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FUNÇÃO DOS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS - ARTIGO INTERFISIO

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“Papel dos hemisférios
cerebrais”
Artigo institucional
Boletim Informativo Semanal
Introdução
Especializar significa que a partir de um
desenvolvimento normal, os hemisférios
cerebrais assumem funções distintas e bem
definidas na “gerência” do comportamento
humano, capacidade esta, que de certa forma
pré-definida por alicérceres genéticos que
além
disto,
os
permitem
funcionar
parcialmente independentes mesmo quando
isolados
um
do
outro.
Na
visão
desenvolvimentista, tanto a capacidade de
funcionar isoladamente, quanto, a efetividade
na especialização são processos, em grande
parte, decorrentes da interação dialética entre
corpo, mente e ambiente que se expressa nas
vivências de um indivíduo desde o seu
nascimento em diante.
A competência neonatal do bebê é, sem
dúvida, um fator intrigante, mas de certa
forma plenamente explicável em termos do
seu potencial neural. Banich (1997),
apresenta materiais indicativos de que nesta
idade (e provavelmente em tempo anterior), o
neonato já possui todas as células nervosas
que irá ter ao longo da sua vida e, com uma
possível exceção para os olhos, o sistema
nervoso já é mais desenvolvido do que
qualquer outro sistema do corpo, muito
embora a sua especialização hemisférica só
venha a ser facilmente identicável entre os
cinco e dez anos de idade, paralela à
consolidação do processo da lateralização.
Essa especialização permite a criança
desenvolver o sentido de direcionalidade,
temporalidade, ritmicidade e lateralidade,
período em se torna claro o aperfeiçoamento
da coordenação motora e da percepção do
corpo no espaço e no tempo.
Numa primeira vista os hemisférios parecem
imagens de espelho (idênticos). Porém, a
ciência vem comprovando desde 1968 com
eficácia através de exames de pósitron
emission tomography (PET), imagem de
ressonância magnética funcional (fMRI),
eletroencefalografia (EEG) e fluxo sanguíneo
cerebral regional (rCBF), a existência de
assimetrias anatômicas, neuroquímicas e
funcionais
,
designando
assim
as
especializações hemisféricas.
Diferenças anatômicas
As
diferenças
anatômicas
entre
os
hemisférios são: O lobo frontal direito tende
a se estender mais adiante próximo ao crânio
e é mais largo do que o lobo frontal esquerdo.
O lobo occipital esquerdo estende mais para
trás, próximo ao crânio e é mais largo do que
o lobo occipital direito (Galabard, Lê May,
Kemper, e Geschwind, 1978). Na maioria dos
indivíduos, a fissura de Sylvian estende-se
mais na horizontal no hemisfério esquerdo, e
mais para cima no hemisfério direito
(Hochgerg & Lê May, 1975), onde no
hemisfério esquerdo, no plano temporal
localiza-se a área clássica da fala, e a área de
Werneck (compreensão da linguagem).
Estas diferenças se tornam importante quando
associadas às funções de cada hemisfério. Por
exemplo, o plano temporal esquerdo tem uma
importante área para a compreensão da
linguagem a qual, através da fMRI, foi
determinada como sendo uma área de
lateralização para a linguagem (Foundas et.
Al.,1994). Outra área diferente entre os
hemisférios é a porção opercular frontal que
está localizada no hemisfério esquerdo,
conhecida por área de Broca e responsável
pela fala (área 45 de Brodmann). Uma outra
região associada à fala é a área 39 de
Brodmann (temporo-parietal), a qual se
apresenta mais larga no hemisfério esquerdo
que no direito, sendo este hemisfério
responsável pela leitura. A região parietal
dorsal é mais larga no direito que no
esquerdo, é responsável pela percepção e
processamento espacial, e pela organização
do esquema corporal (Eidelberg & Galarbuda,
1984).
Diferenças neuroquímica
As diferenças neuroquímica entre os
hemisférios se dão pela diferença de
concentração de neurotransmissores. Por
exemplo,
grande
concentração
de
norepinefrina é encontrada mais no tálamo
direito que no esquerdo. O globo pálido
esquerdo tem mais concentração de dopamina
que o direito. A dopamina e norepinefrina têm
diferentes efeitos no comportamento humano,
estes achados levaram a hipótese de que o
processo mental é mais dependente da
dopamina, tanto quanto as atividades que
requerem prontidão de ação, e estão
localizadas no hemisfério esquerdo. Em
contraste com os processamentos da
norepinefrina, tal como aqueles que ajudam a
pessoa na orientação espacial em resposta a
percepção de um novo estimulo, estão
localizados no hemisfério direito ( D.Tucker
& Willian, 1984).
O mais importante para a especialização dos
hemisférios é: os diferentes processamentos
das funções atribuídas a cada hemisfério
como veremos em detalhes.
Marc Dax (1836) num dos encontros da
sociedade
médica,
relatou
estar
impressionado com a incidência da perda voz
em relação ao lado do cérebro que havia
sofrido lesão. Que em mais de quarenta
pacientes com afasia, a lesão se localizava
sempre no hemisfério esquerdo.
Paul Broca (1860), através de trabalhos e
biópsias verificou que o processamento da
linguagem se dava no hemisfério esquerdo.
Este estudo confirmou os achados de Marc
Dax. Broca tratou também da relação entre o
uso da mão e a fala e atribuiu a superioridade
inata do hemisfério esquerdo nos destro.
Criou-se então a “lei de Broca”, de que o
hemisfério controlador da fala se encontra no
lado oposto à mão predominante. A
comunidade científica, pegou em parte as
idéias de Broca, porque o ponto alto em
discursão no século XIX era a relação entre a
anatomia do cérebro e a função mental.
Broca tinha estudado e relatado um caso em
que o individuo só conseguia expressar uma
sílaba “tan” porém obedecia a simples
comandos verbais. Seu problema era
específico para a fala, e ele não apresentava
nenhuma paralisia que envolvesse a
musculatura inerente à fala. Mais tarde
quando foi feita biópsia do mesmo, Broca
detectou uma lesão numa área especifica do
hemisfério
esquerdo.
Quando
foram
realizadas, outras biópsias em outros cérebros
detectou que a mesma lesão estava presente
em indivíduos que apresentavam o mesmo
distúrbio da fala. Ele notificou que a lesão era
sempre na mesma região e o mais importante
é que estava sempre localizada no hemisfério
esquerdo. Além do mais indivíduos que
apresentavam lesão na área análoga do
hemisfério
direito
não
apresentavam
dificuldades na fala (Banich, 1997).
John Hughlings (1860) introduziu a idéia da
dominância hemisférica, onde um dos
hemisférios é dominante ou que aprende as
funções mentais (linguagem); o hemisfério
esquerdo era visto como hemisfério
dominante. O que prevalecia sobre o
hemisfério direito, era que, ele só era
importante
para
receber
informações
sensoriais do dimídio esquerdo, provenientes
do meio; e para dar o controle motor aos
movimentos do lado esquerdo do corpo.
Karl Wernicke (1870) observou que lesões
presentes na área 22 de Brodmann no
hemisfério esquerdo, os indivíduos perdiam a
capacidade de compreender a linguagem
como também apresentavam problemas na
leitura e na escrita. Apesar de manter a
habilidade da fala fluente (mesmo que sem
sentido), estado semelhante ao do paciente
hemiplégico portador da síndrome de pusher.
A comunidade cientifica no período de (19301960) obteve novas concepções sobre o
funcionamento dos hemisférios, revelando
que cada um tem sua própria especialização.
Brenda Milner (1960) e colegas do Montreal
Neurological Institute demonstraram que a
cirurgia de remoção da região temporal do
hemisfério direito para cura da epilepsia teve
como conseqüência à perda da memória do
individuo.
Sperry (1960) entretanto, elucidou o papel
funcional das comissuras hemisféricas. Após
seccionar o corpo caloso e cortar o quiasma
óptico dos animais em laboratório, eles se
comportavam como se fossem completamente
destreinados, concluindo que o corpo caloso
levava a informação visual de um hemisfério
para o outro durante o treinamento, e, que
também fornecia a via pela qual a informação
armazenada num hemisfério podia ser usada
pelo outro hemisfério na realização de
qualquer tarefa.
Sperry (1966) observou em um grupo de
pacientes
submetidos
a
cirurgia
de
seccionamento do corpo caloso, que quando
um objeto era apresentado no campo visual
direito ele respondia (nomeava) o que estava
vendo, porém o mesmo objeto era
apresentado no campo visual esquerdo , o
paciente negava de estar vendo qualquer
coisa, mas o identificava se pudesse toca-lo
com a mão direita, onde concluiu que o
paciente não conseguia nomear o estímulo
visual que era limitado ao hemisfério direito,
devido ser o hemisfério esquerdo o
processador da fala.
Jackson (1968), propôs que o lado esquerdo
do cérebro é o lado condutor (o lado da
vontade) e que o lado direito é o lado
automático. Afirmou que os hemisférios não
podem ser vistos como duplicatas, porque só
há perda da fala quando se tem lesão no
hemisfério esquerdo, o mesmo não ocorre
com lesão no hemisfério direito.
Sperry (1974) e associados do Califórnia
Institute of Technology testaram as
competências de cada hemisfério em uma
única série de pacientes. Por esta razão
Sperry foi o ganhador do Premio Nobel de
Fisiologia e Medicina em 1981.
Bogem e Vogel (1975) ficaram conhecidos
através do procedimento de Split-Brain, que
ao seccionaram o corpo caloso e a comissura
anterior de um grupo de pessoas para controle
de crises de
epilepsia. Após este
procedimento os hemisférios só recebem
aferências contra-laterais e perdem a
capacidade da intercomunicação. Foram
feitos testes com indivíduos que foram
submetidos ao split-brain; colocava-se
objetos nas mãos, uma de cada vez sem a
participação da visão. Eles eram capazes de
nomear os objetos colocados na mão direita,
mas não os objetos colocados na mão
esquerda, isto gerou duas possibilidades de
explicação para os resultados. Uma era que o
hemisfério direito era incapaz de identificar
objetos simples do dia a dia. A outra era que,
como Broca sugeriu há 100 anos a trás, que
somente o hemisfério esquerdo pode
controlar a fala.
Para decidir qual das hipóteses era a
verdadeira, os pesquisadores mudaram a
tarefa, então o paciente tinha que demonstrar
o uso correto dos objetos familiares, por
exemplo: pente, cigarro, copo, colher, escova
de dente e outros. Se o hemisfério direito sabe
sobre o mundo, mas não sabe falar. O
indivíduo deve saber demonstrar qual a
função dos objetos colocados na mão
esquerda. Comprovando que ele conhece o
mundo porem é incapaz de nomear os objetos,
devido à perda da intercomunicação
hemisférica (Sperry 1962).
Bogem (1975) sugeriu que a pesquisa das
diferenças hemisféricas tinha importantes
implicações para a questão da educação. Ele
afirmou que a falta de estimulação na metade
do cérebro, responsável pelas atribuições não
verbais (hemisfério direito), resultaria num
descaso sobre sua contribuição para a pessoa
total. Até esta época o hemisfério esquerdo
ocupava uma situação de destaque na
curiosidade dos pesquisadores onde o grande
enfoque eram as funções verbais, e as não
verbais. Sendo que as funções não verbais
ficavam em segundo plano de importância
servindo apenas de referencia na pesquisa,
não ocupando seu papel fundamental no
desempenho das tarefas não verbais,
necessárias ao processo da aprendizagem.
Gazzaniga & Lê Doux (1978) direcionaram
suas pesquisas para as funções do hemisfério
direito e sugeriram que o hemisfério direito é
especializado para a manipulação e
processamento
espacial
dos
aspectos
motores. Através dos testes das figuras
simétricas, também mostraram que o
hemisfério
direito
é
superior
no
processamento para o reconhecimento das
faces e expressões faciais.
H.W.Gordon
(1980)
no
estudo
da
especialização relativos a modalidade
auditiva concluiu que: A fala humana tem
melhor performance quando apresentada ao
ouvido direito sendo processado pelo
hemisfério esquerdo; e que os sons de animais
e a música apresentam melhor performance
quando apresentada ao ouvido esquerdo
sendo processado pelo hemisfério direito.
Levine & Banich (1983) em estudos relativos
a modalidade visual concluíram que: O
hemisfério esquerdo apresenta melhor
performance para identificar palavras; e que
o hemisfério direito apresenta melhor
performance
para
identificar
figuras
geométricas e faces (Levine, Banich e Koch
Weser,1988).
Gibson & Bryden (1983) desenvolveram
pesquisas na especialização hemisférica na
modalidade tátil, concluíram que: O
hemisfério esquerdo (mão direita) apresenta
melhor performance para identificar letras
escritas
na
palma
da
mão
direita
(esteriognosia para reconhecimento de
palavras); e que o hemisfério direito
apresenta
melhor
performance
para
identificar dois objetos de diferentes formas
colocados simultaneamente na mão esquerda
(esteriognosia para formas).
Na década de 80 já se tinham bastantes
referenciais quanto aos processamentos
sensoriais referentes a cada hemisfério (suas
especializações) o que estava sendo
questionado era qual a diferença da
velocidade de processamento em cada
hemisfério já que existe uma vasta rede de
interconexões
entre
cada
hemisfério
aproximadamente
250
milhões?
Os
pesquisadores tinham algumas idéias sobre
como as assimetrias perceptuais ocorrem nos
indivíduos normais. Uma se refere à TEORIA
DO ACESSO DIRETO, o hemisfério recebe a
informação sensorial e faz o processamento.
Se a informação chega no hemisfério
especializado, tem uma boa resposta. Se a
informação chega no hemisfério não
especializado tem-se uma resposta de baixa
qualidade. Outra ideia é a do COLLOSAL
RELAY MODEL, onde a informação chega
ao hemisfério se ele não for especializado ele
transfere a informação para ser processada no
hemisfério
especializado
(Zaidel,1983)
afirma haver degradação na velocidade da
resposta.
Após análise de vários estudos realizados,
relativos às competências hemisféricas e às
tarefas verbais e não-verbais, concluímos que
a TEORIA DO ACESSO DIRETO ocorre
quando, por exemplo, na aplicação de uma
tarefa verbal se aplica um estímulo verbal, e
na tarefa não-verbal se usa um estímulo nãoverbal. Então se a tarefa é não-verbal seu
processamento ocorrera no hemisfério direito
(em 90% da população onde predomina a
dominância do hemisfério esquerdo), e se o
estímulo for aplicado de forma não-verbal ele
será percebido e processado imediatamente,
porque foi
captado pelo hemisfério
processador do estímulo recebido, o mesmo
ocorre com as tarefas verbais quando o
estímulo aplicado é verbal. Ocorrendo assim
um processamento rápido e de alta qualidade,
resultando na performance da resposta.
Na TEORIA DO COLLOSAL RELAY
MODEL, o estímulo para a realização de uma
tarefa não-verbal, será verbal que será
percebido
pelo
hemisfério
esquerdo
encaminhado para o hemisfério direito
através das fibras do corpo caloso, onde será
processado e enviará a resposta adequada,
porém com um tempo maior (mais demorada)
devido à necessidade de intercomunicação
hemisférica para a melhor performance da
resposta. O mesmo processo ocorre quando a
tarefa é verbal e o estímulo aplicado é de
natureza não-verbal.
Sergent (1990) disse que tinha que se ter
cautela com as afirmações das especialidades
hemisféricas porque todos estudos tinham
sido feitos em experimentos de laboratório
(animais) e em pacientes que se submeteram
ao split-brain devido ao quadro de epilepsia,
e distúrbios do comportamento, então já eram
cérebros que funcionavam diferentes. A
afirmação que se pode fazer, é que o
hemisfério esquerdo processa a fala e o
direito processa as tarefas espaciais.
Recentes pesquisas afirmam que os
hemisférios diferem em suas habilidades para
processar futuras bases de informação
sensorial. Elas também afirmam que algumas
assimetrias
básicas
no
processamento
sensorial, nas diferenças hemisféricas, são
mais complexas nas tarefas cognitivas. Outro
grupo de pesquisadores sugere que as
diferenças hemisféricas estão mais em
“como” processar do que “o que” processar.
Fairweather & Sidaway (1994) fizeram uma
revisão nas habilidades hemisféricas, com
base nos estudos de (Murray, 1979),
revelando o importante papel do hemisfério
direito e esquerdo no processamento
percepto-motor. Porque até então o grande
foco era na função hemisférica verbal ou não
verbal, e nas diferenças funcionais de cada
hemisfério conhecido como hemisfericidade.
Hemisfericidade é a forte tendência de o
processamento
de
informações
ser
representado no hemisfério direito ou
esquerdo. Enquanto que dominância cerebral
é designada para classificar, qual hemisfério
é processador da fala e da linguagem.
Entretanto, há um caso especifico em que a
dominância do hemisfério da fala é invertida,
quando ocorre a dominância atípica
(Padovani, Pântano, Frontoni, Iacoboni, Di
Piero e Lenzi, 1992 apud Posner 1996).
Considerando que o hemisfério direito tem
alguma habilidade linguística; então, Bogen
(1969) propôs que a dominância cerebral deve
ser descrita, destacando as diferenças na
habilidade para organizar as informações.
Outros estudos: Pavlygina (1982), Rusinov
(1969), Mcglone (1980), Filipova e Bianki
(1985), Sadier e Deary (1996) apud (Pinheiro,
Nogueira, Sampaio e Ortiz 2001), mostram a
dominância funcional dos sistemas cerebrais,
onde, dependendo da natureza da tarefa, um
sistema se mantem em estado de inibição para
que o outro permaneça no estado de ativação
para a realização da tarefa em execução.
Podendo-se considerar a dominância como
um estado passageiro, conferido por um
sistema de aprendizado que promove
mudanças internas no comportamento do
indivíduo através dos avanços em padrões
fundamentais, determinados por estruturas de
ordem genética e cuja evolução se concretiza
paralelamente ao desenvolvimento do
processo de maturação neurológica, facilitada
pelo resultado da pratica e da experimentação
(como
sugerem
os
princípios
da
neurociência). Este aprendizado permite ao
sistema um arsenal de memórias, para que,
rapidamente se possa escolher a dominância
mais apropriada para ser usada na nova
situação promovendo a transferência.
Goleman (1995) diz que a partir dos 5-6 anos
de idade os hemisférios apresentam relativa
plasticidade em sua habilidade para
desenvolver diferentes funções, então
começam a se especializar. Os hemisférios
passam a se ocupar de funções diferentes e
bem definidas. Atualmente sabe-se através
dos avanços da pesquisa relacionados à
plasticidade neuronal, que a especialização
da função já vem imprimido no próprio
neurônio (ele já vem com função definida), e
que se torna visível na motricidade humana
por volta dos 6 anos de idade, devido ao
processo
de
maturação
do
S.N.C.,
proporcionado pelas experiências que o
indivíduo vai adquirindo e processando,
quando interage com o meio. Permitindo
assim a manifestação da dominância
hemisférica
(Banich,
1997).
Essa
especialização permite o sentido da
lateralidade e direcionalidade. Ocorre neste
período
também
aperfeiçoamento
da
coordenação motora e da percepção do corpo
no espaço. Inicia-se o raciocínio lógicoformal, sendo que, a partir do décimo ano de
vida observa-se um predomínio das funções
simbólicas sobre a motora. É durante a
infância, que a lateralização consolida os
processos específicos de habilidades dentro
dos hemisférios cerebrais: esquerdo e direito
na população normal (Bradshaw & Nettleton,
1983). Os processos específicos encontrados
em um nível mais alto em qualquer dos
hemisférios, é conhecido como dominância
hemisférica (Gazzaniga, 1970).
Com o objetivo meramente didático
ressaltaremos
a
superioridade
dos
processamentos
de
cada
hemisfério
esquematicamente
para
facilitar
a
memorização das mesmas devido a sua
importância para o processo do aprendizado
do educando quanto do educador.
Competências do hemisfério direito
O mecanismo de
processamento do
hemisfério direito tem superioridade sobre o
esquerdo nas tarefas espaciais e as nãoverbais tais como:
– Percepção e processamento espacial;
– Habilidades perceptivas visuo-espaciais;
– Melhor competência nos processamentos
visuo-motores;
– Responsável no processamento espacial dos
aspectos motores;
-Orientação
distancia);
espacial
(profundidade
e
– Organização do esquema corporal;
– Controle postural;
– Processamento para as notas musicais, e
sons de animais;
-Habilidades musicais;
– Processamento de movimentos rítmicos;
– Processamento do ritmo interno e externo,
que influenciam na qualidade do andar,
dançar e falar;
-Processamento simultâneo e holístico das
informações;
– Reconhecimento de faces, e expressões
faciais;
– Reconhecimento de figuras geométricas
através do tato (esteriognosia) e da visão;
– Melhor performance na realização de
tarefas de natureza não-verbal relativa à
espacialidade;
– Processa informações visuais de baixas
frequências espaciais;
– Melhor competência para processamento
perceptual em habilidades grosseiras;
– Vê a figura como um todo (gestalt);
– Nas lesões desenvolvem
agnosias e apraxias;
quadros
de
Vários estudos concluíram que indivíduos
com
lesões
no
hemisfério
direito
apresentaram dificuldade para reconhecer
objetos que não sejam padrão e são pobres
para distinguir faces que são previamente
vistas, tem dificuldade para reconhecer
diferentes entoações de sons e tons de voz,
não pode interpretar a expressão emocional
de faces. Estes estudos demonstraram que o
hemisfério direito tem habilidade cognitiva
para não verbal e não linguística.
Além do hemisfério direito apresentar melhor
performance nas tarefas motoras de
manipulação espacial, processa também um
importante
sistema
de
controle
dos
movimentos rítmicos, processando ritmo
interno com o ritmo externo, possibilitando a
harmonia da dança, do caminhar, do falar; de
perceber automaticamente à diminuição ou o
aumento de velocidade enquanto dirige, e
fazer o reajuste automático na velocidade
desejada
(possibilitada
pela
perfeita
harmonia da intercomunicação hemisférica),
onde a temporalidade e ritimicidade tem
competência no hemisfério esquerdo.
Lesões no hemisfério direito podem trazer
também esquecimento ou falta de atenção;
certas
agnosias
(perturbações
no
reconhecimento
e
na
percepção
de
informações), os pacientes podem apresentar
deficiência na capacidade de compreender
relações de profundidade e de distância ou de
lidar com imagens mentais de mapas e
formas. Para a modalidade visual o
hemisfério direito após lesão perde a
capacidade de reconhecer faces. Na audição
responde melhor a fala humana do que aos
sons de animais e notas musicais,
interpretando com maior rapidez e mais
precisão. Isto nos sugere que, apesar de o
hemisfério direito não poder falar (para a
grande maioria das pessoas), pode perceber,
aprender, lembrar e emitir comandos para
tarefas motoras.
Em testes utilizando blocos de madeira
coloridos em padrões coerentes, quando foi
utilizada a mão esquerda, esta teve melhor
desempenho, já que o hemisfério direito é
superior
nos
problemas
espaciais
–
perceptuais. Estudos sugeriram que este
hemisfério é especializado em manipular ou
realizar processamento espacial dos aspectos
motores e também foi superior no
reconhecimento de faces, (teste das faces
contendo metade homem e a outra metade
mulher).
A competência do hemisfério direito tanto
visuo-motor quanto holístico e a capacidade
de
processamento
simultâneo
das
informações, talvez tenham um grande
potencial de contribuição do hemisfério
esquerdo para aprender novas habilidades
motoras.
– Reconhecimento de palavras;
Competências do hemisfério esquerdo
– Melhor habilidade para reconhecimento da
fala humana;
O hemisfério esquerdo tem superioridade ao
direito nos processamentos temporais,
verbais e outros tais como:
– Nomeia objetos colocados na mão direita;
– Processamentos analíticos (em especial na
produção e compreensão da linguagem);
– Prontidão de ação no comportamento
humano, devido maior concentração de
dopamina no globo pálido esquerdo;
– Processamento da fala;
– No pensamento intelectual, racional, verbal
e analítico;
– Processamento de construções gramaticais
mais complicadas;
– Melhor performance para identificar letras
feitas
na
palma
da
mão
direita
(esteriognosia);
– Organização e “timing” do movimento
sequencial;
– É mais adaptado para processar altas
frequências audiovisuais;
– É especializado em codificar informações
finas;
– Identifica a figura fundo (no jogo dos sete
erros);
– Percepção e processamento temporal;
– Superioridade em caracterizar o parâmetro
temporal no comando motor;
– Precisão e velocidade;
– Participa no
programa motor;
controle
sequencial
do
– Importante na sucessão de transição
postural de um movimento para outro;
– Participa no programa de movimentos
sequenciais dos dois lados do corpo;
– Nas lesões deste hemisfério apresentam
quadros de afasia;
O hemisfério esquerdo participa na harmonia
da motricidade processando o “timing” da
ação do movimento desejado, assim como
organizando o programa sequencial do
movimento e fazendo a transição de um
movimento para outro, dando melhor
performance com a contribuição da
informação declarativa no processo que
estiver desempenhando.
No final do século XIX, emergia claramente
a certeza de que o hemisfério esquerdo
exercia um papel importante nas funções da
linguagem e, não somente na fala. Muitas
evidências mostraram ao longo dos anos, que
o cérebro esquerdo e o cérebro direito não são
iguais
em
suas
competências
ou
organizações.
As pesquisas na área têm aumentado cada vez
mais, com os exames mais abrangentes e mais
específicos.
Para
enriquecer
os
conhecimentos estamos relatando pesquisas
recentes e de relevância significativa sobre o
assunto.
Vários estudos têm mostrado que indivíduos
sinistros, (canhotos), apresentam ser mais bi hemisféricos nas representações funcionais
cognitivas do que os indivíduos destros.
Witelson e Goldsmith (1991) sugerem Como
resultado desta variação de assimetria
funcional, o volume das fibras do corpo
caloso em indivíduos canhotos. Afirmam
também que há uma maior comunicação interhemisférica, neste grupo de pessoas, podendo
ser a dominância invertida proveniente de
herança genética. Levy e Nagylaki (1972)
relataram vários casos de afasia em
indivíduos destros com lesões no hemisfério
direito e em canhotos com lesões no
hemisfério esquerdo.
Lent, et al (1993) utilizaram uma técnica de
rastreamento de neurônios em hamsters,
utilizando uma molécula fluorescente capaz
de inserir-se e trafegar dentro da membrana
celular, deixando nela um rastro fluorescente
de cor vermelha que pode ser identificado ao
microscópio, delineando assim o corpo do
neurônio caloso, o que permitiu o estudo
experimental à “outra ponta” dos neurônios
calosos: as fibras que atravessam a linha
media para contactar neurônios do hemisfério
oposto transmitindo a este, informações
provenientes do outro lado. Os neurônios
calosos são essencialmente células piramidais
cujas fibras arborizam extensamente no
córtex oposto, estabelecendo e mantendo as
assimetrias morfológicas e funcionais dos
hemisférios cerebrais. Schmidt e CaparelliDaqquer verificaram numa população de
camundongos com corpo caloso e acalosos
apresentavam sempre um hemisfério maior do
que o outro. Dentro do grupo normal
prevaleceu o esquerdo maior do que o direito.
Porem no grupo acaloso metade do grupo
apresentou o esquerdo maior e a outra metade
tinha o direito maior, onde concluíram que o
corpo caloso tinha influencia na morfologia
dos hemisférios durante o desenvolvimento.
Pasko Rakic, trabalhando na Universidade de
Yale, nos Estados Unidos, verificou que a
distribuição dos neurônios calosos ocupa
homogeneamente toda a superfície do córtex,
após o nascimento, torna-se heterogênea, com
regiões corticais repletas de células calosas e
outras desprovidas completamente. Innocenti
e O`Leary propõem que essas fibras que
parecem desaparecer, na realidade não
morrem,
apenas
eliminam
seus
prolongamentos inter-hemisféricos, emitindo
outros (conservando colaterais) para regiões
cerebrais do mesmo lado. Lent (1993)
ressaltou
que
estes
experimentos,
relacionando o corpo caloso com as
assimetrias morfológicas e funcionais, ainda
não foram comprovadas experimentalmente,
embora as pesquisas de laboratório permitam
a hipótese desta correlação. Giacheti &
Ricchieri – Costa (1999) demonstraram em
seus estudos a importância do corpo caloso no
processamento da percepção, associação,
memória sequencial auditiva e visual; na
expressão verbal; e não encontraram tal
importância para o processamento da
manipulação manual (este resultado foi
obtido através da aplicação do teste Illinois
de Habilidades Psicolingüísticas, em uma
criança portadora de agenesia do corpo
caloso).
Posner (1996) fez analogia de um estudo de
caso (F.A.) feito por Padovani, et al (1992) de
dominância atípica ou dominância inversa.
F.A.
apresentava
processamentos
hemisféricos inversos, o hemisfério direito
processava a fala, controlava a mão esquerda
(que era a dominante), apresentava todas as
competências
inerentes
ao
hemisfério
esquerdo
no
direito;
apresentou
o
processamento
das
competências
do
hemisfério direito no hemisfério esquerdo,
caracterizando a “dominância cerebral
atípica”. Duas teorias com bases anatômicas
foram levantadas para justificar a assimetria
cerebral: uma se apoiava no fluxo sanguíneo
cerebral e a outra na forma do corpo caloso
proposto por Witelson & Goldsmith (1991).
Carmon, Harishanu, Lowinger e Lavy (1972)
examinaram a assimetria no sistema
circulatório do cérebro e detectaram que o
volume sanguíneo do hemisfério não
dominante parecia estar mais aumentado do
que o do hemisfério dominante. Porém não
foram encontradas diferenças quanto ao fluxo
sanguíneo nem quanto à forma do corpo
caloso no exame feito em (F.A.). A teoria
mais convincente para a variação funcional
assimétrica é a teoria genética. Hardyck e
Petrinoch (1977) discutiram a influência da
história familiar na organização cerebral dos
canhotos.
Jancke, et al (1997) realizaram estudos
buscando relações entre o corpo caloso do
homem e da mulher, com a mão dominante
como propunham Witelson & Goldsmith
(1991). Não foram encontradas diferenças
anatômicas como foram propostas quanto à
mão dominante dos destros. Foi encontrada
no primeiro exame pós-morte, diferenças na
forma do corpo caloso quanto ao bulbo e ao
esplênio da mulher serem mais largos e
grossos do que no homem, não foi encontrada
significância quanto a mão dominante. As
comuns interpretações deste dismorfismo
sexuais têm sido refletidas, com a
conectividade inter-hemisférica aumentada,
devido ao aumento da ambilateralidade
feminina, especialmente para funções
cognitivas temporo-parientais (McGlone,
1980).
Gazzaniga (2000) ressalta a grande
importância que o splint brain trouxe para
uma melhor compreensão das especializações
hemisféricas, possibilitando o estudo básico
dos mecanismos neurológicos de cada
hemisfério e suas competências sem a
interferência do outro, como se organizam os
sistemas
sensoriais
e
motores,
a
representação cortical da percepção e do
processo cognitivo, a lateralização das
funções. Através destes estudos Gazzaniga
deixa claro o envolvimento do corpo caloso
no desenvolvimento de tantos sistemas
especializados, permitindo a reativação de
áreas corticais existentes como a preservação
das funções existentes. Por exemplo: a
linguagem emerge do hemisfério esquerdo,
devido a um sistema perceptual pré-existente,
a característica decisiva da bilateralidade
presente no sistema perceptual está de
“reserva” no hemisfério oposto. Servindo o
corpo caloso como grande comunicador entre
os dois sistemas, o sistema pré-existente pode
ser jogado fora tão logo uma nova função seja
ativada em um dos hemisférios, com o passar
do tempo o outro hemisfério pode continuar a
performance
da
previa
função
pela
intercomunicação inter-hemisférica. O Splint
brain também revelou o complexo mosaico
dos processos mentais que participam na
cognição humana.
Diferenças emocionais e comportamentais
Recentes estudos comprovam que o
processamento das emoções também tem
áreas especializadas em cada hemisfério. Foi
observado
durante
uma
pesquisa
experimental à atividade cerebral na
apresentação de estímulos aversivos, onde
várias regiões do sistema límbico eram
ativadas incluindo o tálamo, hipotálamo e a
amigdala. O estudo mostrou através da
utilização do fluxo sanguíneo cerebral
regional (rCBF) e da tomografia por emissão
de pósitron (PET), que a resposta à um
estímulo visual aversivo em comparação a um
estímulo visual neutro aumentava a atividade
cerebral na amigdala bilateral,
área
talâmica/hipotalâmica, e a área lateral
esquerda do córtex pré-frontal. Durante a
resposta a um estímulo visual neutro foi
observada
significante
diminuição
da
atividade da amigdala direita. Outros
experimentos feitos e monitorados com o uso
do EEG sugeriram, que os estímulos visuais
aversivos elicitam a atividade do córtex préfrontal direito, que o giro frontal medial
esquerdo é ativado no processo da percepção
do estímulo emocional, e que o giro frontal
medial direito está envolvido no processo do
reconhecimento (Liberzon, Taylor, Fig,
Decker, Koeppe & Minoshima, 2000).
Diferenças
de
personalidade
foram
encontradas
através
do
estilo
do
processamento
cognitivo
(dominância
hemisférica). Grupos de estudantes foram
avaliados pelas respostas, do ponto de vista
do processamento humano das informações
(HIPS),
17
estudantes
hemisféricos
esquerdos, 19 hemisféricos direitos, e 19 bi
hemisféricos. Nas relações com o grupo os
hemisféricos esquerdos apresentaram mais
liderança do que os direitos, mais
autocontrole do que os bi hemisféricos e
hemisféricos direitos, e mais ansiedade do
que os bi hemisféricos. Os hemisféricos
direitos mostraram mais extravasamento e
independência do que os hemisféricos
esquerdos e mais ansiedade do que os bi
hemisféricos. O grupo bi hemisférico mostrou
mais extravasamento e independência e
melhores habilidades de liderança do que o
grupo hemisférico esquerdo, e melhor
autocontrole e ajustamento e liderança do que
o grupo hemisférico direito (Gadzella 1999).
LeVay (1991) demonstrou que existem
diferenças de gênero em regiões mais
primitivas do cérebro, no estudo do
hipotálamo, onde a maioria das funções
básica da vida é controlada, também exerce
controle hormonal através da glândula
pituitária. LeVay descobriu que o volume de
um núcleo específico do hipotálamo é duas
vezes maior em homens heterossexuais do
que nas mulheres e nos homossexuais.
Especialização
controle motor
hemisférica
aplicada
ao
O hemisfério esquerdo é considerado como
hemisfério verbal, responsável pela fala em
95% das pessoas destras e a maioria dos
canhotos também, porém, 15% de pessoas
canhotas têm a área da fala no hemisfério
direito, além disso, em algumas pessoas
canhotas a fala é controlada por ambos os
hemisférios.
Em alguns estudos como o feito por Elliot e
colaboradores (1993), evidenciaram uma
superioridade da mão direita em precisão e/ou
velocidade, indicando uma dominância do
hemisfério esquerdo na preparação e controle
de movimentos em destros. Isso devido à
superioridade do hemisfério esquerdo em
caracterizar o parâmetro temporal no
comando motor ou em usá-lo melhor no
feedback ou ambos fatores
A habilidade motora de acompanhar um ritmo
auditivo (música) é inerente ao hemisfério
direito. Na lesão deste hemisfério foram
observadas dificuldades para acompanhar
ritmos auditivos que influenciaram na
qualidade do andar, dançar e falar (Fries &
Swihart, 1990). Watson & Kimura (1989)
sugeriram que o hemisfério direito pode
mediar o “timing” de várias funções e tem
vantagem no processamento de padrões de
melodias necessárias para tempo e ritmo.
O hemisfério esquerdo também participa no
controle sequencial do programa motor
(Bryden,1990; Harrington & Haaland,1991;
Sperry,1984). A sucessão de transição
postural de um movimento para outro numa
tarefa motora sequencial é facilitada pela
seleção de sistemas residentes no hemisfério
esquerdo. Ele também está envolvido no
programa de movimentos sequenciais dos
dois lados do corpo (Goodale,1988).
O propósito do estudo Velay (1998) foi de
investigar as respectivas contribuições de
cada hemisfério e a comunicação interhemisférica durante um programa de direção
de movimento através da medição do tempo
de reação com as duas mãos em situações com
o uso das mãos cruzadas e não cruzadas nos
destros e canhotos (sujeitos normais) e 1
paciente com lesão parcial do corpo caloso.
Os sujeitos experimentavam oito situações
diferentes: duas mãos, dois campos visuais
(direito e esquerdo) e 2 objetivos que foram
de apontar com suas mãos direita e esquerda
tão rápido e preciso fosse possível para um
objetivo visual que aparecesse brevemente no
ponto de fixação central à direita ou esquerda.
O estudo concluiu que a mão dominante pode
executar o movimento com a mesma precisão,
porém mais rapidamente do que com a mão
não dominante. Algumas vantagens da mão
direita em destros podem ser frequentemente
mostradas, e reflete uma superioridade do
hemisfério
esquerdo
para
parâmetros
temporais de comandos motores, ou devido ao
uso de feedback ou ambos, como vimos no
trabalho de Elliot. Concluindo, os resultados
confirmam que em destros, o hemisfério
direito pode ter importante papel num
programa de direcionado movimento, mas
esta assimetria hemisférica não existe em
canhotos. No caso do paciente as diferenças
ao usar as mãos cruzadas e não cruzadas
diminuíram o tempo de reação, nos
demonstrando que o corpo caloso faz com que
as transmissões ocorram de forma mais
rápida.
Especialização
percepção
hemisférica
aplicada
à
Devemos considerar o hemisfério direito
como o hemisfério que tem esperteza no
domínio espacial, ou seja, processamento não
verbal, exceto em 15% dos canhotos (que tem
sua área da fala no hemisfério direito). Este
hemisfério pode perceber, aprender, lembra r
e emitir comandos para tarefas motoras e
compreender linguagem primitiva, pois
processa entradas linguísticas simples.
O hemisfério direito não é apenas uma cópia
do hemisfério esquerdo sem capacidade
verbal. Em tarefas perceptuais, o hemisfério
direito tem na realidade, melhor desempenho
que o esquerdo.
O hemisfério direito é superior em
performance de manipulação espacial,
orientação espacial e reconhecimento de
figuras gráficas (Vallar, Lobel, Galati,
Berthoz, Pizzamiglio e Lê Bihan,1999).
Franco & Sperry (1977) examinaram cinco
pacientes de split-brain na habilidade de
manipulação espacial, observaram que o
melhor desempenho foi obtido com a mão
esquerda (processamento no hemisfério
direito), mas que a mão direita também era
capaz, porém, necessitava de um tempo maior
para realizar a tarefa. Também sugerem que
uma demonstração não verbal requer um
processamento, para que as imagens visuais
sejam comparadas com a “imagem”
proprioceptiva.
Evidencias sugerem que o hemisfério direito
apresenta
mais
competência
para
processamento perceptual em habilidades
grosseiras (Chase & Hamilton, 1992). Elas
são
necessárias
quando
aprendemos
sequências de movimentos que incluam várias
atividades físicas.
Como já vimos devido ao cruzamento das vias
visuais, a informação visual restrita a um
hemicampo é levada primeiro ao hemisfério
contralateral e depois, pelo corpo caloso, para
o hemisfério ipsilateral. Os pacientes destros
respondem tipicamente com um percentual
mais alto de reconhecimento quando são
apresentadas palavras no campo visual direito
e as imagens figurativas são apresentadas ao
campo visual esquerdo. Os pacientes
canhotos mostram maior variabilidade em
relação ao campo visual para a resolução da
tarefa.
Shaywitz et al (1995) descobriram que as
mulheres processam a linguagem verbal
simultaneamente nos dois hemisférios,
enquanto que os homens tendem a processala apenas no hemisfério esquerdo. Este estudo
foi realizado através do PET e da fMRI em 38
cérebros de indivíduos destros (19 homens e
19 mulheres). A diferença foi demonstrada
em um teste em que os sujeitos deviam ler
uma lista de palavras sem sentido e encontrar
suas rimas.
Davidson, Cave, Sellner (2000) observaram
diferenças e interferências da atenção visual,
nas tarefas entre homens e mulheres que
reflete na lateralidade cerebral, através da
aplicação de tarefas que exigiam memória da
palavra escrita e memória de atenção
espacial. Confirmaram a superioridade do
hemisfério direito nos processamentos
espaciais, e o esquerdo como verbal. Os
resultados indicaram dois efeitos separados
da lateralidade nos homens. A ativação de um
hemisfério produziu mais atenção para a
percepção contralateral, o segundo, na tarefa
da carta usaram mais a percepção visual do
olho direito do que o do esquerdo. Nenhum
desses efeitos apareceram nas mulheres,
sugerindo que os cérebros das mulheres
executem seus processamentos mais bi hemisfericamente do que os homens, tendo as
funções menos lateralizadas.
Jeffrey Conel (1998) utilizando chineses
graduados, onde eram projetados caract eres
no seu campo visual direito e esquerdo,
demonstraram em seus estudos que o
hemisfério esquerdo até certo ponto
reconhece melhor que o hemisfério direito,
pelo menos para imagens gráficas dos
caracteres de alta complexidade visual, sendo
também comprovado maior competência do
hemisfério direito no processamento de
reconhecimento das imagens gráficas dos
caracteres de baixa e média complexidade.
Pode-se concluir que os orientais que usam
idiomas escritos baseados em figuras tendem
a utilizar ambos os hemisférios cerebrais,
independentemente do gênero. Sergent
(1983) observou o mesmo que o presente
estudo, mas trabalho contraditório foi feito
por Duda e Adams Hellege (1987), que
realizaram metodologia diferente.
Kaiser, et. Al. (2000) investigaram o
processamento cortical da percepção da
direção do som em 12 indivíduos, através do
aparelho
de magneto encefalográfico,
sugerindo que o hemisfério direito está
envolvido no processamento bidirecional da
origem do som. No entanto as regiões do
hemisfério
esquerdo
responderam
predominantemente aos sons apresentados
contra lateralmente. Estes achados podem
ajudar para elucidar tal fenômeno como
negligencia auditiva unilateral.
Henrik, et. Al. (2000) num estudo realizado
com o objetivo de observar e comparar as
áreas de ativação cerebral durante uma tarefa
que exige precisão versus força. Avaliaram as
hipóteses através da fMRI. A atividade
registrada no córtex sensorial e motor
primário contralateral a mão operadora, foi
maior na tarefa que exigia força do que
quando foi solicitada precisão. Em contraste,
a atividade na área pré-motora ventral
ipsilateral, área motora do giro do cíngulo, e
várias localizações no córtex parietais
posterior e pré-frontal foi forte quando
fizeram a tarefa associando precisão com
força.
A
força
foi
associada
predominantemente
com
a
atividade
registrada no hemisfério esquerdo na área
cerebral, a precisão envolveu ativações
extensivas em ambos hemisférios, e também
apresentou melhor performance quando
realizada com a mão direita.
Como visto no trabalho citado o hemisfério
esquerdo é responsável também pelo
raciocínio
complexo.
Distingue-se
no
pensamento intelectual, racional, verbal e
analítico e também no processamento de
construções gramaticais mais complicadas.
No trabalho de Heiss, Kessler e colaboradores
(1999), estudaram 23 pacientes que sofreram
lesão do hemisfério esquerdo devido a um
acidente vascular cerebral, ficando afásicos.
O estudo foi feito após 2ª e 8ª semanas do
AVC, comparando com um grupo controle,
onde utilizaram o PET (H2 O – pósitron
emission tomography) correlacionado com
exame de ressonância magnética, para análise
das mudanças no fluxo sanguíneo na
recuperação das funções da linguagem. Os
pacientes foram classificados de acordo com
a localização de suas lesões, e o grupo foi
heterogêneo com relação ao tipo de afasia, e
viram que o distúrbio de linguagem dos
pacientes com lesão no lobo temporal foi mais
comprometedor que dos pacientes com lesão
do lobo frontal, que foi pior que dos pacientes
com lesão sub-cortical, na recuperação no
funcionamento da fala.
Um procedimento de grande importância
clínica para a demonstração das diferenças
hemisféricas é o teste de Wada, que foi
desenvolvido para determinar o hemisfério
dominante para as funções da fala para que se
pudesse evitar lesões inadvertidas dos centros
da fala durante a neurocirurgia. Nesse teste, o
paciente é instruído a cantar em voz alta ou a
falar continuamente enquanto amital sódico,
um barbitúrico de ação rápida, é injetado na
sua artéria carótida interna esquerda ou
direita. A droga tem um acesso preferencial
ao hemisfério do mesmo lado em que é
injetada e causa breve disfunção naquele
hemisfério. Se for o hemisfério dominante
para a fala o afetado, o paciente para de falar
e não responde ao comando para continuar.
Como era de se esperar, o teste confirma que
quase todas as pessoas destras (95%) têm o
processamento da fala no hemisfério
esquerdo. O que foi surpreendente, é que a
maioria dos canhotos também. Contudo, um
número significativo (15%) de pessoas
canhotas tem o processamento da fala no
hemisfério direito. Além disso, em algumas
pessoas canhotas, a fala é processada pelos
dois hemisférios. Nestes pacientes, as
injeções de amital sódico de cada lado não
suprimiram a função da fala.
Foi visto também na aplicação da técnica de
Wada que injeções de amital sódico à
esquerda (causando depressão das funções
deste hemisfério) tende a produzir no
comportamento um breve estado de depressão
(pela diminuição da ação da dopamina), e a
mesma técnica utilizada a direita, produz um
estado de euforia (pelo aumento da
concentração dopamina)
Conclusão
Funções importantes são realizadas por
ambos hemisférios, processos básicos como a
análise sensorial, a atenção, a memória, o
aprendizado (cognição) e o cálculo podem ser
realizados por qualquer um dos hemisférios.
A capacidade do hemisfério direito é apenas
limitada, quando a tarefa implica raciocínio
complexo ou analítico.
Diz-se às vezes que nosso cérebro é
constituído por um hemisfério esquerdo que
se distingue no pensamento intelectual,
racional, verbal e analítico e um hemisfério
direito que se destaca na discriminação
sensorial e no pensamento emocional, nãoverbal e intuitivo. No entanto no cérebro
normal,
com
extensas
interconexões
comissurais, a interação dos dois hemisférios
é tal que não podemos dissociar claramente
suas funções especializadas.
De fato, há agora evidências de que a
capacidade de um hemisfério desempenhar
uma tarefa especializada pode deteriorar
quando for desconectada do outro hemisfério
após a comissurotomia.
Assim, apesar das diferenças dramáticas nas
capacidades dos hemisférios isolados, quando
estão interconectados parecem se ajudar
mutuamente numa variedade de tarefas, tanto
verbais como não-verbais. Esta integração é
que possibilita a harmonia do gestual, da
melodia, da beleza harmônica do contexto do
ser humano, manifestada através da total
performance da motricidade.
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Disponível em: https://interfisio.com.br/papel-doshemisferios-do-cerebro/
Compilação em formato PDF: Prof. Esp. Uitairany
do Prado Lemes
Disciplina: Psicomotricidade;
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