UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS AÇÃO ANTIOXIDANTE DO RESVERATROL E ÁCIDO α-LIPÓICO NO PROCESSO OXIDATIVO INDUZIDO PELO METABÓLITO DAPSONA-HIDROXILAMINA EM ERITRÓCITOS DE INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS in vitro Rosyana de Fátima Vieira de Albuquerque BELÉM-PA 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS AÇÃO ANTIOXIDANTE DO RESVERATROL E ÁCIDO α-LIPÓICO NO PROCESSO OXIDATIVO INDUZIDO PELO METABÓLITO DAPSONAHIDROXILAMINA EM ERITRÓCITOS DE INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS in vitro Autor: Rosyana de Fátima Vieira de Albuquerque Orientadora: Profa. Dra. Marta Chagas Monteiro Co-orientadora: PhD. Lilian Lund Amado Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências Farmacêuticas, área de concentração Fármacos e Medicamentos, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Ciências Farmacêuticas. BELÉM-PA 2013 Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Biblioteca do Instituto de Ciências da Saúde – UFPA Albuquerque, Rosyana de Fátima Vieira de. Ação antioxidante do resveratrol e ácido α-lipóico no processo oxidativo induzido pelo metabólito dds-noh em eritrócitos de indivíduos saudáveis in vitro / Rosyana de Fátima Vieira de Albuquerque ; orientadora, Marta Chagas Monteiro, co- orientadora, Lilian Lund Amado. — 2013 Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências da Saúde, Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas, Belém, 2013. 1. 1. Dapsona. 2. Hidroxilamina. 3. Hanseníase. 4. Resveratrol. 5. Ácido α-lipóico. 6.Estresse Oxidativo. 7. Antioxidantes. I. Título. . CDD: 22. ed.: 541.39 ROSYANA DE FÁTIMA VIEIRA DE ALBUQUERQUE AÇÃO ANTIOXIDANTE DO RESVERATROL E ÁCIDO α-LIPÓICO NO PROCESSO OXIDATIVO INDUZIDO PELO METABÓLITO DAPSONAHIDROXILAMINA EM ERITRÓCITOS DE INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS in vitro Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências Farmacêuticas, área de concentração Fármacos e Medicamentos, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Aprovado em:______/______/______ Banca Examinadora ____________________________________________________________ Prof. Dra. Marta Chagas Monteiro PPGCF/UFPA (Orientadora) ____________________________________________________________ Prof. Livre-Docente Sandro Percário PPGBAIP/UFPA ____________________________________________________________ Prof. Msc. Osmarina Pereira da Paixão e Silva FF/UFPA AGRADECIMENTO À Deus que se faz presentes em todos os momentos da minha vida iluminando e me guiando sempre no caminho do bem. À minha família, por acreditar em mim, e principalmente aos meus pais, por incentivar as minhas escolhas, pela força para enfrentar os desafios, por acreditar na minha capacidade e pelo amor em todos os momentos. À profa. Marta pela orientação acadêmica, por ter acreditado em mim, por todos os conhecimentos transmitidos, pelo incentivo e ajuda para desenvolver este estudo. A todas do laboratório de Microbiologia, em especial, Diane (exintegrante), Dani, Nivia, Mari, Carla, Kely, Fábio Chada e Fábio Oliveira por sempre poder contar com vocês tanto para os assuntos do laboratório, das técnicas, mas também pelas conversas e pelo apoio. Ao prof. Eduardo, Carlos Barros, Jóse Luiz e as Profa. Osmarina e Lilian, obrigada pela prestatividade e auxílio que possibilitou a realização dos experimentos. Àqueles amigos sempre dispostos a ouvir e ajudar, e que ao longo desta convivência se tornaram amigos e confidentes: João e Dani Aos meus queridos amigos farmacêuticos Tamyris, Jefferson, Flávia, e Gregório pela ajuda em muitos momentos importantes e pela amizade construída ao longo destes anos. Ao meu amor, pelo carinho, paciência e compreensão nesta etapa decisiva. “É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar. É melhor tentar, ainda em vão, que sentar-se fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver.” Martin Luther King RESUMO A dapsona (DDS), rifampicina e clofazimina constituem a poliquimioterapia para a Hanseníase, a qual pode ser classificada para fins operacionais em: paucibacilar ou multibacilar. Na clínica, as reações adversas ao medicamento, como metemoglobinemia e anemia hemolítica frenquentemente observadas em pacientes hansenianos estão relacionadas com o uso da DDS, sendo que a formação dos metabólitos N-hidroxilamina da DDS, como o dapsona-hidroxilamina (DDS-NOH) são considerados os responsáveis por esta hematotoxidade. Neste sentido, a fim de prevenir e atenuar a toxidade induzida pelo metabólito DDS-NOH foi avaliada a ação protetora dos antioxidantes; Resveratrol (RSV) e Ácido α-lipóico (ALA) em suspensões de eritrócitos humanos sadios expostos ao DDS-NOH in vitro. O RSV é uma fitoalexina sintetizada na casca de uvas que apresenta propriedades antioxidantes, cardioprotetoras e anti-inflamatórias. Enquanto, o ALA é um composto sulfidrílico presente em células eucariotas que atua como cofator em diferentes multicomplexos enzimáticos. Assim, a ação antioxidante destes compostos foram analisadas, a partir da avaliação do percentual de formação de metemoglobina (MetHb) induzido em eritrócitos após a exposição ao DDS-NOH em diferentes concentrações, os quais primeiramente foram pré-tratados com RSV e /ou ALA em diferentes concentrações. Em virtude, do efeito oxidativo do DDS-NOH avaliou-se a indução de espécies reativas de oxigênio no meio intracelular através da técnica de citometria de fluxo utilizando a sonda 2’, 7’- diacetato de diclorodihidrofluoresceína e a atividade das enzimas catalase (CAT) e superóxido dismutase (SOD). Mediante, a exposição das suspensões de eritrócitos humanos ao DDS-NOH constatou-se que este efeito hematotóxico induzido foi dose-dependente, e ao analisar o potencial redutor dos antioxidantes estudados, o pré-tratamento com RSV e ALA (10 a 1000µM) foi capaz de atenuar o %MetHb induzido por DDS-NOH (2,5 a 7,5µg/mL), no entanto, ao comparar o efeito redutor dos antioxidantes com o do azul de metileno, o único antioxidante que foi tão eficaz quanto este composto foi o ALA (1000µM). O DDS-NOH (2,5 e 7,5µg/mL) induziu grande quantidade de espécies reativas de oxigênio em meio intracelular, todavia estes radicais livres foram reduzidos quando na presença de RSV e ALA (100 e 1000µM), porém, dentre eles apenas o RSV (1000µM) foi eficiente na redução de radicais livres induzidos por DDS-NOH na concentração 7,5µg/mL. As suspensões de eritrócitos expostas ao DDS-NOH (2,5µg/mL) apresentaram redução na atividade da enzima CAT, porém estas células quando pré-tratadas com o ALA (100µM) não apresentaram comprometimento da atividade da enzima. Por outro lado, a atividade da SOD não foi alterada mediante a exposição ao metabólito hidroxilamina. Mediante a obtenção destes dados pode-se concluir que DDS-NOH está associado com surgimento de metemoglobinemia em pacientes em uso da DDS, bem como apresenta efeito oxidativo sobre os eritrócitos e enzimas eritrocitárias. Tais dados também demonstraram o potencial dos antioxidantes em relação à prevenção e tratamento de efeitos hematotóxico induzido por este metabólito, enfatizando-se o potencial antioxidande do ALA na MetHb e na depleção da CAT induzida por DDS-NOH, bem como o potencial do RSV em atenuar a quantidade de radicais livres no meio intracelular. Palavras Chaves: Dapsona-Hidroxilamina; Hanseníase; Metemoglobina; Estresse oxidativo; Resveratrol; Ácido α-lipóico; Antioxidantes ABSTRACT The dapsone (DDS), rifampicin and clofazimine are multidrug therapy for leprosy, which can be classified to operational aims as: paucibacillary or multibacillary. At the clinic, the adverse reactions to the medicine, as metheomoglobin and hemolitic anemia frequently observed in leprosy patients are related with the use of DDS, and that the formation of metabolites Nhydroxylamine DDS, dapsone as hydroxylamine (DDS-NOH) are considered the responsible for this blood toxicity. In this regard, in order to prevent and reduce the induced toxicity by the metabolite DDS-NOH it was evaluated the protecting action of the antioxidants; Resveratrol (RSV) and α-lipoic acid (ALA) in suspensions of erythrocytes exposed to healthy human in vitro DDS-NOH. RSV is a phytoalexin synthesized in the skin of grapes which has antioxidant, anti-inflammatory and cardioprotective. While the ALA is a sulfhydryl compound present in eukaryotic cells that acts as a cofactor in various enzymatic multicomplexes. Thus, the antioxidant action of these compounds were assessed from the evaluation of the percentage of formation of methemoglobin (MetHb) induced in red blood cells after exposure to the DDS-NOH different concentrations, which were first pretreated with RSV and / or ALA in different concentrations.Under the effect of oxidative DDS-NOH, it was evaluated the induction of reactive oxygen species intracellularly using the technique of flow cytometry using the probe 2 ', 7'-diacetate diclorodihidrofluorescein and the activity of catalase (CAT) and superoxide dismutase (SOD). Upon the display of human erythrocyte suspensions to DDS-NOH, it was found that this induced blood toxic effect was dosedependent, and by analyzing the reducing potential of the antioxidants studied, pretreatment with RSV and ALA (10 to 1000μM) was capable of alleviating the % MetHb DDS-induced NOH (2.5 to 7.5 mg/ml). However, when comparing the reduction effect of antioxidants with methylene blue, the only antioxidant which was as effective as this compound was ALA (1000μM). The DDS-NOH (2.5 and 7.5 mg/ml) induced large amounts of reactive oxygen species in the intracellular environment, however these free radicals were reduced in the presence of RSV and ALA (100 and 1000μM), but among them only RSV (1000μM) was effective in reducing free radicals induced by DDS-NOH concentration 7.5mg/ml. The suspensions of erythrocytes exposed to DDS-NOH (2.5mg/ml) showed a reduction in the activity of catalase, but these cells when pre-treated with ALA (100μM) had no impairment of enzyme activity. On the other hand, the SOD activity was not altered by exposure to hydroxylamine metabolite. By obtaining these data it can be concluded that DDS-NOH is associated with the emergence of methemoglobinemia in patients using the DDS and presents oxidative effect on erythrocytes and erythrocyte enzyme. These data also demonstrated the potential relationship of antioxidants in the prevention and treatment of effects induced by this blood toxic metabolite, emphasizing the potential of ALA in antioxidant MetHb and in the depletion of DDS-induced CAT NOH, as well as the RSV potential in attenuating the amount of free radicals in the intracellular environment. KeyWords: Dapsone-Hydroxylamine; Leprosy; Methemoglobin; Oxidative stress; Resveratrol; α-lipoic acid; Antioxidants LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Coeficiente de detecção de casos novos de hanseníase por 100.00 habitantes no mundo, em janeiro de 2011. ..................................................................................................... 27 Figura 2: Fórmula estrutural da Dapsona esse fármaco possui grupo sulfonil (SO2) e grupo arilamina (AR-NH2). ................................................................................................................ 29 Figura 3: Mecanismo de ação bacteriostático da Dapsona. ...................................................... 30 Figura 4:Estrutura da dapsona (DDS) e metabólitos DDS-NOH e MADDS-NOH (dapsonahidroxilamina e monoacetildapsona-hidroxilamina) ................................................................ 32 Figura 5: As vias de biotransformação da DDS: glicuronidação, N-acetilação e N-hidroxilação e os seus metabólitos ................................................................................................................ 33 Figura 6: Atividade da G6PD na primeira fase da via das pentoses-fosfato ............................ 34 Figura 7: A hemoglobina consiste em um grupo prostético, heme, e o protéico ..................... 36 Figura 8: Representações da estrutura tetrapirrólica do grupo prostético heme....................... 36 Figura 9: Arranjo eletrônico que ocorre entre o Ferro do grupo heme e moléculas de oxigênio .................................................................................................................................................. 37 Figura 10: Processo de oxidação do Fe2+ pela ligação ao O2, formando o Fe3+. ...................... 38 Figura 11: Representação esquemática do ciclo de formação da metemoglobina nos eritrócitos a partir da indução DDS-NOH (dapsona hidroxilamina) ......................................................... 40 Figura 12: A via de Embden-Meyerhof e das pentoses-fosfato, responsáveis pela produção de NADH e NADPH, respectivamente ......................................................................................... 41 Figura 13: Redução da metemoglobina para hemoglobina ocorre pelo processo de NADHcitocromo b5 redutase .............................................................................................................. 41 Figura 14: As prováveis vias de redução da metemoglobina, sendo que a principal via fisiológica é a do citocromo b5 redutase. ................................................................................. 42 Figura 15: Representação da membrana eritrocitária ............................................................... 44 Figura 16: Mecanismo de proteção do sistema antioxidante dos eritrócitos ............................ 47 Figura 17: Estruturas da glutationa reduzida (GSH) e oxidada (GSSG) .................................. 48 Figura 18: Modelo celular do eritrócito .................................................................................... 50 Figura 19: Fórmula estrutural do trans-resveratrol .................................................................. 51 Figura 20: Síntese do Resveratrol em cascas de uva ................................................................ 52 Figura 21: A estrutura química do trans-resveratrol e cis-resveratrol...................................... 52 Figura 22: Sítio de ligação da Hb e RSV ................................................................................. 54 Figura 23: Estrutura química do Ácido α-lipóico e a estrutura química da sua forma reduzida (DHLA) .................................................................................................................................... 55 Figura 24: Esquema do experimento de incubação da suspensão de eritrócitos ...................... 60 Figura 25: Esquema do experimento de pré-incubação da suspensão de eritrócitos................ 61 Figura 26: Esquema da técnica de metemoglobina .................................................................. 63 Figura 27: Esquema da avaliação da produção de espécies reativas pela oxidação química de DCFH. ...................................................................................................................................... 65 Figura 28: Percentual de metemoglobina em suspensão de eritrócitos normais expostos ao DDS-NOH ................................................................................................................................ 67 Figura 29: Percentual de metemoglobina induzida por diferentes concentrações de dapsonahidroxilamina ............................................................................................................................ 69 Figura 30: Percentual de metemoglobina induzida por diferentes concentrações de dapsonahidroxilamina (2,5; 5,0 e 7,5 µg/mL) em suspensão de eritrócitos normais que foram prétratados com ácido α-lipóico (10; 100; 200 e 1000 µM) por 60 min a 37°C in vitro............... 70 Figura 31: Percentual de metemoglobina induzida por dapsona-hidroxilamina (2,5 µg/mL) em suspensão de eritrócitos normais que foram pré-tratados com resveratrol (100µM) por diferentes tempos (30, 60, 90 e 120 min). ................................................................................ 71 Figura 32: Percentual de metemoglobina induzida por diferentes concentrações de dapsonahidroxilamina (2,5; 5,0 e 7,5 µg/mL) em suspensão de eritrócitos normais que foram prétratados com azul de metileno (15ng/mL) por 30 min a 37°C in vitro..................................... 72 Figura 33: Comparação das médias do percentual de metemoglobina obtidas em suspensão de eritrócitos normais pré-incubados com azul de metileno (15ng/mL) ou com resveratrol (100µM)/ ácido α-lipóico (1000µM) in vitro. .......................................................................... 74 Figura 34: O efeito dapsona-hidroxilamina (2,5 e 7,5 µg/mL) na produção de ERO em suspensão de eritrócitos. ........................................................................................................... 76 Figura 35: O efeito do dapsona-hidroxilamina (2,5 µg/mL) sobre a atividade da catalase em suspensão de eritrócitos pré-incubados com resveratrol e ácido α-lipóico.. ............................ 78 Figura 36: O efeito do dapsona-hidroxilamina (2,5µg/mL) sobre a atividade da superóxido dismutase em suspensão de eritrócitos pré-incubados com resveratrol e ácido α-lipóico. ...... 80 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Esquema da poliquimioterapia para hanseníase preconizada pela OMS para o tratamento de pacientes adultos. ............................................................................................... 28 LISTA DE ABREVIATURAS 2,3-DPG-2,3- Difosfoglicerato ALA- Ácido α-lipóico ARE-Elemento de resposta ao antioxidante Ar-NH2- grupo arilamina ou amina aromática Asp- aminoácido Ácido aspártico ATP- trifosfato de adenosina Ca2+- íon de cálcio CAT- enzima catalase CFZ- Clofazimina Cl-- íons cloro CO2- Gás carbônico CYP2C9- Citocromo P450 2C9 DCFH-DA- 2’,7’-diclorofluoresceína diacetato DDS- Dapsona DDS-NO- Dapsona nitrosobenzeno DDS-NOH: Dapsona-hidroxilamina DHLA- ácido diidrolipóico DNPH- 2,4 dinitrofenilhidrazina DTNB- ácido 5,5’- ditio-bis (2-nitrobenzóico) Emáx- efeito máximo ERN- Espécie reativa de nitrogênio ERO- Espécies reativas de oxigênio FAD- Flavina adenina dinucleotídeo FADH- Flavina adenina dinucleotídeo( Forma reduzida) Fe2+- íons ferroso Fe3+- íons férrico G6P- 6-fosfogluconolactona G6PD-glicose 6-fosfato desidrogenase GPx- glutationa peroxidase GR- Glutationa redutase GSH- Glutationa reduzida GSSG- Glutationa oxidada H2NOH- grupo funcional hidroxilamina H2O- água H2O2- Peróxido de hidrogênio Hb- hemoglobina HClO- ácido hipocloroso HCO3- íon bicarbonato HIV- Vírus de imunodeficiência humana HNO2- Ácido nitroso Ig A- Imunoglobulina A K+- íon potássio KCl-Cloreto de potássio MADDS-OH- Monoacetil dapsona-hidroxilamina MB-Multibacilar MetHb- metemoglobina N2O3- óxido nitroso Na+- íon de sódio NaCl- cloreto de sódio NADH- Nicotinamida adenina dinucleotídeo (forma reduzida do NAD+) NADP- Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato NADPH- Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (Forma reduzida NADP) NO- óxido nítrico Nrf2: Fator nuclear eritróide 2 relacionado ao fator 2 NO2-Nitritos NO3-Nitratos O2- Oxigênio molecular O2-●- ânion radical superóxido OH- grupo Hidroxila OH-●- radical hidroxila OMS- Organização Mundial de Saúde ONOO- Ânion peroxinitrito PABA- ácido Para-aminobenzóico PB- Paucibacilar PBS- Tampão fostato salina PC- proteínas carboniladas pH- potencial hidrogeniônico PMRS- sistema redox situado na face externa da membrana plasmática PQT- Poliquimioterapia Pro- aminoácido Prolina PS-Fosfatidilserina R- estado conformacional da hemoglobina com elevada afinidade pelo oxigênio RAM- Reação adversa ao medicamento RMP- Rifampicina RO●- Radical alcoxila ROO●- Radical peroxila rpm- rotações por minuto RSV- Resveratrol SO2-Grupo funcional sulfonil SOD- enzima superóxido dismutase SDS-PAGE- Poliacrilamina-dodecil sulfato de sódio SH- grupo sulfidrila T- estado conformacional da hemoglobina com baixa afinidade pelo oxigênio T-BHP- terc- butil-hidroperóxido Thr- aminoácido Treonina °C- graus Celsius h-hora λ- comprimento de onda M-mol µM- micromol µL- microlitro µg/mL- micrograma por mililitro Min- minuto mg- miligrama mg/Kg- miligrama por quilograma mg/L- miligrama por litro mM- milimolar ng/mL- nanograma por mililitro nm- nanomêtro %MetHb- percentual de metemoglobina Π- pi Seg- segundo σ- sigma U/mg- unidade por miligrama UI/mL- Unidades internacionais por mililitro SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................................................................... 23 2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................................................................................. 26 2.1 Hanseníase e Poliquimioterapia ......................................................................................................................................... 26 2.2 Dapsona e Dapsona-hidroxilamina (DDS-NOH) .......................................................................................................... 29 2.3 Hemoglobina (HB) e Metemoglobina (MetHb) ............................................................................................................ 35 2.4 Eritrócitos humanos ................................................................................................................................................................. 43 2.4.1 MEMBRANA ERITROCITÁRIA ..................................................................................................................................... 43 2.4.2 METABOLISMO ERITROCITÁRIO .............................................................................................................................. 45 2.4.3 SISTEMA ANTIOXIDANTE DO ERITRÓCITO ......................................................................................................... 46 2.4.4 O ERITRÓCITO COMO MODELO EXPERIMENTAL ............................................................................................. 49 2.5 Antioxidantes .............................................................................................................................................................................. 50 2.5.1 RESVERATROL (RSV) ..................................................................................................................................................... 51 2.5.2 ÁCIDO Α-LIPÓICO (ALA) ................................................................................................................................................ 54 3 OBJETIVOS ............................................................................................................................................................................................ 57 3.1 Objetivo Geral.............................................................................................................................................................................. 57 3.2 Objetivos Específicos ............................................................................................................................................................... 57 4 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................................................................................. 58 4.1 Material .......................................................................................................................................................................................... 58 4.1.1 AMOSTRA BIOLÓGICA .................................................................................................................................................... 58 4.1.2 REAGENTES E SOLVENTES .......................................................................................................................................... 58 4.2 Métodos ......................................................................................................................................................................................... 58 4.2.1 COLETA DE AMOSTRAS SANGUÍNEAS .................................................................................................................... 58 4.2.2 ISOLAMENTO DE ERITRÓCITOS ................................................................................................................................ 59 4.2.3 TRATAMENTO DOS ERITRÓCITOS ........................................................................................................................... 59 4.2.4 DETERMINAÇÃO DE METEMOGLOBINA ............................................................................................................... 61 4.2.5 AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ESPÉCIES REATIVAS EM ERITRÓCITOS .............................................. 64 4.2.6 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE DA CATALASE ............................................................................................... 65 4.2.7 PROTEÍNAS TOTAIS ........................................................................................................................................................ 66 4.2.8 DETERMINAÇÃO DA SUPERÓXIDO DISMUTASE ............................................................................................... 66 4.2.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA .................................................................................................................................................. 66 5 RESULTADOS ....................................................................................................................................................................................... 67 5.1 Curva dose-resposta do DDS-NOH em eritrócitos in vitro ...................................................................................... 67 5.2 Efeito do Resveratrol e do Ácido α-Lipóico na metemoglobina induzida pelo DDS-NOH em eritrócitos normais in vitro .................................................................................................................................................................................. 68 5.3 Curva temporal da pré-incubação do Resveratrol em eritrócitos expostos a DDS-NOH in vitro........... 71 5.4 Efeitos do azul de metileno na metemoglobina induzida pelo DDS-NOH em eritrócitos normais in vitro ......................................................................................................................................................................................................... 72 5.5 Detecção de ERO intracelulares em suspensões de eritrócitos pré-incubados com RSV/ALA e incubados com DDS-NOH in vitro .............................................................................................................................................. 75 5.6 Atividade da Catalase (CAT) em suspensões de eritrócitos pré-incubados com RSV/ALA e incubados com DDS-NOH in vitro ..................................................................................................................................................................... 77 5.7 Atividade da SOD em suspensões de eritrócitos pré-incubados com RSV/ALA e incubados com DDSNOH in vitro ......................................................................................................................................................................................... 79 6 DISCUSSÃO ............................................................................................................................................................................................ 81 7 CONCLUSÕES ....................................................................................................................................................................................... 91 23 1 INTRODUÇÃO A dapsona (4,4’-diaminodifenil-sulfona) ou DDS é o fármaco utilizado na poliquimioterapia da hanseníase (VADHER e LALLJEE, 1992), no tratamento de malária, (SHANKS et al. 1992) nos casos de resistência a cloroquina (WOZEL, 1989) e na malária complicada ocasionada por Plasmodium falciparum (AMUKOYE et al.1997). Esta sulfona bacteriostática é utilizada como fármaco de segunda escolha para pneumonia ocasionada por Pneumocystis carinii (SANGIOLO et al. 2005) e para quimioterapia da encefalite toxoplásmica (LEE et al. 1989; TORRES et al. 1993) ambos em pacientes HIV – positivo. É também em casos de dermatite herpetiforme, dermatose por IgA e em diversas doenças de pele (ZHU e STILLER, 2001) atuando como um agente antiinflamatório ao inibir, principalmente a aderência dos neutrófilos (BOOTH et al. 1992; BOZEMAN et al. 1992; THUONG-NGUYEN et al. 1993). Por outro lado, o mecanismo de ação bacteriostático baseia-se na inibição da síntese bacteriana que ocorre pela diminuição da produção do ácido fólico, uma vez que há antagonismo competitivo entre a DDS e o ácido para-aminobenzóico (PABA) pelo sítio ativo de dihidropteroato sintetase (COLEMAN, 1993; KWADIJK e TORAÑO, 2002; ANNIGERI et al. 2007). A partir da década de 50, a DDS foi considerada o fármaco de primeira escolha para o tratamento da hanseníase, no entanto a monoterapia desta doença infectocontagiosa se apresentava como a principal causa de resistência do Micobacterium leprae ao medicamento (DHARMENDRA, 1994). Assim, a partir da década de 80, a Organização Mundial de Saúde (OMS) padronizou a poliquimioterapia para Hanseníase, composta por rifampicina (RMP), DDS e clofazimina (CFZ; NOORDEEN, 2000), que são utilizados no tratamento padrão das formas multibacilares e paucibacilares da hanseníase, sendo que para cada forma há um esquema terapêutico (BRASIL, 2010). Na clínica a DDS, mesmo em baixas doses diárias de 100mg é o principal fármaco responsável por reações adversas (RAM) presentes em pacientes hansenianos (COLEMAN e TINGLE, 1992), visto que, a maior parte dos pacientes apresenta alterações hematológicas, devido a isto, o uso da DDS torna-se limitado nestes pacientes (DEGOWIN et al. 1966; COLEMAN, 1995). De acordo com Lee e Nashed (2003), as principais RAM dose dependente provocadas pela DDS são a anemia e metemoglobinemia. Sendo que, as reações idiossincrásicas mais citadas são: agranulocitose, anemia aplásica, algumas reações cutâneas e a síndrome da sulfona (febre, mal-estar, dermatite, disfunção hepática, linfademopatia e outros). Blum et al. 24 (1992) mostraram também que pacientes em tratamento com a DDS apresentaram um quadro anêmico significativo que culminou na redução do hematócrito. Vyas et al. (2005) citam a hipótese que as RAM estão diretamente relacionadas com a presença do grupo funcional hidroxilamina (NHOH) na molécula do metabólito da DDS, o dapsona-hidroxilamina (DDSNOH). Estudos farmacocinéticos realizados por Winter et al. (2000) mostraram que a DDS é metabolizada no homem especialmente, pelas vias de biotransformação; N-acetilação e Nhidroxilação através da isoforma do citocromo P450, a CYP2C9. Entretanto, a N-hidroxilação forma o metabólito dapsona-hidroxilamina (DDS-NOH ou DDS-NHOH) que é considerado o responsável por induzir metemoglobinemia em pacientes utilizando DDS (ISRAILI et al. 1973; SCHIFF et al. 2006) além de induzir a remoção de eritrócitos em ratos (GROSSMAN et al., 1995; McMILLAN et al. 1995) e alteração morfológica nos eritrócitos humanos (McMILLAN et al. 1995). Conforme Bradshaw et al. (1997), o DDS-NOH quando em contato com os eritrócitos realizam um ciclo de oxidação-redução com a oxihemoglobina e com moléculas de oxigênio (O2), formando metemoglobina (MetHb) e ERO, respectivamente. A MetHb é formada naturalmente quando íons ferroso (Fe2+) são oxidados para íons férrico (Fe3+), podendo ser induzida por fármacos como DDS, rifampicina, clofazimina, primaquina, benzocaína e sulfonamidas (REHMAN, 2001). A formação de MetHb ocasiona a deficiência do transporte O2 aos tecidos, visto que este gás não consegue se ligar aos íons férrico comprometendo desta maneira o transporte dele pelos glóbulos vermelhos. Estudos de Bordin et al. (2010) indicam que o DDS-NOH induz alterações progressivas nos eritrócitos, inicialmente pelo domínio citosólico das proteínas de membrana dos eritrócitos, a banda 3, sendo observada formação de MetHb e o comprometimento da atividade das proteínas tirosina quinase e das fosfatases. Além disso, a DDS-NOH também induz a formação de agregados da banda 3 na membrana eritrocitária. Desta forma, pesquisas com compostos antioxidantes que propiciem redução dos efeitos tóxicos associados ao uso da DDS, ou do seu metabólito DDS-NOH são de certa forma promissores para uma adesão segura ao tratamento. Portanto, objetivando a melhora da adesão ao uso da DDS é que várias terapias vêm sendo estudadas, tais como o oxigênio hiperbárico e o ácido ascórbico (O'DONOHUE et al. 1980; BORAN et al. 2008; ELHUSSEINI e AZAROV, 2010). Bergamaschi et al. (2011) mostraram que o uso de curcumina, um polifenol com propriedades anti-inflamatória e antioxidante, nas doses 25 0,02mg/kg e 0,1mg/kg diminuiu significativamente a MetHb induzida por DDS em ratos (TAYYEM et al. 2006). Nos últimos anos têm-se estudado muitos compostos antioxidantes, tais como, o ácido α-lipóico (ALA) e Resveratrol (RSV). O ácido α-lipóico (ácido 1,2-ditiolano-3-pentanóico ALA) é um composto sulfidrílico, naturalmente encontrado em praticamente todas as espécies vegetais e animais, em células procariontes e eucariontes (TEICHERT et al. 2005). Por outro lado, o RSV (3,4’,5-Trihidroestilbeno) é um polifenol comumente encontrado em bagas, casca de uvas e amendoim apresentando ação antifúngica nestes alimentos ( JANG et al. 2001; SIGNORELLI e GHIDONI, 2005). Além de apresentar atividades biológicas como, antiinflamatório e antitumoral (VIDAVALUR et al. 2006). Entretanto, também existem estudos que relataram interação do RSV com a hemoglobina (Hb) através da ligação das três hidroxilas desse estilbeno com as cadeias α dos aminoácidos Pro95, Thr134 e Asp126 da Hb formando pontes de hidrogênio, o que favorece a proteção da cavidade central da Hb contra a ação de agentes oxidantes (ZHONG et al. 2007). Galtieri et al. (2010) demonstraram que o RSV também foi capaz de diminuir a oxidação da Hb mostrando um potente efeito redutor, uma vez que este composto interage com a Hb deslocando o estado conformacional da mesma de T para R, sendo o estado R, o de maior afinidade ao O2 sugerindo que o RSV apresenta papel estabilizante na Hb, protegendoa de elevados níveis de oxidação. Com relação à ação do ALA sobre efeitos oxidativos da DDS, Coleman e Walker (2000) mostraram que este composto reduz a metemoglobinemia induzida pelo metabólito monoacetil dapsona-hidroxilamina (MADDS-NOH). Portanto, estudos subsequentes com o RSV e com ALA podem demonstrar possíveis alternativas terapêuticas em casos de metemoglobina e danos em eritrócitos, podendo ser utilizados como prováveis e seguros inibidores da toxidade induzida em eritrócitos observados em pacientes com hanseníase em uso da poliquimioterapia (PQT). Sugerindo-se, a importância de avaliar o efeito destes potentes antioxidante na MetHb e nos danos oxidativos em eritrócitos induzida pela DDS-NOH em modelo in vitro. 26 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Hanseníase e Poliquimioterapia A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa e crônica, causada pelo bacilo álcoolácido resistente denominado Mycobacterium leprae. A transmissão ocorre a partir da exposição prolongada a secreções nasais ou orais de pacientes doentes e sem tratamento, contudo há outras formas menos relevantes como: o contato com a pele lesionada por meio das soluções de continuidade, transmissão congênita (DUNCAN et al. 1983) e inoculação cutânea com objetos contaminados (PORRIT e OLSEN, 1947). O agente etiológico responsável por esta patologia apresenta alta infectividade e baixa patogenicidade, e em virtude disso o processo de evolução da doença varia normalmente 2 a 3 anos (REA e MODLIN, 2008) comprometendo mais comumente a pele e nervos periféricos (SUZUKI et al. 2012), no entanto as manifestações clínicas dependem principalmente da imunidade celular do hospedeiro. De acordo com a resposta imunológica específica ao bacilo, a infecção evolui de diversas maneiras, portanto OMS (1982) propôs uma classificação operacional para fins de tratamento, em que os pacientes com hanseníase são classificados em paucibacilares (PB) e multibacilares (MB). Os PB apresentam até cinco lesões de pele, que podem estar distribuídas assimetricamente pelo corpo, apenas um tronco nervoso comprometido e baixa carga de bacilos, o que explica o exame baciloscópico negativo, por outro lado, os multibacilares (MB) apresentam mais de cinco lesões de pele distribuídas de forma simétrica pelo corpo, mais de um tronco nervoso acometido e a alta carga de bacilos, o que justifica a baciloscopia positiva (SOUZA, 1997). Essa doença é de notificação compulsória e de investigação obrigatória em todo território nacional (BRASIL, 2005). Segundo OMS (2010), a hanseníase continua a ser um importante problema de saúde em todo o mundo, dentre 1 em cada 20 pessoas (5%) exposta a M. leprae é capaz de desenvolver a doença (WOROBEC, 2012), a figura 1 mostra que o coeficiente de detecção de casos novos hanseníase são mais acentuados na Índia, Brasil, Nepal e Butão. 27 Figura 1: Coeficiente de detecção de casos novos de hanseníase por 100.00 habitantes no mundo, em janeiro de 2011. Fonte: OMS (2011) No Brasil, os coeficientes de detecção de casos novos registrados nos estados brasileiros evidenciam a sua importância na região Norte, a qual apresentou nos sete anos um coeficiente médio de 69,40/100.000 habitantes, com valores situados entre 54,25/100.000, o mais baixo, registrado em 2007, e 78,01/100.000, o mais alto, correspondente ao ano de 2003 (OMS, 2010). Dados do Sistema de Informação de Agravos de notificação do Ministério da Saúde (Sinan/SVS/MS, 2009) mostram que o Pará é líder de notificações de hanseníase no país, visto que no ano de 2008 foram registrados 4.595 casos da doença e em 2009, registrouse 4.057 notificações (Sinan/SVS/MS, 2010). Em 2010, o Estado do Pará ocupou o segundo lugar com 3.138 casos novos, perdendo apenas para o Estado do Maranhão (Sinan/SVS/MS, 2010). No entanto, a partir de 1991, o número de notificações foi reduzindo no Brasil, devido à poliquimioterapia (PQT) ser implantada em massa em todo o país, entre 2001 e 2007 houve uma redução na taxa de prevalência que variou de 26,61 para 21,08 pacientes em cada 100.000 habitantes, respectivamente (BRASIL, 2008). Entretanto, apesar do desenvolvimento econômico, a expansão da saúde pública e os esforços do programa de controle da hanseníase nos últimos anos, esta doença não foi eliminada e novos casos ainda estão sendo detectados 28 (PENNA et al, 2009). Um dos fatores essenciais na eliminação e no controle desta doença como problema de saúde pública é o tratamento com PQT (BRASIL, 2005). Até o início da década de 80, a Dapsona era o único fármaco de escolha para o tratamento da hanseníase, porém, o emprego da monoterapia foi a principal causa do desenvolvimento de resistência ao medicamento. Em virtude deste fato, a OMS passou a recomendar a PQT, como esquema terapêutico apropriado para o controle e cura da doença (CAMBAU et al. 1997). Na Hanseníase, a PQT é administrada de acordo com a classificação operacional do doente em paucibacilar ou multibacilar. O esquema-padrão consiste na combinação de três princípios ativos: a Rifampicina (única bactericida do esquema padrão), Dapsona (quimioterápico bacteriostático) e Clofazimina (corante fenazínico, bacteriostático contra o bacilo de hansen) (BRASIL, 2002). O esquema terapêutico da hanseníase preconizado para adultos pela Organização Mundial da saúde está representado no quadro abaixo: MEDICAMENTO FORMAS CLÍNICAS PAUCIBACILAR (PB) DAPSONA (DDS) 100mg DOSE SUPERVISIONADA + 100mg/DIA AUTOADMINISTRADA RIFAMPICINA (RFM) 600mg, UMA VEZ POR MÊS, SUPERVISIONADA (MB) SUPERVISIONADA + 100mg/DIA AUTOADMINISTRADA (CFZ) - DURAÇÃO DO TRATAMENTO 6 DOSES MENSAIS DE RIFAMPICINA SUPERVISIONADA 300 mg, UMA VEZ POR 100mg DOSE MULTIBACILAR CLOFAZIMINA MÊS, 600mg, UMA VEZ POR MÊS, SUPERVISIONADA SUPERVISIONADA + 12 DOSES MENSAIS DE RIFAMPICINA SUPERVISIONADA 50mg/DIA, AUTOADMINISTRADA Fonte: Adaptado de BRASIL (2009). Quadro 1: Esquema da poliquimioterapia para hanseníase preconizada pela OMS para o tratamento de pacientes adultos. A utilização desta associação medicamentosa permitiu um controle mais efetivo na transmissão e evolução da doença (MORAES et al. 2006), apesar da eficácia da PQT, existem algumas limitações durante sua utilização, uma vez que os pacientes podem apresentar algumas RAM, dentre elas: anemia hemolítica, metemoglobinemia, agranulocitose, 29 trombocitopenia, icterícia, problemas gastrointestinais, fotossensibilidade, hepatite, (TALHARI e NEVES, 1997), bem como a duração prolongada do tratamento pode ocasionar a não aderência e até abandono do tratamento (CELLONA et al. 2003; MOREL 2004; PENNA et al. 2011). Dentre os fármacos empregados na PQT da hanseníase, a dapsona é a principal responsável por ocasionar anemia hemolítica, efeito adverso mais frequente nos pacientes (GONÇALVES et al, 2012). Estudo publicado por Goulart et al, (2002) constatou que a causa da maioria das reações adversas que mais acometiam pacientes com hanseníase em tratamento com poliquimioterápico no Centro de Saúde da Universidade Federal de Uberlândia no período de 1995 à 2000, relacionava-se ao uso da Dapsona (80% dos casos), onde as maiores intercorrências atribuídas a este fármaco consistiam principalmente de casos de anemia hemolítica, gastrite e metemoglobinemia. 2.2 Dapsona e Dapsona-hidroxilamina (DDS-NOH) A DDS é utilizada no tratamento de Hanseníase (Figura 2) (DHOPLE, 1999), bem como em outras doenças que acometem a pele como: dermatite herpetiforme, acne conglobata e psoríase pustulosa (THUONG-NGUYEN et al, 1993), e em casos de infecções oportunistas, causadas por P.carinii e Toxoplasma gondii, em pacientes imunodeprimidos (ZHU e STILLER, 2001). Figura 2: Fórmula estrutural da Dapsona, esse fármaco possui grupo sulfonil (SO 2 ) e grupo arilamina (AR-NH2). Fonte: Monteiro et al, 2012 O mecanismo de ação bacteriostático da DDS consiste na inibição da síntese do ácido fólico pelas bactérias e protozoários, devido à competição com o ácido para- 30 aminobenzóico pelo sítio ativo da enzima dihidropteroato sintetase (Figura 3), comprometendo consequentemente a síntese de purinas e a formação de RNA e DNA (WOLVERTON, 1992; COLEMAN, 1993; FARHI et al. 2005). Cerca de 80 a 85% do fármaco é absorvido no trato gastrintestinal apresentando distribuição uniforme em todos os tecidos do organismo, contudo, tende a se depositar na pele, músculos e especialmente no fígado e rins. Esse fármaco atravessa a barreira hematoencefálica e a placenta, sendo parte excretada no leite materno (PETERS et al. 1975; EDSTEIN et al. 1986; GATTI et al. 1997; WOLF et al. 2000; PANIKER e LEVINE, 2001). Aproximadamente, 70% DDS encontra-se ligada as proteínas plasmáticas, com concentração plasmática variando entre 0,4 a 1,2 mg/L, após 24 h da ingestão de 100 mg do fármaco (ELLARD, 1966; SHEPARD, 1976; ZUIDEMA et al. 1986). Figura 3: Mecanismo de ação bacteriostático da Dapsona. Fonte: Adaptado de Farhi et al. 2005 Conforme, Tingle et al. (1997) após a absorção a DDS é transportada pela circulação portal para o fígado, local onde é metabolizada pelas vias de N-hidroxilação, N-acetilação ou glicuronidação, grande parte da DDS e seus metabólitos são conjugados com ácido glicurônico (UDP), através da ação da enzima UDP-glicuronosiltransferase (UGTs), sendo esses conjugados glicuronídeos excretados através da urina e bílis. Estudo de Zimmerman (1999) mostraram que a frequência de doenças no fígado associadas com DDS é de cerca de 5%, quando administrado isoladamente, mas a incidência de lesão hepática por DDS 31 aumentou até 40% quando a droga era co-administrada com Trimetoprim para pacientes com AIDS. A N-acetilação é a principal via de biotransformação de fármacos contendo arilamina ou amina aromática (Ar-NH2; HANNA, 1997) essa reação é catalisada pelas enzimas designadas de N-acetiltransferases citosólicas (NAT). Os seres humanos expressam duas NAT: a NAT1 e NAT2, essas enzimas detoxificam aminas aromáticas transformando-as em amidas que são metabólitos menos tóxicos isso pode ser observado a partir da formação monoacetildapsona (MADDS) formada pela acetilação do grupo amino (NH2; GROSSMAN e JOLLOW, 1988). Coleman e Tingle (1992), afirmaram que MADDS não é a principal responsável pela toxicidade da DDS, a menos que seu outro grupo amino seja N-hidroxilado. Portanto, a N-hidroxilação que ocorre principalmente pela ação da isoforma do citocromo P450, a CYP2C9, forma os metabólitos: monoacetildapsona-hidroxilamina (MADDS-NOH) e dapsona-hidroxilamina (DDS-NOH), sendo eles os responsáveis pela hematotoxidade observada em pacientes (Figura 4; ISRAILI et al. 1973; SCHIFF et al. 2006). 32 Figura 4:Estrutura da dapsona (DDS) e metabólitos DDS-NOH e MADDS-NOH (dapsonahidroxilamina e monoacetildapsona-hidroxilamina) formados a partir do processo de biotransformação, N-hidroxilação da DDS e MADDS (monoacetildapsona), respectivamente. Fonte: Grossman e JOLLOW (1988) Conforme Hjelm e DeVerdier (1965); Glader e Conrad (1973) a anemia hemolítica e metemoglobinemia que ocorre durante o tratamento com a DDS é mediada por seus metabólitos hidroxilados e não pelo fármaco ativo. Em virtude disso, Scott e Rasbridge (1973) avaliaram o efeito desses dois metabólitos e compararam a capacidade de ambos em formar MetHb em eritrócitos de indivíduos sadios e com deficiência em glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD), assim observou-se que MADDS-NOH foi muito mais tóxico para essas células que o DDS-NOH. Por outro lado, Israili et al. (1973) revelaram que esses metabólitos apresentam o mesmo efeito hematotóxico em eritrócitos humanos, resultados semelhantes a este foram demonstrados por Vage et al. (1994); Coleman (1995) utilizando sangue de humano e de rato. 33 Reilly et al. (2000) avaliaram o efeito tóxico do DDS-NOH mediante a exposição de queratinócitos que em meio a esse metabólito apresentou diminuição acentuada na concentração da glutationa reduzida (GSH), a qual é o principal componente celular com atividade antioxidante, logo com a depleção desse componente celular ocorreu o acúmulo de espécies reativas de oxigênios (ERO) que facilitou a auto-oxidação da hemoglobina, bem como dos metabólitos arilhidroxilamina (DDS-NOH e MADDS-NOH) transformando-os em compostos arilnitosos (Ar-N=O), sendo esses compostos bastante eletrofílicos com capacidade de agir rapidamente com os tióis nucleofílicos, presente nas proteínas e com a GSH (GRANTHAM; WEISBURGER e WEISBURGER, 1965; KAZANIS e MCCLELLAND, 1992). Durante a auto-oxidação, o oxigênio molecular (O2) reduz a superóxido (O2-•), que é subsequentemente reduzido a peróxido de hidrogênio (H2O2) pela ativação da superóxido dismutase (SOD), frequentemente maior parte H2O2 encontra-se envolvido na reação de Fenton, que é o processo responsável pela formação dos radicais hidroxila que são altamente citotóxicos (Figura 5; CRIBB et al. 1991; BRADSHAW et al. 1997). Figura 5: As vias de biotransformação da DDS: glicuronidação, N -acetilação e N-hidroxilação e os seus metabólitos, conjugado glicuronídeos, MADDS e DDS -NOH, respectivamente. o DDS-NOH pode se auto-oxidar principalmente a partir da depleção de GSH (glutationa reduzida) e de enzimas antioxidantes (SOD e CAT), havendo quantidades elevadas de ero que são capazes de reagir com DDS-NOH, facilitando a formação do metabólito DDS -NO (grupamento nitroso, N=O). Fo nte: adaptado Vyas et al. (2005); Coleman (1995); Svensson (2003); Grossman e Jollow (1988). 34 O processo de formação de anemia hemolítica induzida pela DDS-NOH foi correlacionado com a inibição da G6PD em eritrócitos humanos in vitro. No estudo a DDSNOH foi capaz diminuir o tempo de meia-vida dos eritrócitos deficientes em G6PD induzindo um processo anêmico duas vezes maior quando comparado com eritrócitos normais expostos a esse metabólito (GROSSMAN, BUDINSKY e JOLLOW, 1995). Portanto, as células deficientes em G6PD apresentam maior susceptibilidade ao dano oxidativo, uma vez que se tornam incapazes de reduzir NADP+ para NADPH. A G6PD catalisa a reação de oxidação da glicose-6-fosfato (G6P) a 6-fosfogliconolactona em uma reação que usa especificamente NADP+ como coenzima, que após a redução transforma-se em NADPH. O NADPH é uma molécula altamente redutora e extremamente importante para os eritrócitos pelo fato de manter a forma reduzida da glutationa (GSH), uma vez que é o suprimento necessário para atividade da glutationa-redutase que transforma glutationa oxidada (GSSG) em GSH (MEHTA et al. 2000). Como os eritrócitos não possuem mitocôndria ou organelas, a única fonte de suprimento de NADPH é pela ação catalítica da G6PD através da via das pentoses-fosfato, o que favorece a capacidade de defesa antioxidante dos eritrócitos pela ação da GSH que é capaz de detoxificar o H2O2, bem como manter resíduos de cisteína da hemoglobina e de outras proteínas de glóbulos vermelhos no estado reduzido (Figura 6; URSINI et al. 1997; SALVEMINI et al. 1999). Figura 6: Atividade da G6PD na primeira fase da via das pentoses -fosfato, enzima responsável pela formação de NADPH. o peróxido de hidrogênio (H 2 O 2 ) formado a partir da redução do O 2 induz a oxidação da glutationa reduzida (GSH) transformando -a em glutationa oxidada (GSSG), a partir da ação da glutationa-peroxidase (GP), por outro lado, glutationa -redutase (GR) atua na conversão da GSSG em GSH, no entanto esse processo só ocorre usando como fo nte o NADPH formado pela ação da G6PD. Fonte: adaptado Mehta et al. (2000) Conforme Wertheim et al. (2006) o maior problema clínico associado ao uso de DDS é a diminuição do tempo de vida dos eritrócitos humanos, uma vez que esse efeito pode provocar um quadro de anemia, causando assim um aumento de índices de morbidade e 35 mortalidade, como descrito no estudo de Gonazales et al. (2000), em áreas onde a DDS é usada para o tratamento de Malária. De acordo, com Goulart et al. (2002) os distúrbios hematológicos, como a metemoglobinemia e anemia são as reações adversas ao medicamento (RAM) mais frequentes durante o tratamento com DDS, principalmente nas doses usadas para tratamento de hanseníase (100mg/dia; HALIM e OGBEIDE, 2002). Tais efeitos estão relacionados com a formação do metabólito hidroxilamina, uma vez que Evelo et al. (1998) comprovam que o principal efeito tóxico no homem dos compostos hidroxilamina (H2NOH) ocorre nos glóbulos vermelhos, envolvendo principalmente produção de elevados índices de metemoglobinemia in vitro e diminuição do tempo de vida dos eritrócitos. Reilly et al. (1999) mostraram que o potencial de induzir MetHb nos eritrócitos in vitro está intimamente relacionado com o ciclo de oxidação-redução com a oxihemoglobina e com moléculas de oxigênio (O2), produzindo MetHb e ERO, respectivamente. Neste mesmo estudo mostrou que efeito hematotóxico DDSNOH não ocorre somente em casos de deficiência de G6PD ou situações de depleção da concentração de GSH, propondo que a principal causa da formação de MetHb pela DDSNOH está na reatividade do metabólito com a hemoglobina. Por outro lado, Coleman (1993) associa a anemia e a metemoglobinemia causadas pelo uso de DDS a uma desnaturação oxidativa na membrana dos eritrócitos, acelerando os processos de hemólise celular, bem como Bordin et al. (2010) mostraram que o DDS-NOH induz alterações progressivas nos eritrócitos, inicialmente pelo domínio citosólico das proteínas de membrana dos eritrócitos, a banda 3, sendo observado a formação de MetHb e a fosforilação da tirosina de banda 3 no domínio citosólico que é responsável pelas trocas aniônicas (BAGGIO et al. 1993 a,b), incluindo a regulação de glicólise (LOW et al. 1993), alterações na morfologia (BORDIN et al. 1995), volume (MUSCH et al. 1999) e senescência dos eritrócitos (BORDIN et al. 2009; PANTALEO et al. 2009). 2.3 Hemoglobina (HB) e Metemoglobina (MetHb) Segundo Baldwin e Chothia (1979) a hemoglobina (Hb) é uma hemeproteína tetramérica globular presente no interior dos eritrócitos dos mamíferos com função primordial de transportar o O2 para os tecidos e eliminar CO2 dos mesmos. Esta hemeproteína apresenta um grupo protéico constituído por dois pares de cadeias de polipeptídeos, chamadas de globinas α e β (Figura 7), sendo cada globina composta por uma sequência de aminoácidos, possuindo as cadeias α 141 aminoácidos e as cadeias β, 146 (GALIZA NETO e 36 PITOMBEIRA, 2002). Por outro lado, o grupo prostético presente nas cadeias de globina é representado pelo heme, anel porfirínico tetrapirrólico, cujo núcleo contém ferro sob a forma de Fe2+ (ferroso), o qual se liga covalentemente aos quatro anéis pirrólicos unidos em anel planar por quatro pontes de meteno (=CH-), sendo o átomo de Fe2+ responsável pela ligação com o O2 (Figura 8), visto que cada molécula de Hb possui quatro grupos heme, logo é capaz de se combinar com quatro moléculas de O2 (GALIZA NETO e PITOMBEIRA, 2002). Figura 7: A hemoglobina consiste em um grupo prostético, heme, e o protéico, representado pelas cadeias de globina α e β. Fonte: Mader (1997) Figura 8: Representações da estrutura tetrapirrólica do grupo prostético heme, ligando-se aos quatro anéis pirrólicos e a moléculas de oxigênio. Fonte: Peñuela (2005) Portanto, a estrutura tetramérica da Hb é essencial para o transporte de O2, bem como a ligação cooperativa que ocorre entre esse gás e a Hb, o qual quando ligado a um ponto no tetrâmero da Hb influencia a ligação de mais O2 nos demais pontos da Hb, e vice-versa, ou seja, a saída de O2 de um heme facilita a saída desse gás presente nos outros. O processo de oxigenação ocorre a partir da avidez das duas cadeias β pelo O2 que se movimentam juntas para facilitar a combinação entre eles, contudo para que ocorra a liberação desse gás nos 37 tecidos é necessária a atuação do 2,3-Difosfoglicerato (2,3-DPG) que proporciona a redução da afinidade da Hb pelo O2 proporcionando a liberação deste para os tecidos (LORENZI, 2011). Conforme Shikama (1998), a conversão da Hb a sua forma oxigenada está associada a um arranjo eletrônico, uma vez que ocorre transferência de carga (doação π) do Fe2+ para O2, e uma coordenação (doação σ) do O2 para o Fe2+, ocasionando assim uma forte ligação covalente entre o ferro e o oxigênio (Figura 9). Logo, após esta oxidação o íon Fe2+ do grupo heme não pode mais combinar-se com O2, pois esta molécula não apresenta nenhuma afinidade pelo íon férrico (Fe3+), sendo assim observada a formação da MetHb. De acordo com Carrell et al. (1975), este é o processo de auto-oxidação da hemoglobina (alta afinidade ao O2 ou estado R) que ocorre geralmente em taxa de 0,5 a 3% ao dia. Figura 9: Arranjo eletrônico que ocorre entre o Ferro do grupo heme e moléculas de oxigênio a partir da transferência de cargas que ocorre entre eles. Fonte: Shikama (1998) No entanto, Harris (1991) descreve que o grupo heme está protegido da auto-oxidação por uma região hidrofóbica, que quando perturbada, uma ligeira modificação estrutural pode permitir a entrada de pequenos ânions ou água, e o grupo heme perde um elétron, oxidando-se a seu estado de maior spin, MetHb, e liberando o radical O2•- (Figura 10). 38 Figura 10: Processo de oxidação do Fe2+ pela ligação ao O2, formando o Fe3+, caracterizando o processo natural de metemoglobina nos eritrócitos. A MetHb é um processo natural que ocorre diariamente sem causar nenhum dano aos tecidos, sendo principalmente regulada pela enzima NADPH-metemoglobina redutase (nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzida), no entanto pode ser induzida por fármacos com ação oxidante, tais como DDS, sulfonamidas, anestésicos locais e azul de metileno em altas doses, ocasionando significativa carência do suprimento de O2 nos tecidos provocando importantes manifestações clínicas, como: dispnéia, náuseas e taquicardia quando há níveis de até 30% de MetHb; letargia, estupor e perda de consciência resultam de níveis de aproximadamente 50%; taxa 50 a 70% de MetHb pode ocasionar arritmias cardíacas, falência circulatória e depressão neurológica, e níveis acima de 70% geralmente levam à morte (COLEMAN, 1995). Além disso, é possível observar que no processo de MetHb pode ocorrer a formação de produtos da agressão oxidativa no interior dos eritrócitos, provocando a desnaturação da hemoglobina e precipitando-a sob forma de agregados polipeptídios insolúveis, denominados corpúsculos de Heinz (WINTERBOURN, 1990). Com relação à DDS muitos estudos têm investigado o potencial metemoglobinizante deste fármaco. Dentre estes, Queiroz et al. (1997) afirmam que o tratamento a longo prazo com DDS (100mg/dia) pode resultar em formação de MetHb e hemólise significativa sugerindo que este fármaco é o principal responsável por estes achados hematológicos e que o uso da rifampicina e clofazimina não aumentam a incidência de MetHb durante o tratamento. Estudo conduzido por Dalpino (1997) também mostrou que o percentual de MetHb de pacientes hansênicos que se encontravam sob tratamento de DDS (100mg/dia), estavam aumentados de forma significativa quando comparados ao grupo controle. Além disso, dois relatos de caso de intoxicação por DDS descritos por Hansen et al. (1994) mostraram que os pacientes intoxicados por este fármaco apresentavam MetHb sintomática, com concentrações de MetHb de 35% e 37%. Em crianças apresentando quadros de intoxicação aguda por esse fármaco foram encontradas taxas de MetHb que variavam de 23,5 a 49,7%, sendo observadas 39 manifestações clínicas como cianose, taquicardia, vômitos, dispnéia e agitação (BUCARETCHI et al. 2000). Estudos in vitro têm demonstrado que a DDS-NOH apresenta potencial citotóxico mais potente que outros metabólitos hidroxilados da DDS e que a capacidade de formar MetHb da DDS-NOH é dose–dependente (REILLY et al. 1998; REILLY et al. 1999). Além disso, Vage et al. (1994) relataram que tanto a DDS-NOH quanto a MDDS-NOH são capazes de induzir a formação de MetHb in vitro em eritrócitos humanos. Ciccoli et al. (1999) demonstraram que glóbulos vermelhos tratados com DDS-NOH apresentaram aumento significativo na formação de MetHb quando comparados ao controle sugerindo desta forma que a presença deste metabólito hidroxilado é essencial para os efeitos hematotóxicos observados durante tratamento com DDS. O provável mecanismos que explica o processo de formação de MetHb por parte DDS-NOH é que a Hb sofreria oxidação por parte deste composto levando a formação de MetHb e um composto derivado da DDS, denominado de nitrosobenzeno que é reduzido pela enzima NADH-metemoglobina redutase e pela GSH novamente à DDS, dando continuidade ao processo de oxidação da Hb. Estima-se que este processo se repita até que os níveis de GSH estejam esgotados (KRAMER et al. 1972; COLEMAN e JACOBUS, 1993) assim como a G6PD (Figura 11), que a partir de sua oxidação fornece os elétrons para a NADHmetemoglobina redutase convertendo diminuindo a MetHb (HALL et al. 1986). a hemoglobina-Fe3+ para hemoglobina-Fe2+, 40 Figura 11: Representação esquemática do ciclo de formação da metemoglobina nos eritrócitos a partir da indução DDS-NOH (dapsona hidroxilamina), demonstrando o possível ciclo redox que recupera o composto nitrosobenzeno até o precursor hidroxilamina. Nota: DDS: dapsona, DDS-NO: dapsona nitrosobenzeno, P450: citocromo P450. Fonte: Adaptado de Coleman e Jacobus (1993) De acordo com Kinoshita et al. (2007), a redução da metemoglobina ocorre por dois principais mecanismos; pela via do sistema NADPH-dependente (nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato reduzida) e NADH-dependente (nicotinamida adenina dinucleotídeo reduzida), representadas pela NADPH-metemoglobina redutase e NADH-citocromo b5 redutase (chamada também como NADH-metemoglobina redutase), respectivamente. NADPH-metemoglobina redutase é capaz de reduzir a MetHb formada sob condições normais, já sob condições de elevada oxidação da Hb a responsável pela redução e NADHcitocromo b5 redutase (WRIGHT et al. 1999). A fonte de NADH necessária para a redução da MetHb provém da glicólise anaeróbia de Ebdem-Meyerhof, a partir da reação da oxidação da glicose que gera ATP e NADH, por outro lado o substrato NADPH é proveniente da via das pentoses a partir da ativação da G6PD (Figura 12). 41 Figura 12: A via de Embden-Meyerhof e das pentoses-fosfato, responsáveis pela produção de NADH e NADPH, respectivamente. Substratos importantes no processo de redução da Metemoglobina. Fonte: Percy e Lappin (2008) A via redutora de maior utilidade e importância para os eritrócitos é a NADHcitocromo b5 redutase, sendo esta influenciada pela disponibilidade de NADH e de citocromo b5. O citocromo b5 é uma hemeproteína que está presente no citoplasma dos eritrócitos que tem como função primordial a redução da MetHb (JAFFÉ, 1981), este processo ocorre pelo transporte de elétrons do seu íon Fe3+ que reduz para íon Fe2+, e isso só ocorre na presença do substrato NADH (Figura 13) (PERCY e LAPPIN, 2008). Figura 13: Redução da metemoglobina para hemoglobina ocorre pelo processo de NADH-citocromo b5 redutase que reduz o citocromo b5 (Cb5) oxidado para Cb5 reduzido, e essa redução é acompanhada pela oxidação do NADH para NAD+, bem como pela redução da metemoglobina a hemoglobina. Fonte: Percy e Lappin (2008) No entanto, em casos de formação de MetHb, com taxa superior 40%, induzida principalmente por fármacos oxidantes e alguns compostos tóxicos, a via NADH-citocromo 42 b5 redutase fica comprometida, e o paciente cianótico e com apnéia e tratado com azul de metileno, sendo este o tratamento de primeira escolha, a dose eficaz é 1 a 2mg/kg em solução de 1%, pela via intravenosa. O azul de metileno apresenta efeito rápido na redução da MetHb tanto in vivo, como também in vitro (GIBSON, 2002). Portanto, o seu mecanismo redutor de MetHb ocorre devido a capacidade da enzima NADPH-metemoglobina redutase transferir elétrons para ele, o que faz com que ele seja capaz de reduzir o íon férrico para íon ferroso (Figura 14). No entanto, como essa via depende de NADPH, pacientes com deficiência de G6PD a utilização do azul de metileno é ineficaz e ainda pode induzir hemólise (WARD e McCARTHY, 1998), bem como sintomas como dispnéia, dor precordial, cianose persistente (SILLS e ZINKHAM, 1994). Figura 14: As prováveis vias de redução da metemoglobina, sendo que a principal via fisiológica é a do citocromo b5 redutase. No entanto, essa redução também pode ser feita pela via exógena com o uso de azul de metileno. Fonte: Walker et al. (2009). 43 2.4 Eritrócitos humanos 2.4.1 MEMBRANA ERITROCITÁRIA Os eritrócitos humanos são células anucleadas produzidas pelo sistema hematopoiético localizado na medula óssea que após chegar à circulação sanguínea possuem naturalmente em torno de 120 dias de vida, sendo a responsável pelo transporte de O2 dos pulmões para os tecidos, mediante a interação da Hb com o gás (DACIE e LEWIS, 1995). Estas células são constituídas basicamente por uma membrana plasmática e citoplasma, este contêm apenas água, eletrólitos, enzimas e Hb (HOKAMA et al. 2002), portanto como não há organelas citoplasmáticas a energia necessária para a sobrevivência deles provém da glicólise anaeróbica na forma de adenosina trifosfato (ATP), e de coenzimas como NADH e NADPH, sendo importantes na manutenção e circulação da célula por meses em seu estado funcional frente a exposições repetidas a lesões mecânicas e/ou metabólicas, mantendo assim principalmente sua integridade ao atravessar os capilares do organismo que apresentam 2 a 3 µm de diâmetro (HOKAMA et al. 2002). A membrana dos eritrócitos é composta de uma bicamada lipídica, contendo compostos de fosfolipídeos, colesterol não esterificado e glicolipídeos, ancorada em um citoesqueleto. É responsável pela manutenção da forma, do volume, da deformabilidade, da estabilidade mecânica, além da homeostase do cálcio e das trocas iônicas do eritrócito (HOKAMA et al. 2002). No entanto, por ser rica em ácidos graxos poliinsaturados é considerado um alvo primário para reações envolvendo os radicais livres permitindo assim que os eritrócitos fiquem vulneráveis a danos oxidativos (MAY et al. 1998). Os fosfolipídeos presentes na membrana eritrocitária são: fosfatidilcolina (30%), fosfatidiletanolamina (28%), fosfatidilserina (14%), esfingomielina (25%). O restante, 3%, inclui fosfatidilinositol, ácido fosfatídico e cardiolipina. Na porção externa da bicamada lipídica, predominam os fosfolipídeos: fosfatidilcolina e esfingomielina, enquanto que na porção interna, junto ao citoplasma, estão os aminofosfolipídeos: fosfatidilserina, fosfatidiletanolamina, fosfatidilinositol, além dos demais fosfolipídios. O colesterol está distribuído igualmente entre as duas camadas (LORENZI et al. 2003). A estrutura do citoesqueleto é constituída por proteínas integrais e periféricas (Figura 15), e é responsável pela forma bicôncava dos eritrócitos, pois estas proteínas formam uma espécie de concha para o material intracelular (MURADOR e DEFFUNE, 2007). 44 Figura 15: Representação da membrana eritrocitária, composta por fosfolipídios, colesterol, glicoforinas, proteínas integrais e periféricas. Fonte: Red Cell Biology (2011) As proteínas integrais atuam principalmente como proteínas de transporte, proteínas de adesão ou como receptores de sinais, como é o caso das glicoforinas (A, B, C, D, E) relacionadas aos antígenos eritrocitários e a banda ou proteína 3 que atua como canal transportador de ânions e água para o eritrócito (MOHANDAS e GALLAGHER, 2008), no entanto, através de seu domínio citoplasmático, a banda 3 se destaca como um grande centro organizacional que interage com algumas proteínas periféricas: tais como, anquirina, considerada a maior ponte para o citoesqueleto espectrina-actina, proteína 4.1 e proteína 4.2, além da ligação com fosfofrutoquinase, desoxihemoglobina, tirosinaquinase e hemicromos, que regulam a interação do citoesqueleto com enzimas glicolíticas (MURADOR e DEFFUNE, 2007). Por outro lado, as proteínas periféricas são representadas pelas espectrinas, anquirinas, bandas 4.1; 4.2; 4.9; 5; aducina, bandas 6 e 7, sendo a interação destas proteínas com a bicamada lipídica e com as proteínas integrais responsável pela flexibilidade e deformabilidade do eritrócito (HANDIN et al,1995). A partir de estudos McMillan et al. (1995) conseguiram demonstrar que anemia hemolítica causada pela DDS-NOH em eritrócitos de ratos estava relacionada com severas alterações nas proteínas de membrana do citoesqueleto dessas células, já que os eritrócitos 45 apresentaram acentuadas irregularidades nas suas bordas, caracterizando-as como em forma de equinócitos ou hemácias espiculadas. 2.4.2 METABOLISMO ERITROCITÁRIO A função inerente dos eritrócitos de transportar O2 dos pulmões para os tecidos e de CO2, dos capilares teciduais para os pulmões é possível não somente pela presença da Hb, mas também pela participação ativa do metabolismo eritrocitário (LORENZI et al. 2003). A geração de energia ocorre pelo catabolismo de glicose que adentra a célula por difusão facilitada. Assim cada molécula de glicose é metabolizada em duas moléculas de lactato e gerada duas moléculas de ATP, este processo é chamado de Via de EmbdenMeyerhof. Neste processo, a energia gerada é suficiente para manter a forma e a flexibilidade da membrana, preservando os lipídios e mantendo o gradiente interno dos íons pelo funcionamento das bombas de Na+, K+ e Ca2+. Por outro lado, existem outras vias metabólicas, que direta ou indiretamente estão relacionadas às funções eritrocitárias, sendo a via das Pentoses-fosfato uma delas (LORENZI et al. 2003). Percy et al. (2005) mostraram que via glicolítica de Embden-Meyerhof forma três importantes produtos: NADH, um co-fator na reação da metahemoglobina redutase; ATP, o principal nucleotídeo fosfato de alta energia; e 2,3-DPG, um regulador da função da Hb. O NADH é essencial para manter o ferro do complexo heme no estado reduzido (Fe2+), um processo enzimático que é mediado pela NADH-metahemoglobina-redutase. Assim como, pela via de Luebering-Rapaport também são sintetizadas as moléculas de 2,3-DPG, importante modulador da afinidade do O2 à molécula de Hb (GREER; FOERSTER; LUKENS, 2003). Na via das Pentoses-fosfato, três moléculas de glicose-6-fosfato (G6P) produzem três moléculas de CO2 e três açúcares de cinco carbonos (MURRAY et al. 2006), sendo o NADPH reduzido produto mais importante formado nesta via, devido esse produto ser utilizado pelo eritrócito como cofator da glutationa redutase que efetua a redução da molécula de GSSG para GSH (GREER; FOERSTER; LUKENS, 2003), assim como molécula essencial para ativação do potencial redutor do azul de metileno, cisteína, ascorbato (BEUTLER et al. 1995; LEE et al. 1999). 46 2.4.3 SISTEMA ANTIOXIDANTE DO ERITRÓCITO No eritrócito, assim como em outros locais do organismo há formação de radicais livres, cujo elétron desemparelhado está centrado num átomo de oxigênio ou de nitrogênio, sendo denominados respectivamente de ERO e de Espécie Reativa de Nitrogênio (ERN). Estas espécies são produzidas em processos fisiológicos, tais como: produção de energia, fagocitose, regulação do crescimento celular, sinalização intercelular e síntese de importantes substâncias biológicas, no entanto, quando produzidas em excesso podem ser danosas. As principais ERO distribuem-se em dois grupos, as radicalares: hidroxila (OH•-), superóxido (O2-•), peroxila (ROO•) e alcoxila (RO•); e as não-radicalares: O2, H2O2 e ácido hipocloroso (HClO). Dentre as ERN incluem-se o óxido nítrico (NO•), óxido nitroso (N2O3), ácido nitroso (HNO2), nitritos (NO2), nitratos (NO3) e peroxinitritos (ONOO-; BARREIROS et al. 2006). Portanto, o eritrócito é um local de relativa abundância de geração de radicais livres por diversos fatores, entre os quais o fato de possuir: constante suplemento de O2; e alta concentração de hemoglobina que pode reagir com fármacos oxidativos e ERO/ERN (ASLAN; THORNLEY-BROWN; FREEMAN, 2000). Portanto, a molécula de Hb, em especial a região não polar que contém o grupo heme necessita manter sempre o Fe no estado ferroso, uma vez que qualquer modificação na estrutura pode permitir o acesso de pequenos ânions ou moléculas de água e, consequentemente, dar origem à formação de radicais livres, desencadeando o processo de oxidação da Hb (NAOUM, 1996). Em virtude da sua susceptibilidade ao dano oxidativo, os eritrócitos, assim como outras células do organismo, apresentam várias formas de defesa antioxidante, as quais podem ser classificadas: defesa antioxidante pela ação de sistemas enzimáticos e não enzimáticos. Dentre as enzimas que catalisam reações antioxidantes estão a superóxido dismutase (SOD) e catalase (CAT). A SOD é específica na remoção do radical O2•-, já que catalisa a dismutação do radical O2•- a H2O2, e este por sua vez é degradado em moléculas de H2O e O2 pela ação da enzima CAT, a qual apresenta quatro subunidades, cada uma contendo um grupamento Fe3+, ligado ao seu sítio ativo (WIEACKER et al. 1980) localiza-se principalmente nos peroxissomas da célula, sendo responsável pela detoxificação específica do H2O2 (Figura16). 47 Figura 16: Mecanismo de proteção do sistema antioxidante dos eritrócitos a partir da produção de espécies reativas de oxigênio e produção de metemoglobina. Fonte: Harris (1991) Dentre os antioxidantes não enzimáticos incluem GSH, NADPH, NADH e algumas vitaminas derivadas exclusivamente de dietas, como as vitaminas C e E, entre outros. O sistema antioxidante tem a função de manter o estado reduzido da célula, protegendo assim a integridade estrutural e funcional de macromoléculas biologicamente fundamentais como proteínas, fosfolipídios, entre outras (FREI, 1999; TAVAZZI et al. 2000). A GSH é um tripeptídeo tiólico presente na maioria das células, o qual possui atividade antioxidante estando envolvido principalmente na defesa celular do eritrócito, por agir como um tampão redox nessa célula (STRYER,1995; LEHNINGER et al. 2002). O tripeptídeo é formado por resíduos de glicina, glutamato e cisteína, sendo esse último aminoácido portador do grupo sulfidrila (SH), grupo empregado nas reações de oxido-redução nas quais a molécula participa, sendo assim capaz de manter componentes diversos da célula em estado reduzido, especialmente proteínas e íons Fe2+ dos grupos heme das cadeias. 48 Um dos mecanismos de remoção de H2O2, além da atividade da CAT, envolve a oxidação da GSH gerando o dímero denominado glutationa oxidada (GSSG; STRYER,1995; LEHNINGER et al. 2002). No entanto, para que ocorra a regeneração GSH, a forma oxidada GSSG sofre a ação da glutationa redutase que atua em conjunto com NADPH promovendo assim a manutenção das concentrações ideais do tripeptídeo no seu estado reduzido (Figura 17; HALLIWELL e GUTTERIDGE, 2001; PASTORE et al. 2003). Figura 17: Estruturas da glutationa reduzida (GSH) e oxidada (GSSG). <http://commons.wikipedia.org/wiki/image:glutathione-skeletal.png>Acesso em março de 2013 Fonte: A G6PD embora não possua uma atuação direta na remoção de ERO/ERN ela é considerada de suma importância para sistema antioxidante do eritrocitário, além da sua função primordial que é fornecer energia a partir da glicose nessas células. A G6PD catalisa a primeira reação da via das Pentoses-fosfato na qual a G6P é oxidada a 6-fosfogluconolactona com a redução concomitante de NADP+ a NADPH. Portanto, é essencial na proteção do eritrócito contra a ação de oxidantes por manter a glutationa no estado reduzido (BEUTLER, 1994). A metahemoglobina redutase, NADH dependente, também chamada de citocromo b5 metahemoglobina redutase, é uma enzima (flavoproteína) constituída de uma cadeia peptídica e um grupo prostético, esta enzima é a responsável por converter aproximadamente 67% da metemoglobina a deoxihemoglobina, através do uso de dois carreadores de elétrons, o citocromo b5 e o NADH. A deficiência genética dessa enzima ou de citocromo b5 pode causar metemoglobinemia congênita em humanos (PERCY et al. 2005). Além disso, há a metahemoglobina redutase, NADPH dependente, sendo o NADPH o principal cofator envolvido na redução da MetHb em desoxihemoglobina. A deficiência dessa enzima não está associada a casos de metemoglobinemia porque a mesma reduz apenas 5% da metemoglobina formada, no entanto o tratamento com azul de metileno em casos de intoxicação por DDS ou 49 de metemoglobinemia severa causadas por esse fármaco só é eficaz se haver o suprimento necessário de NADPH (PERCY et al. 2005). 2.4.4 O ERITRÓCITO COMO MODELO EXPERIMENTAL O estresse oxidativo está envolvido em muitos fenômenos fisiológicos e patológicos que ocorre nas células, e principalmente nos eritrócitos, mesmo eles possuindo um sistema antioxidante ativo (ASHA et al. 2005). A exposição de eritrócitos a radicais livres e a compostos oxidantes podem ocasionar diversos danos oxidativos, dentre eles, mudanças nas proteínas de membrana, como peroxidação lipídica e adutos de proteínas; oxidação da GSH alterando a sua atividade antioxidante (ROHN et al. 1993; EL-MISSIRY e ABOU-SEIF, 2000), assim como mudanças na morfologia celular (PRASANTHI e RAJINI, 2005) tornando-os mais suscetíveis à hemólise (ZAVODNIK, 2002), e consequentemente sendo retirados precocemente da circulação reduzindo o seu tempo médio de vida (Figura 18). A facilidade de obtenção, custo e preservação dos eritrócitos humanos, bem como a sua capacidade de reagir com ERO e ERN exógenos (TANG e LIU, 2007) é o que faz ser comumente utilizado como modelo experimental para investigar potencial antioxidante de compostos (FUJINO et al. 2000; OKAMOTO et al. 2004), considerando que ela é a principal célula transportadora de O2 sendo constantemente exposta ao dano oxidativo e o processo de oxido-redução que ocorre na Hb faz com os eritrócitos sejam altamente susceptíveis ao ataque de ERO. Assim a suspensão de eritrócitos é um sistema eficaz para a investigação do efeito protetor de substâncias antioxidantes, em virtude do efeito de radicais livres e compostos oxidantes induzidos nessas células, prejudicando principalmente os constituintes da membrana lipídica e a Hb (SHIVA et al. 2007). No entanto, é limitante por não reproduzir exatamente as condições do organismo, pois se perdem as funções sistêmicas como a endócrina e a nervosa, contudo ainda é um modelo celular útil e muito valioso na ciência biomédica e farmacêutica (CASADEVALL, 2009). 50 Figura 18: Modelo celular do eritrócito, com seus principais constituintes, hemoglobina e sistema de defesa antioxidante, bem como a bicamada lipídica que mantém a forma bicôncava do eritrócito. Fonte: Casadevall (2009). 2.5 Antioxidantes De acordo com Halliwell e Gutteridge (1990), antioxidante pode ser definido como uma substância que presente em baixas concentrações em relação ao substrato oxidável, pode retardar ou prevenir significativamente a oxidação deste substrato de maneira eficaz. Por outro lado, Krinsky (1992) definiu que a ação antioxidante está relacionada com o potencial de proteção dos sistemas biológicos contra os efeitos prejudiciais de processos ou reações que causam a oxidação extensiva. Consideram-se estas duas definições como complementares, uma vez que o processo como eles suprimem os danos ocasionados pelos agentes pró-oxidantes são diversos. Logo, para caracterizar a ação antioxidante de um composto, deve-se analisar como este exerce sua atividade, se atua diretamente, através do sequestro de ERO ou inibindo sua geração, ou se está atuando de forma indireta, como cofator de enzimas, na up-regulation de genes envolvidos na defesa contra os danos causados por xenobióticos ou ERO, na expressão de enzimas envolvidas no reparo de DNA etc. Ensaios realizados com eritrócitos in vitro podem caracterizar a ação do antioxidante e sua eficácia em certos parâmetros, tais como: da hemólise; da oxidação da hemoglobina a metemoglobina; do conteúdo de GSH celular; morfologia do eritrócito que pode apresentar rigidez e alteração da forma da membrana celular sob a ação do agente oxidante; nível antioxidante dos eritrócitos, através da determinação da atividade enzimática da SOD e CAT; 51 análise das proteínas de membrana em eletroforese em gel desnaturalizante (SDS-PAGE), que analisa se os antioxidantes evitam a degradação das proteínas de membrana pelo agente oxidante; avaliação da fluidez da membrana, localizando os compostos estudados nas membranas e seus efeitos na dinâmica dos lipídios nas diferentes regiões da bicamada lipídica, através do uso de sondas fluorescentes e determinação de glicoproteínas e grupos carbonila de proteínas (CASADEVALL, 2009). 2.5.1 RESVERATROL (RSV) O resveratrol (trans-3,4’,5-Trihidroxiestilbeno) é um polifenol, classificado como uma fitoalexina (SOLEA et al. 1997) sendo comumente encontrada na casca de uvas (Vitis vinifera e Vitis labrusca) e no vinho tinto (Figura 19) que juntamente com as uvas podem ser considerados as principais fontes alimentares de RSV (IGNATOWICZ e BAERDUBOWSKA, 2001). Figura 19: Fórmula estrutural do trans-resveratrol ( trans-3,4’,5-Trihidroestilbeno) que consiste em dois anéis fenólicos ligados por uma dupla ponte estireno(isopropileno). Fonte: Fan et al. (2009) A síntese de resveratrol ocorre na casca das uvas, como resposta ao estresse causado por ataque fúngico (Botrytis cinerea e Plasmopora vitcula), dano mecânico ou por irradiação de luz ultravioleta. King et al. (2006) mostraram que a síntese do RSV tanto pela exposição à luz solar como pelo ataque fúngico ocorre nas cascas de uvas a partir da condensação entre as moléculas, malonil-CoA e a 4-coumaroil-CoA através da enzima resveratrol sintase (Figura 20). O RSV é um estilbeno encontrado em duas formas isômeras com atividade biológica: trans-resveratrol e cis-resveratrol, sendo convertido o trans-resveratrol em cis-resveratrol (Figura 21) quando há presença de luz visível (SAUTTER et al. 2005). Waterhouse (2002) relata que é a isoforma trans, a principal responsável pela atividade biológica, uma vez que 52 esta isoforma é a mais estável e facilmente encontrada nas cascas de uvas e vinho tinto, portanto é a única forma disponível no mercado (SOLEAS et al.1997). Figura 20: Síntese do Resveratrol em cascas de uva. Fonte: King et al. (2006). Figura 21: A estrutura química do trans-resveratrol e cis-resveratrol (3,4’,5 Trihidroestilbeno). Fonte: Mukherjee et al. (2010) Diversos estudos demonstram que o RSV possui efeito anti-plaquetária, antiinflamatório e efeitos antitumorais, bem como contra doenças cardíacas (OLAS e HOLMSEN, 2012). Walle et al. (2004), descreveram que o RSV apesar de apresentar efeito 53 benéfico em diversas doenças e ser considerado seguro, devido apresentar baixa toxidade, ele possui baixa biodisponibilidade, quando utilizado via oral, tanto em humanos quanto em animais, além de ser eliminado rapidamente do organismo apresentando uma meia-vida plasmática de 8-14 minutos. De acordo com Vidavalur et al. (2006), este polifenol é encontrado aproximadamente em 72 espécies de plantas que apresentam atividade biológica como propriedades antioxidante, anti-inflamatória e antitumoral. Zhang et al. (2013) demonstraram que o potencial antioxidante do RSV atenuou o estresse oxidativo induzido por As2O3 (trióxido de arsênio) pelo fato desse antioxidante preservar os níveis de SOD e CAT no soro, reduzindo os índices de dano nas células. Morales et al. (2002), relataram que houve melhora na função renal de ratos expostos a gentamicina, fármaco fortemente nefrotóxico, após uso de RSV, com redução nos sintomas da síndrome nefrótica, caracterizada por proteinúria, hipoalbuminemia e hiperlipidemia. Outro efeito amplamente pesquisado do RSV é a proteção do sistema cardiovascular. Estudos de Soleas et al. (1997) e Wang et al. (2002) mostraram que o RSV inibe a agregação plaquetária tanto in vivo quanto in vitro, podendo ser um dos mecanismos pelo qual o vinho tinto exerce um efeito cardioprotetor. Zhong et al. (2007) relataram que ocorre um interação do resveratrol com a Hb através da ligação das três hidroxilas (5-OH, 4’-OH e 3-OH) desse estilbeno com as cadeias α dos aminoácidos Pro95 (prolina), Thr134 (treonina) e Asp126 (ácido aspártico) da Hb formando pontes de hidrogênio, com isso o resveratrol ocupa a cavidade central da Hb, região esta na qual alguns fármacos interagem (Figura 22). Estudos de Galtieri et al. (2010) mostraram que o RSV possui uma ação nos glóbulos vermelhos, em particular nas proteínas integrais da membrana dessas células, a Banda 3 ou proteína de troca de íons (anion exchanger 1- AE1), que realiza as trocas de Cl-/HCO3, aumentando então a capacidade sanguínea de transporte de CO2 garantindo a homeostase e o equilíbrio ácido-básico (MURADOR e DEFFUNE, 2007). O resveratrol também foi capaz de diminuir a oxidação da Hb, indicando um efeito redutor. Experimentos demonstraram que o resveratrol interage com a Hb deslocando o estado conformacional da mesma de T para R, no qual o O2 tem afinidade para se ligar a hemoglobina (GALTIERI et al. 2010). 54 Figura 22: Sítio de ligação da Hb e RSV, mostrado através do modelo molecular (programa Autodock) , sendo a linha azul o RSV (resveratrol) e as demais são átomos presente na Hb (Carbono-cinza; oxigênio-vermelho; nitrogênio-azul; hidrogênio- azul claro). Fonte: Zhong et al. (2007). 2.5.2 ÁCIDO Α-LIPÓICO (ALA) O ácido α-lipóico (ácido 1,2-ditiolano-3-pentanóico- ALA) é um composto tiol derivado do ácido octanóico (ácido caprílico), apresenta em sua estrutura química dois grupos tiol (-SH), o qual quando sofre redução gera o composto ácido diidrolipóico (DHLA ou ADHL) com a participação do NADPH (Figura 23; SMITH et al. 2004). O ALA é coenzima de complexos enzimáticos do ciclo do ácido cítrico (ciclo de Krebs), como piruvato desidrogenase e α-cetoglutarato desidrogenase, catalisando descarboxilação oxidativa do piruvato e α-cetoglutarato e cadeias ramificadas de α-cetoácidos formados durante a transaminação da leucina, isoleucina e valina, sendo essencial para o complexo mitocondrial de proteínas participantes da síntese de ciclina e sua degradação (sistema de clivagem de ciclina; PACKER et al. 2001; BILSKS e WLODEK, 2005). 55 Figura 23: Estrutura química do Ácido α-lipóico e a estrutura química da sua forma reduzida (DHLA). Fonte: Smith et al. (2004) O ALA é sintetizado nas mitocôndrias de mamíferos pela atividade da enzima ácido lipóico sintetase, mas pode também ser absorvido pela dieta alimentar (MORIKAWA et al. 2001) sendo utilizado como suplemento dietético (SABHARWAL e MAY, 2008). O ALA proveniente da alimentação é facilmente absorvido e eliminado, no entanto acumula-se principalmente nos tecidos e mitocôndrias (PRASAD e GANAPATHY, 2000). Conforme Haramaki et al. (1997) dentro da mitocôndria o ALA é reduzido a DHLA pela ação da lipoamida desidrogenase ou pelo sistema da tioredoxina redutase, este processo dependente de NADPH. O par redox ALA/DHLA apresenta potencial redutor elevado, uma vez que é capaz de quelar metais de transição, como mercúrio e cádmio e reagir com ERO/ ERN, além disso, o DHLA é capaz de reduzir as formas oxidadas do antioxidante α-tocoferol de forma direta interagindo com o radical tocoferoxil, ou indireta que é pela redução da dehidroascorbato que reduz a α-tocoferol, bem como reduzir a GSSH a GSH. Portanto, a ação antioxidante do ALA/DHLA reduz o estresse oxidativo nas mitocôndrias presenvando sua função e prevenindo-a da morte celular (SMITH et al. 2004). Magalhães (2000) demonstra que o ALA possui características hidrossolúveis e lipossolúveis, influenciando o metabolismo celular na eliminação de resíduos tóxicos, além de auxiliar na recuperação de lesões, principalmente por inibir a ativação do fator NFк-B (Nuclear factor Kappa Beta) consequentemente inibindo a resposta inflamatória. Além do mais, tanto o ALA quanto a sua forma reduzida, o DHLA, são considerados potentes agentes 56 antioxidantes, uma vez que podem capturar diversos ERO, incluindo radicais superóxido, OH•, ácido hipocloroso (HClO) e radicais peroxila (WOLLIN e JONES, 2003). Estudos in vitro mostram que o ALA diminui a susceptibilidade plasmática à oxidação (MARANGON et al. 1999), protegendo os eritrócitos humanos contra hemólise induzida por radicais peroxila (CONSTANTINESCU et al. 1994), e aumenta a síntese de GSH em eritrócitos humanos isolados (HAN et al. 1997). Conforme Perez e Castaneda (2006) a capacidade antioxidante do ALA está relacionada à presença de um grupamento tiol que é capaz de reagir diretamente com espécies reativas, portanto ele é considerado um excelente antioxidante com valor terapêutico nas doenças relacionadas a produção acentuada de ERO. Assim como, estudos de Lexis et al. (2006) mostraram o potencial antioxidante do ALA juntamente com α- tocoferol em relação ao estimulação da defesa antioxidante dos eritrócitos. Coleman e Walker (2000) mostraram que o ALA quando incubado com eritrócitos de humanos diabéticos e não diabéticos in vitro, induzidos a formação de metemoglobinemia pelo metabólito MADDS-OH, provocou redução acentuada da metemoglobinemia. Atualmente Georgakouli et al. (2013) propôs que a suplementação com ALA (600mg/dia) trouxe benefícios para pacientes com deficiência em G6PD, uma vez que esse antioxidante aumentou os índices de GSH e CAT após a segunda semana de tratamento reduzindo o conteúdo de proteínas carbonilada, portanto indica que a suplementação com ALA pode modular o estado redox no sangue de humanos com deficiência em G6PD diminuindo os índices de estresse oxidativo. Embora estudos demonstrem o potencial antioxidante do ALA em vários processos patológicos ocasionados pelo estresse oxidativo, como diabetes mellitus, ateroesclerose doenças cardíacas e outras, o número de estudos que demonstram o potencial do ALA em casos de anemias hereditárias ou ocasionadas por fármacos é escaço. Georgakouli et al. (2013) relatou isto mostrando que o único estudo que associou o efeito do ALA em casos de anemia foi o de Martins et al. (2009). Portanto é de suma importância analisar o efeito do ALA, e outros antioxidantes, como o RSV em casos de anemias induzidas por fármacos e outras alterações nos eritrócitos, efeitos comumente observados em pacientes em uso como a DDS. Assim o estudo poderá descobrir possíveis alternativas de tratamento para atenuar ou prevenir os efeitos hematotóxicos da DDS, os quais comprometem a adesão do paciente ao tratamento, e põe em questão a relação risco e benefício deste fármaco. 57 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Avaliar o efeito do Resveratrol (RSV) e do ácido α-lipóico (ALA) na metemoglobinemia e no estresse oxidativo induzido pelo metabólito dapsona-hidroxilamina (DDS-NOH) em modelos in vitro, correlacionando alterações do equilíbrio redox. 3.2 Objetivos Específicos Padronizar o modelo de metemoglobina induzida pelo metabólito dapsonahidroxilamina (DDS-NOH) em eritrócitos de voluntários sadios in vitro; Avaliar o efeito do Resveratrol e ácido α-lipóico na metemoglobina induzida pelo metabólito DDS-NOH in vitro; Quantificar a liberação de ERO intracelulares em eritrócitos expostos ao metabólito dapsona-hidroxilamina (DDS-NHOH) e ao DDS-NOH/RSV- DDS-NOH/ALA in vitro; Avaliar os efeitos sobre a atividade antioxidante dos eritrócitos após exposição ao DDS-NOH e ao RSV/DDS-NOH - ALA/DDS-NOH in vitro pela determinação da atividade das enzimas antioxidantes SOD e CAT; 58 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Material 4.1.1 AMOSTRA BIOLÓGICA Os eritrócitos foram obtidos a partir de amostras de sangue venoso de voluntários sadios, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ANEXO A). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos do Setor de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará (CEP), sob parecer n°165/11 CEP-ICS/UFPA e CAAE 0154.0.073.000-11 (ANEXO B). 4.1.2 REAGENTES E SOLVENTES Nos experimentos in vitro foram utilizados a DDS-NOH (Santa Cruz Biotechnology), Metanol P.A (Merck), Resveratrol (Sigma-Aldrich), ácido α-lipóico (Sigma-Aldrich), Azul de metileno P.A (Synth), Fosfato de sódio monobásico/ bibásico P.A (Synth), Ferrocianeto de potássio (Synth), Cianeto de sódio (Qeel), Triton X-100 (Sigma-Aldrich), 2’,7’- diacetato de diclorodihidrofluoresceína (DCFH-DA; Sigma-Aldrich), Peróxido de hidrogênio (H2O2; Vetec), Citocromo c (Sigma-Aldrich), Hipoxantina (Sigma-Aldrich), Xantina oxidase (SigmaAldrich), terc-butilhidroperóxido(t-BHP; Sigma-Aldrich). O anticoagulante utilizado foi Heparina sódica 5000UI/mL e para a lavagem de eritrócitos e manutenção do pellet dos eritrócitos foi utilizado cloreto de sódio a 0,9%. (NaCl). O solvente utilizado para solubilizar o DDS-NOH foi metanol P. A (Vetec). 4.2 Métodos 4.2.1 COLETA DE AMOSTRAS SANGUÍNEAS As amostras de sangue foram obtidas de doze voluntários adultos saudáveis do sexo masculino e feminino com idade de 20 a 25 anos, sendo 6 homens e 6 mulheres que não estavam fazendo tratamento medicamentoso, bem como uso de suplementos alimentares com antioxidantes, considerou-se também como critérios de inclusão, não fumantes e não portador de patologias crônicas. O sangue total foi armazenado em tubos de ensaio contendo o anticoagulante Heparina sódica 5000UI/mL por no máximo 4horas a 37°C. 59 4.2.2 ISOLAMENTO DE ERITRÓCITOS 4.2.2.1 Lavagem e preparação de eritrócitos Inicialmente, centrifugaram-se as amostras coletadas com heparina sódica 5000UI/mL em 3000 rpm por 10 min, para posteriormente ser retirado a camada de leucócitos (buffy-coat) e o plasma. Em seguida, foram feitas quatro lavagens na suspensão de eritrócitos com NaCl 0,9% até a obtenção de uma suspensão límpida e um pellet glóbulos vermelhos. Após a lavagem, o pellet de glóbulos vermelhos foi isolado e diluído em NaCl 0,9% para resultar em uma suspensão com hematócrito de aproximadamente 40%, uma vez que este valor é aproximadamente igual aos hematócritos de adultos saudáveis. 4.2.3 TRATAMENTO DOS ERITRÓCITOS 4.2.3.1 Incubação de eritrócitos com DDS-NOH A suspensão de eritrócitos com hematócrito de aproximadamente 40% obtido conforme o item 4.2.2.1 foi distribuído em alíquotas de 2000µL em tubos de ensaio de vidro. Em seguida, alíquotas de 400µL das diferentes concentrações de DDS-NOH (2,5; 5,0; 7,5; 10 µg/mL) foram adicionadas a estas alíquotas de eritrócitos, este protocolo foi adaptado de Mcmillan et al. (1995). O período de incubação foi 60 minutos a 37°C e posteriormente, 500µL foram retirados para a dosagem de metemoglobina (MetHb) e construída uma curva dose versus resposta (Figura 24). O grupo controle foi formado pelos eritrócitos incubados com ou sem metanol. O teste foi feito em triplicata em cada concentração. 60 Figura 24: Esquema do experimento de incubação da suspensão de eritrócitos, hematócrito de aproximadamente 40 %, com DDS-NOH em diferentes concentrações (2,5; 5,0; 7,5; 10 µg/mL). Experimento foi realizado em triplicata. 4.2.3.2 Pré-incubação de eritrócitos com RSV e/ou ALA e incubação com DDS-NOH A avaliação da ação antioxidante do RSV foi feita a partir da adição de alíquotas 400µL de soluções de RSV (diluídas em tampão fosfato a 0,5M) nas concentrações de 10; 100; 200; 1000µM em 2000µL de suspensão de eritrócitos, sendo que o período de tratamento destas células foi de 60 min a 37 °C (PANDEY e RIZVI, 2010). Após este tratamento foram adicionadas alíquotas de 400 µL de soluções de DDS-NOH nas concentrações de 2,5; 5,0; 7,5 µg/mL com período de incubação de 60 min a 37°C. E finalmente para a determinação de metemoglobina, foram retirados 500µL de suspensão de eritrócitos expostos ao RSV/DDSNOH e os grupos controle (Figura 25). No entanto, para a concentração o RSV 100µM foi feita uma pré- incubação também nos períodos de 30, 90 e 120 min. O experimento in vitro para avaliar a ação antioxidante do ALA seguiu o mesmo esquema de pré-incubação e incubação utilizado para o RSV, no entanto adaptado de Coleman e Taylor (2003). 61 Figura 25: Esquema do experimento de pré-incubação da suspensão de eritrócitos, hematócrito de aproximadamente 40 %, com diferentes concentrações do RSV-ALA (10; 100; 200; 100µM), nos períodos de 30; 60; 90 e 120 minutos. E em seguida a incubação com DDS-NOH nas concentrações (2,5; 5,0; 7,5µg/mL) por um período de 1h. Os experimentos com RSV foram realizados em triplicata. 4.2.3.3 Pré-incubação de eritrócitos com Azul de metileno (15ng/ml) e DDS-NOH O azul de metileno foi utilizado no estudo como o controle positivo na reversão da metemoglobinemia pela DDS-NOH em eritrócitos in vitro, uma vez que clinicamente este agente redutor é considerado o único tratamento para a MetHb induzida por DDS. A préincubação foi feita de acordo como descrito no item 4.2.3.2 para o RSV, no entanto o período de pré-incubação do azul de metileno (15ng/mL) foi de 30 min a 37°C (REILLY et al. 1999). 4.2.4 DETERMINAÇÃO DE METEMOGLOBINA A determinação de metemoglobina por espectrofotometria descrita por Evelyn e Malloy (1938) foi feita a partir da retirada de 500µL das suspensões de eritrócitos, descritas nos itens 4.2.3.1, 4.2.3.2 e 4.2.3.3, posteriormente essas células foram hemolisadas pela adição de 2500µL de água destilada. Em tubos de ensaio, foram agitadas por inversão três vezes e mantidas em repouso por 3 min. Adicionou-se 1 mL de tampão fosfato 0,5 M e 100µL do reagente Triton X-100, levouse ao agitador vórtex por 30 s. A seguir, retirou-se para tubo identificado como A1 uma 62 alíquota de 2,4 mL e para outro tubo identificado como A2, uma alíquota de 0,2 mL, sendo acrescentado a esse último 2,2 mL de solução de ferrocianeto de potássio 5%. Procedeu-se a leitura das amostras em λ=632 nm em espectrofotômetro, para obtenção de valores de A1 e A2. Acrescentou-se 100 μL da solução neutralizada de cianeto de sódio 10% nos tubos A1 e A2, agitou-se em vórtex por 30 s e novamente procedeu-se a leitura λ=632 nm em espectrofotômetro, para obtenção de valores de A3 e A4 (Figura 26). 63 Figura 26: Esquema da técnica de metemoglobina, descrita por Evelyn e Malloy (1938). Fonte: Hegesh et al (1970) Após a leitura das absorvâncias, calculou-se a taxa de metemoglobina pela seguinte equação. 64 4.2.5 AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DE ESPÉCIES REATIVAS EM ERITRÓCITOS A produção de ERO foi avaliada através da utilização do DCFH-DA, que é considerada uma excelente ferramenta para verificar a liberação de ERO em células, tais como radical hidroxila, peroxila, radical alcoxila, peroxinitrito, bem como H2O2 (WANG e JOSEPH, 1999). Suspensões de eritrócitos com hematócrito a 5% foram pré-incubadas com RSV/ALA nas concentrações de 100 e 1000µM por 60 minutos, mediante isso foram adicionadas juntamente alíquotas de 200µL de soluções de DDS-NOH nas concentrações de 2,5 e 7,5µg/mL e 10µL DCFH-DA (10mM), sendo o tempo de incubação de 30 minutos a 37°C. O mesmo procedimento foi feito para os grupos controles (Figura 27) de DDS-NOH (2,5 e 7,5µg/mL) e RSV/ALA (100 e 1000µM), além destes grupos controles foi utilizado o tBHP a 200µM como grupo positivo, pois este composto é capaz de induzir grandes quantidades de ERO no meio intracelular (LISOVSKAYA et al. 2009). O método consiste na capacidade do DCFH-DA atravessar a membrana celular, sendo que quando presente no citoplasma sofre hidrólise por esterases celulares formando o composto DCFH, o qual é facilmente oxidado pela ação de ERO presentes no meio intracelular e o resultado desta reação geram o composto fluorescente, diclorofluoresceína (DCF). A fluorescência foi medida nos eritrócitos pela técnica de citometria de fluxo FACS Calibur (Becton-Dickinson) com excitação de λ=488nm (laser azul) e com um filtro de emissão de λ=530 nm (RICHARD et al. 2002; GRASSO et al. 2003). Os resultados foram analisados em dot density plot do programa WinMDI 2.9. 65 Figura 27: Esquema da avaliação da produção de espécies reativas pela oxidação química de DCFH em suspensão de eritrócitos a 5%. O controle positivo foi o Terc-butilhidroperóxido (T-BHP) a 200µM. 4.2.6 DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE DA CATALASE A atividade da catalase foi determinada conforme o método descrito por Aebi (1984), as suspensões de eritrócitos foram hemolisadas em água gelada (1:3) para em seguida serem diluídas em tampão TRIS base (Tampão Tris 1M/EDTA 5mM ; pH8,0). No entanto, para realizar a leitura, ou seja, verificar o decaimento do H2O2, alíquotas das amostras diluídas foram adicionados a 900µL de solução de reação (Tampão TRIS base, peróxido de hidrogênio 30% e água ultrapura) pH 8, sendo que cada amostra continha seis réplicas (BUKOWSKA e KOWALSKA, 2004). A diminuição da concentração de H2O2 foi verificada em espectrofotômetro (Shimadzu UV-visível 1800) a λ=240 nm a 37°C durante 60 segundos. A atividade de catalase foi definida como a atividade necessária para degradar um 1 mol H2O2 em 60 seg, em pH 8 a 25°C , sendo expressa como U / mg proteina (BUKOWSKA e KOWALSKA, 2004). O coeficiente de extinção molar do H2O2 utilizado para o cálculo foi de 39,4 cm2/mol. 66 4.2.7 PROTEÍNAS TOTAIS Os dados de atividade enzimática obtida no ensaio da CAT foram normalizados pelas respectivas concentrações protéicas totais, usando-se o Kit comercial Doles. 4.2.8 DETERMINAÇÃO DA SUPERÓXIDO DISMUTASE A determinação da atividade da SOD foi realizada segundo a técnica preconizada por McCord e Fridowich (1969) adaptada. Esta metodologia é de detecção indireta da atividade da SOD, pois a presença desta enzima na amostra promove a conversão do O2.- em H2O2, o qual é gerado pela reação que ocorre entre a xantina oxidase e a hipoxantina presente no meio de reação impedindo desta maneira a redução do citocromo C que também encontra-se no meio. A atividade da SOD foi avaliada pela técnica de espectrofotometria com λ=550nm (Shimadzu UV-visível 1800) e expressa em nmol/ mL do hemolisado dos grupos, tratamento: RSV/ALA (100 e 1000µM) e DDS-NOH (2,5 µg/mL) e controle. Neste ensaio, uma unidade de atividade é definida como a quantidade de enzima que promove 50% de inibição da redução do citocromo C à 25ºC em pH 7,8. 4.2.9 ANÁLISE ESTATÍSTICA A análise estatística foi feita usando GraphPad Prism 5.1 (2007), para análise de variância uma via, seguida do teste de Tukey nos pares de médias da curva dose resposta DDS-NOH e para os demais experimentos, os resultados são expressos em média ± desvio padrão e considerados estatisticamente significativos para p ≤ 0,05 . Por outro lado, foi utilizado o teste de Mann-Whitney usando o programa BioEstat 5.0 (2007) para realização das comparações do %MetHb dos dois grupos independentes do estudo, grupo exposto ao DDSNOH e tratado com RSV; grupo exposto ao DDS-NOH e não tratado. O resultado apresenta uma significância quando (P-valor) < 0, 05. 67 5 RESULTADOS 5.1 Curva dose-resposta do DDS-NOH em eritrócitos in vitro A fim de verificar in vitro o percentual de metemoglobina (%MetHb) nas suspensões de eritrócitos expostas ao DDS-NOH nas diferentes concentrações de 2,5; 5,0; 7,5 e 10,0 µg/mL, incubou-se essas células por 60 min a 37°C, bem como descrito no item 4.2.3.1. Logo, a partir desse experimento foi possível se obter uma curva dose resposta do DDS-NOH em eritrócitos de voluntários sadios. A figura 28 mostra que o DDS-NOH em todas as concentrações testadas foi capaz de induzir significativamente o aumento do %MetHb ( *p ≤ 0,05), em relação as células expostas ao metanol. Além disso, observou-se que o efeito metemoglobinizante do DDS-NOH foi dose dependente. Figura 28: Percentual de metemoglobina em suspensão de eritrócitos normais expostos ao DDS-NOH, nas concentrações 2,5; 5,0; 7,5 e 10,0 µg/mL, in vitro. No grupo controle, os eritrócitos foram expostos ao metanol (solvente). A determinação de metemoglobina foi realizada por espectrofotometria em λ=632nm. Os %MetHb dos grupos foram comparados pelo teste de Mann-Whitney, sendo os resultados realizados em triplicatas. *comparado ao grupo metanol. 68 5.2 Efeito do Resveratrol e do Ácido α-Lipóico na metemoglobina induzida pelo DDS-NOH em eritrócitos normais in vitro Com o intuito de verificar o efeito do RSV e do ALA na metemoglobina induzida em suspensão de eritrócitos pelo DDS-NOH (2,5; 5,0 e 7,5 µg/mL) foram feitas pré-incubação com RSV e ALA (10; 100; 200 e 1000 µM) por 60 min, como descrito no item 4.2.3.2. A figura 29 (A, B, C, D) mostra que o RSV nas concentrações de 10µM (A), 100µM (B), 200µM (C), 1000 µM (D) foi capaz de inibir significativamente o % MetHb induzido pelas diferentes concentrações ( 2,5; 5,0 e 7,5 µg/mL) de DDS-NOH. Observa-se que o RSV apresenta um efeito anti-metemoglobinizante não dose-dependente, uma vez que todas as concentrações de RSV foram eficientes na redução da MetHb induzida por diferentes concentrações de DDS-NOH. No entanto, ao analisar o efeito das diferentes concentrações de RSV na redução MetHb induzida por DDS-NOH em eritrócitos in vitro, observou-se que o RSV nas concentrações de 100 e 1000µM se mostraram mais eficazes em inibir o %MetHb in vitro. 69 Figura 29: Percentual de metemoglobina induzida por diferentes concentrações de dapsona-hidroxilamina (2,5; 5,0 e 7,5 µg/mL) em suspensão de eritrócitos normais que foram pré-tratados com resveratrol (10; 100; 200 e 1000 µM) por 60 min a 37°C in vitro. O grupo controle foi representado pelos eritrócitos incubados apenas com metanol P.A. A determinação de metemoglobina foi feita por espectrofotometria em λ=632nm. . Os %MetHb dos grupos foram comparados pelo teste de Mann-Whitney, sendo os resultados realizados em triplicatas. # comparado ao grupo de células que foram incubados apenas com dapsona-hidroxilamina. Bem como a pré-incubação com ALA 10µM (A), 100µM (B), 200µM (C), 1000 µM (D) por 60 min e 37°C in vitro (Figura 30) foi capaz de reduzir significativamente a metemoglobina induzida pelo DDS-NOH em diferentes concentrações. De acordo com o %MetHb, observou-se que nas concentrações de 100 e 1000 μM, este composto apresentou maior eficácia na proteção e/ou reversão do efeito metemoglobinizante induzido do metabólito DDS-NOH in vitro. 70 Figura 30: Percentual de metemoglobina induzida por diferentes concentrações de dapsona-hidroxilamina (2,5; 5,0 e 7,5 µg/mL) em suspensão de eritrócitos normais que foram pré-tratados com ácido α-lipóico (10; 100; 200 e 1000 µM) por 60 min a 37°C in vitro. O grupo controle foi representado pelos eritrócitos incubados apenas com metanol P.A. A determinação de metemoglobina foi feita por espectrofotometria em λ=632nm. O %MetHb dos grupos foram comparados pelo teste de Mann-Whitney, sendo os resultados realizados em triplicatas. # comparado ao grupo de células que foram incubados apenas com dapsona-hidroxilamina. 71 5.3 Curva temporal da pré-incubação do Resveratrol em eritrócitos expostos a DDS-NOH in vitro A fim de verificar se o efeito do RSV na metemoglobina induzida em suspensão de eritrócitos pelo DDS-NOH é dependente do tempo de pré-incubação com o RSV, os eritrócitos foram pré-tratados com 100µM de RSV por diferentes tempos 30-120 min, em seguida, os eritrócitos foram expostos à DDS-NOH (2,5µg/mL). Conforme a figura 31, observa-se que os valores da média do % MetHb de eritrócito incubados somente com DDS-NOH (2,5µg/mL) foi de 19,24. A pré-incubação de eritrócitos com RSV (100µM) nos tempos de 60 e 90 min foi mais eficaz em proteger as células do efeito metemoglobinizante induzido pelo DDS-NOH, cujas médias do % MetHb foram 7,19 e 8,64, respectivamente. No entanto, não se observou diferença entre os valores do% MetHb nos diferentes tempos de incubação (60 e 90 min) com RSV. Por outro lado, o tempo de préincubação de 30 e 120 min não foram eficazes na proteção dos eritrócitos. Figura 31: Percentual de metemoglobina induzida por dapsona-hidroxilamina (2,5 µg/mL) em suspensão de eritrócitos normais que foram pré-tratados com resveratrol (100µM) por diferentes tempos (30, 60, 90 e 120 min). Como grupos controles, utilizaram-se células incubadas somente com resveratrol (100µM). A determinação de metemoglobina foi feita por espectrofotometria em λ=632nm. O %MetHb dos grupos foram comparados pelo teste de Mann-Whitney, sendo os resultados realizados em triplicatas. # comparado ao grupo de células que foram incubados apenas com dapsona-hidroxilamina. 72 5.4 Efeitos do azul de metileno na metemoglobina induzida pelo DDS-NOH em eritrócitos normais in vitro Clinicamente, o azul de metileno é considerado o principal fármaco utilizado no tratamento para a metemoglobinemia induzida por DDS em pacientes. Portanto, esse agente redutor foi utilizado como controle positivo a fim de comparar a eficácia do efeito antimetemoglobina do RSV e do ALA in vitro. As suspensões de eritrócitos foram pré-incubadas com azul de metileno (15ng/mL) por 30 min a 37°C e posteriormente essas células foram incubadas com DDS-NOH (2,5; 5,0 e 7,5 µg/mL) por 60 min. Pode-se observar na figura 32 que o azul de metileno foi capaz de reduzir significativamente a metemoglobina induzida por diferentes concentrações de DDS-NOH. Figura 32: Percentual de metemoglobina induzida por diferentes concentrações de dapsona-hidroxilamina (2,5; 5,0 e 7,5 µg/mL) em suspensão de eritrócitos normais que foram pré-tratados com azul de metileno (15ng/mL) por 30 min a 37°C in vitro. Como grupos controles, utilizaram-se células incubadas somente com metanol. A determinação de metemoglobina foi feita por espectrofotometria em λ=632nm. O %MetHb dos grupos foram comparados pelo teste de Mann-Whitney, sendo os resultados realizados em triplicatas. # comparado ao grupo de células que foram incubados apenas com dapsona-hidroxilamina. O efeito redutor do azul de metileno (15ng/mL) foi comparado ao do RSV (100µM) e ALA (1000µM), sendo a análise estatística realizada através do Teste não-paramétrico MannWhitney. De acordo com a figura 33 (A), observa-se que a pré-incubação com RSV (100 µM) 73 somente apresentou a mesma eficiência que o azul de metileno em inibir a MetHb quando a concentração de DDS-NOH foi de 2,5µg/mL. Nas demais concentrações de DDS-NOH, observou-se diferença estatística entre os valores de MetHb dos grupos pré-tratados com Azul de metileno e com RSV. No entanto, observa-se na figura 33 (B) que o pré-tratamento com ALA (1000μM) conseguiu reduzir o percentual de metemoglobina induzida pelo DDS-NOH em todas as concentrações do metabólito testadas, 2,5; 5,0 e 7,5 μg/mL, sobretudo quando comparado com o Azul de metileno o ALA apresentou-se mais eficaz na inibição de MetHb induzida por DDS-NOH na concentração de 5,0 e 7,5 μg/mL. Nota-se, então, que o ALA (1000µM) possuiu um maior efeito redutor de MetHb que o Azul de metileno, o qual é considerado o agente redutor padrão para tratamento de metemoglobinemia. 74 Figura 33: Comparação das médias do percentual de metemoglobina obtidas em suspensão de eritrócitos normais pré-incubados com azul de metileno (15ng/mL) ou com resveratrol (100µM)/ ácido α-lipóico (1000µM) in vitro. Os grupos controles foram células incubadas somente com metanol. A determinação de metemoglobina foi feita por espectrofotometria em λ=632nm.O %MetHb dos grupos foram comparados pelo teste de MannWhitney, sendo os resultados realizados em triplicatas. # comparado ao grupo de células que foram incubados apenas com dapsona-hidroxilamina; **comparado ao grupo tratado com resveratrol; °° comparado ao grupo tratado com ácido α-lipóico. 75 5.5 Detecção de ERO intracelulares em suspensões de eritrócitos pré-incubados com RSV/ALA e incubados com DDS-NOH in vitro A concentração de ERO foi mensurada no meio intracelular a partir do percentual de células que emitiam fluorescência. Portanto, para avaliar a produção de ERO em suspensões de eritrócitos (hematócrito a 5%) expostos ao DDS-NOH (2,5 e 7,5µg/mL), estas células foram pré-incubadas com DDS-NOH por 30 minutos e ao mesmo tempo incubadas com DCFH-DA (10mM). Para comparar o efeito oxidativo do DDS-NOH (2,5 e 7,5µg/mL), utilizou-se o T-BHP (200µM), um agente oxidante que é capaz induzir elevados níveis de ERO em eritrócitos. Além disso, foi avaliado o potencial antioxidante de RSV e ALA (100 e 1000µM), a partir da pré-incubação de suspensões de eritrócitos a 5% com estes antioxidantes em diferentes concentrações. A figura 34 (A e B) mostra que suspensões de eritrócitos incubadas com DDS-NOH (2,5 e 7,5µg/mL) apresentaram níveis significativos na produção de ERO quando comparado ao grupo controle negativo (eritrócitos). A pré-incubação com RSV e ALA (100 e 1000µM) reduziu significativamente a produção de ERO induzida por DDS-NOH (2,5 µg/mL) quando comparada aos eritrócitos incubados com DDS-NOH (2,5 µg/mL) e sem pré-tratamento (Figura 34-A e B). Observa-se também que o DDS-NOH (7,5µg/mL) apresentou efeito semelhante ao do controle positivo T-BHP (200µM) na elevação da produção de ERO mostrando que a produção de ERO por DDS-NOH foi dose-dependente. No entanto, o RSV (100 µM) e ALA (100 e 1000µM) não alteraram os níveis de ERO nos eritrócitos expostos ao DDS-NOH (7,5µg/mL). Contudo, o pré-tratamento com RSV (1000µM) foi capaz de inibir significativamente a produção de ERO induzido pelo DDS-NOH na concentração de 7,5µg/mL (Figura 34A e 34B). 76 Figura 34: O efeito dapsona-hidroxilamina (2,5 e 7,5 µg/mL) na produção de ERO em suspensão de eritrócitos (Hematócrito a 5%). Os valores são representados pelo percentual de células fluorescentes, as quais indicam a presença de ERO no meio intracelular. (A) As suspensões de eritrócitos normais foram pré-incubados com RSV (100 e 1000µM) durante 60 minutos e incubadas com DDS-NOH (2,5 e 7,5µg/mL) e DCFH-DA (10mM) por 30 minutos. (B) ALA (100 e 1000µM) durante 60 minutos e incubadas com DDS-NOH (2,5 e 7,5µg/mL) e DCFHDA (10mM) por 30 minutos. O grupo controle positivo foi T-BHP (200µM) e o grupo negatico foi eritrócitos. Os dados foram expressos em % células fluorescentes, sendo os resultados realizados em seis réplicas diferentes. *comparado ao grupo eritrócitos; #comparado ao grupo tratado apenas com dapsona-hidroxilamina (2,5 µg/mL); #comparado ao grupo tratado apenas com dapsona-hidroxilamina (7,5 µg/mL). 77 5.6 Atividade da Catalase (CAT) em suspensões de eritrócitos préincubados com RSV/ALA e incubados com DDS-NOH in vitro O efeito do DDS-NOH (2,5 µg/mL) sobre a atividade da CAT eritrocitária foi demonstrado em suspensões de eritrócitos pré-incubadas ou não com RSV e ALA (100 e 1000µM), como mostra a figura 35 (A e B). Nos dados mostrados na figura 35A é possível observar que a incubação com DDSNOH (2,5µg/mL) levou a diminuição da atividade de CAT e o pré-tratamento dessas células com RSV (100 e 1000µM) não reverteu à inibição da atividade dessa enzima induzida pelo DDS-NOH. Em relação aos dados com ALA, a figura 35B mostra que a incubação com DDSNOH (2,5µg/mL) inibiu a atividade de CAT, e o pré-tratamento com ALA (100 µM) foi capaz de reveter significativamente a diminuição da atividade dessa enzima, retornando a níveis do controle. 78 Figura 35: O efeito do dapsona-hidroxilamina (2,5 µg/mL) sobre a atividade da catalase em suspensão de eritrócitos pré-incubados com resveratrol e ácido α-lipóico. A determinação da atividade da catalase foi feita por espectrofotometria em λ=240nm. Os dados foram expressos em média ± desvio padrão, sendo os resultados realizados em seis réplicas diferentes. * comparado ao grupo metanol e # comparado ao grupo dapsonahidroxilamina. (A) As suspensões de eritrócitos normais foram pré-incubadas com resveratrol (100 e 1000µM) durante 60 minutos e incubadas com dapsona-hidroxilamina (2,5 µg/mL) por 60 minutos. (B) ácido α-lipóico (100 e 1000µM) durante 60 minutos e incubadas com dapsona-hidroxilamina (2,5 µg/mL) por 60 minutos. 79 5.7 Atividade da SOD em suspensões de eritrócitos pré -incubados com RSV/ALA e incubados com DDS-NOH in vitro O efeito do DDS-NOH (2,5µg/mL) sobre a atividade da SOD eritrocitária foi demonstrado em suspensões de eritrócitos pré-incubadas ou não com RSV e ALA (100 e 1000µM), como mostra a figura 36(A e B). A figura 36 (A e B) mostra que suspensões de eritrócitos incubadas com DDS-NOH (2,5 µg/mL) não apresentaram alteração na atividade de SOD. Além disso, o pré-tratamento com RSV e ALA nas diferentes concentrações não interferiu na atividade de SOD em eritrócitos incubados com DDS-NOH (2,5µg/mL). Em contrapartida, o tratamento com TBHP (200µM) foi capaz de reduzir significativamente a atividade dessa enzima quando comparada ao grupo controle. 80 Figura 36: O efeito do dapsona-hidroxilamina (2,5µg/mL) sobre a atividade da superóxido dismutase em suspensão de eritrócitos pré-incubados com resveratrol e ácido α-lipóico. A determinação da atividade da superóxido dismutase foi feita por espectrofotometria em λ=550nm. Os dados foram expressos em média ± desvio padrão, sendo os resultados realizados em seis réplicas diferentes. *comparado ao grupo metanol. (A) As suspensões de eritrócitos normais foram pré-incubadas com resveratrol (100 e 1000µM) durante 60 minutos e incubadas com dapsona-hidroxilamina (2,5µg/mL) por 60 minutos. (B) ácido α-lipóico (100 e 1000µM) durante 60 minutos e incubadas com dapsona-hidroxilamina (2,5µg/mL) por 60 minutos. O grupo controle positivo foi T-BHP (200µM) período de incubação de 30 minutos. 81 6 DISCUSSÃO Conforme Wozel (1989) a DDS é o principal fármaco da PQT, devido ser o único dentres os demais a ser administrado diariamente por 6 meses por pacientes com a forma paucibacilar e pacientes com a forma multibacilar a administração diária é feita associada com a clofazimina por 12 meses (OMS, 1982). A sua eficácia é bem descrita também no tratamento de dermatite herpetiforme e de outras condições dermatológicas de caráter inflamatório. No entanto, o uso terapêutico deste fármaco está sendo cada vez mais limitado e o motivo para tal restrição está relacionado ao seu efeito hematotóxico (DEGOWIN et al. 1966). Assim, com o intuito de verificar hemotoxidade deste fármaco, o nosso estudo analisou in vitro o efeito hematotóxico de um dos metabólitos hidroxilamina da dapsona, o DDS-NOH, uma vez que estudos in vitro de Grossman e Jollow (1988) mostraram que DDS quando incubada com eritrócitos não induziu nenhum efeito hemotóxico sugerindo que a toxidade ocasionada em pacientes é mediada pelos seus metabólitos. Logo, os nossos resultados demonstraram que o metabólito DDS-NOH nas concentrações de 2,5 a 10 µg/mL foi capaz de induzir a formação de elevados níveis de metemoglobina (19 a 40%). Dados semelhantes a este foram observados no trabalho de Vage et al. (1994), os quais mostraram que diferentes concentrações de DDS-NOH (10 a 100.000µM) ocasionaram também a formação de metemoglobina, cuja curva dose-resposta apresentou efeito máximo(Emáx) de 81% de MetHb, assim como Reilly et al. (1999) que utilizaram eritrócitos humanos e obtiveram Emáx de 83%, por outro lado, Emáx encontrado no nosso estudo foi de 40%, este valor foi inferior ao dos demais estudos, devido utilizarmos concentrações de DDS-NOH que se aproximavam das concentrações plasmáticas média da dapona, sendo estes valores mostrados no trabalho de Vieira et al. (2010), os quais constataram que 90% dos pacientes com hanseníase em uso de PQT apresentaram níveis terapêuticos de dapsona no plasma com intervalo de 0,5 a 5 μg/mL. A metemoglobinemia e anemia hemolítica são consideradas as reações adversas mais frequentes observadas em pacientes hansenianos. Coleman (1993) demonstrou que esta toxidade é ocasionada principalmente pelo metabólito N-hidroxilado da DDS, o DDS-NOH. McMillan et al. (1998) ao averiguar o efeito hemolítico da DDS-NOH, a partir da determinação da sobrevida dos eritrócitos de ratos marcados com 51Cr in vitro concluem que a exposição destas células marcadas ao DDS-NOH (180µM) in vitro durante 2h resultou em 82 uma acentuada remoção destas células da circulação dos ratos, sendo encontrado tempo de meia vida (T50%) de apenas 2h, os autores destacaram que este efeito hemolítico foi dosedependente, assim como este trabalho a hemotoxidade induzida por DDS-NOH no nosso trabalho também foi dose-dependente. Assim, pode-se inferir que o uso prolongado da dapsona com a dose diária de 100mg são fatores que devem ser revisto, além da possibilidade de reduzir o tempo de tratamento que atualmente é de 6 a 12 meses, o que gera em alguns casos desistência por parte dos doentes ou negligência ao tratamento devido às reações adversas presentes ao longo do tratamento. Deps et al. (2007) a fim de verificar o impacto das RAM no seguimento correto do esquema medicamentoso reportaram a frequência de RAM em pacientes MB e PB durante os 30-90 dias de tratamento com a PQT. As RAM foram verificadas através de exames laboratoriais, dentre eles: hemograma e testes de função hepática, a partir disso os autores mostraram que maior parte das RAM encontradas nestes pacientes, com um total de 194 pacientes avaliados 85 pacientes apresentaram RAM devido ao uso da DDS, dentre elas: anemia hemolítica, manifestações gastrointestinais, alterações hepáticas, tonturas, dores de cabeça, metemoglobinemia e fraqueza. Em virtude disso, os autores mostraram que houve uma interrupção do uso da DDS em 46 (54%) pacientes dos 85. Estudos recentes como de Deps et al. (2012) e Gonçalves et al. (2012) mostraram que o efeito hemolítico da DDS, bem como a incidência de outras RAM ocasionadas pelo uso da DDS associado a rifampicina e clofazimina são problemas comuns enfrentados pelos pacientes hansenianos. O estudo de Gonçalves et al. (2012) ao buscar possíveis voluntários doentes para avaliar a eficiência de um novo modelo de PQT verificou que todos os pacientes analisados para o estudo apresentaram um quadro significativo de anemia. No mais, eles concluiram que tais achados devem-se à DDS e não a rifampicina, indicando uma possível influência da clofazimina na gênese do aumento da incidência da anemia hemolítica atribuída a esta sulfona. Conforme Prasad et al. (2008) a metemoglobinemia e hemólise são os dois tipos de consequências clínicas agudas ocasionadas por DDS, e que atualmente o único tratamento farmacológico de escolha para a metemoglobina é o azul de metileno a 1%, e a uma dose de 1-2mg/Kg, sendo essa dose repetida a cada 4-6h, no entanto alguns pacientes não respondem ao tratamento por serem portadores da deficiência de G6PD, bem como pelo efeito paradoxal ocasionado por este antagonista, o qual em altas doses pode exacerbar o efeito de metemoglobina, devido as suas propriedades oxidativas (ROSEN et al. 1971; HARVEY e KEITT, 1983). 83 Com isso, várias terapias alternativas vêm sendo propostas para o tratamento dos efeitos hematotóxico da DDS, tais como o de Coleman et al. (1990) que analisaram o efeito da co-administração da cimetidina por voluntários em uso com DDS (100mg/dia). Sendo concluído que este tratamento foi capaz de reduzir o processo de N-hidroxilação da DDS in vivo, uma vez que a quantidade de DDS-NOH encontrada na urina dos voluntários foi significativamente reduzida, e consequentemente foi demonstrado que o percentual de formação de MetHb foi totalmente reduzido. Por outro lado, os autores observaram que houve uma formação acentuada do metabólito monoacetil dapsona na presença da cimetidina, o qual pode sofrer a reação de N-hidroxilação, formando assim o MADDS-NOH, que é também considerado hematotóxico, assim como, o DDS-NOH (VAGE et al. 1994). Jo et al. (2008) analisaram o efeito do antioxidante piruvato de etila na metemoglobinemia induzida por DDS em ratos. O potencial antioxidante deste composto em relação ao percentual de MetHb foi mensurado em diferentes tempos após a administração da DDS (90, 180 e 360 min). E mostrou-se eficaz apenas na redução da MetHb formada nos períodos de 90 e 180min. Neste sentido, o presente estudo avaliou a ação protetora dos compostos antioxidantes; resveratrol e ácido α-lipóico na metemoglobinemia induzida por DDS-NOH in vitro e alguns parâmetros de estresse oxidativo, com o intuito de mostrar que estes compostos podem apresentar ação efetiva contra esta reação adversa comumente presente em pacientes em uso de doses terapêuticas da DDS, bem como reduzir a quantidade de espécies reativas geradas pelo metabólito e o possível comprometimento das atividades das enzimas antioxidantes. Mediante a avaliação do potencial redutor dos antioxidantes sobre os eritrócitos expostos ao metabólito, os dados expostos neste estudo mostraram que o pré-tratamento com diferentes concentrações de RSV e ALA reduziu significativamente a formação de metemoglobina induzida pelo metabólito da DDS em diferentes concentrações. A atividade de compostos antioxidantes também foi demonstrada por Tedesco et al. (2000), os quais avaliaram o efeito protetor de polifenóis, como resveratrol e a quercetina, e estes quando incubados com eritrócitos foram capazes de reduzir significativamente a formação de metemoglobina ocasionada pelo t-BHP (terc-butil-hidroperóxido), bem como a hemólise por H2O2. Assim como no presente estudo, o potencial protetor do ácido α-lipóico também foi demonstrado por Coleman e Taylor (2003) que compararam a capacidade do ALA e da sua forma reduzida, o DHLA, com a do azul de metileno na redução da formação de MetHb induzida por DDS-NOH in vitro. E após avaliar a eficácia destes dois antioxidantes no pré- 84 tratamento e tratamento dos eritrócitos expostos ao DDS-NOH, constataram-se que apenas o DHLA foi capaz de inibir a formação de MetHb in vitro atuando semelhantemente como o azul de metileno. Todavia, mesmo com este resultado, os autores sugerem que o ALA poderia ser incluído como suplemento na prevenção da toxidade induzida pela DDS, já que o ALA pode ser reduzido a sua forma DHLA tanto in vitro como in vivo (COLEMAN et al, 2001). De certa forma este resultado mostrou que o tratamento com ALA pode ser favorável na redução da toxidade da dapsona, o que pode ser confirmado com os nossos resultados, pois o efeito redutor do ALA se destacou em relação ao do azul de metileno quando comparado a capacidade de ambos na redução da MetHb induzida pelas concentrações de 5,0 e 7,5µg/mL de DDS-NOH. Caylak et al. (2008) demonstraram o efeito do ALA na anemia induzida por acetato de chumbo em eritrócitos de ratos in vivo, sendo este efeito apresentado através das análises das médias do nível de hemoglobina dos animais expostos a 2000 ppm de acetato chumbo e daqueles que foram expostos e tratados com 25mg/kg/dia de ALA. Assim, mediante a este tratamento, os autores concluiram que o ALA foi capaz de atenuar o efeito hemotóxico causado pelo acetato de chumbo, uma vez que a média do grupo exposto foi de 12,71 g/dl, e do grupo exposto e tratado com ALA foi de 16,51 g/dl, sendo este valor próximo ao do grupo controle que foi de 16,52 g/dl. Leggett (1993) afirma que a intoxicação por chumbo promove sérios danos oxidativos em eritrócitos, dentre eles, alterações na membrana de eritrócitos, auto-oxidação da hemoglobina através da indução da produção de ERO, como O2-•e OH•, bem como a inibição da síntese do grupo heme e da hemoglobina. Portanto, a proteção do ALA demonstrada contra o efeito hemotóxico de xenobióticos também foi observada nos nossos resultados, pois ele foi eficaz na redução do dano oxidativo induzido na hemoglobina de eritrócitos expostos ao DDS-NOH. A razão para este efeito pode está relacionado com a facilidade do ALA e DHLA em atravessar a membrana dos eritrócitos, e agir na redução da GSSG, aumentando consequentemente a quantidade GSH no meio intracelular, a qual age reduzindo a quantidade de ERO geradas por xenobióticos, além de contribuir para a regeneração de vitamina E a partir da sua forma oxidada, e do ácido ascórbico (MAY et al. 2007; ROCHETTE et al. 2013). Todavia, mesmo existindo inúmeros estudos demonstrando o efeito antioxidante do ALA em eritrócitos humanos ou de ratos, bem como em indivíduos saudáveis ou doentes, o uso terapêutico em casos de danos oxidativos induzidos por xenobióticos ou por doenças crônicas ainda é incerto, já que estudo de Martins et al. (2009) demonstraram que o tratamento com o ALA em casos de anemia hemólitica crônica, isto é, anemia falciforme, não 85 foi capaz de reverter os baixos índices de eritrócito, hemoglobina, hematócrito e transferrina, o que provavelmente explica este resultado é que pacientes falciforme estão sujeitos a um estado de anemia crônica causado por frequentes crises hemolíticas. No mais, a ausência do efeito protetor neste caso pode está relacionado também com a capacidade do ALA em aumentar a atividade do [Ca2+] citosólico e ativar os canais de Ca2+ sensíveis ao K+ levando a hiperpolarização da membrana com subsequente perda de KCl, o que favorece o encolhimento do eritrócito (BHAVSAR et al. 2010). Além disso, a entrada de Ca+2 nos eritrócitos provoca um desarranjo de fosfolipídio na membrana (ZHOU et al. 2002), levando assim a perda da assimetria da fosfatidilserina (PS), mecanismo que é caracterizado pela translocação da PS da face interna da membrana plasmática para a face externa, sendo assim a partir dessa exposição da PS na superfície dos eritrócitos, a célula é reconhecida pelos macrófagos, que possuem receptores específicos para PS. Com isso, os macrófagos rapidamente engolfam e degradam estes eritrócitos do sangue periférico, sendo esses um dos principais mecanismos que induzem a morte suicida de eritrócitos, também denominada, eriptose (CLOSSE et al. 1999). O presente estudo não realizou a avalição de danos oxidativos em membranas de eritrócitos, portanto não pode-se afirmar que o pré-tratamento com ALA altera hematócrito das amostras tratadas e expostas ao DDS-NOH, contudo, pode-se afirmar que o prétratamento com ALA, na faixa de concentração de 10 a 1000µM, confere aos eritrócitos a capacidade de proteção contra o efeito metemoglobinizante do DDS-NOH, sendo o percentual de formação de MetHb bem menor nas amostras de eritrócitos pré-tratados. Além do ALA, este trabalhou avaliou também o efeito protetor do RSV no estresse oxidativo induzido por DDS-NOH, o qual conferiu tanto quanto o ALA a proteção contra a formação de MetHb, embora esta redução foi tempo dependente, pois apenas os tempos de pré- incubação de 60 e 90 minutos foram eficazes em proporcionar um efeito protetor aos eritrócitos. Fato que também foi comprovado por Pandey e Rizvi (2010), visto que somente após o período de 30 min é que o RSV foi capaz de proteger significativamente os eritrócitos expostos ao t-BHP in vitro, e este efeito protetor foi reduzido quando o período de incubação foi superior a 120 min. Outro estudo de Pandey e Rizvi (2009) utilizaram as concentrações de 10 e 100µM RSV semelhantemente a este trabalho, e demonstraram que nessas concentrações o RSV foi capaz de proteger os eritrócitos humanos submetidos ao estresse in vitro evitando a formação de grupos de proteína carbonilada na membrana assim como a peroxidação lipídica. Além da manutenção da integridade lipídica e da proteção contra dano oxidativo induzido em 86 proteínas, estudos demonstram que o RSV também pode inibir a morte suicida de eritrócitos (eriptose) através da redução da exposição de fosfatidilserina (PS) na superfície de eritrócitos, bem como na diminuição de [Ca+2] citosólico, e outros processos diretamente relacionados com a eriptose (QADRI et al. 2009). A ação antioxidante da maior parte dos polifenóis, como RSV, está associada a 3 processos: 1) aumento do nível intracelular de GSH; 2) bloqueio de influxo de Ca2+; 3) remoção de ERO ou inativação destes radicais livres através da doação de átomos de hidrogênio a estas moléculas interrompendo desta forma a reação em cadeia (RICE-EVANS et al. 1996; GITIKA et al. 2006). Galtieri et al. (2010) avaliaram que RSV tem a capacidade de diminuir a oxidação da Hb, visto que esse composto interage com a Hb deslocando o estado conformacional da mesma de T para R, estado de maior afinidade ao O2. Com isso, esses dados sugerem que o RSV apresenta um papel estabilizante na molécula de Hb, protegendo-a de elevados níveis de oxidação. O efeito protetor do RSV na oxidação da hemoglobina pode está associado também a inibição do estresse oxidativo por meio da redução de ERO e atenuação de H2O2 e O2 (LIU et al. 2003; CHEN et al. 2004). Bem como, pelo potencial de aumentar a expressão do heme oxigenase 1, o qual cliva a molécula de heme e libera biliverdina, monóxido de carbono e ferro. A biliverdina é subsequentemente convertida em bilirubina pela ação da biliverdina redutase e o ferro livre é prontamente seqüestrado pela ferritina, e isto consequentemente reduz os níveis de ERO (JUAN et al. 2005). Logo, a importância deste trabalho está relacionada ao possível mecanismo de proteção da hemoglobina pelos dois antioxidantes analisados, já que a hemoglobina está altamente concentrada dentro dos eritrócitos e consequentemente envolvida em uma série de reações de redução-oxidação que são responsáveis pela formação de estresse oxidativo nos eritrócitos, pelo fato de favorecer a auto-oxidação da hemoglobina produzindo a metemoglobina e radical ânion superóxido (RIFKIND e RAMASAMY et al. 2004). Assim ao garantirmos a proteção desta proteína pela suplementação com ácido α-lipóico e/ou resveratrol, a manutenção da integridade funcional e morfológica dos eritrócitos podem ser aspectos relevantes na adesão ao tratamento da PQT. Dessa forma, de acordo com os resultados apresentados, o RSV e o ALA foram eficientes em todas as concentrações analisadas (10, 100, 200, 1000µM), sendo este efeito redutor não dose-dependente, uma vez que foi capaz de atenuar o %MetHb induzida por diferentes concentrações de DDS-NOH. Contudo, quando o efeito redutor do RSV foi comparado ao azul de metileno, o RSV(100µM) só apresentou a mesma eficiência que o azul 87 de metileno em inibir a MetHb quando a concentração de DDS-NOH utilizada como estímulo foi de 2,5µg/mL. Baseando-se nos estudos de Walker et al. (2009) a formação de metemoglobina induzida por 100mg/dia DDS pode chegar até 16% de MetHb em alguns pacientes, e que estes podem apresentar sintomas, como: taquicardia, dispnéia e dor nas costas, além de anemia, e mais gravimente hipóxia tecidual, a qual é decorrente do mau funcionamento do transporte de O2 para os tecidos, devido a incapacidade de ligação do O2 proveniente dos pulmões a Hb (MANSOURI e LURIE, 1993; UMBREIT, 2007). A toxidade do DDS-NOH é bastante explorada, no que concerne, o seu efeito hemotóxico, no entanto, alguns estudos, como o Veggi et al. (2008) e Reilly et al. (1999) investigaram a relação deste efeito com a indução de estresse oxidativo através do comprometimento de enzimas antioxidantes como, CAT e SOD, uma vez que, baseando-se no processo de auto-oxidação da Hb, que além de resultar na formação de MetHb é considerado o principal mecanismo de produção de O2-•. A SOD catalisa a reação de dismutação deste radical à H2O2 que, em seguida, é degradado pela CAT e pela glutationa peroxidase formando moléculas de H2O e O2 (BANERJEE e KUYPERS, 2004), no entanto, em condições de estresse oxidativo, a ação antioxidante destas enzimas passa a ser ineficiente quanto à redução de ERO que se encontram em grande quantidade, o que desta forma aumenta a suscetibilidade dos eritrócitos a produção de MetHb e danos oxidativos. No estudo, ao avaliar o efeito do DDS-NOH (2,5 e 7,5µg/mL) e do potencial antioxidante do ALA e RSV (100 e 1000µM), considerando o potencial oxidante do metabólito, observou-se que esse composto induziu uma produção acentuada de ERO nos eritrócitos, e isto, foi verificado a partir da técnica de citometria de fluxo que é altamente sensível a detecção de ERO em meio intracelular (AMER et al. 2003). Estes dados corroboram aos de Vyas et al. (2005) que demonstraram a elevada produção de ERO em cultura de células, a partir da incubação com os metabólitos DDS-NOH e MADDS-NOH, bem como o efeito redutor do ácido ascórbico na neutralização de ERO induzidos por estes metabólitos. Mediante, a avaliação do efeito antioxidante do RSV e do ALA, observou-se que o RSV (1000µM) foi um potente antioxidante, devido à capacidade de reduzir quantidades acentuadas de ERO geradas pelo DDS-NOH (2,5 e 7,5µg/mL). Por sua vez o ALA (100 e 1000µM) só apresentou eficácia na neutralização de ERO geradas pelo DDS-NOH (2,5µg/mL). A provável resposta para este efeito do resveratrol na atenuação de ERO no meio intracelular pode ser justificado pela presença e posição dos grupos funcionais hidroxila, uma 88 vez que estudos sobre estrutura e atividade do resveratrol e de seus análogos indicam que os determinantes estruturais necessários para a atividade antioxidante do resveratrol está na presença da hidroxila na posição 4’, bem como a configuração trans do grupo funcional de etileno na estrutura química deste estilbeno (STIVALA et al. 2001). Por outro lado, como citado acima o efeito antioxidante do ALA na remoção de ERO foi parcialmente favorável, porém não podemos descartar a sua eficiência, pois o ALA apresenta o grupo sulfidrílico na sua estrutura química, o qual confere a este composto uma potente atividade antioxidante, pois ele é capaz de reagir com radicais livres retirando-os do meio intracelular, bem como capaz de reverter antioxidantes endógenos como a glutationa, vitamina E e vitamina C (PACKER et al. 1995). Neste contexto, além de verificar o efeito redutor dos antioxidantes, em relação à produção de ERO, houve a necessidade de verificar o efeito destes antioxidantes sobre a atividade das enzimas CAT e SOD, que possivelmente poderiam ser afetadas pelo estresse oxidativo induzido pelo metabólito da DDS ou pela presença em excesso de radicais livres. Logo, quanto à atividade da enzima SOD, os resultados não mostraram diferença de atividade nos grupos estudados, principalmente no grupo de eritrócitos expostos ao metabólito na concentração de 2,5µg/mL. Pode-se justificar este resultado através dos percentuais de metemoglobina (média de 19%) observados nos eritrócitos expostos ao que relativamente podem ter gerado quantidades de ERO que foram reduzidos eficientemente pelo sistema antioxidante dos eritrócitos sem comprometer atividade da SOD. Dados semelhantes a este comportamento da SOD foi observado em pacientes com anemia falciforme que faziam a suplementação ou não com ALA (200mg/dia; MARTINS et al, 2009). Por outro lado, os resultados da atividade da enzima CAT evidenciaram uma significativa diminuição no grupo exposto ao DDS-NOH (2,5µg/mL). E o efeito do prétratamento com os antioxidantes estudados foi favorável apenas quando estas células foram primeiramente tratadas com ALA (100µM) mostrando-se eficiente na reversão dos níveis basais de CAT destas células. O fato de o ALA ter apresentado esta ação pode ser explicado da seguinte maneira: reduziu acentuadamente a oxidação do DCFH, ou seja, atenuou significativamente a quandidade de ERO presente no meio intracelular, bem como foi capaz de reverter potencialmente a formação de MetHb induzida pelo metabólito diminuindo a formação de íons superóxido e consequentemente de peróxido de hidrogênio proporcionando desta maneira o equilíbrio da atividade da enzima catalase. 89 A falta de atividade do RSV, em relação reversão da diminuição da atividade da CAT demonstrada neste trabalho, nos permite inferir que há a necessidade de desenvolver técnicas mais sensíveis para analisar os sistemas de defesa antioxidantes que estão presentes em diversos tipos celulares, tais como, as técnicas utilizadas por He et al, (2012), que constataram que o pré-tratamento com RSV conferiu uma redução no estresse oxidativo induzido pelo Paraquat (PQ), que é um herbicida considerado altamente tóxico para humanos, provocando edema pulmonar e destruição do epitélio bronquial (BUS e GIBSON, 1984). Vale ressaltar também que a atividade antioxidante de um composto depende da concentração que ele se encontra e também do tipo de célula que esta atividade é avaliada (GUTTERIDGE e HALLIWELL, 2010). A partir dos dados, em conjunto, constatou-se que dentre os tratamentos estudados com antioxidantes em eritrócitos expostos ao DDS-NOH in vitro, o ALA mostrou melhor eficácia na redução de um dos principais efeitos adversos da DDS, que é a formação de MetHb. Fato que pode ser ocorrido por um mecanismo dependente da ação da enzima CAT sobre a produção acentuada de ERO induzida pelo DDS-NOH (2,5µg/mL), proporcionando assim a proteção da Hb contra a oxidação induzida pelo H2O2 e de outros ERO. É importante salientar que um recente estudo sugeriu que a excessiva oxidação da Hb pode ser reconhecida pelo sistema imune inato como algo prejudicial ao organismo, o que pode induzir a expressão de genes de citocinas pró-inflamatórias em células endotelias in vitro, bem como o recrutamento de polimorfonucleares in vivo, e em condições de hemólise pode ocorrer o remodelamento da parede vascular (MARTIN-VENTURA et al. 2012). Por este motivo, foi de suma importância o desenvolvimento deste trabalho, já que foi avaliada a ação de antioxidantes contra a metemoglobinemia, reação adversa comumente presente em pacientes hansenianos em uso com a DDS, os quais embora obtenham sucesso no seu tratamento contra a hanseníase, podem estar susceptíveis ao surgimento de doenças secundárias, principalmente doenças vasculares, tais como, aterosclerose e trombose, devido a exposição prologada de ERO e níveis elevados de formação de MetHb. Contudo, mesmo que haja dados favoráveis do ALA contra a hemotoxidade induzida por DDS-NOH, não podemos elucidar o efeito real do ALA nesta RAM, uma vez que o ALA em determinadas concentrações podem agir diminuindo o fibrinogênio, fator VII e fator de Von Willbrand, fatores procoagulantes que atuam no processo de hemostasia, o qual garante integridade do endotélio vascular e da fluidez do sangue (FORD et al. 2001). Assim, para que a suplementação diária com antioxidantes como o ALA possa a vir ser inserida ao tratamento da hanseníase juntamente com a PQT, é de suma importância 90 garantir a segurança desta suplementação, porém, este trabalho inicialmente pôde demonstrar que este antioxidante garantiu aos eritrócitos uma possível proteção contra os danos oxidativos induzido pelo metabólito da DDS. 91 7 CONCLUSÕES No estudo sobre o processo oxidativo em suspensões de eritrócitos humanos induzidos por DDS-NOH, observou-se que: O metabólito DDS-NOH foi capaz de induzir metemoglobina in vitro. A pré-incubação com RSV e ALA em diferentes concentrações reveteram a formação de metemoglobina induzida pelo DDS-NOH, sendo que o ALA foi mais eficaz do que o do azul de metileno e RSV na reversão desse efeito. O RSV e o ALA mostraram ser eficiente na remoção de ERO do meio intracelular induzido por DDS-NOH (2,5µg/mL), mas somente RSV foi capaz de inibir a produção de ERO induzido pela maior concentração de DDS-NOH (7,5 µg/mL). O ALA (100µM) reverteu a redução da atividade da CAT induzido pelo DDSNOH (2,5µg/mL); A exposição ao DDS-NOH e pré-tratamento com RSV e ALA não alteraram a atividade de SOD; Portanto, conclui-se que os compostos antioxidantes avaliados, o ALA e o RSV mostram possuir potencial terapêutico na prevenção da metemoglobina induzida por DDSNOH, no entanto, o ALA se mostrou mais eficaz na reversão desse efeito hematotóxico quando comparado ao RSV e o azul de metileno. Com isso, outros estudos precisam ser realizados para garantir a segurança desta suplementação, bem como sua eficácia, considerase importante a realização de um estudo in vivo nesta mesma temática já que nesta condição outros parâmetros poderam ser analisados de maneira mais precisa. 92 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AEBI, H. Catalase in vitro. In: Packer L. Methods in Enzymology, Vol. 105. Academic Press, Orlando, pp. 121–126. 1984 AMER, J.; GOLDFARB, A.; FIBACH, E. Flow cytometric measurement of reactive oxygen species production by normal and thalassaemic red blood cells. Eur J Haematol., v. 70, p. 84–90, 2003. AMUKOYE, V.; WINSTANLEY, P.; WATKINS, W.; SNOW, R.; HATCHER, J.; MOSOBO,M. et al. Chlorproguanil-Dapsone: Effective Treatment for Uncomplicated Falciparum Malaria. Antimic. agents and chemotherapy., p. 2261-2264, 1997. ANNIGERI, S. R.; METGUD, S. C.; PATIL, J. R. Lepromatous leprosy of histoid type. Indian J. Med. Microbiol., v. 25, p.70–71, 2007. ASHA, D. S.; SUBRAMANYAM, M. V. 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INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Esta pesquisa será realizada pela pesquisadora e aluna de Mestrado em Fármaco e Medicamentos (PPGCF-UFPA) Rosyana de Fátima Vieira de Albuquerque, sob a orientação da Professora Doutora Marta Chagas Monteiro, da Faculdade de Farmácia, Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas-UFPa. E tem como objetivo avaliar o efeito do resveratrol na metemoglobina induzida pela dapsona e seu metabólito DDS-NHOH em modelo in vitro, correlacionando ao desenvolvimento do estresse oxidativo. Os voluntários serão alunos e professores da Faculdade de Farmácia- UFPA, sendo que a obtenção do sangue venoso para a preparação do modelo in vitro, será em local apropriado e por um profissional habilitado. Os critérios de exclusão serão o uso recente de algum medicamento, doenças crônicas, menor de 20 anos e maiores de 45 anos e uso de tabaco. Todo material coletado nesta pesquisa ficará sob a guarda da pesquisadora responsável durante o período de preparação do modelo in vitro e após será destruído. Em nenhuma hipótese serão divulgados dados que permitam a sua identificação, guardando assim o absoluto sigilo das informações cedidas a pesquisadora. A sua participação é de livre-arbítrio, não havendo pagamento pela mesma, podendo se recusar a responder quaisquer perguntas das entrevistas. Após a conclusão da coleta do material biológico os eritrócitos serão isolados para obtenção do modelo in vitro. ____________________________________ Marta Chagas Monteiro (Orientadora) CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO: Declaro que li as informações acima sobre a pesquisa e que me sinto perfeitamente esclarecido sobre o conteúdo da mesma, assim como seus riscos e benefícios. Declaro ainda que por minha livre vontade, aceito participar da pesquisa cooperando com as informações necessárias. NOME:___________________________________________________ Belém,____/____/____ Assinatura do entrevistado__________________________________ RG:__________________ 107 ANEXO B: CARTA DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA EM SERES HUMANOS DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ