_ambientes QUEM TEM MEDO DE VOAR? O medo de voar afec ta entre 20 a 40% da popul ação adulta . Além de sérias implic ações na vida de quem sofre da fobia , é um problema que se reflec te na oper ação aeroportuária , com custos financeiros par a as companhias aéreas e par a os aeroportos. A boa notícia é que é possível aprender a Voar Sem Medo. U m recém-casado, chamemos-lhe António (para o caso pouco interessa), estava já dentro do avião, sentado ao lado da mulher e pouco tempo faltava para que o voo descolasse em direcção a Moçambique. À sua frente, o casal tinha umas semanas de lua-de-mel num destino paradisíaco, em Pemba e na Ilha de Moçambique. Sem dizer nada e sem que nada o fizesse prever, o jovem levantou-se e saiu do avião sem olhar para trás. Ninguém o conseguiu convencer a voltar. 28 Comportamentos como este são mais frequentes do que imaginamos. O medo de voar atinge entre 20 a 40% da população adulta, segundo dados do Health Institute of Aviation, uma organização inglesa que trabalha a nível internacional para melhorar as condições de saúde do passageiro aéreo. E embora o tema possa suscitar sorrisos em algumas pessoas, a verdade é que para outras é um problema real com graves implicações na sua vida quotidiana. E também na vida das companhias e dos aeroportos, com atrasos na operação e custos financeiros associados. Cristina Albuquerque é psicóloga clínica e tem mais de 20 anos de experiência na área da aviação, tendo sido pioneira no tratamento da fobia de voo em Portugal. No ano passado criou a Voar Sem Medo, um centro especializado no estudo e tratamento da fobia de voo que tem como parceiro a VALK Foundation, fundada na Holanda em 1989 e um mais prestigiados centros de investigação e tratamento da aerofobia no mundo. Já perdeu a conta ao número de pessoas que tratou e continua empenhada em mostrar que a aerofobia não é uma condição irreversível. O tratamento é geralmente feito através de terapia Os profissionais recebem formação e possuem experiência e em grupo durante três dias de curso intensivo. Em sensibilidade para lidar com os passageiros aéreos mais ansiosos alternativa, em casos específicos (por questões e para desmistificar medos, prestar esclarecimentos e tirar todas de privacidade ou de inaptidão social do paciente) as dúvidas que inquietam estes passageiros. A vertente técnica do também se pode optar pela terapia individual, programa é muito importante, explica a psicóloga, porque muitas realizada entre 6 a 10 sessões. Em ambas as vezes a fobia deriva da falta de informação, ou seja, de não perceber vertentes a intervenção termina sempre com um os mecanismos que fazem com que toneladas de aço e metal voo “terapêutico”. levantem voo no céu. Além da intervenção psicológica propriamente dita, a Voar Sem Medo conta com Embora o tema possa suscitar sorrisos em algumas pessoas, uma equipa altamente especializada para outras é um problema real com graves implicações na de profissionais da área da aviação: pilotos, especialistas em segurança sua vida. E também na vida das companhias e dos aeroportos, de voo, tripulantes de cabine, com atrasos na operação e custos financeiros associados. técnicos aeroportuários, especialistas O primeiro passo é uma consulta onde é feita uma avaliação em manutenção aeronáutica e controladores de psicológica muito completa e traçado o perfil do paciente. “Importa tráfego aéreo. perceber os motivos da fobia, que não são os mesmos em todos Para isso, celebrou protocolos de cooperação com os casos. Não existem fobias de voo iguais. Cada indivíduo tem a Associação de Pilotos Portugueses de Linha Aérea, uma história pessoal e as suas razões muito particulares para ter a Associação Portuguesa de Tripulantes de Cabine, desenvolvido medo de voar”. a Navegação Aérea de Portugal e, a partir de agora, Apesar da importância do background, a psicóloga reconhece que também com a ANA. “A colaboração do aeroporto, existem traços de carácter comuns a grande parte dos aerofóbicos nomeadamente através do acesso a áreas restritas, – um temperamento controlador, por exemplo. “E se há sítio onde é fundamental na preparação do voo para que o simplesmente não podem controlar nada é dentro de um avião”. primeiro contacto com o aeroporto não seja no dia O tratamento que os media dão aos acidentes de aviação, do voo”, diz Cristina Albuquerque. 29 _ambientes Um grupo, que fez o tratamento da fobia de voo, durante a visita à Torre de Controlo, no Aeroporto de Lisboa. com a repetição por vezes exaustiva de imagens, também é apontado por Cristina Albuquerque como um factos com impacto muito negativo nas pessoas. “Cada pessoa lida com este tipo de informação de forma diferente. Para algumas, as imagens servem para abrir o baú das memórias negativas, ou seja, lembram-se de tudo o que já viram e ouviram sobre acidentes de aviação”. Recorda-se de um antigo paciente que se encontrava em Heathrow pronto para embarcar quando as imagens do 11 de Setembro, recordadas em mais um aniversário da tragédia, passavam nos écrans de televisão. “É o suficiente para que a ansiedade e o medo voltem. Mas na maior parte das vezes basta um telefonema, uma chamada à realidade, e tudo fica bem de novo”. Em situações especiais, a Voar Sem Medo pode também prestar apoio na preparação duma viagem aérea que, apesar de estar agendada e reservada, a pessoa não se sente capaz de fazer. Outra situação relativamente vulgar é os tripulantes dos aviões desenvolverem fobia de voo na sequência de algum episódio relacionado com a profissão. Também nesses casos a Voar Sem Medo pode ajudar. O tratamento da fobia de voo tem uma taxa de sucesso de 95%. Mas embora muita gente passe dos 8 aos 80, isso não acontece com todos. Muitos não ultrapassam a fobia do dia para a noite, por isso Cristina Albuquerque garante um 30 Psicóloga clínica, Cristina Albuquerque tem mais de 20 anos de experiência na área da aviação e foi pioneira no tratamento da fobia de voo em Portugal. Apesar da importância do background, a psicóloga reconhece que existem traços de carácter comuns a grande parte dos aerofóbicos como um temperamento controlador. “E se há sítio onde simplesmente não podem controlar nada é dentro de um avião”. “follow up” durante dois anos: uma consulta três meses após o tratamento e depois um “check-up”, que pode ser por telefone, de seis em seis meses. A psicóloga, que é também autora do livro “Voar Sem Medo – Um guia prático para voar confiante e descontraído”, desaconselha a estratégia de engolir o medo e, simplesmente, entrar no avião e aguentar ou procurar refúgio nos calmantes ou no álcool. O mais provável é que o medo continue a crescer, se torne insuportável e seja cada vez mais difícil de tratar. VOAR SEM MEDO Linha Directa para informações e inscrições: 913 282 092 [email protected] www.voarsemmedo.com http://www.facebook.com/voar.semmedo 31