forma de avaliar a reacção da senhora a cada uma dasperguntas que se lhe vão dirigindo. Sempre que o assunto e o ambiente do diá-logo o permitam, umsorriso auxilia imenso no estabelecimento duma relação empáti-ca. Se por razões éticas, religiosas, técnicasou outras o problema emcausa não está no âmbito de acção do médico, tem este a obri-gação de a reencaminhar3.A evolução do diálogo não pode estar espar-tilhada por um esquema rígido. Ela estámui-tasvezes dependente do motivo da consulta e a sua progressão é frequentemente cortada por avanços e retornos na sequência habitual do interrogatório motivadospela clarificação de um ou outro ponto cominteresse para a elaboração do raciocínio clínico. Salientava Jeffcoate5 que hámais do que uma forma de fazer bem a entrevista e o exame clínico, pelo que emtermospráticos o que se pode afirmar é que a melhor sequência de interrogatório é aquela que cada Médico acha mais adequada à sua forma de abordar cada situação. Con-tudo, existempontos essenciais, comuns a todos os esquemaspossíveis, parecendo útil apresentar uma sinalética usada há décadascomtotal satisfação, a qual, porém, deveráser entendida como proposta adaptável a cada um e a cada caso. Se raramente, dadasas limitações de disponibilidade de tempo, uminterrogatório é exaustivo, háummínimo que deveráser cumprido para que se possa assegurar o êxito da consulta sem aumento substancial do risco de erro.Dada a importância que assume o ciclo ge-nital na clínica ginecológica é útil que a co-lheita dos antecedentespessoais fisiológicospreceda a da história da doença. Esta inversão da ordenação habitual do interrogatório emMedicina explica-se porque algumasqueixaspodemser fisiológicas e a sua iden-tificação apenas é possível quando se tememconta a fase do ciclo em que a senhora se encontra e a que as queixassão referidas. Por extensão e para melhor sistematização, propõe-se então que o registo dos antece-dentesse faça na sua totalidade antes da recolha dossintomas e sinais que justificama consulta. Na prática, porém, quantasvezesé útil uminterrogatório de progressão/re-gressão na tabela, isto é, retomando pontosjá abordadospara pormenorização e retor-no ao ponto em que foiinterrompido o di-álogo, metodologia que permite ao clínico interromper o discurso da consulente, comdelicadeza e sem que ela de tal se aperceba, quando este se evidencia demasiado fluente ou disperso.Para colmatar a frequente limitação emtem-po para as anotações nosprocessosclíni-cos recomendo a utilização do conjunto de abreviaturas que vão sendo indicadas emnegrito, estando colocadas entre parêntesisas que são consideradas não obrigatórias oude menor importância.1.1. IDENTIFICAÇÃOAssim, por razões de interlocução e de segu-rança a primeira abordagem deverápermitir colher a identidade da senhora. É sinal de simpatia, correcção e boa educação dirigirmo-nos àsconsulentesinvocando o seunome. Mas é igualmente uma questão de precaução. Com a introdução de meios auto-matizados e com a massificação do tratamen-to de processos, comfrequência encontra o clínico umconjunto de documentos e uma lista de ordem que, com o decorrer do seutrabalho, pode ser, e amiúde o é, alterada. Muitos errosse cometem quando uma con-sulta é realizada perante documentação de outro indivíduo que não o que estápresen-te. Assim, a primeira informação a colher oua confirmar é o nome. Mas nemsempre este é suficiente já que não é raro que, particularmente quando curtos, se encontrem nomesiguais. Assim é útil completar de imediato a identificação com a colheita da data de nas-cimento e da profissão. É este o momento ideal para o registo de informaçõespara con-tacto, nomeadamente, o endereço e número (s) de telefone, hoje em dia incluindo tambémo endereço de correio electrónico.82Capítulo 5Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação© Permanyer Portugal 2011 N = Nome. Interessa verificar o nome pesso-al, independentemente do adquirido pelo matrimónio, o qual é volúvel, e ainda aquele que é da preferência da própria, que nemsempre coincide com o oficialDN = Data de nascimento. Para além de constituir elemento de identidade da consu-lente, o conhecimento da data de nascimen-to é necessário para o cálculo da idade, a qual por sua vez permite incluir a consulente numgrupo etário comcaracterísticas fisiológicase patológicas relativamente específicas. Uma vez que o aparelho genital feminino estásu-jeito a variações anátomofisiológicasmuito dependentes da idade, cada fase da vida da mulher evidencia umtipo de patologia que, embora nemsempre sendo exclusivo, é pelo menospredominante. Assim, por exemplo, na adolescência e no climatério, que são fases de transição, de grande instabilidade endócrina, são frequentes asperturbaçõesdisfuncionais do ciclo genital, enquanto no período dito reprodutor, são maisusuais osproblemas relacionadoscom a gravidez, a contracepção e asinfecçõesgenitais. Apósa menopausa, por último, predominam asalteraçõestróficas e as neoplásicas.EC = estado civil. Maisimportante do que o conhecimento do estado civil é o saber se existiu ou existe prática sexual. Deve mesmo, por razõescautelares, considerar-secontraindicada a inquirição directa do estado civil numa fase precoce do interrogatório. Esta abordagem deveráser poster-gada e realizada apenasuma vez findo o in-terrogatório sobre os antecedentessexuais. Este cuidado é muito importante para se evitar uma retracção por parte da senhora particularmente quando se interroga sobre actividade sexual presente oupassada a sol-teiras ouviúvas. Se hoje em dia existe uma muito maior abertura para um diálogo fran-co sobre a vivência sexual, a verdade é que nemtodas aspessoas estão a tal dispostase outras, por motivos educacionais, culturaisoumesmo religiosos, podemsentir-se ofen-didas. Há que ter sempre presente que para manter a sua colaboração e empatia não se pode nunca, por qualquer modo, maltratar ou agredir a consulente. Todo o indivíduo é livre e temos de estar dispostos a aceitar que não cumpra o que aconselhamos, não acate a nossa opinião ou não se preste a pôr emprática asmedidas que sugerimos3. Omédi-co recomenda e orienta segundo o que lhe parece ser o melhor para quem o consulta, mas não é dono da doente nem responsável pelas atitudes que esta possa tomar.Prof = Profissão. Oconhecimento do tipo de actividade profissional pode ter impor-tância na clínica ginecológica, mas não é usualmente relevante emsimesmo. Algunstipos de patologia, como certas dermatosesvulvares ou desviosposicionaisuterinos, observam-se preferencialmente empopulaçõescom actividade agrícola e relacionam-se quer com o manuseamento de produtosquímicos quer com a violenta actividade fí-sica exercida. Na maioria doscasos, porém, a actividade profissional ajuda apenas a de-finir o perfil da senhora, o seu nível cultural e o ambiente de trabalho, e facilita a defini-ção do tipo de linguagem e abordagempelo qual o médico deverá optar. Ovocabulário médico é incompreensível para grande nú-mero de pessoas, pelo que devem empre-gar-se expressões que permitamum diálogo transparente. O emprego do calão está na-turalmente desaconselhado, salvo emsitua-ções excepcionais em que é o único tipo de linguagem que permite uminterrogatório esclarecedor de alguns, e muito especiais, grupospopulacionais.Nalgunspaíses é este o momento de se in-terrogar a senhora sobre assuaspreferênciasde culto, as quaispodemcondicionar algunsaspectos do interrogatório e do exame ginecológicos. EmPortugal a grande maioria, até ao momento, professa outem educação católica apostólica romana, estando apenasindicado anotar oscasos em que assim não seja (as Testemunhas de Jeová, por exemplo, não aceitam a transfusão de sangue, masapenas a fluidoterapia não crepuscular).Semiologia Ginecológica83Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação© Permanyer Portugal 2011 Contactos: Residência e Telefones. São informações úteis do ponto de vista funda-mentalmente administrativo. Tecnicamente revestem-se de importância sempre que a circulação de resultados laboratoriaisse processe independentemente da consulta, havendo situações em que haverá que contactar a paciente para aplicar decisões, in-vestigacionais outerapêuticas, urgentes.1.2. MOTIVODA CONSULTAMC =Motivo da Consulta. Estenemsempre reflecte a existência de padecimento, uma vez que emGinecologia grande parte dasconsultas é efectuada com espírito pro-filático oupara aconselhamento, nomeada-mente para rastreio oncológico ou orienta-ção anticoncepcional. De qualquer modo, a existir qualquer sintoma espontaneamente referido pela consulente, deve anotar-se a sua presença pois obriga à pormenorização dos dados que se consideramcom ele rela-cionados, embora o seu detalhe melhor se enquadre no capítulo da história actual. De todo o modo assim não ficará esquecido.1.3. CICLOGENITA LMEN = idade da menarca. Completada a identificação da consulente é altura de se passar à colheita dos antecedentes. Como anteriormente foi já referido a grande variabilidade dosfenómenoscondicionadospelo ciclo genital torna conveniente que, ao con-trário do que é usual noutros ramos da clíni-ca médica, se processe a anamnese sobre osantecedentes fisiológicos antes da colheita pormenorizada da história. Só assimse apre-enderão alteraçõessubtis da duração ouperiodicidade do ciclo genital ouse poderão localizar em relação a este asmodificaçõescom ele relacionadas. De facto, ainda que por exemplo, se considere como normal umperíodo menstrual de 2-3 dias e um outro de 4-5 dias, o facto de haver uma alteração de umpadrão para outro numa mesma mulher de forma mais oumenossúbita e após anosde manutenção dumperfil regular, pode sig-nificar o aparecimento de patologia. Sendo a menarca a primeira hemorragia menstrual, representa o ponto de partida para a defini-ção do ciclo menstrual típico de cada mulher. Por esta razão não espanta que a pergunta inicial neste capítulo se dirija à definição da idade do aparecimento da menarca.Ciclos = Perfil do Ciclo Menstrual. A maior parte das queixasginecológicassofre osci-laçõescom o ciclo genital. Sabe-se tambémque o padrão do ciclo não é uniforme, masemgrande número de mulheres ele é rela-tivamente constante. A melhor forma de se descreverem ascaracterísticas do ciclo mens-trual é expressá-lassob a forma duma fracção, utilizando o numerador para a duração total do ciclo e o denominador para a do período menstrual. Algumas escolasutilizamuma fórmula invertida, isto é, descrevem a dura-ção do período menstrual como numerador e a do ciclo como denominador, variedade que é natural e facilmente identificada. A definição dumhábito menstrual requer a existência dumperíodo dito de estabele-cimento. Por outraspalavras, na adolescên-cia oscicloscomeçampor ser irregulares oumenos regulares do que, digamos, após os 18 anos. Por esta razão, esta fase do interrogató-rio refere-se usualmente àscaracterísticas do ciclo na terceira década da vida. Se se pergun-tar a uma senhora se osseusciclossão regu-lares, a grande maioria responderá que não. De facto o conceito comum de regularidade assenta na similitude com a duração do mêsdo calendário, sendo que é aceite que ciclo regular será o de cerca de 30 dias, no qual o período menstrual se inicia aproximadamen-te no mesmo dia de cada mês. Dito de outro modo, se a pergunta for “é menstruada comregularidade?” a senhora apenas dirá que simse a duração do seuciclo coincidir com a do mêscivil, ouseja, nosciclos de cerca de 30 dias. Se para o médico a duração regular é a que corresponde a umintervalo constante definido entre o primeiro dia dumciclo e o 84Capítulo 5Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação© Permanyer Portugal 2011 correspondente do ciclo seguinte, e o este-reótipo médico corresponde a 28 dias, este mesmo ciclo é percebido pelassenhorascomo irregular porque a cada mêscorrespon-de um dia diferente, já que cada vez teminí-cio maisprecoce. Assim, a forma maisprática de se determinar a duração do ciclo é inquirir sobre a relação existente entre a duração do mesmo e a regularidade dos “meses”. Deveráperguntar-se de preferência, se a menstrua-ção surge todos osmeses e se assim é se vemantes ou depois de decorrido ummêssobre a anterior e, nestescasos, com quantos dias dediferença. Definir-se-ão desta forma, ciclosin-feriores ousuperiores a 30 dias, determinan-do-se a duração normal pela diferença que a consulente refere (“vemsempre 2 dias antesdo mês” = ciclo de 30 - 2= 28 dias). Uma outra fonte de confusão resulta da atribuição de significados distintos a palavrastão comunscomo “adiantar” ou “atrasar”. Devemevitar-se termos equívocoscomo aquele, por exemplo, já que se para unspoderia significar surgir antespara outros é entendido como aparecer para diante, isto é, para a frente, ouseja maistarde. Emtermospráticosconvém, pois, confirmar os dados recolhidosinterro-gando por mais do que uma forma. Se se tiver nesta altura conhecimento das datas dos doisoutrês últimosperíodosmenstruaisfacilmen-te se verificarápor cálculo da validade dos da-dos recolhidos anteriormente. Este é, assim, umprimeiro objectivo do conhecimento dasDUM (Data da última menstruação), DPUM(Data da penúltima menstruação) e DAPUM (Data da antepenúltima menstruação).Mais difícil do que a determinação da dura-ção do ciclo, é a avaliação da quantidade do fluxo catamenial. Cinco parâmetros devementão ser considerados:— a duração do período menstrual, usual-mente referida sem hesitações;— o número de pensos outampõesutiliza-dos emcada dia;— a avaliação subjectiva por parte da própria;— a coloração; — a fluidez do fluxo.Ora sendo a duração e a quantidade dosfluxosmenstruaismuito variável de uma mulher a outra não temgrande importân-cia clínica o valor absoluto destasperdas, salvo quando em exagero (hipermenorreia oumenorragia), poiscorresponde a uma situação em que pode haver perturbação homeostática por anemia hemorrágica emmaior oumenor grau. Para além de não ha-ver qualquer utilidade prática na destrinça entre os doistermos ainda emuso 6, que comDeGowin7considero sinónimos, o que inte-ressa mesmo é identificar o perfil habitual ou hábito menstrual para depoisse percebe-rem asvariações. Desta forma, embora dumponto de vista estritamente semântico, umperíodo de 3 diascorresponda ao que se de-fine como normal, quando uma mulher que sempre teve períodos de 6 ou 7 diaspassa a ter apenas 3, ela tem de facto, clinicamen-te, uma hipomenorreia, a qual, para que não haja agressõesterminológicas, se dirá relati-va. Estasvariaçõespessoais, têm, em regra, significado clínico, embora não necessaria-mente patológico (hipomenorreia relativa iatrogénica da contracepção oral combina-da, por exemplo). Curiosamente, sendo cur-ta a memória daspessoas, como diz o povo, nasusuárias de contracepção hormonal de longa data existe por vezestendência a as-similar o novo padrão como o seu normal, esquecendo que é efeito da medicação. Quantasvezes, após a suspensão do seuuso recorrem no ciclo imediato a consulta de ur-gência ao perceberemsintomas fisiológicosmas a que jáse não encontram habituadas.A medição da quantidade do fluxo menstrual pode fazer-se, mas apenas emtrabalhos de investigação, por ser umprocedimento algo complexo e, sobretudo, incómodo. Na prá-tica, a avaliação faz-se, pois, de forma muito subjectiva e numa primeira abordagempela impressão que a própria mulher tem do seufluxo, a qual resulta da comparação que efec-tua com aspessoas dassuas relações (mãe, familiares, vizinhas, amigas). De facto, quan-do inquiridas respondem que o fluxo é “o Semiologia Ginecológica85Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação© Permanyer Portugal 2011 normal”, “muito” ou “pouco” numa proporção relativa ao que é referido pelas outras.Se se quiser dar maior precisão à avaliação do fluxo poder-se-á então fazê-lo pela quantida-de de pensos outampões higiénicos que temnecessidade de utilizar. Emcondições normaisuma mulher combons hábitos higiénicosuti-liza 2 ou 3 pensospor dia ou 1 ou 2 tampõesde absorção normal, os quaisse saturamcom30 a 50 ml de líquido7. Como se compreen-de, esta forma é igualmente muito impreci-sa, uma vez que uma mulher maissensível muda de penso à maispequena acumulação de fluxo, para se sentir seca, enquanto outra, emcondições opostas, pode apenasmudar quando excedida a capacidade de absorção do material protector que utiliza. À hemorragia genital pode aplicar-se, tal como para o tubo digestivo, o mesmo prin-cípio de avaliação que se baseia no facto de que, quanto maisbaixosforem ospontos de origem oumaiores as quantidadesperdidas, tanto maisclara é a coloração do fluxo hemá-tico. De facto, uma hemorragia de proveni-ência vaginal oucervical uterina tende a ter cor vermelha viva, dada a rapidez com que chega ao exterior. Porém, quando originária da cavidade corporal sofre certa “estase” por retenção a nível do esfíncter cervical inter-no (ístmico) e durante este tempo o sangue degrada-se, para se exteriorizar como fluxo castanho, com aspecto de “borra de café” oude “água de lavar carne” segundo tenha me-nor oumaior percentagem hídrica.Por outro lado, a partir duma certa quanti-dade, mesmo que provenha do endométrio,o fluxo hemático é claro, poisultrapassa facilmente a capacidade da cavidade corporal e tem necessariamente de ser expulso semdemora. O aspecto doscoágulostem, para este fim, de ser considerado à parte. Se emcondições normais o sangue derramado na cavidade endometrial sofre coagulação e lise quase imediata pela extraordinária riqueza emsubstâncias fibrinolíticas do endométrio descamado, quando se exterioriza pelo canal cervical fá-lo sob a forma líquida. Este facto, levou a que se considerasse o sangue mens-trual como incoagulável, o que, como se vê, não corresponde à verdade, já que, provenha donde provier, o sangue apenascoagula uma vez. Ofacto é que quando a perda hemorrági-ca ultrapassa a capacidade da cavidade uteri-na, tem de a abandonar esteja como estiver, o que faz com que seja expulsa sob a forma de coágulos. Por esta razão, a presença e o nú-mero de coágulossão umindicador razoável e, dentre os descritos, o melhor, da quantida-de de fluxo menstrual.Emtermos de registo expressaremos a quan-tidade pelo sistema de cruzes. Uma perda escassa corresponde a +, uma moderada a ++ e se abundante +++, guardando-se ++++ para asperdasmuito abundantes, jáexageradas, e +/- para as diminutas. Uma vez definidostodos estespadrões e valores, descreve-se então o ciclo menstrual sob a forma de fracção no qual o nume-rador corresponde à duração do ciclo e o denominador à do período menstrual, com-plementada pela avaliação da quantidade pelo sistema de cruzes. Assim, uma mulher comciclos de 28 a 30 dias e períodos de 4 a 5 em quantidade moderada, descrever-se-ia como Ciclo = 28-30/4-5++.Relembre-se agora que os dados anterior-mente colhidos devemser confirmadospela determinação da DUM = Data da última menstruação, por vezes necessitando-se ainda da DPUM = Data da penúltima menstruação e quando possível ainda a DAPUM = Data da antepenúltima mens-truação. Para além de confirmar oupermitir o cálculo da duração do último ciclo, a data da última menstruação é ainda importante para se saber em que fase do ciclo genital se vaiproceder ao exame da mulher, uma vez que alguns dados que são normais numa determinada fase, já o não são numa outra.(SPO) = Síndrome periovulatório / (SPM) = Síndrome pré-menstrual / (SM) = Síndro-me menstrual. Assíndromesfuncionais do ciclo genital não são inquiridas obrigatoria-mente, por resultarem numprolongamento do 86Capítulo 5Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação© Permanyer Portugal 2011 tempo de consulta, e teminteresse clínico apenas nalgunscasos. Nestes a sua investi-gação será então detalhada, muitasvezes jáapós haver sido realizada uma parte da reco-lha da história clínica, momento no qual se considerou útil retroceder à colheita deste tipo de antecedentes.A propósito convémchamar a atenção para a correcta expressão emportuguês destescomplexossintomatológicos que definem entida-desclínicas e que podemser indistintamente referidoscomo síndromes ousíndromas, no feminino, ousíndromos, no masculino.AS = Antecedentes sexuais. Por sistema apenas a primeira destas questões é inqui-rida: a que se refere à idade dasprimeirasrelaçõessexuais (IPRS). Com esta pergunta passa a saber-se se já houve ou não relação sexual e de forma indirecta qual a duração do período de actividade sexual. Como se veráexiste patologia que está relacionada com a frequência de relaçõessexuais ou evidencia prevalência inversamente proporcional. Emcasos especiaispode haver interesse emconhecer-se a idade das últimas relaçõesse-xuais (IURS), pergunta commaisfrequência empregue nasconsulentesmaisidosas. Este dado é importante na opção do material e modo de realização do exame ginecológico.1.4. HISTORIA SEXUALHS= História Sexual. Salvo quando se cons-titui emmotivo específico da consulta, os de-talhes referentes aos hábitos e experiênciassexuais não são abordados de forma directa, pelo menos numa primeira consulta. De fac-to, este é um dospontos que aspessoastêmalguma relutância em expor de forma aberta sem estabelecerempreviamente um elo de confiança. Habitualmente, quando se per-cebe que haveráinteresse em abordar estasquestõespara esclarecer aspectosimportan-tes do quadro nosológico, a história sexual é abordada de modo indirecto, através de perguntascomo “tem dores ou dificuldadesna relação sexual?”. Olhando a consulente facilmente se apercebe da existência de algo que a senhora tem dificuldade em explicitar. Com delicadeza deve incutir-se a confiança imprescindível para que se sinta à vontade para expressar osseusproblemas.Três aspectosmuito particulares da história sexual serão ocasionalmente indagadosmascom especial cuidado. Emconsultas de Pla-neamento Familiar motivadaspor situaçõesde esterilidade é importante conhecer-se a frequência coital e a regularidade ao longo da semana, por óbvias razões de probabili-dade de coincidência com o período fértil. Também emcontracepção pode ser im-portante para a opção técnica conhecer-se o grau de risco de engravidar emcasos emque é baixo o número de relaçõessexuais.Umsegundo ponto, que se prende com assituações de coito difícil ou doloroso (dispa-reunia) háinteresse emconhecer os hábitosposicionais e a sua relação com a sintomato-logia. Dada a falta de divulgação do vocabulário apropriado comfrequência devemospreocupar-nos em auxiliar asconsulentesnassuas descrições evitando-lhes a habitual retracção de expressão, quantasvezescomtermos que consideram embaraçosos.Por último, o conhecimento do número de interlocutoressexuaistemcada vez maisimportância, dada a elevada prevalência nelese nelas de pelo menos algumas dasinfec-çõestransmissíveissexualmente (ITSs).AC = História Anticoncepcional. Neste ca-pítulo interessa saber se está emuso alguma técnica anticoncepcional no ciclo em que se vai realizar a observação e se afirmativo qual deles, bemcomo recolher asinformaçõesreferentes a experiência anterior com estastécnicas, seus efeitospositivos e negativos, razões de mudança e opção e preferências.1.5. ANTECEDENTESOBSTÉTRICOSAO = Antecedentes Obstétricos. Existemváriasformas de realizar a descrição dos antecedentes obstétricos. A maissim-ples, masmenosinformativa, é a francesa Semiologia Ginecológica87Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação© Permanyer Portugal 2011 que define o número total de gravidezes, incluindo a actual quando presente, e o número de partospor via vaginal. Faz-se então (recorrendo a numeração romana) a evidenciação dosseusvalores da seguinte forma: #G #P, correspondendo o primeiro valor ao número de gravidezes (dito Gesta) e o segundo ao de partospor via vaginal (referido como Para). Assim, se uma senho-ra estágrávida e teve dois abortamentos e umparto a termo por cesariana com filho viável e actualmente vivo dir-se-á que é uma IV Gesta 0 Para (nulípara), descrição que seria idêntica à de uma outra que não estágrávida e temtrês abortamentos ante-riores e uma gravidez ectópica.Por esta razão, e dada a importância obsté-trica dospartospré-termo e do número de filhosvivos dumcasal, a escola americana utiliza uma fórmula de 4 posições (TPAL formula7: Termpregnancies, Premature de-liveries, Abortion, Living Children), na qual o primeiro número corresponde ao núme-ro de partos a termo (não de gravidezes), o segundo ao total de partospré-termo, o terceiro ao de abortamentos e outrasgra-videzespatológicas e o último ao de filhosvivos à data da consulta. Segundo esta descrição o primeiro doscasos atrás referidosseria expresso pela sequência 1.0.2.1 enquanto a segunda corresponderia a esta outra 0.0.4.0.De forma a tornar mais objectiva a informa-ção, embora naturalmente algo maiscom-plexa, o modelo que se propõe e se temmostrado maisprático é o da descrição em6 posições, que correspondem— número total de partos— número de partosdistócicos— número de partosprétermo— número de abortamentos— número de outras gravidezes patológi-cas (ectópicas, tumores do trofoblasto)— número de filhos vivos actualmente.Assim, utilizando os dois exemplos atrás ex-postos o primeiro definir-se-ia pela fórmula 1.1.0.2.0.1 e o segundo por 0.0.0.3.1.0.A minúcia que se dedicará à recolha dosrestantes antecedentes obstétricos é muito variável, de acordo com assituações, inte-ressando numa perspectiva clínica gineco- lógica fundamentalmente assituações ditasde insucesso reprodutivo e os quadrospa-tológicos ou de distocia, em que possa ter existido traumatismo do aparelho genital. É assim útil conhecer-se o peso ao nascimento do filho maisvolumoso.Convém nesta altura clarificar o que se en-tende por parto eutócico e distócico. Quan-do a fisiologia é por sisó capaz de levar à total expulsão do feto, ainda que com ajuda médica (necessariamente menor) oucom-plicaçõestraumáticaspara ostecidos da mu-lher o parto é considerado normal ou eutó-cico. Em oposição, a exteriorização fetal por orifício artificial (cesariana) oucom recurso a manobras extractivas é classificado como distócico. Assim, podem ocorrer partos eutó-cico simples e complicados, existindo ainda uma variedade mista, emgravidezesgeme-lares: ospartoscomplexos, isto é, eutócico(s) para um(ns) feto(s) e distócico(s) para o(s) outro(s). Não são consideradospara efeitosde definição de eutocia e distocia os outrosperíodos do parto.1.6. ANTECEDENTESPESSOAISAP = Antecedentes Pessoais. Espoliado de grande parte do seuconteúdo pela necessi-dade de pormenorização dos dados referen-tes ao ciclo genital, as questões que se foca-rão no capítulo dos antecedentespessoais, referem-se não só aos hábitos (alimentares, higiénicos, medicamentosos e actividade física) como aospatológicos, quer médicos quer operatórios. Na maioria dasvezessão apenasimportantes os dados referentes a afecçõeshavidas ao nível dosgenitais, pormenorizan-do-se os diagnósticos e ostratamentos efectuados, e a cirurgia abdominal, sobretudo a do andar inferior. Porém, muitos outros qua-drosmédicos e cirúrgicos não relacionadoscom o aparelho genital, assumemimportância 88Capítulo 5Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação© Permanyer Portugal 2011 quando se pensa instituir uma terapêutica curativa oupreventiva de tipo hormonal, a qual pode ser contra-indicada oucondicio-nada pela presença de determinado tipo de patologias ou de factores de risco.1.7. ANTECEDENTESFAMILIARESAF = Antecedentes Familiares. Oconhe-cimento duma susceptibilidade especial a um determinado tipo de patologia, frequentemente indiciada pela existência frequen-te nosseus antecessores, permite incluir a consulente numgrupo de risco particular para determinado tipo de afecções e con-sequentemente orientar o clínico para umrastreio mais rigoroso oupara uma prescri-ção de determinado tipo de terapêuticasprofilácticas da doença emcausa. Para alémdas doenças neoplásicas, genéticas e endó-crinas, a patologia vascular assume muita importância, tendo em atenção o emprego muito frequente de terapêutica hormonal emGinecologia.Em algunscasos é ainda importante definir a existência de problemassemelhantes ouafins em: (CF = Colaterais Familiares), como emcasos de malformaçõesgenitais que justificam algumassituações de esterilidade e noutros do foro oncológico, em que convémter uma ideia da frequência da afecção atra-vés do conhecimento da sua prevalência emirmãos e primos.1.8. HISTÓRIA DA DOENÇAHD = História da doença. Uma vez colhida toda a informação considerada útil atravésdo inquérito dospontos anteriorespassar-se-á então à auscultação das queixas que constituem a razão de ser da consulta. Deixar-se-á que a senhora faça a exposição dossintomas que a trazem à consulta, pro-curando interrompê-la o menospossível, sobretudo de início e até à percepção do tipo e importância atribuída a cada queixa, ao mesmo tempo que se vaiformando uma ideia geral da natureza do padecimento.Entretanto vão-se anotando os elementosimportantes da história clínica que a consu-lente espontaneamente expõe, para poste-riormente a interrogar sobre ospontos que pareçam essenciaispara a postura do diag-nóstico. Dada a morosidade duminterrogatório exaustivo, que o torna impraticável na prática clínica, hápor vezes necessidade de o completar após a realização do exame, para clarificar alguns aspectos que este pos-sa suscitar.Uma vez terminada a exposição espontânea por parte da doente, dever-se-áinquirir so-bre a existência de outrossintomas que àsvezessão colocados em lugar secundário e por tal, facilmente são esquecidos.Assim, confirmar-se-áse existem:— alterações do ciclo ou do fluxo menstruais; — hemorragias não menstruais;— corrimentosgenitais;— dor, ardor, prurido genitais;— modificações ouperturbaçõesmamá-rias, subjectivas ou objectivas;— dificuldadescoitais;— perturbaçõesmiccionais e/ouperda involuntária de urina;— alteração dos hábitosintestinais e defe-catórios.Para cada anomalia haverá que indagar emtermosgeraissobre o seuinício, duração, intensidade, persistência e relação com asoutras. Assim:— haverá emprimeiro lugar que caracte-rizar o tipo de modificação do perfil do ciclo (encurtamento polimenorreia e polimenorreia relativa - ou alongamen-to - oligomenorreia ou oligomenorreia relativa - ou ausência - amenorreia) e ao fluxomenstrual (diminuição - hipome-norreia - ou aumento - hipermenorreia oumenorragia);— no que se refere àshemorragias extra-menstruais é importante saber-se se são espontâneas oupelo contrário provoca-das, e neste caso se o são pelo esforço oupelo coito oupor outro qualquer factor; Semiologia Ginecológica89Sem o consentimento prévio por escrito do editor, não se pode reproduzir nem fotocopiar nenhuma parte desta publicação© Permanyer Portugal 2011