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Literatura
Vanessa de Paula Hey
Livro do Professor
Volume 11
Livro de
atividades
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Bg
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)
H615 Hey, Vanessa de Paula.
Literatura : livro de atividades : Vanessa de Paula Hey. –
Curitiba : Positivo, 2017.
v. 11 : il.
ISBN 978-85-467-1646-3 (Livro do aluno)
ISBN 978-85-467-1613-5 (Livro do professor)
1. Ensino médio. 2. Literatura – Estudo e ensino. I. Título.
CDD 373.33
©Editora Positivo Ltda., 2017
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem autorização da Editora.
ab
el
Segunda geração
modernista
05
Romance de 30
Durante toda a década de 1930 e os primeiros anos da década de 1940, o mundo e o Brasil passaram por sensíveis transformações (Crise de
29, Segunda Guerra Mundial, Era Vargas), que seriam retratadas pela arte.
Os modernistas brasileiros da segunda geração passaram a dialogar com esse novo contexto. A literatura desse período demonstrou amadurecimento formal e estilístico, consolidou as conquistas da primeira fase abandonando as ideias mais radicais e retomando certas tendências
do passado. Se antes o que predominava era o projeto estético (ruptura com os moldes tradicionais), o que impera nessa geração é o projeto
ideológico, as obras demonstram um engajamento político-social e uma análise crítica da realidade.
O Romance de 30 teve como elemento comum a todos os escritores surgidos na época a preocupação com a realidade brasileira. A linguagem, antes marcada pelas experimentações linguísticas tão revolucionárias, se apresenta de maneira menos ousada e se compromete mais com
o registro da realidade da época, o que possibilita a associação a certos pressupostos do Realismo-Naturalismo. Os personagens ganham uma
dimensão psicológica e social mais aprofundada.
No Nordeste, mais especificamente em Recife (PE), um grupo de escritores e intelectuais (entre eles José Lins do Rego e Gilberto Freyre) publicavam o Manifesto Regionalista, nele constam suas propostas quanto à necessidade de se escrever uma literatura que dialogasse com as questões
políticas e sociais. Ele também apresenta um painel das diversas regiões interioranas, denunciando os diversos problemas que assolavam (e ainda
assolam) o Brasil.
Perspectiva nordestina na prosa de 1930
As principais características do romance regionalista de 1930 são:
Visão crítica da realidade brasileira: literatura como instrumento de denúncia de problemas regionais como: coronelismo, questão agrária,
seca, miséria, disputa de poder, corrupção entre outras mazelas.
Influência do pensamento marxista: muitos dos escritores desse período adotaram ideias socialistas e comunistas. Para a época, essa
postura ideológica era subversiva aos olhos do regime ditatorial imposto por Getúlio Vargas.
Os ciclos econômicos: são abordadas várias regiões brasileiras, bem como suas respectivas organizações sociais e políticas, estas
intimamente influenciadas por sua condição econômica. Entre os ciclos estão: o da cana-de-açúcar, o da seca e pecuária e o do cacau.
Romance urbano na década de 1930
A Geração de 30 não produziu apenas obras regionalistas, mas também, prosas ambientadas nos espaços urbanos. Esses romances construíram um painel da burguesia que se formou nas cidades.
Datam da mesma época os chamados romances urbanos e psicológicos, que apresentam como aspecto comum a introspecção, eles se
detêm na análise psicológica dos personagens e nas relações destes com o meio em que vivem. Dentro dessa tendência destacam-se: Os ratos,
de Dionélio Machado, O amanuense Belmiro, de Ciro dos Anjos, A estrela sobe, de Marques Rebelo, Crônica da casa assassinada, de Lúcio Cardoso.
Erico Verissimo (1905-1975), excelente contador de histórias, produziu escritos importantes que exploraram os espaços periféricos das cidades
e os tipos sociais que por ali circulavam. Para isso utilizou-se de uma linguagem simples e acessível. Sua obra pode ser dividida em três fases:
Anos 1930-1940: romances urbanos ou “Ciclo de Clarissa”: trata dos costumes da sociedade do Rio Grande do Sul. Em Clarissa (1933) e
Música ao longe (1936) o autor conseguiu representar os dilemas, anseios e contradições da pequena burguesia.
Anos 1940-1960: painel da história e das tradições gauchescas ou o “Ciclo Sulino”: fase em que o autor produziu sua obra-prima, a trilogia
intitulada O tempo e o vento (a grande epopeia gaúcha, composta de três partes e sete volumes: O continente, O retrato e O arquipélago)
que mostram duzentos anos de história do Rio Grande do Sul.
Anos 1960-1970: engajamento político e social: motivado pelo Golpe Militar de 64, o autor usou suas obras como forma de denunciar as
arbitrariedades do Regime. Entre elas estão: O prisioneiro, O senhor embaixador e Incidente em Antares.
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Volume 11
PRINCIPAIS ESCRITORES DA PROSA REGIONALISTA DE 1930
Graciliano Ramos (1892-1953)
Principais obras
Reúne em sua obra a análise sociológica e psicológica. Há um constante conflito entre
o homem e o meio em que ele vive. O autor trata dos problemas nordestinos como a
fome, seca, entre outros tantos de maneira objetiva, sem concessões sentimentais. Sua
linguagem pode ser caracterizada como concisa, os períodos são curtos e há a mistura
entre elementos acadêmicos e elementos da linguagem regional. Os personagens
criados por suas obras são representantes de classes sociais, geralmente calados e
ensimesmados, encontram-se constantemente atormentados.
Caetés (1933)
Raquel de Queiroz (1910-2003)
Principais obras
Explora em suas obras o drama das secas. Sua prosa é caracterizada como enxuta
e dinâmica – principalmente pelo efeito causado pelo uso do discurso direto, que
aproxima sua forma de narrar à tradição novelística popular. Retratou o sertão de
maneira objetiva, e também realizou uma investigação do feminino, de maneira um
tanto quanto subjetiva. As metáforas relacionadas à realidade externa se misturam a
uma investigação psicológica, algo, até então, novo na literatura brasileira.
O quinze (1930)
São Bernardo (1934)
Angústia (1936)
Vidas secas (1938)
Memórias do cárcere (1953)
João Miguel (1932)
Caminho de pedras (1937)
As três Marias (1939)
Dôra, Doralina (1975)
Memorial de Maria Moura (1992)
José Lins do Rego (1901-1957)
Principais obras
Um dos idealizadores do Romance de 30. O autor foi criado em uma família de
proprietários rurais, desta forma, sua obra reflete um mundo organizado segundo
as convenções do patriarcalismo rural, no qual indivíduos que não possuem terras
ficam sujeitos ao juízo dos grandes proprietários de terra. A linguagem presente
em sua prosa pode ser caracterizada como leve, popular, fluída, ela capta a vida
nordestina e a registra em um momento de transformações de ordem social
e econômica (decadência dos engenhos que deram lugar as usinas modernas).
Temas recorrentes em sua obra: morte dos banguês, agonia dos engenhos, domínio
crescente das usinas, mecanização da lavoura.
Menino de engenho (1932)
Jorge Amado (1912-2001)
Principais obras
Autor viveu sob um período ditatorial, e como os outros autores dessa geração,
retratou, com o uso de uma linguagem simples, a decadência dos latifúndios, a má
distribuição de terras, o coronelismo, a miséria, enfim, a triste realidade brasileira.
Principais temas: ciclo do cacau (relata as sangrentas disputas de terras, em busca
da conquista daquelas mais produtivas para o plantio de cacau), romances proletários
(refletem o ponto de vista do trabalhador e das classes sociais marginalizadas), Bahia
pitoresca (faz um retrato do estado baiano: o povo, as mulheres, a paisagem, etc.).
Cacau (1933)
Usina (1936)
Fogo morto (1943)
Cangaceiros (1953)
Mar morto (1936)
Terras do sem fim (1943)
Gabriela, cravo e canela (1958)
Tieta do agreste (1977)
Aproximações entre o regionalismo brasileiro de 1930 e a literatura de países
africanos de língua portuguesa
Surge em Cabo Verde, ex-colônia portuguesa na África, uma consciência nativista, ou seja, a preocupação em definir marcas próprias dessa
sociedade. Motivados por uma consciência nacional, os escritores do período foram responsáveis pela publicação da revista Claridade (1936),
nela buscam uma nova forma de se expressar em português, evidenciando por meio da linguagem, elementos próprios da cultura local. Neste
contexto, a literatura regionalista de 30 exerceu um papel estratégico para o desenvolvimento da literatura cabo-verdiana. As obras de José Lins
do Rego e Jorge Amado tiveram grande receptividade entre os intelectuais da ilha, primeiro por ter em comum o idioma, segundo pela similaridade climática (seca).
Literatura
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Atividades
1. Sobre a prosa da década de 1930, é INCORRETO afirmar que:
a) A preocupação com a realidade social brasileira foi o
elemento comum a todos os grandes prosadores de década de 1930.
b) É possível afirmar que a linguagem utilizada por esses
romances está comprometida com o relato da realidade da época.
c) Os personagens criados por essa estética são mais
complexos. Aprofundam-se as relações homem-natureza e homem-sociedade, dentro de uma perspectiva crítica, o que evidencia a difícil condição
humana diante de um mundo tão injusto.
X d)
Ao chamar atenção para a condição humana, os
prosadores de 30 aceitaram as óbvias relações deterministas de causa-efeito, tão presentes na literatura naturalista.
e) Há na literatura produzida nesse período o predomínio do projeto ideológico sobre o estético – característico da primeira geração modernista.
2. O Manifesto Regionalista, proferido em 1926 na cidade
de Recife, durante o I Congresso de Regionalismo, associa o regional ao projeto modernista de investigação
do Brasil. Com base nesse contexto, analise as seguintes afirmações e assinale verdadeiro (V) ou falso (F).
( F ) O Manifesto Regionalista, publicado em 1926, é
considerado o marco inicial da segunda geração
modernista.
( V ) Não apoiava o separatismo – tendência dos habitantes de um território a separar-se do Estado
de que fazem parte para construir um Estado independente – nem o bairrismo – defesa dos interesses de sua terra, de maneira obsessiva e em
detrimento dos demais.
( V ) Suportava a ideia de uma articulação inter-regional,
ou seja, a integração ou ligação entre as regiões.
( V ) Seguindo certos ideais comunistas e socialistas,
defendeu os valores plebeus, e não apenas dos
elegantes e letrados.
( V ) Discute a integração do regional ao todo da nação,
busca a expressão do Modernismo no espaço regional com o intuito de formular uma identidade
nacional, e para que esse projeto se consolide,
pede a participação dos artistas brasileiros.
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Volume 11
3. Sobre o Romance de 30, é correto afirmar que:
I. Narrativas – escritas por autores nordestinos – que
serviam de instrumento de denuncia à organização
social brasileira.
II. Em comum, essas narrativas discutiram a problemática agrária e social brasileira.
III. Seguindo a mesma tendência da geração anterior,
colocou o plano estético acima do plano ideológico.
IV. Representou o amadurecimento e o aprofundamento das conquistas da Geração de 22, resultando em
uma literatura mais construtiva e politizada.
a) I apenas;
b) III e IV;
c) I, II e III;
d) II, III e IV;
X e)
I, II e IV.
4. Sobre as obras de Graciliano Ramos, relacione as colunas.
( 1 ) São Bernardo
( 2 ) Angústia
( 3 ) Vidas secas
( 4 ) Caetés
( 4 ) Primeira obra do autor, sua ação ocorre em uma
pequena cidade do interior de Alagoas. O título do
romance se refere a um outro romance que o narrador está escrevendo e não à trama da história que
o leitor está acompanhando. João Valério, personagem-narrador, sente as dificuldades de continuar
escrevendo seu livro (que relata seu caso de adultério com Luísa).
( 1 ) Paulo Honório, personagem-narrador, assim como
Bentinho em Dom Casmurro (obra de Machado de Assis), conta sua história com o propósito
de entender o descalabro de seu mundo. Nesse
romance, o ciúme e a brutalidade inviabilizam a
felicidade.
( 2 ) Considerada por muitos críticos a obra-prima do
autor. O enredo apresenta um corriqueiro triângulo
amoroso que termina em tragédia, essa serve de
motivo para a análise profunda da personalidade
humana: é o drama da marginalização e da revolta
contra as desigualdades sociais.
( 3 ) Relata o drama cíclico dos retirantes nordestinos.
O título da obra já aponta para o grau absurdo de
pobreza e miséria do sertão nordestino. Conduzido
pela seca, a família de retirantes resiste a quase
impossibilidade de sobrevivência no sertão.
5. A produção literária de José Lins do Rego pode ser
divida em dois ciclos: o ciclo da cana-de-açúcar e o
ciclo do cangaço. Sobre eles é correto afirmar que:
( V ) cada um dos ciclos tem um núcleo temático comum: a decadência dos engenhos.
( V ) o ciclo da cana-de-açúcar é composto de histórias
e personagens relacionados à produção de açúcar
nos antigos engenhos. Entre essas obras estão os
romances: Menino de engenho, Banguê, Usina e
Fogo morto.
( V ) o ciclo do cangaço apresenta histórias relacionadas à brutalidade das ações do cangaço. Fazem
parte desse ciclo os romances: Pedra bonita e
Cangaceiros.
( F ) de modo geral, os dois blocos representam a
modernização dos engenhos. A substituição dos
engenhos pelas usinas só melhorou as condições
socioeconômicas da região nordestina.
6. (UENP – PR) O “Romance de 30”, de modo geral, foi
marcado, entre outras características, por:
a) Cenários idílicos e encantadores.
b) Símbolos de cunho religioso.
c) Personagens campestres idealizadas.
d) Valorização da arte pela arte.
X e)
Conflitos do homem com seu meio.
Textos para as questões 7 e 8
Texto I
“Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias. O
que o segurava era a família. Vivia preso como
um novilho amarrado ao mourão, suportando
ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. (...) Tinha aqueles
cambões pendurados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá-los? Sinhá Vitória dormia mal
na cama de varas. Os meninos eram uns brutos,
como o pai. Quando crescessem, guardariam as
reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo.”
(Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75)
Texto II
Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro,
enigmático, impermeável. Não há solução fácil
para uma tentativa de incorporação dessa figura
no campo da ficção. É lidando com o impasse, ao
invés de fáceis soluções, que Graciliano vai criar
Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura romanesca, uma constituição de narrador
em que narrador e criaturas se tocam, mas não se
identificam. Em grande medida, o debate acontece porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a despeito de aparecer
idealizado em certos aspectos, ainda é visto como
um ser humano de segunda categoria, simples
demais, incapaz de ter pensamentos demasiadamente complexos. O que Vidas Secas faz é, com
pretenso não envolvimento da voz que controla
a narrativa, dar conta de uma riqueza humana
de que essas pessoas seriam plenamente capazes.
(Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP,
n.° 2, 2001, p. 254.)
7. (ENEM) No texto II, verifica-se que o autor utiliza
X a)
linguagem predominantemente formal para problematizar, na composição de Vidas Secas, a relação
entre o escritor e o personagem popular.
b) linguagem inovadora, visto que, sem abandonar a
linguagem formal, dirige-se diretamente ao leitor.
c) linguagem coloquial para narrar coerentemente
uma história que apresenta o roceiro pobre de forma
pitoresca.
d) linguagem formal com recursos retóricos próprios
do texto literário em prosa para analisar determinado momento da literatura brasileira.
e) linguagem regionalista para transmitir informações
sobre literatura, valendo-se de coloquialismo para
facilitar o entendimento do texto.
8. (ENEM) A partir dos trechos de Vidas Secas (texto I) e
das informações do texto II, relativas às concepções
artísticas do romance social de 1930, avalie as seguintes afirmativas.
I. O pobre, antes tratado de forma exótica e folclórica
pelo regionalismo pitoresco, transforma-se em protagonista privilegiado do romance social de 30.
II. A incorporação do pobre e de outros marginalizados
indica a tendência da ficção brasileira da década de
Literatura
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30 de superar a grande distância entre o intelectual
e as camadas populares.
III. Graciliano Ramos e os demais autores de década
de 30 conseguiram, com suas obras, modificar a
posição social do sertanejo na realidade nacional.
É correto apenas o que se afirma em
a) I.
b) II.
c) III.
X d)
I e II.
e) II e III.
10. (UNICAMP – SP) Leia os seguintes trechos de O cortiço
e Vidas secas:
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum
de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. (...). Sentia-se
naquela fermentação sanguínea, naquela gula
viçosa de plantas rasteiras que mergulhavam os
pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida,
o prazer animal de existir, a triunfante satisfação
de respirar sobre a terra.
(Aluísio Azevedo, O cortiço. Ficção completa. Rio de Janeiro: Nova
Aguillar, 2005, p. 462.)
9. (UFMG) Leia este texto:
O céu, transparente que doía, vibrava, tremendo feito uma gaze repuxada.
Vicente sentia por toda parte uma impressão
ressequida de calor e aspereza.
Verde, na monotonia cinzenta da paisagem,
só algum juazeiro ainda escapo à devastação da
rama; mas em geral as pobres árvores apareciam
lamentáveis, mostrando os cotos dos galhos
como membros amputados, e a casca toda raspada em grandes zonas brancas.
E o chão, que em outro tempo a sombra
cobria, em uma confusão desolada de galhos
secos, cuja agressividade ainda mais se acentuava pelos espinhos.
QUEIROZ, Rachel de. O quinze. São Paulo: Círculo do Livro, 1992.
p.17-18.
Neste texto, o narrador refere-se à seca nordestina.
IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a tendência, na literatura
brasileira, de os romancistas se disporem a escrever
sobre essa temática.
O texto está inserido na prosa regionalista de 1930, ou segunda
geração modernista. Nessa tendência, os autores buscavam fazer um retrato crítico da realidade nordestina, explicitando suas
mazelas provenientes da seca e da injustiça social.
Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se.
Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes. Caíra no fim do
pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara
conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos
tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera. (...)
— Fabiano, você é um homem, exclamou em
voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam
perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o
falar só. E, pensando bem, ele não era homem:
era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os
olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas
como vivia em terra alheia, cuidava de animais
alheios, descobria-se, encolhia-se na presença
dos brancos e julgava-se cabra.
Olhou em torno, com receio de que, fora os
meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
— Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.
Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando seu cigarro de
palha. — Um bicho, Fabiano. (...)
Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava
plantado.
(Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Editora Record,
2007, p.18-19.)
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Volume 11
a) Ambos os trechos são narrados em terceira pessoa.
Apesar disso, há uma diferença de pontos de vista
na aproximação das personagens com o mundo animal e vegetal. Que diferença é essa?
No trecho retirado de O cortiço, o narrador, de maneira objetiva, aproxima os personagens ao mundo animal e vegetal
negativamente, atestando a inferioridade dos personagens
(“gula viçosa de plantas rasteiras”, “prazer animal de existir”). Já em Vidas secas, com o uso do discurso indireto livre, o narrador aproxima os leitores dos pensamentos de
Fabiano. A visão não é exclusivamente a do narrador, mas
também a do personagem. Nesta aproximação, há uma variação entre positivo e negativo: “Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho”; “Sim senhor, um bicho,
capaz de vencer dificuldades”.
b) Explique como essa diferença se associa à visão de
mundo expressa em cada romance.
A visão de mundo expressa em O cortiço está de acordo com
a visão determinista normalmente encontrada em romances
naturalistas: o comportamento do homem é condicionado
pelo meio em que habita e os pelos fatores biológicos. Já
em Vidas secas, essa mesma lógica não se aplica. Nesse
romance, representante da prosa regionalista de 30, a degradação do personagem, comparado a um animal, é fruto
de condições sociais específicas, marcadas pelas injustiças
sociais.
11. (UFRRJ)
O preto Henrique tomou o caneco das mãos
da preta velha e bebeu dois tragos.
— Ainda tá quente, meu filho? É o restinho...
— Tá, tia. Bota mais.
Quando acabou, disse:
— Você lembra dessas histórias que você
sabe, minha tia?
— Que histórias?
— Essas histórias de escravidão...
— O que é que tem?
— Você vai esquecer elas todas.
— Quando?
— No dia em que nós for dono disso...
— Dono de quê?
— Disso tudo... Da Bahia... do Brasil...
— Como é isso, meu filho?
— Quando a gente não quiser mais ser escravo dos ricos, titia, e acabar com eles...
— Quem é que vai fazer feitiço tão grande
pros ricos ficar tudo pobre?
— Os pobres mesmo, titia.
— Negro é escravo. Negro não briga com
branco. Branco é senhor dele.
— O negro é liberto, tia.
— Eu sei. Foi a Princesa Isabel, no tempo do
Imperador. Mas negro continua a respeitar o
branco...
— Mas a gente agora livra o preto de vez, velha.
— Você sabe qual é a coisa mais melhor do
mundo, Henrique?
— Não.
— Não sabe o que é? É cavalo. Se não fosse
cavalo, branco montava em negro...
AMADO, Jorge. Suor. Rio de Janeiro: Record, 1984, 43. ed., p. 4344. (Adaptado)
O cenário predominante na obra do escritor Jorge Amado é o estado da Bahia. Sua produção é dividida pelos
críticos literários em várias fases. O texto lido pode ser
enquadrado na fase
X a)
do romance proletário, que denuncia a miséria e a
opressão das classes populares.
b) dos depoimentos sentimentais, baseados em rixas e
amores de marinheiros.
c) de pregação partidária, que inclui biografias de pessoas defensoras de maior justiça social.
d) de textos de tom épico, que retratam as lutas entre
coronéis e trabalhadores da região do cacau.
e) do relato de costumes provincianos, que mostram o
lado pitoresco do povo baiano.
12. Em dado momento em Vidas secas, escrito por Graciliano Ramos, um de seus personagens, Fabiano, afirma: “Fabiano, você é homem...”, e logo em seguida diz:
“Você é bicho, Fabiano”. Ao encontrar-se com a cadela
Baleia, que acompanha a família de retirantes em sua
jornada, ele diz: “Você é bicho, Baleia”. Ao fazer isso,
ele estabelece uma identificação com ela. Mencione
dois motivos que permitem essa identificação.
Fabiano se sente resistente como um bicho, isso porque sobrevive à seca, tal como Baleia o faz. Outro aspecto que permite a
identificação entre esses dois personagens é a dificuldade encontrada por eles para se expressar, Fabiano o faz por meio de
gestos e de sons guturais como “Hum!” e “An!”, que poderiam
ser comparados aos latidos de Baleia. A dificuldade de elaborar
ideias mais complexas aproxima Fabiano à irracionalidade da
cadelinha.
Literatura
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13. (UNESP – SP)
Incidente em Antares
Fez-se um novo silêncio. De fora vinham vozes humanas. De vez em quando se ouvia o zumbido do elevador do hospital. Tombou uma pétala de uma das rosas. Quitéria soltou um suspiro. Zózimo agora parecia adormecido. Tibério pensou em Cleo com uma saudade tátil.
— Neste quarto, Tibé – disse Quitéria – dentro destas quatro paredes o Zózimo e eu temos falado em
assuntos em que nunca tínhamos tocado antes. Nossa morte, por exemplo…
— Pois não lhes gabo o gosto – resmungou Tibério.
— Tibé, tens fama de valente. Vives contando bravatas, proezas em revoluções e duelos… patacoadas!
No entanto tens medo de pensar na tua morte, tens horror a encarar a realidade. – Tirou os óculos, limpou-lhes as lentes com um lencinho, e depois prosseguiu: — Que esperas mais da vida? Os nossos filhos
estão criados, não precisam mais de nós. Mais que isso: não querem saber de nós, de nossas ideias, de
nossas manias, de nossa maneira de pensar e viver. Acho que todo homem vê sua cara todas as manhãs
no espelho, na hora de se barbear. Que é que o espelho diz? Diz que o tempo passa sem parar. E que essas
manchas que a gente tem no rosto (tu, eu, o Zózimo, todos os que chegam à nossa idade), essas manchas
pardas são bilhetinhos que a Magra escreve na nossa pele. Eu leio todos os dias esses recados, mas tu,
Tibé, tu és analfabeto ou então te fazes de desentendido.
(Erico Verissimo. Incidente em Antares. 12 ed. Porto Alegre: Editora Globo. 1974, p. 104.)
Um dos fatos mais terríveis para os seres humanos é a morte, que por esta razão se torna tema dominante nas artes
de todos os tempos. Nas religiões, o tema da morte é também constante, pela busca de uma solução para o problema,
por meio da afirmação da existência da alma e de divindades que acolheriam as almas após a morte do corpo. Partindo
deste comentário, releia atentamente o fragmento de Incidente em Antares e estabeleça, interpretando o que diz Quitéria, a diferença entre o modo como ela considera a morte e o modo como, na opinião da própria Quitéria, Tibério reage
à ideia da morte.
Quitéria considera a morte como um fato natural à existência humana, algo que, para ela, deve ser encarado todos os dias. Uma atitude
que a própria Quitéria acredita ser diferente para Tibério. Como ela pontua, ele tem “medo de pensar na morte”. Resumindo, ela aceita
e enfrenta essa realidade, enquanto ele foge.
14. (UERJ)
O chefe da estação me olhou de cara feia, e me deu a passagem e o troco. Bateu com a prata na
mesa. Se fosse falsa, estaria perdido. Guardei o cartão com ganância no bolso da calça. A estação se enchera. Um vendedor de bilhete me ofereceu um. Não desconfiava de mim. O chefe foi que me olhou
com a cara fechada. Já se ouvia o apito do trem. Cheguei para o lugar onde paravam os carros de passageiros. E o barulho da máquina se aproximando. Estava com medo, com a impressão de que chegasse uma pessoa para me prender. Ninguém saberia. E o trem parado nos meus pés. Tomei o carro
num banco do fim, meio escondido. O Padre Fileto me viu. Tirava esmolas para a obra da igreja.
— Não foi para a parada?
— Não senhor, vou ver o meu avô que está doente.
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Volume 11
A mesma mentira saída da boca automaticamente. Os meninos passavam vendendo tareco. Quis comprar
um pacote, mas estava com receio. Qualquer movimento de minha parte me parecia uma denúncia. O homem
do bilhete voltou outra vez me oferecendo. Num banco da minha frente estava um sujeito me olhando. Sem
dúvida, passageiro do trem. E me olhando com insistência. Levantou-se e veio falar comigo:
— Menino, que querem dizer estas letras?
— Instituto Nossa Senhora do Carmo.
— Pensei que fosse “Isto não se conhece”...
Ri-me sem querer. E as outras pessoas acharam graça. Pedi a Deus que o trem partisse. Por que não partira aquele trem? Meu boné me perderia. Podia ter vindo de chapéu. Nisto vi Seu Coelho. Entrei disfarçando
para a latrina do trem. E não vi mais nada. Só saí de lá quando vi pelo buraco do aparelho a terra andando.
Sentei-me no mesmo lugar. Vi a cadeia, o cemitério.(...)
E o Pilar chegando. O Recreio do Coronel Anísio, com a sua casa na beira da linha. E a gente já via a
igreja. O trem apitava para o sinal. Passou o poste branco. Saltei do trem como se tivesse perdido o jeito
de andar.
Escondi-me do moleque do engenho. O trem saía deixando no ar um cheiro de carvão de pedra. Lá se
ia Ricardo com os jornais para o meu avô. Faltava-me coragem para bater na porta do engenho como fugitivo. E fui andando à toa pela linha de ferro. Que diria quando chegasse no engenho? Lembrei-me então
que pela linha de ferro teria que atravessar a ponte. E desviei-me para a caatinga. Pegaria mais adiante o
mesmo caminho. Estava pisando em terras do meu avô. O engenho de Seu Lula mostrava o seu bueiro
pequeno, com um pedaço caído. Que diabo diria no Santa Rosa, quando chegasse? Era preciso inventar
uma mentira. Fiquei parado pensando um instante. Achei a mentira com a alegria de quem tivesse encontrado um roteiro certo. Sonhara que meu avô estava doente e não pudera aguentar o aperreio do sonho.
E fugira. Achariam graça e tudo se acabaria em alegria. Mas cadê coragem para chegar? Já me distanciava
pouco da minha gente. O bueiro do Santa Rosa estava ali perto, com a sua boca em diagonal. Subia fumaça da destilação. Com mais cinco minutos estaria lá. Era só atravessar o rio. Fiquei parado pensando.
O rio dava água pelos joelhos. O gado do pastoreador passava para o outro lado. E cadê coragem para
agir? E o tempo a se sumir. E a tarde caindo. A casa-grande inteira brigaria comigo. No outro dia José
Ludovina tomaria o trem para me levar. E o bolo, e os gritos de Seu Maciel. Vou, não vou, como as cantigas dos sapos na lagoa. Um trem de carga apitou na linha. Tirei os sapatos, arregaçando as calças para a
travessia. A porteira do cercado batia forte no mourão. E no silêncio da tarde, tudo aumentava de voz. (...)
JOSÉ LINS DO REGO. Doidinho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971.
No texto de José Lins do Rego, o narrador recorda um episódio de seu passado, em que foi dominado por um sentimento que o acompanhou durante a viagem de trem e a chegada ao engenho. Identifique esse sentimento e as duas
situações que o geraram.
Ao longo da narrativa, é possível perceber que o medo é o sentimento que domina o personagem: “[...] Estava com medo, com a impressão de que chegasse uma pessoa para me prender”. Durante a viagem de trem, o que lhe despertou esse sentimento foi a possibilidade
de ser descoberto: “Um vendedor de bilhete me ofereceu um. Não desconfiava de mim. O chefe foi que me olhou com a cara fechada”.
Pequenos incidentes ao longo da narrativa constroem a tensão e o temor que assolavam o menino: “Se fosse falsa, estaria perdido”, “O
Padre Fileto me viu”; “Nisto vi Seu Coelho”. A caminho do engenho, é a expectativa sobre as possíveis reações negativas dos moradores
que lhe causa medo: “A casa-grande inteira brigaria comigo. No outro dia José Ludovina tomaria o trem para me levar. E o bolo, e os
gritos de Seu Maciel”.
tareco: biscoito.
mourão: estaca.
Literatura
9
Terceira geração
modernista
06
Contexto histórico
No Mundo
Segunda Guerra Mundial (1939-1945): gerou uma série de estragos: cerca de 50 milhões de pessoas foram mortas, das quais, 6
milhões de judeus; cidades foram arrasadas; economias tiveram
que ser reestruturadas.
Guerra Fria (1947-1991): divisão política, econômica, ideológica e cultural do mundo em dois blocos de poder. De um lado o
capitalismo, sob a liderança dos Estados Unidos, de outro a União
Soviética, associada ao socialismo.
No Brasil
Fim da Era Vargas (1930-1945): discursos favoráveis à democracia, uma onda de otimismo quanto à adoção de um sistema
político-eleitoral que garantisse a alternância na condução dos
rumos do país.
Golpe Militar (1964): censura aos veículos de comunicação e à
produção cultural de alguns artistas e escritores.
Literatura brasileira no pós-guerra
Esse período literário, a partir de 1945, é conhecido como terceira geração modernista. Classificar e caracterizar esse período é algo
complexo, mesmo que de maneira didática, visto que ele é bastante
recente e muitos dos escritores pertencentes a esse movimento seguiram tendências distintas.
A poesia produzida pela terceira geração modernista seguiu certas tendências herdadas da geração modernista de 1922, às quais se
somaram pesquisas formais mais aprofundadas. Alguns autores dessa
geração, também chamada Geração de 45, retomaram a tradição formal – poesia com acentuado rigor formal, temática mais universal e
linguagem erudita.
Outras características que podem ser percebidas nas obras desses
autores:
• apagamento dos limites estabelecidos tradicionalmente entre
poesia e prosa;
• quebra da linearidade das ações dos personagens;
• experimentação linguística.
Enfim, o desejo de conciliar modernidade e tradição pode ser entendido como um traço comum na proposta desses escritores.
Os principais nomes dessa geração foram: José Paulo Paes, Manoel
de Barros, Ferreira Gullar e João Cabral de Melo Neto.
10
Volume 11
Inventividade na prosa rosiana
Um dos mais importantes escritores da literatura brasileira, João
Guimarães Rosa (1908-1967), se consagrou ao apresentar em suas
obras “estórias” próximas à tradição popular, ao dar visibilidade à população sertaneja e ao estabelecer uma síntese entre o tradicional e o
moderno – no plano temático e estético.
ASPECTOS CENTRAIS DA OBRA
Linguagem original e personalizada: recria a linguagem
literária a partir de vocabulário e sintaxe próprios. Concilia o
popular e o erudito com o intuito de reinventar a fala e a visão
do mundo sertanejo.
Regionalismo universal: buscando o universalismo, o autor
procura libertar-se dos limites da realidade física (o sertão) para
analisar a alma do ser humano. Sua obra aborda, direta ou
indiretamente, temas como a infância, o amor, a violência, o
misticismo, etc.
Principais obras
Sagarana (1946)
Primeiras estórias (1962)
Grande sertão: veredas (1956)
Terceiras estórias (1967)
Prosa intimista pós-guerra
Clarice Lispector (1920-1977) estreou no Brasil o que ficou conhecido como “prosa sem história”, ou seja, tentou expressar a angústia, e
fez dela a sua matéria-prima, trabalhou sobre o inacabado, o indizível,
aquilo que está em processo, sem pretender acontecer.
ASPECTOS CENTRAIS DA OBRA
Prosa intimista: seus romances e contos aprofundam a
investigação do interior, do íntimo dos personagens. O texto
literário adquire um tom filosofante para expressar sensações
difusas e complexas.
Intenso questionamento: os textos questionam o ser, o fato
de se estar no mundo.
Existencialismo: na perspectiva de que a existência consiste
no modo de ser do homem no mundo, ou seja, da eterna luta do
homem para se adaptar a um mundo previamente organizado.
Linguagem: destaque para a revalorização da palavra,
exploração do limite dos significados. Demonstra preocupação
não somente com aquilo que está escrito, mas também com o
que pode ser lido nas entrelinhas.
Epifania: crises existenciais podem desencadear momentos de
revelação, nos quais os personagens tomam consciência de
algo importante.
Modernização do teatro brasileiro
Principais obras
Laços de família (1960)
Felicidade clandestina (1971)
A paixão segundo G.H. (1964)
A hora da estrela (1977)
1922 – Primeira geração modernista: postura contrária e rompimento em relação ao teatro produzido até o começo do século XX,
por considerá-lo acadêmico, enfadonho e dependente dos moldes
europeus. Surgiram nesse período peças como:
Reinvenção do regional: a poesia de
João Cabral de Melo Neto
• Deus lhe pague, de Joracy Camargo, que dá início ao teatro social.
João Cabral de Melo Neto (1920-1999), conhecido como "o poeta
engenheiro".
ASPECTOS CENTRAIS DA OBRA
Objetividade e antilirismo: constatação da realidade de
maneira objetiva. Concilia o rigor formal à temática social. Seus
poemas não eram frutos da inspiração, mas de um trabalho
intenso com o texto. Repudia o sentimentalismo e o irracionalismo.
Concisão e precisão: responsável pela produção de uma
poesia calculada, racional, com linguagem enxuta e concisa.
Em suas obras é possível perceber a preferência pela palavra
concreta em vez da abstrata, a ausência de melodia e o foco
no mundo exterior.
Metapoesia: há, em muitos dos seus poemas, a reflexão sobre
a poesia e o fazer poético.
Engajamento e denúncia: poesia engajada nas questões
nordestinas – os retirantes, suas tradições, os engenhos,
etc. O poeta demonstra preocupação com os problemas
socioeconômicos da região, seus versos são instrumentos de
denúncia social.
Principais obras
Pedra do sono (1942)
• O homem e o cavalo, de Oswald de Andrade, que acrescenta elementos nacionais e de vanguarda.
1943 – Encenação de Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues: ocorre
uma verdadeira evolução modernizadora no teatro brasileiro. O autor
utilizou algumas técnicas cinematográficas, sobrepôs planos dramáticos distintos, e utilizou-se de uma linguagem baseada na fala dos
subúrbios cariocas – caracterizada como espontânea e acessível.
1944 – Surgimento, no Rio de Janeiro, do Teatro Experimental do
Negro (TEN), criado por Abdias do Nascimento e Solano Trindade. De
caráter militante, o grupo tinha entre os seus objetivos inserir atrizes,
atores, diretores e autores negros nas artes cênicas brasileiras.
Década de 1950 – A moratória (1954), de Jorge Andrade e O auto da
Compadecida (1955), de Ariano Suassuna.
1953 – Fundação do Teatro de Arena, em São Paulo. Encenação
das peças: Eles não usam black tie (1958), de Gianfrancesco Guarnieri;
Arena conta Zumbi (1965) e Arena conta Tiradentes (1965), de Augusto
Boal. O Teatro Arena existiu até 1970.
1964 a 1985 – No período em que vigorou a Ditadura Militar no
Brasil, a produção teatral se tornou bastante limitada, devido à constante censura e perseguição a que os artistas e intelectuais nacionais
estavam submetidos. Destaque para: Liberdade, liberdade, de Flávio
Rangel e Millôr Fernandes (1965).
Depois de 1985 – Com o fim da ditadura, o teatro brasileiro seguiu
várias direções e produziu projetos variados.
Psicologia da composição (1947)
O cão sem plumas (1950)
Morte e vida severina (1956)
Atividades
1. Sobre a prosa de ficção no pós-guerra, assinale verdadeiro (V) ou falso (F).
( V ) A produção dessa época reflete os questionamentos, rupturas e indefinições sociais resultantes da Segunda
Guerra Mundial.
( V ) Quanto à forma, percebe-se a busca por uma escrita mais apurada, cada autor se concentra em suas potencialidades artísticas com o intuito de desenvolver um estilo próprio.
( V ) Embora seja difícil estabelecer relações temáticas quanto à produção desse período, pois cada autor caminhou
de modo autônomo e individual, é possível afirmar que um dos temas mais recorrentes foi a problematização
da identidade dos sujeitos.
Literatura
11
( F ) Assim como a primeira geração modernista, esse
período de renovação literária tem como marca a
chamada consciência estética, ou seja, a valorização
do trabalho mais apurado com a linguagem literária.
( F ) Entre os escritores que aderiram a essa escrita
mais tradicionalista estão: Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
2. Sobre a obra-prima do autor Guimarães Rosa, Grande
sertão: veredas, é INCORRETO afirmar que
a) em um extenso monólogo, Riobaldo, personagemnarrador, conta suas andanças, aventuras e experiências de vida da época em que era jagunço.
b) Riobaldo se dirige a um médico e lhe expõe, seguindo o fluxo de sua memória, os acontecimentos de
sua vida passada, primeiro quando era jagunço do
bando e depois quando se tornara chefe.
c) durante a travessia física do sertão, acontece a Riobaldo uma travessia interior: processo de conhecimento de si e do mundo que o cerca.
d) através das memórias da vida de jagunço, o leitor
toma conhecimento dos elementos sociais, políticos, econômicos e geográficos do sertão.
X e)
o sertão, em Grande sertão: veredas, é delimitado
por seus aspectos físicos. O envolvimento dos personagens com esse espaço é moderado e expresso
de forma objetiva.
3. A respeito da obra Morte e vida severina, Auto de natal
pernambucano, de João Cabral de Melo Neto, todas as
alternativas estão corretas, exceto.
a) A peça foi escrita em redondilhas menores (versos
de cinco sílabas métricas) e, principalmente, redondilhas maiores (versos de sete sílabas métricas).
b) Dividida em 18 cenas, a peça apresenta a peregrinação do retirante Severino, que sai do interior de
Pernambuco, em direção ao litoral de Recife.
c) Peça escrita na década 1950, mas que foi encenada apenas na década seguinte, foi musicada por
Chico Buarque de Holanda, o que também contribui
para o sucesso das encenações.
X d)
A peça tem como cunho temático a migração dos
nordestinos, que, revoltados, lutam contra o sistema
latifundiário que os oprime.
e) O adjetivo “severina” que incorpora o título da peça,
faz referência a morte e à vida dos retirantes que
são vítimas da seca no sertão.
12
Volume 11
4. (ENEM)
Texto I
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994
(fragmento).
Texto II
João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio,
transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que,
como o Capibaribe, também segue no caminho
do Recife. A autoapresentação do personagem,
na fala inicial do texto, nos mostra um Severino
que, quanto mais se define, menos se individualiza, pois seus traços biográficos são sempre partilhados por outros homens.
SECCHIN, A. C João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro:
Topbooks, 1999 (fragmento).
Com base no trecho de Morte e vida severina (Texto I)
e na análise crítica (Texto II), observa-se que a relação
entre o texto poético e o contexto social a que ele faz
referência aponta para um problema social expresso
literariamente pela pergunta “Como então dizer quem
fala / ora a Vossas Senhorias?”. A resposta à pergunta
expressa no poema é dada por meio da
a) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem-narrador.
b) construção da figura do retirante nordestino como
um homem resignado com a sua situação.
X c)
representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham sua
condição.
d) apresentação do personagem-narrador como uma
projeção do próprio poeta, em sua crise existencial.
6. João Guimarães Rosa pensou e repensou cada palavra
no texto, recriou a linguagem literária, utilizou-se de um
vocabulário e sintaxe próprios. Sobre suas invenções
linguísticas, associe:
( 1 ) neologismos: novas palavras criadas pelo autor.
e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.
( 2 ) arcaísmos: palavras em desuso que são reutilizadas com novas acepções.
5. (UEPG – PR) A respeito das características da terceira
geração do Modernismo e, mais especificamente, sobre Guimarães Rosa e Clarice Lispector, de que tratam,
respectivamente, os dois textos abaixo, assinale o que
for correto.
( 3 ) hibridismos: formação de palavras cujos radicais ou
elementos foram retirados de diferentes línguas.
Texto I
Os espaços que se entreabrem, na obra de
Guimarães Rosa, são modalidades de travessia
humana. Sertão e existência fundem-se na figura da viagem, sempre recomeçada.
(Benedito Nunes, 1976)
Texto II
[...] levar nossa língua canhestra a domínios
pouco explorados, forçando-a a adaptar-se a um
pensamento cheio de mistério, para o qual sentimos que a ficção não é um exercício ou uma
aventura afetiva, mas um instrumento real do
espírito, capaz de nos fazer penetrar em alguns
labirintos mais retorcidos da mente.
(Antônio Candido, 1977)
X (01)
X (02)
Um traço característico comum a Clarice Lispector e Guimarães Rosa é a pesquisa da linguagem,
por isso são chamados instrumentalistas.
O regionalismo adquire uma nova dimensão com
Guimarães Rosa e sua recriação dos costumes e
da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia
do jagunço do Brasil central.
(04) Tanto no romance quanto no conto a geração de
45 busca uma literatura neoromântica, com destaque para Clarice Lispector.
X (08)
Guimarães Rosa preocupa-se com a manutenção
do enredo com o suspense; Clarice Lispector detém-se no registro de incidentes do cotidiano ou
no mergulho para dentro dos personagens.
( 3 ) Sagarana: saga (origem germânica, significado
“canto heroico”) + rana (origem tupi, significado
“semelhante a”).
( 1 ) Lonjão: longe, distante.
( 2 ) Esculca: sentinela antiga, vigia.
7. (UFPR)
Há 50 anos Guimarães Rosa (1908-1967) publicava de uma vez dois monumentos da literatura
brasileira: o romance “Grande Sertão: Veredas” e a
coleção de novelas “Corpo de Baile”. Meio século,
e no entanto ainda há pessoas, inclusive intelectuais, que dizem não entender o que ele escreveu.
Ótimo sinal. Não se pode desqualificar isso como
obtusidade. O motivo parece muito outro, ou seja:
a linguagem de Rosa permanece como desafio,
como fator de deslocamento da situação cômoda
do leitor condicionado por clichês. O texto que de
algum modo não provoca uma reação desse tipo
ou já faz parte da história ou nem chegará a fazer
parte dela.
(Moacir Amâncio, Cult on line.)
Para o autor, o fato de muitos não entenderem ainda o
que Guimarães Rosa escreveu está relacionado:
a) à pouca qualificação do leitor diante das exigências
da linguagem literária.
b) à complexidade da linguagem de Rosa, decifrável
apenas por intelectuais.
X c)
ao desafio que o bom texto literário, como o de Rosa,
coloca, desestabilizando a leitura previsível.
d) à reação que se tem à leitura condicionada por clichês, característica renitente na obra de Rosa.
e) ao arcaísmo da linguagem de Rosa, que já faz parte
da história.
Literatura
13
8. (FUVEST – SP) Obras célebres da literatura brasileira foram ambientadas em regiões assinaladas neste mapa:
o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah,
uma beleza de traiçoeiro – dá gosto! A força dele,
quando quer – moço! – me dá o medo pavor!
Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei
do mansinho – assim é o milagre. E Deus ataca
bonito, se divertindo, se economiza.
(João Guimarães Rosa, Grande Sertão: veredas.)
Texto II
Combate
Com base nas indicações do mapa e em seus conhecimentos, identifique:
a) a cidade que polarizou a Zona do Cacau e aponte
o nome do escritor que tratou dessa região em um
conjunto de obras, chamado de “ciclo do cacau”;
A cidade que polarizou a Zona do Cacau foi Ilhéus, a mesma
escolhida pelo escritor Jorge Amado para a ambientação
das narrativas do “ciclo do cacau”: Cacau, Terra do sem fim,
São Jorge dos Ilhéus.
b) o escritor mineiro que ambientou, principalmente na
região denominada “Gerais”, o grande romance que
marca sua obra. Indique também o nome do romance em questão.
Esse escritor foi Guimarães Rosa. Muitos de seus contos e
romances se ambientam no sertão de Minas Gerais. O mesmo vale para a grande obra de sua carreira: Grande sertão:
veredas.
9. (UFTM – MG)
Texto I
O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão
sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas
que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.
Isso que me alegra, montão. E, outra coisa:
14
Volume 11
Nem eu posso com Deus nem pode ele
comigo.
Essa peleja é vã, essa luta no escuro
entre mim e seu nome.
Não me persegue Deus no dia claro.
Arma, à noite, emboscadas.
Enredo-me, debato-me, invectivo
e me liberto, escalavrado.
De manhã, à hora do café, sou eu quem desafia.
Volta-me as costas, sequer me escuta,
e o dia não é creditado a nenhum dos
contendores.
Deus golpeia à traição.
Também uso para com ele táticas covardes.
E o vencedor (se vencedor houver) não sentirá prazer
pela vitória equívoca.
(Carlos Drummond de Andrade)
Sobre a relação do narrador/eu lírico com Deus, explique
a) como cada um deles concebe Deus e a sua divindade, tendo como base a ideia de traição.
A ideia de "traição" por parte de Deus, em ambos os casos, se refere ao fato de a divindade ser uma força que se
manifesta, muitas vezes, do forma contrária aos desejos
humanos, em conflito com os homens. E, sendo uma força
invencível, sempre acaba por prevalecer, independentemente do que o homem tenha planejado.
b) como cada um deles se vê em relação à força divina, transcrevendo palavras dos textos que comprovem a explicação.
Para Riobaldo, Deus se manifesta "de mansinho", isto é, ele
faz os milagres independentemente da vontade das pessoas: "Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do
mansinho – assim é o milagre". Além disso, a força de Deus
é tão intensa que causa medo e pavor em Riobaldo. No poema de Drummond, o eu lírico está em pé de igualdade com
a foça divina: "Nem eu posso com Deus nem pode ele comigo". Deus e o eu lírico travam, no escuro, um combate do
qual possivelmente nem um nem outro sairão vencedores.
10. (UEM – PR) Leia o fragmento a seguir e responda ao
que se pede.
Mas era primavera. Até o leão lambeu a testa
glabra da leoa. Os dois animais louros. A mulher desviou os olhos da jaula, onde só o cheiro quente lembrava a carnificina que ela viera
buscar no Jardim Zoológico. Depois o leão passeou enjubado e tranquilo, e a leoa lentamente
reconstituiu sobre as patas estendidas a cabeça
de uma esfinge.
‘Mas isso é amor, é amor de novo’, revoltou-se a mulher tentando encontrar-se com o próprio ódio, mas era primavera e os dois leões se
tinham amado. Com os punhos nos bolsos do
casaco, olhou em torno de si, rodeada pelas jaulas, enjaulada pelas jaulas fechadas. Continuou
a andar. Os olhos estavam tão concentrados na
procura que sua vista às vezes escurecia num
sono, então ela se refazia como na frescura de
uma cova. Mas a girafa era uma virgem de tranças recém-cortadas. Com a tola inocência do
que é grande, leve e sem culpa. A mulher do
casaco marrom desviou os olhos, doente, doente. Sem conseguir – diante da aérea girafa pousada, diante daquele silencioso pássaro sem asas
– sem conseguir encontrar dentro de si o ponto
pior de sua doença, o ponto de ódio, ela que
fora ao Jardim Zoológico para adoecer.
LISPECTOR, Clarice. O búfalo. In: Laços de família.
a) Qual é a história narrada no fragmento?
O fragmento relata uma visita da personagem ao Jardim Zoo-
11. (FUVEST – SP)
Mas não senti diferença
entre o Agreste e a Caatinga,
e entre a Caatinga e aqui a Mata
a diferença é a mais mínima.
Está apenas em que a terra
é por aqui mais macia;
está apenas no pavio,
ou melhor, na lamparina:
pois é igual o querosene
que em toda parte ilumina,
e quer nesta terra gorda
quer na serra, de caliça,
a vida arde sempre com
a mesma chama mortiça.
(João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina)
Neste excerto, o retirante, já chegado à Zona da Mata,
reflete sobre suas experiências, reconhecendo uma
diferença e uma semelhança entre as regiões que conhecera ao longo de sua viagem. Considerando o excerto no contexto da obra a que pertence,
a) explique sucintamente em que consistem a diferença e a semelhança reconhecidas pelo retirante.
A diferença entre as regiões de caatinga e Agreste e a Zona
da Mata está na sua geografia, ou seja, no âmbito físico.
De acordo com o poema, na Zona da Mata, a terra é “mais
macia”. A semelhança reside em suas organizações sociais, que, nas três regiões, faz a vida arder “sempre com
a mesma chama mortiça”. Assim, a metáfora da lamparina
estabelece essa relação: a diferença é o exterior (“pavio”,
“lamparina”), que remete ao espaço físico, e a semelhança
é o interior (“querosene”), que está associado às condições
em que vivem as pessoas.
lógico.
b) Em relação à história, o que diferencia o texto de
Clarice Lispector das narrativas tradicionais?
A sua maneira intimista de narrar a história. O narrador dá
pouca importância aos fatos externos, porém estes são responsáveis pelo desencadeamento de uma série de sentimentos, impressões e questionamentos.
c) O que vem a ser o estilo intimista, típico da ficção de
Clarice Lispector?
Trata-se da investigação do interior, do íntimo dos personagens. Procura-se pelas sensações mais difusas e complexas em tom filosofante: “‘Mas isso é amor, é amor de novo’,
revoltou-se a mulher tentando encontrar-se com o próprio
ódio, mas era primavera e os dois leões se tinham amado”.
b) Depois de chegar ao Recife, o retirante mudará
substancialmente o julgamento que expressa neste
excerto? Justifique brevemente sua resposta.
Ao chegar ao Recife, objetivo e destino final do retirante
Severino, o personagem ouve o diálogo pessimista de dois
coveiros. Esse acontecimento reforça ainda mais a sensação de desespero que ele sente quanto às desigualdades
sociais que imperam tanto nas três regiões destacadas pelo
poema quanto em Recife. Por isso, o retirante não muda o
julgamento que expressa no excerto. Embora as cenas finais
indiquem uma visão de mundo menos pessimista, elas não
servem para minimizar a crítica quanto à má distribuição de
renda na região nordestina.
Literatura
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12. Sobre o panorama do teatro brasileiro, relacione as colunas:
( 1 ) Dias Gomes
( 3 ) Nelson Rodrigues
( 2 ) Ariano Suassuna
( 4 ) Jorge Andrade
( 4 ) Suas peças demostram sua capacidade de colocar
no palco conflitos ardentes, através de diálogos
incisivos e agudos. Sua principal obra foi A moratória, no qual o autor retrata a decadência econômica, social e política da aristocracia rural paulista.
( 2 ) O teatro produzido por esse autor tem raízes populares. É inspirado no teatro de cordel, nos espetáculos de feira e nas formas mais primitivas de arte.
Sua obra mais conhecida é o Auto da Compadecida, que mostra uma reflexão sobre as relações do
homem com Deus.
( 3 ) Sua produção dramática mesmo sendo acusada
de ser sensacionalista, doentia e depravada,
continua a ser uma das mais representadas no
Brasil. Vasculhando o inconsciente humano, o
autor escancara nos palcos os vícios, as perversões, as taras e os tabus que as “pessoas de
bem” têm pavor de imaginar. Destaque para a
peça Vestido de noiva.
( 1 ) O pagador de promessas foi sua obra mais importante, nela mostra-se o choque da religiosidade
ingênua e simples com a malícia e os interesses
dos personagens urbanos.
A ordem correta está representada na alternativa:
4–2–3–1
d) 1 – 2 – 3 – 4
b) 4 – 3 – 2 – 1
e) 2 – 4 – 3 – 1
X a)
c) 1 – 2 – 4– 3
13. (UEL – PR)
Fonte: Auto da Compadecida. 15 ed. Rio de Janeiro: Agir, 1979
João Grilo: Ah isso é comigo. Vou fazer um
chamado especial, em verso. Garanto que ela
vem, querem ver? (Recitando.)
Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de
Nazaré! A vaca mansa dá leite, a braba dá quando quer. A mansa dá sossegada, a braba levanta
o pé. Já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler. Já fui menino, fui homem, só me falta ser
mulher.
16
Volume 11
Encourado: Vá vendo a falta de respeito, viu?
João Grilo: Falta de respeito nada, rapaz! Isso
é o versinho de Canário Pardo que minha mãe
cantava para eu dormir. Isso tem nada de falta
de respeito!
Já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem, só me falta ser mulher. Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de
Nazaré.
Cena igual à da aparição de Nosso Senhor, e
Nossa Senhora, A compadecida, entra.
Encourado, com raiva surda: Lá vem a compadecida! Mulher em tudo se mete!
João Grilo: Falta de respeito foi isso agora,
viu? A senhora se zangou com o verso que eu
recitei?
A Compadecida: Não, João, porque eu iria
me zangar? Aquele é o versinho que Canário
Pardo escreveu para mim e que eu agradeço.
Não deixa de ser uma oração, uma invocação.
Tem umas graças, mas isso até a torna alegre e
foi coisa de que eu sempre gostei. Quem gosta
de tristeza é o diabo.
João Grilo: É porque esse camarada aí, tudo
o que se diz ele enrasca a gente, dizendo que é
falta de respeito.
A Compadecida: É máscara dele, João. Como
todo fariseu, o diabo é muito apegado às formas
exteriores. É um fariseu consumado.
Encourado: Protesto.
Manuel: Eu já sei que você protesta, mas não
tenho o que fazer, meu velho. Discordar de
minha mãe é que eu não vou.
(...)
A obra “Auto da Compadecida” foi escrita para o teatro:
a) Por João Cabral de Melo Neto e aborda temas recorrentes do Nordeste brasileiro.
b) E seu autor, Ariano Suassuna, aborda o tema da
seca que sempre marcou o Nordeste.
c) Pelos autores do ciclo armorial, abordando temas
religiosos e costumes populares.
X d)
Por Ariano Suassuna, tendo como base romances e
histórias populares do Nordeste brasileiro.
e) Por João Cabral de Melo Neto e aborda temas religiosos divulgados pela literatura de cordel.
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