761 - BSGPXXII42

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-
CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DO TROÇO BALAMA,
-MONTEPUEZ (MOÇAMBIQUE) DO CINTURAO OROGENICO
DO LÚRIO (<<LÚRIO BELT»)
por
RUI S. AFONSO
*
RESUMO
o presente trabalho descreve as formações geológicas de área típica do Cinturão do Lúrio, uma das subprovíncias tectónicas
do «Mozambique Belt». Tenta-se correlacionar as diferentes unidades litostratigráficas cartografadas com as unidades que caracterizam
as quatro fases do <<Lúrio Belt», a saber: 1"-metavulcânica, 1335:1: 60 m. a.; 2"-chafnoquítica à volta de 1000 m.a.; 3a -855:1: 38 m. a.;
4 a - fase de migmatização cuja idade é próxima de 700 m. a.
ABSTRACT
This note reports the typical area of Lúrio Belt, one of the tectonic subprovince of Mozambique Belt. Several lithostratigraphic units are mapped and correlated with four phases ofLúrio Belt, such as: l.st -1335:1:60 m. y. ;2.nd-looo m. y.; 3.rd-855 :1:38
m.y.; 4.th-7oom.y.
1- CONSIDERAÇÕES GERAIS
A área estudada compreendida entre os meridianos 38° 30' e 39° E e os paralelos 13° e 13° 30' S,
fica situada a norte de Moçambique (fig. 1) e equivale a uma superfície de cerca de 3 000 km~. Abrange
parte do concelho de Balama e de Morola e ainda
parte do distrito de Montepuez cuja capital fica
no extremo NE da área.
A cartografia geológica desta área foi efectuada
em 1973 através da fotointerpretação e trabalhos de
campo na escala 1/50000 e reduzida para a escala
da carta (fig. 2).
A região cartografada comporta unidades geológicas do Cinturão do Lúrio (<<Lúrio Belt»). Este
representa uma subprovíncia do «Mozambique Belt»,
cinturão móvel (<<mobile belt») contendo rochas do
soco, nomeadamente as do Bulavaiano, Eburniano e
Quibariano.
A finalidade deste trabalho é tentar enquadrar as
unidades litostratigráficas a seguir referidas nas
diferentes fases do Cinturão Orogénico do Lúrio,
tomando em consideração os trabalhos efectuados
pelos geólogos estrangeiros nos países vizinhos e
pelos geólogos portugueses que trabalharam em
Moçambique, nomeadamente J. ARAÚJO (1976) e
R. AFONSO (1976).
Segue-se a sucessão geológica da área, de baixo
para cima:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
Série de rochas verdes, com intercalações de
metassedimentos;
Dobramentos com eixos E-O e metamorfismo;
Série calco magnesiana : gnaisse piroxénico
com intercalações de calcário e quartzito;
Série grafitosa;
Série granulítica;
Série charnoquítica: gnaisse enderbítico e
gnaisse charnoquítico;
Dobramento NE-SO e metamorfismo;
Gnaisse pegmatóide;
Intrusão de granito porfiróide;
Gnaisse migmatítico;
Dobramento E-O e metamorfismo;
Instalação do Complexo anortosítico;
Dobramento NE-SO e falhamento N-S;
Intrusão de diques de piroxenitos e de anfibolitos.
• Laboratório de Estudos Petrológicos e Paleontológicos
do Ultramar.
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19
I. 1.-SÉRIE DE ROCHAS VERDES
Deve tratar-se de fácies eugeossinclinal com preenchimentos de rochas vulcânicas básicas e ultrabásicas
bastante dobradas e com intercalações de sedimentos
do tipo «flysch» e molasso.
As rochas vulcânicas são geralmente esverdeadas,
com tons variando de verde escuro a cinzento esverdeado. Por esta· razão designou-se a série pelo nome
de rochas verdes.
A sequência litológica da série é a que se segue
de baixo para cima:
1. Rochas verdes;
2. Gnaisse anfibólico e biotítico;
3. Filitos;
4. Calcários metamórficos;
5. Quartzitos;
6. Conglomerados.
I. 1.1- Rochas verdes
As rochas verdes são antigas lavas básicas e
ultrabásicas do fundo do eugeossinclinal. Estas lavas
estão representadas na área por anfibolitos feldspatizados e xistos verdes. Estes são cloríticos e actinolíticos.
As rochas verdes constituem uma unidade fundamental e predominante. Ocupa a base da série e
estima-se que a espessura seja superior a 3 000 m.
No que diz respeito à estrutura, as rochas verdes
apresentam dobramentos com eixos próximos de
E-O, com flancos quase verticais com vergência para
norte. As dobras são muito apertadas e arqueadas,
possivelmente devido às intrusões graníticas que cortam e marginam a mancha das rochas em questão.
O metamorfismo que caracteriza as rochas verdes
é o de fácies de «greenchist». Este evoluiu para o grau
mais alto, em vários locais, devido à instalação dos
granitos e piroxenitos.
eixos orientados na direcção prOXlma de E-O. Os
eixos das dobras estão arqueados devido à intrusão
do granito. Além destas dobras megascópicas, observam-se também outras, à escala microscópica o que
denota esforços dinâmicos secundários.
I. 1. 4. - Calcádos
Os calcários encontram-se com pouca frequência.
Ocorrem sob forma de lentÍculas com espessuras de
cerca de 10 m, não representáveis à escala da carta.
São intercalados por finos horizontes de quartzitos.
Trata-se de calcário de grão fino, muito impuro,
com actinolite, clorite e minerais ferruginosos.
As bancadas têm direcção de cerca de N 60 0 E,
com inclinação para sudeste.
I. 1. 5. - Quartzitos ferruginosos
Os quartzitos ocorrem em estreitas bandas intercaladas nas rochas verdes. Observaram-se dois tipos:
quartzitos castanhos e quartzitos claros.
Os quartzitos castanhos são ricos em material
ferruginoso; nos de tons mais escuros há presença de
minerais de manganês. A espessura é de ordem de
dezena de metros.
Os quartzitos claros são pobres em minerais
ferruginosos e ocorrem em delgadas lentículas.
I. 1. 6. - Conglomerados
.
Os conglomerados apresentam-se em estreita
faixa com a direcção ENE-OSO, ao norte do monte
Curri.
São formados por calhaus achatados e elípticos,
com o eixo maior orientado na mesma direcção da
bancada. Os calhaus são geralmente de gnaisse quarzítico e estão ligados por matriz de quartzo fino,
sericite, biotite, calcite e material ferruginoso.
I. 1. 2. - Gnaisse anfibólico e biotítico
Este gnaisse é leucocrático a leucomesocrático
com pequena percentagem de máficos. Estes são a
hornblenda e a biotite em quantidades variáveis. Dos
félsicos destaca-se o quartzo, às vezes em formas
corroídas, a microclina, a ortose, a plagioclase
(An36 %) e a moscovite.
No que diz respeito à textura, as rochas são
granoblásticas e, às vezes, porfiroblásticas.
Os referidos gnaisses ocorrem em bandas arqueadas, intercaladas nas rochas verdes, com foliação
paralela à rocha encaixante.
I. 2. - SÉRIE CALCOMAGNESIANA
A série calco magnesiana estende-se desde o
monte Curri até Montepuez, com direcção predominante NE-SO. É essencialmente constituída por calcário cristalino, gnaisse piroxénico e quartzito. A
sucessão destas unidades litológicas é como a seguir
se indica, de baixo para cima:
-
Quartzitos;
Gnaisse piroxénico;
Calcário cristalino.
I. 1. 3. - Filitos
1.2.1. - Quartzitos
Dos filitos fazem parte xistos negros ardosíferos,
xistos negros com impregnações de grafite, xistos
argilo-ferruginosos levemente micáceos e xistos luzentes com grafite.
Ao microscópio, os filitos revelam textura lepidoblástica com o quartzo alongado e recristalizado,
muito abundante, intercalado por sericite, também
em grande quantidade. f\.S vezes, nota-se segunda
geração de micas cortando a lineação principal. Dos
opacos há que destacar a grafite e material ferruginoso. Os xistos situados no contacto com o granito
porfiróide apresentam quiastolite.
Os filitos formam dobras muito apertadas, com
290
Os quartzitos, no que diz respeito ao grão e à
composição, apresentam diversos tipos de facies.
São de grão fino e bandeados na parte sudoeste da
série e grosseiros na parte nordeste. As cores variam
desde branco sacaróide a cinzento. São feldspatizados com transição para gnaisse quartzítico.
Intercalados nos quartzitos encontram-se lentículas de micaxisto microdobrado com mica branca
e xistos felspatizados.
Na composição dos quartzitos além do quartzo,
observa-se, acessoriamente, feldspato, diópsido, óxidos de ferro, grafite e fucsite.
1.2.2. - Gnaisse piroxénico
O gnaisse piroxénico exibe duas fácies: ~ma, de
grão fino e rica de quartzo, outra, de grao grosseiro, rica de feldspato.
O aspecto do gnaisse piroxénico é castanho em
amostra de mão e produz solos avermelhado~ quand~
da alteração. Episodicamente ocorrem gnaIsses leItosos de grão fino com veios anastomosados de
piroxena verde alface, como acontece no extremo
sudoeste da mancha.
Ao microscópio, o gnaisse piroxénico revela textura granoblástica com vestígios de cizalhamento.
É essencialmente constituído por quartzo fracturado,
por microclina e por ortose. Acessoriamente contêm
clinopiroxena diopsídica com estrutura «schiller»,
actinolite, escapolite, moscovite, epídoto e óxidos
de ferro.
A litologia desta série consta essencialmente de
granulitos com intercalações de gnaisse com silimanite, gnaisse quartzo-feldspático e gnaisse porfiroblástico com biotite.
O estudo microscópico dos granulitos revela
textura granoblástica com quartzo, às vezes com
inclusões de rútilo, pertite, plagioclase ácida, granadas, silimanite e traços de biotite.
. Intercalada na série granulítica observam-se cunhas de gnaisse com diópsido, quartzito e filões de
piroxenito.
A série em questão exibe um dobramento com
eixos arqueados com grande raio de curvatura,
com a convexidade voltada para noroeste. As dobras
são reviradas, com direcção predominante NE-SO,
com vergência para noroeste. Os flancos das dobras
inclinam de cerca de 60 a 70°,
1.2.3. - Calcário cristalino
I. S. - SÉRIE CHARNOQUÍTICA
O calcário cristalino forma faixas intercaladas
nos gnaisses piroxénicos. Destas faixas, a mais
importante é a de Montepuez, com espessura de
centena de metros.
As bancadas de calcários não são uniformes.
Observam-se bancadas de calcário cinzento fétido
alternantes com as do tipo sacaróide. De quando em
quando detectam-se calcários cor de rosa, azul e
amarelo.
Vários tipos de intercalações lenticulares observam-se nos calcários. Destacam-se xisto clorítico e
sericítico, quartzito fino sacaróide e mafitos ricos
em diópsido e actinolite.
No que diz respeito à estrutura, os calcários formam pequeno anticlinório na região de Montepuez.
Noutros locais, formam dobras monoclinais, como
acontece na região de Balama.
A faixa da série charnoquítica ocupa grande
parte da área situada a noroeste da carta, com direcção próxima de NO-SE e distingue-se da litologia
vizinha por apresentar solos avermelhados. Os afloramentos são pouco frequentes e só se encontram
no leito dos rios. As características principais em
amostra de mão são a gnaissosidade bem marcada,
cor castanha com diversos tons e brilho ceroso.
No que diz respeito à composição, cartografaram-se dois tipos:
- Gnaisse enderbítico,
- Gnai~se charnoquítico.
1.3. - SÉRIE GRAFITOSA
A série grafitosa distribui-se numa faixa orientada na direcção NE-SO, encaixada em gnaisse
pegmatóide.
É caracterizada essencialmente por: xisto quartzítico, quartzito, micaxisto e gnaisse, todos eles ricos
em grafite e fucsite. Intercalados na série observam-se:
diopsiditos esbranquiçados a esverdeados, leptinitos,
aplitos e pegmatitos com mica branca.
Um corte perpendicular à orientação da série, no
sentido da inclinação, a SO do monte Pomue, denota
a seguinte litologia, de baixo para cima:
- Gnaisse grafitoso;
- Leptinito com grafite, pirite e com óxidos de
manganês;
- Quartzito xistificado com grafite;
- Xisto quartzítico com grafite e fucsite.
No que diz respeito à estrutura, a série grafitosa
apresenta dobramento monoclinal arqueado com a
direcção N 35° E na parte NE e N 45° E na parte SOo
A inclinação do flanco é próxima de 60° para noroeste.
1.4. - SÉRIE GRANULITICA
A série granulítica ocorre sob a forma de:
- Delgadas bandas contornando a série calcomagnesiana;
- Faixas com espessuras de centenas de metros
intercaladas nos enderbitos;
- Cunhas nos gnaisses pegmatóides.
1.5.1. - Gnaisse enderbítico
O gnaisse enderbítico (TILLEY, 1936) é a rocha
predominante da série e serve de fundo ao gnaisse
charnoquítico. Trata-se de gnaisse mesocrático a
melanocrático com cor azul esverdeada quando são
e acastanhada quando alterado.
Ao microscópico, o gnaisse enderbítico revela
textura granoblástica com: plagioclase cuja composição varia de An 30 % a An 40 %, hiperstena, às
vezes em vias de alteração, mirmequite, clinopiroxena opacos com estrutura em corona, biotite,
anfíbola sódica e apatite. Nos tipos mais ácidos aparece o quartzo com agulhas de rútilo e microclina-pertite.
No que diz respeito à origem, o gnaisse enderbítico estará possivelmente ligado às rochas eruptivas
da família dos dioritos, como se depreende da sua
composição.
1.5.2. - Gnaisse chamoquitico
O gnaisse charnoquítico forma faixas intercaladas
no gnaisse enderbítico; Difere deste por ser leucocrático e leucomesocrático e ainda por exibir porfiroblastos de feldspato. Estes, em alguns afloramentos,
atingem dimensões de 4 cm no sentido do comprimento e 2 cm de largura. Intercalados neste gnaisse
porfiroblástico observam-se lentes de gnaisse sem
porfiroblastos.
.
A composição do gnaisse charnoquítico é a
seguinte: quartzo, mirmequite, microclina-pertite,
plagioclase ácida, hiperstena, clinopiroxena, apatite
e minerais opacos. A hiperstena desaparece nos
exemplares que apresentam textura de cizalhamento.
Em sua substituição aparece biotite, quartzo e granada.
291
1.5.3. - Estrutura
Os charnoquitos apresentam dois tipos de dobramento: um com orientação geral NE-SO com dobras
muito apertadas, quase verticais e com vergência
para noroeste e outro com orientação próximo de
N-S, originando dobras falhas, como acontece na
parte noroeste das faixas da série charnoquítica.
1.6. - GNAISSE PEGMATÓIDE
O gnaisse pegmatóide distribui-se em faixas
orientadas na direcção predominante NE-SO. Ocorre
em bancadas concordantes com as séries encaixantes. Estas são a série granulítica e a série calco magnesiana.
Trata-se de rochas grosseiras, laminadas e leucocráticas. Às vezes, são mascaradas por óxidos castanhos de ferro, nomeadamente no tecto e muro.
Ao microscópio, o gnaisse pegmatóide apresenta quartzo em bandas, microclina com intercrescimentos de quartzo e ainda sericite.
O gnaisse pegmatóide exibe um dobramento
monoclinal com o eixo na direcção próxima de NE-SO e inclinando de cerca 40° a 60° para noroeste.
1.7. - GRANITO PORFIRÓIDE
1.7.1. - Tipos de ocorrência
O granito porfiróide ocorre sob a forma de lacólito, facólito e lopólito.
O lacólito situa-se no extremo sul da área cartografada e é responsável pela elevação denominada
monte Curri. Apresenta estrutura periclinal em doma.
Esta intrusão deflectiu as formações encaixantes de
rochas verdes cuja acomodação deu origem às dobras
apertadas com os eixos arqueados.
O facólito situa-se a norte do monte Curri e está
instalado em forma de cela na charneira do anticlinal
das rochas da série calco magnesiana.
Finalmente, o lopólito situa-se na parte sudeste
da área, ocupando superfície de cerca de 170 km 2 •
A intrusão provocou a deflecção das rochas da série
verde.
1.7.2. - Composição
O granito pOlfiróide é leucocrático a leucomesocrático com estrutura gnaissóide na bordadura e
maciça no centro.
Ao microscópio apresenta textura porfiroblástica.
Os porfiroblastos são de microclina e de ortose atingindo dimensões máximas de 5 cm de comprimento e 2 cm de largura. A mesóstase é hipidiomórfica constituída por quartzo, microclina, biotite, plagioclase, moscovite e opacos.
1.7.3. - Filões
O granito porfiróide é cortado por filões de microgranito com a composição da rocha hospedeira, por
aplito-pegmatitos, por lamprófiros e por filões de
quartzo.
1.8. - GNAISSE MIGMATÍTICO
O gnaisse migmatítico distribui-se a sul de Montepuez. Trata-se de gnaisse leucocrático e leucomesocrático, invadido por trama félsica. Esta invasão
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confere à rocha original umas vezes aspecto bandeado, outras, aspecto difuso.
Mineralogicamente é constituído por quartzo,
microclina, biotite, apatite, esfena e alanite.
Quanto à estrutura, o gnaisse migmatítico apresenta dobramento com eixos orientados na direcção
E-O. As dobras fecham-se em cunha do lado oeste,
de encontro às formações da série calco magnesiana.
1.9. - COMPLEXO GABRO-ANORTOSÍTICO
O complexo gabro-anortosítico situa-se no canto
noroeste da carta, alongado no sentido NE-SO e
ocupa superfície de cerca de 270 km2 • Este complexo
prolonga-se para noroeste, fora da área estudada.
É constituído por gabros, anortositos, dioritos,
piroxenitos e anfibolitos. Episodicamente observam-se encraves de calcário cristalino.
O complexo é discordante com a rocha regional
encaixante de natureza charnoquítica. Esta é cortada por numerosos filões satélites, da mesma natureza do complexo. Muitos destes filões apresentam
efeitos de cisalhamento. A instalação do complexo
parece estar estruturalmente controlada por sistema
de falhamento de direcção N-S e E-O.
1.9.1. - Gabros e dioritos
A jusante do rio Palavala, no canto noroeste da
carta, situa-se uma mancha constituída por gabros e
dioritos. Trata-se de rochas mesocráticas a mela nocrátiéas orientadas na direcção N 85° E. Os planos
de gnaissosidade mergulham de cerca de 70° para
norte.
Intercalados ou cortando as rochas em questão,
aparecem filões de dolerito, de microgranito e de
piroxenitos.
Ao microscópio, os gabros e os dioritos revelam
composição essencialmente formada por plagioclases arqueadas (cuja composição varia de 32 a 50 %
de anortite) e por piroxenas. Estas são do tipo clino
e ortopiroxenas em quantidades variáveis. Além
destas, acessoriamente, observam-se biotite, apatite,
esfena e opacos. Nos exemplares de composição
mais ácida detecta-se quartzo.
.
A presença de hiperstena em maior ou igual
quantidade em relação a clinopiroxena leva-nos a
classificar os gabros em noritos e hiperitos.
No que diz respeito à composição de plagioclases,
a percentagem de anortite relativamente baixa, em
relação à composição normal dos gabros, deve-se
atribuir ao metamorfismo retrógrado e ao de tipo
dinâmico. O efeito deste último metamorfismo está
patenteado no terreno, por brechas de falha, rochas
estiradas e milonitos.
1.9.2. - Anortositos
Trata-se de rochas esbranquiçadas de grão grosseiro, apresentando, em certos lugares, fácies pegmatítica, com cristais de feldspato atingindo o comprimento de 10 cm. Têm aspecto maciço no centro da
mancha e ligeiramente orientado na bordadura da
mesma.
Na parte sul da mancha dos anortositos encontram-se encraves de calcário e brechas carbonatíticaso Estas são formadas por fragmentos de plagioclase e microclina envolvidos por matriz calcítica e
limonítica.
Os anortositos são formados, essencialmente, por
plagioclases com a composição média de 50 % An.
Acessoriamente têm hiperstena, clinopiroxena, apatite, espinela verde, calcite, anfíbola secundária e
opacos.
Efeitos de metamorfismo dinâmico estão impressos nas plagioclases que se mostran arqueadas.
1.9.3. - Piroxenitos e anfibolitos
São numerosos os filões de piroxenitos e de anfibolitos cuja granularidade é média a grosseira.
Cortam o Complexo gabro-anortosítico e as rochas
circundantes em duas direcções predominantes:
N 80° E eN-S.
Os piroxenitos são constituídos quase exclusivamente por clinopiroxenas. Em pequenas quantidades observam-se plagioclase (An 44 %), apatite,
anfíbola secundária e opacos. Alguns piroxenitos
apresentam segregações de ilmenite.
Os anfibolitos são formados essencialmente por
hornblenda. Em quantidades menores, encontram-se
associados, também, plagioclase básica e opacos.
II. - CONCLUSÕES
A cartografia das unidades litostratigráficas do
troço Balama-Montepuez do Cinturão do Lúrio
permitiu-nos correlacionar as referidas unidades com
as unidades litostratigráficas vizinhas, cujas idades
absolutas são conhecidas, e enquadrá-las nas quatro
fases do Cinturão do Lúrio. Eis as correlações:
a) A série de rochas verdes e a série calcomagnesiana assemelham-se, pela litologia, estilo de deformação e tipo de metamorfismo, aos metavulcanitos
e aos gnaisses plagioclásicos do Grupo de Nampula
cuja idade é de 1335 + 60 m. a. (Quad. I-A, AFONSO,
1976). Esta idade corresponde ao evento termotectónico da Fase 1 da Orogenia do Lúrio.
b) As séries granulítica e charnoquítica correlacionam-se com os granulitos e charnoquitos da
região Entre Rios-Chire, datados de 970 ± 30 m. a.
Este evento corresponde à Fase 2 da mesma orogenia.
c) O gnaisse pegmatóide e o granito porfiróide
são rochas pouco afectadas pela anatexia e assemelham-se aos gnaisses granitóides da área do lago
Chiuta cuja idade é de 855 + 38 m. a. Esta cronologia corresponde à Fase 3.
d) O gnaisse migmatítico corresponde ao episódio termo tectónico da Fase 4 da migmatização e de
anatexia, cuja idade é de cerca de 700 m. a. Podem-se
correlacionar os referidos gnaisses com os gnaisses
migmatíticos da região de Chiure cuja idade é 710 ±
±47 m. a.
Para as restantes unidades litostratigráficas, tais
como, a série grafitosa e o Complexo gabro-anortosítico, propomos a seguinte interpretação:
- A série xistosa, onde estão englobados os xistos, micaxistos e os quartzitos com grafite, da faixa
Montepuez-Balama, envolvida orogenicamente com
o gnaisse pegmatóide. é atribuída idade entre 700 e
800 m. a., baseada na interpretação de valores obtidos pelo método de RbjSr (ARAÚJO, 1976).
- Finalmente, o Complexo gabro-anortosítico
do Popue tem semelhanças, no que diz respeito à
instalação, à litologia e ao metamorfismo, com o
Complexo gabro-anortosítico de Tete, embora não
atinja as dimensões deste.
AGRADECIMENTOS
O autor agradece aos geólogos G. Jourde, J. Trottreau e J.
Wolf pela valiosa crítica feita ao relatório preliminar de 1972 do
qual resultou o presente trabalho. Fica também grato ao colector
A. Meneses pela inestimável ajuda em trabalhos de campo.
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