ATUALIZAÇÃO EM ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA ILUSTRAÇÕES: JOSÉ FALCETTI REDAÇÃO: PROF. RAMES MATTAR JUNIOR DR. MARCELO ROSA DE REZENDE PROF. RONALDO J. AZZE COBERTURA CUTÂNEA DO MEMBRO SUPERIOR COBERTURA CUTÂNEA DO MEMBRO SUPERIOR Prof. Rames Mattar Júnior Dr. Marcelo Rosa de Rezende Prof. Ronaldo J. Azze A perda da cobertura cutânea no membro superior exige uma abordagem específica, já que necessitará de tratamento especializado. A lógica que deve ser obedecida é a de se procurar tentar resolver o problema a partir de procedimentos mais simples, que possam garantir um bom resultado funcional e estético, associado a uma menor morbidade. Contudo, em especial na mão, a exposição de estruturas nobres como nervos, vasos, articulações, tendões e ossos irão determinar a necessidade de se fazer uma cobertura de boa qualidade, que possa garantir a nutrição dos tecidos subjacentes, evitando a sua aderência junto ao retalho. Nestes casos, a opção de tratamento recai sobre o uso de retalhos, que são segmentos de tecido que apresentam nutrição própria, e que podem ser obtidos de diferentes formas. Apesar de haverem relatos históricos do uso de retalhos que datam do século VI e VII, somente neste século, e mais especificamente após a Segunda Guerra Mundial, é que foi dado importância ao estudo da utilização de retalhos. As bases anatômicas que alavancaram estes estudos foram dadas, já no início do século, com o trabalho de Carl Manchot (1889) que descreve a vascularização cutânea e muscular. Este trabalho não teve a devida repercussão, sendo que, somente em 1936, com o trabalho de Michel Salmon, estes conceitos foram retomados de uma forma ainda mais detalhada, servindo como referência para o Publicação Oficial do Instituto de Ortopedia e Traumatologia Dr. F. E. de Godoy Moreira da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. R. Dr. Ovidio Pires de Campos, 333 Tel/Fax: (011) 3069-6888 CEP 05403-010 – São Paulo – SP REDAÇÃO: Prof. Dr. Rames Mattar Junior Professor livre Docente da FMUSP Chefe do Grupo de Mão do Departamento de Ortopedia e Traumatologia FMUSP Professor Ronaldo J. Azze Professor Titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP Dr. Marcelo Rosa de Rezende Assistente do Grupo de mão Departamento de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP 2 estudo e descrição de novos retalhos nos anos que se seguiram. Apesar das bases anatômicas já estarem estabelecidas, somente a partir da segunda metade dos anos 50 é que houve um grande número de publicações sobre estudos anatômicos e aplicações clínicas de diferentes tipos de retalho. O desenvolvimento dos métodos de magnificação e instrumental microcirúrgico foram também fatores determinantes, que possibilitaram o apuramento da técnica cirúrgica, permitindo a manipulação e reconstrução de vasos de calibre menores que 1 mm. De forma geral, frente a um problema de perda de cobertura cutânea, devemos considerar, quanto a indicação do tratamento, as técnicas mais simples e, somente na impossibilidade destas, as mais complexa. Assim, podemos considerar a seguinte seqüência terapêutica: 1 - Fechamento primário (sutura do ferimento); 2 - Cicatrização por segunda intenção; 3 - Enxerto de pele; 4 - Rotação de retalho local ao acaso; 5 - Retalho pediculado localmente; 6 - Retalhos livres (microcirúrgicos) O fechamento primário da área cruenta deve sempre ser considerado, sendo que, na impossibilidade deste, temos como opção seguinte a utilização de enxertos de pele. Neste caso, o leito receptor deverá ser bem vascularizado, já que dele vai depender a PRODUÇÃO GRÁFICA: Coordenação Editorial: ábaco digital print Colaboradores: Rodrigo R. Tonan, Carmen T. Bornacina, Bruno Vigna, Marize Zanotto, Adalberto Tojero. Ilustrações Médicas: José Falcetti Diagramação e Editoração Eletrônica: ábaco digital print Fotolito: Bureau Digital Bandeirante Impressão: Nova Página Tiragem: 10.000 exemplares CARTAS PARA REDAÇÃO: Atualização em Traumatologia do Aparelho Locomotor Rua Pamplona, 1230 – 01405-000 São Paulo – SP – Tel/Fax.: (011) 3885-2888 COBERTURA CUTÂNEA sobrevivência do enxerto. Deve-se levar em consideração o fato de que sua utilização leva a um tipo de cobertura instável, que irá aderir aos planos profundos, não permitindo o deslizamento das estruturas localizadas mais profundamente, o que, em algumas situações, inviabiliza a sua utilização. Conceito de retalho: Entenda-se como retalho um segmento de tecido corpóreo que pode ser destacado de seu leito original e transposto para outra região sem que haja prejuízo de sua vascularização. Para que isto ocorra, é fundamental que hajam vasos que possam garantir a nutrição do retalho. A independência da nutrição do retalho garante não só sua autonomia, mas também a possibilidade de levar irrigação à área receptora. O padrão vascular de cada retalho é dado pelo trajeto do vaso principal e seus ramos junto ao retalho. Os retalhos podem ser classificados segundo a sua constituição e padrão vascular. Constituição: • Cutâneo • Fascial • Muscular • Ósseo Combinação (Compostos): • Fáscio-cutâneo • Osteo-fáscio-cutâneo • Miocutâneo Padrão Vascular: • Ao Acaso - não apresenta um feixe vascular principal, sendo a nutrição do retalho dada por vasos subdermais. A nutrição do retalho vai depender de sua base e, desta forma, devem ser usados através de sua rotação para atingir a área receptora. A base não deve ser menor que sua altura. • Pediculado – em ilha – mantendo-se o segmento cutâneo preso apenas a seu pedículo, o que permite um amplo arco de rotação, para atingir áreas distantes – Peninsular – mantém-se o retalho preso a um segmento cutâneo (base) ao longo do qual passa um feixe vascular bem definido, e que irá garantir a nutrição. Neste caso, é possível a retirada de um comprimento maior em relação ao retalho ao acaso, já que sua nutrição independe da relação entre a base e o comprimento. • Livres – são retalhos que podem ser transpostos para áreas distantes já que apresentam pedículo vascular próprio, que devem ser devidamente anastomosados junto a área receptora (técnica microcirúrgica), garantindo assim a sua nutrição. Esta característica confere ao retalho grande versatilidade e uma maior opção de escolha Os retalhos, em geral, apresentam fluxo anterógrado. Contudo, a partir de estudos de Lin et al., em 1984, foi constatado a possibilidade de utilizarmos alguns retalhos em sua forma retrógrada, ou seja, fazermos a inversão do fluxo, tanto ao nível da artéria como da veia. A grande preocupação neste tipo de retalho seria em relação ao sistema de válvulas do sistema venoso, que impediria o fluxo retrógrado nas veias. A constatação clínica e experimental demonstrou existir vias alternativas do fluxo venoso capazes de garantir o retorno venoso. O retalho do tipo fascial só foi reconhecido como eficaz a partir de estudos de Potén em 1981, que demonstraram a possibilidade de nutrição da fáscia, mantendo as propriedades de um retalho, quanto a cobertura cutânea e a não aderência às estruturas subjacentes. Indicação: Decorrente de suas próprias características, os retalhos representam uma evolução no tratamento das perdas cutâneas. O uso de enxerto de pele, seja parcial ou total, tem indicações mais restritas, já que para a sua sobrevivência, haverá necessidade de um leito bem vascularizado As aderências do enxerto de pele a outros tecidos e ao leito receptor é inevitável e, em alguns casos, levaria a conseqüências desfavoráveis. O próprio princípio de integração do enxerto implica em sua retração que, para algumas regiões, levaria a limitações da amplitude de movimento. Assim, em casos em que o uso do enxerto de pele não está indicado, devemos considerar a utilização dos retalhos, conforme as seguintes situações 1 – Necessidade de cobertura estável – em especial nos casos em que já se prevê novas intervenções no local do leito receptor 2 – Necessidade de coxim protetor – em áreas de apoio 3 – Exposição de estruturas nobres – vasos, nervos e tendões que perderam o seu epitendão 4 – Exposição ósteo-articular 5 – Leito receptor pouco vascularizado 6 – Áreas com infecção crônica Contraindicação: São poucas, valendo mais para os casos em que utilizamos os retalhos livres que, por serem procedimentos mais complexos, estão relacionados a uma maior morbidade para o paciente. Devemos considerar as condições clínicas do paciente, bem como sua condição vascular. Em alguns casos, havendo dúvida sobre a integridade dos vasos na área receptora, devemos solicitar um exame arteriográfico que irá, inclusive, ajudar no planejamento cirúrgico. Pacientes portadores de doenças vasculares diretas ou indiretas (hipertensão, diabetes) deverão ser avaliados de forma mais cuidadosa quanto as indicações microcirúrgicas, pois o risco de insucesso das microanastomoses é maior. Momento Cirúrgico: Havendo indica- 3 ção para utilização de um retalho, este deverá ser realizado o mais breve possível, desde que as condições clínicas sigam favoráveis. A discussão sobre a realização dos retalhos já no primeiro atendimento deve relaciona-se às condições básicas fundamentais como a presença de uma equipe treinada disponível, e que este procedimento não venha a agravar as condições gerais do paciente. O grau de contaminação da ferida deve ser considerado na decisão final de fazer ou não a cobertura na urgência. Acreditamos que ferimentos com baixo grau de contaminação, e que tenham sido submetido a uma limpeza e desbridamento cuidadosos, poderão ser cobertos com retalhos já na urgência, o que proporcionará uma reabilitação mais precoce, fundamental para recuperação funcional, particularmente da mão. tivermos grandes perdas cutâneas com exposição óssea ou de estruturas nobres, podemos optar pela utilização do retalho pediculado do grande dorsal , que pode ser rodado, preservando seu pedículo vascular (vasos tóraco-dorsais), garantindo a cobertura até o segmento distal do braço. Outra opção seria a própria utilização deste retalho em sua forma livre, ou do retalho cutâneo escapular (baseado nos vasos circunflexos escapulares). Região do Cotovelo e Antebraço: Nesta região, a cobertura se faz necessária nos casos mais complexos, que precisam de retalhos de grandes dimensões como os que podemos obter do segmento posterior da cintura escapular (retalho do músculo grande dorsal e escapular). Em especial, na porção distal do antebraço ( dorsal ou volar ), podemos recorrer ao retalho inguinal (pediculado e baseado nos vasos circunflexos ilíacos superficiais). ESCOLHA DO RETALHO Deverá ser feita baseado no tamanho, localização e fatores estéticos. Algumas características individuais como o sexo, idade, tipo físico (obesidade, tendência para quelóides) poderão ser fatores que vão nos auxiliar na escolha do melhor tipo de retalho. Quando possível, utilizamos retalhos ao acaso ou pediculados, porém para tratamento de grandes áreas cruentas, ou em casos mais complexos, com perda concomitante de vários tecidos, os retalhos livres (microcirúrgicos) devem ser considerados como uma boa opção de tratamento. A região do dorso da mão apresenta características próprias que devem ser consideradas, pois havendo pouco subcutâneo, qualquer tipo de retalho cutâneo colocado nesta região irá ser muito volumoso, especialmente em pacientes obesos. Às vezes, o excesso de volume do retalho implica na necessidade de várias cirurgias de emagrecimento. Uma das opções, para esta região, são os retalhos fasciais, que enxertados posteriormente, conferem um aspecto estético e funcional bastante satisfatório. Os retalhos musculares tem indicações bastante restritas no membro superior, estando reservados para perdas cutâneas extensas, especialmente no antebraço e cotovelo. Área cruenta em região do cotovelo com exposição óssea e articular após mordedura por leão. Região do com dorso mão: grande Nestadorsal. rePós-operatório imediato retalhoda do músculo gião é muito comum a ocorrência de perda da CARACTERÍSTICA DA COBERTURA CUTÂNEA SEGUNDO A ÁREA RECEPTORA Região do Braço: São poucos os casos que necessitam de uma cobertura cutãnea nesta região, pois a pele é bastante elástica e há tecido muscular revestindo todo o contorno do braço. Tais característica garantem a opção de fechamento primário das lesões ou mesmo a simples utilização de enxertos de pele. No entanto, nos poucos casos em que 4 Três meses de pós-operatório, após enxertia de pele do reta- cobertura cutânea associada a lesões seglho. Aspecto final. COBERTURA CUTÂNEA mentares dos extensores, que irá necessitar de reconstrução. Portanto, devemos pressupor a necessidade de um tipo de cobertura local que permita o deslizamento das estruturas. A utilização de alguns retalhos cutâneos nesta região, em especial em indivíduos obesos, leva a uma cobertura volumosa, que irá necessitar de vários procedimentos de emagrecimento local. Desta forma, temos preferido a utilização de retalhos cutâneos pouco espessos ou fasciais, que após enxertados, garantem um aspecto bastante semelhante ao da pele normal desta região. Primeira Comissura: A retração cicotricial causando diminuição do espaço da primeira comissura da mão é muito incapacitante. A deformidade causa perda da capacidade de preensão da mão. Nesta situação clínica está indicado promover a cobertura cutânea após liberação cirúrgica da retração. A utilização de retalhos proporciona pele de boa qualidade e que não retrai. Região da palma da mão: Não dispomos de uma cobertura ideal para esta região, pois as características pele local são muito próprias, em relação a sen- Retração cicatricial em mão pós-queimadura, Notem a contratura da primeira comissura. Intra-operatório com abertura da primeira comissura. Pós-operatório de retalho lateral do braço. Notar a abertura da primeira comissura. 5 sibilidade e ao coxim gorduroso. Quando necessária, devemos optar por retalhos do tipo cutâneo, de preferência com potencial de retorno de sensibilidade. Região volar dos dedos: Nesta região é imprescindível que o tipo de cobertura cutânea tenha o potencial de retorno da sensibilidade, em especial na face radial dos dedos e ulnar do polegar, onde é efetivamente realizado o movimento de pinça . Região do dorso dos dedos: Aqui, dife- que a simples utilização de retalhos cutâneos garante um retorno funcional e estético satisfatório. Em situações em que temos a preservação do epitendão, e que não corresponda a região de articulação, poderemos considerar o uso de enxerto de pele com bons resultados. Relação de Retalhos mais comumente utilizados: Retalhos ao Acaso: 1 – Cross- finger 2 – V-H – Atasoy-Kleinert 3 – Kutler Retalhos Pediculados: 1 – Peninsulares 1a – Moberg 1b – Ingúinal 2 – Em ilha 2a – Metacárpica dorsal 2b – Artéria radial (Chinês) 2c – Interóssea posterior 2e – Littler 2f – Reverso do dedo Retalhos Livres: rentemente Área cruenta em face volarda do região polegar. volar, o retorno da sensi- 1 2 3 4 5 – – – – – Lateral do Braço Escapular /Paraescapular Primeira Comissura do Pé Músculo Grande Dorsal Músculo Serrátil Opções Terapêuticas para Cobertura Cutânea do Membro Superior bilidade não é um do fator imprescindível, Pós-operatório imediato do retalho tipo Littler. sendo Pós-operatório tardio com aspecto final da reconstrução do polegar. 6 Enxerto: Podem ser do tipo parcial, total ou composto. O enxerto parcial é aquele obtido com o auxílio de uma faca de BLAIR, correspondendo a uma camada da pele composta basicamente de epiderme e apenas parte da derme. A seu favor, temos que sua integração junto ao leito receptor é mais fácil. Por outro lado, apresenta um potencial para retração maior. Já o enxerto total de pele inclui, além da epiderme, toda a derme sendo, portanto, mais espesso, apresentando uma maior dificuldade para integração junto ao leito, mas apresentando como vantagem uma menor retração em relação ao parcial . São áreas potenciais para doação deste tipo de enxerto: região inguinal, borda ulnar da mão ou a face anterior do punho. Todas elas que podem e devem ser fechadas primariamente. Retalhos possíveis segundo a localização das áreas doadoras: 1 – Posterior da Cintura Escapular COBERTURA CUTÂNEA a) Retalho Escapular ou Para-escapular: • Localização: Retirado da região posterior da cintura escapular, de forma transversa ou longitudinal. • Tipo: basicamente é do tipo fásciocutâneo, podendo ser retirado apenas na forma fascial • Artéria nutriente: Artéria circunflexa escapular que é um ramo da artéria escapular • Pedículo: Uma artéria para duas veias • Extensão: poderá ser retirado da emergência da artéria circunflexa escapular até bastante próximo do processo espinhoso das vértebras. A largura poderá ser retirada até cerca de 10 cm, que na maioria dos casos permite o fechamento da área doadora primariamente. • Características: retalho de grande dimensões, e que em pessoas obesas poderá ser de grande espessura devido ao subcutâneo aumentado. b) Retalho do Músculo Serrátil • Localização: Músculo Serrátil (últimas 4 ou 5 digitações) • Tipo: muscular Área cruenta em região dorso ulnar do 1/3 distal do antebraço, com exposição óssea. • Artéria nutriente: Ramo da artéria toraco-dorsal • Pedículo: Uma artéria para duas veias • Extensão: Podem ser retiradas as três últimas indentações do músculo serrátil, preservando-se o restante para evitar alterações funcionais da escápula. • Características: é um retalho mais fino em relação ao do músculo grande dorsal e apresenta limitações quanto as suas dimensões c) Retalho do Músculo Grande Dorsal • Localização: Músculo Grande Dorsal • Tipo: basicamente é do tipo muscular, contudo podemos adicionar o segmento de pele suprajacente ao músculo, podendo assim ser do tipo músculo -fáscio -cutâneo • Artéria nutriente: Artéria tóracodorsal • Pedículo: Uma artéria e uma veia • Extensão: Podemos retirar o músculo em toda a sua extensão. • Características: é um retalho de grandes dimensões, que possibilita a cobertura de uma grande área. Apesar de apresentar uma espessura grande,podemos esperar a sua dimi- Aspecto clínico final do retalho escapular. 7 nuição quando de sua utilização a distância devido ao processo de denervação muscular. 2 – Retalhos do Braço a) Retalho Lateral do Braço • Localização: Porção lateral do braço • Tipo: Apesar de ser utilizado mais freqüentemente em sua forma fáscio-cutânea, poderá ser retirado com segmento distal do úmero e porção lateral do tríceps (osteofáscio-cutâneo). A presença de inervação sensitiva (nervo cutâneo lateral do braço) garante potencial de retorno de sensibilidade local • Artéria nutriente: Artéria colateral radial posterior • Pedículo: Uma artéria para duas veias • Extensão: Podemos retirar uma extensa área que vai de cerca de 3 cm distais da inserção do músculo deltóide até cerca de 3 cm distais ao epicôndilo lateral. A largura máxima que permite o fechamento primário da área doadora é de 5 a 6 cm. • Características: é um retalho bastante versátil, especialmente se considerarmos o fato de podermos restringir o trauma cirúrgico ao mesmo membro lesado, quando de lesões mais distais. A possibilidade de fazer-se a sutura do nervo sensitivo junto a área receptora garante o retorno da sensibilidade do retalho. 3 – Retalhos do antebraço a) Retalho da artéria radial (Chinês) • Localização: toda a face anterior do antebraço • Tipo: A forma mais utilizada é a fáscio-cutânea, contudo poderá ser associada a retirada de um segmento do rádio, além do potencial de retorno da sensibilidade se retirado com ramo cutâneo lateral do antebraço • Artéria nutriente: Artéria radial • Pedículo: Uma artéria para duas veias • Extensão: Apesar de teoricamente podermos retirar todo a extensão da face anterior do antebraço, devemos considerar o aspecto da morbidade associada quando da retirada do segmento cutâneo local Representação esquemática do retalho lateral do braço dissecado com seu pedículo proximal baseado na artéria colateral radial e veias comitantes. 8 • Características: Em geral este retalho é retirado em sua forma de fluxo reverso, em que se realiza a ligadura da artéria radial proximalmente, seguido da rotação do retalho COBERTURA CUTÂNEA Área cruenta em região do dorso da mão com lesão de extensores. Colocação de espaçador de tendão. Aspecto clínico e funcional final. Área cruenta tratada com retalho lateral do braço (micro cirúrgico). para cobertura localizada na mão. A grande morbidade associada com a retirada da porção cutânea, tem-nos levado a utilizar apenas o segmento fascial, em especial para cobertura de áreas no dorso da mão. Devemos sempre averiguar a integridade do arco superficial e profundo da mão, para evitar riscos de isquemia da mão pós ligadura da artéria radial. b) Retalho da Artéria Interóssea Posterior • Localização: Quase toda região do dorso do antebraço • Tipo: fáscio –cutâneo • Artéria nutriente: Artéria interóssea posterior • Pedículo: poderá ser a própria artéria interóssea posterior quando retirado proximalmente, ou a comunicação entre a artéria interóssea posterior com a anterior ao nível do punho. • Extensão: Teoricamente podemos retirar quase toda a extensão do dorso do antebraço em sua porção fascial e cutânea, contudo o fator associado a morbidade local deve ser considerado, o que restringe a largura a ser retirada a cerca de 5 cm se tivermos a intenção de fechar a área doadora primariamente. • Características: É um retalho bastante útil em especial para a cobertura de áreas menores como primeira comissura , dorso ou palma da mão. Em geral é utilizado em sua forma de fluxo retrógrado. 4 – Retalhos Dorso da Mão e Dedos a) Retalho em ilha tipo Littler • Localização: Face Antero-lateral do dedo 9 Representação esquemática do retalho baseado na artéria interóssea posterior de fluxo reverso. 10 COBERTURA CUTÂNEA Lesão tumoral do tipo espino-celular em região do dorso da mão. Ressecção tumoral com exposição de lesões extensores. Área cruenta em dorso da mão com o retalho da artéria interóssea posterior já dissecado e baseado distalmente. Pós-operatório imediato do retalho. Quatro meses de pós-operatório. 11 • Tipo: cutâneo • Artéria nutriente: artéria digital • Pedículo :. Baseado nas artérias digitais próprias e comuns • Extensão: retalho limitado a face Antero-lateral do dedo • Características: é um retalho bastante útil e versátil por apresentar características de pele da região ventral e por ser inervado. É utilizado freqüentemente para promover a cobertura cutânea em lesões extensas localizadas próximas à polpa dos dedos, principalmente do polegar b) Retalho do tipo Cross-Finger • Localização: região dorsal dos dedos • Tipo: cutâneo • Artéria nutriente: retalho ao acaso • Pedículo :. Base cutânea do retalho • Extensão: limitado à região dorsal do dedo doador. • Características: tecido cutâneo de pequena espessura. É próprio para promover a cobertura cutânea de perdas cutâneas limitadas aos dedos vizinhos. Retalho neuro-vascular em ilha para cobertura cutânea do polegar Retalho neuro-vascular em ilha utilizado em reconstrução osteoplástica do polegar. 12 c) Retalho do tipo Atasoy • Localização: região volar da extremidade distal dos dedos • Tipo: cutâneo • Artéria nutriente: ao acaso • Pedículo: Ramos cutâneos das artérias digitais • Extensão: limitado à porção distal e volar de dedos vítimas de lesão circunscritas à extremidade (polpa digital) • Características: retalho freqüentemente utilizado para reconstrução em amputações traumáticas da extremidade distal dos dedos. Proporciona boa cobertura e qualidade de sensibilidade. d) Retalho arterial dos dedos do tipo fluxo reverso • Localização: região Antero-lateral de dedo • Tipo: cutâneo • Artéria nutriente: artéria digital • Pedículo: Artéria digital (fluxo retrógrado) • Extensão: limitado à região Antero-lateral do dedo. • Características: proporciona cobertura cutânea de lesões localizadas no dedo doador do retalho. Sua utilização depende de ramos comunicantes entre os dois sistemas das artérias digitais localizados ao nível das articulações interfalangianas proximal e distal. e) Retalho do tipo Moberg • Localização: região volar do dedo ou polegar • Tipo: cutâneo • Artéria nutriente: ramos cutâneos das artérias COBERTURA CUTÂNEA Retalho baseado no fluxo reverso dos vasos digitais. digitais • Pedículo: • Extensão: limitado à região volar dos dedos e polegar • Características: é um retalho de deslizamento mais utilizado para reconstrução das perdas da extremidade distal do polegar. Apesar de promover boa qualidade de cobertura e retorno de sensibilidade pode provocar limitação da extensão do dedo ou polegar. f) Retalho da Artéria Primeira Metacarpiana Dorsal • Localização: bordo radial do segundo metacarpiano, dorso da falange proximal do dedo indicador • Tipo: fáscio-cutâneo • Artéria nutriente: Artéria primeira metacarpiana dorsal • Pedículo: uma artéria / duas veias comitantes/ veias do sistema superficial / ramos sensitivos do nervo sensitivo radial • Extensão: Apesar de alguns estudos mostrarem a possibilidade de extensão do retalho até a falange média, acreditamos que ao cruzarmos a prega distal da interfalangeana proximal estamos aumentando em muito a morbidade junto ao dedo doador. • Características: A inclusão do ramo sensitivo do nervo radial junto ao retalho garante a sensibilidade a sua sensibilidade,portanto o seu uso tem indicação principal para região volar do polegar. A presença da artéria primeira metacarpiana dorsal em 100% dos casos, torna o retalho seguro e confiável, devendo apenas ter o cuidado de fazer a dissecção do pedículo com margem de segurança que pode ser feito incluindo um faixa larga de fáscia do músculo interósseo dorsal. Um dos incovenientes deste tipo de retalho é a necessidade de enxertia de pele junto área doadora. g) Retalho da Artéria Segunda Metacarpiana Dorsal • Localização: Espaço dorsal entre os segundo e terceiro metacarpianos ao longo da artéria segunda metacarpiana dorsal 13 Retalho baseado na primeira metacárpica dorsal. 14 COBERTURA CUTÂNEA Retalho baseado na primeira metacárpica dorsal. 15 • Tipo: Fáscio-cutâneo. • Artéria nutriente: artéria segunda metacarpiana dorsal. • Pedículo: uma artéria / duas veias comitantes. • Extensão: Da da região dorsal da mão o retalho pode ser extendido sobre o dorso da falange proximal do dedo indicador e longo, graças a expansões locais da artéria segunda metacarpiana dorsal. • Características: Os estudos anatômicos mostram a presença da artéria metacarpiana em 100% dos casos o que torna o retalho bastante seguro, contudo as dimensões máximas ainda nào foram definidas. Em nossa experiência o Retalho baseado na segunda metacárpica dorsal. 16 maior retalho foi de 10cm de comprimento por 2,5 cm de largura, que foi suficiente para cobrir até a região da interfalangiana distal do dedo longo.A vascularização do retalho é dada por ramos perfurantes distais localizados distalmente a última conexão intertendínea, e que são ramos da artéria segunda metacarpiana dorsal. O retalho é dissecado e rotado em 180 graus sobre o pedículo, sem que haja diminuição de sua vascularizacão, atingindo assim o limite distal da lesão. h) Retalho da Artéria Terceira Metacarpiana Dorsal • Localização: Espaço dorsal entre os terceiro e quarto metacarpianos ao longo da artéria segunda metacarpia- COBERTURA CUTÂNEA Retalho baseado na segunda metacárpica dorsal. 17 Retalho baseado na segunda metacárpica dorsal. 18 COBERTURA CUTÂNEA Retalho baseado na segunda metacárpica dorsal. 19 Dissecção do retalho baseado na artéria segunda metacarpiana dorsal. Pós-operatório imediato mostrando a cobertura completa da área cruenta com boa perfusão do retalho. Área cruenta em dorso da falange proximal do dedo indicador. Resultado final. na dorsal Tipo: fáscio-cutâneo Artéria nutriente: Artéria terceira metacarpiana dorsal Pedículo :.uma artéria / duas veias comitantes Extensão: Os limites ainda não foram ainda definidos Características: assim como o retalho da segunda metacarpiana dorsal, ele pode ser rodado em 180 graus sobre os ramos perfurantes. A literatura é evasiva em relação aos limites do retalho, sendo que em nossa casuística o maior retalho obtido apresentava 6x 2,5cm dimensões i) Retalho da Artéria Quarta Metacarpiana Dorsal • Localização: Espaço dorsal entre os quarto e quinto metacarpianos ao longo da artéria • • • • • 20 COBERTURA CUTÂNEA Aspecto de área cruenta do dedo anular, com exposição óssea. Pós-operatório do retalho com cobertura completa da área cruenta. Resultado final. 21 segunda metacarpiana dorsal Tipo: fáscio-cutâneo Artéria nutriente: artéria quarta metacarpiana dorsal Pedículo: uma artéria / duas veias Extensão: indefinido Características: Dado relevante deste retalho é que a artéria quarta metacarpiana dorsal, conforme estudos anatômicos está presente em apenas 70% dos casos, sendo que seria importante certificarmos sobre a sua presença. Apesar deste dado anatômico em nossa casuística de 9 casos não tivemos nenhum insucesso, contudo seria interessante a confirmação de sua presença usando um aparelho do tipo doppler 5 – Retalhos à distância • • • • • Presença de área cruenta em face volar do quinto dedo. Pós-operatório imediato do retalho. Resultado final. 22 COBERTURA CUTÂNEA a) Retalho Inguinal • Localização: Obtido a partir da região inguinal • Tipo: Retalho do tipo fáscio-cutâneo • Artéria nutriente: Artéria circunflexa ilíaca superficial • Pedículo: 1 artéria / Veias comitantes • Extensão: O retalho é obtido ao longo do trajeto da artéria circunflexa ilíaca superficial que se localiza a cerca de 2 cm inferiormente ao ligamento inguinal. A largura máxima deverá ser a que permita o fechamento primário do local, o que vai depender da elasticidade da pele. Já o comprimento do retalho, teoricamente poderá se extender até a região lateral do quadril, sempre em linha com o trajeto da artéria circunflexa ilíaca superficial • Características: Apesar de poder ser também utilizado em sua forma livre, o retalho inguinal é basicamente utilizado em sua forma pediculada, através tunelização proximal do seu pedículo, o que permite um amplo arco de rotação, facilitando a sua utilização para diferentes áreas do membro superior.Trata-se de um retalho bastante seguro em sua confecção, sendo que sua morbidade junto a área doadora é mínima. As grandes dimensões obtidas garantem a cobertura de extensas áreas no antebraço, punho e mão. Como inconvenientes temos o fato de a área receptora precisar ficar unida á área doadora pelo período mínimo de 3 semanas, até que possa haver a autonomização do retalho em relação ao seu pedículo, e assim possamos fazer a sua liberação através da secção do pedículo. Especialmente em pacientes obesos devemos estar atentos ao inconveniente de termos retalhos muito volumosos, que vão exigir várias etapas de emagrecimento do retalho. Outro cuidado é em relação ao uso do retalho em crianças, que poderão não tolerar a manutenção do membro restrito á área receptora, podendo haver sérios danos ao retalho. b) Retalho da Primeira Comissura do Pé • Localização: Poderá ser obtido a partir de todo o contorno cutâneo do hállus e segundo dedo • Tipo: Retalho do tipo cutâneo • Artéria nutriente: Artéria primeira metatársica dorsal que é ramo direto da artéria pediosa • Pedículo: 1 artéria / veias comitantes / Veia safena / Nervos plantares • Extensão: todo o contorno cutâneo do hállus e segundo dedo do pé • Características: A principal característica deste tipo de retalho é a semelhança do tipo cutâneo desta região com aquele encontrado na face volar da mão, sendo portanto a solução ideal para a cobertura de regiões volares da mão, especialmente na área da polpa digital dos dedos. A presença dos nervos plantares, uma vez suturados a ramos sensitivos da área receptora garantem o retorno da sensibilidade local. Outro fato relevante é a pequena morbidade junto á área doadora, já que trata-se de uma área pouco exposta. O maior cuidado em relação a este retalho deverá ser na sua dissecção, já que a artéria primeira metatarsiana dorsal apresenta trajeto variável em relação ao músculo interósseo dorsal do pé. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aspecto de amputação traumática de dedos, com exposição de falanges proximais. Aspecto cliníco e funcional final. Aspecto pós realização de retalho inguinal, mantendo o comprimento da mão. 23 Drenagem venosa da mão (vista dorsal). 24 COBERTURA CUTÂNEA Artérias e nervos do dorso da mão. 25 1. Albee, F. H.: Synthetic transplantation of tissues to form new finger. Ann. Surg., 69:379, 1919. 2. American Society for Surgery of the Hand Correspond~ll ence Club Newsletter, Nov. 1, 1979. 3. Ashbell, T. S., Kleinert, H. E., Putcha, S. M., and Kutz, J. E.: The deformed fingernail, a frequent result of failure to repair nail bed injuries. J. Trauma, 7:177, 1967, 4. 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