1 LUCAS BISPO DA SILVA MENEZES MARCIO MIGUEL ROSA DA SILVA VÍRUS INFLUENZA- UMA REVISÃO DE LITERATURA Trabalho de revisão bibliográfica apresentado como requisito parcial para a conclusão da disciplina MICROBIOLOGIA GERAL, do curso de MEDICINA VETERINÁRIA, da faculdade ICESP/PROMOVE, ministrada pela Profa. M.Sc. Rayane Balsamo. Brasília, DF Maio 2019 2 SUMÁRIO Resumo 1. Introdução 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. Características gerais 2.2. Características morfológicas 2.3. Influenza Equina 2.4. Patogênese e patologia 2.5. Diagnóstico 2.6. Tratamento e controle 2.7. Influenza Suína 2.8. Patogênese e patologia 2.9. Diagnóstico 2.10.Tratamento e controle 3. Influenza aviária 3.1. Patogênese e patologia 3.2. Diagnóstico 3.3.Tratamento e controle 4. Considerações finais 5. Referências 3 Resumo Este trabalho tem como objetivo dissertar sobre o vírus influenza, apresentando suas principais características morfológicas, como esse vírus age sobre o organismo, seu modo de ação e transmissão, sintomas e tratamento focando é claro, na área da Medicina Veterinária e apresentando alguns dados de epidemias em animais. Palavras-chave: Vírus influenza, característica morfológicas, vírus, organismo, transmissão, sintomas, tratamento medicina veterinária. 1.INTRODUÇÃO A influenza ou mais conhecida como gripe foi considerada a infecção que mais causou doenças e também mortes na atualidade é uma doença considerada aguda do sistema respiratório, que é causada pelo vírus influenza que tem uma capacidade muito grande de transmissão e de distribuição global. A transmissão do vírus influenza nos humanos ocorre pela via respiratória através de secreções por aerossóis, gotículas e também através do contato direto com a mucosa. O vírus de característica zoonótica, afeta diversos tipos de espécies de aves e mamíferos. Na maioria das vezes a transmissão ultrapassa barreiras entre diferentes espécies proporcionando um cenário promissor para uma pandemia. A cada ano que se passa, a influenza causa um grande número de doenças e óbitos em humanos e produz um grande impacto na saúde e produção animal. É uma continua ameaça à saúde pública, veterinária e humana. 4 2.REVISÃO DE LITERATURA 2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS Os vírus influenza são os únicos que possuem a habilidade de ocasionar epidemias anuais que são recorrentes e tão menos frequentemente pandemias, atinge quase todas as faixas etárias em um curto espaço de tempo. Isso tudo é possível a sua alta capacidade de adaptação, O vírus Influenza –Myxovirus influenzae –, pertencente à família Orthomyxoviridae, contém um genoma RNA segmentado e fita simples. Cerca de 75% de todos os patógenos humanos emergentes são vírus de RNA, que na maioria são transmitidos por via mucosa ou respiratória. (Hamann,2016). Pode ser classificado como tipos A, B ou C e seus isolamentos ocorreram nos anos de 1933, 1940 e 1947. Todas as pandemias da história humana foram ocasionadas pelo vírus da influenza A, A pandemia da influenza espanhola, em 1918/1919, foi a mais devastadora delas, resultando na morte de mais de 50 milhões de pessoas no mundo todo. (Hamann,2016). Os vírus da influenza A são, adicionalmente, divididos em diferentes subtipos, com base na natureza antigênica da hemaglutinina (HA) e da neuraminidase (NA) da superfície. Atualmente, há 17 subtipos HA e 10 subtipos NA do vírus da influenza A. Todos, exceto H17 e N10, foram isolados de aves aquáticas selvagens, inclusive aves domésticas e das pernaltas costeiras, as quais são os reservatórios naturais dos vírus da influenza A. Os vírus da influenza A infectam uma grande variedade de espécies mamíferas, inclusive humanos, equinos, suínos, cães, gatos e mamíferos marinhos. Os vírus da influenza B e da influenza C infectam humanos; o vírus da influenza C também atinge suínos e cães. 5 Uma diferença fundamental entre eles é a variação de hospedeiros. Enquanto os vírus da influenza B e da influenza C são predominantemente patógenos humanos que esporadicamente foram isolados de focas e suínos, respectivamente, apenas os vírus da influenza A e da influenza B provocam importantes surtos e doença grave em humanos. A influenza C está associada à ocorrência de doença semelhante a resfriado, principalmente em crianças. O sistema de nomenclatura para os diferentes subtipos do vírus da influenza A incluem o hospedeiro de origem, a origem geográfica, o número da cepa e o ano de isolamento. 2.2 CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS As partículas do vírus influenza são pleomorfas; seu envelope pode ser esférico e filamentoso, e o envelope do vírion é oriundo das membranas de células hospedeiras. Normalmente, o vírion se apresenta como partículas irregularmente esféricas com 80 a 120 nm de diâmetro, ou é filamentoso, com 20 nm de diâmetro e 200 a 300 nm de comprimento. Há dois tipos distintos de projeções na superfície (peplômeros): uma é a HA com formato de bastonete, e a outra é a NA com formato de cogumelo e atividade neuraminidase. Ambas, HA e NA, são glicoproteínas virais que aderem ao envelope viral por meio das curtas sequências de aminoácidos hidrofóbicos. A glicoproteína HA é interposta irregularmente por agregados de NA sobre a superfície do vírion, com uma proporção HA:NA ao redor de 4 a 5:1. O envelope viral envolve a cápsula de proteína M que, por sua vez, circunda o genoma de 8 moléculas individuais (7 nos vírus da influenza tipo C) de RNA de filamento único, juntamente com a NP e 3 proteínas grandes – polimerase básica 1 (PB1), polimerase básica 2 (PB2) e polimerase ácida (PA) –, formando o complexo ribonucleoproteína (RNP), responsável pela replicação e transcrição do RNA. 6 Cada um dos 8 segmentos do RNA genômico codifica uma ou duas proteínas. A natureza segmentada do genoma do vírus influenza resulta em um fenômeno de reagrupamento de alta frequência. Quando as células são infectadas por dois ou mais vírus da influenza A diferentes, a permuta dos segmentos de RNA do vírusparente possibilita a geração de uma progênie de vírus contendo uma nova combinação de genes. 2.3 INFLUENZA EQUINA Influenza equina é uma doença respiratória aguda de equinos. Embora equinos de todas as idades sejam acometidos, aqueles com 2 a 6 meses de idade são os mais suscetíveis. A taxa de mortalidade da influenza equina é bem baixa, mas a de morbidade pode se aproximar de 100%. O período de incubação varia de 1 a 5 dias. A doença se manifesta com febre alta, acima de 41°C, a qual dura mais ou menos 3 dias. Outros sinais clínicos incluem tosse forte, seca e frequente, secreção nasal, no início tipicamente serosa, posteriormente, se torna mucoide, anorexia, apatia, fotofobia, lacrimejamento com secreção ocular mucopurulenta e opacidade de córnea (às vezes, com perda da visão). Pode haver edema de membros e sensibilidade muscular e, em alguns surtos graves, foi notado morte aguda em razão de pneumonia fulminante. A ocorrência de enterite foi relatada em um surto no norte da China, em 1989, por causa de um novo vírus da influenza equina, A/equina/2/Jilin. Considerase que esse vírus foi transmitido de aves para os equinos. A influenza equina é provocada por dois subtipos do vírus da influenza A: A/equina/1 (H7N7) e A/equina/2 (H3N8), com base nas diferenças antigênicas nas suas HA e NA. Não ocorre reação cruzada imunológica entre esses dois subtipos. O subtipo A/equina/1 tem um protótipo, o A/equina/1/Prague, o qual foi inicialmente isolado em 1956. Temse verificado drift antigênico entre os vírus A/equina/1, com subsequente designação de 2 subgrupos que não parecem diferir, significativamente, em termos de imunidade após a vacinação. 7 2.4 PATOGÊNESE E PATOLOGIA O vírus da influenza equina é mais comumente transmitido por meio de aerossóis, e sua disseminação pode ser extremamente rápida em virtude de tosse grave, comum nos equinos acometidos. Os animais infectados continuam a excretar o vírus cerca de 5 dias após o surgimento dos primeiros sinais. O vírus também se propaga por meio de fômites e veículos contaminados. 2.5 DIAGNÓSTICO Diagnóstico laboratorial uma tentativa de diagnóstico clínico de influenza equina é feita com base na informação de ocorrência de rápida propagação, característica da doença, especialmente em equinos estabulados, e de tosse seca, frequente nos equinos acometidos. O diagnóstico definitivo requer que o vírus seja isolado, a detecção do antígeno viral ou a demonstração de aumento do título sérico de anticorpos desde a fase aguda até a de convalescência da doença, em teste de fixação de complemento e teste de inibição da hemaglutinação. Durante os surtos, é importante isolar e tipificar as cepas de vírus que causam influenza, para êxito futuro dos programas de vacinação. As amostras clínicas são obtidas por meio de suabe nasal ou nasofaringiano ou por lavado nasal ou traqueal. Em geral, o lavado é obtido mediante endoscopia. O vírus pode ser isolado em ovos embrionados de galinha ou em culturas celulares, e o ciclo viral completo demora de 5 a 10 dias. Uma vez isolado, o vírus é sequenciado, a fim de determinar sua filogenia. Há três testes para pesquisa de anticorpos contra vírus da influenza equina no sangue de equinos: inibição da hemaglutinação, hemólise de radial simples e ELISA competitivo. Outros testes foram desenvolvidos tendo como base a detecção de vRNA (reação em cadeia de polimerase em tempo real, qPCR) e de proteínas virais (ELISA de captura de antígeno), bem como vários kits de teste rápido disponíveis no mercado. 8 2.6 TRATAMENTO E CONTROLE A vacinação é um método um tanto efetivo para prevenção de influenza em equinos. No entanto, a proteção depende do modo de vacinação e da qualidade da vacina, com ênfase particular à seleção apropriada das cepas contidas na vacina. As vacinas disponíveis contêm vírus inativados de ambos os subtipos, A/equino/1 e A/equino/2. Classicamente, tem sido utilizado A/equino/Prague/56 (H7N7) e A/equino/Miami/63 (H3N8) como o protótipo das cepas A/equino/1 e A/equino/2, respectivamente. Há crescente evidência de diversidade antigênica entre os vírus da influenza equina atual que circulam na natureza, sugerindo que a eficácia da proteção das vacinas com cepas convencionais se tornara limitada com o passar do tempo. Por essa razão, as vacinas atuais incluem algumas das variantes mais novas do vírus A/equino/2. No entanto, o grau de proteção tem variado em razão da maior ocorrência de drift antigênico nas cepas H3N8. As várias vacinas inativadas disponíveis contêm adjuvantes, os quais, comprovadamente, aumentam de modo significativo o seu potencial imunogênico. A imunização inicial requer duas doses de vacina, com intervalo de 2 a 4 semanas. Após esses procedimentos, é necessária mais uma dose de reforço quando o equino completar 1 ano de idade e, então é necessário repetir a dose a cada 6 meses, até que o animal tenha cerca de 3 anos de idade; a partir daí, pode aumentar o intervalo das doses de reforço para não mais do que 1 ano. Mais recentemente, em alguns países, há disponibilidade de vacina com vírus vivo atenuado. Em equinos, tem sido mostrada a relação entre o título de anticorpo nasal para o vírus da influenza e a resistência à infecção. Foi, ainda, demonstrado que a presença de anticorpo no soro, antes do desafio, reduz o tempo de excreção viral e a resposta febril. 9 Além da vacinação, durante os surtos, é recomendado o emprego de medidas de isolamento e quarentena, a fim de reduzir a taxa de propagação da doença; além disso, a desinfecção das instalações, dos equipamentos e das roupas infectadas é fundamental para impedir a transmissão mecânica do vírus. 2.7 INFLUENZA SUÍNA Essa é uma importante doença respiratória de suínos. É comum a doença de ocorrência natural acometer grande número de animais da granja, com alta taxa de morbidade (cerca de 100%) e, em geral, baixa taxa de mortalidade (< 1%). A maior incidência de influenza suína ocorre durante os meses mais frios. Em geral, a doença provocada pelo vírus da influenza suína, isoladamente, é discreta; no entanto, a doença tornase grave quando acompanhada de infecção secundária. O período de incubação é curto, de 1 a 3 dias, com recuperação rápida a partir de 4 a 7 dias após o início da doença. Os sintomas da enfermidade incluem febre, anorexia, fraqueza, dispneia, espirro, tosse e secreção nasal. Alguns animais desenvolvem conjuntivite, edema pulmonar ou broncopneumonia. A influenza suína foi inicialmente reconhecida durante a grave pandemia de influenza humana, em 1918. Estudos subsequentes confirmaram que um vírus H1N1 similar causou doença em humanos e suínos. O vírus da influenza suína pode ser transmitido de suínos para humanos e provocar doença. Há preocupação de que os suínos atuem como reservatório, a partir do qual o vírus da influenza surge e ocasiona epidemia e pandemia em humanos. Embora os subtipos 16 HA e 9 NA tenham sido isolados de aves, apenas os subtipos H1N1, H3N2 e H1N2 causaram infecção de suínos e, mais comumente, são responsáveis por surtos da doença em suínos por todo o mundo. 10 Têm se constatado diferenças genéticas e antigênicas entre as cepas do vírus da influenza suína. Por exemplo, o vírus H1 semelhante ao vírus aviário da Eurásia, o vírus H1 semelhante ao vírus humano e o vírus H1 da influenza suína clássica infectam suínos em todo o mundo e pelo menos 5 agregados de vírus da influenza suína H3N2 foram constatados em granjas de suínos na América do Norte. 2.8 PATOGÊNESE E PATOLOGIA No exame pós morte de suínos com influenza, são verificados mucosa do trato respiratório superior congesta, além de linfonodos bronquiais e mediastínicos aumentados e edematosos. Nos pulmões acometidos, notam-se consolidações púrpura avermelhadas, multifocais a coalescentes, predominantemente na região cranioventral dos pulmões. Em geral, as lesões microscópicas consistem de obstrução das vias respiratórias por exsudato, atelectasia alveolar disseminada, pneumonia intersticial e enfisema. Nota-se, também, infiltração celular peribrônquica e perivascular. O vírus da influenza suína pode ser transmitido por gotículas e aerossóis infectados, bem como por contato direto entre os animais infectados e aqueles não infectados. A infecção por meio de aerossóis e gotículas eliminadas pelos suínos que tossem e espirram é um importante modo de transmissão de influenza suína. O vírus pode ser propagado rapidamente na granja de suínos, resultando em infecção de todos os animais em poucos dias. O contato direto, por meio do nariz de suínos, é a principal via de transmissão do vírus da influenza suína. O vírus é excretado na secreção nasal, a qual contém grande quantidade desse vírus no estágio de febre aguda. Caso os suínos sejam criados mediante operação de alimentação concentrada, aumenta o risco de transmissão do vírus da influenza suína. A transmissão também acontece entre humanos e animais selvagens, os quais disseminam a doença de propriedades infectadas às não infectadas. 11 2.9 DIAGNÓSTICO Suspeitasse de influenza suína sempre que há surgimento “explosivo” de doença respiratória envolvendo vários suínos, especialmente durante os meses de outono ou inverno. O diagnóstico definitivo requer isolamento do vírus na secreção nasal ou no pulmão de suínos mortos ou a detecção de título sérico crescente entre a fase aguda e o período de convalescência ou a detecção de vRNA e antígeno. O vírus da influenza suína pode ser cultivado em ovos de galinha embrionados, de 10 a 12 dias, e em vários tecidos, em sistemas de cultura de monocamada que envolvem culturas de células primárias ou estáveis, a exemplo de células de rim de cães MadinDarby, células PK 15 (de rim de suínos) e de testículos suínos. 2.10 TRATAMENTO E CONTROLE Suínos que se recuperaram da influenza produzem anticorpos neutralizantes, os quais, normalmente, protegem os animais contra a infecção por vírus homólogos. Portanto, a vacinação é uma das medidas eficientes no controle de influenza suína. Foram desenvolvidas vacinas contra influenza suína, as quais se encontram disponíveis no mercado e são amplamente utilizadas nos países europeus e nos EUA. As vacinas compostas de vírus da influenza suína inativado disponíveis no mercado contêm os subtipos H1N1 e H3N2 do vírus circulante e são efetivas quando as cepas de vírus usadas nas vacinas são adequadas aos vírus envolvido na epidemia. Nos últimos anos, a prevenção e o controle da influenza suína mediante vacinação têm se tornado muito difícil por causa da rápida evolução do vírus; o surgimento de um novo vírus resultou em escape do microrganismo da resposta imune induzida pelas vacinas tradicionais. Como grande parte das doenças e de mortes associadas à influenza suína envolve infecções secundárias por outros patógenos, as estratégias de controle que se baseiam na vacinação podem ser insuficientes. 12 O melhor modo de lidar com influenza suína é a prevenção da ocorrência e propagação da doença. Portanto, o manejo adequado das instalações e dos animais também é essencial para o controle dessa enfermidade. O manejo das instalações inclui o uso de procedimentos padrão de sanidade, a fim de controlar a população de vírus no ambiente. Os vírus da influenza A são facilmente inativados por desinfetantes, calor e formalina. É importante a limpeza e desinfecção de caminhões, trailers e qualquer equipamento que possa estar contaminado. Quando um grupo de suínos em fase de terminação manifesta influenza suína, é necessária rigorosa limpeza e desinfecção da instalação, antes que entre o próximo grupo de animais. Os suínos carreadores ou expostos aos vírus da influenza, em geral, são responsáveis pela introdução do vírus em rebanhos não infectados; portanto, os novos animais devem ser mantidos em quarentena antes de ser adicionados ao rebanho. O tratamento envolve medidas de suporte, inclusive um ambiente livre de resíduos, com cama limpa, seca e sem poeira, água fresca limpa e boa fonte de alimentos. A administração de antibióticos ao rebanho auxilia na prevenção de infecção bacteriana secundária. 3. INFLUENZA AVIÁRIA A primeira descrição de influenza aviária, uma doença contagiosa de aves domésticas que ocasiona alta taxa de mortalidade, foi relatada no norte da Itália, em 1878, e inicialmente foi denominada “peste aviária”. O vírus da influenza A foi considerado como causa de “peste aviária” até 1955. O termo “peste aviária” foi substituído por “influenza aviária altamente patogênica (IAAP)” no Primeiro Simpósio Internacional sobre Influenza Aviária, realizado em 1981. Até o momento, foram isolados 16 diferentes subtipos HA do vírus da influenza A e nove subtipos NA em aves aquáticas e em aves pernaltas costeiras. Há 144 combinações teóricas (p. ex., H5N1, H9N2 e H6N1) entre 16 HA e 9 NA, as quais constituem diferentes subtipos do vírus da influenza aviária. 13 Adicionalmente, a influenza aviária é classificada como IAAP e como influenza aviária de baixa patogenicidade (IABP), com base nos critérios genéticos moleculares específicos e na patogênese. A IAAP é uma doença sistêmica extremamente contagiosa que acomete múltiplos órgãos de aves domésticas, resultando em alta taxa de mortalidade. Até o momento, todos os surtos de IAAP foram provocados pelo subtipo H5 ou H7 do vírus, os quais apresentam proteína HA que possuem vários aminoácidos básicos no sítio de clivagem. A maioria dos vírus da influenza aviária ocasiona IABP, cuja infecção, geralmente, causa doença discreta em aves; eles se replicam apenas nos tratos respiratório e intestinal. A HA dos vírus que causam IABP normalmente apresenta um único aminoácido no sítio de clivagem. A infecção de aves domésticas pelo vírus da influenza aviária, inclusive os vírus que provocam IABP ou IAAP, tem ocasionado importantes perdas na indústria aviária em todo o mundo. Aves aquáticas e aves pernaltas costeira, que são reservatórios naturais dos vírus da influenza A, em geral, não manifestam qualquer sinal clínico da infecção causada por diferentes subtipos do vírus. Em patos selvagens, o vírus da influenza se replica nas células da mucosa intestinal, sendo excretado em grande quantidade. O vírus foi isolado de água de lagos e lagoas; pesquisas mostraram que até 60% das aves jovens podem estar infectadas, pois elas se reúnem antes da migração. Em 2005, mais de 6.000 aves selvagens migratórias morreram em decorrência da infeção por H5N1 causador de IAAP, no lago Qinghai, na China. A partir de então, esse vírus se disseminou para a Europa, o Oriente Médio e a África, mais provavelmente por meio de aves migratórias. 3.1 PATOGÊNESE E PATOLOGIA A patogênese da influenza aviária varia amplamente, dependendo da cepa do vírus, da idade e da espécie infectada, da ocorrência de infecções concomitantes e do manejo. Há indícios de que o gene HA seja importante na patogenicidade. 14 A HA dos vírus H5 e H7 altamente patogênicos contém vários aminoácidos básicos no sítio de clivagem, a qual é reconhecida por proteases comuns, como furina e PC6, resultando em infecção sistêmica. Por outro lado, a HA dos vírus que causam IABP carecem desses resíduos básicos no sítio de clivagem e, desse modo, é clivada por proteases em número limitado de órgãos, restringindo a replicação viral ao sistema respiratório. Além do gene HA, também foram identificados outros genes, como PB2 e NS1, os quais influenciam a patogenicidade do vírus. Em aves domésticas infectadas por um vírus que provoca IAAP, é possível ocorrer morte súbita, sem qualquer sinal clínico; durante a necropsia das aves mortas, não se constata lesão evidente. As galinhas que não morrem imediatamente podem manifestar sinais de apatia, edema e cianose na crista, na barbela e nas pernas. À necropsia, verificasse que as lesões incluem focos de necrose de vários locais, inclusive pele, crista, barbela, baço, fígado, pulmão, rim, intestino e pâncreas. É provável também haver exsudato fibrinoso nos sacos aéreos, no oviduto, no saco pericárdico ou no peritônio. Outras lesões incluem petéquias no músculo cardíaco, na gordura abdominal e na membrana mucosa do proventrículo, bem como encefalite não supurativa e pericardite serofibrinosa. Estudos comprovaram que as galinhas infectadas pelo vírus IABP apresentavam lesões histológicas limitadas ao sistema respiratório ou careciam de lesões histológicas. Outras espécies de aves domésticas, como patos, gansos, ratitas e pombos, são menos suscetíveis à influenza aviária. Contudo, a infecção por vírus que causa IAAP tende a provocar sintomas nervosos, inclusive ataxia, torcicolo e convulsões. 3.2 DIAGNÓSTICO Os vírus da influenza aviária podem ser identificados por meio de reação em cadeia de polimerase por transcrição reversa (RTPCR), pesquisa de antígeno e isolamento do vírus. Foram desenvolvidas, e têm sido amplamente utilizadas, RTPCR ou RTPCR em tempo real específica para subtipo do vírus da influenza A. 15 Em geral, tais testes são realizados para a detecção primária e rápida, com alta sensibilidade, de influenza aviária. No entanto, esses testes precisam ser direcionados aos genes que são altamente conservados nos diferentes subtipos, a fim de evitar resultado falso negativo. O teste ELISA de captura de antígeno tem sido feito para a rápida detecção do vírus. No entanto, a principal limitação do teste de captura de antígeno é a baixa sensibilidade, o que o torna inadequado para o diagnóstico precoce e monitoramento de influenza aviária. O isolamento viral é um método tradicional para detecção e identificação dos vírus da influenza aviária. Os vírus da influenza aviária, por vezes, são cultivados em embriões de galinhas, em culturas de células de rins de patinhos, bezerros e macacos; assim, os vírus podem ser isolados de amostras obtidas de traqueia, pulmão, saco aéreo, exsudato de seio nasal ou swab de cloaca. A presença do vírus da influenza A no fluido alantoide ou em cultura celular é confirmada por teste de hemaglutinação, ELISA de captura de antígeno ou por sequenciamento. Para subtipagem adicional do vírus, devem ser realizados testes de inibição da hemaglutinação e da NA, com o auxílio de uma bateria de antissoros contra cada um dos 16 subtipos de hemaglutinina (H1 a H16) e dos 9 de neuraminidase (N1 a N9). 3.3 TRATAMENTO E CONTROLE As aves que se recuperam da infecção permanecem imunes a desafio subsequente por uma cepa homóloga durante, pelo menos, vários meses. Tem-se mostrado que o anticorpo antiHA é importante para a proteção contra a infecção, enquanto o anticorpo antiNA protege contra a doença e reduz a excreção de vírus, mas não impede a infecção. Foram desenvolvidas, e encontram-se disponíveis no mercado, diferentes vacinas contra influenza aviária, como aquelas com vírus inteiro inativado, aquelas que utilizam o vírus da doença de Newcastle como vetor ou vacinas que usam o vírus da varíola aviária como vetor que expressam HA dos vírus da influenza aviária, com intuito de controlar essa enfermidade. 16 Em geral, tem se constatado proteção eficaz contra a infecção pelo vírus. No entanto, há muitos desafios para o controle dessa doença, em razão da alta diversidade genética e antigênica entre os vírus aviários e a rápida evolução do vírus da influenza A. Portanto, apenas a vacinação não é suficiente para controlar a influenza aviária. São necessários manejo cuidadoso e biossegurança rigorosa para o controle e a prevenção de influenza aviária. É importante um manejo cauteloso a fim de impedir a introdução do vírus no lote de aves. Não se deve introduzir novas aves no plantel existente, e é necessário adotar medidas de precaução para impedir o contato direto ou indireto com aves migratórias selvagens ou exóticas. Como os perus também se tornaram suscetíveis ao vírus da influenza suína, boas práticas de manejo incluem não criar suínos na mesma propriedade que se criam perus. Os ovos para o choco devem vir de plantel livre do vírus. Tem-se mostrado que o vírus persiste por 105 dias em estrume líquido após a retirada total das aves da instalação. É necessário, por isso, empregar medidas rigorosas para evitar a movimentação de pessoas e a transferência de equipamentos potencialmente contaminados por estrume entre os rebanhos e as propriedades. Durante um surto, recomendasse o isolamento do plantel, juntamente com a comercialização regular do lote de aves. O tratamento de grupos infectados com antibióticos de amplo espectro é útil no controle de infecções bacterianas secundárias; além disso, alimentação e o manejo apropriados auxiliam na redução da taxa de mortalidade. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Várias evidências sugerem que as cepas causadoras de pandemia de influenza humana surgiram em decorrência do reagrupamento de diferentes cepas do vírus da influenza A (humana e animal ou animal e animal). Por exemplo, o vírus H2N2 da influenza asiática, causa do surto de 1957, e o vírus H3N2 da influenza de Hong Kong, causa do surto de 1968, são reagrupamentos do vírus da influenza humana e do vírus da influenza aviária; o vírus H1N1, que acarretou pandemia em 2009, é oriundo do 17 reagrupamento dos vírus da influenza suína da América do Norte e da Eurásia. Aves aquáticas parecem ter importância particular na origem de novos isolados humanos. Os patos, por sua vez, atuam como um “cadinho”, em que várias cepas do vírus da influenza podem surgir juntas e sofrer reagrupamento genético, resultando no surgimento de novas cepas de vírus da influenza. Embora pouco se saiba a respeito de os vírus das pandemias passadas terem se originado de suínos, essa espécie é considerada um “recipiente misto” de vírus da influenza “semelhante ao vírus aviário” e “semelhante ao vírus humano”. Uma das evidências que sustenta isso inclui o fato de os suínos apresentarem receptores para ambos os vírus, da influenza aviária e da influenza humana. Outra evidência é que o vírus da influenza suína com triplo reagrupamento, carreadores dos genes das influenzas suína, aviária e humana, tem circulado nas granjas de suínos da América do Norte por mais de 12 anos e, esporadicamente, é transmitido para e entre pessoas infectadas. Uma vez que os genes internos e o gene HA são fundamentais para a ampla variação de hospedeiros, e que a HA e a NA são relevantes para a imunidade do hospedeiro, os eventos de reagrupamento em um hospedeiro intermediário, a exemplo de suínos ou codornizes, podem resultar no surgimento de novas cepas de vírus. Eles contêm os mesmos genes internos ou genes similares, mas possuem proteínas HA e NA muito diferentes, e sua HA é capaz de se ligar aos receptores de mamíferos. Os novos vírus assim originados são capazes, ainda, de infectar humanos e possuem antígenos de superfície muito diferentes daqueles aos quais a população humana foi previamente exposta (e imunizada). O resultado tende a ser uma grave pandemia de influenza, pois a nova cepa se propaga rapidamente nas populações suscetíveis. Normalmente, os vírus da influenza aviária não atravessam diretamente as barreiras que impedem a infecção de humanos e de outros mamíferos hospedeiros. No entanto, as evidências acumuladas mostram que os vírus da influenza aviária podem infectar diretamente pacientes humanos. 18 O primeiro surto de influenza aviária causada por H5N1, em Hong Kong, em 1997, ocasionou a morte de 6 a 18 pessoas infectadas. Desde 2005, o vírus H5N1 causador de IAAP tem provocado surtos da doença em aves selvagens, no lago Qinghai, na China. Esse vírus se disseminou por Europa, Oriente Médio e África, a partir dos países do sudeste. Atualmente, o vírus H5N1 causador de IAAP é endêmico em aves domésticas, em vários países, como por exemplo, Egito e Vietnã; continua sendo relatada infecção humana por esse vírus. Desde 24 de fevereiro de 2012, foram relatados 586 casos humanos confirmados de infecção pelo vírus H5N1, que causa IAAP, à Organização Mundial da Saúde; 346 desses pacientes morreram. Considerasse que tal vírus poderá causar a próxima pandemia. Além disso, outros subtipos de vírus da influenza aviária, como H9N2 e H7N7, foram capazes de infectar diretamente pacientes humanos. Felizmente, todos esses vírus da influenza aviária, inclusive H5N1 e H9N2, não são capazes de transmitir a infecção entre humanos. Obviamente, a influenza aviária é uma importante doença zoonótica. Suínos são suscetíveis à infecção pelos vírus das influenzas humana, aviária e suína, sugerindo que é possível surgir um novo vírus pela reorganização neste hospedeiro, capaz de causar epidemia e pandemia, porque as pessoas não apresentam imunidade contra esse vírus. Em especial, os vírus da influenza aviária H5N1 e H9N2 foram isolados de suínos em países do Sudeste Asiático, o qual foi considerado uma “região apropriada para o desenvolvimento de vírus da influenza”, em virtude da proximidade das habitações humanas com as propriedades e a estreita relação entre suínos, aves e pessoas nas fazendas familiares. Essa é considerada a situação ideal para o surgimento de novas cepas antigênicas e para a introdução desses vírus na população humana. Esse fato enfatiza a importância da vigilância dos vírus de influenza animal e humana nessa região, a fim de prevenir a próxima pandemia. No entanto, o vírus H1N1 provocou, em 2009, a pandemia do século 21, com a ocorrência dos primeiros casos no México. Considerando a pandemia de 2009, aprendemos que o vírus da pandemia pode, também, ser oriundo de outros locais, inclusive de países altamente industrializados 19 da América do Norte ou da Europa Ocidental, com modernas instalações para suínos e aves, com exceção do Sudeste Asiático. 5. REFERÊNCIAS EASTERDAY B.C.; Influenza. In: Diseases of Poultry, 10ª ed. Editores B.W. Calnek HJ Barnes, CW Beard LR. McDougald YM. Iowa State University Press, Ames, Iowa, EUA, 1997. p. 583-605. KENNEDY, M. Microbiologia Veterinária. Rio de janeiro: EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA, 2016. KENNEDY, M. Microbiologia Veterinária. 3ª. ed. Rio de Janeiro: gen, 2016. TORTORA, G. J. Microbiologia. 10ª. ed. Porto Alegre: artmed, 2012. PAIVA, L. M. INFLUENZA AVIÁRIA. REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA – ISSN: 1679-7353 , SÃO PAULO, p. 6, JANEIRO 2009.