A práxis da enfermagem na avaliação da dor em hospitais de Joinville Luciane Aparecida Müller 2 Anna Geny Batalha Kipel 3 (1) Trabalho executado com recursos do Edital..., da Pró-Reitoria de... (2) estudante, pesquisador, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia; Joinville SC (E-mail [email protected] ) professor MS, pesquisador, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia; Joinville SC (E-mail [email protected]) (3) Resumo Expandido RESUMO: A dor é um fenômeno de alta prevalência em âmbito mundial e a maior causa de queixas nas consultas médicas ambulatoriais e hospitalares. O objetivo deste estudo é conhecer a práxis de enfermagem na avaliação da dor em hospitais do nordeste de Santa Catarina. Esta pesquisa transversal, quantitativa, descritiva foi realizada por meio de um questionário aplicado a 418 profissionais de saúde, entre eles, 56 enfermeiros, 360 técnicos em enfermagem, em três hospitais na região nordeste de Santa Catarina, nos setores de clínica médica, cirúrgica, unidades de terapia intensiva (UTI) e prontos socorros (PS). A partir dos dados obtidos foram realizados teste de hipóteses pelo Qui-Quadrado utilizando nível de confiança de 95%. A maioria dos pesquisados, 76,9% técnicos, 85,7% enfermeiros relatam que a cultura e os valores do paciente interferem nos limiares de dor, 65 % técnicos , 76% enfermeiros referem conhecer escalas de avaliação da dor p-Value=0,032. Convém salientar que o hospital de iniciativa privada representa o maior percentual de profissionais que conhecem um método cientificamente validado (96%) demonstrando diferença estatística significativa comparado as outras instituições que apresentaram 58% e 52% p-Value=0,0001. As escalas unidimensionais são as mais referidas. Sugere-se que a comunidade estudada amplie os estudos sobre as manifestações dolorosas e sua adequada avaliação, considerando a importância de ser implantado um protocolo institucional de avaliação do 5º sinal vital para fundamentar o manejo adequado dos processos dolorosos em âmbito hospitalar. Palavra Chave: dor, escalas de avaliação da dor, avaliação da dor INTRODUÇÃO A dor é um fenômeno que se manifesta em todo o mundo e o sintoma de maior prevalência nos serviços de saúde (LEÃO et al,2009) tornandose um evento comum e frequente em ambulatórios, pronto socorros e hospitais, independente do país onde sua ocorrência seja observada. Ela é referida por cerca de 60% dos pacientes oncológicos (RUSTOEN et al, 2003; SHVARTZMAN 2003). Entre os pacientes hospitalizados e ambulatoriais com AIDS a dor se manifesta em 70% e na quase totalidade ao morrerem (PIMENTA, 2006). Nos pacientes que sofreram cirurgia, 5% a 80% deles desenvolvem dor crônica relacionada ao ato operatório, principalmente atos que envolvem lesão do nervo. A incidência de dor após amputação varia de 30% a 80%, de 11,5% a 47% após toracotomia e hérnia inguinal, 3% a 56% nas colecistectomias e até 50% nas cirurgias de mama (YUNG et al, 2005; PERKINS, KEHLET, 2000; FECHO et al, 2009; SADTSUNE et al, 2011). Devido à prevalência em âmbito mundial, a dor é atualmente considerada o quinto sinal vital (PIMENTA, 2000) e exige dos profissionais de saúde habilidades e conhecimentos específicos para sua avaliação. No entanto, a incapacidade das equipes em perceber a extensão e o efeito da dor no paciente continua a ser um ponto crítico para seu controle (PIMENTA, 2000). Dessa forma, a compreensão das manifestações álgicas, a investigação clínica da dor, a seleção de métodos de avaliação eficazes os quais se adequem as necessidades dos pacientes são imprescindíveis na intenção de minimizar a prevalência dos processos dolorosos. De acordo com Dráuzio Varela, o conhecimento sobre as escalas de avaliação pelos profissionais de saúde é fator de extrema importância para o processo de mensuração e tratamento da dor (VARELA, 2007). Para melhor avaliar a sensação dolorosa, foram criados instrumentos unidimensionais, baseados na mensuração da sensação de dor e multidimensionais, que avaliam o processo doloroso em três dimensões: sensitiva, afetiva e cognitiva (PIMENTA & TEIXEIRA, 1997). O objetivo deste estudo é conhecer a práxis de enfermagem na avaliação da dor em hospitais de Joinville. Pretende-se nos objetivos específicos averiguar os métodos de avaliação da dor nos setores de clínica médica, UTIs e pronto socorros; Identificar as ações de enfermagem no processo avaliativo da dor; Colher dados referentes à formação dos profissionais que prestam cuidados nos setores destinados a assistência a adultos. METODOLOGIA Esta pesquisa transversal, quantitativa, descritiva foi realizada por meio de um questionário contendo vinte e uma questões, o qual foi aplicado a 418 profissionais de saúde, entre eles 56 enfermeiros, 360 técnicos em enfermagem, nos turnos matutino, vespertino e noturno, que prestam assistência em hospitais públicos e de iniciativa privada, na região nordeste de Santa Catarina, nos setores de clínica médica, cirúrgica, unidades de terapia intensiva (UTI) e prontos socorros (PS). A pesquisa recebeu aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa (CONEP nº 11044) . O estudo foi conduzido em 2012 e 2013. Para avaliar a aderência dos dados às questões pesquisadas, elaboraram-se tabelas de contingência, relacionando-se variáveis de identificação (categoria de profissional, setor de pesquisa e hospital pesquisado) com as questões alvo de pesquisa. A partir dos dados obtidos foram realizados teste de hipóteses pelo Qui-Quadrado, utilizando nível de confiança de 95%, tendo por base as hipóteses: H0: As variáveis são independentes; H1: As variáveis são dependentes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na categoria profissional enfermeiro, 24,6% deles referem não ter recebido formação em dor como disciplina específica e 2,9% na categoria técnicos em enfermagem. Foram observadas diferenças estatísticas significativas entre as respostas dos grupos e os resultados esperados. Valor-p = 0,0001. No comparativo entre hospital onde trabalha o pesquisado e a realização de curso de formação com abordagem do tratamento da dor como disciplina específica, não foram observadas diferenças estatísticas significativas entre as respostas Value=0,2139. 75% dos enfermeiros, e 68% dos técnicos não receberam capacitação em dor durante a atuação profissional. No comparativo entre profissional pesquisado e o conhecimento do guia para o tratamento da dor , não foram observadas diferenças estatísticas significativas entre as respostas dos grupos pValue=0,1706. Contudo, ao ser investigado o campo de atuação do profissional, observa-se no setor de tratamento ortopédico que 75% dos profissionais relatam conhecer o guia de tratamento da dor da OMS. Nos demais setores o conhecimento sobre as indicações de tratamento da dor são inferiores, sendo observandos diferenças estatísticas significativas entre as respostas pValue=0,018. No entanto, não foram observadas diferenças estatísticas significativas quando comparadas as respostas entre os hospitais pValue=0,1706. Quadro 1 Distribuição de respostas relacionadas ao conhecimento de métodos ou escalas para avaliação da dor pelos profissionais pesquisados Profissionais SIM Técnico Enf 65% Enfermeiro 76% Total % GERAL 67% NÁO 24,00% 10% 22% NR 11% 14% 11% TOTAL 355 63 418 Na categoria enfermeiros foi evidenciado maior número de respostas indicativas para o conhecimento de métodos de avaliação da dor. No comparativo entre profissional pesquisado e o conhecimento dos métodos para avaliação da dor, foram observadas diferenças estatísticas significativas entre as respostas dos participantes pValue=0,032. Convém salientar que o hospital de iniciativa privada representa o maior percentual de profissionais que conhecem um método cientificamente validado (96%) demonstrando diferença estatística significativa comparado as outras instituições que apresentaram 58% e 52% pValue=0,0001. No entanto, dos 96% dos referidos profissionais da iniciativa privada que relataram conhecer escalas de avaliação de dor , 86% as utilizam. A Agência Americana de Pesquisa e Qualidade em Saúde Pública e a Sociedade Americana de Dor a descrevem como o quinto sinal vital e, deve ser avaliado tão automaticamente quanto os outros sinais vitais do paciente, tais como: temperatura, pulso, respiração e pressão arterial (SILVA, 2001). Quadro 2 Distribuição de respostas sobre a existência e utilização de um protocolo de avaliação da dor Profissional Técnico Enf Enfermeiro Total Total % Geral NR 4,8 1,6 18 4,3 SIM 38,3 49,2 167 40,0 NÃO 26,5 27,0 111 26,6 as vezes 25,4 22,2 104 24,9 Não sei 5,1 0,0 18 4,3 (valores expressos em percentuais) Menos de 50% dos profissionais relatam a existência de um protocolo de avaliação da dor na instituição e utilizá-lo. No comparativo entre os profissionais e o ato de seguir o protocolo, não foram observadas diferenças estatísticas significativas entre as respostas dos grupos p Value=0,1796 Quadro 3 Distribuição de respostas sobre a relevância da história, cultura e valores do paciente nos limiares da dor Profissional Técnico Enf Enfermagem Total% Geral NR 4,5 3,2 4,3 SIM 76,9 85,7 78,2 NÃO 14,9 9,5 14,1 Desconheço 3,7 1,6 3,3 A maioria dos pesquisados, 76,9% técnicos, 85,7% enfermeiros relatam que a cultura e os valores do paciente interferem no aumento ou redução dos níveis de dor, não sendo observadas diferenças estatísticas significativas entre as respostas p-Value=0,4668. Pimenta (1995) discorre sobre a complexidade e subjetividade da percepção da dor como não sendo somente o resultado da dimensão da lesão tissular, mas o envolvimento de um mecanismo complexo, determinado por muitos fatores, que incluem “ idade, sexo, cultura, influências ambientais e múltiplas variáveis psicológicas e sociais”. CONCLUSÃO A adequada fundamental contribuindo mundial das insatisfatório avaliação dos processos dolorosos é para que o tratamento seja eficaz, para minimizar a alta prevalência morbidades ocasionadas pelo manejo da dor. Menos de 50% dos profissionais relatam existir um protocolo de avaliação da dor na instituição e utilizá-lo. Entre os profissionais que utilizam métodos de avaliação formais, 20% optam pela escala unidimensional numérica. Sugere-se que a comunidade estudada amplie os estudos sobre as manifestações dolorosas e sua adequada avaliação, considerando a importância de ser implantado um protocolo institucional de avaliação do 5º sinal vital para fundamentar o manejo adequado dos processos dolorosos em âmbito hospitalar. REFERÊNCIAS PIMENTA, CA, Koizumi MS, Ferreira MTC, Pimentel ILC. Avaliação da experiência dolorosa. Rev Bras Med, 1995: 74(2): 69-75. SILVA, LMH, ZAGO, MMF. O cuidado do paciente oncológico com dor crônica na ótica do enfermeiro. 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