precursores longos de dsRNA em RNAs pequenos (21-25 pb), chamados small interference RNAs ou siRNAs, pela ação de um complexo proteico contendo a enzima DICER, que são endoribonucleases do tipo II que clivam especificamente dsRNA ou regiões de grampo de RNAs de fita simples (vide revisão de ALIYARI e DING, 2009). Os siRNAs resultantes são então incorporados a um complexo multiproteico de silenciamento induzido por RNA (RISC do inglês, RNA-induced silencing complex), que conduzirá à degradação específica ou à repressão da tradução de RNAm com regiões complementares à sequência do dsRNA desencadeante (vide revisão de ROBALINO et al., 2007). De forma resumida, após a associação dos siRNAs ao RISC, as fitas de siRNA são separadas, e a fita antisenso é então utilizada como molde pelo RISC para encontrar e degradar os RNAms alvos, que possuem sequências de nucleotídeos complementares. Em última análise, a degradação do RNAm impossibilita que a proteína correspondente seja traduzida (GELEY e 33 MULLER, 2004; WADHWA et al., 2004). Desta forma, o mecanismo RNAi é atualmente utilizado como ferramenta em estudos que visem desativar a expressão pós-transcricional de genes específicos, como àqueles codificantes para proteínas virais em camarões, limitando ou impedindo assim o processo infeccioso (ROBALINO et al., 2005; TIRASOPHON; ROSHORM; PANYIM, 2005; YODMUANG et al., 2006; KIM et al., 2007; TIRASOPHON et al., 2007; ASSAVALAPSAKUL; CHINNIRUNVONG; PANYIM, 2009). Diferentemente do sistema IFN que é induzido por qualquer sequência de dsRNA, ou seja, de maneira sequência-inespecífica, a proteção antiviral baseada no sistema RNAi é sequência-específica. Interessantemente, destruindo grande parte do RNA alvo contido na célula e, interrompendo temporariamente a síntese proteica correspondente, a célula do hospedeiro inibe a replicação viral sem matar a si mesma, o que é altamente vantajoso para o hospedeiro. Dentre as proteínas-chave do sistema do RNAi destaca-se a família das argonautas que são componentes fundamentais do complexo de silenciamento multiproteico induzido por RNA ou RISC (HAMMOND et al., 2001). A estrutura destas proteínas é constituída por um domínio N-terminal PAZ, que participa do reconhecimento dos siRNA, e um domínio C-terminal PIWI, com atividade de RNase e que a caracteriza como uma proteína slicer do RISC (vide revisão PARKER e BARFORD, 2006). Todos os complexos RISC caracterizados até o momento possuem pelo menos uma proteína da família argonauta, como componente (HAMMOND et al., 2001; HUTVAGNER e ZAMORE, 2002; MARTINEZ et al., 2002; MOURELATOS et al., 2002; VERDEL et al., 2004). Em Drosophila, cinco genes codificantes para argonauta foram identificados e classificados em duas subfamílas: AGO e PIWI (vide revisão KIM; HAN; SIOMI, 2009). Em camarões, as principais proteínas envolvidas na via de RNAi, como a DICER (SU et al., 2008) e a argonauta, já foram identificadas em P. monodon (UNAJAK; BOONSAENG; JITRAPAKDEE, 2006; DECHKLAR; UDOMKIT; PANYIM, 2008). No caso da argonauta, devido às características altamente conservadas dos domínios PAZ e PIWI, os autores sugerem que esta proteína seja da subfamília AGO (AGO1), estando envolvida no mecanismo de RNAi em camarões (UNAJAK; BOONSAENG; JITRAPAKDEE, 2006; DECHKLAR; UDOMKIT; PANYIM, 2008). Um mecanismo antiviral específico induzido via RNAi foi demonstrado em L. vannamei, a partir de injeções prévias nos animais com sequências de dsRNA correspondentes a proteínas estruturais de 34 WSSV ou TSV (ROBALINO et al., 2005), onde a infecção subsequente dos animais pelos respectivos vírus foi grandemente limitada. Após esse primeiro relato, outros trabalhos se seguiram utilizando a técnica de RNAi como uma terapia alternativa contra infecções virais em camarões. Em P. monodon, sequências específicas de dsRNA foram também capazes de suprimir a replicação in vivo do YHV (YODMUANG et al., 2006), como in vitro (cultura primária de células) (TIRASOPHON; ROSHORM; PANYIM, 2005). Ainda no caso do WSSV, a replicação pôde ser eficientemente limitada em F. chinensis por injeções com dsRNA correspondentes aos genes das proteínas virais vp28, vp281 e proteína quinase (KIM et al., 2007). Alguns estudos também indicam que pequenos RNAi (siRNA) também sejam capazes de induzir a proteção antiviral contra o WSSV em P. monodon (WESTENBERG et al., 2005), L. vannamei (WU et al., 2007) e M. japonicus (XU; HAN; ZHANG, 2007). No entanto, os resultados obtidos em camarões utilizando siRNA de genes virais parecem não ser tão efetivos quanto aqueles com dsRNA, que possui uma sequência longa. Aparentemente, esse fato está associado a diferenças nos genes virais e aos fragmentos gênicos selecionados para a sua síntese (vide revisão de SHEKHAR e LU, 2009). No caso do dsRNA de sequência específica, além de atuar na prevenção contra a infecção por vírus, um efeito terapêutico do mesmo já foi demonstrado com sucesso em L. vannamei (ASSAVALAPSAKUL; CHINNIRUNVONG; PANYIM, 2009), e P. monodon (TIRASOPHON et al., 2007). Em ambos os trabalhos, os animais primeiramente desafiados com YHV e posteriormente injetados com um dsRNA sequencia específica, mostraram uma forte inibição da replicação viral, e consequentemente, elevadas taxas de sobrevivência. Estes trabalhos indicam que a técnica do RNAi pode ser utilizada tanto para fins profiláticos, prevenindo uma infecção viral, quanto para fins terapêuticos, reduzindo/eliminando a infecção em animais já infectados. Dessa forma, a utilização da técnica de RNAi vem despontando no cenário científico internacional como uma ferramenta promissora e efetiva para o controle de viroses em camarões cultivados (LIU; SÖDERHÄLL; JIRAVANICHPAISAL, 2009), e constitui atualmente uma das áreas de estudo mais ativas da biologia (ZERBINI, ALFENAS; ANDRADE, 2005). No caso de humanos, o uso da técnica do RNAi para inibir a replicação de alguns vírus patogênicos já está bem documentada, como para o vírus da pólio (GITLIN; KARELSKY; ANDINO, 2002), vírus da imunodeficiência adquirida HIV-1 (NOVINA et al., 2002), vírus da hepatite C (RANDALL; GRAKOUI; RICE, 2003) 35 e hepatite B (GILADI et al., 2003). No entanto, os estudos sobre uma possível utilização dessa técnica dentro da carcinicultura são ainda muito recentes, sendo necessários ainda muitos estudos para viabilizar a sua utilização prática como terapia antiviral em camarões. Para isso, o conhecimento sobre os mecanismos moleculares envolvendo respostas antivirais dos crustáceos é fundamental e estudos que abordem a modulação da expressão gênica de proteínas imunológicas durante o processo infeccioso são extremamente relevantes. Diferentes estudos têm sido publicados na última década, referentes à expressão gênica de PRPs (ROUX et al., 2002; CHENG et al., 2005; WANG; CHANG; CHEN, 2007; YEH et al., 2009), de PAMs (DESTOUMIEUX et al., 2000; SOMBOONWIWAT et al., 2006 ; de LORGERIL et al., 2008), e de proteínas imunoefetoras e/ou imunoreguladoras nos crustáceos (TONGANUNT et al., 2005; LIN et al., 2007a,b; OKUMURA, 2007; VASEEHARAN et al., 2007; ZHAO et al., 2007; AI et al., 2008). Estes estudos utilizam técnicas que envolvem basicamente a identificação das sequências gênicas e a quantificação da expressão gênica de diferentes moléculas imunológicas e que incluem, basicamente, a técnica da reação em cadeia da polimerase (análises semiquantitativas por PCR convencional e quantitativas por PCR em Tempo Real). Dentre as metodologias mais recentemente desenvolvidas, destaca-se a técnica da PCR em Tempo Real ou PCR quantitativo (qPCR), que detecta e quantifica, em tempo real, a amplificação de ácidos nucleicos através da leitura do aumento da fluorescência do fluoróforo utilizado. Por outro lado, na PCR tradicional (RT-PCR) os produtos precisam ser posteriormente analisados por eletroforese (DURAND e LIGHTNER, 2002). Apesar de sensível e confiável, o uso da PCR em Tempo Real ainda é cara e requer equipamentos específicos, limitando o seu uso rotineiro em muitos laboratórios (MARIN et al., 2002). Nesse sentido, metodologias alternativas menos onerosas podem, de maneira semelhante, fornecer informações sobre a quantificação relativa da expressão de genes, como é o caso da PCR semiquantitativa (MARIN et al., 2002). Embora a PCR semiquantitativa não permita uma quantificação absoluta, é possível inferir o número de moléculas amplificadas em cada genoma, se o seu produto for avaliado na fase exponencial da amplificação, onde o número de cópias de um fragmento está em função da sua quantidade inicial. Assim, ao contrário da PCR em Tempo Real, a PCR semiquantitativa possui a necessidade do conhecimento prévio da cinética da reação, uma vez que é preciso 36 determinar o tempo ideal de reação no qual os produtos da PCR correspondem à fase exponencial, em que as estimativas podem ser mais acuradas (MARTINS, 2006). Recentemente, diversos estudos envolvendo análises de expressão de diferentes genes imunológicos em camarões têm sido realizados utilizando a técnica da PCR em Tempo Real (ROUX et al., 2002; TONGANUNT et al., 2005; BURGE et al., 2007; OKUMURA, 2007), e da PCR semiquantitativa (JIRAVANICHPAISAL et al., 2007; ZHAO et al., 2007; WANG; CHANG; CHEN, 2007) para avaliar os mecanismos de suscetibilidade e resistência de camarões frente às infecções. Além disso, essas técnicas podem fornecer informações sobre o estado de saúde dos crustáceos cultivados bem como dos mecanismos envolvidos na interação patógeno-hospedeiro. Embora nos crustáceos existam vários relatos de expressão gênica em animais submetidos à infecção viral, não há na literatura, que seja do nosso conhecimento, estudos sobre a modulação gênica em camarões infectados por WSSV, previamente induzidos a uma proteção antiviral específica, através do sistema de RNAi. Neste sentido, o presente trabalho avaliou a expressão gênica de algumas proteínas associadas ao sistema imune de L. vannamei cultivados em Santa Catarina, previamente induzidos a uma proteção antiviral via RNAi e, posteriormente, desafiados com o WSSV, através da técnica da PCR semiquantitativa. O artigo resultante deste trabalho será submetido à publicação na revista Fish and Shellfish Immunology. 37 OBJETIVOS Objetivo Geral Avaliar a expressão gênica de algumas proteínas associadas ao sistema imune de camarões Litopenaeus vannamei induzidos a uma proteção antiviral específica (sistema RNAi) e, infectados experimentalmente com o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV). Objetivos Específicos Avaliar a expressão semiquantitativa das proteínas: argonauta, caspase-3, α2M, ALF, LGBP, proPO e TGase em camarões tratados com dsRNA da proteína vp28 WSSV e posteriormente desafiados com o WSSV; Determinar a quantidade de hemócitos circulantes na hemolinfa de camarões infectados ou não com o WSSV após ativação do sistema de RNAi; Avaliar a proteção antiviral conferida pelo tratamento com dsRNA vp28, a partir da avaliação da taxa de mortalidade dos animais. 38 Técnica de RNAi induzindo uma defesa antiviral em Litopenaeus vannamei contra o WSSV e a modulação da expressão de alguns genes imunológicos Cristhiane Guertlera, Claudio Humberto Mejía-Ruízb, Margherita A. Barraccoa, Luciane Maria Perazzoloa* a Laboratório de Imunologia Aplicada à Aquicultura, Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética, Universidade Federal de Santa Catarina, SC, 88.040-900, Brasil;bCentro de Investigaciones Biológicas del Noroeste, S.C. Mar Bermejo no. 195, Colonia Playa Palo de Santa Rita. Código Postal 23090, La Paz, México A proteção antiviral específica contra o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV) induzida via RNA de interferência (RNAi) e sua influência na expressão de alguns genes imunológicos foram avaliados em Litopenaeus vannamei. Os animais foram injetados com dsRNA de sequência específica (vp28 do envelope viral), e posteriormente desafiados com o WSSV. Camarões tratados com dsRNA vp28 tiveram a infecção viral limitada, uma alta taxa de sobrevivência (73%) e ausência do vírus em 80% dos sobreviventes, confirmando a ativação do mecanismo antiviral específico via RNAi. Animais desafiados e não tratados com dsRNA vp28 tiveram uma queda significativa no hemograma (85%) e depleção gênica da argonauta, caspase-3, fator antilipopolissacarídeo (ALF), pró-fenoloxidase (proPO) e transglutaminase (TGase). Uma superexpressão gênica da proteína que reconhece LPS e β-1,3-glicanas (LGBP) e do inibidor de proteases α2macroglobulina (α2M) foi verificada nesses animais, indicando o envolvimento destas proteínas na fase aguda da infecção por WSSV. O tratamento com dsRNA vp28 limitou a infecção e restabeleceu as condições imunológicas gerais dos animais através do aumento do hemograma e da modulação positiva dos genes argonauta, ALF, proPO e TGase, sugerindo a participação destas proteínas na defesa do organismo contra o WSSV. Os resultados deste estudo apontam para uma potencial utilização do dsRNA vp28 como agente terapêutico antiWSSV e confirmam que a técnica de RNAi é uma abordagem preventiva promissora e efetiva para o controle das viroses de crustáceos. Palavras-chave: Litopenaeus vannamei, imunologia de crustáceos, WSSV, RNA de interferência, dsRNA vp28, expressão gênica. 39 1. INTRODUÇÃO As infecções virais representam, na atualidade, a maior ameaça para o sucesso e sustentabilidade do cultivo de camarões a nível mundial. O vírus da síndrome da mancha branca (WSSV) é o agente etiológico da virose mais avassaladora da história da carcinicultura em todo o mundo [1-3], sendo responsável por mortalidades que podem chegar a 100% poucos dias depois de detectados os sinais clínicos nos animais [4,5]. As perdas mundiais na produção advindas dessa virose contabilizam cifras superiores a 10 bilhões de dólares, desde a sua detecção em 1992 [6], o que tornou o controle das viroses em camarões uma prioridade a nível mundial. No Brasil, a doença foi diagnosticada em 2005, em cultivos de Litopenaeus vannamei no Sul do país, onde causou perdas econômicas importantes ao setor, na ordem de mais de 6 milhões de reais [7]. Os crustáceos, como todos os invertebrados, possuem apenas um sistema imune inato capaz de protegê-los contra patógenos invasores [8] e a ausência de um sistema imune adaptativo impossibilita o desenvolvimento de vacinas, capazes de proteger especificamente e a longo prazo, limitando assim de maneira significativa os meios de prevenção e controle das doenças infecciosas [9]. Torna-se, portanto imperativo a busca de estratégias alternativas para limitar e/ou impedir as infecções virais, visando minimizar as enormes perdas na atividade. As respostas inatas dos crustáceos estão intimamente ligadas à sua hemolinfa, por onde circulam as suas células imunocompetentes ou hemócitos, e no qual estão dissolvidos os fatores humorais. Os seus principais mecanismos de defesa incluem a coagulação da hemolinfa; a melanização mediada pelo sistema de ativação da pró-fenoloxidase (proPO); o reconhecimento e aglutinação celular mediada por lectinas, os sistemas antibacterianos, antifúngicos e antivirais mediados por peptídeos, RNA de interferência e por proteínas de reconhecimento padrão; a produção de espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio; e o sistema fagocítico e de encapsulamento [10]. Um primeiro e essencial passo no processo de defesa desses animais é o reconhecimento dos patógenos invasores pelas proteínas de reconhecimento padrão (PRPs). As PRPs são produzidas pelo hospedeiro que reconhecem e se ligam a padrões moleculares exclusivos dos patógenos (PAMPs), tais como os lipopolissacarídeos (LPS) da parede das bactérias Gram-negativas, as peptidoglicanas (PGs) das bactérias Gram-positivas, as β-1,3-glicanas da parede de fungos e o 40 dsRNA (do inglês, double-stranded RNA) produzido durante a replicação de vários vírus de DNA e RNA [11]. Uma vez que os PAMPS sejam reconhecidos por suas respectivas PRPs, essas se ligam aos hemócitos ativando-os e promovendo uma degranulação e/ou exocitose reguladas, liberando assim várias moléculas imunoefetoras e imunoreguladoras, além de ativar cascatas de sinalização intracelular que podem modular a expressão de vários genes [12]. Uma importante PRP em crustáceos é a proteina que reconhece ambos LPS e β-1,3-glicanas (LGBP), produzida pelos hemócitos [1315] e/ou hepatopâncreas [16,14], e sendo considerada uma proteína induzível de fase aguda de infecções bacterianas e virais [16]. Em peneídeos, o gene da LGBP foi identificado em Litopenaeus stylirostris [16], L. vannamei [14] e Fenneropenaeus chinensis [15] sendo que análises de expressão diferencial demonstraram a modulação de seu gene codificante em animais infectados pelo WSSV [16-18]. O mecanismo de reconhecimento do não-próprio mais importante dos crustáceos é o sistema de ativação da pró-fenoloxidase (proPO), que consiste em uma cascata proteolítica composta por vários zimógenos de proteases, pela proPO, além das PRPs e moléculas associadas e cujo produto final é a melanina [11]. Esse sistema é ativado por componentes da superfície de micro-organismos (PAMPs), que induzem a degranulação ou exocitose regulada dos hemócitos, com liberação de várias moléculas imunoefetoras, entre as quais as moléculas do sistema proPO. Uma vez liberadas, ocorre a ativação deste sistema pelos próprios componentes dos micro-organismos presentes na hemocele [8]. A enzima chave deste processo é a fenoloxidase (PO), que se encontra armazenada nos grânulos dos hemócitos sob a forma inativa proPO [8], sendo que sua a expressão gênica pode ser modulada negativamente durante infecções por WSSV em peneídeos [16,18,19]. Para evitar uma ativação descontrolada e generalizada do sistema proPO, os crustáceos contam ainda com uma variedade de inibidores de proteases dissolvidos no seu plasma, que contribuem para a manutenção da homeostase, minimizando a citotoxidade dos produtos intermediários gerados durante o processo de melanização, tais como as quinonas/hemiquinonas e os radicais livres. Dentre esses inibidores, destacam-se a pacifastina [20], os inibidores da família Kazal [21,22], a serpina [23] e a α2-macroglobulina (α2M) [24]. A α2M é uma glicoproteína plasmática sintetizada pelos hemócitos [25,26] que atua como um inibidor de proteases de amplo espectro (serino, aspartato, cisteína e metalo-proteases), inibindo tanto proteases endógenas do 41 hospedeiro, como aquelas exógenas, produzidas pelo patógeno durante o processo infeccioso [27]. Os hemócitos de crustáceos produzem ainda diferentes proteínas e/ou peptídeos antimicrobianos (PAMs), como as peneidinas [28], as crustinas [25,29] e os fatores antilipopolissacarídeos (ALFs) [25,30]. Os ALFs incluem várias isoformas e possuem atividade contra bactérias Gram-positivas, Gram-negativas e/ou fungos filamentosos [31,32], participando também na limitação de infecções por WSSV no lagostim Pacifastacus leniusculus [33,34]. Além disso, a disseminação dos patógenos pela cavidade corpórea do crustáceo e a perda da hemolinfa durante injúrias podem ser prevenidas pela coagulação da hemolinfa, mecanismo esse mediado pela enzima transglutaminase (TGase) [35]. TGases são Ca2+ dependentes que promovem ligações covalentes γ-glutamil-ε-lisina entre as proteínas de coagulação da hemolinfa, formando coágulos estáveis [35,36] que retém os micro-organismos e/ou vedam tecidos injuriados dos camarões. Alguns estudos apontam para uma diminuição da expressão da TGase [37], bem como um aumento no tempo de coagulação da hemolinfa [3840] em camarões infectados pelo WSSV. Em relação aos mecanismos antivirais atualmente conhecidos nos crustáceos podemos citar a apoptose celular, o sistema de RNA de interferência (RNAi) e um sistema semelhante ao interferon (IFN) dos vertebrados [41,42]. A apoptose é um processo fisiológico geneticamente controlado que leva as células à autodestruição silenciosa, sendo estimulada por vários agentes, dentre eles uma infecção viral [43]. Em crustáceos, os mecanismos de regulação das vias apoptóticas, bem como os indutores e os inibidores de tais vias, não são ainda completamente conhecidos e compreendidos [44]. A apoptose, de maneira geral, é mediada por proteases da família das caspases, que desencadeiam a morte celular através da clivagem de proteínas específicas do núcleo e citoplasma, sendo classificadas como iniciadoras (caspases 2, 8, 9 e 10) ou efetoras (caspases 3, 6 e 7) [45]. Em camarões, caspases executoras (caspase-3) foram identificadas e clonadas em Penaeus merguiensis [46], Penaeus monodon [47] e L. vannamei [48], assim como uma caspase iniciadora em Marsupenaeus japonicus [49]. Foi mostrado que a infecção por WSSV pode levar a um aumento da expressão da caspase-3 em peneídeos, sugerindo que a apoptose seja um importante mecanismo antiviral nesses animais, embora alguns estudos contestem essa hipótese [50,51]. Outro mecanismo antiviral recentemente demonstrado em crustáceos, é o sistema de RNAi [41]. O RNAi é um mecanismo ligado 42 ao sistema imune inato de diferentes seres vivos, desde plantas até mamíferos, que atua de maneira específica contra vírus e transposons [52]. A ativação deste mecanismo inicia-se pelo processamento de precursores longos de dsRNA em RNAs pequenos de 21-25 pb (small interference RNAs ou siRNAs) pelo complexo enzimático DICER [53]. Estes pequenos RNAs fornecem as sequências específicas para um complexo de silenciamento multiproteico induzido por RNA (RISC), que dirige uma degradação específica, ou a repressão da tradução do RNAm com regiões complementares à sequência do dsRNA desencadeante [41]. Dentre as proteínas do sistema de RNAi destaca-se a família das argonautas, que devido a sua estrutura e função são conhecidas como a proteína slicer do RISC [54,55]. Em camarões, uma argonauta (AGO 1) já foi identificada em P. monodon [56,57]. Desde o primeiro relato de indução do sistema RNAi em camarões utilizado para bloquear especificamente a replicação do WSSV [58], diversos estudos se seguiram utilizando esta técnica para limitar diferentes infecções virais, a partir de injeções de sequências de dsRNA específicas a proteínas estruturais dos vírus [59]. No caso do WSSV, a replicação pode ser eficientemente suprimida por injeções com sequências de dsRNA ou siRNA correspondentes aos genes das proteínas virais vp19, vp28, vp281 e proteína quinase [58,60-62]. Dentre essas, a vp28 é a proteína mais abundante do envelope viral, estando particularmente envolvida na adesão do WSSV às células do hospedeiro [63], sendo, portanto, fundamental ao sucesso do processo infeccioso. Este fato faz da sequência da vp28 uma das melhores candidatas para a produção de dsRNAs visando ativar via RNAi o sistema antiviral em crustáceos, contra o WSSV. Embora a aplicação prática da tecnologia de RNAi ainda seja economicamente inviável na carcinicultura, o uso desta técnica representa atualmente uma ferramenta promissora e efetiva para o controle de viroses em crustáceos cultivados [42]. Sendo assim, o presente trabalho avaliou a indução da defesa antiviral contra o WSSV em L. vannamei, após a injeção de um dsRNA vp28 e relata, pela primeira vez, a modulação da expressão de genes imunológicos (argonauta, caspase-3, ALF, α2M, LGBP, proPO e TGase) nos camarões onde a proteção antiviral foi induzida via RNAi. 43 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Animais Foram utilizados camarões juvenis (n=145, 12 ±1,5g), da espécie Litopenaeus vannamei, em período de intermuda adquiridos da fazenda experimental Yakult/UFSC (Balneário Barra do Sul, Santa Catarina). Os animais foram transportados para o Instituto Federal Catarinense (Campus Araquari, Santa Catarina) e mantidos em tanques de 50L contendo água salgada filtrada e aeração constante, a uma taxa de estocagem de 15 animais por tanque e alimentados uma vez ao dia com ração comercial. A qualidade da água dos aquários foi monitorada diariamente, sendo que foram analisados salinidade, temperatura, pH e oxigênio dissolvido. Aproximadamente 50% da água dos aquários foi renovada diariamente 2.2. Preparo do inóculo viral A solução de inóculo de WSSV foi preparada segundo metodologia adaptada de Prior et al. [64]. Brevemente, o tecido muscular de camarões mortos e congelados e diagnosticados com WSSV por amplificação viral (item 2.5) foi homogeneizado em tampão salina gelado (NaCl 330mM, Tris 10 mM, pH 7,4) (1:10 p/v) e em seguida centrifugado a 2.000 xg, por 20 min a 4°C. O sobrenadante foi recuperado e centrifugado a 9.000 xg, por 10 min a 4°C, para em seguida ser filtrado (0,45 µm) e armazenado em nitrogênio líquido. Simultaneamente, um inóculo livre de WSSV foi preparado seguindo a mesma metodologia, utilizando músculo de animais diagnosticados como WSSV negativo. Em seguida, o poder infectante do inóculo viral foi verificado por meio da injeção intramuscular do inóculo puro (não diluído) (50 µl entre o 1° e 2° segmentos dorsais) em 20 camarões diagnosticados negativos para o WSSV, por PCR (item 2.5). Durante todo o período o comportamento dos animais foi observado, e a mortalidade de 100% foi registrada cinco dias após a injeção do inóculo. Tecidos de todos os animais mortos foram coletados para verificar a presença do WSSV (item 2.5.). O inóculo foi então mantido em nitrogênio líquido, até ser utilizado no experimento definitivo (item 2.4). 44 2.3. Síntese do dsRNA vp28 O RNA dupla fita correspondente ao gene codificante da proteína vp28 do WSSV foi sintetizado conforme protocolo preconizado pelo kit BLOCK-It RNAi TOPO (Invitrogen, USA). Brevemente, a sequência gênica correspondente à proteína vp28 foi amplificada por PCR (fragmento 610pb) utilizando-se os iniciadores VP28F3: 5’ATGGATCTTTCTTTC3’ e VP28R3: 5’TTACTCGGTCTCAG3’ sob condições de 94°C por 4 min, seguido por 33 ciclos (94°C por 1 min, 58°C por 1 min e 72°C por 1 min), e 72°C por 7 min. Em seguida, o produto amplificado foi ligado ao promotor T7 em ambos extremos durante 15 min a 37 ºC, e após, foi realizada a amplificação deste produto para produzir separadamente as fitas senso e antisenso do DNA complementar. Essas amostras foram, então, submetidas a uma reação de transcrição para produção das sequências do RNA senso e antisenso correspondente, utilizando NTPs (15 mM) e a enzima BLOCK-It Mix. Após tratamento das amostras com DNase (1U/µl), foi realizada a purificação em colunas de membrana de sílica e quantificação a A260nm (Biowave II – WPA) das amostras. Em seguida, quantidades equimolares de RNA senso e antisenso foram hibridizadas (2h a uma temperatura decrescente de 100°C a 20°C) para formar o RNA dupla fita denominado aqui de dsRNA vp28. A qualidade do dsRNA vp28 formado foi então avaliada por análise em gel de agarose (1%) e a concentração mensurada espectrofotometricamente (A260nm) (Biowave II – WPA). 2.4. Ativação do sistema de RNA de interferência em L. vannamei injeção com dsRNA vp28 e infecção experimental com WSSV Antes do início do experimento a hemolinfa de 15% dos animais foi coletada para verificar a presença do WSSV. Somente animais diagnosticados como negativos para WSSV foram utilizados no experimento. Os animais foram então aleatoriamente separados em três grupos experimentais, em triplicata: G1: injetados com tampão (NaCl 330 mM, Tris 10 mM, pH 7,4) e posteriormente injetados com inóculo puro de tecido de camarão livre de WSSV (controle negativo); G2: injetados com tampão e infectados com inóculo positivo puro de WSSV (controle WSSV+) e G3: injetados com dsRNA vp28 e posteriormente infectados com inóculo positivo puro de WSSV. 45 Para induzir à proteção antiviral específica, ou seja, ativar o sistema RNAi, os animais do grupo G3 foram previamente injetados (50µl) intramuscularmente, com 1µg dsRNA vp28 a cada 3g de peso vivo, entre o primeiro segmento abdominal e o cefalotórax, na região dorsal. Os animais dos grupos G1 e G2 foram injetados apenas com tampão. Após 48 horas dessa injeção, os animais G2 e G3 foram então infectados com inóculo positivo WSSV (50µl) entre o primeiro segmento abdominal e o cefalotórax, na região dorsal do animal. Da mesma forma, os camarões do grupo controle, G1, foram injetados com o mesmo volume do inóculo livre de WSSV. O esquema explicativo do desenho experimental está representado na Figura 1. Os camarões foram mantidos no sistema por 30 dias, sendo que a coleta de hemolinfa foi feita 6h após injeção do dsRNA vp28 (coleta apenas para o grupo G3) (1ª coleta), 0h (momento antes da injeção do inóculo viral- 2ª coleta) e 3h, 6h, 24h, 48h e 72h após a injeção do inóculo viral (3ª a 7ª coletas em todos os grupos) (Figura 1). A primeira coleta (6h após injeção do dsRNA vp28) teve por objetivo avaliar uma potencial resposta antiviral antes do inóculo com o WSSV (que ocorreu 48h após), através da avaliação dos hemogramas e da modulação na expressão dos genes imunológicos em questão. As coletas posteriores (3, 6, 24, 48 e 72 h após o inóculo viral), tiveram por objetivo avaliar uma proteção antiviral específica nos animais injetados com dsRNA vp28 e inoculados com WSSV, igualmente através de hemogramas e da expressão de genes imunológicos. A porcentagem da mortalidade dos animais sobreviventes foi monitorada diariamente, durante os 30 dias que se seguiram a partir do desafio com WSSV, a fim de avaliar a proteção antiviral específica dos camarões pelo dsRNA vp28. 46 d sRNA VP28 Inoculação WSSV -/+ 48h 6h 0h 1ª coleta 2ª coleta Pré-infecção com WSSV 3h 6h 3ª coleta 4ª coleta 24h 5ª coleta 48h 6ª coleta 72h 7ª co leta Pós-infecção com WSSV Figura 1: Esquema explicativo do desenho experimental. No período de pré-infecção, os animais foram injetados com tampão salina (G1 e G2) ou com dsRNA vp28 (G3) e, após 48h, infectados (G2 e G3) ou não (G1) com WSSV. As coletas de hemolinfa ocorreram 6h após injeção com dsRNA vp28 (G3); e 0, 3, 6, 24, 48 e 72h após a infecção com WSSV negativo (G1) ou positivo (G2). 2.5. Detecção da infecção dos camarões por WSSV A extração do DNA genômico de pléopodes e/ou hemócitos fixados em etanol 70% foi realizada em DNAzol (Invitrogen). Brevemente, tecido de pléopodes lavados em água livre de RNAse foram submetidos a digestão com proteinase K (concentração final 100 µg/ml) diluída em tampão de lise (100 mM Tris-HCl, 10 mM NaCl, 50 mM EDTA), e em presença de SDS (concentração final a 1%). A mistura foi então incubada overnigth a 65°C, e o DNA extraído com DNAzol (1ml/100mg tecido). Após centrifugação (10.000 xg por 10 min a 4°C), o sobrenadante (DNA) foi precipitado com etanol 100%. No caso dos hemócitos, após lavagens com Tris 10 mM (pH 7,5), os mesmos foram submetidos à extração por DNAzol (1ml/pellet) e precipitação do DNA por isopropanol (400µl). Finalmente, ambos os DNAs dos pleópodes e hemócitos foram lavados com etanol 75%, secos a temperatura ambiente e solubilizados em NaOH 8 mM (200µl). A pureza das amostras foi avaliada em espectrofotômetro (A260/280nm) (Biowave II - WPA) e a integridade do DNA foi verificada através da amplificação do gene da proteína constitutiva actina (fragmento de 800 pb), utilizando os iniciadores AV1Fw: 5'TAATCCACATCTGCTGGAAGGTGG3' e AV2Rw: 5'TCACCAACTGGGATGACATGG3' sob as condições de PCR de 47 94°C por 5 min, seguido por 30 ciclos (94°C por 1 min, 55°C por 1 min e 72°C por 1 min), e 72°C durante 10 min. A amplificação das sequências de DNA correspondentes ao WSSV foi realizada através da Reação em Cadeia da Polimerase em dois passos (nested PCR), utilizando-se os iniciadores recomendados pela OIE: WSSV146Fw1: 5’ACTACTAACTTCAGCCTATCTAG3’; WSSV146Rv1:5’TAATGCGGGTGTAATGTTCTTACG3’ (fragmento 1447pb); e WSSV146Fw2: 5’GTAACTGCCCCTTCCATCTCCA3’; WSSV146Rv2: 5’TACGGCAGCTGCTGCACCTTGT3’ (fragmento 941pb). As condições de PCR para WSSV146 foram 94°C por 4 min, 55°C por 1 min, 72°C por 2 min, seguido por 39 ciclos (94°C por 1 min, 55°C por 1 min e 72°C por 2 min), e 72°C durante 5 min. A confirmação ou não da presença de sequências gênicas referentes ao vírus nos animais analisados foi confirmada através da visualização em fotodocumentador (UV) dos fragmentos de tamanho esperado em gel de agarose (1%) corado com brometo de etídeo (0,5µg/ml). Além da análise por PCR convencional, a presença do vírus também foi investigada nos animais do grupo G3 por uma PCR em Tempo Real (GE HealthcareTM). Para tanto, utilizou-se o kit DyNAmoTM SYBR® Green qPCR (Finnzymes), a partir de 100ng (1µl) de DNA genômico em um volume final de reação de 20 µl. Os iniciadores utilizados referem-se a uma sequência da proteína do envelope viral vp19: VP19Fw: 5’ATGGCCACCACGACTAACACT3’; VP19Rv: 5’CTGCCTCCTCTTGGGGTA3’ (fragmento 375 pb). As condições da reação para esses iniciadores foram 95°C durante 10 min, seguidos por 40 ciclos de 95°C por 20s, 58°C por 20s e 72°C por 20s. Todas as amostras foram analisadas em duplicatas. 2.6. Extração de hemolinfa A hemolinfa foi coletada diretamente dentro de uma solução anticoagulante MAS (Solução de Alsever Modificada) (336 mM NaCl, 115 mM glicose, 27 mM citrato de sódio, 9 mM EDTA, pH 7,2) (1:2), na região ventral do abdômen, utilizando-se seringa (1ml) com agulha (13 x 0,4 mm) que foi inserida entre o último esternito cefalotorácico e o primeiro abdominal. Uma alíquota de hemolinfa total foi separada e armazenada em formol MAS 4% (1:3) para posterior contagem total de hemócitos. O restante da mistura foi centrifugada a 800 xg por 10 min a 4°C, o sobrenadante descartado e o pellet celular ressuspendido e 48 armazenado em Trizol® (Invitrogen®) até a posterior extração dos RNA totais. Conforme descrito anteriormente, a extração de hemolinfa foi feita em diferentes tempos: 6h após a injeção do dsRNA vp28 (G3), e nos tempos 0h, 3h, 6h, 24h, 48h e 72h (G1, G2 e G3). Cada coleta representou 3 pools de 3 animais para cada grupo experimental. 2.7. Contagem total de hemócitos (CTH) A hemolinfa de cada pool/grupo/coleta foi extraída e armazenada em formol MAS 4% a uma diluição conhecida, sendo a contagem total de hemócitos (CTH) por mL estimada em câmara de Neubauer, de modo semelhante à realizada para glóbulos brancos [65]. 2.8. Extração dos RNA totais e síntese do cDNA Os RNAs totais foram extraídos dos hemócitos em Trizol (Invitrogen®) de acordo com instruções do fabricante: os hemócitos armazenados no reagente foram homogeneizados e submetidos à extração por clorofórmio (5:1 Trizol/clorofórmio), e após centifugação (12.000 xg 15min 4ºC), o RNA obtido foi precipitado em isopropanol (2:1 Trizol/isopropanol) e lavado com etanol 75%. O pellet de RNA precipitado foi então ressuspendido em água livre de RNase e as amostras tratadas com Dnase I (Fermentas 1U/µl) e a mistura incubada por 15 min a 20°C. Após a inativação da DNase (15 min a 65°C), as amostras foram quantificadas espectrofotometricamente (GE Healthcare NanoVueTM). Apenas soluções de RNA com razão de absorbância (A260:A280) superior a 1.8 foram utilizados nos experimentos. Para a síntese de cDNA utilizou-se o kit ImPromII-RT (Promega), onde 1 µg de RNA foi reversamente transcrito utilizando-se a enzima ImPromII na presença de 0,5 mM de cada dNTP, 20 µM de iniciador oligo dT, e inibidor de RNAse (1U/µL), sendo que as amostras foram incubadas a 25ºC por 5min, 42ºC por 60min e 70ºC durante 15min. 2.9. Análise da expressão gênica semiquantitativa de algumas proteínas imunológicas de L. vannamei Os cDNAs obtidos foram utilizados para a reação de amplificação das sequências das proteínas imunológicas de interesse: 49 argonauta, caspase-3, α2M, ALF, LGBP, proPO e TGase, utilizando-se os iniciadores listados na Tabela 1. Todos os iniciadores correspondem à sequências de L. vannamei, exceto aqueles do gene argonauta (P. monodon) e proPO (F. chinensis). Com o objetivo de determinar o número de ciclos para amplificação de cada gene de interesse, para a análise semiquantitativa, realizou-se preliminarmente várias PCRs para cada gene. Desta forma, o número de ciclos para cada par de iniciadores (Tabela 1) foi escolhido durante a fase exponencial da reação, onde não ocorreu saturação da expressão dos genes de interesse. O mesmo ensaio foi realizado com o gene que codifica a proteína constitutiva actina e que foi utilizado para normalizar os níveis de cDNA presentes nas amostras. Conforme os padrões encontrados para cada gene, os ciclos escolhidos foram 28 (argonauta), 24 (caspase-3), 24 (α2M), 17 (ALF), 30 (LGBP), 28 (proPO), 20 (TGase) e 20 (actina). As condições de PCR foram 94°C por 5 min, seguido pelo número de ciclos citado acima para cada gene sob as seguintes condições (94°C por 1 min, 55°C por 1 min e 72°C por 1 min), e 72°C durante 10 min, sendo que para a amplificação do gene ALF a temperatura de anelamento utilizada foi de 60°C. A confirmação da presença de sequências gênicas foi realizada através da análise de bandas de tamanho esperado em gel de agarose (1%). Após a visualização dos géis, estes foram fotodocumentados e digitalizados a partir do programa DigiDoc-ItLS. A densitometria das ® bandas foi realizada utilizando-se o programa Scion Image for Windows, sendo que a expressão do gene de interesse (quantidade relativa de RNAm) foi determinada através da razão entre gene interesse/gene controle (actina), a partir dos valores de densitometria das bandas amplificadas. Foram realizadas de 3 a 5 PCRs para cada gene utilizado, e os valores apresentados correspondem a uma média dos valores obtidos na análise de densitometria das bandas dos géis destas PCRs. Gene GenBank Iniciadores Forward/Reverse β-actina AF300705 Argonauta DQ343133.1 Alfa 2M AB108542 ALF AY723296 Caspase-3 EU421939 5’-CGAAGTCAAAGCCAGAAACA-3’ 5’-ACTGCTACTTCCCTGGTGAC-3’ 420 pb LGBP AY723297 5’-CTGGCTCTAGCAGCAACCTC-3’ 5’-CCTCGTCCACGTAGAACTCC-3’ 399 pb proPO AY723296 5'-AGGTGGCTCTGTCCTCTTCA-3' 476 pb 5'-TAATCCACATCTGCTGGAAGGTG-3’ 5'-TCACCAACTGGGATGACATGG-3' 5’-GTATCCAGGGCACAAGTCGT-3’ 5’-GTGTGACCCCTCTCCACTGT-3’ 5'-CCGTSAGCCAAGTRGAGCC-3' 5'-CGAGTGGGTKGGCAAAGC-3' 5´-CTGTGGAGGAACGAGGAGAC-3´ 5’-CCACCGCTTAGCATCTTGTT-3´ Fragmento amplificado 850 pb 224 pb 850 pb 240 pb 5-'ACTCCGGTCCGTGTTCTATG-3' Transglutaminase EU164849.1 5'-ATACAGAAGCCGGATATCAAG-3' 5’-GTTTCTTTGGGAAAACCTTC-3' 243 pb 50 Tabela 1: Pares de iniciadores utilizados para as análises de RT-PCR de sete genes relacionados ao sistema imune em Litopenaeus vannamei. Os iniciadores argonauta e proPO referem-se à sequências de P.monodon e F. chinensis respectivamente. 51 3. ANÁLISE ESTATÍSTICA Para as análises da CTH nos diferentes grupos foi utilizado o teste ANOVA (α<0,05), seguido pelo teste de comparação de médias de Tuckey. 4. RESULTADOS 4.1. Contagem Total de Hemócitos (CTH) A contagem total de hemócitos em L. vannamei não tratados com dsRNA vp28 nem desafiados com o WSSV (grupo controle, G1) mostrou uma diminuição no número de hemócitos circulantes a partir das 3h após a injeção com o inóculo WSSV negativo (Figura 2), onde registrou-se uma queda ainda mais acentuada nas 6h e permanecendo ainda baixa na análise de 24h pós-injeção (p<0,05). Contudo, a partir das 48h observou-se um retorno do número de células circulantes aos índices normais, encontrados no início do experimento (Figura 2). Nos camarões desafiados com WSSV e que não foram tratados com dsRNA vp28 (G2), ocorreu uma diminuição significativa (2x menor que no tempo zero) na quantidade total de hemócitos circulantes a partir de 3h da infecção viral, sendo que uma queda ainda mais proeminente (4x) foi verificada 6h após a infecção (Figura 2). De maneira interessante, após 24h pós-desafio viral, houve um aumento de (2,5x) no número de hemócitos desses animais, em relação ao tempo imediatamente anterior. No entanto, uma nova queda na CTH foi observada no segundo dia pós-infecção (48h), alcançando valores extremamente baixos no terceiro dia (72h; 5,3x106 cél/ml), ou seja, 6x inferior àquele da pré-infecção (31x106 cél/ml) (Figura 2). Já, nos animais tratados com dsRNA vp28 e posteriormente desafiados com WSSV (G3), 6h após a injeção com dsRNA vp28 já se observou uma redução de cerca de 50% no número de hemócitos circulantes (Figura 2). Essa dimimuição continuou sendo significativa até as 48 horas pós-infecção com WSSV (2,3x inferior ao valor da préinfecção), sendo que, no entanto, uma recuperação na CTH foi encontrada nas 72h pós-infecção e cujo valor (27x106 cél/ml) ficou muito próximo àquele encontrado no início do experimento (31x106 cél/ml). 52 (G1)salina/WSSV- Número de hemócitos x 106 células.ml -1 (G2)salina/WSSV+ 45 (G3)dsRNA/WSSV+ a 40 35 a a a a 30 a a 25 a a 20 a b b b b 15 c 10 b b b 5 0 A A A B B B C B C C B D D A E B A C E 0h 6h 3h 6h 24h 48h 72h Pré-infecção Pós-infecção Figura 2: Contagem total de hemócitos (CTH) em L. vannamei imediatamente antes das injeções (0h); 6h após injeção com dsRNA vp28 (G3); e 3, 6, 24, 48 e 72h pós-infecção com inóculo negativo (G1) ou positivo (G2 e G3) para o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV). Letras maiúsculas representam diferenças significativas (p<0,05) na CTH dentro de um mesmo grupo nos diferentes períodos analisados. Letras minúsculas representam diferenças significativas (p<0,05) na CTH entre os grupos dentro de um mesmo período. 4.2. Expressão gênica A quantificação dos transcritos correspondentes aos genes codificantes para sete proteínas imunológicas (argonauta, caspase-3, ALF, LGBP, α2M, proPO e TGase) foi realizada através da técnica da PCR semiquantitativa (item 2.9). Nessa análise, a expressão relativa de RNAm foi determinada através da razão entre a expressão de cada gene alvo pela expressão do gene da proteína constitutiva actina, a partir dos valores de densitometria encontrados na análise das bandas correspondentes aos fragmentos amplificados por PCR (Figura 3). As análises dos níveis de expressão gênica foram feitas antes das injeções (0h= expressão basal), 6h após a injeção do dsRNA vp28 (análise feita somente em G3) e nas 3, 6, 24, 48 e 72h após injeção com o inóculo negativo (G2) ou positivo (G3) para WSSV. 53 4.2.1. Argonauta: a proteína slicer do RISC do sistema RNAi Nos animais do grupo controle, não tratados com dsRNA vp28 nem desafiados com o vírus, (G1) observou-se uma alteração nos níveis de expressão do gene argonauta apenas a partir das 6h após injeção com inóculo negativo (Figura 3). Um aumento de cerca de 2x na expressão, em relação ao valor basal, foi encontrado nas 6 e 24h após inóculo negativo, enquanto que um aumento menos pronunciado ocorreu nas 48 e 72h seguintes (20% e 60%, respectivamente) (Figura 3). Já, diferentemente do grupo controle, nos animais G2 (não tratados com dsRNA vp28, mas infectados com WSSV) registrou-se um aumento de 80% no nível de expressão do gene argonauta logo nas primeiras 3h após a infecção viral (Figuras 3 e 4A). No entanto, essa expressão diminuiu nas análises posteriores, sendo na maioria delas inferior aos do grupo controle, não infectado (Figura 3). Nos animais G3 (tratados com dsRNA vp28 e 48 horas após infectados com WSSV) observou-se um aumento de 80% nos níveis de expressão da argonauta ainda no período pré-infecção, ou seja, 6h após a injeção do dsRNA vp28 (Figura 3). No entanto, após o desafio dos animais com WSSV, dois picos de expressão da argonauta foram encontrados nas 3 e 48h, sendo que nas outras análises (6, 24 e 72h) os valores de expressão dessa proteína slicer se mantiveram levemente superiores ao controle (Figura 3) e superiores ao grupo infectado pelo vírus e que não recebeu o tratamento com dsRNA (Figura 4A). 4.2.2. Caspase-3: uma protease executora da via apoptótica Após a injeção do inóculo negativo, o grupo controle (G1) apresentou elevados níveis de expressão gênica referentes à caspase durante a maioria das análises, de cerca de 3x em relação à expressão basal (Figura 3). A exceção ocorreu na análise de 48h onde a expressão foi superior apenas de 1,7x. Já o grupo desafiado com WSSV, mas não tratado com dsRNA vp28 (G2) não apresentou diferenças nos níveis de expressão 3h após inoculação, com relação ao período correspondente do G1 controle (Figuras 3 e 4B). Essa expressão foi, contudo, diminuindo nas análises posteriores, ao ponto de 72h pós-desafio registrar-se uma queda de 94% no nivel de expressão dessa caspase efetora, em relação ao respectivo controle (Figura 4B). Em relação aos animais desafiados com vírus e tratados com dsRNA vp28 (G3), houve um aumento de 50% na expressão da caspase já nas primeiras 6h após a injeção com dsRNA (Figura 3). 54 Curiosamente, os níveis de expressão dessa proteína apoptótica foram menores que àqueles do grupo controle em todas as análises seguintes, com exceção do período de 48h, onde foi registrado um aumento de 50% (Figura 3). No entanto, em todos os períodos a partir das 6h, os níveis de expressão da caspase foram superiores neste grupo com relação aquele apenas infectado pelo WSSV (Figuras 3 e 4B). 4.2.3. Alfa 2-macroglobulina (α2M): um inibidor de proteases de amplo espectro Os animais do grupo controle (G1) apresentaram uma queda de ~40% nos níveis de expressão da α2M até as 6h após a injeção dos animais com inóculo negativo (Figura 3). No entanto, um aumento na expressão deste gene foi observado nas 24h (50% a mais que o basal), sendo que uma ligeira queda ocorreu nas 48 e 72h, onde a expressão ficou próxima à basal (Figura 3). Já, nos animais G2, houve um aumento importante da expressão gênica da α2M até 48h após a infecção com WSSV, especialmente nas 6 e 48h cujos valores foram respectivamente 90% e 60% superiores aos controles (Figuras 3 e 4C). De maneira interessante, uma queda muito proeminente (70%) foi registrada na expressão, 72h após o desafio viral (Figuras 3 e 4C). No grupo G3, 6h após o tratamento prévio com dsRNA vp28, não houve alteração no nível de expressão da α2M (Figura 3). Após o desafio viral, os níveis de expressão deste inibidor de proteases foram muitos próximos ao controle durante todos os períodos, exceto 6h após a infecção quando um aumento de 65% na expressão foi observado (Figuras 3 e 4C). Interessantemente, em relação ao G2, o grupo G3 apresentou níveis de expressão da α2M mais baixos até 48h pósinfecção, sendo que apenas no período seguinte (72h) a expressão deste inibidor de proteases foi superior no grupo tratado com dsRNA vp28 (Figura 4C). 4.2.4. Fator antilipopolissacarídeo antimicrobiano com atividade antiviral (ALF): um peptídeo Os níveis de expressão do ALF em L. vannamei não tratados com dsRNA vp28 nem desafiados com o vírus (G1) foram elevados durante todo o período analisado, apresentando os maiores picos de expressão nas 6 e 72h após a injeção com o inóculo negativo, e cujos valores foram de 2,2x e 2,5x superiores ao basal, respectivamente (Figura 3). Já, 55 nos animais não tratados com dsRNA vp28 e desafiados com o WSSV (G2), os níveis de expressão gênica desse PAM diminuíram acentuadamente ao longo da infecção (Figuras 3 e 4D), estando 90% inferiores ao controle no período de 72h (Figura 3). Em G3, a expressão desse PAM praticamente não se alterou nas 6h após injeção com dsRNA, apenas um aumento discreto (1,2x) foi observado em relação ao valor basal (Figura 3). No entanto, após a infecção viral, diferentemente do grupo anterior, os animais de G3 tiveram a expressão do ALF aumentada de maneira importante 3h e 24h após a infecção viral (até 60% superior ao respectivo controle) (Figuras 3 e 4D). Curiosamente, 72h após a infecção o nível de expressão deste gene decaiu (30%) (Figuras 3 e 4D), contudo os níveis de expressão do ALF foram bastante superiores em todos os períodos com relação ao grupo infectado com WSSV mas não tratado com dsRNAvp28 (Figura 4D). 4.2.5. Proteína que se liga a LPS e β-1,3-glicanas (LGBP): uma proteína de reconhecimento padrão A expressão do gene da LGBP nos hemócitos dos camarões não tratados com dsRNA vp28, nem desafiados com o vírus (G1) aumentou em todos os períodos analisados, especialmente nas 3 e 24h após o inóculo negativo (1,9x e 2,2x, respectivamente) (Figura 3). No entanto, nas 72h houve uma tendência ao retorno dos níveis de expressão deste gene (1,2x) ao basal (Figura 3). Já, no grupo apenas desafiado com WSSV (G2), a expressão dessa PRP foi drasticamente diminuída (80%) nas 3h após a infecção viral, seguida por um importante aumento nos períodos subsequentes, especialmente nas 48h (90%) e 72h (60%) após o desafio (Figuras 3 e 4E). Nos animais do G3 observou-se uma redução de 50% no nível da expressão do gene da LGBP nas 6h após tratamento com dsRNA vp28, antes do desafio viral (Figura 3). No entanto, 3h após o desafio dos animais com WSSV os níveis de expressão da LGBP estavam semelhantes ao controle. De maneira interessante, um único aumento (30%) na expressão foi verificado nas 6h pós- desafio viral, sendo que os valores subsequentes sempre foram próximos ao controle, e inferiores àqueles do grupo desafiado com WSSV, mas não tratado com dsRNA (Figura 4E). 56 4.2.6. Pró-fenoloxidase: um zimógeno do sistema de ativação da proPO Um aumento nos níveis de expressão gênica da proPO nos animais controle (G1) foi observado nas primeiras 6h após a injeção do inóculo negativo, seguido por um retorno ao nível basal, na análise de 24h (Figura 3). Interessantemente, um aumento de até 2x na expressão ocorreu no segundo e terceiro dias após a injeção. Já nos animais desafiados G2, uma queda de 50% nos níveis de expressão da proPO já foi observada logo após a injeção com WSSV, chegando a ser 70% inferior ao controle 72h pós-infecção. Curiosamente, um único pico de expressão foi encontrado às 24h, sendo ~100% superior ao controle (Figuras 3 e 4F). No caso do G3, 6h após a injeção dos camarões com dsRNA vp28, a expressão da proPO caiu pela metade (Figura 3). No entanto, após o desafio dos animais com WSSV um aumento na expressão deste zimógeno foi registrado até as 24h, quando os níveis de expressão chegaram a ser 3,5 vezes superiores a dos animais controle e 40% dos animais não tratados com dsRNA vp28 (Figura 4F). Porém, nas análises subsequentes (48 e 72h) essa expressão diminuiu (Figura 4F), ficando os valores mais próximos aos dos animais controle, no mesmo período (Figura 3). Comparando a expressão da proPO nos animais desafiados com WSSV, observa-se que a expressão deste gene foi sempre superior nos camarões tratados com dsRNA vp28 (G3), em relação aos não tratados (G2) (Figura 4F). 4.2.7. Transglutaminase (TGase): a enzima-chave no processo de coagulação da hemolinfa A análise da expressão gênica da TGase nos camarões controle (G) mostrou-se inalterada 3 e 48h após a injeção com inóculo negativo. No entanto, aumentos de cerca de 70% nos níveis de expressão foram observados nas outras análises (6, 24h e 72h) (Figura 3). Já a expressão dessa enzima nos animais infectados com o WSSV, mas não tratados com dsRNA vp28 (G2) foi depletada na maioria das análises, chegando a ser 50% menor que o controle nas 72h pós-infecção. Apenas na análise de 48h, houve um aumento (50%) na expressão, em relação ao controle (Figuras 3 e 4G). No entanto, o tratamento com dsRNA vp28 não foi suficiente para estimular a expressão gênica da TGase, uma vez que um aumento de apenas 10% foi registrado 6h após a injeção dos animais com esse oligonucleotídeo (Figura 3). Após a infecção dos animais com 57 WSSV a expressão da TGase foi aumentada, sendo sempre superior ao G2 (Figuras 3 e 4G). Novamente, um pico de expressão (60% superior ao controle) foi encontrado nesses animais no período de 48h, a exemplo do G2 (Figuras 3 e 4G). De modo semelhante a G2, uma queda na expressão (30%) foi observada nas 72h pós-desafio (Figura 4G). M (G1) salina/WSSV- (G2) salina/WSSV+ 0h 3h 6h 24h 48h 72h 1.0 0.9 2.1 1.9 dsRNA VP28 58 basal (G3) dsRNA/WSSV+ 3h 6h 24h 48h 72h 6h 3h 1.2 1.6 1.7 1.2 1.1 1.3 0.9 1.8 1.8 1.7 2.9 2.8 1.9 1.3 0.2 6h 2.3 24h 48h 2.4 2 .0 72h 2.1 Argonauta 224pb 1.0 2.9 3.2 3.0 0.7 1.4 1.5 2.2 1.7 2.6 2.2 Caspase-3 420pb 1.0 0.7 0.6 1.5 1.1 1.2 1.0 1.4 2.2 1.7 1.9 2.5 1.0 1.1 1.3 1.8 0.4 1.0 0.3 1.2 0.8 0.9 1.2 1.4 1.3 α2M 850pb 0.9 1.3 1.1 0.6 2.8 2.3 2.4 2.5 2.1 1.7 1.6 0.9 ALF 240pb 1.0 1.9 1.7 2.2 1.5 1.2 0.4 2.4 2.4 1.9 2.3 1.1 2.7 2.9 1.0 0.9 2.4 2.0 0.5 1.7 2.3 0.5 2.6 3,3 1.8 LGBP 399pb 1.0 1.0 0.9 3.5 2.2 2.2 proPO 476pb 1.0 1.0 1.7 1.7 1.1 1.6 1.1 1.2 1.3 1.7 0.7 1.1 1.3 2.1 1.8 1.8 1.2 TGase 243pb Actina 800pb Figura 3: Análise semiquantitativa por RT-PCR dos genes argonauta, caspase-3, alfa 2-macroglobulina (α2M), fator antilipopolissacarídeo (ALF), proteína que se liga a LPS e β-1,3-glicanas (LGBP), pró-fenoloxidase (proPO) e transglutaminase (TGase) nos hemócitos de L. vannamei. As análises foram feitas antes do início das injeções (0h- expressão gênica basal); 6h após injeção de dsRNA vp28 (G3) e 3, 6, 24, 48 e 72h após a infecção com inóculo negativo (G1) ou positivo (G2 e G3) para o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV). Os valores correspondem à razão entre a densidade de cada banda de cada gene de interesse pela banda actina nos diferentes tempos. A expressão relativa basal (0h) foi arbitrariamente estabelecida com o valor 1. A densitometria das bandas foi realizada utilizando-se o programa Scion Image®. 59 2,5 (A) Argonauta 2 (G2) salina/WSSV+ 1,5 (G3) dsRNA/WSSV+ 1 0,5 Expressão relativa RNAm (unidades arbitrárias) 0 0h 2 3h 6h 24h 48h 72h 2,5 (B) Caspase-3 (C) Alfa 2M 2 1,5 1,5 1 1 0,5 0,5 0 0 0h 3h 6h 24h 48h 72h 2 0h 2 (D) ALF 1,5 1,5 1 1 0,5 0,5 0 6h 24h 48h 72h 6h 24h 48h 72h 24h 48h 72h (E) LGBP 0 0h 3h 6h 24h 48h 72h 3,5 3 3h 0h 3h 2 (G) TGase (F) proPO 1,5 2,5 2 1 1,5 1 0,5 0,5 0 0 0h 3h Pré-infecção 6h 24h 48h Pós-infecção 72h 0h Pré-infecção 3h 6h Pós-infecção Figura 4: Expressão em relação ao controle dos genes: argonauta (A), caspase3 (B), alfa 2-macroglobulina (C), fator antilipopolissacarídeo (D), proteína que se liga a LPS e β-1,3-glicanas (E), pró-fenoloxidase (F) e transglutaminase (G) nos hemócitos de L. vannamei antes do início das injeções (0h) e 3, 6, 24, 48 e 72h após a infecção com o vírus da síndrome da mancha branca (WSSV) nos grupos G2 (tampão/WSSV+) e G3 (dsRNA/WSSV+). 60 4.3. Mortalidade dos animais Os animais não tratados com dsRNA vp28 e infectados com WSSV (G2), apresentaram uma mortalidade total (100%) em 5 dias (Figura 5). Já, no grupo tratado com dsRNA e posteriormente infectado com WSSV (G3) observou-se uma linha ascendente de mortalidade apenas até o quinto dia pós-infecção (27%), não registrando-se mais nenhuma mortalidade nos 25 dias posteriores, cuja sobrevivência no grupo tratado com dsRNAvp28 foi de 73% ao final de 30 dias de experimento (Figura 5). A mortalidade dos camarões controle (G1) foi relativamente baixa durante o período experimental (7%) (dados não apresentados). 100 Mortalidade cumulativa (%) 90 80 70 60 50 salina/WSSV+ 40 dsRNA/WSSV+ 30 20 10 0 1 2 3 4 5 10 15 20 25 30 Dias pós-infecção Figura 5: Porcentagem da mortalidade cumulativa dos animais em cada tratamento durante 30 dias. 4.4. Detecção do DNA viral (WSSV) nos tecidos dos animais A presença de WSSV nos animais de cada grupo experimental foi avaliada simultaneamente à expressão gênica das proteínas imunológicas, nas 3, 6, 24, 48 e 72h, por PCR convencional (um passo e dois passos-nested PCR). Os animais sobreviventes do G3 foram 61 avaliados individualmente quanto à presença do vírus, no 30º dia, por PCR em Tempo Real. Nos animais do grupo controle (G1), o WSSV não foi detectado em nenhum dos períodos analisados (Tabela 2). No entanto, nos camarões injetados com WSSV e que não receberam um tratamento com dsRNA vp28 (G2), a presença do vírus foi detectada nas 6h após o desafio e somente por nested PCR (++), sendo que nos períodos seguintes o vírus pôde já ser detectado na primeira etapa da PCR (+, Tabela 2). Nos animais G3, que receberam um tratamento prévio com dsRNA vp28, o WSSV pôde ser detectado somente por nested-PCR, e a partir de 48h após o desafio (Tabela 2). Tabela 2: Detecção de WSSV nos animais G1: tampão/WSSV-, G2: tampão/WSSV+ e G3: dsRNA/WSSV+, por PCR convencional, em um (+) ou dois passos (nested-PCR) (++). As análises em cada período foram feitas com DNA genômico extraído de um pool de 3 animais/grupo. Horas pós-injeção Tratamento 3h 6h 24h 48h 72h (G1) salina/WSSV- - - - - - (G2) salina/WSSV+ - ++ + + + (G3) dsRNA/WSSV+ - - - ++ ++ A presença do WSSV nos animais G3 que sobreviveram 30 dias após o desafio com WSSV foi encontrada em apenas 20% dos camarões (Figura 6, linhas 7 a 10), apesar de nenhum sinal clínico ser visualizado nesses animais (Tabela 2). M CN I 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Figura 6: Eletroforese em gel de agarose (1%) representando os produtos amplificados por PCR em Tempo Real, com amostras de DNA genômico de animais infectados com WSSV e previamente tratados com dsRNA vp28 (linhas 1 a 18). A análise foi feita 30 dias após a infecção, utilizando-se iniciadores vp19 (fragmento de 375 pb). M: marcador de peso molecular (100pb); CN: Controle Negativo (sem adição de DNA); I: Inóculo Positivo para WSSV. Linhas 7 a 10: animais WSSV positivos. 62 5. DISCUSSÃO A síndrome da mancha branca (WSS) é a enfermidade mais importante no que se refere às perdas produtivas e econômicas de todos os tempos na carcinicultura mundial. Desde o seu surgimento em 1992, vários estudos vêm sendo conduzidos com o intuito de minimizar o impacto causado por esta virose nos cultivos. A compreensão dos mecanismos de defesa antivirais desencadeados pelos crustáceos se torna cada vez mais imprescindível para um amplo entendimento dos processos envolvidos na interação patógeno/hospedeiro, como também para o desenvolvimento de métodos mais eficazes de prevenção e controle da WSS. Nesse contexto, a utilização da tecnologia do RNAi se destaca como uma das mais efetivas e potenciais terapias antivirais para as viroses de crustáceos de interesse econômico [42,50]. O uso potencial de dsRNA para bloquear especificamente a progressão de infeções virais em peneídeos tem sido utilizado contra, no mínimo, três vírus não relacionados: WSSV [58,60-62], TSV (Taura Syndrome Virus) [58] e YHV (Yellow Head Virus) [66-68]. Nesses estudos, sequências específicas de dsRNA correspondentes à proteínas virais foram utilizadas como agente terapêutico, e uma vez que o animal tenha entrado em contato com o vírus correspondente, uma resposta antiviral específica foi desencadeada levando a uma redução nos índices de mortalidade e a uma importante limitação na replicação viral. No caso do WSSV, a replicação pôde ser eficientemente suprimida por injeções com dsRNA ou siRNA correspondentes aos genes das proteínas virais vp19, vp28, vp281 e proteína quinase [58,60-62]. No presente estudo, foram avaliados os hemogramas e a expressão gênica de algumas proteínas associadas ao sistema imune em L. vannamei induzidos a uma proteção antiviral específica por injeções com dsRNA de sequência homóloga ao gene codificante para a proteína vp28 do envelope do WSSV. Os animais foram primeiramente tratados com dsRNA vp28 e 48h após, desafiados com inóculo puro de WSSV. O tratamento dos camarões com dsRNA vp28 limitou de maneira importante a infecção por WSSV, onde elevadas taxas de sobrevivência (73%) foram registradas após 30 dias da infecção, além de se observar a ausência do vírus em 80% dos animais sobreviventes. Em contrapartida, animais infectados com WSSV, mas não tratados com dsRNA vp28, tiveram uma mortalidade de 100% 5 dias após o desafio. A eficiência da sequência dsRNA vp28 utilizada nesse estudo corrobora os resultados anteriormente encontrados por Méjia-Ruiz et al. [62]. Nesse estudo, uma única dose de dsRNA vp28 (4µg/12g peso vivo) foi suficiente para conferir uma atividade antiviral em L. vannamei por 30 dias, em 50% 63 dos animais que foram submetidos a infecções reincidentes por WSSV. Além disso, os sobreviventes tratados com dsRNA vp28 não apresentavam mais o vírus no organismo [62]. Sabe-se que o grau de proteção conferido por dsRNA específico varia entre os diferentes genes virais-alvo, indicando que a escolha do gene alvo é um fator limitante no sucesso da supressão da infecção viral [58]. Por exemplo, camarões injetados com dsRNA correspondentes aos genes da vp28 e da proteína quinase (proteína não estrutural do vírus) apresentam uma maior taxa de sobrevivência, do que aqueles injetados com dsRNA da vp281, outra proteína do envelope do WSSV [60]. A vp28 é uma das principais proteínas do envelope do WSSV, sendo responsável pela entrada do vírus nas células do hospedeiro e, necessitando, contudo, ser sintetizada junto ao virion para que o processo de infecção se efetive. Uma vez que a síntese da vp28 for bloqueda via RNAi, a ocorrência dos processos de infecção e replicação virais é limitada ou interrompida, como demonstrado em nosso estudo e por outros precedentes [58,60-62,69]. Kim et al. [60] relataram uma sobrevivência de 100% em P. chinensis infectados com altas doses de WSSV e previamente injetados com dsRNA vp28 (6µg/6g peso vivo). Já, Robalino et al. [58] relataram uma sobrevivência de 85% em L. vannamei injetados com o WSSV e que receberam uma injeção prévia de dsRNA vp28. Em nosso trabalho, o fato do tratamento com dsRNA vp28 não ter causado uma proteção e uma ausência do vírus em 100% dos animais, deve-se provavelmente ao elevado poder infectante do inóculo viral utilizado, ou ainda referente à dose utilizada de dsRNA (4µg/12g peso vivo). Alguns autores sugerem que o efeito inibitório do dsRNA sob a replicação viral seja dose-dependente. Robalino et al. [58] observaram uma maior sobrevivência (81%) em L. vannamei (1-2g) infectados com o WSSV quando injetados com 10µg de dsRNA vp19, em contrapartida aos 29% de sobrevivência observados em animais injetados com apenas 0,1µg dsRNA vp19. Em outro estudo, avaliando a infecção do YHV em P. monodon [67] foi relatada uma completa proteção dos animais (100% de sobrevivência) somente quando altas doses de dsRNA (25µg/10g de peso vivo) foram injetadas. No entanto, a maioria dos estudos com camarões preconiza que doses entre 1-5 µg de dsRNA específico seja suficiente para limitar a replicação viral e diminuir significativamente a mortalidade dos animais, posteriormente infectados pelo vírus a que corresponde [59]. No presente estudo, contudo, um fato a ser considerado é que todos os animais sobreviventes à infecção por WSSV permaneceram vivos por 30 dias, mesmo que 20% deles ainda apresentavam o vírus em 64 seu organismo. Esses achados são extremamente relevantes, uma vez que demonstram que o tratamento prévio de L. vannamei com dsRNA vp28, na concentração utilizada, foi capaz de induzir o sistema RNAi, levando ao controle da infecção viral em sua fase inicial, além de promover a ausência do vírus na maioria dos animais. Dessa maneira, a utilização de dsRNA vp28 poderia representar uma potencial terapia antiviral de caráter preventivo contra o WSSV, em camarões desafiados com altas doses virais. Em relação ao número de hemócitos circulantes foi observada uma redução na contagem de hemócitos totais (CTH) em todos os animais, nas primeiras 6 horas pós-inoculação. Contudo, a CTH nos animais controle e naqueles tratados com dsRNA vp28/desafiados com WSSV houve uma recuperação nos valores a partir de 48 e 72 horas da injeção, diferentemente do grupo apenas desafiado com vírus, que continuou com sua CTH diminuída. Relatos de diminuições na CTH em camarões que sofreram estresse por injeções de qualquer natureza são comuns e podem, em parte, estar associados à infiltração dos hemócitos no local da injúria para auxiliar no reparo dos tecidos lesados pela injeção [40]. Por outro lado, a recuperação na CTH dos animais tratados com dsRNA vp28 e desafiados com vírus sugere que, a ativação do sistema RNAi, além de limitar a progressão viral, propiciou uma recuperação nas condições gerais de saúde dos animais, possibilitando que novas células imunocompetentes fossem produzidas pelo tecido hematopoiético. Em contrapartida, a queda brusca e crescente da CTH nos animais apenas desafiados com WSSV, indica que a depleção dos hemócitos circulantes esteja diretamente associada à replicação viral, uma vez que ocorreu em estágio mais agudo da infecção. Sabe-se que os hemócitos são um dos principais sítios de replicação do WSSV [70] e diversos trabalhos já demonstraram que há uma diminuição significativa na quantidade de hemócitos em camarões infectados [16,18,38,40,71-74]. Esse declínio na CTH nos animais infectados deve particularmente ter ocorrido devido à lise celular intensa advinda da expressiva replicação viral nos hemócitos. Efetivamente, Sarathi et al. [40] observaram uma queda na CTH de Fenneropenaeus indicus após infecção severa com WSSV associada tanto à lise, quanto à apoptose celulares. Embora os fenômenos de lise e apoptose celulares não terem sido diretamente verificados em nosso estudo, esses fenômenos usuais em infecções virais deve ter também ocorrido em nossos animais infectados. Apesar da apoptose celular não ter sido sugerida nos animais pelos nossos resultados das análises de expressão gênica da caspase-3, que foi modulada negativamente pelo WSSV (dados discutidos adiante), a hipótese de que a diminuição na CTH 65 ocorreu em parte pela apoptose celular não deve ser completamente descartada. No mínimo duas classes de caspases foram até o momento identificadas em camarões: uma caspase-3 efetora [46-48] e uma caspase 8 ou 10 iniciadora [49]. No entanto, é lógicamente esperado que existam outras classes de capases, a exemplo do que ocorre em outros animais. Essa hipótese é corroborada pelos recentes achados de Chang et al. [75], onde L. vannamei infectados com Vibrio alginolyticus apresentaram hemócitos apoptóticos em período anterior ao aumento da atividade enzimática e expressão da caspase-3, indicando assim que a apoptose estaria sendo ativada por outras caspases efetoras, possivelmente a caspase-7, que em aves participa dos estágios iniciais do processo apoptótico [76]. Por outro lado, a redução significativa na CTH observada em L. vannamei em estágios mais avançados da infecção (72h pós-desafio) pode ainda estar relacionada a uma diminuição na produção dos hemócitos pelos órgãos hematopoiéticos, uma vez que já foi demonstrado em outro crustáceo, no lagostim Pacifastacus leniusculus, que o WSSV infecta as células do tecido hematopoiético, prejudicando seu funcionamento e, consequentemente, a produção de novos hemócitos [77]. Em relação à análise de expressão gênica de proteínas imunológicas nos diferentes grupos de L. vannamei avaliados nesse estudo, observou-se um comportamento bastante diferenciado para cada gene no que se refere ao grau de expressão entre os animais desafiados com WSSV e tratados ou não com dsRNA vp28. Nos animais controle, não injetados nem com dsRNA vp28, nem com o vírus, houve uma alteração nos níveis de expressão de alguns genes (caspase-3, ALF e proPO) nos períodos analisados, estando isso muito provavelmente relacionado à manipulação dos animais e à injeção com inóculo negativo. Alterações na expressão de alguns genes imunológicos, tais como PAMs, já foram relatadas em outros trabalhos onde os camarões foram injetados apenas com solução salina [78,79]. Além disso, convém ressaltar que o inóculo negativo utilizado em nosso estudo continha um pool de proteínas exógenas (de outro animal), e que isso parece ter alterado, ao menos transitoriamente, a expressão de alguns genes imunológicos. Dentre as proteínas do sistema RNAi, a família das argonautas são as proteínas-chave para o silenciamento gênico pós-transcricional, uma vez que são componentes fundamentais (proteína slicer) do complexo multiproteico de silenciamento induzido (RISC) [54,55,80,81]. Em camarões, duas isoformas da proteína argonauta já foram clonadas em P. monodon, a PmAgo [56] e a PemAgo [57]. Em nosso estudo, a análise da expressão gênica da argonauta em L. 66 vannamei infectados com WSSV, mas não tratados com dsRNA vp28, aumentou somente nas primeiras 3 horas após o desafio, sugerindo uma estimulação do sistema RNAi restrita ao inicio do processo infeccioso. Sabe-se que infecções virais severas, como a utilizada em nosso estudo, levam a uma rápida replicação e evolução do processo infeccioso o que gera nos animais uma condição de debilidade imunológica generalizada [70]. À medida que a infecção viral progrediu, uma depleção do sistema RNAi parece ter ocorrido nos animais, uma vez que a partir das 6h a expressão da argonauta diminuiu consideravelmente. Em outro estudo com P. monodom infectados com YHV ou com WSSV, a expressão da argonauta foi aumentada apenas nas primeiras 24h pós-infeccão [56], seguido por um declínio rápido na expressão 30h pós-infeccão e sendo praticamente indetectável nos animais moribundos. A expressão da argonauta não foi aqui verificada em animais moribundos, no entanto, a mortalidade total dos animais em 5 dias reforça a hipótese de Unajak et al. [56], de que a diminuição da expressão dessa proteína slicer, em estágios mais avançados da infecção, reflete a ausência da atuação do sistema RNAi inibindo a replicação viral no hospedeiro. Por outro lado, em nosso estudo, em L. vannamei tratados com dsRNA vp28 observouse uma superexpressão da argonauta (80%) ainda 48h antes do contato dos animais com o vírus, ou seja, na ausência da forma viral infectante, expressão essa se mantendo alta até o final das análises (72h). O fato de estes animais apresentarem uma superexpressão da argonauta ao longo do experimento, aliado aos altos índices de sobrevivência e a ausência do vírus em 80% dos sobreviventes, indicam claramente que houve a ativação do sistema de RNAi nos animais e que este promoveu uma defesa antiviral contra o WSSV. Outro mecanismo antiviral desencadeado nos crustáceos é a apoptose celular, processo este mediado pelas caspases [44,45]. Vários estudos relatam a indução de apoptose ao longo de infecções virais em camarões [50,51,73,82]. Em nosso estudo, uma progressiva diminuição na expressão da caspase-3 foi encontrada nos camarões desafiados com WSSV (não tratados com dsRNA vp28), chegando a uma depleção quase total na sua expressão, 72h pós-infecção. O desafio de L. vannamei com WSSV promoveu uma rápida evolução do processo infeccioso, debilitando os animais e depletando a expressão dessa caspase efetora. Por outro lado, apesar de a expressão da caspase nos camarões tratados com dsRNA vp28 ter sido, em geral, maior do que nos animais apenas desafiados com WSSV, os níveis de transcritos foram em geral menores do que os dos animais controle, sugerindo que a presença do WSSV modula negativamente a expressão gênica da caspase-3. 67 Embora a apoptose celular não tenha sido diretamente investigada em nosso estudo, sabe-se que ao longo da evolução os vírus desenvolveram estratégias para evitar ou retardar este processo e garantir assim sua replicação no hospedeiro. Vírus de insetos, como certos baculovírus, podem se beneficiar com a expressão de genes antiapoptóticos [83,84], agindo diretamente na via de sinalização de apoptose ou inibindo a atividade de caspases [85]. No caso do WSSV, um gene codificante para uma nova classe de proteína antiapoptótica, denominada WSSV449 (ou ORF 390), já foi identificada em seu genoma [86], sendo que a sua forma recombinante é capaz de inibir in vitro uma caspase efetora de P. monodon [87]. Além disso, outro fato a ser considerado é de que os animais severamente infectados estavam imunodeprimidos e impedidos assim de acionar mecanismos antivirais para conter a infecção brutal, que levou a morte 100% dos animais em 5 dias. Curiosamente, há relatos na literatura que descrevem a indução da caspase-3 em P. merguiensis moribundos infectados pelo WSSV [46] e em P. monodon apenas 48h após a infecção pelo mesmo vírus [47]. Cabe, contudo salientar que os estudos mencionados acima foram com outras espécies de peneídeos e com cepas virais diferentes, além de as análises serem pontuais durante a infecção, não permitindo dessa forma estabelecer comparações diretas com nossos resultados. Além disso, como mencionado anteriormente, os mecanismos de regulação das vias apoptóticas em crustáceos, dos indutores e inibidores, não são ainda completamente conhecidos [44]. Consequentemente, as divergências encontradas entre os trabalhos revelam que maiores estudos devem ser coduzidos para elucidar o papel antiviral da apoptose contra infecções pelo WSSV em crustáceos, bem como sobre a atuação de proteínas virais antiapoptóticas beneficiando o processo infeccioso. Outra proteína recentemente descrita em crustáceos estando envolvida na limitação de infecções por WSSV é o peptídeo antimicrobiano ALF [33,34]. No presente estudo, uma depleção na expressão gênica desse PAM foi encontrada nos animais apenas desafiados com WSSV, ao longo de todo o experimento, indicando uma modulação negativa desse gene associada à progressão da replicação por WSSV em L. vannamei. Por outro lado, a superexpressão do ALF encontrada nos camarões tratados com dsRNA vp28, nas 3 e 24h após o desafio com WSSV, sugere que esse PAM deva atuar na fase inicial do processo infeccioso, embora o seu papel antiviral não tenha sido aqui investigado. Interessantemente, parece que a expressão do ALF não é modulada em L. vannamei (1,5g) submetidos a infecções brandas por WSSV [88]. Já, no lagostim P. leniusculus uma superexpressão do ALF 68 foi registrada nos animais severamente infectados por WSSV [33]. Diferenças entre os nossos resultados e aqueles obtidos por Liu et al. [33] podem ser em parte devido ao fato de que os crustáceos sejam um grupo taxonômico diverso, cujas respostas às infecções podem ser bastante diversificadas, especialmente considerando-se animais de diferentes habitats, como é o caso de peneídeos e lagostinsde água doce. Devemos, contudo considerar que existem diferentes isoformas de ALF, cuja expressão também pode ser diferenciada, além de existir diferentes cepas de WSSV, com graus diferenciados de virulência. Se por um lado o papel antiviral do ALF não tenha ainda sido comprovado, por outro, vários estudos indicam que esse PAM tenha um efeito inibitório sobre a infecção por diferentes vírus, tais como o WSSV [34], adenovirus e o vírus da herpes [89]. Liu et al. [34] demonstraram que o silenciamento gênico pós-transcricional do ALF leva a um aumento na taxa de replicação do WSSV em P. leniusculus, sugerindo que esse PAM possua um papel antiviral nos crustáceos. Mais recentemente, Tharntada et al. [34] demonstraram que uma forma recombinante de ALF era capaz de inibir in vitro a replicação do WSSV, em cultura de células hematopoiéticas de P. leniusculus. Nesse mesmo estudo, ficou ainda demonstrado que camarões P. monodon previamente injetados com o ALF recombinante tinham a infecção por WSSV limitada e sua sobrevivência aumentada. Embora não haja, ao nosso conhecimento, relatos sobre a expressão do ALF em crustáceos previamente induzidos ao sistema RNAi e desafiados posteriormente com vírus, nossos resultados demonstram que o tratamento com dsRNA vp28 levou ao restabelecimento das condições de saúde dos camarões, limitando a replicação viral através da atuação do sistema RNAi, e permitindo que PAMs importantes, como o ALF, continuassem sendo expressos. Em contrapartida, animais desafiados com altas doses de WSSV e não tratados com dsRNA vp28 tiveram a expressão do ALF depletada, inviabilizando assim uma potencial atividade antiviral desse PAM contra o WSSV. A expressão da proteína que reconhece tanto LPS quanto β-1,3glicanas (LGBP) também foi investigada neste estudo. De maneira muito interessante, a depleção dos transcritos da LGBP nas 3h após o desafio viral dos animais (não tratados com dsRNA vp28) foi semelhante àquela dos animais tratados com dsRNAvp28 após 6h, ainda antes do desafio com WSSV. Poder-se-ia então especular que, algo na sequência ou no tamanho do dsRNA vp28 promova a inibição da expressão gênica da LGBP nessa fase inicial, uma vez que essa sequência de oligonucleotideo é virtualmente encontrada também nos animais que foram infectados com WSSV. Os mecanismos que levam a 69 essa depleção gênica são ainda desconhecidos, porém poderiam estar relacionados à sequência e ao tamanho do oligonucleotídeo dsRNA vp28 e merecem ser melhor investigados no futuro. Por outro lado, os altos níveis de expressão da LGBP nos animais apenas infectados pelo WSSV, 6h após o desafio indicam que a LGBP seja uma proteína induzível de fase aguda da infecção por WSSV. Esta hipótese foi reforçada pela análise de expressão com os camarões tratados com dsRNA vp28 que foi muito semelhante àquela do grupo controle. Assim como em nosso estudo, um aumento acentuado na expressão da LGBP foi relatado em L. stylirostris [16,17], e L. vannamei [18] na fase aguda de uma infecção por WSSV. Estes resultados conjuntos sugerem um possível envolvimento da LGBP em infecções virais e não somente em infecções bacterianas e fúngicas, como comumente preconizado para essa PRP. Yeh et al. [90] hipotetizaram que esta PRP poderia reconhecer componentes virais, e por isso sua expressão aumentaria mediante a fase aguda de uma infecção viral. Estes autores observaram que 12h após a injeção de Macrobrachium rosembergii com o oligonucleotídeo sintético poly I:C, que mimetiza um dsRNA viral e ativa o sistema interferon em mamíferos [91], houve um aumento da expressão da LGBP no hepatopâncreas dos animais. O fato de a LGBP ter sido superexpressa em L. vannamei severamente infectados por WSSV, não credencia uma hipótese definitiva de que essa PRP tenha um papel antiviral, considerando que se assim fosse os animais não teriam morrido em 5 dias. Ao contrário, poderíamos hipotetizar que sendo as LGBPs proteínas clássicas de reconhecimento-padrão, produzidas tanto pelos hemócitos [13-15] quanto pelo hepatopâncreas dos crustáceos [14,16], essa PRP poderia estar reconhecendo algum componente viral e facilitando de algum modo a infecção e/ou replicação do WSSV no hospedeiro, e por isso uma superexpressão seria observada na fase aguda da infecção. No entanto, essas hipóteses antagônicas de um papel pró ou antiviral para a LGBP necessitam ser investigadas, para melhor compreender essa questão. Outra análise feita em nosso estudo foi avaliar a expressão gênica do inibidor de proteases α2-macroglobulina (α2M). Essa glicoproteína plasmática inibe tanto proteases endógenas, como as serino-proteases ativadoras do sistema proPO [24,92], quanto exógenas produzidas pelo patógeno, como os vírus, e que potencializam o processo infeccioso [93]. A expressão da α2M em L. vannamei infectados severamente com WSSV foi modulada positivamente até 48h pós-desafio. Esse aumento na produção de transcritos da α2M indica um envolvimento desse inibidor de proteases na fase aguda da infecção viral, como ocorre com a 70 LGBP. De modo semelhante, um aumento nos transcritos da α2M foi também encontrado em P. monodon após 48h de infecção por WSSV [94] e em M. japonicus infectados pelo WSSV [95]. A superexpressão da α2M na fase aguda do desafio viral pode ser devido ao fato que esse inibidor de proteases participe limitando a infecção, inibindo proteases virais. Uma endonuclease já foi identificada no WSSV (vp38B) [96], porém a sua participação no processo infeccioso não foi ainda demonstrada. Por outro lado, e mais provável ainda, poder-se-ia aventar que a α2M estaria sendo superexpressa nos camarões severamente infectados pelo WSSV para “fechar” as proteases endógenas do hospedeiro, intensamente liberadas durante a lise celular advinda da intensa replicação viral nas células. De qualquer modo, podemos supor que esse inibidor de proteases atue no sentido de minimizar a agressão do patógeno aos tecidos do hospedeiro, contribuindo para a homeostasia do organismo do animal, sendo esse o motivo de ser superexpresso durante a fase aguda da infecção. A participação da α2M em processos infecciosos em crustáceos já foi sugerida em outros estudos, através do aumento não somente da sua expressão em camarões infectados por vírus, como acima relatado, mas também em animais tratados com componentes bacterianos [97-101] ou submetidos a uma alimentação contendo peptidoglicanas [102]. Além disso, a α2M é capaz de inibir in vitro proteases do fungo Aphanomyces spp, um patógeno conhecido de lagostins [103]. Um fato relevante encontrado em nosso estudo é que o aumento dos RNAm para α2M nas primeiras 48h da infecção por WSSV é consoante com os nossos achados anteriores de aumento da atividade biológica da α2M, após 72h do desafio viral [74]. Em outras palavras, a superexpressão gênica da α2M nas 48h pós-infecção precede o aumento da atividade biológica da proteína, que ocorre nas 72h. Outra conclusão relevante é que a depleção gênica da α2M encontrada nos animais sob forte infecção viral nas 72h após o desafio com WSSV, coincide com a depleção na expressão de outros genes imunológicos analisados (caspase-3, ALF, proPO e TGase), demonstrando claramente que esses animais apresentavam uma condição de debilidade imunológica generalizada, resultando em morte massiva dos mesmos, 48h após. Já, aqueles animais que foram previamente injetados com dsRNA vp28 tiveram um perfil de expressão da α2M muito diferente e semelhante ao do grupo controle, ou seja, próximo da normalidade. Esses achados indicam, portanto, que esse inibidor de proteases é superexpresso em função da progressão da infecção do camarão por WSSV. 71 De modo contrário ao encontrado para as expressões da α2M e da LGBP, o número de transcritos da proPO foi em geral muito diminuído em L. vannamei desafiados por WSSV, indicando que esse vírus module negativamente a expressão desse zimógeno, por consequência, depletando a ativação do sistema proPO, que é um importante mecanismo de reconhecimento do não-próprio em crustáceos. Diversos trabalhos também relataram uma diminuição tanto na expressão gênica da proPO [16,18,19], quanto na atividade da forma enzimática ativa, PO [16,18,72,74,104,105] em camarões submetidos a infecções virais. Em relação à atividade enzimática diminuída, alguns autores sugerem que a infecção ativaria a expressão de inibidores de proteases, que por sua vez, impediriam a ativação da proPO, levando a inibição de todo o sistema proPO. De certa maneira, nossos resultados corroboram essa hipótese, uma vez que um dos reguladores negativos do sistema proPO, a α2M [24,92], foi superexpresso após desafio dos camarões com WSSV. No entanto, cabe salientar que existem outros inibidores de protease que atuam na regulação do sistema propor, tais como a pacifastina [20], os inibidores da família Kazal [21,22,106] e a serpina [23]. De maneira interessante, os animais que foram tratados com dsRNA vp28 apresentaram valores de expressão da proPO sempre superiores aos animais apenas desafiados com vírus, sendo que o pico de expressão em ambos grupos ocorreu nas 24h após desafio viral. O motivo pelo qual o pico de superexpressão da proPO ocorreu no período de 24h pós-desafio é, ainda, um fato desconhecido. Outros picos de expressão também foram detectados em nosso estudo, em diferentes momentos e dependendo do gene em questão (argonauta, caspase-3, α2M, ALF e TGase), e análises futuras com qPCR poderiam auxiliar o esclarecimento destes pontos. Contudo, podemos inferir que o maior grau de expressão da proPO nos animais cujo sistema RNAi tenha sido ativado, demonstra novamente que o tratamento com dsRNA vp28 propiciou aos animais melhores condições gerais de saúde, uma vez que a infecção viral foi limitada, possibilitando a superexpressão de um zimógeno do sistema proPO, um mecanismo de reconhecimento do não próprio dos mais importantes dos crustáceos. E por fim, a depleção na expressão da enzima de coagulacao transglutaminase (TGase) nos animais não tratados com dsRNA vp28 e, por consequência, com infecção severa por WSSV, também modulou negativamente a expressão desta enzima, a exemplo da maioria dos genes analisados nesse estudo. Estudos anteriores relatam uma diminuição na expressão da TGase em F. chinensis a partir de 24h pósinfecção pelo WSSV [37]. Por outro lado, um aumento no tempo de coagulação da hemolinfa é normalmente observado em camarões 72 severamente infectados por WSSV [38-40], o que é compatível com uma expressão diminuída de TGase. Enquanto isso, nos animais tratados com dsRNA vp28 os níveis de expressão deste gene permaneceram, em geral, elevados durante o período experimental, indicando a recuperação imunológica dos mesmos. Sabe-se que a coagulação da hemolinfa é um mecanismo imunológico essencial para a sobrevivência dos crustáceos, pois previne a perda de hemolinfa e a disseminação dos patógenos pela cavidade corpórea do animal [12]. Recentemente, Maningas et al. [107] demonstraram que o silenciamento pós-transcricional tanto da TGase quanto da proteína de coagulação (CP) leva a um aumento na taxa de mortalidade de M. japonicus infectados pelo WSSV, indicando um forte envolvimento destas moléculas na resposta imune desses animais contra vírus. Em vista disso, uma possível participação da transglutaminase nos mecanismos de resistência dos crustáceos frente às infecções virais pode ocorrer e necessita ser mais bem investigada no futuro. Sendo assim, diante dos resultados obtidos neste estudo, podemos concluir que em L. vannamei infectados severamente com WSSV, mas não tratados com dsRNA vp28, ocorre uma superexpressão dos genes LGBP e α2M e uma depleção na expressão gênica da argonauta, caspase-3, ALF, proPO e TGase, além de promover uma queda acentuada na quantidade de hemócitos circulantes. Já, o tratamento dos animais com dsRNA vp28 antes do desafio com WSSV induziu um aumento na expressão gênica do ALF, da proPO, da TGase e da argonauta na maioria dos períodos analisados. A superexpressão da LGBP e da α2M em animais infectados por WSSV demonstra o envolvimento dessas proteínas na fase aguda de uma infecção por WSSV, não sabendo, contudo se essas proteínas participam de mecanismos antivirais, uma vez que os animais não sobreviveram à infecção. Por outro lado, a modulação positiva dos genes argonauta, ALF, proPO e TGase em L. vannamei cuja infecção viral foi limitada via RNAi, sugere a participação destas proteínas na defesa do organismo contra o WSSV, através da manutenção da sua imunidade. Com exceção da argonauta, cuja participação na defesa antiviral via RNAi já está bem estabelecida, a participação efetiva das outras proteínas acima em mecanismos antivirais permanece desconhecida, necessitando de maiores estudos para que se comprove essa hipótese. Além disso, o tratamento prévio de L. vannamei com dsRNA vp28, na concentração utilizada nesse estudo mostrou-se eficaz para induzir uma resposta antiviral contra o WSSV, via RNAi. A alta taxa de sobrevivência e a restituição das boas condições imunológicas dos animais desafiados, indicam que o tratamento com dsRNA vp28 levou 73 ao controle da infecção viral em sua fase inicial, limitando-a e promovendo a ausência do vírus em 80% dos sobreviventes. Dessa maneira, o dsRNA vp28 poderia ser utilizado, mediante estudos futuros de viabilidade econômica, como um agente terapêutico para prevenir/limitar infecções por WSSV em camarões. Apesar da aplicação prática da tecnologia de RNAi ser ainda inviável na carcinicultura, devido aos elevados custos e à dificuldade de aplicação nos animais via sistêmica, recentes estudos apontam para uma adaptação menos onerosa da técnica, o que viabilizaria a sua utilização futura em larga escala [108]. Quanto à forma de administração do dsRNA nos animais, um dos métodos alternativos a serem testados seria a administração oral de bactérias produzindo o dsRNA (bactérias transformadas, deficientes em RNAse III), método este já estabelecido para o nematódo C. elegans [109]. Recentemente, Sarathi et al. [69] investigaram a possibilidade de proteger camarões contra WSSV pela administração oral de ração coberta com bactérias produzindo dsRNA vp28 ou com nanopartículas de quitosana contendo dsRNA da vp28. Cabe, contudo salientar que, a ativação do sistema RNAi depende da entrada do dsRNA/siRNA na célula do hospedeiro e, portanto, a administração via oral deve garantir que os constructos atravessem de fato o trato digestório do camarão sem serem degradados e atinjam os tecidos do animal. Embora estudos nessa área sejam ainda escassos, existe uma forte demanda de pesquisas com o intuito de validar técnicas e diminuir os custos de aplicação, já que é consensual que o mecanismo antiviral baseado na técnica de RNAi representa atualmente a abordagem terapêutica melhor fundamentada, efetiva e promissora no controle das viroses de crustáceos cultivados. AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de agradecer à CAPES pela bolsa concedida à primeira autora, ao professor Maurício Lehmann do Instituto Federal Catarinense-Campus Araquari pelo auxílio durante a fase do desafio experimental, e ao Laboratório de Camarões Marinhos (UFSC), em especial ao Dr. Felipe Vieira, pelo fornecimento dos animais utilizados neste estudo. 74 6. REFERÊNCIAS [1] Lightner, DV. The Penaeid Shrimp Viral Pandemics due to IHHNV, WSSV, TSV and YHV. 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