Instituto Pharmacológica: Av. Botafogo, Quadra 107, Lote 04 Setor Pedro Ludovico – Goiânia (GO). CEP74830-030. Telefone (62)3281-6112, E-mail [email protected] e site www.pharmacologica.net CURSO: FARMÁCIA HOSPITALAR COM ÊNFASE EM ONCOLOGIA SUCRALFATO: AGENTE CICATRIZANTE E ANALGÉSICO USADO NO TRATAMENTO DE ÚLCERAS DA PELE E MUCOSA Autora: Elaine de Paula Mendonça Franqueiro E-mail: [email protected] RESUMO O sucralfato é um medicamento utilizado em diversas enfermidades como o refluxo gástrico esofágico, úlceras de estresse, estomatite aftosa recorrente e úlceras venosas crônicas. O sucralfato cria um efeito mucoprotetor gástrico estimulando a produção de prostaglandinas com aumento da atividade das cicloxigenases e fatores de crescimento de fibroblastos atuando na reparação dos tecidos e aumentando a circulação sanguínea que favorecem a cicatrização com absorção mínima pelo intestino. Nas mucosites causadas por radioterapia, em casos de câncer de cabeça e pescoço, sucralfato de uso oral é capaz de reduzir os sintomas dessa enfermidade melhorando a qualidade de vida do paciente. A presente revisão bibliográfica tem por finalidade propor que o sucralfato seja padronizado em hospitais por ser um medicamento seguro, eficaz e barato, como opção de tratamento de feridas em mucosas e pele, pois colabora de forma efetiva na cicatrização e analgesia. PALAVRAS-CHAVE: sucralfato, mucosite oral, radioterapia, afta, úlceras, feridas venosas crônicas e queimaduras. INTRODUÇÃO O sucralfato é um medicamento comercializado no Brasil com o nome comercial de SUCRAFILM® que se apresenta na forma de comprimido mastigável de 1g e na forma de suspensão oral - 2g (200mg/ml). É um fármaco de estrutura complexa que apresenta uma porção de hidróxido de alumínio e outra com a sacarose sulfatada. Num ambiente ácido (pH<4), o sucralfato sofre extensa ligação cruzada, produzindo um polímero viscoso e pegajoso, que adere às células epiteliais e as crateras das úlceras durante até 6h após uma única dose (Brunton et al 1998). Possui moléculas carregadas negativamente que ligam-se a carga positiva de proteínas das mucosas e as células brancas do sangue presentes na base das úlceras (Dollory C. 1999). O sucralfato é um material sintético, insolúvel em água. Foi desenvolvido no início de 1980 como um agente oral mucoprotetor eficaz no tratamento de úlceras gástricas e duodenais (Candelli et al 2000). Também atua como uma barreira física a irritantes e tem atividade antibacteriana. É um agente citoprotetor, seguro e isento de efeitos secundários e por isso é amplamente usado para prevenir doenças do refluxo gástrico-esofágico, gastrite, úlcera péptica, úlcera de estresse, no tratamento de estomatite aftosa recorrente (Delavarian 2006) e em gastrite provocada pela bactéria H. Pylori (Watanabe et al 2004). A maioria dos estudos sobre a aplicação desse medicamento é de uso oral, principalmente em doenças gástricas, onde o pH se torna próximo a 4 (Watanabe et al 2004). O sucralfato é minimamente absorvido a partir do intestino e as pequenas quantidades de dissacarídeo sulfatado que são absorvidos são excretadas principalmente na urina. Embora o mecanismo da capacidade do sucralfato em acelerar a cura de úlceras duodenais não está totalmente definido, sabe-se que o seu efeito protetor se relaciona à ação local. O sucralfato possui maior afinidade pela mucosa ulcerativa do que pela mucosa normal (Kalant et al 1998). Esta afinidade produz um efeito mucoprotetor que estimula a capacidade em aumentar a atividade de prostaglandinas pelo aumento da atividade da ciclooxigenase diretamente liberada a partir da mucosa. A terapia da Helicobacter pylori envolve a combinação de antibióticos e medicamentos antiulcerosos. Estudos em animais mostram que sucralfato potencializa o efeito da terapia com antibióticos nas infecções gástricas, local onde a H. Pylori reside, formando um muco viscoso que retém fisicamente a bactéria e inibe a degradação de antibióticos como a claritromicina, pelo ataque de ácido do estômago e pela secreção de bicarbonato, levando a ação direta de antibióticos contra a H. pylori (Watanabe et al 2004). Nos casos de úlceras, a prevenção e o tratamento da ferida é fator chave para o processo de cicatrização dos tecidos. O sucralfato mostra ainda efeitos antibacteriano, segundo West e colaboradores, contra Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosas e Staphylococcus aureus (West et al 1993). Nas úlceras, o dano à mucosa gástrica é reparado pela ação do sucralfato pelo estímulo aos fatores de crescimento vascular incluindo a angiogênese, que desempenham papel importante na reparação do tecido (Rattan et al 1994) e contribui para o processo de cicatrização atuando nos macrófagos, que possuem função essencial por secretarem fatores de crescimento como fator de crescimento derivado de plaquetas (PGDF), fator de crescimento transformante (TGF), fator de crescimento epidermal (EGF), fator de crescimento tumoral (TNF), fator de crescimento de fibroblastos (FGF) entre outros que liberam citocinas provocando o influxo de neutrófilos, bem como a migração e proliferação de células endoteliais e fibroblastos no local da ferida (Watanabe et al 2004). O sucralfato pode contribuir para o aumento da circulação sanguínea da mucosa favorecendo o processo de cicatrização (Ferraro et al 1984). O sucralfato pode aliviar as úlceras péptica e duodenal, isentas de infecção por H. Pylori, por meio de vários mecanismos como a inativação da pepsina, produzindo uma barreira física na região ulcerativa, alterando a composição péptica do muco, aumentando a secreção de bicarbonato da mucosa gástrica e induzindo a produção local de fator de crescimento epitelial (Gilman et al 1996). Em indivíduos saudáveis, o sucralfato aumenta a produção e secreção de PGE2 e PGF1α no trato gastrointestinal e diminui TXB2 (Dollory C. 1999). Słomiany et al (2000) sugerem que a principal causa do rápido alívio da úlcera pelo sucralfato se relaciona a queda na regulação de interleucina (IL- 4) na mucosa, no início da ulceração. Essa alteração na produção de IL-4 leva a desregulação de endotelina-1 (ET-1) e indução de TNF-, afetando o reparo da mucosa pelo início da apoptose. Foi proposto o uso do sucralfato nos casos de ingestão acidental ou intencional de substâncias químicas corrosivas. A ingestão de agentes químicos pode provocar danos graves para o trato gastrointestinal superior, como perfuração, necrose e até a morte. A longo prazo, pode ser responsável pelo desenvolvimento de carcinoma de esôfago (Gumaste et al 1992). Na esofagite por agente corrosivo, a terapia visa evitar o aparecimento de perfuração, fibrose e formação de estenose. A formação de estenose pode ser evitada por supressão da fibrose e a formação de cicatriz (Demirbilek et al 1994). Na esofagite corrosiva de 1º e 2º graus, a formação de estenose raramente é vista, mas são comuns em esofagite de 3º e 4º graus (Ramasamy e Gumaste 2003). Nas lesões cáusticas, o gastroenterologista pode evitar a formação de estenose na fase precoce com a diminuição da reação inflamatória. A intenção ao usar o sucralfato, nestes casos, é produzir uma adesão à mucosa inflamada e ulcerada e assim evitando o contato entre o esôfago e as paredes opostas, sugerindo que sucralfato poderia funcionar como uma cobertura para o tecido danificado, o que ajudaria no processo de cura com melhores resultados. O sucralfato é fácil de administrar e não apresenta efeito colateral grave, podendo ser utilizado rotineiramente em pacientes que receberam radioterapia de cabeça e pescoço (Cengiz et al 1999), onde as mucosites aparecem com frequência, afetando a qualidade de vida do paciente. A aplicação oral da droga é indicada para ulcerações aftosas oral e mucosites induzidas pela quimioterapia e radioterapia especialmente nos casos de Estomatite Aftosa Recorrente (EAR) (Preeti et al 2011). A EAR é uma enfermidade infecciosa bacteriana ou viral, mas pode também ser causada por traumas na mucosa devido a tratamentos dentários, injeções de anestésico local e lesões causadas pela escova de dente (Preeti et al 2011). As mucosites que aparecem durante o tratamento de câncer por quimioterapia ou radioterapia são uma complicação muito grave onde os hábitos de vida diária dos pacientes ficam comprometidos pelas lesões dolorosas com disfagia, odinofagia e também causa de desnutrição e perda de peso (Demarosi et al 2002). Além do desconforto do paciente, esta complicação faz com que haja redução na dosagem terapêutica indispensável da radiação. O uso de bochechos de solução contendo sucralfato é benéfico, pois diminui a intensidade da mucosite induzida pela radiação e o desconforto oral (Emami et al 2007). Assim, o tratamento com o sucralfato para reduzir os sintomas da mucosite tem como objetivo melhorar a qualidade de vida do paciente (Maddireddy et al 2004). Além do desconforto do paciente, esta complicação faz com que haja redução na dosagem terapêutica indispensável da radiação. A aplicação oral da droga é indicada para ulcerações aftosas oral e mucosites induzidas pela quimioterapia e radioterapia especialmente nos casos de Estomatite Aftosa Recorrente (EAR) (Preeti et al 2011). A patogênese se relaciona basicamente à natureza imunológica, mediada por auto-anticorpos e alterações na imunidade celular (Jurge et al 2006). Melhorar a qualidade de vida desses pacientes tornou-se tão importante quanto a extensão da quantidade de vida. A maioria dos estudos sobre o sucralfato foi realizada com a ingestão oral do presente agente e há poucos estudos sobre a aplicação local de sucralfato. Estudos recentes têm empregado sucralfato como um medicamento tópico para a cura de vários tipos de feridas epiteliais (Masuelli et al 2010). As feridas epiteliais podem ocorrer como consequência de inflamação, infecções, oclusão vascular, danos físicos etc. Após a lesão, o epitélio começa a reparar a lesão envolvendo a coagulação sanguínea e hemostasia, a reação inflamatória e a formação de tecidos de granulação (Kiristy et al 1993). Nas feridas superficiais, a cicatrização é baseada apenas na regeneração epitelial, enquanto que a cicatrização de feridas profundas envolve a matriz extracelular e remodelação de tecidos que conduz à formação do tecido de granulação e de preenchimento do espaço da ferida (Kiritsy et al 1993). Outras ulcerações que tem indicação para o uso do sucralfato são as úlceras venosas que afetam principalmente pessoas idosas. Além da terapia cirúrgica é necessário utilizar algo capaz de fazer o reparo das feridas e consequentemente a regeneração do tecido de forma sistêmica ou tópica. As úlceras venosas são feridas crônicas dos membros inferiores que ficam expostas e por isso estão sujeitas a infecções que produzem mal cheiro e aparência ruim devido as secreções, que levam o indivíduo a se isolar do convívio social, gerando além de um problema de saúde, um problema social grave. O repouso é bastante indicado e por isso a pessoa não consegue trabalhar, acarretando um problema também econômico. Existem diversas causas de úlcera de membros inferiores, dentre elas, o aumento da pressão venosa. A úlcera de origem venosa representa 70% de todas as úlceras dos membros inferiores. Muitos tratamentos foram propostos e cada um com a sua indicação, como por exemplo: repouso com membros elevados, terapia compressiva com faixas elásticas e meias elásticas próprias, cirurgia de ligadura das perfurantes insuficientes, laser, tratamento das varizes tronculares, radiofrequência e outras. O reparo dessas feridas depende de fatores da neoangiogênese e de fatores de ativação da resposta imune local, de fatores de crescimento, incluindo o TGF, fator transformante (TGF-e fator de crescimento de fibroblastos básico (FCF-) um potente fator angiogênico (Folkman 1987), sendo mitogênico e quimiotático para fibroblastos e células endoteliais (Terranova et al 1985). Algumas drogas que atuam nesse reparo e no processo de regeneração, tem mostrado ser agentes promissores e úteis para o tratamento de úlceras venosas crônicas, como é o caso do sucralfato. A variedade com que se pode aplicar sucralfato e obter sucesso no tratamento tem levado ao aparecimento dos mais diversos usos como em estudos recentes que mostram a eficácia do uso de sucralfato tópico a 20% em assaduras, um incômodo na vida de bebês que utilizam fraldas. A dermatite irritativa da fralda tipicamente ocorre em superfícies convexas da pele que estão em contato direto com a fralda, esses locais incluem nádegas, abdômen, genitália e parte superior das coxas (Atherton, 2004). A melhor maneira de tratar essas irritações é eliminar o contato direto com a urina e fezes. A etiologia exata da dermatite das fraldas ainda não é bem conhecida, podendo estar relacionada a vários fatores como aumento da hidratação da pele favorecendo um ambiente úmido, a exposição a substâncias químicas irritantes e atrito da própria fralda. Os irritantes químicos primários na área da fralda são derivados da ação sinérgica de urina e bactérias fecais que produzem a enzima urease, a qual interage com a urina para aumentar o nível do pH sob a fralda a 6,7. Elevados níveis de pH ativam as enzimas fecais (protease e lipase) que irritam diretamente a pele causando erupção inflamatória, e uma vez inflamada a pele fica susceptível ao ataque de microrganismos como Candida albicans, que piora a gravidade da irritação. O creme tópico contendo sucralfato foi testado em queimaduras de segundo e terceiro graus. As queimaduras são lesões dinâmicas que podem se tornar lesões profundas ao longo do tempo e quando profundas, prolongam o tempo de cura que muitas vezes resultam em cicatrizes e contraturas significativas (Singer et al 2011). As queimaduras mais comuns resultam da exposição ao calor e aos produtos químicos. A cura das queirmaduras é dividida em quatro componentes principais: a formação de tecido de granulação, a deposição de colágeno, a re-epitelização e contração (Hassanadeh e Ghorbani 2003). A infecção é uma das complicações mais comuns nas queimaduras, sendo responsável pela maioria dos casos de morte (Hassanzadeh e Mehdikanloo 2004). As substâncias antimicrobianas tópicas utilizadas nas queimaduras, como sulfadiazina de prata ou iodo povidine retardam a cicatrização de feridas (Banati et al 2001). Sulfadiazina de prata a 1% é um agente utilizado contra a maioria das queimaduras (Khorasan et al 2008) por ser considerado um agente bactericida ativo contra bactérias gram positivas e gram negativas (McQuestion 2011) e com baixa toxicidade (Durmush et al 2009), embora parece atrasar a cicatrização de feridas (Atiyeh et al 2007), pois prejudica a atividade dos fibroblastos e a proliferação epitelial, sendo esta uma propriedade positiva, característica nas formulações contendo sucralfato. O objetivo desta revisão sistemática de literatura é divulgar a ação analgésica e cicatrizante do sucralfato para o equilibrio do micro-ambiente de diversos tipos de úlceras. Assim, esse estudo justifica-se pela relevância do tema para a clínica médica por se entender que no Brasil poucas unidades de saúde padronizaram esta substância em intervenções apropriadas e que há bases científicas capazes de mostrar que o sucralfato pode ser utilizado com o intuito de minimizar as consequências de vários tipos de ulcerações. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão sistematizada de literatura, sem meta-análise. Realizouse um levantamento de artigos científicos que abordavam o tema nas seguintes bases de dados na internet: Bireme, Medline, Portal Capes, Free Medical Journal, SciELO, Medscape, no período de 1984 a 2013. Foram selecionados estudos dos últimos 29 anos, por se considerar uma fonte de literatura científica que faz referência aos fundamentos básicos em datas anteriores sobre o tema. Os seguintes descritores foram empregados na busca das publicações: sucralfate, oral mucositis, radiotherapy, aphtae, chronic venous, ulcers, wounds, burns, sucralfato, mucosite oral, radioterapia, afta, úlceras, feridas venosas crônicas e queimaduras. Foram recuperados 43 artigos científicos de periódicos para análise neste estudo, procedendo-se então à leitura exploratória de todo o material. Dos artigos mencionados, 7 não foram considerados, por não citarem o sucralfato com dados suficientes para se correlacionarem com o título proposto. Assim, foram selecionados para análise 36 estudos referentes ao período de 1984 a 2013, no idioma inglês, publicados em periódicos internacionais. Durante a leitura, foram consideradas as informações contidas nos textos, sua significância estatística, sua consistência e os dados apresentados pelos autores. Os critérios de exclusão abrangem os estudos que não obedecem aos critérios de significância (importância que o artigo tem para o tema em estudo, para a abordagem terapêutica como de importância maior) e também todos os artigos pagos. DISCUSSÃO Sucralfato tem sido usado topicamente a fim reduzir a dor e melhorar a cicatrização de feridas ou ulcerações. O sucralfato demonstrou possuir efeitos analgésicos em várias condições. As preparações tópicas de sucralfato (creme, suspensão e enxaguatório bucal) foram testadas paraa redução da dor de várias condições, incluindo aftas orais, mucosite induzida por radiação, reações cutâneas eritematosas de radiação, queimaduras de segundo e terceiro graus (Delavarian et al 2007e Gupta et al 2011). Para avaliar o efeito do sucralfato em resposta a dor em pacientes que fizeram cirurgia de hemorroidas, Ala e colaboradores (2013) mostraram que pacientes tratados com sucralfato experimentaram significativamente menos dor nas 24 e 48 horas após a cirurgia do que o grupo tratado com placebo. Nas horas anteriores não houve diferença significativa na intensidade da dor entre os dois grupos. O protocolo de analgésicos seguiu o mesmo padrão, mostrando uma redução significativa no grupo sucralfato nas 24 ª e 48ªh em relação ao grupo placebo, mas antes disso não houve diferença estatística no consumo de analgésico entre os dois grupos, o que confirma os relatos de intensidade da dor conforme uso subjetivo de escala analógica visual dos pacientes, ou seja, foi necessário adicionar analgésicos de outras classes concomitantemente como opióides ou AINEs (antinflamatórios não esteroidais) durante as primeiras 24 horas pós-operatórias no controle da dor no caso de cirurgia de hemorroidas, pois a intensidade de dor nesses casos é bastante acentuada (Ala et al 2013). Delavarian e colaboradores (2007) mostraram que em poucos dias o sucralfato trouxe alívio da dor em 59% dos pacientes com aftas, tratados com sucralfato em relação a 14% dos pacientes tratados no grupo controle. Durante os primeiros 7 dias de tratamento, o número de úlceras reduziu em ambos os grupos, que foi significativamente maior no grupo tratado. Uma suspensão a 10% de sucralfato, portanto traz alívio da dor acelerando o desaparecimento de aftosas e a sua utilização é recomendada como um adjuvante para o tratamento da EAR. Epstein e colaboradores mostraram que o tratamento profilático com o enxaguamento bucal com uma solução de sucralfato não impediu a mucosite ulcerativa, mas reduziu a experiência de dor durante a radiação (Epstein et al 1994). Segundo Emami et al 2007 , o sucralfato pode completar o tratamento de radiação, sem qualquer necessidade de terapia medicamentosa de rotina. Estes resultados são consistentes com Cengiz, onde num estudo relatou que houve incidência menor de mucosite em pacientes usando sucralfato na forma de enxaguatório bucal. (Epstein et al 1994). Sucralfato apresenta um efeito muco protetor onde Tytgat e colaboradores afirmam que moléculas contedo sucralfato polimerizadas tem 6 a 7 vezes mais afinidade pela mucosa ulcerada do que pela mucosa normal (Tytgat et al 1984). Em outro estudo, Roark e colaboradores relataram que o sucralfato adere ao tecido ulcerado quatro vezes mais que na mucosa normal. Além disso, nos procedimentos endoscópicos realizados duas horas após a administração de sucralfato em pacientes com úlceras esofágicas de qualquer etiologia, observou-se a cobertura da mucosa ulcerada (Roark 1984). Nos casos de esofagite corrosiva, Reddye colaboradoes (1988) mostraram que o sucralfato administrado quatro vezes ao dia, em esofagite de 2ª grau impediu a formação de estenose. Temir e colaboradores (2005) mostraram significante resultado na prevenção da formação de estenose nas lesões cáusticas com a administração de sucralfato duas vezes por dia, mas informaram sobre o grau das lesões cáusticas. (Temir et al 2005). Gümürdülü e colaboradores, num estudo randomizado, observaram que sucralfato aderiu à mucosa inflamada e ulcerada e evitou o contato entre as paredes opostas do esôfago agindo como uma cobertura para o tecido danificado, assim os autores recomendam uma terapia intensiva com altas doses de sucralfato para graus avançados de esofagite para melhorar a cicatrização da mucosa e evitar a formação de estenose, o que contribui para o processo de cura com melhores resultados (Gümürdülü et al 2010). Sucralfato tópico representa uma forma segura, barata e eficaz em intervenções terapêuticas. Gupta e colaboradores observaram o uso de sucralfato na forma de pomada usando vaselina como veículo na cicatrização da mucosa e para proporcionar analgesia durante o tratamento de feridas e em pacientes submetidos a fistulotomia anal (Gupta et al 2008). Burkhart e colaboradores (2009) compararam os efeitos de sucralfato a 7% entre formulações com óxido de zinco a 20% e cetoconazol a 1%. Sucralfato mostrou ser mais benéfico em pacientes com intertrigo candidiásico, uma doença de pele causada pelo mesmo fungo que causa a candidíase. A formulação contendo sucralfato não causou irritação na pele, com boa tolerância e benefício terapêutico. Ainda neste estudo os autores sugerem que variações na formulação contendo sucralfato pode ser usado para uma gama de entidades dermatológicas com feridas, fissuras e úlceras. No tratamento da dermatite irritativa crônica, o sucralfato a 4% na forma de creme aquoso foi mais eficaz do que os métodos tradicionais como o uso de clotrimazol a 1% (Canesten®) e preparações com óxido de zinco (Markham et al 2000). O sucralfato atua como uma barreira física a agentes irritantes e tem atividade antibacteriana. A droga adere às proteínas epiteliais no local da úlcera formando um revestimento protetor. Sua ação se baseia também no uso tópico sobre a epitelização da ferida por meio dos fatores de crescimento epidérmico e de crescimento de fibroblastos. Ainda segundo Negar e colaboradores, num estudo comparativo entre sucralfato e óxido de zinco, nos casos de dermatite irritativa das fraldas, mostrou que o sucralfato tópico a 20% poderia curar num curto período de tempo em comparação ao óxido de zinco, que tem sido mais comumente utilizado por um longo período de tempo (Negar et al 2012). O sucralfato é amplamente utilizado no tratamento de úlceras gastrointestinais, embora seu mecanismo de ação ainda é pouco conhecido, mas sabe-se que a droga se liga ao tecido ulcerado e forma uma barreira contra os ácidos reduzindo a sua secreção. Induz a secreção de fibroblastos da derme, queratinócitos e tecido de granulação, além de estimular a produção de muco. Sua capacidade de induzir fator de crescimento da pele desempenha papel fundamental na cura de feridas. Ativa o sistema tanto na produção de óxido nítrico como as prostaglandinas que colaboram na ação protetora desta droga (Ress W. D. 1991). Tumino e colaboradores (2008) avaliaram a eficácia, segurança e tolerabilidade do sucralfato tópico, na cicatrização de úlceras venosas crônicas na perna onde os resultados indicaram que a aplicação diária de sucralfato tópico para úlceras não infectadas, durante um período médio de 42,0 dias, conduziu a cura completa em 95,6% dos pacientes, em comparação com apenas 10,9% dos casos, com uma correspondência de placebo. Uma melhora significativa foi obtida no grupo de pacientes tratados com sucralfato quanto à inflamação do tecido local, bem como dor e ardor, e, consequentemente, o tamanho da úlcera e a evolução do tecido de granulação. Os achados foram confirmados pela análise morfológica de biópsias obtidas antes e após o tratamento dos pacientes selecionados. Usando análise ultraestrutural, foi demonstrado que a aplicação tópica do fármaco era capaz de afetar a neoangiogênese, aumentar a contração da ferida, promover a re-epitelização da área da ferida e melhorando a inflamação do tecido local, o ardor e a dor. No geral, os resultados indicaram que os pacientes com úlceras venosas crônicas mostraram melhora após o uso de sucralfato tópico (Tumino et al 2008). Banati e colaboradores (2001) afirmam ainda que sucralfato pode ser usado em casos de queimaduras de segundo e terceiro graus na forma de creme tópico promovendo uma rápida epitelização com efeitos colaterais mínimos. O estudo foi realizado em duas fases. A primeira fase, composta por pacientes tratados com creme de sucralfato, enquanto que na segunda fase os pacientes foram tratados com outros agentes antimicrobianos tópicos. A maioria dos pacientes apresentaram queimaduras de segundo grau e outros, queimaduras de terceiro grau. Na segunda fase, um grupo com queimaduras foi tratado com creme de sucralfato, enquanto um outro grupo foi tratado com uma pomada de placebo, contendo os excipientes utilizados na preparação do creme de sucralfato, mas sem sucralfato. Na primeira fase, verificou-se que o período de epitelização de queimaduras de segundo grau no grupo de estudo tratados com creme de sucralfato foi de 18,8 dias, em comparação com 24,6 dias com outros agentes tópicos. No estudo duplo-cego, a cura também nas áreas tratadas com sucralfato foi mais rápida do que os tratados com a pomada de placebo. Os estudos histopatológicos também foram realizados em 10 pacientes de fase I do estudo. O creme de sucralfato promove uma rápida epitelização de queimaduras de segundo graus em qualquer reação local, como prurido, apesar do uso a longo prazo nos pacientes tratados, além disso a pomada é de menor custo quando comparada com os outros agentes tópicos utilizados, podendo ser mais um agente incluído no arsenal de especialidades para os cuidados de queimaduras (Banatti et al 2001). Segundo Hassanzadeh e colaboradores o uso do sucralfato em queimaduras comparado a sulfadiazina de prata e brassica oleracea, mostrou que a sulfadiazina de prata não acelerou a cicatrização, mas começou a reduzir a inflamação após a segunda semana e mostrou efeito positivo no uso de sucralfao e brassica oleracea na repitelização e contração da ferida diminuindo seu tamanho, sugerindo que ambos possam ser uma boa escolha no tratamento de queimaduras (Hassanzadeh et al 2013). CONCLUSÃO O presente estudo indicou que sucralfato é um medicamento seguro, que traz alívio à dor e cicatrização em processos onde ocorrem ulcerações por várias etiologias onde a mucosa normal é rompida, sendo necessários mais estudos sobre a aplicação local deste agente visto que a maioria dos estudos sobre o sucralfato foi realizada com a ingestão oral. Diante dos beneficios aqui apresentados sugere-se, que o sucralfato, dentre as estratégias de tratamento, pode ser padronizado em hospitais para usos diversos como em assaduras da pele, queimaduras, úlceras venosas, mucosites, estomatite aftosa recorrente e ingestão de substâncias químicas corrosivas por se tratar de uma substância sem efeito tóxico, de fácil aplicação e baixo custo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ala, S., Saeedi, M., Eshghi, F., Rafati, M., Hejazi, V., Hadianamrei, R. 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