UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS- CCH Curso de História FADEL NAGM A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL E A FRAGMENTAÇÃO DA PALESTINA. Boa Vista-RR 2013 FADEL NAGM A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL E A FRAGMENTAÇÃO DA PALESTINA. Monografia apresentada ao curso de História L/B, da Universidade Federal de Roraima, como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel e Licenciado em História. Orientador: Drº. Nelvio Paulo Dutra Santos Boa Vista-RR 2013 FADEL NAGM A CRIAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL E A FRAGMENTAÇÃO DA PALESTINA. Monografia apresentada como pré-requisito para conclusão do Curso de Licenciatura e Bacharelado em História da Universidade Federal de Roraima, defendida em 24/04/2013 e avaliada pela seguinte banca examinadora Banca Examinadora: _______________________________________ Profº Drº Nelvio Paulo Dutra Santos (Orientador) Curso de História - UFRR .______________________________ Profº Drº Roberto Ramos Santos Departamento de Ciências Sociais - UFRR _______________________________________ Profº. Msc. Antônio Klinger da Silva Souza Curso de História - UFRR DEDICATÓRIA A minha querida esposa, que tanto amo e que sempre apoiou-me nesta caminhada, Nadia Youssef Amad Nagm AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar a Deus e especialmente a minha esposa Nadia Youssef Amad Nagm, por todo amor e por estar ao meu lado nos momentos mais importantes da minha vida. Agradeço pelo apoio ao longo desses anos de estudos, incentivando me para que eu tivesse “garra” para continuar. Aos meus filhos Lucy, Marcel e Soraya Nagm, pelo amor fraterno e pelas alegrias que me proporcionam. Agradeço aos queridos colegas do curso de História e a todos os professores da UFRR, em especial aos do curso de História, pela dedicação, compreensão e conhecimento compartilhado, em especial a meu orientador, professor Nélvio Paulo Dutra Santos, pela colaboração e contribuição com seu conhecimento aperfeiçoado e precioso. EPÍGRAFE "O que está acontecendo na Palestina, não é justificável por nenhuma moralidade ou código de ética. Certamente, seria um crime contra a humanidade reduzir o orgulho árabe para que a Palestina fosse entregue aos judeus parcialmente ou totalmente como o lar nacional judaico." Gandhi. A conquista da terra, que significa basicamente tomá-la daqueles que têm pele diferente de nós ou narizes ligeiramente mais achatados que os nossos, não tem nada de bonito quando examinada bem de perto. (Joseph Conrad, Heart of Darkness). “Não existe maior tristeza no mundo, do que a perda de sua terra natal” Eurípides, 431 a.C. RESUMO Neste trabalho temos como objetivo uma abordagem que visa configurar da forma mais elucidadora possível, que a criação do Estado de Israel foi um dos fatores determinantes para a intensificação do conflito na região da Palestina. Este estudo aborda o conflito entre israelenses e palestinos com o intuito de promover uma reflexão sobre o assunto, sem pretender exaurir essa temática, dada sua complexidade e extensão. O conflito nesta análise, foi intensificado já partir do fim da Primeira Guerra Mundial, permaneceu durante o Mandato Britânico (1922-1947) até a criação do Estado de Israel, consolidando-se como uma forma de imposição de poder que prejudicou ainda mais a relação entre esses dois povos. Essa forma de política entre Israel e Palestina tem provocado milhares de mortes e é um dos conflitos mais duradouros dos últimos séculos. O que pretendemos suscitar aqui é uma reflexão sobre essa problemática mundial, pois se trata de um conflito que envolve interesses conflitantes e de difícil solução. Palavras-chave; Sionismo; Estado de Israel; Palestina; Refugiados. ABSTRACT In this work we aim to set up an approach to the most elucidadora possible that the creation of Israel was one of predetermining factors for the intensification of the conflict in Palestine. This study addresses the conflict between Israelis and Palestinians, to promote a reflection on the matter, so as not to exhaust this issue, given its complexity and scope. The conflict in this analysis, we have intensified since the end of World War I, continued during the British Mandate (1922-1947) until the creation of the State of Israel, establishing itself as a way of imposing power that detracted further the relationship between these two people. This form of policy between Israel and Palestine has caused thousands of deaths and is one of the most enduring conflicts of the past centuries. What we want to raise here is a reflection on this issue worldwide, because it is a conflict that involves competing interests and difficult to solve. Keywords; Zionism; State of Israel; Palestine; Refugees. LISTA DAS ILUSTRAÇÕES Figura 01: Mapa do Imperio Otomano(1878-1914)...................................................20 Figura 02: Mapa da Império Britânico na Palestina (ANO) ........................................ 32 Figura 03: Mapa da Partilha da Palestina proposta pela ONU (1947)....................... 48 Figura 04: Mapa dos Territórios ocupados por Israel após a guerra de 1948-49 ...... 49 Figura 05: Mapas da evolução do território da Palestina de 1947 a 2000. ................ 50 Figura 06: Mapa a guerra dos seis dias 1967............................................................51 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 101 2.CAPÍTULO I: A CONFIGURAÇÃO DA ANTIGA PALESTINA .............................. 15 2.1 A GÊNESE DO TERRITÓRIO PALESTINO........................................................ 15 3.2 O MOVIMENTO SIONISTA E A CRIAÇÃO DO “LAR NACIONAL JUDEU”. ....... 20 3.CAPÍTULO II: A FRAGMENTAÇÃO DO ORIENTE MÉDIO..................................30 3.1 A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO OTOMANO E A CRIAÇÃO DE ISRAEL ............ 31 3.2 A PARTILHA DO IMPÉRIO OTOMANO E O MANDATO BRITÂNICO NA PALESTINA............................................................................................................. 354 4.CAPÍTULO III: A FRAGMENTAÇÃO DA PALESTINA ....................................... 443 4.1 A PARTILHA DO TERRITÓRIO PALESTINO ................................................... 443 4.2 A GUERRA DE SEIS DIAS 1967....................................................................... 49 4.3 A CONDIÇÃO DOS PALESTINOS ................................................................... 532 5.CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 566 REFERÊNCIAS: ........................................................................................................ 59 11 INTRODUÇÃO A antiga Palestina é uma região que se localiza no Oriente Médio, mais precisamente onde foi estabelecido o atual Estado de Israel. Esse território que há milênios é conhecido por Palestina limita-se pelo Mar Mediterrâneo a oeste, o rio Jordão e o Mar Morto a leste1, ao norte faz limite com a fronteira da atual República Libanesa, a nordeste com as Colinas de Golã, território da atual República Árabe da Síria. Ao sul faz fronteira com a Península do Sinai, território da atual República Árabe do Egito. Tendo aproximadamente 27.000 Km2 de extensão, essa região encontra-se atualmente sob ocupação israelense (HOUAT, 2006). Além da localização no centro do mundo árabe, que comporta os maiores produtores de petróleo, a Palestina é o centro e o berço da fé das três maiores religiões monoteístas, a saber: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Outro ponto a ser levado em conta é a sua localização estratégica, passagem terrestre entre o continente, asiático e africano, além da proximidade do canal de Suez, que liga o Mar Vermelho ao mar Mediterrâneo. Isso faz com que a região seja de extrema importância não só para os árabes, mas para o mundo. Esses são alguns dos motivos que geram discórdia, ganância e cobiça por uma área tão pequena, mas grande se a compararmos com seus problemas constantes e atuais. Ao analisarmos atentamente os fatos histórico da região em discussão percebemos que apesar dos muitos anos que já se passaram as disputas e conflitos não mudaram muito. Sejam com maior ou menor intensidade, as tensas disputas políticas e econômicas e os conflitos religiosos, que envolvem grandes potências econômicas e militares de forma direta ou indireta, continuam predominando. No que se refere à paz, parece que cada dia torna-se um sonho difícil de ser alcançado naquela região. A região árabe que permaneceu sob o domínio do império otomano de 1517 a 1917, portanto por 400 anos, era uma região relativamente calma e pacata até a entrada dos ingleses em 1917. Juntamente com o movimento sionista, seu aliado, o governo inglês deu voz à pretensão do povo judeu de ocupação do território 1 O que atualmente configura a fronteira com o Reino Hashemita da Jordânia (HOUAT, 2006). 12 palestino com a Declaração Balfour2 que outorgava uma promessa de posse de parte da Palestina ao povo e ao movimento. Para justificar a ocupação da região, a propaganda do movimento sionista justificava que a Palestina era uma terra vazia, sem moradores, sem indústrias, fábricas ou comércios. De acordo com Houat (2006, p. 16) “a condensação desse mito veio no famoso slogan sionista “uma terra sem povo para um povo sem terra3””. Com a ocupação da Palestina após a criação do Estado de Israel em 1948, a região passou a ser palco de grandes conflitos violentos e foram surgindo vários campos de refugiados, causando precariedade na condição de vida da população que ali já habitava. As ações políticas e militares executadas pelo Movimento Sionista na criação do estado de Israel trouxeram como consequência a criação de grandes campos de refugiados e a expulsão dos palestinos de suas terras. Podemos considerar que foi fator contribuinte para promover o desequilíbrio socioeconômico e cultural da região, portanto transformando os palestinos em refugiados em suas próprias terras. também promover uma reflexão sobre os ações aplicadas pelos grupos armados sionistas na retirada dos palestinos da Palestina. Pretende-se discutir do mesmo modo, sem o objetivo de exaurir a temática, o interesse inglês e sua política em relação à Declaração Balfour e o movimento sionista envolvidos na partilha da Palestina, pois essas ações tiveram grande importância nesse acontecimento. Esta pesquisa justifica-se não apenas por seu caráter inédito, em se tratando da pesquisa cientifica abordando essa temática no campo da história na Universidade Federal de Roraima, como também por sua relevância social, política e cultural, dada a importância do assunto. O interesse por esta temática assenta-se no fato de pertencer à comunidade árabe. Dessa forma, este estudo discute a questão da Palestina sob a ótica de um aluno pesquisador que ainda adolescente presenciou de perto a horrores das guerras e a situação do campo de refugiados. As lembranças do passado marcaram pelas condições precárias a que aquela população foi e ainda é submetida. Dessa forma, a verificação in loco daquela 2 Declaração feita em 1917, por Arthur James Balfour durante a primeira guerra mundial (HOUAT, 2006). 3 UNITED NATIONS. The Origins and Evolution of the Palestinian Problem. Tradução nossa. Disponível em: www.un.org/Depts/dpa/ngo/history.html. Apud HOUAT (2006). 13 realidade foi marcante e contribuiu como motivação para que este estudo pudesse prosperar. As reflexões sobre conflitos entre povos no âmbito das relações internacionais, por exemplo, está presente desde os pensadores da antiguidade grega, como é o caso de Tucídides. Nessa perspectiva é que se pretende suscitar uma reflexão sobre o tema, com o objetivo de acrescentar mais discussões à produção bibliográfica, neste que é sempre um tema dotado de levantes sempre acalorados. A documentação utilizada para realizar esta pesquisa foi plenamente bibliográfica, tendo em vista a impossibilidade de trabalhar com fontes primárias, dadas a multiplicidade de idiomas dos escritos sobre o tema, e o difícil acesso. Por essa razão, a seleção de autores aqui escolhidos foi feita pela sua relevância na complementação desse trabalho, devido às variadas perspectivas dadas ao assunto. Os escritores adotados neste trabalho são jornalistas, historiadores e especialistas no assunto; muitos se encontram direta ou indiretamente ligados ao conflito, outros são autores de renome no meio acadêmico que procuram manter maior distanciamento. Não poderíamos aqui, dispensar à utilização de autores de ambas as partes, mesmo levando em consideração que cada um deles defende seu ponto de vista abordando a questão com pouca ou nenhuma imparcialidade, dado o nível de envolvimento que alguns mantêm com seu objeto de estudo. Utilizaremos entre os principais trabalhos a obra de Finkelstein (2005), que ao comparar os estudos de Morris (2004), trata de forma realista e coerente as consequências geradas a partir da expulsão dos árabes palestinos de sua terra natal. Também contribui com essa discussão Houat (2006), que afirma ser a Palestina “a única região que não obteve a independência até o ano de 1947, devido ao comprometimento britânico com o movimento sionista”. A escolha da obra de Houat (2006) está amparada no fato de que este autor contribuir significativamente para uma compreensão árabe do conflito em relação a outras obras que abordam o mesmo tema, mas sob a ótica do sionismo. A obra de Gomes (2003), por sua vez, foi escolhida pelo tratamento que oferece sobre o protetorado britânico na região da palestina e o papel de destaque do governo britânico na criação de Israel. Também procuraremos analisar a importância dada à propaganda pelo movimento sionista, pois este possuía este 14 como instrumento a seu poder e o colocava a serviço do movimento sionista para incentivar a volta dos judeus do mundo todo à chamada “Terra Prometida”. Neste sentido, este estudo apresenta-se configurado da seguinte forma: no primeiro capítulo procuramos elaborar um histórico sobre a configuração territorial da antiga região da Palestina, na tentativa de visualizar a configuração do seu território nos moldes do passado, para uma possível comparação com a situação atual. Também neste primeiro capítulo procuramos abordar a gênese do movimento sionista e seu aparelhamento no intento de criar o Lar Nacional Judeu, este que foi o objetivo maior desse movimento, ao estabelecer na Palestina o Estado de Israel, apoiado por grandes potências da Europa e os EUA. No segundo capítulo procuramos fazer uma abordagem sobre as mudanças que ocorreram no Oriente Médio, o que se apresenta em nossa análise, como sendo o que ocorreu a partir da decadência do Império Otomano, onde este se caracterizou com o acontecimento que alterou as características geopolíticas da região e desconfigurou, em particular a palestina. Já no terceiro e último capítulo, tivemos como objetivo abordar a fragmentação da Região Palestina, esta que teve a maior parte do seu território partilhado entre Egito, Jordânia e o movimento sionista, que ficou com a maior parte do território palestino, apoiado pelas potências detentoras do poder na Europa naquele período. Ainda nesse último capítulo, procuramos enfocar a criação do Estado de Israel e a situação dos refugiados árabes-palestinos, estes que tiveram seu território expropriado. 15 2. CAPÍTULO I: A CONFIGURAÇÃO DA ANTIGA PALESTINA A Palestina sempre foi uma região em constante conflito, onde sempre esteve permanentemente ocupada por povos de diferentes origens, instaurando desse modo uma constante “onda” de inquietações religiosas e políticas que perduram até os nossos tempos. Busca-se configurar sua formação territorial no passado e o que se apresenta atualmente como sendo seu domínio espacial. Procuraremos identificar ainda a gênese do movimento sionista no Oriente Médio e apontar as consequências de seu surgimento para a chamada “causa Palestina” e a criação do “Lar Nacional Judeu”. 2.1 A Gênese do território Palestino Ao analisarmos a constituição da Palestina, convém retroceder historicamente um longo período, pois assim podemos considerar um histórico de ocupação importante dessa região palco de grandes conflitos. Acerca de sua formação política, Braga nos assegura que: “A Palestina esteve organizada em cidades-estado sob a hegemonia egípcia durante uma boa parte do II milênio a. C. Situação que mudou nos últimos séculos desse milênio”. A Palestina foi ocupada por sucessivas levas de imigrantes ou invasores vindos do norte e do noroeste, das ilhas da sua costa ou do outro lado do Mediterrâneo. Segundo o autor “os historiadores costumam designálos com a expressão “povos do mar”“. (BRAGA, 2002. P.3) Esses povos parecem ter-se fixado ao longo da costa e os mais conhecidos entre eles, estão os Filisteus que ocuparam principalmente o sudoeste (costa oeste do Neguev e Chefela). Esses povos fundaram vários pequenos reinos (Gaza, Asdod, Ascalão, Gat e Ekron) e paralelamente aos reinos filisteus, constituíram-se primeiro o reino de Israel no norte da Palestina e depois o reino de Judá, mais pequeno, na zona das baixas montanhas do sul (BRAGA, 2002; HOUAT, 2006). Braga (2002 p. 2) ainda nos assegura que: Talvez por causa da sua situação geográfica – faz parte do corredor entre a África e a Ásia e ao mesmo tempo fica às portas da Europa – a Palestina nunca foi sede de um poder que se estendesse para além das suas fronteiras. Pelo contrário, esteve quase sempre submetida a poderes 16 estrangeiros, sediados na África, na Ásia ou na Europa. Em regra geral, foi só sob as potências estrangeiras que ela teve alguma unidade política. Desse modo, para compreendermos a formação territorial da região da Palestina é necessário perceber que esse processo se constituiu de forma não rara, bastante conflituosa. Sobre sua localização, Houat (2006 p. 7) nos informa que: O território onde foi estabelecido o atual Estado de Israel era chamado de Palestina, é limitado pelo Mar Mediterrâneo a oeste, o rio Jordão e o Mar Morto a leste (o que atualmente configura a fronteira com o Reino Hashemita da Jordânia). Ao norte limita-se pela fronteira com a atual República Árabe da Síria, que atualmente se encontra sob ocupação israelense. Ao sul faz fronteira com a Península do Sinai, território da atual República Árabe do Egito. O território da Palestina tem aproximadamente 27.000 Km2 de extensão e o que compreende a atual Palestina, localiza-se dentro do território de Israel4. Seu território é formado, de um modo geral, por uma planície costeira, uma faixa de colinas e uma cadeia de baixas montanhas cuja vertente oriental é mais ou menos desértica (BRAGA, 2002). Segundo Houat (2006 p. 7) “pesquisas arqueológicas, datam de cem mil anos a presença humana na região da Palestina”. Ainda para o mesmo autor, as mesmas pesquisas confirmam registros de que “povos nômades oriundos da África estiveram ali há cerca de 50 a 80 mil anos deixarem o local, que foi posteriormente ocupado pelos Neandertais e por volta de 45 mil anos retornaram para a Palestina”. As primeiras comunidades não nômades constituíram-se por volta de 11.000 anos, e foram elas que ocuparam esse território de forma contínua e a cidade de Jericó, famosa por suas muralhas, foi fundada por esses primeiros habitantes que se fixaram de forma permanente na Palestina. Consta também que vários outros povos passaram pela região, miscigenando-se com outros que lá já habitavam (BRAGA, 2002). Ainda o autor segue... A região permaneceu sob a hegemonia Egípcia durante dois milênios a.C. e seus habitantes eram chamados de canineus ou fenícios, e ocuparam a costa dos atuais Líbano e Síria, formando as cidades-estados; porém o termo canineus é voltado para a comunidade que trabalhava no solo e o termo Fenícios sempre foi associado aos que trabalhavam com o comércio marítimo. 4 ALMANAQUE ABRIL – ano 31 – edição 2005. São Paulo: Editora Abril, 2005. 17 Para Houat (2006 p. 7) “o povo judeu (também chamado de israelita ou hebreu) teria sua origem em Ur, no atual Iraque”. Os judeus era um povo semita, politeísta, até a revelação divina recebida pelo patriarca Abraão para abandonar o politeísmo e também levar seu povo para a terra conhecida por Canaã por volta de 2.200 a.C., a atual Palestina afirma Houat. Desse modo, era inevitável que a disputa entre os cananeus - que já habitavam a região - e os invasores, se desse pelo controle de território. Nesse mesmo período, os Filisteus e os judeus construíram no norte da Palestina, o Reino de Israel e pouco tempo depois foi criado o reino de Judá em proporção menor na zona de baixas montanhas do sul (HOUAT, 2006). A conquista da região pelo império Assírio em 722 a.C. acabou provocando o desaparecimento do Reino de Israel, enquanto os reinos dos Filisteus e de Judá permaneceram sobre domínio do Império Assírio, que representava entre o século IX e o século VII a.C., uma grande potencia da região5. No ano 539 a.C., quando o imperador persa Ciro tomou o poder da Babilônia, muitos hebreus puderam voltar à antiga Palestina. Depois da conquista do império persa pelo macedônio Alexandre, a antiga Palestina ficou submetida à influência helenística. No início do século II a.C. passou do domínio da dinastia ptolomaica, que governava então o Egito, para os selêucidas da Síria. Estes impuseram a helenização à força, provocando a reação armada dos hebreus mais conservadores. O país recuperou a 6 independência sob a dinastia dos macabeus . No final do século VII a.C o Egito e a Babilônia disputavam entre si a imensa porção de terras do império Assírio. Finalmente os Babilônios conseguem dominar a região e anexar a Palestina ao seu território, dominando-a por oito décadas, expulsando os Impérios Persas Somente por volta de 63 a.C. a Palestina é anexada ao Império Romano. Os judeus, moradores da região se revoltam contra o jugo Romano e em resposta o império Romano reprime com violência expulsando-os da região (BRAGA, 2002). Para Senna (2008 p. 33): . Com o surgimento do Cristianismo, a Palestina tornou-se muito importante no campo religioso, passando a ser palco de grandes eventos, como o nascimento de Jesus, sua crucificação e ressurreição. Com a divisão do Império romano em dois: o do Ocidente e o do Oriente, também chamado império Bizantino, a Palestina ficou sob o domínio do último, tornando assim maior parte de sua população cristã. 5 BRAGA, Alfredo. A Palestina. Comissão Justiça e Paz CNIR/FNIRF. Portugal, 2002. Disponível em: www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/palestina.html. 6 ENCICLOPÉDIA BARSA, 2001, v. 11, p. 64. 18 Ainda a respeito da sua constituição territorial, registros informam que ainda por volta de 600 da idade cristã, ocorreu na Península Arábica (região que comporta os atuais Reinos da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Estado do Kuwait e outros) uma revolução religiosa e política, como nos aponta Houat (2006 p. 9): Com o surgimento do Islã na região, formou-se ali o Império ÁrabeMuçulmano, de caráter tanto político quanto religioso, que levou a nova religião, a língua e a cultura árabe para além da península, conquistando e arabizando os antigos territórios da Assíria, Mesopotâmia, Egito, e demais regiões vizinhas. Em 638 d.C. toda a Palestina passou para o domínio arábe-muçulmano, onde a sua população original aos poucos foi adotando o islamismo como religião (porém alguns habitantes mantiveram o cristianismo adotado na época do Império Bizantino), e a língua árabe em substituição ao grego e ao aramaico, então correntes na região. Como apontou o autor acima mencionado, “não houve uma troca de populações, ou seja, os novos conquistadores árabes não expulsaram os habitantes nativos, e nem sequer houve uma imigração em massa dos árabes da península para a Palestina”. Ainda segundo o mesmo autor, o que ocorreu foi “uma troca cultural”, onde tanto os nativos que ali habitavam quanto os conquistadores “absorveram de forma recíproca aspectos da cultura do outro”. A primeira cruzada, organizada na Europa em 1099, com o objetivo declarado de tirar a cidade sagrada de Jerusalém do domínio islâmico e trazê-la para o domínio cristão conquistam a cidade e, no ano seguinte, ocorre à criação do Reino Latino de Jerusalém (BRAGA, 2002). A partir daí, a cidade de Jerusalém ficou então sob domínio cristão-europeu até ser novamente tomado por forças muçulmanas, comandadas pelo curdo Saladino, fundador da dinastia aiúbida, que passou a governar a região 7. Devido a problemas internos, o Império Árabe-Muçulmano deu lugar ao Império Turco-Otomano8, um Império fundado por Othman I no século XIX D.C. e que recebeu o nome do seu fundador (HOUAT, 2006). Podemos observar no mapa a seguir, como se constituía o Império Otomano. 7 BRAGA, Alfredo. A Palestina. Comissão Justiça e Paz CNIR/FNIRF. Portugal, 2002. Disponível em: www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/palestina.html. 8 Sobre a formação, trajetória e o colapso do Império Otomano ver: HOURANI, Albert H. Uma História dos Povos Árabes. Tradução: Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. 19 Figura 01: Mapa do Império Otomano (1878 - 1918) Fonte: http://wps.ablongman.com/wps/media/objects/419/429222/thumbs/ch27_653.html O novo Império colocou sob sua soberania os territórios que compunham o então Império Árabe-Muçulmano, passando a Palestina em 1517 para o seu domínio, essa situação que durou até o fim da I Guerra Mundial. No período após a Primeira Guerra Mundial, a Palestina e vários outros territórios turco-otomanos passaram para o domínio do Império Britânico (como a Jordânia, o Iraque e outros), sendo que outros territórios turco-otomanos passaram para o domínio francês (Líbano, Síria), no acordo chamado de Sykes-Picot9, celebrado entre as duas potências vencedoras. Por ser uma região revisitada e habitada por vários povos, a Palestina sempre foi considerada uma região conflituosa do ponto de vista político, assim considerando suas características territoriais estratégicas, pois como já abordado, a região situa-se num estreito trecho de favorável passagem entre a África e Ásia, e sempre foi palco de grande número de conquistas, pelos mais variados povos, por se constituir num corredor natural para os antigos exércitos. Quando nos referimos à propriedade territorial da região da Palestina - a chamada terra prometida -, o 9 Acordo de 1916 chamado de Sykes-Picot, que recebeu o nome dos Secretários de Estado responsáveis por ele: Mark Sykes (Inglaterra), e Georges Picot (França) Originalmente, o acordo Sykes-Picot previa que a Palestina ficaria sob controle francês, mas percebendo que a Inglaterra poderia ser a grande aliada desejada, o movimento sionista convenceu a França a abrir mão do seu controle em favor do país. HOUAT, Stephan Fernandes. A criação do Estado de Israel e um Estado único como solução dos conflitos. Centro Universitário do Pará. Belém/PA: CESUPA, 2006 p. 25/83. 20 assunto suscita para muitos o grande questionamento como nos aponta Spohr (2002, p. 3): Mas então, de quem é a Terra Prometida, afinal? Os judeus se fixaram primeiro em Jerusalém, antiga cidade de Canaã, há pelo menos 4 mil anos. A invasão egípcia os obrigou ao exílio, de onde retornaram sob a liderança de Moisés. Durante a dominação romana, eles se dispersaram pelo mundo a chamada diáspora. Em 635 d.C., com a expansão islâmica, os muçulmanos chegaram à região e lá permanecem até hoje. Somente em 1917, com a Declaração Balfour, e posteriormente após a Segunda Guerra Mundial, os judeus de todo o mundo começaram a retornar ao Oriente Médio. Considerando esses apontamentos acerca da formação político-territorial da palestina, devemos considerar que os judeus - que tanto reivindicam o território -, apenas retornaram à Palestina após 1917 e que a mesma foi ocupada sucessivamente por vários povos. Convém considerar ainda, que essa região, palco de conflitos constantes, certamente não terá uma unidade quando o assunto se tratar de direitos à sua propriedade territorial. O poder sobre o território Palestino é invariavelmente o assunto mais discutido por sua população ao longo dos tempos, e o que tem gerado tantos conflitos atuais naquela região e não temos como resolver o impasse que permanece sobre essa questão, suscitando apenas o questionamento sobre a propriedade da região, se é que podemos considerar tratarse de apenas um único povo. 2.2 O Movimento Sionista e a Criação do Lar Nacional Judeu. Com a dispersão dos judeus pelo mundo, feita pelo Império Romano, muitos deles alimentaram o desejo de retornar à Palestina, porém esse desejo permaneceu de forma mais utópica do que prática (estando mesmo presente na fé judaica, que o Messias levará todos os judeus para a Palestina), até que essa idéia começou a se concretizar com o surgimento do sionismo político. Apesar dessa dispersão dos judeus pelo mundo, alguns deles permaneceram na Palestina, sendo que na época do Império-Turco Otomano a estimativa é que eles formavam 10% da população local, enquanto os outros 90% eram árabes palestinos, de maioria muçulmana, mas também havendo uma minoria de cristãos (HOUAT, 2006). 21 Desse modo, o sionismo ganha propagação no centro e no leste europeu no final do século XIX, em grande parte por causa das perseguições, que os judeus sofriam nos países em que habitavam na Europa, por conta do antissemitismo (nome criado na Alemanha para o racismo contra judeus pelo fato deles serem um povo semita, como os árabes, os cananeus, os filisteus e outros). Essas perseguições eram feitas na forma de depredação das suas casas e de seus estabelecimentos comerciais, ataques a pessoas que caminhavam nas ruas, dentre outras. Isso ocorria por uma série de fatores, como por exemplo, o pensamento de que os judeus eram os responsáveis pela morte de Jesus (durante muito tempo foi alimentada pela Igreja Católica), além da culpa que os governantes lançavam contra eles para justificar os problemas sociais, e assim poder mascarar a sua própria ineficiência, e a idéia de que os judeus eram estrangeiros em solo europeu e outras predominantemente negativas . Sobre a ideia que propulsionou o surgimento do sionismo, Houat (2006 p. 10) acrescenta que: Partindo da idéia de que os judeus ao redor do mundo, através de ligações religiosas, étnicas, culturais e ancestrais formavam uma única nação e como tal precisariam de um Estado para onde essa nação pudesse convergir para escapar do anti-semitismo e preservar a cultura judaica, foi criado o movimento sionista. A que deu origem ao chamado nacionalismo judaico. Na sua obra, Herzl apresenta os objetivos para a criação de um Estado habitado exclusivamente por judeus, que segundo ele, seria a única forma de os protegerem do anti-semitismo que tomava corpo na Europa no período, em especial na Rússia czarista. Em seu manifesto, Herzl assim referia: “... as tentativas de colonização, feitas por homens verdadeiramente bem intencionados, não deram até aqui, os resultados que eram de esperar, com quanto, tenham construído experiências bem interessantes”. De acordo com Bartel (2006, p. 18) Herzl afirmava que “a questão judaica não era nem social, nem política e sim nacional”, pois “o anti-semitismo só seria resolvido através da criação de um estado Nacional Judaico”. Desse modo, Herzl10 “conclamava todos os 10 Herzl criou o sionismo político motivado pelo conhecido caso de antissemitismo francês: o caso Dreyfus (1894), oficial do exército francês acusado de repassar informações para o exército alemão. Fonte: BARTEL, (2006). 22 judeus a participarem do movimento, transformando o problema judaico numa questão política” (BARTEL, 2006). Entre os aspectos que contribuíram para que o movimento sionista pudesse expandir-se favoreceram o cenário favorável e o apoio judeu que ganhou o movimento. Para isso foram utilizados diversos meios para sua propagação. Do ponto de vista econômico o cenário favorável ao movimento formava-se, pois como nos informa Toledo (2001 p. 4): O pano de fundo da irrupção do movimento sionista foi a rápida capitalização da economia russa depois da reforma de 1863, que tornou insustentável a situação das massas judaicas das pequenas cidades. No Ocidente, as classes médias, trituradas pela concentração capitalista, começam a se voltar contra o elemento judeu, cuja competição agrava sua situação. A respeito da construção da ideologia sionista, Schvartzman (2005 p. 35) considera que esta se constitui desse modo: A ideologia sionista foi erigida sobre o mito de retorno a Sion. A pátria recebeu o nome de Sion, o Movimento de Libertação Nacional recebe o nome de sionismo, e a história transformou-se num novo retorno a Sion. A renovação da nacionalidade judaica obrigou um retorno a símbolos, ritos e mitos da nacionalidade, da religião e da história judaicos. Para compreendermos a ideologia nacionalista do movimento sionista, sem muito aprofundamento nessa temática para não incorrermos em redundâncias ou simplificações, devemos também considerar os apontamentos de Bitan (1997) apud Schvartzman (2005 p. 35), quando nos assegura que: O sacrifício pessoal com objetivos nacionalistas deve ser entendido como um valor supremo em todos os movimentos nacionais. Nessas sociedades, o mito serve para interpretar o cotidiano e fortalece a consciência individual e coletiva, instiga sentimentos, direciona um caminho e uma forma de atuação sem necessariamente ter uma exatidão histórica. De acordo com Houat (2006 p. 11), no dia 29 de agosto de 1897, aconteceu o primeiro congresso sionista na cidade de Basiléia na Suíça, “oficializando” o nascimento do sionismo político moderno. Esse evento, que contou com a presença de 197 participantes e inicialmente estava programado para ocorrer em Munique, na Alemanha, pelo fato do local ter restaurantes de comida kosher (alimento preparado 23 de acordo com as leis judaicas). Porém, os líderes das comunidades judaicas da cidade não quiseram ser anfitriões desse congresso. Uma das diretrizes estabelecidas nesse congresso foi buscar o consentimento das potências mundiais para concretizar os objetivos do sionismo. Nesta reunião foi formada uma comissão de vários rabinos cuja missão era examinar a viabilidade da ideia de Herzl e alguns deles foram até à Palestina verificar se era uma alternativa viável edificar um Estado Judeu. Após a reunião, Herzl escreveu em seu diário “Na Basiléia fundei o Estado Judeu” (HOUAT, 2006). Ao mesmo tempo era formada uma comissão para partir rumo à Palestina e ver a possibilidade de edificar o Estado Judeu. Passado algum tempo, a comissão envia um telegrama com a seguinte mensagem: “A noiva é bela, mas está casada com outro homem”. Essa foi a metáfora usada por Herzl para dizer que aquela terra já era habitada por outro povo (HOUAT, 2006). A respeito da escolha do local para a instalação do chamado “Lar Nacional Judeu”, Braga (2002 p. 13) que aqui nos assegura aqui: Os nacionalistas judaicos não tardaram a optar pela Palestina. Essa escolha, embora não fosse necessária, era natural e particularmente mobilizadora, por causa da ligação do judaísmo à Palestina e da atração que ela exerce mesmo sobre muitos judeus que não são religiosos ou originários desse país. O nacionalismo judaico tomou assim o nome de sionismo, palavra que deriva de Sião, um dos nomes de Jerusalém na Bíblia. Segundo Houat (2006 p. 12), com o “objetivo de levar o plano sionista adiante”, foi criado em 1901, o Fundo Nacional Judaico, que tinha como objetivos “levantar uma grande soma de recursos de doadores e iniciar uma compra de grandes extensões de terra na Palestina por pessoas comuns, depois transformar essas terras em comunidades agrícolas que seriam os núcleos iniciais do Estado de Israel”. Essas mesmas terras que eram consideradas propriedades inalienáveis dos judeus e, portanto, os árabes não podiam arrendá-las, comprá-las ou trabalhar nelas11. Segundo o autor palestino Said (1990)12 “essa regra permanece até os dias atuais em Israel, sendo que as terras da Palestina continuam sendo propriedade do 11 GOMES, Aura Rejane. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel - Dissertação de Mestrado na USP. São Paulo, 2001, p. 27. Disponível em: www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8131/tde24052002- 163759. 12 SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Cia. das Letras, 1990 apud HOUAT, Stephan Fernandes. A criação do Estado de Israel e um Estado único como solução dos conflitos. Belém Centro Universitário do Pará. Belém/PA: CESUPA, 2006 p. 12. 24 Fundo Nacional Judaico”. Essa foi possivelmente uma estratégia pensada para forçar os palestinos a sair do seu território e ir para os países vizinhos, como forma de deixar vago o território que seria objeto de futura imigração judaica. O objetivo primário era trazer um grande contingente de judeus para povoar as terras como colônia, expandindo-se com o tempo por todo o resto da Palestina, a fim de formar o Estado Nacional Sionista dos judeus. Mas para realizar esse objetivo era necessário a expulsão dos palestinos das suas terras, o que ficou conhecido como êxodo Palestino. Além dessas metas do movimento, também existia um planejamento estratégico de ações específicas, que visavam atingir as metas conforme seus próprios objetivos que eram: Manter as comunidades judaicas fora de Israel, vivendo em guetos para impedir a mistura com outras raças, assim não perderiam a sua identidade e sua lealdade ao Estado de Israel, para isso, utilizaram meios de persuasão para com as grandes potências, aproveitando o momento de transformação provocado pela Primeira Guerra Mundial em todo mundo (HOUAT, 2006). Após a Primeira Guerra Mundial e no período entre guerras, a fuga em massa da Europa temendo o nazismo e suas atrocidades também fez aumentar o fluxo migratório de judeus para a Palestina. Nesse aspecto, Ishibashi (2009 p. 30) considera que: Tanto a Inglaterra quanto os Estados Unidos permitiram que desde 1933, Hitler perseguisse os judeus, além de terem fechado suas fronteiras aos milhares de refugiados que escapavam buscando asilo. A Inglaterra, que naquele momento detinha o poder político e militar sobre o território palestino, fez um acordo com colonos sionistas para garantir que estes pudessem expulsar os palestinos de suas terras, confiscarem seus bens e obrigar, antes mesmo da votação da ONU, a expulsão de mais de 1 milhão e meio de pessoas. Essa política respondia à orientação, ratificada na reunião sionista de Baltimore em 1942, de estabelecer na Palestina um Estado essencialmente judeu. Desse modo, podemos considerar que o sionismo foi um movimento concebido para criar um Estado político com características religiosas, para manter a união dos grupos judeus oriundos de varias regiões do mundo. Os judeus que eram uma pequena minoria da população que habitava a Palestina chegaram retirando os habitantes nativos e levando para lá pessoas do mundo inteiro. Quem contribui com essa discussão é Gomes (2001, p. 21) que assim nos assegura: 25 É interessante notar a especificidade desta empresa, inédita na história, que objetivou a criação de um Estado nacional distante geograficamente do povo em questão, “disperso pela Europa, que deveria constituir a nação”. Ainda para Gomes (2001 p. 13) “seria bastante difícil supor que o sionismo pudesse obter o apoio tanto de judeus como o de não-judeus, já que dificilmente um grande número de pessoas aprovaria uma troca de populações de tamanha dimensão”. O movimento sionista, ao perceber que a idéia da expropriação das terras palestinas não seria bem aceita e que não teriam seus apelos garantidos de forma democraticamente, também “lançou uma série de argumentos baseados em distorções históricas, que até os dias atuais continuam sendo propagados” (GOMES, 2001). Segundo Palumbo (1998)13 apud Gattaz (2003): (...) dos principais obstáculos para implementação das metas sionistas foram as seguintes: como convencer o povo judeu a uma mudança em massa para a Palestina, já que mantinham laços muito fortes com a sociedade européia e exerciam cidadania plena; segundo: as populações nativas da Palestina, ausentes das discussões poderiam ser alvo de marginalização, despejo e perda da identidade; e último: como acomodar o maior número possível de Judeus na “terra prometida” pois estes representavam apenas 10 % da população nativa e de origem árabe. Podemos assim considerar que o movimento originou-se com um plano arquitetado por seus líderes para a tomada de toda a Palestina, expulsando a população local para fora de seus lares de forma indiscriminada. O objetivo final do movimento sionista era a aquisição da Palestina e de toda Cisjordânia e, possivelmente algumas áreas de sul do Líbano e sul da Síria (MORRIS, 2004). Neste sentido, Ishibashi (2009 p. 30) nos aponta: Assim, financiados pelo imperialismo britânico e depois pelo norteamericano, os sionistas se utilizaram de diversas medidas para favorecer a imigração judia para o território palestino, incluindo imensas facilidades econômicas. A administração britânica na Palestina lançou um decreto que concedia a propriedade da terra a todo judeu que construísse uma simples torre, estimulando a ocupação de terras pelos judeus e a imigração, e consequentemente a expulsão e expropriação das terras palestinas. Assim, as aldeias palestinas foram cortadas por um número cada vez maior de propriedades judias, enquanto se formavam bandos paramilitares de sionistas que se dedicavam a aterrorizar os camponeses palestinos protagonizando diversos crimes, como o massacre de Kibiya em 1936, Deir Yassin em 1948 etc. Esses bandos foram comandados por Ariel Sharon e Menahem Begin, formando a base do Estado sionista e de seus atuais partidos políticos. 13 PALUMBO, Michael. The Palestinian Catastrophe: the 1948 expulsion of a people of their homeland. Londres, 1998. Tradução Fadel Nagm 26 Essas ações planejadas do movimento sionista apanharam um povo com muita ingenuidade do ponto de vista de defesa militar e desorganizado socialmente; além do mal preparo da força de defesa árabe, o que acabou facilitando a vitória do grupo armado sionista haganah14, que soube aproveitar a situação militar enfraquecida da população local e provocar a derrota desastrosa total dos árabes. Para o movimento sionista a derrota dos árabes foi uma vitória histórica e o nascimento de um novo Estado Nacional Judaico com tendências ocidentais, em uma região de maioria mulçumana conservadora, um marco em termos de mudanças político-religiosas naquela região. A respeito das mudanças políticas na região, Morris (2004 p. 112) acrescenta que aqui: As austeridades contra o povo Palestino acontecem quando o Haganah 15 utiliza o Dalet contra a esperada invasão árabe após 15 de maio de 1948. O aumento das ações militares de ambos os lados provocou o que é conhecido por êxodo dos árabes, aumentando o número de refugiados. De acordo com Finkelstein (2005, p. 135) “no plano Dalet, os grupos sionistas dissidentes lançaram uma série de ataques militares que tiveram como resultado a fuga dos árabes da Palestina”. Os ataques foram resultado da expansão do conflito. Ainda neste período, o braço armado do movimento sionista, o Haganah, usou várias táticas de guerra para obrigar os palestinos a partirem em fuga deixando suas casas. Ainda segundo Finkelstein (2005 p. 138), esses grupos armados utilizaram de meios indiscriminados e invariavelmente cruéis para expulsar e amedrontar a população da palestina, como nos informa aqui: Eles utilizavam jipes para percorrer os vilarejos e transmitir por alto-falante sons de horror, entre eles gritos, lamentos e gemidos angustiados de mulheres árabes, toque de sirenes e alertas sonoros de incêndio interrompido por uma voz sepulcral dizendo em língua arábica: “salvem suas almas, ó fieis! “Fujam para salvar as suas vidas” além de incendiadas 14 Organização paramilitar judaica, que constituiu a base do exército israelense. Embora ilegal para os mandatários da região, o grupo constituía a maior força militar dos sionistas. Sem dúvida, foi a base do exército israelense formado oficialmente no final da década de 1940, tendo o inicio de suas atividades na década de 1930. Fonte: LIMA, Robson da Silva Dutra. A Formação do Estado de Israel: a influência britânica no conflito Árabe – Sionista. 2006. Disponível em: www.fapa.com.br/monographia. Acesso em 20 de março de 2011. 15 Plano de segurança emergente do estado judeu junto aos blocos de assentamentos fora do território do seu domínio. 27 as colheitas. Todas essas ações tiveram por objetivo de levar ao exílio os povos palestinos, por um modo de expulsão de seu território. Relato de um oficial da Haganah, testemunha ocular. (FINKELSTEIN, 2005, p. 138 apud Palumbo, p. 64). A respeito da “expulsão” dos palestinos, Finkelstein (2005 p.131) nos informa dessa maneira aqui: (...) a fuga dos árabes palestinos divide-se basicamente em duas etapas: novembro de 1947, até a declaração de independência de Israel em maio de 1948 e, a segunda refere-se ao período de junho de 1948 até a assinatura dos acordos de armistício em meados de 1949. É necessário considerar que os palestinos abandonaram suas casas em épocas diferentes, o que tem tornado os dados do período imprecisos sobre a quantidade desses refugiados, pois a região da Palestina encontrava-se em constante “estado de guerra”, além de um censura rigorosa. A esse respeito Morris (2004, p.120) discorre que aqui: (...) Os discursos, debates, diário e memorandos produzidos pelos burocratas sionistas passavam invariavelmente pelo crivo da censura política antes de chegar à publicação; boa parte era desaparecia ou eram distorcidos aos historiadores e estudantes que utilizam estas fontes (...) Podemos ainda considerar que, as idéias de formação do movimento sionista moderno, se é que podemos chamá-lo assim, do ponto de vista do viés religioso, teve início na parte oriental da Europa, e se espalhou mais tarde para outras regiões, tendo como base também a questão religiosa extraída do Velho Testamento (SENNA, 2008). Como consta na citação bíblica no Livro de Gênesis, capítulo doze versículo sete interpretadas pelo movimento. Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. Assim partiu Abrão como o Senhor lhe tinha dito, e foi Ló com ele; e era Abrão da idade de setenta e cinco anos quando saiu de Harã. E tomou Abrão a Sara, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e as almas que lhe acresceram em Harã; e saíram para irem à terra de Canaã; e chegaram à terra de Canaã. E passou Abrão por aquela terra até ao lugar de Siquém, até ao carvalho de Moré; e estavam então os Cananeus na terra. E apareceu o Senhor a Abrão, e disse: A tua descendência darei esta terra. E edificou ali um altar ao Senhor, que lhe aparecera. E moveu-se dali para a 28 montanha do lado oriental de Betel, e armou a sua tenda, tendo Betel ao ocidente, e Ai ao oriente; e edificou ali um altar ao Senhor, e invocou o nome do Senhor. Depois caminhou Abrão dali, seguindo ainda para o lado do sul (BIBLIA, 2006. gênesis 12 p.34, LLC publicação Revista Senna eletrônica, tradução de João Ferreira de Almeida ) Ainda de acordo com a publicação da Revista Senna com base neste trecho da Bíblia Sagrada, nasce a questão religiosa sionista, cuja missão “é criar um lar nacional sionista, para os judeus espalhados pelo mundo, tendo como local escolhido a Palestina“. Pode-se considerar que a apropriação do território foi feita de maneira equivocada, pois se havia um objetivo coerente para a criação do estado judeu, antes de tudo deveria ser constituída uma sociedade ou Estado Judeu em 1948, com suas instituições civis: relação exterior, economia, indústria, comércio e defesa (SENNA, 2008, p.11). Após isso é que poderia ser formado um exército oficial do Estado. Isso não ocorreu. Pelo contrario, começou-se constituindo o Haganah, o Irgun e o Stern16, nomeação de três braços armados do movimento sionista. Esses três grupos tiveram a missão de deflagrar a guerra de 1948 e expulsar os palestinos. A criação do Estado de Israel em 1948 (assunto que será analisado de forma mais aprofundada adiante) teve a contribuição direta do sionismo, e após a declaração de sua criação, os grupos sionistas passaram a ser uma só unidade, formando o exército de defesa de Israel nos moldes atuais (PAPPE, 2007). A questão do militarismo e superioridade militar israelense permaneceu no novo Estado recém criado. A comparação mais exata, sem recair no erro pode ser explicitada: o Estado de Israel assemelha-se a um quartel com potencial para alistar acima de 50% de sua população para entrar em combate no prazo de 48 horas nas linhas de frente. Essa é uma característica exclusiva do estado de Israel (RACHID, 1999). Considerando as características a respeito do implemento sionista para a região da Palestina e sua participação direta na criação do Estado de Israel, não se poderia esperar consequências promissores na região, pós 1948. 16 O Stern (ou Stern Gang) foi formado a partir de uma dissidência dentro do Irgun, e contou com a participação de Yitzhak Shamir, que depois viria a ser Ministro das Relações Exteriores do governo de Menachen Begin, e algum tempo depois, Shamir viria a ser ele próprio Primeiro-Ministro de Israel. Fonte: HOUAT, (2006). Partisan é um membro de uma tropa irregular formada para se opor à ocupação e ao controle estrangeiro de uma determinada área. 29 Conforme Schvartzman (2000, p.27) os conflitos com o mundo árabe continuaram e, em 1956, iniciou-se a Campanha do Sinai, um enfrentamento que envolveu Israel e o Egito que tinha nacionalizado o Canal de Suez, impedindo a navegação de navios israelenses. Israel voltou a enfrentar-se com os países árabes em 1967 na decisiva Guerra dos Seis Dias, quando diante da iminente ameaça da aniquilação proferida pelo mundo árabe, Israel lançou ao ataque e, em seis dias, infligiu uma derrota esmagadora aos exércitos da Síria e do Egito conquistando toda a Península do Golan, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, e finalmente reunificando sob seu domínio a cidade de Jerusalém sua capital. (SCHVARTZMAN, 2000, p.27) 30 3. CAPÍTULO II: A FRAGMENTAÇÃO DA PALESTINA Neste capítulo temos como objetivos configurar o processo de desintegração e decadência do Império turco Otomano a partir do fim da Primeira Guerra Mundial em 1917/1918 e a criação do Estado de Israel em 1948. Pretendemos analisar esse assunto de forma a não esgotar esse tema, dada a sua complexidade e extensão, pois os múltiplos fatores envolvidos não permitem uma análise esgotada e sim mais uma reflexão sobre o assunto. Também procuramos abordar neste capítulo, a partilha do Império Otomano, esta foi uma ação que descaracterizou territorialmente a região e que jamais retrocederia ao que era no passado. Também procuramos abordar o que ficou conhecido como o “Mandato Britânico na Palestina”, este que contribuiu para a fragmentação da região. 3.1. A Decadência do Império Otomano No século XIII surge o império Turco-Otomano (ou Osmanli), fundado por cavaleiros falantes de turco e convertidos ao islã. Seu nome vem do Osman, um ghazi (guerreiro da fé muçulmana) das fronteiras, nascido no século XIII, que fez sua campanha nos limites do Império Romano do Oriente (ou Bizantino) na Anatólia (FROMKIN, 2008). Aqui o autor destaca que “os sucessores de Osman, conquistaram e substituíram o Império Bizantino e rumaram cavalgando a novas conquistas em todas as direções como: ao norte até Criméia, a leste até Bagdá e Basra, ao sul até os litorais da Arábia Saudita e do Golfo, a oeste até o Egito e a África do Norte”. Mas apesar de terem conquistado territórios por todo Oriente Médio, Europa e África, nos aponta Fromkin (2008 p. 40) que “os otomanos nunca evoluíram o suficiente para ultrapassar suas origens como um bando de guerreiros saqueadores”. Os otomanos perceberam que a sua forma de governar não iria durar por muito tempo, pois as transformações que estavam ocorrendo em todo o mundo tendiam a retirar-lhes de sua poltrona confortável de mandatários daquele Império. Durante os séculos XV e XVI, quando as conquistas já não representavam uma 31 realidade para os turcos otomanos, estes perceberam tardiamente, como nos informa Fromkin (2008 p. 40) “que haviam dominado a arte da guerra, mas não as de governo”. Ainda segundo Fromkin (2008 p. 40): No século XIX os otomanos tentaram realizar reformas extensas, como a tentativa de centralizar o governo e estabelecer o comando do grão-vizir, o ministro-chefe do sultão; tentaram racionalizar a tributação e o alistamento, estabelecer garantis constitucionais; fundar escolas públicas seculares que oferecessem treinamento técnico, vocacional e outros cursos; e assim por diante. Um início – não muito mais do que isso – foi feito nessa linha. A maioria das reformas nunca saiu do papel. Uma espécie de anacronismo do mundo moderno, o periclitante regime otomano estava fadado a desaparecer. Ainda em 1517 os otomanos conquistam a região da Palestina, permanecendo até o fim da Primeira Guerra Mundial em 1917, onde a região passa para o domínio Britânico, que ficou conhecido como o Mandato Britânico (19181948), pois até antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o império Turco-Otomano era outro império (FROMKIN, 2008). 32 Figura 02 : Mapa do mandato Britânico na Palestina Palestina bajo el Mandato Británico, 1923 -1948 Fonte:http://www.palestina.int.ar/mapas.html .acesso 18/04/2013 No início do século XX a Europa era considerada a força política e econômica dominante e acreditava que por muitos anos ainda iria permanecer com esse status. Seria fácil supor que o poder da Europa, dominante em grande parte do mundo, poderia um dia ser retirado de cena. E a Europa percebeu que estaria carecendo aproximar-se do Oriente Médio, pois esta região não havia sido moldada social, cultural e politicamente ao modelo imperialista, ainda que tivesse despertado interesse de diplomatas e políticos ocidentais durante o século XIX, (FROMKIN, 2008). 33 Até o final do século XIX, não havia o interesse Europeu em alterar o cenário político daquela região dominada pelo Império Otomano. As críticas do início do século XX ao império do sultão, não provocavam até aquele período nenhuma alteração política no Oriente Médio. Fromkin (2008 p. 28) nos aponta que: Poucos europeus da geração de Churchill se preocupavam com o que ocorria nos debilitados impérios do sultão otomano ou do xá da Pérsia. Um massacre ocasional de armênios pelos turcos levava a um clamor público no Ocidente, mas evocava uma inquietação semelhante à dos massacres de judeus pelos russos. Estadistas experimentados, que acreditavam que nada havia a fazer, examinavam petições que pediam reformas ao sultão, e assim a questão encerrava. Esse cenário foi alterado principalmente com a inserção de personagens políticos ingleses interessados em alterar a configuração geopolítica da região. Nesse processo, desempenharam papel decisivo na criação do Oriente Médio moderno, Churchill, Asquith e alguns membros do Conselho de Ministros, como Sir Edward Grey, secretário de Relações Exteriores, David Lloyd George, ministro da Fazenda e, mais tarde, Lorde Kitchener, ministro da Guerra, todos políticos ingleses de renomada importância no período (FROMKIN, 2008). As políticas adotadas pelo próprio Winston Churchill (Ministro das Colônias Britânicas), um jovem político inglês, emergente e controvertido, sem nenhum interesse particular pela Ásia muçulmana, causariam grande alteração no cenário geopolítico da região (FROMKIN, 2008). Com relação à configuração da política da região, nos acrescenta Fromkin (2008 p. 29) que aqui: O cenário do Oriente Médio tinha outra aparência. Israel, Jordânia, Síria, Iraque e Arábia Saudita não existiam. A maior parte da região permanecia há séculos sob dominação negligente e relativamente tranquila do Império Otomano. A história como todo o mais, movia-se lentamente. Essa aparência política iria se alterar consideravelmente, pois como nos aponta Hourani (1994, p. 34), “a partir da Primeira Guerra Mundial, consolida-se a desintegração do Império Otomano e o surgimento de novas e importantes potências econômicas no cenário internacional”. A partir da desintegração do Império Otomano, configura-se a formulação dos elementos necessários para a criação do Estado de Israel, que foram constituídos principalmente com o advento da 1ª Guerra Mundial, que foi o elemento decisivo para que esse projeto pudesse 34 vingar. A Primeira Guerra foi capaz de transformar drasticamente o Oriente Médio, que jamais voltaria a ter a mesma configuração sob o domínio do Império Otomano. Quem contribui a esse respeito é Braga (2002 p. 10), que acrescenta o seguinte: A Primeira Guerra Mundial teve consequências decisivas para a Palestina. As potências aliadas não esperaram pelo fim da guerra para preparar o desmantelamento e a liquidação do Império Turco, aliado da Alemanha. Procurando aproveitar-se do nacionalismo árabe, a Grã-Bretanha prometeu ao cherife Hussein de Meca o seu apoio para a criação de um estado árabe independente tendo por fronteira ocidental o mar Vermelho e o Mediterrâneo, em troca da revolta árabe contra a Turquia. De fato, a Palestina, que faz parte do território do anunciado estado árabe, era cobiçada ao mesmo tempo pela Grã-Bretanha e pela França, mas as duas potências admitiram o princípio da sua internacionalização nos acordos secretos de Sykes-Picot de 16 de Maio de 1916. Dessa forma, após a Primeira Guerra o Oriente Médio inicia um processo de transformação territorial que jamais iria retroceder ao modelo do passado, que se consolidou após 1948. Podemos considerar que a alteração nos ânimos políticos da região foi provocada principalmente por essas transformações territoriais ocorridas após 1948 com a criação do Estado de Israel. A respeito dessas transformações no Oriente Médio após 1948, Hobsbawm (1995 p. 185) discorre da seguinte forma: O mundo colonial fora tão completamente transformado numa coleção de Estados nominalmente soberanos depois de 1945 que retrospectivamente pode parecer que isso não só era inevitável como aquilo que os povos coloniais sempre haviam querido. Isso é com certeza verdadeira nos países que tinham atrás de si uma longa história como entidade política, como os grandes impérios asiáticos — China, Pérsia, os otomanos — e talvez um ou dois outros países como o Egito; sobretudo quando eram construídos em torno de um substancial staatvolk, ou Estados do povo, a exemplo dos chineses Han ou dos crentes no islamismo xiita como religião nacional do Irã. O mundo após as duas grandes guerras já não mais seria o mesmo, sendo sua reversão ao modelo do passado praticamente impossível, pois o mapa mundial havia sido transformado já na Primeira Guerra Mundial e com o fim da Segunda Guerra, o mundo já não era mais o mesmo. As grandes potências mundiais procuravam estender seus poderes onde seus tentáculos pudessem alcançar. A respeito da criação de Estados e instituições políticas e do conceito de território imposto às regiões com populações árabes, Hobsbawm (2005 p. 186), nos apresenta a concepção de que: 35 Com mais frequência, o próprio conceito de uma entidade política permanente, com fronteiras fixas separando-a de outras entidades idênticas, e sujeita exclusivamente a uma autoridade permanente, ou seja, a idéia do Estado soberano independente que temos como certa, não fazia sentido para as pessoas, pelo menos (mesmo na área de agricultura permanente e fixa) acima do nível da aldeia. Na verdade, mesmo onde existia um "povo" que claramente se tinha ou era reconhecido como tal, e que os europeus gostavam de descrever como uma "tribo", a idéia de que ele podia ser territorialmente separado de outro povo com o qual coexistia se misturava e dividia funções era difícil de captar, porque fazia pouco sentido. Nessas regiões, a única base para tais Estados independentes do tipo do século XX eram os territórios nos quais a conquista e a rivalidade imperial os haviam dividido, em geral sem qualquer respeito às estruturas locais. O mundo pós-colonial está assim quase inteiramente dividido pelas fronteiras do imperialismo. Contrariamente ao que representou no passado sob o domínio do Império Otomano – entenda-se espaçadamente amplo e relativamente calmo -, após 1948 o Oriente Médio começa um processo de transformação territorial e político que iria se apresentar futuramente com um aspecto totalmente diferente do que havia sido no passado. Há muito, já não mais sob o domínio do Império Otomano, após 1948, a região da Palestina se tornou palco de constantes conflitos, sendo considerado o lugar do mundo menos tranquilo em se tratando de conflitos políticos. As alianças políticas com as principais potências mundiais do período, principalmente com a Inglaterra, visando à implementação do projeto sionista, foi capaz de criar um Estado dentro de um território já ocupado. Aliança essa que se sobrepôs ao próprio interesse palestino que era o de não ter seu território invadido. 3.2. A partilha do Império Otomano e o mandato Britânico na Palestina O laço de interesse principal da política britânica pró-sionista foi simbolizado pela Declaração de Balfour, onde cedia a terra da Palestina como promessa para posteriormente criar um Estado, “um lar nacional” dos judeus (GOMES, 2003). Nesse sentido Houat (2006, p. 36) acrescenta que: O apoio oficial britânico ao movimento sionista ocorreu em 1917, através da Declaração Balfour, onde o governo britânico se obrigava a estabelecer um “lar nacional” para os judeus na Palestina. À Grã-Bretanha, na realidade, interessava o apoio internacional da comunidade judia, como também os ganhos na partilha do Império Otomano. 36 A declaração de Balfour foi o primeiro documento oficial que explicitava o objetivo de criar um lar nacional judaico na Palestina. A declaração foi redigida pelo governo da Inglaterra, sobre o solo inglês. Vale relembrar a importância do império inglês naquele período, pois os ingleses eram considerados grande potência econômica mundial (GOMES, 2003; HOUAT, 2006). O Movimento sionista conseguiu extrair essa declaração por razões econômicas e políticas, pois o império inglês exercia grande poder naquela época e isso garantia a possibilidade de sucesso nesse plano de ocupação da Palestina. Cabem algumas considerações sobre a configuração territorial do mundo, pois em 1921 o Império Britânico dominava ¼ da área total do globo terrestre e estava em plena ascensão política e econômica. O poder inglês acentuava-se de tal maneira que foi cunhada frase no período que dizia: “O sol nunca se põe no Império Britânico“, esta frase representava seus domínios territoriais por todo mundo (HOUAT, 2006). A respeito do poderio inglês do período, Fromkin (2008 p. 36), nos informa ainda que aqui: a Inglaterra produzia 2/3 do carvão mundial, mais de 40% da produção de bens manufaturados e a metade da produção industrial mundial estava na mão da Grã-Bretanha. Em 1914 o país realizava 40% do investimento internacional. Fatores militares também estavam envolvidos nesse poder dominante no mundo no início do século XX e o desenvolvimento da estrada de ferro contribuiu para alterar radicalmente o equilíbrio estratégico entre as potências terrestres e marítimas. Isso deixou os líderes do movimento interessados na tal declaração Balfour, que prometia criar um lar nacional judaico, o que de certo modo era algo formidável para o sionismo (SPOHR, 2002; HOUAT, 2006; GOMES, 2003). Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1918), veio a recessão do pós-guerra, o que levou ao abalo econômico nas colônias, que buscaram mudanças na estrutura social e política de seus países, pois estavam ocorrendo grandes mudanças na geopolítica mundial e estas deveriam acompanhar o que impunha o contexto. Os impérios derrotados foram extintos ou divididos, tendo como grande exemplo o Império Otomano (HOBSBAWM, 1995). A região mais transformada foi a Palestina, que ficou sob o domínio dos ingleses e iniciou um processo de retração territorial que jamais retrocederia às dimensões que eram no passado quando estava sob o 37 domínio do Império Otomano (SCHVARTZMAN, 2005; HOBSBAWM, 1995). A respeito dessa transformação no cenário mundial, Hobsbawm (1995 p. 188) nos informa que: A Primeira Guerra Mundial foi o primeiro conjunto de acontecimentos que abalou seriamente a estrutura do colonialismo mundial, além de destruir dois impérios (o alemão e o otomano, cujas antigas possessões foram divididas entre os britânicos e os franceses), e derrubar temporariamente um terceiro, a Rússia (que recuperou suas dependências asiáticas dentro de poucos anos). Ao tempo da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os ingleses buscavam alianças com os árabes para obter o apoio contra os turcos e faziam alianças com judeus para obter o apoio contra os alemães. Esses acordos se tornaram insustentáveis no percurso da Primeira Guerra. Os ingleses estavam dispostos a dominar a Palestina de forma direta e não permitir que os árabes e judeus tivessem as promessas anteriores concretizadas (FROMKIN, 2008). O poder econômico inglês naquele momento, certamente favorável aos ideais sionistas, foi fator considerado mais importante do que os acordos feitos com os árabes palestinos na Primeira Guerra e no Pacto da Sociedade de Nações 17, que garantiam os acordos sobre a independência da Palestina, o que acabou gerando sérios problemas para os interesses ingleses para com a Palestina (GOMES, 2001 p. 81). A Grã-Bretanha ainda no início da Primeira Guerra, em 1914, já estava presente nas regiões do Egito, Sudão, Yêmen, Irã e Afeganistão. Com estratégia, dominava as regiões em volta do Império Otomano, o regime dominante do Oriente Médio há quatro séculos. A Inglaterra naquele momento era uma grande potência seguida pelo Império Otomano, já em decadência. Com sua ruína, por sua vez, a Inglaterra tratou de selar três acordos sobre a partilha do Império Otomano. 17 Terminada a 1ª Guerra Mundial, durante a conferência de paz de Paris, firmou-se o Pacto da Sociedade das Nações, em junho de 1919, como parte integrante do Tratado de Versalhes. O pacto introduziu em seu artigo 22, o Sistema de Mandatos, fundado sobre o conceito de que o desenvolvimento dos territórios sob tutela das “nações mais adiantadas” constituía uma “missão sagrada da civilização”. O grau de tutela dependia do grau de maturidade política do território interessado. Classificaram-se os mais desenvolvidos como mandatos da classe “A”, os menos desenvolvidos como da classe “B” e os mais atrasados como da classe “C”. Os territórios árabes foram classificados como mandatos da classe “A”. Fonte: GOMES, 2001 p. 23. 38 No acordo de Sykes-Picot (1916), foi estabelecida a divisão do território pertencente ao império otomano em zonas de influências das duas potências Inglaterra e sua aliada França. Além disso, seguindo sua estratégia de dominação do territorial no Oriente Médio, a Grã-Bretanha principal potência do período, estava pressionando o Império Otomano. A esse respeito Fromkim, (2008 p. 39) considera que: Os reinos dos xeiques árabes ao longo da rota da costa do Golfo, de Suez até a Índia, tinham sido submetidos à influência britânica; Chipre e o Egito, apesar de ainda formalmente anexados à Turquia, estavam de fato ocupados e administrados pela Grã-Bretanha. O acordo Anglo-Russo de 1907 trouxe o Afeganistão para a esfera britânica e dividiu a maior parte da Pérsia entre a Grã-Bretanha e a Rússia. No oriente Médio muçulmano, apenas o Império Otomano manteve-se de fato independente. Essa independência que ainda se mantinha no Império Otomano era relativamente precária, considerando que as grandes potências europeias já desejavam aproximar-se dessa área do planeta e as fronteiras dos xeiques estavam constantemente pressionadas por países desejosos por conquistar esses territórios. Com relação ao interesse Europeu sobre o Império Otomano, Sporh (2002 p. 8) nos informa que: Em fins do século XIX, os tentáculos das potências europeias já estavam estendidos sobre a África e Ásia, mas a maioria das nações do Oriente Médio estavam nas mãos dos turcos otomanos. Mas quando o século XX chegou, as coisas começaram a mudar drasticamente. As disputas por áreas de influência tornaram-se insustentáveis e a Europa lançou-se em uma guerra de proporções jamais vistas anteriormente. Em fins de 1914, os otomanos tomaram o lado da Tríplice Entente e suas fronteiras se viram espremidas por ofensivas russas e britânicas. No fim da Primeira Guerra Mundial, o glorioso e outrora poderoso Império Otomano estava reduzido à região da Anatólia. Os ingleses ocuparam os seus territórios, e isso inclui Jerusalém. Nessa época, a Grã-Bretanha tinha em mãos três propostas para o futuro da Palestina. O acordo Sykes-Picot, de 1916, previa uma administração internacional para a região. Um outro documento, a Correspondência Hussein-MacMahon, propunha que Jerusalém e arredores fossem incluídos dentro da zona de independência árabe. Por fim, a famosa declaração de Balfour (1917), elaborada pelo Lorde Balfour, incentivava a colonização judaica, sob proteção do Reino Unido. 39 Nesse contexto da primeira Guerra Mundial é que se dá a partilha do Império Otomano, a partir de alianças e acordos entre as potências europeias aliadas, que há muito estavam ansiosos por dividir essa parte do mundo entre si. Quem contribui com essa discussão é Hobsbawm (1995 p. 188). Segundo ele o remapeamento do Oriente Médio se deu ao longo de linhas imperialistas, divisão entre Grã-Bretanha e França com exceção da Palestina, onde o governo britânico, ansioso por apoio internacional judeu durante a guerra, tinha de maneira incauta e ambígua, prometido estabelecer um lar nacional para os judeus. (WORDPRESS, 02/2010). Mas ao que tudo indica que os ingleses estavam muito ansiosos por essa ocupação há muito e não quiseram esperar ao fim da Primeira Guerra Mundial para enfim fazer acordos com os xeiques de Meca, cuidando desse modo para o desmantelamento da região da Palestina e a fragmentação do Oriente Médio, dividindo seu território com os aliados, pois como nos informa Braga (2002 p. 12): As potências aliadas não esperaram pelo fim da guerra para preparar o desmantelamento e a liquidação do império turco, aliado da Alemanha. Procurando aproveitar-se do nacionalismo árabe, a Grã-Bretanha prometeu ao cherife Hussein de Meca o seu apoio para a criação de um estado árabe independente tendo por fronteira ocidental o mar Vermelho e o Mediterrâneo, em troca da revolta árabe contra a Turquia. Com a tomada da Palestina do Império Otomano pelos ingleses, nesse primeiro momento, havia a intenção de estabelecer na Palestina, um regime internacional por ser um lugar sagrado para as três religiões, mas acabou ficando posteriormente somente sob o controle britânico. O objetivo que a França e a GrãBretanha tinham era a continuação da guerra no oriente médio contra a ambição da Alemanha e seus aliados. Também deve ser considerado o compromisso Britânico assumido com o movimento sionista (HOUAT, 2006). Após o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, conforme os acordos anteriores, a Inglaterra e a França dividiram o território que era dominado pelo Império Otomano entre si, com a Palestina sob o domínio inglês. Segundo Houat (2006): Antes da Primeira Guerra Mundial a França e Inglaterra, percebendo a forte tendência ao nacionalismo pelos países que estavam sobre o domínio Otomano, prometeram aos lideres locais que caso eles lutassem ao seu lado contra o Império Turco Otomano lhes seria assegurada a independência logo após a mesma. 40 Continuaram a fazer a mesma afirmação ao fim do combate. Em uma declaração em sete de novembro de 1918, os dois países afirmavam que “apoiavam de forma completa e definitiva a emancipação dos povos Árabes” (HOUAT, 2006 p. 25). Para Hobsbawm (1995 p. 30): O remapeamento do Oriente Médio se deu ao longo de linhas imperialistas entre Grã-Bretanha e França com exceção da Palestina, onde o governo britânico, ansioso por apoio internacional judeu durante a guerra, tinha, de maneira incauta e ambígua, prometido estabelecer um lar nacional para os judeus. Como havia sido idealizado anteriormente pelos ingleses, a Palestina não estava nas áreas que se tornaram independente como foi prometido ainda na Primeira Guerra Mundial, pois o movimento sionista estava ainda buscando ajuda inglesa para esse planejamento. Chaim Weizmann (Secretário do Estado Britânico) após vários encontros com o próprio Mark Sykes (Secretário Assistente do Gabinete de Guerra do Império Britânico) nas suas palavras disse: “foi um dos nossos maiores achados” (...) “não podemos dizer suficiente no que concerne aos serviços prestados a nós por Sykes, foi ele quem guiou nossos trabalhos para os canais mais oficiais” (HOUAT, 2006). Os lideres sionistas convenceram os ingleses como seria vantajoso um Estado judeu na Palestina. Alegando Weizmann que a Inglaterra teria nos judeus os melhores interprete das ideias nacionais dos países ocidentais. Além de adotarem a ideia de ter um Estado aliado que contivesse o nacionalismo árabe, teria a função de facilitar a entrada dos ingleses no trabalho da exploração do petróleo no Oriente Médio. É importante também mencionar que a Inglaterra já sabia que havia petróleo naquela região. Ressaltem-se de igual forma, algumas das vantagens que a Inglaterra poderia ter ao dominar aquela região. Incentivar a emigração dos judeus em massa da Inglaterra para a palestina para agradar os lideres antissemitas; retirar a mão-de-obra judaica vinda da Europa oriental; agradar aos judeus americanos, que possuíam grande influência econômica e política no governo americano, em induzir os Estados Unidos a entrar na Primeira Guerra o lado da Inglaterra, garantindo assim uma possível vitoria sobre a Tríplice Aliança e assegurar passagem às rotas marítimas para suas colônias no Extremo Oriente e a Índia, mantendo as grandes potências afastadas da área enquanto durasse a supremacia 41 inglesa. Assim, a Inglaterra ainda conseguiria deter a expansão Russa pelo leste do mediterrâneo e o Golfo Pérsico. Considerando ainda esse território de extrema importância para manter um Estado aliado no meio dessa rota conflituosa (HOUAT, 2006). Podemos considerar que a Inglaterra teve papel preponderante na arquitetura desse plano de ocupação do Oriente Médio – principalmente do território da Palestina - e foi grande responsável pelos conflitos gerados pela disputa territorial do pós 1948 na Palestina. Nesse aspecto, Lima considera que: A realidade árabe não é homogênea, dentro dessa lógica modernizante e estruturante. Enquanto as demais regiões de predomínios árabes conseguiram se organizar em Estados nacionais, a Palestina encontrava-se resistente e mergulhada no retrocesso político e administrativo agravado pela liderança britânica na região. A Inglaterra beneficiou-se com o mandato da Palestina onde governou até 1948. Sob a desculpa que os povos nativos não tinham condições de se autogovernarem, os britânicos, através da Liga das Nações, administraram a região. Obviamente, o mandato da Palestina é um meio de colonialismo, pois os britânicos necessitavam do controle político e econômico da região, principalmente da extração de petróleo e do domínio do Canal do Suez (2006 p. 3). Sempre palco de interesses preponderantemente econômicos, a região da Palestina vive atualmente uma celeuma emaranhada no caos social, onde sua população vive em completo estado de miséria, sem condições de vislumbrar uma solução pacífica e favorável ao conflito iniciado ainda no século XX, tendo como principal mentora a Inglaterra, assim podemos considerar. O papel que a Inglaterra exerceu no Oriente médio na primeira metade do século XX, foi fundamental no direcionamento da política regional, pois os ingleses atuaram em duas frentes. Enquanto o Rei Inglês George VI prometia aos Árabes um Estado independente em troca do seu apoio contra o Império Otomano na Primeira Guerra Mundial, seu Ministro das relações exteriores Arthur James Balfour, em 02 de novembro de 1917, emite a conhecida como Declaração Balfour (GOMES, 2001; HOUAT, 2006). A Declaração Balfour assegurava no Lorde Rothschild, um rico banqueiro inglês judeu, o apoio total Britânico a questão sionista, e utilizava os seguintes termos: Prezado Lorde Rothschild: Tenho muito prazer em transmitir-lhe, em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia com as aspirações judaico-sionistas, as quais foram apresentadas e aprovadas pelo Gabinete: “O Governo de Sua Majestade vê-se favorável ao estabelecimento 42 na Palestina de um lar nacional para o povo judeu, e empreenderá seus melhores esforços para facilitar a conquista desse objetivo, ficando claramente entendido que nada deve ser feito que possa prejudicar os direitos religiosos e civis das comunidades não judaicas existentes na Palestina ou os direitos e condições políticas dos judeus em qualquer outro país”. Agradeceria que o senhor levasse essa declaração ao conhecimento da Federação Sionista. Atenciosamente, Arthur James Balfour. (HOUAT, 2006). A declaração de Balfour caiu em contradição com as inglesas feitas aos árabes para apoiá-los na criação de uma nação independente. Essa declaração de Balfour afirmava abertamente seu apoio para a criação de um lar nacional para o povo judeu (GOMES, 2001; HOUAT, 2006). Toledo (2001 p. 5) acrescenta dizendo que: Com a Primeira Guerra Mundial, chegara a hora da repartição da Palestina. Para apressá-la, a Inglaterra se serviu do movimento nacional dos árabes que havia começado a despertar. Por outro lado, firmou um acordo com a França, de repartição da zona, além de assinar a chamada Declaração Balfour (2/11/1917), que ficou conhecida como a "aliança de casamento" entre o sionismo e o imperialismo inglês. Assim começava a segunda etapa do sionismo, que culminaria com a criação do Estado de Israel. A Declaração Balfour ainda deixou margem para que muitas distorções viessem a ocorrer posteriormente na criação do Estado de Israel e na criação do “lar nacional” para os dos Palestinos das suas terras. Sobre esse assunto Grinberg aponta que: Assim, no que se refere à Palestina, a política britânica acabou sendo extremamente dúbia: numa sucessão de acordos e declarações secretas (eles só seriam tornados públicos alguns anos depois), os ingleses conseguiram se comprometer tanto com Husseini e seus seguidores, quanto com os sionistas, apoiando as pretensões nacionais dos dois, no entanto, sem entrar em detalhes sobre os limites geográficos das futuras nações. (2002, p.104). Os palestinos eram 90% da população local e eram tratados como minoria, mas 10% representavam o povo judeu, tratados como maioria. Uma negociata entre o governo Britânico e o movimento sionista, também apoiado pelo governo Americano, mas com uma ressalva no trecho “lar nacional para o povo judeu, e não Estado judeu” (GOMES, 2001). O motivo era evitar a revolta do povo árabe. Sobre a declaração Balfour, Gomes (2001, p. 26) acrescenta ainda que: 43 (...) a declaração do governo britânico se dirige ao Lord Rothschild, aparentando ser uma resposta a alguma reivindicação dele. Tratando-se de um dos homens mais ricos do mundo, financiador, inclusive, de governos, parece legítimo supor que a Declaração de Balfour não foi uma simples gentileza do governo britânico aos Rothschild e à Organização Sionista, mas pode ter se tratado de uma "troca de favores" de altíssimo preço, visto a importância desse documento, objeto de negociações com outros Estados. O barão Edmond Rothschild foi um dos principais patrocinadores do estabelecimento de judeus na Palestina. Em 1917, quando esta declaração foi proferida, a Primeira Guerra Mundial estava em pleno curso. A Palestina, portanto, estava sob o domínio do Império Turco Otomano e o governo Britânico não possuía a legitimidade para fazer concessão do território palestino. A Inglaterra jamais poderia instituir partilhas em uma região que não lhe pertencia, nem manter sob seu domínio a população. Suponha-se que, para criar o Lar Nacional Judaico, a Inglaterra só poderia fazê-lo em seu próprio território. A partir dessa ação - diga-se desastrosa -, foi possível criar mecanismos para que a região da Palestina fosse cada vez mais desapropriada territorialmente, gerando assim um dos conflitos mais duradouros dos últimos séculos. 44 4. CAPÍTULO III: A DIVISÃO DA PALESTINA Neste capítulo elaborou-se um estudo sobre a partilha do território Palestino entre Árabes e Judeus, fator agravante para a intensificação dos conflitos na região. Buscou-se levantar os fatos envolvidos nesse acontecimento e seus efeitos para provocar a revolta dos Palestinos e a intensificação dos conflitos. Elementos constituidores do movimento que deu origem ao conflito na atual Palestina e que causou a “expulsão” dos Palestinos de seus lares principalmente a partir da criação do Estado de Israel em 1948. 4. 1. A partilha do território palestino pela ONU A permissão para a partilha da Palestina e a posterior criação do Estado de Israel em 1948, foi aprovada pela Resolução 181 da ONU em 1947, que pôs fim ao Mandato Britânico na região. Tudo isso garantido pela Carta das Nações Unidas e pelo Pacto da Sociedade das Nações18, estes, fontes do Direito Internacional. Houve a proposta apresentada em reunião da UNSCOP19, apoiada pela maioria de seus membros (Canadá, Tchecolosváquia, Guatemala, Países Baixos, Perú, Suécia e Uruguai) e a apresentada pela minoria (Índia, Irã e Yugoslávia). A minoria teve sua proposta vencida e a Austrália não aprovou nenhuma das duas propostas. Ainda houve várias discussões para decidir e ouvir os envolvidos na questão, mas a proposta que prevaleceu foi a defendida pela maioria e apoiada principalmente pela URSS (Antiga União Republicas Soviética Socialistas), Estados Unidos e GrãBretanha. (GOMES, 2001). Sobre as propostas apresentadas para a partilha da Palestina, quem contribui é ainda Gomes (2001 p. 86) que nos assegura aqui: A proposta apresentada pela maioria dos países integrantes da UNSCOP defendia, em síntese, a partilha da Palestina em um Estado árabe independente e um Estado judeu independente, com unidade econômica, além da internacionalização de Jerusalém, após um período de transição de 18 HOUAT, Stephan Fernandes. A criação do Estado de Israel e um Estado único como solução dos conflitos. Belém Centro Universitário do Pará. Belém/PA: 19 Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina. Fonte: Houat, 2006 45 dois anos. De acordo com esta proposta, uma parte da população árabe deveria permanecer dentro do Estado judeu e uma parte da população judaica dentro do Estado árabe, por ser inviável transferir milhares de pessoas espalhadas por todo território. A nacionalidade e cidadania seriam judaica ou árabe, de acordo com o local de residência. A proposta apresentada pela minoria dos integrantes da UNSCOP recomendava a fundação de um Estado Federal da Palestina independente, após um período de transição de no máximo três anos, e que esse se compusesse de um Estado árabe e outro Estado judeu, havendo uma só nacionalidade e cidadania palestina reconhecidas aos árabes, judeus e outras pessoas. Jerusalém deveria ser a capital do Estado federal, compreendendo duas municipalidades separadas, uma incluindo os setores árabes, incluindo a parte interna aos muros e outra incluindo setores judaicos. A proposta da maioria foi aprovada, sendo que a partilha ocorreu nos moldes desejado pelos sionistas. Devemos considerar que na elaboração desse projeto, não foi levado em consideração o direito dos palestinos ao seu território, pois mesmo sendo a população árabe palestina mais de 70% em 1947, não tiveram suas aspirações respeitadas. Logo após a decisão da partilha da Palestina inicia-se um processo que acabou gerando um grande número de conflitos e que se agravou de forma permanente com o passar dos anos. Os números apresentam 869 mortos e 1901 feridos logo após os dos primeiros três meses da declaração de partilha da Palestina (HOUAT, 2001). Tudo isso foi provocado pela idéia de expulsão que a criação de Estado de Israel originou e que deu uma espécie de ultimato aos palestinos para que saíssem de seu território, e assim dar lugar aos judeus que estavam migrando em massa para a Palestina. A criação do Estado de Israel em 1948 acabou instaurando uma guerra que envolveu o Egito, Jordânia, Síria, Iraque, Líbano, os palestinos e Israel. Gomes (2001 p. 100) nos assegura que “essa guerra, já era desejada pelos sionistas, que foram financiados pesadamente pelos americanos, pois aqueles ansiavam pelo redesenhamento do Estado Israel recém-criado”. A criação de novo estado provocou o surgimento de leis favoráveis à expulsão dos palestinos, que acabaram contribuindo para o agravamento do conflito na região. Em 1949, eram 726.000 refugiados palestinos (GOMES, 2001). A respeito das leis criadas após a criação de 46 Israel e que favoreceram para a expulsão dos palestinos, Jardim (2003, p. 10) nos informa que: 20 Depois da guerra de 1948-49 , o primeiro parlamento do Estado de Israel (Knesset) define duas leis que irão atuar de modo complementar, redefinindo a ocupação territorial da Palestina. A primeira lei, formulada em março de 1950, visava negar, às massas palestinas que haviam evadido na guerra, a permanência em Israel. A "Absentees Property Law" era o mecanismo para a apropriação de vastas áreas rurais e urbanas dentro de um novo Estado. Também em julho de 1950 é promulgada a Lei de Retorno, que garantia a todo e qualquer judeu do mundo o direito de imigrar e povoar de forma desimpedida, tornando-se automaticamente um cidadão de Israel. As duas leis agiram de forma combinada no sentido de classificar os refugiados palestinos como ausentes, como não-pessoas, sem direitos às suas propriedades, à residência e à cidadania em Israel. A imposição dessas leis contribuiu para a exclusão dos palestinos de seu território, que se viram obrigados a migrar para outros países vizinhos na esperança de um dia terem de volta seus lares. Quem nos assegura que a criação do Estado de Israel foi um evento que transformou a vida dos Palestinos é ainda Jardim (2003 p. 8) que assim discorre: A criação do Estado de Israel impunha uma redefinição de lugares para permanecer e viver empunha a necessidade de definir perspectivas quanto à residência, se em campos de refugiados ou em áreas agora sob o domínio de Israel, assumindo a condição de residente. A condição de "refugiado palestino", assim definida pela UNRWA (Nações Unidas), recaía sobre aquelas pessoas que tinham residência na Palestina por um mínimo de dois anos, e que em função do conflito de 1948 tinham perdido sua casa e os meios de vida, estando refugiada nos países em que as Nações Unidas prestavam assistência. Outro aspecto que deve ser observado na ocupação da Palestina é o fato de que vários povos árabes reivindicam essa região, causando assim um embate conflituoso sobre quem a teria como sua “propriedade” por direito. Essa parece ser uma causa com difícil solução, pois é muito difícil afirmar quais dos povos ali se estabeleceram de forma perene, o que leva-nos a crer que esse conflito ainda permanecerá por longo período, haja vista que essa região está sempre em conflitos que envolvem discussões sobre o direito de propriedade sobre seu território e sobre a religiosidade. Jardim (2003 p. 14) trata desse aspecto da seguinte forma: 20 Guerra que envolveu o Egito, a Síria, a Jordânia, o Iraque, o Líbano, os palestinos e Israel. (Gomes, 2001 p. 100). 47 Versões sobre a origem da questão palestina e das populações que evadiram daquele território a partir da criação do Estado de Israel, em 1948, têm sido produzidas e difundidas amplamente. Até 1952, a Assembléia Geral da ONU a tratava como a "Questão da Palestina"; a partir de então, foi substituída pelo título "Relatório Anual do Comissariado Geral do Serviço de Socorro e de Trabalhos das Nações Unidas" (UNRWA – United Nations Relief and Works Agency). No Conselho de Segurança, a "Questão da Palestina" será renomeada em 1967 de "Situação no Oriente Médio". De acordo com Jardim (2003 p. 7) “a forma de tratamento da questão revela os condicionantes históricos, um determinado momento político dos conflitos no Oriente Médio, bem como a centralidade do território palestino nessas disputas”. O território palestino como já foi citado, estava em uma rota de comércio que era de interesse da Europa, há muito, pois seu território faz parte do corredor entre a África e a Ásia e ao mesmo tempo fica às portas da Europa, devendo ser considerado motivo de grande interesse das nações capitalistas do período. Esse interesse das grandes potências foi capaz de fazer com que o território palestino fosse diminuído cada vez mais ao longo dos anos e que sua problemática fosse inserida no contexto mundial de forma invariavelmente sob a ótica dos judeus, justificando que seria uma boa saída a diminuição cada vez maior do território palestino para que deixe as terras que, segundo os judeus, seriam de sua propriedade. A respeito da emergência da situação dos palestinos no cenário internacional, Jardim nos informa que aqui: A emergência dos palestinos no cenário internacional refere-se inicialmente a um território que é gradativamente incorporado como pertencente ao Estado de Israel, seja pela guerra, seja pela via diplomática – tendo como avalistas os países mandatários europeus (2003 p. 7). Essa incorporação gradativa do território palestino ao do Estado de Israel não corresponde ao apresentado na partilha proposta pela ONU em 1947, pois na proposta inicial, o território palestino era consideravelmente maior, como podemos observar no mapa adiante. Essa incorporação do território palestino ao Estado judeu provocou o descontentamento palestino e intensificou o conflito na região. 48 Figura 03: Mapa da Partilha da Palestina proposta pela ONU (1947) Fonte: HOUAT (2006). Tudo leva a crer, e os mapas da atual Palestina comprovam, que a partilha proposta pela ONU em 1947 não permaneceu com a mesma configuração original por muito tempo, pois os limites em 1949 já se apresentavam de forma bem diferente. O território do recém-criado Estado de Israel, permaneceu avançando sobre o território palestino. Dessa forma, a Palestina teve seu território gradativamente ocupado por Israel, como que numa tentativa de fazer com que essa região “desapareça” do mapa do mundo. Podemos observar nos mapas a seguir, como o território de Israel foi avançando sobre o palestino após a guerra de 1948/49 Os conflitos com o mundo árabe continuaram em 1959, iniciou-se a Campanha do Sinai, um enfrentamento que envolveu Israel e o Egito que tinha nacionalizado o Canal de Suez, impedindo a navegação de navios israelenses. Israel voltou a enfrentar-se com os países árabes .(SCHVARTZMAN, 2000, P.27) . 49 Figura 04: Mapas dos Territórios ocupados por Israel após a guerra de 1948-49 Fonte: www.monde-diplomatique.fr/cartes/taba. Acesso em 9 junho de 2012. Esse avanço israelense sobre o território palestino permaneceu desta forma até 2009, quando Israel decidiu construir um muro em Jerusalém, que separou o território palestino e acabou gerando uma situação de segregação ainda maior entre palestinos e israelenses. Essa é uma realidade que permanece, pois podemos confirmar que a configuração territorial atual da Palestina em nada se assemelha com o modelo original proposto pela ONU em 1947. Podemos observar nos mapas a seguir, a evolução do território israelense e a diminuição gradual da Palestina. O território palestino consta a parte azul do mapa enquanto o israelense apresenta-se como sendo a parte cinza. No primeiro mapa, em 1947 percebemos que a Palestina compõe praticamente toda área, sendo que a proposta da ONU de 1947 já diminui consideravelmente esse território. Em 1949 e 2000, como percebemos nos mapas seguintes, ocorrem novos avanços sobre os domínios geográficos palestinos. 50 Figura 05: Mapas da evolução do território da Palestina de 1947 a 2000. Fonte: BRAGA (2002). 4.2 A guerra dos seis dias, 1967. Na decisiva Guerra dos Seis Dias, quando diante da iminente ameaça de aniquilação proferida pelo mundo árabe, Israel lançou-se ao ataque e, em seis dias infligiu uma derrota esmagadora aos exércitos da Síria , Egito e da Jordânia conquistando toda a Península do Sinai, as Colinas de Golan, Cisjordânia e a Faixa de Gaza, finalmente reunificando sob seu domínio a cidade de Jerusalém como sua capital (SCHVARTZMAN, 2000, P.27 Segundo Geraldo J. A. Coelho Dias, a nova guerra resultou das apertadas medidas de Nasser sobre a passagem no Canal de Suez de bens para Israel e sobre a retirada das tropas da ONU, fazendo alinhar seu exército na fronteira de Israel. Deu-se então uma Blitz-Krieg, em que, num repente, a força aérea de Israel aniquilou no solo toda a aviação militar egípcia e, por mar, desbloqueou a entrada 51 do Suez. Por terra, o exército israelense ocupou todo o Sinai até ao Suez, a parte oriental de Jerusalém e os montes Golan. Nasser reconheceu a derrota e aceitou o cessar-fogo proposto pelo Conselho das Nações Unidas, quadruplicando Israel o seu território de 20.800 km2 para 89.859 km2, embora a Rússia cortasse relações diplomáticas com Israel. Mais de 1.000.000 de palestinos ficou sujeitos a Israel e muitos outros foram obrigados a viver em campos de refugiados, dentro e fora da Palestina. Assim nasce, o que as Nações Unidas classificam como de territórios ocupados por Israel. O Conselho da ONU aprovou a Resolução 242 (22/11/1967) exigindo a retirada israelita dos territórios ocupados durante a Guerra dos Seis Dias e garantindo a liberdade de navegação em águas internacionais da região. (DIAS, Geraldo). Figura 06 Mapa a guerra dos seis dias , Israel conquista novas terras . http://www.mundovestibular.com.br/articles/4378/1/A-GUERRA-DOS-SEISDIAS/Paacutegina1.html acesso em 18/04/2013 Com esse avanço sobre o território palestino, podemos considerar que às populações locais da Palestina, foi proclamada uma “ordem de despejo”, pois esses territórios já estavam ocupados há muito tempo e abandoná-los seria como deixar o próprio filho abandonado à própria sorte. Sobre essa “ordem de despejo” alguns 52 autores, a maioria israelenses, questionam a veracidade de tal afirmativa, pois segundo eles, não houve uma expulsão declarada por parte dos sionistas contra a população originária da Palestina. Entretanto, segundo Houat (2006 p. 61) “autores israelenses como Avi Shlaim, Benny Morris e Amnon Kapeliouk já escreveram que os refu*giados foram obrigados a sair e mesmo algumas autoridades israelenses estão se inclinando para esse entendimento”. Controvérsias à parte, o historiador Benny Morris, um ex-correspondente diplomático do Jerusalem Post nos informa como ocorreu esse empreendimento dos refugiados palestinos: O problema dos refugiados palestinos foi decorrência da guerra, e não de um plano, judaico ou árabe. Foi em grande medida um subproduto dos medos árabes e judaicos e da luta prolongada e encarniçada que caracterizou a primeira guerra árabe-israelense; em menor grau, foi também uma criação deliberada dos comandantes militares e dos políticos judeus e árabes (Morris apud Houat, 2006, p. 61). Para Spohr (2002) “o início de vários campos de refugiados na própria Palestina e uma migração em massa além das fronteiras, onde os árabes refugiaram-se nos países vizinhos a partir de 1947”, teve como um dos motivos “a política de impedir a independência Palestina para favorecer o sionismo”. Com isso, os palestinos arcaram com danos materiais e perda de muitos soldados além de criar uma “bomba relógio” na região que viria a explodir em 1948 (SPOHR, 2002; MORRIS, 2004; HOUAT, 2006). Desde a criação de Israel, as políticas externas para a região da Palestina sempre foram do sentido de expropriar cada vez mais o seu território, sendo este reduzido de maneira gradual ao longo dos anos. A Palestina não presenciou um dia de paz *após 1948. No que se refere à interferência externa na região do Oriente Médio, os países Europeus e os EUA sempre tiveram interesses de domínio dessa região. Quem contribui sobre esse assunto é Pecequilo (2009 p.160): Esta presença européia, a partir do encerramento da Segunda Guerra Mundial e do processo de descolonização dos anos 1960 e 1970, passaram a ser contrabalançada pela norte-americana, consolidando a posição dos EUA como principal poder externo no Oriente Médio. As iniciativas autônomas da região como o Movimento dos Não Alinhados, o Nacionalismo Árabe, do Terceiro Mundismo, o cartel petrolífero da OPEP e a revolução Iraniana de 1979 são outros componentes deste quadro complexo que, com o fim da Guerra Fria, oscila entre tendências de progresso e profunda fragmentação. 53 Há que considerar também diversos fatores que influenciaram no processo dos refugiados palestinos, pois também as ações dos grupos sionistas armados transformaram os palestinos em refugiados, que atualmente vivem de forma provisória há mais de 60 anos. A pequena parte dos refugiados que permanecem em seu território, caso tenham que ausentar-se do seu domicílio são obrigados a retornar à Palestina a cada dois anos para que não percam sua cidadania, além de serem tratados como cidadãos de segunda classe em seu próprio país. 4.3. A condição dos Palestinos Com a diminuição cada vez mais do seu território, os palestinos tiveram que encontrar um local para residir, sendo esta a forma encontrada por eles, de resgatar sua dignidade, uma vez que suas terras foram praticamente toda ocupada por outros povos: novos migrantes sionistas que reivindicavam sua propriedade. Desde o fim da Primeira Guerra Mundial, os palestinos tiveram que dividir espaço com a população de judeus, que imigrava para a Palestina. Essa imigração sionista 21 desde o século XIX22, estimulada durante Mandato Britânico na Palestina e intensificada após a criação do Estado de Israel foi capaz de intensificar os conflitos na região. A chamada “causa palestina”, como ficou conhecida a migração dos palestinos para outras regiões, provocou uma série de ressignificação do conflito entre Israel e Palestina. Sobre essa intensificação imigratória dos sionistas, quem nos descreve a respeito é Chemeris (2002 p. 35) que acrescenta: A imigração sionista é de fundamental importância para a análise das causas referentes ao conflito árabe-israelense, pois foi através dela que a população judia na Palestina aumentou consideravelmente. Em meio às populações árabes que lá existiam a mais de um milênio e que conviviam muito bem com as minorias judias nativas, os sionistas iriam de encontro à resistência árabe contra o invasor europeu. Após essa intensa imigração inicia o processo de “expulsão” dos palestinos, como já nos referimos neste trabalho. Mas há quem questione que não houve uma expulsão de forma declarada, mas devemos considerar que a forma de ocupação do 21 Chamou-se de imigração sionista toda a imigração judia que objetivava o retorno à “Terra Prometida” (no Monte Sião). Por essa razão, será observada a imigração antes mesmo da formação do movimento sionista político de 1897. Fonte: CHEMERIS, 2002 p. 35. 22 Fonte: op. cit. 54 território palestino não é perfeitamente compreensível do ponto de vista político, pois nenhum país ou povo tem o direito de reivindicar um território já ocupado, com a justificativa de que anteriormente os pertencia. Não existirá consenso com relação a essa discussão, sendo este o tema mais espinhoso da relação israelense palestina. O fato é que o problema existiu e que não apresentou até o momento uma solução pacificada, tendo sim, gerado um grande número de refugiados que vivem em campos, na própria Palestina ou em países próximos. Em junho de 1967, foram adotadas várias resoluções na ONU, que estendem críticas à política israelense na Palestina, principalmente no que diz respeito à forma de ocupação adotada pelos judeus. As resoluções, em síntese condenam Israel por ataques a alvos palestinos e pelo desrespeito aos direitos humanos (resoluções 592, 605), pela ilegalidade da ocupação e dos assentamentos construídos em Gaza e na Cisjordânia (resoluções 242, 446, 452, 465), pela ocupação de Jerusalém (resoluções 250, 251, 252, 267, 271), pela deportação forçada de palestinos (resoluções 468, 484, 607, 636, 641, 681, 694, 726, 799), e por Israel não permitir o retorno dos refugiados palestinos (resolução 237) (CHEMERIS, 2002 p. 114). Para Chemeris (2002 p. 114): Tais resoluções apoiam-se basicamente no direito à autodeterminação dos povos, consagrado na Carta das Nações Unidas (artigo 1º, inciso 2º, de junho de 1945), nos princípios relativos à Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), e nos direitos das populações civis em tempos de guerra, assegurados pela Quarta Convenção de Genebra (1949). Mesmo fundamentadas de acordo com o Direito Internacional, essas resoluções não foram consideradas por Israel, sendo que seus líderes adotam medidas sempre em desacordo com os anseios dos palestinos, como exemplo, criando assentamentos israelenses em território palestino. Sobre esse assunto apud Chemeris (2002 p. 115) nos diz: Para os palestinos, que se fundamentam no direito internacional com vistas a reivindicar a posse sobre a Palestina, os assentamentos israelenses constituem-se numa tentativa ilegal de ocupar a terra confiscada na guerra de junho de 1967. Além disso, assentamentos são vistos pelos palestinos e por outros acordos internacionais como “uma violação do direito palestino à autodeterminação e também aos princípios de direitos humanos como definidos pelas Resoluções das Nações Unidas”. 55 Várias instituições internacionais já reconheceram o direito dos palestinos a ter seu território de volta, mas Israel permanece criando os empecilhos para que isso ocorra e ao que tudo indica isso está muito distante de acontecer. Para apud Chemeris (2002 p. 115), “as justificativas para a resistência Palestina foram reconhecidas ou endossadas por inúmeras instituições internacionais, como a Liga Árabe, a Organização da Conferência Islâmica, o Movimento dos Não Alinhados e a ONU”. Para o mesmo autor, “o reconhecimento de que a ocupação israelense da Faixa de Gaza e da Cisjordânia em 1967 é ilegal, pode ser lida claramente nas resoluções 242 e 338, do Conselho de Segurança da ONU”. Apesar desses reconhecimentos até por parte da ONU, os avanços não tem sido grandiosos, onde se pode perceber interesses cada vez mais conflitantes e que não intencionam chegar a nenhum consenso. Esse reconhecimento por parte da ONU acaba por legitimar a resistência palestina contra o domínio de Israel, o que corrobora diretamente, para fomentar o do conflito e incapacidade de formar um Estado com unidade política. A respeito dessa unidade necessária à constituição de um Estado árabe, Chemeris (2002 p. 117) acrescenta que: Para os países árabes, o conflito com Israel sempre teve como base a questão da unidade árabe. A noção de que Israel encontra-se localizado em território árabe apresentou-se como o empecilho central para a formação de um mundo árabe unido. Em razão disso, a causa Palestina passou a ser abraçada pelos países árabes, que visavam, com isso, legitimar sua liderança no Oriente Médio. É nesse sentido, que algumas lideranças árabes passaram a apoiar a formação de organizações palestinas de resistência armada. O apoio dos países árabes, à causa Palestina, tem intensificado o conflito, pois algumas dessas lideranças árabes têm apoiado a formação de grupos armados, na tentativa de legitimar suas lideranças na região, o que de certa forma tem piorado a situação dos palestinos em conseguir iniciar um processo de paz consolidado. Pois há assim uma intensificação dos embates na disputa principalmente por instituir seus territórios. O número de refugiados resultantes da “expulsão” após a criação do Estado de Israel foi estimado pela UNISPAL23 em 726.000 no final do ano de 1949, o que representava 75% da população nativa da Palestina, enquanto 32.000 permaneceram dentro das linhas de armistício. Entretanto, dos 800.000 palestinos originalmente situados na área que se tornou Israel, apenas 150.000 permaneceram 23 UNITED Nations Information System on the Question of Palestine 56 em suas casas, tornando-se, assim, uma minoria árabe no Estado de Israel (GOMES, 2001). Tudo indica que Israel pretenda continuar avançando sobre o território palestino, pois como foi apresentada nas propostas israelenses durante as discussões em Camp David24 em julho de 2000 e em Taba25 em janeiro 2001, a ideia era aumentar território sob o domínio de Israel, pois este parece ser ainda a aspiração dos governantes Israelenses 24 Cúpula para a Paz no Oriente Médio realizada em Camp David (EUA) em julho de 2000, entre o Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, o Primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak e o presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat. Foi uma tentativa infrutífera para negociar um "acordo final" para o conflito israelo-palestiniano. Fonte: SENNA, Lorena Estrela de (2008 p. 36). 25 Estação balneária no Golfo de Aqaba, início de 2001. Representantes israelenses e palestinos estão reunidos desde 21 de janeiro, para tentar “salvar a paz”. Fonte: 57 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O conflito entre os árabes e os judeus, aqui tidos como representantes os povos palestinos e israelenses, respectivamente, ocupa os noticiários quase que diariamente. Embora as informações sobre o assunto sejam muitas e existam muitas obras sobre, percebe-se a falta de um conhecimento sobre o contexto histórico no qual ele se dá, seja pelo grande público em geral, seja pelos alunos em particular. As transformações ocorridas no Oriente Médio e as tensões permanentes, que ocorrem na Palestina podem ser consideradas como o pano de fundo principal dos conflitos de uma região que foi cobiçada e colonizada por vários impérios desde quando mencionada na bíblia (tomando esta obra sagrada como a referência devida do ponto de vista científico, pois é o que reza uma pesquisa histórica). Por envolver a questão da religiosidade, essa região ganhou uma importância de dimensão imensurável, principalmente para a religião judaica, tornando-se assim, um palco de disputas muito recentes. O povo árabe, com sua crença em expansão no século VII, propagou sua Fé nos quatro cantos do Oriente Médio. Este que sempre foi um local estratégico desde a Idade Média, banhado pelo mar mediterrâneo, foi cenário de muitas batalhas no passado. Muito antes disso, durante o Império Romano, teria lá nascido e morrido Jesus Cristo, santidade da religião cristã, e como se não bastasse, o território palestino também foi o local de surgimento do judaísmo e do islamismo. Dadas essas considerações, não se pode esperar que essa região seja um local pacato do globo terrestre, considerando os interesses políticos de outros países, sua formação territorial e as características religiosas do seu povo. Com a criação do Estado de Israel no ano de 1948 consideramos ser o elementos decisivos para ampliação dos conflitos na região Oriente Médio, já que a sua fundação desencadeou de pronto, uma guerra com os países vizinhos e outras quatro foram travadas posteriormente, despontando como alteradoras do cenário político e geográfico da região, além de formar uma grande leva de refugiados de guerra. O atual modelo do Estado de Israel, um Estado criado para ser o “lar nacional judaico” na Palestina é baseado no ideário sionista e consideramos ser essa a causa do seu fracasso em atingir a paz quase sessenta anos após a sua fundação. Percebemos que à medida que as idéias sionistas tinham por escopo privilegiar uma única etnia quando tentou criar para ela um Estado em uma região 58 multiétnica, a etnia desvalorizada reagiu com violência e somente uma mudança nesse modelo poderá trazer a paz, o que nos parece pouco provável pelo menos num curto espaço de tempo. A ideia predominante é a ocupação da área, devido à existência de um projeto maior sionista em buscava a criação de um Estado judeu com fim e meio, pois havia um povo sem terra para uma terra sem povo, negando assim a existência dos Palestinos e seu direito a sua terra natal. Com esse implemento, os palestinos estavam prestes a perder seus direitos essenciais, como a identidade, a terra, a sua história e costumes (o que ocorreu de fato), que facilitou a entrada dos grupos sionista, depois da deflagração das guerras e tomada da palestina. Este trabalho procurou mostrar a versão árabe do conflito sob o ponto de vista do conflito na palestina. O curioso é que a parte mais interessada na questão foi a mais prejudicada, outro ponto é que não existe uma ponte de atendimento entre o mundo árabe e o ocidente, o que acaba prejudicando o povo palestino com a visão do problema refletido na ótica de autores ocidentais, com uma visão complexa do conflito. Isso tem contribuído para o prolongamento da problemática desse conflito há várias décadas e vem afetando de forma negativa a vida diária dos moradores de todo o Oriente Médio. Podemos dizer que seja pouco provável uma solução pacífica no contexto atual. Há vários interesses envolvidos que impedem a solução do conflito, como interesses políticos, econômicos, religiosos de ambas as partes ( Judeus e Palestinos) que dificultam um acordo de paz definitivo. Manter o estado de guerra na região é interesse máximo para a indústria bélica, apoiada, muitas vezes por parlamentares que trabalham como lobistas defendendo seus interesses e não do povo. Outro ponto é a localização da Palestina, que se encontra em um ponto estratégico para controlar a região. O Estado de Israel tem muitos problemas para manter a união da sua população em torno da unidade nacional, essa unidade não existe em si e a principal dificuldade é a origem da população israelense. Cada grupo é oriundo de lugares distintos como a Etiópia, Rússia, EUA, Europa e de muitos outros países. Essa unidade nacional em si não existe por causa das grandes diferenças sociais, culturas e econômicas, capazes de formar uma nação e um estado nacional homogêneo. 59 O conflito entre israelenses e palestinos provavelmente é o conflito mais duradouro dos últimos séculos. Perspectivas de que essa situação tenha solução consensual certamente sempre foi o desejo da população mundial, ou pelo menos daqueles que sempre desejaram a paz. Deve-se desejar a paz levando-se em consideração o grande número de vidas arruinadas. Esse tema que sempre assusta de forma impactante a comunidade de povos pacíficos do planeta, cada vez que surge no noticiário informações sobre a Palestina não deve perdurar, pois se isso ocorrer, mais vidas serão perdidas. O desejo que fica é que esse conflito termine de forma pacífica, sem exterminar mais vidas, sejam de judeus ou palestinos, ou qualquer que seja sua origem, pois a paz mundial tão desejada é o ponto de partida para que conflitos como esse não tenham mais espaço na política de nações em todo mundo. 60 REFERÊNCIAS: Almanaque Abril – ano 31 – edição 2005. São Paulo: Editora Abril, 2005. BARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A Verdade Sobre o Conflito Árabe-Israelense. São Paulo: Editora Sêfer, 2004. BARTEL, Carlos Eduardo. Os missionários sionistas e o nacionalismo judaico no Rio Grande do Sul (1945-1952). Dissertação de Mestrado em História. Programa de Pós-Graduação em História – PPGH. Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-Graduação – Área Ciências Humanas. Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. São Leopoldo/RS, 2006. BRAGA, Alfredo. A Palestina. Comissão Justiça e Paz CNIR/FNIRF. Portugal, 2002. Disponível em: www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/palestina.html. 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