cos, dos quais dispomos de uma gama enorme de opções, cada uma com diferentes indicações, dosagens, efeitos colaterais e alterações farmacocinéticas. Os benzodiazepínicos são usados no idoso principalmente como agentes ansiolíticos, mas também podem ser utilizados como anticonvulsivantes, relaxantes musculares e sedativoslhipn6ticos. Como regra geral, essas drogas não devem ser utilizadas por períodos superiores a 6 meses sem que sua administração seja descontinuada, a não ser como anticonvulsivantes. Quando da suspensão dos benzodiazepínicos em idosos, especialmente em idosos frágeis, deve ser feita uma redução progressiva da dose, pois a retirada abrupta da medicação invariavelmente provoca reações adversas como ansiedade, irritabilidade e mesmo quadros sincopais. Dependendo do agente específico, os benzodiazepínicos podem ou não ter metab61itos ativos com significado clínico importante. Determinados agentes como o diazeparn apresentam sérios problemas na utilização em idosos porque, além de serem lipossolúveis com conseqüente maior tempo de exposição à droga e meia-vida prolongada, apresentam como metab61ito ativo o desmetildiazepam, o qual tem meia-vida que chega segundo alguns autores a 200 horas, provocando efeito cumulativo importante e conseqüentemente reações adversas severas. Outro exemplo com características semelhantes pode ser constatado na administração do flurazepam, também com meia-vida elevada, o mesmo acontecendo com seu rnetabólito ativo, o desalquiflurazepam também com meiavida extremamente elevada, caracteristicamente nos idosos do sexo masculino. Alguns benzodiazepínicos como alprazolam, lorazepam, midazolam, oxazepam, comprovadamente não apresentam metabólitos ativos com significado clínico, além de possuírem meias-vidas bem inferiores às do diazepam e flurazepam. Essas drogas são portanto mais indicadas na terapêutica dos indivíduos idosos, podendo ser utilizadas com maior segurança. Mais informações sobre administração de drogas psicoati vas no idoso encontram-se no capítulo correspondente na Secção de Psiquiatria. Cada agente antiinflamat6rio selecionado para administração às constantes afecções dolorosas a que esses indivíduos estão submetidos, apresenta vantagens específicas no seu uso e desvantagens ocasionais, sendo a úlcera péptica e as nefropatias as complicações mais comumente encontradas em idosos. Os distúrbios gastrintestinais podem ocorrer em qualquer momento após iniciado o tratamento, normalmente após uso prolongado, tomando necessária a suspensão da droga. A nefropatia causada por essas drogas pode resultar na perda assintomática e progressiva da função renal, já previamente comprometida no processo de senescência, provavelmente pela diminuição do fluxo renal, secundário à redução da síntese de prostaglandina. Não nos deteremos na indicação de determinado grupo de AINH, já que a escolha específica depende da afecção a ser tratada. Citaremos apenas dois exemplos de drogas freqüentemente utilizadas e que devem ser, sempre que possível, evitadas em pacientes idosos. A fenilbutazona, uma pirazolona, é uma droga de utilização freqüente no nosso meio, tendo como complicação freqüente em idosos uma tendência a retenção hídrica significativamente maior que no adulto jovem, incorrendo em complicações graves, já que esses indivíduos com freqüência são portadores de patologias associadas como insuficiência cardíaca e hipertensão arterial, as quais não raramente podem piorar quando da utilização dessa droga. Outra droga que deve ter sua utilização contra-indicada em idosos é a indometacina, a qual pode ser responsável por quadros de "deliriurn" (estado confusional agudo), sendo também responsabilizada segundo alguns trabalhos por uma incidência maior de quedas na terceira idade. DROGAS PSICOA TIV AS As drogas nistradas em distúrbios de diária. Dentre psicoativas devem ser criteriosamente admiidosos, já que as queixas de ansiedade e os sono referidos são uma constante na clínica essas drogas destacam-se os benzodiazepíni- EFEITOS METABÓLICOS Orsine Valente E MANUSEIO CLÍNICO DOS CORTICOSTERÓIDES Duilio R. Sustovich Os glicocortic6ides são definidos como agentes esteróides possuindo ação antiinflamat6ria e imunossupressora, que podem ser utilizados em inúmeras doenças na prática médica diária. O glicocorticóide em seres humanos é o cortisol, o qual é usado como referência padrão. Os maiores níveis ocorrem durante o sono antes de acordar, e os menores níveis à noite, antes do início do sono. O cortisol é secretado intermitentemente através do dia por períodos que duram somente uns poucos minutos. Entre estes pulsos de secreção, o córtex adrenal pode não secretar qualquer cortisol por minutos a horas. A maior parte do cortisol (75%) é transportada no sangue por uma globulina ligadora do cortisol (CBG); 15% é ligado à albumina e os restantes 10% são cortisol livre. Alvaro N. Atallah Algumas situações como gravidez, uso de pílula anticoncepcional ou tratamento com estrógeno estimulam a produção de CBG pelo fígado, resultando em altas concentrações plasmáticas de cortisol sem hipercorticalismo funcional. O cortisol é metabolizado no fígado, sendo que apenas I % do cortisol é excretado na urina na forma ativa. Através da introdução de um grupo metila, hidroxila, ou com flúor (F) na posição 9 alfa da cortisona pode-se produzir por meios sintéticos corticóides com diferentes potências antiinflamat6rias e retentoras de sódio. Devido ao maior uso do cortic6ide para doenças, foi conveniente produzir corticoster6ides com grande potência antiinflamatória e menor ati vidade mineralocorticóide. De utilidade prática é saber as doses equivalentes e a potência dos principais corticóides. (Tabela I) 1191 TABELA 1 Potência Relativa dos Principais Esteróides Hidrocortisona Prednisona Dexametasona Metilprednisona PRINCIPAIS Atividade glicocorticóide Atividade rnineralocorticóide I 4 30 5 I 0,7 2 0,5 Equivalência mg% 3- 20 5 0,75 4 Efeito do Corticóide no Eixo Hipotálamo - Pituitária Adrenal (HPA): A duração da inibição do eixo HPA depende da preparação do esteróide usado, da dose administrada, do tempo de ingestão e se o corticóide é dado em uma ou duas doses diárias. Há uma correlação direta entre a potência antiinflarnatória e o grau de inibição produzido pelo esteróide. Neste sentido, o poder de inibição do eixo HPA segue a seqüência: dexametasona -c- prednisona -> hidrocortisona. A administração de doses terapêuticas de glicocorticóides leva à atrofia adrenocortical dentro de uma semana. A dose supressora do ACTH é qualquer dose maior do que a quantidade de secreção diária normal de cortisol (30 mgl dia) que é o equivalente a 7,5 mg de prednisona. Se esta dose de corticóide é dada VO ou EV, a supressão do ACTH dura somente algumas horas porque o cortisol é rapidamente metabolizado. Se no entanto esta mesma dose é feita intra-articular e ocorre liberação lenta do hormônio, a supressão pode durar muitos dias. A supressão do eixo HPA é maior quando além da dose da manhã o paciente fez uso de uma dose à noite, que exerce grande ação supressora do ACTH. Com doses menores do que 7,5 mg de prednisona/dia a grande maioria dos pacientes mantém o eixo HP A responsivo. A maioria dos casos na prática médica recuperam o eixo em poucos dias seguindo a retirada corticóide ou mesmo durante o curso da retirada se ela é gradual. Ocasionalmente se há supressão completa por longo período, a recuperação pode ser retardada por semanas ou mesmo meses. EFEITOS DO CORTlCÓIDE Metabolismo dos Carboidratos: Os corticosteróides produzem uma tendência à hiperglicemia principalmente devido ao aumento da gliconeogênese hepática e antagonismo periférico à ação da insulina resultando em diminuição da captação de glicose no músculo e tecido gorduroso. Classicamente os glicocorticóides podem induzir o aparecimento de diabetes, que é considerado ser moderado, estável, usualmente sem cetose, relacionado com a dose e a duração da administração. O diabetes na maioria das vezes é reversível com a parada da administração do corticóide, embora os indivíduos com predisposição genética possam permanecer diabéticos. Metabolismo Protéico: O corticóide produz redução da massa muscular por inibição da síntese protéica e aumento do catabolismo protéico com balanço nitrogenado negativo. Metabolismo Lipidico: Terapêutica com altas doses de corticóide podem provocar aumento do VLDL e LDL. Efeitos no Crescimento: Crianças que recebem escesso de corticosteróide exibem atraso no crescimento. Isto ocorre por efeito direto no esqueleto, diminuição da absorção de cálcio no intestino e efeito antianabólico e catabólico nas proteínas dos tecidos periféricos. Além disso, os corticóides interferem com a secreção de GH e podem antagonizar diretamente algumas de suas ações periféricas. Tratamento por Longo Período: Antes de iniciarmos tratamento com corticóide, devemos afastar a presença de diabetes, hipertensão arterial, doença cardíaca, tuberculose pulmonar, que poderiam piorar com o uso de corticóide. É difícil julgar com precisão a dose correta de corticóide nas respectivas doenças. No entanto, a dose de início deve ser a menor dose que seria esperado produzir uma melhora e gradualmente aumentar a dose se necessário. Efeito no Na, K e Metabolismo da Água: Os corticóides promovem aumento da reabsorção de Na+ e excreção de K+ pelo rim. Altas doses por tempo prolongado podem produzir alcalose metabólica hipocalêmica. Os glicocorticóides aumentam o "clearance" de água livre devido a um efeito direto no túbulo renal e a um aumento na taxa de filtração glomerular. Os corticóides podem também inibir a secreção de hormônio antidiurético (ADH), mas não se sabe se diretamente ou por algum mecanismo indireto. Retirada da Terapêutica Corticóide: Quando se reduz abruptamente ou se retira totalmente os corticóides em pacientes que estão fazendo uso há muitos meses ou anos, as seguintes situações podem acontecer: I - Evidência bioquímica de supressão do eixo HPA com sintomas de insuficiência supra-renal. 2 - Recorrência da doença pelo qual os corticóides foram dados. 3 - Sintomas de dependência corticóide tanto física quanto psicológica com eixo HPA normal e provas laboratoriais não mostrando recorrência da doença de base. 4 - Evidência bioquímica de supressão do eixo HPA sem sintomas e sem recorrência da doença. Após a retirada da terapêutica corticóide em pacientes que fazem uso desta droga há muitos meses ou anos o tempo de restauração do eixo hipotálarno-pituitária-adrenal (HPA) pode ser dividido em cinco estágios: I - No 1° mês os níveis de ACTH e cortisol estão diminuídos em relação aos valores normais. 2 - No segundo mês após a retirada, o ACTH retoma ao normal mas o cortisol permanece baixo. Efeito no Metabolismo do Cálcio: Os corticóides diminuem a absorção intestinal e aumentam a excreção fecal de cálcio, devido ao efeito antivitamina D a nível intestinal. No rim aumentam o "clearance" urinário de cálcio devido à combinação de aumento da filtração glomerular e diminuída reabsorção tubular. Corticóide e Resposta Inflamatória: Os corticóides são potentes agentes antiinflamatórios e isto se deve principalmente: I 2 - tação, aumento da permeabilidade capilar e dor. As cininas têm origem a partir do cininogênio por ação da enzima calicreína. Os corticóides parecem atuar inibindo' a ativação da calicreína. Inibem a proliferação de fibroblastos e reduzem a produção de colágeno. Ao efeito de estabilização ne membrana do lisossomo. Inibição da formação de cininas que causam vasodila- 1192 3- Do torr sol 4- Do sol ele 5 - Ap. eOl Yelocid, retirada sido dali como o Qual por 2 a . e o rest No, meses. chegar alcança da total normal os sim, Qu, tos aru na aSIl1 dose d. Perda do tec te fica estar' PaI/i!. após I do alt nódul Conju ença bilate é rãpi 3- 4 - 5- Do 2° ao 5° mês após a retirada, o nível de ACTH se torna supranormal num esforço para aumentar o cortisol que ainda permanece baixo. Do 5° ao 9° mês após a retirada do corticóide o cortisol normaliza, mas os níveis de ACTH permanecem elevados em di versos pacientes. Após nove meses o cortisol e o ACTH se normalizam completamente. Pseudo-reumatismo esteráide: A síndrome consiste de anorexia, náuseas, letargia, dor articular e dor e fraqueza muscular. O cortisol plasmático é usualmente normal. A causa desta síndrome é provavelmente relacionada à dependência dos tecidos a altas doses de corticóide. Os sintomas desaparecem em poucos dias, mas, se persistirem, podem ser aliviados por aumento da dose do corticóide e posteriormente retirada mais gradual. Velocidade de Retirada Corticáide: Abrupta redução ou retirada pode ser realizada quando corticosteróides têm sido dados, em altas doses por somente poucos dias, tais como o tratamento do choque ou uso em cirurgias. Quando o paciente faz uso de prednisona 40 a 60 mg por 2 a 4 semanas, pode-se reduzir a 15 mg em 4 a 5 dias e o restante em uma semana. Nos pacientes que fazem uso da droga por vários meses, temos utilizado reduzir 2,5 mg por dia até a dose chegar a 15 mg. Em seguida reduzimos I mg por dia até alcançar 5 mg. Finalmente I mg por semana até a retirada total. Em geral consegue-se o retorno do eixo HPA ao normal na maioria dos pacientes impedindo com isto que os sintomas de retirada corticóide ocorram. Quando o tratamento com corticóide se faz por mu itos anos em doenças como a artrite reumatóide, LES ou na asma crônica, os últimos 5 mg devem ser retirados na dose de I mg por mês. EFEITOS DA RETIRADA PULSOTERAPIA Em algumas situações clínicas de doenças auto-imunes, como no LES ou rejeição a transplantes que não respondem a doses imunossupressoras clássicas e que estão evoluindo com perda da função renal ou' em casos de anemia hernolftica auto-imune, que, apesar da imunossupressão, evolui com grave anemia, deve-se avaliar possibilidade de pulsoterapia. O corticóide usado para isto é a metilprednisona na dose de I g EV/dia diluído em 100 ml de soro glicosado por um período de I a 5 dias dependendo da doença de base e da resposta apresentada pelo paciente. PROCEDIMENTOS QUE DIMINUEM OS EFEITOS COLA TERAIS Como para todos os medicamentos que são prescritos, a indicação da terapêutica corticóide deve ser muito bem avaliada em relação ao seu custo-benefício. Os efeitos colaterais incluindo a supressão do eixo HPA podem ser rninimizados com as seguintes condutas: CORTICÓIDE Perda de peso: Isto é devido à diminuição do apetite e do tecido gorduroso. Com isto freqüentemente o paciente fica com a aparência envelhecida e/ou preocupado de estar sofrendo de outra doença. I 2 - .[ I Paniculite: Dor e nódulos pruriginosos têm sido descritos após retirada corticóide, usualmente em pacientes tomando altas doses e por longo tempo de administração. Os nódulos desaparecem espontaneamente em poucos dias. 3 4 - Usar as menores doses possíveis pensadas para bloquear a doença de base. Usar somente as dose da manhã, evitando a dose noturna, que exerce uma maior atividade supressora do eixo HPA. Usar dose única em dias alternados. Evitar uso de dexametasona Apesar destas sugestões, achamos que em terapêutica não existem regras pré-estabelecidas e que em cada caso o médico usando bom senso e após cuidadosa avaliação tomará a melhor conduta para o paciente. Conjuntivite: Alguns pacientes sem evidência prévia de doença ocular pode desenvolver uma conjuntivite transitória bilateral com a retirada corticóide, principalmente quando ela é rápida. Este quadro evoluiu para a cura sem tratamento. 1193