Centro de Ensino Fundamental GAN – SGAN 603 AE módulo H

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Centro de Ensino Fundamental 05 de Brasília – SQS 408 AE – 3901.1521
Prof. Carlos Eduardo Castro - Ciências Naturais – Projeto Interdisciplinar 2 (2009)
Desmatamento Cerrado: O Ecossistema que Agoniza.
(Larissa Meira Correio Braziliense, 8//8/2004 p.25)
O Cerrado esquentou, secou, entrou num ciclo doente. Mas ainda existe uma saída.
Uma região fria e úmida. Era o cerrado há 40 mil anos. A revelação integra pesquisa da
palinóloga Leia Laboreaux, professora de Geologia e coordenadora de pesquisa na UnB sobre
paliclima. Ela e seus alunos estudam o passado do clima no Brasil Central.
Dados históricos mostram que chovia muito, a temperatura era quatro gruas mais baixo do
quer é hoje e o período de seca não ultrapassava a média de dois meses.
Da pré-história aos anos 50, o cerrado esquentou e secou. A partir daí, encheu de gente e se
esvaziou de animais e plantas.
As alterações climáticas são por um lado, naturais, mas por outro, decorrem da fúria do
desmatamento. Quando a chuva bate na vegetação, em vez de ir direto pro chão cai de forma
amaciada e penetra no solo rumo ao lençol freático.
“Sem as plantas, ela bate direto no chão, arranca a terra, vira enxurrada e não alcança o
lençol freático”, esclarece a palinóloga. “O lençol freático fica prejudicado, o que resulta em baixas
umidades”.
Hoje, 40% do rebanho bovino brasileiro é criado no cerrado. Arbustos e árvores retorcidas
deram lugar a pastagens de braquiarias (Brachiaria ssp) e plantação de soja, responsáveis por 6% da
ocupação do bioma.
A substituição da vegetação nativa pelos capins facilitou a multiplicação dois roedores. (em
2004 tivemos a hantavirose no DF). O pasto serve de habitat para os ratos, que se alimentam dos
grãos e sementes.
É um ciclo doente. O desmatamento altera o clima que modifica a rotina dos bichos, da onça
aos ratos. De janeiro a maio deste ano, choveu 1.204 m3, com um aumento de quase 50% do índice
pluviométrico na região, em relação ao mesmo período de 2003. “Com a chuva, aumentou a oferta
de comida e os ratos tiveram mais facilidade de se reproduzir. Eles sempre existiram, mas com o
habitat inflado, precisam buscar comida nas áreas peri-urbanas”, avalia o pesquisador científico do
Instituto Adolfo Lutz há 38 anos, Luiz Elóy.
A mudança no tempo ganha um importante aliado no incentivo à procriação do rato: o
desaparecimento de espécies predadoras com importante papel na cadeia alimentar. É o caso da
onça.
A onça comeu o lobo que comeu o rato que matou o homem que engoliu a mata.
Então o homem chegou ao cerrado e desandou a destruí-lo. A derrubada da vegetação do
Planalto Central não é fato recente. Começou há quase cinco décadas, quando os candangos vieram
construir a nova capital. A ação foi rápida, bem mais veloz do que noutros ecossistemas brasileiros.
Enquanto a Mata Atlântica demorou cinco séculos para chegar a 7% da sua área original, em cerca
de 50 anos o cerrado está reduzido em quase 60%.
As conseqüências são gravíssimas e se espalham pelas seis paisagens típicas da região – a
mata de galeria, o cerrado arbóreo, o campo limpo, o campo sujo, o campo rupestre e a vereda.
O cerrado arbóreo é o tipo mais sacrificado do bioma, com 70% de devastação só no Distrito
Federal. Nas matas de galeria, vivem mais de 75% da fauna e 30% da flora. Além de árvores com
até 30m de altura. Formado por capim baixo, o campo sujo protege as matas de galeria da ação do
fogo. O campo limpo reserva a beleza das flores.
A destruição desses cenários implica alteração climática, modifica a cadeia ecológica e
provoca danos ainda reversíveis. O aparecimento da hantavirose no Distrito Federal é o primeiro
alerta de que o homem invadiu, sem responsabilidade, o segundo maior bioma do Brasil, que
apresenta uma das maiores biodiversidades do Planeta.
“Tudo na natureza faz parte de um ciclo”, ensina a engenheira florestal e coordenadora da
Pós-Graduação em Ciências Florestais da UnB, Jeanine Felfili. “Todos os elementos têm um papel
fundamental para o perfeito funcionamento do ecossistema. A base está na vegetação. A
hantavirose é um sinal claro desse desequilíbrio”.
Hoje, cerca de 20% das espécies originais, entre arnica, ipê e cerejeira, estão cada vez mais
escassas ou já se perderam no desmatamento. O sumiço das plantas nativas e a ocupação
desordenada do solo restringiram o habitat dos animais.
Sem predadores suficientes e motivados por alteração no clima, espécies como os ratos se
proliferam. A invasão do espaço humano se torna a única alternativa de fonte de alimento. Na forma
de surto, a hantavirose insere o homem no ciclo da cadeia ecológica. E o mal pode ser apenas o
primeiro aviso da natureza.
A seguir, a destruição de duas importantes cadeias alimentares e por que todos os caminhos
dom desmatamento levam ao rato.
Cadeia de Destruição - Pelo menos 200 espécies do cerrado têm valor econômico para a
indústria farmacêutica e de cosméticos. Entretanto, o apelo financeiro não freou a transformação da
vegetação na moderna cidade criada por Oscar Niemeyer e Lucio Costa. O baixo preço da terra, na
década de 50, motivou o desenvolvimento de técnicas para adaptar a agricultura ao solo da região.
“O cerrado nunca foi considerado um ecossistema bonito. As pessoas pensavam: para que
preservar um lugar sem vida, que pega fogo”, lembra o professor do Departamento de Ecologia da
UnB e doutor em Ecologia pela Unicamp, Raimundo Henriques.
O bioma que ocupa 25% do território nacional é o único em quase 50% de suas espécies. Ou
seja, parte considerável da vegetação do cerrado tem ocorrência restrita a essa região. Relatório da
Universidade de Oxford, Londres, aponta que o resto das plantas nativas pode desaparecer do
Planalto Central até 2015, pois a taxa de ocupação da agropecuária continua a expandir 3% ao ano.
Para especialistas, a situação é agravada também pelo baixo índice de preservação do ecossistema,
em relação a outros biomas.
O percentual de conservação do cerrado é 1,5% - na Floresta Amazônica é de 3,8% e na
Mata Atlântica o índice é de 7%. A restrição do espaço com vegetação intacta espantou também os
pássaros. “Hoje, esses predadores de insetos, vermes, roedores e alguns vertebrados vivem
confinados a pequenas áreas”, explica o biólogo e professor de Engenharia Florestal da UnB,
Manoel Cláudio da Silva Júnior (publicou em 2006 o livro Cem Árvores do Cerrado). “Com a
disputa maior entre os bichos, é inevitável que a população diminua, como é o caso do gaviãocarcará”.
Expulsos de casa: Há quase cinco décadas, o cerrado é desmatado pelo avanço da ocupação
humana. A invasão do habitat natural de animais do ecossistema afugenta bichos como o loboguará, coruja e cobra – predadores naturais do rato silvestre. Onça: è o maior predador terrestre do
Brasil. É um carnívoro que precisa de grandes espaços para viver. Entre suas presas estão as antas,
capivaras, veados e lobos-guará. Lobo-guará: Necessita de 80 mil hectares para reproduzir e faz
parte da lista oficial de espécies da fauna brasileira em extinção o rato silvestre está na lista de
alimentos do animal. Coruja: A coruja-buraqueira é espécie que gira o pescoço em até 270 graus e
possui uma visão cem vezes mais aguçada que a do homem. Abate preferencialmente ratos e
insetos. Gavião: Conhecido também como carancho, o gavião carcará mede entre 50 e 60 cm. Ele
constrói o ninho em ramos de árvores altas. Para se alimentar, geralmente ataca a presa, como a
cobra, com bicadas na nuca. Cobra: A cascavel é venenosa e chega a dar à luz entre 16 e 24
filhotes. Na cauda, ela tem um chocalho com a quantidade e anéis que indicam o número de trocas
de pele. Alimenta-se de pequenos roedores. Rato silvestre (Bolomys lasiurus): Com a devastação
do cerrado, diminui a população de predadores naturais do rato. Sem espaço em seu habitat, ele
busca comida em áreas semi-urbanas. Áreas Semi-urbanas: Várias são as causas apontadas por
especialistas para a proliferação do Bolomys lasiurus - transmissor da hantavirose. O desmatamento,
a ocupação desordenada do solo e as alterações climáticas motivam o deslocamento para o ambiente
humano. Chuvas: A maior quantidade der chuva, este ano, propiciou mais oferta de alimento e
contribui para aumentar a procriação do hospedeiro da doença.
A Debandada da Bicharada: Onça: Há três tipos de onça no Brasil. Além da jaguatirica e a parda
(também conhecida como suçuarana), a pintada chama a atenção por ser a mais bonita. Com altura
média de 97 cm, 1,20m de comprimento sem a cauda e 150 kg, a onça-pintada é o maior felino do
continente americano.
Ocupa o topo da cadeia alimentar, ou seja, não pode servir de alimento para outro animal. De
hábitos solitários, a espécie só fica junto – machos e fêmeas – ater o nascimento da cria. A pintada é
altamente exigente em relação à qualidade de seu habitat e depende de grandes espaços para
sobreviver. No cerrado, estão confinadas às estreitas áreas de preservação, o que tem tornado
freqüente o aparecimento dos felinos em perímetro urbano. Para caçar, se aproxima com cuidado da
vítima e lhe fratura o pescoço. Entre as presas da onça-pintada está lobo-guará.
Lobo-guará: Ele mais parece uma raposa, com pernas longas e finas. Presente na lista de
espécies em extinção, tem comportamento tranqüilo e anda em casal. Um macho e uma fêmea
precisam de 80 mil hectares para se reproduzir. O Parque Nacional de Brasília, por exemplo, tem 30
mil hectares de extensão. Pouco agressivo, ele é capaz de virar uma fera para defender seus filhotes.
Só existe uma espécie no Brasil. Um provável sumiço do animal pode causar complicados
desequilíbrios ecológicos. Eles são dispersores de plantas nativas da região e adoram os frutos da
lobeira, árvore típica do cerrado. Para minimizar os impactos causados também pela caça do bicho,
foi criado, em 1990, o Comitê de Manejo do Lobo-guará, que desenvolve projeto de reprodução do
animal em cativeiro. O lobo-guará se alimenta também de vertebrados e ratos.
Gavião carcará: Conhecido também como carancho, ele está entre os 160 tipos de aves que
passeiam pelo cerrado. Já foram muito mais. Em 1985, o número era oito vezes maior. O gavião
carcará tem colorido pálido ou pele avermelhada – varia com a idade. Mede entre 50 e 60 cm e
constrói seu ninho em árvores altas, como eucaliptos. O gavião incuba os ovos por 28 dias, em
média. Os pais criam um filhote por ninhada. Quando caça, mata a presa com sucessivas bicadas na
nuca. Alimentam-se de insetos, vermes e cobras.
Cobra cascavel: Com um peculiar chocalho na cauda, a cascavel é venenosa e está entre os
108 tipos de serpentes do cerrado. Tem comportamento quieto, ao contrário da jararaca e da sucuri.
O número de anéis no chocalho da cauda representa a quantidade de trocas de pele, o que ocorre de
duas a quatro vezes por ano. O veneno atua no sistema nervoso das presas, fazendo com que a
vítima tenha dificuldade de locomoção e respiração. Os pequenos roedores, como ratos silvestres,
estão na lista de alimentos da cascavel.
E agora ... O cerrado agoniza com o desmatamento e o brasiliense sente-se sitiado pelo rato
da hantavirose. O que fazer? Alguns atacam o Bolomys lasiurus, espécie de rato silvestre, com
estilingues, ratoeiras e até queimadas. Especialistas alertam ser em vão “os ratos silvestres
costumam viver em tocas subterrâneas e não morrem com o fogo. Ficam mais motivados a se
deslocar para o habitat do homem”, esclarece a professora de Engenharia Florestal Jeanine Felfili.
Para o ecologista Raimundo Henriques, o rato silvestre é importante no ecossistema, como
dispersor de plantas nativas e controlador de pragas. O doutor em epidemiologia da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz) Luciano Toledo afirma que as novas doenças, que aparecem e matam
“numa velocidade impressionante, têm origem na transformação das áreas rurais em urbanas”.
A situação ainda não é irreversível. “Basta plantar de novo, conscientizar sobre a importância
dos ecossistemas. Tenho uma visão otimista”, define a palinóloga e professora de Geologia da UnB,
Leia Laboreaux.
***site úteis: www.unb.br (Engenharia Florestal, Departamento de Saúde Coletiva, Núcleo de
Nutrição e Medicina Tropical, Faculdade de Agronomia e Veterinária); [email protected]
(Dra. Godoy e alunos agendam palestras nas escolas de E Fundamental e E Médio); GDF:
Departamento de Vigilância Ambiental, Laboratório Central – Lacen - www.anvisa.gov.br Agência
Nacional de Vigilância Sanitária; www.saúde,gov.br Ministério da Saúde. Educar sempre!
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