HIGIENE OCUPACIONAL II Eng. Mário Sobral GASES E VAPORES Gás: denominação dada às substâncias que, em condições normais de pressão e temperatura (25°C e 760mmHg), estão em fase gasosa, por exemplo: nitrogênio, oxigênio, dióxido de carbono etc. Vapor: é a fase gasosa de uma substância que, a 25°C e 760 mmHg, é líquida ou sólida, por exemplo: tolueno, acetona, cânfora e naftalina. AÇÃO SOBRE O ORGANISMO Irritantes - Para que os irritantes possam atuar, devem primeiramente dissolver-se na água dos tecidos úmidos, como a conjuntiva dos olhos e as mucosas das vias respiratórias. Neste grupo todos os agentes são muito reativos, de forma que a gravidade dos efeitos é determinada mais pela concentração da substância no ar do que pelo tempo de exposição. - Irritantes primários: cuja ação sobre o organismo é a irritação local. De acordo com o local de ação, os irritantes primário distinguem-se em: a) Irritantes de ação sobre as vias respiratórias superiores: Constituem o grupo de mais alta solubilidade na água, localizando sua ação nas vias respiratórias superiores, isto é, garganta e nariz. Pertencem a este grupo os ácidos fortes (ácido clorídrico e sulfúrico), os álcalis fortes (amônia e soda cáustica) e formaldeído. b) Irritantes de ação sobre os brônquios: As substâncias deste grupo têm moderada solubilidade em água e, por isso, quando inaladas, podem penetrar mais profundamente nas vias respiratórias, produzindo sua irritação principalmente nos brônquios. Pertencem a este grupo o anidrido sulfuroso (SO2) e o cloro (CI2). c) Irritantes de ação sobre os pulmões: Têm baixa solubilidade na água, podendo, alcançar os alvéolos pulmonares, onde produzirão a sua ação irritante intensa. Pertencem a este grupo o ozônio, os gases nitrosos, a hidrazina e o fosgênio. d) Irritantes atípicos: Apesar de sua baixa solubilidade, possuem ação irritante sobre as vias respiratórias superiores, fazendo com que os expostos se afastem imediatamente do local. Por isso, raras vezes, estas substâncias são inaladas em quantidades suficientes para produzir irritação pulmonar. Pertencem a este grupo a acroleína ou aldeído acrílico e os gases lacrimogênios [cloro-acetona e bromo-acetona. - Irritantes secundários: estas substâncias, apesar de possuírem efeito irritante, têm uma ação tóxica generalizada sobre o organismo. Exemplo gás sulfídrico. Tóxicos - substâncias que, independente da via de penetração no organismo, distribuem-se provocando diversos efeitos. Em alguns casos têm efeitos específicos ou seletivos sobre um órgão ou um sistema (alguns hidrocarbonetos em geral, hidrocarbonetos aromáticos, halogênios, inseticidas). Anestésicos ou Narcóticos - substâncias lipossolúveis, que atuam como depressores do sistema nervoso central; sua atuação depende da concentração que chega ao cérebro (solventes industriais, como thinner). Este efeito aparece em exposição a altas concentrações, por períodos de curta duração. Alergógenos - afetam alguns indivíduos mais sensíveis; sua ação regular requer predisposição fisiológica (cromo, monômeros, resinas, aromáticos, poeiras). Asfixiantes - impedem a chegada de oxigênio aos tecidos. Os gases e vapores asfixiantes podem ser subdivididos em: asfixiantes simples e asfixiantes químicos. Asfixiantes simples: tais substâncias têm a propriedade de deslocar o oxigênio do ambiente. O processo de asfixia ocorre, então, porque o trabalhador respira um ar com deficiência de oxigênio. Sabemos que o ar precisa ter, no mínimo, 18% de O2, para a manutenção da vida. Exemplos de substâncias deste grupo são: hidrogênio, nitrogênio, hélio, metano, etano, acetileno, dióxido de carbono Asfixiantes químicos: pertencem a este grupo algumas substâncias que, ao ingressarem no organismo, interferem na perfeita oxigenação dos tecidos. Estas substâncias não alteram a concentração do oxigênio existente no ambiente. O ar respirado contém oxigênio suficiente, só que o asfixiante químico, que foi inalado junto com o oxigênio, não permite que este último seja adequadamente aproveitado pelo nosso organismo. O monóxido de carbono, a anilina e o ácido cianídrico são exemplos de asfixiantes químicos. Carcinogênios: substâncias que podem provocar o crescimento desordenado das células. Vídeo E - Todo LIMITE DE TOLERÂNCIA Referem-se às concentrações de agentes químicos, sob as quais, acredita-se, que quase todos os trabalhadores possam ficar, repetida e diariamente expostos, sem efeito adverso à saúde. O limite de segurança refere-se à população controlada, não valendo sua aplicação a jovens e crianças antes da idade laboral, nem a idosos Não constitui também parâmetro definitivo, abaixo do qual é permitido, ou acima do qual o trabalhador passa à doença. Há fatores de suscetibilidades individuais a serem considerados. Relação DOSE - EFEITO Vídeo D 3’ 18” a 7’ 35” Relação DOSE - RESPOSTA Atualmente considera-se que trabalhamos com cerca de 15.000 produtos químicos e a cada ano são introduzidos uns 3.000; existem LT para umas 700 substâncias. No Brasil, os Limites de Tolerância são tratados legalmente pela NR 15, em seu Anexo 11, e relacionados à caracterização de "insalubridade" e o consequente pagamento de adicional. As substâncias constantes da tabela de LTs do Anexos 11, 12 e 13 da NR 15 podem ser agrupadas em sete grupos: - grupo 1: substâncias de ação generalizada sobre o organismo. Os efeitos dependem da quantidade absorvida. Os LTs aplicados às substâncias deste grupo são os "Média Ponderada". Limite de Tolerância Média Ponderada: é a concentração média ponderada, existente durante a jornada de trabalho. Para os produtos químicos que possuem esse tipo de Limite de Segurança, podem haver exposições acima do valor fixado, desde que compensadas por outras exposições, ou ausência destas, abaixo do tal valor, acarretando média ponderada igual ou inferior ao Limite de Tolerância tabelado. A oscilação não pode ser indefinida, devendo respeitar um valor máximo, obtido através do FD (fator de desvio). Vm = LT x FD Onde: Vm – Valor máximo LT – Limite de Tolerância FD – Fator de Desvio (função do valor do LT) TABELA DE FATOR DE DESVIO LIMITE DE TOLERÂNCIA (L T) ppm ou mg/m³ FATOR DE DESVIO (FD) 0a1 3 1 a 10 2 10 a 100 1,5 100 a 1000 1,25 acima de 1000 1,1 - Grupo 2: substâncias de ação generalizada sobre o organismo, podendo ser absorvidas pela via cutânea. Limites de segurança foram fixados para absorção por via respiratória e estas substâncias podem ser absorvidas pela pele intacta (membranas, mucosas, pelos olhos). Possuem assinaladas nas tabelas a notação "absorção também pela pele". Como as substâncias do grupo 1, possuem L T média ponderada; - Grupo 3: substâncias de efeito extremamente rápido. São substâncias com L T valor teto, pois, por possuírem ação extremamente rápida, não podem ter esses valores ultrapassados em nenhum momento. Nas tabelas, possuem assinaladas a notação "valor teto". O FD (fator de desvio) não é aplicável a essas substâncias; - Grupo 4: substâncias de efeito extremamente rápido que podem ser absorvidas por via cutânea. Além do que foi escrito para as substâncias do grupo 3, há cuidados a serem tomados para proteger a pele dos envolvidos em seu manuseio. Somente quatro substâncias fazem parte desse grupo, tendo anotações nas colunas valor teto e absorção. São elas: álcool n-butílico, n-butilamina, monometil hidrazina e sulfato de dimetila; - Grupo 5: asfixiantes simples, gases/vapores que em altas concentrações deslocam o oxigênio do ar, sem provocar outros efeitos fisiológicos. Não é possível estabelecer LT pois o fator limitante é o oxigênio do ar. São elas: acetileno, argônio, etano, etileno, hélio, hidrogênio, neônio, propano e propileno; - Grupo 6: poeiras. Há apenas duas substâncias com LT fixados: asbesto e sílica livre cristalizada; - Grupo 7: substâncias cancerígenas, que podem provocar câncer no homem ou tenham-no induzido em animais sob determinadas condições experimentais. Podem ter LT anotado, portanto fazer parte de algum dos grupos anteriores. Também podem não ter LT assinalado e neste caso nenhum contato ou exposição poderá ser permitido. O Anexo 13, editado em 1978, não mais passou por revisão, sendo difícil aceitar que o MTb/SSST ainda não o tenha revogado, entretanto, devem podem ser usados limites de tolerância internacionalmente aceitos, exceto para definição da insalubridade. DETERMINAÇÃO DO RISCO ASSOCIADO A SUBSTÂNCIAS Os riscos da exposição a contaminantes podem ser caracterizados de 3 modos diferentes: - Via testes em animais: uma população de animais é exposta ao contaminante em estudo, durante um período de tempo que dura a maior parte ou toda a vida. São comparados com outros animais que não foram expostos ao contaminante e são denominados de controles. - Via testes em seres humanos: Não existe dificuldade para se observar os efeitos diretos de produtos químicos suspeitos sobre indivíduos. Raras vezes, porém, pessoas têm sido deliberadamente expostas a produtos tóxicos - Via testes de mutagenicidade: células de mamíferos e bactérias são expostas a várias concentrações do produto suspeito e as alterações celulares são observadas em função do tempo. Se determinadas alterações são bem caracterizadas e função da dose de exposição, então o produto químico é considerado um mutágeno neste sistema de testes. Um mutágeno é uma substância que pode causar alterações genéticas numa célula Atualmente dois métodos são mais comumente usados para se estimar limites aceitáveis de toxicidade para seres humanos. MÉTODO 1 - Assume-se que existe um valor limite inferior, ou seja, um valor de concentração ou dose de exposição abaixo do qual não ocorrem efeitos adversos à saúde. A mais alta concentração da substância que não produz efeitos danosos à saúde dos animais é dividida por um fator de segurança. Ex: 10 ppm de uma substância não causou efeitos em animais mas 50 ppm causou, então 10 ppm é dividido por um fator de segurança de 10, 100 ou 1000, de modo a se obter um limite de tolerância para pessoas. MÉTODO 2 - Nesta metodologia, para se relacionar dados de animais com valores para seres humanos, extrapola-se as altas exposições dadas para animais para as baixas exposições mais típicas de contaminantes ambientais, onde se assume não existir valor limite inferior. Ou seja, qualquer dose gera dano à saúde. Avaliação dos Riscos Químicos A exposição a agentes agressivos no meio ambiente de trabalho pode construir um risco para a saúde dos trabalhadores. Isto não significa que todo pessoal exposto irá contrair uma doença profissional. Sua ocorrência dependerá fundamentalmente de fatores tais como: a) toxicidade; b) concentração do agente; c) tempo de exposição; d) susceptibilidade pessoal. a) Toxicidade Duas diferentes substâncias podem causar danos distintos, apesar de apresentarem a mesma concentração e ter-se o mesmo tempo de exposição. Esta diferença de efeitos é denominada de toxicidade, que é normalmente expressa por quanto da substância mata 50% dos animais expostos. Esta quantidade pode ser representada pelas sigla DL50 ou CL50, indicando dose letal a 50% ou concentração letal a 50%. Em inglês as correspondentes siglas são LD50 ou LC50 ("lethal dose e lethal concentration"). (vídeo C – 11’ a 12’ 28”) CL50 - CONCENTRAÇÃO LETAL Refere-se a um método de medição da habilidade de um material de causar envenenamento quando é inalado por animais de teste. Ou seja, é a concentração da substância dispersa no ar que mata 50% dos animais de teste. Quanto menor o CL50, mais tóxico o produto. Os testes em geral são conduzidos num intervalo de tempo de 4 horas e a CL50 para um produto varia em função da espécie animal e do tempo de exposição. Portanto, estas informações devem acompanhar o valor apresentado. DL50 - DOSE LETAL Refere-se a um método de quantificar a habilidade de um produto de causar o envenenamento quando é engolido por animais de teste, ou quando é absorvido pela pele do animal. Ou seja, é a dose única que mata 50% dos animais testados. É expressa na unidade de miligrama de substância teste por kg de massa do animal, isto é, mg/kg. Quanto menor o valor da dose letal, maior a toxicidade. A DL50 para uma substância varia com a espécie animal, com a rota de entrada e com o tempo de exposição e, portanto, estas informações devem acompanhar o valor indicado. Concentração Uma pequena concentração de uma substância altamente tóxica pode gerar muitos danos à saúde, enquanto que uma alta concentração de outra substância pouco tóxica pode causar pequenos efeitos na saúde humana. É expressa na unidade de miligrama de substância teste Uma pequena concentração de uma substância altamente tóxica pode gerar muitos danos à saúde, enquanto que uma alta concentração de outra substância pouco tóxica pode causar pequenos efeitos na saúde humana. Tempo de Exposição O tempo durante o qual uma pessoa fica exposta a um produto químico ou a um agente físico. No caso do cigarro, o câncer de pulmão ou garganta surge em fumantes com de cerca de 20 ou mais anos de hábito. Indivíduos que trabalham em ambientes empoeirados, em geral não apresentam efeitos nos primeiros anos, mas as defesas naturais do corpo não resistem à longa exposição e várias formas de pneumoconioses surgem em função do tipo de poeira. Suscetibilidade Individual Todas as pessoas são diferentes e fatores como suscetibilidade, carga genética e estado geral de saúde são importantes. Em função destas diferenças, nem todo indivíduo exposto no trabalho a substâncias carcinogênicas desenvolverá câncer. É impossível prever quem desenvolverá e quem não desenvolverá a doença e, portanto, todos os conhecidos carcinogênicos e produtos tóxicos devem ser efetivamente controlados. Limite de Exposição e o Hábito de Fumar Substância Concentração (ppm) Fumaça de Cigarro TLV NR 15 Acetaldeído Acetona Amônia 3200 1100 300 C 25 500 25 78 780 20 CO2 Formaldeído Metanol 92000 30 700 5000 C 0,3 200 3900 T 1,6 156 CO 42000 25 39