UNIVERSIADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, FISIOTERAPIA E DANÇA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO DISCIPLINA: FUNDAMENTOS SÓCIO-CULTURAIS DO ESPORTE E LAZER MESTRANDO: LEONARDO SILVA DE LIMA SÍNTESE DO TEXTO MONOPÓLIO ESTÉTICO E DIVERSIDADE CONFIGURACIONAL NO FUTEBOL BRASILEIRO Arlei Sander Damo Damo inicia o texto com um trocadilho, costumamos dizer que o Brasil é o país do futebol, contudo a proposta do autor é entender que futebol no Brasil não é o que presenciamos nas redes de televisão. Este é apenas uma possibilidade: o futebol espetáculo. Assim, podemos perceber que há objetivos diferentes do esporte e possibilidades de entendimentos diferentes deste. São diferentes as configurações do futebol que é praticado nos estádios, na várzea, na rua e na escola. Há regras diferentes, interesses distintos, espaços, tempo, materiais, participantes, eventos, conquistas etc. Na essência, há uma disputa por uma superação tática para quem detém a bola, elemento fundamental do futebol, de certa forma depreciado pelo autor, no momento que não há citações desta. Ela é o elemento fundamental em qualquer configuração do futebol: seja uma bola de couro sintético, com gomos aerodinâmicos, pesando menos de 300g, com costuras que possibilitam gerar efeitos durante os chutes, seja de meia na bricolagem ou uma bola de papel, tampinha de garrafa, balão, pedra etc. Houve uma preocupação do autor em abordar a ocorrência destas configurações de futebol e suas manifestações culturais no consumo e comportamento, explorando os espaços onde isso ocorria. Nesse sentido, a teoria de Elias, utilizada por ele, possibilitou a discussão acerca do conceito de interdependência, onde a sociedade forma-se nas interações em campos diversos e não há interações sem indivíduos. Dessa forma, as configurações estabelecidas pelos indivíduos vão além de espaços físicos e sim, delimitam-se por interesses e conexões sociais. Segundo o texto (p.134). “As peladas – mais adiante denominadas futebol de bricolagem – são configurações, não apenas porque têm um dimensão empírica, mas porque o peladeiro do Parque Ramiro Souto pode jogar nas peladas do Parque Marinha do Brasil – ambos em Porto Alegre.” De qualquer forma, o texto tem uma leitura fluída e uma contextualização fundamental para o entendimento das configurações sociais, as quais na sociedade brasileira baseiam-se muitas vezes pela prática de futebol. O texto está bem alicerçado com bases teóricas de Elias e utilizando Magnani como sustentação teórico-metodológica no que diz respeito ao processo etnográfico. O texto demonstra uma clareza conceitual e de objetiva, fazendo emanar outras questões para futuras pesquisas. A crítica proposta no título do texto é apresentada na relação com os tipos de “futebóis” divididos por Damo, fazendo, ao final, uma críticas as pesquisas desenvolvidas atualmente as quais utilizam apenas do futebol espetáculo como forma de produzir conhecimento. SÍNTESE DO TEXTO MUHAMMAD ALI, UM OUTSIDER NA SOCIEDADE AMERICANA? Flávio Mariante, Carlos Miranda, Mauro Myskiw, Marco Stigger No presente artigo, fora realizado um estudo documental referente ao processo histórico do boxeador Cassius Clay, compreendendo sua trajetória através das configurações as quais ele participava. O caminho da pesquisa percorre três fatos sociais fundamentais para a história de Cassius: a questão do preconceito racial na sociedade americana (e por consequência transportamos para nossa realidade), a questão religiosa (fundamental para a construção da imagem de Muhammad Ali, um agente que faz parte de outra configuração) e a questão da Guerra do Vietnam (no momento em que Ali questiona as motivações para a guerra, mesmo sabendo que não iria pegar em armas, é coerente com seus princípios, decidindo não ir para o Vietnam, tornando-se um desertor). O trabalho apresentou uma coerência lógica através de sua problemática envolvendo os documentos (livros, artigos, matérias jornalísticas, documentários, filmes etc) analisados e a discussão envolvendo o contexto da vida de Muhammad Ali. No que tange a questão metodológica, muito alinhada com a teoria de Norbet Elias, o cuidado com a utilização dos termos empregados pelo sociólogo chamou minha atenção. Os conceitos, quando empregados no texto, trouxeram um suporte teórico fundamental, sustentando a discussão no campo filosófico. Não houve um aprofundamento dos conceitos, explicando ou definindo-os, mas sim a utilização destes como um suporte para as discussões envolvendo os fatos vivenciados pelo pugilista. Dessa forma, pode-se compreender claramente que os objetivos permeavam as discussões acerca das configurações existentes na sociedade americana e como Ali se posicionava diante delas, ora como um estabelecido, ou seja, alguém que determina as regras de funcionamento daquela configuração, ora como um outsider, ou seja, alguém que não está de acordo ou enquadrado naquela configuração e mantêm-se em luta para contrapor a opressão e as imposições dos estabelecidos. Na configuração da religião muçulmana, onde converteu-se em 1964, Ali tornou-se um estabelecido, um agente social dominante, alguém com reputação naquele contexto, opondo-se ao papel de “bom negro” e contrariando as implicações católicas que conduziam a sociedade norte-americana. Outra característica fundamental de Ali era a capacidade de autopromoção. Especialista em frases de efeito, posicionava-se como um legítimo outsider desta configuração social, questionando o papel do negro e da religião, citando constantemente Joe Louis para reforçar sua posição contraria, visto que este era o legítimo “bom negro”. A temática abordada mostrou-se relevante para a área de estudo, visto que levanta pontos de discussão fundamentais às ciências sociais, apesar de não haver um aprofundamento destes. Temas como a ascensão do negro no esporte e seu papel social, as limitações impostas pela religiosidade, a questão dos conflitos bélicos entre nações, o posicionamento como um opositor as condições vigentes etc, estão propostas no texto, abrindo espaço para novos estudos que possibilitem um aprofundamento maior dessas questões. Sobretudo, concluo que o referido texto analisado materializa as propostas de Elias e serve como base para novos estudos, visto que não há um desfecho atual dessas configurações, transformações ou manutenções etc. E a pergunta final, será que só Muhammad Ali foi um outsider? Será que depois dele não surgiram outros esportistas outsiders dessas configurações? Ou só vieram “bons negros”, estabelecidos e domesticados pela opressão social? Como o caso de Colin Kaepernick1 poderia relacionar-se com o caso de Ali? 1 Fonte: https://esportes.estadao.com.br/noticias/geral,jogador-da-nfl-causa-polemica-ao-nao-cantarhino-americano-em-protesto,10000072378 . Acessado em 27/09/2019.